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Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.) ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

1º Catálogo ASAS

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1º Catálogo de ações do projeto ASAS

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Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.)

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

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Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.)ASAS . Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra

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ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA - ASAS

Professora CoordenadoraNatacha Silva de Araújo Rena

Professora ParticipanteJuliana Pontes Ribeiro

Técnicos Dimas Pereira Guimarães Éder Jorge de AlmeidaÉder Peixoto Maria Crisóstomo Ramos

Psicóloga VoluntáriaÉrica Silva do Espírito Santo

Estudantes BolsistasAna Luisa Ferreira . Bruno Elias Gomes de Oliveira . Cristiane Pereira Araújo SilvaDaniel Patrick Cordeiro Pimentel . Eduardo Goulart de Macedo . Felipe Sales Melo FrancoJoanna Sanglard Bernardes . Pedro Duarte Sena de Oliveira . Pedro Ivo . Rafael Miranda Barbosa Rodrigo FrancoMattar

Estudantes ColaboradoresDisciplina Artesanato e Design 2007/2008André Machado . Carolina Furtado . Cinira Morais . Daniela Coelho . Daniele TondatoDébora Maffia . Fernanda Pereira . Guilherme Deriz . Guilherme Santos . Ivana de AlmeidaLara Pinheiro . Leliane Peixoto . Letícia Grissi Lucas Diniz . Luiza Mascarenhas . Matheus Rocha . Pablo Codeglia . Rafaela Valadão Tiara Brito

Estudantes Voluntários Alisson dos Prazeres . Andressa Furtado Calixto Diego Silva . Fernando Vasconcelos . Guilherme Bonsato Deriz . Ingrid Sander . Karina de Oliveira Leite . Leonardo Monte Alto Pacheco . Priscila Soares da Silva . Rachel Grandinetti . Reinaldo Rocha . Tatiana Lemos

Artesãos CapacitadosCleuza Maria Pires Dias . Ellen Cristina Pires Dias Elzy Nunes de Oliveira Ferreira . Etelvina Xavier de Almeida . Gabriella Estefane Santos de Souza Gonçalo Nascimento Santos . Joana Rodrigues de Souza . Loslane Pasos de Oliveira . Maria do Carmo da Rocha . Peterson Linker S. Rodrigues Shirley Maria Araújo . Suzana Marília dos Anjos Oliveira . Yasmin T. Gonçalves

AGRADECIMENTOS

Anderson Matos . Cleonice Bráz da Silva . Débora Gonçalves de Oliveira . Igor Rios . Jaqueline Dias Juliana Myhra Karina Leite . Patrícia Aun . Pedro Moraes . Tânia Porto Thiago Bones . Vinícius Glico Patricia de Aguiar Paes . Meninas da cozinha: Eliane Magalhães (Lili), Iva e Marta. Parceria: Cassius Silva Pereira (Raiz da Terra)

ReitorProf. Antonio Tomé Loures

Vice-reitoraProf.ª Maria da Conceição Rocha

Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e ExtensãoProf. Eduardo Martins de Lima

Pró-reitora de Planejamento e AdministraçãoProf.ª Valéria Cunha Figueiredo

Coordenador Geral de PesquisaProf.ª Rúbia Carneiro Neves

Coordenador Geral de ExtensãoProf. Osvaldo Manoel Corrêa

Coordenadora do setor de relações internacionais | Prof.ª Astréia Soares Batista

Assessoria de Ensino de GraduaçãoProf. Luiz Antônio Melgaço Nunes Branco

Diretoria de Desenvolvimento SustentávelMaria Luiza Pinto e Paiva

Superintendência de Ação SocialLaura Oltramare

Coordenação da área de projetos sociaisAndréa Regina

Coordenação do Concurso Banco RealUniversidade SolidáriaEloisa Martins

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - FEA

Diretor GeralProf. Luiz de Lacerda Júnior

Diretor de EnsinoProf. Lúcio Flávio Nunes Moreira

Diretor Administrativo-FinanceiroProf. Fernando Antônio Lopes Reis

Coordenadora Geral do Curso de DesignProfª Ângela Souza Lima Coordenadores por Habilitação D. Gráfico | Prof. Guilherme Guazzi Rodrigues D. Interiores | Profª. Maria Fernanda Loureiro D. Produto | Prof. Eliseu de Rezende Santos D. Moda | Profª Gabriela Maria Torres

PROJETO CATÁLOGO ASAS

CoordenaçãoProf.ª Juliana Pontes Ribeiro

Direção de arteProf.ª Juliana Pontes e Natacha Rena

Design / Projeto GráficoCris Araújo

FotografiasCris AraújoEduardo GoulartJuliana Pontes Joanna SanglardNatacha RenaSérgio Amzalak . Tatarana Imagem

Revisão de textosRachel Murta

Gerência de ProjetosDaniela Lemos

Consultores voluntários e sócios-fundadoresProf. Dr. Waldenor Barros Moraes FilhoProf. Dr. Luiz Fernando Coelho de Souza

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A798

Asas: Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra Organizadoras Juliana Pontes Ribeiro e Natacha Rena. Belo Horizonte: Editora Faculdade de Engenharia e Arquitetura FEA - Universidade FUMEC, 2009.

136 p.: il. (possui fotografias).Vários autores.

ISBN 978-85-61258-05-4.

1. Design. 2. Artesanato. 3. Economia solidária. 4. Almofadas. 5. Estampas. I. Ribeiro, Juliana Pontes II. Rena, Natacha. III. Título.

CDD: 745.098151CDU: 745(815.1)

Informação bibliográfica conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

RIBEIRO, Juliana Pontes; RENA, Natacha (Org.). Asas: Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra. Belo Horizonte: Editora Faculdade de Engenharia e Arquitetura FEA-Universidade FUMEC, 2009. 136 p. ISBN 978-85-61258-05-4.

instituições parceiras. índice

design social02

Projeto ASAS: autonomia e empodera-mento por meio do artesanato solidário

Identidade: processo construtivo

A estamparia como capacitação profissional

Psicologia e a estruturação de grupo

Depoimentos: alunos bolsistas

018

Fumec

UniSol . Banco Real - Grupo Santander

Escola Municipal Padre Guilherme Peters

008

paralelas03

Eco-Bags

Parceria Raiz da Terra

Concurso Almofadas

Muros Estampados

Oficina Pinhole

Exposição Aglomeradas

Oficina de Texto

070

registro das criações04

102

portfolio asas05

120

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12 13

instituiçõesparceiras

01

Page 7: 1º Catálogo ASAS

14

fumecconstruindo o conhecimento

15

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16

Prof. Antônio Tomé LouresReitor da Universidade Fumec

A troca de saberes constitui a base de projetos como

o ASAS – Artesanato Solidário no Aglomerado da

Serra, consistindo em princípio fundador da ação

comprometida com o aprendizado e a necessária

mudança social. Fundamentalmente integradora,

a proposta realiza a missão social da Universidade

FUMEC, incentivando a produção e a efetiva socia-

lização do conhecimento.

Aprendemos, com a atividade artesanal, a sabedoria

da partilha construída em torno da experiência co-

municada; a arte da escuta, do silêncio e da narrativa

comprometida com a vida que perdura. Essa é a

postura de quem acredita na invenção de um futuro

em que o conhecimento se constrói, pacientemente,

na ação criadora; em forma de valores que conferem

sentido ao mundo compartilhado.

Formar profissionais comprometidos com a justiça

e a ética é desafio permanente da Universidade

FUMEC. O projeto ASAS exerce essa missão de forma

particular, convertendo-a em processo renovador,

em que a criação coletiva potencializa saberes e

valoriza o artesanato como fonte de aprendizado

permanente.

Assim, apresentar este catálogo à sociedade é mo-

tivo de grande satisfação para todos nós. Com a con-

clusão da proposta, comemoramos esta importante

conquista junto às comunidades da Universidade

FUMEC e do Aglomerado da Serra.

“No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do apren-

dido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que

é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas” - Paulo Freire

17

Foi assim que tudo teve o seu início, com uma Tática

de Sobrevivência envolvendo os moradores da Vila

Ponta Porá, comunidade pertencente à região cen-

tral de Belo Horizonte – MG, onde como resultados

“as pesquisadoras realizaram um vasto levantamento

de inventos - objetos e produtos do cotidiano - que

revelaram um enorme potencial do cidadão comum

(moradores expostos a situação de precariedade

econômica)”.

Sempre Savassi Design e Cultura é como o fio de

Ariadne que permitiu a saída da pesquisa para dar à

luz na extensão. Envolvendo parcerias com o CDL-

BH e o SEBRAE, esse projeto desenvolveu diversas

comunidades de artesãos, resultou na produção de

um texto e um catálogo; o primeiro, finalista em con-

curso, e o segundo produziu frutos como exposição

e menção honrosa.

No catálogo da Coleção 9+1, uma coleção temática

de nove almofadas quadradas e uma redonda

revelando temas ligados à história de vida de cada

artesã, registra-se a ação de extensão Artesanato

Solidário no Barreiro. Nesse projeto, novas parcerias

foram possíveis com a Associação da Terceira Idade e

Idosos do Barreiro (ASTIB) e a UNITEC – Nova Zelân-

dia com o seu suporte metodológico para ações de

responsabilidade social.

Esse constante aprender permitiu que as experiên-

cias adquiridas fossem aplicadas em Assis Brasil (AC)

e Jequitaí (MG) em incursões do Projeto Rondon. A

capacitação em artesanato e design de produtos e

mobiliários de bambu foram oficinas desenvolvidas

em Assis Brasil. Em Jequitaí uma nova coleção de

almofadas revelou em sua estamparia a história da

cidade em seu rio, no garimpo, na pesca, no trabalho

das lavadeiras, na religiosidade e outros temas.

A criação do grupo de pesquisa com o tema

Diferenças: Arte, Design, Arquitetura e Artesanto, no

CNPq, e a exposição no INHOTIM de uma coleção de

produtos com características iconográficas reco-

lhidas no próprio museu pareciam ser o fim dessa

jornada. Mas enquanto essas atividades estavam

em andamento, um novo edital em nível nacional

estava aberto, e o acumular de anos de experiências

se transformou no projeto Artesanato Solidário no

Aglomerado da Serra.

Os primeiros passos dessa nova caminhada estão

no Catálogo ASAS, que deve ser apreciado com o

olhar de admiração nos permitindo ver mais além

dos muitos focos de violência, tráfico de drogas e

desemprego instaurados nessa comunidade. É ver

com pasmo a capacidade de empoderamento que

a metodologia de criação a partir do conceito de

Artesanato Solidário teve no período de doze meses

para capacitar um grupo de multiplicadores que tem

por missão, em 2009, passar para novas gerações de

jovens e adolescentes o seu aprendizado, fazendo

funcionar a oficina de serigrafia.

Por fim, o agradecimento da Universidade FUMEC à

UNISOL (Banco Real), pela parceria que tornou pos-

sível este projeto, e pela sua renovação para o biênio

2009/2010.

Prof. Osvaldo Manoel CorrêaCoordenador do setor de extensão

“Conceituar é preciso, viver e tecer a trama da existência é preciso e registrar é mais que preciso”.

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unisol banco real . grupo santander

1919

Em uma comunidade, as atividades de cada indi-

víduo estão sempre interligadas de alguma maneira.

Quando um se beneficia, é muito provável que o

próximo seja atingido. Assim, os projetos sociais

que se baseiam em parceria de benefícios mútuos

podem conseguir multiplicadores e ser auto-susten-

táveis.

Acreditando nisso, o UniSol e o Banco Real - Grupo

Santander Brasil - apóiam, desde 2007, o projeto

ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra

- vencedor do 11º Concurso Banco Real Universidade

Solidária. Executado pela FUMEC/MG é um exemplo

de iniciativas que estimulam a participação ativa

da comunidade, e o envolvimento de professores,

estudantes, escola, prefeituras e ONGs na construção

de alternativas para problemas de ordem social,

econômica e ambiental da região.

Criado em 1996, o concurso Banco Real e Uni-

versidade Solidária estimula o engajamento de

estudantes e professores universitários na implemen-

tação de ações que promovam o desenvolvimento

social de comunidades de todo o País.

Essa parceria proporciona a implementação de proje-

tos sociais com a participação de Instituições de Ensi-

no Superior (IES) brasileiras, por meio de seu corpo

docente e discente em comunidades, trabalhando

na construção de soluções locais de desenvolvimen-

to sustentável e comunitário, e disseminado valores

de cidadania e de responsabilidade social aos jovens

universitários - futuros profissionais do país.

Em treze anos de atuação, o concurso já mobilizou

94 IES, 1.340 estudantes, 178 professores e benefi-

ciou direta e indiretamente mais de 4 mil pessoas em

todo Brasil, a partir da interação entre o conheci-

mento acadêmico e o popular.

Page 10: 1º Catálogo ASAS

20

escola municipal padre guilherme peters

2121

Márcia LibânioDiretora

Desde agosto de 2007 os alunos, funcionários e

pessoas da comunidade do Aglomerado da Serra

tem freqüentado as oficinas de capacitação que

acontecem na Universidade FUMEC.

O grupo ASAS (Artesanato Solidário no Aglomerado

da Serra) formado a partir da parceria entre a Univer-

sidade FUMEC, o Unisol/Banco Real e a Prefeitura de

Belo Horizonte tem realizado bons benefícios para

esta comunidade.

Duas vezes por semana o grupo se reuniu ao longo

do ano nas dependências da Universidade FUMEC.

Esses encontros, que propiciaram o contato com

alunos e professores universitários, fornecem ao

grupo o desenvolvimento das relações de trabalho

em espaços que eles poderiam ter dificuldades em

freqüentar.

Os alunos do grupo ASAS têm tido acesso a espaços

culturais da cidade, apresentando suas criações e

conhecendo artistas locais e de contexto nacional.

A montagem da cooperativa no espaço escolar

beneficiará tanto a comunidade quanto os alunos

da escola . Essa cooperativa será um exemplo a ser

seguido por eles. Aqueles alunos da escola que

tiverem interesse em fazer parte da cooperativa

poderão desenvolver as técnicas a partir do grupo

ASAS (futuros multiplicadores).

A Escola Municipal Padre Guilherme Peters se sente

honrada em fazer parte dessa parceria que trará mais

dignidade à comunidade. Hoje a cooperativa já não

é só um sonho distante. Ela já se tornou realidade!

Ao avaliarmos a parceria firmada nesse curto prazo

de tempo, só podemos ressaltar a importância do

compromisso social, principalmente em comu-

nidades carentes como a em que a escola está

inserida.

Page 11: 1º Catálogo ASAS

22 23

design social02

Page 12: 1º Catálogo ASAS

projeto asas: autonomia e empoderamento por meio do artesanato solidário

Designer, Mestre em Comunicação Social, professora do curso de graduação em Design Gráfico e pós-graduação na Universidade FUMEC e orientadora, junto com a profa. Natacha Rena, do projeto ASAS-UNISOL/Banco Real - Grupo Santander.

juliana pontes

Arquiteta, designer, professora dos cursos de Arquitetura e Design de Interiores na Universidade FUMEC; mestre em Arquitetura pela UFMG, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo e coordenadora do projeto ASAS-UNISOL/Banco Real - Grupo Santander.

natacha rena

Page 13: 1º Catálogo ASAS

longo do trabalho. Com ênfase nos processos

criativos que aconteçam de forma colaborativa

e na criação de uma metodologia específica

- que garanta sustentabilidade das ações

implementadas -, este projeto também objetivou

a criação de um mix de produtos com alto

valor agregado (acompanhados de catálogo

e exposição) que possa ser comercializado

em locais onde o público consumidor valorize

produtos realizados com responsabilidade

socioambiental. Outro objetivo já realizado

foi a montagem de uma oficina de criação e

produção em serigrafia na Escola Pe. Guilherme

Peters.

A comunidade específica escolhida para o

desenvolvimento do projeto aqui proposto é a

Escola Municipal Padre Guilherme Peters situada

dentro do conjunto de vilas e favelas de Belo

Horizonte denominado Aglomerado da Serra.

Essa escola pertencente à Vila Novo São Lucas

tem procurado parcerias para que seus alunos

possam se apropriar de novos conhecimentos

e novas tecnologias que os ajudem a enfrentar

novos ambientes educacionais e novos

ambientes de trabalho. A escola vai da Educação

Infantil até a oitava série do Ensino Fundamental,

e tem também no turno noturno a Educação de

Jovens e Adultos. Novas parcerias têm aberto

novos horizontes para esses jovens, que em sua

O Projeto ASAS (Artesanato

Solidário do Aglomerado da

Serra) teve a intenção de capacitar

um grupo de moradores do

Aglomerado da Serra para o

desenvolvimento de uma coleção

de produtos com características

singulares. O objetivo central

foi estabelecer um processo

sustentável de geração de renda

no Aglomerado da Serra (conjunto

de vilas e favelas da cidade de Belo

Horizonte) a partir do conceito de

autonomia criativa e produtiva

com foco no empoderamento

da comunidade. Dentro de um

conceito amplo de artesanato

solidário, desenvolveu-se uma

metodologia específica de criação

em artesanato e design com o

intuito de capacitar grupos de

artesãos para o desenvolvimento

de objetos inventivos e com

características singulares.

A idéia central dos projetos de

extensão que realizamos na

Universidade FUMEC é capacitar

grupos como multiplicadores

do conhecimento adquirido ao

¹ Rua Coronel Jorge Dário S/número . Bairro Novo São Lucas. Belo Horizonte . CEP 30.240-560

apresentação

26

maioria estão muito distantes da oportunidade do primeiro emprego ou

de exercer uma atividade econômica lucrativa e promissora por falta de

capacitação específica. O Aglomerado está localizado na chamada região

sul da cidade, setor residencial de alto poder aquisitivo (onde se encontra a

Universidade FUMEC).

Atualmente a prefeitura de Belo Horizonte está executando uma grande

obra de urbanização do Aglomerado (considerado um dos maiores

projetos de urbanização de favelas do País no momento), que inclui a

construção de uma via asfaltada de mão dupla que atravessará o conjunto

de vilas, ligando diretamente duas regiões da cidade. Há um investimento

real na melhoria das condições de vida da população local e na sua

inserção definitiva no contexto urbano, o que implica a educação e a

capacitação dessas pessoas para uma nova condição de trabalho e relação

social. O que acontece no caso específico da Escola Municipal Padre

Guilherme Peters é que a sua localização não é próxima das margens da

grande via a ser construída, o que resultou em um menor investimento

dos projetos citados acima nesta escola. Essa situação poderá produzir

um futuro desnível de oportunidades dentro do próprio Aglomerado,

acentuando ainda mais as questões ligadas ao desemprego à violência e à

exclusão social.

O Aglomerado da Serra possui uma grande dimensão populacional, com

muitos focos de violência e disputa de grupos ligados ao tráfico de drogas,

o que dificulta ações eficazes em todo o seu território. O foco nas escolas

municipais, começando com um projeto piloto em uma escola específica,

limita a ação a um campo fértil, que é o dos jovens em formação, pois

estes são as maiores vítimas do aliciamento para a atividade do tráfico e

da violência gerada por esta economia ilegal. A falta de infra-estrutura,

Possuía em 1999 uma população total por volta de 37.641 habitantes segundo dados da URBEL, mas segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, 45.920 pessoas e, segundo a imprensa Estado de Minas, 160.000 habitantes.

27

Page 14: 1º Catálogo ASAS

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recursos materiais e capital humano

nas escolas municipais é ainda um

grande empecilho para que essas

unidades sustentem projetos de

inserção econômica e capacitação

profissional adequadas à nossa

realidade social e às demandas do

mercado de consumo e serviços

hoje.

As escolas também podem ser

pontos de apoio permanentes

para que iniciativas como

essas se desenvolvam com

acompanhamento adequado e

previsão de continuidade, pois sem

esse tipo de suporte muitas boas

idéias, ações e projetos se perdem

por falta de investimentos em

longo prazo, gerenciamento das

atividades de formação, estruturas

de equipe para captar novos

recursos e orientar novas investidas

educacionais. Nesses espaços a

parceria entre o ensino tradicional

e o grupo de artesãos, por um lado,

complementa o ensino tradicional

e, por outro, amplia os horizontes

de atuação dos seus alunos e

professores.

28

Page 15: 1º Catálogo ASAS

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O Aglomerado da Serra possui

uma população com poder

aquisitivo baixíssimo, mas inserida

em uma das regiões com índice

socioeconômico mais alto da

cidade. Ao mesmo tempo a

Universidade FUMEC tem optado

estrategicamente por desenvolver

projetos de natureza social

nessa região, já que é vizinha

da Universidade e delimita um

campo de atuação solidária. Na

última pesquisa para a Prova

Brasil o índice socioeconômico

no Aglomerado foi de 1.1 numa

escala de 1 a 5. E aqui também há

uma justificativa concreta para a

escolha da Escola Municipal Padre

Guilherme Peters que, entre as

cinco escolas municipais existentes

no Aglomerado, conforme

comprovado pelo Prova Brasil,

é uma das duas escolas de mais

baixo índice socioeconômico da

cidade e com uma necessidade

imensa de melhorar a sua infra-

estrutura e estabelecer parcerias

externas que complementem o

processo educativo e respondam a

demandas a que a escola não pode

atender sozinha.

30

Page 16: 1º Catálogo ASAS

funciona aos sábados e domingos e oferece

oficinas de artesanato, de percussão, de

capoeira, informática e possivelmente a de

estamparia também poderá funcionar aos finais

de semana.

Outro fator essencial ao projeto é que a

prefeitura de Belo Horizonte ofereceu como

contrapartida a construção de um espaço

onde será instalada a oficina de estamparia,

cujos equipamentos e materiais de uso foram

financiados pelo Prêmio UNISOL/BANCO REAL.

A primeira turma formada poderá montar uma

associação que se auto-sustentará e que formará

novos trabalhadores ao capacitar os jovens,

dando-lhes também a oportunidade do primeiro

emprego e uma atitude empreendedora. A

escola funciona em horário integral e esses

futuros artesãos podem começar a aprender

tecnologias que em curto prazo poderão servir

para melhores condições de trabalho e de

vida. A idéia é que esta comunidade, com a

implementação de projetos como este, possa

iniciar a criação de uma rede de sustentabilidade

e economia solidária, melhorando sua condição

econômica, sua inserção social, diminuindo os

índices de violência local e aumentado a sua

auto-estima.

A oportunidade da parceria

com a Universidade FUMEC

tem proporcionado a um

grupo de alunos dessa escola

pertencente ao Aglomerado o

conhecimento de um ambiente

de estudo completo, de nível

superior, além do aprendizado

de técnicas inovadoras no design

de estamparia. Isso aconteceu

em uma primeira etapa, com

oficinas e aulas realizadas na

própria Universidade, utilizando

suas salas de aula, equipamentos

didáticos e o ateliê de estamparia.

Além disso, pode-se criar para a

comunidade, a partir da primeira

turma a freqüentar esse programa

de capacitação, a figura dos

multiplicadores, que serão pessoas

que participarão do projeto e

irão repassar o conhecimento

dando continuidade ao trabalho,

formando novos empreendedores

e até uma cooperativa para

trabalhar com confecções da

cidade e/ou do estado. Esses

multiplicadores poderão iniciar

outras pessoas da comunidade

inclusive na Escola Aberta, que

alteração da situação enfrentada e expectativas do projeto

32

O principal objetivo deste projeto foi

fomentar o artesanato como setor econômico

sustentável que valoriza a subjetividade

coletiva promovendo a melhoria da qualidade

de vida e a geração de renda. A intenção foi

propiciar a criação de produtos manufaturados

com possibilidade de comercialização em

mercados consumidores proeminentes como

feiras nacionais e eventos, além dos locais com

possibilidades de venda de produtos com alto

valor agregado. O projeto tem proporcionado

um cruzamento de ações de capacitação, tais

como orientação com metodologia específica

para trabalhar um reposicionamento subjetivo e

criativo do artesão de baixíssima renda perante

um novo mercado consumidor mais exigente

através: da formação de repertório estético geral

e histórico, além de incentivar a atualização

cultural (incluindo tendências na moda, no

design e na decoração). Após o lançamento

dos produtos, a idéia é que através de parcerias

estes sejam comercializados em pontos de

venda onde sejam valorizados como resultado e

processo de projetos de artesanato e design que

promovam inclusão social e geração de renda

em comunidades carentes.

Todo o trabalho proposto neste projeto objetiva

uma ampliação efetiva do repertório cultural

dos participantes do grupo através de aulas

teóricas sobre arte, cultura, design, arquitetura,

antropologia, ecologia e sustentabilidade. Passeios

culturais e visitas a exposições de arte também se

enquadram nessas ações, além da participação

do grupo em oficinas que possam envolver

outros grupos culturais já organizados na própria

comunidade. Esse tipo de artesanato abarca

produtos que atingem altos preços no mercado

nacional e também costumam ser os prediletos no

mercado de exportação.

Pretendeu-se neste projeto desenvolver a técnica

de estamparia para aplicação em produtos

variados. Percebemos que essa técnica, além

de valorizar o produto, também dá agilidade à

produção por conseguir uma reprodução em série

mesmo que por processos artesanais. Neste projeto

essa técnica engendrou uma enorme eficácia, já

que faz parte do universo estético contemporâneo

a idéia de aplicação de imagens colhidas pelos

artesãos como forma de revelar as relações entre a

identidade pessoal e o lugar.

Também são objetivos do projeto: ampliar as

oportunidades de trabalho e renda da população

envolvida em situação de risco pessoal e social

num projeto de inclusão social; promover o acesso

a tecnologias adequadas para o desenvolvimento

objetivo geral objetivos específicos

33

Page 17: 1º Catálogo ASAS

35

artesanal produtivo; utilizar

a inovação e a identidade

cultural como um dos fatores de

diferenciação do produto; educar

o olhar do grupo para perceber

soluções inventivas e sensíveis às

demandas objetivas e subjetivas

do homem urbano no seu próprio

cotidiano; promover a cultura da

cooperação estimulando a criação

e o fortalecimento de associações

e cooperativas; resgatar a cultura

urbana e jovem como fator de

agregação de valor ao artesanato;

disponibilizar informações sobre

a utilização racional dos recursos

naturais, segundo os postulados

da legislação ambiental; socializar

o acesso às informações e ao

conhecimento no âmbito do

setor artesanal; articular parcerias

para aumentar a participação

do artesanato na produção

nacional e para o conseqüente

fortalecimento do setor; melhorar

a auto-estima e a qualidade de

vida da população; desenvolver a

capacidade de criação e produção

coletiva.

34

Page 18: 1º Catálogo ASAS

global, como diz Octavio Ianni , “muitas

coisas desenraizam-se, parecendo flutuar

pelos espaços e tempos do presente”, ou seja,

mais do que tradições buscamos um diálogo

com a contemporaneidade. Desenvolvemos

procedimentos de pesquisa, de criação e de

produção que advenham da identidade a partir

da relação entre a cultura urbana e a cultura da

favela, para que seja possível construir um forte

laço identitário entre os artesãos e os produtos

criados. Ministramos um grande leque de

oficinas e aulas teóricas que possam dialogar

diretamente com o cotidiano deles.

primeiro momento

A primeira atividade da capacitação foi a

realização de um diagnóstico das qualidades

espaciais e estéticas do território cotidiano do

grupo a partir da experiência subjetiva de cada

um. A idéia foi fazer com que os participantes

descobrissem características cotidianas nunca

observadas, agora com um olhar estético que

revelasse o valor cultural das favelas e em

especial do território específico a que eles

pertencem. Esse diagnóstico foi elaborado

a partir de mapas subjetivos (produção de

imagens fotográficas e inúmeros desenhos,

mapas, colagens e anotações) construídos

coletivamente pelo grupo. A coleta dessas

Uma metodologia eficaz

para o desenvolvimento de

capacitação em artesanato que

tenha sustentabilidade surge

do entendimento de que só é

possível induzir grupos a criar

o novo quando se constrói um

vasto repertório (informações,

conceitos e instrumentalização),

através do qual os participantes

possam compreender a situação

atual da arte, do design e da

cultura contemporânea e que

sejam capazes de, a partir daí,

desenvolver futuras coleções de

produtos sem a dependência da

instrução de designers e artistas.

Nitidamente com um caráter

de inclusão social, este projeto

apresenta uma metodologia

específica para desenvolver

coleções de produtos artesanais

que se relacionem culturalmente

de forma direta com o universo

do Aglomerado da Serra. Ao

mesmo tempo que reforçamos

o contexto local do projeto nos

temas escolhidos para as estampas,

a concepção da linha de produtos

está ligada a um pensamento

metodologia de projeto

IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

36

informações tornou-se referência iconográfica

e conceitual para a criação dos produtos numa

etapa posterior.

segundo momento

Num segundo momento uma ação importante

para a capacitação foi a apresentação de

aulas teóricas (fundamentos de arte e design)

acompanhadas de exercícios práticos que

reforçaram o conhecimento adquirido de forma

empírica. Também foram ministradas aulas sobre:

elementos visuais e composição gráfica; o olhar

como forma diferenciada de percepção; história

da arte - do cubismo à arte contemporânea;

teoria da cor; tendências no design; design do

cotidiano e vernacular; arte popular e artesanato,

street art, etc. Essas aulas teóricas foram sempre

ilustradas com apresentações de imagens

dos conteúdos dados para gerar essa nova

bagagem de cultura visual, tão necessária para

a compreensão da estética e dos processos

criativos contemporâneos. Também foram

exibidos vídeos e filmes, entre documentários

e longa-metragens, que abordam questões da

arte e da cultura do século XX, peças de design

e artesanato contemporâneos. Além de aulas

expositivas, mas em momentos intercalados a

elas, produzimos oficinas práticas para oferecer

novos instrumentais (tanto para criação -

desenhos, pinturas, maquetes, colagens - quanto

para o desenvolvimento do protótipo - mistura de

muitas técnicas) através de procedimentos técnicos

híbridos. Portanto, esse trabalho de capacitação

em design e artesanato inclui uma série de ações

fundamentais para a construção do ambiente

criativo necessário.

terceiro momento

Numa etapa final do plano de capacitação, que

teve início em agosto de 2008, iniciamos as

oficinas de criação, nas quais foram efetivamente

trabalhados os produtos específicos para a coleção

final.

Acredita-se que somente com a consolidação do

conhecimento ao longo de oficinas, seminários,

visitas de estudo e com a produção de peças

com qualidade estética, cultural e eficácia

mercadológica é que um processo sustentável

pode ser iniciado nessa escola pública, já que

iremos construir e efetivar uma oficina de

estamparia para que futuramente não somente

alunos, mas também egressos possam continuar

gerando renda e se incluindo socialmente com

dignidade. Todo trabalho aconteceu com um

acompanhamento intensivo de todo o processo

criativo e da finalização dos produtos. A principal

idéia dessa metodologia é dotar os alunos de uma

nítida capacidade para gerar novos produtos a

partir de um processo criativo baseado na pesquisa

37

Page 19: 1º Catálogo ASAS

39

e na inovação. Mais do que

gerar produtos finais com forte

interferência do designer, esse

processo de capacitação deverá

estimular metodologias de criação

e desenvolvimento de produto.

A metodologia incluiu também

workshops para o desenvolvimento

de trabalhos em grupo e

identificação de lideranças.

Também fizeram parte dessa

etapa final: montagem da oficina

de criação e produção artesanal;

registro de todo o processo

através de fotografias e filmagens;

planejamento do catálogo, que

inclui a reunião de todas as

informações desde o processo

até o resultado final da coleção

e da oficina em funcionamento;

planejamento da exposição;

avaliação de todo o processo e do

resultado final; estabelecimento de

planos de continuidade do projeto

na escola específica e já início

do plano de ação para a próxima

escola do Aglomerado.

38

Page 20: 1º Catálogo ASAS

41

qualidade que foi comercializado pelas artesãs

individualmente.

Como desdobramento das atividades

acadêmicas envolvendo o projeto tivemos a

pintura dos muros da escola Padre Guilherme

Peters pelo alunos da disciplina Núcleo de

Projeto 2, do curso de Design Gráfico. As

imagens estampadas nas paredes da escola

foram resultado de oficinas realizadas com as

crianças e os adolescentes do Aglomerado,

focando em experiências de vida positivas

de cada um. A pintura foi encerrada com um

evento na própria escola, no qual a aluna

de Design de Moda Karina Leite apresentou

sua coleção de final de curso, toda feita com

estampas criadas pelas artesãs especialmente

para as suas peças. O desfile envolveu alunos

e familiares da comunidade, pois as modelos

também foram escolhidas no próprio

Aglomerado.

Outras atividades paralelas à criação da coleção

também foram desenvolvidas como um

estímulo criativo e oportunidade de integração

do grupo. Um exemplo foi a exposição

Aglomeradas, resultante de uma oficina de

pinhole realizada na FUMEC pelo Prof. Alexandre

Lopes. Cada artesã fotografou com uma caixa

de fósforo o seu cotidiano e essas imagens

foram ampliadas em acetato e montadas em

Além de o projeto ser

resultado da Premiação Nacional

no Concurso Unisol/Banco Real, ao

longo do trabalho conseguimos

uma parceria com a empresa Raiz

da Terra, que desenvolve e produz

camisetas ecológicas. A parceria

consistiu no desenvolvimento de

estampas exclusivas pelas artesãs

com o tema fauna e flora do

Aglomerado da Serra. A empresa,

além de produzir os modelos

de estampas criados por elas,

apresentou a coleção em Paris, em

um evento de moda ética. Esse

trabalho serviu para abrir portas

comerciais para o grupo, além de

consolidar e divulgar a marca do

ASAS.

As parcerias oficiais aconteceram

ao mesmo tempo que as

próprias artesãs começaram a

comercializar as suas ecobags,

que foram o primeiro produto

desenvolvido pelo grupo como

exercício. A atividade, de início, foi

encarada como uma prática para

o exercício da técnica e acabou

formando mais um produto de

desdobramentos

40

caixas de luz na cor preta, iluminadas por leds

eletrônicos na parte interna. A exposição foi

muito bem-sucedida e, além da repercussão na

mídia, fez as caixinhas de luz se tornarem mais

um produto comercializável para o grupo.

Enfim, projetos como este ressaltam a

importância da participação da Universidade

FUMEC em projetos de responsabilidade

social com uma atuação que abarque também

a pesquisa que tem o papel de consolidar

as questões acadêmicas, metodológicas

e conceituais para que os projetos de

extensão produzidos na própria universidade

relacionados ao tema (no caso o artesanato

urbano) tenham embasamento teórico e

projeção científica. Criam também um ambiente

coeso entre pesquisa e extensão em torno

da idéia de um Artesanato Solidário para que

possamos atuar ativamente junto aos órgãos

nacionais (e internacionais) de discussões

fundamentais para o desenvolvimento

econômico sustentável no País.

Page 21: 1º Catálogo ASAS

42 43

Page 22: 1º Catálogo ASAS

44

identidade: processoconstrutivo

Técnica em Comunicação Visual pelo Instituto de Arte e Projeto - INAP, cursando 7º período em design gráfico pela Universidade FUMEC.

cris araújo

Page 23: 1º Catálogo ASAS

A identidade visual ASAS foi desenvolvida a partir

da observação de fotografias

do Aglomerado da Serra.

Primeiramente foi realizado

um estudo das estruturas dos

barracões para, assim, podermos

retirar características para compor

as letras da identidade. Após esses

estudos iniciou-se um processo

de geração de alternativas para

adequação de letra/desenho.

Através das pesquisas locais

pôde-se perceber as seguintes

características passíveis de serem

transformadas em elementos

visuais: estruturas sobrepostas,

arranjos, diversidade de materiais,

becos e vielas, cores opacas, o

laranja constante dos tijolos e o

céu azul compondo a paisagem.

A partir desses elementos

iniciamos a construção da

identidade. A identidade teve

como característica blocos não

alinhados, espaços entre letras

fazendo alusão aos becos e vielas e

a estrutura grotesta que remete à

improvisação e à desuniformização

das casas aglomeradas.

46 47

Page 24: 1º Catálogo ASAS

cores:

LARANJA | cor da comunicação, simbolizando o projeto como agente comunicacional na comunidade e também por ser a cor mais predominate no Aglomerado, presente nos tijolos dos barracões.

AZUL ACINZENTADO | cor que remete a segurança e estabilidade, fazendo alusão à estruturação sólida do projeto proposto na comunidade e também por ser a junção do azul do céu ao cinza do asfalto bem visíveis no Aglomerado.

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

becos e vielas

base estrutural: tijolos

letras “blocos” desuniformes remetendo à estrutura dos barracões

49

Page 25: 1º Catálogo ASAS

v

psicologia e a estruturação do grupo

Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em agosto de 2005.

érica do espírito santo

Page 26: 1º Catálogo ASAS

Meu nome é Érica Silva do

Espírito Santo, sou psicóloga,

graduada pela Universidade Federal

de Minas Gerais em agosto de

2005. Desde que me formei venho

procurando formas de aprimorar

meus conhecimentos técnicos e

teóricos dentro de alguns campos

da vasta área de abrangência

da Psicologia. Uma área em

que comecei a trabalhar foi na

psicanálise, tanto individual quanto

com grupos.

Fui convidada a participar do

projeto ASAS para atender a

uma demanda de trabalho com

adolescentes. A princípio foi o que

me chamou atenção para o projeto,

pelo fato de eu já ter experiência

em trabalhos anteriores com

adolescentes do Aglomerado da

Serra. Meu primeiro encontro com

o grupo foi no dia 22 de março de

2009, e logo foi esclarecido que o

projeto havia sido pensado para

jovens, mas que tinha mudado de

foco. Acho importante tocar nesse

ponto, pois percebi logo que era

um incômodo do grupo que estava

lá, sete mulheres adultas e quatro

jovens, pois as mulheres mais velhas eram quem

estava “tocando” o grupo e o projeto era focado

para os jovens. Então este foi o primeiro ponto a

ser trabalhado com o grupo: definir quem era o

grupo e qual seria seu papel.

Por parte da equipe da FUMEC foi feita a

demanda para o trabalho com o grupo no

sentido de ajudá-lo a se fortalecer, para que ao

final do projeto tivesse autonomia para se manter

sozinho, já que o objetivo é que elas sejam

responsáveis por uma oficina de estamparia que

será montada dentro do Aglomerado.

Ficou estabelecido que meu horário de trabalho

com o grupo seria todas as terças-feiras, às 14h,

horário combinado com o grupo para que não

houvesse atrasos. No início muitas se atrasavam.

Aos poucos fomos criando um espaço de

trabalho em que foram aparecendo as questões

a serem trabalhadas e os incômodos. Fizemos

oficinas de agrupabilidade, com a intenção de

unir mais o grupo que ali se encontrava partindo

da idéia de que o grupo eram aquelas pessoas

que estavam ali, mesmo que isto contrariasse

a proposta inicial do projeto. Acredito que à

medida que os participantes foram percebendo

que eles eram o grupo, foram se apropriando

dele, foram assumindo papéis sem tanto receio

de que esse lugar fosse tomado mais tarde pelos

jovens.

52

O desenvolvimento do grupo parece ter sido modificado. Logo que cheguei, nos primeiros encontros, na fase

de observação, percebi que o grupo estava ainda imaturo, esperando respostas dos professores e dos bolsistas,

como alunos que recebem o conhecimento que foram ali, na universidade, buscar. Agora estamos em agosto

e já percebo que foi assumido um papel pelo grupo, um pouco mais de iniciativa, de organização, ou seja,

um pouco mais de autonomia. As oito mulheres que são o que chamo de “coração” do grupo já fizeram suas

primeiras reuniões entre si, independentemente das professoras e dos bolsistas e parecem já participar mais

ativamente desse trabalho que no futuro será o trabalho delas.

O que percebo claramente é que houve uma mudança de um estado de dependência absoluta do grupo

em relação ao corpo de professores e alunos da FUMEC para um estado de dependência relativa, fazendo um

paralelo com as fases de desenvolvimento do indivíduo. E o objetivo deste trabalho é que este grupo continue

caminhando no sentido de chegar a uma independência, para que possa caminhar pelas próprias pernas.

Acho importante destacar também a importância que percebo deste projeto para a auto-estima dessas

mulheres, moradoras do aglomerado, que não tiveram oportunidade de cursar uma faculdade e, cada dia

mais, se sentem capazes de, além de buscar novas possibilidades para suas vidas, passar o conhecimento que

acumularam ao longo de suas vidas. Todas trazem uma bagagem que vão compartilhando aos poucos, vão se

sentindo importantes dentro do que é valorizado no projeto, vão percebendo que elas são o valor deste projeto

e se sentindo mais convictas para seguir adiante.

Há dificuldades de horário, de tempo, de dinheiro para ir e vir, de aceitar as diferenças, de estabelecer regras –

situações normais que acontecem com qualquer grupo que se proponha a trabalhar junto.

Esse grupo tem traços fortes de união e de identidade entre si, por se tratar de mulheres maduras, em sua

maioria, habitantes da mesma região, que procuram no trabalho uma saída para o futuro.

Cada grupo tem uma estrutura e uma dinâmica. A estrutura é a forma de organização do grupo a partir da

identificação de seus membros. Dinâmicas são as forças de coesão e dispersão do grupo, e que fazem com que

se transforme, o que inclui: formação de normas, comunicação, cooperação, divisão de tarefas e distribuição

de poder e liderança. Pretendemos fortalecer ainda mais os laços já estabelecidos dentro do grupo até o

final do projeto. E, para o segundo semestre, foram programadas atividades que facilitassem a divisão de

papéis, que já está sendo esboçada pelas participantes em suas reuniões; atividades que esclareçam as regras

53

Page 27: 1º Catálogo ASAS

e normas estabelecidas pelo

grupo; atividades de facilitação

da comunicação tanto dentro do

grupo quanto de dentro para fora

do grupo, ou seja, a comunicação

do grupo com o mundo; atividades

de clarifiquem as lideranças ainda

mais e que promovam uma divisão

destas e do poder, a fim de que

não haja impressão de injustiça

ou privilégio. O intuito é fazer com

que cada integrante participe de

cada etapa e se sinta responsável

pelas escolhas que forem feitas.

É muito importante pra mim ver

que esse grupo já cresceu nesse

período e ainda crescerá muito

mais. Obviamente, tudo não se

deve ao trabalho psicológico que

vem sendo feito, mas ao trabalho

de toda a equipe e do próprio

grupo.

Para mim é importante participar

desse projeto pelo desafio, por

se tratar de um trabalho com

pessoas de outras áreas, com as

expectativas, com meus limites.

Ao longo do trabalho venho

procurando enriquecer meu

arcabouço teórico a fim de procurar respostas

para as perguntas que surgem a cada dia, para

expandir meu repertório de atividades e oficinas,

busca de novos livros, textos. Gostaria de enfatizar

também a importância da liberdade para trabalhar

desde o início, o grande acolhimento do grupo

da FUMEC, a compreensão quanto ao trabalho

que muitas vezes não deixa claro seus objetivos, e,

principalmente, a troca de conhecimento. Pois o

campo da psicologia é aberto para tudo que vem

de enriquecimento em relação ao ser humano

e acho que essa experiência proporciona esse

crescimento para todos os envolvidos.

54 55

Page 28: 1º Catálogo ASAS

56 57

Page 29: 1º Catálogo ASAS

58

a estamparia como capacitação profissional

Serígrafo e técnico da estamparia da Universidade FUMEC.

éder jorge de almeida

Page 30: 1º Catálogo ASAS

Meu nome é Éder Jorge

de Almeida, sou serígrafo e

desenvolvo trabalhos para

estamparia têxtil, com técnicas

que vão desde a pintura artesanal,

passando pela serigrafia plana

manual, até os processos

automatizados como carrosséis,

planas e cilindros, além de

comunicação visual e gravuras.

Como educador, atuo em projetos

de inclusão social (Sol da Serra),

capacitação profissional (Talentos

do Brasil), qualificação profissional

(Mulheres Criativas) e figurino

(Corpo Cidadão).

Quando comecei a desenvolver

o processo de estamparia dentro

do projeto Artesanato Solidário

no Aglomerado da Serra “ASAS”,

encontrei um grupo numeroso

que em princípio me assustou,

pois era um número muito acima

da capacidade do ateliê onde a

técnica seria desenvolvida, mas as

aulas teóricas que antecederam o

processo foram de fundamental

importância e grande aliadas na seleção natural

dos que realmente têm compromisso com o

trabalho em equipe.

Foi uma grande e decepcionante surpresa ver

que os mais jovens desistiram do projeto por

não poder “esperar”, mas sei que a culpa não é

deles. O projeto conjuga ações de educação e

profissionalização objetivando um conseqüente

crescimento econômico e distribuição de

renda, porém em longo prazo, e os mais jovens

infelizmente não podem esperar, uma vez que

a realidade social é cruel e os obriga a traçar

os próprios caminhos e, com certeza, só irão

perceber o quanto perderam quando for muito

tarde.

No decorrer das atividades tive medo

também de que o grupo ficasse eternamente

dependente dos colaboradores e não

conseguisse a autonomia suficiente para entrar

no mercado e enfrentar a concorrência em pé de

igualdade, mas esse medo passou depois de ver

que os remanescentes conseguiram superar os

conflitos internos e compreenderam que juntos

terão chances reais de se tornarem autônomos.

A autonomia do grupo (Etelvina, Elzy, Maria

do Carmo, Schirley, Susana, Joana e Gabriela)

60

ainda não foi conseguida, mas todos os exemplos de superação dados até o momento mostram que, com

o devido acompanhamento, em breve será conseguida. Vale lembrar que esse grupo, conseguiu absorver o

conhecimento transmitido pelos colaboradores do “ASAS” com o devido suporte, conseguiu desenvolver seus

produtos e está pronto para enfrentar uma banca.

Para aqueles que resistiram até agora, só tenho a agradecer pela tolerância e pelo carinho que sempre

demonstraram mesmo nos piores e mais difíceis dias de nossa parceria que só está começando. Para os que

desistiram, espero que se encontrem e reconheçam a importância de somar as forças em prol da melhoria da

qualidade de vida e do desenvolvimento.

61

Page 31: 1º Catálogo ASAS

62 63

Page 32: 1º Catálogo ASAS

64

depoimentos: alunos bolsistas da universidade fumec

Ana Luíza Ferreira . Bruno Oliveira . Cris Araújo Daniel Patrick . Eduardo Goulart . Felipe Franco Joana Sanglard . Rafael Barbosa . Rodrigo Mattar

Page 33: 1º Catálogo ASAS

66 67

ana luiza ferreira . design de moda

O Projeto ASAS coordenado pelas

professoras Natacha Rena e Juliana

Pontes foi uma oportunidade maravi-

lhosa em minha vida, tanto profis-

sional quando pessoal. Aprendi muito

com todo o grupo e especialmente

com as artesãs. Acredito que como

profissional me tornei uma pessoa

melhor e mais humana e amiga.

Como já existia em mim a vontade de

ajudar pessoas, acabei descobrindo

como me ajudar. E só tem agradecer

a todo o grupo.

bruno oliveira . ciência da computação

A oportunidade de participar do

ASAS surgiu em um momento de

questionamento de diversos aspectos

do design, suas metodologias, con-

textos e objetivos. Assim que entrei

para o projeto fui apresentado a um

universo de referências que não es-

perava: Hardt e Antonio Negri, Paola

Berestein Jacques, Michel Foucault,

Gilles Deleuze, Felix Guattar, entre

outros. Mais do que um aglomerado

de técnicas e materiais, o artesanato-

design se mostrou ser uma área de

desenvolvimento de habilidades e conceitos

cada vez mais inovadores. Quando percebi, o

projeto, que havia se tornado um real desafio,

colocando em xeque diversos posicionamentos

políticos, sociais, culturais, estéticos, havia tam-

bém influenciado atitudes tanto na minha vida

pessoal quanto na acadêmica. Novos materiais,

possibilidades, experimentações e conhecimen-

tos foram descobertos com o desenvolvimento

do projeto, e estes novos contextos foram (e

serão) definitivos para as minhas (futuras) de-

cisões profissionais: escolhas mais diferenciadas,

sustentáveis e conscientes.

cris araújo . design gráfico

O projeto Asas me proporcionou uma visão mais

crítica e ampla sobre projetos sociais sua eficá-

cia, seus objetivos, metodologias e até mesmo a

recepção desse tipo de ação nas comunidades

em que se desenvolvem. Além de aduzir alguns

conceitos a serem desenvolvidos na minha área

de formação: O Design Gráfico. O empenho do

grupo foi tão grande, que discussões teóricas

sobre o modo mais efetivo de capacitação,

conceitos, condução do projeto, processos

criativos e principalmente prática de ensino se

tornaram cada vez mais presentes em corre-

dores da universidade e essa troca de vivências e

daniel patrick . design gráfico

experiências têm acrescentado muito

na minha formação e vejo como

aprendizagem para toda a vida. Esse

projeto abriu ainda mais a minha

visão profissional para possibilidades

de atuação no mercado de trabalho

além de ratificar a minha vontade de

seguir carreira acadêmica, levando-

me a pensar conceitos para colaborar

com a área do Design/Artesanato, e

também de aprofundar as discussões

sobre metodologia de criação, ensino

e identidade cultural.

Participar do ASAS me proporcionou um grande

crescimento pessoal e acadêmico, possibilitando

um pensamento crítico em relação a minha

opção profissional e a inserção social. Confron-

tar minha formação acadêmica com a prática

através do choque de realidades tão distintas

trouxe um aprendizado único, levando-me a de-

senvolver metodologias específicas de trabalho

e a compreender a articulação entre o ensino,

pesquisa e extensão. Descobertas de um novo

olhar, questionamentos do que é belo, do que

é horrendo o que é conceitual, o que é grupo

e como se trabalha com ele, foram questões

constantes em nossos encontros;

questões essas que se aperfeiçoaram

a cada dia estimulando-nos a con-

tinuar na medida em que observáva-

mos a absorção do conteúdo, tudo

isso fez-me acreditar ainda mais no

design aliado ao artesanato como

forma de transformação do sujeito,

fazendo-o um agente cultural ativo,

transformador e confiante de suas

possibilidades criativas.

Page 34: 1º Catálogo ASAS

68

eduardo goulart . design gráfico

A alguns períodos acadêmicos atrás,

em meados de 2007 quando, então,

fui apresentado às coordenadoras

do projeto ASAS - as professoras da

Universidade FUMEC Natacha Rena,

primeiramente, e posteriormente

Juliana Pontes - eu, sim, deliberada-

mente sabia e imaginava que esta

seria uma ótima oportunidade, tanto

de desenvolvimento acadêmico,

quanto profissional.

Porém, não concebia a tamanha

distância que estava prestes a percor-

rer, em caminhos e experiências,

intrincados, dentro deste projeto de

extensão.

Cansativos e recompensadores -

em vistas de um aprimoramento

pessoal, no âmbito sócio-cultural,

aliado ao meu já citado almejado

avanço profissional, em novas bases

de aplicações teóricas e articulações

práticas, nunca antes por mim prova-

das, até então. Como Fotojornalista

deste longo e multidisciplinar projeto

de extensão da Universidade FUMEC,

em parceria com o Banco Real e a

ONG UNISOL, pude desempenhar

meu papel, em simultâneo tempo ao que,

pelas mesmas vias, aprimorei e desenvolvi

parâmetros de composição pessoais, como

criador imagético, lapidando e atravessando

níveis de evolução em meu trabalho, em

minha função de Fotógrafo, que venho a

algum tempo desempenhando e desenvol-

vendo, na Vida.

Tendo a Universidade FUMEC e o projeto ASAS

como plataformas de ações e articulações,

minha trajetória acadêmica e profissional ficou

positivamente marcada entre antes e depois

deste intenso ano, onde muitas dificuldades

construtivas marcaram minha presença no

grupo de trabalho, que envolveu e envolve

alunos bolsistas, coordenadores, professores,

voluntários e, especialmente, um grupo pe-

culiar de alunas e alunos, todos provenientes

do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte,

MG, que representaram o início de novos

horizontes, no campo que diz respeito ao

entendimento sociológico que tanto gosto de

explorar, e aplico no que desenvolvo, profis-

sionalmente, dentro do que venho criando e

intuindo em minhas visões do que costumo

chamar ‘fotojornalismo poético’.

Conversas, amizades formadas. Experiências

trocadas e co-vividas. Momentos solidificados

como potencializadores de meu currículo,

enquanto aluno de Design Gráfico nesta aca-

demia de ensino - são todos estes fatores que

marcaram minha experiência neste projeto

social, político, cultural e conceitual.

De forma pragmática (coisa que o ASAS me

ajudou substancialmente a desenvolver),

posso solidamente aqui testemunhar, quando

atesto que minhas habilidades foram noto-

riamente melhoradas, tanto tecnicamente,

quanto qualitativamente, como a pouco

pontuei:

• uma maior desenvoltura na capacidade de

realizar registros fotojornalísticos foi alcançada

por mim, como resultado desta experiência

com o projeto, com o aprimoramento de

habilidades composicionais e técnicas, assim

como as do cunho “relação corpo a corpo”,

com os objetos fotografados, uma vez que,

intensamente, semana a semana por mais

de um ano - a fio - e in-loco, estive clicando e

editando imagens de todo o processo desen-

volvido pelo grupo;

• um desenvolvimento de relações e contatos

de trabalho mais sólidos, mais articulados, e

conseqüente enriquecimento de meu cur-

rículo, como profissional da Imagética e de

Design Gráfico ;

• evoluções no campo das inter-

relações humanas, neste quesito que,

por efeito cascata, me dá repertório

de ação, quando perante novos

desafios e rumos profissionais, dentro

de meu caminho pessoal e de forma-

ção acadêmica e intelectual.

Eu honestamente agradeço a todos

os envolvidos neste projeto - sem

excessões: desde meus colegas de

trabalho e também alunos da Univer-

sidade FUMEC, passando pelas co-

ordenadoras Natacha Rena e Juliana

Pontes, parceiros e profissionais de

diversas áreas envolvidas voluntários,

patrocinadores e responsáveis afins,

até, finalmente, à razão de tudo que

aqui é apresentado : este grupo de

alunos e alunas que muito trouxe-

ram para nós todos, não somente

levando para si um valioso empode-

ramento de vida e profissional, mas

deixando, em contrapartida, extenso

terreno de atuação e experiências

práticas e vivenciais, enriquecedores

para qualquer um de nós, emer-

gentes profissionais, em vias de

solidificação conceitual, cultural e

humana, em nossas áreas de atuação

individuais. Certamente assim o foi, e

continua a ser, para mim.

69

Page 35: 1º Catálogo ASAS

70

felipe sales melo franco . design de produto

joanna sanglard . design de produto

Fazer parte do projeto ASAS é para

mim uma experiência a que nada

é comparável. Primeiramente a

estranheza e ao mesmo tempo a

curiosidade de poder transformar

uma realidade que é tão diferente

da minha, e através deste processo

de transformação vir a me conhecer

cada dia melhor. Acredito que a

vivência dessa alteridade entre mun-

dos tão diversos possibilitou definir

minha linha de atuação no mercado

como designer. É muito bom poder

utilizar minha profissão, todos esses anos de fac-

uldade para ajudar pessoas menos favorecidas,

pois ajudando os outros eu ajudo a mim mesma,

uma vez que estamos todos interconectados.

Nas primeiras visitas ao Aglomerado me intriga-

va pensar em como aquele império é construído

dia a dia, retalho a retalho, com seus constantes

puxados e achados das ruas. Outra experiên-

cia significativa foi o vice-e-versa, quando as

pessoas do Aglomerado vieram a primeira vez

à universidade conhecer o meu então “mundo

formal”. Percorremos laboratórios, salas de aula,

No período de um ano só aprendi.

Não foi fácil como pensei, o que é

muito bom! Aprendi a respeitar o

próximo, a ver realidades e mundos

distintos no mesmo lugar. Aprendi a

pintar, fazer contas, criar, sorrir, dizer

não. Aprendi que, por mais tarde que

seja, conseguimos mudar, aprender,

ter esperança. Aprendi a planejar,

executar, trabalhar em equipe.

Aprendi a ajudar, ser ouvido e ouvir.

oficinas, biblioteca, cantina, etc, fazendo

analogias com os percursos da favela; os dois

contextos (favela e universidade) possuem

seus atalhos, caminhos peculiares, traçados e

percursos, becos e trajetos sem saída.

E como será viver na favela onde todo mundo

é igual e “alguns não existem”, segundo relato

de uma moradora sobre os constantes “gatos

de luz” feitos: “sabe como eu descobri que o lugar

em que eu moro não existe no mapa? A CEMIG

cortou a luz, fizemos gato, daí levaram embora, e

fizemos gato de novo, falaram que o Beco Gomes

não existe no mapa, será que eu não existo?”.

Portanto são muitas as lucubrações sobre as

inconstâncias da favela, é terra de ninguém,

logo, de todos.

Do individual ao coletivo, metodologias

começam a ser propostas por eles mesmos,

um sinal de que enxergam que o ponto gera-

dor (e inspirador) de todo esse processo é nada

mais que seu contexto e suas possibilidades. É

interessante ver como mergulham no mundo

em que sempre viveram, mas de uma forma

diferente agora.

A cada dia dessa vivência surgem novos

questionamentos, caminhos e possibilidades,

dando a oportunidade a nós, estudantes, de

atuarmos na realidade que está debaixo dos

nossos olhos e aos moradores da

comunidade, de exaltar o que há de

bom na favela, trazendo novas pos-

sibilidades de renda e trabalho.

Outro ponto fundamental é a

multidisciplinaridade que existe no

projeto, proporcionando um apren-

dizado mútuo pela união de diversos

conceitos e preceitos, e também a

eficácia da ação, contribuindo para

uma melhoria efetiva da comuni-

dade do Aglomerado.

inserir foto

71

Page 36: 1º Catálogo ASAS

72 73

rafael barbosa . design gráfico

Comecei a participar oficialmente do

projeto de extensão ASAS no dia 4 de

março de 2008, participei do projeto

até o fim do mês de junho e retornei ao

grupo em outubro. Analisando minha

experiência, percebo que o projeto

tem ótimas perspectivas. O grupo de

trabalho constituído pelos alunos da

FUMEC é bem dividido e as tarefas são

delegadas de acordo com o perfil e a

habilidade de cada voluntário. Posso

relatar que durante os quatro meses

em que fiquei fora o grupo evoluiu

muito, a associação “Aglomeradas” está

mais consolidada e o papel de cada integrante

está sendo bem determinado pelas moradoras

do Aglomerado da Serra. Tenho o objetivo de

contribuir não só na área de design gráfico, da

qual fui encarregado, mas também nas relações

entre os alunos da universidade e os moradores

do Aglomerado da Serra, pois percebo que o

trabalho em grupo e o convívio entre pessoas

de realidades sociais tão diferentes é um desafio

diário. Tenho ótimas perspectivas para esse

trabalho e acredito que, se o empenho de cada

envolvido for desenvolvido em conjunto com o

grupo, realizaremos as metas do projeto ASAS

com excelência.

rodrigo franco mattar . design de produto

Vejo esse projeto social como uma

excelente oportunidade de colocar

em prática muitos conhecimentos

adquiridos no meio acadêmico,

podendo ser usados de uma forma

profissional, já que o ASAS funciona

como uma pequena empresa, com

projetos, produtos, prazos, público-

alvo e profissionais com cargos e fun-

ções distintas. O desafio de preparar

as aglomeradas para um mercado

consumidor que é cada vez mais

exigente faz com que os bolsistas se

dediquem ao máximo, tendo que

pesquisar materias, tendências e funcionalidade

para os produtos desenvolvidos. Paralelamente

ao objetivo de fazer com que as aglomeradas,

após o projeto, possam continuar desenvol-

vendo um trabalho inovador e de uma forte

identidade de pessoas que vivem o dia-a-dia de

uma periferia, acredito que o sucesso futuro será

de todos os envolvidos, pois o convívio e a troca

de experiências não só colaboram para a estru-

turação de uma comunidade como também

enriquecem o conhecimento dos estudantes e

mestres, que colherão os frutos dessa vivência,

adquirindo uma visão muito mais ampla e um

repertório mais consistente.

Page 37: 1º Catálogo ASAS

74 75

paralelas atividades complementares

03

Page 38: 1º Catálogo ASAS

77

eco-bags

joana sanglard | Graduada em design de produto pela Universidade FUMEC

pelo caminho peças, retalhos e superfícies que

possam ocasionar uma proteção quando unidas,

as eco-bags são fruto da hibridização de diversas

técnicas, conceitos, histórias e memórias.

Entre vielas e becos, arranjos e acasos, a vida de

quem mora na favela está entregue ao acaso,

não importa o fim, vive-se da incompletude.

Essa fragmentação e o senso de incompletude

estão fortemente presentes nos produtos

desenvolvidos. Desenhos inacabados, costuras

enviesadas, borrões, sobreposições de bordados,

colagens e estêncil.

A partir de cada uma das oficinas trabalhadas

coletivamente (pontos, linhas, rabiscos, cores,

texturas, colagens, observação, modelagem,

apliques, estampas e bordados) as bolsas criadas

por cada uma das aglomeradas tomaram formas

únicas, apresentando tanto uma expressividade

singular, quanto um produto contaminado

pelas trocas resultantes das orientações dos

professores, dos alunos da disciplina, dos colegas

da favela e dos alunos bolsistas do projeto ASAS.

O primeiro produto desenvolvido pela equipe

do grupo ASAS foi uma coleção de eco-bags,

acompanhando uma tendência ecológica e política

mundial contra o uso das sacolas plásticas para

compras de supermercados. A produção dessas

bolsas fez parte da disciplina optativa dos cursos de

design Artesanato e Design. Alunos da disciplina

construíram workshops semanais numa seqüência

lógica que auxiliasse na criação e confecção das

bolsas.

A elaboração conceitual presente na construção

dessas bolsas se assemelha à forma de surgimento e

desenvolvimento das favelas através da “bricolagem”,

explicada por Paola Berenstein no livro “Estética da

Ginga”;

“O acaso é parte integrante da idéia de bricolagem; é o

incidente, ou seja, o pequeno acontecimento imprevisto,

o “micro-evento”, que está na origem do movimento.

Bricolar é, então, ricochetear, enviesar, zigue-zaguear,

contornar.” (JACQUES, apud BERENSTEIN, 2003, p.24)

Assim como os barracos nas favelas são construídos

aos poucos e à medida que as pessoas encontram

76

Page 39: 1º Catálogo ASAS

A marca Raiz da Terra Brazilian Nature Wear tem

como proposta o desenvolvimento de produtos de

moda de forma ética, apostando, desenvolvendo e

apoiando projetos sociais e ambientais.

No início de 2008 tivemos a oportunidade de

conhecer o Projeto ASAS, e a partir daí iniciamos essa

parceria que já começa a render frutos. Traçamos

como objetivo o desenvolvimento de uma coleção

de camisetas cujo tema escolhido foi “a natureza na

favela”, que foi lançada no Paris Ethical Fashion Show

2008 no mês de outubro.

As expectativas foram superadas pelo poder

criativo mostrado pelos integrantes do projeto no

desenvolvimento das estampas, pelo resultado

atingido nas peças piloto e no retorno já iminente

por parte do mercado. A marca já planeja novos

trabalhos em parceria com o Projeto ASAS,

apostando cada vez mais nesse imenso potencial

criativo, no desenvolvimento de um mix de

produtos com alto valor agregado que possam ser

comercializados pela Raiz da Terra BNW em suas

coleções.

parceria raiz da terra Coleção Natureza na Favela

cassius silva | Gestor de Comércio, Comunicação e MKT da marca Raiz da Terra Brazilian Nature Wear

78 79

Page 40: 1º Catálogo ASAS

concurso almofadas

dos tratores que estavam passando por cima

das estruturas do “morro”. Após mais pesquisas

(envolvendo inclusive frotagens das rodas dos

tratores da obra), desenvolvemos o conceito

das almofadas, cartelas de cores, materiais e

acabamentos... Só havia um problema: já era

sexta-feira e a data limite para o envio dos

documentos para o concurso era na segunda-

feira. Não tínhamos telas gravadas, nem mesmo

esticadas, o tecido não estava cortado, enfim,

não tínhamos nada pronto. Após uma conversa

sincera com as alunas do projeto, que estavam

bastante animadas com a idéia de começar a

fazer produtos, estabelecemos um cronograma

intenso para estamparia e bordado, que se

estenderia por sexta-feira, sábado e domingo

inteiros. Foi então que pude perceber que,

apesar de todos os problemas de processos

em grupo, as alunas do ASAS iriam dar conta

do recado. Após uma intensa sexta-feira de

gravação de telas e preparação de tintas e

modelagens, passamos o sábado estampando as

almofadas e iniciando a costura. Já no domingo,

com a Universidade fechada, nos encontramos

O projeto das almofadas surgiu com a proposta

do 1º Prêmio do Objeto Brasileiro. As alunas do

projeto já haviam criado uma série de eco-bags

(com bordados, apliques e pinturas com êstencil),

mas estávamos pensando em enviar um projeto

criado e desenvolvido pelas alunas com as

técnicas de estamparia que estavam aprendendo.

Começamos a discutir os conceitos relacionados

ao Aglomerado e às obras que a prefeitura estava

fazendo na região. Esse projeto, o “Vila Viva”, envolvia

a modificação da malha viária e a construção de

conjuntos habitacionais e iria movimentar, segundo

dados da URBEL (Companhia Urbanizadora de Belo

Horizonte), cerca de 50 mil pessoas. As opiniões

acerca de tal projeto eram as mais diversas no

grupo: havia aquelas que acreditavam que o fim

dos becos iria trazer mais segurança, além de

tornar melhor o sistema de moradia e a oferta de

lazer e cultura, e havia aquelas que acreditavam

que a mudança para “favelas verticais” seria uma

forma de controle da população e que iria apenas

piorar a situação. Após duas semanas de discussão

e pesquisas sobre o assuntos, durante uma aula

de desenho, surgiu a idéia desenvolver a imagem

bruno oliveira | Cursando 8º período de Ciência da Computação na Universidade FUMEC e 1º período de Artes Plásticas na Guignard

80

na casa de uma das alunas para bordar (e só então aprendi a técnica!). As aglomeradas abraçaram o projeto

de tal forma que me surpreendeu. Na segunda-feira nos encontramos novamente na Universidade FUMEC,

fotografamos as almofadas (fruto da noite em claro de algumas delas) e enviamos o material para o concurso.

Apesar de as almofadas não terem sido selecionadas para o concurso (acreditamos que o conceito das

mesmas estava demasiadamente polêmico para tal), o processo foi essencial para a compreensão das relações

dentro do grupo e das próprias práticas e metodologias do artesanato-design.

81

Page 41: 1º Catálogo ASAS

A atividade de pintura e colagem de imagens nos muros da Escola Municipal Padre Guilherme Peters foi mais

um desdobramento acadêmico do projeto ASAS UNISOL-BANCO REAL. A proposta surgiu na disciplina Núcleo

de Projeto II, do curso de Design Gráfico, que tinha o foco no design de superfícies e editorial. A princípio,

o tema seria a escola municipal e o Aglomerado. Porém, durante a nossa primeira visita de campo, tivemos

a idéia de realizar uma oficina com as crianças e os adolescentes da escola municipal para coletar material

iconográfico e textual para servir de fonte de criação para os projetos acadêmicos. As oficinas aconteceram no

Aglomerado, onde dividimos os jovens por grupos de idades e afinidades temáticas. Os assuntos trabalhados

giravam em torno do próprio cotidiano dessas crianças e desses adolescentes, como, por exemplo, o tema

“aconteceu comigo e foi legal”, ligado a memórias lúdicas e familiares. Outros temas surgiram, porém ligados

à atividade de estamparia e ao design, como pictogramas, estampas modulares, colagem e grafite. As oficinas

foram extremamente produtivas, gerando oportunidade de aprendizado de novos conteúdos para os jovens

da comunidade e uma vivência inédita para os estudantes da Universidade.

O envolvimento dos alunos da escola municipal no processo criativo das imagens teve a finalidade de

despertar o respeito pela estrutura física da escola, pois esta é sempre alvo de depredações, sujeiras e furtos.

A intenção principal era expor nas paredes internas e nos muros do ambiente escolar a própria narrativa

dessas crianças, fazendo com que elas tenham orgulho das imagens por representarem sua história de vida.

Essas imagens também reforçam a auto-estima do grupo, apresentando de forma gráfica, atual e viva as

suas memórias e fantasias. Outro fator responsável por gerar maior respeito pelo resultado do trabalho foi a

participação ativa das crianças e dos adolescentes do Aglomerado na pintura dos muros e fixação dos lambe-

lambes. O envolvimento dos jovens na montagem do projeto tornou-os conscientes do trabalho necessário

para se realizar tal atividade e do valor desse tipo de intervenção.

muros estampadosjuliana pontes | Professora da disciplina Núcleo de Projeto II da Universidade FUMEC

82

A ação teve ampla repercussão na mídia impressa local,

o que estimulou e valorizou muito a comunidade em

questão e os próprios estudantes da Universidade. A

realização do projeto contou com o desfile da coleção

“Arte Favela” da aluna de moda da Universidade criada

com estampas produzidas pelas artesãs do projeto

ASAS e apresentada por jovens modelos do próprio

Aglomerado. Essa atividade serviu como encerramento

do dia de pintura dos muros, e teve a presença dos

pais dos alunos da Escola Padre Guilherme Peters,

reforçando o vínculo entre a comunidade e a escola.

Enfim, a parceria foi um marco como resultado e como

experiência acadêmica e atividade extensionista. A

amplitude da ação na Universidade teve repercussão

também no Diretório Acadêmico (D.A.), que financiou a

compra dos materiais necessários e os seus integrantes

participaram ativamente da produção no Aglomerado.

Os muros deixaram de separar para tornarem-se espaços

de proximidade e interação.

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Page 42: 1º Catálogo ASAS

Estar no Aglomerado durante os dias de realização do projeto e,

anteriormente, nas visitas guiadas foi uma experiência bastante

enriquecedora. Até então era nebuloso para mim a maneira como

o design poderia trazer mudanças significativas para a vida das

pessoas, a ponto de tomar uma dimensão social. Conviver com os

alunos da escola Padre Peters e a comunidade, além de enriquecer

minha metodologia de projeto, deixou evidente o tamanho da

nossa responsabilidade, como designers, na construção e no

desenvolvimento da sociedade à nossa volta.

A troca foi mútua. Enquanto nós, estudantes de Design Gráfico da

Universidade FUMEC, ensinávamos noções básicas de design para

os alunos, como composição e teoria das cores, aprendíamos de

maneira mais eficaz com o nosso público, pois estávamos inseridos

naquele meio. Mas, acima de tudo, trocávamos vivências e novos

conceitos.

Levamos nossa formação acadêmica como uma referência positiva.

No futuro, podemos ter designers derivados do Aglomerado,

pelo fato de termos atraído a atenção das pequenas mentes para

essa atividade. Também nesse período de inserção, por receber

mais informações sobre todo o contexto de vida do Aglomerado,

pudemos quebrar idéias clichês e nos livrar de qualquer preconceito

que estivesse relacionado com elas.

Poder sentir a emoção das crianças durante o processo do projeto, do

qual as mesmas participaram ativamente, é algo muito gratificante.

Mais gratificante ainda é aumentar nosso repertório cultural com essa

comunidade detentora de tanta riqueza que para nós era, até então,

oculta por trás do morro.

| depoimento | alisson dos prazeres

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Page 43: 1º Catálogo ASAS

87

A oportunidade que tive ao desenvolver esse projeto para

a escola, um ambiente tão importante na criação de uma,

e de muitas pessoas, foi muito empolgante, despertou em

mim uma vontade de misturar a capacidade de impacto

das intervenções urbanas, do grafite e da estética e as

mensagens lúdicas de desenhos coloridos e “alegres”.

A abordagem, os materiais, a idéia e a localização foram

tarefas relativamente tranqüilas, mas quando fui realmente

grafitar e colar as imagens nos muros, foi uma novidade

enorme para mim, que nunca tinha realmente feito um

grafite com apoio de tantas pessoas, com empolgação e

descontração, e uma determinação de saber estar fazendo

algo que vai comunicar tanta coisa.

Quando recebi elogios e a aprovação das pessoas que

vivenciam a escola, de pessoas que trabalharam comigo

nos muros, e dos alunos que tanto se empolgaram, foi uma

recompensa enorme, eu nao queria parar mais. Queria ficar

ali o dia todo pintando muros, colocando em tinta uma

mensagem positiva para quem quisesse e pudesse enxergar,

colocando o conceito em forma e cor, dando vida ao

projeto desenvolvido na faculdade.

Foi uma experiencia que me abriu um horizonte novo,

de novas idéias e caminhos a seguir. Faria tudo de novo

se pudesse, e passaria adiante toda a experiencia a quem

interessar. Agradeço principalmente à professora Juliana por

acreditar em mim e me motivar quando achava que não

conseguiria.

| depoimento | fernando vasconcelos

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Page 44: 1º Catálogo ASAS

A vista era maravilhosa!

O projeto de núcleo com a Juliana nos levou para o topo do

mundo, essa era a impressão que dava lá de cima. Os sorrisos

das crianças foram as maiores recompensas, e logo depois os

lanches e a satisfação de um trabalho tão bonito.

Foi muito marcante pra mim porque ver o trabalho sair da

faculdade e atingir de maneira tão carinhosa as crianças

do colégio Peters do Aglomerado ensina que é difícil ter

oportunidade de aprender, que nossas atitudes podem

realmente influenciar outras pessoas. E, quando eu falo de

atingir as pessoas com nossas ações, não falo só das crianças,

mas do exemplo que me foi dado pelo pessoal do projeto.

O desenho no muro é só uma marca de uma atenção muito

especial que o projeto do Sol mostrou.

Por isso aplaudo de pé todos que participaram e agradeço

pela oportunidade com saudades de lá de cima.

| depoimento | reinaldo rocha

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Page 45: 1º Catálogo ASAS

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DESFILE COLEÇÃO ARTE FAVELA NA ESCOLA PADRE GUILHERME PETERS

A coleção Arte Favela foi desenvolvida como projeto de Trabalho Final de

Graduação para a conclusão do curso de Design de Moda da Universidade

FUMEC. Para a coleção foram criados 15 looks inspirados no street wear com

aplicações de serigrafias a partir de estampas desenhadas pelos alunos do Projeto

ASAS que mostravam a identidade de cada participante.

Depois da coleção pronta, foi feito um desfile na Escola Padre Guilherme Peters.

Para o desfile convidamos como modelos as meninas moradoras do Aglomerado

da Serra, que ficaram super animadas com o convite.

Durante o dia da apresentação, na preparação do desfile senti que as meninas

ficaram super interessadas pelo assunto, por toda a organização de um desfile,

pois muitas delas nunca nem tinham presenciado algum. Nos ensaios tentavam

da melhor forma possível aprender a desfilar da maneira correta para que na hora

da apresentação para todos fizessem certo.

Achei muito legal o interesse que as meninas mostraram e a forma como se

comportaram. Com essa oportunidade que demos para as meninas vimos até

alguns talentos na favela, algumas meninas lindas que com a oportunidade certa

poderiam revelar um grande talento.

Agradeço muito a Juliana e Natacha pela oportunidade de mostrar meu trabalho

para todos aqueles que participaram do meu projeto e a forma como repercutiu

esse desfile em jornais de grande circulação.

Agradeço muito também pelo aprendizado maior que tive com todos do Projeto

ASAS, que com certeza vou levar sempre comigo.

Muito obrigada!

| depoimento | karina leite

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Page 46: 1º Catálogo ASAS

Consta que o significado do verbo aglomerar é amontoar, acumular,

empilhar, reunir, apinhar. Acredito que esse projeto resultou num

aglomerado: muitas crianças, muitas mãozinhas inexperientes, muitas

cores e emoções variadas sobre a aventura de pintar um muro, um

muro que todos vão ver! Um muro-referência para essas mesmas

crianças, que provavelmente nunca tiveram muita experiência no que se

refere à expressão de arte. Fui levada a esse projeto, como membro do

Diretório Acadêmico dos estudantes de Design, da FUMEC, mas minha

participação não ficou restrita ao registro fotográfico ou à colaboração na

tarefa da pintura. Aprendi a apreciar os traços trêmulos, os escorridos e as

falhas como parte integrante e importante de um trabalho que se propôs

a ser coerente: foi um trabalho para as crianças e das crianças e, por isso,

ele merece ser respeitado.

| Rachel Grandinetti |

Foi um encontro gratificante, de realidades distintas.

é impressionante a alegria que uma coisa tão simples, como

a pintura de um muro, pôde proporcionar àquelas crianças.

Para nós foram algumas horas do dia; para eles uma

inspiração para uma vida melhor, mais colorida, um sopro

de confiança e esperança. Esperança real, tão tátil quanto

as mãos sujas de tinta e os pincéis que deram vida ao dito

muro, que os acompanha diariamente; esperamos, assim,

que todas as coisas boas que “colocamos” nele possam

também acompanhar as crianças no dia-a-dia.

| Ingrid Sander e Diego Silva |

| depoimentos | D.A.

92 93

Page 47: 1º Catálogo ASAS

Um exercício do olhar: é assim que determino essa oficina cuja função principal, além de esclarecer a

formação da imagem produzida pela condução da luz através de um pequeno orifício transformando

em imagem visível, é também exercitar o olhar. Aprender a ver o mundo por outros pontos de vista

que não sejam tão gratuitos e passivos só porque estamos de olhos bem abertos. Pela função técnica o

esclarecimento remonta a antigos meios de produção/comunicação. Só esses já dão muito que discutir em

sala de aula, mas nosso objetivo também é produzir imagens, imagens com objetos muito variados e de fácil

reconhecimento. Nesse caso escolhemos uma pequena caixa de fósforos e outra pequena embalagem: a do

próprio filme fotográfico.

Nesses dois objetos de uso cotidiano transformamos em pequenas caixas escuras com um orifício feito

por agulha e dentro desses colocamos materiais sensíveis: filmes e papel fotográfico. Com uma pequena

passagem com metodologia audiovisual os alunos podem perceber que o domínio dessa técnica é

milenar, porém o uso dos materiais sensíveis remonta de algumas décadas a partir dos meados do sec. XIX.

Concluímos então que essa experiência não é tão nova assim, mas para quase a totalidade esse exercício

aconteceu pela primeira vez e diante dos próprios olhos com a execução dessa oficina.

O que de novo então vemos nisso? Novamente me remeto ao olhar. O olhar curioso, duvidoso, fantasioso,

angustiado, satisfeito ou talvez apenas emocionado das pessoas que participam do projeto e que agregam

qualquer informação bem-vinda. É, sem dúvida, uma experiência única. Parece que é tão complicado se

produzir imagem, seja ela fotográfica, cinematográfica, videografica, analógica ou digital. As mídias podem

variar, mas a base para se fazer imagem é a mesma desde o princípio dos tempos. Basta ter as condições

ideais. São elas: ter de um lado um ambiente com pouca luminosidade, seja ele uma grande sala de aula ou

oficina pinhole

alexandre lopes | Fotógrafo, com especialização em Pesquisa e Ensino no Campo das Artes Plásticas pela Escola Guignard, professor

dos cursos de Graduação em Design de Moda e Design Gráfico e do curso de Pós-Graduação em Design de Moda da Universidade

FUMEC. Professor Colaborador do projeto ASAS-UNISOL/Banco Real.

| Outras maneiras de ver as coisas |

94

uma caixinha de fósforo e, em contrapartida, do lado

externo desses ambientes ter muita luminosidade. Com

outros pequenos detalhes conseguimos exemplificar

o ato físico da formação da imagem, gerando assim,

sem dúvida, um mínimo de sensibilidade e emoção aos

participantes.

Uma vez esclarecidos tais princípios, os alunos desejam

praticar, e dentro da proposta está a construção da

câmera, seguindo os princípios da técnica de fotografia

de Pinhole, conhecida mundialmente como uma

espécie de fotografia artesanal, rústica, que necessita

de pouquíssimos recursos para obtenção da imagem.

Nesse momento nota-se um envolvimento fantástico

por conta dos mais empolgados e daqueles que

desejam obter uma foto com tais recursos. Mesmo assim

as dúvidas não cessam por completo e a enxurrada de

perguntas é inevitável. Em meio à descontração pela

construção de tal objeto, a imaginação aflora e questões

corriqueiras se tornam grandes mistérios desvendados.

Estão todos prontos para fotografar.

Passam-se uns quinze minutos e a turma retorna à

sala de aula com as devidas embalagens de filmes,

transformadas em câmeras pinhole, fotografadas

e prontas para mais uma incursão, dessa vez no

laboratório de fotografia, onde os papéis

fotográficos que ora estavam nas pequenas

embalagens de filmes, já fotografados, estão

prontos para o processamento fotoquímico.

E é nessa hora que a mágica acontece. Tanto

para os que estão experimentando pela

primeira vez, como para quem já a conhece de

tempos esse caminho e como para as pessoas

presentes: a novidade e o reconhecimento e a

aprendizagem de um processo de construção

de imagem à moda antiga (fotoquímico).

Mais uma vez remeto ao olhar este pequeno

resumo, pois é nele que encontramos

mais uma vez a tradução da emoção pelo

reconhecimento de algo que está bem perto

de nós e que a maioria desconhece. É nesse

redescobrimento que fazemos com que outros

possam ter acesso. E é com este prazer que sigo

fotografando e agora multiplicando tais idéias e

conhecimentos. Agradeço pela oportunidade.

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Page 48: 1º Catálogo ASAS

passo-a-passoconfecção de pinhole em caixa de fóforos

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Page 49: 1º Catálogo ASAS

A exposição Aglomeradas traz as vilas do Aglomerado da Serra como território de referências. Esse repertório

comum aparece representado por instantâneos da vida cotidiana, registrados pela técnica de pinhole

em caixas de fósforo. As imagens, para um olhar desatento, não passam de cenas fugazes da vida diária,

nada que mereça ser observado mais tempo do que pede a sua aparente banalidade. No entanto, para

um observador atento essas trivialidades compõem perfis humanos e sociais, expõem questões de ordem

individual, mas também condições coletivas. Um grupo, questões compartilhadas, processos coletivos,

são esses os grandes motivadores dessas caixinhas de luz que formam a exposição. O grupo, nesse caso,

pertence ao projeto ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra – que está em processo de

capacitação em design e artesanato pela parceria da Universidade FUMEC e Universidade Solidária (UNISOL),

com patrocínio do Banco Real.

Ao trabalhar com projetos sociais utilizando o design e o artesanato, percebo cada vez mais o quanto

essas duas áreas podem percorrer caminhos muito próximos. Estou me referindo agora não só ao artesão

despreendendo–se das suas regras e de modelos para explorar mais a inventividade e a autonomia criativa.

A minha reflexão se volta também para o aprendiz do design, que ainda não está totalmente contaminado

pelas crenças tradicionais da área profissional, mantendo-se livre e aberto para as diversas formas em que

o pensamento do design pode se manifestar. Aqui se encontra o verdadeiro entendimento da palavra

design: intenção, projeto e desenho. Em outras palvras, fazer design envolve o entendimento a priori do

que se pretende; a antecipação da ação e a execução técnica. Atender a essa lógica aparentemente simples

singnifica produzir design, mesmo que essa definição a princípio pareça muito ampla.

| Imagens fotográficas em objetos de luz |aglomeradas

juliana pontes | Autora do artigo abaixo publicado no “Letras”, informativo do Café com Letras

98

Em relação à intenção, a exposição Aglomeradas foi

pensada com um propósito muito claro: revelar às

próprias artesãs, autoras das imagens, como o seu

universo particular pode se tornar uma experiência

estética compartilhada de forma coletiva. Quando

se trabalha a formação de um grupo lida-se com

conhecimento, mas também com subjetividades,

com a dimensão humana latente. Não se pode

multiplicar o conhecimento sem tocar a experiência.

A experiência nos diz algo da natureza sensível do

aprendiz, inclui o ato de incorporar pensamentos

na ação. Por outro lado, toda ação traz uma carga

afetiva ligada à intenção. Nesse emaranhado

surgem, de forma inesperada, imagens fantásticas

da serra, descobertas justamente pela intenção do

olhar, ou melhor, pela invenção do olhar.

A antecipação do processo criativo e produtivo,

característica específica da atividade de projetação

do design, surgiu nesse projeto pelo envolvimento

dos estudantes de design da Universidade

FUMEC, bolsistas do ASAS, com um ‘fazer à mão’.

A descoberta do produto de design ‘artesanal’

despertou esses alunos para a possibilidade

do exclusivo. Eles apostaram no diferencial das

luzes aplicadas uma a uma, de acordo com o

que a interação com a imagem proporcionava;

nos tamanhos variáveis; no exercício dos

acabamentos perfeitos, mesmo feitos por

mãos humanas; e na pesquisa como chave

para soluções inventivas. Aqui o processo

de capacitação em design e artesanato nos

apresentou o seu caminho inverso: a observação

do artesanato reaproximou o design da

experência única de se produzir fora do padrão.

Padrão nesse caso se refere a linguagem e

fomas, mas também à repetição produtiva.

A intervenção do designer no ato produtivo,

nesse caso, foi determinante para o diferencial

estético e funcional dos produtos, assim

como foi fundamental para elevar o seu valor

simbólico. Uma carga de significados foi gerada

pela condição de objeto único, que carrega

uma imagem criada através de um processo

99

Page 50: 1º Catálogo ASAS

101

extremamente particular e funciona como uma

luminária, ou melhor, como um objeto de luz. O

utilitário carrega vestígios, signos e se veste de

interpretações, modificando diretamente a relação

entre usuário e objeto.

Quanto à execução técnica, as imagens iluminadas

a que me refiro são fotografias realizadas com

a técnica pinhole. Em outros termos, são fotos

feitas em caixinhas de fósforo perfuradas e com

um negativo no seu interior. Cada ‘aglomerada’

montou sua caixinha e apontou para a sua

própria realidade. A precariedade da tecnologia

atende à necessidade de despojamento do olhar

e à condição de aprendiz. Os resultados são

gaiolas que surgem como cenários, gatos que

são personagens, vultos como paisagem, flores,

telhados, cores, manchas, pedaços de ruas, céu,

chão, fragmentos de casas, sombras. Cada parte

isolada é ao mesmo tempo pessoal e universal.

Os temas se aglomeram não por sentido ou

continuidade, mas por uma mesma origem, o

território em comum. Metáfora do morro, surgem

misturas de pessoas amontoadas, seus objetos,

suas marcas, seus barracos empilhados. A surpresa

do resultado inspirou a beleza da montagem: caixas

pretas, simulacros do mecanismo fotográfico, onde

uma superfície se torna sensível pela luz. Pontos de

luz remodelando a imagem da realidade. Leds, fios,

transparências, formas iluminadas e somente uma

luz azul. Um ponto único de luz azul, como um jogo,

mas do acaso. Essas preciosidades nos convidam

à reflexão, provocada também pela disposição

desses objetos de luz em meio ao burburinho do

Café, saltando na penumbra da cada ambiente,

redesenhando a noite no morro, a noite na cidade.

100

Page 51: 1º Catálogo ASAS

102 103

Page 52: 1º Catálogo ASAS

“Vim pelo caminho difícil,

a linha que nunca termina

a linha bate na pedra,

a palavra quebra uma esquina,

mínima linha vazia,

a linha, uma vida inteira,

palavra, palavra minha”. (Paulo Leminski)

A idéia de cotidiano foi central em todas as etapas do

processo criativo desenvolvido no projeto ASAS UNISOL.

Por isso, as artesãs envolvidas, todas elas moradoras de

favelas, organizaram suas criações a partir de situações,

imagens e memórias situadas nas especificidades desses

espaços.

Nesse sentido, trata-se de um projeto que propõe

um olhar para a favela no que ela tem de singular,

indicando, assim, uma abordagem que se opõe à idéia

de pensá-la em suas ausências. No entanto, explorar

as idiossincrasias desses territórios não implica pensar

na lógica equivocada e ingênua do modelo de “cidade

partida”. Sabemos que a cidade é uma tessitura, uma

malha urbana. A favela é “o avesso do cartão-postal” e

oficina de texto | Palavras do Cotidiano |

revela a dinâmica própria do nosso modo de

produção, ou seja, a desigualdade social inerente

ao capitalismo.

Do ponto de vista artístico, a favela sempre

inspirou produções nas mais diferentes

linguagens expressivas e foi representada de

maneira diferente ao longo de sua história:

nostálgica como nos versos de Noel Rosa,

cheia de dignidade como no Favelário Nacional

de Drummond e violenta como na prosa de

Paulo Lins. A favela é multifacetada, por isso o

importante é pensá-la para além dos clichês das

páginas policiais. Nada mais oportuno, então, do

que representações produzidas por gente que

vive seu cotidiano entre becos e tetos de zinco.

Nessa lógica, as artesãs participantes do

UNISOL tiveram a oportunidade de traduzir, de

modo criativo, cenas da favela. Nos produtos,

destacaram-se, muitas vezes, a dimensão poética

e o potencial inventivo.

tailze melo | Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC Minas. Coordenadora, em parceria com Renata Alencar, do curso

de pós-graduação lato sensu “Processos Criativos em Palavra e Imagem” no instituto de Educação Continuada da PUC Minas. Professora

da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.

104

Na oficina Costuras do cotidiano: palavra é vida, buscamos refletir a palavra em todo o seu potencial semântico

e estético. Na primeira etapa da oficina, sem utilizar uma terminologia lingüística/semiótica, conversamos com

as artesãs sobre a noção de signo verbal, metáforas, polissemias e redes semânticas. Utilizamos exemplos do

cotidiano e ficou evidente a importância da palavra no mundo simbólico que tangencia a nossa existência. Na

segunda etapa da oficina, propusemos uma atividade orientada cujo objetivo foi organizar uma rede semântica

com palavras relacionadas aos conceitos de cada produto criativo. A intenção foi apontar possibilidades

criativas com palavras e identificar em quais projetos era coerente se valer dessa matéria expressiva. No último

momento do encontro, fizemos uma roda para a apresentação dos textos confeccionados durante a oficina.

Foram apresentadas diferentes construções textuais: “palavras biográficas” que revelaram um léxico próprio,

o olhar único de cada artesã para sua história. Cartografias subjetivas, mas todas elas costuradas pelo mesmo

signo: favela.

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106 107

registro das criações04

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ELZY

Page 55: 1º Catálogo ASAS

111110

Sou a 8ª filha de 14 filhos. Morei na roça

até os 13 anos de idade. Fiz da 1ª à 4ª

série do primário, trabalhei com meus

pais, ajudando a plantar feijão, milho,

arroz, quiabo e jiló, adorava nadar e

brincar no rio, era uma criança muito

espoleta. Aos 23 anos me aventurei com

um rapaz e tive uma gravidez inesperada,

mas depois de nove meses nasceu uma

linda menina, Daniela, que cuidei com

muito amor e carinho. Hoje ela tem 27

anos e me presenteou com dois lindos

netos, um de 12 e outro de cinco anos.

Sou uma pessoa que não espera para

as coisas acontecerem. Gosto de ajudar

sem medir esforços e tenho disposição

para fazer qualquer coisa. Sou honesta e

decidida. Sou cuidadora de idosos, faço

faxinas e estou muito feliz com meus

produtos desenvolvidos no ASAS.

Durante esse curso eu fiquei muito feliz de participar

do curso de serigrafia, não tinha noção de como

era. Foi importante para mim participar. Aprendi a

conviver com outras pessoas. O mais interessante

foi saber que o nosso produto iria para uma feira na

França. E falamos do local onde moramos, que é o

Aglomerado da Serra. Momento triste foi quando

houve uma votação para escolher um representante

para ir a São Paulo. Fui a escolhida, mas quando

chegou perto da viagem as professoras mudaram

de idéia. Tem componente que quando está na

FUMEC é uma pessoa, e fora é outra. Agradeço por

ter participado do curso. Foi muito gratificante para

mim.

ETELVINA XAVIER DE ALMEIDA

SOBRE O PROJETO

Page 56: 1º Catálogo ASAS

112 113

Sou Gabriela Estefane e tenho 16 anos.

Já fiz artesanato, moro no Bairro Serra,

na Primeira Água. Eu estudo, estou na

8ª série e sou vereadora mirim da Escola

Municipal Padre Guilherme Peters. Já

fiz vários cursos. Agora que eu entrei

no curso da FUMEC eu já sei fazer

várias coisas, já sei pintar, desenhar, e

fazer várias coisas, coisas que antes eu

não sabia fazer. Já fiz dois cursos de

artesanato, um junto com a Schirley, de

biscuit, e com a Suzaninha, de bijuteria.

Estou me empenhando muito para

acabar essa reta do curso para sair daqui

sabendo todas as informações. Agora

estou aprendendo a fazer lenços. Lenços

de cabeça, de braço etc.

Esse projeto foi ótimo na minha vida,

igual eu já falei, esse curso me ensinou

várias coisas, eu nunca imaginei que eu

ia ter uma oportunidade dessas, mas

agora eu sei como é bom esse curso. Nós

já fizemos várias coisas, fizemos bolsas,

fronhas e agora estamos fazendo uma

coleção, não é ótimo? Esse curso caiu

do céu. O nosso projeto tem um nome:

ASAS. Nós do projeto, conversamos,

fazemos reuniões, tentamos nos

entender. Quando o curso acabar vamos

abrir oficinas na escola, vamos ensinar

aos alunos tudo que nós aprendemos. Eu

não aprendi muita coisa, mas vou fazer

o possível para passar pra eles o que

aprendi.

GABRIELA ESTEFANE

SOBRE O PROJETO

Page 57: 1º Catálogo ASAS

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Meu nome é Joana Rodrigues Sousa,

tenho 51 anos, duas filhas e uma neta.

Moro no Bairro Mantiqueira em Venda

Nova. Adoro ensinar. Gosto de dar

cursos de pintura, bordado, tricô, crochê

e vagonite. Trabalho com costura em

geral e adoro o que faço. Queria ter a

oportunidade de ter um emprego com

carteira assinada e ensinar a pessoas o

que sei.

O curso para mim foi tudo de bom que

eu pude encontrar na minha vida. Graças

ao meu bom Deus, quando pensei que

estava só no mundo encontrei uma

família que me acolheu com bastante

amor e paciência. Agora não me sinto

mais sozinha. Vou ser grata o resto da

minha vida de ter encontrado alguém

que pudesse me ajudar tanto assim. Vou

guardar tudo que aprendi no fundo do

meu coração. Nunca vou esquecer cada

desenho rabiscado que eu aprendi a fazer

durante o curso, principalmente aqueles

que eu achava feios e as professoras

falavam que estava bonito, isso só ia me

incentivando cada vez mais a fazer mais

desenhos. Para sempre obrigada, com

muito amor de verdade.

JOANA RODRIGUES SOUZA

SOBRE O PROJETO

Page 58: 1º Catálogo ASAS

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Eu sou Maria do Carmo, 58 anos, casada

e mãe de dois filhos e avó de dois

netos. Sou artesã, dou aulas de pintura

em tecido e tapete de retalhos, faço

enfeites para pet shop: gravatas, lacinhos

e laçarotes para cachorros. Bordo, faço

crochê, gosto muito de desenhar. Já fui

oficineira da Escola Aberta na Escola

Municipal Maria das Neves e também na

obra social do Bairro São Lucas.

Durante o curso tive momentos felizes e

tristes. O triste foi a perda do meu tapete,

mas fiquei feliz com o reconhecimento

das professoras e estou muito satisfeita

com a máquina de costura, e fui

recompensada também com a notícia do

Cássio de que ia levar nossos produtos

para a França junto com os seus. O que

mais me marcou foram as caixinhas

pinhole com a exposição. No começo

achei que não ia dar em nada, por ser

simples a caixinha de fósforos. Ao revelar

as fotos saíram aquelas imagens borradas

e que no final deu um resultado de um

tamanho que todos ficamos surpresos.

Mas, se não fosse o esforço e ajuda do

Bruno, com certeza tudo isso não teria

acontecido. Estou muito feliz porque

aborrecimento foi um, felicidades foram

novecentas e noventa e nove.

MARIA DO CARMO ROCHA

SOBRE O PROJETO

Page 59: 1º Catálogo ASAS

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Sou Schirley Maria Araújo, tenho 41

anos, solteira, natural de Aimorés/MG,

atualmente moradora do Aglomerado da

Serra. Sou artesã, artista plástica e atuo no

Projeto Escola Aberta como educadora

fazendo trabalhos artesanais como

biscuit, decoupage e reaproveitamento de

materiais. Sou umas das coordenadoras

do Coletivo Criarte, na área de produção

e cenário. Faço parte do Projeto

[RedeMuim] de Arte e cultura, 3ª edição

com apoio da lei de incentivo à cultura,

como auxiliar de produção e cenografia;

voluntária no Projeto Voe, (educação

Oral). Participo do Projeto Arena da

Cultura na iniciação de artes plásticas.

Projetos em andamento: voluntária

no centro de Saúde Nossa Senhora da

Conceição com atividades de tapeçaria

para terceira idade e a comunidade;

projeto na Igreja Nossa Senhora da

Conceição com artesanato.

O curso me trouxe um novo olhar dentro da perspectiva do design artesanal, ou seja, o artesanato que faço hoje tem outro conceito. Tornei-me uma pessoa mais ponderada e confiante. O mais interessante foi mesclar minhas atividades do Coletivo Criarte com o ASAS. Assim meus trabalhos foram tendo uma forma mais prática e objetiva. As diversidades da FUMEC e da Favela ajudaram muito no relacionamento do projeto ASAS. Quebrou um pouco essa questão de sanguessugas. Eles também perceberam que temos coragem e opinião, que poucos sabem o que querem e como querem. Esses desafios me fizeram perder o medo de mostrar quem sou eu. E surgiu a vontade de voltar a estudar. A moda é aprender trocar experiências, formar e fortalecer redes. Tenho muito que aprender, o que aprendi vou multiplicar com muito zelo. Somos um jogo de panelas: panela de pressão que fica cozinhando a ponto de explodir, frigideira que só fica fritando as informações, caçarolas que fazem cada revirado, caldeirão que fica fervendo caldos. Temos até uma chaleira, na sua calmaria, fervendo seu chá. Bom, sei que temos que ser o mais natural possível, assim seremos originais.

SCHIRLEY MARIA ARAÚJO

SOBRE O PROJETO

Page 60: 1º Catálogo ASAS

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Eu, Suzana, saí da minha casa com 14 anos

de idade em busca de uma vida melhor,

passei muitas dificuldades e barreiras,

mas graças a Deus hoje eu olho para

trás e vejo que meus obstáculos, lutas e

dificuldades todas ficaram para trás. Mas

hoje estou no ponto certo e agradeço

a Deus por ter conseguido os meus

objetivos. Sou formada em magistério,

manicure e também sei um pouco de

artesanato, bijuteria e costura. Gosto de

trabalhar no meu serviço porque estou

fazendo o que sonhei fazer um dia, de

ser uma professora. E fico na sala de

mimeografia onde passo o dia. Mais uma

vez agradeço a Deus por me dar essa

oportunidade de estar participando deste

curso porque aprendi novas idéias e tive

grande experiência porque Deus está no

controle e me dá força para ir até o fim.

No decorrer do curso posso dizer que

aprendi muitas coisas, como relacionar

com outras pessoas que possuem outras

visões de mundo. Quando comecei a

desenvolver muita criatividade, como foi

gostoso eu entender que de um simples

risco sairia muitas coisas bonitas, mas

foram com as várias pesquisas que eu

cheguei nesse objetivo.

SUZANA MARÍLIA DOS ANJOS OLIVEIRA

SOBRE O PROJETO

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Page 61: 1º Catálogo ASAS

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Page 62: 1º Catálogo ASAS

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portfolio asas05

Page 63: 1º Catálogo ASAS

Todos os lugares precisam de luz e essa pode vir

de um imenso céu durante o dia ou até da mais

simples luminária durante a noite. Este produto

representa a importância da luz na vida de cada um.

No Aglomerado quem não possui luz faz o possível

e o impossível para consegui-la. Muitas vezes não

sabemos ao certo de onde vem a energia da nossa

luz, só sabemos que precisamos dela, mais do que

qualquer outra coisa.

autora | elzy nunes de oliveira lima

produto: lumináriamaterial: tricolinetécnicas: costura e serigrafia

. gatos de luz .

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Page 64: 1º Catálogo ASAS

A temática explorada para meu produto foi o ganso

no asfalto, procurei trabalhar com algo que não tinha

no mercado. Onde moro encontro gansos que ficam

na rua, o que me chama a atenção é o fato de esses

animais viverem em um lugar onde não tem água

para nadar. Em minhas pesquisas descobri que na

Roma Antiga um exército foi salvo graças ao grasnar

de dezenas dessas aves, revelando-os como verda-

deiros seguranças.

autora | etelvina xavier

produtos: jogo americano e porta-coposmateriais: brimtécnicas: costura e serigrafia

. ganso no asfalto .

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Page 65: 1º Catálogo ASAS

O título do meu trabalho foi o coco babão, que é um

coco comestível. A fruta amadurece quando o coco

está seco. A castanha é mais gostosa do que o caldo

do coco maduro. Escolhi falar sobre o coco babão,

pois é uma fruta pouco conhecida e muito presente

no Aglomerado. Outro motivo é o modo com que

as pessoas o retiram do pé, é interessante perceber

quando todo mundo se reúne com um pedaço

grande de madeira e começa a cutucar os coquinhos

no pé, todos unidos pelo mesmo objetivo.

autora | joana rodrigues de souza

produtos: avental, luvas e pegadormaterial: brimtécnicas: costura e serigrafia

. coco babão .

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Page 66: 1º Catálogo ASAS

Este produto representa os lares de quem vive,

mora e sobrevive na favela. As casas se misturam às

árvores, as árvores se misturam às janelas e essas por

sua vez se misturam às folhas. A realidade é que no

morro tudo se mistura e se transforma em Aglo-

merado.

autora | maria do carmo da rocha

produtos: almofadasmateriais: brimtécnicas: costura e serigrafia

. natureza na favela .

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Page 67: 1º Catálogo ASAS

Este produto representa o dia-a-dia dos becos e

vielas do Aglomerado da Serra e a convivência do

beco onde moro. Através da toy-art, representei a

realidade e a fragilidade de cada personalidade. As

letras surgiram da pesquisa feita no livro “Tipografia

e elemento do Cotidiano da Favela”. Nessa procura

encontrei conceitos como: casas, escadas, gatos de

luz, praças, espaços abertos e ruas de terra e asfalto.

Toy-art é uma forma de representar os tipos de

violência entre os becos e as vielas do Aglomerado

da Serra. Não há necessidade de expressar com

palavras, basta observar o toy com a mesma sutileza

de sua criação.

autora | suzana marília dos anjos oliveira

produtos: almofadasmateriais: feltrotécnicas: costura e serigrafia

. toy-beco .

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Page 68: 1º Catálogo ASAS

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Este tema representa um pouco da minha vida.

Fui cercada de muito zelo pelos meus pais. Por ter

uma aparência frágil, mantive esses muros e cercas

em minha vida durante muito tempo. Hoje em um

mundo diferente, misto e rico de diversidade, uso

esses muros e cercas para expressar a minha arte.

Muros e cercas são mantidos para organizar uma

sociedade, mas muitas vezes parecem desorga-

nizar o espaço público. Um aglomerado de lixo se

transforma em cerca e muros, expressão artística que

quebra todas as fronteiras e diz para o mundo: “Vista

sua alma todos os dias”.

autora | shirley maria araújo

produto: cadernos, bloquinhos, envelopesmaterial: papel calandrado, artesanal e reci-clato, fio enceradotécnicas: encadernação e serigrafia

. muros e cercas .

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Page 69: 1º Catálogo ASAS

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Page 70: 1º Catálogo ASAS

Este catálogo foi composto em Myriad Pro.O miolo é impresso em Reciclato 90g.

A capa em papel kraft 300g com aplicação

de relevo seco. Impressão e acabamento

por Artes Gráficas Formato. Belo Horizonte,

Minas Gerais, em junho de 2009