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2016
RENATO BRASILEIRO DE LIMA
Cdigo de
PROCESSO PENAL Comentado
Lima- CPP Comentado 1ed.indb 3 27/01/2016 13:52:27
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LIVRO I
DO PROCESSO EM GERAL1-2
TTULO I
DISPOSIES PRELIMINARES
Art . 1 O processo penal reger-se-, em todo o territrio brasileiro, por este Cdigo,3 ressalvados:4-6
I - os tratados, as convenes e regras de direito internacional;7
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da Repblica, dos mi-nistros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da Repblica, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituio, arts. 86, 89, 2, e 100);8
III - os processos da competncia da Justia Militar;9
IV - os processos da competncia do tribunal especial (Constituio, art. 122, n 17);10
V - os processos por crimes de imprensa.11 (vide ADPF n. 130)Pargrafo nico. Aplicar-se-, entretanto, este Cdigo aos processos
referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam no dis-puserem de modo diverso.12
1. Processo penal e o Estado Democrtico de Direito: quando o Estado, por intermdio do Poder Legislativo, elabora as leis penais, cominando sanes queles que vierem a praticar a conduta delituosa, surge para ele o direito de punir os infratores num plano abstrato e, para o particular, o dever de se abster de praticar a infrao penal. No entanto, a partir do momento em que algum pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que at ento tinha um poder abstrato,
genrico e impessoal, passa a ter uma preten-so concreta de punir o suposto autor do fato delituoso. Surge, ento, a pretenso punitiva, a ser compreendida como o poder do Estado de exigir de quem comete um delito a submisso sano penal. Atravs da pretenso punitiva, o Estado procura tornar efetivo o ius puniendi, exigindo do autor do delito, que est obrigado a sujeitar-se sano penal, o cumprimento dessa obrigao, que consiste em sofrer as consequncias do crime e se concretiza no dever de abster-se ele de qualquer resistncia contra os rgos estatais a que cumpre executar
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a pena. Todavia, esta pretenso punitiva no pode ser voluntariamente resolvida sem um processo, no podendo nem o Estado impor a sano penal, nem o infrator sujeitar-se pena. Em outras palavras, essa pretenso j nasce insatisfeita. Afinal, o Direito Penal no um direito de coao direta. Apesar de o Estado ser o titular do direito de punir, no se admite a imposio imediata da sano sem que haja um processo regular, assegurando-se, assim, a apli-cao da lei penal ao caso concreto, consoante as formalidades prescritas em lei, e sempre por meio dos rgos jurisdicionais (nulla poena sine judicio). Alis, at mesmo nas hipteses de infraes de menor potencial ofensivo, em que se admite a transao penal, com a ime-diata aplicao de penas restritivas de direitos ou multas, no se trata de imposio direta de pena. Utiliza-se, na verdade, de forma distinta da tradicional para a resoluo da causa, sendo admitida a soluo consensual em infraes de menor gravidade, mediante superviso ju-risdicional, privilegiando-se, assim, a vontade das partes e, principalmente, do autor do fato que pretende evitar os dissabores do processo e o risco da condenao. da que sobressai a importncia do processo penal, pois funciona como instrumento do qual se vale o Estado para a imposio de sano penal ao possvel autor do fato delituoso. Mas o Estado no pode punir de qualquer maneira. Com efeito, considerando-se que, da aplicao do direito penal pode resultar a privao da liberdade de locomoo do agente, entre outras penas, no se pode descurar do necessrio e indispensvel respeito a direitos e liberdades individuais que to caro custaram para serem reconhecidos e que, em verdade, condicionam a legitimidade da atuao do prprio aparato estatal em um Estado Democrtico de Direito. Na medida em que a liberdade de locomoo do cidado funciona como um dos dogmas do Estado de Direito, intuitivo que a prpria Constitui-o Federal estabelea regras de observncia obrigatria em um processo penal. a boa aplicao (ou no) desses direitos e garantias que permite, assim, avaliar a real observncia dos elementos materiais do Estado de Direito e distinguir a civilizao da barbrie. De fato,
como adverte Norberto Bobbio, a proteo do cidado no mbito dos processos estatais justamente o que diferencia um regime demo-crtico daquele de ndole totalitria. Na dico do autor ((As ideologias e o poder em crise. Traduo de Joo Ferreira; reviso tcnica Gilson Csar Cardoso. 4 ed. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1999, p. 96-97), a diferena fundamental entre as duas formas antitticas de regime poltico, entre a demo-cracia e a ditadura, est no fato de que somente num regime democrtico as relaes de mera fora que subsistem, e no podem deixar de subsistir onde no existe Estado ou existe um Estado desptico fundado sobre o direito do mais forte, so transformadas em relaes de direito, ou seja, em relaes reguladas por nor-mas gerais, certas e constantes, e, o que mais conta, preestabelecidas, de tal forma que no podem valer nunca retroativamente. A conse-quncia principal dessa transformao que nas relaes entre cidados e Estado, ou entre cidados entre si, o direito de guerra fundado sobre a autotutela e sobre a mxima Tem razo quem vence substitudo pelo direito de paz fundado sobre a heterotutela e sobre a mxima Vence quem tem razo; e o direito pblico externo, que se rege pela supremacia da fora, substitudo pelo direito pblico interno, inspirado no princpio da supremacia da lei (rule of law). esse, pois, o grande dilema do processo penal: de um lado, o necessrio e indispensvel respeito aos direitos fundamen-tais; do outro, o atingimento de um sistema criminal mais operante e eficiente. Na linha do ensinamento de Antnio Scarance Fernandes, o vocbulo eficincia aqui empregado usado de forma ampla, sendo afastada, contudo, a ideia de eficincia medida pelo nmero de condenaes. Ser eficiente o procedimento que, em tempo razovel, permita atingir um resultado justo, seja possibilitando aos rgos da persecuo penal agir para fazer atuar o di-reito punitivo, seja assegurando ao acusado as garantias do processo legal. (Sigilo no processo penal: eficincia e garantismo. Coordenao Antnio Scarance Fernandes, Jos Raul Gavio de Almeida, Maurcio Zanoide de Moraes. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p.
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10). H de se buscar, portanto, um ponto de equilbrio entre a exigncia de se assegurar ao investigado e ao acusado a aplicao das garan-tias fundamentais do devido processo legal e a necessidade de maior efetividade do sistema persecutrio para a segurana da coletividade. dentro desse dilema existencial do processo penal efetividade da coero penal versus observncia dos direitos fundamentais que se buscar, ao longo da presente obra, um ponto de equilbrio no estudo do processo penal, pois somente assim sero evitados os extremos do hipergarantismo e de movimentos como o do Direito Penal do Inimigo ou do Direito Penal da Lei e da Ordem.
2. Sistemas processuais penais: histori-camente, sempre existiram dois sistemas ou modelos processuais, quais sejam, o acusatrio e o inquisitrio. Tambm houve uma tentativa de fundir os dois sistemas, dando origem ao sistema misto. Nos dias de hoje, no existem sistemas acusatrios ou inquisitrios puros. Na verdade, ora o processo penal predomi-nantemente acusatrio, ora apresenta caracte-rsticas peculiares dos sistemas inquisitoriais. Quando o nosso Cdigo de Processo Penal entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 1942, prevalecia o entendimento de que o sistema nele previsto era misto. A fase inicial da perse-cuo penal, caracterizada pelo inqurito poli-cial, era inquisitorial. Porm, uma vez iniciado o processo, tnhamos uma fase acusatria. Porm, com o advento da Constituio Fede-ral, que prev de maneira expressa a separao das funes de acusar, defender e julgar (art. 129, I), estando assegurado o contraditrio e a ampla defesa, alm do princpio da presuno de no culpabilidade, estamos diante de um sistema acusatrio. bem verdade que no se trata de um sistema acusatrio puro. De fato, h de se ter em mente que o Cdigo de Pro-cesso Penal tem ntida inspirao no modelo fascista italiano. Torna-se imperioso, portanto, que a legislao infraconstitucional seja relida diante da nova ordem constitucional. Dito de outro modo, no se pode admitir que se pro-cure delimitar o sistema brasileiro a partir do Cdigo de Processo Penal. Pelo contrrio. So as leis que devem ser interpretadas luz dos
direitos, garantias e princpios introduzidos pela Carta Constitucional de 1988.
2.1. Sistema inquisitorial: adotado pelo Direito cannico a partir do sculo XIII, o sistema inquisitorial posteriormente se pro-pagou por toda a Europa, sendo empregado inclusive pelos tribunais civis at o sculo XVIII. Tem como caracterstica principal o fato de as funes de acusar, defender e julgar encontrarem-se concentradas em uma nica pessoa, que assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor. Essa concentrao de poderes nas mos do juiz compromete, invariavelmente, sua imparciali-dade. De fato, h uma ntida incompatibilidade entre as funes de acusar e julgar. Afinal, o juiz que atua como acusador fica ligado psicologicamente ao resultado da demanda, perdendo a objetividade e a imparcialidade no julgamento. Em virtude dessa concentrao de poderes nas mos do juiz, no h falar em con-traditrio, o qual nem sequer seria concebvel em virtude da falta de contraposio entre acu-sao e defesa. Ademais, geralmente o acusado permanecia encarcerado preventivamente, sendo mantido incomunicvel. No processo inquisitrio, o juiz inquisidor dotado de ampla iniciativa probatria, tendo liberdade para determinar de ofcio a colheita de provas, seja no curso das investigaes, seja no curso do processo penal, independentemente de sua proposio pela acusao ou pelo acusado. A gesto das provas estava concentrada, assim, nas mos do juiz, que, a partir da prova do fato e tomando como parmetro a lei, podia chegar concluso que desejasse. Trabalha o sistema inquisitrio, assim, com a premissa de que a atividade probatria tem por objetivo uma completa e ampla reconstruo dos fa-tos, com vistas ao descobrimento da verdade. Considera-se possvel a descoberta de uma verdade absoluta, por isso admite uma ampla atividade probatria, quer em relao ao ob-jeto do processo, quer em relao aos meios e mtodos para a descoberta da verdade. Dotado de amplos poderes instrutrios, o magistrado pode proceder a uma completa investigao do fato delituoso. No sistema inquisitorial, o acusado mero objeto do processo, no sendo
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considerado sujeito de direitos. Na busca da verdade material, admitia-se que o acusado fosse torturado para que uma confisso fosse obtida. O processo inquisitivo era, em regra, escrito e sigiloso, mas essas formas no lhe eram essenciais. Pode se conceber o processo inquisitivo com as formas orais e pblicas. Como se percebe, h uma ntida conexo entre o processo penal e a natureza do Estado que o institui. A caracterstica fundamental do pro-cesso inquisitrio a concentrao de poderes nas mos do juiz, a chamado de inquisidor, semelhana da reunio de poderes de adminis-trar, legislar e julgar nas mos de uma nica pessoa, de acordo com o regime poltico do absolutismo. Em sntese, podemos afirmar que o sistema inquisitorial um sistema rigoroso, secreto, que adota ilimitadamente a tortura como meio de atingir o esclarecimento dos fatos e de concretizar a finalidade do processo penal. Nele, no h falar em contraditrio, pois as funes de acusar, defender e julgar esto reunidas nas mos do juiz inquisidor, sendo o acusado considerado mero objeto do processo, e no sujeito de direitos. O magistrado, cha-mado de inquisidor, era a figura do acusador e do juiz ao mesmo tempo, possuindo amplos poderes de investigao e de produo de provas, seja no curso da fase investigatria, seja durante a instruo processual. Por essas caractersticas, fica evidente que o processo inquisitrio incompatvel com os direitos e garantias individuais, violando os mais ele-mentares princpios processuais penais. Sem a presena de um julgador equidistante das partes, no h falar em imparcialidade, do que resulta evidente violao Constituio Federal e prpria Conveno Americana sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8, n. 1).
2.2. Sistema acusatrio: de maneira dis-tinta, o sistema acusatrio caracteriza-se pela presena de partes distintas, contrapondo-se acusao e defesa em igualdade de condies, e a ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, h uma separa-o das funes de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legtimo actum trium personarum. Nesse sentido: PRA-DO, Geraldo. Sistema acusatrio: a conformi-
dade constitucional das leis processuais penais. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005. p. 114. Historicamente, o processo acusa-trio tem como suas caractersticas a oralidade e a publicidade, nele se aplicando o princpio da presuno de inocncia. Logo, a regra era que o acusado permanecesse solto durante o processo. No obstante, em vrias fases do Di-reito Romano, o sistema acusatrio foi escrito e sigiloso. Quanto iniciativa probatria, o juiz no era dotado do poder de determinar de ofcio a produo de provas, j que estas deveriam ser fornecidas pelas partes, preva-lecendo o exame direto das testemunhas e do acusado. Portanto, sob o ponto de vista pro-batrio, aspira-se uma posio de passividade do juiz quanto reconstruo dos fatos. Com o objetivo de preservar sua imparcialidade, o magistrado deve deixar a atividade probatria para as partes. Ainda que se admita que o juiz tenha poderes instrutrios, essa iniciativa deve ser possvel apenas no curso do processo, em carter excepcional, como atividade subsidi-ria da atuao das partes. No sistema acusa-trio, a gesto das provas funo das partes, cabendo ao juiz um papel de garante das regras do jogo, salvaguardando direitos e liberdades fundamentais. Diversamente do sistema inqui-sitorial, o sistema acusatrio caracteriza-se por gerar um processo de partes, em que autor e ru constroem atravs do confronto a soluo justa do caso penal. A separao das funes processuais de acusar, defender e julgar entre sujeitos processuais distintos, o reconhecimen-to dos direitos fundamentais ao acusado, que passa a ser sujeito de direitos e a construo dialtica da soluo do caso pelas partes, em igualdade de condies, so, assim, as prin-cipais caractersticas desse modelo. Segundo Ferrajoli (Direito e razo: teoria do garantismo penal. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 518), so caractersticas do sistema acusatrio a separao rgida entre o juiz e acusao, a paridade entre acusao e defesa, e a publicidade e a oralidade do julga-mento. Lado outro, so tipicamente prprios do sistema inquisitrio a iniciativa do juiz em campo probatrio, a disparidade de poderes entre acusao e defesa e o carter escrito e
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secreto da instruo. O sistema acusatrio vigorou durante quase toda a Antiguidade grega e romana, bem como na Idade Mdia, nos domnios do direito germano. A partir do sculo XIII entra em declnio, passando a ter prevalncia o sistema inquisitivo. Atualmente, o processo penal ingls aquele que mais se aproxima de um sistema acusatrio puro. Pelo sistema acusatrio, acolhido de forma explcita pela Constituio Federal de 1988 (CF, art. 129, inciso I), que tornou privativa do Ministrio Pblico a propositura da ao penal pblica, a relao processual somente tem incio me-diante a provocao de pessoa encarregada de deduzir a pretenso punitiva (ne procedat judex ex officio), e, conquanto no retire do juiz o poder de gerenciar o processo mediante o exerccio do poder de impulso processual, impede que o magistrado tome iniciativas que no se alinham com a equidistncia que ele deve tomar quanto ao interesse das partes. Deve o magistrado, portanto, abster-se de promover atos de ofcio na fase investigat-ria, atribuio esta que deve ficar a cargo das autoridades policiais e do Ministrio Pblico. Como se percebe, o que efetivamente diferen-cia o sistema inquisitorial do acusatrio a posio dos sujeitos processuais e a gesto da prova. O modelo acusatrio reflete a posio de igualdade dos sujeitos, cabendo exclusiva-mente s partes a produo do material pro-batrio e sempre observando os princpios do contraditrio, da ampla defesa, da publicidade e do dever de motivao das decises judiciais. Portanto, alm da separao das funes de acusar, defender e julgar, o trao peculiar mais importante do sistema acusatrio que o juiz no , por excelncia, o gestor da prova.
2.3. Sistema misto ou francs: aps se dis-seminar por toda a Europa a partir do sculo XIII, o sistema inquisitorial passa a sofrer al-teraes com a modificao napolenica, que instituiu o denominado sistema misto. Trata-se de um modelo novo, funcionando como uma fuso dos dois modelos anteriores, que surge com o Code dInstruction Criminelle francs, de 1808. Por isso, tambm denominado de sistema francs. chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas
fases distintas: a primeira fase tipicamente inquisitorial, com instruo escrita e secreta, sem acusao e, por isso, sem contraditrio. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de carter acusatrio, o rgo acusador apresenta a acusao, o ru se defende e o juiz julga, vi-gorando, em regra, a publicidade e a oralidade.
3. Lei processual penal no espao (prin-cpio da territorialidade): enquanto lei penal aplica-se o princpio da territorialida-de (CP, art. 5) e da extraterritorialidade in-condicionada e condicionada (CP, art. 7), o Cdigo de Processo Penal adota o princpio da territorialidade ou da lex fori. E isso por um motivo bvio: a atividade jurisdicional um dos aspectos da soberania nacional, logo, no pode ser exercida alm das fronteiras do respectivo Estado. Assim, mesmo que um ato processual tenha que ser praticado no exterior, v.g., citao, intimao, interrogatrio, oitiva de testemunha, etc., a lei processual penal a ser aplicada a do pas onde tais atos venham a ser realizados. Na mesma linha, aplica-se a lei processual brasileira aos atos referentes s relaes jurisdicionais com autoridades es-trangeiras que devam ser praticados em nosso pas, tais como os de cumprimento de carta rogatria (CPP, arts. 783 e seguintes), homolo-gao de sentena estrangeira (CPP, arts. 787 e seguintes), procedimento de extradio (Lei n. 6.815/80, arts. 76 e seguintes), etc. Todavia, h situaes em que a lei processual penal de um Estado pode ser aplicada fora de seus limites territoriais: a) aplicao da lei processual penal de um Estado em territrio nullius; b) quando houver autorizao do Estado onde deva ser praticado o ato processual; c) em caso de guer-ra, em territrio ocupado. Confirmando a ado-o do princpio da territorialidade, o art. 1 do CPP dispe que o processo penal reger-se-, em todo o territrio brasileiro, pelo Cdigo de Processo Penal, ressalvados: I - os tratados, as convenes e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presi-dente da Repblica, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da Repblica, e dos ministros do Supremo Tribu-nal Federal, nos crimes de responsabilidade;
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III - os processos da competncia da Justia Militar; IV - os processos da competncia do tribunal especial; V - os processos por crimes de imprensa. Portanto, como se percebe, a regra que todo e qualquer processo penal que surgir no territrio nacional deva ser so-lucionado consoante as regras do Cdigo de Processo Penal (locus regit actum). H, todavia, excees.
4. Tribunal Penal Internacional: alm das ressalvas listadas nos incisos do art. 1 do CPP, especial ateno tambm deve ser dispensada ao art. 5, 4, da Constituio Federal, que prev que o Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso. Tem-se a mais uma hiptese de no aplicao da lei proces-sual penal brasileira aos crimes praticados no pas, nas restritas situaes em que o Estado brasileiro reconhecer a necessidade do exerc-cio da jurisdio penal internacional. Com as inmeras violaes de direitos humanos ocor-ridas a partir das primeiras dcadas do sculo XX, notadamente com as duas grandes guerras mundiais, surgiu a ideia de um ius puniendi em nvel global, buscando a instituio de uma moderna Justia Penal Internacional. Como anota Mazzuoli (O Tribunal Penal Internacio-nal e o direito brasileiro. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 20-21), essa expresso Justia Penal Internacional pode ser compreendida como o aparato jurdico e o conjunto de normas institudas pelo Direito Internacional, voltados persecuo e re-presso dos crimes perpetrados contra o pr-prio Direito Internacional, cuja ilicitude est prevista nas normas ou princpios do ordena-mento jurdico internacional e cuja gravidade de tal ordem e de tal dimenso, em decor-rncia do horror e da barbrie que determinam ou pela vastido do perigo que provocam no mundo, que passam a interessar a toda a so-ciedade dos Estados concomitantemente. Um sensvel incremento ao movimento de inter-nacionalizao e proteo dos direitos huma-nos teve incio com os Tribunais de Nuremberg e de Tquio. Por meio do Acordo de Londres, de 8 de agosto de 1945, e em evidente reao s barbries do Holocausto, foi criado pelas
naes vencedoras o Tribunal Militar Interna-cional de Nuremberg, com o objetivo de pro-cessar e julgar os criminosos de guerra do Eixo europeu, acusados de colaborao direta com o regime nazista. Tambm foi criado o Tribu-nal Militar Internacional de Tquio, com a finalidade precpua de julgar os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade per-petrados pelas autoridades polticas e militares do Japo Imperial. Algum tempo depois, em virtude de deliberaes do Conselho de Segu-rana das Naes Unidas, dois tribunais inter-nacionais de carter no-permanente tambm foram criados: o primeiro, com sede na Ho-landa, para julgar as barbries cometidos no territrio da antiga Iugoslvia; o segundo, se-diado na Tanznia, para processar e julgar as violaes de direitos humanos perpetradas em Ruanda. Vrias crticas recaram sobre esses tribunais, dentre elas a de que tais tribunais teriam sido criados por resolues do Conse-lho de Segurana da ONU, e no por tratados internacionais multilaterais, como se deu com o Tribunal Penal Internacional. Outra crtica era no sentido de que a criao desses tribunais aps a prtica dos fatos delituosos (ex post facto), com o objetivo nico e exclusivo de julg-los, configuraria flagrante violao ao princpio do juiz natural. Surgiu da a necessi-dade de criao de uma instncia penal inter-nacional, de carter permanente e imparcial, instituda para processar e julgar os acusados pela prtica dos crimes mais graves que afetas-sem a comunidade internacional no seu con-junto. Assim que, em julho de 1998, foi aprovado na Conferncia Diplomtica de Ple-nipotencirios das Naes Unidas o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, constituindo um tribunal internacional com jurisdio criminal permanente sobre as pes-soas responsveis pelos crimes de maior gra-vidade com alcance internacional, dotado de personalidade jurdica prpria, com sede na Haia (Holanda). No mbito internacional, o Tribunal Penal Internacional entrou em vigor em data de 1 de julho de 2002, data esta que corresponde ao primeiro dia do ms seguinte ao termo do perodo de 60 dias aps a data do depsito do sexagsimo instrumento de rati-
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ficao, nos termos do art. 126, 1, do Esta-tuto do Tribunal. O governo brasileiro assinou o tratado internacional do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional em 7 de feve-reiro de 2000, sendo o mesmo posteriormente aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo n. 112, de 6 de junho de 2002, e promulgado pelo Presidente da Repblica atravs do Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002. A carta de ratificao brasileira foi depositada em data de 20 de ju-nho de 2002, razo pela qual, em virtude da regra constante do art. 126, n. 2, do Dec. 4.388/2002, tem-se que o Estatuto de Roma entrou em vigor no Brasil em data de 1 de setembro de 2002. Em 8 de dezembro de 2004, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 45, reconhecendo formalmente a jurisdio do Tribunal Penal Internacional, por intermdio do acrscimo do 4 ao art. 5 da Magna Car-ta, segundo o qual O Brasil se submete juris-dio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso. Como ob-serva Mazzuoli (op. cit. p. 45), a jurisdio do Tribunal no estrangeira, mas sim interna-cional, podendo afetar todo e qualquer Estado--parte da Organizao das Naes Unidas. No se confunde com a chamada jurisdio uni-versal, que consiste na possibilidade de o Poder Judicirio de determinado pas julgar crimes de guerra ou crimes contra a humanidade cometidos em territrios alheios, tal qual ocor-re nos casos de extraterritorialidade da lei penal brasileira admitidos expressamente pelo art. 7, incisos I e II, do Cdigo Penal. Como se percebe pela leitura do art. 1 do Decreto n. 4.388/02, o Tribunal Penal Internacional ser complementar s jurisdies penais nacionais, sendo chamado a intervir somente se e quando a justia repressiva interna no funcionar. Ado-tou-se, pois, o denominado princpio da com-plementariedade. Da a observao de Flvia Piovesan (Direitos Humanos e o Direito Cons-titucional Internacional. 9 ed.. So Paulo: Sa-raiva, 2008. p. 223-224), que, aps acentuar a responsabilidade primria dos Estados nacio-nais quanto ao julgamento de transgresses aos direitos humanos, assinala as condies em que se legitima o exerccio, sempre em
carter subsidirio, da jurisdio pelo Tribunal Penal Internacional: Surge o Tribunal Penal Internacional como aparato complementar s cortes nacionais, com o objetivo de assegurar o fim da impunidade para os mais graves cri-mes internacionais, considerando que, por vezes, na ocorrncia de tais crimes, as institui-es nacionais se mostram falhas ou omissas na realizao da justia. Afirma-se, desse modo, a responsabilidade primria do Estado com relao ao julgamento de violaes de direitos humanos, tendo a comunidade inter-nacional a responsabilidade subsidiria. Vale dizer, a jurisdio do Tribunal Internacional adicional e complementar do Estado, ficando, pois, condicionada incapacidade ou omis-so do sistema judicial interno. O Estado tem, assim, o dever de exercer sua jurisdio penal contra os responsveis por crimes internacio-nais, tendo a comunidade internacional a res-ponsabilidade subsidiria. Como enuncia o art. 1 do Estatuto de Roma, a jurisdio do Tribunal adicional e complementar do Estado, ficando condicionada incapacidade ou omisso do sistema judicial interno. Des-sa forma, o Estatuto busca equacionar a garan-tia do direito justia, o fim da impunidade e a soberania do Estado, luz do princpio da complementaridade e do princpio da coope-rao. Esse carter complementar do Tribu-nal Penal Internacional pode ser extrado do art. 17 do Estatuto. Segundo o referido dispo-sitivo (art. 17, 1), o Tribunal decidir sobre a no admissibilidade de um caso se: a) o caso for objeto de inqurito ou de procedimento criminal por parte de um Estado que tenha jurisdio sobre o mesmo, salvo se este no tiver vontade de levar a cabo o inqurito ou o procedimento ou, no tenha capacidade para o fazer; b) o caso tiver sido objeto de inquri-to por um Estado com jurisdio sobre ele e tal Estado tenha decidido no dar seguimento ao procedimento criminal contra a pessoa em causa, a menos que esta deciso resulte do fato de esse Estado no ter vontade de proceder criminalmente ou da sua incapacidade real para o fazer; c) a pessoa em causa j tiver sido julgada pela conduta a que se refere a denncia, e no puder ser julgada pelo Tribunal em vir-
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tude do disposto no pargrafo 3 do artigo 20; d) o caso no for suficientemente grave para justificar a ulterior interveno do Tribunal. Por outro lado, segundo o art. 17, 2, do Es-tatuto, a fim de determinar se h ou no von-tade de agir num determinado caso, o Tribunal, tendo em considerao as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direito internacional, verificar a existncia de uma ou mais das seguintes circunstncias: a) o processo ter sido instaurado ou estar penden-te ou a deciso ter sido proferida no Estado com o propsito de subtrair a pessoa em cau-sa sua responsabilidade criminal por crimes da competncia do Tribunal, nos termos do disposto no artigo 5; b) ter havido demora injustificada no processamento, a qual, dadas as circunstncias, se mostra incompatvel com a inteno de fazer responder a pessoa em causa perante a justia; c) o processo no ter sido ou no estar sendo conduzido de manei-ra independente ou imparcial, e ter estado ou estar sendo conduzido de uma maneira que, dadas as circunstncias, seja incompatvel com a inteno de levar a pessoa em causa perante a justia. Por fim, de acordo com o art. 17, 3, do Estatuto, a fim de determinar se h incapa-cidade de agir num determinado caso, o Tri-bunal verificar se o Estado, por colapso total ou substancial da respectiva administrao da justia ou por indisponibilidade desta, no estar em condies de fazer comparecer o acusado, de reunir os meios de prova e depoi-mentos necessrios ou no estar, por outros motivos, em condies de concluir o processo. Quanto competncia do TPI, dispe o art. 5 do Estatuto que est restrita aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Detm o Tribunal competn-cia para o processo e julgamento dos seguintes crimes: a) crime de genocdio; b) crimes con-tra a humanidade; c) crimes de guerra; d) crime de agresso. Registre-se que o Tribunal somente dotado de competncia em relao aos crimes cometidos aps a sua instituio, ou seja, depois de 1 de julho de 2002, data em que seu Estatuto entrou em vigor internacio-nal. Ademais, nos termos de seu art. 11, 2, se um estado se tornar parte depois da entrada
em vigor do Estatuto, o Tribunal s poder exercer a sua competncia em relao a crimes cometidos depois da entrada em vigor do Es-tatuto relativamente a esse Estado, a menos que este tenha feito uma declarao especfica em sentido contrrio. Desde a vigncia do Estatuto de Roma para o Brasil em 1 de se-tembro de 2002, faz-se necessria a regulamen-tao dos tipos penais criados pelo Estatuto de Roma e ainda no previstos em nosso ordena-mento jurdico interno. De fato, com exceo do crime de genocdio, j tipificado em lei prpria (Lei n. 2.889/56), os crimes de guerra, contra a humanidade e de agresso ainda no esto previstos em nossa legislao e deman-dam regulamentao legal. Tendo-se presente a perspectiva da autoria dos crimes submetidos competncia jurisdicional do Tribunal Penal Internacional, convm destacar que o Estatuto de Roma submete jurisdio dessa Alta Cor-te judiciria qualquer pessoa que haja incidido na prtica de crimes de genocdio, de guerra, contra a humanidade ou de agresso, indepen-dentemente de sua qualidade oficial (Art. 27). Ao assim dispor, o Estatuto de Roma proclama a absoluta irrelevncia da qualidade oficial do autor dos crimes submetidos, por referida conveno multilateral, esfera de jurisdio e competncia do Tribunal Penal Internacio-nal. Isso significa, portanto, em face do que estabelece o Estatuto de Roma em seu Artigo 27, que a condio poltica de Chefe de Estado no se qualifica como causa excludente da responsabilidade penal do agente nem fator que legitime a reduo da pena cominada aos crimes de genocdio, contra a humanidade, de guerra e de agresso. Nesse ponto, enquanto parte da doutrina sustenta a tese do carter absoluto da soberania estatal, parte consider-vel da doutrina prefere conferir dimenso re-lativa noo de soberania do Estado, justifi-cando a clusula convencional do Estatuto (art. 27) a partir da idia de prevalncia dos direitos humanos, positivada no art. 4, II, da Magna Carta. Quanto discusso, Carlos Eduardo Adriano Japiass (O Direito Penal Internacio-nal. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009, p. 115-116) pondera que os crimes de compe-tncia do Tribunal Penal Internacional, de
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maneira geral, so cometidos por indivduos que exercem determinada funo estatal. Des-ta forma, a regra do Artigo 27 do Estatuto de Roma busca evitar que aqueles se utilizem dos privilgios e das imunidades que lhes so conferidos pelos ordenamentos internos como escudo para impedir a responsabilizao em face dos crimes internacionais. Por fim, enten-de-se que o princpio da prevalncia dos direi-tos humanos, insculpido no Artigo 4, II, da Constituio Federal, permite implicitamente que haja restries s imunidades usualmente concedidas a funcionrios no exerccio de sua atividade funcional em casos de violaes a direitos humanos, no colidindo, por conse-guinte, com o artigo 27 do Estatuto de Roma. Do ponto de vista pessoal, a jurisdio do Tribunal Penal Internacional no alcana pes-soas menores de 18 (dezoito) anos (vide art. 26 do Estatuto). Por fim, ressalte-se que o pedido de entrega (surrender) no se confun-de com a demanda extradicional. Com efeito, o prprio Estatuto de Roma estabelece, em seu texto, clara distino entre os referidos insti-tutos o da entrega (surrender/remise) e o da extradio -, fazendo-o, de modo preciso, nos seguintes termos: Artigo 102 Termos Usados Para os fins do presente Estatuto: a) Por entrega, entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal, nos termos do presente Estatuto. b) Por extradio, enten-de-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado, conforme previsto em um tratado, em uma conveno ou no direito in-terno. V-se, da, que, embora a entrega de determinada pessoa constitua resultado co-mum a ambos os institutos, considerado o contexto da cooperao internacional na re-presso aos delitos, h, dentre outros, um elemento de relevo que os diferencia no plano conceitual, eis que a extradio somente pode ter por autor um Estado soberano, e no orga-nismos internacionais, ainda que revestidos de personalidade jurdica de direito internacional pblico, como o Tribunal Penal Internacional (Estatuto de Roma, Artigo 4, n. 1).
5. Crimes eleitorais: apesar de os incisos do art. 1 do Cdigo de Processo Penal no faze-rem expressa referncia aos processos crimi-
nais da competncia da Justia Eleitoral, isso se justifica pelo fato de, poca da elaborao do CPP, estar em vigor a Constituio de 1937, que no tratava da Justia Eleitoral, e muito menos dos crimes eleitorais, j que, vigia, ento, um regime de exceo. Todavia, a Constituio Federal de 1988 dispe em seu art. 121 que Lei complementar dispor sobre a organizao e competncia dos tribunais, dos juzes de di-reito e das juntas eleitorais. Destarte, embora editado como lei ordinria, o Cdigo Eleitoral (Lei n. 4.737/65) foi recepcionado pela Cons-tituio Federal como Lei complementar, mas to somente no que tange organizao judi-ciria e competncia eleitoral, tal qual prev a Carta Magna (CF, art. 121, caput). Portanto, no tocante definio dos crimes eleitorais, as normas postas no Cdigo Eleitoral mantm o status de lei ordinria. A competncia criminal da Justia Eleitoral fixada em razo da mat-ria, cabendo a ela o processo e julgamento dos crimes eleitorais. Mas o que se deve entender por crimes eleitorais? Somente podem ser considerados crimes eleitorais os previstos no Cdigo Eleitoral (v.g., crimes contra a honra, praticados durante a propaganda eleitoral) e os que a lei, eventual e expressamente, defi-na como eleitorais. Todos eles referem-se a atentados ao processo eleitoral, que vai desde o alistamento do eleitor (ex: falsificao de ttulo de eleitor para fins eleitorais art. 348 do Cdigo Eleitoral) at a diplomao dos eleitos. Crime que no esteja no Cdigo Eleitoral ou que no tenha a expressa definio legal como eleitoral, salvo o caso de conexo, jamais ser de competncia da Justia Eleitoral. A motiva-o poltica ou mesmo eleitoral no suficiente para definir a competncia da Justia Especial de que estamos tratando. Da mesma forma, a existncia de campanha eleitoral irrelevante, pois, de per si, no suficiente para caracte-rizar os crimes eleitorais falta de tipificao legal no Cdigo Eleitoral ou em leis eleitorais extravagantes. Assim, por exemplo, a prtica de um homicdio, ainda que no perodo que antecede as eleies, e mesmo que por moti-vos poltico-eleitorais, ser julgado pelo Jri comum, porquanto tal delito no elencado como crime eleitoral.
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6. Outras excees: o art. 1 do CPP faz meno expressa apenas s ressalvas listadas em seus incisos. Todavia, face a existncia de diversas leis especiais, editadas aps a vigncia do CPP (1 de janeiro de 1942), com previso expressa de procedimento distinto, conclui-se que, por fora do princpio da especialidade, a tais infraes ser aplicvel a respectiva le-gislao, aplicando-se o Cdigo de Processo Penal apenas subsidiariamente (CPP, art. 1, pargrafo nico). Vrios exemplos podem ser lembrados: 1) O processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade regulado pela Lei n. 4.898/65; 2) Os crimes da competncia originria dos Tribunais possuem procedi-mento especfico previsto na Lei n. 8.038/90; 3) As infraes de menor potencial ofensivo, assim compreendidas as contravenes penais e crimes cuja pena mxima no seja superior a 02 (dois) anos, cumulada ou no com multa, submetidos ou no a procedimento especial, ressalvadas as hipteses de violncia domstica e familiar contra a mulher, devem ser pro-cessadas e julgadas pelos Juizados Especiais Criminais, pelo menos em regra, com proce-dimento regulamentado pela Lei n. 9.099/95; 4) Os crimes falimentares tambm possuem procedimento especial disciplinado na Lei n. 11.101/05 (arts. 183 a 188); 5) O Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/03, art. 94) tambm possui dispositivos expressos acerca do procedimento a ser aplicado aos crimes ali previstos; 6) A Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06) tam-bm estabelece dispositivos processuais penais especficos quanto s hipteses de violncia domstica e familiar contra a mulher; 7) A Lei de drogas (Lei n. 11.343/06) traz em seu bojo um captulo inteiro dedicado ao procedimento penal, prevendo expressamente a possibilidade de aplicao, subsidiria, do Cdigo de Proces-so Penal e da Lei de Execuo Penal (art. 48, caput).
7. Tratados, convenes e regras de direito internacional: Chefes de Governo estrangei-ro ou de Estado estrangeiro, suas famlias e membros das comitivas, embaixadores e suas famlias, funcionrios estrangeiros do corpo diplomtico e suas famlia, assim como fun-cionrios de organizaes internacionais em
servio (ONU, OEA, etc.) gozam de imunidade diplomtica, que consiste na prerrogativa de responder no seu pas de origem pelo deli-to praticado no Brasil (Conveno de Viena sobre Relaes Diplomticas, aprovada pelo Decreto Legislativo 103/1964, e promulgada pelo Decreto n 56.435, de 08/06/1965). Como se percebe, por conta de tratados ou conven-es que o Brasil haja firmado, ou mesmo em virtude de regras de Direito Internacional, a lei processual penal deixa de ser aplicada aos crimes praticados por tais agentes no territrio nacional, criando-se, assim, verdadeiro obst-culo processual aplicao da lei processual penal brasileira. Destarte, tais pessoas no po-dem ser presas e nem julgadas pela autoridade do pas onde exercem suas funes, seja qual for o crime praticado (CPP, art. 1, inciso I). Em caso de falecimento de um diplomata, os membros de sua famlia continuaro no gozo dos privilgios e imunidades a que tm direito, at a expirao de um prazo razovel que lhes permita deixar o territrio do Estado acredita-do (art. 39, 3, da Conveno de Viena sobre relaes diplomticas). Admite-se renncia expressa garantia da imunidade pelo Estado acreditante, ou seja, aquele que envia o Chefe de Estado ou representante. Tal imunidade no extensiva aos empregados particulares dos agentes diplomticos. Quanto ao cnsul, este s goza de imunidade em relao aos crimes funcionais (Conveno de Viena de 1963 so-bre Relaes Consulares Decreto n. 61.078, de 26/07/1967). Esse o motivo pelo qual, ao apreciar habeas corpus referente a crime de pedofilia supostamente praticado pelo Cnsul de Israel no Rio de Janeiro, posicionou-se a Suprema Corte pela inexistncia de obstculo priso preventiva, nos termos do art. 41 da Conveno de Viena, pois os fatos imputados ao paciente no guardavam pertinncia com o desempenho das funes consulares.
Jurisprudncia selecionada:STF: (...) Priso preventiva. Fundamentos. Acusado que exercia as funes de Cnsul de Israel no Rio de Janeiro. Crime previsto no art. 241 do Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n. 8.069/90). Pena de recluso, cujo incio deve se dar em estabelecimento de segurana mxima ou mdia (regime fechado).
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Circunstncia que, somada ao disposto no art. 61, II, h, do Cdigo Penal, enfatiza o carter grave do crime, o que realado pela existncia de diversos diplomas protetivos da infncia subscritos pelo Brasil: Declarao Universal dos Direitos da Criana (1959), Conveno dos Direitos da Criana (1989), 45 Sesso da Assembleia Geral das Naes Unidas, Declarao pelo Direito da Criana sobrevivncia, proteo e ao desenvolvimento, Conveno de Nova York sobre os direitos da criana e Conveno Interamericana sobre trfico internacional de menores. Inexistncia de obstculo priso preventiva, nos termos do que dispe o art. 41 da Conveno de Viena sobre Relaes Consulares. Atos imputados ao paciente que no guardam pertinncia com o desempenho de funes consulares. Necessidade da priso preventiva para garantiar a aplicao da lei penal. Ordem indeferida. (STF, 1 Turma, HC 81.158/RJ, Relatora Ministra Ellen Gracie, DJ 19/12/2002).
STJ: (...) A competncia internacional regulada ou pelo direito internacional ou pelas regras internas de determinado pas acerca da matria, tendo por fontes os costumes, os tratados normativos e outras regras de direito internacional. Em matria penal adota-se, em regra, o princpio da territorialidade, desenvolvendo-se na justia ptria o processo e os respectivos inciden-tes, no se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras normas internacionais a que o pas tenha aderido, nos termos dos artigos 1 do Cdigo de Processo Penal e 5, caput, do Cdigo Penal. Doutrina. No caso dos autos, inexiste qualquer ilegalidade na quebra do sigilo bancrio dos acusados, uma vez que a medida foi realizada para a obteno de provas em investigao em curso nos Estados Unidos da Amrica, tendo sido implementada de acordo com as normas do ordenamento jurdico l vigente, sendo certo que a documentao referente ao resultado da medida invasiva foi posteriormente compartilhada com o Brasil por meio de acordo existente entre os pases. (...). (STJ, 5 Turma, HC 231.633/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 25/11/2014, DJe 3/12/2014).
8. Prerrogativas constitucionais do Presi-dente da Repblica e de outras autorida-des: refere-se o inciso II do art. 1 do CPP s prerrogativas constitucionais do Presidente da Repblica e de outras autoridades, em relao aos crimes de responsabilidade. A denominada Justia Poltica (ou Jurisdio Extraordinria) corresponde atividade jurisdicional exercida por rgos polticos, alheios ao Poder Judici-rio, apresentando como objetivo precpuo o afastamento do agente pblico que comete crimes de responsabilidade de suas funes. A ttulo de exemplo, de acordo com o art. 52, incisos I e II, da Constituio Federal, compete
privativamente ao Senado Federal processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-pblica nos crimes de responsabilidade, assim como os Ministros de Estado e os Comandan-tes da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles, bem como os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justia e do Conselho Nacional do Ministrio Pblico, o Procurador-Geral da Repblica e o Advogado-Geral da Unio nos crimes de responsabilidade, observando--se, em relao ao Presidente da Repblica e aos Ministros de Estado, a competncia da Cmara dos Deputados para a admissibili-dade e a formalizao da acusao (CF, art. 51, I; CF, art. 86; Lei n. 1.079/50, art. 20 e seguintes). Por sua vez, compete a um Tribu-nal Especial, composto por cinco Deputados, escolhidos pela Assembleia, e cinco Desembar-gadores, sorteados pelo Presidente do Tribunal de Justia, que tambm o presidir (Lei n. 1.079/50, art. 78, 3), processar e julgar, nos crimes de responsabilidade, o Governador, o Vice-Governador, e os Secretrios de Estado, nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles, assim como o Procurador-Geral de Justia e o Procurador-Geral do Estado. No caso de crimes de responsabilidade praticados por Prefeitos Municipais (infraes poltico--administrativas), que so os tipificados no art. 4 do Decreto-lei n. 201/67, a competncia para julgamento da Cmara Municipal. O processo pressupe que o Prefeito Municipal esteja no exerccio do mandato, na medida em que a nica sano prevista a cassao do mandato. Conquanto a Constituio Federal e a legislao ordinria acima referida (Lei n. 1.079/50 e Decreto-lei n. 201/67) se refiram prtica de crimes de responsabilidade, atri-buindo ao Senado Federal, ao Tribunal Espe-cial e Cmara Municipal o exerccio dessa atividade jurisdicional atpica, tecnicamente no h falar em crime, mas sim no julgamento de uma infrao poltico-administrativa. Ali-s, segundo Pacelli (op. cit. p. 188), mesmo quando a Constituio atribui a rgos do Judicirio a competncia para o julgamento de crimes de responsabilidade (art. 105, I, a,
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por exemplo), no se estar exercendo outro tipo de jurisdio que no seja a de natureza poltica, diante da natureza igualmente poltica das infraes. Nesse cenrio, indispensvel diferenciarmos crimes de responsabilidade em sentido amplo de crimes de responsabilidade em sentido estrito. Crimes de responsabilidade em sentido amplo so aqueles cuja qualidade de funcionrio pblico (CP, art. 327) funciona como elementar do delito. o que ocorre com os crimes praticados por funcionrios pblicos contra a administrao pblica (CP, arts. 312 a 326). Esses crimes de responsabilidade em sentido amplo esto inseridos naquilo que a Constituio Federal denomina de crimes comuns ou infraes penais comuns. Por seu turno, crimes de responsabilidade em sentido estrito so aqueles que somente podem ser praticados por determinados agentes polticos. Prevalece o entendimento de que no tm natureza jurdica de infrao penal, mas sim de infrao poltico-administrativa, passvel de sanes poltico-administrativas, aplicadas por rgos jurisdicionais polticos (normalmente rgos mistos, compostos por parlamentares ou por parlamentares e magistrados). A ttulo de exemplo, de acordo com o art. 2 da Lei n. 1.079/50, os crimes definidos nesta Lei, ainda quando simplesmente tentados, so passveis da pena de perda do cargo, com inabilitao, at 5 (cinco) anos, para o exerccio de qual-quer funo pblica, imposta pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente da Repblica ou ministros de Estado, contra os ministros do Supremo Tribunal Federal ou contra o Procurador-Geral da Repblica. Alm disso, a imposio da pena referida no artigo anterior (art. 2) no exclui o processo e julgamento do acusado por crime comum, na justia ordinria, nos termos das leis de processo penal (Lei n. 1.079/50, art. 3).Como desses crimes de responsabilidade no decorre sano criminal, no podem ser qualificados como infraes penais, figurando, pois, como infraes polticas da alada do Direito Cons-titucional.
9. Processos da competncia da Justia Militar (da Unio ou dos Estados): outra ressalva feita pelo art. 1 do CPP diz respeito
aos processos da competncia da Justia Mili-tar. De acordo com o art. 124 da Constituio Federal, Justia Militar da Unio compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Lado outro, segundo o art. 125, 4, da Carta Magna, compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos discipli-nares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas. A inaplicabilidade do Cdigo de Processo Penal no mbito da Justia Militar justifica-se pelo fato de ser aplicvel, na Justia Castrense, o Cdigo Penal Militar (Decreto--Lei n. 1.001/69) e o Cdigo de Processo Penal Militar (Decreto-Lei n. 1.002/69). Entretanto, importante destacar que o prprio estatuto processual penal militar prev a possibilidade de os casos omissos serem supridos pela le-gislao de processo penal comum, quando aplicvel ao caso concreto e sem prejuzo da ndole do processo penal militar (CPPM, art. 3, alnea a). Para mais detalhes acerca da competncia da Justia Militar, remetemos o leitor ao nosso Manual de Processo Penal e ao nosso Manual de Competncia Criminal, ambos editados pela Juspodivm.
10. Processos da competncia do tribunal especial: o art. 1, inciso IV, do CPP, faz men-o aos processos da competncia do tribunal especial (Constituio, art. 122, n. 17). Os artigos citados referem-se Constituio de 1937, sendo que esse tribunal especial a que faz meno o inciso IV o antigo Tribunal de Segurana Nacional, que j no existe mais, visto que foi extinto pela Constituio de 1946. O art. 122, n. 17 da Carta de 1937 previa que os crimes que atentarem contra a existncia, a segurana e a integridade do Estado, a guar-da e o emprego da economia popular sero submetidos a processo e julgamento perante tribunal especial, na forma que a lei instituir. Hoje, os crimes contra a segurana nacional esto definidos na Lei n. 7.170/83. Apesar de o art. 30 da Lei n. 7.170/83 dispor que os crimes nela previstos so da competncia da
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Justia Militar, referido dispositivo no foi recepcionado pela Constituio Federal de 1988, porquanto, segundo o art. 109, inciso IV, compete Justia Federal processar e julgar os crimes polticos, com recurso ordinrio para o Supremo (CF, art. 102, II, b).
11. Crimes de imprensa: outra ressalva constante do art. 1 do CPP diz respeito aos processos penais por crimes de imprensa. Referidos delitos estavam previstos na Lei n.5.250/67. Dizemos que estavam previstos na Lei n. 5.250/67 porque, no julgamento da arguio de descumprimento de preceito fun-damental n. 130 (Pleno, Rel. Min. Carlos Britto, 30/04/2009), o Supremo Tribunal Federal jul-gou procedente o pedido ali formulado para o efeito de declarar como no recepcionado pela Constituio Federal todo o conjunto de dispositivos da Lei 5.250/67. Como decidiu a prpria Suprema Corte, a no recepo da Lei de Imprensa no impede o curso regular
dos processos fundamentados nos disposi-tivos legais da referida lei, nem tampouco a instaurao de novos processos, aplicando-se lhes, contudo, as normas da legislao comum, notadamente, o Cdigo Civil, o Cdigo Penal, o Cdigo de Processo Civil e o Cdigo de Processo Penal.
12. Aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Penal: quando houver previso legal de procedimento diverso pela legisla-o especial, tal rito procedimental deve ser aplicado em detrimento daquele estabelecido no Cdigo de Processo Penal (princpio da especialidade). o que ocorre, a ttulo de exemplo, com os crimes de trfico de drogas, que contam com um procedimento especial regulamentado pela Lei n. 11.343/06. Isso, no entanto, no impede a aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Penal, sempre que no houver dispositivo especial em sentido diverso.
Art. 2 A lei processual penal aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior.1-4
1. Lei processual penal no tempo: a legis-lao processual penal tem sofrido inmeras alteraes nos ltimos anos. Diante da su-cesso de leis no tempo, apresenta-se de vital importncia o estudo do direito intertemporal.
2. Direito intertemporal e normas de Direi-to Penal: no mbito do Direito Penal, o tema no apresenta maiores controvrsias. Afinal, por fora da Constituio Federal (art. 5, XL), a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru. Logo, cuidando-se de norma penal mais gravosa, vige o princpio da irretroatividade. Para mais detalhes acerca do assunto, consultar comentrios smula n. 711 do STF (A lei penal mais grave aplica-se ao crime continua-do ou ao crime permanente, se a sua vigncia anterior cessao da continuidade ou da permanncia).
3. Direito intertemporal e normas de Di-reito Processual Penal: de acordo com o art. 2 do CPP, que consagra o denominado
princpio tempus regit actum, a lei processual penal aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior. Incide no processo penal o prin-cpio da aplicabilidade imediata, no sentido de que a norma processual aplica-se to logo entre em vigor, sem prejuzo da validade dos atos j praticados anteriormente. O funda-mento da aplicao imediata da lei processual que se presume seja ela mais perfeita do que a anterior, por atentar mais aos interesses da Justia, salvaguardar melhor o direito das par-tes, garantir defesa mais ampla ao acusado, etc. Portanto, ao contrrio da lei penal, que leva em conta o momento da prtica delituosa (tempus delicti), a aplicao imediata da lei processual leva em considerao o momento da prtica do ato processual (tempus regit actum). Do prin-cpio tempus regit actum derivam dois efeitos: a) os atos processuais praticados sob a vigncia da lei anterior so considerados vlidos; b) as normas processuais tm aplicao imediata,
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SMULAS CRIMINAIS DO STF E DO STJ COMENTADAS
1. Smulas Vinculantes 2. Smulas do Supremo Tribunal Federal 3. Smulas do Superior Tribunal de Justia
1. SMULAS VINCULANTES COM REFLEXOS NO DIREITO PENAL E NO DIREITO PROCESSUAL PENAL
Smula vinculante n. 5: A falta de de-fesa tcnica por advogado no processo administrativo disciplinar no ofende a Constituio.1-3
1. Ampla defesa no processo adminis-trativo disciplinar: dispondo a Constituio Federal que, aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (CF, art. 5, inciso LV), dvidas no restam quanto plena aplicao do direito de defesa e do contraditrio no mbito do processo admi-nistrativo disciplinar.
2. Obrigatoriedade de advogado no pro-cesso administrativo disciplinar: questiona--se se seria necessria a atuao de advogado no processo administrativo disciplinar, tal qual se faz necessrio em processo judicial (CPP, art. 261, caput). Acerca do assunto, o Superior Tribunal de Justia editou o verbete sumular de n. 343, segundo o qual obriga-tria a assistncia de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar, de forma a assegurar a garantia constitucional do contraditrio. Ocorre que, aps a edio da smula 343 do STJ, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se no sentido de que, em relao s punies disciplinares, o exerccio da ampla defesa abrange: a) o direito de informa-
o sobre o objeto do processo: obriga o rgo julgador a informar parte contrria dos atos praticados no processo e sobre os elementos dele constantes; b) o direito de manifestao: assegura ao defendente a possibilidade de se manifestar oralmente ou por escrito sobre os elementos fticos e jurdicos contidos no pro-cesso; c) o direito de ver os seus argumentos contemplados pelo rgo incumbido de julgar: exige do julgador capacidade de apreenso e iseno de nimo para contemplar as razes apresentadas. Todavia, concluiu a Suprema Corte que no se faz necessria a presena de advogado no processo administrativo discipli-nar. Exatamente em virtude dessa concluso, foi firmado pelo Supremo Tribunal Federal o enunciado da Smula Vinculante n. 5.
Jurisprudncia selecionada:STF: (...) Recurso extraordinrio. Processo Administra-tivo Disciplinar. Cerceamento de defesa. Princpios do contraditrio e da ampla defesa. Ausncia de defesa tcnica por advogado. A falta de defesa tcnica por advogado no processo administrativo disciplinar no ofende a Constituio. Recursos extraordinrios conhe-cidos e providos. (STF, Pleno, RE 434.059/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 07/05/2008, DJe 172 11/09/2008).
3. Obrigatoriedade de advogado no curso da execuo penal: a Smula Vinculante n. 5 aplicvel apenas em procedimentos de natureza cvel, jamais no curso da execuo penal, porquanto, nesse caso, est em jogo a
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liberdade de locomoo. Logo, na hiptese de o Juzo das Execues decretar a regresso de regime de cumprimento de pena sem que o condenado seja assistido por defensor duran-te procedimento administrativo disciplinar instaurado para apurar falta grave, h de se reconhecer a nulidade do feito, haja vista a violao aos princpios do contraditrio e da ampla defesa. Nesse sentido, basta atentar para as importantes modificaes introduzidas pela Lei n. 12.313/10 na Lei de Execuo Penal, que passou a prever a assistncia jurdica ao preso dentro do presdio, alm de outorgar importantes atribuies Defensoria Pblica.
Jurisprudncia selecionada: STF: (...) Recurso extraordinrio. Execuo criminal. Progresso de regime. Processo administrativo discipli-nar para apurar falta grave e determinar a regresso do regime de cumprimento da pena. Inobservncia dos princpios do contraditrio e da ampla defesa. Recur-so conhecido e provido. (STF, 2 Turma, RE 398.269/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2009, DJe 35 25/02/2010).
STJ: (...) Para o reconhecimento da prtica de falta disciplinar, no mbito da execuo penal, impres-cindvel a instaurao de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constitudo ou defensor pblico nomeado. Recurso especial no provido. (STJ, 3 Seo, REsp 1.378.557/RS, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, j. 23/10/2013, DJe 21/03/2014).
Smula vinculante n. 9: O disposto no art. 127 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execuo Pe-nal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e no se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.1-3
1. Remio: por meio desse importante be-nefcio ressocializador, permite-se, no mbito da execuo penal, que o sentenciado reduza o tempo de cumprimento da pena privativa de liberdade em razo do trabalho ou do estudo, nos termos previstos nos arts. 126 a 130 da Lei de Execuo Penal. Originariamente, a Lei de Execuo Penal previa a possibilidade de remi-o da pena to somente por meio do trabalho do preso. Com o passar do tempo, todavia, os Tribunais passaram a admitir o deferimento do
benefcio tambm nas hipteses de estudo. A propsito, eis o teor da smula n. 341 do STJ: A frequncia a curso de ensino formal causa de remio de parte do tempo de execuo de pena sob regime fechado ou semiaberto. Com a entrada em vigor da Lei n. 12.433/11, a controvrsia foi dirimida, passando a LEP a prever, expressamente, a possibilidade de remi-o pelo estudo. A proporo de abatimento da pena consta do art. 126, 1, da LEP: I um dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequncia escolar, divididas, no mnimo, em 3 (trs) dias; II 1 (um) dia de pena a cada 3 (trs) dias de trabalho. O deferimento do benefcio inde-pende da natureza do delito. Logo, autores de crimes hediondos e equiparados ou de delitos cometidos com violncia ou grave ameaa pessoa tambm podem ser beneficiados com a remio. Sem embargo de opinies em sentido contrrio, parece-nos possvel a remio de parte do tempo de execuo da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa extramuros.
Jurisprudncia selecionada:STJ: (...) Recurso Especial processado sob o regime previsto no art. 543-C, 2, do CPC, c/c o art. 3 do CPP, e na Resoluo n. 8/2008 do STJ. TESE: possvel a remio de parte do tempo de execuo da pena quando o condenado, em regime fechado ou semia-berto, desempenha atividade laborativa extramuros. O art. 126 da Lei de Execuo Penal no fez nenhuma distino ou referncia, para fins de remio de parte do tempo de execuo da pena, quanto ao local em que deve ser desempenhada a atividade laborativa, de modo que se mostra indiferente o fato de o trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente carcerrio. Na verdade, a lei exige apenas que o condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado ou semiaberto. Se o condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequncia a curso de ensino regular ou de educao profissional, no h razes para no considerar o trabalho extramuros de quem cumpre pena em regi-me semiaberto, como fator de contagem do tempo para fins de remio. Em homenagem, sobretudo, ao princpio da legalidade, no cabe restringir a futura concesso de remio da pena somente queles que prestam servio nas dependncias do estabelecimen-to prisional, tampouco deixar de recompensar o ape-nado que, cumprindo a pena no regime semiaberto, exera atividade laborativa, ainda que extramuros. A inteligncia da Lei de Execuo Penal direciona-se
Lima- CPP Comentado 1ed.indb 1622 27/01/2016 13:54:15
1. SMULAS VINCULANTES COM REFLEXOS NO DIREITO PENAL E NO DIREITO PROCESSUAL PENAL
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a premiar o apenado que demonstra esforo em se ressocializar e que busca, na atividade laboral, um in-centivo maior reintegrao social (a execuo penal tem por objetivo efetivar as disposies de sentena ou deciso criminal e proporcionar condies para a harmnica integrao social do condenado e do internado - art. 1). A ausncia de distino pela lei, para fins de remio, quanto espcie ou ao local em que o trabalho realizado, espelha a prpria funo ressocializadora da pena, inserindo o condenado no mercado de trabalho e no prprio meio social, mini-mizando suas chances de recidiva delitiva. Ausentes, por deficincia estrutural ou funcional do Sistema Penitencirio, as condies que permitam a oferta de trabalho digno para todos os apenados aptos ativi-dade laborativa, no se h de impor ao condenado que exerce trabalho extramuros os nus decorrentes dessa ineficincia. A superviso direta do prprio trabalho deve ficar a cargo do patro do apenado, cumprindo administrao carcerria a superviso sobre a regulari-dade do trabalho. Uma vez que o Juzo das Execues Criminais concedeu ao recorrido a possibilidade de realizao de trabalho extramuros, mostra-se, no m-nimo, contraditrio o Estado-Juiz permitir a realizao dessa atividade fora do estabelecimento prisional, com vistas ressocializao do apenado, e, ao mesmo tempo, ilidir o benefcio da remio. Recurso especial representativo da controvrsia no provido. (STJ, 3 Seo, REsp 1.381.315/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 13/5/2015, DJe 19/5/2015).
2. Perda dos dias remidos antes da vi-gncia da Lei n. 12.433/11: em sua redao original, o art. 127 da LEP dispunha que o condenado que for punido por falta grave perder o direito a tempo remido, comeando o novo perodo a partir da data da infra-o disciplinar. Sempre houve controvrsias acerca da constitucionalidade dessa perda da integralidade dos dias remidos. De um lado, havia quem entendesse que essa normatiza-o violava no apenas o direito adquirido, mas tambm a coisa julgada e o princpio da individualizao da pena. Destarte, ante a impossibilidade de haver a perda da integrali-dade dos dias remidos, ter-se-ia como vivel a aplicao do art. 58 da Lei de Execuo Penal para limitar a perda a 30 (trinta) dias. Acabou, prevalecendo, pelo menos no mbito dos Tri-bunais Superiores, a tese contrria. Aos olhos do Supremo Tribunal Federal, no h falar em direito adquirido remio, pois o direito foi adquirido sob clara condio legal resolutiva, qual seja, no punio por falta grave. Tam-
bm no h falar em ofensa cosia julgada, porquanto no h aplicao de outra pena, nem alterao da sentena condenatria. Por fim, revela-se invivel a aplicao do art. 58 da Lei de Execuo Penal para limitar a perda a 30 (trinta) dias, uma vez que o dispositivo trata de isolamento, suspenso e restrio de direitos, no tendo, pois, pertinncia com a remio. Como espcie de prmio concedido ao condenado em razo do tempo dedicado ao trabalho ou ao estudo, a remio est su-jeita clusula rebus sic stantibus, gerando, portanto, mera expectativa de direito. A con-cesso do benefcio no produz coisa julgada material, podendo ocorrer a revogao dos dias remidos diante do reconhecimento da prtica de falta grave pelo apenado. Como se pronunciou o Min. Carlos Britto (STF, 1 Turma, HC 89.784/RS, Rel. Min. Crmen Lcia, j. 21/11/2006, DJ 02/02/2007 p. 115), os dias remidos deviam ser contabilizados, como em uma conta bancria, em favor do prisioneiro. Porm, esse registro contbil po-deria ser estornado diante de uma falta grave. E o objetivo dessa contabilizao seria levar o prprio apenado a, conhecendo os benef-cios gradativamente obtidos, motivar-se para no cometer nenhuma falta, pois ele sabia que, cometida uma falta grave, a perda seria enorme, pois ele teria a sua contabilidade zerada. Enfim, com o objetivo de uniformizar a interpretao da legislao federal acerca do assunto luz da Constituio Federal, o Supremo editou a smula vinculante n. 9: O disposto no art. 127 da Lei 7.210/84 (Lei de Execuo Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e no se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do art. 58.
Jurisprudncia selecionada:STF: (...) Execuo penal: o condenado que come-ter falta grave perde o direito ao tempo remido: L. 7.210/84, art. 127 - constitucionalidade. manifesto que, havendo dispositivo legal que prev a perda dos dias remidos se ocorrer falta grave, no a ofende a aplicao desse dispositivo preexistente prpria sentena. Por isso mesmo, no h direito adquirido, porque se trata de expectativa resolvel, contra a lei, pela incidncia posterior do condenado em falta grave. (STF, Pleno, RE 452.994/RS, Rel. Min. Seplveda Pertence, j. 23/06/2005, DJ 29/09/2006).
Lima- CPP Comentado 1ed.indb 1623 27/01/2016 13:54:15
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NDICE ALFABTICO-REMISSIVO
A
- Ab-rogao da lei processual penal: art. 2;
- Aberratio ictus: consultar erro na execuo;
- Abolitio criminis (conceito; natureza jurdica; efeitos; requisitos; abolitio criminis temporria): smula n. 513 do STJ;
- Absolvio (sentena; espcies de sentena abso-lutria; presuno de inocncia e regra probatria; fundamentos; efeitos principais e secundrios): art. 386;
- Absolvio anmala: smula n. 18 do STJ;
- Absolvio e coisa julgada no cvel: arts. 65, 66 e 67;
- Absolvio imprpria: art. 386;
- Absolvio sumria (conceito; julgamento antecipado da lide; hipteses legais; absolvio sumria impr-pria): arts. 397 e 415;
- Abuso de autoridade praticado por militar em servio (competncia de Justia): smula n. 172 do STJ;
- Ao civil ex delicto: art. 63;
- Ao controlada (conceito; necessidade de prvia autorizao judicial; entrega vigiada): art. 302;
- Ao controlada (medidas assecuratrias): art. 125;
- Ao de preveno penal: art. 24;
- Ao penal (direito; natureza jurdica; classificao): art. 24;
- Ao penal adesiva: art. 24;
- Ao penal condenatria (conceito; classificao): art. 24;
- Ao penal de iniciativa privada (legitimidade; esp-cies); arts. 24 e 30;
- Ao penal extensiva: smula n. 608 do STF;
- Ao penal indireta: art. 29;
- Ao penal popular: art. 24;
- Ao penal privada subsidiria da pblica (acidental-mente privada): arts. 24 e 29;
- Ao penal pblica (legitimidade; espcies): art. 24;
- Ao penal pblica subsidiria da pblica: art. 24;
- Ao penal secundria: art. 24;
- Acareao (conceito; pressupostos; natureza jurdica; procedimento; valor probatrio; acareao distn-cia): arts. 229 e 230;
- Acelerao de julgamento (desaforamento): art. 428, 2;
- Acelerao de julgamento (excesso de prazo): art. 316;
- Acesso do advogado aos autos da investigao preli-minar: smula vinculante n. 14;
- Acidente de trnsito: art. 6, I;
- Acidente de trnsito (preservao do local do crime): art. 169;
- Acidente de trnsito envolvendo viatura da polcia militar (competncia de Justia): smula n. 6 do STJ;
- Acordo de assistncia judiciria (priso preventiva): art. 312;
- Acordo de lenincia (brandura ou doura) como ex-ceo ao princpio da obrigatoriedade: art. 24;
- Acordo de lenincia: consultar colaborao premiada;
- Acusado (conceito; capacidade; inimputabilidade): art. 259;
- Acusatrio (sistema): art. 1;
- Adequao (pressuposto objetivo de admissibilidade recursal): art. 574;
- Adequao social (princpio): smula n. 502 do STJ;
- Aditamento denncia: art. 569;
- Aditamento da queixa-crime: art. 45;
- Aditamento provocado (mutatio libelli): art. 384;
- Aeronave (competncia): art. 90;
- Afastamento cautelar do magistrado: art. 319;
- Afastamento cautelar do servidor pblico (improbi-dade administrativa; trfico de drogas): art. 319;
- Agravo em execuo (recurso; cabimento; procedi-mento; prazo recursal): smula n. 700 do STF;
Lima- CPP Comentado 1ed.indb 1873 27/01/2016 13:54:34
CPP COMENTADO RENATO BRASILEIRO DE LIMA
1874
- Alegaes orais: arts. 403 e 411;
- Algemas: consultar uso de algemas;
- libi (prova indireta): art. 155;
- Alistamento dos jurados: art. 425;
- Alienao antecipada (conceito; previso legal; mo-mento adequado; legitimidade; pressupostos; pro-cedimento; destinao do produto da alienao): art. 144-A;
- Ampla defesa (princpio; defesa tcnica; direito de escolha do defensor; autodefesa; direito de presena; direito de audincia; capacidade postulatria autno-ma do acusado): art. 155;
- Ampla defesa na investigao preliminar (exerccio exgeno e endgeno): art. 4;
- Analogia (aplicao analgica): art. 3;
- Anulabilidade: art. 563;
- Aparte: art. 497;
- Apelao (recurso; conceito; espcies; previso legal; hipteses de cabimento; prazo): art. 593;
- Aplicao supletiva e subsidiria do novo Cdigo de Processo Civil ao processo penal: art. 3;
- Apreenso: arts. 6, II, e 118;
- Apreenso (busca): consultar busca;
- Apresentao espontnea do agente: arts. 303 e 317;
- Arguio de parcialidade (testemunha): art. 214;
- Argumento de autoridade: art. 478;
- Arquivamento do inqurito policial (conceito; natureza jurdica; fundamentos; coisa julgada formal e material; procedimento; recorribilidade): art. 28;
- Arquivamento implcito: art. 28;
- Arquivamento indireto: art. 28;
- Arrais-amador: consultar carteira de habilitao de arrais-amador:
- Arresto prvio (ou preventivo): art. 136;
- Arresto subsidirio (conceito; objeto; pressupostos): art. 137;
- Assero ou afirmao (princpio): consultar recursos de fundamentao vinculada (art. 574);
- Assero (teoria): art. 24;
- Assistncia jurdica dos necessitados: art. 32;
- Assistente da acusao (conceito; habilitao; momen-to oportuno; natureza jurdica dos interesses do assis-tente; atribuies; pedido de admisso; instrumentos de impugnao): arts. 268 a 273;
- Assistente da acusao (interesse de agir para recorrer extraordinariamente de deciso concessiva de habeas corpus): smula n. 208 do STF;
- Assistente da acusao (prazo recursal; desnecessida-de de prvia habilitao para fins de interposio de recursos): smula n. 448 do STF;
- Assistente da acusao (legitimidade restrita e subsi-diria): art. 598;
- Assistente da defesa: art. 268;
- Assistente tcnico (conceito; distino em relao aos peritos; momento adequado para a indicao): art. 159, 3;
- Ata de julgamento: arts. 494 e 495;
- Atenuantes e possibilidade de reduo da pena abaixo do mnimo legal: smula n. 231 do STJ;
- Atestado de antecedentes: art. 20;
- Atos processuais (espcies): art. 563;
- Atualidade (regra): art. 84;
- Audincia bilateral: consultar contraditrio (princpio);
- Audincia de conciliao (procedimento dos crimes contra a honra): art. 520;
- Audincia de custdia (ou de apresentao): art. 306;
- Audincia una de instruo e julgamento: arts. 399 e 400;
- Auto de priso em flagrante (conceito; autoridade dotada de atribuies; fracionamento; formalidades constitucionais; remessa autoridade competente): art. 304;
- Auto de priso em flagrante e dispensa do inqurito policial: art. 8;
- Auto de priso em flagrante negativo: art. 304;
- Auto-organizao dos Tribunais: smula n. 206 do STJ;
- Autpsia (ou necropsia): art. 162;
- Autoridade coatora (habeas corpus): art. 658;
- Autoritariedade (princpio): art. 24;
- Autorresponsabilidade das provas (princpio): art. 155;
- Auxlio direto (cooperao jurisdicional internacional): art. 780;
- Aviso de Miranda (Miranda rights ou Miranda Warnin-gs): consultar nemo tenetur se detegere (princpio);
- Avocatria (competncia): art. 82;
B
- Bafmetro (conceito; espcies; embriaguez ao volante; etilmetro passivo): art. 170;
- Banco Nacional de Mandados de Priso (BNMP): art. 289-A;
- Bens de famlia (medidas assecuratrias): arts. 125 e 134;
Lima- CPP Comentado 1ed.indb 1874 27/01/2016 13:54:34