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I TIMÓTEO Deborah Menken Gill rSBOÇO 1 . Introdução (1.1-20) 1.1. Saudação (1.1,2) 1.2. Propósito da Carta: Assegurar a Firmeza da Fé em Éfeso (1.3-20) 1.2.1. A Tarefa de Timóteo: Lutar contra as Falsas Doutrinas (1.3-11) 1.2.1.1. O Comissionamento de Timóteo É Reiterado (1.3,4) 1.2.1.2. A Identificação do Objetivo do Autor: O Amor (1.5) 1.2.1.3. O Erro a que alguns se Desvia- ram: O Falso Uso da Lei (1.6,7) 1.2.1.4. A Correção: O Uso Apropriado da Lei(1.8-11) 1.2.2. O Testemunho de Paulo: A Graça do Senhor para com Paulo (1.12-17) 1.2.2.1. O Senhor Designou o Apóstolo ipesar de seu Passado (1.12,13a) 1.2.2.2. A Misericórdia Concedida apesar i i Ignorância e da Incredulidade (1.13b,14) 1.2.2.3. Salvo apesar de seus Pecados -15) 1.2.2.4. Um Exemplo Admirável da Paci- ência de Deus (1.16) 1.2.2.5. Doxologia (1.17) 1.2.3. O Encorajamento à Luta (1.18-20) izando a Igreja: Princípios Eerais para a Edificação da Problemática Igreja em Éfeso - 1 —3.13) 2 . 1 . A Oração pela Paz (2.1-8) -1 .1 . Exortação a Orar pela Paz (2.1,2) —1.2.0 Fundamento e a Bênção Trazidos Exortação (2.3-7) -1.2.1. A Vontade de Deus: A Salvação e ji iclarecimento (2.3,4) .11.2.2.0 Papel de Cristo: Sacrifício e fcsemunho (2.5,6) 11-2.3. A Chamada de Paulo: Um Pastor e fstolo (2.7) ' 3- O Desejo de que os Homens m (2.8) A Vestimenta e o Estilo de Vida das heres (2.9-15) 2.2.1. Dar Preferência ao Adorno Espiritual (2.9,10) 2.2.2. A Ordem de Ensinar às Mulheres ( 2.11) 2.2.3. A Ordem para que as Mulheres Permanecessem em Silêncio (2.12) 2.2.4. A Ordem da Criação É Reiterada (2.13) 2.2.5. A Explicação da Queda em Pecado (2.14) 2.2.6. A Esperança de sua Salvação É Anunciada (2.15) 2.3. Sobre os Bispos (3-1-7) 2.3.1. As Aspirações à Liderança São Ratificadas (3.1) 2.3.2. O Estabelecimento das Qualificações da Liderança (3.2-7) 2.4. Sobre os Diáconos (3.8-13) 2.4.1. Qualificações Gerais para todos os Diáconos (3.8-10) 2.4.2. Qualificações Específicas para as Diaconisas (3.11) 2.4.3. Qualificações Específicas para os Diáconos (3.12) 2.4.4. Elogios aos Diáconos que Servirem Fielmente (3.13) 3. O Estabelecimento de Diretrizes a Timóteo: O Aconselhamento Específico para Estabelecer o Jovem Timóteo na Liderança (3.14—6.10) 3.1. Defendendo a Fé (3.14—4.5) 3.1.1. A Conduta Correta na Igreja (3.14-16) 3.1.2. A Evidência do Falso Ensino (4.1-5) 3.1.2.1. A Apostasia do Fim dos Tempos É Antecipada (4.1,2) 3.1.2.2. O Asceticismo Estrito É Condena- do (4.3-5) 3.2. Aprendendo a Liderar (4.6-16) 3.2.1. Princípios de Liderança (4.6-9) 3.2.2. Modelos de Liderança (4.10-12) 3.2.3. A Natureza Prática da Liderança (4.13-16) 3.3. O Relacionamento com as outras Pessoas na Igreja (5.1-16) 3.3.1. Como Tratar os mais Velhos e os Jovens (5.1,2) 1443

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I TIMÓTEODeborah Menken G il l

r S B O Ç O

1. Introdução (1.1-20)1.1. Saudação (1.1,2)1.2. Propósito da Carta: Assegurar a Firmeza da Fé em Éfeso (1.3-20)1.2.1. A Tarefa de Timóteo: Lutar contra as Falsas Doutrinas (1.3-11)1.2.1.1. O Comissionamento de Timóteo É Reiterado (1.3,4)1.2.1.2. A Identificação do Objetivo do Autor: O Amor (1.5)1.2.1.3. O Erro a que alguns se Desvia­ram: O Falso Uso da Lei (1.6,7)1.2.1.4. A Correção: O Uso Apropriado da Lei(1.8-11)1.2.2. O Testemunho de Paulo: A Graça do Senhor para com Paulo (1.12-17)1.2.2.1. O Senhor Designou o Apóstolo ipesar de seu Passado (1.12,13a)1.2.2.2. A Misericórdia Concedida apesar i i Ignorância e da Incredulidade (1.13b,14)1.2.2.3. Salvo apesar de seus Pecados -15)

1.2.2.4. Um Exemplo Admirável da Paci­ência de Deus (1.16)1.2.2.5. Doxologia (1.17)1.2.3. O Encorajamento à Luta (1.18-20)

izando a Igreja: Princípios Eerais para a Edificação da Problemática Igreja em Éfeso- 1 —3.13)

2.1. A Oração pela Paz (2.1-8)-1.1. Exortação a Orar pela Paz (2.1,2) —1.2.0 Fundamento e a Bênção Trazidos ■k í Exortação (2.3-7)-1.2.1. A Vontade de Deus: A Salvação e ji iclarecimento (2.3,4).11.2.2.0 Papel de Cristo: Sacrifício e fcsemunho (2.5,6)11-2.3. A Chamada de Paulo: Um Pastor e

fstolo (2.7)' 3- O Desejo de que os Homens m (2.8)A Vestimenta e o Estilo de Vida das

heres (2.9-15)

2.2.1. Dar Preferência ao Adorno Espiritual (2.9,10)2.2.2. A Ordem de Ensinar às Mulheres(2.11)2.2.3. A Ordem para que as Mulheres Permanecessem em Silêncio (2.12)2.2.4. A Ordem da Criação É Reiterada(2.13)2.2.5. A Explicação da Queda em Pecado(2.14)2.2.6. A Esperança de sua Salvação É Anunciada (2.15)2.3. Sobre os Bispos (3-1-7)2.3.1. As Aspirações à Liderança São Ratificadas (3.1)2.3.2. O Estabelecimento das Qualificações da Liderança (3.2-7)2.4. Sobre os Diáconos (3.8-13)2.4.1. Qualificações Gerais para todos os Diáconos (3.8-10)2.4.2. Qualificações Específicas para as Diaconisas (3.11)2.4.3. Qualificações Específicas para os Diáconos (3.12)2.4.4. Elogios aos Diáconos que Servirem Fielmente (3.13)

3. O Estabelecimento de Diretrizes a Timóteo: O Aconselhamento Específico para Estabelecer o Jovem Timóteo na Liderança (3.14—6.10)3.1. Defendendo a Fé (3.14—4.5)3.1.1. A Conduta Correta na Igreja (3.14-16)3.1.2. A Evidência do Falso Ensino (4.1-5)3.1.2.1. A Apostasia do Fim dos Tempos É Antecipada (4.1,2)3.1.2.2. O Asceticismo Estrito É Condena­do (4.3-5)3.2. Aprendendo a Liderar (4.6-16)3.2.1. Princípios de Liderança (4.6-9)3.2.2. Modelos de Liderança (4.10-12)3.2.3. A Natureza Prática da Liderança (4.13-16)3.3. O Relacionamento com as outras Pessoas na Igreja (5.1-16)3.3.1. Como Tratar os mais Velhos e os Jovens (5.1,2)

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3-3.2. Como Tratar as Viúvas (5.3-16)3.3.2.1. Honrar as Viúvas que Sejam verdadeiramente Viúvas (5.3)3-3.2.2. Qualificações das Viúvas (5.4-10)3.3.2.3. Sobre as Viúvas mais Jovens (5.11-15)3.3.2.4. O Encorajamento ao Apoio Indi­vidual às Viúvas (5.16)3.4. Trabalhando com Líderes na Igreja (5.17-25)3.4.1. Os Presbíteros Trabalhadores São Dignos de dupla Honra (5.17,18)3.4.2. Como Lidar com as Queixas contra os Presbíteros (5.19-21)3.4.3. A Proibição das Ordenações Precipitadas (5.22-25)3.5. Exortando os Servos ou Escravos Crentes (6.1,2a)3.5.1. Honrar os Mestres por Amor a Cristo (6.1)3.5.2. Os Senhores Crentes Devem Ser ainda mais Honrados (6.2a)3.6. A Luta contra os Falsos Mestres e o Amor ao Dinheiro (6.2b-10)3.6.1. A Ordem para que a Ortodoxia Seja Ensinada (6.2b)3.6.2. A Descrição dos Ensinadores de Heresias (6.3-5)3.6.3. Tentações pelo Dinheiro Expostas (6.6-10)

4. Conclusão: Instruções Finais e Bênção (6.11-21)4.1. Manter a Fé (6.11,12a)4.1.1. Fugir do Materialismo (6.11)4.1.2. Lutar pela Fé (6.12a)4.2. Manter a Obediência (6.12b-15a)4.3. Glorificado Seja Deus (6.15b,l6)4.4. A Instrução aos Ricos (6.17-19)4.4.1. Enfocar a Deus (6.17)4.4.2. Cultivar a Generosidade (6.18,19)4.5. Guardar o Depósito (6.20,21a)4.6. Conclusào (6.21b)

COMENTÁRIO

1. Introdução (1.1-20)1.1. S a u d a çã o (1 .1 ,2 )

No período greco-romano as cartas começavam tipicamente com saudações polidas: o nome do escritor, o nome do destinatário e uma saudação; por exem­

plo, “Paulo... a Timóteo, meu vi_ ro filho na fé: graça, misericórdia da parte de Deus, nosso Pai, e ca to Jesus, nosso Senhor”. As prim~: de Paulo traziam breves saudaçã 1.1a; 2 Ts 1.1), porém em suas r* seqüentes as saudações epístola: naram-se mais elaboradas. Na é~z Cartas Pastorais, Paulo amplia as oc da saudação.

O apóstolo se identifica pel: título: “Paulo, apóstolo de Cri>:: (Embora Paulo usasse freqüenti estrutura “Jesus Cristo”, a expressa: Jesus” é uma ordem comum na; rais). Nas epístolas em que precisa sua autoridade, chama a si m apóstolo (1 e 2 Coríntios, Gálataí. e Colossenses). Nas que são mais ais refere-se a si mesmo como u ã vo” (Filipenses e Romanos) ou \ (Filemom). Ainda que Timóteo: amigo pessoal, Paulo menciona o ap em virtude dos oponentes em É5r tinham a intenção de ouvir s e c re r a leitura desta carta. E ele o faz c ênfase, acrescentando a expressão o mandado de Deus”. Sua desc bitual é “pela vontade de Deus'. A vra grega traduzida como “mandaoa' era usada para ordens reais que am ser obrigatoriamente obed& fim de reforçar as ordens que l i proferirá em seu nome, Paulo bentendido que Timóteo também o comando divino.

Observe os epítetos usados para do comissionamento de Paulo: nosso Salvador” e “Senhor Jesus esperança nossa”. Deus inaugura no da salvação e Cristo Jesus tran denção para a sua consumação mo dia. A identificação de Deu; Salvador tem, uma rica história. A judaica (Dt 32.15; SI 24.5; 65.5). e : de Jesus em hebraico significa “o salva”. Nas religiões pagãs miste época de Paulo, os deuses que mente davam a vida e o conhí da salvação eram chamados de dores”. A religião oficial do estadc romano aplicava este termo a Zeu;..

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e Asclépio. O mais importante era o uso oeste termo para o imperador romano: íalvador do Estado por manter a ordem e o bom governo. Em rivalidade delibe­rada à adoração que era oferecida ao im­perador, Paulo identifica a Deus como : Salvador, enfatizando o termo “nosso”.

Embora o pai de Timóteo fosse um gentio, sua mãe era judia. De acordo com a lei de descendência materna, Timóteo poderia ser considerado um judeu. Con- ^_do, de acordo com alguns ensinos ju­daicos, o nascimento de Timóteo seria -egítimo. Não há dúvida de que estas con­siderações motivaram Paulo a fazer com r_te ele fosse circuncidado (At 16.3). Alguns esudiosos sugeriram que o pai de Timóteo ji havia falecido quando ele foi circun- iidado. Se estivesse vivo, provavelmente

o o teria permitido. Paulo se tomou substituto de seu pai, autenticando

condição judaica de Timóteo por meio circuncisão, reconhecendo suas qua- cações como verdadeiro descenden- de Abraão pela fé em Cristo (cf. Gl 3-26-

e adotando Timóteo como seu pró- o filho. O apóstolo agora declara a itimidade de Timóteo como seu pró- o filho na fé.A terminologia típica da saudação de ulo é “graça e paz”. Já em suas pri- iras cartas, Paulo transformou a sau- ão grega comum chairein ( “Sauda- s!”) em uma saudação cristã, charis raça a vós!”), e ainda acrescentou a dação hebraica, shalom (“Paz!”). No nto, somente nas cartas a Timóteo

lo adorna a saudação com “graça, ericórdia e paz”. Talvez, levando em ta as dificuldades que Timóteo está rentando em Éfeso, o apóstolo de-

a misericórdia de Deus como tam- sua graça e paz.

1.2. P ropósito d a Carta:A ssegu rar a F irm eza d a F é em Éfeso (1 .3 -20 )

.2.1. ATarefa de Timóteo: Lutar con- as Falsas Doutrinas (1 .3-11).

1 .2 .1 .1 .0 Com issionam ento de Ti- eo É Reiterado (1 .3 ,4 ). Nesta car­

ta, Paulo lembra Timóteo de sua tarefa. O termo “como” reforça a lembrança e introduz um anacoluto (uma mudança abrupta da construção gramatical no meio de uma frase). As palavras omitidas e subtendidas aqui são colocadas entre colchetes: “Como te roguei... [pessoalmente, então agora o faço por escrito]”. Quando Paulo estava a caminho da Macedônia, rogou a Timóteo que permanecesse em Éfeso a fim de silenciar os falsos mestres. Talvez por causa da relutância de Timóteo, o apóstolo teve de insistir. Éfeso era uma das cidades mais importantes na Ásia Menor, tanto geograficamente como culturalmente. A timidez de Timóteo pode ter causado o receio de realizar tal tarefa.

Paulo procura aumentar a autoridade de Timóteo declarando que ele se encontra sob a sua autoridade. A raiz do verbo tra­duzido como “rogar” em 1.3 é diferente da raiz do substantivo traduzido como “mandado” em 1.1. O verbo aqui é um termo militar, significando “forçar, legar o controle a outrem, dar ordens estritas (autoritariamente)”.

Os oponentes do apóstolo são aque­les que (literalmente) “ensinam outra/ [diferente] doutrina”. Embora desejem “ser doutores da lei” (v. 7), não são mais do que ensinadores de inovações, isto é, daquilo que é alheio ao verdadeiro Evangelho. A polêmica de Paulo contra as heresias não é suficiente para identificar com certeza a doutrina a que está se opondo. Os mestres são amplamente descritos como aqueles dedicados a “fábulas ou genealogias in­termináveis”. As fábulas e as genealogias intermináveis não estão ligadas somente aqui, mas também no helenismo (cultu­ra grega), no judaísmo helenístico (juda­ísmo influenciado pela cultura grega) e no gnosticismo (uma religião misteriosa em que a salvação era supostamente as­segurada pelo conhecimento de segredos, tais como mitos e genealogias).

O termo “fábulas” ou “mitos” (mythos) poderia incluir narrações alegóricas, lendas ou ficção, ou seja, doutrinas espúrias em contraste com a verdade do Evangelho. Esta palavra era freqüentemente usada em um sentido pejorativo, denotando deste

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modo histórias falsas e tolas. A compo­sição de histórias míticas baseadas no Antigo Testamento, agradou aos judeus daquele período (veja por exemplo, o Livro de Jubileu). Os mitos eram também uma parte integrante do ensino dos gnósticos, que tinham, por exemplo, versões alternati­vas da história da criação.

No judaísmo pós-exílio existia um pro­fundo interesse de cada pessoa em iden­tificar sua linhagem através da árvore genealógica, especialmente entre os ju­deus que sobreviveram ao exílio babi- lônico. Por exemplo, era necessário validar a linhagem de uma pessoa para que ela pudesse servir no segundo templo sob a liderança de Esdras e Neemias (Ne 7.64,65). As “genealogias” tornaram-se motivo de controvérsias entre judeus e cristãos judeus. A conexão mais for­te entre fábulas e genealogias está no gnosticismo. As interpretações gnósticas das genealogias do Antigo Testamen­to eram compreendidas de forma mítica, e as especulações míticas sobre as enu­m erações dos principados e da eterni­dade eram temas centrais para a teo­logia gnóstica. O apóstolo chama es­tas genealogias de “intermináveis”, quer dizer, sem fim ou desenfreadas.

Os mestres preocupados com tais ques­tões não trouxeram nenhum resultado positivo para o povo. Não promoveram a “edificação de Deus” (literalmente, não fizeram a obra de Deus como seus des- penseiros, que edificaria o povo). A de­voção a tais assuntos não ajuda o homem a realizar a obra que lhe foi confiada por Deus como despenseiro. Ao invés disto, “mais produzem questões” (isto é, espe­culações, literalmente, “pesquisas que estão completamente fora do caminho”). Estes termos são desdenhosamente emprega­dos como um antônimo de edificação.

1.2 .1 .2 . A Identificação do Objetivo do Autor: O Am or (1 .5 ). Paulo contras­ta o propósito, finalidade, ou meta de suas instruções (pregações) com os resultados das atividades dos falsos mestres. O ob­jetivo de Paulo é o amor que vem de “um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida”. A prevalência

de expressões tríades nas Paste uma inclinação a uma linguagem c O amor ativo e o tratamento ca com os outros tem os seguinte? quisitos: ter pureza na totalidade morais, ser sensível a ponto de a si mesmo e ter a fé que é li: “uma fé não fingida” (isto é. crisia), mas sincera e que re sistentemente, no amor a Deus e

1 .2 .1 .3 .0 E rro a que alj viaram : O Falso Uso da Lei < característico identificar os o, primeiras polêmicas cristãs palavra grega tis/tines [plural] como “certos” ou “alguns" “Alguns” perderam a marca as fontes virtuosas das quais (um coração puro, uma b c i cia e uma fé sincera). Frac do principal objetivo, e des:- desviaram do caminho c e n : se para conversas imprópria argumentos vazios. No estilo ■ das Pastorais existe um ataquE te aos oponentes, mas pouci ção sobre os mesmos. O v ar” (ektrepo) era às vezes usa termo médico significando'“ser deslocado”. A aberracl: destes falsos mestres era dol de Cristo.

Ainda que os hereges doutores da lei, eram comp: qualificados, sendo que teligência e conhecimento 1 lei” era uma expressão técnici mo (cf. Lc 5.17; At 5.34). Estes' do apóstolo buscavam re e posições oficiais por sua mim: e demandas legalistas. Embora assem a fazer confiantes i sistindo que estavam corre: 35 sando sua opinião em um dogmático, mostram-se c acordo com a ênfase do :e~r*: nesta frase) incapazes de

I .2 .I .4 . A C orreção: O U ado d a L e i(1 .8 - l l) . Pã ul benefício da lei é propor apropriado e legítimo, isto é estar de acordo com aquüo

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;sso: a restrição ao mal. Desde que iremos como lei, a lei é algo excelen-

fcf. Rm 7.12,16). A lei funciona bem - do nós a respeitamos; contudo se a jigimos, esta nos condena. Paulo in- ’ 2 esta declaração como um princí- reconhecido, com a frase “sabemos...”

Alei não foi instituída em razão dos justos pouca relevância tem para eles — , mas j jra os injustos. Paulo então lista quatorze

diferentes de pessoas injustas (agra- " sem quatro categorias duplas: “injustos

inados”, “ímpios e pecadores”, “pro- e nreligiosos”, “parricidas e matricidas”; categorias simples: “homicidas, for­res, sodomitas, roubadores de ho- mentirosos e perjuros”). O apósto- se caso, inclui todos os outros tipos adores como “contrários à sã [salu-

udável] doutrina”. Sua ordem primei- ~te se refere às pessoas culpadas de

contra Deus, e àquelas que cometem s contra os outros. A partir do quar- ico na seqüência de Paulo, a lista co- aproximadamente com o Decálogo.

mundo antigo, as listas de virtudes e (catalogando tipos de comportamento e pecador) eram comuns (cf. Rml.31).

habitual citar os crimes mais sérios e _muns em tais listas. O catálogo inclu- iqui parece ser uma adaptação cristã

a lista judaico-helenística. is especificamente, as pessoas para a lei foi instituída são:

sem lei;ueles que são insubordinados, incon­táveis, independentes, indisciplinados

e rebeldes;que não adoram a Deus, isto é, aqueles

são ímpios, irreverentes; pecadores;eles para quem nada é santo, para quem

existe nenhuma pureza interior; profanos, quer dizer, aqueles que se portam irreverente e desdenhosamente com as coisas de Deus;

eles que matam seus pais (parricídio; 'almente, “assassinos de pais”, aqueles eliminam seus pais através da morte

do desrespeito);eles que matam suas mães (matricidas); icidas;

10) adúlteros e fornicadores, ou seja, aquel­es que praticam imoralidade sexual;

11) pervertidos, como sodomitas, homosse­xuais (literalmente, “[homens] que têm re­lações sexuais com outros homens” [cf. 1 Co 6.9D;

12) comerciantes de escravos (literalmente, “os que pegam um homem pelo pé”), in clusive todos aqueles que exploram ou­tros homens ou mulheres para suas pró­prias finalidades egoístas;

13) mentirosos; e14) os perjuros, que prestam falso testemu­

nho, aqueles que mentem “contra [seu pró­prio] juramento” de honestidade.Paulo conclui descrevendo a verdadeira

fonte da sã doutrina: “o evangelho da glória do Deus bem-aventurado [bendito], que me foi confiado”. A primeira frase descreve o conteúdo e o caráter do Evangelho; a segunda, sua fonte; e no final, a relação de Paulo com este.

1.2.2. OTestemunho de Paulo: AGra- ça do Senhor para com Paulo (1.12-17).

1 .2 .2 .1 .0 Senhor Designou o Após­tolo apesar de seu Passado (1 .12 ,13a). Paulo é grato a Cristo Jesus, que conce­deu-lhe forças, por considerá-lo fiel e designá-lo ao ministério. A habilitação na graça é apreciada como uma chama­da divina, sendo uma capacitação tão ne­cessária quanto a comissão. Ainda que Paulo tenha plena consciência da respon­sabilidade que tem para com a obra de Deus, está convencido da efetividade da graça de Cristo (veja 1 Co 10.15). Ele usa o tempo verbal aoristo “me tem confor­tado”, recordando um tempo particular quando se tornou ciente deste crescen­te fortalecimento (provavelmente implícito em 2 Co 12.7-10). Por ter sido julgado confiável, Paulo foi designado a servir como um apóstolo.

Como em 1 Coríntios 15.9,10 e Gálatas1.13-17, Paulo contrasta sua vida pré-cristã com sua vida cristã presente. Descreve sua antiga identidade como sendo um blas­femo (que calunia e maldiz a Deus), um perseguidor (que procura as pessoas como um caçador) e um homem opressor, vio­lento, sádico (do grego hybristes).

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A palavra [hybristes] indica alguém que por orgulho e insolência deliberadamente maltrata, desdenha, humilha, faz o mal e fere outras pessoas pelo simples pra­zer de ferir. Fala também de um trata­mento premeditado que tem a finalidade de insultar e humilhar pública e aber­tamente as pessoas. A palavra é usada em Romanos 1.30 para descrever um homem insolente e arrogante, e retra­tar um dos pecados característicos do mundo pagão (Rienecker, 1980, 617).

1.2 .2 .2 . A M isericórdia Concedida apesar da Ignorância e da Increduli­dade (1 .13b ,14). Paulo se beneficia da distinção judaica entre pecados consci­entes e inconscientes (Lv 22.14; Nm 15.22- 31). Não reivindica que seus atos de ig­norância e incredulidade o tornem me­nos culpado, porém menciona tais fatos para explicar como seu perdão foi possí­vel. Mas “a graça de nosso Senhor” não tem fronteiras; aumenta até transbordar e “superabundou” na vida de Paulo. A graça, por sua natureza, é completamente ime­recida; e, em sua medida, é extremamente generosa. A bondade não merecida e a capacitação divina foram abundantes na vida do apóstolo, e a fé e o amor foram os seus efeitos.

1.2 .2 .3- Salvo ap esar de seus Peca­dos (1 .1 5 ) . Paulo insere a próxima de­claração: “Esta é uma palavra fiel e dig­na de toda aceitação”, e concluindo com uma aplicação pessoal, faz desta seu próprio testem unho. Sua estrutura introdutória, “esta é uma palavra fiel”, aparece cinco vezes nas Pastorais (1 Tm 1.15; 3.1; 4.9; 2 Tm 2.11; Tt 3-8), e em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Em cada uma destas ocasiões, está fra­se introduz uma declaração cristã fun­damental ou litúrgica (por exemplo, um fragmento de um hino [2 Tm 2.11-131, uma norma de fé [1 Tm 1.151, ou um aforismo ou provérbio [que se inicia em4.8]), e afirma sua verdade (Kelly, 1963, 54). A própria declaração de que “Cris­to Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” era uma confissão comum entre os cristãos. De acordo com esta

declaração, o propósito da vinda de I era salvar, resgatar e libertar os p. dores (cf. 1 Jo 3.8b).

Paulo então se identifica, não : tendo sido, mas como sendo o piort pecadores (cf. 1 Co 15.9; Ef 3.8). bora esteja convencido de que a o libertou das penalidades prove» tes dos pecados cometidos no pasc adota uma posição de humildade memória e consciência do pecac-? presente, e neste sentido ainda se conhece como um pecador.

1.2 .2 .4 . U m Exem plo Admirá P aciên cia de Deus (1 .1 6 ) . A sal­de Paulo tem como finalidade a c a paciência ilimitada de Cristo Jesus com outros candidatos à fé. O “mostrar” é uma forma intensificada “apresentar”, como se apontasse o indicadoraum objeto. Otermoemp^ para paciência aqui é makrothymia etimologicamente significa a di§ii que Deus mantém de sua próprii isto é, evitar a exteriorização de s u í

sua longanimidade e clemência. Cc um exemplo para outros, Paulo é um tótipo da graça. É um paradigma r~ onário: único como apóstolo, porém ' convertido a quem os piores pecai res podem contemplar e ter espera*.

1.2 .2 .5 . D oxologia(1 .17). Come outros exemplos nas Pastorais (1 Tm 2 ~ 5.21; 6.13-16; 2 Tm 1.9,10; 2.8; 4.1*. apóstolo parece citar um material litú Desta vez, eleva-se a uma doxologia. confissão de louvor a Deus, em que ar quatro características ao Senhor:1) eternidade, permanecer para sempre2) imortalidade, incormptibilidade, quer-

imunidade à decadência ou ao desfaleci.3) invisibilidade; e4) singularidade, o único Deus existente

O reconhecimento destas qualidadesvinas atribuem eterna honra e glória a De:

1 .2 .3 .OEncoraj am ento à Luta (1.20). O testemunho de Paulo em 1.18.1 leva-o a lembrarTimóteo do mandame anteriormente dado em 1.3,4. Como ap< adicional e encorajamento a seu jov: amigo diante da responsabilidade que.1

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havia sido atribuída, o apóstolo lembra Timóteo das profecias a seu respeito. Ele espera que, inspirado por estas, Timóteo combata o bom combate conservando a :é e a boa consciência.

Paulo cita então dois exemplos de falta refé. Os dois apóstatas, Himeneue Ale­xandre, são os pais infames da heresia orovavelmente as mesmas que foram

mencionadas em 2 Tm 2.17; 4.14). Não está exatamente claro o que estes dois :.3mens rejeitaram, a que viraram suas iDStas, ou o que repudiaram. O idioma prego o identifica por um pronome re­ativo singular feminino (traduzido como 'essas” na NVI), cujo antecedente po­

ria ser qualquer um dos seguintes los: mandamento, instrução, obri- o; combate, expedição militar, cam-

nha, guerra; a fé; ou uma boa cons- *ncia. O resultado da apostasia des-- homens, porém, está claro: “fizeram ufrágio na fé". Esta imagem é bastante ida para Paulo, que por ocasião da Ta das Pastorais já havia sofrido quatro frágios. Em cada ocasião perdeu tudo,

;eto sua vida.A resposta de Paulo foi severa: entregou- a Satanás (cf. 1 Co 5.5). Satanás é um tutor

nentador; o verbo “entregar” está mais1 ~ do à punição do que ã instrução. Devem

nder a não caluniar ou blasfemar de ;, o que neste caso provavelmente se a seu falso ensino ou à sua oposição

mensagem do Evangelho.Organizando a Igreja: Princípios Gerais para a Edificação da Proble­mática Igreja em Éfeso (2.1— 3-13)

2.1 . A O ração p e la P a z (2.1 -8)

2.1.1. Exortação a Orar pelaPaz (2.1,2).instruções de Paulo sobre a oração pam o primeiro lugar em sua agen- íendo o assunto de maior importân- Exorta com urgência que quatro ti- ie oração devem ser oferecidos por s as pessoas:edidos” ou “Deprecações” (deesis), isto

é. petição ou intercessâo, derivada do verbo que significa a felicidade de “ter uma au­

diência com o rei” para apresentar uma petição. Esta palavra era regularmente usada para rogar algo a um superior;

2) “Orações” (proseuche), que é a palavra comum para oração;

3) “Intercessôes” (enteuxis), outra palavra para petição ou intercessâo, que vem de um verbo que significa “apelar para”; e

4) “Ações de graças” (eucharístia), que é a palavra da qual vem o título litúrgico “eu­caristia”, usado por alguns referindo-se à Ceia do Senhor.O apóstolo faz menção especial da oração

pelas autoridades governamentais, expli­cando seus propósitos ou resultados. A expressão traduzida como “os que estão em eminência” indica etimologicamente “ter uma posição acima de...” Esta pode­ria incluir todos aqueles que estão em proeminência ou os superiores. A descrição da efetividade destas orações inclui qua­tro expressões para os tipos de vida a que a oração nos levará:1) “quieta”, pacífica, tranqüila ou imperturbável;2) “sossegada” ou calma;3) “em toda a piedade” ou devoção religio­

sa, ou seja, tendo a atitude correta em re­lação a Deus, que é derivada do conheci­mento verdadeiro de Deus; e

4) “[em toda] honestidade”, gravidade, seri­edade ou dignidade, isto é, a seriedade moral que afeta o comportamento exterior e a intenção interior.2 .1 .2 .0 Fundamento e a Bênção Tra­

zidos pela Exortação (2 .3-7).2.1.2.1. A Vontade de Deus: A Salvação

e o Esclarecim ento (2 .3 ,4 ). Paulo ex­plica que a idéia da oração universal, por todas as pessoas, é boa (não somente agathos, “correta, praticável e moralmente boa”, mas também kalos, “bonita e har­moniosa — agradável aos olhos huma­nos”) (Lock, 1973, 22-23) e agradável aos olhos de Deus.

A vontade de Deus, nosso Salvador, é “que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”. Embora o texto grego tenha palavras que diferenci­em “homem [pessoa do sexo masculino]” (aner) de “ser humano [pessoa no senti­do genérico]” (anthropos), o texto da NVI não distingue estas palavras em sua tra­

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dução. Às vezes, isto pode dar aos leito­res modernos uma impressão errada, já que não mais se lê “homem ou homens” de modo genérico. Um comentário cuidadoso ou uma consulta ao texto original torna­rão este ponto mais claro para o leitor.

2 .1 .2 .2 . O Papel de Cristo: Sacrifí­cio e Testemunho (2 .5 ,6 ). Paulo parece estar novamente fazendo citações. Ò texto original de 2.5,6 foi reconhecido como poético, sendo certificado como tal no Novo Testamento grego. Estes versos eram provavelmente um primitivo hino cris­tão de cinco linhas:

Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os ho­

mens [ou humanidade, anthropon], Jesus Cristo, homem [anthropos], o qual se deu a si mesmo em preço de

redenção portodos [o termo “homens” não está presente no texto grego],

para servir de testemunho a seu tempo.

Este hino afirma a singularidade e a unidade de Deus como sustentada pelos judeus, então acrescenta a revelação cristã de Jesus Cristo como o mediador ou in­termediário. Tal mediação foi possível pela encarnação e culminou na crucificação de Cristo, quando sua vida foi oferecida como o preço pago pela libertação daqueles que estavam escravizados. Tudo isso acon­teceu no tempo ordenado por Deus.

2 .1 .2 .3 . A Cham ada de Paulo: Um Pastor e Apóstolo (2 .7 ). Paulo foi en­carregado de partilhar este testemunho com os gentios, como um “pregador” (ou arauto), “apóstolo” e “doutor” (ou ensinador).

O arauto era alguém que trazia impor­tantes notícias. Anunciava freqüentemente um evento atlético ou uma festa religi­osa, ou funcionava como um mensageiro político, o portador de notícias ou or­dens da corte do rei. Deveria ter uma voz forte e proclamar sua mensagem com vigor, sem demora e sem discuti-la. A qualidade mais importante do arauto consistia em ser um fiel representante ou divulgador da palavra daquele que o havia enviado. Não tinha a obrigação

de ser “original” ou criativo; deveria aM í um fiel portador da mensagem ce d » I trem (V. P. Fumish, citado em Riene -. » 1980, 619).

Um apóstolo é “um enviado [con -a l incumbência]”. Paulo novamente afinfl fortemente a legitimidade de seu apostai**

2.1 .3 . O Desejo de que os H o c n - Orem(2.8). Uma vez mais o apóstolo seu desejo de que os santos orem: vez, porém, em contraste com as o f a J vações que seguem este verso, especfll camente dirigidas às mulheres, os oifl tos da advertência imediata são os hccsa (plural de aner). A autoridade apc s: J ca está implícita na palavra traduzida com “quero” (expressando o desejo ou a v de alguém). “Santas” neste verso d ve mãos dadas a ações piedosas, purü« limpas conforme os mandamentos de D e i ao invés de serem mãos “ímpias” dedici ü à ira e às contendas.

A atitude mais geral em relação à ora- -n ção na antigüidade para pagãos, judeus, j e cristãos era semelhante e consistia e~ i colocar-se de pé com as mãos estendi- ■ das e levantadas, com as palmas volta- -m das para cima. Os afrescos de pessoas * orando, por exemplo, nas catacumbas romanas, fornecem uma vivida ilustra­ção da vida da igreja primitiva (Keilv 1963, 66).

2.2. A Vestimenta e o Estilo de Vida d as M ulheres (2.9-15

2 .2 .1 . D ar Preferência ao Adorii Espiritual (2 .9 ,1 0 ). Uma tradução ral do texto grego inicia este verso co~ a frase “do mesmo modo as mulheres' — indicando aparentemente que as mulbe- res, assim como os homens, deveriam cxm, mas ao mesmo tempo deveriam ter cui­dados em relação à sua aparência pesso* al. O desejo do apóstolo é que seu irzie (comportamento ou conduta) seja moceíai (isto é, decente, próprio, moderado) "conl pudor e modéstia”. Estas duas rilri—a* condições levam a um sentido sexua_ q denotam uma reserva feminina, bem cc rj-_>

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A Quarta V iagem M issionária de PauloAproximadamente entre 62 e 68 d.C.

Esíá claro a partir de Atos 13.1—21.17 que Paulo %ztrês viagens missionárias. Existem evidências rsra crermos que ele tenha feito uma quarta *agem após sua libertação do encarceramento *3nano, registrado em Atos 28. A conclusão de

tal viagem tenha realmente acontecido ia-se no seguinte:

" Na intenção declarada de Paulo de ir à Espanha (Rm 15.24,28);2J Na declaração de Eusébio, de que Paulo tenha siüo libertado depois de seu primeiro encarceramento romano (História Eclesiástica 122.2-3); eIV Em declarações da literatura cristã primitiva :ue afirmam que o apóstolo levou o Evangelho as a Espanha (Clemente de Roma, Epístola aos Zcóntios, cap. 5; Actus Petrí Vercellenses, caps.

1-3; Cânon Muratoriano, linhas 34-39). Os lugares que Paulo pode ter visitado após sua libertação da prisão são indicados por declarações de intenção expressas em seus escritos anteriores, e por menções subse­qüentes nas Cartas Pastorais. A ordem de sua viagem não pode ser determinada com precisão, mas o itinerário apresentado a seguir parece provável.

1. Roma: libertação da prisão, 62 d.C.2. Espanha: 62-64 (Rm 15.24,28)3. Creta: 64-65 (Tt 1.5)4. Mileto: 65 (2 Tm 4.20)5. Colossos: 66 (Fm 22)6. Éfeso: 66(1 Tm 1.3)7. Filipos: 66 (Fp 2.23,24; 1 Tm 1.3)8. Nicópolis: 66-67 (Tt 3.12)9. Roma: 6710. Martírio: 67-68

repugnância moral a fazer o que é desonroso. Referem-se ao aperfeiçoamento Io domínio próprio, do controle dos ipetites, ao pleno governo interior que é capaz de colocar rédeas em todas as ~£ixões e desejos.

Paulo passa então a ser mais específico, Esencorajando as mulheres de usarem estilos

irados de cabelos, jóias de ouro ou pérolas, pas caras. Era notório que tanto as judias

.o as mulheres gentílicas gostavam de isto. As pérolas eram os adornos mais

is (custando aproximadamente o triplo valor do ouro). As mulheres usavam-nas

decorar os cabelos, orelhas, dedos, roupas, é sandálias. “A ostentação na vestimenta freqüentemente considerada um sinal

promiscuidade no mundo antigo [espe­r t e entre os cristãos], tais gastos, tão

ndes, eram considerados injustificados razão da difícil situação dos pobres”

roeger e Kroeger, 1992, 75).O adorno apropriado de uma mulher

professa reverência a Deus são suas s obras”, seu comportamento fiel. A deira beleza não é uma questão de

oração exterior, e sim de virtudes in- >res, que iniciam ações santas.

2.2.2. A Ordem de Ensinar às Mulhe­res (2 .11). Neste versículo, Paulo muda de foco, passa a dar mais importância ao fato de que as mulheres devem estudar a Palavra de Deus, e não somente ter uma vida de oração. Está claro que o apóstolo deseja que as mulheres na igreja apren­dam (cf. 1 Co 14.35a). No período roma­no, fora da aristocracia, a maioria das mulheres, judias ou gentílicas, eram pri­vadas da educação. A situação não era muito melhor no mundo religioso: não era per­mitido que as gentílicas participassem da religião oficial do Estado grego e roma­no, e as judias eram impedidas de estu­dar a Torá e não podiam ser incluídas no quorum da sinagoga. Entretanto, as ordens de Paulo estabelecem um padrão diferente para o cristianismo: “ A mulher aprenda... ” (literalmente, “que a mulher seja discipulada [:m anthano] ou ensinada”).

O Antigo Testamento defendia que se fizesse silêncio na presença do Senhor (Sl 46.10; Is 41.1; Hc 2.20; Zc 2.13). Tal atitu­de provavelmente tivesse a finalidade de auxiliar o aprendizado. Até mesmo os estudiosos rabínicos deveriam aprender em silêncio, que era entendido como uma

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parede ao redor da sabedoria. Por três vezes a Septuaginta (a tradução grega do Anti­go Testamento) acrescenta a “sujeição” ao “silêncio” de acordo com o Antigo Testa­mento hebraico (Sl 37.7; 62.1,5). O silên­cio e a submissão eram considerados estados de absoluta receptividade.

A conduta que Paulo exigiu das estudantes ou discípulas (silêncio e completa submis­são, veja w . 11b,12b) nos faz relembrar a situação problemática que havia em Éfeso. Os falsos mestres infiltraram seus ensinos pervertidos entre as mulheres, provavelmente porque a verdade não lhes havia sido ensi­nada pela igreja. Portanto, o apóstolo de­sejou equipar estas mulheres com o conhe­cimento da verdade, de forma que pudes­sem se opor aos erros. Sua ordem em 2.11, para que as mulheres aprendessem, representa a correção dos enos divulgados pelos obreiros tolos de 2 Timóteo 3-6,7, que “aprendem sempre e nunca podem chegar ao conhe­cimento da verdade”.

2.2 .3 . A Ordem para que as Mulhe­res Estejam em Silêncio (2 .1 2 ). A pró­xima oração foi interpretada por muitos como uma denúncia inequívoca do apóstolo contra a liderança feminina, sua proibi­ção absoluta de colocar uma mulher em uma posição de autoridade superior a um homem. Tal interpretação tem trazido perplexidade aos cristãos que crêem no Evangelho de uma forma completa, e que reconhecem o Espírito Santo como sen­do o capacitador dos homens e mulhe­res para a liderança cristã, conforme a promessa relatada por Joel (2.28-32) e cumprida no dia de Pentecostes (At 2.17-21). Como se pode conciliar as duas de­clarações bíblicas, a saber, a promessa (e seu cumprimento) e a proibição?

Está claro que esta passagem apresenta desafios especiais para os intérpretes:11) O verbo authenteo (que na NVI é traduzi­

do como “ter autoridade sobre”) não está claro. E já que esta palavra ocorre somen­te uma vez em todo o Novo Testamento, e não consta na Septuaginta, devemos buscar recursos fora das Escrituras para discernir seu significado;

2) A ordem da frase que contém a palavra é incomum; uma tradução literal seria: “Para

ensinar, ao contrário, às mulheres permissão, nem para authentein mem, mas que esteja em silêncio’ :

3) O desafio gramatical é compor suas um texto com duas partículas negajiH e oude) e três infinitivos (d? authentein e einai)-,

4) Os versos seguintes à injunção levantam questões adicionais: (a) a referência à ordem na criação? (b) a explicação do engano e da transg. (c) Por que a conexão entre a “dar à luz” filhos?

5) Mais significativamente, a inte tradicional (isto é, proibindo que lheres liderem) torna as palavras lo contraditórias em vista de sua de afirmar a liderança cristã das em outras passagens.O verso começa com a palavra d;

“ensinar”. As Pastorais dão grande se ao ensino, porque somente o preciso poderia combater as falsas trinas em Éfeso. É claro que de maneira as mulheres estavam env no falso ensino (lT m 4 .7 ; 5.11-13 3.6,7; Tt 1.11). Ainda assim, Paulo nãc completamente a liderança das mu Em outras passagens nas Pastorais, uma visão positiva relativa ao enr mulheres (veja 2 Tm 1.5; 3.14,15; 4 1 At 18.26b). Além das Pastorais, o Testamento contém numerosas afi nas cartas de Paulo sobre as mulh ministério (Rm 16.1,2,3-5,6,7,12: Fr

Note também que o próprio apí em sua ausência, deixou Priscila e / pastoreando os primeiros crentes dade de Éfeso (At 18.19). Era ta conhecido que Priscila e seu mari sinaram o eloqüente pastor alexar (um homem) chamado Apoio (At 1 Paulo havia elogiado esta mulher tre e cooperadora na liderança da em Éfeso, que ainda estava viva e d e i de grande apreço no momento em as Pastorais foram escritas (Rm 16.3 Tm 4.19). O contexto histórico, to, esclarece que o apóstolo não p o ensino feminino (como alguns int taram este texto), mas proibiu que nassem falsas doutrinas, da mesma

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aeira que os textos em 1 Timóteo 1.3,4 e Tito 1.9-14 proíbem o falso ensino de outros hereges. (Ôs versos seguintes [isto é, 1 Tm2.13-15] revelam a natureza do ensino herético que Paulo proibiu.)

O maior desafio para se interpretar 1 Timóteo 2.12 está no significado do se­gundo infinitivo, o verbo raro authenteo (que é a forma infinitiva de authentein). Ainda que o seu significado, “ter autori­dade sobre”, tenha sido tradicionalmen­te aceito neste contexto, tal tradução é seriamente contestada hoje por estudio­sos conservadores que realizaram uma extensa pesquisa sobre o uso da palavra :ora do Novo Testamento. A gama dos significados de authenteo inclui o seguinte:1) começar algo ou ser responsável por uma : condição ou ação;2) impor regras ou dominar;5) usurpar o poder ou os direitos de outra

pessoa; e4 ) reivindicar propriedade, soberania, ouautoria ■ (Kroeger e Kroeger, 1992, 84).

Os Kroegers oferecem duas traduções alternativas que levam em conta a ordem íncomum das palavras no verso, seus desafios gramaticais, seu contexto histó­rico e a pesquisa léxica mais recente desta palavra:

li) “Não permito que uma mulher ensine nem F se apresente como originador do homem” ^ (ibid., 103); e

il> “Não permito que uma mulher ensine que é o originador do homem” (ibid., 191-192). Tal ensino (de que Eva foi criada pri- iro e que ela originou Adão) era uma

s versões dos gnósticos a respeito da 'ação. Neste verso, Paulo está proibin-

que as mulheres ensinem tal heresia. Uma vez que tal interpretação não con­terá 1 Timóteo 2.12 como uma proibi-

contra todo o ensino e autoridade das ilheres no ministério, é consistente com demais afirmações de Paulo a respei-

liderança das mulheres. Observe tam- como esta interpretação é clara no

..jtexto dos versos que se seguem.2.2.4. A Ordem da Criação É Reite-

(2.13). Depois de Paulo proibir o ensino e aspecto de heresia dos gnósticos, declara

visão ortodoxa relativa à cronologia da

criação. Enfatiza a descrição contida em Gênesis e afirma definitivamente: “... pri­meiro foi formado Adão, depois Eva”.

2.2.5. A Explicação da Queda em Pe­cado (2 .1 4 ). Outro mito dos gnósticos ensinava que a tentação da serpente não resultou no pecado, mas no esclarecimento, e que foi Eva, ao compartilhar o fruto, quem trouxe a luz a Adão. Para corrigir tal he­resia, Paulo é obrigado a explicar a que­da, como Eva foi enganada, e a primeira transgressão.

2 .2 .6 . A Esp eran ça de sua Salvação É A nunciada (2 .1 5 ). O apóstolo con­clui o assunto prometendo a salvação para as mulheres, se permanecerem em sua missão de mãe “com modéstia na fé, na caridade (ou amor) e na santificação”. Os mitos dos gnósticos continham um en­sino elaborado sobre uma suposta dis­seminação, de acordo com o qual cada um de seus descendentes, ao nascer, recebia partículas da luz divina do primeiro ca­sal, que fora dotado destas partículas na criação. Toda geração subseqüente dis­tribui suas partículas de luz entre sua descendência. Após a morte, quando um indivíduo gnóstico procurar realizar a viagem celestial, deixando este planeta material, estará proibido de deixar a terra até que todas as suas partículas de luz sejam reunidas. Se, tendo filhos, as par­tículas de luz de uma mulher gnóstica tiverem sido passadas a outros, ela esta­rá presa na terra até a morte de toda a geração de seus descendentes; quando todas as suas partículas de luz poderão ser novamente reunidas.

Em outras palavras, de acordo com o ensino gnóstico, a salvação eterna tornou-se com­pletamente impossível àqueles que têmfilhos. Esta era possivelmente a razão pela qual os falsos mestres em Éfeso estavam proibin­do o casamento (4.3). “Alguns textos gnósticos condenavam ter filhos, e outros chegavam até mesmo a afirmar que era impossível uma mulher alcançara vida etema” (Kroeger, Evans e Storkey, 1995, 442). Deste modo, Paulo corrige este ensino errôneo, prometendo assim a salvação a estas mulheres — ainda que tivessem filhos — , caso vivessem uma vida de santidade cristã.

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A interpretação correta desta passagem põe um fim à falsa alegação de que a tra­dicional permissão do ministério e da li­derança exercida pelas mulheres nos círculos pentecostais e carismáticos, onde se crê no evangelho como um todo, (e a aceita­ção contemporânea do ministério femi­nino em importantes denominações) seja uma violação das Escrituras. Assim como Pedro, que no dia de Pentecostes prometeu que nestes últimos dias o Espírito de Deus capacitaria os homens e as mulheres para o ministério (At 2.16-18), e da mesma maneira Paulo reconheceu que em Cristo as dis­tinções sexuais são irrelevantes (G13.28), esta passagem também não proíbe que os homens sejam ensinados pelas mulheres no exercício de sua liderança espiritual. Antes, o apóstolo está confrontando um problema local específico em Éfeso, si­lenciando os falsos ensinadores, e refu­tando os falsos ensinos.

2.3■ S obre os B ispos (3-1-7)

2.3-1. As Aspirações àLiderança São Ratificadas (3 .1 ). O apóstolo volta sua atenção especificamente às posições de liderança na igreja, citando outro provérbio aparentemente famoso. Já naquele tem­po, a igreja primitiva tinha uma coleção de curtas declarações (logia), de modo resumido, porções memoráveis de verdades comumente sustentadas pelos crentes. Tais expressões existiram antes do tempo da composição das Pastorais, e como reco­nhecimento de sua aceitação geral foram introduzidas em forma de citação como vemos aqui: “Esta é uma palavra fiel... ” (veja comentários sobre 1.15).

Esta declaração cristã valida a aspira­ção que um crente possa ter de servir à igreja em uma posição de liderança ou supervisão. Qualquer crente que tenha esta aspiração, homem ou mulher (a palavra tis inclui ambos os gêneros), certamente deseja fazer um bom trabalho, desempe- nharuma tarefa nobre. Ao citar este logion*o apóstolo recomenda o ofício do bispo a qualquer pessoa que tenha as qualifi­cações que se seguem (w . 2-7).

As responsabilidades dos supemsq|B superintendentes ou bispos (episkopes O fl , longe de ser claras neste período pod tivo da Igreja. O título parece ser e c n jl lente ao de ancião ou presbítero (p resb iia j (5.17; Tt 1.5), embora pouco seja c c c a í cido sobre as funções que desempeni vam. O papel dos oficiais da igreja era e flexível na época do Novo T estam eaJ Até o período patrístico primitivo, tais ainda não haviam sido padroniza regulamentadas.

2 .3 -2 .0 Estabelecimento das ficaçõesdaüderança(3.2-7).Pauic raosB sua discussão sobre as condições e x ;a a S aos candidatos à liderança da igreja uma lista consecutiva de doze qi: ções simples (w . 2,3), seguidas pcc ■ requisitos, cada um destes acompaniíuta por uma base lógica (w. 4-7). É impcnai* notar que a lista inteira é estmturaoa rdh que é chamado de inclusio, um disoirf vo literário de parêntesis ou colcheie-s torno de um assunto particular. O r — ro requisito (v. 2a) é que o bispe 'sqp inepreensível”; e oúltimo (v. 7), é que le a lM bom testemunho dos que estão de :ac4w Logo o assunto como um todo ■— as jo m lificações para os líderes da igreja — r i completamente envolvido por sua in^pi* tância, que é superior à repreensãc

Esta não é uma lista de requisitas pirituais — nenhum dos itens é espedl camente cristão. Também não é uma crição das responsabilidades ou a i i n ções dos bispos. Antes, os itens r e fe a e os mais elevados ideais da filosofia c ral helenística. A lista sugere que o : ar portamento dos falsos mestres estava^j vando o Evangelho à perda de credibilíoa^J “Portanto, Paulo não está somente rr t* cupado com os bispos, a fim de q u e » l tes tenham virtudes cristãs (assume-se^ antemão que as tenham), mas que ~-n» bém reflitam os mais elevados ideaa- H cultura” (Fee, 1988, 78-79). As listas a qualificações eram comuns na antigú:. _. ■ em meio aos gregos, romanos e ju a o s lO padrão de líderes “irrepreensíveis' -at amplamente difundido no mundo • • -nu “Paulo, reconhecendo os desafios q u ea cristãos enfrentavam já no início dc rc*

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conceito demonstrado pelo mundo, es­tava determinado a sobrepujar os padrões da moralidade do mundo, não deixando r je os escândalos maculassem a reputa­ção da igreja” (Keener, 1991, 87).I A primeira e mais importante qualificação,- então, é que os bispos tenham um caráter

excelente, isto é, que sejam irrepreensíveis. Xunca deveria ser possível (literalmente) "surpreender um bispo” fora dos limites da integridade.

I A próxima qualificação — que o bispo seja "marido de uma mulher” (não existe o termo "mas” no texto grego, como traduzido na NVI) — é fácil traduzir, porém é difícil interpretar. Três questões estão envolvi­das: (a) Será que o apóstolo está conde­nando o divórcio, a poligamia, oconcubinato, ou qualquer outra coisa? (b) Será que o apóstolo está exigindo que os bispos se- úm casados, refutando aqueles que dizi­am que não se deveria casar? (c) Será queo apóstolo está exigindo que os bispos sejam homens e não mulheres?a) A primeira destas questões— “marido uma mulher” — é: Ó que queria dizer

d o de uma mulher” no século I? A retação tradicional toma a frase como ndo dizer “marido de uma só esposa

nte sua vida”, às vezes acrescentan- menos que ela mona”. Tal interpretação

qualificações permite que as pesso- e se casam novamente após a mor- cônjuge tenham a oportunidade de r na liderança da igreja, mas proíbe aqueles que se casaram após um

'_rio se candidatem à liderança. Aqueles :rêem em todo o Evangelho mantêm elevada visão da permanência do ento e querem que seus líderes sejam pios do mesmo. Também mantêm elevada visão da graça de Deus e ~m que suas práticas demonstrem a

em ação. Conseqüentemente, as ces sobre este texto foram tão grandes

as congregações carismáticas e as tinações pentecostais se dividiram eito da interpretação e da aplica- te requisito para os líderes das igrejas, sunto torna-se especialmente com-

o quando o candidato à liderança ia se enquadra em uma das seguintes

categorias: se o divórcio e o novo casa­mento aconteceram antes da conversão, ou se o crente era a “parte inocente” em um divórcio (isto é, se o casamento foi terminado em bases bíblicas). Jesus per­mitiu o divórcio nos casos em que um dos cônjuges fosse infiel (Mt 5.31,32), e en- tende-se que Paulo permitiu o divórcio se um dos cônjuges abandonasse o lar (1 Co 7.15). O assunto é ainda mais compli­cado quando já tem ocorrido uma anula­ção eclesiástica (para o que não existe nenhuma citação nas Escrituras, no Novo Testamento).

Algumas igrejas reconhecem que o adultério e a deserção são bases bíblicas para o divórcio, mas em nenhum caso permitem um novo casamento. Seu apoio é que (i) nem em Marcos 10.11,12 nem em Lucas 16.18 a declaração dejesus sobre o divórcio foi qualificada como uma “cláusula de exceção” (cf. Mt 5.31,32) — isto é, que todo novo casamento constitui um adul­tério; e (ii) que Paulo subordina sua ex­ceção ao decreto de divórcio proferido por Cristo, como uma idéia própria e não do Senhor (cf. 1 Co 7.10-16; parece que Paulo desconhece qualquer exceção por parte de Cristo). Outras igrejas permitem o novo casamento no caso de pessoas que experimentaram o divórcio em bases bíblicas. Sua lógica é que o propósito do divórcio antigo era como uma sanção legal para o novo matrimônio.

O contexto de nosso mundo moder­no e o rápido aumento do índice de di­vórcios (tanto fora como dentro da igre­ja) nos chamam a discutir este texto. Tal­vez o contexto do mundo antigo e sua estrutura familiar e social possam elucidar0 assunto. O que significava “marido de uma mulher” para os leitores originais de1 Timóteo, para os judeus e para os pa­gãos? Que advertência específica, naquele contexto cultural, o apóstolo Paulo quis dar aos candidatos à liderança cristã para que fossem moralmente irrepreensíveis? Referia-se ao divórcio, à poligamia, ao concubinato, ou a qualquer outra coisa?

O divórcio era uma trivialidade no séculoI entre os pagãos. O judaísmo também permitiu o divórcio em muitas outras si­

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tuações, tornando fácil que um marido se divorciasse de sua esposa (veja Mt 19-3,' onde os fariseus perguntam a Jesus se o divórcio poderia acontecer “por qualquer motivo”; e 19-10, onde até os próprios discípulos de Jesus ficaram chocados pela severidade de sua resposta). Keener diz: “É quase impossível que [Paulo] esteja se referindo ao novo casamento de ho­mens divorciados, porque ninguém na antigüidade, judeu ou greco-romano, trataria com desprezo o novo matrimô­nio do hom em ” ([a ênfase é do próprio Keener], Keener, 1991, 100).

A poligamia era contrária à lei roma­na, contudo, oficialmente legal no juda­ísmo palestino. Todavia, em meio aos judeus a monogamia era a norma mais aceita. Uma vez que a poligamia não era praticada nem pelos judeus fora da Palestina, nem pe­los gregos na Ásia Menor, parece impro­vável que Paulo esteja escrevendo uma proscrição contra tal prática aos líderes da igreja em Éfeso.

Ainda que o concubinato não fosse uma prática habitual, não era desconhecido no século I do mundo greco-romano. Sabia- se.que os soldados, que não podiam se casar oficialmente até que seu tempo de serviço militar fosse cumprido (um lon­go período de vinte anos), praticavam tal ato. Embora 1 Timóteo 3-2 possa estâr proibindo o concubinato, esta prática provavelmente não era comum o bastante em Éfeso para merecer uma proibição.

O propósito das qualificações para os líderes da igreja era manter a reputação daqueles que estivessem no ministério, evitando que pudessem ser repreendidos pelos que estavamfora da igreja. Se o divórcio era socialmente aceitável no momento da escrita do Novo Testamento, se a poliga­mia não era praticada em Éfeso, e se o concubinato era incomum, qual compor­tamento era considerado escandaloso na estrutura social do século I, pelo qual o apóstolo Paulo excluía os candidatos ao ministério da igreja? Existem esclarecimentos adicionais no texto?

A expressão “marido de uma mulher” encontrada entre as qualificações do bispo em 1 Timóteo 3.2 e Tito 1.6, como tam­

bém nas qualificações para o diá1 Timóteo 3-12, tem sua contra expressão “ mulher de um só maridc' de rodapé da NVI), encontrada lificações para as viúvas que estâ: litadas a receberem o apoio fina igreja em 1 Timóteo 5. A estnr qualificações de Paulo para as viúv velhas (5.3-16) é notavelmente se~ às qualificações do apóstolo pari mens mais velhos, ou bispos (5 1 Parece que estas viúvas tiveram gar no ministério e foram honra sempenhando um trabalho de recebendo, de certa forma, um paf por este (cf. w . 5,9-16).

Tanto a palavra latina univira c palavra grega monandros signifi posa] de um só marido” (liter “mulher de um só homem”), sei mos atribuídos não somente a vi éis ao Senhor, mas também enc como inscrições funerárias de romanas virtuosas, honradas pelos dos que viveram mais que elas. A er^ “mulher de um só marido” fala de que cumpriram o ideal “de: um sc do” que havia na antigüidade, e que r* em: (a) casarem-se somente uma (b) serem absolutamente fiéis a ~ co marido por toda a vida. “A ênf: cional da expressão está na fideli esposa, como uma boa esposa du otempo do casamento... [Ela] foifiei marido, nunca tendo interesse por homem durante seu matrimônio'' ( se de Keener], Keener, 1991,95). a NVI traduz a “mulher de um só em 1 Timóteo 5.9 como uma viúva “foi fiel a seu marido”. Já que a ar- dade não assegurou aos homens um “de uma só esposa”, quando a exp r é usada no masculino, “homem de só mulher” (isto é, “marido de u lher’ ) - ;cífere-se ao cônjuge fiel e l nunca se interessou por outra mu decorrer de todo o seu casamentc

O casamento com um único côh por toda a vida nunca é aplicado líderes no mundo antigo como um requisito; não é nem um elogio freqí

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aos homens (que naquela cultura pre­encheram a maior parte dos papéis de liderança), sendo reservado mais fre­qüentemente às mulheres. O ideal de fidelidade matrimonial, porém, é muitas vezes exigido aos líderes... Na antigüi­dade, ter a casa em ordem era, habi­tualmente, um padrão para a lideran­ça (ibid., 95).

k “O que era ridicularizado nesta cultu­ra? O divórcio sucessivo, a bigamia (in­clusive manter uma concubina além do casamento), e a infidelidade matrimoni­al'' ([ênfase de Keener], ibid., 100-101)- Um candidato à liderança da igreja «vendo uma vida moralmente desregrada, escandalizaria a reputação da igreja (como era o caso em Corinto, 1 Co 5). Note como

profeta Natã lamentou que a imorali- de sexual do rei Davi tenha dado aos

rim igos do Senhor uma causa pela qual “íasfemar (2 Sm 12.14).

Se Keener estiver correto, esta qua- icação para os bispos (diáconos e vi- _as) significa fidelidade matrimonial, forma que o verdadeiro enfoque do 'stolo está na moralidade sexual dos

ndidatos à liderança da igreja. Tal in- rpretação sugere que Paulo possa san- ~nar a liderança de alguém que tenha 'o vitimado pelo divórcio, enquanto qualifique a liderança dos crentes que

já foram sexualmente infiéis para com is cônjuges (deste modo, talvez, proi- do a restauração do ministério dos cres que decaíram moralmente, já que varam não ser “marido de uma mu-

x”). Se a tradução da NVI — da con- parte feminina da expressão — for licada de modo consistente, então esta ilificação para os bispos (3.2; Tt 1.6)

'^ a os diáconos (1 Tm 3.12) seria: “serem s a seus cônjuges”.

Em resumo, a interpretação e a apli­co do critério a um bispo que seja “marido uma mulher” é um assunto difícil por

s razões significativas:

Deus tem uma elevada consideração pe­los que permanecem no casamento (cf. Ml 116; Mt 19.6b; Mc 10.9);

• Há uma falta de consenso sobre o signifi­cado da expressão traduzida como “mari­do de uma mulher”; e

• E importante exercitar uma natureza sen­sível no modo de proceder, assim como Cristo agiria em relação às pessoas envol­vidas em situações matrimoniais infelizes.

A poligamia e o concubinato não pa­recem ser o ponto crucial das instruções de Paulo aqui; porém ainda se discute se é o novo casamento após o divórcio ou a infidelidade matrimonial que desqualifica alguém do exercício destas funções. Cada denominação evangélica, e cada congre­gação independente deve, em oração, discutir e estabelecer a questão. Em tais casos de incerteza teológica ou prática, nosso Senhor deu à igreja a autoridade para tomar decisões; e embora os dife­rentes grupos possam chegar a conclu­sões diferentes, Cristo comprometeu-se a honrar as decisões tomadas por seus re­presentantes (Mt 16.19; 18.18,19). Nossa atitude deve ser como a de nosso Senhor— respeitar o julgamento de outros cren­tes quanto a assuntos controvertidos, ainda que possam diferir de nossas próprias conclusões (Compare o conselho do após­tolo em relação às diferenças de convic­ções em outros assuntos morais importantes do século I, como comer a carne sacrificada a ídolos [Rm 14.1-23; 1 Co 8.1-13D.

(b) A segunda questão da interpreta­ção desta passagem — de um bispo ser “marido de uma mulher”— é que o apóstolo esteja exigindo que os líderes da igreja (bispos em 3.2 [cf. Tt 1.6], diáconos em 3 1 2 e vi­úvas em 5.9) sejam casados, de forma oposta àqueles que nunca se casaram.

No contexto local específico de Éfeso e Creta (século I), é possível que Paulo estivesse definindo que o matrimônio fosse preferível para os líderes da igreja. Os casamentos destes líderes locais seriam um testemunho de que rejeitaram o fal­so ensino que proibia o casamento, uma atitude que o apóstolo está combaten­do nas Cartas Pastorais (veja 4.3). A pre­sença de tal heresia no contexto históri­co desta carta pode contribuir também para o encorajamento de Paulo às viú­

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vas mais jovens para que se casem no­vamente, e para sua especificação de que somente as mulheres “de um só marido” (isto é, viúvas, não simplesmenté as mulheres mais velhas) fizessem parte do grupo de cooperadores que recebem salários da igreja. “Pode ser que aque­las que ocupavam posições de honra na igreja precisassem ter sido anteriormente casadas, a fim de serem um exemplo contrário à retórica dos falsos mestres que rejeitavam o casamento” (Keener, 1991, 92). Contudo, ainda que este seja o sig­nificado aqui, esta qualificação não era um requisito universal para os líderes da igreja, mas um exemplo de que os repre­sentantes de Cristo devem estar acima de qualquer repreensão por parte daque­les que estão fora da igreja, como na si­tuação cultural específica de Éfeso. O ca­samento certamente não era uma quali­ficação obrigatória para a liderança cristã. Provavelmente Timóteo fosse solteiro; Barnabé não tinha esposa (1 Co 9.1-5); o próprio Paulo era solteiro (1 Co 7.7,8); e nosso Senhor nunca foi casado. Ainda que o apóstolo estivesse sugerindo que os bispos e diáconos em Éfeso (e Creta) devessem ser casados, tal qualificação não seria obrigatória para os líderes cristãos em outras situações.

(c) A questão final da interpretação da qualificação de um bispo ser “marido de uma mulher” é: Será que o apóstolo está exigindo que os bispos sejam homens e não mulheres? Novamente, nesta colocação específica é possível que Paulo possa estar ordenando requisitos singulares para combater problemas locais. Em um local onde os falsos mestres tiveram um sucesso especial em meio às mulheres ignoran­tes (Keener, 1992, 111-112), o apóstolo pode estar sugerindo que os bispos de­vessem ser homens. Entretanto, ainda que tal hipótese seja possível, não é provável— a maioria dos falsos mestres parece realmente ter sido formada por homens.

Quando Paulo iniciou o assunto re­lacionado aos bispos, não especificou o gênero de tais líderes, mas usou a ex­pressão genérica “se alguém deseja”. A NVI usa o pronome masculino dez ve­

zes na lista de qualificações, si mente porque não existe um p genérico para a terceira pessoa guiar no idioma inglês. Seria ~ ro traduzir a lista como qualificaç' os bispos (no plural), de forma, pronome do gênero neutro da t pessoa do plural, “eles”, pudesse sc.O texto grego original, porém ( no singular), inclui ambos os g 'O apóstolo poderia facilmente tè pecificado como masculino, cc em 1 Timóteo 2.8, mas escolheu gênero neutro ao referir-se aos ’

Tendo em vista que Paulo eL liderança espiritual das mulheres como Febe (descrita literalmente “... nossa irmã, a qual serve [miir igreja que está em Cencréia”, Rm 1 Junia (uma mulher que fazia umtr; notável em meio aos apóstolos. Rn: e Priscila, que juntamente com _A foi encarregada de liderar a jovem gregação em Éfeso (At 18.19), nã: vável que o apóstolo considerai — somente os homens pudessem penhar o ministério em Éfeso ou em quer outro lugar.

As próximas três qualificações so 2 são semelhantes (NVI):3) Temperança ou moderação;4) Autocontrole ou sensibilidade; e5) Respeitabilidade ou bom compo

A temperança é freqüentemenircom relação a bebidas alcoólicas.: uma vez que o versículo 3 trata ficamente de não ser “dado ao v é mais provável que o termo u sac; tenha um sentido mais amplo, r.*. rico, isto é, “livre de toda forma cesso, paixão, ou precipitação! modo, o ministro deve ter plena ciência, uma mente sóbria e servi As duas qualificações posteriores juntamente em listas éticas de e-r seculares, como os elevados ideaã comportamento exigidos para o c ; penho de várias ocupações. Fa’^rr caráter interior e do comporta exterior — a vida particular bem nizada da qual emana o cumpri bem ordenado de todos os deverei

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É necessário que o bispo seja “hospita- jero” (v. 2), outra virtude grega. A hos­pitalidade é um dever de todos os cren- es individualmente (5.10) e de toda a igreja arletivamente (Rm 12.13; 1 Pe 4.9; 3 Joi no entanto, encontra sua expressão

3ais alta nos bispos que são descritos ncs primeiros escritos cristãos como as r*. ores que abrigam as ovelhas, sendo merecedores de especial louvor pelo papel que desempenham (1 Ciem 1.2,10,11). Ona bênção especial acompanha este mi- irstério (Hb 13.2).A hospitalidade no Novo Testamento

;5 do que divertir os amigos, paren- vizinhos, ou ter convidados para o

uma vez por semana. Refere-se à ira de nossa casa para aqueles que

desconhecidos ou diferentes de nós s. O adjetivo “hospitaleiro” signi- lmente, “amar os estranhos”. Refere-

itenção para com os necessitados na egação e na comunidade, e a hos- em casa ministros que estão viajando, '" lmente aqueles que vivem em outras .ades.

igreja primitiva não poderia ter so- 'ido sem a prática desta virtude.

Na antigüidade quando se viajava, era ral encontrar alguém do próprio país

comérciodo viajante, que alegremente eceria acomodações durante a noite,

pousadas cobravam preços injusta- nte altos e normalmente funciona-

como bordéis; então os viajantes freqüência levavam consigo cartas

recomendação, pois assim seriam bidos pelos amigos de seus amigos

conhecidos em outras cidades.Isto acontecia especialmente com viajantes judeus, que se recusavam

spedar-se em um bordel, se tivessem as alternativas disponíveis. As casas

J e funcionavam as sinagogas e as olas poderiam ser usadas para este pósito, mas era melhor se hospe- na casa de um anfitrião. Parece que apropriado o anfitrião insistir para

e o convidado ficasse, permitindo- partir somente se este insistisse,

ulo usufruiu freqüentemente des­

te costume em suas próprias viagens.Embora a virtude deste tipo de hos­

pitalidade devesse ser praticada em to­das as culturas, provavelmente apare­ce na lista de Paulo por ser um sinal de grande respeitabilidade naquela cultu­ra (Keener, 1991, 97).

7) “Convém, pois, que o bispo seja... apto para ensinar” (v. 2). O ensino é conside­rado um dom espiritual no Novo Testamento (cf. Rm 12.7; 1 Co 12.28,29; Ef 4.11). Os líderes devem se identificar com o grupo de presbíteros da congregação que se ocupam com a pregação e o ensino (1 Tm 5.17). A passagem em Tito 1.9 especifica três qua­lificações dos mestres espirituais: a com­preensão da verdade que seja consisten­te com a tradição apostólica, a habilidade de transmitir esta verdade claramente aos outros e a habilidade de refutar os erros daqueles que procuram pervertê-la. O requisito de que os líderes espirituais te­nham uma aptidão para o ensino é coe­rente com a proibição de novos converti­dos serem autorizados a ensinar (v. 6).

8) O bispo não deve ter problemas com be­bidas alcoólicas (v. 3; literalmente, não ser “dado ao vinho”). Fee (1988,81) pergun­ta se estes critérios sugerem que os falsos mestres eram dados à embriaguez.

Talvez não, levando-se em conta seu asceticismo observado em 4.3. Entretanto, podem ter sido ascéticos sobre alguns alimentos e indulgentes a respeito do vinho. Em todo caso, a embriaguez era um dos vícios comuns na antigüidade; e poucos autores pagãos falam contra o mesmo — em geral, manifestam-se somente contra outros “pecados” que poderiam acompanhá-lo (a violência, a repreensão pública aos servos, etc.). Muitos teólogos entendem que de acordo com (5.23), o bispo não precisaria se abster totalmente, nem tampouco deveria se dar à embriaguez (cf. 3.8; Tt 1.7), por­que esta é uniformemente condenada nas Escrituras.

As próximas três qualificações parecemcaminhar juntas e provavelmente reflitam

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o comportamento dos falsos mestres. Estes, como descrito em 6.3-5 e 2 Timóteo 2.22- 26 (cf. Tt 3-9), eram dados a discussões e disputas. Deste modo, os verdadeiros bispos não devem:9) Ser “violentos”, nem briguentos ou

alvoroçadores, ou seja, inclinados à agressão ou às discussões;

10) Mas “moderados”, que demonstram con­sideração — até mesmo quando corrigem os seus oponentes (2 Tm 2.23-25); e

11) Ser “contencioso”.12) A lista continua com o requisito de que o

bispo não seja “avarento” (v. 3). A Primei­ra Carta a Timóteo 6.5-10 explica que a cobiça é um dos “pecados mortais” dos falsos mestres, a causa de sua ruína final. Uma advertência contra a avareza é incluída em cada lista de qualificações para a lideran­ça, no Novo Testamento (3.8; Tt 1.7; cf. At 20.33; veja comentários sobre 1 Tm 6.5- 10; 2 Tm 3.6,7).Nos três tópicos finais (a vida da famí­

lia dos líderes, sua maturidade na fé e sua reputação com os estranhos), Paulo ofe­rece uma razão para cada requisito. Es­tes três também parecem ser questões relacionadas aos falsos mestres.13) O requisito mais detalhado na lista de

qualificações dos bispos está relacionado ao controle sobre seus filhos. Esta virtude era freqüentemente exaltada na antigüi­dade, sendo apresentada como um pré- requisito para liderar outros. Uma vez que no Novo Testamento as congregações se reuniam nos lares e se baseavam na orga­nização doméstica (incluindo os membros das fâmílias, os escravos e os servos), a estabilidade da casa era importante para a manutenção de uma igreja forte. Já que este era um requisito padrão para os líde­res respeitáveis, uma característica necessária para os líderes cristãos era serem “irrepre­ensíveis” (v. 2) também nesta área.

Mas o controle sobre a casa também era mais facilmente implementado naque­le período do que atualmente. Quem não honrasse e obedecesse aos pais, não podia ser honrado na sociedade greco-roma- na; este conceito também era válido no judaísmo. O pai tinha também üm pa­

pel tradicional de autoridade dade romana; embora o poder e da morte fossem raramente < sobre os filhos adultos, o dire'" nuo do pai de decidir se as deveriam ser criadas ou expul casa ressaltavam sua posição de no lar. Sua autoridade paterna t mente estendida até os netos e tos, enquanto permanecesse viv' que o amor dos pais por seus fi uma norma esperada, a disci- freqüentemente severa (inclu' açoite), sendo enfatizada na s dos filhos. Apesar de Paulo apoiara que desaprovava a disciplina í6.4), a cultura, como um todo. to mais orientada em direção à ência filial e à autoridade dos que em nossos dias (Keener, 1 ~

Os bispos devem “governar" famílias (proistemi, um verbo sugere severidade), mantendo sob submissão com todo o r razão para este requisito é que dizado da administração da casa ra a pessoa para administrar de Deus. A palavra proistemi. relação aos bispos em 5.17 (“gov e em 1 Tessalonicenses 5.12 (“pr implica o exercício de direção e dosa preocupação. O governo peito desempenhados pelo bi perfeita combinação de dignida tesia, independência e hu (Rienecker, 1980, 623).

A força da frase, “com todo o to”, provavelmente não significa os filhos “obedecerão” com to”, mas que seriam conhecidos sua obediência e seu bom co mento em geral... Existe uma dif entre exigir obediência e cons O líder da igreja não “governa*. mília de Deus, pelo fato de ter = ponsabilidade de exortar o obediência. Ele “cuida” da far tal modo que seus “filhos” serl: nhecidos por sua obediência e comportamento (Fee, 1988, 82

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|K) Os bispos não devem ser neófitos. Por quê? Oferecer aos novos crentes uma ele­vada posição muito cedo poderia tentá- los a se tornarem orgulhosos. Já que isto é exatamente o que é dito sobre os fal­sos mestres em 6.4 (cf. 2 Tm 3.4), pare­ce que alguns deles podem ter se con­vertido recentemente, cujos “pecados... são manifestos” (1 Tm 5.24). As palavras traduzidas como “não neófito” são uma metáfora significando literalmente “uma pessoa que não tenha sido recentemen­te estabelecida” (Fee 1988, 83), se refe­rindo a alguém recentemente batizado (cf 1 Co 3.6, onde Paulo usa o verbo referindo-se a conversões). Deste modo, os candidatos devem ser cuidadosamente avaliados antes de serem designados para a liderança .(cf. 1 Tm 5.22).Xa época em que Paulo estava escre-

lo esta carta, a congregação de Timóteo Éfeso tinha mais de dez anos, com líderes ientemente preparados e maduros para m escolhidos. Este requisito está au- te, porém, na lista de critérios para os ~res da congregação mais jovem, que va em Creta, na carta de Paulo a Tito. üm bispo deve ter uma boa reputação ou um “bom testemunho dos que estão de fora” da igreja, para evitar o fracasso. Esta lista inteira diz respeito ao comportamento que se pode observar, servindo como um tes­temunho para os estranhos. Como Fee (1988, 83) explica:

A ênfase parece ser que uma reputa­ção ruim junto ao mundo pagão fará com que o episkopos caia ‘em afronta’, ou seja caluniado, e deste modo a igreja

m ele; e isto seria cair ‘no laço do diabo’, laço’ preparado pelo ‘diabo’ consiste

m que o comportamento dos líderes igreja seja tal que os estranhos não

se sintam inclinados a ouvir o Evangelho.

s escândalos de certos líderes cristãos ossos dias têm envergonhado a igre- mo um todo e aprofundado a indi-

nça da América do Norte para com o gelho. Muitas vezes a igreja perdoa cassos dos ministros, porém o mundoo faz. É especialmente diante dos

“estranhos” que a reputação da lideran­ça do ministério deve ser irrepreensível.

2.4. Sobre os D iácon os (3-8-13)

2.4.1. Qualificações Gerais para todos os Diáconos (3.8-10). Da mesma maneira como fez com os bispos ou líderes, o apóstolo discute as qualificações (não os deveres) daqueles que servem à igreja como diáconos ou ministros. Embora sirvam como auxi- liares da igreja e não como líderes, seus requisitos morais e espirituais são seme­lhantes; deste modo, o apóstolo introduz suas qualificações com a expressão “Da mesma sorte...”

Quem eram os diáconos? Ainda que seja uma prática comum considerar os que foram selecionados para servir às mesas em Atos6.1-6 e 21.8 como protótipos daqueles que desempenham este papel, tais homens não foram chamados de diáconos.

De fato eram claramente ministros da Palavra em meio aos judeus que fala­vam grego, o que eventualmente resultou no título de “os Sete” (At 21.8), que os distingue “dos Doze”, porém utilizan­do uma expressão semelhante. Sendo assim, temos a certeza de que episkopoi [bispos] e diakonoi [diáconos] são fun­ções distinguíveis na igreja, mas não sabemos exatamente o que eram no início da Igreja (Fee, 1988, 86).

Fee considera provável que tanto os “bispos” como os “diáconos” estavam abaixo da categoria mais ampla dos “presbíteros” (Fee 1988,78). Ambos eram líderes da igreja. A palavra diakonos é, de fato, o termo favorito de Paulo no original em grego para descrever seu próprio ministério, bem como o de seus cooperadores (por exemplo, Rm 16.1;1 Co 3.5; 2 Co 3.6; Cl 1.23; 4.7). A pala­vra é usada referindo-se a Timóteo em4.6. Embora a NVI não mantenha uma distinção, nas versões em inglês o ter­mo diakon os é normalmente traduzido como “diáconos” quando aparece no Novo Testamento no plural, e “ministro” quando aparece no singular.2Como ocorre com

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outros títulos do Novo Testamento, parece haver uma oscilação na ênfase entre o ofício e a função.

Da mesma maneira que os assistentes (conforme a NVI, “aqueles que são capazes de ajudar”) auxiliam os administradores (na NVI, “aqueles que possuem o dom de administrar”) (1 Co 12.28), parece que o ministério dos diáconos no Novo Testa­mento é auxiliar os bispos/presbíteros. Seu papel subordinado é evidenciado pela ausência da menção de qualquer respon­sabilidade para com o ensino ou hospi­talidade, e pelo fato de que seu escrutí­nio preliminar parece ser até mais rigo­roso do que o dos bispos (Kelly, 1963,81). Várias das qualificações para os diáconos parecem sugerir diretrizes para as pessoas envolvidas no trabalho de casa em casa (veja as qualificações [2] e [8] abaixo) e na supervisão dos fundos assistenciais da igreja (veja as qualificações [4] e [10] abaixo).

Acrescentando um qualificador masculino para o versículo 8, que não está presente no grego,3 o verso seria traduzido como: “Os diáconos devem ser, igualmente, ho­mens dignos de respeito”. Muitas traduções e paráfrases em inglês (por exemplo, NVI, NASB, Phillips, Living Bible, NEB ejerusalem Bible) deixam a impressão de que os diáconos deveriam ser homens. AKJV, TEV, RSV, NRSV e a NIV Inclusive Language Edition estão de acordo com o texto original, não apre­sentando estes versos como exclusivamente masculinos. De fato, as qualificações para os diáconos constam em três seções que podem ser claramente vistas na NVI: qua­lificações genéricas para todos os diáconos, tanto homens como mulheres (w . 8-10); qualificações específicas para as diaconi- sas (v. 11); e qualificações específicas para os diáconos (v. 12). Os diáconos podem ser homens ou mulheres.

Existem seis qualificações genéricas para todos os diáconos:1) Devem ser “honestos”, dignos, respeitá­

veis e sérios. A palavra grega deriva-se da palavra usada no versículo 4 para o com­portamento dos filhos dos bispos, “com res­peito apropriado”. Semelhante às qualifi­cações do inclusio, entre parêntesis, refe­rindo-se aos bispos, com o requisito de serem

oeí.

) da

“irrepreensíveis”, “dignos de res: um termo de “cobertura” que traz go todos os critérios que se se;As próximas três qualificações

bições no idioma original:2) Os diáconos não deveriam ser

ou fingidos (literalmente, não te faces”), mas completamente fi quanto ao que dizem (NVI, “sin palavra pode se referir a falar da v (dizer algo a uma pessoa e algo a outra) ou à hipocrisia (dizer algo pensa ou faz uma outra coisa);

3) Assim como os bispos (v. 3), os não devem ser “dados a muito v

4) Como os bispos (v. 3), os diáconos ser “cobiçosos de torpe ganância não devem procurar ganhos d A responsabilidade dos diáconos assuntos financeiros da congre; deria expô-los a muitas tentaç

5) Acima de tudo, os diáconos d pessoas convictas. O “mistério os diáconos devem manter eqüivale i do ensino cristão que transcende humana, e que somente é acessível da revelação divina. “Paulo está do na relação íntima entre uma fé uma consciência irrepreensível e sem esta última, a primeira será esr 1963,82). A consciência dos diá ser livre de ofensas;

6) A qualificação genérica final para diáconos é que deverão ser p~ avaliados, e se considerados in poderão servir. Porém o tipo de z exame, ou aprovação exigidos sac tos, contudo a idéia de selecionar; soas que forem aprovadas após me é também vista em 1 Coríntios Coríntios 13.5. A frase “se não h< contra estes”, que consta em a^. duções, é um sinônimo de ser “i que é uma qualidade exigida aos (v. 2), que também pode ser assim como a primeira qualificação presbíteros emTito 1.6. Asentença inicias-se comka i(“também"), plicando que como os bispos e os os diáconos também devam ser samente examinados antes de signados como tais.

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I TIMÓTEO 3

■JALIFICAÇÕES EXIGIDAS DOS PRESBÍTEROS/BISPOS E DOS DIÁCONOS

= Hficação Ofício Referências nas Escrituras

p h c ;o n tro le

3 C í: ‘.alidade

f i f c : ã o a o ensino

■ S c .lolento, mas moderado

não seja contencioso

fc k e não seja um amante do dinheiro

f f tu - não seja recém-convertido

~i-~3 uma boa reputação com os estranhos

: zominador

i não seja de temperamento forte, iracundo

) do bem

o. santo

teso p lína do

fc^:-eensível (inculpável)

• s rd o de uma esposa

•ÜE-clo, sóbrio

,tespeitável

: dado à embriaguez

; administre bem a sua própria familia

; tenha os filhos em sujeição

; não procure ganhos desonestos

; sustente as verdades profundas

:sro

• ado

Presbítero 1 Tm 3.2; Tt 1.8

Presbítero 1 Tm 3.2; Tt 1.8

Presbítero 1Tm 3.2; 5.17; Tt 1.9

Presbítero 1 Tm 3.3; Tt 1.7

Presbítero 1 Tm 3.3

Presbítero 1 Tm 3.3

Presbítero 1 Tm 3.6

Presbítero 1 Tm 3.7

Presbítero Tt 1.7

Presbítero Tt 1.7

Presbítero Tt 1.8

Presbítero Tt 1.8

Presbítero Tt 1.8

Presbítero/Diácono 1Tm 3.2,9; Tt 1.6

Presbítero/Diácono 1Tm 3.2,12; Tt 1.6

Presbítero/Diácono 1Tm 3.2,8; Tt 1.7

Presbítero/Diácono 1 Tm 3.2,8

Presbítero/Diácono 1Tm 3.3,8; T t 1.7

Presbítero/Diácono 1Tm 3.4,12

Presbítero/Diácono 1Tm 3.4,5,12; Tt 1.6

Presbítero/Diácono 1 Tm 3.8; Tt 1.7

Presbítero/Diácono 1 Tm 3.9; Tt 1.9

Diácono 1 Tm 3.8

Diácono 1 Tm 3.10

2.4.2. Qualificações Específicas para Diaconisas (3.11)* O verso 11 é tra­ído na NVI como qualificações para rsposas dos diáconos. Contudo tal

Dretação obscurece as outras tradu- ; legítimas do texto grego, em que se teralmente, “Da mesma sorte as mu- ~s sejam honestas, não maldizentes,

~'as e fiéis em tudo [ênfase acrescen- Quem são estas mulheres?

Existem três opções. Uma vez que a ^vra grega usada aqui (gynaikas, plu- de gyné) pode ser traduzida como

leres” ou “esposas”, o texto pode ser -ndido como uma lista de qualifica- (a) para todas as mulheres cristãs em

I; (b) para as esposas de diáconos; ou para as diaconisas. Julgando pelo itexto, a opção (a) parece improvável.

Dado que este verso está localizado no meio de uma seção relacionada a diáconos, estas “mulheres” devem estar ligadas ao ofício do diaconato.

A opção (b) é a interpretação tradicio­nal, baseada na suposição de que não é permitido às mulheres servir nos ofícios ministeriais da igreja. Tal suposição per­maneceu intocável até o primeiro movi­mento fundamentalista/evangélico4e o nascimento do pentecostalismo;5 ambos receberam as mulheres no ministério. Mais recentemente, as descobertas contempo­râneas relativas à igreja primitiva forne­ceram o apoio histórico ao ministério das mulheres, que estes movimentos mais modernos sustentam na prática. Temos agora a evidência literária de que as mulheres serviram como diaconisas15 e evidências

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I TIMÓTEO 3

escritas que documentam por nome e tí­tulo o ministério de mulheres nos vários ofícios da Igreja Primitiva, inclusive no diaconato.7

Levando-se em conta a evidência das diaconisas na igreja primitiva, o consen­so erudito está se tomando favorável a uma tradução que expõe a ambigüidade do grego e a possibilidade das três interpretações (veja a NRSV).

A opção (c) está se tornando cada vez mais freqüente nas notas de rodapé da Bíblia (cf. NRSV) ou até mesmo no texto (REB) e nos comentários.

Deste modo, tanto histórica como te­ologicamente, a opção (c), “diaconisas”, é uma tradução legítima. Gramaticalmente falando, a opção (b), “esposas de diáconos”, não é uma boa tradução. Já quegynaikas pode significar “mulheres” ou “esposas”, uma das formas que os escritores origi­nais usaram para esclarecer os leitores sobre o uso do termo era colocando um substantivo possessivo, um pronome ou um artigo (que pode funcionar como um pronome possessivo) na frente do subs­tantivo. Por exem plo, “mulheres dos diáconos”, “suas mulheres”, ou “as mu­lheres [dos diáconos]” seria traduzido como “suas esposas”. O substantivo gynaikas, porém, não tem nenhum artigo ou mo- dificador no versículo 11; deste modo,o verso não está se referindo às esposas dos diáconos, mas às diaconisas.

Existem vários pontos adicionais a favor de se considerar este verso como a descri­ção das qualificações para as diaconisas:1) Apalavra grega hosautos (“da mesma sorte,

igualmente” (cf. v. 8) “indica um novo parágrafo em uma seqüência de regras para um grupo diferente de oficiais” (Barrett, 1963, 6l), isto é, diaconisas;

2) As virtudes exigidas destas eram as mes­mas que se esperava dos ministros, não das esposas;

3) Já que o Novo Testamento não tinha ne­nhuma palavra especial para as diaco­nisas, o apóstolo provavelmente preci­sou escrever “semelhantemente as mu­lheres [diáconos]”, onde “mulheres” fun­ciona como um adjetivo, deste modo, “diaconisas” (ibid.);

4) Nenhum requisito especial ém para as esposas dos bispos, que uma posição até mais influente diáconos (Guthrie, 1990, 85). razões, a tradução ‘diaconisas’ (ou' mulheres”) provavelmente seja s (Kelly, 1963, 83).A NVI oferece uma nota de r

gerindo a tradução “diaconisas”. Para da Bíblia em inglês, tal tradução é namento léxico da opção (c), “ ' mulheres”, porémalgunsjulgam-naii pois o termo diaconisa é anacrô~ tendem que tal ofício foi um d mento posterior (que limitou o feminino ao diaconato). Estaordemi durante um período menos ca~" mais institucionalizado da história ja, e foi especificamente projetado pai os papéis que as mulheres vinham penhando no ministério.

Parece claro, então, que as de 1 Timóteo 3-11 são entendidasi nalmente como “diáconos mulhe quanto estas qualificações refere pecificamente a elas, são semef qualificações gerais para todos os d--' Não existe nenhuma indicação nc de que a responsabilidade e as des das diaconisas difiram daquer os diáconos possuíam;7) Devem ser “honestas” ou “respeitáv

v. 8, qualificação [1]);8) Não devem ser “maldizentes” ou

osas no falar (cf. v. 8, qualificação palavra em grego (diabolos; sigr. teralmente, “acusar, caluniar, difa a mesma palavra traduzida no Novo tamento como “Diabo” (o notório dor; cf. Zc3.1,2; este éo significado h: da palavra hassatan, “Satanás”). E suas funções pastorais possam oí freqüentes oportunidades a tal te as diaconisas não devem usar sua para caluniar os membros da con ção onde servem;

9) A sobriedade ou temperança também requisito reiterado parà as diaconi~ v. 2, qualificação [3] dos bispos; v. 8. lificação [3] dos diáconos); e

10) Finalmente, as diaconisas devem ser éis em tudo” (cf. v. 8, qualificação

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I TIMÓTEO 3

2.4.3. Qualificações Específicas para » Diáconos (3 .12). Fee sugere que após

tizar as qualificações específicas para :: ~ conisas, Paulo acrescenta duas qualifi-

:s específicas para os diáconos quase uma reflexão tardia (Fee, 1988,89).

'm como os bispos, os diáconos também ~eriam ser “maridos de uma mulher”. v. 2) e um bom administrador de sua ^pria família (cf. v. 4). Devido à estru-

social do século I, estas duas quali- = ões são dirigidas aos homens, não

diaconisas.2.4.4. Elogios aos Diáconos que Ser-

fielmente(3.13). Os diáconos, tantoens como mulheres, que servem ou stram bem, adquirem com eficácia para

mesmos uma dupla recompensa. A ex- ;ão “adquirirão para si uma boa posi-

f (bathmos) pode se referir à sua influ- "ie reputação na igreja e diante de Deus. palavra significa literalmente um “passo”

■grau”, semelhante a nosso uso moderno ~es termos relacionados a nível profis-

1 ou escala de ganhos financeiros. Foi xido que o termo bathmos possa es­

se referindo a uma promoção eclesiás- do ofício de diácono para o de bispo

presbítero (Barrett, 1963, 63). Parece Paulo está usando esta palavra como referência aos diáconos na comuni- cristã (e não diante de Deus), por-

a segunda faceta de sua recompensa relacionada à sua confiança na fé.

Apalavra grega para “confiança” se refere ~ isadia ou franqueza em relação a outros Co 3.12; Fp 1.20; Fm 8), ou a Deus (Ef 2: Hb 10.19,35). Provavelmente o sig-

-ido aqui seja a confiança em Deus, vez que Paulo especifica que a con- " está “na fé que há em Cristojesus”.

;e modo, a recompensa dupla é uma reputação perante as pessoas e a con-

em Deus.

fctes dois elogios, é claro, são justamente o que falta nos falsos mestres. Seu “en- iãno errôneo” (cf. 1.19), que inclui um

mportamento impróprio e uma repu- ção imunda, levou-os também a aban- 'nar a genuína fé em Cristo (1.5) (Fee,

■PL988, 90).

3. O Estabelecimento de Diretrizes a Timóteo: O Aconselhamento Específico para Estabelecer o Jovem Timóteo na Liderança (3 .1 4 — 6 .1 0 )3.1. D efendendo a F é (3-14— 4.5)

3 .1 .1 . A Conduta C orreta na Igre­ja (3 .1 4 -1 6 ). A carta passa agora da pri­meira para a segunda seção principal. No ponto de transição, o apóstolo rei­tera sua declaração quanto ao propósi­to. Iniciou a carta com uma ordem a Timóteo para que ficasse em Éfeso com a finalidade de fazer oposição aos fal­sos mestres (1.3), então deu-lhe conselhos específicos relativos ao estabelecimento da igreja (2.1— 3.13). Agora repete seu propósito, marcando-o com um hino cristão da época.

Paulo antecipa um encontro com Ti­móteo em um futuro próximo, porém caso haja algum atraso, lhe dá de ante­mão conselhos específicos para sua li­derança na igreja. Timóteo tem a mes­ma responsabilidade dos bispos e dos diáconos, que devem governar bem sua própria casa e a de Deus (cf. 3-4,12). É aconselhável que a congregação saiba como se comportar, pois a igreja é o povo de Deus, “a coluna e firmeza da verda­de”. A confiança sagrada da igreja é verdadeira; se a verdade for comprome­tida, a própria igreja estará em risco. Os falsos mestres, por exemplo, já abando­naram a verdade (cf. 6.5; 2T m 2.18; 3-8;4.4). É crucial que Timóteo não somente silencie os falsos mestres (1 Tm 1.3-11), mas também coloque a igreja novamente sobre seu correto alicerce.

Paulo mescla suas metáforas da igre­ja como família (cf. “Casa de Deus”) com a igreja como templo (cf. “cqluna e fir­meza”). O grego tem duas palavras para “templo”. Hieron é todo o complexo do templo, o lugar onde as pessoas se con­gregam para a adoração; naos é o san­tuário interior (por exemplo, o Lugar Santíssimo), o lugar onde Deus habita. Os templos gregos pagãos eram freqüen­temente pequenos santuários, compos­tos por uma fundação e algumas colu­

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nas para alojar um ídolo. A imagem que Paulo mostra da igreja como naos de Deus não consiste em que Ele se una conosco, a congregação, no lugar onde nos reu­nimos para a adoração; mas que a Igreja (o corpo de crentes) é o próprio santu­ário no qual Deus tem prazer em habi­tar (cf. 1 Co 3.16,17; 2 Co 6.16; Ef 2.21).

Com estas duas imagens, da família e do templo, Paulo expressa os dois pontos mais urgentes desta carta: sua preocu­pação com o comportamento apropri­ado em meio aos crentes e face a face com os falsos mestres, e a igreja como o povo a quem foi confiado o trabalho de sustentar e proclamar a verdade do Evangelho (Fee, 1988, 92).

A menção da “verdade” no verso 15 estimula o apóstolo a uma exclamação: “E, sem dúvida alguma, grande é o mis­tério da piedade”. “A expressão traduzida como ‘sem dúvida alguma’ (do grego, homologoumenos) significa ‘por consen­timento mútuo’, e expressa a convicção unânime dos cristãos” (Kelly, 1963, 88). O que se segue é uma recitação do “mis­tério” (isto é, da verdade revelada) da “pi­edade” (o conteúdo ou base do cristia­nismo, isto é, nossa fé). “Uma das carac­terísticas mais interessantes das Pastorais é a citação freqüente de resumos da ado­ração contemporânea. Esta nos dá uma noção muito mais rica de como era a ado­ração neste primeiro período que nós, de outra forma, não teríamos conheci­do” (Hanson, 1982, 45).

Todos os estudiosos concordam queo que se segue foi um dos primeiros hi­nos cristãos, porém a análise da estru­tura poética das seis linhas, o significa­do das várias linhas e o do hino como um todo causaram um considerável de­bate. No idioma original, cada linha tem dois membros: um verbo (no aoristo [tem­po passado] passivo) seguido por uma frase prepositiva. O assunto de cada verbo é Cristo (compreendido). As versões in­glesas modernas refletem possibilida­des de estrutura poética. A JB vê cada linha como uma estrofe separada. A GNB

e a RSV identificam duas e linhas cada (de vários padri apresenta o hino com três duas linhas cada. Uma pari sa moderna do hino por Lock expressa uma interpretaçi nuances poéticas:

Em carne desvelada à visão Mantido justo pelo poder do Enquanto anjos contemplavam Seus arautos percorriam rapi'

terra, costa a costa,E os homens criam, por todo

mundo,Quando Ele, em glória pros­

as alturas.

Como Fee (1988, 92-95) ex vista de tantas dificuldades e d: as interpretações são oferecidas reservas”. Aqui está um resu interpretação. A importância 1, 4 e 5 parece ser mais clarair pressa como um hino do Evan é, uma canção que mostra a t salvação por intermédio de J se caso, podemos ter um hino estrofes, com três versos cada. humilhação e a exaltação de C~ meira estrofe expressa a história nistério terreno de Cristo, que t clímax em triunfo; a segunda, e mensagem de Cristo como pro: pela Igreja, finalizando com glc_

O primeiro verso é caracterí": hinos do Novo Testamento. A frase que se manifestou em carne” é salmente reconhecida como uma da encarnação (cf. Jo 1.14; Rm 12.7,8), com implicações de preexis (cf. Jo 1.1; Fp 2.6).

A sentença “[Ele] foi justifica espírito” pode estar se referindo ã surreição de Cristo. Uma vez que no - a palavra “espírito” (pneum a) nâc nenhum artigo, não está claro se nhase refere ao Espírito Santo ou ao pi * espírito de Cristo durante sua encarr r. A frase poderia significar que o Es™" Santo provou que Cristo era verda; por meio dos milagres e da ressurr'

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I TIMÓTEO 3Nos tem pos bíblicos, os livros eram escritos em rolos de papel. O início deste rolo, que é uma reprodução, é mostrado abaixo. O idioma hebraico é lido da direita para a esquerda. Em2 Timóteo 4.13 Paulo pede que Timóteo traga seus “livros, especialmente os pergam inhos” .

j dependências da com unidade de Qumran, nas - dades do mar Morto, foram identificadas com o o

num, onde os escribas registravam as informações nos Os Rolos do mar Morto, que incluíram uma cópia do livro

;;:as que era mais antiga do que qualquer cópia nente conhecida, foram encontrados em jarros de

nica em uma caverna nestas proxim idades em 1947.

. que o caráter de Cristo foi justificado r_: modo como Ele governou seu pró-

espírito.A frase “[Ele foi] visto dos anjos” pode

r se referindo à adoração, no céu, ao lo que para lá retornou. Em grego, elos significa tanto anjo como men- ro. Este verso pode significar quei terrena de Cristo foi testemunha-

s por seres celestiais (como vemos ao> dos evangelhos), ou que a vida de ) foi testemunhada pelos mensageiros é, as testemunhas) do Evangelho. ) Fee (1988,94) explica, se o segundo ) se refere à ressurreição e a tercei-

kascensão de Cristo, “então os três pri- as versos cantam a encarnação, a res- eição e a glorificação de Cristo, for- do uma estrofe sobre o próprio Cristo,

1 é visto d e glória em glória”’.> versos 4 e 5 (Ele foi “pregado aos

atios” e “crido no mundo”) são ge- aente reconhecidas como se referindo primgiro período da história apos-

i, quando as Boas Novas foram divul- is por todo o mundo conhecido na

. O verso 6 (“[Ele foi] recebido acima,

na glória”) é o clímax glorioso. Assim como o triunfo de Cristo em sua condi­ção mortal alcançou seu ponto mais elevado na glória eterna, em seu esta­do divino, também Timóteo, se triun­far em sua tarefa, terá uma recompen­sa gloriosa no céu.

3.1 .2 . A Evidência do Falso Ensino (4 .1 -5 ).

3.1.2.1. A Apostasia do Fim dos Tem­pos É Antecipada (4 .1 ,2 ). A maior parte do restante de 1 Timóteo é dedicada ao aconselhamento sobre a conduta que o jovem cooperador deveria ter em seu mi­nistério. O conselho do apóstolo é vol­tado contra as bases do falso ensino e as práticas errôneas dos hereges em Éfeso. Paulo desenvolve o tema baseando-se nas ordens expressas no capítulo 1, exami­nando primeiramente os erros dos fal­sos mestres (4.1-5; cf. 1.3-11,19,20), ins­truindo então Timóteo acerca de seu papel em Éfeso (4.6-16; cf. 1.18,19).

Em primeiro lugar, diz que o surgimento destes falsos mestres não deveria trazer qualquer surpresa — o Espírito os pre-

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veniu claramente sobre estes; em se­gundo lugar, indica que a verdadei­ra fonte do ensino destes hereges é demoníaca; e em terceiro, especifi­ca particularmente seus erros expli­cando as razões pelas quais estão errados (Fee, 1988, 97).

Este parágrafo é unido ao hino que o precede por meio da conjunção adver- sativa moderada de, em grego (“mas”, em português). Embora a NVI não a tra­duza, a idéia transmitida é: “Mas o Es­pírito expressamente diz que, nos últi­mos tempos, apostatarão alguns da fé [isto é, da verdade]”. O Espírito Santo, por meio do dom da profecia, indicou o aparecimento de tal apostasia antes que esta acontecesse. Paulo vê os “últi­mos tempos” como a situação presente em Éfeso. A Igreja reconheceu a vinda do Espírito Santo como o início do fi­nal dos tempos (At 2.16,17).

O próprio Paulo creu, e fez parte de uma tradição que acreditava que o final dos tempos seria acompanha­do por um período de intensa mal­dade (cf. 2 Ts 2.3-12), inclusive pela “apostasia” de alguns dentre o povo de Deus (veja 2 Tm 3.1; cf. Mt 24.12;Jd 17,18; 2 Pe 3.3-7). Deste modo, a cena presente era, para Paulo, a clara evidência de estar vivendo no final dos tempos (Fee, 1988, 98).

Paulo rotula tal erro como demonía­co, e a atividade de seus oponentes como inspiradas por Satanás (Dibelius e Con- zelmann, 1972, 64).

A frase “... dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demôni­os, pela hipocrisia de homens que fa­lam mentiras” (v. 2) mostra que tais ensinos vêm de pessoas que são exteriormente falsas (cuja abstinência [v. 3] é um en- gano)e que estão declarando fatos que não são verdadeiros. Têm “cauterizada a sua própria consciência”. O verbo nesta oração pode indicar que esta cauterização destruiu a capacidade de discernirem a verdade da falsidade, ou ainda que haviam

sido marcados como alguém tence ao próprio Satanás.

3 .1 .2 .2 . O A sceticism o Condenado (4 .3 -5 ). Dois des^s ensinos estão agora listados: a pn do casamento e a abstinência dc alimentos. Ainda que . stas pr possam estar relacionadas à idéi os falsos mestres queriam “ser ã: da lei” (1.7), como será que se rel^ãj com a alegação de que os falsos < eram “fábulas ou genealogias in td veis” (1.4), além de pensar que z : reição já havia acontecido? (2 Tm]

Estas pessoas podem ter sido - d que insistiram que a nova era ;í h> sido introduzida por Cristo e que \ lharam em distinguir o tempo da 1 solação presente iniciado pela redj reição de Jesus e da consumação 1 9 inaugurada pela ressurreição [fcí^fl (Rienecker, 1980, 625).

Em Corinto, este tipo de visão 5«tJ os últimos tempos estava aparenteireai ligado ao dualismo helenístico. ■ acreditava que a matéria era com âl ou má, e que somente o espírito d bom. Da mesma maneira que a !ra l coríntios negavam uma futura ressi* reição corporal (1 Co 15.12,35'. ú m menos alguns tiveram uma visão a nuada sobre o sexo (7.1-7) e sobes* casamento (7.25-38), é completameai provável que algo semelhante estive* sendo imposto como uma “Lei” em Ére< Conseqüentemente, alguns estavamo^ gando que o caminho para a purea era demarcado pela abstinência do cs samento (ser como os anjos após a n surreição [provavelmente se baseai sem em Mateus 22.30]) e de “certc > sà mentos” (Fee, 1988, 99).

Estas tendências são características gnosticismo.

Paulo não dá uma longa resposta bre a questão do casamento, mas de» seus tabus a respeito dos alimentc-í I bora aborde tipicamente a questão de oa ou não certos alimentos com alguma 22

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ia — cada um é livre para fazê-lo ordo com o próprio entendimento

14.1-23; 1 Co 10.23-33; Cl 2.16,21). combate aqueles que passam do

veria ser um mero ‘julgamento’ para :gência de abstinência por razões re-

ou teológicas, como em Colossenses , 1988, 100).

razão de Paulo recusar a abstinên- certos alimentos é dupla: “tudo que criou é bom, e recebido com ações ças; nada é recusável, porque pela

ra de Deus e pela oração é santifi- ". O primeiro argumento ataca dire- te a noção de dualismo, dizendo que

que Deus criou é bom (Gn 1) e não ria ser rejeitado (por motivos de eza de caráter ritual [Rm 14.14]). O do argumento é a evidência de que

Leiros cristãos (como os judeus) m ação de graças por seus alimentos;

:ções santificavam a comida tomando- priada para ser consumida.

3-M A prendendo a Liderar (4 .6 -1 6 )

~>.l. Princípios de Liderança (4.6-' -ste ponto, Paulo se dirige pessoal-

aTimóteo. O tom desta seção é quase letamente construtivo — não existe ima denúncia ou refútação aqui. Antes, :olo encoraja seu jovem amigo a superar um líder uma situação difícil, resis- ao erro e vivendo como um mode-

u conselho para Timóteo cabe a qualquer •o do Evangelho chamado para servir tiações semelhantes.

Timóteo deveria propor “estas coisas ãos”. O verbo “propor” não denota

ma sugestão de autoritarismo. A idéia 'e, não tem um caráter de “ordenar” e “instruir”, mas de “sugerir”. A pa-

gr(<g,a traduzida como “irmãos” (ou dade” em traduções mais antigas)

ém o sentido inclusivo de “irmãos e . A igreja é uma família na qual so- Jos irmãos. A meta é que Timóteo

um “bom ministro de Jesus Cristo”, ‘vra para “ministro” aqui é novamente nos (veja comentários sobre 3.8).

Timóteo deve ser um servo para os seus irmãos, não um senhor sobre seus lide­rados. Sua vida como ministro deve evi­denciar sua educação, pois foi “criado com as palavras da fé e da boa doutrina” que estava seguindo. Deve nutrir-se e sustentar- se no Evangelho, vivendo na sã doutri­na. “A metáfora da alimentação com a idéia da leitura e digestão interior e o particí- pio presente sugerem um processo con­tínuo” (Rienecker, 1980, 626).

Em um nítido contraste com as “pala­vras [verdades] da fé” e da “boa doutri­na” estão as “fábulas profanas e de velhas” (v. 7; cf. 1.4). Estas fábulas devem ser for­temente recusadas e rejeitadas; convêm apenas a mulheres idosas e supersticio­sas. Estas três últimas palavras em inglês e em português traduzem uma palavra em grego, um epíteto sarcástico usado pelos filósofos implicando absoluta ingenuidade. As mulheres em Éfeso não só criam nes­tes mitos, mas também os ensinavam. Deste modo, Timóteo foi obrigado a silenciar tais mestres e corrigir seus erros (veja co­mentários sobre 2.11-15).

Nos versos 7b e 8, Paulo exorta Timó­teo dizendo vigorosamente: “exercita-te a ti mesmo em piedade”.

Acomparação entre a vida cristã e o exercício atlético ou o esporte é, sem dúvida, um dos meios favoritos de Paulo transmitir sua mensagem (veja especialmente 1 Co 9.24-27). Há uma forma de autodisciplina genuinamente cristã que Timóteo deve­ria praticar. Consiste geralmente no auto­controle, na devoção contínua à tradição do Evangelho, e talvez, acima de tudo (como 4.10 sugere), em aceitar alegremente a cruz do sofrimento que todos os cristãos de­vem esperar (Kelly, 1963, 99).

Como Paulo reflete em tal treinamen­to, cita o que soa como um provérbio comum: “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa”.

Paulo reconhece que o “exercício cor­poral” (gymnasia) “para pouco aproveita”; este tem um certo valor, porém- está

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estritamente limitado a esta era. No en­tanto, expressa-se deste modo somen­te para introduzir sua verdadeira preo­cupação. Eusebeia (piedade) é onde se encontra o verdadeiro valor. Realmen­te, “a piedade para tudo é proveitosa” (ou melhor, “é proveitosa em todos os aspectos”), porque tem “a promessa da vida presente e da que há de vir”. Aqui está uma clara referência à compreen­são que Paulo tem da existência cristã como basicamente escatológica. A “vida”, que significa a “vida eterna” (veja 1.16), já começou. A “vida” do futuro é, por­tanto, uma “realidade presente e uma esperança da vida futura” (Fee, 1988,104).

A frase no versículo 9: “Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação” aparece pela terceira vez, dentre as cinco vezes que é utilizada nas Cartas Pastorais (veja os comentários sobre 1.15). É debatido se esta declaração se refere ao verso 10a ou 10b, ou ainda ao verso 8, ou talvez somente ao 8b. Uma vez que a frase “a piedade para tudo é proveitosa” tem o teor de uma declaração, sendo, de fato, o que o apóstolo continua a elaborar aqui, o elemento do verso 8 parece ser o que ele está endossando como a “palavra fiel”.

3.2 .2 . Modelos de Liderança (4 .10-12). O comentário parentético no versículo 10 (“porque para isto trabalhamos e luta­mos”) se refere ao versículo 8b, a meta do “treinamento” cristão — a piedade e suas recompensas. Paulo continua a metá­fora aüética iniciada no verso 7 com o verbo “exercitar” e usa outro verbo (“trabalhar”) associado ao ministério de ensino dos presbíteros (kopiao , traduzido como “tra­balho” em 5.17). A razão pela qual Paulo e Timóteo fazem parte deste contexto é “porque” (uma tradução melhor do que “aquela”) colocaram sua esperança “no Deus vivo”, que nos oferece ajuda tanto nesta vida como na que há de vir. Ele é a esperança viva, pois “é o Salvador [veja comentários sobre 2.4-6] de todos os homens, principalmente dos fiéis”. O apóstolo está ciente de que a Igreja representa somen­te uma parte da humanidade, embora a salvação esteja disponível a todos.

No versículo 11, Paulo reitera ções repetidas ao longo das Pastor Timóteo deve ordenar e ensinar i v - 6.2b; 2 Tm 2.2,14; Tt 2.15). Ele primeiro verbo em 1.3,5,18; que também ser traduzido como “orc “instrução”. Aquilo que Timót “ensinar” pode se referir a 4.8-10. c _J aos textos que se encontram a 2.1 em diante (cf. 4.6).

O apóstolo então continua a jar o jovem pastor: “Ninguém des tua mocidade”. Esta exortação por um motivo oculto pelo qual Pa escrevendo esta carta. Esta declara— ser vista de dois modos. Tem co— tivo encorajar um obreiro mais confiar no Senhor (que deveria :er vavelmente entre trinta e quarenu. de idade), pois era provavelmer^c homem tímido. Mas também dev: entendida pela congregação coma endosso apostólico. Fee (1988, lfl| clara de modo sucinto: “Não devem lo com desprezo por ser jovem. — vem imitá-lo tendo-o na mais alta deração... como um exemplo pqd crentes”. O papel dos líderes cristãos modelos é penetrante ao longo r: critos de Paulo (1 Co 4.6; 11.1; Fp 3 Ts 1.6; 2 Ts 3.7,9; cf. 2 Tm 1.13).

Paulo menciona as áreas em qatt móteo deve ser exemplar:1) “na palavra”, se refere à conversa

ria; Timóteo não deveria ser cont (cf. 3.8; 4.5,6);

2) “no trato” ou no estilo de vida. r ao comportamento ou conduta, veriam ser marcados por decoro e

3) “na caridade” ou no amor;4) “na fé” (ou na fidelidade); e5) “na pureza”, ou seja, na inocência,

tidade e na integridade — fala dr qualidades interiores que influen comportamento exterior.3.2.3. ANaturezaPráticadali

(4 .13-16). Da vida pessoal de Ti Paulo se volta para o seu ministér>oi blico. Na ausência do apóstolo, seu assistente deverá se dedicar continur à leitura pública das Escrituras, a e e a ensinar (v. 13). A primeira tareri

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prelmente se refira a selecionar e pre- ■urir as passagens do Antigo Testamento

serem lidas; a segunda, à exposi- : e aplicação das Escrituras; e a ter­ia, ao ensino da doutrina cristã. Estas » as partes da adoração pública que

'teo deve liderar. A partir de outras sagens, sabemos que estas não eram

-nicas partes do culto de adoração do _o Testamento. Também estavam in- dos: a oração (2.1-7; cf. 1 Co 11.2-6),

-:uvor (1 Co 14.26; Cl 3-16; cf. 1 Tm . as expressões carismáticas (1 Co

2-16; 12-14; 1 Ts 5.19-22) e a Ceia do '~or (1 Co 11.17-34).

A próxima instrução que Paulo dá é: desprezes o dom [cbarism a] que há " (v. 14; literalmente, “não negligencie

-:m que há em seu interior”); fala de dom da graça ou dom espiritual que cita Timóteo a desempenhar seu tério na comunidade cristã. “O de- desempenho destas tarefas não de- e da habilidade nata de Timóteo, mas

um dom divino ou espiritual que re- ” (Barrett, 1963,70). O Espírito Santo

equipou Timóteo para seu ministério pregador/ensinador/pastor em Éfeso;

ieve aprender a confiar e a contar com ronte e não com seus próprios esfor- não deve deixar de usar este novo É uma grande tentação procurar fazer alho do Espírito por meio de força na. Esta advertência serve para to-

nós. Da mesma maneira que Paulo pelos colossenses (Cl 1.9-11), também cmos estar cheios do conhecimento ~:>ntade de Deus e do poder do seu Irito para fazermos a sua vontade.D dom espiritual de Timóteo lhe foi dado .'és de uma “profecia” e acompanha- ?ela (o termo grego meta é melhor

-ido como “com" ou “por” do que “quando”) imposição das mãos dos iteros. A NVI deixa uma impressão ' nica disto quando Timóteo foi orde- (um ritual ainda não padronizado); írito Santo respondeu à imposição

mãos, dando-lhe, naquele momen- : dom espiritual que precisaria para

ipenhar a posição à qual estava sendo ínado. A analogia mais provável para

esta referência pode ser vista em Atos 13.1- 3, onde o Espírito fala (v. 2), aparentemente por intermédio dos profetas (v. 1), em resposta à imposição das mãos dos pro­fetas e mestres, que o faziam como algu­ma forma de consagração. Em todo caso, a evidência contida ali e em outras pas­sagens (2 Tm 1.6,7) indica que o Espírito é o elemento crucial; a imposição das mãos, entretanto, não é insignificante; é a res­posta humana à atividade anterior do Espírito (Fee, 1988, 108).

Como uma declaração resumida (w . 15,16), Paulo começa exortando Timóteo a ser diligente nestes assuntos, entregando- se inteiramente a estes. O primeiro ver­bo, que algumas traduções trazem como “ser diligente”, é freqüentemente um termo agrícola para “cultivar”; por meio do se­gundo verbo, Paulo novamente levanta a metáfora atlética dos versos 7-10 (Fee, 1988,109). O objetivo de tal prática e devoção era que todos vissem o seu progresso ou aproveitamento. Fee sugere, baseado na evidência de 2 Timóteo 2.16 e 3-9, que o termo “progresso” pode ter sido um slogan dos falsos mestres, um apelo elitista (através de sua especulação tola) ao “avanço” às “verdades mais profundas”. “Sendo assim, esta declaração teria sido uma audaciosa oposição ao tipo de ‘progresso’ a que os falsos mestres se referiam... Através da fidelidade de Timóteo, por ser um fiel ministro da palavra do Evangelho, o povo poderá enxergar a realidade” (ibid.).

O versículo 16 traz mais três advertências como explicação dos assuntos mencio­nados no versículo 15. Com a frase “tem cuidado de ti mesmo”, Paulo novamen­te enfatiza o papel crucial de Timóteo como um modelo. Pela frase “tem cuidado... da doutrina”, o apóstolo enfatiza a fun­ção que Timóteo precisa exercer como mestre. Dizendo “persevera nestas coi­sas”, acrescenta pela última vez sua ên­fase apostólica de que este é o modo como o jovem pastor salvará tanto a si mesmo como aos que lhe ouvem. Barrett (1963, 73) explica o seguinte:

O autor não quis dizer que o próprioministério, mesmo envolvendo muita

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dedicação, fosse o verdadeiro agente da salvação. Só Deus salva; contudo, sua salvação só pode entrar em vigor atra­vés da fiel pregação e ensino, e esta é uma verdade que nenhum ministro ousa esquecer.

3-3- O R elacionam ento com as outras Pessoas na Igreja (5.1-16)

3.3 .1 . Como Tratar os m ais Velhos e os Jovens (5 .1 ,2 ). Como uma transi­ção do conselho do apóstolo a respeito do relacionamento de Timóteo com ca­tegorias específicas de pessoas na con­gregação, Paulo lida primeiramente com as questões relacionadas à juventude de Timóteo. Em 4.12 o apóstolo exortou: “Ninguém despreze a tua mocidade”. Agora diz (v. 1), “não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais”. Podemos parafrasear, “nunca sejas seve­ro com os mais velhos”. Paulo não só trans­mite confiança ao jovem pastor, como também exige cortesia para com o reba­nho. “Na administração da casa de Deus (note o tema ‘família’ em cada caso) existe um modo apropriado para o líder tratar as pessoas — exatamente como faria com a sua própria família (supondo uma idéia cultural de grande deferência e respeito no lar)” (Fee, 1988, 92-112).

Semelhantemente, Paulo aconselha: “trate os jovens como irmãos; as mulhe­res idosas como mães, as moças como irmãs.” Parece que o relacionamento com as mais jovens era uma área de especial preocupação na congregação em Éfeso (cf. 5 .1 1; 2 Tm 3-6,7), porque o apóstolo especifica que é exigida “toda [absolu­ta] pureza” em relação a estas mulheres.

3.3.2. Como Tratar as Viúvas (5.3-16).3 .3 .2 .1 . H o n rar as Viúvas que Se­

jam verdadeiram ente Viúvas (5 .3 ). As duas próximas seções principais (sobre viúvas e presbíteros) têm como enfoque alguns dos principais problemas que Tim óteo deve enfrentar na igreja. A aparente preocupação com as viúvas refere-se ao relacionamento das viúvas mais jovens com os falsos mestres. Pre­

sumivelmente estas viúvas identificadas como “mulheres carregadas de pecados, leva ’ rias concupiscências” (2 Tm 3.ó.~f se observar a considerável ' tamanho irregular desta passagem comparada a outras questões nesta carta. Portanto, o apóst ta que somente a verdadeira v ü ter a honra de ser registrada na ' de viúvas da igreja (cf. vv. 9 .l i bendo deste modo não só o rec mento de seu ministério, mas o sustento financeiro.

Esta é a passagem mais antigz tória cristã relativa a uma classe oc especial de viúvas que serviram 2 e que foram sustentadas por esti demos que nem toda viúva qualificada como tal em um se nico; e que aquelas que o foss direitos especiais e deveres es Neste período da história, o te va” era usado para designar qual que fosse viúva e o ofício das “vf congregação”. Tal versatilidade nc termo demonstra que este ofício a ~ havia sido rigidamente padroni comentários semelhantes no capír relação aos ofícios dos bispos, e presbíteros). No período subaj porém, as viúvas eram uma parte 1 cativa das equipes ministeriais gregações locais. Naquela época, com Kroeger, Evans e Storkey (1995(

As viúvas eram consideradas como que tinham oportunidades especiais o serviço cristão. Participaram ativar" no ministério da igreja primitiva. do especialmente honradas dianie congregação. Uma grande igreja. Hagia Sophia em Constantinopla. ter tido uma equipe de centenas de úvas. Elas visitavam os lares, leva» comida para os famintos, cuidavam doentes, confortavam os que perr seus entes queridos, oravam port aqueles que expressavam os seus didos, ajudavam na instrução e nc tismo cristão, e aconselhavam aqr que estivessem atravessando situaçf

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""reis. Eram tão poderosas na oração, a antiga literatura cristã às vezes chama

viúvas de “altares de Deus”. í

primeira preocupação expressa pelo :olo é que as “verdadeiramente viú- recebam o auxílio que merecem. A "Honra as viúvas que verdadeiramente

ras” (v. 3) significa, literalmente, “Dê ecimento apropriado àquelas viúvas

lmente precisam”. O tipo de hon- concedido às viúvas e aos presbíteros

remuneração financeira expressa no 17 e 0 respeito descrito em 6.1. Deste :. a “honra” ou o reconhecimento a

Paulo exorta não consiste apenas na ~ de seu ministério, mas também no do .de suas necessidades.

Um dos temas constantes tanto no :go como no Novo Testamento é o lado para com as viúvas (Dt 10.18;

' 22.9; 24.3; 31.16; SI 94.6; Is 1.23; 10.2; 12.40; Tg 1.18 [sic; deveria ser 1.27]). s pronuncia uma maldição contra

teles' que retêm a justiça das viúvas27.19), enquanto aqueles que se iortam com elas têm prometida a

rnção de Deus (Jr 7.5-7). ‘A nenhuma -iva... afligireis’, adverte Êxodo 22.22,

_ is Deus é o defensor das viúvas (Dt 17; SI 68.5; 146.9). Malaquias 3-5 de-

que aqueles que defraudam os ope- ’os em seu salário e oprimem as viú- não temem ao Senhor Todo-pode- . Deus ordenou repetidamente que

u povo aliviasse a aflição das viúvas. Existe também uma ênfase a respei- de deixar algo para as viúvas. O dízimo produto de cada três anos era designado viúvas, aos órfãos, aos estrangeiros

aos levitas (Dt 26.12; 27.19).Um indivíduo que deixa uma viú- em necessidades nega a fé e é pior que um infiel (1 Tm 5.4,8). Na Pri- ira Carta a Timóteo foi definido que

viúvas deveriam ser financeiramente impensadas por seus trabalhos na ~eja (5 3-16); e a opinião de Paulo

que um trabalhador é merecedor seu salário (5.18) (Kroeger, Evans

Storkey, 1995, 446-47).

No mundo ocidental moderno, embora algumas viúvas sejam financeiramente desprovidas, outras vivem confortavel­mente seguras por receberem o seguro de vida ou algum benefício mensal, como por exemplo a aposentadoria de seu fa­lecido marido. Como podemos aplicar o intento deste requisito bíblico à nossa situação moderna? Entre as mulheres que enfrentam dificuldades financeiras hoje, as divorciadas são freqüentemente as mais vulneráveis aos maus-tratos e à explo­ração. A Igreja de hoje é também desa­fiada a ajudar financeiramente as mulheres e as famílias que amam ao Senhor, que servem à igreja, e que passaram pelo divórcio, desde que estejam realmente necessitadas.

3 .3 .2 .2 . Q ualificações das Viúvas (5-4-10). A primeira desqualificação para ser considerada viúva da igreja é ter “fi­lhos ou netos” (v. 4). Uma prioridade na “prática” da “religião” destes descendentes é prover o sustento para suas mães e avós viúvas. A responsabilidade de sustentar as viúvas é principalmente dos filhos, não da igreja. Novamente, vemos a ênfase no comportamento cristão em relação à ad­ministração da casa de Deus (tanto da comunidade como da família biológica; cf. 3.4,5,12,15). Tal “reembolso a seus pais e avós” pelo cuidado que receberam “é bom e agradável diante de Deus” (cf. o quinto mandamento, Êx 20.12).

Entretanto, qualificar-se como genuí­na viúva (o advérbio “verdadeiramente” é repetido nos versos 3,5 e 16) exige mais do que a necessidade financeira. Na ver­dade, ela deve estar completamente só e “desamparada”, isto é, sem família para sustentá-la. Mas uma genuína viúva deve também ser fiel e dedicada à oração. Deste modo, uma verdadeira viúva deve apre­sentar três características: solidão, neces­sidade e religiosidade. Ligando estes fa­tos ao que foi dito nos versículos 3 e 4, a verdadeira viúva é aquela que se en­contra “desamparada”, não tendo mari­do nem filhos para sustentá-la. Contu­do, uma viúva genuína não se desespe­ra; antes, “espera em Deus e persevera de noite e de dia em rogos e orações”.

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Observe como estas descrições são se­melhantes às da profetiza Ana em Lucas 2.36-38, que também era uma viúva.

Em contraste com a devoção da ver­dadeira viúva, está aquela “que vive em deleites” (v. 6). Ao invés de ser uma mulher confiante e de oração, a auto-indulgên- cia faz com que a viúva se torne uma mulher que mesmo “vivendo, está morta”. Este tipo de viúva está de acordo com a des­crição das viúvas mais jovens nos versos 11-13. Paulo acrescenta a instrução do versículo 7 para que as “viúvas”, como os bispos (3-2) e os diáconos (3-8), sejam inepreensíveis. “Todos os membros da igreja deveriam ser irrepreensíveis, mas é par­ticularmente importante que isto seja verdadeiro na vida daqueles que ocupam posições de liderança, e que recebem o seu sustento da igreja” (Barrett, 1963,75).

A responsabilidade de sustentar a fa­mília (v. 4) é revista no verso 8 com uma ênfase maior. Qualquer um que descon- sidere esta obrigação de zelar pelas ne­cessidades de sua família é culpado, ten­do negado a fé. Por falhar ao demonstrar amor, aquela pessoa não é “nada” (1 Co 13.2). De acordo com Tiago, a fé de tal pessoa não resultará na salvação (Tg 2.14). Ilustrando que “a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (2.17), descreve o cenário de um crente que conhece a ne­cessidade de um irmão ou irmã e não faz nada tangível a respeito (2.15,16). O apóstolo Paulo descreve tal comportamento como de um “infiel” (1 Tm 5.8; literalmente, “alguém que não crê”). “Na verdade, esta pessoa seria ‘pior do que o infiel’, não porque muitos gentios e judeus cuidavam de seus pais; mas por ter aceito os privilégios do apostolado cristão, recusando-se a cum­prir suas obrigações” (Barrett, 1963, 75).

Nos versículos 9 e 10, Paulo expressa várias qualificações adicionais necessárias para o ingresso das viúvas (cf. w . 4,5). O verbo katalego, utilizado nesta passagem com o sentido de ser colocada na lista, é um ter­mo técnico que “deixa absolutamente cla­ro que existia uma ordem definida de viú­vas” (Kelly, 1963,115). Teituliano (em A d uxorem 1.7)também traduziu otermo ecle- siasticamente como “aceitar como parte do

clero” (Dibelius e Conzelmann, 19- ~ Os requisitos da lista para as verdadei parecem bem desenvolvidos para c do primitivo. É provável que o apóst£: seguido o modelo judaico e talvez apóstolos de Jerusalém (cf. At 6.1).1) Uma verdadeira viúva deveria ter

ta anos de idade. Esta era uma idade av na antigüidade. Considerava Re c\ pessoa atingia uma “idade avançada" cessavam as paixões sexuais e um casamento estava fora de ques~~ requisito da idade reduziria mui:: mero de viúvas no ministério da i poderiam se desviar para um tipo portamento que comprometeria sua ção no ofício ministerial.

2) A exigência da viúva ter sido “m um só marido” (NVI, “fiel a seu 1 corresponde aos pré-requisitos para de liderança como bispos (3.2),(3.12) e presbíteros (Tt 1.6; veja os tários sobre 1 Tm 3-2,12). Esta ex era freqüentemente usada para e l ; ; mulheres que haviam se casado uma vez, mas foi também usada para que haviam sido fiéis a seus cônjua casamento. Embora existamevidên ' que mostrem que as mulheres que sido casadas mais de uma vez desqualificadas para o serviço da i patriarca da igreja chamado Teodorc suestia considerou que esta qualifi" referia à “fidelidade ao seu marido. - * portando se esta teve somente um. foi casada uma segunda vez” (Dí Conzelmann, 1972, 65).

3) Uma viúva deve ter uma boa rep que corresponda às qualificações sárias aos bispos (3-2,7), diáconos e presbíteros (Tt 1.6; veja comentár bre 1 Tm 3.2,7,10). A lista de condiç- o ingresso de uma viúva assemel uma descrição de cargos e funç~ passado. “Os membros da ordem da; vas tinham deveres práticos a cunr comunidade; então o melhor teste que um novo membro poderia mos‘o zelo e a eficiência ao executar refas voluntariamente” (Kelly, 1963.O testemunho das boas obras das v é descrito em alguns itens específicrt

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Ela deve ter criado “filhos" — que ideal cultural e bíblico da mulher, é absurdo supor... que Paulo esteja indo as candidatas que não tiveram ... Um dos maiores problemas en- dos pela igreja primitiva era cuidar fàos (cf. Hermas, Mand. VII. 10; Apost. III, iii. 2; etc.); parece provável que vas oficiais fossem encarregadas de r destes órfãos” (Kelly, 1963, 116); Ela deve ter uma reputação de “hos-

-ade”, da mesma maneira que era lo ao bispo (3-2), e a todos os ou- 'stãos (Rm 12.13). ‘As viúvas tinham

:arefa a realizar ao lado dos bispos epção e cuidado dos evangelistas ntes, pregadores, mensageiros e

os em geral, que viajavam de uma a outra, o que era uma característi- oeminente no cotidiano da igreja -a ” (ibid., 117); (c) Ela deve ter “lavado

fs aos santos”. Não está claro se esta "ação tem um sentido literal ou fi-

. Existe uma falta de conhecimento costümes locais. De qualquer modo,

)ecto de sua reputação indica humil- e serviço; (d) Ela deve ter “socorri-

bs aflitos”. As particularidades deste isitò também são obscuras, mas re- ~ i um espírito generoso e servil; (e) zeve ter “praticado toda boa obra”,

sumo, sua boa reputação deve pre- seu ofício como uma viúva na igreja.

3.2.3. Sobre as Viúvas mais Jovens 1-15). Paulo então cita desqualificaçòes mais para o ofício das viúvas:

Ml :dade é um destes fatores. As viúvas mais ~ens deveriam ser desqualificadas quan- à consideração para o serviço e a remu-

ção das viúvas da igreja. O verbo katas- iao (que na NVI é traduzido com o se-

"te sentido: “os desejos sensuais supe- n sua dedicação”; literalmente, “são con-

Jt^rios...”), que aparece somente aqui no Novo Testamento, esclarece a razão. “Sugere a netáfora de um boi jovem tentando esca-

do jugo. As viúvas mais jovens não de- iam estar comprometidas com os deveres

igreja se lhes surgisse uma nova oportu- de de casamento” (Guthrie, 1990,103).

possibilidade (um novo casamen- raria um julgamento sobre estas jo­

vens viúvas, já que seriam consideradas levianas contra Cristo, violando seu com­promisso anteriormente assumido. Os estudiosos ofereceram três sugestões para a expressão “primeira fé”:a) O compromisso com o primeiro marido

é quebrado pelo segundo casamento de uma viúva, deste modo abandonando o ideal de ser casada uma só vez (cf. v. 9);

b) O novo casamento de uma viúva na igre­ja é equivalente a abandonar a Cristo, ouo mesmo que seguir Satanás (v. 15);

c) O novo casamento é a quebra da garantia de uma viuvez perpétua, de um voto de celibato ao unir-se ao grupo de viúvas. “Está implícito que uma mulher que se apresenta voluntariamente para servir como viúva na igreja, compromete-se com Cristo a não se casar, e sim a se empenhar completa­mente nos trabalhos da igreja” (cf. 1 Co 7.34) (Barrett, 1963,76). “O voto de celibato era considerado como um tipo de casamento com Cristo. Muitos anos mais tarde, a mulher que entrava em uma ordem religiosa era chamada de ‘esposa de Cristo'” (Hanson, 1982, 60).

2) “A segunda razão para não contar as viú­vas mais jovens juntamente com as verda­deiras viúvas, é que em seu estado presente não estão fazendo o que deveriam (ora­ção v. 5 e boas obras vv. 9,10), e sim o que não deveriam fazer” (Fee, 1988,122). Ao invés de se ocuparem com o cuidado do marido e dos filhos em sua própria casa, “aprendem também a andar ociosas de casa em casa” (v. 13). “Alguns imaginam se o problema aqui é simplesmente desperdi­çar seu próprio tempo, e também o dos outros; ou se talvez isso envolva a ruptu­ra de várias comunidades de adoração” (ibid.). Dentre os tipos de serviço exigidos das

viúvas da igreja está o ministério de vi­sitar os lares. O apóstolo teme que as vi­úvas mais jovens sofram grandes tenta­ções ao fazer este trabalho, transformando os momentos de testemunho e aconse­lhamento particular em ocasiões para conversas que não trazem edificação. Ao invés das atividades construtivas que podem ser desempenhadas durante a visitação, o que é esperado das viúvas mais velhas, as mais jovens poderiam se

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envolver em uma ociosidade destrutiva e em conversas vãs. Os pecados da lín­gua mencionados aqui correspondem aos dos falsos mestres (veja 1.6,7; 4.7; 6.3,4; 6.20). Note também a relação desta se­ção com o requisito de que os diáconos não fossem de língua dobre (3-8) e que as diaconisas não fossem caluniadoras (3.11; veja os comentários sobre 3.8,11).

Paulo está desenhando una retrato vi­vido do dano que a tagarelice causa.O apóstolo pensa que as mulheres jovens demais para estar nos trabalhos soci­ais seriam especialmente propensas a este tipo de conversação — ainda que a experiência da igreja tenha mostra­do que nem as mulheres mais velhas nem os oficiais da igreja estão neces­sariamente isentos da mesma tentação (Kelly, 1963,118).

Em lugar da ociosidade e das conver­sações vãs, o apóstolo incentiva as viú­vas mais jovens a praticarem três ativi­dades e espera um resultado positivo (w . 14,15). Devem-se casar, ter filhos e ad­ministrar o lar. Deste modo não darão ao inimigo nenhuma oportunidade para calúnia. De acordo com o pensamento de Paulo (cf. 1 Co 7.25-40), embora um segundo casamento não seja o ideal, éo caminho sensato para as mulheres que estão sozinhas, em pleno vigor da juven­tude, principalmente diante de um his­tórico (em Éfeso) de incontinência. Kelly (1963, 77) sugere que “a esposa e mãe tem um ministério tão honrado e frutí­fero quanto o daqueles que recebem uma pensão por servirem à igreja”.

Fee explica que o conselho do apóstolo para que as viúvas mais jovens se ca­sem novamente não contradiz os ver­sos 11 e 12, que parecem criticar o novo matrimônio e desqualificá-las com base em sua tendência ao novo casamento. “Nos versos 11-13, Paulo estava enume­rando as razões pelas quais não deve­riam ser contadas em meio às verdadeiras viúvas — basicamente por não estarem de acordo com as qualificações expressas nos versos 9 e 10. Agora aconselha as

viúvas jovens quanto ao que já que são rejeitadas como viúvas” (Fee, 1988, 92-123

A declaração enfática de mas se desviaram, indo ap '15) demonstra que os ver são meras preocupações hi apóstolo; antes, trata-se de u crítico presente, que jaecess; ção urgente. O verbo “se d reincidente tanto em relaçã mestres como àqueles a qu fluenciaram.

3 .3 .2 .4 .0 Encorajam ento Individual às Viúvas (5.16). declarado genericamente (in do gênero) no verso 8 (“se algu' cuidado dos seus e principalm sua família, negou a fé e é pi infiel”; cf. v. 4) é agora espe ■' a mulher cristã. “Se alguma cr úvas, socorra-as [a expressão ' mília’, que aparece em algumas não faz parte do texto grego]”.5_ mos por que este mandamento do especificamente às mulher não conhecemos tais fundame Paulo conhecesse mulheres ricas semelhantes a Lídia em Filipos (A: ou Cloe em Corinto (1 Co 1.11). vavelmente já tivessem trazido lheres para cooperar na admini: suas casas. O apóstolo continua jando-as ao cuidado destas pes; que a igreja não fosse sobrecarr atitude deixaria os recursos da i poníveis para o cuidado de ou~

A razão pela qual Paulo provar te não impunha a mesma obri um homem cristão de posição senr deveria ser óbvia. Se tal homem solteiro ou viúvo, seria inadequa assumisse a responsabilidade grupo de viúvas; e, se fosse casa responsabilidade em todos os se pectos práticos seria naturalmente esposa (Kelly, 1963, 121).

3-4. T rabalhando com Líd n a Igreja (5.17-25)

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.4.1. Os Presbíteros Trabalhadores> Dignos d ed u p laH on ra(5 .17 ,18).

.igere que a palavra “presbíteros” no uló 17 provavelmente inclua “todos í dirigem os assuntos da igreja”, isto

• bispos de 3-1-7 (cf. At 20.17,28; Tt e os diáconos de 1 Timóteo 3.8-13- alha da terminologia (veja também

.23; 15-4) reflete indubitavelmente ça judaica da igreja; os presbíterosl parte integrante da estrutura das gas” (Fee, 1988, 128).

primeiro aspecto do ministério dos xeros é administrar ou dirigir “os as da igreja”. Paulo usou o verbo mi em 3.4,12 referindo-se a admi-

r e cuidar da própria família. O ver­ifica literalmente “ocupar a primeira3, administrar, governar, exercer a itendência”. A forma do substanti-

! particípio deriva deste verbo, que ilo descritivo de uma pessoa nesta y. é o termo mais antigo usado pelo •Io para os líderes da igreja (veja Rm

t i Ts 5.12; cf. uma palavra relaciona- . asada para o ministério louvável de

Je em Romanos 16.2). Desde a época1 no. o Mártir (150 d.Cr, conforme a

i Fust Apology 1.67), um substantivo egular denota o líder de uma congre- b. O elogio é em virtude daqueles

Ifcfeios que cumpriram bem tal ministério, gundo aspecto do serviço de um

:rero é o trabalho de pregar e ensi-> verbo usado aqui (kopiao) é um

ritos de Paulo para referir-se àqueles fcaòalham em prol do Evangelho; usa-

io fala a respeito de seu próprio cerio e do de Timóteo (4.10), como

do ministério de outros (por1 Co 15.10; 16.16; lT s 5.12; cf.

i Rm 16). Este verbo tem o senti- abalhar até ficar exausto. O fato

verbo ter sido usado com referên- scto do trabalho que o presbítero

enha em relação ao ensino, e não ^^^___stração, é uma clara indicação dos

fccsapostólicos. Paulo está recomen- i : aos ministros que dediquem-se mais

I n n r n m ip c p i o t n m o i c p f i ,

d o .

ate, para que sejam mais eficientes Ir is té r io . Ele não diz: “Dedique-se

■ n o possível à administração, e então

tente pregar bem”. Antes, é como se es­tivesse dizendo: “Administre bem, mas realmente trabalhe, acima de tudo, no ministério da Palavra”.

A “duplicada honra” é devida aos pres­bíteros que lideram bem e trabalham ar­duamente no ministério da Palavra. Ba­seando-nos no verso seguinte, sabemos que a “honra” inclui, no mínimo, a re­muneração financeira. A ênfase do após­tolo, porém, provavelmente não signi­fique que os presbíteros que pregam devam receber o dobro do salário da­queles que não o fazem, ou que mere­çam duas vezes mais que as viúvas. No entanto, assim como no ministério das viúvas, estes presbíteros merecem honra em dobro: respeito e remuneração. Paulo reitera um tema que enfatizou em ou­tras passagens: aqueles que ministram a Palavra a uma congregação deveriam ser sustentados por ela (1 Co 9-7-14; cf.2 Co 11.8,9; 1 Ts 2.7).

No versículo 18, em um bom estilo rabínico, o apóstolo cita Moisés como um apoio bíblico primário (Dt 25.4) e Jesus como a máxima autoridade em sabedo­ria (Lc 10.7;9cf. Mt 10.10), para a prática que acabou de elogiar a congregação que estava em Éfeso.

Paulo não apresentou uma descrição detalhada do trabalho dos presbíteros; este não era seu objetivo. Sua preocupação era recompensar aqueles que trabalharam bem; mas como nem todos os presbíteros em Éfeso o estavam fazendo, o apóstolo agora volta a tratar deste problema.

3.4 .2 . Como Lidar com as Queixas con tra os Presbíteros (5 .19 -21 ). Uma vez que ninguém é exposto a tantas re­clamações e calúnias como o ministro que serve fielmente, os presbíteros merecem mais do que somente a proteção finan­ceira. Merecem a confiança da congregação a menos que as reclamações sejam subs­tanciadas por várias testemunhas. Em outras palavras, os ministros devem ser conside­rados inocentes até que seja provado o contrário, como ocorre com todas as pes­soas (2 Co 13.1; cf. Dt 19.15; Jo 8.17; Hb 10.28). Calvino disse que tal prática “é um remédio necessário contra a malícia dos

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homens; ninguém está mais sujeito a ca­lúnias e difamações do que os mestres piedosos” (citado em Barrett, 1963, 80).

No entanto, se as reclamações podem ser substanciadas, os pecados do presbítero não devem ser ocultados e sim expostos publicamente (v. 20). Este exemplo pú­blico não será apenas uma forte adver­tência aos demais presbíteros, mas tam­bém a toda a congregação.

A solicitação do apóstolo se mostra forte no verso 21 quando exorta Timóteo a observar estas regras sem prejulgar o assunto, não fazendo nada por favori­tismo... Ele invoca a Deus e a Cristo Jesus porque o juízo final está nas mãos do Senhor; Timóteo deve exercitar suas funções judiciais como seu representante, e também como alguém que será jul­gado por Cristo (Kelly, 1963, 127).

Note que o papel dos anjos no juízo final pode servisto em Mateus 25.31; Marcos 8.38; Lucas 9.26; Apocalipse 14.10.

3.4.3- A Proibição das Ordenações Precipitadas(5.22-25).Aresponsabilidade por uma eventual conduta imprópria dos presbíteros é compartilhada por aqueles que os ordenam. Portanto, Timóteo deve usar um critério cuidadoso antes de de­signar os oficiais da igreja. Os líderes cristãos que são chamados para julgar e punir os demais, devem viver acima de qualquer repreensão.

O conselho no versículo 23 parece estar fora de ocasião, interrompendo a cone­xão entre os versos 22 e 24. Alguns têm conjeturado que se trate de uma declara­ção colocada em um local errado ou um comentário erroneamente incluído no texto, embora não exista nenhum manuscrito que apóie uma ou outra hipótese. É pro­vável que os comentários de Paulo se refiram à pureza pessoal, para que Timóteo não participasse “dos pecados alheios” (v. 22); pode ter vindo à memória do apóstolo o assunto da abstinência total promovida pelos falsos mestres (4.3) e agora prati­cada pelo jovem pastor.

O fato da proibição estar no tempo presente no versículo 23 (literalmente, “não

continue bebendo”) não prof de uma prática; exige a interrup prática em andamento. Paulo selhando Timóteo a “não [con bendo] somente água” (NVI). outros usos deste verbo na a se referiram a beber apenas á abster-se do vinho. Provavelme tenha sido envolvido pela visà sos mestres quanto à pureza, estava causando problemas de vinho era conhecido como um contra a má digestão (dispeps um tônico, e também um med contra os efeitos da água impr mentário do apóstolo reflete o use com propósitos medicinais, ai te difundido na antigüidade.

O que se pode dizer sobre o da abstinência total de álcool so mundo moderno? Entre muit costais em nossos dias, a abst: uma questão significativa, rela à santidade. Contudo, a prátic- ber vinho durante as re fe iç ' embriagar-se, é um hábito cultxr aceito entre muitos pentecostais países. A completa abstinência mendável. Uma pessoa que se completamente do álcool não agará nem se tornará alcoólaf bém não faria com que um ex­tra recaísse no pecado. É mel venir do que remediar!

A tolerância em amor para com que têm opiniões diferentes, em tos discutíveis, é também virtuo pecialmente levando-se em co gação de alguns, de que as Escritu do Antigo como do Novo Tes toleram o ato de consumir o vi moderação em certas ocasiões, dúvida de que o apóstolo Paulo encorajando Timóteo a abando abstinência e começar a usar um de vinho. As pessoas que crêem n gelho, não importando sua visão peito deste assunto, fariam bem sumissem a postura dos reforma “Unidade naquilo que é essencial, li naquilo que não é essencial, e a todas as coisas”.

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s versos 24 e 25, o apóstolo retorna stão da avaliação do caráter dos

J datos ao presbitério.

_:stem pessoas, ele assinala, cujos -::ados são imediatamente óbvios,—ando diante deles para julgamento

um outro modo de dizer que até o stor mais inexperiente e sem discer- iiento não tem desculpa por não tê- ; notado... Existem outros, porém, cujos :cados vêm como rastro atrás de cada

deles; isto é, só serão trazidos à luz ndo comparecerem na presença do que tudo vê. A existência de tais oas sublinha a necessidade de se

um extremo cuidado ao selecionar ministros (Kelly, 1963, 129).

_ j Io não deseja finalizar com uma nota raf conseqüentemente declara o pro- "Dverso24demodoafirmativo: “Assim também as boas obras são mani-

e as que são doutra maneira não podem -se” (v. 25). A mensagem para Timóteo rejeitar os candidatos que, a princí­

pio parecem possuir as qualidades porque as boas obras não podem

ítadas e certamente virão a público.s palavras, as pessoas verdadeira-

merecedoras, com certeza aparece- onfòrme um conhecido provérbio po- "A nata sempre sobe!”

5. E xortan do os Servos ou E scravos Crentes (6 .1 ,2 a )

Tavos são a categoria demográfica que Paulo se dirige nesta carta. O a igreja primitiva ter sido forma- muitos escravos e donos de es- pode ser uma surpresa para o leitor o, mas é importante lembrar três

lativos ao contexto histórico e te-

:tuição da escravidão estava profun- ~te enraizada na cultura greco-romana. da que as pessoas estivessem nesse

— e na estrutura social tais pesso- enciam à classe mais pobre —, era

deravelmente diferente do que foi do na história americana. Fee ex­

plica que a escravidão raramente era motivada pelo fator racial e, embora a alforria fosse uma prática comum, em muitos casos os escravos preferiam a escravidão em lugar da liberdade em virtude da segurança e da boa posição que às vezes desfrutavam;

2) Já que os cristãos estavam esperando o retomo iminente de Cristo, a igreja investiu todas as suas energias na evangelização e não na reforma social;

3) Já que a verdadeira liberdade e a servi­dão dos crentes são baseadas em seu re­lacionamento com Cristo, sua posição social neste mundo não era considerada tão im­portante quanto sua relação com Cristo (Kelly, 1963, 130).Apesar da aparente tolerância do Novo

Testamento em relação à escravidão na cultura, e a consciência de sua presença na igreja, este não é o final da história. Apesar de Paulo se dirigir tanto aos es­cravos cristãos como aos senhores cris­tãos (cf. Ef 6.5-9; C13.22— 4.1), etambém aos escravos cristãos que eram possuídos por senhores cruéis e irracionais (Tt 2.9,10;1 Pe 2.18-20), a atitude cristã em relação à escravidão é melhor resumida por Paulo em sua Carta a Filemom. Discutindo a alforria, o apóstolo afirma que Onésimo não deve ser considerado “como servo: antes, mais do que servo, como irmão amado” (Fm 16). A igreja primitiva de fato praticava aquilo que pregava. Aquele escravo, Onésimo, foi libertado e tudo indica que tornou-se o bispo de Éfeso, e por volta do ano 220 d.C. Calisto, um antigo escravo, ascendeu ao bispado de Roma. Talvez estes versos (1 Tm 6.1,2a) sejam outra evidência de escravos minis­trando como líderes na igreja.

3.5 .1 . H onrar os Mestres p o r Am or a Cristo (6 .1 ). Barrett sugere que as pri­meiras palavras gregas no verso — lite­ralmente, “Todos os servos que estão debaixo do jugo...” — não se referem aos escra­vos em geral (embora não seria inaplicável a qualquer escravo), mas particularmen­te aos presbíteros que são escravos (Barrett, 1963, 82). A advertência a considerar os senhores como “dignos de toda a hon­ra” é dado sob um motivo decisivamen­te missionário. Se os escravos cristãos forem

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rebeldes, “o nome de Deus e a doutrina [o ensino da igreja]” são blasfemados. Aqui, novamente, como foi anteriormente evi­dente no caso das instruções de Paulo aos bispos e diáconos, o modo como ad­ministramos nossa vida cristã é essenci­al para a imagem da igreja perante os estranhos (cf. 2.2; 3-7; 5.14).

3-5.2. Os Senhores Crentes Devem Ser ainda mais Honrados (6 .2a). A ad- moestação para respeitar os senhores é a mais adequada no caso dos senhores crentes. Da mesma maneira que Paulo advertiu Filemom de que Onésimo era mais do que um escravo — era um irmão (Fm 16) — diz agora o mesmo sobre os senhores crentes. Estes são mais do que senhores; são irmãos. Os escravos cristãos não devem, portan­to, negligenciar suas obrigações simples­mente pelo fato da disciplina dos senho­res crentes ser menos severa, por ser tem­perada com amor. Antes, cada um deve servir a seu senhor de modo ainda melhor, sa­bendo que um crente amado será benefi­ciado por seu trabalho.

3.6. A Luta contra os Falsos Mestres e o A m or ao D inheiro ('6.2 b -10.9

3 .6 .1 . A O rdem p ara que a O rtodo­x ia Seja Ensinada (6 .2b ). À medida que o apóstolo se aproxima de suas injunções finais, exorta Timóteo dizendo: “Isto ensina e exorta”. Ainda que o termo “isto” possa se referir ao que precede imediatamente este verso (o conselho relativo aos es­cravos), provavelmente se refira àquilo que vem a seguir (as instruções relati­vas aos falsos mestres ■— a razão para esta carta e as instruções do apóstolo desde 2.1).

3.6.2. A D escrição dos Ensinadores de H eresias (6 .3 -5 ). Em uma acusação final aos falsos mestres, Paulo contras­ta as coisas que Timóteo deveria ensi­nar com as doutrinas errôneas dos he- reges. O verbo que ele usa, referindo- se ao ensino das falsas doutrinas (o mesmo que em 1.3), significa “ensinar outra doutrina”, isto é, ensinar uma doutrina falsa ou herética. O ensino destes ho­

mens não está de acordo com as saudáveis que vêm da parte

A sintaxe dos versos 3-5 é condicional assumida como dadeira. Em outras palavras, e claração comece com a parti cional “se”, a gramática que Pa que ele sabe que está expr verdades como realmente sâo. tolo caracteriza o falso mestre de c ,1) “É soberbo e nada sabe” (v. 4

refere aos falsos mestres como pomposos”. Aqueles que penr os (sendo deste modo sobe suposta importância), mas não nada, são um tema constante de Paulo (cf. 1.7; cf. 1 Co 1.182 Co 10—12; Cl 2; Tt 1,15,16):

2) O falso mestre também “tem un: insalubre em controvérsias e J — bre as palavras”. Ao invés de se rem pela sã doutrina (cf. v. 3), “doentio” (BAGD, 543) pela c Paulo então descreve dois efr

tadores deste falso ensino: o detr comunidade de Cristo e a enfei piritual dos próprios mestres. A argumentos e as palavras de ordem inveja ou ciúme, o pecado mortal com que as pessoas se voltem u as outras (Rm 1.29; Gl 5.21). A qüentemente causa explosões de e contendas (que também fazem listas de Rm 1.29; Gl 5.20). A por sua vez, produz “contendas de e “suspeitas ruins”. Em poucas pala\ um atrito constante. Em nome dc mento e da sabedoria, estes falsos produziram o erro e a destruição.

Não só a igreja sofre, mas os mestres experimentam uma doe ritual terminal. Tornaram-se ho; ruptos de entendimento” — seu mento tornou-se decaído a po composição. Foram até mesmo da verdade ”. Ao tentar ganhar din meio do Evangelho, empobrec relação à verdade. A cobiça, duo tempo, levou-os ao caminho

3.6 .3 . Tentações pelo Dinh postos (6 .6 -10 ). Em contraste com as últimas palavras do v

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muda as frases. Os falsos mestres que “a piedade seja causa de ganho”,

o verdadeiro ganho é a piedade que busca o lucro material. Õ “contenta- j ” (v. 6), como um termo usado pelos fos, significa “satisfação, auto-sufi-a, independência”; mas usando-o

Fp 4.11), Paulo declara aos estóicos o verdadeiro contentamento é a sú­cia em Cristo, e não a auto-sufici-

- (Fee, 1988, 143).versos 7 e 8, o apóstolo dá duas para que “a piedade seja causa de ” (v. 5):

kna vez que o lucro material é temporá- . a cobiça é irracional. As palavras de Paulo cam como as de Jó 1.21: “Nu saí do ven­de minha mãe e nu tornarei para lá”;

suficiência ultrapassada ainda é sufi- ~ncia, de forma que a busca da rique- é fútil. Uma superabundância daqui- que é “suficiente” não encontra mais essidades do que o suficiente. E vir-

« íoso estar contente, isto é, satisfeito com | suficiente.

verso 9, Paulo retorna à avareza dosi mestres e de todos os que “querem ■os”. Fee (1988,144-45) descreve as qüências da cobiça como uma es-

descendente. O ganancioso “cai em o”. Como qualquer um que já pescou

:ce, a atração (isto é, a isca, a tenta- leva a “uma armadilha”. A armadi-

' o desejo tolo e prejudicial que nos _,_lha na ruína e na destruição. A lin- sem original é vivida aqui: estes de- ~ são como um monstro que arrasta vítimas até o fundo, submergindo-

e afogando-as. As palavras “ruína” e ição” sugerem uma perda irreparável

rie, 1990, 113).apóstolo conclui o assunto (v. 10) do um provérbio grego e um teste- ' 10 pessoal: “... o amor do dinheiro

raiz de toda espécie de males”. Fee , 145) esclarece: “Este texto não diz, é citado erroneamente, que o di-

~o é a raiz de todos os males, nem nde dizer que todo o mal conheci- m a avareza como raiz... A cobiça é armadilha cheia de muitos desejos x>s que levam a todos os tipos de

pecado”. A triste realidade é que algu­mas pessoas — no contexto de Paulo, os presbíteros desviados da congrega­ção dos efésios — em virtude da ganân­cia, “se desviaram da fé e se traspassa- ram a si mesmos com muitas dores”.4. Conclusão: Instruções Finais e

Bênção (6.11-21)Em suas instruções finais para Timó­

teo, o apóstolo dá quatro ordens a seu jovem amigo pastor, uma instrução solene e um hino de louvor.

4.1. M anter a F é (6 .11 ,12a)

4.1 .1 . Fugir do Materialismo (6 .11).Paulo transmite a Timóteo plena confi­ança ao identificá-lo como um “homem de Deus”, um termo do Antigo Testamento usado para designar um servo ou agen­te de Deus. O apóstolo o previne a fugir “destas coisas” (isto é, das doutrinas e práticas dos falsos mestres) e a seguir uma vida virtuosa. O termo “justiça” signifi­ca uma conduta correta; “piedade” ex­pressa um relacionamento correto com Deus e com os outros; “fé”, aderência à verdade; “amor”, caridade para com to­dos; “paciência”, persistência tenaz em meio a situações difíceis; e “mansidão”, um espírito meigo, terno.

4 .1 .2 . Lutar pela Fé (6 .1 2 a ). Paulo, então, volta-se ao conceito de lutar e manter- se firme. Alguns entendem que a expressão “Milita a boa milícia da fé” é uma metá­fora realmente atlética (e não militar), en­corajando-o a (literalmente) “continuar lutando na competição da fé”.

4.2. M anter a O bediência (6 .12b-15a)

O conceito de “tomar posse da vida eterna” dá continuidade à metáfora atlética. O jovem que está pelejando deve enfocar o prêmio e prosseguir na competição até a sua conclusão triunfante, quando re­ceberá a recompensa da competição para a qual foi chamado. Paulo lembra Timóteo de sua confissão de fé, provavelmente feita por ocasião de seu batismo, diante

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de muitas testemunhas. Levando em conta o passado, o presente e o futuro, o apóstolo encoraja-o à obediência.

A instrução solene de Paulo a Timó­teo, dada na presença de Deus (que pode preservar a vida) e na presença de Jesus Cristo (que fez a maior de todas as con­fissões), é que guarde este mandamento [isto é, que persevere na fé e no ministé­rio] “sem mácula e repreensão”. Sua per­severança consiste em continuar “até a aparição de nosso Senhor Jesus Cristo”. A segunda vinda é descrita como certa (será proporcionada por Deus), e acontecerá de acordo com a soberania de Deus (“a seu tempo”).

4.3■ G lorificado Seja Deus (6 .15b, 16)

O pensamento do retorno de Cristo e da soberania de Deus leva a uma ma­jestosa doxologia. Kelly (1963,146) sugere que o hino de louvor a Deus, com tra­ços do Antigo Testamento e do judaís­mo, seja “uma pedra preciosa do tesouro devocional da sinagoga helenística que os convertidos naturalizaram na igreja cristã”. O Senhor Deus, que fará com que o Senhor Jesus Cristo venha pela segunda vez no tempo certo, é descrito com majestoso esplendor, por meio de cin­co epítetos, seguidos por um hino de louvor. Todos os significados léxicos imagináveis estão incorporados para enfatizar a singularidade e a soberania de Deus:1) Ele é o Deus bendito, o Juiz supremo, o

“único poderoso Senhor”. O uso do ter­mo “único” enfatiza a soberania de Deus;

2) Ele é 0 “Rei dos reis e Senhor dos senho­res”. Esta frase em grego difere da cons­trução usada em Apocalipse 17.14 e 19.16. “A diferença enfatiza o fato de que Deus é realmente o governador de todos os prín­cipes da tena” (Barrett, 1963, 87). Ele é o Rei dos que reinam como reis, e Senhor daqueles que exercitam o senhorio;

3) Ele é “aquele que tem, ele só, a imortali­dade”. Sua existência é sem fim e não está sujeita ao poder da morte;

4) Ele “habita na luz inacessível* dor de sua santidade absoluu habitação inacessível;

5) Ele éaquEle “a quem nenhum viu nem pode ver”. Ele é invisível seu lugar de habitação seja: porque é muito brilhante para mortais.Doxologia: A Ele “seja hoi

sempiterno. Amém”. A dox expressão da glorificação a D não existe nenhum verbo nesta ela pode ser lida como uma d (isto é, “Honra e poder perten para sempre”), ou como um vo ou exortação (isto é, “Que 2 o poder lhe sejam tributados pre”). O termo “Amém” significa* do” ou “assim seja”; esteúltimc provável. Esta doxologia ord honra (respeito, reconhecime ou dignidade) e o domínio absol atribuídos a Deus eternament

4.4. A Instrução aos Ricos (6 .17-19)

O apóstolo já havia se dirigi les que queriam se tomar ricos; ag~ a carta com conselhos para aq~ já são ricos.

4 .4 .1 . E n fo car a Deus (6.1~ lo começa dando a Timóteo duas negativas quanto “aos ricos deste1) Não devem ser altivos, isto é,

rem-se de modo arrogante, pen são superiores;

2) Não devem colocar a sua esp~ riquezas, mas em Deus. As riqu incertas, porém Deus é fiel. Ele e dor, e age de modo a prover todas sas ricamente, não simplesmente do nossas necessidades básicas, sustentando de uma maneira que alegria e prazer.4 .4 .2 . Cultivar a Generos

(6.18,19). Então Paulo prosseguei bições pormeio de ordens de caráter; “Manda aos ricos deste mundo... çam o bem, enriqueçam em boas repartam de boa mente e sejam c cáveis”. A bondade e a generosidade.

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> ativa e passivamente, deveriam ca- 'zar o rico justo. Como o próprio Se-

Jesus disse, tal bondade e generosi- são investimentos na eternidade (Lc

3:18.22; cf. Mt 6.19-21), pois assim os entesouram “para si mesmos” e es- ecem “um bom fundamento para o

”. Cultivando deste modo a genero- cristâ, os ricos alcançarão a vida que

ente tem valor; a vida eterna.

4.5. G u ardar o Depósito (6 .20 ,21a)

instrução final do apóstolo para Ti- ~o é: “guarda o depósito que te foi

do”. Isto significa que o jovem pastor ria guardar de modo seguro aqui- e foi confiado aos seus cuidados,

estudiosos debateram sobre o que aquele depósito sagrado confiado óteo — o ensino sadio do Evan- . seu dom espiritual para o minis-

. a tarefa de resistir aos falsos mes- e manter sua própria vida pura. parando esta passagem com 2 Ti- 'o 1.12 (veja o comentário) e 1.14, e melhor entender “o depósito” como dade do Evangelho. Uma vez mais 'stolo exorta Timóteo a ter “hor-

aos clamores vãos e profanos e às 'ções da falsamente chamada ciência” também 1.6; 4.7; cf. 2 Tm 2.23).

lizmente, Paulo reitera a perda de ~ s crentes que professavam a fé, por a deste erro.

4.6. Conclusão (6.21b)

'Finalmente, de uma maneira répen- com sua ternura intrínseca, Paulo

rlui a carta com sua bênção típica: ~ça seja convosco’” (Fee, 1988,162). é uma oração breve, porém since-

para que a graça de Deus esteja não ente com Timóteo, mas também com eles que estão sob seus cuidados

re que a palavra “convosco” é plural), lação é crítica, a conclusão é bre-

mas a ajuda divina está disponível e eficiente para trazer bom êxito ao essor de Paulo.

* N. do T.: O termo logiort significa uma expressão ou dito atribuídos a Cristo, não registrados nos Evangelhos, mas conser­vada por tradição oral.

NOTAS

1 Todo o livro de Richard e Catherine Clark Kroeger, ISufferNota Woman, é dedicado a esta passagem. Contém bases históricas, culturais e uma excelente compreensão gramatical — o fruto de dez anos de pes­quisa léxica da palavra au thenteo (traduzida pela NVI como “ter autoridade sobre”) . Meus comentários derivam do trabalho dos Kroeger.

2 A exceção notável, que é uma tendência de tradução, é Romanos 16.1. Já que o ministro (diakonos) neste texto é uma mulher, Febe, os tradutores hesitaram em reconhecer o ofício que o apóstolo Pau­lo lhe atribuiu. Neste texto a NVI traduz o título deste ofício como “servo”, enquanto oferece uma nota de rodapé que sugere a tradução “diaconisa”. Esta tradução, embora possa ser utilizada, não é exata, uma vez que a palavra “diaconisa” é anacrônica (de um outro período). Veja também os co­mentários sobre 1 Timóteo 3.11.

3 Nenhum dos manuscritos antigos especi­fica que estas sejam qualificações para oficiais do sexo masculino. Não existe nenhuma evidência nos manuscritos para crermos que isto fosse sequer uma questão na igreja primitiva. Tal exclusividade masculina em relação aos diáconos é uma convenção das traduções inglesas, não do texto no idioma original. A palavra diakonos pode ser tanto masculina como feminina, de­pendendo do artigo grego, que neste caso não consta no texto.

O ANTIGO TESTAMENTO NO NOVO TESTAMENTO

NT AT ASSUNTO

1 Tm 5.18 Dt 25.4 Não atar a bocado boi

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I TIMÓTEO

4 Acreditando que a Segunda Vinda de Cristo estivesse próxima, e desejando en­volver no trabalho da colheita todos aque­les que estivessem dispostos, o antigo fun- damentalismo na América (1880-1930) deu forte apoio ao ministério feminino. Janette Hassey documenta esta defesa bem como as razões de seu declínio nos círculos fun- damentalistas mais antigos, na obra, No Time for Silence: Evangelical Women in Public Ministiy Around lhe Turn o fthe Century (1986). Outro livro documenta as vastas contribuições das mulheres como missionárias no século XIX e no início do século XX: R. Pierce, Beaver, American Protestant Women in WorldMission: aPíistoryofthePirstFeminist Moviment in North America (1968; cuja primeira publicação foi intitulada AllLoves Excelling; 1980, edição revisada).

5 Reconhecendo o derramamento do Espírito Santo em Atos 2 como o cum­primento de Joel 2, que diz que “os vos­sos filhos e as vossas filhas profetizarão”, “ou pregarão”, as mulheres nos círculos pentecostais foram reconhecidas como chamadas e capacitadas por Deus parao ministério, desde o avivamento que ocor­reu no início do século XX. As Assem­bléias de Deus, por exemplo, têm uma rica história do apoio de corajosas ser­vas do Senhor, que foram ordenadas ao ministério do evangelho. O pentecostalismo afro-americano não só tem uma fervo­rosa história de mulheres no ministério, mas algumas das maiores pregadoras ainda vivas fazem parte deste grupo. Embora alguns carismáticos tenham tomado uma posição reacionária contra a ordenação de mulheres, o novo pentecostalismo (por exemplo, o Movimento da Palavra e a Terceira Onda) abraçou o ministério fe­minino.

6 De fato, o Distinctive Diako Londres, Inglaterra, é comple~ dedicado à pesquisa e restauração dos diáconos conforme o NovoT para a igreja contemporânea. Su^~ cobertas se tornaram um impulse esforço ao retomo das mulheres a e Veja também a observação sobre os na referência a Filipenses 1.1 em j Evans e Storkey, 1995, 407.

7 Recentes evidências docume extensa participação das mulherps nistério da igreja primitiva, como estudos léxicos e contextuais, de as interpretações tradicionais de passagens do Novo Testamento e com a igreja a repensar seu ensino tra * em relação ao papel das mulheres nistério. Por exemplo, extensos est. erudito australiano Greg Horselv. piros que contêmantigos documentos inscrições da igreja (inclusive epm lápides) recuperaram os nomes e as e de cinco presbíteros mulheres, urr - mestra e nove diáconos mulheres cs primitiva. Um resumo destas fontes formação aparece na obra “Early Bv of Women Õfficers in the Church". Papers 1/4 (Fali, 1987): 3-4.

8 Esta mudança para o assunto ref às mulheres foi tão surpreendente alguns copistas alteraram o texto (; que estivessem fazendo uma correçc que este incluísse ambos os gê

9 Deve ser notado que na única passagem onde Paulo cita litera' palavras de Jesus (1 Co 11.24,25), cita uma versão partilhada com Lu contraste com Marcos e Mateus, istq deveria nos surpreender, em vi aparente proximidade de Paulo e (Fee, 1988, 129).

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II TIMÓTEODeborah K/Ienken G i l l

: 5 B O Ç O

L Introdução (1.1-18)1.1. Saudação (1.1,2)1.2. Ternas Lembranças (1.3-7)1.2.1. Recordando as Lágrimas de Timóteo, Paulo Relembra-o em Oração

L G.3,4)1.2.2. Relembrando a Herança Religiosa

, de Timóteo, Paulo o Incentiva a Reavivar ! seu Dom (1.5-7)

1.3. O Encorajamento Inicial (1.8-14)1.3.1. Participar do Sofrimento (1.8-12)1.3.2. Duas Ordens Adicionais (1.13,14)1.4. Notícias Recentes (1.15-18)1.4.1. Aqueles que Estavam na Ásia se

r Apartaram de Paulo (1.15)1.4.2. A Casa de Onesíforo Recreou o

I Apóstolo (1.16-18)

— Exortações Pessoais ao Sucessor dePaulo (2.1-13)2.1. Eortalecer-se na Graça (2.1)2.2. Transmitir a Responsabilidade a Pessoas Fiéis (2.2)2.3. Resistir conforme estes Exemplos : 3-6)

2.3.1. Sofrer como Bom Soldado — Nâó ; se Embaraçar! (2.3,4)2.3.2. Competir como um Atleta — De acordo com as Regras! (2.5)2.3.3. Trabalhar arduamente como um lavrador e Participar da Colheita (2.6)2.4. Refletir por um Momento (2.7)1.5. A Base para o Apelo (2.8-13)2.5.1. Lembrar-se de Jesus Cristo: O Exemplo Excelente (2.8,9)15.2. A Consideração dos Motivos de

Bwlo: A Salvação dos outros (2.10)-5-3. Meditar sobre esta Declaração: Um Ifcio de Persistência (2.11-13)

Exortações de Liderança ao iocessor de Paulo (2.14-26)

3 1 . Mantenha a Doutrina! (2.14-18, cf. v. 23)51.1. Ensiná-los a não Contender por feiavras (2.14)

3.1.2. Treinar-se para Ser Preciso na Palavra (2.15)3.1.3. Evitar absolutamente as Palavras Vazias (2.16-18)3.2. Viva uma Vida Santa! (2.19-22)3.2.1. O Selo de Deus (2.19)3.2.2. Um Vaso de Honra (2.20,21)3.2.3. Um Seguidor da Justiça (2.22)3-3. Paulo Abre um Parêntese: Rejeitar as Questões Loucas! (2.23; cf. w. 14-18)3.4. Liderar como um Servo Humilde (2.24-26)3.4.1. Características do Servo do Senhor (2.24)3.4.2. O Servo do Senhor Deve Corrigir (2.25,26)

4. A Advertência contra a Maldade e as Heresias Escatológicas (3.1-17)4.1. A Maldade do Final dos Tempos (3.1-9)4.1.1. Virão Dias Difíceis (3.1)4.1.2. As Pessoas que Devem Ser Evitadas (3.2-5)4.1.3.0 que Fazem os Falsos Mestres (3.6,7)4.1.4. Dois Exemplos Infames (3.8)4.1.5. O Fim de tais Pessoas (3.9)4.2. Encorajamento apesar dos Obstáculos (3.10-17)4.2.1. Timóteo Tem um Histórico de Fidelidade (3.10,11)4.2.2. A Perseguição Deve Ser Esperada(3 .1 2 )4.2.3. A Degeneração Aumentará (3.13)4.2.4. A Perseverança É uma Necessidade (3.14,15)4.2.5. A Escritura É Suficiente (3.16,17)

5. Instruções Solenes Relativas ao Ministério (4.1-8)

5.1. Sobre o Ministério da Palavra (4.1-4)5.1.1. Pregue o Máximo Possível! (4-1,2)5.1.2. Você nem sempre Terá a Oportunidade (4.3,4)5.2. Sobre o Ministério em Geral (4.5-8)5.2.1. Agir corretamente em tudo (4.5)5.2.2. Não Estarei perto por muito Tempo (4.6-8)

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II TIMÓTEO 1

6. Conclusão: Considerações Finais(4.9-22)6.1. Observações Pessoais (4.9-13)6.1.1. Venha Depressa! (4.9-1 la)6.1.2. Traga Marcos consigo (4.11b)6.1.3. Tíquico É Recomendado (4.12)6.1.4. Traga três Coisas (4.13)6.2. Compartilhando uma Advertência:Tenha Cuidado com Alexandre (4.14,15)6.2.1. “O Latoeiro Causou-me muitosMales” (4.14)6.2.2. Guarda-te também dele! (4.15)6.3. O Testemunho em meio àsDificuldades (4.16-18)6.3.1. Todos me Desampararam (4.16)6.3.2. Porém Deus Estava Presente (4.17)6.3.3. Ele sempre Estará Presente (4.18)6.4. Palavras de Despedida (4.19-22)6.4.1. Saudação a três Irmãos (4.19)6.4.2. Notícias sobre dois Irmãos (4.20)6.4.3. Venha antes do Inverno! (4.21a)6.4.4. Estes quatro (e os demais) oSaúdam (4.21b)6.4.5. Conclusão (4.22)

COMENTÁRIO

1. Introdução (1 .1 -18)1.1. S au dação (1.1,2)

Semelhante à primeira, a Segunda Carta de Paulo a Timóteo começa com uma breve saudação seguindo o padrão habitual. Pode parecer surpreendente que Paulo ainda esteja enfatizando seu apostolado a seu amado filho na fé. Por que faria isso? Já que esta carta é mais pessoal do que a primeira que foi endereçada a Timóteo, a razão que o levou a esta ênfase apostó­lica pode simplesmente ter sido o hábi­to, ou pode refletir um apelo urgente à lealdade. O apostolado de Paulo é des­crito como sendo “pela vontade de Deus”, não por vontade de Paulo; é “segundo a promessa da vida”, que é o objeto e a intenção do compromisso; e a vida está “em Cristo Jesus”, que é a fonte e a esfera do verdadeiro viver.

O. modo como Paulo se dirige ao des­tinatário é quase idêntico a 1 Timóteo (veja comentários sobre 1 Tm 1.2), a não ser que a expressão “meu amado filho” subs­

titua a expressão “meu verdadeirc na fé”. Como uma correspondên;^ 3 tima entre um apóstolo e seu apre" JÊ não há necessidade de legitimar a p 1 ção de Timóteo diante da congreg:fi antes, Paulo simplesmente expre-íc ■ estreitos laços que compartilham. Tszá■ sempre foi um “filho amado” pari B lo (veja 1 Co 4.17).

1.2. Ternas Lem branças (1 ,S-~3

A oração de ação de graças na al ra, lembrando Timóteo de sua leaádi passada, de sua fé e de sua herança i giosa, ajusta o tom para seu argunaS de perseverança e contínua lealdadÉ

1 .2 .1 . R ecordando as Lá;Timóteo, Paulo Relembra-o em (1 .3 ,4 ) . Paulo se identifica com sincero adorador e servo do Deus 5; antepassados. Seu Cristo está e~ clara continuidade com o Deus dj tigo Testamento; seu cristianis— supremo cumprimento do ju ci^ Também partilha tal herança refig com Timóteo. O verbo “servir que o apóstolo está executand: ori veres religiosos do ministério; se _ ■ presente indica que tal serviçc fÜ hábito ininterrupto cuja intensidact foi reduzida em sua vida (Rienecker 2.637). Paulo é grato a Deus em to suas orações, “noite e dia”, menc::- Timóteo em suas petições.

É a memória das lágrimas de que move em Paulo o desejo de - oá jovem amigo novamente, para que próxima visita a dor presente substituída pela alegria. Não há dói| que o apóstolo mais velho está recaco sofrimento de sua última desrwi Podemos ver uma sugestão da s : I Paulo durante sua vigília final e com: a companhia de Timóteo, embcri 1 ; em Éfeso ainda não esteja conc/.

1.2 .2 . Relem brando a Her ligiosa de Tim óteo, Paulo o ] a Reavivar seu Dom (1 .5-7). >. mória aquece o coração do ajjxxs* I sincera de Timóteo (1.5). O atí;e^| nifica “genuíno” (literalmente,

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II TIMÓTEO 1

”); o substantivo “fé” (pistis) poderia ' -se à sua confiança em Deus, porém is provável que indique a fidelidade

Timóteo. A fidelidade genuína e a fir- são as razões para que Paulo rendesse em mais de uma ocasião (cf. Rm 1.8;

1.4; 1 Ts 1.3; 3.6,7; 2 Ts 1.3; Fm 5). rm um esforço para encorajar a leal- ~c contínua deTimóteo (a Cristo, a Paulo

seu ministério), o apóstolo lembra o pastor de sua herança religiosa. Da a maneira que Paulo continuou fiel

seu serviço ao Deus de seus antepas- _s (v. 3), assim a firmeza de Timóteo te do sofrimento representa uma :“uidade da fé e da fidelidade de seus assados.

A mãe e a avó de Timóteo lhe trans­iam uma rica herança espiritual, que

pissou de geração a geração... O texto2 Timóteo 3.14,15 indica que muito o, em sua infância, Timóteo foi ins­

truído nas Sagradas Escrituras... É pro- •ável que ele fosse o fruto de um “ca­samento misto”, pois seu pai era grego t sua mãe era judia. Parece que o pai re Timóteo não era crente, já que sua ' não é mencionada. A passagem em Coríntios 7.14 fala do marido incré-

r.io que é santificado por sua esposa nte, de forma que os filhos podem parte desta nova vida em Cristo.

Como são afortunadas e santificadas ps crianças nascidas em famílias onde a ?l!avra de Deus é passada de geração a ffiiação (SI 78.1-7). Muitos dos patriar- 115 da igreja primitiva como Agostinho,

João Crisóstomo, Gregório de Nazianzo, Bisílio e Gregório de Nissa celebraram

influência religiosa de suas mães... Pesquisas recentes relativas ao com- itamento infantil enfatizam a impor-

Éncia do desenvolvimento da criança r meio de sua interação e de seu re- : ~namento com a mãe— isto é, o efeito 'proco da mãe sobre a criança, as- como da criança sobre a mãe (Kroeger, ns e Storkey, 1995, 451-452).

apóstolo conclui seu resumo sobre nça religiosa de Timóteo com uma

afirmação, declarando que estava per­suadido de que esta fé também habita­va em seu jovem cooperador: “... estou certo de que também habita em ti”. Esta confiança na fé genuína de Timóteo torna- se o trampolim para o apelo que vem a seguir (1.6— 2.13) (Fee, 1988, 223). Tal confiança na herança religiosa e na fé genuína é a base da recomendação de Paulo para que Timóteo “desperte” seu dom espiritual (v. 6).

Este verbo se refere a ativar, acender a chama para que se torne viva, e mantê- la acesa. Também significa “reacender” ou “manter a chama acesa em seu nível máximo”. A declaração de Paulo não contém necessariamente uma censura, já que o fogo no mundo antigo nunca era mantido como uma chama ininterrupta; no entanto, mantinha-se vivo por meio de brasas de carvão que eram novamente acesas por um fole sempre que a situa­ção o demandasse (Rienecker, 1980,638).

E como se o apóstolo estivesse dizen­do a seu amigo tímido: “Agora é o mo­mento; a situação exige que você faça pleno uso do dom da graça de Deus”. Em 1 Ti­móteo 4.14 lemos sobre o dom espiritu­al de Timóteo, e .em 1.18 e 4.14 sobre as profecias a seu respeito; agora vemos que as mãos que lhe foram impostas não fo­ram somente as dos presbíteros, mas tam­bém as mãos do apóstolo. Paulo enfoca sua própria situação pessoal ao autenti­car o ministério de Timóteo, em um es­forço de encorajar o jovem inseguro (cf.1 Co 16.10,11; 1 Tm 4.12).

Em relação ao verso 7, Fee argumenta (1988, 226) que o “espírito”, não de “te­mor”, mas de “fortaleza”, “amor” e “mo­deração” não é uma atitude interior, mas é o próprio Espírito Santo.

Paulo está se referindo não a algum “espírito” (ou atitude) que “Deus” nos tenha dado (a ele e aTimóteo, e em última instância a todos os outros crentes que devem igualmente perseverar diante das adversidades), mas ao Espírito Santo de Deus, o que é explicado por vários as­

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pectos: (a) o termo explicativo “porque” que inicia esta oração, aproxima-a do verso 6; (b) o relacionamento próximo entre charisma (“dom”, v. 6) e Espírito (v. 7) é uma característica completamente paulina...; (c) as palavras “fortaleza” e “amor” são especialmente atribuídas ao Espírito nos escritos de Paulo; e (d) existem fortes ligações entre este verso e 1 Ti­móteo 4.14, onde o “dom” de Timóteo está especificamente destacado como sendo uma obra do Espírito.

Além disso, nas expressões “não... mas”, declarações que contrastam espíritos (Rm 8.15; 1 Co 2.12), o termo “mas” refere-se claramente ao Espírito Santo. “Deste modo, o intento de Paulo poderia ser expresso da seguinte maneira: Pois quando “Deus nos deu” o seu “Espírito”, não recebemos “timidez” ou “temor”, mas “fortaleza, amor e m oderação” (ibid., 227). Diante das dificuldades presentes, é o Espírito de Deus que vence a covardia, contribui para o pensamento claro (especialmente dian­te dos falsos mestres), nos fornece poder e nos enche de amor.

1.3■ O Encorajam ento In ic ia l (1 .8 -1 4 )

1.3.1. Participar do Sofrimento (1.8-12). Levando em conta a capacitação do Espírito, o apóstolo exorta Timóteo com duas ordens: “não te envergonhes”, mas “participa das aflições do evangelho” (v.8). Paulo primeiro exorta Timóteo a com­partilhar de boa vontade do estigma e da vergonha de Cristo, o Messias cruci­ficado, e de Paulo, seu embaixador em prisões. Isto é, Timóteo não deve evi­tar a humilhação baseada no testemu­nho de Cristo ou em sua associação com o apóstolo.

Além disso, Timóteo deve abraçar o sofrimento. Pelo fato de Paulo não se envergonhar do testemunho de Cristo, sofreu freqüentemente pelo evangelho (cf. Rm 8.17; 2 Co 4.7-15; Fp 1.12,29; Cl 1.24; 1 Ts 1.6; 2.14; 3-4). Entretanto, o so­frimento não é a situação presente de­signada somente a Paulo (2 Tm 2.9); é

também o destino de Timóteo (3.12 expressão traduzida como “participa aflições” significa “assumir a sua no sofrimento de alguém”; o aoristo: rativo indica “que a ação deve ser : diatamente realizada” (Rienecker. 1638). A capacitação para se passar este sofrimento virá “segundo o de Deus”.

A menção de Deus encaminha a uma confissão de fé no evangelhe9,10), da mesma maneira que faz eru 2.11-14 e 3-4-7. Esta declaração em ma de hino é particularmente apr~_ da à situação presente de Timótec precisa de encorajamento para rea seu dom, renunciar à sua covardia mar sua parte no sofrimento por a. Cristo. Embora os versos 8-11 formen única sentença no grego, os editoir texto grego apresentam os versos 9 em forma poética conforme a seg; tradução literal:

[Foi Deus] quem nos salvou e nos mou para [ou com] uma santa cação,

não de acordo com as nossas obras, de acordo com o seu próprio pi e graça,

que nos foram dados em Cristojesus do tempo imemorial,

mas agora foram revelados através aparecimento de nosso Salvador. Jesus,

que, por um lado destruiu a mor.t. por outro trouxe luz à vida e a talidade através do evangelho.

O objetivo de Paulo para Tim ' claro: “Seja firme: reavive seu d“ ticipe do sofrimento; já estamos aqueles que venceram a morte de Cristo” (Fee, 1988, 230).

Antes de Paulo terminar a ora: clara novamente seu papel na pr ção do evangelho (v. 11); e no que fere a isso, o apóstolo foi designa “pregador, e apóstolo, e doutor”, é semelhante a 1 Timóteo 2.7, ênfase de Paulo aqui não consiste compromisso de ministrar para c s

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mas em ministrar o evangelho. A ên- s dos três papéis não está na autorida­de Paulo como um apóstolo, mas no 'prio evangelho e em sua relação com e (Fee, 1988, 231).O papel de Paulo no que se relaciona evangelho é justamente a razão de sua

ente situação (v. 12). Novamente ele e como um modelo para Timóteo,

que não se envergonha, e seu depó- está seguro nas mãos de Deus.

O mesmo substantivo (paratheke) usado1 Timóteo 6.20, traduzido literalmente iO “o depósito que te foi confiado”, reçe aqui em 2 Timóteo 1.12 com o nome possessivo na primeira pessoa singular, “meu depósito” ou “aquilo que me confiou” (podendo ser provavel- te aceitável: “o que lhe confiei”); aparece

"amente no verso 14, “Guarda o bom ' sito” que lhe foi confiado (a expressão

você” não faz parte do grego). Estas as únicas três ocorrências de paratheke Novo Testamento; em todos os três

s funciona como o objeto do verbo 'rdar, proteger, manter seguro”. Em

imóteo 6.20 e 2 Timóteo 1.14, Timó- deve “guardar o... depósito”, enquanto2 Timóteo 1.12o próprio Deus o está rdando.

que é “o depósito”? É algo confiado Deus ou algo que Deus nos confiou e caso, Paulo e Timóteo)?

bora os estudiosos tenham ofereci- várias sugestões referentes a paratheke alma de Paulo, sua confiança, o dom ~'ino para ò ministério, etc.), Barrett

1963,97) explica que se tomarmos “o “depósito” como significando “a verda- cie do evangelho que foi confiada a Paulo, para que a pregasse”, esta interpretação

a grande vantagem de dar à pala- “depósito” o mesmo significado em as as três passagens, aqui, em 1 Ti-

~‘eo 6.20eem2Timóteo l.l4.0próprio assume a responsabilidade suprema

lo evangelho que confia a seus pre- dores; conseqüentemente, “a pala- de Deus não está presa” (2 Tm 2.9).

pregação não poderia sè suster nem uer por um momento Sobre qual­

quer outra base; quaisquer que sejam osfracassoseos sofrimentos de um pastor, Deus vela sobre a sua palavra para a cumprir. Seu cuidado continua até “àquele grande Dia”— do julgamento e da con­sumação (cf. 1.18; 4.8).

1 .3 .2 . Duas O rdens A dicionais(1 .1 3 ,1 4 ). O apóstolo profere mais duas ordens a Timóteo, porém estas não são voltadas aos assuntos pessoais do pastor em relação à mocidade e à timidez, e sim à contínua ameaça dos falsos mestres:1) Como tem enfatizado ao longo das Cartas

Pastorais, Paulo exorta Timóteo a conser­var o “modelo das sãs palavras” (veja co­mentários sobre 1 Tm 1.10), que “de mim tens ouvido” (cf. 2 Tm 2.2; 3.10; também1 Tm 4.6); e à medida que o fizer, Timó­teo será um modelo “na fé e na caridade que há em Cristo Jesus”;

2) A outra ordem, paralela ao verso 12, é a seguinte instrução de Paulo a Timóteo: “Guarda o bom depósito [que te foi con­fiado] pelo Espírito Santo que habita em nós” (veja comentários sobre o verso 12). A sã doutrina do evangelho confiada por Deus a Paulo, e agora por Paulo a Timó­teo, algum dia será confiada a outras pes­soas fiéis, que também poderão ensiná-la a outros (2.2). Timóteo deve proteger a mensagem que recebeu contra qualquer contaminação doutrinária dos falsos mestres. No entanto, Timóteo não está sozinho

nesta tarefa, ele o fará por meio do auxí­lio do “Espírito Santo”. Novamente Pau­lo afirma a espiritualidade do jovem pas­tor dizendo, em essência, que o precio­so Espírito Santo é o mesmo que habita, em ambos (cf. w . 6,7). O mesmo que ajudou Paulo a guardar o tesouro divino será fiel, e concederá vitória a Timóteo.

1.4. Notícias Recentes (1.15-18)

O apóstolo agora compartilha um re­latório de exemplos de fidelidade e de in­fidelidade. Embora esta seção possa pa­recer um desvio do tema principal, não é sem propósito. Levando em conta o ape­lo para que Timóteo “guardasse” aquilo que lhe havia sido confiado, o apóstolo

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II TIMÓTEO 2

lembra-se de muitos que não mantiveram a confiança, e de um homem que era exem­plar ao compartilhar os sofrimentos de Paulo.

1.4 .1 . Aqueles que Estavam na Ásia se A partaram de Paulo (1 .1 5 ). Paulo aborda uma situação da qual Timóteo está dolorosamente ciente: “... os que estão na Ásia todos se apartaram de mim”. Como a cidade de Éfeso ficava na Ásia, Timó­teo também vivia esta situação de apostasia. Os detalhes sobre como, quando e onde estas apostasias aconteceram, são claros para Timóteo (“Bem sabes isto”), porém não o são para nós. Provavelmente todos aqueles que viviam na Ásia, que visitaram Paulo em Roma (exceto Onesíforo) de­sertaram e retomaram para suas casas. Pode ser ainda mais provável que a apostasia na Ásia tenha sido tão surpreendente (Kelly [1963,169] identifica a descrição do apóstolo como “uma depressão exagerada”), a ponto daqueles amigos de quem teria espera­do lealdade, inclusive “Fígelo e Hermó- genes”, também o deixarem. Embora não estejamos absolutamente certos daquilo que esta apostasia envolvia, parece que por abandonarem Paulo (provavelmen­te devido às notícias de sua prisão), o apóstolo considere que estivessem aban­donando: a Cristo. Ó verbo usado neste verso é o mesmo usado para a apostasia espiritual (veja 4.4; Tt 1.14); um verbo diferente é usado para apostasias pesso­ais (veja 2 Tm 4.10).

1 .4 .2 . A Casa de Onesíforo Recreou o Apóstolo (1 .16 -18 ). Onesíforo é um exemplo positivo, ummodelo para Timóteo. A oração de Paulo: “O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo”, indi­ca que este não está com sua família nes­te momento.

O fato de Paulo iniciar sua lembrança sobre Onesíforo deste modo, pedindo misericórdia por sua casa no presente, e no final (v. 18a) pedindo por miseri­córdia futura (naquele Dia) a favor do próprio Onesíforo, sugere que este homem tenha morrido neste ínterim. Um fato como este só poderia aumentar a dor e a so­lidão de Paulo (Fee, 1988, 236).Fee oferece esclarecimentos adicionais

a respeito deste bom companheiro. Em

uma cultura onde o encarceramento fre­qüentemente envolvia o auto-sustema, Ónesíforo “muitas vezes me recreou”. áisíe Paulo, sem dúvida levando comida e pakr.ra? de ânimo ao apóstolo. Longe de eslaJ preocupado com qualquer embaraço ou dificuldade, este homem se arriscou p s a visitar regularmente um prisioneiro do Estado condenado à morte; ele “nãc se envergonhou” das cadeias de Paulo.. M rece que o apóstolo não estava em prisão pública e encontrá-lo demandara um esforço considerável; por esta razã^ Paulo disse que quando estava em Ro— Onesíforo com muito cuidado o procu­rou e o encontrou. O principal tema ih»- trado pelos eventos recentes é claro: "X20 se envergonhe do evangelho ou de miag, diz Paulo. “Muitos se envergonham, -rsa» não Onesíforo. Seja como ele, Timótea-' (Fee, 1988, 236-237)

2. Exortações Pessoais ao Sucessor de Paulo (2.1-13)2.1. Fortalecer-se na G raça

(2.1)

Paulo inicia agora uma extensa seçi:» de instruções pessoais a Timóteo, a» nuances da conjunção “pois” são he* - tiplas, assinalando que as exortações qpri se seguem:1) estão em contraste com os apóstatas:2) consistem em manter o exemplo de O nesíbJ3) resumem os imperativos dos versos S- s. 24) dão prosseguimento ao encorajamera:.1I

Timóteo que, através da capacitaçãr ;r»j Espírito, tem todas as condições necesã-1 rias para ser bem-sucedido.Paulo ordena a Timóteo: “Tu. p :i^

meu filho, fortifica-te na graça que ra em Cristo Jesus”. O termo “fortifica-arl está no imperativo passivo prese^:±. indicando que Timóteo deve conf - ar sendo fortalecido por Deus. O re— “graça” ou tem um sentido local, expres­sando o reino ou a esfera em que Timctai deve ser forte, ou um sentido instnime-r?. expressando os meios pelos quai5 13 móteo é capacitado a se fortalecer S » um ou outro caso, a fonte desta gr> ç i é “Cristo Jesus”.

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II TIMÓTEO 2

2.2. Transmitir a R esponsabilidade a Pessoas Fiéis (2.2)

A primeira tarefa de Timóteo é ser for- filecido para então confiar (o verbo re­lacionado ao substantivo “depósito”, veja bb comentários sobre 1.12) a pessoas “idô- aeas” (homens e mulheres) aquilo que tinha Luvido do apóstolo. Uma vez que Paulo eaá exortando Timóteo a deixar aquela -dade e unir-se a ele em Roma, embora e u trabalho ainda não esteja terminado

Éfeso, o jovem pastor deve confiar o «jie ouviu de Paulo a homens fiéis, e como Bis, “idôneos para também ensinarem os outros”. A preposição dia (traduzida na «VI como “na presença de”) é melhor ttaduzida como “através de muitas teste­munhas”, significando que as coisas que B u lo ensinou haviam sido atestadas por •enão simplesmente mediadas por) muitos Burros, com quem Timóteo também apren- áeu (cf. 3-14).

2.3. Resistir con form e estes Exemplos (2.3-6)

2.3.1. Sofrer com o Bom Soldado — \k> se Embaraçar! (2 .3 ,4) A razão mais

|ignificativa para Timóteo necessitar ser leddoé(comofezQnesfforo)compartilhar

íofrimento. “Sofre, pois, comigo, as afli- (o mesmo verbo usado em 1.8) sig-

a “sofrer os males junto com alguém, jrtar a aflição junto com alguém, tomar >e com alguém em uma situação difícil”.

O primeiro modelo de resistência ou xseverança é o de um “bom soldado Jesus Cristo”. Paulo usa freqüente-

te exemplos militares (cf. 2 Co 10.3- Ef 6.10-17; Fm 2), especialmente no ^texto de lutar com oponentes do

gelho (cf. 1 Tm 1.18). “Pela própria reza de sua ocupação, o ‘soldado’ com freqüência solicitado a parti- rdos sofrimentos” (Fee, 1988,241).

Duas analogias extras surgem da me- ura do soldado: “Ninguém que milita embaraça com negócio desta vida” e âm de agradar àquele [o seu coman-

e] que o alistou para a guerra”. Os

elementos simples das comparações da vida de Timóteo com um soldado são como a devoção à tarefa e à lealdade total ao chefe. O “comandante” é traduzido lite­ralmente como a pessoa “que o alistou”, cujo dever consistia em garantir que seus soldados estivessem bem equipados e supridos, tendo comida e abrigo.

2.3 .2 . Com petir com o um Atleta— De acordo com as Regras! (2 .5 ) O se­gundo modelo de perseverança é o atle­ta, que deve “competir de acordo com as regras” ou “militar legitimamente”, isto é, legalmente. Não está claro a que “regras” Timóteo deve aderir, mas pode estar se referindo às regras da competição (“não era permitido a um atleta ganhar sua luta infringindo as regras” [Rienecker, 1980,640]) ou às regras de treinamento (“os jogos exigiam um período de dez meses de rí­gida disciplina [Fee, 1988, 242]). Em am­bos os casos, a trajetória do atleta em direção “à coroa da vitória” incluía o sofrimento do vencedor.

2.3.3. Trabalhar arduam ente com o um Lavrador e Participar da Colheita (2 .6 ). O terceiro modelo de resistência ou perseverança é o “lavrador”. O lavra­dor também encontrará uma recompen­sa por seu sofrimento.

2.4. Refletir p o r um M omento (2 .7)

O apóstolo está certo de que a análise destas analogias fará com que reflitam. A composição das três metáforas da resis­tência coloca igual ênfase em “participar das aflições” e “conquistar um prêmio”. Barrett resume o significado das três ana­logias: “Além da guerra está a vitória, além do esforço do atleta há um prêmio, e além do trabalho agrícola há uma colheita. Da mesma maneira, a participação de Timó­teo no sofrimento será seguida por uma recompensa” (Barrett, 1963, 102).

2.5. A B ase p a r a o Apelo (2.8-13)

Este parágrafo leva a uma conclusão: o longo apelo de Paulo (iniciado em 1.6-

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II TIMÓTEO 2

14 e retomado em 2.1) para que Timóteo permanecesse leal, a ponto de sofrer. Agora o apóstolo fornece a base teológica para tal apelo. Mais importante que a recom­pensa é o evangelho, que Pauloresume nesta seção.

2.5.1. Lem brar-se de Jesus Cristo: O Exemplo Excelente (2.8,9). Em uma carta repleta de reminiscências, o enfoque da atenção deve estar no exemplo de Cris­to. Em sua lembrança de Jesus Cristo, Timóteo deve enfocar duas realidades: que Jesus “ressuscitou dos mortos” e que “é da descendência de Davi”. Ainda que a ênfase na ressurreição seja característica de Paulo (cf. Rm 1.4; 10.9), a ênfase so­bre o descendente de Davi não o é (exceto em Rm 1.3). Como um apóstolo para os gentios, a demonstração da linhagem messiânica era um assunto mais signifi­cativo para os judeus do que para o pú­blico alvo de Paulo. Mas para Timóteo, que tinha uma herança judaica, estas duas realidades traziam um resumo apropria­do do evangelho. A expressão “da des­cendência de Davi” sugere o cumprimento da história e da esperança israelita em uma pessoa humana, real; e o fato de ter “res­suscitado dos mortos”, a irrupção esca- tológica neste mundo (o mundo de Davi, e de Jesus de Nazaré) do sobrenatural e divino (Barrett, 1963, 103).

Por pregar esta mensagem, o apóstolo está sofrendo “trabalhos e até prisões, como um malfeitor”. A palavra para “malfeitor” no original grego é forte, um termo técni­co reservado aos assaltantes, assassinos, traidores, e assim por diante. A única ou­tra vez em que é usada no Novo Testamento é para referir-se aos ladrões que foram crucificados ao lado de Jesus (Lc 23-32,33,39). “Seu uso aqui sugere as condições do massacre promovido por Nero em vez do encarceramento relativamente brando de Atos 28” (Kelly, 1963, 177). Embora seu mensageiro esteja preso, o evangelho de Cristo não está! O tempo perfeito enfatiza que “não foi e não será impedido”. Como em Filipenses 1.12-18, o encarceramento de Paulo não impediu que as Boas Novas fossem compartilhadas, mas forneceu novas oportunidades para tal.

2 .5 .2 . A Consideração dos Motivos de Paulo: A Salvação dos outros (2.10).É “por amor aos escolhidos” que Paulo sofre tudo isto (ou seja, resiste paciente­mente sob todo este fardo). O termo “esl colhidos” (o povo escolhido de Deus) é uma aplicação cristã para os crentes do Novo Testamento, que tem a sua origem em um termo que era usado ho Antigo Testamento para o povo de Deus (cf. Tt 1.1; 2.14). “Já se gastou tinta demais es­crevendo sobre as implicações teológicas deste termo, quer referindo-se aos “esco­lhidos” que já foram salvos quer aos “es­colhidos” que ainda não foram. Tal teo­logia não está de acordo com o enfoque de Paulo” (Fee, 1988, 247).

O apóstolo está de algum modo con­vencido de que aquilo que está sofrendc contribuirá para a salvação dos escolhidoí. mas não esclarece como. Alguns fizeram conjeturas quase “mágicas” sobre a cone­xão entre os sofrimentos de Cristo, os so­frimentos dos mensageiros e a salvação de outras pessoas (cf. 2 Co 1.6; Cl 1.24). O pontc- chave, porém, não é o sofrimento de Pau­lo pelo evangelho, mas o evangelho pela qual ele sofre, e que traz a salvação .(Fee. 1988, 248). Ao serem comparadas com a salvação dos escolhidos, “com glória eterna'. quaisquer provas temporais perdem a sua importância (cf. Rm 8.18).

2.5.3* Meditar sobre esta Declaração: UmHino de Persistência (2.11-13). Pa _ conclui esta seção principal de exortações pessoais a seu sucessor com outra “Pal*l vra fiel” (veja comentários sobre 1 Tm l.Bj O paralelismo da idéia e o caráter rítimJ co das linhas sugerem que esta passagem tenha sido tirada de um hino litúrgisf preexistente já conhecido por Tim óten pela Igreja em Éfeso (observe o inícic x i parágrafo na NVI). A teologia e a termi­nologia do hino são características de Psrjla devendo ter sido provavelmente originadas de uma de suas congregações ou até mesa» composta pelo apóstolo. O último verm Ele “não pode negar-se a si mesmo”, p a a | ser o ponto onde Paulo interrompe o brm Seu motivo ao citar este hino é mostrara conexão entre o sofrimento com C r ia i compartilhar a sua glória.

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Embora a citação que Paulo faz deste se aplique ao sofrimento da perse-o e ao martírio, seu uso litúrgico original ■avelmente refletisse um culto de

“mo. A conexão entre as imagens de er para o pecado e para si mesmo, e ' neição para uma nova vida por meio tismo dos crentes, é comum (cf. Rm

-23; Cl 2.11,12; 3.3). Em seu comentá- bre esta passagem, Crisóstomo traz

ntexto do batismo e do martírio jun- ~te com sua exortação: “se nossa morte Cristo foi real e completa... devemos prontos para compartilhar sua mone

:al” (citado por Lock, 1973, 96). ntretanto, como Kelly escreve (1963,. “a morte do cristão com Cristo no mo é só um primeiro episódio. Sua

^ção é ser misticamente unido àque- foi crucificado, abraçando uma vida

provas e dificuldades”. Quer dizer, ios “resistir também com Ele”. Tal

pré-requisito para “reinar com Ele” .1 Co 15.24,25; Ap 1.6; 3-21; 5.10; 20.4).

hino, em seu idioma original, pas- r uma progressão cronológica em tempos verbais. Do tempo passa-

"morrido” no batismo) para o tem- esente (“resistindo” aos sofrimen-

presente), o hino se move agora a possibilidade futura de “negar” a . “Se o negarmos” (uma oração con-

nal seguida por um verbo futuro) re uma possibilidade distante e não

rteza” (Hanis, Horton e Seaver, 1989, ). Negar a Cristo resulta em seu re­

para conosco no Dia do Juízo (cf. .32,33; Lc 12.9). Esta segunda me­de 2 Timóteo 2.12 é o oposto da ira. Pressupondo o contexto do ento, esta é uma clara advertên-

ra Timóteo e para os “escolhidos” a apostasia durante a perseguição,

es que viviam na Ásia, descritos em lã haviam apostatado; deste modo, 'aro que já não eram mais parte da

de Cristo.e verso do hino pode apontar para a

de gnóstica dos falsos mestres. Em de sua doutrina dualística e dico- , que cria na divisão entre o corpo

pírito, um gnóstico poderia negar a

Cristo com sua boca e continuar a confessá- lo com o espírito.1 Existe pouca evidência sobre os mártires gnósticos; podiam renunciar ou abjurar publicamente e mais tarde ne­gar sua apostasia. O apóstolo afirma nes­te hino ortodoxo: “O que dizemos conta!— Cristo negará aqueles que o negarem”.

Ainda que a graça de Deus não se es­tenda à apostasia, ela pode alcançara falta de fé. “Se formos infiéis, ele permanece fiel”. “Infiéis” (aspisteo) não significa sem fé (isto é, “incrédulo ou descrente”), mas sem fidelidade. Eee (1988, 251) explica:

Isto ainda pode significar que Deus anulará nossa infidelidade por meio de sua graça (como sugere a maioria dos comenta­ristas), ou que sua fidelidade ao dom gracioso da salvação escatológica a seu povo não é negada pela falta de fé de alguns. Este ponto parece estar mais de acordo com os escritos de Paulo e o contexto imediato. Alguns demonstra­ram sua incredulidade, mas a fidelida­de de Deus em relação à salvação não foi diminuída por este fato.

Barrett (1963,104) explica: “A única base de segurança não é a fidelidade do ho­mem, porém a de Deus, isto é, a fidelida­de de Deus à sua palavra, às suas promessas e a si mesmo”. A esperança escatológica está arraigada no caráter de Deus.

3. Exortações de Liderança ao Su­cessor de Paulo (2.14-26)

O restante do capítulo 2 é a principal seção de exortações a Timóteo, como líder. Da doutrina e da santidade à humildade, o apóstolo apresenta uma série de assun­tos sobre liderança.

■■3.1. M antenha a Doutrina! (2.14-18, cf. v. 23)

Deixando as reminiscências pessoais (a Timóteo, suas lágrimas e sua fé since­ra [1.3-5]) e a exortação àquilo que Timóteo não deve esquecer (seu dom e o evange­lho [1.6; 2.8]), o apóstolo se volta agora ao que Timóteo deve ter sempre em mente: “Traze estas coisas à memória...”

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3.1.1. Ensiná-los a não Contender por Palavras (2 .14 ). “Diante do Senhor”, a autoridade máxima a quem alguém pode apelar, avisou-os:“não tenham contendas de palavras”. Esta era a principal caracte­rística dos falsos mestres (veja comentári­os sobre 1 Tm 2.8; 6.4,5; cf. Tt 3-9). A con­gregação deve ser advertida a não se en­volver em tais disputas em razão das pa­lavras divulgadas pelos falsos mestres. Estas não trazem nenhum benefício (cf. Tt 3-8); pelo contrário, “para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes".

3.1.2. Treinar-se para Ser Preciso na Palavra (2 .1 5 ). O próprio ensino de Ti­móteo deve estar em nítido contraste como dos falsos mestres. O apóstolo o exor­ta a ser diligente, fazer o máximo, ou “tomar todas as dores para apresentá-las diante de Deus como alguém que pode supor­tar sua prova— como um verdadeiro obreiro que nunca será envergonhado por um trabalho de má qualidade ou feito às pressas, mas que ensina corretamente a mensa­gem da verdade” (Lock, 1973,97). A pas­sagem “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” ou, como na tradu­ção da KJV, “que compartilha conetamente”— “a palavra da verdade” — são expres­sões que ocorrem somente no Novo Tes­tamento. Este verbo significa literalmen­te “ser objetivo, compartilhar a palavra da verdade diretamente, sem distrações” (Zerwick e Grosvenor, 1979, 641). Tem múltiplas analogias: “um arado preparando um sulco em linha reta” (Crisóstomo), “uma máquina abrindo uma estrada em linha reta”, “um sacerdote preparando corre­tamente um sacrifício”, e “um pedreiro me­dindo e cortando uma pedra para ajustá- la em seu devido lugar” (uma definição baseada em Pv 3-6; 11.5). A palavra era freqüentemente usada nas liturgias para descrever os deveres do bispo e para denotar a ortodoxia (“que é o ensino direto ou correto”) (Lock, 1973, 98-99; Rienecker, 1980, 642).

3 .1 .3 . Evitar absolutam ente as Pa­lavras Vazias (2 .16-18). O apóstolo pro­fere agora uma advertência clara a Timóteo

(cf. 1 Tm 6.20). O verbo no imperativc “evita os falatórios profanos”, signific; literalmente “mudar ou se afastar, con: a finalidade de evitar”; o objeto dire:: significa “conversa vazia, profana”. CÍ-J conteúdo da mensagem dos falsos mes­tres é sem propósito.

Como resultado, o falso ensino produzr; uma “impiedade” cada vez maior, falta de religiosidade e “roerá como gangrena'. Tais ensinos não ferem somente os mes­tres, mas todos aqueles que os ouvem sã: infetados por seu veneno. Estas conver­sas vazias se espalham como um rebanh: de gado “que pasta” em uma relva, um verbo usado para “espalhar a dor”. J substantivo utilizado aqui era um antig: termo médico grego para gangrena, câncer: ou o aumento de uma úlcera.

É uma doença pela qual qualquer par­te do corpo que sofra uma inflamação torna-se tão corrompida que, a menos que um remédio seja aplicado, o mal se estenderá continuamente, atacará ou­tras partes, e afinal corroerá os própri­os ossos. A metáfora ilustra atitudes insidiosas, e nada poderia descrever mais adequadamente a maneira do avançc do falso ensino, seja este antigo ou moderno (Rienecker, 1980, 642).

“Himeneu e Fileto”, que “se desviara ~i da verdade”, são dois exemplos de fals:s mestres (veja 1 Tm 1.6; 6.21). Sem dúvi- . da, o mesmo Himeneu a quem Pau_:> “entregou a Satanás” em 1 Timóteo Uít| ainda está trabalhando, pervertendo "a£ de alguns”.

Estes dois homens ensinavam “dizer- do que a ressuneição era já feita”. Esta vis_ t escatológica de que a ressurreição é ex­perimentada em nossa morte e ressurre: ►espiritual por ocasião do batismo em Cr.r ( era um falso ensino com o qual Paul: m deparava repetidamente (1 Co 4.8; 1? 1_:2 Ts 2.2), uma doutrina que se encaixai j ] perfeitamente no dualismo do gnostidsno. Tornando a ressurreição somente espm i tual, isto é, um fenômeno não literal, e - tes falsos mestres estavam tentando ce-t trair o principal fundamento da fé. e n |

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■mente já haviam pervertido a fé de al- 0m s. “Para Paulo, a negação de (nosso i-raro corpo) nossa ressurreição é negari própria fé, e assim negar o nosso pas- ü-io (a própria ressurreição de Cristo, que

base de tudo aquilo que é pregado) e bém o nosso presente” (Fee, 1988,257).

do o texto em 1 Coríntios 15 é dedica-1 a derrotar a falsa doutrina que negava

surreição literal, física de Cristo e dei santos. Note as profundas implica-

as teológicas e espirituais da heresia :rulgada por Himeneu e Fileto em 1

Ltios 15.13,14,16,17:

E. se não há ressurreição de mortos, ambém Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pre-

; gação, e também é vã a vossa fé... Por- que, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda rermaneceis nos vossos pecados.

1.2. Viva um a Vida Santa! (2.19-22)

3.2.1.0 Selo de Deus (2 .19). Para não :ar com uma nota negativa, o após-

da mesma maneira que no hino contido 2.13, termina esta seção com um co-

rio a respeito da fidelidade de Deus. o uma forte conjunção adversativa,

via”, Paulo está convencido de que, dos oponentes e apóstatas, “o [sólido] mento de Deus fica firme”. A boa de Deus em Éfeso não pode ser ida pelos falsos mestres. Ela resis-

oposição e permanece firme, selo do Senhor, sua marca de pro-

de, sustenta uma inscrição dupla se refere a um correto relacionamento uma vida justa. “O Senhor conhece

e são seus” — a confiança do povo us não consiste naquilo que conhe- ~ a respeito dEle, mas no que Ele ~ce a nosso respeito. “Qualquer que re o nome de Cristo aparte-se da dade” — o comprometimento com será evidenciado por meio de um rompimento com o pecado e a de.

3.2 .2 . Um Vaso de H onra (2 .2 0 ,2 1 ).A próxima analogia de Paulo diz respei­to à variedade de artigos em uma prós­pera casa antiga. Existem artigos caros, como os vasos “de ouro e de prata”; mas existem também aqueles que são bara­tos, como os vasos “de madeira e de bar­ro”. Alguns servem “para honra”, para propósitos nobres, como por exemplo para serem admirados pelos convidados du­rante os banquetes; alguns servem “para desonra”, a propósitos humildes, comuns, como conter o lixo que será eliminado. A metáfora era comum na antigüidade, tanto no Antigo (Jr 18.1-11) como no Novo Testamento (Rm 9.19-24), mas a aplica­ção do apóstolo neste contexto é nova.

A expressão “De sorte que”, no início do verso 21 (não traduzida na NVI), liga a aplicação desta analogia ao verso 19, que diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade”. “Se alguém se purificar destas coisas” — do reino do ignóbil, ou seja, do falso ensino— essa pessoa “será [um] vaso para hon­ra, santificado e idôneo para uso do Se­nhor e preparado para toda boa obra”. Somente o vaso “santificado e idôneo”, nobre e honorável é que possui o mais elevado valor. O que importa não é o valor dos vasos ou do material de que são fei­tos, mas o conteúdo de cada um. Então, a fim de se enquadrar nesse perfil, cada um deve ser “santificado”, isto é, separa­do para os propósitos sagrados, afastan- do-se dos ensinos e da prática do mal.

3.2.3. Um Seguidor dajustiça (2 .22). Paulo exorta Timóteo a fugir “dos dese­jos da mocidade” e a “seguir” as qualida­des cristãs. Estes desejos maus, Fee argu­menta (1988, 263), não são paixões sen­suais, mas determinadas coisas que atra­em pessoas jovens: “questões loucas e sem instrução... que produzem contendas”. Lock acrescenta à lista: “a impaciência, o amor pela disputa, a auto-afirmação, como tam­bém a auto-indulgência” (Lock, 1973,101). Em vez de participar dos passatempos e diversões dos falsos mestres, Timóteo deve ser um seguidor da justiça. Nas três pri­meiras virtudes da lista (justiça, fé e cari­dade), Paulo usou um imperativo seme­

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lhante a 1 Timóteo 6.11 (veja os comen­tários). Timóteo deve procurar também “a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. “A comunhão frater­nal deveria florescer em meio aos cristãos” (cf. Rm 12.18) (Kelly, 1963, 189).

3 .3 ■ Paulo A bre um Parêntese: Rejeitar as Questões Loucas! (2.23; cf. vv. 14- 18)

Paulo interrompe sua linha de racio­cínio para voltar a mencionar as “ques­tões loucas”. Fee (1988, 264) nos ajuda a traçar a conexão de seus pensamentos.

Justamente por Timóteo ter a obriga­ção de buscar a paz, deve “rejeitar” (o mesmo verbo usado em 1 Tm 4.7) as “ques­tões loucas” (cf. Tt 3-9, um forte pejora­tivo) “e sem instrução” (apaideutos, “sem informação”) que produzem “contendas” (veja o comentário sobre 1 Tm 6.4; Tt 3-9).

Timóteo, então, deve buscar a paz (v. 22), ou seja, rejeitar os debates to­los, que se baseiam na falta de instru­ção, porque estes só “produzem” (lite­ralmente, “dão origem a”) “contendas”(machai; cf. Tt 3.9; cf. também “bata­lhas de palavras”, logomachiai, 1 Tm 6.4;2 Tm 2.14) — um dos sérios pecados dos falsos mestres (veja especialmente o comentário sobre 1 Tm 6.4,5).

3-4. L iderar com o um Servo H um ilde (2.24-26)

3 .4 .1 . C aracterísticas do Servo do Senhor (2 .24). A última questão relacio­nada à liderança, discutida pelo apóstolo Paulo, é a atitude. Diferentemente dos falsos mestres, “ao servo do Senhor não convém contender”. O título usado aqui (“o servo do Senhor”) provavelmente tenha sido influenciado pelas mensagens que Isaías transmitiu a respeito do Messias (Is 42.1- 3; 53). O verbo “contender” (m achom ai) “era geralmente usado para referir-se a combatentes armados, ou àqueles que tomavam parte em uma luta corpo a cor­po. Foi então usado para aqueles que

participam de uma guerra de palavras co~ o sentido de disputar, discutir, rivalizar’ (Rienecker, 1980, 643). Se o servo do Se­nhor, Cristo, nãocontendeu; Timóteo, você e eu também não devemos fazê-lo.

Antes, “ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para ccnr todos, apto para ensinar, sofredor”. Ao in­vés de discutir, os ministros devem resisír ao erro, porém com uma disposição dife­rente. Como foi dito, “Se agirmos como a inimigo, nos tomaremos como este”. A bon­dade e a mansidão são atitudes contrastantes com as dos falsos mestres, e é assim q_e Timóteo deve tratar até mesmo a estes M 25; cf. “seguindo a verdade em caridade' em Ef 4.15). Timóteo deve ter a habilidade de ensinar (cf. 1 Tm 3-2). Não deve ter re~- sentimentos, mas ser tolerante, paciente, e pronto a resistir ao mal. “A frase denota u e í atitude de paciência em relação àqueles q^e estão em oposição” (Rienecker, 1980,643 t

3 .4 .2 .0 Servo do Senhor Deve Cor rigir (2.25,26). Timóteo deve instruir“ccra mansidão os que resistem”. Que lição pari todos os servos do Senhor! Com que fre­qüência os ministros atacam aqueles qce- se lhes opõem, afastando-os ainda n- • » do arrependimento! Esta atitude mansi e dócil é expressa pelo substantivopraices (“mansidão”). “Denota a atitude humilir e mansa que se expressa em particular através de uma postura paciente perante a ofen­sa, livre de malícia e do desejo de vingança (cf. 2 Co 10.1)” (Rienecker, 1980,643). Seneo assim, o próprio mestre se torna o insírr- mento usado pelas mãos de Deus para conceder aos oponentes uma transformação de coração — para conceder-lhes o arre­pendimento e o “conhecimento da verdade'.

Tal instrução mansa também trarâ y* volta a seu juízo aqueles que são influ­enciados pelos falsos mestres, e os habi­litará a fugir das armadilhas do Diabo, peas quais tornaram-se cativos de sua vonii- de. Ver os oponentes como pessoas ca© estão enganadas, cativas e presas porSatanád torna mais fácil instruí-las com m ansidl-t Ananepho (“recobrar o juízo ou a razà; ' é um significado do verbo “tornar-se brio, retornar à sobriedade”. “A metá" implica alguém ser enganado por in

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s malignas, como no caso de uma 'cação; o método do Diabo é ‘entor-

x a consciência, confundir o juízo e : ‘ar a vontade’” (Rienecker, 1980,643- . Tendo tal compreensão desta situ- embaraçosa em que vivem aqueles

estão enganados, o servo de Deus pode compreensivo, reconhecendo o estado engano em que os oponentes se en-

im, de forma que a abordagem do tenha como ênfase uma clara atenção lade, sem ataques pessoais.

A ênfase na instrução é claramente re- ora. “Paulo quer que Timóteo seja o

o de um tipo de ensino que não apenas rá os erros (Tt 1.9; 2.15), salvando seus ouvintes (1 Tm 4.16), mas que

xm será usado por Deus para resga- ' aqueles que já tiverem sido enredados

falsos ensinos” (Fee, 1988, 266).

A Advertência contra a Maldade e as Heresias Escatológicas (3.1-17)4.1. A M aldade do F inal dos

Tempos (3-1-9)

4.1.1. Virão Dias Difíceis (3.1). Abrup- "mente, o apóstolo volta sua atenção à pÉdade dos últimos dias e aos desastres

■os doutrinários. Tal discussão é uma rtante mudança na carta, passando

instruções pessoais a Timóteo para o :que dos falsos mestres. É o ataque* do apóstolo às heresias antes de sua

lusão pessoal de encorajamento a 'teo.

bora as Cartas Pastorais tenham 'damente abordado a questão dos mestres, neste contexto Paulo se refere nflito sob uma perspectiva teológi-

— a presença dos falsos mestres como indicação do final dos tempos. O Novo ‘mento usa a expressão “últimos dias” referir-se à vinda de Cristo, ao ad-

:o da nova era, e à era cristã (cf. At 21; Hb 1.2). Em outras palavras, os ‘ s do fim já chegaram, e estamos do esta era.ponto principal é que Paulo deseja Timóteo saiba (isto é, entenda, re- eça, perceba) “que nos últimos dias virão tempos trabalhosos”. O ver­

bo “sobrevir”, nesta oração, não é sim­plesmente copulativo, uma vez que in­dica algo que é iminente. Fee (1988,269) assinala a conexão entre o fim dos tem­pos e a dificuldade como uma caracte­rística comum no apocalipse judaico do Antigo Testamento (Dn 12.1), na litera­tura intertestamentária (1 Enoque 80.2- 8; 100.1-3; Ascensão de Moisés 8.1; 2 Baruque 25-27; 48.32-36; 70.2-8), nas palavras de Jesus (Mc 13-3-23), e nos escritos da igreja primitiva (1 Co 7.26; 2 Pe 3-3; 1 Jo 2.18; Jd 17,18). Estes últimos dias são descritos como “trabalhosos” ou “terrí­veis”, não simplesmente porque serão difíceis ou perigosos, mas por causa do mal associado a eles.

4 .1 .2 . As Pessoas que D evem Ser Evitadas (3 .2 -5 ). Apesar de Paulo usaro tempo futuro no verso anterior, a lista de vícios apresentada reflete os proble­mas que prevaleciam na sociedade pagã, provando que Timóteo já estava viven- ciando estes males. Já vimos uma lista de defeitos em 1 Timóteo 1.9,10 (cf. Rm 1.29-31; 1 Co 6.9,10), que era claramen­te organizada; porém esta lista de dezoito características parece não ter um padrão organizacional:1) A lista começa descrevendo estas pesso­

as como “amantes de si mesmos” (v. 2). O egoísmo encabeça a lista dos males do final dos tempos;

2) O materialismo vem em segundo lugar; as pessoas serão “avarentas”, amando o dinheiro e aquilo que este é capaz de comprar;

3) A arrogância é o terceiro vício. A palavra “presunçosos”, se refere a “alguém que alardeia e ostenta suas realizações, e em sua jactância ultrapassa os limites da ver­dade, procurando se destacar e se engran­decer em uma tentativa de impressionar” (Rienecker, 1980, 644);

4) A pessoa “soberba” (isto é, arrogante ou altiva) é “alguém que procura se mostrar superior aos outros” (ibid.);

5) Os “blasfemos” são aqueles que usam suas palavras para caluniar os outros. O termo grego fornece a raiz da palavra portugue­sa “blasfêmia”;

6) Os “desobedientes a pais e mães” são os rebeldes;

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7) Eles são “ingratos” ou mal-agradecidos;8) Eles são “profanos” ou não religiosos (cf.

1 Tm 1.9);9) Aqueles “sem afeto natural” (v. 3) são os

que não amam a família, e insensivelmente não amam aos pais, isto é, desprezam o afeto natural. Sêneca cita a prática de ex­por os bebês indesejados como uma ilus­tração de tal falta de humanidade e sensi­bilidade, e de afeto natural (Brown, 1976, 2.542);

10) Os “irreconciliáveis” são aqueles cuja hostilidade não admitirá nenhuma trégua, aqueles que recusam a reconciliação, os implacáveis;

11) Os “caluniadores” são aqueles cujas pa­lavras (literalmente) “diabólicas” colocam as pessoas em conflito umas com as ou­tras. Promovem os conflitos na esperança de ter algum benefício (Lock, 1973,106);

12) Aos “incontinentes” falta o poder e a autodisciplina da conversação até o ape­tite; não possuem a temperança;

13) Os “cruéis” são como os animais selva­gens — indomados e incivilizados;

14) Aqueles que não têm “amor para com os bons” são indiferentes à bondade; odei­am o bem e não têm qualquer escrúpulo em relação à virtude;

15) Os “traidores” (v. 4) são falsos e engana­dores. “Esta palavra era usada para alguém que traísse seu país ou que não cumpris­se um juramento, ou ainda para aqueles que abandonassem outra pessoa em pe­rigo” (Rienecker, 1980, 644);

16) Os “obstinados” são negligentes. Este adjetivo vem do verbo “cair à frente ou adiante”; isto é, ser precipitado em palavras ou ati­tudes. Estas pessoas “não medem as con­seqüências para alcançar os seus objeti­vos” (Kelly, 1963,194);

17) Os “orgulhosos” (literalmente) se “inflam, ou se enchem com fumaça”, ou “incham”. Todas estas imagens, como na idéia hebraica da névoa, da fumaça ou do vapor, signifi­cam vaidade, vazio, falta de autenticida­de (veja também 1 Tm 3-6; 6.4);

18) Nesta lista, que apresenta pessoas com más condutas, existem numerosos exemplos de amor impróprio ou mal orientado. O exemplo final é o pior de todos — trata-se daque­les que são “mais amigos dos deleites do

que amigos de Deus”. Estes hedonistas mantêm a “aparência de piedade” (cf. 1 Tn 2.2; Tt 1.16) enquanto negam seu poder: O apóstolo retornou ao enfoque de suas observações que eram direcionadas aos iates mestres.

Estes gostavam das expressões visíveis, das práticas ascéticas e das discussões intermináveis sobre trivialidades religiosas, pensando ser obviamente justos por serem obviamente religiosos. Mas assim- “ne­garam” a eficácia ou o poder da pieda­de cristã, eusebeia, por tomarem parte em tantas atitudes e práticas “não reli­giosas” que caracterizaram o mundo pagão (Fee, 1988, 270-271; ênfases acrescen­tadas pelo autor).

O apóstolo Paulo tem uma ordem er- plícita para Timóteo a respeito de t£_: pessoas: “Destes afasta-te”.

4.1 .3 . O que Fazem os Falsos Mes­tres (3.6,7). No versículo 6 o apóstolo m u uma vez expõe as práticas dos charlatões religiosos. Fee (1988, 271) assinala, en­tretanto, que Timóteo e sua congregação não aprenderam nada de novo sobre as falsos mestres por meio da repreensão severa de Paulo. O leitor moderno é esclare:> do por esta censura. Alguns dos tipos de charlatanismo religioso com que os fu­sos mestres estavam comprometidos a - ziamrespeito às mulheres. Estas informações servem como base para o ensino de Pau­lo em 1 Timóteo 2.9-15; 3.11; 4.7; 5.3-16.

Paulo liga as práticas dos falsos mes­tres à lista de maus comportamentos: “Porq_T deste número são os que se introduzen pelas casas e levam cativas mulheres nésdas’ . O verbo grego descreve o modo como estes entravam nas casas. A expressão “se mg troduzem” denota métodos insidiosasá Penetravam ou se introduziam nas casas por meio da falsidade. Na expressão 'as­sumir o controle” temos um verbo que se refere a fazer prisioneiros, conduzindo- os sob a ameaça da ponta da lança: seu uso metafórico implica cativar através d J engano ou de uma liderança enganadB Tal era o método dos falsos mestres (c0 v. 13; também 1 Tm 4.1,2).

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II TIMÓTEO 3

As mulheres que se tornavam presas mestres são descritas pejorativamente

um diminutivo, (literalmente) “mu- inhas” ou “mulheres néscias”, signi- do “bobas, mulheres tolas ou ocio-

: é uma palavra de desprezo. Elas são 'tas como “carregadas de pecados” adas de várias concupiscências” ou das por todo tipo de desejos malig- Os pecados destas mulheres são tantos,

acumulam a ponto de controlá-las; po perfeito implica uma condição estado contínuo. Elas estão sendo

~m levadas por uma variedade de sos ou luxúrias. Isto pode sugerir

envolvimento sexual dos falsos mes- com tais mulheres, porém não deve

limitado a tal significado, almente elas são descritas como as que “aprendem sempre e nunca ti chegar ao conhecimento da ver- (v. 7). Kelly (1963,196) interpreta

frase, bem como as duas anteriores, uinte modo:

mulheres, assim como os homens,=o prontas para abraçar o verdadei- evangelho; porém o mesmo ocorre relação à sua forma pervertida, quando

sentem conscientes da condição mise- el e fútil de suas vidas... Estão ane- tes, e talvez morbidamente curiosas

respeito das religiões e prontas para entregarem a qualquer teoria de amor

lhes seja apresentada. No entanto, vez que lhes falta um sério propó-

o e se sentem simplesmente atraídas uma novidade, provam ser “inca- es de alcançar o conhecimento da dade”.

1.4. Dois Exem plos Infames (3 .8).onentes da verdade pregada por eo em Éfeso são comparados a dois

t o s de Faraó que se opuseram à verdade : ~és. Ainda que seus nomes não sejam 'onados em Êxodo 7.11; 9 -11, docu- s posteriores do judaísmo retrataram s a respeito de Moisés e identifica- dois mágicos comojanes ejambres. não possamos ter a completa certeza

e os falsos mestres de Éfeso estives­

sem envolvidos na feitiçaria, Plummer argumenta que “a conexão entre a here­sia e a superstição é muito próxima e real” (citado em Guthrie, 1990,158). Este fato é tão verdadeiro nos tempos modernos como era antigamente. O movimento contem­porâneo da Nova Era é claramente uma combinação de heresia e superstição. Es­tes homens foram descritos mais adiante como “homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé”. “Perderam o poder de raciocinar... não podem passar pelos testes da fé” (Banett, 1963,112).

4 .1 .5 .0 Fim de tais Pessoas (3 .9 ). O sucesso destes mestres será breve, pois sua loucura será exposta. Guthrie (1990, 160) explica: “No final, os embustes são sempre descobertos”.

4.2. Encorajam ento apesar dos Obstáculos (3-10-17)

4.2.1. Timóteo Tem um Histórico de Fidelidade (3 .1 0 ,1 1 ). O encorajamento de Paulo a Timóteo é outro apelo à leal­dade e à perseverança baseado em sua herança religiosa e em seu histórico fiel. Afastando-se da discussão sobre os falsos mestres, Paulo contrasta seu apelo a Ti­móteo com as palavras: “Tu, porém, tens seguido a minha doutrina [literalmente, tem seguido de perto]”. A seguir, o apóstolo reitera suas próprias virtudes (em contraste com o comportamento maligno dos fal­sos mestres descrito em 3-2-5), que foram observadas e imitadas porTimóteo duranteo relacionamento mentor/aprendiz:1) A “doutrina” de Paulo encabeça a lista. A

instrução do apóstolo é ortodoxa; 2) Seu “modo de viver” ou conduta é santo;

3) Sua “intenção” é única e firme;4) Sua “fé” em Deus;5) Sua “longanimidade” com os outros;6) Seu “amor” ou “caridade” para com todos;7) Sua “paciência” em situações difíceis, são

exemplares em todos os sentidos;8) Em particular, Timóteo deve se lembrar das

“perseguições”; e9) “aflições” de Paulo “tais quais acontece­

ram em Antioquia [cf. At 13.50], em Icônio [cf. 14.2-6] e em Listra [cf. At 14.19,20]”, a própria cidade natal de Timóteo.

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“E o Senhor de todas me livrou”, lem­bra Paulo. Fee (1988, 277) parafraseia o propósito do discurso de Paulo da seguinte forma:

Lembre-se de que você estava em Lis­tra quando fui apedrejado. E que tais padecimentos eram visíveis na época em que começou sua caminhada cristã. Então não desista agora em meio a esta pre­sente — e vindoura —• angústia... For­taleça-se, peregrino, porque você tam­bém... tem sua parte nos sofrimentos.

4 .2 .2 . A Perseguição Deve Ser Es­perada (3-12). A perseguição é um prin­cípio da vida cristã. É uma verdade uni­versal.

4 .2 .3 . A D egeneração A um entará(3 .13). O grego é quase irônico aqui: “Mas os homens maus e enganadores [se aper­feiçoarão] irão de mal para pior, enganando e sendo enganados”.

4.2 .4 . A Perseverança É um a Neces- sid ad e(3 .l4 ,15 ) . Timóteo tem a respon­sabilidade de continuar naquilo que apren­deu e tornar-se cada vez mais convenci­do disto, a saber, da verdade do evange­lho. A veracidade da doutrina de Timó­teo está na integridade de seus mestres (tanto do apóstolo como também de sua mãe e de sua avó) e em seu conhecimen­to vitalício das Escrituras. Tal conhecimento mesclado com a fé em Cristo Jesus pro­duz a “salvação”.

4.2.5. AEscrituraÉSuficiente(3.l6,17). Ainspiração é um princípio da Palavra, sendo totalmente útil a Timóteo em seu ministé­rio. Já que a Escritura em sua totalidade foi “divinamente inspirada” (isto é, teve sua origem em Deus), é útil em todos os as­pectos do ministério. Paulo enumera quatro destes aspectos: “para ensinar” (instruir no Evangelho), “pararedargüir” (expor os enos), “para corrigir” (redirecionar o comporta­mento errado) e “para instruir em justiça” (nutrir os crentes em santidade). Ó resul­tado (ou propósito) da aplicação efetiva das Escrituras é que a pessoa que busca a Deus [o grego aqui é de gênero inclusivo] terá todas as demandas da vida e do mi­nistério cristão devidamente supridas.

5. Instruções Solenes Relativas ao Ministério (4 .1-8)

5.1. Sobre o Ministério da P alavra (4.1-4)

5 .1 .1 . Pregue o M áxim o Possíve_I(4 .1 ,2 ) À medida que Paulo se aprox;~n da conclusão de sua última carta, dirige- se a seu jovem colega com exortaçíe j pessoais sóbrias: “Conjuro-te, pois, diame de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Como no Antigo Testamento, que trazia juramenKB e cobranças, os nomes listados são cít*- dos como testemunhas. Este fato é espe­cialmente claro levando em conta a des­crição de Cristo Jesus como aquEle que “há de julgar os vivos e os mortos”. Corro uma testemunha perpétua, Ele está qua­lificado a julgar aqueles que estarão vi­vos no momento de sua vinda, como taup bém aqueles que já morreram.

Considerando “a vinda” e o “reino" de Cristo, Timóteo é instruído a “pregar a palavra”, ou seja, anunciar ou seruiíiarauin da verdade. Esta instrução solene ao í :- vem pastor é modificada com quatro c r- dens adicionais:1) “Pregues a palavra”, mantenha-se firmens:

guarde seu posto (isto é, sua pregação), quer isto seja quer não seja conveniente para vceê e seus ouvintes;

2) “Instes a tempo e fora de tempo”, corna “com tal sentimento eficaz... seja para In­zer alguns ao menos a uma confissão, oe à simples convicção de pecado” (Treifc±_ 1953, 13);

3) “Repreendas” ou censure claramente aquee? que estão no erro;

4) “Exortes”, “encoraje” (quer dizer, impe­re, exorte, advogue, admoeste) a todos. Esess ordens e instruções devem ser executaõ? “com toda a longanimidade e doutrina'— um temperamento caracterizado pela pa­ciência, que tolere as pessoas que são le n s a responder à correção e à instrução.5.1.2. Você nem sem pre Terá a Opor

tunidade (4 .3 ,4). Ainda que Timóteo i esteja vivenciando os tempos trabalhoscs dos últimos dias (3.1), o apóstolo o adveí te de que o mal aumentará com a aproxi­mação do fim. Virá o tempo, e realmente

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I chegou, quando as pessoas não tolera- o ensino da sã doutrina, mas “tendo ichão nos ouvidos, amontoarão para iutores conforme as suas próprias con-

ipiscências”, a saber, mestres que se adaptem :us próprios desejos, que lhes digam ilo que desejam ouvir ou aquilo que

xile sua fantasia ou sua curiosidade, quaisquer considerações a respeito da ade” (Kelly, 1963, 206-207). Estes se rão deliberadamente da verdade para

entiras e as “fábulas” (cf. comentári- sobre 1 Tm 1.4).

5.2. Sobre o Ministério em Geral (4.5-8)

5.2.1. Agir corretam en te em tudo •5). O apóstolo dá agora quatro ordens 'imóteo que contrastam com a obra dos

s mestres:"Sê sóbrio em tudo”. Esteja alerta para não ser enganado! Isto é, permaneça vigilan­te, alerta, prestando atenção ao que está acontecendo ao seu redor e procurando trabalhar com tranqüilidade e objetivida­de (Rienecker, 1980, 648);"Sofra as aflições” (cf. 1.8; 2.3);■‘Faça a obra de um evan­

gelista” (continue pregando a mensagem);"Cumpre o teu ministério”, ou seja, cumpra sua respon­sabilidade ministerial da me­lhor maneira possível.5.2.2. Não Estarei perto r muito Tempo (4.6-8). ia carta assume neste mo­nto um tom obscuro, à me-

que o apóstolo informa móteo de que o fim de sua ópria vida é iminente. Após ara questão dos falsos mes- s e oferecer o encorajamento

Boessárioaseu jovem sucessor, ilo parece abrir uma jane- |ue mostre seu próprio so- nento com o enfático pro-

e na primeira pessoa. É se escrevesse, “mas quan-

a mim”. Descreve anteci­padamente seu fim por meio

de cinco retratos vividos da palavra:1) Retrata seu martírio iminente como se o

seu sangue fosse uma libação prestes a ser derramada no altar do sacrifício;

2) Descreve sua partida desta vida como se fosse um navio levantando a âncora ao deixar a orla, ou como um soldado que rapidamente desmonta sua barraca antes de uma marcha. “O que para Timóteo poderia parecer o fim, para o apóstolo parece ser uma gloriosa nova era quando será libertado de todas as aflições presentes” (Guthrie, 1990, 169)-Os próximos três retratos da palavra (v. 7) são fundamentados em três verbos no tempo perfeito, indicando, deste modo, a culminação ou conclusão.

3) Paulo conclui dizendo que sua competi­ção ou luta, representada pelo simbolis­mo atlético ou militar, foi um bom com­bate;

4) Comenta que concluiu sua carreira, usando a metáfora atlética de uma corrida a pé. Sua preocupação não era chegar antes dos outros, mas terminar sua carreka tendo feito o melhor possível;

O Coliseu, em Roma, onde se pode ver as dependênci­as abaixo do piso da arena, onde os escravos treinavam com o gladiadores; os prisio­neiros e os animais aguar­davam a hora de entrar na arena e lutar até à morte, em um esporte considerado como entretenim ento pelos romanos.

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5) Ele guardou a “fé". Esta frase tem amplas possibilidades metafóricas. Os estudiosos sugerem que a frase se refira à “promessa do atleta de obedecer às regras” (Easton), ou ao “juramento de fidelidade feito pelo militar” (Calvin), ou à “metáfora de um mordomo” (Guthrie), ou a uma “declara­ção de negócios que tem a finalidade de manter um compromisso” (Deissmann) (to­dos citados por Guthrie, 1990, 169-170). De qualquer modo, o apóstolo permane­ceu fiel e verdadeiro.No versículo 8 Paulo retoma mais uma

vez à metáfora atlética, desta vez se refe­rindo à escatologia. A coroa de louro ou laurel (a coroa do vencedor) lhe está se­guramente reservada no céu. Os estudi­osos diferem em suas opiniões a respei­to do que seja esta “coroa da justiça”. Fee (1988,290) explica que alguns se referem a esta como “o prêmio por uma vida jus­ta” (Bernard, Barrett e Kelly); Pfitzner argumenta que esta coroa “consiste no dom da justiça, que só um Juiz, por ser abso­lutamente Justo, pode dar”. Fee (ibid.) conclui que a justiça final é concedida aos crentes, “não necessariamente como um prêmio por suas realizações ou obras”, mas porque já receberam a justiça de Cristo.

A coroa da justiça não é uma exclusivi­dade de Paulo; uma outra também está sendo preparada por Deus para Timóteo (se ele permanecer fiel) e outras para “todos os que amarem a sua vinda”. Todo aquele que renunciou a seus desejos pessoais a fim de fazer a vontade de Cristo tem uma co­roa de justiça reservada no céu.

6. Conclusão: Considerações Finais (4 .9 -22 )

Estes versos finais fonnam o clímax da carta, as palavras particulares do apóstolo a um amigo íntimo. Ao preparar-se para o final de sua vida, fica claro que o grande após­tolo está sofrendo por causa da solidão.

6.1. Observações Pessoais (4.9-13)

6.1.1. Venha Depressa! (4 .9 -l la ) Seuprimeiro pedido é que Timóteo faça o possível para vir rapidamente a Roma. Embora a morte de Paulo seja iminente, ele espera

que a demora no sistema judicial romano permita um tempo suficiente para que Timóteo faça a viagem e partilhe com eie a comunhão pela última vez.

O apóstolo então explica por que es:i só. Demas o desamparou, tendo escolhi­do amar o mundo presente mais do que a vinda de Cristo. Ele compartilha a experi­ência de nosso Salvador ao sentir-se abatt- donado. Crescente e Tito também pari­ram, provavelmente a serviço do ministé­rio; Crescente para a Galácia (naAsia Mencr. atual Turquia) e Tito para a Dalmácia (o antigo Ilírico, atual região da extinta Iugo>- lávia). Lucas é o único cooperador que es^ presente com Paulo.

6.1.2. Traga Marcos consigo (4.11b > Paulo pede a Timóteo que quando vier traga consigo a Marcos (João Marcos). Na pri­meira viagem missionária de Paulo, Mar­cos, um parente de Bamabé, deixou a missã: (At 13.13). Ainda que Barnabé estivesse dis­posto a perdoar Marcos e dar-lhe uma segundi chance em sua segunda viagem missionária o apóstolo não estava disposto a fazê-li A contenda entre Paulo e Barnabé foi tâ : grande que o grupo ministerial se sepa­rou, partindo para direções diferentes < Ai15 -36-41). Nos anos seguintes, porém, Marcos cresceu e amadureceu espiritualmente. ■ que fez com que Paulo mudasse sua ati­tude a seu respeito. Trabalharam juntos no­vamente (Cl 4.10; Fm 24). Agora, encam- nhando-se para o final de sua vida, Pau.: faz o seguinte pedido a Timóteo: “Tomi Marcos [implicando que este não estava em Éfeso] e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”. O Senh:: restabeleceu os sentimentos e trouxe a reconciliação que restaurou uma parcen positiva de mútua edificação, e contribui _ muito para o ministério de Cristo.

6.1.3. Tíquicoé recomendado (4.12 L Guthrie explica que as freqüentes refe­rências a Tíquico nos escritos de Paulj ilustram que ele era um cooperador c c '- fiável. Ele foi o portador das Cartas aos Colossenses e aos Efésios, e provavelmenreo vocabulário deste verso indique que Tíquico também seja o portador desta cars. de Paulo a Timóteo. É mais provável que Paulo esteja enviando Tíquico a Éfeso co a

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a missão de continuar o ministério em Éfeso, substituindo Timóteo durante sua ausência, enquanto visita Paulo em Roma (cf. Tt 3.12) 'Guthrie, 1990, 173).

6.1.4. Traga três Coisas (4.13). O triplo redido de Paulo a Timóteo oferece uma idéia de sua condição presente e de seus interesses pessoais. Parece que o após- : :>lo foi preso em Mileto (cf. v. 20), em vi­agem a Nicópolis através de Corinto, ou emTrôade, onde deixou sua capa na casa

Carpo. Era um grande artigo de vestu­ário, pesado, sem mangas, de lã, em for­mato circular com uma abertura no cen­tro para a cabeça. Protegia da chuva e do :rio, especialmente durante as viagens Rienecker, 1980, 649). Esta capa quente

■eria uma bênção no inverno que se apro- rmava, o que pode indicar que o lugar :nde Paulo estava preso era uma fria nasmorra. O apóstolo esperava que Ti­móteo seguisse a mesma rota que seguiu

Éfeso a Roma, pedindo-lhe então que uxesse sua capa.0 apóstolo também pede seus “livros, cipalmente os pergaminhos”. Aprimeira

avra se refere aos rolos de papiro, a se­da a códices de pergaminho (livros for-

dos por folhas ou por partes presas nas emidades). O primeiro item era bara-

feito de um tipo de cana e usado para ‘ pósitos gerais; o segundo era caro, feito peles de animais, muito duráveis, e .rvado para documentos importantes, “livros” podiam ser uma coleção pes-1 de Paulo de livros bíblicos, ou talvez mesmo seu estoque de papiro para

linuar sua correspondência com as igre jas. ■pergaminhos” poderiam ser documentos ajs de Paulo, como seu certificado dedania romana, escritos do Antigo Tes- ento, ou pré-escritos do Novo Testa- ~to das palavras e obras do Senhor Jesus to. Em meio à solidão e ao desconfor-

enfrentados por Paulo, ele aparentemente :nejou obter forças meditando na Pala-

ta de Deus, e talvez desejasse até mes- io continuar a fortalecer os demais cris-

, através de seus escritos.

6.2. Com partilhando um a Advertência: Tenha

Cuidado com A lexandre (4 .14,15)

6.2 .1 . “O Latoeiro Causou-me mui­tos Males” (4 .1 4 ). Fee (1988, 296) suge­re que foi Alexandre quem prendeu Paulo. Seu grande dano foi traduzido pelo apóstolo do seguinte modo: “... causou-me mui­tos males” (Guthrie, 1990, 175); o verbo empregado nesta passagem é freqüente­mente usado em um sentido legal para o trabalho do informante (Fee, 1988, 296).

6.2.2. Guarda-te também dele! (4 .15) A forte oposição de Alexandre “às nossas palavras” ou “à nossa mensagem” pode referir- se à sua resistência ao evangelho que Pau­lo pregava, ou a ser uma testemunha de acu­sação no processo de julgamento de Pau­lo. Timóteo é aconselhado a estar em guarda contra Alexandre.

Quem era este Alexandre, o latoeiro? Pode ter sido uma pessoa sobre quem não temos nenhum registro bíblico, ou o judeu que tentou acalmar a revolta em Éfeso (At 19-33,34), ou a pessoa que junto com Himeneu foi entregue por Paulo a Satanás (1 Tm 1.19,20). Nos dois últimos exemplos, pode-se estar tratando da mesma pessoa. Talvez Alexandre tenha procurado vingar-se de Paulo. Pode ter sido o responsável pelo encarceramento e martírio do apóstolo. Mas “o apóstolo restringe seu ressentimento natural citando as pala­vras do Salmo 62.12” (Guthrie, 1990,174): “... o Senhor lhe pague segundo as suas obras” (2T m 4.l4).

6.3- O Testemunho em m eio às D ificuldades (4.16-18)

6 .3 .1 . Todos m e D esam p araram(4 .1 6 ). Talvez a lembrança da capa que deixou em Trôade tenha feito Paulo se lembrar de sua prisão, e conseqüente­mente de Alexandre, que por sua vez agora o faz recordar de sua primeira defesa (pro­vavelmente o prim a actio romano, seme­lhante a uma audiência do grande júri ou uma audiência preliminar ante o im­perador ou um magistrado; veja Fee, 1988, 296). Embora naquela audiência Paulo tenha ficado só, oferece o perdão a to­dos aqueles que o abandonaram.

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6.3-2. Porém Deus Estava Presente(4 .17). Em contraste com todos aqueles que o deixaram, o apóstolo diz: “...o Se­nhor assistiu-me e fortaleceu-me”. A pre­sença de Cristo fortaleceu Paulo, fazendo com que se sentisse seguro. Assim como em Atos 24.1-20 (cf. 26.1-32), usou seu jul­gamento como uma oportunidade para dar um testemunho a respeito de Cristo; “para qüe”, disse Paulo, “por mim, fosse cum­prida a pregação e todos os gentios a ou­vissem” . A “boca do leão” mencionada pelo apóstolo foi variavelmente inteipretada como uma referência a Satanás, a Nero, ou à própria morte. A última opção é fortalecida pelo Salmo 22, cujo conteúdo parece fazer parte deste contexto literário (cf. 22.1,4,5,21).

6.3 .3 . Ele sem pre Estará Presente(4.18). O recente livramento (w. 16,17) faz com que Paulo se lembre da fidelidade de Deus, que sem dúvida nunca falha, e que sempre o salvará “para o ... Reino celestial” de Cristo. Fee (1988, 298) resume:

Mais uma vez o enfoque da carta está na escatologia, na forma de uma das certezas triunfantes de Paulo: O após­tolo verá, por meio da consumação fi­nal, aquilo que Deus já realizou em Cristo;o Senhor realmente completará a sal­vação que Ele mesmo iniciou.

E esta verdade pede palavras de glori­ficação a Deus em forma de doxologia: “A quem seja glória para todo o sempre. Amém!” Apesar da realidade de sua terrí­vel situação presente, o apóstolo olha em direção àquEle que é maior! Deus é a sua glória e aquEle que levanta a sua cabeça.

6.4. Palavras de D espedida (4.19-22)

6.4.1. Saudação a três Irm ãos (4.19).Paulo envia saudações a vários membros proeminentes da congregação de Timóteo. Priscila (em grego, Priskd) e Áquila foram os primeiros pastores da Igreja em Éfeso, a qual será liderada porTimóteo, que está sendo preparado por Paulo. Priska é um nome feminino da classe patrícia (a classe privi­legiada dos cidadãos romanos, a classe

governante cuja designação deriva da pa­lavra romana que dá origem ao termo "se­nador”). Os romanos freqüentemente abre­viavam os nomes pela metade; por exem­plo, Silas, o nome do companheiro de Paul: emsuasegundaviagemmissionária(Atl5.-k . é o diminutivo de Silvano, o amanuense a quem Paulo ditou as Cartas aos Tessaloir- censes (cf. 1 Ts 1.1; 2 Ts 1.1).

Priscila e Áquila são o casal de Rocü que originalmente encontrou Paulo em sua segunda viagem missionária em Corintc. onde os três viveram e trabalharam junms fabricando tendas, e no ministério duran­te um ano e seis meses (At 18.1-11). Quand Paulo deixou Corinto, eles o acompanha ram a Éfeso. O apóstolo os deixou comi 3 os primeiros pastores daquela congrega­ção que estava em fase de formação (« a18,19). Ali, este casal tomou Apoio, o granae evangelista de Alexandria, em particular, e ensinaram-lhe a respeito de Deus c c a precisão (w . 24-28).

Quatro, das seis vezes em que este c*- sal é mencionado por Paulo (em suas cap­tas) ou por Lucas (em Atos), o nome da esposa é mencionado em primeiro luzzr (um fato completamente incomum no sécuo I). A partir dos registros bíblicos de se^ ministério, e em virtude do elevado nncj da educação das mulheres da classe patriaL. os estudiosos concluíram que Priscila tese um papel público mais proeminente 3 :» ministério do que seu marido. É im portai* notar que a liderança espiritual de Prií d a nunca foi desacreditada ou depreciada p:*r Paulo ou Lucas — tanto ela como ÁquSa eram queridos e respeitados por seu cra- balho em prol da pregação do evangelò: A igreja se reunia em sua casa, tanto e a Éfeso como em Roma (Rm 16.3-5; 1 Co 16.1%.

Existem muitos casais nos círculos ptn- tecostais e carismáticos que são parcerrs no ministério. Alguns cônjuges desemre- nham funções de liderança igualmente rz- portantes; em alguns casos o marido asssf me a liderança, e em outros, a esposa. Pcsda e Áquila são um modelo, não apenas de uai casal que é parceiro no ministério, mas tararem um modelo de casal que faz pleno us-c d: h dons concedidos por Deus, de modo rue pode-se considerar tão positivo uma m -

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lher estar em uma posição de liderança acima do homem, assim como o inverso.

A saudação à “casa de Onesíforo” (sem incluir uma saudação específica a ele) sugere que este irmão já tivesse morrido (veja comentários sobre 1.16-18). A referência à sua casa pode se aplicar à sua família, aos seus parentes e/ou aos seus escravos, ou até mesmo a uma igreja que provavel­mente se reunisse em sua casa.

6.4.2. Notícias sobre dois Innãos(4.20). Paulo dá detalhes sobre mais dois coope- radores. Erasto ficou em Corinto; Trófimo permaneceu em Mileto em virtude de uma enfermidade. Existia um oficial (procura­dor) da cidade de Corinto que se chamava Erasto (Rm 16.23), eumcooperadordePaulo comomesmonome (At 19.22); émais provável que Paulo esteja se referindo ao segundo.

6.4.3. Venhaantes do Inverno! (4.21a) Paulo apressa Timóteo, não só porque precisa de sua capa por causa do inverno, mas tam­bém porque a navegação era interrompi­da de novembro a março.

6 .4 .4 . Estes quatro (e os dem ais) o Saúdam (4 .2 1 b ). Paulo envia a Timó­

teo e à igreja de Éfeso saudações de al­guns de seus amigos em Roma. Êubulo, Pudente (ou Prudente), Lino e Cláudia são quatro nomes latinos, indicando que a congregação local continha crentes ro­manos e, provavelmente, líderes roma­nos. É notável que o quarto nome seja de uma mulher. Todos os irmãos e irmãs de Roma são incluídos na saudação de Paulo a Timóteo e aos efésios.

6.4 .5 . Conclusão (4 .2 2 ). A despedi­da final de Paulo é uma conclusão em duas partes: uma bênção pessoal a Timóteo e “graça” a todos. As últimas palavras regis­tradas nos escritos do apóstolo Paulo ex­pressam uma oração para que a graça de Deus esteja com todo o seu povo.

NOTA

1 As tendências ao gnosticismo podem ter sido o contexto teológico pelo qual foi necessário que Paulo explicasse em 1 Coríntios 12.3 que chamar Jesus de aná- tema não condiz com a reivindicação de ser um crente cheio do Espírito.