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A Receita do Rosas No terceiro ano do liceu o Rosas apareceu em Penafiel no mês de Janeiro e sentou-se na carteira que estava à minha frente. Gorducho e pouco interessado nas aulas, o Rosas, que já tinha chumbado um ano, detestava as aulas de ginástica, era incapaz de saltar o plinto, e só jogava futebol se o deixassem ficar na baliza. Bonacheirão e incapaz de matar um lagarto, o Rosas era o bombo da festa da turma. Mas ele não se importava muito com as piadas. Quando descobri que ele gostava de ler livros de poesia e romances, comecei a acompanhá-lo. E a amizade, cimentada pelos gostos muito parecidos, crescia com o passar do tempo. O Rosas era, como eu, filho único. Com o Rosas aprendi a jogar bilhar no café Centopeia, que ficava ao cimo da ria onde eu morava. Uma rua estreita e empedrada onde os soldados, em exercícios nocturnos, costumavam passar, batendo com as botas no chão, o que dava um efeito espectacular, uma espécie de troar de canhão, que ecoava no interior das casas acordando toda a gente. O Rosas era fraco aluno, andava sempre aflito com o dez a todas as disciplinas, mas só eu sabia que ele lera mais livros que a turma toda junta, falava-me de escritores e sabia de cor versos de muitos poetas. Muitas vezes ia para casa dele e só me despedia quando eram horas de jantar. Passávamos o tempo a ouvir discos, a jogar damas e a rirmo-nos das nossas vozes e do nosso corpo que se ia tornando adulto. Um dia ele mostrou-me um caderno onde reunia os versos que escrevia em segredo. Eram páginas e páginas repletas de palavras escritas com péssima caligrafia. Passei a tarde a saborear aqueles versos, fazendo um grande esforço para tentar compreender tudo, o que nem sempre acontecia. - Como é que tu sabes tanta coisa, ó Rosas?, perguntava eu, deslumbrado com os amores contrariados que os versos carpiam. - Imagino. É tudo imaginação. Desde pequeno que tenho um duplo que é muito diferente de mim. Eu falo com ele e conheço-o muito bem. Chama-se Afonso, é mais velho do que nós, tem um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, é muito magro, vai a muitas festas de anos e tem muitas namoradas. É o meu duplo que faz os poemas, eu sou apenas a mão de que ele se serve para tornar visível a sua existência. Nunca disse isto a ninguém. Tu és o primeiro a sabê-lo porque eu sei que me compreendes. Porque é que não crias o teu duplo? - E como é que se faz? - Basta imaginá-lo. Fecha os olhos quando estiver muito escuro e põe-te a imaginá-lo. Não há-de demorar muito tempo a ele aparecer. - Nessa noite pus em prática a receita do Rosas. ANTÓNIO MOTA, Os Sonhadores

1º Teste Sumativo 7ºano

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Page 1: 1º Teste Sumativo 7ºano

A Receita do Rosas

No terceiro ano do liceu o Rosas apareceu em Penafiel no mês de Janeiro e sentou-se na carteira que

estava à minha frente.

Gorducho e pouco interessado nas aulas, o Rosas, que já tinha chumbado um ano, detestava as aulas

de ginástica, era incapaz de saltar o plinto, e só jogava futebol se o deixassem ficar na baliza.

Bonacheirão e incapaz de matar um lagarto, o Rosas era o bombo da festa da turma. Mas ele não se importava

muito com as piadas.

Quando descobri que ele gostava de ler livros de poesia e romances, comecei a acompanhá-lo. E a

amizade, cimentada pelos gostos muito parecidos, crescia com o passar do tempo. O Rosas era, como eu, filho

único.

Com o Rosas aprendi a jogar bilhar no café Centopeia, que ficava ao cimo da ria onde eu morava. Uma

rua estreita e empedrada onde os soldados, em exercícios nocturnos, costumavam passar, batendo com as

botas no chão, o que dava um efeito espectacular, uma espécie de troar de canhão, que ecoava no interior das

casas acordando toda a gente.

O Rosas era fraco aluno, andava sempre aflito com o dez a todas as disciplinas, mas só eu sabia que ele lera

mais livros que a turma toda junta, falava-me de escritores e sabia de cor versos de muitos poetas.

Muitas vezes ia para casa dele e só me despedia quando eram horas de jantar. Passávamos o tempo a

ouvir discos, a jogar damas e a rirmo-nos das nossas vozes e do nosso corpo que se ia tornando adulto.

Um dia ele mostrou-me um caderno onde reunia os versos que escrevia em segredo. Eram páginas e

páginas repletas de palavras escritas com péssima caligrafia. Passei a tarde a saborear aqueles versos, fazendo

um grande esforço para tentar compreender tudo, o que nem sempre acontecia.

- Como é que tu sabes tanta coisa, ó Rosas?, perguntava eu, deslumbrado com os amores contrariados que os

versos carpiam.

- Imagino. É tudo imaginação. Desde pequeno que tenho um duplo que é muito diferente de mim. Eu falo com ele

e conheço-o muito bem. Chama-se Afonso, é mais velho do que nós, tem um metro e oitenta e cinco centímetros

de altura, é muito magro, vai a muitas festas de anos e tem muitas namoradas. É o meu duplo que faz os

poemas, eu sou apenas a mão de que ele se serve para tornar visível a sua existência. Nunca disse isto a

ninguém. Tu és o primeiro a sabê-lo porque eu sei que me compreendes. Porque é que não crias o teu duplo?

- E como é que se faz?

- Basta imaginá-lo. Fecha os olhos quando estiver muito escuro e põe-te a imaginá-lo. Não há-de demorar muito

tempo a ele aparecer.

- Nessa noite pus em prática a receita do Rosas.

ANTÓNIO MOTA, Os Sonhadores

Grupo I

Depois de teres lido o conto com muita atenção, responde de forma clara e completa às seguintes questões:

1. Identifica as personagens intervenientes na história e caracteriza-as relativamente à sua importância.

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2. Com base na informação que o texto te fornece, caracteriza, por tuas palavras, a personagem principal.

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3. Refere qual(ais) a(s) característica(s) da personagem principal que atraiu a atenção do narrador. Justifica

a tua resposta com passagens textuais.

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4. Em determinando altura, o texto dá-nos a ideia que o Rosas era pacífico e, ao mesmo tempo, alvo do

riso dos colegas.

4.1- Transcreve do texto a frase que o transmita.

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5. Ao contrário do que mostrava na escola, Rosas afinal escrevia versos bonitos.

5.1- Que sentimento provocaram os versos do Rosas ao narrador? Justifica com passagens textuais.

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5.2- Como justificou Rosas a sua capacidade para escrever esses versos?

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6. Faz o levantamento de marcas temporais e espaciais presentes no texto.

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7. Classifica o narrador do texto relativamente à sua presença. Justifica a tua resposta.

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8. Atenta na informação que o texto transmite, conseguimos agora dividi-lo em partes.

8.1- Divide-o em três momentos, fazendo uma síntese do seu conteúdo.

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9. Transcreve do texto exemplo de:

a) Uma comparação: _________________________________________________________________

b) Uma enumeração: _________________________________________________________________

c) Uma personificação: ________________________________________________________________

d) Dupla adjectivação: ________________________________________________________________

Grupo II

1. Tendo em conta a relação semântica entre as palavras, preenche o quadro a seguir apresentado:

2. Transcreve do texto um exemplo de:

a) Comparação: _____________________________________________________________________

b) Enumeração: _____________________________________________________________________

c) Metáfora: ________________________________________________________________________

d) Personificação: ___________________________________________________________________

3. Indica o Tipo e a Forma das frases a seguir apresentadas.

a) “Nunca disse isso a ninguém.” _______________________________________________________

b) “ – E como é que se faz?” _______________________________________________________

c) “ Fecha os olhos quando estiver muito escuro…” _________________________________________

4. Atenta nas frases seguintes:

a) “ O Rosas detestava as aulas de ginástica.”

b) “Porque é que não crias o teu duplo?”

c) “Nessa noite pus em prática a receita do Rosas.”

HIPERÓNIMO HIPÓNIMOS

carteira, aulas, livros, alunos

Desporto

versos, poemas, poetas

Page 4: 1º Teste Sumativo 7ºano

4.1- Coloca:

a) A frase A na forma negativa e passiva.

________________________________________________________________________________

b) A frase B na forma afirmativa e neutra.

________________________________________________________________________________

c)A frase C na forma passiva e enfática.

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5. Completa o quadro a seguir apresentado, classificando as palavras quanto à acentuação.

Palavras Esdrúxula Grave Aguda

Mês

Ginástica

Rosas

Filho

Ninguém

6. Classifica, relativamente ao processo de formação, as palavras seguintes:

a) Gorducho ______________________________________________________________________

b) Incapaz ______________________________________________________________________

c) Empedrada ______________________________________________________________________

d) Belas-artes ______________________________________________________________________

e) Alentejo ______________________________________________________________________

f) Corrimão _______________________________________________________________________

7. Atenta nas palavras que estão em destaque nas frases que te vão ser apresentadas a seguir, classifica-

as relativamente à relação entre elas. Explica também o que as distingue morfologicamente.

a) O Rosas deu um cumprimento ao colega. / O comprimento dos seus versos era fantástico.

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b) Tu duvidas das minhas intenções. / Aquela caligrafia era tão má que eu tive dúvidas ao ler.

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c) O Rosas deu-me o conselho de eu criar o meu próprio duplo. / Eu vivo no concelho de Fafe.

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d) As rosas encarnadas são extraordinárias! / O Rosas escrevia versos lindíssimos.

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8. Analisa morfologicamente a frase seguinte:

“No terceiro ano do liceu, o Rosas apareceu em Penafiel.”

Page 5: 1º Teste Sumativo 7ºano

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9. Atenta na frase “O Rosas era fraco aluno”

9.1- Identifica o adjectivo presente na frase e o grau em que se encontra.

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9.2- Reescreve-a colocando o adjectivo nos graus:

a) Superlativo absoluto analítico. _________________________________________________________

b) Comparativo de inferioridade. _________________________________________________________

c) Superlativo relativo de superioridade. ___________________________________________________

d) Grau normal. ______________________________________________________________________

Grupo IIIEspaço Criativo!

“Porque é que não crias o teu duplo?”

Agarra a proposta do Rosas e redige um texto bem estruturado em que imagines esse duplo:

Menciona se é parecido contigo ou muito diferente; se é do mesmo sexo; as capacidades que possui; as

situações em poderá aparecer. (mínimo 10 e máximo 20 linhas)

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Bom trabalho!