281
ANEXO I ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA DE GOVERNO SUMÁRIO INTRODUÇÃO A Estratégia de Desenvolvimento de Longo Prazo MEGAOBJETIVO I: Inclusão Social e Redução das Desigual- dades Sociais Desafios: 1. Combater a fome visando a sua erradicação e promover a se- gurança alimentar e nutricional, garantindo o caráter de inserção e cidadania. 2. Ampliar a transferência de renda para as famílias em situação de pobreza e aprimorar os seus mecanismos. 3. Promover o acesso universal, com qualidade e eqüidade à se- guridade social (saúde, previdência e assistência). 4. Ampliar o nível e a qualidade da escolarização da população, promovendo o acesso universal à educação e ao patrimônio cultural do país. 5. Promover o aumento da oferta e a redução dos preços de bens e serviços de consumo popular. 6. Implementar o processo de reforma urbana, melhorar as condições de habitabilidade, acessibilidade e de mobilidade urbana, com ênfase na qualidade de vida e no meio-ambiente. 7. Reduzir a vulnerabilidade das crianças e de adolescentes em re- lação a todas as formas de violência, aprimorando os mecanismos de efetivação dos seus direitos sociais e culturais. 8. Promover a redução das desigualdades raciais, com ênfase na valorização cultural das etnias. 9. Promover a redução das desigualdades de gênero, com ênfase na valorização das diferentes identidades. 10. Ampliar o acesso à informação e ao conhecimento por meio das novas tecnologias, promovendo a inclusão digital e garantindo a for- mação crítica dos usuários. MEGAOBJETIVO II: Crescimento com geração de trabalho, em- prego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desi- gualdades sociais Desafios: 13. Alcançar o equilíbrio macroeconômico com a recuperação e sus- tentação do crescimento e distribuição da renda, geração de trabalho e emprego. 14. Ampliar as fontes de financiamento internas e democratizar o acesso ao crédito para o investimento, a produção e o consumo. 15. Ampliar a oferta de postos de trabalho, promover a informação e a formação profissional e regular o mercado de trabalho, com ênfase na redução da informalidade.

1(Pagp) - camara.leg.br · § 1o Para atendimento ao disposto nocaput, o Poder Exe- ... prego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desi-gualdades sociais Desafios: 13

Embed Size (px)

Citation preview

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 20062 ISSN 1677-7042

CAPTULO IVDO CONTEDO

Art. 6o Ficam dispensadas de discriminao no Plano:

I - as aes oramentrias cuja execuo restrinja-se a umnico exerccio financeiro;

II - as atividades e as operaes especiais cujo valor totalpara o perodo do Plano seja inferior a cinqenta vezes o limiteestabelecido no art. 23, I, c, da Lei no 8.666, de 1993.

1o Os projetos de grande vulto devero ser obrigatoria-mente discriminados no Plano, observado o disposto no art. 3o.

2o As aes oramentrias que se enquadrarem no critrioestabelecido nos incisos I e II comporo o 'Somatrio das demaisaes detalhadas no Oramento/Relatrio Anual de Avaliao',constante de cada programa, observado o disposto no 1o.

Art. 7o Somente podero ser contratadas operaes de crditoexterno para o financiamento de aes oramentrias integrantesdesta Lei.

1o As operaes de crdito externo que tenham comoobjeto o financiamento de projetos tero como limite contratual ovalor total estimado desses projetos.

2o Os desembolsos decorrentes das operaes de crditoexterno de que trata o caput limitar-se-o, para o quadrinio2004/2007, aos valores financeiros previstos, para o mesmo pe-rodo, para as aes oramentrias constantes deste Plano.

CAPTULO VDA DIVULGAO

Art. 8o O Ministrio do Planejamento, Oramento e Gestodivulgar, no prazo de noventa dias contados da publicao doPlano ou de suas revises anuais:

I - o seu texto atualizado;

II - os anexos atualizados, com as adequaes do valor totalestimado, dos valores financeiros previstos para as aes, dasmetas fsicas e das datas de incio e de trmino dos projetos, bemcomo das metas fsicas das atividades e das operaes especiais,em funo dos valores das aes aprovadas pelo Congresso Na-

cional, inclusive aquelas constantes da lei oramentria anual,com as devidas justificativas.

Pargrafo nico. As aes no-oramentrias que contribuampara os objetivos dos programas, podero ser incorporadas aosanexos a que se refere o inciso II ou apresentadas em anexoespecfico, devidamente identificadas.

CAPTULO VIDA AVALIAO

Art. 9o O Poder Executivo enviar ao Congresso Nacional,at o dia 15 de setembro de cada exerccio, relatrio de avaliaodo Plano, que conter:

I - avaliao do comportamento das variveis macroeco-nmicas que embasaram a elaborao do Plano, explicitando, sefor o caso, as razes das discrepncias verificadas entre os va-lores previstos e os realizados;

II - demonstrativo, na forma do Anexo II desta Lei, con-tendo, para cada ao:

a) a execuo fsica e oramentria das aes oramentriasnos exerccios de vigncia deste Plano;

b) as dotaes correspondentes s aes oramentrias da leioramentria em vigor e as previstas na proposta oramentriaenviada em 31 de agosto;

c) as estimativas das metas fsicas e dos valores financeiros,para os trs exerccios subseqentes ao da proposta oramentriaenviada em 31 de agosto, das aes oramentrias constantesdesta Lei e suas alteraes, das novas aes oramentrias pre-vistas e das aes no-oramentrias;

III - demonstrativo, por programa e por indicador, dos n-dices alcanados ao trmino do exerccio anterior e dos ndicesfinais previstos;

IV - avaliao, por programa, da possibilidade de alcance dondice final previsto para cada indicador e de cumprimento dasmetas, indicando, se for o caso, as medidas corretivas necessrias;

V - justificativa, por projeto de grande vulto, da ocorrnciade execuo oramentria acumulada ao final do exerccio an-terior, em valor superior ao valor financeiro previsto para o pe-rodo do Plano;

VI - justificativa, por projeto de grande vulto, da ocorrnciade execuo oramentria acumulada ao final do exerccio an-terior, em valor inferior a 15%, 30% e 50%, do valor financeiroprevisto para o perodo do Plano, para os relatrios apresentadosem 2005, 2006 e 2007, respectivamente;

VII - justificativa da no-incluso, na proposta oramentriaenviada em 31 de agosto, de projeto de grande vulto j iniciadoou que, de acordo com as respectivas datas de incio e de trmino,constantes do Plano, deveriam constar da proposta, e apresen-tao, para esses ltimos, de nova data prevista para o incio;

VIII - demonstrativo da execuo fsica e oramentria, naforma do Anexo II desta Lei, das aes oramentrias que, porfora do disposto no art. 6o, ficaram dispensadas de serem dis-criminadas no Plano.

1o Para atendimento ao disposto no caput, o Poder Exe-cutivo instituir Sistema de Avaliao do Plano, sob a coor-denao do rgo Central do Sistema de Planejamento e Or-amento Federal.

2o O Congresso Nacional ter acesso irrestrito ao Sistemade Informaes Gerenciais e de Planejamento do Plano - Sigplan,para fins de consulta.

3o O rgo Central do Sistema de Planejamento e Or-amento Federal permitir o acesso, pela Internet, ao resumo dasinformaes constantes do Sigplan, em mdulo especfico, parafins de consulta pela sociedade civil.

Art. 10. Os rgos do Poder Executivo responsveis porprogramas, nos termos do Anexo III desta Lei, devero:

I - registrar, na forma padronizada pelo rgo Central doSistema de Planejamento e Oramento Federal, as informaesreferentes execuo fsica das aes oramentrias e no-or-amentrias constantes dos programas sob sua responsabilidade,at 31 de maro do exerccio subseqente ao da execuo;

II - elaborar plano gerencial e plano de avaliao dos res-pectivos programas, para apreciao pelo rgo Central do Sis-tema de Planejamento e Oramento Federal;

III - adotar mecanismos de participao da sociedade e dasunidades subnacionais na avaliao dos programas.

Pargrafo nico. O rgo Central do Sistema de Planeja-mento e Oramento Federal dever elaborar e divulgar, pela In-ternet, o relatrio de avaliao do Plano at o dia 15 de setembrode cada exerccio.

Art. 11. Os rgos dos Poderes Legislativo e Judicirio, res-ponsveis por programas, devero elaborar e enviar ao rgoCentral do Sistema de Planejamento e Oramento Federal, planogerencial e plano de avaliao dos programas sob sua respon-sabilidade.

Pargrafo nico. Aplica-se aos rgos dos Poderes Legis-lativo e Judicirio, responsveis por programas, o disposto noinciso I do art. 10.

CAPTULO VIIDA PARTICIPAO DAS UNIDADES SUBNACIONAIS

E DA SOCIEDADE CIVIL

Art. 12. O Poder Executivo poder firmar compromissos,agrupados por sub-regies, com Estados, Distrito Federal e Mu-nicpios, na forma de pacto de concertamento, definindo atri-buies e responsabilidades das partes, com vistas execuo doPlano e de seus programas.

1o O Poder Executivo promover a participao da so-ciedade civil organizada na avaliao e nas alteraes do Plano.

2o Os pactos de concertamento, de que trata o caput,abrangero os programas e aes oramentrias que contribuampara os objetivos do Plano, em nvel estadual e sub-regional, edefiniro as condies em que a Unio, os Estados e o DistritoFederal, os Municpios e a sociedade civil organizada partici-paro do ciclo de gesto deste Plano. (NR)

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao,com efeito retroativo a partir de 1o de janeiro de 2006.

Braslia, 5 de julho de 2006; 185o da Independncia e 118oda Repblica.

LUIZ INCIO LULA DA SILVAPaulo Bernardo Silva

ANEXO I

ORIENTAO ESTRATGICA DE GOVERNO

SUMRIOINTRODUO

A Estratgia de Desenvolvimento de Longo Prazo

MEGAOBJETIVO I: Incluso Social e Reduo das Desigual-dades Sociais

Desafios:

1. Combater a fome visando a sua erradicao e promover a se-gurana alimentar e nutricional, garantindo o carter de insero ecidadania.

2. Ampliar a transferncia de renda para as famlias em situao depobreza e aprimorar os seus mecanismos.

3. Promover o acesso universal, com qualidade e eqidade se-guridade social (sade, previdncia e assistncia).

4. Ampliar o nvel e a qualidade da escolarizao da populao,promovendo o acesso universal educao e ao patrimnio culturaldo pas.

5. Promover o aumento da oferta e a reduo dos preos de bens eservios de consumo popular.

6. Implementar o processo de reforma urbana, melhorar as condiesde habitabilidade, acessibilidade e de mobilidade urbana, com nfasena qualidade de vida e no meio-ambiente.

7. Reduzir a vulnerabilidade das crianas e de adolescentes em re-lao a todas as formas de violncia, aprimorando os mecanismos deefetivao dos seus direitos sociais e culturais.

8. Promover a reduo das desigualdades raciais, com nfase navalorizao cultural das etnias.

9. Promover a reduo das desigualdades de gnero, com nfase navalorizao das diferentes identidades.

10. Ampliar o acesso informao e ao conhecimento por meio dasnovas tecnologias, promovendo a incluso digital e garantindo a for-mao crtica dos usurios.

MEGAOBJETIVO II: Crescimento com gerao de trabalho, em-prego e renda, ambientalmente sustentvel e redutor das desi-gualdades sociais

Desafios:

13. Alcanar o equilbrio macroeconmico com a recuperao e sus-tentao do crescimento e distribuio da renda, gerao de trabalhoe emprego.

14. Ampliar as fontes de financiamento internas e democratizar oacesso ao crdito para o investimento, a produo e o consumo.

15. Ampliar a oferta de postos de trabalho, promover a informao ea formao profissional e regular o mercado de trabalho, com nfasena reduo da informalidade.

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 2006 3ISSN 1677-7042

16. Implantar um efetivo processo de reforma agrria, recuperar osassentamentos existentes, fortalecer e consolidar a agricultura familiare promover o desenvolvimento sustentvel do meio rural, levando emconsiderao as condies edafo-climticas nas diferentes regies dopas.

17. Coordenar e promover o investimento produtivo e a elevao daprodutividade, com nfase na reduo da vulnerabilidade externa.

18. Ampliar, desconcentrar regionalmente e fortalecer as bases cul-turais, cientficas e tecnolgicas de sustentao do desenvolvimento,democratizando o seu acesso.

19. Impulsionar os investimentos em infra-estrutura de forma co-ordenada e sustentvel.

20. Reduzir as desigualdades regionais e intra-regionais com inte-grao das mltiplas escalas espaciais (nacional, macro-regional, sub-regional e local), valorizando as identidades e diversidades culturais eestimulando a participao da sociedade no desenvolvimento local.

21. Melhorar a gesto e a qualidade ambiental e promover a con-servao e uso sustentvel dos recursos naturais, com nfase na pro-moo da educao ambiental.

22. Ampliar a participao do Pas no mercado internacional pre-servando os interesses nacionais.

23. Incentivar e fortalecer as micro, pequenas e mdias empresas como desenvolvimento da capacidade empreendedora.

MEGAOBJETIVO III: Promoo e expanso da cidadania e for-talecimento da democracia

Desafios:

25. Fortalecer a cidadania com a garantia dos direitos humanos,respeitando a diversidade das relaes humanas.

26. Garantir a integridade dos povos indgenas respeitando sua iden-tidade cultural e organizao econmica.

27. Valorizar a diversidade das expresses culturais nacionais e re-gionais.

28. Garantir a segurana pblica com a implementao de polticaspblicas descentralizadas e integradas.

29. Valorizar a identidade e preservar a integridade e a soberanianacionais.

30. Promover os valores e os interesses nacionais e intensificar ocompromisso do Brasil com uma cultura de paz, solidariedade e dedireitos humanos no cenrio internacional.

31. Implementar uma nova gesto pblica: tica, transparente, par-ticipativa, descentralizada, com controle social e orientada para ocidado.

32. Combater a corrupo.

33. Democratizar os meios de comunicao social, valorizando osmeios alternativos e a pluralidade de expresso.

INTRODUO

O processo de elaborao do Plano Plurianual 2004-2007inaugura uma nova fase no planejamento governamental brasileiro. Aconstruo e a gesto do Plano a partir de um amplo debate com asociedade busca a implantao de um novo padro de relao entreEstado e sociedade, marcado pela transparncia, solidariedade e cor-responsabilidade. A implementao de mecanismos que ampliem aparticipao da sociedade nas escolhas de polticas pblicas umtrao distintivo deste PPA.

A Orientao Estratgica de Governo o instrumento querege a formulao e a seleo dos programas que integram o PPA2004-2007. Pela primeira vez na histria do Pas foi construda deforma coletiva, com a participao direta da sociedade civil orga-nizada e de todos os rgos responsveis pela implementao depolticas.

O ponto de partida a Estratgia de Desenvolvimento deLongo Prazo: incluso social e desconcentrao de renda com vi-goroso crescimento do produto e do emprego; crescimento ambien-talmente sustentvel, redutor das disparidades regionais, dinamizadopelo mercado de consumo de massa, por investimentos, e por ele-vao da produtividade; reduo da vulnerabilidade externa por meioda expanso das atividades competitivas que viabilizam esse cres-cimento sustentado; e valorizao da identidade e da diversidadecultural, fortalecimento da cidadania e da democracia.

A estratgia decomposta em trs megaobjetivos que es-pelham o seu conjunto: 1) Incluso Social e Reduo das Desi-gualdades Sociais; 2) Crescimento com Gerao de Emprego e Ren-da, Ambientalmente Sustentvel e Redutor das Desigualdades Re-gionais e 3) Promoo e Expanso da Cidadania e Fortalecimento daDemocracia. Estes megaobjetivos foram decompostos em desafios,que expressam grandes alvos que levam superao de obstculos implementao da Estratgia de Desenvolvimento.

Esta estratgia foi amplamente debatida. Num primeiro mo-mento, dentro do prprio governo, em duas reunies com todo ocorpo ministerial, e em seminrio realizado na Escola Nacional deAdministrao Pblica - ENAP no incio de abril de 2003, com aparticipao de 130 tcnicos, entre representantes das reas que im-plementam as polticas setoriais e dirigentes dos rgos da admi-nistrao pblica federal. Nesse seminrio foram definidos, de forma

preliminar, um conjunto de 24 desafios, e as respectivas diretrizes quequalificam a forma como o governo deve atuar para superar taisdesafios.

Em seguida a Orientao Estratgica do Governo foi co-locada em discusso junto s entidades representativas da sociedade.Primeiramente no Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social- CDES, que debateu os temas durante trs sees dos grupos detrabalho do Conselho. Em 12 de junho de 2003 foram apresentadas aogoverno as recomendaes do Conselho sobre a Orientao Estra-tgica de Governo.

Durante os meses de maio a julho de 2003, a Orientao foidiscutida com a sociedade civil organizada, em um processo co-ordenado pela Secretaria-Geral da Presidncia em parceria com oMinistrio do Planejamento, Oramento e Gesto, a Casa Civil daPresidncia da Repblica e a Secretaria de Comunicao e GestoEstratgica de Governo. Foram realizados Fruns da ParticipaoSocial em 26 Estados e no Distrito Federal, com a presena de 4.738pessoas, representando 2.170 entidades da sociedade civil. Estiveramenvolvidas organizaes representativas de trabalhadores, urbanos erurais, empresrios dos diversos ramos de atividade econmica, dasdiferentes igrejas, de movimentos sociais e organizaes no go-vernamentais, relacionados a diversos temas tais como cultura, meioambiente, sade, educao, comunicao social, dentre outros.

As Orientaes Estratgicas de Governo foram revisadascom base nos relatrios que sistematizaram o resultado deste amploprocesso de consulta. Foi constitudo um grupo de trabalho, coor-denado pela Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratgicos- SPI, envolvendo tcnicos do Instituto de Pesquisa Econmica Apli-cada - IPEA e da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica paraanalisar e consolidar as contribuies, dando origem ao novo con-junto dos desafios e diretrizes que se apresenta neste documento. AOrientao Estratgica de Governo passou a ser composta por 30desafios, compostos por diretrizes que orientam formas de enfrent-los, organizados nos trs megaobjetivos.

O processo de consulta sociedade civil sobre a OrientaoEstratgica de Governo inaugura um ciclo de aperfeioamento con-tnuo do Plano Plurianual, introduzindo canal de dilogo direto com asociedade no processo de planejamento. Nesta primeira fase as dis-cusses se centraram no topo do processo de planejamento, ou seja,nas diretrizes estratgicas. A partir de setembro, os programas, aese metas de mdio prazo do governo sero revisados, com a par-ticipao da sociedade, tomando por base os desafios propostos nestaOrientao.

A Estratgia de Desenvolvimento de Longo Prazo

O Presidente Luiz Incio Lula da Silva assumiu o Governocom o compromisso de mudar o Pas e melhorar a vida dos bra-sileiros. Sua eleio foi a da esperana de que um novo Brasil possvel. Desde o primeiro dia de mandato o novo Governo se propsa enfrentar o desafio histrico de eliminar a fome e a misria queenvergonham a Nao e atingem milhes de irms e irmos. Cons-truir uma sociedade dinmica e moderna, tirar o Pas da letargia, gerarempregos e riquezas e estabelecer justia social so objetivos que ssero alcanados com um crescimento firme e duradouro. Promoverum desenvolvimento sustentado com eqidade social requer grandeunio de esforos e a mobilizao da sociedade brasileira. Cabe aoEstado utilizar todos os instrumentos e recursos disponveis para daro impulso indispensvel retomada do desenvolvimento.

No se faz uma mudana desse porte sem planejamento. OPlano Plurianual (PPA) 2004-2007 (Plano Brasil de Todos) foi cons-trudo para mudar o Brasil. Inaugura um modelo de desenvolvimentode longo prazo, para muito alm de 2007, destinado a promoverprofundas transformaes estruturais na sociedade brasileira. a pe-a-chave do planejamento social e econmico do Governo do Pre-sidente Luiz Incio Lula da Silva. O PPA confere racionalidade eeficcia s aes do Governo Federal na direo dessas profundasmudanas.

A estratgia de Governo para os programas do Plano Plu-rianual 2004-2007 baseia-se fundamentalmente no Programa de Go-verno apresentado na campanha e pelo qual Lula foi eleito presidenteem 2002. Ela estabelece o horizonte para onde vo se dirigir tanto osoramentos anuais quanto o prprio Plano Plurianual. Ela rege adefinio dos programas prioritrios na rea social, dos programas deinvestimento em infra-estrutura e em setores geradores das divisasnecessrias sustentao do crescimento com estabilidade macroe-conmica e de todos os demais programas e aes do Governo.

Os problemas fundamentais a serem enfrentados so a con-centrao social e espacial da renda e da riqueza, a pobreza e aexcluso social, o desrespeito aos direitos fundamentais da cidadania,a degradao ambiental, a baixa criao de emprego e as barreiraspara a transformao dos ganhos de produtividade em aumento derendimentos da grande maioria das famlias trabalhadoras. Programassociais e de construo da cidadania so absolutamente necessriospara gerar as condies de erradicao da pobreza, do analfabetismo,do trabalho precoce, da mortalidade infantil, da discriminao racial,da mulher, e das minorias, para garantir o acesso universal e dequalidade aos servios de sade, educao e cultura, e a condiesdignas de moradia e transporte. Mas so insuficientes, porque o ata-que apropriado excluso social e m distribuio da renda exigetambm crescimento sustentado, com a gerao de riqueza em escalasuficiente para elevar o volume de investimentos e a massa salarial doPas.

O Brasil possui todos os elementos necessrios para o cres-cimento do PIB a taxas superiores a 4% ao ano: uma fora detrabalho ampla, disposta a enfrentar os desafios das novas tecno-logias, recursos naturais abundantes e profissionais qualificados emtodas as reas de conhecimento, um dos maiores mercados potenciaisdo mundo, um empresariado empreendedor e capaz de competir emqualquer mercado, desde que dotado de condies para enfrentar aconcorrncia, e uma base produtiva ampla, diversificada e compe-titiva em inmeros setores. Para o crescimento sustentado se trans-formar em realidade falta articular essas foras, que esto dispersas hanos, e orient-las para um projeto de desenvolvimento.

Para implantar esse projeto de desenvolvimento preciso queo Estado tenha um papel decisivo, como condutor do desenvolvi-mento social e regional e como indutor do crescimento econmico. Aausncia de um projeto de desenvolvimento resultou na falta de focodos Planos Plurianuais precedentes. Na esfera social, por exemplo,acumularam-se programas superpostos, com poucos resultados pr-ticos. preciso uma virada total na forma de planejar. Dadas ascaractersticas atuais do Estado, da sociedade e do sistema produtivobrasileiros, a atividade de planejamento deve ser compreendida comocoordenao e articulao dos interesses pblicos e privados no sen-tido de minorar a pobreza da populao, minimizar as desigualdadessociais e regionais, redistribuir renda, reduzir o desemprego, superar aescassez de financiamento, reduzir incertezas e elevar o investimentopblico e privado.

O PPA 2004-2007 tem por objetivo inaugurar a seguinteestratgia de longo prazo: incluso social e desconcentrao de rendacom vigoroso crescimento do produto e do emprego; crescimentoambientalmente sustentvel, redutor das disparidades regionais, di-namizado pelo mercado de consumo de massa, por investimentos, epor elevao da produtividade; reduo da vulnerabilidade externapor meio da expanso das atividades competitivas que viabilizam essecrescimento sustentado; e fortalecimento da cidadania e da demo-cracia.

A estratgia tem slida base macroeconmica e aderncia realidade do Pas. Valoriza a estabilidade, bem como polticas ade-quadas de estmulo produtividade e competitividade, pois, na suaausncia, a prpria dinmica de expanso da economia pode criaruma srie de desequilbrios que acabe por reverter essa expanso.

Um regime macroeconmico estvel baseia-se em trs fun-damentos: a) contas externas slidas, ou seja, um saldo em contacorrente que no imponha restries excessivas poltica monetrianem torne o Pas vulnervel a mudanas nos fluxos de capitais in-ternacionais; b) consistncia fiscal caracterizada por uma trajetriasustentvel para a dvida pblica; e c) inflao baixa e estvel.

A reduo da vulnerabilidade externa condio indispen-svel para que o desenvolvimento seja sustentvel. Isso implica emaumentar as exportaes, fortalecer o fluxo de comrcio, estimular oturismo e a substituio competitiva das importaes. A estratgiarequer tambm a conquista de mercados internacionais, atravs deuma integrao comercial slida entre os pases do Mercosul e osdemais vizinhos na regio, e a persistente ampliao da inserocomercial nos grandes mercados mundiais e naqueles mercados aindapouco atendidos por nossas exportaes. Requer, ainda, o investi-mento na diversificao da pauta de exportaes, com a incluso deprodutos culturais e daqueles vinculados s novas tecnologias deinformao. Os produtos culturais funcionam tambm como dina-mizadores e difusores de outros produtos junto ao mercado inter-nacional.

A estabilidade macroeconmica, mais que uma mera con-dio inicial, tambm elemento fundamental de um projeto dedesenvolvimento sustentvel. Ciclos de crescimento caracterizadospor uma poltica macroeconmica frgil e vulnervel a choques ex-ternos inevitavelmente resultam em crises, no apenas inviabilizandoa continuidade do desenvolvimento, mas tambm prejudicando a me-lhoria da distribuio de renda.

Neste contexto de transio, o planejamento estratgico dasaes de Governo nos prximos anos ser essencial para compa-tibilizar os objetivos de alcanar o mximo crescimento possvel,ampliar a incluso social, reduzir o desemprego e as disparidadesregionais e fortalecer a cidadania com as restries decorrentes danecessidade de consolidar a estabilidade macroeconmica no Pas:manuteno do ajuste do balano de pagamentos e conseqente ne-cessidade de harmonizar o ritmo de crescimento da demanda com oda capacidade produtiva domstica e manuteno de um supervitprimrio consistente com a necessidade de financiamento pblico aolongo do tempo.

A baixa taxa de investimento em infra-estrutura nos ltimosanos no apenas prejudicou a competitividade da economia nacional,como pode levar ao surgimento de gargalos que inviabilizem umnovo ciclo de crescimento. Investimentos expressivos na expanso erecuperao da infra-estrutura so, portanto, condio indispensvelpara viabilizar um perodo de crescimento sustentado do Pas.

Os investimentos deste PPA norteiam-se por aes de grandealcance nos diferentes segmentos da infra-estrutura. No setor de trans-portes envolvem a reduo do custo de logstica, a explorao dopotencial de uso multimodal em substituio matriz predominan-temente rodoviria, a abertura de sistemas de integrao com a fron-teira econmica do territrio brasileiro e com os pases vizinhos, e amelhoria da mobilidade urbana. Em energia os investimentos devemgarantir o abastecimento sem risco de crises, aproveitar as vantagenscompetitivas derivadas da gerao hidreltrica na matriz de energiaeltrica nacional e alcanar e preservar a auto-suficincia em petrleo.No segmento das telecomunicaes preciso avanar na universa-

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 20064 ISSN 1677-7042

lizao dos servios e incentivar a pesquisa, desenvolvimento e pro-duo de equipamentos e de software. Os investimentos em infra-estrutura de recursos hdricos, em saneamento e em habitao abremigualmente uma extensa agenda de projetos para o futuro.

No longo prazo, objetiva-se, com o PPA 2004-2007, inau-gurar um processo de crescimento pela expanso do mercado deconsumo de massa e com base na incorporao progressiva das fa-mlias trabalhadoras ao mercado consumidor das empresas modernas.O modelo vivel, j que est inscrito na lgica de operao daeconomia brasileira: toda vez que ocorre aumento do poder aquisitivodas famlias trabalhadoras, o que se amplia a demanda por bens eservios produzidos pela estrutura produtiva moderna da economia(alimentos processados, vesturio e calados, artigos de higiene elimpeza, produtos farmacuticos, equipamentos eletrnicos, eletro-domsticos, materiais de construo, mobilirio, servios de super-mercados, servios de transporte, de energia eltrica, de telefonia, decultura e entretenimento).

O crescimento via consumo de massa sustenta-se em grandesganhos de produtividade, associados ao tamanho do mercado interno;aos ganhos de eficincia por escala derivados da conquista de mer-cados externos resultantes dos benefcios da escala domstica; e aosganhos derivados do processo de aprendizado e de inovao queacompanham os investimentos em expanso da produo de bens deconsumo de massa pelos setores modernos.

Com os ganhos de produtividade, gera-se o excedente que,em certa medida, pode traduzir-se em maiores rendimentos das fa-mlias trabalhadoras, por meio da reduo nos preos dos bens eservios de consumo de massa, da elevao salarial e da elevao daarrecadao fiscal que pode ser destinada a gastos sociais.

Se os mecanismos de transmisso do aumento de produ-tividade ao poder aquisitivo das famlias trabalhadoras funcionarem acontento, pode-se estabelecer o seguinte crculo virtuoso: aumento derendimentos das famlias trabalhadoras/ ampliao da base de con-sumo de massa/investimentos/ aumento da produtividade e da com-petitividade/ aumento de rendimentos das famlias trabalhadoras - ou,em resumo, um crculo virtuoso entre rendimentos das famlias tra-balhadoras e investimentos. O Brasil um dos poucos pases domundo que dispe de condies para crescer por essa estratgia,devido ao tamanho de seu mercado consumidor potencial.

Uma das virtudes do modelo de crescimento por consumo demassa seu efeito positivo sobre o balano de pagamentos, devido aoimpacto dos ganhos de produtividade sobre a competitividade tantodas exportaes quanto da produo para o mercado interno quecompete com importaes. O balano de pagamentos poder be-neficiar-se tambm pelo fato de que, devido ao peso de alimentos,construo residencial, sade e escola em seu oramento familiar, acesta de consumo das famlias de menor renda relativamente poucointensiva em importaes. No menos importante, as oportunidadesde especializao produtiva na direo do consumo popular con-feriro s empresas no Brasil o promissor caminho da inovao tec-nolgica dado pela produo em alta escala de bens que conjugamboa qualidade e baixo preo, tendo efeitos positivos sobre as ex-portaes por meio do aproveitamento de oportunidades em impor-tantes mercados internacionais.

A estratgia baseia-se no reconhecimento de que a trans-misso de produtividade a rendimentos do trabalhador dificilmente severificar sem polticas de emprego, de incluso social e de re-distribuio de renda. A principal razo que, mesmo em condiesde rpido crescimento, tende a haver insuficiente criao de emprego,devido ao fato que os setores modernos so pouco intensivos emmo-de-obra. Nem mesmo um crescimento muito acelerado da eco-nomia garante uma absoro satisfatria do enorme contingente demo-de-obra desempregada e subempregada, em particular da menosqualificada. Isso se soma tendncia perversa de expulso da mo-de-obra da agricultura e conspira contra a eliminao do desempregoe do subemprego - e, conseqentemente, contra a elevao salarial. Asegmentao do mercado de trabalho, associada a baixos nveis deescolaridade e qualificao, tem implicado elevao de rendimentosapenas para os segmentos de maiores salrios. Ou seja, a transmissode produtividade a rendimentos dos trabalhadores permanece restritaa uma pequena parcela da fora de trabalho.

A justificativa da necessidade de polticas de emprego, in-cluso social e redistribuio como fortalecedoras da transmisso deprodutividade a rendimentos das famlias trabalhadoras vai alm doproblema de escassez de postos de trabalho e inclui duas outrascausas bsicas: a) devido ao elevado grau de oligoplios na eco-nomia, os ganhos de produtividade no necessariamente se traduzemem queda de preos de bens de consumo popular; e b) a absoro,pelo Estado, de parte do excedente por meio de tributao no tem setraduzido at agora em aumento da quantidade e da qualidade dosgastos sociais essenciais.

O crculo virtuoso entre investimento e consumo, originadono aumento do poder aquisitivo das famlias trabalhadoras, dependeda elevao dos salrios reais e demais rendimentos diretos e in-diretos por elas auferidos. A escassez de postos de trabalho e asdemais falhas nos mecanismos de transmisso de aumento da pro-dutividade a rendimentos dos trabalhadores significam, para o fun-cionamento do referido crculo, a necessidade de que o Governopratique polticas sociais que compensem essas fragilidades. Por essarazo, as polticas de incluso social e de reduo das desigualdades,que tm como maior objetivo justia social, so ao mesmo tempoindispensveis operao do modelo de consumo de massa.

As polticas sociais viabilizam o consumo popular ao au-mentar o poder aquisitivo das famlias e reduzir a presso da oferta demo-de-obra sobre o mercado de trabalho, favorecendo a transmissodos aumentos de produtividade aos salrios. Por exemplo: a) a re-forma agrria e o fomento agricultura familiar retm mo-de-obrano campo e criam renda; b) a exigncia de freqncia escolar paraacesso poltica de transferncia mantm a criana na escola, reduzo trabalho infantil e melhora a renda familiar; c) a universalizao daassistncia aos idosos viabiliza seu descanso e libera vagas no mer-cado de trabalho, alm de elevar a renda da famlia; d) o microcrditod suporte ao auto-emprego e a postos de trabalho em microempresas,criando emprego e renda; e) os programas de acesso moradia, infra-estrutura e servios sociais, como saneamento, transporte coletivo,educao e sade so clssicos geradores de postos de trabalho, almde ampliar a renda, ao reduzir gastos como aluguel, remdio e escola;f) os programas de transferncia de renda, a elevao do salriomnimo e o seguro-desemprego operam em favor do modelo de con-sumo de massa, ao ampliar os rendimentos da famlia pobre e aodisponibilizar recursos para o aumento dos gastos.

As polticas, programas e aes que daro substncia a essaestratgia distribuem-se em seis dimenses: social, econmica, re-gional, ambiental, cultural e democrtica. Estas se articulam em tornode trs mega-objetivos, que se abrem em 30 desafios, a serem en-frentados por meio de 374 programas, que abarcam aproximadamente4.300 aes.

MEGAOBJETIVO I

Incluso social e reduo das desigualdades sociais

A restrio ao exerccio dos direitos da cidadania reflete-seem um quadro social alarmante. Se verdade que os indicadoressociais tm melhorado, faz-se mister destacar que o Brasil continuamarcado pela desigualdade e pela excluso. A distncia entre ricos epobres grande e permanece estvel ao longo do tempo. Nas ltimasduas dcadas, o coeficiente de Gini, manteve-se no patamar de 0,60 -

um dos nveis mais elevados do mundo. A iniqidade social seexpressa de forma mais contundente, no fato de que os 10% maisricos se apropriam da metade de toda a renda das famlias, enquantoos 50% mais pobres ficam com apenas 10% desse total. Essas de-sigualdades se manifestam de modo igualmente severo nas dimensesraciais, de gnero, regionais e entre o campo e a cidade. A de-sigualdade de raa e de gnero, por exemplo, so dois dos principaiselementos explicativos da excluso social. Tal registro necessriopara rompermos com a viso que nega a existncia do racismo ediscriminao da mulher como fator que aumenta a injustia e aexcluso social. A questo de etnia, raa e gnero portanto, deve sereixo estruturante do Megaobjetivo I.

A permanncia dessas desigualdades concorre para a fome ea misria. Pelo menos 51 milhes de brasileiros, o que representacerca de 30% da populao, podem ser consideradas pobres. A ex-cluso social traduz-se em indicadores que esto em patamares poucocompatveis com o nvel de desenvolvimento econmico do Pas. Aproporo de pobres na populao brasileira trs vezes maior que aapresentada pelos paises com renda per cafet similar do Brasil.

A partir da segunda metade dos anos de 1990 o aumento dodesemprego e da informalidade, juntamente com a queda dos ren-dimentos dos trabalhadores, agravaram o quadro social. Tudo isso seexpressa na precariedade dos postos de trabalho e no incremento donmero de trabalhadores sem nenhum tipo de vnculo com o sistemade previdncia social e sem acesso ao seguro-desemprego. Essasvulnerabilidades contriburam para o aumento do nmero de can-didatos a ingressar no mundo dos pobres e miserveis.

O agravamento das condies de emprego coincidiu com adeteriorao dos servios pblicos. A despeito dos avanos na rea desade, persistem falhas na proviso de determinados servios bsicose, sobretudo, na qualidade do atendimento.

Os nveis de educao tambm encontram-se em patamaresinsatisfatrios: o Pas ainda conta com aproximadamente 12% deanalfabetos e a escolaridade mdia de cerca de 6 anos de estudo.Em que pese o mrito de se ter atingido patamares prximos dauniversalizao do acesso ao ensino fundamental, o Pas dista doefetivo cumprimento do preceito constitucional de uma escolarizaomnima de oito anos. Ademais, a qualidade na educao vem seapresentando como um problema crtico: em 2001, mais de metadedas crianas da 4 srie ainda eram analfabetas e, o que pior, atendncia detectada foi a de uma queda progressiva nos padres derendimento escolar.

Nas cidades brasileiras a populao se defronta com a pre-cariedade das condies de habitao, de infra-estrutura, equipamen-tos urbanos e comunitrios, alm da ineficincia e insuficincia naprestao de servios pblicos. O dficit na oferta de esgotamentosanitrio de 21,7% dos domiclios urbanos e o de abastecimento degua de 11,5%.

As evidncias demonstram que a pobreza, a desigualdade e odesemprego, associados s precrias condies de alimentao, sade,educao e moradia, concorrem para a marginalizao de expressivossegmentos sociais, que no tm acesso a bens essenciais e que seencontram alijados do mundo do trabalho, do espao pblico e dasinstituies a ele relacionadas. Enfrentar este quadro o principaldesafio do Estado brasileiro expresso nesse Plano. Trata-se de ampliara cidadania, isto , atuar de modo articulado e integrado, de forma agarantir a universalizao dos direitos sociais bsicos e, simulta-neamente, atender s demandas diferenciadas dos grupos socialmentemais vulnerveis da populao.

A ampliao da cidadania a bssola do PPA. Para tanto, o

Plano Plurianual 2004-2007 inova em termos de concepo, de orien-tao e de gesto das polticas sociais.

No que se refere concepo, a grande diferena reside naintegrao entre a poltica social e a poltica econmica, derivada domodelo de desenvolvimento adotado. Este realiza a integrao entre,por um lado, a incluso social e a redistribuio da renda e, por outro,os investimentos e o crescimento da renda e do emprego. A uni-versalizao dos direitos sociais bsicos e a transmisso dos ganhosde produtividade aos salrios estabelecem a sinergia entre as polticassociais e de investimento, promovendo o crescimento por meio daexpanso do mercado de consumo popular.

A esse respeito, convm assinalar o exemplo fornecido pelaampliao dos direitos previdencirios, que aumentou a renda dosbeneficirios e teve um impacto notvel na reduo da pobreza. Astransferncias de renda realizadas por intermdio da previdncia re-tiram um enorme contingente de pessoas da pobreza. Se no fossemos benefcios previdencirios, a proporo de pobres, no Brasil, teriasido de 43% da populao em 1999, ao invs dos 34% ento ob-servados.

Quanto orientao das polticas sociais, o que se busca promover a expanso do atendimento, com qualidade, e garantir umtratamento prioritrio para aqueles segmentos tradicionalmente ex-cludos dos benefcios das aes pblicas e discriminados por pre-conceitos sociais. A efetiva universalizao dos direitos sociais b-sicos requer implementar de forma criativa um conjunto de medidasque visem a: (i) estender a cobertura de polticas mais consolidadas,tais como, as de sade, previdncia social, assistncia social e edu-cao; (ii) aprimorar a qualidade e reduzir os servios prestados ebens produzidos, especialmente daqueles dirigidos ao consumo po-pular; (iii) garantir a segurana alimentar; (iv) promover um aten-dimento diferenciado para os grupos mais vulnerveis por meio datransferncia de renda, polticas afirmativas, polticas urbanas e deincluso digital; e, (v) integrar as polticas de gerao de emprego erenda com as de desenvolvimento;

A ampliao da cidadania tambm requer, como orientaoestratgica, o alargamento de espaos que propiciem a veiculao dademanda por direitos. Neste sentido, busca-se consolidar instnciasplurais de dilogo entre o Estado e a sociedade civil, tais como,conferncias nacionais norteadoras dos rumos das polticas sociais(i.e., de Sade, Assistncia Social, Segurana Alimentar, Cidades), oConselho de Desenvolvimento Econmico e Social, o Frum Na-cional de Trabalho e os prprios fruns estaduais criados para debatereste Plano. Entende-se que a incluso social e a reduo das de-sigualdades sociais passam pelo maior envolvimento da sociedademas, tambm, pelo desafio de se promover o empoderamento dascomunidades. Entende-se, pois, que a conjugao do ativismo polticoe do ativismo social so condies necessrias (ainda que no su-ficientes) para reverter o quadro de iniqidades no Pas.

Ainda que o Estado permanea como principal protagonistade uma poltica de incluso social, a experincia brasileira tem de-monstrado que necessrio redobrar esforos para somar todos osrecursos - financeiros, polticos, culturais, materiais e organizacionais- disponveis na sociedade. Longe de se pensar em substituies depapis ou delimitaes de campos de ao, trata-se de criar me-canismos que evitem superposies, paralelismos e desperdcios e quegarantam a complementaridade das aes do Estado e das orga-nizaes da sociedade, mercantis e no-mercantis.

O Plano procura inovar, tambm, no que diz respeito ges-to das polticas sociais. Esforos sero direcionados no sentido depromover a articulao dessas polticas de modo a romper com aesfragmentadas e dispersas, com o clientelismo, o paternalismo e ofisiologismo e com privilgios corporativos encastelados no sistemadas polticas pblicas. Busca-se por em marcha um novo padro degesto das polticas sociais, formuladas, articuladas e implementadaspor meio de aes intra e inter-governamentais. Alm disso, dar-se-maior nfase descentralizao das aes em direo aos estados emunicpios, transparncia das informaes e dos processos deci-srios e ao reforo da participao e controle social.

Um dos passos concretos, que reflete as inovaes ante-riormente mencionadas, est sendo dado com a unificao dos pro-gramas de transferncia de renda. Busca-se abandonar a lgica se-torial e departamentalizada que pulveriza recursos, sobrepem aten-dimentos, gera disputa entre instituies e fragmenta as aes tor-nando-as pouco eficazes. A implementao de um programa nico detransferncia de renda, de maior cobertura e de maior valor no be-nefcio financeiro corresponde a uma resposta do Governo para au-mentar emergencialmente a renda das famlias e combater fome. Noentanto, mais do que isso: alm de distribuir recursos financeiros afamlias em situao de pobreza trata-se, tambm, de associar a essebenefcio aes de sade e nutrio, assistncia social e educao demodo a promover a universalizao do acesso a esses direitos sociaisbsicos. Outrossim, o repasse direto de renda associado a outrasaes, tais como, microcrdito, saneamento, moradia, energia e qua-lificao profissional contribuir para estimular as economias locaiscriando condies para o desenvolvimento econmico e social dosterritrios onde vivem essas famlias.

Enfim, o PPA traduz o firme compromisso com a inclusosocial mediante a criao de condies que garantam igualdade deoportunidades a todos os cidados, independentemente de sua origemsocial, no contexto de uma sociedade democrtica. Assim, a suadimenso social contempla um conjunto de diretrizes gerais e o en-frentamento dez desafios, a seguir apresentados.

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 2006 5ISSN 1677-7042

DIRETRIZES GERAIS

1. Descentralizao da gesto com participao e controle social, comnfase em novas formas de articulao e na capacitao das equipeslocais;

2. Informao da sociedade sobre os direitos e deveres, inclusive osprevistos na Constituio Federal e nos instrumentos internacionais,bem como sobre os rgos capazes de assegur-los;

3. Otimizao da utilizao dos recursos disponveis, reduo decustos e a ampliao da capacidade de produo para a democra-tizao do acesso aos servios;

4. Disponibilizao de bens e servios pblicos de forma eqitativa ecom justia social;

5. Articulao das polticas sociais, com a viabilizao da inter-setorialidade e transversalidade e com a formao de parcerias entreas trs esferas de governo;

6. Desenvolvimento da co-gesto e de parcerias com as organizaesda sociedade civil, na implementao das polticas sociais;

7. Direcionamento do investimento na rea social para a promoo daeqidade regional e microrregional;

8. Valorizao das caractersticas regionais e das particularidades s-cio-culturais na formulao e implementao das polticas sociais;

9. Viabilizao da incluso social, da equalizao de oportunidades(gnero, raa, etnia, orientao sexual e pessoas portadoras de ne-cessidades especiais) e da cidadania;

10. Democratizao do acesso s informaes e divulgao sobre aevoluo dos indicadores de desigualdades sociais, com o recorte degnero, raa, etnia, gerao e orientao sexual;

11. Envolvimento da populao, grupos vulnerveis e organizaes naelaborao das polticas e implementao dos programas sociais;

12. Promoo da incluso social com iniciativas estruturantes e noapenas emergenciais;

13. Transparncia nos investimentos para a rea social;

14. Garantia do recorte transversal de gnero, raa, etnia, geracional,pessoa portadora de necessidade especial e orientao sexual paraformulao e implementao de polticas pblicas;

15. Estabelecer poltica permanente de reajuste do salrio-mnimocom base em regra que contemple, entre outros, os requisitos deperiodicidade, preservao do seu valor real, compatibilidade com anecessidade do planejamento de mdio e longo prazo e que leve emconsiderao o crescimento real do Produto Interno Bruto, observadoo art. 7, inciso IV, da Constituio Federal.

DESAFIOS

Combater a fome visando a sua erradicao e promover a se-gurana alimentar e nutricional, garantindo o carter de inser-o e cidadania

A fome que subsiste no Pas , essencialmente, uma questode limitao no acesso aos alimentos, decorrentes das dificuldades deacesso terra, ao trabalho e ao emprego. O Brasil tem capacidade deproduzir. O Brasil produz o necessrio para atender as necessidadesalimentares de sua populao, mas, no entanto, alm de no terconseguido promover no tem conseguido promover uma distribuioeqitativa dos alimentos produzidos, suas polticas agrrias e agr-colas tm estimulado os pequenos produtores e os trabalhadores ruraise suas famlias a abandonarem o campo, buscando alternativas nasmdias e grandes cidades. Como conseqncia vem promovendo umaconcentrao cada vez maior da terra, tornando a crise do campoainda mais aguda, estendendo a fome aos cintures de misria quecercam as grandes e mdias cidades de todo o pas.

A fome e a misria, decorrentes desta histrica desigualdade,tambm se apresentam em propores significativas: pouco mais deum tero da populao do Pas (34%) pode ser considerada pobre e,dentre esta, 23 milhes de pessoas, ou seja, 14% do total da po-pulao, podem ser consideradas indigentes. Dito de outra forma,cerca de 54 milhes de pessoas no dispem de recursos suficientespara atender suas necessidades bsicas e, cerca de metade dessaspessoas possui uma renda que permite apenas a compra de uma cestade alimentos.

Diante dessa situao alarmante, o combate desigualdade, fome e pobreza representa a grande prioridade do atual governo. Ogrande objetivo da Poltica Nacional de Segurana Alimentar ga-rantir o direito alimentao, como parte dos direitos fundamentaisdo ser humano. Para tanto, sero integradas as aes estruturais, comoo acesso terra de milhes de famlias, bem como de polticas degerao de trabalho e renda, voltadas ao combate das causas da fome,com as aes emergenciais de ampliao do acesso imediato ali-mentao.

A meta garantir a segurana alimentar para toda a po-pulao, tendo claro que o acesso terra e a definio das polticasagrrias e agrcolas so partes essenciais desta estratgia. A nfaseestrutural da atuao do governo se baseia na articulao de aesque promovam a gerao de renda e de oportunidades para dinamizaras economias locais de forma sustentvel, estimulando a demanda poralimentos, combinada com aquisies de safras e fomento agri-cultura familiar. Atingir a meta de garantir a segurana alimentar atodos os brasileiros e brasileiras depende da participao dos diversossetores e segmentos do governo e da sociedade. Isso porque umadimenso central da pobreza a privao da cidadania. funda-mental, portanto, uma gesto participativa: tornar a comunidade, eno apenas o indivduo, protagonista de sua prpria emancipao.

6. Integrao dos programas de transferncia de renda aos bene-ficirios, permitindo o uso dos recursos pelas famlias de acordocom as suas necessidades;

7. Garantia dos benefcios respeitando as condicionalidades estabe-lecidas;

8. Estruturao dos municpios para efetivao do sistema unificadode informaes cadastrais;

9. Garantia de transparncia no processo de distribuio dos be-nefcios.

Promover o acesso universal, com qualidade e eqidade se-guridade social (sade, previdncia e assistncia)

A Constituio Federal de 1988 instituiu os fundamentos deum novo sistema de proteo social ao introduzir o conceito deseguridade social, por meio do qual so assegurados os direitos re-lativos sade, previdncia e assistncia social. Contudo, apesarde garantido pela Constituio, o acesso efetivo a estes direitos vemenfrentando, ainda, grandes dificuldades.

Na previdncia, o Regime Geral de Previdncia Social(RGPS) apresentou avanos apreciveis de cobertura e proteo aosmais pobres depois da Constituio. Com efeito, de um total de 19milhes de benefcios de carter previdencirio pagos mensalmente,6,9 milhes so destinados aos trabalhadores rurais por meio daprevidncia rural. Este movimento ainda restrito pelo fato de no terincorporado o trabalhador informal urbano, que parte significativado mercado de trabalho brasileiro. O reduzido nmero de traba-lhadores contribuintes ao RGPS, em relao populao economi-camente ativa, expressa uma grave situao social - altas taxas dedesemprego e de informalidade das relaes de trabalho. Hoje, cercade 40% da populao ocupada no est coberta por nenhum dossubsistemas da previdncia social. Na prtica, o Regime Geral abrigacomo segurados o trabalhador assalariado, o trabalhador autnomoque contribuiu para a previdncia e o trabalhador no regime deeconomia familiar rural, mas exclui o trabalhador informal urbanoque no contribuiu.

Na rea de sade, 90% da populao brasileira , de algummodo, usuria do Sistema nico de Sade, embora persistam de-sigualdades no acesso aos servios. A despeito de se prover as-sistncia integral e totalmente gratuita para os portadores de HIV edoentes de aids, renais crnicos e pacientes de cncer, fracassa-se naproviso de alguns servios bsicos: apenas 50% das gestantes com-pletam a srie de 6 consultas de assistncia pr-natal. O acesso amedicamentos essenciais, para pacientes em regime de atendimentoambulatorial, ainda insuficiente. A qualidade da ateno bsicaainda deixa a desejar como comprovam os elevados ndices de mor-talidade materna, em torno de 45,8 por 100.000 mil nascidos vivos.No tocante s condies gerais de sade, a mortalidade infantil sesitua em torno de 29,6 bitos infantis por mil nascimentos para oBrasil como um todo. Essa taxa mdia alta em relao at mesmoa pases em desenvolvimento: o Brasil, quando comparado a dozepases do continente americano que tm uma populao superior a 12milhes de habitantes, ocupa um modesto dcimo lugar, em ntidodescompasso com seu estgio de desenvolvimento econmico. Adi-cionam-se, como problema, as expressivas desigualdades regionais:por exemplo, a mortalidade infantil na regio Nordeste situa-se emtorno de 44,2 por mil nascidos vivos, enquanto no Sul de cerca de19,7 por mil. A qualidade da assistncia e a racionalidade nos gastoscom incorporao tecnolgica so limitadas pela inadequao do fi-nanciamento e vnculos ainda pouco sistematizados, dos hospitaisuniversitrios e de ensino com o Sistema nico de Sade.

Na rea da assistncia social, a Constituio Federal e a LeiOrgnica da Assistncia Social (LOAS) estabelecem que a assistnciasocial um direito de base no contributiva, integrante do campo daseguridade social, que visa prevenir e superar diferentes formas deexcluso, garantindo padres mnimos de cidadania. A LOAS de-senhou um modelo institucional no qual esto previstos a descen-tralizao, o comando nico, a gesto compartilhada com a sociedadecivil e o controle social. Legalmente, o financiamento conta comfontes definidas, oramento assegurado e com gesto via Fundo deAssistncia Social. No entanto, desde a aprovao da LOAS, em1993, a poltica de assistncia social enfrenta graves dificuldades parase afirmar como promotora do exerccio dos direitos sociais legal-mente estabelecidos. Dados recentes mostram, por exemplo, que den-tre as crianas pobres, apenas cerca de 16% usufruem de servios decreches que operam por meio de transferncias de recursos federais eque de um total de 3,5 milhes de adolescentes pobres de 15 a 17anos s foram atendidos por programas de assistncia 62 mil pes-soas.

O governo se prope a atuar de forma diferenciada e emconsonncia com as especificidades de cada uma das reas que com-pem a seguridade social. Na rea de previdncia, a proposta buscara incluso do setor informal e reformar o atual sistema de previdnciabuscando uma maior eqidade no acesso aos direitos. Na rea desade, as prioridades inicialmente assumidas so: expanso e qua-lificao da ateno bsica; reduo em 25% do ndice de mortalidadematerna nas capitais do Pas, nos prximos quatro anos; humanizaoe melhoria da qualidade do atendimento e promoo de polticas quebusquem reduzir as desigualdades regionais. Na rea de assistncia,alm das aes tradicionais voltadas para os segmentos mais jovens emais idosos da populao, o governo est propondo a criao denovos programas de promoo da incluso social de indivduos esegmentos populacionais em situaes circunstanciais de vulnerabi-lidade social na faixa de 25 a 59 anos, bem como a promoo daemancipao e incluso social de famlias socialmente vulnerveis,priorizando os recortes de etnia e de gnero.

DIRETRIZES

1. Garantia de acesso a alimentos, em quantidade e qualidade, aosgrupos sociais em situao de risco alimentar, por meio de trans-ferncia de renda e, excepcionalmente, em espcie;

2. Incentivo, de forma sustentvel e com ganhos progressivos deprodutividade, produo e comercializao de alimentos bsi-cos;

3. Combate ao desperdcio na produo, armazenamento, transporte,comercializao e consumo de alimentos;

4. Promoo de aes emergenciais, econmica e ambientalmentesustentveis, associadas a iniciativas estruturantes de segurana ali-mentar, econmica e ambientalmente sustentveis;

5. Regulao da oferta de alimentos mediante a formao e o manejoadequando de estoques governamentais;

6. Estmulo ao cooperativismo e ao associativismo;

7. Promoo da educao alimentar da populao, contextualizadacultural e regionalmente;

8. Estabelecimento de polticas que direcionem as subvenes e sub-sdios direta e exclusivamente para o beneficirio final;

9. Valorizao das caractersticas regionais no consumo e no abas-tecimento alimentar em mbito local;

10. Disponibilizao de financiamentos em volume e condies ade-quadas sustentabilidade da agricultura familiar e dos pequenos ne-gcios;

11. Priorizao da aquisio de alimentos provenientes da agriculturaf a m i l i a r.

Ampliar a transferncia de renda para as famlias em situao depobreza e aprimorar os seus mecanismos

Elevar a renda da populao , sem dvida, um dos prin-cipais desafios que se apresenta para a sociedade brasileira. Comefeito, cerca de 11,2 milhes de famlias, tm uma renda familiarmensal per capita de at salrio mnimo. E, como agravante,apenas dentre estas famlias, 4,6 auferem uma renda familiar mensalper cafet de at de salrio mnimo. Isto significa um contingenteexpressivo de brasileiros no tem acesso a bens e servios bsicos. necessrio, pois, quebrar o circulo vicioso da pobreza permanen-temente retroalimentado por condies precrias de alimentao, sa-de e educao, dentre outras.

neste contexto que se destaca a prioridade a ser conferidaaos mecanismos de transferncia de renda para o enfrentamento, emcarter emergencial, de problemas sociais. Vale destacar que no setrata somente de distribuir recursos financeiros s famlias mas, tam-bm, de associar a esse benefcio aes de alimentao, sade, as-sistncia social e educao de modo a desencadear um circulo vir-tuoso de superao da pobreza. O repasse direto de recursos fi-nanceiros associado a outras aes, tais como, microcrdito, sanea-mento, moradia, energia apropriada e qualificao profissional con-tribuir para estimular as economias locais onde vivem essas fa-mlias.

Neste sentido, com o intuito de dar maior racionalidade eorganicidade ao estatal, evitando-se desperdcio de recursos esuperposio de aes, o governo federal ir promover a unificaode programas j existentes. Alm disso, haver um esforo de alo-cao crescente de recursos oramentrios de modo a estender oatendimento a todas as famlias em situao de pobreza. A uni-versalizao do atendimento ao grupo social e economicamente maisvulnervel da populao contribuir para evitar o clientelismo naseleo dos beneficirios.

Assim, as aes de transferncia de renda devero se voltar,progressivamente, para: aumentar o valor mdio dos benefcios atento concedidos; homogeneizar os critrios de seleo dos bene-ficirios; promover um atendimento voltado para o ncleo familiar eno apenas para alguns membros da famlia; contribuir de formasistmica, para melhorar o acesso aos servios de educao, sade,assistncia social e educao alimentar; intensificar o controle socialpor parte dos beneficirios; buscar articular-se com estados e mu-nicpios para a integrao e convergncia de aes semelhantes; e,promover a implementao de outros programas governamentais demodo a contribuir para a emancipao das famlias atendidas.

DIRETRIZES

1. Promoo de uma poltica tributria compatvel com as metas detransferncia de renda;

2. Implementao de medidas compensatrias tendo a famlia comoreferncia;

3. Articulao de polticas e aes intragovernamentais e entre es-feras de governo;

4. Aperfeioamento dos mecanismos de contrapartida dos estados emunicpios, associados ao benefcio e controle pblico e social;

5. Desenvolvimento de sistema unificado de informaes cadastraise gerenciais sobre o pblico-alvo dos programas de transferncia derenda;

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 20066 ISSN 1677-7042

DIRETRIZES

1. Promoo da eqidade na implementao das polticas sociais;

2. Aprimoramento e desburocratizao do atendimento direto aoscidados;

3. Aperfeioamento do processo de descentralizao das polticassociais;

4. Fortalecimento da prtica da gesto solidria entre as trs esferasde governo;

5. Viabilizao da ampliao e regularidade do financiamento dosprogramas sociais;

6. Integrao das polticas pblicas para a elevao da qualidade devida com a busca de qualidade ambiental, mudanas culturais e so-cioeconmicas e de estilos de vida;

7. Desenvolvimento de mecanismos de gesto, avaliao e controledos servios prestados;

8. Avaliao da qualidade e da humanizao do servio pblico,adotando mecanismos de aferio da satisfao do usurio;

9. Valorizao dos servidores pblicos, garantindo condies de tra-balho adequadas ao desenvolvimento de servios pblicos com qua-lidade;

10. Humanizao do atendimento no servio pblico;

11. Ampliao de polticas de atendimento ao idoso e ao portador denecessidades especiais, garantindo seus direitos sociais bsicos;

12. Promoo do acesso das populaes marginalizadas PrevidnciaSocial;

13. Desburocratizao do acesso ao benefcio da Previdncia So-cial;

14. Garantia da seguridade social s comunidades tradicionais, res-peitando as suas especificidades;

15. Promoo da capacitao continuada dos profissionais na rea desade;

16. Estmulo s prticas alternativas de sade;

17. Eqidade no acesso aos servios, exames e medicamentos demdia e alta complexidade;

18. Reduo das desigualdades regionais na ateno sade;

19. Promoo da qualidade nos servios de sade, garantindo a pro-teo contra os riscos e buscando a atualizao cientfica e tec-nolgica.

Ampliar o nvel e a qualidade da escolarizao da populao,promovendo o acesso universal educao e ao patrimnio cul-tural do pas

O caminho para um projeto de futuro para o Brasil comeapela educao. Nos ltimos anos, os principais avanos da educaobrasileira referem-se ampliao do acesso aos ensinos fundamentale mdio e ao crescimento da matrcula no ensino superior. Contudo,os indicadores de desempenho dos alunos, refletem uma situaodramtica nas escolas de todo o Pas: 59% das crianas da 4 srie, ouseja, com 4 anos de escolarizao, so analfabetas e, o que pior, atendncia detectada nos ltimos anos foi de uma queda progressivanos padres de rendimento escolar. Os dados projetam a existncia decerca de 980 mil crianas na 4 srie do Ensino Fundamental que nosabem ler e mais de 1,6 milho que so capazes de ler apenas frasessimples. O no enfrentamento dos problemas associados qualidadedo ensino vem ampliando o contingente de analfabetos funcionais: h,hoje, cerca de 35 milhes de pessoas com menos de quatro anos deescolaridade, que aprenderam a ler, mas no sabem interpretar.

O desafio a ser enfrentado agravado pela existncia decerca de 16 milhes de adultos brasileiros analfabetos, completamenteexcludos do processo educacional, que se encontram desigualmentedistribudos pelo Pas. No Nordeste a taxa de analfabetismo estestimada em 24,3%, enquanto que no Sul e no Sudeste em 7,1% e7,5% respectivamente.

A situao tambm grave na educao bsica: so muitasas crianas que ainda esto fora da escola. Cerca de 9,6 milhes decrianas de 4 a 6 anos esto nessa situao. Das que tm idadeescolar, 3,6% no esto matriculadas, sendo que mais de 2 milhes decrianas de 7 a 14 anos trabalham em vez de estudar e 800 mil estoenvolvidas nas piores formas de trabalho, inclusive a prostituio.Como agravante, o desempenho educacional dos alunos da educaobsica est muito abaixo do adequado, revelando srios problemas dequalidade e aprendizado. No ensino fundamental, cerca de 39,1% dosestudantes esto com defasagem srie-idade e de cada 100 alunoshoje matriculados na 1 srie, estima-se que apenas 41 chegaro aofinal do ensino fundamental e, destes no mximo 25% podem serconsiderados preparados para os desafios educacionais e profissionaisfuturos.

O quadro geral de excluso educacional no Pas pode serainda medido pelo fato de que em mdia, as pessoas com 15 anos oumais tm apenas 6,3 anos de estudos, quando se esperaria que ti-vessem, no mnimo, 9 anos. Esse resultado bastante diferenciado emtermos regionais. A escolaridade mdia do jovem nordestino de 15 a24 anos de 5,9 anos de estudos, significativamente, inferior a dejovens do Sul e Sudeste que alcanam 8,1 e 8,3 anos, respecti-vamente, para a mesma faixa etria. A educao se mostra desigual

tambm por raa: negros e pardos correspondem a 67% dos anal-fabetos. Apenas 3% dos concluintes do ensino mdio so negros e aproporo de negros entre as pessoas com doze anos de escolaridadeou mais no passa de 2,8%.

No ensino superior, a situao pode ser considerada menosdramtica, apesar da oferta limitada de vagas nas universidades p-blicas reforar a excluso de grande parcela dos candidatos a umaeducao gratuita e de qualidade: em 2000, dos cerca de 3,2 milhesconcluintes do ensino mdio, 1,2 milhes entraram nas universidades,sendo que apenas 274 mil em universidades pblicas.

Diante de tais problemas a poltica educacional estar voltadapara garantir que toda criana brasileira, independentemente de raa,de sexo, de classe social e do lugar onde mora, tenha escola dequalidade at o final do ensino mdio; que o Brasil inteiro sejaalfabetizado; que os jovens tenham boas universidades, que lhes pre-parem para o futuro e para a construo do Brasil eficiente e justo; eque nenhum jovem seja obrigado a abandonar os estudos por falta dedinheiro. O enfrentamento de tais desafios poder ajudar a corrigir ahistrica desigualdade brasileira, entre regies, pessoas, gneros eraas. Seu sucesso exige, no entanto, um esforo amplo de coo-perao entre as trs esferas de governo e de parceria com a iniciativaprivada.

DIRETRIZES

1. Promoo da eqidade na implementao das polticas sociais;

2. Desenvolvimento de mecanismos de gesto, avaliao e controledos servios prestados;

3. Eficincia e eficcia na aplicao de recursos pblicos, com con-trole social;

4. Sustentabilidade do financiamento para a educao;

5. Democratizao do acesso educao, em todos os nveis paraatendimento dos segmentos excludos;

6. Renovao do contedo e da prtica pedaggica em todos os nveisde ensino, considerando questes de gnero, raa, etnia, gerao, eorientao sexual;

7. Transformao da escola em espao integral e integrado co-munidade;

8. Avaliao da qualidade e da humanizao do servio pblico,adotando mecanismos de aferio da satisfao do usurio;

9. Valorizao dos servidores pblicos, garantindo condies de tra-balho adequado ao desenvolvimento de servios pblicos com qua-lidade;

10. Integrao da universidade sociedade, com base na relao entresaber cientfico e eqidade;

11. Erradicao do analfabetismo;

12. Garantia da formao continuada dos profissionais da rea deeducao e valorizao da carreira;

13. Renovao do contedo e da prtica pedaggica em todos osnveis, considerando as questes de gnero, raa, etnia, gerao eorientao sexual;

14. Promoo de um processo de educao contextualizada, valo-rizando a cultura nacional e sua diversidade e respeitando as es-pecificidades regionais;

15. Releitura da questo afro-brasileira na educao;

16. Promoo de poltica educacional inclusiva para os portadores denecessidades especiais;

17. Valorizao da formao cidad nas escolas e sua atuao nacomunidade;

18. Implementao da educao distncia, por meio de novas tec-nologias, para atender s comunidades de reas isoladas.

Promover o aumento da oferta e a reduo dos preos de bense servios de consumo popular

Uma das provas da excluso social e das desigualdades nasociedade brasileira o acesso diferenciado da populao a bens eservios. Como parte do enfrentamento desse problema, h que ga-rantir a produo e a distribuio com custos e qualidade adequadosaos rendimentos dos consumidores, em particular de sua frao me-nos favorecida. A reduo de impostos sobre a cesta de consumopopular a forma pela qual o projeto de reforma tributria ora emtramitao no Congresso pode contribuir diretamente.

A reduo da taxa de juros e a melhoria das condies decrdito tambm podero auxiliar, na medida em que estimularo osinvestimentos produtivos, reduziro os custos de fabrico, armaze-nagem e distribuio e, conseqentemente, permitiro a reduo nospreos dos bens e servios.

O peso dos alimentos na cesta de consumo popular torna apoltica agrcola um elemento de grande importncia frente ao de-safio. O PPA buscar a ampliao de recursos ao financiamento dasafra agrcola, o fortalecimento da poltica de preos mnimos, es-toques e instrumentos financeiros reguladores e o incentivo agri-cultura familiar, que a grande provedora dos gneros alimentcios dacesta bsica. Essas iniciativas iro permitir a regularidade do abas-tecimento e a reduo dos preos dos produtos agrcolas.

Outro conjunto de aes deve ser direcionado pela busca dadiminuio os danos causados pelo elevado grau de oligopolizaodos mercados, que dificultam a transferncia dos ganhos de pro-dutividade a preos e salrios, resguardar o cidado de prticas demercado abusivas, alm de desenvolver comportamentos responsveispor parte das empresas, na produo de bens e servios adequados snecessidades dos cidados.

A confirmao da especializao produtiva brasileira na di-reo do consumo de massa ter, por si s, o atributo de gerar ganhosde escala e incentivar as empresas a inovar, na apresentao deprodutos adequados ao poder aquisitivo da populao. Essa tendnciadever ser fortalecida por estmulo pesquisa, confirmando uma rotaaltamente promissora em termos de reduo de preos e ganhos dequalidade. A dinmica do consumo popular no Brasil poder, dessaforma, contribuir de forma significativa ao balano de pagamentos doPas e reduo da vulnerabilidade externa.

DIRETRIZES

1. Ampliao do crdito e de fontes de financiamento em condiesadequadas ao investimento e ao custeio de forma econmica, social eambientalmente sustentvel;

2. Reviso da legislao e das normas do sistema financeiro e pro-moo de engenharias financeiras inovadoras visando reduo dastaxas de juros ao tomador de crdito;

3. Fomento s pesquisas direcionadas produo de bens de consumopopular, considerando as especificidades regionais, sociais e ambien-tais, promovendo a identificao das demandas tecnolgicas dos sis-temas produtivos locais;

4. Promoo de uma reforma tributria justa, que desonere a pro-duo e o consumo de bens e servios de consumo popular;

5. Combate, de forma efetiva, formao de cartis e prticas mo-nopolistas;

6. Estmulo ao cooperativismo, ao associativismo e ao desenvol-vimento de novas formas de economia solidria;

7. Estmulo a aes que propiciem a utilizao alternativa de ma-trias-primas;

8. Garantia do acesso aos bens e servios de qualidade para ascamadas populares.

Implementar o processo de reforma urbana, melhorar as con-dies de habitabilidade, acessibilidade e de mobilidade urbana,com nfase na qualidade de vida e no meio-ambiente

Os principais problemas das cidades brasileiras consistem naprecariedade das condies de habitao, infra-estrutura, equipamen-tos urbanos e comunitrios, bem como na ineficincia e ou insu-ficincia da prestao de servios pblicos. Nas reas urbanas in-formais - favelas, mocambos, alagados, loteamentos clandestinos eoutros esses - problemas so agravados pela insuficincia de aesdirigidas regularizao administrativa, urbanstica e jurdica e pelainsegurana da posse da terra. No mbito institucional, observa-se,ainda, a inadequao de polticas e instrumentos de planejamento egesto urbana, bem como de regulao dos servios pblicos.

O que tem permitido um maior acesso da populao pobre habitao o autoempreendimento da habitao popular. Grande par-te das habitaes deste segmento da populao caracterizada porbaixo padro qualidade e custo, e tem sido produzida pelo mercadoinformal - habitaes no autorizadas e as ocupaes ilegais - e semassistncia direta do poder pblico. Estima-se que atualmente cercade 70% dos novos domiclios formados no Brasil recorrem in-formalidade.

O dficit habitacional quantitativo do Pas foi estimado, em2000, em 6,6 milhes de novas moradias, concentrado nas reasurbanas (81,3%) e na populao com rendimento familiar inferior acinco salrios mnimos (89,1%). As regies Nordeste e Sudeste re-presentam 75,8% do dficit habitacional total. Outros problemas im-portantes dizem respeito s condies inadequadas de financiamento, baixa qualidade da moradia e ao alto custo da moradia face aosbaixos nveis de renda da populao. Ademais, nos domiclios lo-calizados em reas urbanas, verifica-se o dficit na oferta de sa-neamento adequado de 21,7%, para esgotamento sanitrio, de11,5%, para abastecimento de gua, e de 5% para coleta de lixo.

Os servios pblicos de transporte coletivo passam por umacrise institucional e regulatria, afetando a eficincia e a qualidade naprestao dos servios, prejudicando especialmente a populao po-bre. Isso ocorre devido elevao real das tarifas dos servios (de1995 a 2002 as tarifas mdias subiram cerca de 25% acima do IGP-DI) e inadequao da oferta frente s necessidades dos mais pobres,moradores das reas informais. Tal fenmeno resulta na queda damobilidade e da acessibilidade urbana dessas populaes, restringindosuas oportunidades de trabalho, condicionando suas decises de mo-radia, e privando-os do acesso aos servios essenciais, como os deeducao, sade e assistncia social, ou seja, comprometendo suaqualidade de vida.

A distribuio espacial dos dficits de moradia, de sanea-mento ambiental, de transportes coletivos, de regularidade fundiria,remete, ainda, necessidade do desenvolvimento de programas re-gionalmente diferenciados, de acordo com as caractersticas da po-pulao, suas formas de organizao, suas condies urbanas, am-bientais e econmicas, com prioridade de aplicao de recursos nasreas de maior vulnerabilidade.

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 2006 7ISSN 1677-7042

DIRETRIZES

1. Garantia do uso e da ocupao ordenada dos espaos urbanos, comsustentabilidade social, econmica e ambiental;

2. Aprimoramento dos instrumentos de poltica urbana em nvel na-cional, estadual e municipal de modo a garantir a funo social dosolo urbano;

3. Estmulo oferta dos servios urbanos com qualidade e gestoparticipativa;

4. Aperfeioamento do processo de regularizao fundiria e de or-denamento territorial, e democratizao do acesso terra urbani-zada;

5. Produo habitacional e urbanizao de qualidade para o aten-dimento s populaes de baixa renda, em condies de financia-mento adequadas;

6. Descentralizao e desburocratizao do acesso ao crdito e aosprogramas habitacionais, de saneamento e de mobilidade urbana;

7. Estmulo ao desenvolvimento de tecnologias visando reduo decustos, melhoria da qualidade e ao aumento da produtividade daconstruo civil;

8. Promoo da apropriao democrtica e solidria do espao p-blico;

9. Articulao das fontes de financiamento existentes e busca denovas fontes estveis e permanentes;

10. Estmulo capacitao do poder pblico municipal para a gestoe o planejamento urbano e territorial sustentvel e participativo;

11. Desenvolvimento de novos modelos de gesto metropolitana e deaglomeraes urbanas;

12. Viabilizao do acesso gua potvel para a populao, acom-panhado de medidas de saneamento e tratamento de efluentes, comocondio para sade pblica;

13. Mudana no padro de circulao, acessibilidade, trnsito e trans-porte, com a valorizao do transporte coletivo;

14. Preveno de acidentes ambientais e da ocupao de reas ur-banas de risco;

15. Garantia de acessibilidade no espao urbano das pessoas por-tadoras de necessidades especiais;

16. Urbanizao adequada de vilas e favelas, integrando-as ao tecidourbano da cidade;

17. Promoo da celeridade concesso de ttulo de propriedade deterra s populaes urbanas e rurais carentes;

18. Valorizao do modelo de cidades alternativas e sustentveis;

19. Democratizao das concesses pblicas de transporte coletivo;

20. Promoo do acesso s reas pblicas de esporte e lazer;

21. Preservao de reas verdes nas cidades;

22. Implementao de poltica de resduos slidos.

Reduzir a vulnerabilidade das crianas e de adolescentes em re-lao a todas as formas de violncia, aprimorando os mecanismosde efetivao dos seus direitos sociais e culturais

Com a promulgao do Estatuto da Criana e do Adolescente(ECA), em 1990, o Brasil passou a ocupar um lugar de destaquecomo sendo um dos pases com um dos marcos legais mais avan-ados do mundo. Entretanto, as crianas e os adolescentes continuama ser a parcela da populao brasileira mais exposta violao dosdireitos. Maus tratos; abuso e explorao sexual; trabalho infantil;desaparecimento; fome e abandono so ocorrncias cotidianas da vidadessa populao.

Assim, como condio essencial para a garantia dos direitosdas crianas e dos adolescentes brasileiros necessrio canalizaresforos para a concretizao de todos os princpios preconizadospelo ECA. importante, nesse sentido, conceder especial ateno saes que visam ao fortalecimento do Sistema de Defesa Dos Direitosde Crianas e Adolescentes, promovendo uma real integrao entre osrgos do poder pblico (rgos de segurana pblica, poder ju-dicirio e defensorias pblicas) e da sociedade civil (Conselhos Tu-telares, Conselhos de Direitos e Centros de Defesa).

Observando-se o perfil dos adolescentes em conflito com alei, constata-se que, na maior parte dos casos, esses jovens so dosexo masculino; no trabalham e no estudam; so afrodescendentes;usurios de drogas e vivem em famlias pobres, cujo rendimentomdio mensal no ultrapassa a dois salrios mnimos.

Como agravante importante destacar que 80% dos jovensbrasileiros vivem em reas urbanas pobres com graves problemasestruturais que se evidenciam principalmente nas periferias das ci-dades: ausncia de domiclios adequados; gua e luz muitas vezesobtidas com ligaes clandestinas; lixo a cu aberto; inexistncia depraas, quadras de esporte e de opes de lazer; precrio atendimentode sade, entre outros. Diante de condies de vida to precrias, soessas crianas e adolescentes da periferia que se encontram em si-tuao de maior vulnerabilidade, em relao violao dos direitos.

Garantir escola de qualidade a principal estratgia paraproteger crianas e adolescentes da marginalidade, da violncia e docrime. Mas, isoladamente no suficiente. Assim, tambm fun-damental ampliar as alternativas de esporte, lazer e cultura para estapopulao.

DIRETRIZES

1. Promoo de polticas emergenciais e estruturais que garantam apresena do Estado nas regies com comunidades mais fragilizadas;

2. Promoo de parcerias com a sociedade civil para implementaoe gesto de programas capazes de enfrentar com o crime;

3. Viabilizao do acesso das crianas e dos adolescentes educao,cultura, sade, esporte e lazer, com qualidade e efetividade;

4. Estabelecimento de polticas de valorizao do primeiro emprego eda ocupao;

5. Priorizao de aes para a oferta de qualificao e ocupao aosjovens que estejam entrando no mercado de trabalho;

6. Estabelecimento de polticas de democratizao do acesso dascrianas e do adolescente ao conhecimento e s novas tecnologias;

7. Orientao das polticas de proteo social, tendo como refernciaa famlia e priorizando as mais vulnerveis;

8. Viabilizao de sustentabilidade e continuidade das polticas vol-tadas s crianas e adolescentes vulnerveis;

9. Priorizao da arte, cultura, esporte e lazer na formulao daspolticas voltadas a retirar crianas e adolescentes da marginalidade;

10. Promoo da permanncia da criana e do adolescente na escolaem regime integral;

11. Erradicao da explorao sexual das crianas e dos adoles-centes;

12. Erradicao do trabalho infantil;

13. Humanizao dos centros de atendimento s crianas e aos ado-lescentes vtimas e em conflito com a lei;

14. Reformulao da concepo das instituies de reabilitao dosadolescentes em conflito com a lei.

Promover a reduo das desigualdades raciais, com nfase navalorizao cultural das etnias

O expressivo contingente de brasileiros afrodescendentes fazcom que o Pas detenha a segunda maior populao negra do mundo,atrs somente da Nigria: so 76,4 milhes de pessoas, o que cor-responde a 45% dos habitantes do Brasil de acordo com dados doCenso 2000.

O quadro de desigualdades raciais no Pas, revela o drama damarginalizao econmica e da injustia social que afeta os afro-descendentes. No Brasil, 47% da populao negra pobre e essepercentual cai para 22% para a populao branca. A insero donegro no mercado de trabalho sempre mais precria do que a dobranco; os afro-brasileiros tm mais chances de se encontrar de-sempregados e, no geral, costumam ganhar cerca da metade dosrendimentos dos brancos. A maior parte est ocupada no setor in-formal, isto , no tem acesso aos direitos referentes ao trabalho,como aposentadoria pblica, seguro-desemprego, auxlios em caso dedoena ou de acidente do trabalho. No que se refere a indicadoreseducacionais, as desigualdades entre negros e brancos impressionampela sua magnitude e estabilidade ao longo do tempo. Em mdia, osjovens e adultos negros tm dois anos a menos de estudo do que osjovens e adultos brancos. E mais: essa distncia tem-se mantidoconstante desde os tempos dos pais e dos avs desses jovens eadultos. De modo anlogo, observa-se que, mesmo havendo, na d-cada de 90, reduo na taxa de analfabetismo dos negros e dosbrancos, persiste ainda uma diferena percentual entre os dois grupospopulacionais de cerca de 10%: dados para o ano de 2001, de-monstram que os percentuais de analfabetismo eram de 8% para osbrancos e de 18% no caso dos negros.

Estudos recentemente realizados reforam concluses encon-tradas em pesquisas anteriores segundo as quais o fenmeno da dis-criminao racial responsvel por parte significativa das desigual-dades observadas entre negros e brancos, tanto no mercado de tra-balho como no campo educacional. Essas desigualdades so resultadono somente da discriminao ocorrida no passado, mas tambm deum processo ativo de preconceitos e esteretipos raciais que legi-timam procedimentos discriminatrios.

A persistncia dos altos ndices de desigualdades raciais trazconseqncias perversas. De um lado, a permanncia dessas desi-gualdades ao longo do tempo faz com que seja tratada como naturala participao diferenciada de brancos e negros nos vrios espaos davida social, reforando a estigmatizao sofrida pelos negros e ini-bindo o desenvolvimento de suas potencialidades individuais. Poroutro lado, o processo de excluso vivido pela populao negra com-promete a evoluo democrtica do Pas e a construo de umasociedade mais justa e coesa. Nesse sentido, combater as desigual-dades raciais tarefa de todos e, em especial, do Estado. Para tanto,o governo adotar como diretrizes a implantao de polticas deerradicao das desigualdades raciais e o fortalecimento de espaosde dilogo e de parcerias com a sociedade civil organizada.

DIRETRIZES

1. Combate discriminao e ao preconceito racial;

2. Promoo de polticas de ao afirmativa;

3. Promoo da equalizao do acesso aos servios pblicos e aosdireitos sociais bsicos;

4. Garantia de condies de trabalho iguais, estendendo os direitos atodos, independentemente de raa;

5. Criao de mecanismo de combate ao racismo nos meios de co-municao de massa.

Promover a reduo das desigualdades de gnero, com nfase navalorizao das diferentes identidades

Na ampla discusso estabelecida com a sociedade brasileirasobre desigualdade social as variveis relativas ao sexo, raa e etniatornam ainda mais complexo e dramtico o quadro de desigualdades.As diferenas existentes por questes de gnero e raa, em relao qualidade de vida e ao acesso a oportunidades, so evidentes, de-monstrando que a igualdade de direitos ainda um princpio noconcretizado na sociedade brasileira. Hoje, a luta pela igualdade dedireitos humanos das mulheres e suas necessidades saram da in-visibilidade, muito mais por conquistas do prprio Movimento deMulheres. O Pas conta com plataformas em nvel internacional,agendas nacionais, adeso a compromissos de governo e programasespecficos que vm sendo desenvolvidos. Contudo, o compromissodeve ser firme no sentido de garantir que tais direitos sejam realmenterespeitados e que os programas governamentais sejam efetivos prin-cipalmente em relao s mulheres em situao de pobreza e vio-lncia, sejam elas indgenas, negras, crianas, jovens ou idosas.

Problemas graves como violncia contra as mulheres e igualdade de gnero nas relaes de trabalho vm se manifestando deforma clara. Segundo pesquisas realizadas recentemente, a situao deviolncia contra as mulheres das mais graves: 43% das mulheres em2001 em todo o territrio nacional declararam ter sofrido algumaforma de violncia. A cada quinze segundos, um ato de violnciacontra a mulher praticado. Essa violncia se d sob diferentesformas: violncia domstica, sexual, trfico de seres humanos e vio-lncias simblicas. As meninas e jovens do Pas constituem umapopulao especialmente vulnervel, tanto como vtimas de explo-rao e abuso sexual, quanto pelo alto ndice de gravidez na ado-lescncia. Estima-se que 20% do total de partos so de meninas ejovens entre dez e dezenove anos.

Entre a populao que se concentra abaixo da linha da po-breza, s mulheres so as mais pobres vivendo em condies deextrema miserabilidade, tendo negados os direitos de acesso edu-cao, ao mundo de trabalho, aos servios de sade e habitao. Asmulheres, no Brasil, tambm so vtimas de graves discriminaes,tanto em termos de acesso a servios pblicos quanto de acesso aocrdito, terra, documentao e formao profissional.

Outro problema estrutural e de difcil combate, mas de fun-damental importncia no que diz respeito busca pela eqidade degnero, a questo cultural e educacional, pois a discriminao e opreconceito de gnero so culturalmente perpetuados. Por fim, a pre-cariedade dos dados relativos situao da mulher exige aes go-vernamentais que visem o levantamento e sistematizao dessas in-formaes, subsidiando o delineamento de polticas voltadas para asmulheres em todos os nveis de governo. Nesse sentido, o programade Gesto de Polticas de Gnero traz sua contribuio apoiando oplanejamento, a execuo e a avaliao dos programas voltados paraa eqidade, na busca pela igualdade de gnero. Subsidia, assim, apoltica de gnero em todos os nveis, por meio da realizao deestudos e pesquisas e da coleta e sistematizao de informaes.

Outra questo de igual relevncia para as mulheres est re-lacionada ao trabalho. As desigualdades salariais entre homens emulheres so marcantes, independentemente de classe social no mun-do do trabalho, mesmo quando que as mulheres que trabalham, es-tudaram mais tempo que os homens, em mdia 7,3 anos contra 6,3dos homens, segundo estudo recente divulgado pelo Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatstica - IBGE. Nas profisses de nvelsuperior, 52,8% dos homens recebem mais de dez salrios mnimos eapenas 30,1% de mulheres atingem esse patamar salarial. Este cenriotorna-se cada vez mais grave na medida em que aumenta o nmero defamlias chefiadas por mulheres.

A desigualdade salarial ainda maior no universo das mu-lheres negras, que chegam a receber at 60% a menos que os homensbrancos. Entre as trabalhadoras domsticas, 56% so negras. As po-lticas voltadas para as mulheres, historicamente no Pas, tm mantidoo desprestgio social e poltico que lhes conferido no mundo dotrabalho, uma vez que apesar de j representarem em torno de 40% dapopulao empregada, aproximadamente 44% vivem na informali-dade. Na agricultura, as mulheres representam 33% da fora de tra-balho, no entanto, encontram-se majoritariamente na condio de no-assalariadas e/ou no-remuneradas, por se inserirem na economia desubsistncia.

Para enfrentar estes problemas o governo assume como ob-jeto permanente o princpio da transversalidade de gnero na for-mulao e desenvolvimento das polticas pblicas, incluindo-se atodos os setores de atuao e segmentos de poder. Somente com estaperspectiva e abrangncia poder-se- chegar a todas as mulheres bra-sileiras, independente de suas diversidades.

N 128, quinta-feira, 6 de julho de 20068 ISSN 1677-7042

DIRETRIZES

1. Estmulo ao debate sobre as desigualdades sociais nas questes degnero;

2. Combate ao trabalho de meninas na condio de empregada do-mstica;

3. Combate violncia contra a mulher;

4. Combate ao trfico de mulheres e meninas.

Ampliar o acesso informao e ao conhecimento por meio dasnovas tecnologias, promovendo a incluso digital e garantindo aformao crtica dos usurios

Informao um recurso social estratgico criao de ri-quezas e bem-estar nas sociedades contemporneas. O acesso in-formao condio essencial construo da democracia, criaode oportunidades, produo e distribuio de riquezas. Quanto maisuniversal e plural o acesso informao, mais democrtica asociedade, mais competitiva a economia.

A universalidade e pluralidade do acesso informao im-plicam em prover um meio adequado aos cidados, s comunidades,s instituies e s empresas, condies culturais, econmicas e tc-nicas para a produo e comunicao de informao, assegurado onecessrio retorno.

Por isso, uma poltica pblica de incluso social e digitaldeve considerar como aspectos essenciais para o acesso informaotrs dimenses distintas e complementares. H a dimenso tecno-lgica, segundo a qual o acesso informao significa a dispo-nibilizao de tecnologias e meios de acesso. A televiso digitalpermitir a convergncia tecnolgica, praticamente anulando as di-ferenas entre radiodifuso e telecomunicaes.

A dimenso educacional deve prover e garantir a capacidadedas pessoas em utilizar os meios e as tecnologias e transformarinformao em conhecimento. O aspecto educacional abrange ques-tes educacionais bsicas - ler e escrever - e a utilizao das tec-nologias de informao.

E a dimenso cultural que deve se preocupar com o contedodisponibilizado como forma de garantir o efetivo acesso informao- a maior parte dos contedos esto em lngua inglesa - e garantir apreservao cultural de cada comunidade e da sociedade brasileira. Ainformao abrange contedos distintos: econmico, poltico, arts-tico-cultural, entretenimento, etc.

Democratizar e universalizar o acesso informao e aoconhecimento significa prover educao, treinamento, cultura neces-srios para operar as tecnologias de comunicao que esto sendodisponibilizadas sociedade e garantir a capacidade de transformarinformao em conhecimento. Esta poltica deve respeitar as ne-cessidades individuais, a diversidade cultural brasileira e as grandescarncias sociais do Pas.

DIRETRIZES

1. Dotao de meios tecnolgicos e humanos necessrios inclusodigital, priorizando os espaos pblicos, assegurado o livre acesso;

2. Ampliao da infra-estrutura de redes interativas de banda larga;

3. Elevao do nvel de capacitao dos cidados para utilizao dasredes convergentes de comunicao;

4. Fomento produo de programas de computador, que levem emconsiderao as culturas nacional e regionais;

5. Fomento s pesquisas direcionadas produo de informao econhecimento;

6. Promoo do acesso tecnologia informacional para as sociedadestradicionais.

MEGAOBJETIVO II

Crescimento com gerao de trabalho, emprego e renda, am-bientalmente sustentvel e redutor das desigualdades sociais

So muitos os problemas econmicos que tm preservado aconcentrao de renda e de riqueza, o desemprego, a pobreza e aexcluso social no Brasil: desequilbrios macroeconmicos, estag-nao prolongada, crdito caro e de curto prazo, baixo estmulo aoconsumo e ao investimento em expanso de capacidade e em ino-vao de produtos e processos, reduzido crescimento da produti-vidade e da competitividade internacional, vulnerabilidade externa einsuficiente expanso exportadora. A estratgia est orientada su-perao desses problemas e instalao de uma vigorosa expanso doemprego e da renda, por meio do modelo de consumo de massa, eassentada sobre um processo de investimentos e de inovaes queelevem sistematicamente a produtividade e a competitividade inter-nacional da economia brasileira.

O elemento que d sustentao ao processo de crescimento e contnua ampliao da produtividade e da competitividade oinvestimento em expanso de capacidade produtiva e em inovaes.A taxa de formao de capital brasileira se encontra deprimida hmuito tempo, e h necessidade de elev-la em alguns pontos per-centuais do PIB.

O governo far, por meio do PPA 2004-2007, um grandeesforo