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História de Israel
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia
História de Israel
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia
SUMÁRIO:
CONCEITO GERAL DA HISTÓRIA DE ISRAEL
INTRODUÇÃO
1 - A OCUPAÇÃO DE CANAÃ.
1.1. Era de conquistas
1.1.1. A conquista
1.1.2. A divisão de Canaã
1.2. Análise moral da conquista de Canaã
1.2.1. Devido à degradante religião de Canaã
1.2.2. Devido à sua cultura corrompida
1.2.3. Devido às admoestações e paciência de Deus
1.2.4. Devido à comissão divina de Israel
1.2.5. Devido às promessas da aliança feita por Deus
2 - CONDIÇÕES RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS
2.1. Tempo de transição sob a liderança de Eli e Samuel
2.2. O primeiro rei de Israel
2.3. A união de Israel sob Davi e Salomão
2.3.1. União e expansão Davídicas
2.4. O rei de Judá
2.5. Pecado na família real
2.5.1. Pecado de Davi com Bate-Seba
2.6. Tragédia dos Filhos de Davi
2.7. A Era Áurea de Salomão
2.8. Estabelecimento do Trono
2.9. Organização do reino
2.10. A construção do templo
2.10.1. Dedicação do Templo
2.11. A apostasia e suas conseqüências
2.12. A monarquia unida
2.12.1. O reinado de Salomão marca o apogeu e declínio da monarquia israelita
2.12.2. A monarquia dividida
2.14. O reino do Sul
2.15. O papel dos profetas
2.16. O cativeiro
2.17. O período interbíblico
2.18. O fim do período do AT e o início do período Persa
2.19. O período grego
2.20. A palestina sob o domínio dos Ptolomeus (período egípcio)
2.21. Antíoco e a revolta Macabéia
2.22. O período romano
2.23. O império Grego
2.24. O império Romano
2.25. Evangelho – Boas novas
CONCLUSÃO
História de Israel
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia
CONCEITO GERAL DA HISTÓRIA DE ISRAEL
INTRODUÇÃO
3000 (+ ou -) – Nasce Noé, que acha graça diante de Deus e foi escolhido para
construir a arca que subsistiria ao dilúvio. Filho de Matusalém, o homem que mais
viveu, segundo a Bíblia, que viveu cerca de 969 anos. Noé viveu 600 anos e então veio
o diluvio que durou 375 dias. De Noé saíram Sem, Cão e Jafé. Os judeus são
descendência de Sem.
2160 – Nasce Abrão em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia, que viria a ser o
patriarca do povo judeu, possuídos da promessa feita por Deus. O Senhor o chamou e
disse para que seguisse no deserto a caminho de uma terra desconhecida. Levando
seu sobrinho Ló consigo chegou a Canaã prometida passando mais tarde para o Egito
por causa da fome. Separaram-se Abraão e Ló e Deus lhe promete um Filho, apesar
de sua idade avançada.
2060 – Isaque nasce (Gn 21.1-7). Como havia prometido Deus a Abraão, seria
ele o primogênito de toda uma nação sendo um tipo de Cristo. Isaque casa-se com
Rebeca e continua a genealogia de Jesus (Gn 24).
2000 – Nascem Jacó e Esaú, Jacó usurpa a bênção da progenitura de Esaú (Gn
27.1-45). Esaú ira-se contra Jacó e este foge em direção a Betel onde teve o sonho da
escada com anjos. Jacó casa-se com Raquel, depois de ter sido enganado por Labão.
Jacó e Esaú se reencontra. Jacó luta com Deus no Jaboque e tem o nome mudado
para Israel Jacó teve doze Filhos que vieram a ser os doze patriarcas da tribo de Israel,
e uma Filha, Diná.
1889 – Nasce José, o filho preferido de Jacó que foi vendido ao Egito por seus
irmãos. No Egito prosperou pela mão do Senhor e se tornou ministro. Nesse tempo os
Hicsos tinham o poder sobre o Egito por ocasião da queda da XIII dinastia egípcia.
1870 – Jacó e seus filhos descem para o Egito por causa da fome, José apesar
de humilhado recebeu-os e cuidou deles (Gn 46). Os hebreus permanecem no Egito
por 430 anos.
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1580 – Nesse período os Hicsos são expulsos. A Síria e a Palestina tornaram-se
tributárias de Egito. A terra é devolvida à coroa e os hebreus são escravizados.
1520 - Nasce Moisés. Totmés I governa o Egito. Moisés é colocado nas águas e
encontrado pela Filha de faraó (Êx 2).
1497 – Totmés I morre e é substituído por Totmés II que reina só quatro anos.
1493 – HATSHEPSUT, que resgatou Moisés das águas torna-se rainha do
Egito.
1480 – Moisés comete um homicídio e foge para Midiã, onde se casa com
Zípora, filha de Jetro.
1448 – Moisés é chamado por Deus e volta ao Egito para livrar o povo (Êx 3.1 –
4.31). Depois de contatar com Faraó e prevalecer através de sinais e prodígios, entre
eles as dez pragas (Êx 5.1 – 11.10) e celebrar a páscoa (Êx 12.1-13.19) o Senhor livra
o povo através de Moisés depois de 430 anos assim como havia prometido a Abraão
Isaque e Jacó (Êx 2.24).
1440 – O povo sai do Egito e vai em direção a terra prometida depois de verem
os inimigos se afogarem no mar vermelho (Êx 14). No deserto as águas do mar se
tornam doces (Êx 15) há provisão de cordonizes, maná (Êx 16.1-36) e água da rocha
(Êx 17.1-7), depois disso surgem os problemas domésticos e externos, como a visita
de Jetro e a batalha contra os amalequitas (Êx 17.8-16) e (Êx 18.1-27). Deus faz
chamada ao pacto (Êx 19.1-25) e dá o decálogo (Êx 20.1-21) e as leis litúrgicas (Êx
20.21-26), também as leis civis e criminais (Êx 21.1-22.17) e as leis morais e religiosas
(Êx 22.18–23.19), Deus dá ordenanças a respeito do tabernáculo (Êx 24.15-31.18),
que é cumprida mais adiante (Êx 35.1-40.38). É feito um recenseamento (Nm 1.1-46) e
Moisés envia espias à terra prometida (Nm 33.50-34.29).
1400 – Morre Moisés ao avistar a terra prometida do cume de Pisga, no monte
Nebo, nas campinas de Moabe (Dt 34.1-12).
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1 - A OCUPAÇÃO DE CANAÃ.
2.13. O reino do Norte (924 a 722 a.C.) Chegara o dia há muito esperado.
Tendo morrido Moisés, Josué foi comissionado a conduzir a nação de Israel na
conquista da Palestina. Séculos se tinham passado desde que aos patriarcas fora
prometido que seus descendentes herdariam a terra de Canaã. Neste ínterim, cada
geração sucessiva das populações da Palestina fora influenciada por vários povos
provenientes do Crescente Fértil. Motivados por interesses econômicos e militares,
eles atravessavam a terra de Canaã de quando em vez.
O povo de Canaã não foi organizado em fortes unidades políticas. Fatores
geográficos, tanto quanto a pressão de nações circunvizinhas, no Crescente Fértil, que
se utilizavam de Canaã como território tampão, explicam o fato de que os Cananeus
jamais foram um império forte e integrado. Numerosas cidades-estados controlavam
tanto o território quanto possível, com a cidade bem fortificada de forma a resistir a
possíveis ataques inimigos, quando Canaã era atravessada por exércitos. Essas
cidades com freqüência evitavam ser atacadas mediante o pagamento de um tributo.
Entretanto, quando algum povo vinha ocupar a terra, como Israel fez sob Josué, essas
cidades-estados formavam ligas e se uniam para resistir ao invasor. Isso é bem
ilustrado no livro de Josué.
A localização da Palestina dentro do Crescente Fértil, e a configuração
geográfica da própria terra, com freqüência afetou seus desenvolvimentos culturais e
políticos. Na palestina aluvial dos rios Tigre e Eufrates, bem como nos vales do Nilo,
Numerosas cidades-estados vassalas e pequenos principados ou distritos por mais de
uma vez se uniram, formando uma só grande nação. Isso não era facilmente realizado
na Síria-Palestina, porquanto a topografia não se moldava a tais amálgamas. Em
resultado disso, Canaã se achava em condições mais débil, já que nenhuma das
cidades-estados se equiparavam em forças às tropas invasoras que vinham de reinos
poderosos ao longo do Nilo ou do Eufrates.
Ao mesmo tempo, Canaã era um prêmio cobiçado por essas nações mais fortes.
Estando localizada entre os dois grandes centros da civilização, Canaã, com seus
vales férteis, por muitas vezes esteve sujeita a invasões de potências maiores. Reinos
minúsculos, sem forças suficientes para resistir a forças invasoras, achavam ser
expediente humilhar-se momentaneamente, pagando tributos a algum reino, como o
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Egito. Contudo, com freqüência, quando o invasor se retirava, os “presentes” eram
interrompidos. Embora essas cidades-estados pudessem ser facilmente conquistadas,
era difícil para os vitoriosos conservarem-nas como possessões permanentes.
A religião de Canaã era politeísta. El era reputado como principal divindade
cananéia. Simbolizando como um touro entre um rebanho de vacas, o povo se referia a
ele como “pai touro”, considerando-o criador. Asera era a esposa de El. Nos dias de
Elias, Jesebel patrocinava a quatrocentos profetas de Asera (veja 1Rs 18.19). O rei
Manassés erigiu a imagem dela no templo de Jerusalém (veja 2Rs 21.7). O primeiro
dentre os setenta deuses e deusas que eram tidos como prole de El e Asera era
Hadade, mais comumente conhecido pelo nome de Baal, que quer dizer “senhor”.
Como monarca reinante dos deuses, ele controlaria os céus e a terra. Por ser deus da
chuva e da tempestade, ele era o responsável pela vegetação e pela fertilidade. Anate,
a deusa amante da guerra, era sua irmã e consorte. No século IX a.C., Astarte, deusa
da estrela vespertina, era adorada como sua esposa. Mote, deus da morte, era o
principal adversário de Baal. Iom, deus do mar, foi derrotado por Baal. Esses e muitos
outros deuses são os primeiros a figurarem no catálogo do panteão cananeu.
Visto que as divindades dos Cananeus não teriam caráter moral, não é de
surpreender que a moralidade daquele povo fosse extremamente baixa. A brutalidade
e imoralidade que se destacam nas narrativas sobre esses deuses é algo muito pior
que qualquer outra coisa vista no Oriente Próximo. E, posto que isso se refletia na
sociedade cananéia, os Cananeus, nos dias de Josué, praticavam sacrifícios de
crianças, a prostituição sagrada e adoração à serpente com seus ritos e cerimonias
religiosas. Naturalmente, a civilização deles se degenerou debaixo dessa influência
desmoralizadora.
As Escrituras testificam sobre essa sórdida condição, mediante Numerosas
proibições que foram dadas como advertências aos israelitas. Essa degradante
influência religiosa já se evidenciava nos dias de Abraão (veja Gn 15.16 e 19.5).
Séculos mais tarde, Moisés encarregou solenemente o seu povo de destruir os
Cananeus – não somente para puni-los por causa de sua iniqüidade, mas também para
impedir a contaminação do povo escolhido por Deus (veja Lv 18.24-28; 20.33; Dt 12.31
e 20.17,l8).
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1.1. Era de conquistas
A experiência e o treinamento haviam preparado Josué para a exaustiva tarefa
de conquistar Canaã. Em Refidim, ele dirigiu o exército israelita na derrota imposta a
Amaleque. Tendo sido espia, ele obtivera conhecimento em primeira mão sobre as
condições vigentes na Palestina (veja um 13-14).
Sob a tutela de Moisés, Josué foi treinado para a liderança, tendo sido
preparado para dirigir a conquista e a ocupação da terra prometida.
Tal qual a narrativa sobre a peregrinação no deserto, o registro das atividades
de Josué é incompleto. Não se faz qualquer menção à conquista da área de Siquém,
entre o monte Ebal e o monte Gerizim, mas foi ali que Josué reuniu o povo inteiro de
Israel para ouvir a leitura da Lei de Moisés (veja Js 8.30-35). Mui provavelmente,
muitas outras áreas e locais foram conquistadas e ocupadas, embora isso não seja
aludido no livro de Josué. Durante o período da vida de Josué a terra de Canaã foi
tomada pelos israelitas, mas de modo algum foram expulsos todos os seus habitantes.
Dessa maneira, o livro de Josué precisava ser considerado como relato apenas parcial
dos empreendimentos de Josué.
1.1.1. A conquista
Acampado em Gilgal, o povo de Israel foi realisticamente preparado para viver
em Canaã, como nação escolhida por Deus. Durante quarenta anos, enquanto a
geração incrédula morria no deserto, a circuncisão, que servia de sinal de relação de
pacto (veja Gn 17.1-27), não fora observada. Por meio desse rito, a nova geração foi
dolorosamente relembrada do pacto e da promessa de Deus de que os introduziria na
terra que “fluía leite e mel”. A entrada na terra também foi assinalada pela observância
da Páscoa e pela cessão da provisão do maná. O povo remido, doravante, consumiria
os frutos da terra.
O próprio Josué fora preparado para a conquista, mediante uma experiência
similar àquela que tivera Moisés, quando Deus o convocou (veja Êx 3). Mediante uma
teofonia, Deus insuflou em Josué a consciência de que a conquista da terra não
dependia somente dele, mas que ele fora divinamente comissionado e dotado. Embora
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fosse o líder responsável por Israel, Josué era apenas um servo, sujeito ao comando
do exército do Senhor (veja Js 5.13-15).
A conquista de Jericó foi uma vitória que serviu de exemplo. Israel não atacou a
cidade de acordo com a estratégia militar regular, mas simplesmente segui as
instruções dadas pelo Senhor. Uma vez por dia, durante seis dias, os israelitas
marchavam ao redor da cidade. No sétimo dia, quando marchavam ao redor das
muralhas por sete vezes, estas ruíram, e eles puderam entrar e tomar conta da cidade.
Mas aos israelitas não foi permitido se apropriarem de qualquer parte dos despojos.
Aquilo que não foi destruído - objetos metálicos - foi depositado no tesouro do Senhor.
Excetuando Raabe e a casa de seu pai, os habitantes de Jericó foram extintos. A
miraculosa conquista de Jericó foi demonstração convincente, para os israelitas, de
que seus inimigos poderiam ser dominados.
Ai, era o próximo alvo a ser conquistado. Seguindo o conselho de sua dupla de
reconhecimento Josué enviou um exército de três mil homens, que sofreram severa
derrota. Uma investigação regada por oração, feita por Josué e pelos anciãos, revelou
o fato que Acã pecara durante a conquista de Jericó, ao apropriar-se de uma atrativa
capa de origem mesopotâmica, além de alguma prata e ouro. Devido a seu deliberado
ato de desafio contra a ordem de devotar todos os despojos ao Senhor. Acã e seus
familiares foram apedrejados no vale de Acor. Sendo-lhe garantido o sucesso, Josué
renovou seus planos para conquistar Ai. De modo contrário ao procedimento anterior,
os israelitas poderiam apossar-se do gado vivo e de outras propriedades
transportáveis. As forças inimigas foram atraídas ao campo aberto, para que os trinta
mil homens que haviam sido postados à noite por detrás da cidade, pudessem atacar
Ai pela retaguarda, a fim de incendiá-la. Os defensores foram aniquilados, seu rei foi
enforcado, e o sítio foi reduzido a escombros.Quando se espalharam por Canaã as
notícias da conquista de Jericó e Ai, o povo de várias localidades organizou resistência
contra a ocupação israelita (veja Js 9.1,2).
Os habitantes de Gibeom, cidade localizada a doze quilômetros e meio ao norte
de Jerusalém, traçaram astutamente um plano de engodo. Fingindo ter vindo de um
país distante, o que era patenteado por suas roupas surradas e por seu alimento
estragado, chegaram ao acampamento Israelita de Gilgal, expressando seu temor de
Deus de Israel, oferecendo-se para ser servo, se Jeová entrasse em aliança com eles.
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Visto não terem buscado orientação divina, os líderes de Israel foram vítimas da ficção,
negociando um tratado de paz com os gibeonitas. Três dias mais tarde, porém,
descobriu-se que Gibeom e três aldeias satélites eram próximas. Embora os israelitas
houvessem murmurado contra seus líderes, o tratado não foi violado. Ao invés disso,
os gibeonitas foram encarregados de suprir lenha e água o acampamento israelita.
Gibeom era uma grande cidade da Palestina. Quando ela capitulou ante Israel, o
rei de Jerusalém ficou profundamente alarmado. Em resposta a seu apelo, outros reis
Amorreus, de Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom, aliaram-se com ele, a fim de
atacarem a cidade de Gibeom. Havendo firmado acordo com Israel, a cidade
assediada imediatamente despachou mensageiros para que rogassem por ajuda
daquele quadrante. Mediante a marcha de uma noite inteira, desde Gilgal, Josué
apareceu inesperadamente em Gibeom, onde derrotou e pôs em fuga desordenada o
inimigo, através do passo de Bete-Horom (também conhecido como o vale de Aijalom),
até Azeca e Maquedá.
A ajuda sobrenatural nessa batalha resultou em vitória esmagadora para os
israelitas. Além do elemento de surpresa e do pânico lançado no campo inimigo, a
saraiva que caiu fez maior número de vítimas entre os Amorreus do que o tinham feito
os soldados combatentes de Israel (veja Js 10.11). Outrossim, um longo dia foi
outorgado aos israelitas quando perseguiam os inimigos. A ambigüidade da linguagem
a respeito desse longo dia de Josué tem dado margem a diversas interpretações. A
linguagem usada seria poética? Josué pedira mais luz do sol ou alívio do calor do dia?
Se se trata de linguagem poética, então ter-se-ia tratado de mero apelo, da parte de
Josué, por ajuda e força. Em resultado, os israelitas foram de tal modo revigorados que
o trabalho de um dia foi realizado em meio dia. Mas, se aceitarmos que houve
prolongamento das horas do dia, esse foi um milagre em que o sol ou a lua e a terra
estacaram. Se o sol e lua prosseguiram em seus cursos regulares, pode ter-se dado
um milagre de refração ou um milagre sobrenatural dada, que prolongou a luz do dia,
de tal modo que o sol e a lua apareciam fora de seus cursos regulares. O apelo de
Josué pelo auxílio divino pode ter sido um pedido de alívio do calor escaldante do sol,
tendo ordenado que o sol ficasse silente ou mudo, isto é, deixasse de brilhar. Em
resposta, Deus enviou a saraiva, que trouxe tanto alívio do calor solar como a
destruição para as hostes inimigas. Os soldados, sentido-se refrigerados, fizeram a
marcha de um dia em apenas meio dia, desde Gibeom a Maquadá, uma distância de
quase 50 Km, e pareceu-lhes ter passado um dia inteiro, quando na verdade, o dia
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ainda ia pela metade. Embora o relato do livro de Josué não nos forneça os detalhes
de como isso sucedeu, é evidente que Deus interveio em favor de Israel, e a liga dos
Amorreus foi completamente derrotada.
Em Laquedá, os cinco reis da liga dos Amorreus foram encurralados em uma
caverna, tendo sido em seguida mortos por Josué. Com a conquista de Maquedá e
Libna, estando esta última localizada na estrada do vale de Elá, onde Davi
posteriormente feriu Golias, os reis dessas duas cidades, por igual modo, foram
executados. Josué, então assediou a bem fortificada cidade de Laquis (moderna Tell-
ed-Duweir), e no segundo dia do assédio esse baluarte foi derrubado. Quando o rei de
Gezer tentou socorrer Laquis, também pereceu ele com sua força; entretanto,
nenhuma reivindicação é feita acerca da conquista de Gezer. Ato contínuo, Israel se
lançou vitoriosamente na tomada de Eglom, que atualmente é com a moderna Tell-el-
Hesi. Dali as tropas atacaram para o sul, entrando na região montanhosa e assediando
Hebrom, que não foi facilmente defendida. Então, dirigindo-se para o sudoeste,
assaltaram e tomaram Debir, ou Quiriater-sefer. Embora as fortes cidades-estados de
Gezer e Jerusalém não tivessem sido conquistadas, foram isoladas por meio dessa
campanha, de tal maneira que toda a área sulista, de Gibeom a Cades-Barnéia e
Gaza, ficou sob o controle de Israel, quando Josué reconduziu seus guerreiros afeitos
às batalhas ao acampamento de Gilgal.
A conquista e a ocupação da porção norte de Canaã é descrita de modo bem
abreviado. A oposição foi organizada e liderada por Jabim, rei de Hazor, que tinha a
seu dispor Nm erosos carros de guerra. Grande batalha teve lugar perto das águas de
Merom, cujo resultado foi que cananéia foi totalmente derrotada por Josué. Os cavalos
e os carros foram destruídos, e a cidade de Hazor foi incendiada até o chão. Não há
qualquer menção sobre a destruição de outras cidades na Galiléia.
De forma sumária, o trecho de Js 11.16-12.24 relata a conquista de toda a terra
de Canaã por parte de Israel. O território coberto pelas forças de ocupação se
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espraiou desde Cades-Barnéia, ou seja, nos extremos do Neguebe, até ao norte
quanto o vale do Líbano, abaixo do monte Hermom. No lado oriental da fenda do
Jordão, a área que previamente fora conquistada sob Moisés se estendia desde o
monte Hermom, no norte, até o vale do rio Arnom, a leste do mar Morto.
Trinta e um reis são listados entre os derrotados por Josué. Havendo tantas
cidades-estados, cada qual com seu próprio rei, um país tão pequeno, foi possível a
Josué e aos israelitas derrotarem esses governantes locais em pequenas federações.
Embora os reis tivessem sido derrotados, nem todas as cidades foram realmente
capturadas ou ocupadas. Por intermédio dessa conquista Josué subjugou os
habitantes até ao ponto em que, durante o período imediato de paz os israelitas
puderam estabelecer-se na terra prometida.
1.1.2. A divisão de Canaã
Apesar dos principais reis terem sido derrotados e que então prevaleceu um
período de paz, restaram ainda muitas áreas não-ocupadas na terra (veja Js 13.1-7),
Josué foi divinamente comissionado para dividir o território conquistado entre as nove
tribos e meia. Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés, tinham recebido seus
quinhões a leste do rio Jordão, sob Moisés e Elezar (veja Js 13.8-33 e Nm 32).
Durante o período da conquista o acampamento de Israel ficava localizado em
Gilgal, ligeiramente para nordeste de Jericó, perto do Jordão. Sob a supervisão de
Josué e Eleazar foram distribuídos os quinhões de algumas das tribos, enquanto Israel
ainda estava acampado ali. Calebe, que demonstrara fé incomum quarenta e cinco
anos antes, quando os doze espias tinham sido enviados a Canaã (veja Nm 13-14),
agora recebeu consideração especial, tendo-lhe sido dada como prêmio a cidade de
Hebrom, para ser sua herança (veja Js 14.6-15).
A tribo de Judá se apropriou da área entre o mar Morto e o mar Mediterrâneo,
incluindo a cidade de Belém. Efraim e a outra metade da tribo de Manasses receberam
a maior parte da área a oeste do rio Jordão, entre o mar da Galiléia e o mar Morto (veja
Js 16.1-17.18).
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Siló foi estabelecida como centro religioso de Israel (veja Js 18.1). Foi ali que as
demais tribos foram desafiadas a tomar posse de seus territórios respectivos.
Enquanto a Simeão foi dada a região ao sul de Judá, as tribos de Benjamim e
Dã receberam seu quinhão imediatamente ao norte de Judá. Ao norte de Manasses,
começando com o vale de Megido e com o monte Carmelo, receberam suas
possessões Issacar, Zebulom, Aser e Naftali.
Cidades de refúgio foram selecionadas por toda a extensão do pais (veja Js
10.1-9). A oeste do Jordão essas cidades eram Cades, em Naftali, Siquem, em Efraim,
e Hebrom em Judá. A leste do Jordão, em cada uma das áreas tribais, havia as
cidades seguintes. Bezer, em Rúben, Ramote, em Gileade, dentro das fronteiras de
Gade e Golã, em Basã, na área de Manassés. Para essas cidades qualquer indivíduo
poderia fugir para estar livre de vinganças de sangue, no caso de ter-se tornado
homicida involuntário.
A tribo de Levi não recebeu quinhão na forma de território, porquanto eram
responsáveis pelos serviços religiosos por toda a nação. As diversas tribos foram
encarregadas da obrigação de selecionarem cidades para os levitas. Terras de pasto,
em redor de cada uma das quarenta e oito cidades, foram igualmente providas, pelo
que os levitas podiam dar pasto a seu gado.
Elogiando o serviço fiel delas e admoestando-as a permanecerem leais a Deus,
Josué despediu as tribos transjordanianas que haviam servido junto com o resto da
nação, sob suas ordens, para conquistar o território a oeste do Jordão. Quando
retornam à Transjordânia, erigiram um altar ação essa que alarmou os israelitas que se
tinham estabelecido na própria terra de Canaã. Finéias, filho do sumo sacerdote, foi
enviado de Siló para avaliar a situação. Sua investigação assegurou-lhe que o altar na
terra de Gileade servia ao propósito de manter a adoração apropriada a Deus.
Por quanto tempo ainda viveu Josué, após suas campanhas militares, não é
esclarecido na Bíblia. Uma interferência, com base em Js 14.6-12, é que a conquista
de Ca naã foi realizada em um período de cerca de sete anos. Josué pode ter pouco
depois disso, ou pode ter continuado vivo durante uns vinte ou trinta anos no máximo.
Antes de morrer, com a idade de cento e dez anos, reuniu o povo de Israel em Siquém
e advertiu-os severamente para que temessem a Deus. Relembrou-lhes o fato de que
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia
Deus chamara a Abraão para que não servissem a ídolos e cumprira o pacto
estabelecido com os patriarcas, introduzindo Israel na terra prometida. Um
compromisso público foi feito, mediante o qual os líderes asseguraram a Josué de que
serviram ao Senhor. Após a morte de Josué Israel cumpriu essa promessa somente
enquanto vivia a geração mais idosa.
1.2. Análise moral da conquista de Canaã
O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo
escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a
sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros,
como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de
pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de
carrascos? Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário
histórico:
1.2.1. Devido à degradante religião de Canaã
A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de
Deus e da própria moralidade. Escavações mostraram a extrema obscenidade da
religião que tinha um panteão de deuses: El, o deus principal, é orgulhosamente
apresentado como sendo inteiramente sensual, sórdido e sanguinário até consigo
mesmo: as três deusas cananéias, enroladas em serpentes, são apresentadas em
posturas vis e sensuais. O sistema prestava homenagem a serpente, eram totalmente
depravado e estava fadado à destruição.
1.2.2. Devido à sua cultura corrompida
A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade
permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas
revelaram que os seus templos eram centros de vícios com sacerdotes sodomitas e
sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual
comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a idolatria do Egito e
da Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em tão profunda vulgaridade e
brutalidade. A cultura estava fadada à destruição (Levítico 18.25)
História de Israel
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1.2.3. Devido às admoestações e paciência de Deus
O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de
Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes
aos homens. O seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas
vezes muito antes de Moisés e Josué.
a) Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os Cananeus pela sua
obscenidade (Gênesis 9.22-27);
b) Para Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual
eles receberiam depois de cheia a medida da iniqüidade dos Amorreus (Gênesis
15.13-16);
c) Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua
destruição, o Senhor deu aos Cananeus muitas oportunidades de arrependimento
(Gênesis 18.25; Romanos 1.18-22). Deus esperou 400 anos.
1.2.4. Devido à comissão divina de Israel
Israel não foi designado para ser uma organização religiosa, mas um governo
civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira missão era
executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança
noéica (Gênesis 9.6). Apesar de sempre reticente na execução daquele sórdido dever,
Israel estava sob o comando específico do Senhor para tomar a terra, destruir os
Cananeus e receber a sua riqueza (Números 31.7; Deuteronômio 9.3; Josué 1.1-7). Na
realidade, os ataques de Israel eram quase sempre respostas aos ataques iniciais dos
Cananeus (Números 21.1;23-24,33; Josué 9.1-2; 10.1-4; 11.1-5).
1.2.5. Devido às promessas da aliança feita por Deus
Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina
por Israel estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15.8; Deuteronômio 1.7-
8; 30.5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará
a terra da violência e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por
Satanás (Apocalipse 14.16 e ss; 19.15).
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Os eventos registrados no livro de Juízes são intimamente relacionados aos
acontecimentos dos dias de Josué. Visto que os Cananeus não haviam sido
plenamente desalojados, e que a ocupação por Israel não se completara, condições
similares continuaram por todo o período dos Juízes. Em conseqüência disso,
prosseguiam as guerras, enquanto áreas ou cidades locais eram reocupadas no
decurso do tempo. Referências diversas, como Jz 1.1; 2.6-10 e 20.26-28, parecem
indicar que os acontecimentos dos livros de Josué e Juízes estão bem relacionados
cronologicamente, e que talvez sejam até simultâneos.
É difícil precisar a cronologia desse período. O fato de que quarenta a cinqüenta
métodos diferentes tem sido sugeridos para explanar a era dos juízes indica quão
grande é o problema.
É óbvio que qualquer esquema cronológico proposto para essa era dos juízes
apenas uma solução sugerida. Os informes das Escrituras são insuficientes para que
se estabeleça uma cronologia absoluta. Parece bastante certo que os autores dos
livros de Josué e Juízes não tiveram o intuito de apresentar um relato que se
encaixasse com exatidão dentro de uma cronologia completa relativa ao período. A
fidelidade às tradições que figuram em 1Rs 6.1 e Js 11.23, requer a cronologia mais
dilatada.
Israel não contava com qualquer capital política nos dias dos juízes. Siló, que
fora estabelecida como centro religioso, no dias de Josué (veja Js 18.1), continuou
nessa categoria nos dia de Eli (veja 1Sm 1.3). Visto que Israel não tinha rei (veja Jz
17.6; 18.1; 19.1 e 21.25), não havia localidade central de onde um juiz pudesse oficiar.
Esses juízes subiram à liderança conforme exigiam as condições locais ou nacionais. A
influência e reconhecimento de muitos deles se limitava às suas comunidades ou tribos
locais. Alguns deles foram líderes militares, que livraram os israelitas de algum inimigo
opressor, ao passo que outros dentre eles foram reconhecidos como magistrados, para
os quais o povo olhava, esperando decisões legais e políticas. Não tendo governo
central e nem capital, as tribos de Israel eram governadas irregularmente, sem
sucessão imediata quando do falecimento de qualquer dos juízes. Visto que alguns dos
juízes agiam em áreas locais restritas, também é razoável pensarmos que várias das
judicaturas tiveram lugar justapostas.
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Apesar de que Josué derrotara as principais forças opositoras, ao introduzir
Israel na terra de Canaã e dividi-las entre as várias tribos, muitas localidades
permaneceram nas mãos dos Cananeus e outros habitantes. Em seu recado final aos
israelitas Josué advertiu o povo para que não se mesclasse e nem entrassem em
relações de matrimônio com os habitantes locais que permanecessem, mas
admoestou-os para que expulsassem esses povos idólatras e ocupassem suas terras.
Novas tentativas foram feitas para desalojar aquela gente, mas o registro sagrado
indica com clareza que os israelitas mostraram-se obedientes apenas em parte.
A despeito de terem sido conquistadas algumas áreas, certas cidades
fortemente armadas, como Taanaque e Megido. Continuaram na posse dos Cananeus.
Quando Israel se tornasse suficientemente poderosa, deveria sujeitar esses povos,
impondo-lhes o trabalho forçado e o pagamento de taxas; mas os israelitas
fracassaram na comissão recebida de expeli-los da terra. Consequentemente, os
Amorreus, Cananeus e outros permaneceram na terra que fora dada a Israel, para que
a conquistasse completamente e ocupasse. Pareceria perfeitamente natural que
quando Israel ainda era débil, esses povos tenham reconquistado cidades e aldeias
antes tomadas pelos israelitas (cf. Jz 1.34).
A ocupação parcial da terra deixou Israel em contínuas dificuldades. O ciclo de
acontecimentos se repetia interminavelmente. Mediante a confraternização com os
habitantes locais os israelitas vieram a participar da adoração a Baal, esquecendo-se
da adoração a Deus. Os povos particularmente mencionados, que fizeram Israel
afastar-se de Deus, foram os Cananeus, os Hititas, os Amorreus, os Perizeus, os
Heveus e os Jebuseus. Durante esse período de apostasia, os casamentos mistos
empurraram os israelitas à maior negligência ainda no serviço e na devoção a Deus.
No curso de uma geração a multidão de Israel se tornou tão idólatra que foram
retiradas as bênçãos divinas, prometidas por intermédio de Moisés e Josué. Ao
adorarem a Baal os israelitas quebravam o primeiro mandamento do decálogo.
O arrependimento era parte seguinte do ciclo. Quando os israelitas perdiam sua
independência e serviam aos opressores, reconheciam então que sofriam as
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conseqüências da desobediência a Deus. Quando tomavam consciência de seus
pecados voltavam-se penitentes para Deus. E seu apelo não era feito em vão.
O livramento ocorria por meio de campeões que Deus levantava para
desafiarem aos opressores. Os líderes militares que encabeçaram os israelitas no
ataque contra nações inimigas foram Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque, Gideão,
Jefté e Sansão. Especialmente dotado de capacidades divinas, esses líderes repeliam
os adversários, e Israel, uma vez mais, desfrutou de um período de descanso.
2 - CONDIÇÕES RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS
Os capítulos finais dos livros de Juízes e Rute descrevem as condições
reinantes nos dias de líderes heróicos como Débora, Gideão e Sansão. Sem
referências cruzadas às atividades de qualquer dos juízes particulares nomeados nos
capítulos anteriores, é difícil datar esses acontecimentos de modo específico. Os
rabinos associaram a narrativa de Mica e da migração danita à época de Otoniel; mas,
devido à ausência de detalhes históricos é impossível certificarmo-nos de quão dignas
de confiança são essa e outras tradições rabínicas similares. O máximo que se pode
fazer é limitar esses eventos aos dias “... em que julgavam os juízes ...”e nos quais
“....não havia rei em Israel” (Rt 1.1 e Jz 21.25).
Mica e seu santuário servem de exemplo da apostasia religiosa que prevalecia
nos dias dos juízes. Quando Mica, um efraimita, devolveu 1.160 siclos furtados de sua
mãe, ela deu 200 siclos a um ourives, o qual fez uma imagem de escultura, esculpida
em madeira e recoberta de prata, bem como outra imagem fundida feita inteiramente
de prata. Com esses símbolos idólatras Mica estabeleceu um santuário, ao qual
acrescentou uma estola sacerdotal e ídolos do lar, tendo nomeado ainda sacerdote a
um de seus filhos. Quando um levita de Belém por acaso fez parada nessa capela,
sobre o monte Efraim, Mica firmou com ele um acordo, contratando-o como seu
sacerdote oficial, na esperança de que o Senhor faria prosperar o seu
empreendimento.
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Cinco danitas, enviados como grupo de reconhecimento para localizar mais
terras para sua tribo, pararam no santuário de Mica afim de pedir conselhos de seu
levita. Após ser-lhes assegurado o sucesso, prosseguiram caminho e encontraram
condições favoráveis para conquista de mais territórios em Laís, cidade localizada nas
vizinhanças das cabeceiras do rio Jordão. Em resultado disso, seiscentos danitas
migraram para o norte. A caminho, convenceram ao levita de que lhe era melhor servir
de sacerdote para uma tribo do que para um só indivíduo. Quando Mica e seus
vizinhos fizeram objeção, os danitas, sendo mais Nm erosos, simplesmente levaram os
levitas e os deuses de Mica para Laís, ao norte, que daí por diante foi denominada Dã.
Ali Jônatas, que sem dúvida era o nome do levita, estabeleceu um santuário para os
danitas, em substituição a Siló. Se nenhuma omissão ocorre na genealogia (veja Jz
18.30) desse Jônatas, é perfeitamente possível que a imigração teve lugar nos
primeiros dias dos juízes.
O crime sexual em Gibeá e os acontecimentos que se seguiram provocaram
guerra civil em Israel. Um levita da região montanhosa de Efraim e sua concubina, ao
retornarem de uma visita aos pais da mulher, em Belém, pararam em Gibeá para
passar a noite. Tinham passado além de Jebus, na esperança de receber melhor
hospitalidade em Gibá, que era uma cidade benjamita. Durante a noite, os homens de
Gibeá reclamaram e então se apossaram da concubina do levita. Pela manhã, ela foi
encontrada morta à entrada da casa. O levita tomou o cadáver ao interior da casa e
cortou em doze pedaços, que ele enviou por toda a terra. O povo inteiro de Israel, de
Dã e Berseba, ficou tão chocado diante dessa atrocidade que se reuniram aos homens
de Mispa. Ali diante de um ajuntamento de 400 mil homens, o levita narrou o quanto
fora maltratado pelos benjamitas.
Quando a tribo de Benjamin se recusou a entregar os homens de Gibá que
haviam cometido esse crime, estourou a guerra civil. Os benjamitas reuniram um força
combatente de 26 mil homens, incluindo uma divisão de 700 homens que atiravam com
funda. O resto de Israel, então reuniu-se em Betel, onde estava localizada a arca do
Senhor, a fim de receber instruções de guerra da parte de Finéias, o sumo sacerdote.
Por duas vezes as forças israelitas foram derrotadas em seu ataque contra Gibeá. Da
terceira vez, entretanto, conquistaram e incendiaram a cidade, matando a todos os
benjamitas, com exceção de seiscentos homens que fugiram e se refugiaram na penha
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Rimom. A destruição e devastação em Benjamim foi bastante extensa, de tal modo que
a tribo se viu muito reduzida à desgraça.
Após quatro meses houve reconciliação com os 600 homens restantes. Então
providenciaram a restauração e o casamento daqueles homens, a fim de que os
benjamitas fossem reintegrados como uma das tribos da nação de Israel.
A história de Rute, nos provê um vislumbre Nm a era mais pacífica dos dias em
que governavam os juízes. Essa narrativa fala da migração de uma família israelita
inteira - Elimeleque, Noemi e seus dois filhos - para Moabe, quando houve fome em
Judá. Ali os dois filhos se casaram com mulheres moabitas, Rute e Orfa. Após a morte
de seu marido e de ambos os filhos, Noemi retornou a Belém, acompanhada por Rute.
Com a passagem do tempo Rute contraiu núpcias com Boaz e, subseqüentemente,
figurou na linhagem davídica, da família real de Israel.
2.1. Tempo de transição sob a liderança de Eli e Samuel
Os tempos de Eli e Samuel assinalam a era de transição da liderança
intermitente dos juízes para o levantamento da monarquia Israelita. Os dois homens
não são mencionados no livro de Juízes, mas receberam atenção nos capítulos iniciais
de 1 Samuel 1.1-8,22, como introdução da narrativa acerca do primeiro monarca de
Israel.
A história de Eli serve de pano de fundo do ministério de Samuel. Na posição de
sumo sacerdote, Eli estava encarregado da adoração e dos sacrifícios no tabernáculo
de Siló. Os israelitas esperavam dele a liderança e a orientação, nas questões
religiosas e civis.
A religião de Israel se encontrava no nível mais baixo que já existira, nos dias de
Eli. Ele falhou, não ensinando seus próprios filhos a reverenciarem a Deus: “... não se
importavam com o Senhor” (1Sm 2.12). Sob sua jurisdição, eles assumiram
responsabilidade sacerdotais, abusando das pessoas que vinham oferecer sacrifícios e
adorar. Não somente furtavam de Deus, exigindo a porção sacerdotal antes dos
sacrifícios serem feitos, mas também se comportavam de tal modo que o povo
abominou a idéia de levar seus sacrifícios a Siló. Também profanaram o santuário com
a vileza e o deboche comuns à religião dos Cananeus. Conforme já seria de esperar,
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recusavam-se a dar ouvidos às reprimendas amargas de seu pai contra a conduta
deles. Não é de surpreender que Israel tivesse continuado a degenerar-se, caindo em
práticas religiosas crescentemente corruptas.
Foi nessa atmosfera abominável que Samuel foi criado na infância, sob os
cuidados de Eli como fora entregue. Consagrado a Deus e encorajado por sua piedosa
mãe, Samuel cresceu no meio ambiente do tabernáculo, impermeável para a ímpia
influência dos filhos de Eli. Um profeta cujo nome não é dado repreendeu a Eli porque
ele honrava mais a seus filhos do que a Deus (veja 1Sm 2.27 ss). Sua lassidão
provocara o juízo de Deus; por conseguinte, seus filhos perderiam a vida e um
sacerdote fiel haveria de ministrar em lugar deles. A reiteração desse decreto foi
revelada a Samuel, quando Deus falou com ele durante a noite (veja 1Sm 3.1-18).
Súbita e rapidamente essas palavras proféticas tiveram cumprimento. Quando
os assustados israelitas perceberam que estavam sendo derrotados em um encontro
com os filisteus, conseguiram convencer os filhos de Eli para que trouxesse a arca da
aliança, objeto mais sagrado de Israel, ao campo de batalha. A religião chegara a um
nível tão baixo que o povo acreditava que a arca que representava a própria presença
de Deus, poderia salvá-los da derrota. Contudo, não puderam forçar Deus a servi-los.
A derrota dos israelitas foi esmagadora. O inimigo capturou a arca, matando os filhos
de Eli. Não admira que quando Eli ouviu as chocantes notícias de que a arca caíra em
mãos filistéias tivesse desmaiado e morrido!
Aquele foi um dia fatal para Israel. Embora a Bíblia nada diga sobre a destruição
de Siló, as outras evidências que dão a entender que, nessa ocasião, os filisteus
reduziram a ruína o santuário central que havia conservado as tribos unidas.
Quatro séculos mais tarde Jeremias advertiu os moradores de Jerusalém para
que não pusessem sua confiança no templo (veja Jr 7.12-24 e 26.6-9). Assim como os
israelitas haviam confiado na arca para sua segurança, por semelhante modo, a
geração de Jeremias supôs que Jerusalém na qualidade de lugar da habitação de
Deus, não poderia cair nas mãos das nações gentílicas. Jeremias sugeriu que
considerassem as ruínas de Siló e tirassem proveito desse exemplo histórico. As
escavações arqueológicas mostraram que Siló fora reduzida a cinzas no século XI a.C.
Sua destruição, nesse tempo, explica o fato de que pouco depois os sacerdotes
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oficiavam em Nobe (veja 1Sm 21.1). Também é digno de nota, nessa conexão, que
Israel em ocasião alguma, tentou trazer a arca de volta para Siló.
A vitória dos Filisteus desmoralizou eficazmente os israelitas. Quando a nora de
Eli deu à luz a um filho, mui apropriadamente lhe deu o nome de “Icabode”, porquanto
ela sentia profundamente que a benção divina fora retirada de Israel (veja 1Sm 4.19-
22). O nome dessa criança significa “onde está a glória?”, ao mesmo tempo que talvez
demonstre que a religião cananéia já conseguira penetrar no pensamento israelita,
porque para os devotos de Baal, tal nome seria uma alusão à morte do deus da
fertilidade.
O lugar na história de Israel, é singular. Sendo o último dos juízes, ele exercia
jurisdição civil por toda a terra de Israel. Outrossim, ele obteve o reconhecimento de
ser o maior profeta de Israel desde os tempos mosaicos. E ele também oficiava como
principal sacerdote, embora não fosse da linhagem de Arão, à qual pertenciam as
responsabilidade do sumo sacerdócio.
A Bíblia preserva comparativamente pouco acerca do ministério real desse
grande líder. Quando Eli faleceu e a ameaça da opressão filistéia tornou-se mais
pronunciada, mui naturalmente os israelitas se voltaram para Samuel esperando
liderança. Depois de haver escapado do despojamento do santuário de Siló, Samuel
estabeleceu morada em Ramá, onde erigiu um altar. Não há qualquer indicação,
todavia, de que Ramá se tenha tornado o centro religioso ou civil da nação. O
tabernáculo, que de acordo com Sl 78.60 fora abandonado por Deus, não é jamais
mencionado em conexão com Samuel. Israel retomou a arca das mão dos filisteus
(veja 1Sm 5.1-7.2), mas esta foi conservada em Quiriate Jearim, na casa particular de
Abinadabe, até aos dias de Davi.
Deve se lançar no crédito de Samuel que ele se impôs sobre os israelitas para
que expurgassem a adoração nos moldes do culto cananeu, em suas fileiras (veja 1Sm
7.3 ss.). Em Mispa, o povo se reuniu penitente para orar, jejuar e oferecer sacrifícios. A
palavra de convocação chegou aos ouvidos dos filisteus, que em vista disso se
aproveitaram da situação para lançar um ataque. Em meio à refrega, severa
tempestade lançou o termo nos corações dos mercenários filisteus, provocando
confusão e pondo-os em fuga. Evidentemente a trovoada adquiriu
História de Israel
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significado portentoso para os filisteus, pois nunca mais tentou engajar os israelitas em
batalha, enquanto Samuel esteve no comando das tribos.
Eventualmente, os líderes tribais sentiram que deveriam fomentar sua
resistência à agressão dos filisteus; de acordo com isso, clamavam por um rei. Como
justificativa para o estabelecimento da monarquia salientaram que Samuel era homem
idoso e que seus filhos eram moralmente ineptos para assumir o lugar dele.
Astutamente Samuel rejeitou a proposta deles, implorando-lhes com eloqüência que
“não impusessem a si mesmos uma instituição cananéia estranha à própria maneira de
vida deles”. Quando, a despeito disso, eles persistiram em suas existências, Samuel
aquiesceu, embora só o tivesse feito após intervenção divina (veja 1Sm 8).
Quando Samuel, com relutância, consentiu ante a invocação de um reinado, não
fazia idéia sobre quem Deus escolheria. Um dia, quando oficiava em um sacrifício,
veio-lhe ao encontro um benjamita que viera consultá-lo acerca da localização de
alguns asnos de seu pai que se tinham extraviado. Avisado de antemão sobre a
chegada dele, Samuel entendeu que Saul era o escolhido de Deus para seu primeiro
rei de Israel. Não somente Samuel entreteve Saul como seu convidado de honra,
quando da festividade de sacrifício, mas também o ungiu em particular, como “capitão
sobre sua herança”, dessa forma dando a conhecer que sua posição real era uma
incumbência sagrada. Quando retornava a Gibeá, Saul testemunhou o cumprimento
das palavras preditivas de Samuel em confirmação de haver sido selecionado para
aquela responsabilidade. Em convocação subsequente em Mispa, Saul foi
publicamente escolhido e entusiasticamente apoiado pela maioria, em meio às
aclamações populares: “Viva o rei!” à sua cidade natal de Gibeá, em Benjamim.
2.2. O primeiro rei de Israel
Saul desfrutou de apoio entusiasta por parte de seu povo, depois de uma vitória
inicial sobre os Amonitas, em Jabes de Gileade. É verdade que nem todos encararam
sua ascensão ao trono com satisfação fingida, mas aqueles obstinados não podiam
tolerar sua avassaladora popularidade (veja 1Sm 10.27 e 11.12). No entanto, através
de desobediência deliberada, Saul não tardou a arruinar suas oportunidades de
sucesso. Devido às suspeitas e ao ódio, seus esforços tornaram-
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se tão dispersivos e as forças nacionais foram tão dissipadas que o seu reinado
terminou em fracasso completo.
Saul foi um guerreiro que conduziu sua nação a inúmeras vitórias militares. Em
uma localidade estratégica, em uma colina, a quase cinco quilômetros ao norte de
Jerusalém, Saul fortificou Gibeá a fim de contrabalançar a superioridade militar dos
filisteus. Aproveitando-se do bem sucedido ataque que fora lançado por seu filho,
Jônatas, Saul pôs os filisteus em fuga, na batalha de Micmás (veja 1Sm 13-14). Entre
outras nações derrotadas por Saul (veja 1Sm 14.47, 48), figuravam os amalequitas
(veja 1Sm 15.1-9).
O sucesso inicial do primeiro rei de Israel não obscureceu suas fraquezas
pessoais. O rei de Israel ocupava uma posição singular entre os dirigentes
contemporâneos, tendo a responsabilidade de reconhecer pessoalmente o profeta, que
era o representante de Deus. Quanto a esse particular, Saul falhou duas vezes.
Aguardando impacientemente pela chegada de Samuel em Gilgal, Saul oficiou
pessoalmente o sacrifício (veja 1Sm 13.8,9). Em sua vitória sobre os amalequitas ele
cedeu ante à pressão do povo, ao invés de por em execução as instruções de Samuel.
Solenemente o profeta advertiu-o de que Deus não se agrada com sacrifícios que
visem a substituir a obediência. Com essa escaldante reprimenda Samuel deixou o rei
Saul entregue aos seus próprios recursos. Por causa da desobediência, Saul perdeu
seu reinado.
A unção de Davi, por Samuel, em cerimônia particular, era algo que Saul
desconhecia. Devido a ter posto fim a Golias, Davi subiu para o centro de atenção na
nação. Quando foi enviado por seu pai a fim de levar suprimentos a seus irmãos, que
serviam no exército israelita, acampado defronte dos filisteus, Davi ouvia as ameaças
blasfemas de Golias. Davi raciocinou que Deus, que o ajudara a matar ursos e leões,
também lhe daria capacidade para matar aquele inimigo que desafiava os exércitos de
Israel. Quando os filisteus perceberam que Golias, o gigante de Gate, fora morto,
fugiram de diante de Israel. O reconhecimento nacional conferido ao heróico Davi foi
subseqüentemente expresso na declaração popular: “Saul feriu os seus milhares,
porém Davi os seus dez milhares “.
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Abandonado a seus próprios recursos, Saul tornou-se suspeitoso e extremamente
invejoso de Davi. Por Nm erosos e sutis esquemas Saul procurou remover esse jovem
herói nacional. Exposto aos arremessos de lança de Saul ou aos perigos da batalha,
Davi consegui escapar com êxito a toda manobra que visava sua ruína. Mesmo quando
Saul pessoalmente se dirigiu a Naiote, onde Davi se refugiara em companhia de
Samuel, ele foi influenciado pelo espírito dos profetas de modo tal que não foi capaz de
prejudicar ou de deter Davi. Por diversas vezes Davi teve a oportunidade pessoal de
tirar a vida do rei de Israel. Mas cada vez ele se recusou a isso, reconhecendo que
Saul era o ungido do Senhor. Embora Saul tenha ficado profundamente comovido,
admitindo temporariamente suas atitudes aberrantes, não demorou para que
reiniciasse suas hostilidades.
Davi temia que algum dia Saul pudesse apanhá-lo desprevenido. A fim de
resguardar a si mesmo e seu grupo de mais de seiscentos homens, além de mulheres
e crianças, ele pediu e obteve permissão de Aquis para residir na cidade filistéia de
Ziclaque. Ali ele ficou durante, aproximadamente, o ano e meio que ainda restou do
reinado de Saul. Perto do final desse período Davi acompanhou os filisteus a Afeque,
para combater contra Israel. Porém, foi-lhe negada a participação na batalha. Retornou
a Ziclague em tempo de recuperar suas possessões que tinham sido tomadas em um
ataque dos amalequitas.
Os exércitos israelitas se acamparam no monte Gilboa para combater contra os
filisteus. Algo mais do que o temor do inimigo, a quem já derrotara em oportunidade
anteriores, perturbava ao rei de Israel nessa época. Samuel, desde há muito ignorado
por Saul, não podia mais ser entrevistado. Saul voltou-se para Deus, mas não obteve
resposta por meio de sonhos, de Urim ou dos profetas, ficou aterrorizado. Em
desespero, apelou para médiuns espíritas, que ele mesmo banira no passado.
Localizando em Endor uma mulher que era possessa de um espírito de adivinhação e
pede-lhe para ver a Samuel. Sem importar-se com o poder que essa mulher possuía,
buscou uma intervenção da parte dela. Uma vez mais é lembrado pelo “pseudo
Samuel” que, por causa de sua própria desobediência, ele perdera o reino. Em sua
mensagem a Saul o “pseudo profeta” predisse a morte do rei e de seus três filhos, bem
como a derrota de Israel.
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De coração oprimido e com a idéia dos trágicos acontecimentos que o esperavam,
Saul retornou ao acampamento naquela noite lúgubre. Durante a batalha que houve na
planície de Jezreel as forças israelitas foram postas em fuga, retirando-se para o monte
Gilboa. No decurso da peregrinação os filisteus tiraram as vidas dos três filhos do rei. O
próprio Saul foi ferido por arqueiros inimigos. A fim de evitar tratamento brutal nas
mãos do inimigo, ele caiu sobre a própria espada, pondo fim à própria vida. Os filisteus
obtiveram uma vitória decisiva, conseguindo um controle indisputável sobre o fértil vale,
desde a costa até o rio Jordão. Também ocuparam muitas cidades, de onde os
israelitas foram forçados a fugir. Os corpos de Saul e de seus filhos foram mutilados e
enforcados na fortaleza de Bete-Seã, pertencente aos filisteus. Mas os cidadãos de
Jabes de Gileade resgataram-nos afim de dar-lhes sepultura. Posteriormente, Davi
providenciou a transferência dos restos mortais para a propriedade da família de Saul,
em Zela, na tribo de Benjamim (veja 2Sm 21.14).
Verdadeiramente trágico foi o final do reinado de Saul, que foi o primeiro rei de
Israel. Embora escolhido por Deus e ungido mediante a oração do profeta Samuel, ele
não percebeu que a obediência era essencial para a incumbência sagrada e singular
que lhe foi proporcionada por Deus - para ser “capitão sobre sua herança”.
2.3. A união de Israel sob Davi e Salomão
O período áureo de Davi e Salomão nunca foi duplicado nos tempos do Antigo
Testamento. A Expansão territorial e os ideais religiosos, conforme são contemplados
por Moisés, se concretizaram em grau maior do que jamais antes ou depois, na história
de Israel. Nos séculos seguintes, as esperanças proféticas acerca da restauração da
sorte de Israel são repetidamente alusivas ao reino davídico como um ideal.
2.3.1. União e expansão Davídicas
Os empreendimentos políticos de Davi foram assinalados pelo sucesso. Em
menos de uma década, depois da morte de Saul, todo o Israel se juntou em apoio a
Davi, o qual dera início a seu reinado somente com o pequeno reino de Judá. Por meio
de sucessos militares e de gestos de amizade em breve ele controlava o território que
vai desde o rio do Egito e o golfo de Ácaba até as costas fenícias e a terra de Hamate.
O respeito internacional e o reconhecimento obtidos por Davi para
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Israel continuaram intocados pelas potências estrangeiras até aos anos finais do
reino de Salomão.
O novo rei também se distinguiu como líder religioso. Embora lhe fosse
negado o privilégio de construir o templo, ele fez laboriosos preparativos para sua
edificação, por seu filho, Salomão. Através da liderança de Davi, os sacerdotes e
levitas, foram profundamente organizados para que participassem eficazmente nas
atividades religiosas da nação inteira.
O livro de 2 Samuel retrata o reinado de Davi com grande detalhes. Uma
longa seção (11-20) nos proporciona o relato exclusivo do passado, crime e rebeldia
que houve na família real. A transferência do trono para Salomão e o falecimento de
Davi são narrados nos capítulos iniciais de 1 Reis. O livro de 1 Crônicas, que
igualmente conta a história do período de Davi, representa uma unidade
independente, que focaliza a atenção como o primeiro monarca de uma anistia
contínua. À guisa de introdução ao estabelecimento do trono davídico, o cronista
apresenta o pano-de-fundo genealógico das doze tribos sobre as quais Davi
governava. Saul é escassamente mencionado, após o que Davi é apresentado
como rei de toda a nação de Israel. A organização de Israel, política e
religiosamente falando, é exposta de forma mais elaborada, e a supremacia de Davi
sobre nações circunvizinhas recebe maior ênfase. Antes de chegar à conclusão,
com a morte de Davi, os últimos oito capítulos do livro apresentam extensas
descrições de sua preparação para a construção do templo. Conseqüentemente, 1
Crônicas é um valioso complemento ao registro de 2 Samuel.
2.4. O rei de Judá
Nascido em tempo turbulentos, Davi foi sujeitado a um duro período de
treinamento, a fim de prepará-lo para ser o rei de Israel. Foi requisitado pelo rei,
para o serviço militar, depois que matou Golias, tendo ganho valiosa experiência
militar em seus feitos heróicos contra os filisteus. Depois que foi forçado a
abandonar a corte, dirigiu um bando de fugitivos e se tornou simpático para os
proprietários de terras e de ovelhas que havia no sul de Israel, provendo-lhes
proteção. Ao mesmo tempo, negociava bem sucedidas relações diplomáticas com
História de Israel
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os filisteus e moabitas, ao mesmo tempo que era considerado um fora da lei de
Israel.
Davi se encontrava em território filisteu quando o exército de Saul foi
decisivamente derrotado no monte Gilboa. Pouco depois que Davi resgatara suas
esposas e recuperara os despojos que haviam sido tomados pelos assaltantes
amalequitas, um mensageiro lhe deu notícias sobre os importantíssimos eventos
que tinham ocorrido em Israel. Dominado pela tristeza, Davi prestou tributo imortal a
Saul e Jônatas, em um dos maiores panegíricos que há no Antigo Testamento. Não
somente Israel perdera seu rei, mas Davi também sentiu agudamente a perda de
seu amigo mais chegado, Jônatas. Quando o portador da notícia, um amalequita,
antecipava uma recompensa por ter reivindicado crédito pela morte de Saul, Davi
ordenou sua execução por haver tocado no ungido do Senhor.
Após ter-se certificado da aprovação divina Davi retornou à terra de Israel.
Em Hebrom os líderes de sua própria tribo (Judá) ungiram-no e aclamaram-no seu
rei. Ele era bem conhecido dos clãs da região, tendo protegido aos proprietários de
terras e tendo compartilhado com eles dos despojos obtidos nos ataques contra
seus inimigos (veja 1Sm 30.20-31). Na qualidade de rei de Judá, Davi enviou uma
mensagem elogiosa, aos homens de Jabes, por terem conferido ao rei Saul um
sepultamento condigno. Não há que duvidar que esse gesto amigável e grandioso
também teve reflexos políticos, porquanto Davi estava solicitando o apoio deles.
Israel se viu em tribulação séria quando terminou o reinado de Saul. A capital em
Gibeá, ou foi destruída ou gradualmente caiu em ruínas. Eventualmente, Abner,
comandante do exército israelita, foi capaz de restaurar a ordem suficiente para que
Is-Bosete (Isbaal) fosse ungido rei. A entronização teve lugar em Gileade, porque os
filisteus controlavam as terras a leste do rio Jordão. Visto que o filho de Saul reinou
sobre as tribos nortistas apenas por dois anos (veja 2Sm 2.10), Durante os sete
anos e meio em que Davi governou Israel em Hebrom, parece que o problema
filisteu adiou a subida ao trono do novo rei por cerca de cinco anos.
Dessa maneira o povo de Judá prometeu lealdade a Davi, ao passo que os
demais israelitas permaneceram leais à dinastia de Saul sob a liderança de Abner e
Is-Bosete. Em resultado disso, irrompeu-se a guerra civil. Após ter sido
História de Israel
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severamente repreendido por Is-Bosete, Abner voltou-se para Davi e lhe ofereceu o
apoio de todo o povo de Israel. De conformidade com o pedido de Davi, Mical, filha
de Saul, lhe foi devolvida como esposa. Isso foi realizado sobre supervisão de
Abner, com o consentimento de Isbonete. Dessa maneira foi publicamente expresso
a Israel que Davi não cultivava animosidade contra a dinastia de Saul. O próprio
Abner se dirigiu a Hebrom, onde prometeu a Davi a lealdade de todo o povo. Depois
que essa aliança fora firmada, Abner foi morto por Joabe, querendo ele vingar-se de
seu irmão, Asael, a quem Abner matara durante a guerra civil. A morte de Abner
deixou Israel sem liderança forte. Não demorou muito tempo para que Is-Bosete
fosse assassinado por dois homens da tribo de Benjamim. Quando os assassinos
apareceram diante de Davi, foram imediatamente executados. Ele desaprovou o
fato de terem morto uma pessoa justa. Sem malícia e sem vinganças Davi obteve o
reconhecimento de todo o Israel, ao passo que a dinastia foi eliminada da liderança
política.
Não há indicação de que os filisteus tivessem interferido com a ascensão de
Davi como rei de Hebrom. É possível que eles simplesmente tivessem-no
considerado um vassalo enquanto o resto de Israel, dividido pela guerra civil, não
oferecesse resistência unificada.
Ficaram alarmados, porém, quando Davi foi aceito pela nação toda. Um
ataque desfechado pelos filisteus (veja 2Sm 5.17-25 e 1Cr 14.8-17) mui
provavelmente teve lugar antes da conquista e ocupação de Sião. Por duas vezes
Davi os derrotou, assim impedindo a interferência deles na unificação de Israel sob
o novo monarca. Não se duvida que a própria ameaça filistéia foi um fator unificador
de Israel.
Ao procurar uma localização central para servir de capital da nação unificada
de Israel, Davi voltou sua atenção para Jerusalém. Estava ela em local estratégico,
sendo menos vulnerável a ataques. Sendo uma fortaleza cananéia, ocupada pelos
Jebus eus, resistia com êxito à conquista e à ocupação israelita. No Egito, registros
tão remotos quanto os de 1900 a.C. alude a essa cidade com o nome de Jerusalém.
Quando Davi desafiou seus homens para que conquistassem a cidade e
expulsassem aos Jebuseus, Joabe aceitou o desafio e recebeu como recompensa a
História de Israel
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nomeação de chefe do quadro de pessoal militar de Israel. Com a ocupação dessa
fortaleza por Davi, ela veio a tornar-se conhecida como “cidade de Davi” (1Cr 11.7).
Quando Davi assumiu o reino sobre as doze tribos, selecionou Jerusalém
para ser sua capital política. Durante os dias em que foi tido como fora da lei, era
seguido por centenas de homens. Esses foram bem organizados sob suas ordens,
em Ziclaque, e, posteriormente, em Hebrom (veja 1Cr 11.20-12.22). Esses homens
se tinham destacado de tal modo em feitos militares que foram nomeados príncipes
e líderes. Quando todo o Israel se unificou em apoio a Davi, a organização foi
ampliada a fim de incluir a nação toda, tendo Jerusalém como centro (veja 1Cr
12.23-40). Firmando um contrato com os fenícios, um magnificente palácio foi
erigido para Davi, o rei (veja 2Sm 5.11,12).
Ao mesmo tempo, Jerusalém tornou-se o centro religioso da nação inteira
(veja 1Cr 13.1-17.27 e 2Sm 6.1-7.29). Quando Davi tentou mudar a arca da aliança
da casa de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, por meio de um carro, ao invés de fazê-
la transportar pelos sacerdotes (veja Nm 4), Uzá subitamente caiu morto. Ao invés
de levar a arca para Jerusalém, Davi guardou-a na casa de Obede-Edom, em
Gibeá. Quando sentiu que o Senhor estava abençoando aquele lar, imediatamente
Davi transferiu a arca para Jerusalém, para que fosse abrigada em uma tenda ou
tabernáculo. Uma adoração apropriada foi dessa forma restaurada a Israel, em
escala nacional.
Renovando seus interesses pela religião de Israel, Davi desejou construir
uma casa de adoração que fosse mais permanente. Quando expôs seu plano a
Natã, o profeta, obteve a imediata aprovação deste. Na noite seguinte, entretanto,
Deus comissionou Natã para que informasse ao rei de que a edificação do templo
seria adiada até que o filho de Davi fosse estabelecido no trono. Isso serviu de
garantia divina, dada a Davi, de que seu filho o sucederia, e de que ele mesmo não
seria sujeitado a uma sorte calamitosa como aquela que sobreveio ao rei Saul. A
magnitude dessa promessa feita a Deus, todavia, se estendeu para muito além do
tempo e do escopo do reinado salomônico. A descendência de Davi incluía mais do
que Salomão, visto que a promessa divina claramente afirmava que o trono davídico
seria firmado para sempre. Mesmo que a iniquidade e o pecado prevalecessem
História de Israel
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entre os pósteros de Davi, Deus julgaria e puniria aos mesmos temporariamente,
mas não neutralizaria Sua promessa e nem retiraria indefinidamente a Sua
misericórdia.
Nenhum reino ou dinastia terrenos jamais tiveram duração eterna - tanto
quanto os céus e a terra. Nem mesmo o trono terreno de Davi - se não ligarmos sua
linhagem com Jesus, o qual é especificamente identificado como Filho de Davi, no
Novo Testamento. Essa certeza, dada a Davi por intermédio do profeta Natã,
constitui outro vínculo na série de promessas messiânicas, dadas nos tempos do
Antigo Testamento. Deus vinha desdobrando gradualmente sua promessa inicial de
que a vitória final seria realizada mediante o descendente da mulher (veja Gn 3.15).
Uma revelação mais plena sobre o Messias e Seu reino eterno foi dada pelos
profetas de séculos subseqüentes.
Na posição de rei do império israelita, Davi não deixou de reconhecer que
Deus era quem outorgava vitórias militares e prosperidade material a Israel. Em um
Salmos de ação de graças (veja 2Sm 22.1-51), Davi expressou seu louvor ao
Onipotente, pelo livramento de Israel das mãos inimigas, bem como das nações
pagãs. Esse Salmos também está registrado em Salmos s 18. Representa apenas
um exemplo dentre os muitos Salmos s que Davi compôs em diversas ocasiões
durante sua movimentada carreira como menino pastor, servo na corte real, fora da
lei em Israel e, finalmente, arquiteto e edificador do mais vasto império de Israel.
2.5. Pecado na família real
As imperfeições de caráter, de qualquer membro da família real, não são
minimizadas nas Escrituras hebraicas. Um rei de Israel que caiu em pecado não
poderia mesmo esperar escapar ao juízo de Deus. Ao mesmo tempo Davi, como
pecador verdadeiramente penitente, que reconheceu sua iniqüidade qualificou-se
assim como homem que agradava a Deus (veja 1Sm 13.14).
Davi tornara-se polígamo (veja 2Sm e 11.27). Embora isso seja
definitivamente proibido na revelação mais completa do Novo Testamento, foi
tolerado nos tempos vetero-testamentários por causa da dureza de coração do povo
História de Israel
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israelita. E também era livremente praticado pelas nações circunvizinhas. Um harém
na corte era algo perfeitamente natural. Embora advertido acerca da multiplicidade
de esposas na lei mosaica (veja Dt 17.17), Davi adquiriu muitas delas. Alguns
desses casamentos sem dúvida alguma tiveram implicações políticas, tal como seu
matrimônio com Mical, filha de Saul, e com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur.
Tal como sucedeu com outro, Davi teve de sofrer as conseqüências, como os
crimes de incesto, homicídio e rebeldia, que passaram a suceder na sua vida
doméstica.
2.5.1. Pecado de Davi com Bate-Seba
Esse “caso” no auge do reinado de Davi tornou-se um divisor de águas em
sua vida. É o ponto que faz a divisão entre os seus triunfos e as suas dificuldades.
O pecado em si aconteceu quase acidentalmente. O fato de olhar por acaso para a
esposa do vizinho conduziu-o à cobiça e o arrastou ao adultério. Isso levou-o à
falsidade e ao disfarce, ao roubo da esposa de um dos seus oficiais, e ao
assassínio, Nm a conspiração contra um dos homens mais nobres do seu exército.
Esse assassínio foi disfarçado elegantemente como uma triste conseqüência da
guerra. Contudo, a poderosa parábola do profeta Natã expôs o sórdido
acontecimento. Quatro foram as conseqüências desse pecado, duas condenatórias
e duas compassivas:
1) A primeira delas foi o julgamento que atingiu o coração de Davi e a perda do
filho recém-nascido;
2) A segunda foi o perdão do Senhor, quando Davi confessou o seu pecado (2Sm
12.13);
3) A terceira foi a colheita do julgamento que Davi ceifou em sua família. Um
escândalo sexual o atingiu pesadamente quando o seu filho mais velho Amnom
seduziu sua filha (de Davi) Tamar. Davi colheu também o que semeara quando dois
dos seus filhos foram assassinados por outros dois dos seus filhos. Colheu as
conseqüências do roubo da esposa de um homem quando Absalão usurpou o
História de Israel
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reinado e envergonhou as suas concubinas em público. Apesar de ter recebido
perdão imediato após suas confissões, as conseqüências humanas dos seus crimes
renderam-lhe um alto preço a ser pago pelo resto da sua vida;
4) A quarta conseqüência foi a graça de Deus para com Davi depois do seu
profundo arrependimento, permitindo que Bate-Seba tivesse de Davi outro filho a
quem o trono seria dado. Os Salmos s 32 e 51 revelam a grandeza de Davi ao
confessar-se e humilhar-se, e a grandeza da sua reintegração ao serviço eficiente
para o Senhor.
2.6. Tragédia dos Filhos de Davi
Ele teve doze esposas (estão registrados os nomes de oito) e pelo menos
dez concubinas, vinte e um filhos e uma filha (2Sm 3.2-5, 5.13-16; 1Cr 3.1-9; 14.3-7;
2Cr 11.18). Três dos seus filhos mais velhos sofreram o golpe de morte violenta
(Amnom, Absalão e Adonias), quando cada um era herdeiro em potencial do trono.
O Senhor atribuiu parte da culpa por essas mortes violentas a Davi, pela maneira
compassiva com que conduzia seus filhos (1 Reis 1.6). Essas tragédias na família
piedosa de Davi são difíceis de explicar, mas lembram-nos de uma anomalia
estranha nas famílias de quatro homens preeminentes de 1 e 2 Samuel. Está
registrado que os três homens preeminentes de Deus (Eli, Samuel e Davi) deixaram
de disciplinar os seus filhos e por esse motivo perderam o governo (Davi
temporariamente). Todavia, o rei Saul, que não era piedoso, teve um filho que
dentre os homens foi o mais nobre: Jônatas. Essa estranha anomalia também será
vista muitas vezes na família de reis posteriores.
2.7. A Era Áurea de Salomão
O reinado de Salomão se caracterizou por paz e prosperidade. Davi
estabelecera o reino - agora Salomão haveria de colher os benefícios dos labores
de seu pai.
A narrativa sobre essa era é brevemente contada em 1Rs 1.1-11.43 e 2Cr
1.1-9.31. O ponto focal de ambos os livros é a construção e dedicação do templo, o
História de Israel
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que recebe muito maior consideração do que qualquer outro aspecto do reinado de
Salomão. Outros projetos de construção, negócios e comércios, progresso industrial
e sábia administração do reino, são mencionados apenas de passagem. Muitas
dessas atividades, escassamente mencionadas no registro bíblico, tem sido
iluminadas mediante as escavações arqueológicas que tem havido nas três últimas
décadas. Excetuando a edificação do templo, que é atribuída à primeira década de
seu reinado, e a construção de seu palácio, o qual foi completado treze anos mais
tarde, quanto ao resto há pouca informação que possa ser utilizada para servir de
base de uma análise cronológica do reinado de Salomão.
2.8. Estabelecimento do Trono
A ascensão de Salomão ao trono de seu pai não ocorreu sem oposição.
Enquanto Salomão não fora publicamente coroado, Adonias fomentou a ambição de
ser o sucessor de Davi. Em certo sentido ele estava justificado disso. Amnom e
Absalão haviam sido mortos. Quileabe, o terceiro filho mais velho de Davi,
aparentemente falecera, pois não é mencionado; e Adonias era o próximo na linha
de sucessão. Por outro lado, a fraqueza inerente de Davi quanto aos problemas
domésticos se evidenciou na falta de disciplina entre seus familiares (veja 1Rs 1.6).
É claro que Adonias não fora ensinado a respeitar o fato divinamente revelado
de que Salomão seria o herdeiro do trono de Davi (veja 2Sm 7.12 e 1Rs 1.17).
Seguindo o exemplo de Absalão, seu irmão, Adonias adquiriu uma escolta de
cinqüenta homens, dotada de cavalos e carros, conseguiu o apoio de Joabe,
convidou Abiatar, o sacerdote em Jerusalém, e providenciou para que ele mesmo
fosse ungido rei. Esse acontecimento teve lugar nos jardins reais de En-Rogel, ao
sul de Jerusalém. Conspicuamente ausentes nessa reunião de oficiais do governo e
da família real estavam Natã, o profeta, Benaia, o comandante do exército pessoal
de Davi, Zadoque, o sacerdote oficiante em Gibeá, e Salomão com sua mãe, Bate-
Seba.
Quando chegaram ao palácio as notícias dessa reunião festiva, Natã e Bate-
Seba imediatamente fizeram um apelo a Davi. Em resultado, Salomão montou a
mula do rei Davi, em Gibeom, escoltado por Benaia e pelo exército real. Ali, nas
História de Israel
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vertentes orientais do monte Ofel, Zadoque ungiu a Salomão, e assim ele foi
publicamente declarado rei e Israel. A população de Jerusalém se juntou na
aclamação pública: “Viva o rei Salomão!” Quando o ruído da coroação ressoou por
todo o vale de Cedrom, Adonias e seus adeptos ficaram profundamente
perturbados. Cessou de pronto a celebração, o povo se dispersou, e Adonias
buscou refúgio nos chifres do altar do tabernáculo, em Jerusalém. Somente depois
que Salomão garantiu-lhe a vida, sob a condição de boa conduta, é que Adonias
deixou esse abrigo.
Em solenidade subseqüente, Salomão foi oficialmente coroado e reconhecido
(veja 1Cr 28.1 ss). Com a presença de oficiais e estadistas vindo de todos os
rincões da nação, Davi incumbiu o povo de certa tarefa, esboçado a
responsabilidade deles para com Salomão, o rei escolhido por Deus.
Em incumbência imposta particularmente a Salomão (veja 1Rs 2.1-12), Davi
relembrou seu filho de sua responsabilidade de obedecer à lei de Moisés. Nas
palavras finais de sua vida, Davi impressionou Salomão com o fato de que fora
derramado sangue inocente por Joabe, por haver mortos a Abner e Amasa, e
também com o fato de que Simei desrespeitara a Davi, quando este fugiu de
Jerusalém, e também com o fato da hospitalidade que fora dada ao rei por Barzilai,
o gileadita, nos dias da rebelião de Absalão.
Após a morte de Davi, Salomão fortaleceu sua reivindicação ao trono, ao
eliminar todo possível conspirador. O pedido de Adonias de casar-se com Abisague,
a donzela sunamita, foi interpretado por Salomão como traição. Adonias foi
executado. Abiatar foi removido do lugar de honra que mantivera sob Davi e foi
banido para Anatote. Visto que ele pertencia à linguagem de Eli (veja 1Sm 14.3-4), a
deposição de Abiatar assinalou o cumprimento das solenes palavras que haviam
sido ditas a Eli, por um profeta cujo nome não é dado, que viera à Siló (veja 1Sm
2.27-36). Embora Joabe se tivesse tornado culpado de conduta traiçoeira, quando
deu seu apoio a Adonias, foi executado primariamente pelos crimes por ele
cometidos durante o reinado de Davi. Simei, que estava sob livramento condicional,
não observou as restrições que lhe tinham sido impostas, e, por igual modo, sofreu
a pena de morte.
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Salomão assumiu a liderança de Israel em seus verdes anos. Por certo ele
tinha menos de trinta anos, talvez cerca de vinte anos de idade. Sentindo a
necessidade que tinha de sabedoria divina, ele reuniu os israelitas em Gibeom,
onde estavam localizados o tabernáculo e o altar de cobre, e ofereceu ali grande
sacrifício. Por meio de um sonho ele recebeu a certeza, divinamente conferida, de
que lhe seria conferido seu pedido de sabedoria. Em adição a uma mente de grande
discernimento, Deus também o dotaria de riqueza, honrarias e vida longa, tudo sob
a condição de obediência (veja 1Rs 3.14).
A sagacidade de Salomão tornou-se motivo de profunda admiração. A
decisão dada pelo rei, quando duas mulheres contendiam por um único filho vivo
(veja 1Rs 3.16-28), sem dúvida alguma representa apenas um exemplo dentre os
casos que demonstraram a sua sabedoria. Quando essa e outras notícias passaram
a circular por toda a nação, os israelitas reconheceram que a oração do rei, pedindo
sabedoria, lhe fora respondida.
2.9. Organização do reino
Comparativamente pouca é a informação dada acerca da organização do
vasto império de Salomão. Aparentemente ela foi simples no começo, mas não se
dúvida que foi assumindo complexidade crescente com a passagem dos anos e
com o aumento da responsabilidade. O próprio rei constituía o tribunal supremo,
conforme é exemplificado no caso das duas mulheres contendoras. Em 1Rs 4.1-6
são mencionadas nomeações para os ofícios seguintes: três sacerdotes, dois
escribas ou secretários, um chanceler, um supervisor de funcionários, um sacerdote
da corte, um superintendente do palácio, um oficial encarregado do trabalho
forçado, e um comandante do exército. Isso representa apenas uma pequena
expansão além dos ofícios instituídos por Davi.
Para propósitos de cobrança de impostos, a nação foi dividida em doze
distritos (veja 1Rs 4.7-19). O oficial incumbido de cada distrito tinha de suprir
provisões para o governo central durante um mês de cada ano. Durante os demais
onze meses do ano ele teria de coletar e armazenar provisões nos armazéns
História de Israel
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existentes em seu distrito. O suprimento diário do rei e sua corte, com militares e
pessoal de construção consistia de 11 toneladas de farinha de trigo, de mais de 25
toneladas de carne, de dez reses cevadas, de 20 vacas engordadas no pasto, de
100 ovelhas, sem falar noutras caças e aves (veja 1Rs 4.22,23). Isso exigia intensa
organização em cada distrito.
Salomão mantinha Numerosa força armada (veja 1Rs 4.24-28). Em adição à
organização do exército, segundo fora estabelecido por Davi, Salomão também
empregava uma força de combate de 1400 carros de guerra e 12 mil cavaleiros, que
ele postou em Jerusalém e noutras cidades de toda a nação (veja 2Cr 1.14-17). Isso
acrescia à carga de impostos, exigindo um suprimento diário de cevada e feno.
Organização eficiente e administração sábia eram essenciais para a manutenção de
um estado de prosperidade e progresso.
2.10. A construção do templo
De máxima importância, no vasto e extenso programa de edificações de
Salomão, figurava o templo. Enquanto outros projetos de construção são
meramente mencionados, aproximadamente cinqüenta por cento da narrativa
bíblica sobre o reinado de Salomão são dedicados à construção e consagração
desse centro focal da religião de Israel. Isso assinalou o cumprimento do desejo
sincero de Davi, expresso na primeira metade de seu reinado em Jerusalém -
estabeleceu um lugar central de adoração.
2.10.1. Dedicação do Templo
Visto que o templo foi contemplado no oitavo mês do décimo primeiro ano
(veja 1Rs 6.37,38), é bastante provável que as cerimônias consagratórias tivessem
sido efetuadas no sétimo mês do décimo segundo ano, e não um mês antes de
haver sido terminado. Isso teria dado tempo para o elaborado planejamento para
esse grande evento histórico (veja 1Rs 8.1-9 e 2Cr 5.2-7.22). Para essa ocasião,
todo o Israel se fez presente, representado por anciões e líderes.
História de Israel
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Salomão foi a figura chave das cerimônias de consagração. Sua posição
como rei de Israel era singular. Sob o pacto, todos os israelitas eram servos de
Deus (veja Lv 25.41,44; Jr 30.10 e outros trechos bíblicos), sendo reputados reino
de sacerdotes para Deus (veja Êx 19.6). Durante todo o decurso dos cultos de
consagração Salomão tomou a posição de servo de Deus, representando a nação
escolhida por Deus para ser Seu povo. Esse relacionamento com Deus era comum
para os profetas, sacerdotes e leigos, incluindo o próprio monarca, sendo
verdadeiramente reconhecida a dignidade do homem. Nessa capacidade, Salomão
ofereceu orações, fez o sermão de consagração e oficiou nas oferendas sacrificiais.
Na história de Israel, a consagração de templos foi o mais significativo evento
desde que o povo deixou a região do Sinai. A súbita transformação que os tirou da
servidão no Egito para serem uma nação independente no deserto serviu de
importantíssima demonstração do poder de Deus em favor de Seu povo. Naquela
oportunidade o tabernáculo foi erigido para ajudá-los a reconhecer a Deus e a servi-
lo. Agora o templo fora construído por direção de Salomão.
Isso constituiu a confirmação do estabelecimento do trono davídico em Israel.
Assim como a presença de Deus se tornou visivelmente manifesta na coluna de
nuvens sobre o tabernáculo, assim também a glória de Deus pairou sobre o templo
e deu a entender a bênção e a graça de Deus. Isso confirmou divinamente o
estabelecimento do reino, conforme fora antecipado por Moisés (veja Dt 17.14-20).
2.11. A apostasia e suas conseqüências
O capítulo final do reinado de Salomão é trágico (veja 1Rs 11). Por qual
razão o rei de Israel, que chegou ao zênite do sucesso nos campos da sabedoria,
da riqueza, da fama e da aclamação internacional sob a bênção divina, teria
terminado seu reinado de quarenta anos sob augúrios de fracasso, é algo que
realmente nos deixa perplexos! Em conseqüência, alguns tem considerado o
registro bíblico a respeito como indigno de confiança e contraditório, buscando
outras explicações. A verdade da questão é que Salomão, que desempenhou o
liderante papel de consagrar o templo, afastou-se de uma total dedicação a Deus -
experiência essa paralela à do povo de Israel, no deserto, depois da construção do
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tabernáculo. Salomão desobedeceu justamente ao primeiro mandamento, com sua
norma inclusivista que permitiu a adoração aos ídolos em Jerusalém.
Os casamentos mistos entre as famílias reais era prática comum no Oriente
Próximo. No começo de seu reinado, Salomão firmou aliança com Faraó, aceitando
a filha deste em matrimônio. Embora ele a tivesse trazido para Jerusalém, não há
indicação de que ela recebera permissão para trazer consigo a sua idolatria (veja
1Rs 3.1). No auge de seu sucesso, Salomão obteve esposas entre os Moabitas,
Amonitas, Edomitas, Sidônios e Hititas. Além disso, adquiriu um harém de
setecentas esposas e princesas, além de trezentas concubinas. Não é declarado se
isso foi motivado por expedientes diplomáticos e políticos, para assegurar a paz e a
segurança, ou foi motivado pela tentativa de ultrapassar soberanos de outras
nações, cujo luxo era expresso por meio de grandes haréns. Não obstante, isso era
contra a ordem expressa de Deus (veja Dt 17.17). Salomão permitiu a multiplicação
de esposas para sua própria ruína, permitindo que seu coração se desviasse de
Deus.
Salomão não apenas tolerou a idolatria, mas ele mesmo prestou honrarias a
Astarote, a deusa fenícia da fertilidade, que era conhecida pelo nome de Astarte
entre os gregos e Istar entre os babilônios. Para veneração de Milcom ou Moloque,
o deus dos Amonitas, e de Camos, o deus dos Moabitas, Salomão erigiu um lugar
elevado em um monte a leste de Jerusalém. Esse lugar alto não foi removido
durante três séculos e meio, mas continuou sendo uma abominação nas
proximidades do templo de Jerusalém até aos dias de Josias (veja 2Rs 23.13).
Salomão também erigiu altares a outras divindades estrangeiras que não são
mencionadas por nome (veja 1Rs 11.8).
A idolatria, que era violação das palavras iniciais do decálogo (veja Êx 20),
não podia ser tolerada. A repressão divina (veja 1Rs 11.9-13) provavelmente foi
feita a Salomão por intermédio do profeta Aías, que figura mais adiante naquele
capítulo. A dinastia davídica continuaria governando sobre uma parte do reino, por
amor a Davi, com quem Deus estabelecera um pacto, e por causa de Jerusalém,
que Deus escolhera. Deus não quebrantaria Sua promessa de pacto, embora
Salomão houvesse perdido suas bênçãos e Seu favor, ficando temporariamente
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suspenso o juízo. Além disso, por amor a Davi, o reino não seria dividido durante os
dias de Salomão, embora viessem a levantar-se adversários que ameaçariam a paz
e a segurança, antes do término do seu reinado.
Conforme as coisas ocorreram, um dos próprios homens de Salomão,
Jeroboão, filho de Nebate, mostrou ser o verdadeiro fator de perturbação em Israel.
Sendo homem muito capaz, ele fora responsabilizado pela unidade de trabalho
forçado que reparava as muralhas de Jerusalém. Ele usou essa oportunidade para
sua própria vantagem política, tendo conseguido um bom número de adeptos. Um
dia, o profeta, encontrou-se com ele e despedaçou sua capa nova em doze
pedaços, entregando-os para ele.
Por intermédio desse ato simbólico, ele informou Jeroboão de que o reino de
Salomão seria dividido, deixando apenas duas tribos com a dinastia davídica, ao
passo que dez tribos constituiriam o seu reino. Sob a condição de obediência de
todo o coração, Jeroboão recebeu a certeza de que seu reino seria
permanentemente estabelecido, tanto quanto o de Davi.
Aparentemente Jeroboão não estava disposto a esperar acontecimentos; fica
subentendido que ele indicou abertamente a sua oposição ao rei. Seja como for,
Salomão suspeitou de uma insurreição e procurou tirar a vida de Jeroboão.
Conseqüentemente, Jeroboão fugiu para o Egito, onde achou asilo na corte de
Sisaque até que Salomão morreu.
Embora o reino tivesse continuado de pé, não sendo dividido senão após a
sua morte, Salomão foi sujeitado à angústia da rebelião em casa e a secessão em
várias porções de seu reinado. Em resultado de sua falha pessoal, não obedecendo
e servindo a Deus de todo coração, o bem estar geral e a prosperidade pacífica de
seu reino foram ameaçados.
2.12. A monarquia unida
A monarquia hebraica teve início com a ascensão de Saul, terminando com a
queda de Jerusalém. A data desse último acontecimento é definitivamente
História de Israel
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determinada por muitos testemunhos decorridos como sendo entre 588 e 586 a.C.,
o décimo nono ano de reinado de Nabucodonozor. Para estabelecer desse período
uma cronologia coerente, lembremos aqui que no hebraico se conta só uma parte
como um ano inteiro.
Saul, o primeiro governante, tinha pela frente um caminho difícil a percorrer.
E muitas surpresas o aguardavam. Depois de organizar o governo, criar planos de
administração e reorganizar a defesa dos territórios, teria de partir para expulsão do
inimigo das áreas invadidas e consolidar as posições de defesa. Esse objetivo o rei
alcançou em grande parte, com as vitórias sobre os Amonitas e sobre os Filisteus
(1Sm 11.8-11 e 14.6-23). Mas enquanto Saul batia-se contra o inimigo e obtinha
grandes vitórias, no plano interno havia descontentamento. Samuel já não se
entendia com Saul. O poder espiritual e a monarquia entravam em choque, em
conseqüência de erros cometidos pelo rei, que mereceram a reprovação por parte
de Samuel. Este retirou seu apoio ao rei e afastou-se para sua morada em Ramá
(1Sm 15.34). Saul terminou suicidando-se em conseqüência da derrota sofrida em
combate contra tropas inimigas.
Após sua morte Davi tornou-se rei de Judá e Israel. Ao assumir o trono, Davi
elaborou um plano de governo de largas realizações e a primeira preocupação foi
marchar sobre Jerusalém, de onde poderia melhor conceber e elaborar seus planos
com vista à formação de um Governo forte para construir uma pátria soberana e
livre. Preparou seu exército, marchou disposto a combater os Jebuseus e expulsá-
los de Jerusalém. Ocupou a cidade e instituiu Jerusalém como capital do reino de
Israel (2Sm 5.5-9).
Davi passou fases difíceis na sua vida, tanto particular como pública. Foi o
responsável pela morte de um seu oficial, de nome Urias, em campo de batalha,
com a finalidade de tomar por esposa a mulher do oficial morto, ação esta
condenada pelo profeta Natã, que fez previsões sombrias contra a casa real (2Sm
11). As previsões se confirmaram com a morte do filho Amnon, assassinado pelo
irmão, Absalão, e a rebelião deste contra Davi, seu Pai.
História de Israel
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A soma dos anos pesando sobre Davi e uma rebelde e incurável doença
retinha-lhe os passos, obrigando-o a se manter no leito de sofrimento. Para sua
sucessão tinha preferência por Salomão, mas manteve em segredo seu desejo até
que certo dia, o filho Adonias, sentindo o agravamento da saúde do pai, resolveu
proclamar-se como legítimo sucessor, pois era o primogênito da família.
Davi recebeu de Deus a promessa de que a sua descendência ocuparia o
trono de Israel para sempre. Nos seus últimos dias chamou Salomão, deu-lhe o
trono e fez suas últimas recomendações, chamando-o à atenção especialmente
para o cumprimento da lei de Moisés. Depois de dar os últimos conselhos ao jovem
rei, dormiu com seus pais, tendo reinado em Jerusalém 33 anos e 7 em Hebrom.
Tão pronto serenaram os ânimos palacianos, Salomão considerou o sonho
supremo de seu pai Davi, a construção do templo ao Senhor. O local não podia ser
melhor. O monte Moriá, Nm a sublime elevação, separado do monte Sião pelo vale
Tiropeon, uma ponte unindo os dois montes. A construção do templo é narrado em
1 Crônicas 22. A sua magnificência só pode ser comparada com o esplendor das
edificações antigas de que o Egito e Babilônica nos falam.
2.12.1. O reinado de Salomão marca o apogeu e declínio da
monarquia israelita
Segue-se um período de grande prosperidade no qual se destacam intensas
relações comerciais com a Fenícia, particularmente com Hiro, rei de tiro. Ao sul, no
Golfo de Ocaba, o porto de Eziam- Geber transformou-se no grande centro
comercial do Mar Vermelho. A política fiscal e tributária de Salomão fez o que
parecia mal aos olhos do Senhor, e não perseverou em seguir ao Senhor, como
Davi seu pai. Assim, o Senhor rasgou o reino de sua mão. Reinou Salomão em
Jerusalém 40 anos, e morreu. Após sua morte, a monarquia cinde-se em dois
reinos: o de Israel e o de Judá.
2.12.2. A monarquia dividida
História de Israel
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Os israelitas reunidos em Siquém para proclamarem Reoboão o novo rei,
apresentaram suas reivindicações. Mas Reoboão manteve-se insensível às
pretensões do povo. Em lugar de atender seus reclamos, respondeu com mão de
ferro. Eis sua resposta: “Se meu pai impôs-vos um jugo pesado, eu o tornarei ainda
mais pesado”. A resposta seca de Reoboão inflamou os ânimos do povo em injustas
pretensões e a contra-resposta veio de imediato. “Que parte temos nós com Davi?
Não há para nós herança no filho de Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Provê, agora à
tua casa, ó Davi. Então Israel se foi às suas tendas.” (1Rs 12.16).
Surpreendido com a reação, Reoboão retirou-se da cidade e regressou
apressadamente a Jerusalém. Sua intenção era empregar a força para obrigar o
povo a aceitar a sua decisão.
Jeroboão havia recebido de Deus a promessa de governar o reino de Israel,
mas logo que se deu a divisão do reino unificado das doze tribos, e foi proclamado
rei do novo Estado do Norte, afastou-se completamente do Templo de Jerusalém e
adotou a idolatria, instituindo a religião que lhe convinha. Assim o reino iniciado por
Jeroboão nunca ficou firme diante de Deus.
O reino do Norte teve, em sua existência, 19 reis (Jeroboão, Nadabe, Baasa,
Elá, Zirri, Onri, Acabe, Aczias, Jorão, Jeú, Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão II, Zacarias,
Salum, Menaém, Pecaías, Peca e Oséias). Foi um reino que se desenvolveu um
clima de instabilidade pelas divergências constantes entre os políticos, resultado,
como conseqüência, a descontinuidade no seio da monarquia, que se caracterizou
pelas mudanças sucessivas na linha sucessora com dinastias diferentes.
Nunca o país chegou a se consolidar Nm a estrutura de governo capaz de
oferecer segurança e paz aos governantes, de modo a conduzir os problemas
nacionais livres de injunções prejudiciais ao progresso da nação. E se não havia
estabilidade na política interna também não era possível uma conexão segura,
desembaraçada e firme para resolver os intrincados problemas da política externa.
Devido à falta de entendimento entre os políticos, as crises se repetiam minando o
organismo nacional, as bases de segurança da nação. O problema religioso, que
História de Israel
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deveria ser um dos suportes de sustentação do regime monárquico do povo de
Israel, descia a ponto zero.
A consciência do povo minada por falsas idéias religiosas, ao sabor de uma
minoria influenciada por tradições estranhas, acrescida ainda de muitos fatores
negativos, envolvendo problemas de ordem moral, enriquecimento ilícito em
detrimento dos direitos do povo, assistência social deficiente, tudo isso acumulado,
apressava o desmoronamento da nação.
As pressões externas atuavam sempre mais violentas, ameaçando a
soberania nacional. E sob constante ameaça de invasão pelos Assírios, para os
quais despendia pesados tributos, o governo procurou ajuda com os Egípcios.
Salmanazar V, porém, o rei da Assíria, não era monarca para se amedrontar com
alianças ocidentais. Marchou contra Samaria e cercou-a durante três anos, para cair
em 722 nas mãos de Sargão II. O que se passou, então, dentro dos muros da
cidade de Onri está além de qualquer descrição. Vencidos pela fome e pela peste,
com os exércitos assírios em redor, entregaram-se, e os que não morreram foram
levados em cativeiro para as regiões da Assíria e Babilônia. O ano 722 marca o fim
do reino do Norte, o começo do cativeiro israelita e também o auge do Império
Assírio, que a este tempo dominava todas as cidades assírias, bem como grande
parte do Império Hiteu, estendendo os seus domínios para o sul, ameaçando a
existência de Jerusalém, que ainda resistiu mais tarde nas mãos dos babilônicos.
A destruição do reino de Israel foi a grande lição que Deus deu ao mundo.
Enquanto o povo se mantém fiel, há prosperidade e paz; quando o povo se esquece
de Deus, tudo desaparece. Esta tem sido a lição que a maioria dos povos não tem
querido aprender.
2.14. O reino do Sul
A dinastia davídica continuou com a instituição do Reino de Judá em 588
a.C. Eis a dinastia de Davi: Davi, Salomão, Reoboão, Abião, Asa, Jeosafá, Jeorão,
Acazias, Atália, Joás, Amazias, Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amom,
Josias, Jeoacaz, Jeoiaquim, Joaquim (Jeconias) e Zedequias.
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Judá ficava enclausurada entre as suas altas montanhas, sem contato com a
vida grandiosa que ao longo se desenvolvia, especialmente nas costas
mediterrâneas e pelos confins da Síria e Assíria. Por isso, particularmente, é que a
sua sobrevivência ao Reino do Norte deve ser vista. O reino do Norte servia de
barreira contra o espírito avassalador dos Sírios, e depois, dos Assírios, situação
esta que gerou não pequenas crises em Judá e nos seus profetas. Jerusalém,
devido ao seu prestígio de centro de culto e da nacionalidade, dominava as outras
cidades e contribuiu para que as influências desintegradoras que minava outras
cidades do norte não atingissem o Sul.
Enquanto Jeroboão era puramente um grande político, pouco se dando a
religião, isto é apenas se servisse a fins políticos, Reoboão era religioso e a isso se
deve uma parte do seu esforço. Ante a ameaça constante que afetava diretamente
a segurança dos dois reinos de Israel e Judá, seus governantes recorriam ora a um
ora a outro, firmando aliança para garantir a defesa dos seus territórios, e por esse
meio, havia uma penetração das idéias pagãs, que não só se propagavam no meio
do povo, mas até mesmo entre sacerdotes e governantes.
Nos dias de Acaz, houve uma aliança entre Israel e a Síria e estes atacaram
Judá, fazendo com que Acaz pedisse socorro ao rei da Síria e foi atendido, tendo o
Rei Tiglate-Pileser atacado e ocupado a cidade de Damasco. Rezim, rei da Síria, foi
morto e toda população deportada para Quir, Judá, entretanto, teve de suportar
pesados ônus em conseqüência da ajuda recebida, ficando subordinado ao
pagamento de tributo ao rei da Assíria.
Nos dias de Ezequias, filho de Acaz, Senaqueribe ocupou o trono da Assíria.
Judá estava na mira do novo soberano que mobilizou seu exército e o enviou contra
as forças defesa do rei Ezequias. O país foi invadido e ocupadas todas as cidades
fortificadas. Objetivando conter o ímpeto do invasor, Ezequias enviou emissários
relatando sua disposição de submeter-se aos tributos que fossem impostos. Mas a
submissão tributária não satisfez o invasor. A pressão continuou com o envio de
tropas até as proximidades de Jerusalém, exigindo a rendição do país e
blasfemando do Deus de Israel. Jerusalém ficou isolada com as comunicações
História de Israel
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cortadas com o exterior, parecendo que estava por pouco tempo a queda da cidade.
Ezequias, envia seus servos a Isaías profeta de Deus, através desse envia resposta
consoladora ao rei Ezequias, que orando a Deus foi atendido. Deus enviou o seu
anjo e Nm a só noite foi destruído o exército assírio composto de 185.000 soldados.
Em Nínive pouco tempo depois, Senaqueribe, foi assassinado.
O pesadelo passou, caiu o cerco e Jerusalém voltou à normalidade.
Com Manassés e Amom o reino de Judá experimentou um período de
declínio espiritual, o qual terminou com a ascensão de Josias ao trono, o qual
implantou uma reforma, religiosa fazendo o que era reto diante dos olhos do
Senhor.
Como parte de seu plano de governo, Josias ampliou as fronteiras do país
ocupando parte do território do antigo reino de Israel. O reino de Judá passava por
uma fase de tranqüilidade. Essa foi interrompida pela movimentação de tropas do
Egito forçando passagem na direção de Carquêmis, marchando contra o império
assírio. Opondo-se à passagem dessas tropas pelo território de Judá, Josias
mobilizou seu exército e marchou em defesa da soberania nacional. Travou
combate com tropas de Faraó Neco e encontrou a morte no campo de batalha, na
planície de Megido.
Morre Josias e o povo de Israel sofre tremendo golpe. A grande reforma
empreendida por ele sofreu um impasse, porque viu-se estancada por uma série de
mudanças incompatíveis com o objetivo da reforma. Jeoacaz, filho de Josias,
assume o governo sob a tutela do Egito. Porém Faraó Neco o mandou prender em
Riba, em terra de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém, e estabeleceu a
Jeoiaquim, também filho de Josias. Dominado o Egito pela Babilônia, passa Judá ao
seu domínio.
Jeoiaquim tentou resistir, mas morre em combate e Joaquim, seu filho, reinou em
seu lugar. Poucos meses depois é preso e exilado para a Babilônia, juntamente com
sua mãe, suas mulheres, seus eunucos, os poderosos da terra, os valentes até sete
mil, os carpinteiros e ferreiros até mil, e todos os varões destros na guerra.
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E o rei de Babilônia estabeleceu a Zedequias em lugar de Joaquim, e este
reinou 11 anos em Jerusalém, sendo o último rei do período dos reis de Israel.
No ano nono de seu reinado, no mês décimo, aos dez do mês,
Nabucodonozor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército, e
se acampou contra ela, e levantaram contra ela tranqueiras em redor. E a cidade foi
sitiada até ao undécimo ano do rei Zedequias, aos nove do quarto mês, quando a
cidade se via apertada da fome, nem havia pão para o povo da terra. Os
sofrimentos do povo foram indescritíveis. As lamentações de Jeremias nos dão uma
idéia do que ocorreu dentro dos muros da Cidade Santa durante o cerco. Quando os
muros foram arrombados e os soldados caldeus invadiram a cidade, os famintos
foram passados espada, as mulheres foram presas, os nobres alguns foram mortos
outros amarrados e levados para a Babilônia. Alguns conseguiram fugir para os
montes, mas foram caçados como animais selvagens e, depois de torturados, uns
foram mortos, outros conduzidos amarrados para as planícies da Mesopotâmia. Os
cadáveres amontoavam-se pelas ruas; e os nobres eram amarrados, mão a mão, e
conduzidos ao suplício.
Nunca na história do mundo, o pecado produziu tão amargos resultados.
Além da destruição da Cidade Santa, da ruína das famílias e da juventude,
justamente os mais afetados, a vergonha e a humilhação sem igual puseram esta
infeliz gente ao ridículo, diante dos seus antigos inimigos Edomitas, Amonitas e
todos os povos seus vizinhos. O Templo foi queimado e a cidade arrasada,
carregando-se todas as riquezas para os tesouros da Babilônia.
Para que a terra não se despovoasse, Nabucodonozor deu ordem para que
um chefe nacional lá ficasse para tomar conta dos cativos. Esta escolha caiu em
Gedalias. Jeremias, o profeta, foi tratado com brandura, devido ao papel conciliador
que tinha tomado nas disputas entre o Egito e a Babilônia sobre Judá, e teve à
escolha ir para a Babilônia ou ficar na terra, escolhendo a segunda opção.
Juntamente com Gedalias, procurou aproveitar qualquer vantagem que ainda
pudesse restar, reunindo e encorajando o povo. O terror que havia caído sobre o
povo era aliviado por algumas vagas esperanças de salvação vindas do Egito e por
História de Israel
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isso prepararam uma traição, sendo Gedalias morto, após o que os revoltosos
carregaram Jeremias e fugiram para o Egito.
2.15. O papel dos profetas
Já mencionamos os profetas Isaías e Jeremias mas outros merecem entrar
no rol. Jeremias foi, sem dúvida o que teve a sorte de profetizar contra o seu povo e
contra a nação, visto como tanto os reis como o povo eram rebeldes a Deus. Diante
da situação internacional daqueles dias, só um poder podia livrar - o de Jeová. Os
líderes, porém, entendiam que mais valia um forte rei, que um grande Deus, e por
essa causa selaram a sorte da nação e da religião para aqueles dias. Habacuque
profetizou nos últimos dias de Jerusalém. Pouco se sabe sobre suas atividades,
senão que seria companheiro de Jeremias, e com ele compartilharia das amarguras
que a próxima queda da Cidade Santa iria sofrer. Obadias teria trabalhado também
nos últimos dias de Jerusalém, e sua profecia breve dirige-se aos Edomitas, para
mostrar que se o povo eleito ia sofrer por seus pecados, eles não seriam poupados,
mesmo que morassem nas cabeças das rochas. Naum, bem como Miquéias,
contemporâneos de Isaías tiveram o seu papel de conselheiros dos reis e do povo.
Não foi por falta de conselho e ajuda que a nação foi destruída. Deus não
descansava, mandando os seus profetas admoestar uns e outros; a rebeldia,
porém, podia mais que os conselhos sábios. A luta travada durante os longos anos
da existência dos reinos foi uma luta de religião contra paganismo, de Deus contra
idolatria. Nenhum já teve alguma vez tanta ajuda, e nenhum jamais teve um Deus
zeloso como o teve o povo de Israel.
2.16. O cativeiro
O cativeiro foi uma calamidade nacional e religiosa. A julgar pelo sentimento
dos povos daqueles dias, um povo assim arruinado dava prova de que o seu Deus
tinha sido impotente para o preservar. Jeová, pois teria sido julgado pelos
observadores, e mesmo historiadores, como um Deus igual aos dos outros povos.
Do ponto de vista nacional, a calamidade não foi menor, porque arruinou toda a
estrutura maravilhosa, construída à custa de tantos esforços e duros labores. Os
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dias dos juízes de Israel, as experiências de vida de Saul e Davi, o apogeu de
Salomão, tudo foi reduzido a nada. As maravilhosas promessas feitas, de que
nenhum povo seria tão glorioso quanto este, de pouco valeram. Entretanto, nem
tudo foi perdido. Os Judeus perderam a sua cidade, a sua terra e a sua importância
como nação, mas ganharam o que não tinham podido obter nos dias pacíficos. Os
seus profetas foram cuidadosamente estudados, os conselhos do pastor do
cativeiro, Ezequias foram ouvidos, a religião entrou Nm estágio espiritual, com a
fundação de escolas, sinagogas e tantos outros meios de que se valeram os
desterrados, nos dias de suas tristezas junto ao rio Quebar. Quando pois voltaram
para sua terra, vinham curados para sempre da idolatria e da apostasia. Os judeus
destes últimos vinte e cinco séculos podem ser acusados de muitas falhas, mas, de
idolatria e apostasia, não. Hoje, ainda espalhados pelo mundo por causa do pecado
da rejeição do Messias aguardam fielmente o cumprimento das promessas de Deus.
Passados 70 anos de cativeiro, veio a queda do império Babilônico sob os
medos e os persas. E no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse
a palavra do Senhor pela boca do profeta Jeremias, despertou o Senhor o espírito
de Ciro, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito,
dizendo: “O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra, e me
encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há
entre vós, de todo o seu povo, o Senhor seu Deus seja com ele, e suba” (2 Crônicas
36.22,23).
Estava concedida a liberdade aos judeus e terminado o cativeiro.
2.17. O período interbíblico
2.17.1 Definição
A. Trata de eventos que ocorreram entre o fim do AT., e o início do NT.
B. As datas são de 424 a.C., até 5 a.C.
Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", a
fim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame
também possibilitará melhor compreensão dos fatores que construíram o cenário
História de Israel
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político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo
Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no
período Interbíblico. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época
em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se
manifestou ou, pelo menos, nenhum deixou escrito que tenham sido considerados
canônicos.
2.17.2 Porque estudar este período?
A. Históricas razões - explicam o fundo histórico do NT.;
B. Culturais - explica a origem e desenvolvimento dos costumes, instituições
e vida espiritual do povo judaico do período do NT.
C. Messiânico - demonstra como Deus preparou o mundo para o advento.
2.17.3 As divisões do período interbíblico
Entre as datas marcadas para nosso estudo, muitos eventos se passaram
que não teremos a oportunidade de reconhecer. Nós daremos atenção especial ao
fim do AT., os tempos de Alexandre, as guerras dos macabeus e Herodes.
1. Período Persa 536-331;
2. Período Grego 331-167;
a. Período Grego Próprio 331-323;
b. Período Egípcio 323-198;
c. Período Sírio 198-167;
3. Período Macabeu 167-63;
4. Período Romano 63-5.
2.18 O fim do período do AT e o início do período Persa
Depois de um longo período de apostasia, o Reino do Norte foi conquistado e
levado para o cativeiro pelos assírios em 721AC, lá desapareceu misturando-se.
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Igual tratamento recebeu o Reino do Sul nas mãos dos babilônios sob
Nabucodonosor em 586 AC.
Já em 597 AC. Nabucodonosor tinha colocado fim ao Estado judaico onde o
rei Joaquim e os principais tinham sido levados cativos 2Rs. 24:10-17.
Nabucodonosor nomeou Matanias, em lugar de Joaquim, seu tio, e lhe mudou o
nome para Zedequias. Judéia ficou como um reino tributário.
Em 590 Zedequias tenta aliar-se ao Egito, mas Nabucodonosor novamente
sitia a cidade até ser tomada totalmente e ser destruída, e o seu templo profanado
(Jr:39:4-10).
2.18.1 As restaurações
A queda da Babilônia deu-se aproximadamente em 538 AC. Ciro rei da
Pérsia tomou-a por meio do estratagema de afastar as águas do Eufrates que
passavam pela cidade.
Ciro publicou um decreto (536AC) que autorizava os judeus voltarem a sua
pátria com os despojos do seu templo e a sua reconstrução seria financiada pelo
tesouro real (Ed:6:1-5). Nesta primeira leva nem todos voltaram, alguns preferiram
ficar com os seus negócios. Cerca de 50.000 exilados voltaram, principalmente das
tribos de Judá, Benjamim e Leví sob a direção de Zorobabel. Começaram com a
reconstrução do templo e o povo que tinha ficado na terra fez oposição para retardar
a reconstrução (Ed:1:3,5-11 e 4:1-5). Nada mais se fez durante quase 20 anos
embora que tiveram prosperidade (Ag:1-4).
Sob a pregação de Ageu e Zacarias (Ed:5:1-2) a obra foi recomeçada,
havendo oposição, mas os judeus apelaram para Dario Ed:6:1-15 ficando pronto em
516 AC.
Há um período de quase 60 anos onde a história se conserva em silêncio a
respeito do estado dos judeus na Palestina. Em 495 AC (Ed:7:7) uma nova
migração deixou a Babilônia sob a direção de Esdras, esta segunda leva foi
absorvida pelo povo e nada aportou.
Em 446 AC (Ne:2:1) Neemias dirige-se ao rei ao ser informado da situação
das muralhas de Jerusalém (parece ter sido uma recente devastação e não algo
que ocorreu a um século meio antes).
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1. A participação de Neemias:
a) Em menos de dois meses foram feitas as reparações e as muralhas da
cidade levantadas (Ne:6:15-16);
b) Promoveu também reformas econômicas e sociais (Ne:5:1-12);
c) Foi renovado o conhecimento da lei sob a direção do escriba Esdras, que
leu e interpretou as Escrituras (Ne:8:2,7,8; 8:9,13-18);
d) Fazia aplicação rigorosa dos princípios da Lei. O culto do templo foi
renovado e as contribuições para o sustento foram exigidas. Os
casamentos mistos proibidos (Ne:10:30), a quebra do sábado condenada
(10:31) e foi estabelecida a administração regular dos dízimos (Ne:12:44);
e) Estas reformas deixaram efeitos perduráveis até o tempo dos Macabeus,
criando um povo fiel a Deus que resistiu ao paganismo;
f) Dois aspectos da vida judaica desapareceram durante o período persa e
grego: a monarquia e a função profética. As pretensões de independência
foram centralizadas no sacerdócio e a função profética findou com
Malaquias.
1. Cerca de 50.000 exilados no ano 536, foram permitidos por Ciro a voltar
para a Palestina com Zorobabel - Esdras 1.6.
2. Os eventos do livro de Ester passaram na Pérsia em c. 183 a.C.
3. Esdras, um escriba, chegou em Jerusalém c. 457, promoveu várias
reformas civis e religiosas. - Esdras 7.10.
4. Neemias e seus companheiros chegaram na Palestina c. 445 - Nee 1.2.
5. Malaquias dirigiu seu ministério num período de decadência espiritual c.
432-424. Ele marcou o fim do AT.
2.18.2 Características do período Persa
No final de Malaquias os judeus se achavam ainda sob o reinado persa e
permanecerem nessa situação durante praticamente sessenta anos da era
intertestamentária.
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A forma sacerdotal do governo judeu foi respeitada e sumo sacerdote
recebeu ainda maior poder civil além de seus ofícios religiosos, embora tivesse de,
naturalmente, prestar contas ao governador persa da Síria.
Em 2Reis 17:24-4, lemos que bem antes, em 721 AC, depois destruir o reino
das dez tribos de Israel e dispersar os israelitas através das cidades dos medos, o
rei da Assíria repovoou as cidades de Israel com um povo misto que veio a ser
chamado de “samaritanos”, seu território sendo conhecido como Samária, o nome
da cidade principal, ex-capital de Israel.
1. Decadência espiritual vista em Ageu e Malaquias;
2. Desenvolvimento do poder do sumo sacerdote;
a. Após Neemias, a Judéia foi incluída na província da Síria. Assim o
sumo sacerdote tornou-se governador da Judéia e autoridade da Síria.
3. Os inícios do escribismo com um interesse exagerado na letra da lei.
2.19 O período Grego
2.19.1 Os tempos e significância de Alexandre, o grande
A. A origem de Alexandre
1. Felipe de Macedom uniu os estados gregos para expulsar os persas da
Ásia Menor. Morreu assassinado durante uma festa - 337 a.C.
2. Alexandre seu filho, de grande capacidade de liderança, educado sob o
famoso Aristóteles, era devotado à cultura grega. Tirou sua inspiração de Ilíade de
Homero.
B. As conquistas de Alexandre.
1. Após o domínio da Grécia, penetrou a Pérsia, império 50 vezes maior, com
população 20 vezes a da Grécia.
2. Em 334 penetrou na Ásia Menor vencendo o exército persa no Rio
Grânico, perto de Trôade.
3. Em pouco tempo com apenas a idade de 22 anos, conquistou a Sardo
Mileto, Éfeso e Halicarnaso, estabelecendo em cada cidade a democracia grega.
4. Em 333 a.C., foi ao encontro de Dario na batalha de Isso, a qual ganhou.
História de Israel
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5. Dai foi sem grande resistência até o Egito que também dominou.
6. Em 332 cercou a Tiro, que tomou antes de descer ao Egito.
7. Venceu Dario decisivamente na batalha de Arbela em 331, dando fim ao
grande império persa.
8. Continuou suas conquistas até ao rio Indo.
9. Morreu com apenas 33 anos com suas forças dissipadas pelo álcool e
malária. No ano 323 morreu com a bebida (vinho).
C. A influência de Alexandre.
1. Sua influência foi muito grande por causa de sua extensão e permanência.
2. Estabeleceu centro de comércio e cultura em toda a extensão do seu
império.
3. Com a penetração da cultura grega, a superstição oriental cedeu à
liberdade do pensamento grego na filosofia, arquitetura, deuses, religião e atletismo.
Surgiram bibliotecas e Universidade em Alexandria e Tarso como em outros
lugares. Preparou-se assim o campo para religião universal.
4. De grande importância foi a disseminação da língua grega, criando a
possibilidade da pregação do evangelho numa língua universal e a criação duma
bíblia legível em toda a extensão da bacia do Mediterrâneo.
2.20 A palestina sob o domínio dos Ptolomeus (período egípcio)
No começo dominaram a Palestina durante 122 anos (320-198). Os judeus
gozaram de uma boa condição de vida. O sumo sacerdote era o governador e
aplicava as leis. O templo era o centro da vida nacional, a festa da Páscoa, das
Semanas e dos Tabernáculos eram realizadas no próprio templo. Mantinha-se o
estudo da lei e durante este período a interpretação da mesma se desenvolveu com
pormenores.
Foi sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo que se realizou a versão do Antigo
Testamento para o grego. Esta ficou conhecida como Setuaginta (LXX). A obra foi
realizada no Egito (Alexandria), onde setenta e dois eruditos fizeram esta tradução.
Apesar das vantagens do povo judeu, este era um povo relativamente pobre,
pagava um imposto baixo, pois as guerras constantes tinham empobrecido a terra.
História de Israel
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2.21 Antíoco1 e a revolta Macabéia
A. Eventos relacionados com Alexandre e com Antíoco.
1. Após a morte de Alexandre, começou a luta para o controle do império.
2. Em 301 a.C., na batalha de Ipso a divisão efetuou-se em quatro partes.
3. Egito e Palestina ficaram com Ptolomeu Soter (Lagos), e a Síria do Norte
e Ásia Menor com Seleuco.
4. Os Ptolomeus dominaram a Palestina até 198 quando os sírios com
Seleuco anexaram a Terra Santa ao seu domínio.
5. Antíoco, o grande (III), que conquistou a Palestina morreu; foi seguido
pelo seu filho Seleuco Filopater (187-175), que foi envenenado abrindo
caminho para a sucessão de seu irmão Antíoco Epifânio (IV).
B. Os atos e Antíoco Epifânio IV 175-164 a.C.
1. Epifânio (nome que deu a si mesmo), significa “deus manifesto”.
2. O sumo sacerdote, Onias III, liderou os nacionalistas; Jasom, seu irmão
dirigiu os helenistas.
a. Joson ofereceu grande soma de dinheiro a Antíoco por ser apontado
sumo sacerdote no lugar de seu irmão. Prometeu também helenizar a
Jerusalém.
b. Quando assim foi apontado, tornou o povo cidadão da capital da Síria,
Antioquia, erigiu um ginásio grego logo em baixo do templo; os jovens judeus
começaram a tomar parte nos jogos gregos. Jason criou um altar, até
mandou ofertas às festas de Hércules em Tiro.
3. Os nacionalistas são os antecedentes dos Fariseus; helenistas dos
Saduceus.
1 No grego, opositor. Foi nome de treze reis da disnatia selêucida, de 280 d.C., em diante. Após a morte de
Alexandre, o Grande, em 323 a.C.
Os reis:
1. Antíoco I (Soter), 324-261 a.C.
2. Antíoco II (Theos), 286-246 a.C.
3. Antíoco III (o Grande), 242-187 a.C.
4. Antíoco IV (Epifânio), 170-169.
5. Antíoco V (Eupator), 173-162 a.C. etc.
História de Israel
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4. Antíoco fez várias expedições para o Egito. Numa delas ouve rumores de
sua morte que provocou grande regozijo entre os judeus. Ao ouvir isto,
Antíoco massacrou 40.000 judeus num só dia. Muitos judeus foram
escravizados e o templo roubado.
5. Numa campanha seguinte, os romanos forçaram sua desistência no Egito.
Na sua grande ira derramou-a sobre Jerusalém. Mandou erradicar a
religião judaica. Quem possuía cópia da lei ou tivesse circuncidado a
criança seria morto. Finalmente converteu o templo em templo de Zeus,
sacrificando um porco no altar no dia 25 ano 168.
6. Tudo isto consolidou a resistência dos judeus na revolta dos Macabeus.
2.21.1 a palestina sob o domínio dos Seleucidas (período sírio)
Houve constantes lutas até que a Palestina caiu sob o domínio da Síria, mas
o que mais importa para compreensão do Novo Testamento é a figura de Antíoco
Epifânio (176-164) e os seus atos. O seu nome significa “deus manifesto”.
Quando o rei anterior à Antíoco IV, chamado Antíoco III tinha derrotado os
egípcios (Ptolomeus), já os judeus estavam divididos em duas facões: A casa de
Onias (Pró-Egito) e a casa de Tobias (Pró-Siria). Quando subiu Antíoco IV, rei da
Siria, substituiu o sumo sacerdote judeu Onias III, pelo irmão deste Jasom,
helenizante, o qual planejava transformar Jerusalém em uma cidade grega.
Foi erigido um ginásio com pista de corrida. Ali se praticavam corridas
despidos, à moda grega, isto era um ultraje para os judeus piedosos. As
competições eram inauguradas com invocações feitas as divindades pagãs,
participando até sacerdotes judeus. A helenizarão incluía a frequência aos teatros
gregos, vestes ao estilo grego, a cirurgia que removia as marcas da circuncisão e a
mudança de nomes hebreus por gregos. Os que se opunham a esta paganização
eram os “hasidim” ou “os piedosos”, a grosso modo seriam os puritanos.
Jasom o sacerdote helenizante foi substituído por outro judeu helenizante
que parece não ter pertencido a uma família sacerdotal, este pagou um tributo mais
elevado (simonia), o nome desta era Melenau.
Antíoco tenta anexar o Egito ao seu domínio, mas termina falhando. Isto
chega aos ouvidos de Jasom de que Antíoco era morto. Jasom retornou a
História de Israel
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Jerusalém retirou Melenau do controle da cidade. Antíoco na sua volta interpretou
isto como uma revolta de Jasom e enviou seus soldados a reintegrarem Melenau e
saquearam a cidade e o templo de Jerusalém e passaram ao fio de espada os seus
habitantes.
Dois anos mais tarde (168 AC), Antíoco enviou seu general Apolonio com um
exército de 22 mil homens para coletar tributo, tornar ilegal o judaísmo e estabelecer
o paganismo à força e assim consolidar o seu império e refazer o seu tesouro. Os
soldados saquearam Jerusalém, incendiaram a cidade, os homens mortos e as
mulheres escravizadas.
Novas leis e Proibições: Ofensa capital é circuncidar-se; proibido observar o
sábado; celebrar festas judaicas, possuir copias do Antigo Testamento. Os
sacrifícios pagãos tornaram-se compulsórios. Foi erigido um altar consagrado a
Zeus, possivelmente no templo. Foram sacrificados animais imundos no altar e a
prostituição sagrada passou a ser praticada no templo de Jerusalém.
2.21.2 A revolta dos Macabeus (1a.Macabeus:2:23-28; 42ss)
Neste período houve em torno de oito guerras. Judas Macabeus morreu na
sétima luta sendo sucedido por Jônatas o quinto mais jovem filho de Matatias.
A revolta começou com Matatias, sacerdote de Modim (167). Após a sua
morte seu filho Judas (166-161) continuou a luta com seis mil homens. Quando
Antíoco mandou sessenta mil homens para subjugá-lo, Judas mandou os temerosos
para a casa. Com três mil homens derrotaram os sírios.
Em seguida Judas entrou em Jerusalém e reedificou o templo (25 de
dezembro de 166 AC). A festa da dedicação foi instituída no ano 164 (Cf.Jo:10:22).
O significado da opressão síria e a revolta dos macabeus: restaurou a nação
da decadência política e religiosa. Criou um espírito nacionalista, uniu a nação e
suscitou virilidade. Deu um novo impulso ao judaísmo, isto pode ser percebido na
purificação moral e espiritual do povo; na onda da literatura apocalíptica e numa
nova e intensa esperança messiânica.
Intensificou-se o desenvolvimento dos dois movimentos que se tornaram os
fariseus e os saduceus. Os primeiros surgiram do grupo purista e nacionalista e os
saduceus surgiram do grupo que se aliou com os helenistas.
História de Israel
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Houve um ímpeto maior da diáspora onde muitos judeus queriam ausentar-se
durante as perseguições de Antíoco.
A. A revolta começou com Matatias, sacerdote em Modim (167);
B. Após sua morte em 166, seu filho Judas (166-161), continuou a luta com
6.000 homens. Quando Antíoco mandou 60.000 homens para subjugá-lo,
Judas mandou os temerosos voltarem para casa. Com apenas 3.000
derrotaram os sírios.
C. Em seguida Judas entrou em Jerusalém e reedificou o templo, em 25 de
Dezembro de 166 a.C. a festa de Dedicação foi instituída no ano 164 (cf.
Jo 10.22).
D. Significância da opressão síria e revolta dos macabeus:
1. Restaurou a nação da decadência política e religiosa;
2. Criou um espírito nacionalista, uniu a nação e suscitou virilidade.
3. Deu novo impulso ao judaísmo
a. Percebe-se isto na purificação moral e espiritual;
b. Percebe-se isto numa onda de literatura apocalíptica;
c. Percebe-se isto numa nova e intensa esperança messiânica.
4. Intensificou o desenvolvimento dos dois movimentos que se tornaram
os Fariseus e os Saduceus.
a. Os Fariseus surgiram do grupo purista e nacionalista.
b. Os Saduceus surgiram do grupo que se aliou com os helenistas.
5. Deu maior ímpeto ao movimento da dispersão com muitos judeus
querendo se ausentar durante as terríveis perseguições de Antíoco.
2.22 O período romano
O General Pompeu subjuga a Palestina (63AC) e o período do Novo
Testamento fica sob o domínio do Império Romano.
Imperadores ligados às narrações do Novo Testamento:
• Augusto (27AC-14DC), sob quem ocorreram o nascimento de Cristo, o
recenseamento e os primórdios do culto ao Imperador.
• Tibério (14-37DC), ministério e morte de Jesus.
História de Israel
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• Calígula (37-41DC) exigiu que lhe prestassem culto e ordenou que sua
estátua fosse colocada no templo de Jerusalém, mas veio a falecer antes que
sua ordem fosse cumprida.
• Cláudio (41-54DC) expulsou de Roma os residentes judeus por distúrbios
civis, entre os quais estavam Aquila e Priscila.
• Nero (54-68DC) perseguiu os cristãos, embora provavelmente nas cercanias
de Roma, e sob quem Pedro e Paulo foram martirizados.
• Vespasiano (69-79DC), ainda general romano começou a esmagar uma
revolta dos judeus, tornou-se imperador e deixou o restante da tarefa ao seu
filho Tito, numa campanha que atingiu o seu clímax com a destruição de
Jerusalém e seu templo, em 70DC.
• Domiciano (81-96DC), cuja perseguição contra a Igreja provavelmente serviu
de pano-de-fundo para a escrita o Apocalipse, como encorajamento para os
cristãos oprimidos.
2.22.1 Herodes o grande
Os romanos permitiam a existência de governantes nativos vassalos de
Roma, na Palestina. Um deles foi Herodes o Grande, que governou o país sob os
romanos de 37-4AC. O senado aprovou o oficio real de Herodes, mas ele foi forçado
a obter o controle da Palestina mediante o poder das armas.
1. A Dinastia de Herodes
a) Arquelau tornou-se etnarca da Judéia, Samária e Idumeia;
b) Herodes Filipe, tetrarca da Itúreia, Traconites, Gaulanites, Auranites e
Bataneia;
c) Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia e Pereia;
d) Herodes Agripa I, neto de Herodes o Grande, executou Tiago e também
encarcerou Pedro;
e) Herodes Agripa II, bisneto de Herodes o Grande, ouviu Paulo em sua
autodefesa.
História de Israel
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Antecedentes na vida de Herodes: mostrou grande zelo no seu governo,
erradicando os bandidos que tinham infiltrado a Galiléia. Os primeiros 12 anos (37-
25AC) foram gastos na luta pelo poder. Os segundo doze anos (25-13AC) foram os
seus melhores anos. Os últimos nove anos (13-4AC) se caracterizaram pela
crueldade e amargura.
Os sucessos de Herodes: usou de muito mais tato na sua tentativa de
helenizar os judeus, que Antíoco Epifanio. Com espetáculos, jogos, etc. ganhou a
lealdade dos jovens que se tornaram herodianos. Aumentou a fortaleza de
Jerusalém denominada “Antonia” (At:21:34). Edificou a Cesaréia (At:10:1); 23:23-
24). Reconstruiu o templo de Zorobabel, cuidando de não ofender os judeus.
Começou em 20AC. completando o santuário em 18 meses e o templo todo só em
64 DC (Cf.Jo:2:20).
2.22.2 O surgimento das sinagogas
A sinagoga veio em consequência da suspensão do serviço do templo em
586AC. Era o local para a adoração e instrução. Era uma das mais importantes
instituições na época de Cristo.
A sinagoga era dividida em duas partes. Numa parte ficava a arca com o livro
da lei. Diante desta seção estava o lugar para os adoradores. No centro do auditório
ficava o palco onde o leitor lia as Escrituras em pé e sentava-se para ensinar.
Assentos foram colocados em volta do palco - os homens dum lado e as mulheres
do outro.
Os líderes principais da sinagoga eram: o chefe da sinagoga com poderes de
excomungação, superintendência dos cultos e presidência sobre o colégio dos
anciãos. O Shaliach que oficiou nos cultos lendo as orações e a Lei. O Chazzan que
cuidou da sinagoga como zelador, abriu as portas, preparou a sala e auditório,
manteve a ordem e açoitou os condenados. O Methurgeman ou Targoman que
traduziu as escrituras lidas em hebraico para o aramaico. Daí surgiram os Targuns.
O Blatanim eram dez homens que assistiram todas as reuniões da congregação e
levantaram as esmolas.
O Culto na sinagoga: Oração e o hino (incluindo o Shema, Dt:6:4-9) sem
instrumentos. O Chazzan trazia a lei da arca. O Shaliach se levantava e lia a porção
História de Israel
60
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marcada num ciclo já previsto. O Methurgoman ou Targoman traduzia o trecho para
o aramaico. Em seguida havia a palavra de exortação dum ançião sentado. A lei
novamente era levada para a arca e orações eram feitas.
O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio
babilônico, quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e sacrificar. O
fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de oração, ensino e
administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade onde houvesse
10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes poderia haver
várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da sinagoga era exercida pelo
rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela comunidade. Essa
autonomia de eleição do rabi favoreceu o surgimento de muitos mestres com idéias
religiosas distintas. Todos estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com
interpretações e comentários acerca da Torá.
Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A
primeira surgiu no ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A
primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou a ser mais
utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que
chegava ao extremo de contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas
e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa
posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem esse
mesmo título (Mt.23.8).
2.22.3 O império Persa – final do v.t
O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou
entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império
Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha autorizado os
judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à
Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumos
sacerdotes, embora não houvesse independência política. Eram comuns as
disputas pelo poder.
História de Israel
61
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2.23 O império Grego – 335 a 323 a.C
Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico,
Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu,
anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu território, entrou em
confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho,
Alexandre Magno, que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual
havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega, com seus deuses e heróis
parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando começou
a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332
a.C.) e o Egito. Notemos então que o território israelense passou do domínio persa
para o domínio grego.
No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem,
dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se encontrava em local estratégico para o
comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou
também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre
suas construções destacaram-se o farol e a biblioteca.
Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio
da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que considerou se capaz de enfrentar
a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo, nessa batalha,
que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de
enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia.
Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo de grande desgaste
para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir
para si o culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas
babilônicas.
Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre
encontra outro exército de elefantes, o que fez com que seus soldados se
amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de
Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou
com o organismo debilitado pela bebida. Não resistiu à doença e morreu naquele
mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane, estivesse grávida.
Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército.
História de Israel
62
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Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os
quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito, e Seleuco, que
passou a governar a Síria.
2.23.1 O governo dos Ptolomeus
A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu
foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a Palestina
esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):
• Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.
• Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi
elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento
para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.
• Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.
• Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a
Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo dos Santos.
Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu
propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.
• Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai,
Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria,
toma o poder sobre a Palestina no ano 204.
2.23.2 O governo dos Selêucidas
Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados
Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a
relação dos selêucidas do período:
• Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.
• Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.
• Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era
exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou o
cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou
para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade
História de Israel
63
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dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de Epifânio,
motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar
conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre,
matando 40 mil judeus.
• Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em
Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus
seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo
em que proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a
observância da lei mosaica.
• Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade
em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de
helenização radical na Palestina.
• Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os
judeus reagiram contra Epifânio.
2.23.3 O governo dos Macabeus – 167 a 37 a.C.
Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os
Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus.
Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual
organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal
movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou
sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local,
exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia
alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e
alguns de seus atos em destaque.
Matatias (167-166 a.C.)
Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista
liberdade religiosa, restabelece o culto.
Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) - Reinicia a atividade de sumo
sacerdote.
Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue
isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a Judéia se
História de Israel
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torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi sumo
sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.
João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) - Tinha tendência imperialista.
Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição
dos "hassidim", seita dos "santos".
Aristóbulo I – (104-103 a.C.) - prendeu a mãe e matou o irmão.
Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território
de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu
sofreu a oposição dos fariseus.
Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) - foi uma governante
pacífica.
Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II.
Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta
Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.
Hircano II (63-40 a.C.)
Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César,
formando o primeiro Triunvirato. Os três brigam entre si pelo poder. Júlio César
vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como
procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são
nomeados governadores da Judéia e Galiléia.
Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador
Júlio César morre assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio,
sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.
Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à
família dos macabeus.
Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as
orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o sumo sacerdócio.
Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual
dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.).
Antígono foi morto pelos romanos.
Termina assim, a saga dos macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas
contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder dentro da própria
família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se
tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.
História de Israel
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2.24 O império Romano
Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar
um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o poder o levaram
a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois, matou a própria
esposa e estrangulou os filhos.
A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o
rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a construção (reforma) do
templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.
O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37
a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.
No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu
o culto a si mesmo por parte dos seus súditos.
Em algumas regiões havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da
Palestina era Herodes. Esta região teve sua divisão política alterada diversas vezes,
sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do rei,
havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando
Jesus nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na seqüência aparecem os
publicanos, os quais não possuíam poder administrativo, mas tinham a função de
coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento da
terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do
que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os
publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que
cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra
publicano se tornou sinônimo de pecador.
Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada qualquer
região conquistada pelos romanos fora da Itália. As províncias que se encontravam
dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo Imperador.
Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas, cuja população
ainda não se acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença
constante das tropas romanas, as quais se dividiam principalmente em legiões (com
6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens).
História de Israel
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Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual
era formado por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o
supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e religiosas, uma
vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até
mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na
comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.
Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos,
principalmente nos relatos que tratam da prisão, julgamento e crucificação de Cristo,
o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal local. Os
integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder para matá-lo, parecem ter vacilado
diante de tamanha responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia,
Pilatos, o qual encaminhou o para a presença de Herodes, o rei da Galiléia.
Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é
devolvido a Pilatos, que considerou o lavar das mãos como ato suficiente para
isentá-lo da culpa de matar o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos
aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador também foi lembrado
naquelas circunstâncias, mas apenas para uma menção rápida em João 19.12 para
pressionar o Procurador.
Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais
tempo e já pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania romana. Era
o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de ser
considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos,
principalmente tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão
romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a açoites, mas
seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um
cidadão romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para
César quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).
2.24.1 Cultura e Infra-estrutura
Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante
continuava sendo grega. O extinto império de Alexandre Magno deixou um grande
legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega entre os povos
História de Israel
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conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização é
o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua grega se
tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego koiné" (= comum). As cidades
gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos, ginásios,
foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer que o
helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades antigas
se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando nomes gregos.
É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego,
com exceção do evangelho de Mateus.
Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas
construídas pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias entre as
províncias e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros,
comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os
aquedutos: canais para levar água das montanhas para as cidades.
2.24.2 Atividades Econômicas
Com toda a importância das cidades, as construções eram constantes. Além
das casas, estradas e aquedutos, as muralhas também faziam parte dos projetos.
Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de Jesus: o templo
de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..
Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca,
metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária,
além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos sacrifícios.
2.24.3 População e Religião
A DIÁSPORA
Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa
por vários lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus em Roma,
Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal dispersão, que
recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a
Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais dos judeus, e até
História de Israel
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mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua terra natal. Esse
quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da
dispersão que viria como conseqüência do pecado de Israel (Dt.28.64).
Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica.
Havia o judaísmo de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora,
ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes últimos
encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes gregos
se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões.
Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado o
judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e
sua religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse
diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do hebraico
para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando
universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser
lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias foram
produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica, tudo
escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os
escritores: Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela
comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada, uma vez que, para
eles, toda escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico.
Essa obra no idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização
do judaísmo.
Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e
não devia ser propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora se
dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o nome
de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15
Atos 2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi adotada por
judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.
Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico. Isso se
tornou incômodo para muitos cidadãos dos lugares onde residiam. A guarda do
sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se também
elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da opressão na
Palestina, encontraram problemas semelhantes em outras terras.
História de Israel
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JUDAÍSMO DIVIDIDO
Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas:
fariseus, saduceus, essênios e outras. Cada facção se considerava o remanescente
fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram para
essa divisão, podemos citar:
- Diáspora - A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma
religiosidade padronizada.
- Sinagogas - Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos
rabis representaram muitas linhas de pensamento e prática divergentes.
- Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram
para a discriminação religiosa contra os samaritanos.
- Interpretação - Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes
crenças.
- Tradição - Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação,
comentário da lei, influências estrangeiras (gregas, romanas e babilônicas).
- Política - Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram
radicalmente contra tais dominadores.
- Helenismo - Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à
cultura grega que se expandia em todo o mundo. Tais costumes eram vistos como
os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se deixavam levar,
admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.
DINASTIA HERODIANA (parcial)
História de Israel
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Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos
limitamos aos nomes mais próximos aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior
interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na Judéia.
Herodes Magno, também conhecido como Herodes, o Grande, governava a Judéia
quando Jesus nasceu. Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7
deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II, Arquelau e Antipas II.
Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I,
que era casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17).
Após a morte de Herodes Magno, seu reino foi dividido entre três de seus filhos:
Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a governar a
Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do Nordeste: Ituréia, Tracomites,
Gaulanites, Auranites e Batanéia.
Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a
ser governada por procuradores romanos. Um desses procuradores foi Pôncio
Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o ministério de
Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi
encaminhado por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito
que Cristo era galileu, sendo, portanto, da jurisdição de Antipas.
Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o
sucessor de Filipe II. Aos poucos foi herdando também os territórios dos outros tios.
Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria, tornando-se
então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e
morreu comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu
território foi então ampliado por determinação do Imperador Cláudio e ainda mais
por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a
destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o
ano de sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia herodiana são muitas vezes
mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título de Herodes. Por
esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem à
mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos quadros anteriores,
pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens bíblicas em que são citados.
História de Israel
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2.24.4 Imperadores romanos no período do novo testamento
César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus -
Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)
Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).
Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo
em Jerusalém. Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.
Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de
Roma. (At.18.2).
Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa perseguição de
Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro morrem (At. 25.10; 28.19).
Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.
Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.
Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.
César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca
seu filho Tito como general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.
Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.
César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor
e Deus. Grande perseguição. O apóstolo João ainda vivia durante o governo de
Domiciano.
2.25 Evangelho – Boas novas
A palavra evangelho não foi criada por Jesus nem por seus discípulos. Era
uma palavra de uso comum nas comunidades antigas. As guerras entre os povos
eram constantes. As dificuldades de comunicação entre os guerreiros e suas
cidades de origem eram muito grandes. As famílias, principalmente, aguardavam
ansiosamente por notícias de seus filhos nos campos de batalha. O meio utilizado
para isso era o envio de mensageiros, os quais traziam notícias sobre o sucesso ou
fracasso dos soldados. A chegada do mensageiro era muito esperada. Quando ele
chegava com boas notícias, então recebia uma recompensa por seu esforço. Esse
presente era chamado "evangelho". Era também realizada uma festa comemorativa,
que também passou a ser chamada "evangelho".
História de Israel
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Jesus é o mensageiro de Deus que veio anunciar sua própria vitória sobre as
forças das trevas e a libertação do homem. Assim, no Novo Testamento, a palavra
evangelho adquire o significado de mensagem da salvação através da obra de
Cristo a favor do homem (Mt.4.23; 24.14). A tradição cristã estende esse significado,
usando a palavra evangelho para identificar cada um dos quatro primeiros livros do
Novo Testamento, os quais apresentam relatos sobre a vida de Cristo. Assim, surge
o uso plural da palavra. Nos tempos da igreja primitiva, isso seria considerado
absurdo, uma vez que, para os primeiros cristãos, o evangelho era único. Outro
evangelho seria considerado anátema. Como então poderia haver evangelhos?
Entretanto, tal designação para os quatro evangelhos se firmou e se tornou
definitiva.
2.25.1 Aspectos gerais dos quatro Evangelhos
Pluralidade – Poderíamos ter 1 evangelho nas Escrituras e isso poderia ser
satisfatório. Contudo, Deus quis que fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão
de ser e seu objetivo. Um dos motivos nos parece ser o valor do número de
testemunhas. A lei mosaica determinava que o testemunho contra alguém deveria
ser dado por duas ou três pessoas e nunca por uma só (Dt.17.6). O mesmo
princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O número de testemunhas é importante
na determinação da veracidade de um fato. Assim, era importante que duas ou três
testemunhas dessem testemunho sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus.
Nos processos jurídicos as testemunhas continuam sendo muito importantes até
hoje. Em muitos casos não é possível a prova científica. Cabe então a prova
testemunhal. Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim também
aconteceu com os relatos sobre Cristo. Alguns escritores dos evangelhos podem
não ter sido testemunhas oculares dos fatos ali narrados. Entretanto, escreveram o
que as testemunhas disseram. A pluralidade dos evangelhos é também valiosa por
nos apresentar a mesma história vista sob ângulos diferentes.
Objetividade – Os evangelhos foram escritos tendo-se em vista um objetivo
definido: anunciar as boas novas de salvação. Por esta causa, os escritores não se
dedicaram a registrar pormenores da vida de Cristo, sua infância, seus hábitos
História de Israel
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diários, seu trabalho na carpintaria, etc. Eles se limitaram a mencionar a origem de
Cristo (humana e divina), seu ministério (ensinamentos, milagres), sua morte,
ressurreição e ascensão. Uma grande parte de cada evangelho se dedica a narrar
os fatos da última semana do ministério de Cristo. (Veja João 21.25).
Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos, eles são harmônicos entre
si. É possível se construir um relato coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se
completam.
Diversidade – Apesar da unidade entre os evangelhos, eles não são iguais.
Se assim fosse, não faria sentido a existência de quatro. Bastaria um. Existem
diversas diferenças entre eles. Contudo, diferença não significa contradição. São
quatro relatos distintos sobre os mesmos fatos. Algumas narrativas ou
ensinamentos são apresentados exclusivamente por um escritor ou apenas por dois
ou por três ou pelos quatro. E mesmo entre narrativas do mesmo fato, existem
diferenças entre os detalhes. Por exemplo, autor diz que Jesus curou um cego em
Jericó. O outro diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro. Se Jesus curou
um cego, ele pode muito bem ter curado outro. A contradição haveria se um autor
negasse a afirmação do outro. As diferenças podem advir de várias causas. Duas
narrativas normalmente relacionadas podem, na verdade, ser referência a dois
episódios distintos. Uma outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já que
tais relatos foram, no princípio, transmitidos oralmente. Assim, algum ponto poderia
ser esquecido por um narrador, mas lembrado por outro. Nesse processo, o que
prevalece é a nossa fé no cuidado divino para que a essência do evangelho
chegasse a nós de forma íntegra. Entre os evangelhos, observa-se maior
semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são chamados sinóticos, ou
seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado pela primeira vez por J.J.
Griesbach, em 1774. O evangelho de João, por sua vez, apresenta um estilo todo
particular.
Ordem – Os livros não se encontram dispostos em nossas Bíblias na mesma
ordem em que foram escritos. Além disso, os próprios fatos narrados não seguem
ordem cronológica, principalmente no livro de Mateus.
História de Israel
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Motivos – Os evangelhos foram escritos para responder aos questionamentos
da comunidade do primeiro século e também para combater as mentiras dos
inimigos a respeito de Jesus. Os apóstolos começavam a morrer e tornava-se então
imperioso que se registrassem suas memórias sobre o Salvador. Além disso,
existiram também os motivos particulares de cada escritor, conforme veremos no
estudo de cada livro.
2.25.2 Formação dos evangelhos sinóticos
Sobre a formação de todos os evangelhos podemos considerar a seguinte
equação:
Fonte oral + fonte escrita + testemunho pessoal (em alguns casos) =
evangelho
Sobre os evangelhos sinóticos, existem várias sugestões do processo de
formação. Isto se deve às semelhanças observadas entre Mateus, Marcos e Lucas,
o que leva a se supor que um tenha utilizado o escrito do outro, ou que tenham tido
acesso às mesmas fontes.
Uma das principais hipóteses das fontes apresenta o evangelho de Marcos
como o primeiro a ser escrito. Além deste, haveria também uma fonte denominada
"Q", contendo relatos sobre a vida de Cristo. Mateus e Lucas teriam então se
utilizado do evangelho de Marcos e da fonte "Q" para produzirem seus evangelhos.
Teriam também usado material exclusivo. Mateus teria tido acesso a uma fonte "M"
exclusiva e igualmente Lucas a uma fonte "L".
Assim, os relatos comuns entre Mateus, Marcos e Lucas, seriam material
original de Marcos. Os relatos comuns entre Mateus e Lucas e desconhecidos por
Marcos seriam o conteúdo da fonte "Q". O material exclusivo de Mateus seria da
fonte "M" e o material exclusivo de Lucas seria da fonte "L". Contudo, existem
muitas dúvidas sobre a existência dessas fontes (Q,M,L) e se elas seriam escritas
ou orais. Sobre a fonte "Q", por exemplo, existe a hipótese de que a mesma não
tenha existido, mas que todo esse material tenha sido transferido de Mateus para
Lucas ou vice-versa.
História de Israel
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Marcos possui 678 versículos.
Mateus possui 1071 no total. Destes, 600 versículos correspondem a 606 de
Marcos, ou seja, Mateus faz as mesmas narrativas de modo quase idêntico. Mateus
possui 300 versículos exclusivos (M). Os outros 171 podem ter vindo da fonte "Q" e
encontram semelhança com parte de Lucas.
Lucas possui 1151 no total. Destes, 380 versículos correspondem a 280 de
Marcos, ou seja, Lucas faz as mesmas narrativas de modo mais extenso. Lucas
possui 520 versículos exclusivos (L). Os outros 251 podem ter vindo da fonte "Q" e
encontram semelhança com parte de Mateus.
Isolando-se o material atribuído à fonte "Q", obtém-se um escrito semelhante
ao estilo profético do Velho Testamento. Seriam partes referentes a João Batista, o
batismo, a tentação, muitos ensinos, pouca narrativa, e nada sobre a morte de
Cristo.
2.25.3 Propagação do Evangelho e tipos de Evangelho
Motivo, conteúdo e objetivo estão interligados. Motivo é o elemento que
impulsiona alguém para determinada ação. Objetivo é o que se espera atingir ou
realizar. No caso dos evangelhos, os motivos foram as necessidades da
comunidade, a carência de registros fidedignos sobre Cristo. O objetivo maior é a
salvação das almas. O evangelho é o "poder de Deus para a salvação..." (Rm.1.16).
A preposição "para" determina o objetivo.
Precisamos questionar hoje os motivos que nos movem como pregadores do
evangelho. Nos dias de Paulo, foram observados motivos diversos (Fil.1.15-19):
inveja, contenda, boa mente e amor. Contudo, disse o apóstolo, importa que o
evangelho seja pregado. Isto porque, mesmo com motivos errados, o objetivo pode,
eventualmente, ser atingido, ou seja, mesmo que alguém pregue por inveja muitos
podem ser salvos, já que o evangelho é o poder de Deus. Não obstante, o mau
obreiro não ficará impune. Poderá até mesmo ser alguém que ajudou a construir a
arca mas não entrou nela, ou como uma placa que aponta o caminho mas não o
segue.
O problema torna-se maior quando aos motivos errados somam-se objetivos
estranhos ao evangelho. Então, o próprio conteúdo passa a ser deformado a fim de
História de Israel
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atingir propósitos escusos (II Pd.2.1-3). Observa-se então o surgimento de um
"evangelho comercial", onde as pessoas são estimuladas a fazerem negócios com
Deus. Desse pensamento surge o "evangelho da prosperidade", o qual deixa para
segundo plano a questão da salvação das almas e se dedica à salvação do
orçamento. Toda benção material sempre será bem-vinda. Contudo, não podemos
fazer disso o propósito do evangelho nem efeito essencial da sua eficácia. Zacarias
profetizou sobre Cristo, apresentando-o como um rei pobre, humilde e que vinha
montado em um jumentinho, quando o natural seria um rei rico montado num
elegante cavalo. Contudo, o profeta diz que o Messias é justo e salvador. Eis aí o
valor e o propósito do evangelho: justiça e salvação (Zc.9.9). Cai no mesmo erro a
Teologia da libertação, a qual interpreta a salvação e a libertação oferecidas por
Cristo como um rompimento das opressões sociais.
Cabe a cada um de nós o zelo pelo evangelho bíblico e por seu legítimo
objetivo. Que não sejamos mercadores da palavra de Deus. É legítimo o sustento
aos que trabalham na obra de Deus. O erro consiste em fazer do benefício pessoal
a causa da obra. Igreja não é empresa. Ministério não é profissão. Evangelho não é
negócio.
História de Israel
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Conclusão:
Deus prometeu a Israel a sua terra como podemos ler em Êx 23.29-31 e em
Dt 11.23-25.Para nós, cristãos, Jesus deixou um alerta: “Aprendei, pois a parábola
da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que
está próximo o verão. Assim também vós quando virdes todas estas coisas, sabei
que está próximo, às portas” (Mt 24.32,33). Israel foi restaurado como nação. A
figueira brotou. Amém, vem Senhor Jesus!