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8/18/2019 1945-03 - O Tempo Lógico e a Asserção de Certeza Antecipada (Escritos)
http://slidepdf.com/reader/full/1945-03-o-tempo-logico-e-a-assercao-de-certeza-antecipada-escritos 1/9
o tempo 16gico e a assen;ao
de certeza antecipada
Um novo sofisma
Foi-nos solicitado por Christian Zervos, em mar«o de 1945,
contribuir, junto a uma certa gama de escritores, para 0numero
de retomada de sua revista, Les Cahiers d'Art, concebido com
o desfgnio de preencher, com seu laureado sumario, um pa-
rentese com os seguintes numeros em sua capa: 1940-1944,
significativos para muita gente.
Nos ousamos este artigo, bem a par de que isso era toma-Io
imediatamente intangfveI.
Possa ele ressoar uma nota justa entre 0 antes e 0depois em
que 0situamos aqui, mesmo que demonstre que 0depois se fazia
de antedimara para que 0antes pudesse tomar seu lugar.
o diretor do presfdio faz comparecerem tres detentos escolhidos
e Ihes comunica 0 seguinte:
"Por raz6es que nao Ihes tenho de reIatar agora, devo libertar
urn de voces. Para decidir qual, entrego a sorte a uma prova
peIa qual terao de passar, se estiverem de acordo.
"Voces sao tres aqui presentes. Aqui estao cinco discos que
so diferem por sua cor: tres sao brancos e dois sao pretos. Semdar a conhecer qual deIes terei escolhido, prenderei em cada um
de voces urn desses discos nas costas, isto e , fora do alcance
direto do olhar; qualquer possibilidade indireta de atingi-lo peIavisao estando igualmente exc1ufda pela ausencia aqui de qualquer meio de se mirar .
"A partir daf, estarao a vontade para examinar seus compa-
nheiros e os discos de que cada urn deles se mostrani portador sem que Ihes seja permitido, natural mente, comunicar uns aos
outros 0 resultado da inspe~ao. 0 que, alias, 0 simples interesse 1198J
de voces os impediria de fazer . Pois 0 primeiro que puder deduzir sua propria cor e quem devera se beneficiar da medida liberatoria
de que dispomos.
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"Sera preciso ainda que sua conclusao seja fundamentada em
motivos de 16gica, e nao apenas de probabilidade. Para esse fim
fica convencionado que, tao logo um de voces esteja pronto ~
formula-la, ele transpora esta porta, a fim de que, chamado a
parte, seja julgado por sua resposta."
Aceita essa proposta, cada um de nossos tres sujeitos e
adornado com um disco branco, sem se utilizarem os pretos, dos
quais se dispunha, convem lembrar, apenas em numero de dois.
Como podem os sujeitos resolver 0 problema?
Depois de se haverem considerado entre si par um certo tempo,
os tres sujeitos dao juntos alguns passos, que os levam simul-
taneamente a cruzar a porta. Em separado, cada um fornece
entao uma resposta semelhante, que se exprime assim:
".Sou branco, e eis como sei disso. Dado que meus compa-
nhelros eram brancos, achei que, se eu fosse preto, cada umdeles poderia ter inferido 0seguinte: 'Se eu tambem fosse preto,
o ~utro, devendo reconhecer imediatamente que era branco, teria
saldo na m esma hora, logo, nao sou preto.' E os dois teriam
safdo juntos, convencidos de ser brancos. Se nao estavam fazendo
nada, e que eu era branco com o eles. Ao que saf porta afora,
para dar a conhecer minha conclusao."
Foi assim que todos tres safram simultaneamente, seguros dasmesmas razoes de concluir .
Valor sof[stico dessa solu(:iio
Pode essa solu~ao, que se apresenta como a mais perfeita que
o problema pode comportar, ser atingida na experiencia? Dei-
xamos a iniciativa de cad a um 0 encargo de decidir .
Nao que aconselhemos, decerto, a fazer a pro va dela ao natural [1 9 1 1 1
ainda que 0 progresso antinom ico de nossa epoca pare~a h~
algum tempo colocar suas condi~oes ao alcance de um numero
cad~ vez maior: tememos, com efeito, embora s6 se prevejam
aqUI ganhadores, que 0 fato se afaste dem ais da teoria e, por
outro lado, nao som os desses fil6sofos recentes para quem 0
cerceamento de quatro paredes e apenas um favor a mais para
o segredo da liberdade humana. . _ .A
Mas, praticada nas condi~oes inocentes da flc~ao, a expenen-
cia nao decepcionara, n6s 0 garantimos, aqueles que conservam
urn certo gosto pelo espantar-se. Talvez ela se revele, ~ara 0
psic610go, de algum valor cientffico, pelo menos a nos flar n~que dela pareceu-nos depreender -se ---: por a havermos .expen-
mentado com diversos grupos convementemente escolhldos de
intelectuais qualificados - de um desconhecimento todo espe-
c ial , ne sses s ujei tos, d a reali dade do out ro. . , .
Quanto a n6s, s6 queremos ater -nos aqul ao va~or logIC? da
solu~ao apresentada. Ela nos parece, de fato, um sofls~a .n?ta~el,
no sentido classico da palavra, isto e, um exemplo slgmflcatlvo
para resolver as formas de uma fun~ao 16gica no ~OI~~nto
hist6rico em que seu problema se apresenta ao exame fllosohco.
As imagens sinistras do relato decerto se mostrarao contingentes
af . Mas, por mais que nosso sofisma nao apare~a sem corres-
ponder a alguma atualidade de nossa epoca, nao e ir~elevante
q ue t ra ga 0 s in al d el a e m t ai s i ma ge ns , e e p or I SSO q ue
conservamos seu apoio, tal como 0 anfitriao engenhoso de uma
noite 0 trouxe a nossa reflexao.
Colocamo-nos agora sob os auspfcios daquele que as vezes
se apresenta sob a roupagem do fil6sofo, que com m~is freqiiencia
ha que ser buscado, ambfguo, nos ditos do humonsta, mas que
e sem pre encontrado no segredo da a~ao do politico: 0 bom
16gico, odioso ao mundo.
Todo sofisma se apresenta, de infcio, como um erro 16gico, e aobje~ao a este encontra facilmente seu p .rimeiro. argumento.
Chamamos A 0 sujeito real que vem conclUIr por Sl, e Bee os
sujeitos refletidos, com base em cuja conduta ele estabelece sua
dedu~ao. Se a convic~ao de B, dirao; fund~menta-s e ~ a ~ xp ec-
tativa de C, a seguran~a daquela devera loglcamente dlsslpar-se
com a retirada desta; reciprocamente para C em rela~ao a B ; e
todos dois permimecerao n~ :ndecisao. Nada, portanto, eXi~e sua
partida~ se A for preto. Oaf resulta que A s6 pode deduzlr que
e branco.
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Ao que convem retrucar, primeiro, que toda essa cogita~ao
de Bee Ihes e indevidamente imputada, ja que a unica situa~ao
que poderia motiva-la neles, a de ver urn preto, nao e verdadeira,
e trata-se de saber se, sendo suposta essa situa~ao, seu desen-
volvimento 16gico lhes e erroneamente imputado. Ora, nao e
nada disso. Pois, nessa hip6tese, e a fato de nenhum dos dais
haver sardo primeiro que per mite a cada urn pensar-se como branco, e e claro que bastaria eles hesitarem por urn instante
para que ambos fossem refor~ados, sem possibilidade de duvida,
em sua convic~ao de serem brancos. E que a hesita~ao estaria
logicamente excluida para qualquer urn que visse dois pretos.
Mas ela tambem esta real mente excluida nessa primeira etapa
da dedu~ao, pois, nao se achando ninguem na presen~a de urn
preto e urn branco, nao ha como ninguem sair , pela razao quese deduz disso.
Mas a obje~ao reapresenta-se com mais for~a na segunda
etapa da dedu~ao de A. Isso porque, se foi com r azao que ele
chegou it sua conclusao de ser branco, dizendo que, se fosse
preto, os outros nao tardariam a se saber brancos e deveriamsair, eis que ele tern de voltar atras tao logo a formula, uma vez
que, no momento de ser movido por ela, ve as outros precipi-tarem-se junto com ele.
Antes de responder a isso, recoloquemos bem os termos
16gicos do problema. A designa cada urn dos sujeitos como
aquele que esta pessoalmente na berlinda e que se decide ou nao
a concluir sobre si mesmo. Bee sao as outros dois, como
objetos do raciocfnio de A. Mas, se este pode imputar-lhes
corretamente, como acabamos de mostrar , uma cogita~ao que
de fato e falsa, s6 Ihe e possivel levar em conta a comportamentoreal deles.
Se A, por ver Bee precipitarem-se junto com ele, volta a
suspeitar de ser visto por eles como preto, basta-lhe recolocar aquestao, detendo-se, para resolve-la. Com efeito, ele os ve
deterem-se tambem: e que, estando cada urn realmente na mesma
situa~ao que ele, ou, melhor dizendo, sendo todos os sujeitos A [ 2 0 1 1
como real, isto e, como aquele que se decide ou nao a concluir
sobre si, cada qual depara com a mesma duvida no mesmo
momenta que ele. Mas, sendo assim, seja qual for 0 pensamento
que A impute a Bee, e com razao que concluira novamente
que ele mesmo e branco. Pois de novo ele diz que, se fosse
preto, Bee deveriam ter prosseguido; au entao, caso admita
que eles hesitam - conforme a argument~~ao pr~cedente, que
encontra aqui 0apoio do fato e que as fana suspettar de serem
au nao pr etos eles mesmos -, no minimo eles dev~r i~m t o:n~r
a andar ant es dele (ja q ue, sendo preto, ele dana a propna
hesita~ao de Bee seu alcance exato para eles .concluf r em que
sao brancos). E e em vista de, por verem-no de fato branco, eles
nao fazerem nada, que ele mesmo toma a iniciativa de faze-la,
isto e, que todos recome~am a andar juntos, para declarar que
sao brancos.
Mas, ainda podem objetar -n os qu e, a o eliminar assim 0
obstaculo, nem par isso refutamos a obje~ao 16gica, e que ela
se reapr esentara identica com a reiter a~ao do movimento, e
reproduzira em cada urn dos sujeitos a mesma duvida e a mesma
parada. .
Seguramente, mas e preciso que tenha havldo, urn pro.gresso
16gico realizado, em razao de que, desta vez, A so pode tlrar da
parada comum uma conclusao inequfvoca. Trata-se de que, se
ele fosse preto, Bee nao deveriam ter parado, em absol~to.Pais, no ponto presente, e impossivel que eles possam h~sl.tar
uma segunda vez em concluir que saD brancos: uma umca
hesita~ao, de fato, e suficiente para eles demonstrarem ~m ao
outro que, certamente, nem urn nem outro sa~ pretos~ Ass~~, se
Bee pararam, A s6 pode ser branco. Ou seJa, os tres sUJettos,
desta vez, saD confirmados numa certeza que nao permite que
renas~a nem a obje~ao nem a duvida.
o sofisma preserva, portanto, it prova de discussao, todo 0
rigor coercitivo de urn processo 16gico, sob a condi~a? de que
integremos nele 0 valor das duas escansoes suspenSlvas, que
essa prova mostra confirmar no pr6prio ato em que cada urn dos
sujeitos evidencia que chegou it sua conclusao.
Sera lfcito integrar no valor do sofisma as duas mor;oes suspensas
assim surgidas? Para decidir, convem examinar qual e a papel
delas na so]u~ao do processo 16gico.
Elas s6 desempenham esse papel, com efeito, ap6s a conclusao
do processo 16gico, uma vez que 0ato que suspendem manifesta
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essa propr ia c on clusao. Logo, nao se pode ob jetar daf que elas
introduzam na soluc;ao um elemento externo ao pr ocesso logico
em si.
Seu papel, a pe sa r d e cr ucial na pnitica do processo logico,
nao e 0da exper iencia na ver ificavao de uma hipotese, mas antes
o de um fato intr f nseco a ambigiiidade logica.
Pelo primeiro aspecto, com efeito, os dados do problema se
decomporiam assim:
I Q ) sao logicamente possfveis tres combinavoes dos atributos
car acterfsticos dos su jeitos: dois pr et os e um branco, um preto
e dois b rancos, tres br ancos. Estando a pr imeira excluf d a p el a
observavao de todos, perm anece em a ber to uma incognita entre
as outras duas, a qual vem resolver :
2Q) 0 dad o da experiencia das movoes suspensas, que equi-
valeria a um sinal pelo qual os sujeitos com unicariam uns aos
outros, de uma forma determinada pelas condivoes da prova,
aquilo q ue Ihes e proi bido comunicar de forma intencional ou
seja, 0 q ue cada um deles ve d o atri buto dos outros. '
Nao e bem assim, pois isso ser ia fornecer do processo logicouma conce pvao espacializada, a mesma que transparece toda ~ez
que ele assume 0 aspecto do er r o, e q ue e a unica a objetar a
solubilidad e do pr oblema.
E justamente por nosso sof isma nao a tolerar q ue ele se
apresenta como uma apor ia pa r a as for mas da logica classica,
cujo pr estfgio "eterno" retlete a invalid ez nao menos reconhecida
com o Ihes sendo propr ia, Iqual se ja, que eIas nunca trazem nada
q ue ja nao possa ser visto de um so golpe.
Muito pelo contrar io , a e nt ra da em jogo dos fenomenos aqui [203]
em litfgio como significantes faz prevalecer a estrutura tempor al,
e nao espacial, do processo logico. 0 que as moroes suspensas
denunciam nao e 0 que os su jeitos veem, m as 0 que eles
descobriram positivamente pOl' aquilo que niio veem, a saber, 0
aspecto dos discos pretos. A r az ao d e elas serem significantes
e constituf da, nao pOl' sua direvao, mas por seu tempo de parada.Seu valor cr uc ia l n ao e 0 de uma escolha binaria entre duas
com binavoes justapostas no inerte2 e d esemparelh ad as p el a e x-
c1usao visual da terceir a, ma s 0 do movimento de verificavao
institufdo pOl' um processo logico em que 0 sujeito transfor mou
as tres combinavoes possfveis em tr es tempos de possibilidade.
E tambem por isso que, enquanto um s o sinal deveria bastar
par a a unica escolha imposta pela primeira interpretavao, erronea,
duas escansoes sao necessarias para a verif icavao dos dois lapsos
d e tempo implicados pela segunda, e uni ca q ue e v alida.
L onge de ser um dado da experiencia externa no processo
logico, as mor oes suspensas sao tao necessarias nele que somente
a experiencia pode fazer com que 0 sincronismo que ela s i m- plicam deixe d e se prod uzir num sujeito de pura logica, e fazer
com que f r acasse a funvao delas no processo de ver if icavao.
De f at o, elas nada representam ali senao os patam ar es de
degradavao com q ue a necessidade faz surgir a ordem crescente [204]
d as instancias d o tempo que se r egistr am no pr ocesso logico,
par a se integr al' em s ua conclusao.
Com o se ve na d etermi na va o l ogic a d os tempos de par ada
que e las c onstituem, a q u al , o b jevao do logico ou duvid a d o
sujeito, revela-se a cad a vez como 0desenrolar sub jetivo de uma
instancia do tempo, ou, melhor dizendo, com o a fuga do su jeito
para uma exigencia formal.I. E nao menos pr 6pr ia das mentes f ormad as por essa tradiyao, como atesta 0
bilhete seguinte, q ue r ece bemos de ur n e s pfrito no entanto aventureir o em outros
domfnios, d e pois d e uma noitad a em que a discussao de nosso fecundo sof isma pr ovocar a nas mentes eleitas d e ur n colegio fntimo urn ver dad eir o panico
conf usional. E mais, m algrado suas primeir as palavras, esse bi lhete tr az as mar cas
d e uma la boriosa elucid ayao:
"Meu caro Lacan, eis ur n bilhete a pressad o a f im de dirigir sua r ef lexao par a
uma nova dif iculdade: na ver dad e, 0 raciocf nio aceito ontem nao e conclusivo
pois nenhum d os tres estados possf veis - 000 - 00.-••• - e red utf vei
ao o utr o (a pesar das aparencias): s omente 0 ultimo e de cisivo.
"Conseqliencia: q uand o A se su poe preto, nem B nem C pod em sair, pois
nao podem deduzir d e seu comportamento se sac pr etos ou br ancos, porque, se
ur n for pr eto, 0 outr o sai, e se ele for branco,. 0'outro sai tambem, ja que 0
pr imeiro nao sai (e vice-ver sa). Quando A se s u poe branco, eles tambem nao
pod em saiL De modo que, m ais uma vez, A nao pod e d eduzir do com portamento
dos outros a c or de seu disco."Assim, nosso contr ad itor, por ver be m demais 0caso, f icou cego par a 0 fato
de que nao e a safd a d os outr os, mas sua es pera, que determina 0 juf zo d o
sujeito. E, por nos r ef utar efetivamente com uma cer ta pressa, ele deixou escapar
o qu e tentamos demonstr ar aqui: a f unyao da pr essa n a 16gica.
2. "Irr edutfveis", como se expr ime 0contraditor citado na nota acima.
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· Essas ins,tancias do tempo, constitutivas do processo do so-
f lsm a, permltem I:econhecer af urn verdadeiro movimento logico.
Esse pr ocesso eXIge 0exame da qualidade de seus tempos.
A modularao do tempo no movimento do sof isma:
o instante do olhar, 0
tempo para compreender e 0momento de concluir
I~o~am-s.e no sofisma tres momentos da evidencia , cujos valores
loglcos Ira~ revelar-se, diferentes e de ordem crescente. Expor
sua su~essao cronologlca ainda e espacializa-Ios segundo urn
formahsmo que tende a reduzir 0discurso a urn alinhamento de
sinais. ~ostrar que a instancia do tem po se apresenta de urn
mo~o dlte~'ente em cada urn desses m om entos e pr eservar-Ihes
a, hler arqula, revelando neles uma descontinuidade tonal, essen-
clal para seu valor . Mas, captar na modula(;iio do tempo a propria
func;:aoyela qual cad a urn desses momentos, na passagem para
o segumt~, e reabsorvido, subsistindo apenas 0ultim o que os
absorve: e restabelecer a sucessao real deles e compreender
verd adelram~nte sua genese no movimento logico. Eo que iremos
ten tar a partir de uma formulac;:ao, tao rigorosa quanto possfvel,
desses momentos da evidencia.
l~) ~stando diante de dois pretos, sabe-se que se e branco
EIS al uma, exclusa.o logica que da ao movimento sua base. Que
el~ ,lhe seJa antenor, que se possa tom a-Ia pOl' obtida pelos
s~Jelt~s com os dados do problema, os quais impedem a com-
?mac;:ao de tres ~retos, independe da contingencia dramatica que
Iso,la seu enunclado como pro logo. Ao exprimi-Ia sob a forma
dots pretos :: um branco, ve-se 0 valor instantiineo de sua
eVi?e~cia, e seu tempo de fulgurac;:ao, se assim podemos dizer,sena Igual a zero.
M~s, sua formula.c;:ao ja se modula no infcio: pela subjetivac;:ao [20 51
que al se desenha, amda que impessoal, sob a forma do "sabe-se
q~e: ..", e pela conjunc;:ao das proposic;:6es, que, mais do que uma
hlpotese formal, representa uma matriz ainda indeterminada -
digamos, essa forma de conseqiiencia que os lingiiistas designam
pelos termos protase e apodose: "Estando ... , so entao sesabe
que se e ... "
Uma instancia do tempo a bre 0intervalo para que 0dado da
protase, "diante de dois pretos", transmude-se no dado da
apodose, "e-se branco": e preciso haver 0 insfanfe do olhar. Na
equivalencia logica dos dois termos: "Dois pr etos : urn branco" ,
essa modulac;:ao do tempo introduz a forma que, no segundo
momento, cristaliza-se como hipotese autentica, pois vem a visar
it verdadeira incognita do problema, qual seja, 0atributo ignorado pelo proprio sujeito. Nessa passagem, 0 sujeito depara com a
seguinte combinac;:a o l og ic a e, sendo 0unico capaz de assumir
o atributo do preto, vem, na primeira fase do movimento logico,
a formular assim a evidencia seguinte:
2Q) Se eu fosse preto, os dois brancos que estou venda nao
tardariam a se reconhecer como sendo brancos
Eis af uma intuir;-ao pela qual 0 sujeito objetiva algo m ais do
que os dados de fato cuja aparencia Ihe e oferecida nos dois
brancos; ha urn certo tempo que se define (nos dois sentidos, de
adquirir senti do e encontrar seu limite) pOl' seu fim, simultanea-
mente objetivo e termino, qual se ja , par a c ad a u rn d os d oi s brancos, 0 tempo para compr eender , na situac;:ao de vel' urn
branco e urn preto, que ele detem na inercia de seu semelhante
a chave de seu proprio problema. A evidencia desse momento
sup6e a durac;:ao de urn tempo de meditar;-aoque cada urn dos
dois brancos tern de constatar no outro, e que 0sujeito manifesta
n os t er mo s q ue l ig a a os l ab io s d e u rn e d o o ut ro , c omo s e
estivessem inscritos numa bandeirola: "Se eu fosse preto, ele
teria safdo sem esperar urn instante. Se ele continua med itando,
e pOl'que sou branco."
Mas, desse tem po assim objetivado em seu sentido, com o
medir 0 lim ite? 0 tem po de com preender pode reduzir -se ao
instante do olhar , mas esse olhar, em seu instante, pode incluir
todo 0tempo necessario para compreender . Assim, a objetividade
desse tempo vacila com seu limite. Subsiste apenas seu senti do,
com a forma que gera de sujeitos indefinidos, a nao ser por sua [2061
reciprocidade, e cuja ac;:1iofica presa pOl' uma causalidade mutua
a urn tempo que se furta no proprio retorno da intuic;:ao que 0
objetivou. E all'aves dessa modulac;:ao do tempo que se abre,
com a segunda fase do m ovimento logico, a v ia q ue l ev a it
seguinte evidencia:
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3Q) Apresso-me a me afinnar como branco , para que esses
brancos, assim considerados por mim, nao me precedam,
reconhecendo-se pelo que saD
Eis af a asserriio sobre si, pela qual 0sujeito conclui 0movimento
logico na decisao de ur n iu/ zo. 0 propr io r et or no do movimento
de compreender, sob 0 q ual vacilou a instancia do tempo que 0
sustenta objetivam ente, pr ossegue no su jeito como uma reflexao,
na q ual essa instancia ressurge para ele sob 0modo subjetivo
de um tempo de demora em rela<;ao aos outros nesse mesmo
movimento, e se apresenta logica me nt e c omo a u rg en ci a d o
momenta de concluir. Mais exatamente, sua evidencia revela-se
na penumbra subjetiva, como a crescente ilumina<;ao de uma
franja no limite do eclipse sofrido, sob a reflexao, pela objeti-
vidade do tempo para compreender.
Com efeito, esse tempo para que os dois brancos compreendam
a situa<;ao q ue os coloca na presen<;a de urn branco e de urn
preto parece nao difer ir logicament e, p ar a 0 sujeito, do tempo
que Ihe foi necessario para q ue ele mesmo a compreendesse, jaq ue essa situa<;ao nao e outra senao sua propria hipotese. Mas,
se essa hipotese e verdadeira, se os dois brancos realmente veem
urn preto, entao eles nao tiveram q ue sup6-la como ur n dado.
Portanto, daf resulta, sendo esse 0casa, q ue os dois brancos 0
precedem pelo tempo de cadencia implicado, em detrimento dele,
por ter tido que formar essa propr ia hipotese. Esse, portanto, eo momenta de concluir q ue ele e branco; de fato, se ele se deixar
preceder nessa conclusao por seus semelhantes, niio podera mais
reconhecer que nao e pr eto. Pass ado 0 tempo para compr eender
o momento de concluir , e 0 momento de concluir 0 tempo para
compreender . P oi s, d e out ro m od o, esse tem po perderia seu
sentido. Assim, nao e em razao de uma contingencia dramatica,
da gravid ad e d o q ue esta em jogo, ou da emula<;ao do jo go q ue
o tempo urge; e na urgenc ia do movimento logico que 0 su jeito
precipita simultaneamente seu jufzo e sua safda, no sentido
etimologico d o verbo, "de cabe<;a" , dando a m od ula<;ao em que
a tensao do tempo inverte-se na tendencia ao ato q ue evid encia
a os outros que 0 sujeito conclui u. M as , d e tenhamo-nos nesse
pont o e m qu e 0 su jeito, em sua asser <;ao, ating e u ma v er d ade [2011
q ue ser a submetida a pr o va d a d uvida, mas q ue ele nao poder ia
ver ificar se nao a atingisse, pr imeiramente, na certeza. A tensiio
temporal culmina af, pois, como ja sabemos, e 0d.esenrol,ar . d e
sua d istensao q ue ir a escandir a pr ova de sua nece~sldade loglca.
Qual 0 valor logico dessa asser<;ao conclusiva ? E 0 que t~~ta-
remos destacar agora no movimento logico em que ela se venf lca.
A tensao do tempo na asserrao subjetiva
e seu valor manifesto na demonstrarao do sofisma
o valor logico do terceir o m om enta da evid encia, ~ue se fo~~ula
na asser<;ao pela q ual 0 su jeito conclui seu movlmento loglco,
parece-nos digno de ser aprof undado. Ele revela: de fato, uma
forma propria a uma 16gica assertiva, da qual convem demonstrar
a que relaroes or iginais ela se a plica. ., .
Progredindo nas rela<;6es proposicionais dos dOlS pnmelr os
momentos, ap6dose e hip6tese , a con jun<;ao aqui manifesta se
vincula a uma motivariio da conclusao, "para que niio haia"
(demora que gere 0erro), onde parece af lorar a forma o?tologic.a
da angustia, curiosamente refletida na expressao gramatIcal eq Ul-valente, "por medo de que" (a demora gere 0erro).:. . .
Sem duvida, essa forma esta relacionada com a ongmahdad .e
logica do sujeito da asser<;ao: em raza~ do que nos ~ .cara?t~n-
zamos como asserriio subietiva, ou seja, nela, 0 sU jelto loglco
nao e outro senao a for ma pessoal do su jeito do conhecimento,
aquele que so pod e ser expr imido por [eu]. Em outras pala~r ~s,
o juf zo q ue conclui 0 sofisma so pode ser portado pe~o sU jelto
que formou a asser<;ao sobre si, e nao pode ser -Ih e I mputado
sem r eservas por nenhum outro - ao contrar io das rela<;6es d .o
sujeito impessoal e do su jeito inde!inido redpr ~c.o do~, d OlS
pr imeiros m omentos, que sao essenclalmente tranSltIvOS, ja que
o sujeito pessoal do movimento logico os assume em cada u rn
desses momentos.A referencia a esses dois su jeitos evidencia bem 0valor logico
do sujeito da asser<;ao. 0 pr ime ir o, q ue se expI:i~e no, ".se" do
"sabe-se que...", da apenas a forma geral do sUjelto noetIco: ele
pod e igualmente ser deus, m esa ou bacia. 0 segundo,}ue se
exprime em "os dois brancos" q ue d evem re~onh,ecer um a.o
outro" introd uz a for ma d o outro como tal , IStO e, como pUla
recipr ~cidade, pOl'q uanto urn s6 se. rec~n~ece no outro ,e .~6
desco bre 0 atr i buto q ue e seu na eq Ulvalencla do tempo pro pllo
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de ambos. 0 [eu], su jeito da assen;ao conelusiva, isola-se por
uma cad encia de tempo l6gico do outro, isto e, da relac;ao de
reciprocidade. E sse m ovim ento de genese l6gi ca do [eu] por
uma decantac;ao de seu tempo 16gico pr6prio e bem paralelo a
seu nascimento psicol6gico. Da mesma forma que, para efetiva-
mente recorda-Io, 0 [eu] psicol6gico destaca-se d e urn transiti-
vismo especular indeterminado, pela contri buic;ao de uma ten-dencia despertada como ciume, 0 [eu] d e q ue s e t ra ta a qu i
define-se pela subjetivac;ao de uma concorrencia com 0 outro
na func;ao d o tempo l6gico. Como tal, ele nos parece dar a forma
l6gica essencial (muito mais do que a chamada forma existencial)
do [eu] psicol6gico.3
o que evidencia bem 0 valor essencialm ente subjetivo (" as-
sertivo", em nossa terminologia) da conclusao do sofisma e a
indeterminac;ao em que e mantido urn observador (0 diretor d a
prisao que supervisiona 0 jogo, por exemplo), diante da safda
simultanea dos tres su jeitos, para afirmar de algum destes se ele
concluiu corretamente quanta ao atributo de que e portador . 0
sujeito, com efeito, captou 0momenta de coneluir que e brancoante a evidencia subjetiva de urn tempo de demora que 0apressa
em direc;ao a safda, mas, caso nao tenha captado esse momento,
ele nao age de outra m aneira ante a evidencia objetiva da safda
dos outr os, e sai no m esmo passo q ue eles, s6 q ue seguro de ser
preto. Tudo 0 que 0observador pode preyer e que , se h a u rn
sujeito que, inquirido, devera deelarar -se p reto, por ter-se apres-
sado atras dos outros dois, ele sera 0unico a se deelarar como
tal nesses te r mos.
Por ultimo, 0 jufzo assertivo manifesta-se aqui por ur n ato.
o pensamento moderno mostr ou que todo juf z o e essencialmente
ur n ato e, aqui, as contingenci as d ra maticas s6 fazem isolar esse
ato no gest o d a safda d os su jeitos. Poder famos imaginar outr os r 2 ( ) 1 1 1modos de expressao do ato de coneluir . 0 q ue constitui a
singularidad e do ato d e coneluir , na asserc;ao su bjetiva demons-
3. Assim, 0 leu], terceir a forma do sujeito d a enuncia~iio na logica, continua a
ser af a " pr imeir a pessoa", mas e tambem a unica e a ultima. Pois a s egunda
pessoa gramatical decorre d e uma outr a fun~iio da linguagem. Quanto a terceira
pessoa gramatical, ela e apenas presumida: e urn demonstrativo, igualmente
aplicavel ao campo do enunciado e a tud o 0que nele se particulariza.
trada pelo sofisma, e que ele se antecipa a sua certeza, em razao
da tensao tem poral de que e subjetivam ente carregado, e que,
sob a condic;ao dessa mesma antecipac;ao, sua certeza se confirma
numa preci pitac;ao 16gica que determina a descarga dessa tensao,
para que enfim a conelusao fundamente-s e e m na o m ai s d o q ue
instancias temporais total mente objetivadas, e que a asserc;ao se
des-subjetive no mais baixo grau. Como demonstra 0 que se
segue.
Primeiro, ressurge 0 tempo objetivo da intuic;ao inicial do
movimento, que, como que aspirado entre 0instante de seu infcio
e a pr essa de seu fim, parecera estourar como uma bolha. Atingido
pela duvida que esfolia a certeza sub je ti va d o momenta de
concluir, eis que ele se condensa como urn nueleo no intervalo
da primeira nw~iio suspensa, e m anifesta ao su jeito seu limite
no tempo par a compreender que pas sou para os outros dois 0
instante do olhar e q u e e c hegad o 0momenta de concluir .
Seguram ente, se a duvida, desde Descartes, esta integrada no
valor do juf zo, convem observar que, no tocante a forma de
asserc;ao aqui estudada, esse valor prende-se m enos a duvida quea suspende do que a certe za antecipada que a introduziu.
Mas, para com preender a f unc; ao d es sa d uv id a q uanto ao
sujeito da asserc;ao, vejamos 0que vale objetivamente a primeira
suspensao para 0observador a quem ja interessamos no movi-
me nt o d e conjunto dos su jeitos. Nada alem d is to : e q ue cada
ur n, se ate entao era impossfvel julgar em que sentido ele havia
conelufdo, m anif esta uma incer te za de sua conelusao, mas cer -
tamente a ter a for talecido, se ela estava cer ta, ou talvez r etif icado,
se estava errada.
Se su b jetivamente , c om ef ei to , q ualq uer urn conseguiu tomar
a d ia nt ei ra e s e d etem, e q ue ele com ec;a a d u vi da r d e haver
realmente ca ptad o 0
momento de conduir q ue e ra b r anco; masr ecupera-o prontamente, visto que j a teve a experiencia subjetiva
d ele . Se, ao contrario, ele d eixou os outr os se ad iantarem e,
assim, fundamentarem nele a conelusao de que ele e p reto, nao
pode duvid ar d e h av er captad o bem 0 momenta d e coneluir,
precisamente pOl'q ue n ao 0 captou sub jet ivamente (e, a r igor,
poder ia ate encontrar na nova iniciativa d os outros a confir mac;ao (210)
l6gica do acr editar -se dessemelhante deles). Mas, se ele par a, e
porque su bordina tao estr eitamente sua pr6pr i a c onclusao ao qu e
evid encia a conelusao d os outr os, que logo a suspend e quando
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estes par ecem sus pender a d eles, e pOltant o, poe em duvid a que
se ja preto, ate que eles novamente Ihe mostr em 0caminho ou
que ele mesmo 0descubra, segundo 0que concluini, desta vez,
ora ser preto, ora ser br anco: talvez en'ado, talvez certo, ponto
que per manece im penetnivel a q ualq ue r outro q ue nao ele mesmo.
Mas a incursao 16gica pros segue para 0 segundo tempo d esuspensao. Se cada urn dos sujeitos recuperou a certeza subjetiva
do momento de concluir, ele pode novament e c ol oc a-la em
duvid a. Mas agora ela e sustentad a pela objetiva<;ao, uma vez
efetuad a, do tempo para compreender, e a duvida colocada dura
apenas 0 instante do olhar, pois 0 simple s f at o d e a he sita<;ao
sur gid a nos outros ser a segunda basta para eliminar a dele, tao
logo percebida, ja q ue ela Ihe indica de imediato que ele cer ta-
mente nao e preto.
Aq ui, 0 tempo subjetivo do momento de concluir o b jetiva-se
enfim. Como prova 0fato de que, mesmo que algum dos su jeitos
ainda nao 0 houvesse captado, agora ele se Ihe torna uma
im posi<;ao; com efeito, 0 su jeito q ue houvesse conclufdo a
primeira escansao indo atras dos outros dois, com isso convencid o
de ser preto, seria real mente obrigado, pela escansao presente e
segunda, a voltar atras em seu jufzo.
Assim, a asser<;ao de certeza do sofisma vem, digamos, ao
termino da confluencia 16gica das d uas mo<;oes suspensas no ato
em q ue elas se concluem, dessubjetivando-se ao minimo. Como
se evid encia em que nosso o bservad or, se as constatou sincr onicas
nos tres sujeitos, nao po d e duvid ar q ue q ualquer urn d ele s, n a
inquir i<;ao, deva declarar -se branco.
Por f im, podemos ressaltar q ue, nesse m esmo m om ento, se
cada sujeito pode, na inq uiri<;ao, expr imir a certeza que enfim
conf ir mou, atraves da asser(:iio subjet iva que a deu a ele como
conclusao do sofisma, em termos como estes: "Apressei-me aconcluir que eu era branco porqu e, d e o ut ro mod o , eles se
antecipariam a mim, reconhecendo-se reciprocamente como
brancos (e porque, se eu lhes tivesse dado tempo , eles me
haver iam, pelo que teria sid o obra minha mesmo , mergulhado
no er ro)" , esse pr6pr io su jeito tam bem pode exprimir essa mesma [2111
cer teza por sua veri f ica(' -' iiodessub jetivad a ao mf nimo no movi-
mento 16gico, ou seja, nestes t er mos: "Deve-se saber que se e
branco, quand o os outros hesitaram duas vezes em sair." Con-
c1us ao q ue, em sua primeir a forma, pod e'ser f or mulad a como
verd ad eira pelo sujeito, uma v ez q ue ele constituiu 0movimento
l6gico do sofisma, mas que s6 pode com o tal ser assumida pelo
su jeito pessoalment e - ma s c onc lu sa o qu e, e m su a se gu nda
forma, exige que todos os sujeitos ten ham consumado a incursao
16gica q ue veri f ica 0 sofisma, pOl'e m e a plicavel por qualquer
urn a c ada urn d eles. Nao e sequer impossfvel que urn dossujeitos, mas apenas urn, chegue a ela se m haver constitufdo 0
movimento 16gico do sofisma, e apenas por haver acompanhado
sua verifica<;ao, evidenciada nos outros dois sujeitos.
A verdade do sofisma como referencia temporalizada de si
para 0outro: a asser(:iio subjetiva antecipatoria como
forma fundamental de Ulna logica coletiva
Assim a verdade do sofisma s6 vem a ser confirmada por sua
presu~(,-' iiO,se a~sim podemos dizer, na asser<;ao que ele constitui.
Desse m odo, ela revela d epender de uma tendencia que a visa
- n o< ;a o q ue s er ia urn paradoxo 16gico, se nao se r ed uzisse a
tensao temporal q ue determina 0momento de concluir .
A verdade se manifesta nessa forma como anteci pando-se ao
erro e avan<;ando sozinha no ato que gera sua certeza; 0 er r o,
inversamente, como c on f irmand o-se por sua inercia e tendo
dificuldade de se corr igir a o se guir a iniciativa conq uistadora da
ver d ade.
Mas, a que ti po d e rela<;ao cOlTesponde essa forma 16gica? A
uma forma de ob jetivac;ao que ela gera em seu movimento, qual
se ja, a referencia d e urn [eu] ao denominador comum do su jeito
recf pr oc o, ou aind a , a os outros como tais , i sto e, como sendo
outro uns para os outros. Esse denominad or c omu m e d ad o p or
ur n certo tempo para compreender, q ue se revela com o umaf un<;ao essencial da re!ac;ao 16gica de reciprocidade. E ssa ref e-
rencia do [eu ] aos outros com o tais de ve , e m c ad a m omento
cr ftico, ser tem por alizada, para red uzir dialeticamente 0momento [212]
de concluir 0 tempo para compreend er, para que ele dure tao
pouco quanto 0 instante do olhar .
Basta f a ze r a par ecer no termo 16gico dos outros a menor
dis par idade par a que se e videncie 0q uanto a ver d ad e d epend e,
par a tod os, d o r igor d e cada urn, e ate m esmo q ue a verd ade,
send o atingida a penas por uns, pod e ger ar, sena o c onf ir mar, 0
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eno nos outr os . E ta mb em q ue s e, nessa conida par a a verdade,
e a pen as sozinho, nao send o todos, que se atinge 0verd adeiro,
ninguem 0 atinge, no entanto, a nao ser atr aves d os outr os.
Essas f ormas d ecerto encontram facilmente sua aplica~ao na
pnitica, numa mesa d e brid ge ou numa conf er encia diplomatica,
ou ate no mane jo do "com plexo" na pr atica psicanalftica.Mas gostarfamos de indicar sua contr ibui~ao para a no~ao
l6gica de coletivid ade.
Tr es faciunt collegium , d iz 0 ditado, e a coletivid ade ja esta
integralmente r epr esentad a na forma do sofisma, uma vez que
se d efine como u rn gr upo for mad o pel as r elac;6es recfprocas de
urn numer o d ef inid o d e indivfduos, ao contr ar io d a generalidade ,
que se define como uma classe que a brange a bstr atamente urn
numer o ind ef i ni do d e indivfduos.
Mas, basta desenvolver por recorrencia a demonstrac;ao do
sofisma para ver que ele pode aplicar-se logicamente a urn
numer o ilimitado d e su jeitos,4 posto que 0 atr ibuto "negativo"
s6 pod e intervir num numero igual ao numer o d e sujeitos menos
um.5 Contudo, a ob jetivac;ao tempor al e mais diffcil de conceber
a medid a que a coletividade aumenta, parecendo criar o bstaculo
a uma l6gica coletiva com que se possa complementar a 16gica
classica.
Mostraremos, no entanto, q ue r esposta um a tal 16gica deveriadar a inadequac;ao que sentimos por uma afirmac;ao como" Eu
sou homem", se ja em q ue f orma for da 16gica classica, trazida
como conclusao das pr emissas q ue se quiser (" 0 homem e urn
animal r acional" ... etc.).
Cer tamente mais pr 6xima d e seu valor verd adeir o ela se
afigura, a presentada como conclusao da forma aqui d emon strad a
da asserc;ao sub jetiva anteci pat6ria, ou se ja, como se segue:
]Q) Urn homem sabe 0 que nao e urn homem;
2Q) OS homens se reconhece m e nt r e si como sendo homens;
3Q) Eu afirmo ser homem, por m ed o de ser convencid o pelos
homens de nao ser homem.
Movimento que fornece a f or ma J6gi ca de tod a assimiIa~ao
"humana" , pr ecisamente na medida em que ela se coloca como
assimiladora d e uma barbarie e, no entan to , r eserva a determi-
nac;ao essencial do [eu] . .. 6 4. Eis 0 exemplo com relac;:ao a qu atm sujeitos, quatm discos brancos e tres
discos pretos:
A p ensa que, s e fosse pr eto, qualquer um, B, C ou D, poder ia pensar dos dois
outr os q ue, se ele proprio fosse pr eto, estes nao tardar iam a saber q ue eram
brancos. Logo, um dentre B, C ou D deveria concluir rapidamente q ue era
branco, 0que n ao se evid encia. Quando A se da conta de q ue, se 0estao venda
como pre~o, B, C o u D levam sobr e ele a vantagem d e nao ter que fazer essa
su posic;:ao,ele se apressa a concluir q ue e br anco.
Mas, nao saem todos ao mesmo tempo q ue ele? Na duvida, A para, e todos
tambem. Mas, se todos tambem param; que quer dizer isso? Ou q ue estao se
detend o as voltas com a mesma duvida de A, e A pode retomar sua conida sem
preocupac;:ao,ou entao, q ue A e preto, e que um dentr e B, C e D passou a se
perguntar se a safda dos outros dois nao significar ia que ele e pr eto, bem como
a pensar q ue, s e eles estao pal'ados, nao e por isso qu e ele mesmo seria branco,
ja q ue um ou outm poderia ainda se indagar por um i nstante se nao seria pr eto;
tambem pod e considerar que tod os dois deveriam recomec;:ara andar antes dele,
se e le p ropr io fosse preto, e tor na r a andar por fo r c;:ad essa espera va, seg um de
ser 0q ue e, ou s e ja, branco. Por q ue B , C e D nao 0 fazem? Pois entao, fac;:o-o
eu, d iz A. E todos retomam a marcha.
Segunda parada. Admitindo q ue eu se ja preto, d iz A a si mesmo, um dentre
B, C ou D d eve agora estar f ixado no fato de q ue ele nao poder ia im putar aos
outms dois uma nova hesitac;:ao, se fosse pr eto; portanto, de que ele e branco.
Assim, B, C ou D devem r ecomec;:ara andar a ntes dele. Na falta d isso, A retoma
a m archa, e todos vao ju nto. '
Ter ceir a parada. Mas, nesse caso, tod os d ever iam saber q ue suo brancos, se
eu fos se r ealmente pr eto, diz-se A. Logo, se eles pal·am...
E a certeza e conf innad a em tres escansoes . H/ .s pensivas.
5. Compar e-se a cond ic;:aod esse menos-um no atr i buto com a f unc;:ao psicana-
lftica do Um-a-mais no sujeito da p sicanalise, p.483-4 d esta coletiinea.
6. Que 0 leitor que pmssegu ir nesta coletiinea volt e a r ef er encia ao coletivo
q ue constitui 0f inal d este artigo, par a situar 0q ue F r eud prod uziu sob 0 registro
d a p sicologia coletiva (Massen: Ps ychologie und lchanal yse , 1920): 0 coletivo
nao e n ad a senao 0 su jeito d o ind ividual.