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8/19/2019 2 CORÍNTIOS-Wiersbe http://slidepdf.com/reader/full/2-corintios-wiersbe 1/71 2 C oríntios ESBOÇO Tema-chave: O encorajamento de Deus  Versículos-chave: 2 Coríntios 4:1, 6 I. PAULO EXPLICA SEU MINISTÉ RIO - CAPÍTULOS 1- 7 A. Triunfante - 1 - 2 B.  Glorioso - 3 C. Sincero - 4 D. Confiante - 5 E. Amoroso - 6 - 7 II. PAULO INCENTIVA A GENERO SIDADE - CAPÍTULOS 8 -9 (Por ocasião da coleta de uma oferta para os cristãos judeus.) A. Princípios da "oferta da graça" - 8 B.  Promessas para os "ofertantes da graça" - 9 III. PAULO REAFIRMA SUA AUTO RIDADE - CAPÍTULOS 10 - 13 A. O guerreiro que ataca a oposição - 10 B.  O pai espiritual que protege a igreja - 11:1-15 C. O "iouco" que se gloria de seu sofrimen to - 11:16 - 12:10 D. O apóstolo que exerce sua autoridade em amor - 12:11 - 13:14 CONTEÚDO 1. Abatidos, mas não derrotados (2 Co 1:1-11)..................................821 2. Não precisamos fracassar (2 Co 1:12-2:1 7).......................... 827 3. De glória em glória (2 Co 3)......................................... 833 4. Coragem para os conflitos (2 Co 4:1 -5:8) .............................. 839 5. Motivação para o ministério (2 Co 5:9-21)..................................845 6. De coração para coração (2 Co 6- 7) .................................... 851 7. A graça de ofertar - Parte 1 (2 Co 8) ......................................... 857 8. A graça de ofertar - Parte 2 (2 Co 9)..........................................863 9. Desencontros ministeriais (2 Co 10)....................................... 869 10. O pai sabe o que é melhor (2 Co 11)....................................... 875 11. Um pregador no paraíso (2 Co 12:1-10)................................ 881 12. Preparem-se! (2 Co 12:11 - 13:13) ...................... 886

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2 C o r í n t i o s

ESBOÇOTema-chave: O encorajamento de Deus Versículos-chave: 2 Coríntios 4:1, 6

I. PAULO EXPLICA SEU MINISTÉRIO - CAPÍTULOS 1 - 7

A. Triunfante - 1 - 2B.  Glorioso - 3C. Sincero - 4D. Confiante - 5E. Amoroso - 6 - 7

II. PAULO INCENTIVA A GENEROSIDADE - CAPÍTULOS 8 - 9

(Por ocasião da coleta de uma oferta paraos cristãos judeus.)A. Princípios da "oferta da graça" - 8B.  Promessas para os "ofertantes dagraça" - 9

III. PAULO REAFIRMA SUA AUTORIDADE - CAPÍTULOS 10 - 13

A. O guerreiro que ataca a oposição -10

B.  O pai espiritual que protege a igreja -11:1-15

C. O "iouco" que se gloria de seu sofrimen

to - 11:16 - 12:10

D. O apóstolo que exerce sua autoridadeem amor - 12:11 - 13:14

CONTEÚDO1. Abatidos, mas não derrotados

(2 Co 1:1-11)..................................8212. Não precisamos fracassar

(2 Co 1:12-2:1 7)..........................8273. De glória em glória

(2 Co 3).........................................8334. Coragem para os conflitos

(2 Co 4:1 -5:8)..............................8395. Motivação para o ministério

(2 Co 5:9-21)..................................8456. De coração para coração

(2 Co 6 - 7)....................................8517. A graça de ofertar - Parte 1

(2 Co 8).........................................

8578. A graça de ofertar - Parte 2(2 Co 9)..........................................863

9. Desencontros ministeriais(2 Co 10).......................................869

10. O pai sabe o que é melhor(2 Co 11).......................................875

11. Um pregador no paraíso(2 Co 12:1-10)................................881

12. Preparem-se!

(2 Co 12:11 - 13:13)......................

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A b a t i d o s , M a s Nã o  D e r r o t a d o s

2 C o r í n t i o s   1:1-11

// “T" odos parecem imaginar que nãoI tenho altos e baixos, apenas uma

inabalável e elevada vastidão de ininterruptas realizações espirituais, com alegria

e serenidade incessantes. De modo algum!Com freqüência, me encontro completamente miserável, e tudo parece sombrio aoextremo."

Essas palavras são de um homem que,em sua época, era conhecido como "o maiorpregador do mundo de língua inglesa", JohnHenry Jowett, que pastoreou grandes igre

 jas, pregou para congregações enormes eescreveu livros que se transformaram em

sucessos de venda."Passo por depressões do espírito tãoassustadoras que peço a Deus que jamaisexperimentem tais extremos de infelicidade."

Essas palavras são de um sermão deCharles Haddon Spurgeon, cujo ministérioextraordinário em Londres o transformouem um dos maiores pregadores ingleses detodos os tempos.

O desânimo não faz acepção de pes

soas. Na verdade, parece atacar com maisfreqüência os bem-sucedidos do que osfracassados; isso porque, quanto mais altochegamos, maior pode ser a queda. Não nossurpreendemos quando lemos que o grande apóstolo Paulo passou por "tribulaçõesacima das [suas] forças" e "[desesperou]até da própria vida" (2 Co 1:8). Por maisexcelente que fosse em caráter e ministério, Paulo era um ser humano como todos

nós.O apóstolo poderia ter evitado essasdificuldade, se não houvesse recebido um

1 preocupasse com as pessoas. Havia fundado a igreja de Corinto e ministrado nessacidade por um ano e meio (At 18:1-18).Quando surgiram problemas sérios na igre

 ja depois de sua partida, enviou Timóteopara lidar com os coríntios (1 C o 4:17) e

lhes escreveu a epístola que chamamos de1 Coríntios.Infelizmente, a situação piorou e Paulo

teve de fazer uma "visita dolorosa" a Corinto a fim de confrontar aqueles que estavam criando os problemas dentro da igreja(2 Co 2:1 ss). Ainda assim, não houve solução. Então, escreveu uma carta enérgicaque foi entregue aos coríntios por Tito, umdos colaboradores do apóstolo (2 Co 2:4

9; 7:8-12). Depois de muita aflição, Paulofinalmente se encontrou com Tito e recebeu a boa notícia de que o problema haviasido resolvido. Foi então que escreveu acarta que chamamos de 2 Coríntios.

O apóstolo redigiu esta epístola por vários motivos. Em primeiro lugar, desejavaencorajar a igreja a perdoar e restaurar omembro que havia causado todo o tumulto(2 Co 2:6-11). Também desejava explicar

sua mudança de planos (2 Co 1:15-22) ereafirmar sua autoridade apostólica (2 Co4:1, 2; 10 - 12). Por fim, desejava incentivar a igreja a participar da oferta especialque estava levantando para os cristãos necessitados da Judéia (2 Co 8 - 9).

Uma das palavras-chave desta epístolaé consolar   ou encorajar.  O termo gregosignifica "chamar para junto de alguém afim de ajudar". No original, o verbo é usa

do dezoito vezes e o substantivo onzevezes nesta carta. Apesar de todas as tribulações que havia passado, pela graça deDeus Paulo pôde escrever uma carta repleta de encorajamento.

Qual era o segredo da vitória de Pauloao passar por pressões e tribulações? Seusegredo era Deus.  Quando nos encontramos desanimados e prontos para desistir,devemos mudar o foco da atenção de nós

mesmos para Deus. Partindo de sua própria experiência difícil, Paulo mostra comoencontrar ânimo em Deus. O apóstolo lem-

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822 2 CORÍNTIOS 1:1-11

1. L em b r em -s e   d o   q u e   D eu s   é  p a r a  

v o c ê s   (2 Co 1:3)Paulo começa sua carta com uma doxologia.Por certo, não podia cantar sobre suas circunstâncias, mas poderia cantar sobre oDeus que está no controle de todas as cir

cunstâncias. Paulo havia aprendido que olouvor é um elemento importante para alcançar a vitória sobre o desânimo e a depressão. O louvor é tão transformador quanto aoração.

Louvem-no porque ele é Deus!  Encontramos a expressão "Bendito seja Deus"em outras duas passagens do Novo Testamento - em Efésios 1:3 e 1 Pedro 1:3. Nocaso de Efésios 1:3, Paulo louva a Deus poraquilo que o Senhor fez no passado, quan

do "nos escolheu nele [em Cristo]" (Ef 1:4)e nos abençoou "com toda a sorte de bênção espiritual". Em 1 Pedro 1:3, Pedro louvaa Deus pelas bênçãos do  futuro  e por "umaviva esperança". Mas, em 2 Coríntios, Paulolouva a Deus pelas bênçãos do  presente, poraquilo que Deus estava fazendo naqueleinstante e lugar.

Durante os horrores da Guerra dos Trinta Anos, o pastor Martin Rinkart serviu aoSenhor fielmente em Eilenburg, na Saxônia.

Chegou a realizar quarenta funerais em umsó dia, em um total de mais de quatro mil aolongo de seu ministério. No entanto, emmeio a essa experiência arrasadora, escreveu uma "cartilha da graça" para seus filhose que, hoje, usamos como hino de ação degraças.

Agora agradecemos por tudo ao nossoSenhor,Com nosso coração, nossas mãos e nos

sa voz.Àquele que fez maravilhas sem par.No qual seu mundo se compraz!

Louvem-no porque ele é o Pai de nosso Se

nhor Jesus Cristo! É por causa de Jesus Cristo que podemos chamar Deus de "Pai" enos aproximar dele como seus filhos. Deusvê em nós seu Filho e nos ama como amaseu Filho (Jo 17:23). Somos "amados de Deus"(Rm 1:7), pois é "para louvor da glória de

sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado" (Ef 1:6).

Tudo o que o Pai fez por Jesus duranteseu ministério aqui na Terra, também podefazer por nós hoje. Somos preciosos para oPai, pois seu Filho é precioso para ele, e so

mos cidadãos do "reino do Filho do seuamor" (Cl 1:13). Somos valiosos para o Pai,e ele cuidará para que as pressões da vidanão nos destruam.

Louvem-no porque ele é o Pai de mise

ricórdias!  Para o povo judeu, a expressão pai de  significa "aquele que dá origem a".Satanás é o pai da mentira (Jo 8:44), pois énele que as mentiras têm origem. De acordocom Gênesis 4:21, Jubal foi o pai dos instrumentos musicais, pois deu origem à flauta e

à harpa. Deus é o Pai das misericórdias, poistodas as misericórdias provêm dele e podemser recebidas somente dele.

Em sua graça, Deus nos dá o que nãomerecemos e, em sua misericórdia, não nosdá o que merecemos. "As misericórdias doS e n h o r   são a causa de não sermos consumidos" (Lm 3:22). A Bíblia fala da riqueza  dasmisericórdias de Deus (SI 5:7; 69:16), da suatema  misericórdia (Tg 5:11) e da grandeza da sua misericórdia (Nm 14:19). Também

fala da multidão  das suas misericórdias (SI51:1; 106:7, 45).Louvem-no porque e/e é o Deus de toda 

consolação!  No texto original, as palavrasconforto e consolação  (do mesmo radicalgrego) e suas correlatas são usadas pelomenos onze vezes em 2 Coríntios 1:1-11.Não devemos pensar em consolo  em termos de "comiseração", pois a comiseraçãopode nos enfraquecer ao invés de fortalecer. Deus não passa a mão em nossa cabe

ça e nos dá um doce ou brinquedo paranos distrair das dificuldades. Antes, colocasua força em nosso coração para que possamos enfrentar as tribulações e vencê-las.A palavra conforto vem de duas palavras emlatim que significam "com força". A palavragrega quer dizer "acompanhar e ajudar". Éo mesmo termo usado para o Espírito Santo("o Consolador") em João 14 a 16.

Deus pode nos encorajar com sua Palavra e por meio de seu Espírito, mas, por

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2 C O R Í N T I O S 1 : 1 - 1 1 823

vezes, usa outros cristãos para nos dar o ânimo de que precisamos (2 Co 2:7, 8; 7:6, 7).Que bom seria se todos nós pudéssemosser cham ados de "Barnabé - filho de exortação [estímulo]"! (At 4:36).

Quando ficamos desanimados por causa de circunstâncias difíceis, é fácil olhar paranós mesmos e para nossos sentimentos, ouconcentrar a atenção nos problemas. Mas oprimeiro passo que devemos dar é olhar pelafé para o Senhor e descobrir tudo o queDeus é para nós. "Elevo os olhos para osmontes: de onde me virá o socorro? O meusocorro vem do S e n h o r , que fez o céu e aterra" (SI 121:1, 2).

2 . L e m b r e m -s e   d o   q u e   D e u s   f a z   p o r  

v o c ê s   ( 2 Co 1 : 4 a , 8 - 1 1 )

Deus permite as tribulações. A língua gregapossui dez palavras principais para sofrimen

to, e Paulo usa cinco delas nesta epístola.As mais freqüentes são thlipsis,  que significa"estreito, confinado, sob pressão" e étraduzida aqui por sofrimentos  (2 Co 2:4),angústias  (2 Co 1:4 [no singular]; 2:4; 6:4;12:10) e tribulação  (2 Co 1:4, 8; 4:17; 7:4;8:2). Paulo sentia-se cercado de circunstâncias difíceis e só lhe restava olhar para o alto.

Em 2 Coríntios 1:5, 6, o apóstolo usa otermo  pathema,  "sofrimentos", também empregado para os sofrimentos de nosso Salvador (1 Pe 1:11; 5:1). Há certos sofrimentosque suportamos simplesmente porque somos humanos e estamos sujeitos à dor; mashá outros sofrimentos que nos sobrevêmporque somos parte do povo de Deus e

desejamos servir ao Senhor.Não devemos jamais pensar que as difi

culdades são acidentais. Tudo o que acontece ao cristão é por determinação divina.Tratando-se das tribulações da vida, uma pessoa só pode ter três perspectivas. Se nossas

provações são resultado do "destino" ou do"acaso", tudo o que nos resta fazer é desistir. Ninguém é capaz de controlar o destinoou o acaso. Se nós  temos o controle sobre

tudo, vemo-nos em uma situação igualmente desesperadora. Mas, se Deus  está no controle e confiam os nele, po demos contar com

Deus nos encoraja em meio a todas astribulações ensinando-nos por meio de suaPalavra. É ele quem permite que passemospor provações.

Deus está no con t role das tri bu lações  

(v. 8).  "Porque não queremos, irmãos, queignoreis a natureza da tribulação que nos

sobreveio na Ásia, porquanto foi acima dasnossas forças, a ponto de desesperarmos atéda própria vida". Paulo sentia-se oprimidocomo um animal de carga levando um pesogrande demais. No entanto, Deus sabia exatamente quanto Paulo poderia suportar emanteve a situação sob controle.

Não sabemos a natureza dessa "tribulação", mas foi intensa o suficiente para levar

Paulo a pensar que morreria. É impossíveldizer se o perigo foi decorrente das ameaças de seus muitos inimigos (ver At 19:21ss;1 Co 15:30-32), de uma doença grave oude um ataque específico de Satanás; massabemos que Deus controlou as circunstâncias e protegeu seu servo. Quando Deuscoloca seus filhos na fornalha, mantém sempre a mão no termostato e os olhos no termômetro (1 Co 10:13; 1 Pe 1:6, 7). Paulopode ter se desesperado da vida, mas Deusnão se desesperou de seu servo.

Deus nos capacita para supor tarm os as  t r ibulações (v. 9).  A primeira coisa que fazé mostrar quanto somos fracos por nós mesmos. Paulo era um servo hábil e experienteque havia passado por vários tipos de provações (ver 2 Co 4:8-12; 11:23ss). Por certo,possuía experiência suficiente para encarare superar inúmeras dificuldades.

Deus, porém, quer que confiemos nele- não em nossos dons ou habilidades, emnossas experiências ou "recursos espirituais".É quando nos sentimos seguros de nós mesmos e capazes de enfrentar o inimigo quesofremos as piores quedas. "Porque, quan

do sou fraco, então, é que sou forte" (2 Co12 :10 ).

Ao morrermos para o ego, o poder daressurreição de Deus começa a operar. Foi

Quando Abraão e Sara já estavam fisicamente amortecidos que o poder da ressurreiçãode Deus lhes permitiu ter o filho prometido

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não implica permanecer em complacênciaociosa, manter os braços cruzados enquanto Deus faz tudo. Podemos estar certos deque Paulo orou, estudou as Escrituras, consultou seus colaboradores e creu na obrade Deus. O Deus que ressuscita os mortos

é suficiente para qualquer   dificuldade davida! Deus é capaz, mas é preciso que noscoloquemos a sua disposição.

Paulo não nega seus sentimentos, e Deustambém não deseja que neguemos nossasemoções. "Em tudo fomos atribulados: lutaspor fora, temores por dentro" (2 Co 7:5). Aexpressão "sentença de morte", em 2 Co-ríntios 1:9, pode ser uma referência a umveredicto oficial, talvez a uma ordem de prisão e execução de Paulo. É importante lem

brar que os judeus incrédulos estavam à caçade Paulo e desejavam se livrar dele (At20:19). Não devemos deixar de fora da listaos "perigos entre patrícios" (2 Co 11:26).

Deus nos livra das tribulações (v. 10). Quer olhasse para trás, quer a seu redor, queradiante, Paulo via a mão de livramento doSenhor. O termo que o apóstolo usa significa "livrar de uma situação de perigo, salvare proteger". Deus nem sempre nos livra imediatamente e nem sempre age da mesma

forma. Tiago foi decapitado, no entanto Pedro foi liberto da prisão (At 12). Os dois  foram libertos, mas de maneiras diferentes.Por vezes, Deus nos livra das tribulações,mas em outras ocasiões nos livra em meio às tribulações.

Deus livrou Paulo em resposta a sua fé,bem como à fé do povo de Corinto queestava orando pelo apóstolo (2 Co 1:11)."Clamou este aflito, e o S e n h o r   o   ouviu e olivrou de todas as suas tribulações" (SI 34:6).

Deus é glorificado por meio de nossas tribulações (v. 11).  Quando Paulo relatou oque Deus havia feito por ele, um grande corode louvor e ação de graças elevou-se dossantos e alcançou o trono de Deus. Nossarealização suprema aqui na Terra é glorificar o nome de Deus, e, por vezes, alcançaressa realização envolve sofrimento. O "benefício que nos foi concedido" refere-se aolivramento de Paulo da morte, sem dúvidaum benefício maravilhoso!

Paulo nunca se envergonhou de pediraos cristãos que orassem por ele. Em pelomenos sete de suas epístolas, menciona suagrande necessidade de apoio em oração (Rm15:30-32; Ef 6:18, 19; Fp 1:19; Cl 4:3; 1 Ts5:25; 2 Ts 3:1; Fm 22). Paulo e os cristãos de

Corinto estavam ajudando uns aos outros(2 Co 1:11, 24).Um missionário amigo meu me contou

do livramento miraculoso de sua filha de umaenfermidade que havia sido diagnosticadacomo terminal. Exatamente na época que amenina se encontrava mais doente, váriosamigos nos Estados Unidos estavam orandopela família e Deus respondeu às oraçõese curou a menina. O maior apoio que podemos dar aos servos de Deus é ajudá-los

em oração.O termo sunupourgeo,  traduzido por"ajudando-nos também vós", só é usadonesta passagem do Novo Testamento emgrego e é constituído de três palavras: com,sob, trabalho  e retrata trabalhadores carregando um fardo, trabalhando juntos paracumprir sua tarefa. É um grande estímulosaber que o Espírito Santo nos assiste emnossas orações e nos ajuda a carregar nossos fardos (Rm 8:26).

Se nos entregamos a Deus, cremos nelee obedecemos a suas ordens, ele realiza seuspropósitos em meio às tribulações da vida.As dificuldades podem aumentar nossa fé efortalecer nossa vida de oração. Podem nosaproximar de outros cristãos que estejamdividindo o fardo conosco e podem ser usadas para glorificar a Deus. Assim, quandonos vemos cercados pelas provações da vida,devemos nos lembrar do que Deus é paranós e do que faz por nós.

3 . L e m b r em -s e  d o   q u e   D eu s   f a z   p o r  

m e io   d e   v o c ê s   (2 C o 1 :4b-7)Em tempos de sofrimento, quase todostemos a tendência de pensar apenas emnós mesmos e de nos esquecer dos outros.Em vez de sermos canais, transformamo-nosem cisternas. No entanto, um dos motivosde passarmos por tribulações é para queaprendamos a ser canais de bênção paraconsolar e encorajar a outros. Podemos

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2 C O R Í N T I O S 1 : 1 - 1 1 825

encorajá-los, pois recebemos o encorajamento de Deus.

Um de meus pregadores favoritos éGeorge W. Truett, que pastoreou a PrimeiraIgreja Batista de Dallas, Texas, durante qua

se cinqüenta anos. Em um de seus sermões,falou de um casal de incrédulos, cujo bebêmorreu de repente. O pastor Truett realizouo funeral e, posteriormente, teve a alegriade levar os pais a Jesus Cristo.

Vários meses depois, uma jovem mãeperdeu o bebê; mais uma vez, Truett foi chamado a consolar a família. No entanto, nadado que ele dizia parecia ajudar. No culto dofuneral, porém, a mãe recém-convertida

aproximou-se da moça que havia acabadode perder o filho e disse:- Também passei por isso e entendo

você. Deus me chamou e, através da escuridão, fui até ele. Deus tem me consolado efará o mesmo por você!

Disse Truett: "O consolo que a primeiramãe ofereceu à outra foi mais significativodo que qualquer coisa que eu poderia terfeito por ela em dias e meses, pois a primeira mãe havia trilhado com os próprios pés omesmo caminho de sofrimento".

Paulo, porém, deixa claro que não é preciso experimentar exatamente  a mesmaprovação a fim de ter capacidade de compartilhar com outros o encorajamento queDeus dá. Quem sente o consolo de Deusna vida pode "consolar os que estiverem emqualquer angústia" (2 Co 1:4b). É evidenteque, se passamos por provações semelhantes, estas poderão ajudar a nos identificar

mos ainda mais com os outros e a entendermelhor como se sentem; mas nossas experiências não alteram o consolo de Deus. Seuconsolo é sempre suficiente e eficaz, quaisquer que tenham sido nossas experiências.

Mais adiante, em 2 Coríntios 12, Paulodá um exemplo desse princípio. Ele recebeuum espinho na carne - algum tipo de sofrimento físico que o afligia constantemente.Não sabemos ao certo o que era esse "espi

nho na carne", nem precisamos saber. O quesabemos é que Paulo experimentou a graçade Deus e, então, compartilhou esse encora-

provação, a declaração: "A minha graça te

basta" (2 Co 12:9) é uma promessa da qualpodemos nos apropriar. Se Paulo não tivesse sofrido, não teríamos essa promessaregistrada.

O sofrimento humano não é fácil deentender, pois há mistérios referentes aomodo de Deus operar que só compreenderemos no céu. Por vezes, sofremos em decorrência de nosso pecado e rebelião, comono caso de Jonas. Em outras ocasiões, sofremos para não cair em pecado, co mo no casode Paulo (2 Co 12:7). O sofrimento podeaperfeiçoar nosso caráter (Rm 5:1-5) e nosajudar a compartilhar do caráter de Deus

(Hb 12:1-11).Mas o sofrimento também nos ajuda aministrar a outros. Em toda igreja, há sempre cristãos maduros que sofreram e experimentaram a graça de Deus, pessoas quepodem dar grande estímulo à congregação.As dificuldades pelas quais Paulo passou nãoforam um castigo por algo que ele havia feito, mas sim uma preparação para algo queainda faria  - ministrar aos necessitados. Sópodemos imaginar as provações que o reiDavi teve de suportar a fim de nos deixar ogrande encorajamento que encontramos nosSalmos.

Em 2 Coríntios 1:7 fica claro que sempre havia a possibilidade de a situação seinverter: os cristãos em Corinto passariampor provações e receberiam a graça de Deus,a fim de encorajar a outros. Deus, às vezes,chama determinada igreja a passar por certas tribulações para lhe conceder uma gra

ça especial e abundante.O ânimo que Deus nos dá pela graça

nos ajudará, se aprendermos a suportar.  "Suportar com paciência" é uma evidência defé. Amargurar-se ou criticar a Deus, rebelar-se em vez de se sujeitar a ele, fará com quenossas provações deixem de trabalhar emnosso favor,  voltando-se contra nós.  A capacidade de suportar dificuldades pacientemente sem desistir é uma das marcas da

maturidade espiritual (Hb 12:1-7).Antes de trabalhar por m eio de nós, Deu s

precisa trabalhar em   nós. É muito mais fácil

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826 2 C O R Í N T I O S 1:1-11

(2 Pe 3:18). Aprender a verdade de Deus eassimilá-la em nossa mente é uma coisa, masviver a verdade de Deus e incorporá-la anosso caráter é outra bem diferente. Deuspermitiu que o jovem José passasse por treze anos de tribulação antes de fazer dele o

segundo no governo do Egito; e que grandehomem José se tornou! Deus sempre nos prepara para o que tem reservado para nós, eparte desse preparo consiste em sofrimento.

Diante disso, as palavras de 2 Coríntios1:5 são extremamente importantes: até mesmo nosso Senhor Jesus Cristo teve de sofrer! Quando sofremos dentro da vontadede Deus, participamos dos sofrimentos doSalvador. Não se trata, aqui, de seus "sofrimentos vicários" na cruz, pois somente ele

poderia morrer por nós como substituto sempecado algum (1 Pe 2:21-25). Paulo se refere à "comunhão dos seus sofrimentos" (Fp3:10), às provações que suportamos, pois,como Cristo, dedicamo-nos fielmente a obedecer à vontade do Pai. Esse é o sofrimento"por causa da justiça" {Mt 5:10-12).

Mas, à medida que aumenta o sofrimento, também aumenta o suprimento da graça de Deus. O verbo transbordar   lembra aenchente de um rio. "Antes, ele dá maior

graça" (Tg 4:6). Trata-se de um princípio importante a ser compreendido: Deus temgraça em abundância para todas as nossasnecessidades, mas não a concede de ante

mão.  Pela fé, nos aproximamos do tronoda graça "a fim de recebermos misericórdiae acharmos graça para socorro em ocasiãooportuna" (Hb 4:16). O termo grego significa "socorro quando necessário, ajuda nodevido tempo".

Li sobre um cristão devoto que foi preso

por sua fé e condenado a ser queimado nafogueira. Na noite antes da execução, ficouimaginando se teria graça suficiente para setransformar em uma tocha humana; assim,testou sua coragem colocando o dedo na

chama de uma vela. Claro que se queimoue, ao sentir a dor, removeu imediatamenteo dedo do fogo. Estava certo de que nãopoderia enfrentar o martírio sem falhar. Noentanto, no dia seguinte, Deus lhe deu agraça de que precisou, e ele deu um teste

munho jubiloso e triunfante diante de seusinimigos.Agora, podemos entender melhor 2 Co

ríntios 1:9, pois, se tivéssemos como armazenar a graça de Deus para emergências,nossa tendência seria confiarmos em nósmesmos, não no "Deus de toda a graça" (1 Pe5:10). Todos os recursos que Deus nos dápodem ser guardados para uso futuro - dinheiro, alimento, conhecimento etc. -, masa graça de Deus não pode ser armazenada.

Antes, ao experimentar a graça de Deusdiariamente, e/a é investida em nossa vida na forma de um caráter piedoso (ver Rm 5:1 -5). Esse investimento gera dividendos quando surgem novas dificuldades, pois o caráterpiedoso permite suportar a tribulação paraa glória de Deus.

O sofrimento cria uma relação de "camaradagem", pois pode ajudar a promovera nossa aproximação de Cristo e de seu povo. Mas se começarmos a nos afundar em

autocomiseração, isso fará com que o sofrimento não resulte em envolvimento, mas simem isolamento. Construiremos muros, nãopontes.

O mais importante é voltar toda a atenção para Deus, não para si mesmo. E preciso lembrar quem Deus é para nós -   "O Deuse Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai demisericórdias e Deus de toda consolação!"(2 Co 1:3). Também se deve lembrar do que Deus faz por nós  - ele é capaz de lidar com

nossas tribulações e de fazê-las cooperarpara nosso bem e para a glória dele. Por fim,convém lembrar do que Deus faz por meio de nós  - e permitirmos que nos use comoestímulo para outros.

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2 foram os recursos espirituais que o levaram

a perseverar?

N ã o   P r e c i s a m o s  

F r a c a s s a r

2Coríntios 1:12- 2:17

Em seu livro Profiles in courage [Perfis de  coragem],  John F. Kennedy escreveu:

"Grandes crises produzem grandes homense grandes feitos de coragem". Apesar de ser

verdade que a crise ajuda a transformar umapessoa, também é verdade que a crise con

tribui para revelar seu caráter. Pilatos enfren

tou uma grande crise, mas a forma comolidou com ela não lhe deu nem coragem nemgrandeza. A maneira de lidar com as dificul

dades da vida depende, em grande parte,

do tipo de caráter do indivíduo, pois o quea vida faz conosco depende do que elaencontra dentro de nós.

Nesta carta extremamente pessoal, Paulo abre o coração para os coríntios (e para

nós) e revela as tribulações pelas quais havia passado. Para começar, havia sofrido ascríticas severas de algumas pessoas de

Corinto por ter precisado mudar seus pla

nos e, aparentemente, não ter cumprido suapromessa. Os mai-entendidos que ocorrementre os cristãos podem causar feridas pro

fundas. Além disso, Paulo também teve de

enfrentar o problema da oposição a sua autoridade apostólica na igreja. Um dos membros - talvez um dos líderes - teve de serdisciplinado, o que foi motivo de grande

tristeza para Paulo. Por fim, o apóstolo enfrentou circunstâncias difíceis na Ásia (2 Co1:8-11), uma tribulação tão severa que o levou a se desesperar da vida.

O que impediu que Paulo falhasse? Ao

enfrentar crises semelhantes, outros teriam

desmoronado! No entanto, Paulo triunfousobre as circunstâncias e, a partir delas, re

digiu uma epístola que até hoje ajuda o po-

1 . U m a   c o n s c i ê n c i a   l i m p a  

(2 Co 1:12-24)O termo consciência é  originário de duas

palavras latinas: co m   e scire,  que significa"saber". A consciência é a capacidade interior que "sabe com" nosso Espírito e dá sua

aprovação quando fazemos o que é certo,mas acusa quando fazemos o que é errado.A consciência não é a Lei de Deus, mas dátestemunho dessa Lei. É uma janela que dei

xa passar a luz, e se a janela vai ficando cada

vez mais suja por causa de nossa desobe

diência, a luz também se torna cada ve z mais

fraca (ver Mt 6:22, 23; Rm 2:14-16).Paulo usa o termo consciência   mais de

vinte vezes em suas epístolas e em seu mi

nistério de pregação registrado no Livro deAtos. "Por isso, também me esforço por tersempre consciência pura diante de Deus e

dos homens" (At 24:16). Quando uma pessoa tem consciência pura, também tem integridade, é sincera e confiável.

Os cristãos acusavam Paulo de falsidade

e de indiferença porque o apóstolo havia sidoobrigado a mudar seus planos. A princípio,prometera que passaria o inverno em Corinto,"se o Senhor o permitir" (1 Co 16:2-8). Paulodesejava coletar as ofertas que os coríntios

haviam juntado para os cristãos judeus po

bres e dar à igreja o privilégio de enviá-las, ea seus colaboradores, para Jerusalém.

Grande parte do pesar e perturbação dePaulo devia-se ao fato de ter sido necessário

mudar de planos. Entendo esses sentimentos do apóstolo, pois mesmo em meu ministério limitado, sou obrigado, por vezes, amudar alguns planos e até mesmo cancelar

reuniões - isso sem ter a meu favor a autori

dade apostólica! Como disse Will Rogers:"Os planos nos colocam facilmente emsituações complicadas, mas como é difícilsair delas!" Paulo mudou seus planos e pla

nejava fazer duas  visitas a Corinto. Uma a

caminho da Macedônia e outra quando voltasse de lá. Acrescentaria, então, a oferta dos

coríntios àquela das igrejas da Macedônia e

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Infelizmente, nem o plano B foi aproveitado, pois o coração amoroso de Paulo nãopodia suportar outra visita dolorosa (2 Co1:23; 2:1-3). Paulo havia informado a igrejadas mudanças no itinerário da viagem, masnem isso calou a oposição. Os coríntios o

acusaram de seguir a "sabedoria humana"(2 Co 1:12), de ignorar a vontade de Deus(2 Co 1:1 7) e de fazer planos só para agradar a si mesmo. A seu ver, Paul dizia ouescrevia uma coisa, mas, na verdade, queria dizer outra! Seu sim era não, e seu nãoera sim.

Os mal-entendidos no meio do povo deDeus muitas vezes podem ser difíceis de esclarecer, pois um mal-entendido com freqüência puxa outro. Uma vez que começamos a

questionar a integridade de outros ou desconfiar de suas palavras, abre-se a porta paratodo tipo de problema. Mas, a despeito dequalquer coisa que seus acusadores pudessem dizer, Paulo manteve-se firme, pois suaconsciência estava limpa. Suas cartas, seudiscurso e sua vida eram coerentes. Afinal,ao fazer os primeiros planos, acrescentara acondição: "se o Senhor permitir" (1 Co 16:7,e notar Tg 4:13-17).

Quando temos a consciência limpa, vi

vemos em função da volta de Jesus Cristo(2 Co 1:14). O "Dia de Jesus" refere-se àocasião em que Cristo virá para levar suaIgreja para o céu. Paulo estava certo de que,no tribunal de Cristo, se regozijaria por causa dos cristãos de Corinto e eles se regozijariam por causa dele. Quaisquer quesejam os mal-entendidos que tenhamoshoje, quando estivermos diante de JesusCristo, tudo será perdoado, esquecido etransformado em glória, para o louvor de Je

sus Cristo.Quando temos a consciência limpa, levamos a vontade de Deus a sério (2 Co1:15-18). Paulo não fazia planos de mododescuidado ou impensado; antes, buscavaa orientação do Senhor. Por vezes, não tinha certeza do que Deus desejava quefizesse (At 16:6-10), mas sabia esperar noSenhor. Sua motivação era sincera, tentava agradar ao Senhor, não aos homens.Quando consideramos como o transporte

e a comunicação naquele tempo eram difíceis, é de se admirar que Paulo não tenhaenfrentado mais  problemas com sua agenda lotada.

Jesus nos instrui a ser claros e sincerosno que dizemos: "Seja, porém, a tua pala

vra: Sim, sim; não, não. O que disto passarvem do maligno" (Mt 5:37). Somente umapessoa de caráter duvidoso cerca sua resposta com uma porção de palavras desnecessárias. Os coríntios sabiam que Paulo eraum homem de caráter irrepreensível, poisera um homem de consciência limpa. Durante seus dezoito meses de ministério nomeio deles, Paulo havia se mostrado fiel enão havia mudado desde então.

Quem tem a consciência limpa glorifica

a Jesus Cristo (2 Co 1:19, 20). Não se podeglorificar a Cristo e, ao mesmo tempo, serdissimulado. Fazer isso ofende a consciência e desgasta o caráter; todavia, mais cedoou mais tarde, a verdade virá à tona. Oscoríntios haviam recebido a salvação porquePaulo e seus amigos haviam lhes pregado oevangelho de Jesus Cristo. Como seria possível Deus revelar a verdade  por meio de instrumentos dissimulados?   O testemunho ea conduta do servo de Deus devem andar

 juntos, pois a obra por ele realizada flui davida que leva.Tratando-se de Jesus Cristo, não existe

sim e não. Ele é o "sim eterno" de Deuspara os que crêem nele. "Porque quantassão as promessas de Deus, tantas têm neleo sim; porquanto também por ele é o amémpara glória de Deus, por nosso intermédio"(2 Co 1:20). Jesus Cristo revela e cumpreas promessas e nos capacita a fim de podermos nos apropriar delas! Uma das bên

çãos da consciência limpa é que não temosmedo de ficar face a face com Deus nemcom os homens; também não temos medode nos apropriar das promessas que Deusnos dá em sua Palavra. Paulo não "manipulava" a Palavra de Deus a fim de apoiar supostas práticas pecaminosas em sua vida(ver 2 Co 4:2).

Por fim, quando temos a consciência limpa, também nos relacionamos devidamente com o Espírito de Deus (2 Co 1:21-24).

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que Paulo não menciona o nome do homemque se opôs a ele e dividiu a congregação.Mas o apóstolo disse à igreja que deveriadisciplinar esse homem  para seu próprio  bem.  Se a pessoa à qual se refere é o transgressor mencionado em 1 Coríntios 5, estes

versículos indicam que a igreja reuniu-se edisciplinou o homem e que ele se arrependeu de seus pecados e foi restaurado.

A verdadeira disciplina é sinal de amor(ver Hb 12). Alguns pais mais jovens com"idéias modernas" sobre a criação de filhosrecusam-se a disciplinar crianças desobedientes, pois afirmam que as amam demaispara corrigi-las. Mas, se realmente amassemos filhos, fariam justamente o contrário.

A disciplina dentro da igreja não é as

sunto visto com bons olhos, tampouco éuma prática amplamente difundida. Muitasigrejas varrem os problemas para debaixodo tapete em vez de obedecer às Escriturase de confrontar a situação com ousadia "seguindo a verdade em amor" (Ef 4:15). A "paza qualquer custo" não é um princípio bíblico, pois não pode haver paz espiritual verdadeira sem pureza (Tg 3:13-18). Problemasvarridos para debaixo do tapete costumamse multiplicar e criar conflitos ainda maioresmais adiante.

Na verdade, o homem confrontado porPaulo e disciplinado pela igreja beneficiou-se dessa atenção carinhosa que recebeu.Quando eu era criança, nem sempre gostava de ser disciplinado por meus pais. Hoje,porém, posso olhar para trás e agradecer aDeus por eles terem me amado o suficientea ponto de me causar dor e, desse modo,impedir que eu fizesse mal a mim mesmo.Hoje entendo o que significam as palavrasque eles diziam sempre: "Isso dói mais emnós do que em você".

O amor perdoa  e encoraja (w. 7-11). Paulo instou a congregação a perdoar ohomem e fundamentou essa admoestaçãoem motivos incontestáveis. Em primeiro lugar, deveriam perdoar o homem por amor  ae/e, "para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza" (2 Co 2:7, 8). Operdão é o remédio que ajuda a curar ocoração ferido. É importante que a igreja

afirme e demonstre claramente seu amorpelo membro arrependido.

Em meu próprio ministério pastoral, tenhoparticipado de reuniões em que membrosdisciplinados foram perdoados e restaurados à comunhão, e essas ocasiões forampontos altos e solenes de minha vida. Quando uma igreja garante a uma irmã ou a umirmão perdoado que o pecado foi esquecido e a comunhão restaurada, pode-se sentira presença do Senhor de maneira especialnessa experiência maravilhosa. Depois queos pais disciplinam um filho, devem lhe asseverar seu amor e perdão; do contrário,a disciplina fará mais mal do que bem.

A igreja deve reafirmar seu amor peloirmão perdoado  por amor ao Senhor   (2 Co

2:9,10). Afinal, a disciplina é tanto uma questão de obediência ao Senhor quanto umaobrigação para com o irmão. O problemanão era apenas entre o irmão em pecado eo apóstolo entristecido, também era entreum irmão em pecado e um Salvador entristecido. O homem havia pecado contra Paulo e contra a igreja, mas, acima de tudo, haviapecado contra o Senhor. Quando líderesacanhados da igreja tentam "caiar" situaçõesem vez de enfrentá-las com honestidade, suaatitude entristece o coração do Senhor.

Paulo apresenta um terceiro motivo: devem perdoar o transgressor  por amor à igre

 ja  (2 Co 2:11). Quando existe na igreja umespírito de rancor por causa de pecados nãotratados de forma bíblica, Satanás encontrauma brecha para trabalhar no meio dessacongregação. Quando nutrimos um espírito rancoroso, entristecemos o Espírito Santoe "[damos] lugar ao diabo" (Ef 4:27-32).

Um dos "artifícios" de Satanás é acusarcristãos que pecaram de modo a levá-los acrer que não há esperança para eles. Recebitelefonemas e cartas de pessoa pedindo minha ajuda, pois se encontram sob opressãoe acusação satânicas. O Espírito Santo nosconvence do pecado, de modo que os confessemos e busquemos a purificação emCristo; mas Satanás nos acusa de pecado para que entremos em desespero e desistamos.

Quando uma irmã ou um irmão transgressor é disciplinado de acordo com a Bíblia e

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2 C O R Í N T IO S 1 : 1 2 - 2 : 1 7 831

se arrepende, a congregação deve perdoá-lo e restaurá-lo como membro, e a questãodeve ser esquecida e nunca mais voltar àbaila. Se uma congregação - ou algumapessoa dessa comunidade - possui espírito rancoroso, Satanás usará essa atitude

como ponto de partida para novos ataquesà igreja.Paulo conseguiu superar os problemas

que enfrentou porque tinha a consciêncialimpa e o coração compassivo. No entanto,um terceiro recurso espiritual contribui parasua vitória.

3. U m a   fé c o n q u i s t a d o r a  

(2 Co 2:12-17)Para o povo da Ásia, parecia que os planos

de Paulo se desintegravam. Onde estavaTito? O que estava acontecendo em Corinto?Paulo tinha portas abertas para ministrar emTrôade, mas não sentia paz no coração parausar essas oportunidades. Em termos humanos, parecia que a batalha havia chegadoao fim e que Satanás havia vencido.

Exceto por uma coisa: Paulo possuía umafé conquistadora! Foi capaz de irromper emlouvor e escrever: "Graças, porém, a Deus"(2 Co 2:14). Este cântico de louvor nasceuda certeza de Paulo, pois confiava no Senhor.

Paulo t inha certeza de que Deus o con duzia (v. 14a).  As circunstâncias não eramagradáveis, e Paulo não poderia explicar osdesvios e decepções ao longo do caminho,mas tinha certeza de que Deus estava nocontrole. O cristão pode sempre ter certezade que Deus age de modo que tudo coopere para o bem, desde que o amemos e quesejamos obedientes a sua vontade (Rm8:28). Essa promessa não é uma desculpapara a indiferença, mas sim um estímulo para

a confiança.Um amigo meu estava prestes a se en

contrar com um líder cristão do outro ladoda antiga Cortina de Ferro e acertar os detalhes sobre a publicação de um livro, mas tudodeu errado. Meu amigo acabou sozinho emum lugar perigoso imaginando o que deveria fazer em seguida, quando, "por acaso",fez contato com um desconhecido que olevou diretamente ao próprio líder com o qual

desejava se encontrar! Foi a providência deDeus operando e cumprindo Romanos 8:28.

Paulo t inha certeza de que Deus o con duzia em tr iun fo (v. 14b).  Vemos aqui oretrato do "triunfo romano", o tributo especial que Roma oferecia a seus generais

conquistadores.Se um comandante conquistasse vitóriaabsoluta sobre o inimigo em solo estrangeiro e matasse pelo menos cinco mil soldados inimigos, apropriando-se do território emnome do imperador, tinha direito, então, aum "triunfo romano". Durante esse desfile,o comandante andava em uma carruagemde ouro cercado de seus oficiais. O desfileincluía, ainda, uma exibição dos espólios dabatalha bem como dos soldados inimigos

cativos. Os sacerdotes romanos tambémparticipavam queimando incenso para prestar tributo ao exército vitorioso.

O cortejo seguia determinado percursopela cidade e terminava no Circus Maximus,onde cativos indefesos entretinham o povolutando contra animais selvagens. Para oscidadãos de Roma, um triunfo romano completo era sempre uma ocasião especial.

De que maneira essa parte da históriaaplica-se aos cristãos aflitos de hoje? JesusCristo, nosso grande comandante supremo,veio a um território estrangeiro (este mundo) e derrotou completamente o inimigo(Satanás). Em vez de matar cinco mil pessoas, deu vida a mais de cinco mil - mais detrês mil em Pentecostes e mais de dois millogo depois de Pentecostes (At 2:41; 4:4).Jesus Cristo tomou para si os espólios dabatalha - as almas perdidas sob a escravidão do pecado e de Satanás (Lc 11:14-22;Ef 4:8; Cl 2:15). Que vitória magnífica!

Os filhos do general vitorioso caminha

riam atrás da carruagem do pai compartilhando a alegria da vitória; lutamos para vencer. Nem na Ásia nem em Corinto a situaçãoparecia vitoriosa para Paulo, mas ele acreditava em Deus, e o Senhor transformou aderrota em vitória.

Paulo t inha certeza de que, àmedida  que o conduzia, Deus também o usava (w . 14c-17).  O perfume do incenso que os sacerdotes romanos queimavam durante o

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desfile tinha conotação diferente para cadapessoa. Para os soldados triunfantes, significava vida e vitória; mas para os inimigosconquistados, significava derrota e morte.Estavam a caminho do lugar onde seriammortos pelas feras.

Usando a imagem do incenso, Pauloapresenta um retrato do ministério cristão.Vê os cristãos como incenso, exalando a fragrância de Jesus Cristo com sua vida e seutrabalho. Para Deus, somos o bom perfumede Cristo. Para os outros santos, somos umafragrância de vida; mas, para os incrédulos,somos cheiro de morte. Em outras palavras,a vida e o ministério cristão são questõesde vida ou morte. Nossa maneira de vivere de trabalhar pode significar vida ou morte

para o mundo perdido.Não é de se admirar que Paulo perguntasse: "Quem, porém, é suficiente para estas

coisas?" (2 Co 2:16). Ele próprio respondeno capítulo seguinte: nossa suficiência vemde Deus (2 Co 3:5). O apóstolo lembra oscoríntios de que seu coração era puro, suamotivação, sincera. Afinal, não havia necessidade de ser astuto para "mercadejar" a

Palavra de Deus, pois seguia o cortejo doSalvador vitorioso! Os outros poderiam nãoentendê-lo, mas Deus conhecia seu coração.

Não precisamos fracassar! As circunstâncias podem nos desanimar, e as pessoaspodem opor-se a nós e nos entender mal;no entanto, temos em Cristo os recursos espirituais para vencer a batalha: uma consciência limpa, um coração compassivo euma fé conquistadora.

"Se Deus é por nós, quem será contra

nós? [...] Em todas estas coisas, porém, somosmais que vencedores, por meio daquele quenos amou" (Rm 8:31, 37).

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3

D e  G l ó r ia   em   G l ó r i a

2 C o r ín t i o s   3

Onde quer que encontremos algo genuíno, também encontraremos alguém

promovendo falsificações. Até avaliadores deobras de arte já foram enganados por "obrasprimas" falsificadas, e editores bem-intencionados publicaram "m anuscritos inestimáveis"

só para descobrir, depois, que eram forjados.Henry Ward Beecher estava certo quandodisse: "Uma mentira sempre precisa de umaverdade à qual se apegar".

Assim que o evangelho da graça de Deuscomeçou a se espalhar entre os gentios, também surgiu um "evangelho" falsificado, umamistura de Lei e graça. Essas idéias equivocadas eram propagadas por um grupo depessoas zelosas conhecidas como "judai-zantes". Paulo escreveu sua Epístola aos

Gálatas para refutar suas doutrinas, e o vemos fazer referência a eles em várias ocasiões em 2 Coríntios.

A principal ênfase dos judaizantes era afé em Cristo mais  a observância da Lei (verAt 15:1ss). Também ensinavam que o cristão é aperfeiçoado em sua fé ao obedecerà Lei de Moisés. Seu "evangelho de legalis-mo" granjeou muitos adeptos, uma vez quea natureza humana prefere esforçar-se paraalcançar ideais religiosos em lugar de sim

plesmente crer em Jesus Cristo e permitir queo Espírito Santo opere. É muito mais fácil medir a "religião" do que a verdadeira retidão.

Paulo considerava esses falsos mestres"mercadores" da Palavra de Deus (ver 2 Co2:17), "charlatães religiosos" que se aproveitavam de pessoas ignorantes. Rejeitavaseus métodos distorcidos de ensinar a Bíblia(2 Co 4:2) e desprezava sua tendência de sevangloriar dos convertidos (2 Co 10:12-18).

Um dos motivos pelos quais os coríntiosnão haviam cumprido o compromisso queassumiram com a oferta especial era o fatode os judaizantes terem "roubado" a igreja(2 Co 11:7-12, 20; 12:14).

De que maneira Paulo refuta as doutrinas e práticas desses falsos mestres legalistas?

Mostrando a glória insuperável do ministériodo evangelho da graça de Deus. Em 2 Coríntios 3, Paulo compara o ministério da antiga aliança (a Lei) e o ministério da novaaliança (a graça) e comprova a superioridade do ministério da nova aliança. Vejamosos contrastes que o apóstolo apresenta.

1 . T á b u a s d e p e d r a - c o r a ç õ e s  

h u m a n o s (2 Co 3:1-3)Os judaizantes gabavam-se de ter "cartas de

recomendação" (2 Co 3:1) de pessoas importantes da igreja de Jerusalém e chamavam a atenção do povo para o fato de quePaulo não tinha credenciais desse tipo. Étriste quando uma pessoa mede seu valorpor aquilo que outros dizem a seu respeito,não por aquilo que Deus sabe sobre ela.Paulo não precisava de qualquer credencialdos líderes da igreja: sua vida e seu ministério eram as únicas credenciais necessárias.

Quando Deus deu a Lei, escreveu-a em

tábuas de pedra colocadas dentro da arcada aliança. Mesmo que os israelitas pudessem ler as duas tábuas, essa experiência nãotransformaria a vida deles. A Lei é algo exterior, e as pessoas precisam de poder interior  para que sua vida seja transformada. Olegalista pode nos admoestar com suas in-

 junçõ es - "Faça isso!" ou "N ão faça aquilo!" -, mas não é capaz de nos dar poderpara obedecer. Se obedecemos, muitas vezes não o fazemos de coração e acabamos

em uma situação pior do que antes!O ministério da graça transforma o cora

ção. O Espírito de Deus usa a Palavra deDeus e a escreve no coração. Os coríntioseram pecadores perversos quando Paulo osencontrou pela primeira vez, mas seu ministério do evangelho da graça de Deus haviatransformado a vida deles completamente(ver 1 Co 6:9-11). Sua experiência da graçade Deus certamente significava muito mais

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834 2 C O R Í N T I O S 3

para eles do que as cartas de recomendação que os falsos mestres portavam. Os cristãos de Corinto estavam gravados, em amor,no coração de Paulo, e o Espírito de Deusescrevera a verdade no coração dos coríntios, transformando-os em epístolas vivas deCristo.

A prova de um ministério bem-sucedidonão são as estatísticas ou o que a imprensadiz, mas sim as vidas transformadas. É muitomais fácil um legalista gabar-se, pois pode"medir" seu ministério por parâmetros exteriores. O cristão que ministra pacientemente pelo Espírito de Deus deve deixar osresultados nas mãos do Senhor. Como é tristeque os coríntios tenham seguido judaizantespresunçosos e magoado o homem que lhesmostrara o caminho para serem salvos do

 julgamento!

2. M o r t e - V i d a (2 Co 3:4-6)Paulo apressa-se em dar glória a Deus, nãoa si mesmo. Depositava sua confiança emDeus, do qual provinha sua suficiência. Apesar de ser um homem brilhante e culto, oapóstolo não dependia da própria capacidade, mas sim do Senhor.

É claro que, de acordo com o discursodos legalistas, qualquer um era capaz deobedecer à Lei e de se tornar espiritual. Umministério legalista é uma forma de alimentar o ego das pessoas. Quando enfatizamosa graça de Deus, precisamos dizer às pessoas que são pecadoras e que não podemse salvar. O testemunho de Paulo era: "Mas,pela graça de Deus, sou o que sou" (1 Co15:10). Ninguém é suficientemente capazde ministrar ao coração de outros. Tal suficiência só vem de Deus.

Ao ler este capítulo, observam-se as de

signações diferentes que Paulo usa para aantiga e para a nova aliança ao contrastá-las. Em 2 Coríntios 3:6, "a letra" refere-se àLei da antiga aliança, enquanto "o espírito"refere-se à mensagem de graça da novaaliança. Paulo não contrasta duas abordagens à Bíblia, uma "interpretação literal" eoutra "espiritual". Lembra seus leitores de quea Lei da antiga aliança não é capaz de darvida; é um ministério de morte (ver Gl 3:21).

O evangelho dá vida aos que crêem porcausa da obra de Jesus Cristo na cruz.

Paulo não sugere que a Lei foi um erroou que seu ministério não era importante.Pelo contrário! O apóstolo sabia que o pecador precisa ser condenado pela Lei e conscientizado de seu total desamparo antes deser salvo pela graça de Deus. João Batistaproclamou uma mensagem de julgamento,preparando o caminho para Jesus e para suamensagem de graça salvadora.

Um ministério legalista traz morte. Ospregadores que se especializam em regrase em regulamentos mantêm sua congregação sob uma nuvem escura de culpa,que acaba com sua alegria e poder e também com a eficácia de seu testemunho paraCristo. Os cristãos que estão sempre se medindo, comparando "resultados" e competindo uns com os outros logo descobremque se tornaram dependentes da carne, nãodo poder do Espírito. Jamais existiu qualquer norma ou preceito capaz de transformar a vida de uma pessoa; nem mesmoos Dez Mandamentos têm esse poder. Somente a graça de Deus, ministrada peloEspírito de Deus, pode transformar pecadores em epístolas vivas que glorificam Jesus Cristo.

Paulo não inventou a doutrina da novaaliança para essa ocasião. Como estudiosoperspicaz das Escrituras, o apóstolo certamente havia lido Jeremias 31:27-34, bemcomo Ezequiel 11:14-21: No Novo Testamento, Hebreus 8 a 10 é a passagem-chavea ser examinada. A Lei da antiga aliança, comsua ênfase sobre a obediência exterior, foiuma preparação para a mensagem da graçada nova aliança, com sua ênfase sobre atransformação interior do coração.

3. G l ó r i a d e s v a n e c e d o ra - g l ó r i a  

c r e s c e n t e (2 Co 3:7-11)Esse parágrafo é o cerne do capítulo e deveser estudado em relação a Êxodo 34:29-35:Paulo não nega a glória da Lei da antigaaliança, pois certamente houve glória natransmissão da Lei e na observância dos cultos no tabernáculo e no templo. O que afirma, porém, é que a glória da nova aliança

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2 C O R Í N T I O S 3 835

da graça é extremamente superior, e dá vários motivos para apoiar sua afirmação.

A glór ia da nova aliança representa vida  esp ir i t u a lnão m ort e (vv. 7, 8).  QuandoMoisés desceu do monte, depois de conversar com Deus, seu rosto resplandecia com

a glória de Deus. Essa foi uma parte da glória revelada na transmissão da Lei, e certamente tal manifestação impressionou opovo. Em seguida, Paulo argumenta do menor para o maior: se houve glória na transmissão da Lei que trazia morte, quanto nãodeve haver em um ministério que traz vida!

Legalistas como os judaizantes gostamde engrandecer a glória da Lei e de minimizar suas limitações. Em sua epístola às igre

 jas da Galácia, Paulo ressalta as defic iências

da Lei: ela não é capaz de justificar o pecador (Gl 2:16), não tem poder de conceder oEspírito Santo (Gl 3:2), de dar uma herança(Gl 3:18), de dar vida (Gl 3:21) nem de darliberdade (Gl 4:8-10). A glória da Lei é, naverdade, a glória de um ministério de morte.

A glória da nova a liança representa jus t i f icaçãonão condenação (w . 9,10).   A Leinão foi dada com o propósito de salvar, poisa obediência à Lei não pode dar salvação. Alei produz condenação, servindo de espelho

que revela a verdadeira aparência de nossorosto imundo. No entanto, não podemosusar o espelho para lavar o rosto.

O ministério da nova aliança pro duz justificação e transforma vidas para a glória deDeus. A maior necessidade do homem é ser

 justificado pela fé em Jesus Cristo. "Pois, sea justiça é mediante a Lei, segue-se que morreu Cristo em vão" (Gl 2:21). A pessoa quetenta viver debaixo da Lei acaba sofrendocada ve z mais com a culpa, o que pode gerarum sentimento de desespero e de rejeição.É quando cremos em Cristo e vivemos pelagraça de Deus que experimentamos aceitação e alegria.

Em 2 Coríntios 3:10, Paulo afirma que aLei "perdeu sua glória" diante da glória insuperável do ministério da graça de Deus. Nãohá comparação. Infelizmente, algumas pessoas não conseguem se "sentir espirituais"a menos que carreguem consigo um pesode culpa. A Lei produz culpa e condenação,

pois é como um "escrito de dívida" (Cl 2:14),um tutor que nos disciplina (Gl 4:1-5) e um

 jugo pesado demais de suportar (Gl 5:1; At15:10).

A glória da nova a liança épermanent e, não t emporária (v. 11). O   tempo do verbo

nesta passagem é crítico: "o que se desvanecia". Paulo escreveu em um período histórico de sobreposição das eras. A novaaliança da graça fora introduzida na história, mas os cultos no templo continuavam aser realizados, e a nação de Israel ainda vivia debaixo da Lei. No ano 70 d.C., a cidade de Jerusalém e o templo seriam destruídospelos romanos, marcando desse modo o fimdo sistema religioso judaico.

Os judaizantes desejavam que os cris

tãos de Corinto voltassem a viver sob o jugoda Lei, que "mesclassem" as duas alianças."Por que voltar ao que é temporário e quese desvanece?", pergunta o apóstolo. "Vivamna glória da nova aliança que é cada vezmaior." A glória da Lei é apenas a glória dahistória passada, enquanto a glória da novaaliança é a glória da experiência presente.Co m o cristãos, podem os ser "transformados,de glória em glória" (2 Co 3:18), uma transformação que a Lei jamais terá o poder de

realizar.A glória da Lei se desvanecia no tempode Paulo, e, hoje, essa glória só pode serencontrada nos relatos da Bíblia. A naçãode Israel não tem templo nem sacerdócio.Se construíssem um templo, a glória Shekiná não habitaria no santo dos santos. A Lei deMoisés é uma religião com um passado extremamente glorioso, mas que não tem glória alguma no presente. A luz se foi, e tudoo que resta são sombras (Cl 2:16, 17).

Paulo destacou que o ministério da graça é interior (2 Co 3:1-3), que vivifica (2 Co3:4-6) e que implica uma glória cada vezmaior (2 Co 3:7-11). Agora, apresenta umúltimo contraste a fim de provar a superioridade do ministério da graça da nova aliança.

4 . O c u l t a ç ã o - r e v e l a ç ã o  

(2 Co 3:12-18)A Bíblia é, basicamente, um "livro de ilustrações", pois emprega símbolos, símiles,

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metáforas e outros recursos literários paratransmitir sua mensagem. Neste parágrafo,Paulo usa a experiência de Moisés e seu véupara ilustrar a liberdade gloriosa e a revelação da vida cristã sob a graça. Paulo vê naexperiência de Moisés um significado espi

ritual mais profundo do que o que nós poderíamos ver ao ler Êxodo 34:29-35.O acontecim ento histórico (vv. 12, 13). 

Quando fazemos parte de um ministério deglória crescente, podemos ser ousados emnossas declarações, e Paulo não disfarça oseu destemor. Ao contrário de Moisés, Paulo não tem o que esconder.

Quando Moisés desceu do monte ondehavia estado em comunhão íntima comDeus, seu rosto brilhava com um reflexo da

glória divina. Enquanto Moisés falava com opovo, os israelitas podiam ver essa glória emseu rosto e se impressionavam com ela. Noentanto, Moisés sabia que a glória desvaneceria, de modo que, ao terminar de instruiro povo, cobriu o rosto com um véu. Comisso, evitou que vissem a glória desaparecer, pois, afinal, quem deseja seguir um líder cuja glória está sumindo?

O termo traduzido por "terminação", em2 Coríntios 3:13, tem dois sentidos: "pro

pósito" e "final". O véu evitou que o povovisse o "final" da glória enquanto esta desvanecia. No entanto, também os impediude entender o "propósito" por trás dessa glória desvanecedora. A Lei havia acabado deser instituída, e o povo ainda não estava preparado para descobrir que esse sistema glorioso era apenas temporário. Ainda não lheshavia sido revelado que a Lei era uma preparação para algo maior.

 A ap licação na ciona l (w. 14-17).  Paulo

nutria especial amor por Israel e um desejoardente de ver a salvação de seu povo (Rm9:1-3). Por que o povo judeu rejeitou seuCristo? Como missionário aos gentios, Paulo vira muitos gentios crerem no Senhor, masos judeus - seu próprio povo - rejeitavam averdade e perseguiam Paulo e a igreja.

O motivo dessa rejeição era a presençade um "véu espiritual" sobre a mente e ocoração dos judeus. Seus "olhos espirituais"haviam sido cegados, de modo que, ao ler

as Escrituras do Antigo Testamento, não conseguiam enxergar a verdade sobre seu Messias. Apesar de as Escrituras serem lidas sistematicamente nas sinagogas, o povo judeunão compreendia a mensagem espiritual queDeus havia lhes dado. A causa dessa ceguei

ra era a própria religião judaica.Existe alguma esperança para os filhosperdidos de Israel? Sem dúvida! "Quando,porém, algum deles se converte ao Senhor[crendo em Jesus Cristo], o véu lhe é retirado" (2 Co 3:16).

Em cada uma das três igrejas que pastoreei, tive a alegria de batizar judeus quecreram em Jesus Cristo. É impressionantecomo a mente deles se abre para as Escrituras depois que nascem de novo. Um desses

convertidos comentou comigo:- É como se escamas tivessem sido removidas de meus olhos. Pergunto-me porque os outros não conseguem enxergar oque estou vendo agora!

O véu é removido pelo Espírito de Deus,e os que crêem recebem visão espiritual.Nenhum pecador - seja ele judeu ou gentio - pode se entregar a Cristo sem o ministério do Espírito de Deus. "Ora, o Senhor éo Espírito" (2 Co 3:17). Trata-se de uma de

claração arrojada da divindade do EspíritoSanto: ele é Deus. Os judaizantes que invadiram a igreja em Corinto dependiam da Leipara transformar a vida das pessoas, mas somente o Espírito de Deus tem o poder derealizar uma transformação espiritual. A Leisó traz escravidão, mas o Espírito nos dá umavida de liberdade. "Porque não recebesteso espírito de escravidão, para viverdes, outravez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos:

Aba, Pai" (Rm 8:15).Como nação, o Israel de hoje é espiritualmente cego; mas isso não significa que

 judeus, como indivíduos, não possam sersalvos. A Igreja de hoje precisa recuperar seusenso de responsabilidade com os judeus.Somos devedores ao povo de Israel, poispor meio dele recebemos todas as nossasbênçãos espirituais. "Porque a salvação vemdos judeus" (Jo 4:22). A única maneira de"quitarmos" essa dívida é compartilhando o

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evangelho com esse povo e orando por suasalvação (Rm 10:1).

 A aplicação p ess oal (v. 18). "E todos nós,com o rosto desvendado, contemplando,como por espelho, a glória do Senhor, so

mos transformados, de glória em glória, nasua própria imagem, como pelo Senhor, oEspírito." Este versículo é o ponto culminante do capítulo e apresenta uma verdade tãomaravilhosa que me admira tantos cristãosnão perceberem sua presença ou, simplesmente, não fazerem caso dela. Podemoscompartilhar da imagem de Cristo e ser transformados, "de glória em glória", pelo ministério do Espírito de Deus!

Sob a antiga aliança, somente Moisés subiu ao monte e teve comunhão com Deus;mas sob a nova aliança, todos os cristãostêm o privilégio de desfrutar a comunhãocom o Senhor. Por meio de Jesus Cristo,podemos entrar no santo dos santos (Hb10:19, 20) - e nem precisamos escalar umamontanha!

O "espelho" é um símbolo da Palavra deDeus (Tg 1:22-25). Ao olhar para a Palavrade Deus e ver o Filho de Deus, o Espíritonos transforma à imagem de Deus. Noentanto, é importante não esconder coisaalguma de Deus. É preciso ser abertos ehonestos com ele sem "usar um véu".

O termo traduzido por transformados   éo mesmo usado nos relatos da transfiguração de Cristo (Mt 17; Mc 9) e traduzido portransfigurado.  Descreve uma mudança exterior resultante de um processo interior. Apalavra metamorfose   é uma transliteração

desse termo grego. A metamorfose descreve o processo pelo qual um inseto passa doestágio de larva para pupa e, posteriormente, se transforma em inseto maduro. As mudanças ocorrem de dentro para fora.

Moisés refletia  a glória de Deus, mas nósirradiamos   essa glória. Quando meditamossobre a Palavra de Deus e vemos dentro delao Filho de Deus, somos transformados peloEspírito! Tornamo-nos mais semelhantes ao

Senhor Jesus Cristo à medida que crescemos"de glória em glória". Esse processo maravi lhoso não pode ser real izado pela observân- 

mas a glória da graça de Deus continua aaumentar em nossa vida.

É importante lembrar que Paulo apresenta um contraste não apenas entre a antiga ea nova aliança, mas também entre o ministé 

rio   da antiga aliança e o ministério da graça.O objetivo do ministério da antiga aliançaera obe decer a uma norma exterior, mas essaobediência não tem poder para mudar ocaráter humano. O objetivo do m inistérioda nova aliança é nos tornar cada vez maissemelhantes a Jesus Cristo. A Lei pode noslevar a Cristo (Gl 3:24), mas somente a graçapode nos tornar semelhantes a Cristo. Os pregadores e mestres legalistas levam os ouvin

tes a se conformar com certas normas, masnão têm poder de transformá-los à semelhança do Filho de Deus.

A Lei é o meio pelo qual se realiza oministério da antiga aliança; o ministério danova aliança, por sua vez, é realizado pelo

Espírito de Deus, que usa a Palavra de Deus.(Ao falar de "Lei", não nos referimos ao Antigo Testamento, mas sim a todo o sistema legai apresentando por Moisés. Sem dúvida,o Espírito pode usar tanto o Antigo quantoo Novo Testamento para nos revelar JesusCristo.) Uma vez que foi o Espírito Santoquem escreveu a Palavra, ele pode nos instruir a respeito dela. Além disso, o Espíritohabita em nós e nos capacita a obedecermos à Palavra de todo coração. Não se tratade uma obediência legal motivada pelomedo, mas de uma obediência filial motivada pelo amor.

Por fim, o ministério da antiga aliança

redunda em escravidão, enquanto o ministério da nova aliança redunda em liberdadeno Espírito. O legalismo conden a a pessoaà imaturidade eterna, e os imaturos precisam de regras e de regulamentos para viver(ver Gl 4:1-7). Deus não deseja que seus filhos sejam obedientes por causa de um código exterior (a Lei), mas sim em função deseu caráter (que é interior). Os cristãos nãovivem debaixo da Lei, mas isso não significa

que não têm Lei alguma! O Espírito de De usescreve a Palavra de Deus em nosso coração, e obedecem os ao Pai por causa da nova

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O legalismo continua a exercer sua atração sobre as pessoas. Vemos seitas que vãoatrás de cristãos professos e de membros daigreja da mesma forma que os judaizantesdo tempo de Paulo. Devemos aprender a reconhecer essas seitas e a rejeitar seus ensina

mentos. No entanto, também há igrejas quepregam o evangelho, mas que têm a tendência legalista de perpetuar a imaturidade deseus membros, condenando-os a viver sob aculpa e o medo. Congregações desse tipogastam tempo demais se preocupando comtudo o que é exterior e deixam de tratar da

vida interior. Exaltam as regras e condenamo pecado, mas deixam de engrandecer o Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, ainda podemos ver o ministério do Antigo Testamentoem algumas igrejas do Novo Testamento.

Em seguida, Paulo explica dois aspectos

do próprio ministério: é triunfante (2 Co 1 -2) e é glorioso (2 Co 3). As duas coisas andam juntas: "Pelo que, tendo este ministério,segundo a misericórdia que nos foi feita, nãodesfalecemos" (2 Co 4:1).

Quando o ministério envolve a glória deDeus, não desistimos!

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C o r a g e m   P a r a   o s  

C o n f l i t o s

2 C o r ín t i o s 4: 1   - 5 : 8

Otema-chave desta seção é repetido em2 Coríntios 4:1 e 16: "Não desfalece

mos" e "Não desanimamos". Literalmente,Paulo está dizendo: "não entregamos os

pontos!" Na situação em que Paulo se encontrava, não faltavam motivos para o desânimo e, no entanto, o grande apóstolo nãodesistiu. O que o impediu de desanimardiante dos conflitos da vida? Ele sabia o que  possuia em Jesus Cristo!   Em vez de se queixar sobre o que não tinha, Paulo alegrou-secom o que estava a seu dispor - e podemosfazer o mesmo.

1. T e m o s   u m   m i n is t ér io   g l o r i o s o  (2 Co 4:1-6)As primeiras palavras de Paulo neste capítulo podem ser traduzidas por: "Portanto, considerando que temos este tipo   de ministério". Que tipo de ministério? O tipo descritono capítulo anterior: um ministério gloriosoque oferece às pessoas vida, salvação e justificação; um ministério capaz de transformar vidas. Esse ministério é uma dádiva que

recebemos de Deus. Ele nos é concedidopela misericórdia de Deus, não por algummérito nosso (ver 1 Tm 1:12-17).

A maneira de encarar o ministério ajudaa determinar a maneira de cumpri-lo. Se consideramos nosso serviço para Cristo um fardo, não um privilégio, trabalharemos comoescravos e faremos apenas o que é absolutamente necessário. Há quem chegue a considerar o serviço cristão um castigo de Deus.

Ao refletir sobre o fato de que era um ministro de jesus Cristo, Paulo sentia-se sobrepu jado pela graça e pela misericórdia de Deus.

4 algumas conseqüências práticas para suavida.

im ped ia o apóstolo de desistir (v. 1).Paulo confessa aos coríntios que suas provações na Ásia o haviam levado à beira dodesespero (2 Co 1:8). Apesar de seus gran

des dons e vasta experiência, Paulo era umser humano, sujeito às respectivas fragilida-des. Mas como desanimar quando estavaenvolvido num ministério tão maravilhoso?Acaso Deus teria lhe confiado esse ministério só para que fracassasse? Claro que não!O chamado divino é sempre acompanhadoda capacitação divina; Paulo sabia que Deuso sustentaria até o final.

Um pastor metodista, desanimado, escre

veu ao grande pregador escocês AlexanderWhyte para pedir seu conselho. Deveriaabandonar o ministério? "Nunca pense emdesistir de pregar!", Whyte lhe escreveu devolta. "Os anjos ao redor do trono invejamo seu trabalho maravilhoso!" Esse é o tipode resposta que Paulo teria escrito, palavrassobre as quais todos nós devemos refletirquando temos a impressão de que nossotrabalho é em vão.

Impedia o apóstolo de  se tornar um im postor (w . 2-4).  "Pelo contrário, rejeitamosas coisas que, por vergonhosas, se ocultam,não andando com astúcia, nem adulterando a Palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, napresença de Deus, pela manifestação daverdade" (2 Co 4:2). Sem dúvida, ao escrever essas palavras, Paulo está se referindoaos judaizantes. Muitos falsos mestres de

hoje afirmam que suas doutrinas são baseadas na Palavra de Deus, mas tais mestresusam a Palavra de maneira enganosa. Podemos provar qualquer coisa pela Bíblia,distorcendo as Escrituras fora de contexto erejeitando o testemunho da própria consciência. A Bíblia é uma obra literária, sobrea qual devem ser aplicadas as regras fundamentais de interpretação. Se as pessoas tratassem outros livros da maneira como tratam

a Bíblia, jamais aprenderiam coisa alguma.Paulo não tinha o que esconder, nemem sua vida pessoal nem em sua pregação

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se prestava à dissimulação nem à distorçãoda Palavra. Os judaizantes eram culpadosde distorcer as Escrituras para que se encaixassem em suas interpretações preconcebidas, e as pessoas ignorantes eram culpadasde seguir esses falsos mestres.

Se Paulo era um pregador tão fiel daPalavra, por que mais pessoas não criam emsua mensagem? Por que os falsos mestreseram tão bem-sucedidos em granjear convertidos? Porque Satanás cega a mente dopecador, e o ser humano decaído tem maisfacilidade em acreditar em mentiras do queem crer na verdade. "Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os quese perdem que está encoberto, nos quais odeus deste século cegou o entendimento

dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo,o qual é a imagem de Deus" (2 Co 4:3, 4).

Paulo já havia explicado que a mente dos judeus encontrava-se "velada" pela cegueirade seu coração (Rm 11:25; 2 Co 3:14-16). Amente dos gentios também está encoberta!Os que estão perdidos não são capazes deentender a mensagem do evangelho. Satanás não deseja que a luz gloriosa da salvação resplandeça no coração dos pecadores.

Como deus desta era e príncipe deste mundo (Jo 12:31), Satanás mantém os pecadores em trevas. O mais triste é que Satanásusa mestres religiosos (como os judaizantes)para enganar as pessoas. Muitos dos quehoje pertencem a seitas eram membros deigrejas cristãs.

Impedia o apóstolo  t/e  promover a si  mesmo (vv. 5, 6 ). O fato momentoso de Paulo ter recebido seu ministério de Cristo o impedia de desistir e de enganar, mas também

o guardava de promover a si mesmo (2 Co4:5, 6). "Porque não pregamos a nós mesmos" (2 Co 4:5). Os judaizantes gostavamde pregar sobre si mesmos e de se gabar desuas realizações (2 Co 10:12-18). Não eramservos que tentavam ajudar o povo, mas simditadores que exploravam o povo.

Sem dúvida, Paulo era um homem quepraticava a verdadeira humildade. Não confiava em si mesmo (2 Co 3:1-5), não recomendava a si mesmo (2 Co 3:1-5) nem pregava a

si mesmo (2 Co 4:5), Procurava levar aspessoas a Jesus Cristo e edificá-las na fé.Teria sido fácil Paulo formar um "fã clube"para si mesmo e se aproveitar, como os queviviam em função de associações com pessoas importantes. Era assim que os judaizan

tes agiam, mas Paulo rejeitava esse tipo deministério.O que acontece quando falamos de Je

sus Cristo aos pecadores? A luz começa aresplandecer! Paulo compara a conversãoà criação descrita em Gênesis 1:3. Como aTerra em Gênesis 1:2, o pecador encontra-se sem forma e vazio, mas quando crê emCristo, torna-se nova criatura (2 Co 5:17).Então, Deus começa a  formar  e  preencher  a vida da pessoa que crê em Cristo, e ela

passa a dar frutos para o Senhor. A injun-ção divina "Haja luz!" faz todas as coisasnovas.

2. T emos   u m t e s o u r o v a l i o s o  

(2 Co 4:7-12)Da glória da nova criação, Paulo passa àhumildade do vaso de barro. O cristão éapenas um "vaso de barro"; é o tesourodentro do vaso que lhe dá seu valor. A imagem do vaso aparece com freqüência nas

Escrituras, e podemos aprender várias liçõescom ela.Em primeiro lugar, Deus nos criou da

maneira como somos, a fim de podermosrealizar a obra que planejou para nós. Aofalar sobre Paulo, Deus afirmou: "porque esteé para mim um instrumento escolhido paralevar o meu nome perante os gentios" (At9:15). Nenhum cristão deve se queixar aDeus de sua falta de dons ou de capacidades, nem por causa de suas limitações ou

deficiências. O Salmo 139:13-16 indica quea própria estrutura genética humana está nasmãos de Deus. Cada um de nós deve aceitar a si mesmo e ser autêntico.

O mais importante sobre o vaso é serlimpo, estar vazio e disponível para o serviço. Cada um de nós deve procurar tornar-seum "utensílio para honra, santificado e útil aseu possuidor, estando preparado para todaboa obra" (2 Tm 2:21). Somos vasos paraque Deus nos use. Somos vasos de barro

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2 C O R Í N T I O S 4:1 - 5 :8 841

para que possamos depender do poder deDeus, não de nossas forças.

É preciso concentrar-se no tesouro, nãono vaso. Paulo não temia o sofrimento nemas tribulações, pois sabia que Deus guarda

ria o vaso enquanto este guardasse o tesouro (ver 1 Tm 1:11; 6:20). Deus permite astribulações; ele as controla e as usa para suaglória. Deus é glorificado por meio de vasos 

 frágeis.  J. Hudson Taylor, o missionário quelevou o evangelho ao interior da China, costumava dizer: "Todos os gigantes na fé foram homens fracos que fizeram grandescoisas por Deus, pois contaram com suapresença".

Por vezes, Deus permite que nossos vasos sejam sacudidos de modo a derramarparte do tesouro e enriquecer a outros. Osofrimento revela não apenas a fraqueza humana, mas também a glória de Deus. Nesteparágrafo, Paulo apresenta uma série deparadoxos: vasos de barro - poder divino; amorte de Jesus - a vida de Jesus; a morteem ação - a vida em ação. A mente naturalnão é capaz de compreender esse tipo deverdade espiritual, portanto não conseguecompreender como o cristão triunfa sobreo sofrimento.

Assim como se deve concentrar no tesouro, não no vaso, também se deve conce ntrar no Mestre, não no servo. Se sofremos, épor amor a Jesus. Se morremos para nossoego, é para que a vida de Cristo seja revelada em nós. Se passamos por tribulações, épara que Cristo seja glorificado. Ao servir aCristo, a morte opera em nós, mas a vida

opera naqueles para os quais ministramos.Nas palavras muito acertadas de John

Henry Jowett: "O ministério que nada custanada realiza". Certa vez, um pastor amigomeu e eu ouvimos um jovem pregar umsermão eloqüente, ao qual faltou alguma coisa. Comentei essa impressão com meu amigo e ele respondeu: "Aquilo que faltou sóaparecerá depois que o coração desse rapaztiver sido quebrantado. Depois que passar

por algum sofrimento, terá uma mensagemdigna de ser ouvida".

Os judaizantes não sofriam. Em vez de

igrejas. Em vez de se sacrificarem por seupovo, faziam o povo se sacrificar por eles(2 Co 11:20). Os falsos mestres não possuíamum tesouro para repartir. Tinham apenas algumas peças de museu da antiga aliança;

antiguidades gastas que jamais poderiamenriquecer a vida de alguém.

Sei por experiência própria que muitasigrejas não fazem idéia do preço que umpastor paga a fim de ser fiel ao Senhor e deservir a seu povo. Esta é uma de três seçõesde 2 Coríntios dedicadas a relatar os sofrimentos de Paulo. As outras duas são 6:1-10e 11:16 - 12:10: A prova do verdadeiro ministério não está em suas condecorações,

mas sim em suas escoriações. "Quanto aomais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus" (Gl 6:17).

Como perseverar? Lembrando que somos privilegiados por possuir o tesouro doevangelho em vasos de barro!

3. Temos uma fé conf iante  ( 2 C o 4 : 1 3 - 1 8 )A expressão espírito da fé  significa "atitudeou perspectiva de fé". Paulo não se refereao dom específico de fé (1 Co 12:9), mas àatitude de fé que todo cristão deve ter. Oapóstolo identifica-se com o servo de Deusque escreveu o Salmo 116:10: "Eu cria, ainda que disse: estive sobremodo aflito". Overdadeiro testemunho de Deus baseia-se nafé em Deus, a fé que vem da Palavra de Deus(Rm 10:17). Não há nada que emudeça tanto o cristão quanto a incredulidade (ver Lc1:20).

De que Paulo sentia-se tão seguro? Deque não tinha coisa alguma a temer nem davida nem da morte! Acabou de relacionaralgumas provações de sua vida e ministérioe, agora, afirma que sua fé concedeu-lhevitória em meio a todas elas. Vejamos ascertezas que o apóstolo tinha por causa de

sua fé.Estava cert o da vit ória f inal (v. 14).  Se

Jesus conquistou a morte, o último inimigo,

por que temer qualquer outra coisa? Os seres humanos fazem de tudo para sondar osentido da morte e se preparar para ela, no

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para a morte. Uma pessoa só está verdadeiramente preparada para viver quandotambém está preparada para morrer. A mensagem jubilosa da Igreja primitiva era a vitória de Cristo sobre a morte, e precisamosvoltar a essa ênfase vitoriosa. É interessante

observar, ainda, que Paulo vislumbra umareunião futura do povo de Deus ao dizerque "aquele que ressuscitou o Senhor Jesustambém nos ressuscitará com Jesus e nosapresentará convosco". A morte é o grandedivisor, mas em Cristo temos a certeza deque seu povo será reunido em sua presença(1 Ts 4:13-18).

Estava certo de que Deus seria glorifi

cado (v. 15).  Este versículo é paralelo a Romanos 8:28 e nos dá a certeza de que os

sofrimentos não são desperdiçados: Deususa a dor para ministrar a outros e tambémpara glorificar seu nome. De que maneiraDeus é glorificado em nossas tribulações?Ao nos conceder a "graça abundante" deque precisamos para manter a alegria e asforças quando vêm as dificuldades. Tudo oque começa com a graça conduz à glória(ver SI 84:11; 1 Pe 5:10).

Estava certo de que suas tribulações  cooperariam para seu bem (vv. 16, 17). 

"Não desanimamos", era o testemunho confiante de Paulo (ver 2 Co 4:1). Que importase o "ser exterior" se deteriora quando o"ser interior" experimenta renovação espiritual diária? Paulo não sugere, aqui, que ocorpo não é importante nem que devemosignorar seus sinais de aviso e necessidades.Uma vez que nosso corpo é o templo deDeus, devemos cuidar dele. No entanto, nãopodemos controlar a deterioração naturaldo corpo humano. Quando pensamos em

todas as provações físicas que Paulo suportou, não nos admiramos de ele ter escritoessas palavras.

Como cristãos, devemos viver um diade cada vez. Nenhuma pessoa, por maisrica ou competente que seja, pode viverdois dias de cada vez. Deus provê "de diaem dia", à medida que oramos a ele (Lc11:3). Ele nos dá as forças de que precisamos de acordo com o que cada dia exigede nós (Dt 33:25). Não se pode cometer o

erro de tentar "armazenar bênçãos" paraemergências futuras, pois Deus dá a graçade que precisamos, quando precisamos (Hb4:16). Quando aprendemos a viver um diade cada vez, certos do cuidado de Deus,sentimos alívio de boa parte das pressões

da vida.

De metro em metro se vive,sempre a duras penas!De centímetro em centímetro,as coisas são serenas!

Quando vivemos pela fé em Cristo, adquirimos uma perspectiva correta do sofrimento.Convém observar os contrastes que Pauloapresenta em 2 Coríntios 4:17: leve tribula

ção - peso de glória; trabalhando contra nós- trabalhando em nosso favor. O apóstolorefere-se a valores eternos. Compara as tribulações presentes com a glória futura edescobre que suas provações, na verdade,trabalham a seu favor   (ver Rm 8:18).

Não devemos interpretar esse princípioequivocadamente e pensar que o cristãopode viver como bem entender e esperarque, no final, tudo se transforme em glória.Paulo escreve sobre tribulações que sofria

dentro da vontade de Deus e enquanto realizava a obra do Senhor. Deus pode transformar o sofrimento em glória, e é exatamenteisso o que ele faz; mas Deus não pode transformar pecado em glória. O pecado deveser julgado, pois não possui glória alguma.

Deve-se relacionar 2 Coríntios 4:16 com3:18, pois os dois versículos referem-se à renovação espiritual do filho de Deus. Em simesmo, o sofrimento não tem poder paranos tornar homens e mulheres mais santos.

A menos que nos entreguemos ao Senhor,busquemos sua Palavra e confiemos que eleirá operar, o sofrimento só servirá para pre

 judicar nossa vida cristã. Em meu ministériopastoral, tenho visto pessoas que se tornamcríticas e amarguradas e que vão de mal apior, em vez de se desenvolverem "de glória em glória". Precisamos desse "espírito dafé" que Paulo menciona em 2 Coríntios 4:13.

Ele estava certo de que o mundo invisí

vel era real (v. 18).  A. W. Tozer costumava

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lembrar que o mundo invisível descrito naBíblia era o único "mundo real". Se olhássemos para o mundo visível da maneira comoDeus quer, jamais nos sentiríamos atraídospelo que oferece (1 Jo 2:15-1 7). O s grandes

homens e mulheres de fé mencionados emHebreus 11 chegaram aonde chegaram porque "viram o invisível" (Hb 11 :10 ,13 ,14 ,27 ).

As coisas deste mundo parecem tão reaisporque podemos vê-las e senti-las, mas sãotodas temporárias e estão condenadas a desaparecer. Som ente as co isas eternas da vidaespiritual permanecerão. Mas não devemoslevar essa verdade a extremos e pensar quea esfera "material" e a "espiritual" são opostas. Quando usamos as coisas materiais deacordo com a vontade de Deus, ele as transforma em coisas espirituais, que passam afazer parte de nosso tesouro no céu (falaremos mais sobre isso em 2 Co 8 - 9). Valorizamos as coisas materiais porq ue  podem serusadas para promover as coisas espirituais,não por aquilo que são em si mesmas.

Como olhar para o que é invisível? Pelafé, ao ler a Palavra de Deus. Nunca vimosCristo nem o céu, no entanto sabemos que

são reais, pois é isso o que a Palavra de Deusdiz. A fé é "a convicção de fatos que se não

vêem" (Hb 11:1). Abraão manteve-se afastado de Sodoma, pois olhou para a cidadecelestial; Ló, por outro lado, escolheu Sodoma, pois vivia de acordo com o que podiaver, e não pela fé (Gn 13; Hb 11:10).

É evidente que o mundo perdido pensaque somos estranhos - talvez até loucos -,pois insistimos na realidade de um mundo

invisível de bênçãos espirituais. Os cristãos,porém, estão dispostos a viver de acordocom valores eternos, não com preços temporários.

4. T e m o s   u m a   e s per a n ç a   (2 Co 5:1-8)"Tendo este ministério [...] Temos, porém,este tesouro [...] tendo o mesmo espírito dafé [...] temos da parte de Deus um edifício"(2 Co 4:1, 7, 13; 5:1). Que testemunho ma

ravilhoso esse de Paulo sobre a realidade dafé cristã!Esse "edifício de Deus" não é o lar celes-

sim seu corpo glorificado. Paulo fazia tendas (At 18:1-3) e, nesta passagem, usa umatenda para retratar nosso corpo aqui na Terra.A tenda é uma estrutura frágil e temporária,sem grande beleza; mas o corpo glorificado

que receberemos será eterno, belo e jamaisapresentará sinais de fraqueza ou decomposição (ver Fp 3:20, 21). Paulo via o corpohumano como um vaso de barro (2 Co 4:7)e uma tenda temporária; mas sabia que, umdia, os cristãos receberiam um corpo glorificado e maravilhoso, próprio para a glóriado céu.

É interessante acompanhar o testemunhode Paulo ao longo deste parágrafo.

Sabemos (v. 1).  Como sabemos? Sabemos porque cremos na Palavra de Deus.Nenhum cristão precisa consultar cartomantes, médiuns ou usar de recursos esotéricos

para descobrir o que o futuro lhe reserva dooutro lado da morte. Deus diz tudo o que,precisamos saber por meio de sua Palavra.A declaração de Paulo - "Sabemos" - é ligada ao "sabendo" de 2 Coríntios 4:14, que,por sua vez, diz respeito à ressurreição deJesus Cristo. Sabemos que ele está vivo; logo,

sabemos que a morte não tem poder sobrenós. "Porque eu vivo, vós também vivereis"(Jo 14:19).

Não precisamos temer, se nossa tenda("tabernáculo") se desfizer. O corpo é apenas a casa onde vivemos. Quando um cristão morre, o corpo vai para a sepultura, mas0 Espírito vai para junto de Cristo (Fp 1:2025). Quando Jesus Cristo voltar para buscaros seus, ressuscitará o corpo em glória, e o

corpo e o espírito serão reunidos para umaeternidade gloriosa no céu (1 Co 15:35-58;1 Ts 4:13-18).

Gememos (w. 2-5).  Paulo não está expressando um desejo mórbido de morrer.Na verdade, sua declaração mostra justamente o contrário: está ansioso para que JesusCristo volte, a fim de que possa "ser revestido" com o corpo glorificado. O apóstoloapresenta três possibilidades usando a ima

gem do corpo como uma tenda: (1) vivo -residindo na tenda; (2) morto - fora da tenda, "nu"; (3) revestido - a transformação do

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estar vivo na Terra quando Jesus Cristo voltasse, de modo que não precisasse experimentar a morte. O apóstolo usa uma imagemsemelhante em 1 Coríntios 15:51-58, e falasobre "gemer" em Romanos 8:22-26.

Em 2 Coríntios 5:1, refere-se ao corpo

glorificado: "temos da parte de Deus umedifício, casa não feita por mãos, eterna, noscéus", e 2 Coríntios 5:2 o chama de "nossahabitação celestial". Esta última contrasta comnosso corpo mortal, que veio do pó da terra. "E, assim como trouxemos a imagem doque é terreno, devemos trazer também aimagem do celestial" (1 Co 15:49). É importante observar que o motivo de Paulo gemer não era o fato de se encontrar em umcorpo humano, mas o fato de ansiar por ver

Jesus Cristo e de receber um corpo glorificado. Gemia pela glória!Isso explica por que a morte não é moti

vo de pavor para os cristãos. Paulo chamasua morte de "partida" (2 Tm 4:6). Um dossignificados desse termo grego é "desmontar a tenda e mudar para algo novo". Mascomo podemos estar certos de que um diateremos um novo corpo, semelhante ao corpo glorificado de nosso Salvador? Podemoster essa certeza porque o Espírito habita em

nós. Paulo fala do selo e do penhor do Espírito em 2 Coríntios 1:22 (ver também Ef 1:13,14). A presença do Espírito Santo no corpodo cristão é um "adiantamento" que garantea herança futura, inclusive um corpo glorificado. No grego moderno, o termo traduzidopor "penhor" significa "aliança de noivado".A Igreja é a noiva de Jesus Cristo, que aguarda o dia em que o Noivo virá buscá-la paraas núpcias.

Confiamos sempre (w. 6-8).  O povo deDeus está em um de dois lugares: no céu

ou na Terra (Ef 3:15). Nenhum cristão estána cova, no inferno ou em algum lugar "intermediário", entre o céu e a Terra. Os cristãos na Terra estão em sua "casa terrestredeste tabernáculo", enquanto os cristãosque faleceram "[deixaram] o corpo". Os cris

tãos na Terra estão "ausentes do Senhor",enquanto os cristãos no céu "[habitam] como Senhor".

Era essa certeza que permitia a Paulonão temer o sofrimento, as tribulações e osperigos. Isso não significa que o apóstolotentava o Senhor correndo riscos desnecessários, mas sim que estava disposto a"perder a vida" por amor a Cristo e peioministério do evangelho. Caminhava pelafé, não de acordo com o que podia ver.

Olhava para as coisas eternas invisíveis, nãopara as coisas temporais visíveis (2 Co 4:18).Para Paulo, o céu não era apenas um desti

no;  era sua motivação. Como os heróis dafé em Hebreus 11, olhava para a cidadecelestial e conduzia a vida de acordo comvalores eternos.

Ao recapitular esta seção de 2 Coríntios,podemos ver como Paulo tinha coragempara enfrentar conflitos sem perder o ânimo.Tinha um ministério glorioso que transforma

va vidas. Tinha um tesouro valioso dentrodo vaso de barro que era seu corpo e dese java compartilhar esse tesouro com um mundo falido. Tinha fé confiante que vencia omedo e uma esperança que era tanto umdestino quanto uma motivação.

Não é de se admirar que Paulo declarasse: "Somos mais que vencedores" (Rm 8:37).

Todo o que crê em Jesus Cristo tem esses mesmos bens maravilhosos e, por meiodeles, pode encontrar coragem para enfrentar os conflitos.

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essa ambição piedosa que o impelia a pregare a levar a mensagem do evangelho aondeela ainda não havia chegado. Paulo elogiaos cristãos de Tessalônica que "[diligenciaram] por viver tranqüilamente" (1 Ts4:11).Se, ao serem conduzidos pelo Espírito, os

cristãos se empenhassem tanto na vida comCristo como se esforçam nos negócios ounos esportes, o evangelho causaria impactoainda maior sobre o mundo perdido. Comodisse um recém-convertido:

- Quero ser tão zeloso para com Deusquanto era para com o diabo!

De fato, sua vida foi grandemente usadapor Deus.

Importa que todos nós compareçamos (v. 10).  Nem todo cristão tem grandes ambi

ções quanto à vida com o Senhor, mas todosterão de comparecer diante do Senhor, e otempo de se preparar para esse encontro éagora. O tribunal de Cristo é o acontecimento futuro no qual o povo de Deus ficará diante do Salvador, e suas obras serão julgadas erecompensadas (ver Rm 14:8-10). Paulo eraambicioso em seu trabalho para o Senhor,pois desejava comparecer diante de Cristoconfiante, não envergonhado (1 Jo 2:28).

O termo "tribunal" vem da palavra gre

ga bema, a plataforma encontrada nas cidades gregas onde se faziam discursos ou de

onde os magistrados comunicavam suasdecisões (ver Mt 27:19; At 12:21; 18:12).Também era o lugar do qual se distribuíamos prêmios aos vencedores dos Jogos Olímpicos. Esse "tribunal" não deve ser confundido com o "grande trono branco" do qualCristo julgará os perversos (Ap 20:11-15).Pela obra que Cristo, em sua graça, realizouna cruz, os cristãos não serão julgados porseus pecados (Jo 5:24; Rm 8:1); no entanto,terão de prestar contas de suas obras e serviços para o Senhor.

O tribunal de Cristo será um lugar derevelação, pois o termo traduzido por com

 parecer  também significa "ser revelado". Aolongo de nossa vida e trabalho aqui na Terra, é relativamente fácil esconder coisas efingir; mas o verdadeiro caráter de nossasobras será exposto diante dos olhos perscrutadores do Salvador. Ele revelará se nossas

obras foram boas ou más ("vãs"). A revelaçãoenvolverá tanto o caráter de nosso serviço(1 Co 3:13) quanto as motivações que nosimpeliram (1 Co 4:5).

Também será um lugar de  prestação de contas, no qual daremos um relatório de nos

sos ministérios (Rm 14:10-12). Se fomos fiéis,será, ainda, um lugar de recompensa  e dereconhecimento  (1 Co 3:10-15; 4:1-6). Paraos que foram leais, será uma ocasião de re

gozijo, ao glorificar ao Senhor devolvendo-lhe tais recompensas em adoração e louvor.

O desejo de receber recompensas é umamotivação legítima para servir ao Senhor?O fato de Deus prometer recompensas éprova de que essa não é uma motivaçãopecaminosa, apesar de não dever ser a maior

de todas. Assim como os pais se alegram aover os filhos conquistarem reconhecimento,também o Senhor se agrada quando seupovo é digno  de reconhecimento e derecompensa. O mais importante não é a recompensa em si, mas a alegria de agradar aCristo e de honrá-io.

Persuadimos os homens (w. 11-13).  SeDeus julga seu povo, o que será feito dosperdidos? "E, se é com dificuldade que o

 justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio,sim, o pecador?" (1 Pe 4:18). A palavra temor  não significa medo, pavor, horror. Afinal,vamos nos encontrar com nosso Salvadorque nos ama. No entanto, Paulo não fazpouco do caráter atemorizante dessa ocasião. Estaremos diante de Cristo, "e nisto nãohá acepção de pessoas" (Cl 3:23-25). Cristoordenou que levássemos o evangelho a todas as nações, e devemos lhe obedecer.Alguém perguntou ao Duque de Wellingtono que pensava das missões estrangeiras, aoque ele respondeu com outra pergunta: "Oque o Comandante lhe ordenou?"

De que maneira o cristão pode se preparar para o tribunal de Cristo? Em primeirolugar, devemos manter a consciência pura(2 Co 5:11). Sem dúvida, alguns dos inimigos de Paulo em Corinto diziam: "Esperematé Paulo se ver diante do Senhor!" MasPaulo não tinha medo, pois sua consciênciaestava limpa (ver 2 Co 1:12). A verdade arespeito de cada um de nós será revelada, e

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Jesus Cristo nos elogiará por aquilo que lheagradou.

Em segundo lugar, devemos ter cuidadopara não depender do louvor dos homens(2 Co 5:12). Este versículo é relacionado a2 Coríntios 3:1, em que Paulo refere-se às

"cartas de recomendação" que os judaizan-tes tanto estimavam. Se vivemos apenas emfunção do louvor dos homens, não receberemos o louvor de Deus no tribunal de Cristo. Buscar apenas a apreciação humana éexaltar a reputação acima do caráter, e, diante de Cristo, o caráter é que contará. Naverdade, os coríntios deveriam elogiar Paulo! Em vez disso, "promoviam" os judaizan-tes, que se gloriavam nas aparências (ver 2 Co11:18), mas que não possuíam um coração

espiritual.Por fim, devemos ignorar a crítica dos

homens (2 Co 5:13). Os inimigos de Pauloo consideravam louco. O apóstolo afirmouque havia agido como um ensandecido aoperseguir a Igreja (At 26:11), mas seus inimigos diziam que havia perdido o juízo desdesua conversão (At 26:24). No entanto, também houve quem dissesse que Jesus Cristoera louco, de modo que Paulo estava emboa companhia (ver Mc 3:21). Em outras

palavras, o apóstolo diz: "Se eu sou louco, épara seu bem e para a glória de Deus, portanto, vale a pena!"

Quando Dwight L. Moody ministrava naEscola Bíblica Dominical que organizou na igre

 ja em Chicago, as pessoas costumavam chamá-lo de "Moody, o Maluco". Aos olhos domundo que não conhecia a salvação, M oodyera "maluco" de haver abandonado um negócio bem-sucedido para trabalhar em umaEscola Bíblica Dominical e evangelizar; mas

o tempo mostrou que sua decisão foi sábia.Hoje, não nos lembramos do nome das pessoas que zombaram dele, mas conhecemosD. L. Moody e nos recordamos dele comgrande respeito.

Todo cristão deve examinar a própriavida com freqüência, a fim de averiguar seestá pronto para o tribunal de Cristo. O desejo de apresentar um bom relatório paraCristo é uma motivação justa para o serviço cristão.

2 . O a m o r   d e   C r i s t o  

(2 Co 5:14-17)Como é possível emoções tão opostas quanto o temor e o amor habitarem no mesmocoração? Sem dúvida, podem ser encontradas no coração dos filhos que amam os pais,

no entanto os respeitam e acatam sua autoridade. "Servi ao S e n h o r   com temor e alegrai-vos nele com tremor" (SI 2:11).

A expressão "o amor de Cristo" significaamor por nós no contexto de sua mortesacrifical. "Nós amamos porque ele nosamou primeiro" (1 Jo 4:19). Ele nos amouquando não éramos dignos de ser amados,quando éramos ímpios, pecadores e seusinimigos (ver Rm 5:6-10). Quando morreuna cruz, Cristo provou seu amor pelo mun

do (Jo 3:16), pela igreja (Ef 5:25) e pelospecadores como indivíduos (Gl 2:20). Aorefletir sobre os motivos pelos quais Cristomorreu, não podemos fazer outra coisa senão amá-lo também.

Ele mor reu para que mor rêssemos (v. 14).  O tempo do verbo confere-lhe o sentido de "então, todos morreram", uma verdade explicada em mais detalhes em Romanos6, que trata da identificação do cristão comJesus Cristo. Quando Cristo morreu, mor

remos nele e com ele. Portanto, a antigavida não deve ter poder algum sobre nóshoje. "Estou crucificado com Cristo" (Gl2:19).

M orreu para que vivêssemos (w . 15-17).Este é o aspecto positivo de nossa identificação com Cristo: não apenas morremoscom ele, mas também fomos ressuscitadoscom ele para que pudéssemos andar em"novidade de vida" (Rm 6:4). Uma vez quemorremos com Cristo, vencemos o pecado

e, uma vez que vivemos com Cristo, podemos dar frutos para a glória de Deus (Rm7:4).

Ele morreu para que vivêssemos  por  meio  dele: "Deus [enviou] o seu Filho unigénito ao mundo, para vivermos por meiodele" (1 Jo 4:9). Essa é nossa experiência desalvação, a vida eterna pela fé em Jesus Cristo. Mas também morreu para que vivêssemos  para  ele, não para nós mesmos (2 Co5:15). Esta é nossa experiência de serviço.

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848 2 CORÍNTIOS 5:9-21

Alguém disse bem que "Cristo morreu pelos nossos pecados para que pudéssemosviver a vida dele para ele". Como é possívelum pecador que recebeu a salvação continuar vivendo de maneira egoísta?

Em 1858, Francês Ridley Havergal visi

tou a Alemanha com o pai, que se tratavade um problema nos olhos. Durante suaestadia na casa de um pastor, viu um crucifixo na parede e, logo abaixo dele, as palavras: "Fiz isto por ti. O que fizeste por mim?".Mais que depressa, pegou um pedaço depapel e escreveu um poema baseado nessas palavras; no entanto, não gostou do quehavia escrito e jogou o papel na lareira. Opapel permaneceu intocado! Posteriormente, seu pai a incentivou a publicar o que

havia escrito, e hoje cantamos essas palavras com uma música composta por PhillipP. Bliss.

Morri na cruz por tiMorri pra te livrarMeu sangue, sim, vertiE posso te salvar.Morri, morri na cruz por tiQue fazes tu por mim?

Cristo morreu para que vivêssemos por meio dele e  para ele, e também para que vivêssemos com ele, "que morreu por nós para que,quer vigiemos, quer durmamos, vivamos emunião com ele" (1 Ts 5:10). Por causa doCalvário, os cristãos vão para o céu vivercom Cristo para sempre!

Ele morreu para que pudéssemos morrer e para que pudéssemos viver. Mas morreutambém para que pudéssemos  participar da nova criação  (2 Co 5:16, 17). Nosso novo

relacionamento com Cristo nos leva a desenvolver uma nova relação com o mundoe com as pessoas ao nosso redor. Não enca

ramos mais a vida como antes.  Conhecer aCristo "segundo a carne" significa avaliá-lodo ponto de vista humano. Mas os "dias dasua carne" já passaram (Hb 5:7), pois elesubiu ao céu e se encontra glorificado àdestra do Pai.

Adão foi o cabeça da antiga criação, eCristo (o último Adão, 1 Co 15:45) é o Cabeça

da nova criação. A antiga criação caiu empecado e em condenação como resultadoda desobediência de Adão. A nova criaçãorepresenta retidão e salvação por causa daobediência de Jesus Cristo (ver Rm 5:12-21para uma explicação sobre o primeiro e o

último Adão). Uma vez que fazemos parteda nova criação, tudo é novo.Em primeiro lugar, temos uma nova vi

são de Cristo. Infelizmente, a música e a arteenfatizam excessivamente Cristo "segundoa carne". Os fatos relacionados à vida deJesus aqui na Terra são importantes, pois amensagem cristã é fundamentada na história. No entanto, devemos interpretar a man

 jedoura à luz do trono. Não adoramos obebê em uma manjedoura, mas sim o Salva

dor glorificado no trono.Uma vez que todas as coisas "se fizeram novas", também desenvolvemos umanova maneira de olhar as pessoas ao nossoredor. Passamos a vê-las como pecadoraspelas quais Cristo morreu. Não as vemosmais apenas como amigas ou inimigas, clientes ou colegas de trabalho; antes, as vemoscom os olhos de Cristo, como ovelhas perdidas que precisam de um pastor. Quandosomos constrangidos pelo amor de Cristo,

temos o desejo de compartilhar esse amorcom outros.Durante uma eleição presidencial parti

cularmente controversa, um dos líderes daigreja apareceu na Escola Bíblica Dominicalcom um broche na lapela promovendo umdos candidatos. O pastor o deteve e aconselhou que não usasse o broche enquantoestivesse na igreja.

- Por quê? Afinal ele é um excelentecandidato! - argumentou o homem.

- Suponhamos, porém, que um membro não cristão do outro partido veja o broche - disse o pastor. - Será que isso não oincomodará e servirá de empecilho para queouça a Palavra e seja salvo?

Com certo mau humor, o homem tirouo broche e, por fim, abriu um sorriso e comentou:

- Creio que preciso me lembrar de queas pessoas não são republicanas ou democratas. São pecadoras que precisam de um

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Salvador, e isso é mais importante do quevencer as eleições.

No entanto, também devemos olhar paraos demais cristãos como parte da nova criação e não os avaliar de acordo com seu ní

vel de instrução, raça, situação financeira ouclasse social. "Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto;nem homem nem mulher; porque todos vóssois um em Cristo Jesus" (Cl 3:28).

3 . A c o m i s s ã o   d e  C r is t o  (2 Co 5:18-21)A idéia central deste parágrafo é a reconci liação. A rebelião do homem tornou-o inimi

go de Deus e rompeu sua comunhão comele. Por intermédio da obra que realizou nacruz, Jesus Cristo reconciliou Deus e o homem, e, num gesto amoroso, Deus voltousua face para o mundo. O significado básico do termo grego traduzido por "reconciliar" é "mudar completamente". Refere-se aum relacionamento transformado entre Deuse o mundo perdido.

Deus não precisa se reconciliar com ohomem, pois isso já foi feito por Cristo nacruz. É o homem pecador que precisa se reconciliar com Deus. A "religião" é a tentativa medíocre do ser humano de se reconciliarcom Deus, uma série de esforços condenados ao fracasso. A Pessoa que nos reconcilia com Deus é Jesus Cristo, e o lugar dessareconciliação é a cruz.

Outra idéia importante desta seção é aimputação.  Trata-se de um termo da áreafinanceira e que significa, simplesmente, "co

locar na conta de alguém". Quando fazemos um depósito bancário, o computador(ou o funcionário) transfere esse valor paranossa conta ou crédito. Quando Jesus morreu na cruz, todos os pecados lhe foramimputados, ou seja, foram colocados em suaconta. Cristo foi tratado por Deus como sehouvesse, de fato, cometido esses pecados.

Em decorrência disso, todos esses pecados foram pagos, e Deus não nos condena

por eles, pois cremos em Cristo como Salvador. Além disso, Deus deposita a justiça deCristo em nossa conta! "Aquele que não co

para que, nele, fôssemos feitos justiça deDeus" (2 Co 5:21).

A reconciliação baseia-se na imputação:tendo em vista que os requisitos da Lei santa de Deus foram todos preenchidos na cruz,

Deus pode ser reconciliado com os pecadores. Os que crêem em Jesus Cristo comoSalvador jamais terão os pecados imputadoscontra eles outra vez (SI 32:1, 2; Rm 4:1-8).No que diz respeito a seus registros, têmparte na justiça de Jesus Cristo!

Encontramos uma bela ilustração dessaverdade na pequena carta que Paulo escreveu a seu amigo Filemom. Onésimo, o escravo de Filemom, roubou algo de seu senhor

e fugiu para Roma. Onésimo poderia tersido crucificado por seus crimes, mas, pelaprovidência de Deus, encontrou Paulo e seconverteu. Paulo escreveu a Epístola a Filemom para encorajar seu amigo a perdoarOnésimo e recebê-lo de volta. "Recebe-o,como se fosse a mim mesmo" (Fm 17); "E,se algum dano te fez ou se te deve algumacoisa, lança tudo em minha conta" (Fm 18).Paulo estava disposto a pagar a conta (im 

putação ) para que Onésimo e Filemom se

reconciliassem.Como essa doutrina maravilhosa da re

conciliação nos serve de motivação paraservir a Cristo? Somos embaixadores comuma mensagem. Deus nos incumbiu do ministério e da palavra de reconciliação (2 Co5:18, 19).

O império romano possuía províncias dedois tipos: as províncias senatoriais, constituídas de povos pacíficos, que não se en

contravam em guerra com Roma. Haviamse rendido e se sujeitado ao imperador. E asprovíncias imperiais, que não eram pacíficas;representavam um perigo, pois, se tivessemoportunidade, certamente se rebelariamcontra Roma. Assim, Roma precisava enviarembaixadores a essas províncias com freqüência, a fim de garantir que tais rebeliõesnão ocorreriam.

Uma vez que os cristãos são embaixa

dores de Cristo, isso significa que este mundo encontra-se rebelado contra o Senhor.No que se refere a Deus, o mundo é uma

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seus embaixadores para declarar paz, e nãoguerra. "Rogamos que vos reconcilieis comDeus". Somos representantes de Jesus Cristo (Jo 20:21; 2 Co 4:5). Se os pecadores nosrejeitam e à nossa mensagem, na verdade éa Jesus Cristo que estão rejeitando. Que gran

de privilégio ser embaixadores do céu paraos pecadores rebeldes deste mundo!

Quando eu ainda era um jovem pastor,às vezes sentia vergonha de fazer visitas ede confrontar as pessoas com a verdade deCristo. Então, me ocorreu que, como embaixador do Rei dos reis, eu era, de fato, extremamente privilegiado! Não havia motivopara me envergonhar. Na realidade, as pessoas a quem eu visitava deveriam sentir-se

gratas por um dos embaixadores de Cristoprocurá-las!

Deus não declarou guerra contra o mundo; a cruz foi sua declaração de paz. Umdia, porém, o Senhor irá declarar   guerra e,então, será tarde demais para os que rejei

taram o Salvador (2 Ts 1:3-10). Satanás procura destruir tudo neste mundo, mas Cristoe sua Igreja realizam um ministério de reconciliação, reintegrando todas as coisas econduzindo-as de volta a Deus.

O ministério não é uma tarefa simples.A fim de ter sucesso, devemos ser motivados pelo temor de Cristo, o amor de Cristoe a comissão que recebemos dele. Que grande privilégio é servir ao Senhor!

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6

D e  C o r a ç ã o  

P a r a   C o r a ç ã o

2 CORÍNTIOS 6 - 7

Estes dois capítulos encerram, de modosincero e honesto, a explicação de Pau

lo acerca de seu ministério. O apóstolo dizaos leitores que, apesar das tribulações, ti

nha um ministério vitorioso (2 Co 1 - 2) eglorioso (2 Co 3) e que não poderia sequerpensar em desistir. Seus inimigos o haviamacusado de usar o ministério em benefíciopróprio, mas ele havia provado que seu ministério havia sido sincero (2 Co 4) e fundamentado na fé em Deus (2 Co 5). Restaagora, apenas, desafiar o coração dos corín-tios e assegurá-los de seu amor; e é isso o queo apóstolo faz com grande amor por meio

de três apelos.

1. Um p e d i d o   d e   a p r e c i a ç ã o  

(2 Co 6:1-10)A obra Principies o f psych ology [Princípios de psicologia ],  de William James, foi considerada um clássico e, sem dúvida, foi umtrabalho pioneiro em sua área. Mas o autorreconheceu que seu livro sofria de uma"enorme omissão". De acordo com ele: "O

princípio mais profundo da natureza humana é o anseio por apreciação"; no entanto, James não trata desse princípio emsua obra.

Ao ler 2 Coríntios, temos a forte impressão de que a igreja não dava o devido valorao ministério que Paulo havia realizado entre eles. Deviam estar defendendo o apóstolo, mas, em vez disso, o obrigavam a sedefender. Os coríntios vangloriavam-se dos

 judaizantes que invadiram a igreja, no entanto esses falsos mestres não fizeram coisaalguma por eles. Assim, Paulo os lembra do

Pauloi, o evangel ista (vv. 1, 2).   Paulo équem havia chegado a Corinto com as boasnovas do evangelho e, por meio de seu ministério, fundara a igreja de Corinto. Haviacumprido seu papel de "embaixador" descrito em 2 Coríntios 5:18-21. Os coríntios

foram levados a Cristo por Paulo, não pelos judaizantes.Mas Paulo não estava certo de que to

dos na igreja que se diziam salvos eram, defato, filhos de Deus (ver 2 Co 13:5). Em seuapelo para receber a graça de Deus, o apóstolo cita Isaías 49:8. Como resultado da obrareconciliadora de Cristo na cruz (2 Co 5:18,19), hoje é, verdadeiramente, "o dia da salvação". Não há garantia alguma de que qual

quer pecador terá oportunidade de ser salvoamanhã. "Buscai o S e n h o r   enquanto se podeachar" (Is 55:6).

Um pastor conversava com uma moçaque insistia que tinha tempo de sobra paratomar uma decisão sobre Jesus Cristo. Elelhe deu uma folha de papel e perguntou:

- Você assinaria uma declaração de questá disposta a adiar sua salvação por umano?

Ela respondeu que não. Seis meses? Também não. Um mês? Hesitou, mas a respostafoi não outra vez. Então, ela começou a perceber a insensatez de sua argumentação,pois a garantia da oportunidade de salvação era apenas  para o dia de ho je;  assim,entregou a vida a Cristo sem demora.

Paulo > o exemplo (vv. 3-10).  Um dosgrandes obstáculos para o avanço do evangelho é o péssimo exemplo dado por pes

soas que se dizem cristãs. Os incrédulosgostam de usar as incoerências dos cristãos- especialmente pastores - como desculpapara rejeitar Jesus Cristo. Paulo tinha o cuidado de não fazer coisa algum que pudesseservir de tropeço tanto a incrédulos quantoa cristãos (ver Rm 14). Não desejava queseu ministério fosse desacreditado ("censurado") de qualquer maneira por causa dealgo em sua vida.

O apóstolo lembra os leitores das  provações que suportou por eles  (2 Co 6:4, 5).Havia passado por tudo com paciência e

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dificuldades. As aflições são tribulações quenos pressionam, circunstâncias que pesamsobre nós. As  privações  são as dificuldadesdiárias da vida, e as angústias  são as experiências que nos colocam contra a parede eque nos deixam sem saída. O termo grego

significa "um lugar estreito".No entanto, mesmo os não salvos passam por esse tipo de experiência, de modoque Paulo relaciona algumas das tribulaçõesque sofreu por causa da oposição de outros: açoites, prisões e tumultos. Tais coisaslhe sobrevieram em função de seu serviçofiel ao Senhor. Em seguida, cita os sacrifícios que fez voluntariamente por amor aoministério: trabalhos {labores fatigantes), vigílias (noites insones) e jejuns (privar-se

deliberadamente de alimentos). É evidenteque Paulo não havia anunciado tais coisaspublicamente. O apóstolo só as mencionanesta epístola aos coríntios para deixar claro seu amor por eles.

Além disso, os lembra dos instrumentosque usara em seu ministério (2 Co 6:6, 7).Pureza  significa "castidade" (ver 2 Co 11:2).Longanimidade  refere-se à paciência compessoas difíceis, enquanto a paciência (2 Co6:4) diz respeito à capacidade de suportar

circunstâncias difíceis. Paulo dependeu dopoder do Espírito para manifestar os frutosdo Espírito como bondade e amor sincero.Usou a Palavra de Deus para transmitir conhecimento espiritual e vestiu a armadurade Deus (ver Ef 6:1 Oss) para se proteger dosataques de Satanás.

Por fim, lembra seus leitores do seu tes

temunho  (2 Co 6:8-10), relacionando umasérie de paradoxos, pois sabia que nem todos o compreendiam, nem a seu ministério.

Os inimigos de Paulo haviam relatado que oapóstolo era um enganador sem honra alguma. No entanto, Deus havia declarado quePaulo era um homem honrado e sincero.Muitos sabiam quem Paulo era, mas poucos o conheciam de fato.

Paulo teve de pagar um alto preço paraser fiel em seu ministério! No entanto, oscoríntios não deram o devido valor ao queo apóstolo havia feito por eles. Entristeceram o coração dele, mas, ainda assim, ele

permaneceu "sempre alegre" em Jesus Cristo. Tornou-se pobre para que pudessem serricos (ver 1 Co 1:5; 2 Co 8:9). O termo grego traduzido por "pobre" significa "penúriacompleta, como aquela de um mendigo".

Paulo estava errado em pedir a aprecia

ção dos coríntios? Creio que não. Muitasigrejas têm a tendência de não valorizar oministério sacrifical de seus pastores, missionários e líderes fiéis. Paulo não exigia louvores para si, mas sim lembrava seus amigosem Corinto que havia pago um alto preçopara lhes ministrar.

E evidente que, com todo esse testemunho pessoal, Paulo refutava as acusaçõesmaliciosas dos judaizantes. Acaso e/es haviam sofrido por amor ao povo de Corinto?

Que preço e/es haviam pago para lhes ministrar? Como a maioria dos líderes de seitashoje em dia, esses falsos mestres roubavamos frutos do trabalho alheio em vez de procurar ganhar seus próprios convertidos.

Alguém disse bem que: "O único lugarem que podemos encontrar 'gratidão' é nodicionário". Demonstramos gratidão aos quenos ministram?

2 . U m a   s ú p l i c a   p o r   s e p a r a ç ã o  

(2 Co 6 :1 1 - 7 : 1 )Apesar de todos os problemas e tristezas quea igreja lhe causou, Paulo ainda amava profundamente os cristãos de Corinto. Falou-lhes com franqueza e amor, e agora lhespedia com toda ternura que abrissem o coração para ele. Sentiu-se como um pai cujosfilhos o privassem do amor que merece (ver1 Co 4:15).

Essa falta de amor por Paulo devia-se aocoração dividido dos coríntios. Faísos mes

tres roubaram o coração deles, arrefecendoseus sentimentos para com o apóstolo. Eramcomo uma filha noiva, prestes a se casar,que fora seduzida por um pretendente indigno (ver 2 Co 11:1-3). Os coríntios faziamconcessões desonrosas ao mundo, de modoque Paulo suplica que se separem para Deus,da mesma forma que uma esposa fiel reserva-se para o marido.

Infelizmente, nos últimos anos, a doutrina importante e essencial da separação tem

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sido mal-entendida e aplicada indevidamente. Em seu zelo excessivo, alguns cristãos sinceros transformaram a separação emisolamento, a ponto de criar uma comunhão tão restrita que não são capazes de

conviver uns com os outros. Em uma reação a esse radicalismo, há quem vá paraoutro extremo, derrubando todas as barreiras e tendo comunhão com qualquer um,sem levar em consideração as convicçõesou o estilo de vida dos outros. Apesar desua prática do amor cristão ser louvável,não podemos nos esquecer que até mesmo o amor cristão deve usar de discernimento (Fp 1:9-11).

Paulo apresenta três argumentos paratentar convencer esses cristãos de que devem manter-se separados daquilo que é contrário à vontade de Deus.

A na tureza do cristão (vv. 14-16).  É anatureza que determina a associação. Umavez que o porco tem a natureza de porco,associa-se com outros porcos no chiqueiro.Uma vez que a ovelha tem a natureza deovelha, rumina o capim junto com o rebanhono pasto. O cristão possui natureza divina

(2 Pe 1:3, 4), portanto, deve ter o desejo dese associar com o que agrada ao Senhor.

O conceito de "jugo desigual" vem deDeuteronômio 22:10: "Não lavrarás com

 junta de boi e jumento". O boi era um animal limpo para o povo de Israel, enquanto o

 jumento era impuro (Dt 14:1-8); seria errado, portanto, colocar ambos debaixo domesmo jugo. Além disso, esses animais possuem naturezas opostas e sequer são ca

pazes de trabalhar adequadamente emconjunto. Seria cruel atá-los um ao outro.Do mesmo modo, é errado o cristão encontrar-se sob o mesmo jugo que os incrédulos.

É importante observar os substantivosque Paulo usa: sociedade, comunhão, har

monia  e união . Cada uma dessas palavrasrefere-se à presença de algo em comum. Otermo "concórdia" (ou harmonia)  dá origema nossa palavra "sinfonia" e se refere à bela

música resultante quando os músicos lêema mesma partitura e seguem o mesmo regente. Que confusão seria se cada músico

Nessas palavras, vemos o que Deus anseia para seu povo. Ele deseja que comparti

lhemos uns com os outros (sociedade) e quetenhamos em comum   (comunhão) as bênçãos da vida cristã. Deseja que desfrutemos

harmonia  e união  ao viver e trabalhar juntos. Quando tentamos andar com o mundoe com o Senhor ao mesmo tempo, rompemos a comunhão espiritual e criamos discórdia e divisão.

Paulo vê um contraste gritante entre cristãos e não cristãos: justiça e iniqüidade; luze trevas; Cristo e o Maligno; crente e incrédulo; o santuário de Deus e os ídolos. Comoseria possível unir esses opostos? A próprianatureza do cristão requer que seja separado do que é profano. Quando uma pessoasalva se casa com uma pessoa não salva,cria uma situação impossível, e o mesmo seaplica às sociedades nos negócios e à "comunhão" religiosa.

Convém observar que, em 2 Coríntios6:16, o pronome é plural: nós.  Assim, Paulo está se referindo à igreja local como umtodo, não ao cristão individual, como nocaso de 1 Coríntios 6:19, 20. Deus habita

na igreja local, pois os cristãos são o povode Deus (ver Êx 6:7; 25:8; Lv 26:12; Ez37:26, 27). Quando a igreja local abre mãode seu testemunho, é como se o templofosse profanado.

A ordem das Escrit uras (v. 17).  Grandeparte desta citação é de Isaías 52:11, mastambém há paralelos em Ezequiel 20:34, 41.Isaías refere-se à nação cativa deixando aBabilônia e voltando para a própria terra, mas

a aplicação espiritual diz respeito à separação do povo de Deus hoje.

A ordem de Deus para seu povo é "retirai-vos", indicando um ato decisivo da partedeles. "Separai-vos" sugere devoção a Deuscom um propósito especial. A separação nãoé apenas um ato negativo de se retirar. Devemos nos separar do   pecado e  para   Deus."Não toqueis coisas impuras" é uma advertência quanto à contaminação. Para os

israelitas do Antigo Testamento, tocar umcadáver ou ter qualquer contato com o fluxo de uma ferida inflamada provocava a

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hoje não se contamina espiritualmente pelotoque, mas o princípio é o mesmo. Nãodevemos nos associar com o que pode comprometer nosso testemunho ou nos levar àdesobediência.

O preceito divino da separação pode ser

encontrado ao longo de todas as Escrituras.Deus advertiu Israel a não se misturar comas nações pagãs na terra de Canaã (Nm33:50-56); no entanto, os israelitas desobedeceram repetidamente à sua Palavra eforam disciplinados por causa disso. Os profetas suplicaram ao povo incessantementepara que deixassem os ídolos pagãos e sededicassem inteiramente ao Senhor. Por fim,Deus teve de enviar Israel para o cativeirona Assíria e Judá para o cativeiro na Babi

lônia. Jesus rejeitou a falsa "separação" dosfariseus, advertiu os discípulos sobre o fermento (falsa doutrina) dos fariseus e sadu-ceus e orou pedindo que Deus os guardasseda contaminação do mundo (Mt 16:6, 11;Jo 17:14-17).

Em suas cartas às igrejas, os apóstolostambém enfatizaram a pureza doutrinária epessoal. O cristão pode estar no mundo, masdeve cuidar para não se tornar como o mundo. A Igreja também deve se separar dos

que rejeitam a doutrina dada por Cristo eos apóstolos (Rm 12:1, 2; 16:17-20; Cl 3:1,2; 1 Tm 6:10, 11; Tt 2:14; 1 Pe 4:3-6; 1 Jo4:6). Até mesmo no Livro de Apocalipsepodemos encontrar uma ênfase sobre a importância de o povo de Deus separar-se doque é falso e contrário à vida de santidade(Ap 2:14-16, 20-24; 18:4ss).

Em nosso desejo de manter a purezadoutrinária e pessoal, não devemos nos tornar egocêntricos a ponto de ignorar os necessitados a nosso redor. Jesus foi "santo,inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus" (Hb7:26), no entanto, foi "amigo de publicanose pecadores!" (Lc 7:34). Como um médicoexperiente, devemos praticar o "contato semcontaminação". De outro modo, acabaremos nos isolando das pessoas para as quaismais precisamos ministrar.

 A promessa de bênção de Deu s (6:17 -  7:1). Quando cremos em Jesus Cristo como

Salvador, Deus se torna nosso Pai, mas nãopode ser um Pai  para nós, a menos que lheobedeçamos e que tenhamos comunhãocom ele. Deus anseia por nos receber emamor e nos tratar como seus filhos e filhasqueridos. A salvação significa que comparti

lhamos a vida do Pai, mas a separação significa que desfrutamos plenamente o amor doPai. Jesus prometeu esse amor mais profundo em João 14:21-23.

Deus abençoa os que se separam dopecado e para o Senhor. Abraão deixou Urdos caldeus, e Deus o abençoou. Então, emum ato de transigência, Abraão foi para oEgito, e Deus teve de discipliná-lo (Gn 11:31- 12:20). Enquanto Israel se manteve separado das nações pecadoras de Canaã, Deus

o abençoou; mas, depois que começou ase misturar com os pagãos, Deus teve dediscipliná-lo. Tanto Esdras quanto Neemiasprecisaram ensinar ao povo novamente oque significava manter-se separado (Ed 9 -10; Ne 9:2; 10:28; 13:1-9, 23-31).

Todos temos algumas responsabilidadesespirituais decorrentes das promessas queDeus nos dá em sua graça (2 Co 7:1). Devemos nos purificar, de uma vez por todas, detudo o que nos contamina. Não basta pedira Deus que nos purifique. Devemos limpara vida e nos livrar do que contribui para opecado. Nenhum cristão pode julgar o irmão ou irmã; cada um sabe dos problemasno próprio coração e vida.

Muitas vezes, os cristãos tratam dos sintomas, não das causas. Confessamos repetidamente os mesmos pecados, pois nãochegamos à raiz do problema para nos purificar. Talvez haja alguma "concupiscênciada carne", algum "pecado de estimação"que alimenta a velha natureza (Rm 13:14).Ou talvez se trate de alguma "torpeza doespírito", uma atitude pecaminosa. O filhopródigo cometeu pecados da carne, masseu irmão mais velho "virtuoso" cometeupecados do espírito. Não era sequer capazde se relacionar com o próprio pai (ver Lc15:1 1-21).

No entanto, nossa purificação é apenasmetade da responsabilidade; também devemos "[aperfeiçoar] a nossa santidade no

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temor de Deus" (2 Co 7:1). Trata-se de umprocesso constante, à medida que crescemos na graça e no conhecimento (2 Pe 3:18).É importante ser equilibrados. Os fariseuseram zelosos quanto à purificação, mas não

se dedicavam a aperfeiçoar sua santidade.Mas é tolice tentarmos aperfeiçoar a santidade, se ainda há pecados manifestos emnossa vida.

Paulo pediu apreciação e separação e,agora, faz um último apelo em sua tentativade recuperar o amor e a devoção dos cristãos de Corinto.

3. Um p e d i d o d e r e c o n c i l i a ç ã o  

(2 Co 7:2-16)"Alarga-se o nosso coração"; "Dilatai-vos também vós" (2 Co 6:11, 13). "Acolhei-nos emvosso coração" (2 Co 7:2). "Andarão dois

 juntos, se não houver entre eles acordo?"(Am 3:3). Se os coríntios purificassem a vidae a congregação, Deus os receberia (2 Co6:1 7) e poderiam voltar a ter comunhão comPaulo.

A ênfase desta seção é sobre o modode Deus encorajar Paulo depois de o apóstolo ter passado por tantas provações na Ásiae em Trôade (ver 2 Co 1:8-10; 2:12, 13). Naverdade, esses versículos apresentam trêspalavras de estímulo.

Paulo encoraja a igreja (w . 2-4). A igrejahavia recebido Tito; agora, deveria receberPaulo (2 Co 7:13). Paulo pede que confiemnele, pois nunca lhes fez nenhum mal. Semdúvida, trata-se de uma referência aos falsosmestres que acusaram Paulo, especialmente

no caso do termo explorar  (ver 2 Co 11:20).A oposição o acusava de se apropriar indevidamente do dinheiro da oferta missionária.

Por que é tão difícil convencer as pessoas de que as amamos? O que mais Paulopoderia fazer para persuadi-los? Estava disposto a morrer por eles, se fosse necessário,pois os levava em seu coração (ver 2 Co3:1 ss; 6:11-13). Gabava-se deles a outros("muito me glorio por vossa causa"), mas eles

o criticavam.Mas, apesar desses problemas, Paulo tinha motivos de sobra para encorajar a igreja,

e havia surgido a oportunidade de restabelecer os vínculos e restaurar a comunhão.Isso nos leva à segundo palavra de estímulo.

Tito encoraja Paulo (w . 5-10).  O primeiro encorajamento que Paulo recebeu foi re

encontrar Tito depois de passarem algumtempo separados. Naquele tempo, não erafácil comunicar-se nem viajar, e Paulo tevede depender da providência de Deus paraque seus planos quanto à visita de Tito aCorinto funcionassem. (Mesmo como nossos meios de transporte e de comunicaçãomodernos, continuamos dependendo daprovidência de Deus.)

No entanto, Paulo também foi encora jado pelo relato de Tito acerca de sua recepção pela igreja de Corinto. Os coríntiosleram a "carta dolorosa" de Paulo, arrependeram-se de seus pecados e disciplinaramos membros que haviam criado problemas.Infelizmente, algumas versões da Bíblia traduzem duas palavras gregas como "arrepender", pois cada uma delas tem significadodiferente. O termo "arrependo", em 2 Coríntios 7:8, significa "lamento"; o "arrependimento", em 2 Coríntios 7:10, quer dizer"ser contristado".

Paulo havia escrito uma carta severa aoscoríntios e lamentava ter sido obrigado afazê-lo. Mas a carta cumprira seu propósito,eles haviam se arrependido, e Paulo alegrou-se com isso. Seu arrependimento não foiapenas um "remorso" passageiro; foi umentristecimento piedoso por seus pecados."Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a nin

guém traz pesar; mas a tristeza do mundoproduz morte" (2 Co 7:10). Essa diferençafica clara no contraste entre judas e Pedro.Judas "se arrependeu" (se encheu de remorso) e cometeu suicídio, enquanto Pedro chorou e se arrependeu verdadeiramente de suaqueda (Mt 26:75 - 27:5).

Os cristãos precisam se arrepender? Jesus diz que sim (Lc 17:3, 4), e Paulo concordacom ele (2 Co 12:21). Dentre sete igrejas da

Ásia Menor relacionadas em Apocalipse 2 e3, quatro foram chamadas ao arrependimento. Arrepender-se significa, simplesmente,

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os cristãos desobedientes precisam arrepender-se, não a fim de receber a salvação, masde restaurar sua comunhão mais íntima comDeus.

Os coríntios encorajaram Tito (w. 11-16).  Esforçaram-se ao máximo para fazer a

vontade de Deus. Em primeiro lugar, receberam Tito e o revigoraram com sua comunhão (2 Co 7:13). Alegraram seu coraçãoao mostrar que tudo o que Paulo havia ditoa respeito deles era verdade. Aceitaram amensagem de Paulo e tomaram as providências necessárias;

Em 2 Coríntios 7:11, Paulo descreve amaneira de tratarem a questão da disciplina. "Porque quanto cuidado não produziuisto mesmo em vós que, segundo Deus,

fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo,que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto." Paulo animou-se quando Tito lhe contou como os coríntioshaviam se arrependido e mostrado zelo epreocupação em fazer o que era certo. Paulo

garantiu-lhes que o propósito de sua cartanão era apenas repreender o transgressor eajudar os ofendidos, mas também provar seuamor pela igreja. Aquela situação causaragrande sofrimento a Paulo, mas seu sofrimento havia valido a pena, pois o problema fora

resolvido.E extremamente difícil restaurar um re

lacionamento rompido. É o que Paulo procura fazer em 2 Coríntios, especialmente noscapítulos 6 e 7. Infelizmente, há muitos relacionamentos rompidos hoje - nos lares, igre

 jas e ministérios -, e estes só poderão serreparados e fortalecidos quando as pessoasencararem seus problemas com honestidadee os tratarem de maneira bíblica e em amor,esforçando-se para colocar a vida em ordem

com Deus.Ao examinarmos nossa vida, devemos

tomar o propósito de fazer parte da solução, não do problema. É preciso demonstrarapreciação, praticar a separação e encora

 jar a reconciliação, a fim de que Deus nosuse para restaurar relações rompidas.

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profunda + graça = alegria e generosidadeabundantes! Isso nos traz à memória o paradoxo do ministério de Paulo: "pobres, masenriquecendo a muitos" (2 Co 6:10). Também nos lembra as ofertas generosas recolhidas para a construção do tabernáculo (Êx

35:5, 6) e do templo (1 Cr 29:6-9).Quando experimentamos a graça deDeus em nossa vida, não usamos as circunstâncias difíceis como desculpa para deixarde contribuir. Existem, por acaso, circunstâncias que nos incentivam a ofertar? Em meuprimeiro pastorado, nossa igreja se deparoucom a grande necessidade de construir umnovo templo; alguns dos membros, porém,se opuseram ao programa de construção porcausa da "situação econômica". Ao que

parece, as siderúrgicas planejavam entrar emgreve, e algumas refinarias estavam prestesa fechar as portas; o sistema ferroviário passava por dificuldades... e parecia um momento arriscado para construir. No entanto, umnúmero suficiente de pessoas que acreditavam na prática de "ofertar pela graça" manifestou-se, e foi possível construir o novotemplo - apesar das greves, falências, demissões e outros problemas econômicos. Agraça de ofertar é exercitada apesar das

circunstâncias.

2. C o n t r i b u ím o s   c o m   e n t u s i a s m o  

(2 Co 8:3, 4)É possível contribuir com generosidade, massem entusiasmo.

- O pastor disse que devo contribuir atédoer - disse o membro sovina de uma igre

 ja. - Sinto dor só de  pensar  em contribuir.Ao contrário da igreja de Corinto, as igre

 jas da Macedônia não precisaram ser incen

tivadas nem lembradas da necessidade emquestão. Mostraram-se totalmente dispostasa participar da coleta. Na verdade, rogaram 

 para ser incluídas!  (2 Co 8:4). Com que freqüência ouvimos faiar de cristãos que im

 ploram para alguém levantar uma oferta emsua igreja?

Sua contribuição foi voluntária e espontânea. Foi feita pela graça, não por pressão.Ofertaram porque sentiram o desejo de fazê-lo e porque haviam experimentado a graça

de Deus. A graça liberta não apenas dospecados, mas também de nós mesmos. Agraça de Deus abre nosso coração e nossamão. Nossa oferta não é o resultado de umprocesso frio e calculista, mas sim de um coração ardendo de alegria!

3 . C o n t r i b u í m o s   s e g u n d o   o   e x e m p l o  

d e   J e s u s   (2 Co 8:5-9)Jesus Cristo é sempre o exemplo supremo aser seguido pelo cristão em seu serviço, sofrimento ou sacrifício. Como Jesus Cristo, oscristãos da Macedônia entregaram-se a Deus e aos outros (2 Co 8:5). Se nos entregarmosa Deus, não teremos dificuldade em consagrar ao Senhor nossos bens materiais e emdedicar a vida aos outros. E impossível amar

a Deus e ignorar a necessidade do próximo. Jesus Cristo entregou-se por nós (Gl 1:4;2:20). Acaso não devemos nos entregar aele? Cristo não morreu por nós para que vivêssemos para nós mesmos, e sim para quevivêssemos para ele e para os outros (2 Co5:15).

Como o sacrifício de Cristo, a oferta dosmacedônios foi motivada pelo amor   (2 Co8:7, 8). Que repreensão aos coríntios extremamente ricos em bênçãos espirituais (1 Co

1:4, 5)! Estavam tão envolvidos com os dons do Espírito que deixaram de lado as graças do Espírito, inclusive a graça de ofertar. Asigrejas da Macedônia viviam em "profundapobreza" (2 Co 8:2), no entanto superabun-daram em sua grande riqueza. Os coríntiospossuíam uma profusão de dons espirituais,no entanto se mostraram negligentes emcumprir a promessa de contribuir com acoleta.

Não devemos jamais argumentar que o

ministério de nossos dons espirituais é umsubstituto para a contribuição generosa.- Leciono na Escola Bíblica Dominical,

portanto não preciso contribuir.Isso não é uma explicação, mas sim uma

desculpa. O cristão que se lembra de queos dons são dádivas de Deus terá motivaçãopara ofertar e não se "esconderá" atrás deseu ministério. Há pastores e missionáriosque argumentam que, pelo fato de dedicarem todo seu tempo ao serviço do Senhor,

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2 C O R Í N T I O S 8 859

não têm obrigação alguma de contribuir.Paulo afirma justamente o contrário: uma vezque fomos abençoados por Deus de modomaravilhoso, devemos ter um desejo aindamaior de ofertar!

Paulo toma o cuidado de deixar claroque não está ordenando   que contribuam.Na verdade, contrasta a atitude dos mace-dônios com a postura dos coríntios. Ressalta que os macedônios seguiam o exemplode Jesus: eram pobres e, no entanto, contribuíram. Os coríntios diziam que amavamPaulo; agora, ele pedia que provassem esseamor participando da oferta. A contribuiçãopela graça é uma prova de amor a Cristo,

aos servos de Deus que nos ministram e aosque têm necessidades específicas que temoscondições de suprir.

Por fim, sua oferta foi sacrificial  (2 Co 8:9).Em que sentido Jesus é rico? Sem dúvida,em sua pessoa, pois é o Deus eterno. É ricoem suas posses e em sua posição como Reidos reis. É rico em seu poder, pois é capazde fazer qualquer coisa. No entanto, apesarde ter todas essas riquezas - e muitas outras -, e/e se  fez pobre.

O tempo do verbo indica que se tratade uma referência a sua encarnação, seunascimento em Belém. Uniu-se à humanidade e assumiu forma humana. Deixou seu trono para se tornar um servo. Colocou de ladotodas as suas posses de modo a não ter sequer um lugar onde descansar a cabeça. Suaexperiência suprema de pobreza foi quando se fez pecado por nós na cruz. O inferno é a penúria eterna, e, na cruz, Jesus Cristo

se tornou o mais miserável dos miseráveis.Por que ele fez isso? Para que nos tor

nássemos ricos! Isso indica que, antes deconhecermos Jesus Cristo, éramos pobres eestávamos completamente falidos. Agoraque cremos nele, porém, compartilhamos detodas as suas riqueza! Somos filhos de Deuse "herdeiros de Deus e co-herdeiros comCristo" (Rm 8:17). Diante desse fato, como nos recusar a dar a outros?   Cristo se fez po

bre para nos enriquecer! O que nos impedede seguir seu exemplo, como fizeram as igre

 jas da Macedônia, que de sua profunda po-

4 . C o n t r i b u í m o s   d e   b o a   v o n t a d e  

(2 Co 8:10-12)Há grande diferença entre  prometer   e cum

 prir.  Um ano antes, os coríntios garantiram aTito que participariam da coleta especial (2 Co

8:6), mas não haviam cumprido sua promessa. Convém observar que, em 2 Coríntios8:10-12, Paulo enfatiza a voluntariedade. Contribuir pela graça é um gesto que deve vir deum coração disposto e não pode ser resultado de coerção nem de constrangimento.

Ao longo de meu ministério, presencieimuitos apelos para levantar ofertas. Ouvi histórias absurdas de necessidades inacreditáveis. Forcei-me a rir de piadas velhas e

gastas que deveriam me ajudar a contribuir.Fui repreendido, envergonhado e quaseameaçado, mas devo confessar que nenhuma dessas abordagens me levou a contribuir além do que eu havia planejado. Naverdade, em várias ocasiões acabei ofertando menos,  de tão desgostoso que fiqueicom essas técnicas mundanas. (No entanto, nunca cheguei a fazer como Mark Twainque, segundo seu próprio relato, certa vez,ficou tão aborrecido com um apelo que,além de não contribuir conforme planejara,ainda tirou uma nota de dentro do prato queestava sendo passado!)

Devemos ter cuidado para não confundir disposição  com ação, pois as duas coisas devem andar juntas. Se a disposição ésincera e está dentro da vontade de Deus,deve ser "[levada] a termo" (2 Co 8:11; Fp2:12, 13). Paulo não afirma que a disposi

ção é um substituto para a ação, pois não é.

No entanto, se nossa contribuição é motivada pela graça, daremos de boa vontade,não porque fomos forçados a fazê-lo.

Deus vê a oferta que vem do coração, nãoapenas das mãos. Se o coração desejava darcom mais generosidade, mas não teve meios,Deus vê esse desejo e providencia para queseja devidamente registrado. Mas se as mãosdão mais do que o coração deseja, Deus também vê e registra o que está no coração, por

maior que tenha sido a oferta das mãos.Um amigo meu estava saindo para uma

viagem de negócios, quando a esposa o lem-

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dinheiro para as despesas da casa. Poucoantes da coleta de ofertas na igreja, ele colocou algum dinheiro na mão da esposa. Elapensou que era a oferta semanal deles ecolocou tudo no prato de coleta. Na verdade, aquele era o dinheiro para as despesas

da semana inteira.- Pois bem - disse meu amigo entrega

mos ao Senhor, e ele registrou nossa oferta.- Quanto você pretendia dar? - pergun

tou o pastor, e meu amigo falou a quantia. -Então foi isso que Deus registrou - disse opastor, - pois ele vê a intenção do coração!

Deus não vê a porção, mas sim a proporção. Se podíamos dar mais e não o fizemos, Deus sabe. Se desejávamos dar mais enão tínhamos como, Deus também sabe.

Quando contribuímos voluntária e alegremente, de acordo com o que temos, ofertamos pela graça.

5 . C o n t r i b u ím o s   p e l a   f é 

(2 Co 8:13-24)Paulo não está sugerindo que os ricos devam ficar pobres para que os pobres fiquemricos. Seria imprudente um cristão contrairdívidas a fim de aliviar a outros de seus compromissos financeiros, a menos, é claro, que

tivesse os meios para arcar com essa responsabilidade e pagar a dívida. Paulo vê noprocedimento todo uma "igualdade": osgentios foram espiritualmente enriquecidospelos judeus, de modo que os judeus deveriam ser materialmente enriquecidos pelosgentios (ver Rm 75:25-28). Além disso, asigrejas gentias daquela época desfrutavammais riquezas materiais, enquanto os cristãosda Judéia sofriam privações. Um dia, a situação poderia se inverter, e os judeus pode

riam ajudar os gentios.É Deus quem promove essa igualdade,

e, para ilustrar esse princípio, Paulo usa omilagre do maná (Êx 16:18). Não importavaquanto maná os israelitas juntassem a cadadia, sempre tinham o que precisavam. Osque tentavam guardar o maná descobriamque isso não era possível, pois o alimentose deteriorava e cheirava mal (Êx 16:20). Alição é clara: devemos guardar o que precisamos, compartilhar o que podemos e não

tentar acumular as bênçãos de Deus. Se crermos em Deus e obedecermos à sua Palavra,ele suprirá todas as nossas necessidades.

Nossa motivação  para dar é a bênçãoespiritual de Deus em nossa vida, mas a me

dida  de nossa contribuição deve ser a bên

ção material de Deus. Paulo deixa isso claroem sua primeira carta aos coríntios: "cadaum de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade" (1 Co 16:2). Paulonão apresenta uma fórmula matemática, poisa contribuição pela graça não se limita aodízimo (10%). Trata-se de uma contribuiçãosistemática, mas não legalista. Não se satisfaz com o mínimo, qualquer que seja.

Uma vez que é Deus quem faz "o balanço do livro-caixa", não podemos acusar Pau

lo de pregar algum tipo de comunismo. Naverdade, 2 Coríntios 8:13 é uma declaraçãodireta contra o comunismo. O chamado "comunismo" da Igreja primitiva (At 2:44-47;4:32-37) não tem qualquer relação com ossistemas econômicos modernos. Comomuitos dos cristãos de hoje, os primeiroscristãos compartilharam voluntariamente aquilo que tinham, sem forçar outros a participar. Foi uma situação temporária, e o fatode Paulo precisar levantar uma oferta espe

cial para suprir as necessidades do povo daJudéia mostra que não se esperava que esse"comunismo" fosse imitado pelas geraçõesfuturas de cristãos.

A oferta pela graça é uma questão de fé:obedecemos a Deus e cremos que ele suprirá nossas necessidades, enquanto ajudamos a suprir as necessidades de outros.Assim como os israelitas juntavam o manátodos os dias, também devemos dependerde Deus e lhe pedir: "o pão nosso de cada

dia dá-nos hoje" (Mt 6:11). Não devemosdesperdiçar o que Deus nos dá nem acumular bens egoisticamente. Dentro da vontadede Deus, é correto poupar. (Na sexta-feira,os israelitas guardavam maná suficiente paracomer no sábado, e o alimento não estragava [Êx 16:22-26].) Mas fora da vontade deDeus, a riqueza que acumulamos nos prejudicará (ver Tg 5:1-6).

Começando em 2 Coríntios 8:16, Paulomuda repentinamente de enfoque e passa

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de princípios espirituais profundos a algunsconselhos práticos sobre a forma de fazer acoleta especial. Apesar de ser verdade queofertar pela graça é uma questão de fé, também é verdade que esse tipo de oferta não

é aleatório. O cristão que compartilha comoutros deve se certificar de que sua contribuição está sendo administrada de modohonesto e apropriado.

Ao longo dos anos, tenho tentado incentivar o povo de Deus a apoiar ministériosidôneos. Muitas vezes, tenho de alertar ummembro da igreja para não contribuir comalguma organização irresponsável, só paradescobrir depois que a pessoa ignora meuaviso. Então, alguns meses depois, essa mesma pessoa me procura dizendo:

- Mandei um cheque para aquela instituição e descobri que não passa de uma fraude!

- Eu avisei para você não contribuir -respondo calmamente.

- O Senhor conhece o meu coração -argumenta o contribuinte ludibriado. - Apesar de o dinheiro ter sido desperdiçado, receberei crédito por isso no céu.

A contribuição pela graça não é umaprática insensata. Mesmo na igreja local, aspessoas que lidam com o dinheiro devemter certas qualificações. Paulo era extremamente cuidadoso com os fundos que recebia, pois não desejava ficar conhecido comoum "santo larápio". As igrejas que participaram da oferta escolheram representantespara viajar com Paulo e se certificar de quetudo seria feito com honestidade, decênciae ordem.

Em uma classe de Escola Bíblica Dominical de uma das igrejas que pastoreie, observei que havia apenas um   rapaz recolhendoas ofertas, contando o dinheiro, registrandoo valor e depois levando tudo para o escritório. Do modo mais delicado possível, sugeri que estava se colocando em uma situaçãoarriscada, pois se alguém o acusasse de alguma coisa, não teria como provar que havia lidado honestamente com o dinheiro.

- Confio em você - disse. - Mas nãoconfio nas pessoas que o podem estar observando e tentando encontrar motivos pa-

Em vez de seguir meu conselho, o rapazse exasperou e saiu da igreja.

Homens e mulheres de todo ministériocristão - seja a igreja local, uma organização missionária ou campanha evangelística

- devem ter as seguintes qualificações a fimde lidar com o dinheiro de Deus.Um desejo dado po r Deus de servir (w.  

16, 17).  Paulo não "recrutou" Tito; o rapazsentiu no coração o desejo de ajudar a coletar a oferta especial. É comum nas igrejaslocais ver homens e mulheres serem colocados para trabalhar na tesouraria sem teremum desejo sincero de servir a Deus dessamaneira. Acima de tudo, a pessoa que lidacom o dinheiro do Senhor deve ter o coração em ordem com Deus.

Um senso de respo nsabi l id ad e para  com as almas per didas (v. 18).  Não sabemos quem era esse irmão, mas agradecemos a Deus por testemunhar do evangelho.Talvez fosse um evangelista; pelo menos, eraconhecido nas igrejas como alguém que sesentia responsável pelas almas perdidas.Muitas igrejas locais colocam aqueles quetêm mais facilidade de testemunhar para trabalhar nas áreas de evangelismo e missões,o que é certo; mas algumas dessas pessoastambém devem ser colocadas na tesourariaou no conselho curador, a fim de garantir  pr ior idades corretas.  Sei de comissões queaprovaram quantias exorbitantes para construções e equipamentos, mas que se recusaram a dar um centavo para ministériosevangelísticos.

Certa vez, um jovem pastor desanimado

veio pedir meu conselho.- O pessoal da tesouraria da igreja es

morrendo de medo. Por causa da situaçãoeconômica, recusam-se a liberar recursospara qualquer coisa... Enquanto isso, temosfundos sobrando no banco!

Mesmo sem conhecer ninguém da tesouraria dessa igreja, posso dizer uma coisa:essas pessoas precisavam sentir responsabilidade pelas almas perdidas.

Um desejo de honr ar a Deus (v. 19). Muitas vezes, os relatórios financeiros glorificam a igreja ou um certo grupo de contri-

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da igreja, não existe divisão entre "secular esagrado", "negócios e ministério". Tudo oque fazemos são "negócios sagrados" eministério para o Senhor. Quando os estatutos da igreja dizem que os diáconos (oupresbíteros) devem cuidar de "questões es

pirituais" da congregação, enquanto oscuradores tratam de "questões materiais e financeiras", faz uma distinção que não é bíblica. Não há nada mais espiritual dentro da igreja do que usar o dinheiro com sabedoria 

 para o ministério.

Podemos glorificar a Deus usando o queele nos concede da forma como quer. Se aspessoas que cuidam das finanças da igrejanão tiverem o desejo de glorificar a Deus,logo estarão usando seus recursos de manei

ras que envergonharão o nome do Senhor.Uma reputação de honestidade (w. 20

22).  Paulo deixa claro que ficaria feliz coma companhia dos representantes das igrejascolaboradoras, pois desejava evitar qualqueracusação. Não basta dizer: "O Senhor sabeo que estamos fazendo!" Devemos nos certificar de que as  pessoas  também sabem oque fazemos. Gosto da maneira como J. B.Phillips traduz 2 Coríntios 8:21: "Naturalmente, desejamos evitar até o mais leve sopro de

crítica na distribuição das ofertas e ser inteiramente honestos não apenas aos olhos deDeus, mas também aos olhos dos homens".

Pessoalmente, não contribuiria para ummissionário ou obreiro cristão que não é ligado a alguma organização ou instituiçãoidônea. Também não daria minha oferta aqualquer ministério que não presta contasa seus contribuintes. Não estou dizendo queobreiros cristãos  free-lance sejam irresponsáveis; mas teria mais confiança se seus minis

térios fossem ligados a alguma organizaçãoque supervisionasse o sustento financeiro.É interessante observar a ênfase de 2 Co

ríntios 8:22 sobre o zelo. Se há uma qualidade essencial para cuidar das finanças é ozelo. Sei de igrejas cujos tesoureiros nãomantiveram um registro atualizado das receitas e despesas e que entregaram relatórios

anuais feitos com total desleixo, alegandoque "estavam ocupados demais para manter o livro-caixa atualizado". Se esse era oproblema, não deveriam sequer ter aceitadoo cargo!

Um espírito cooperativo (vv. 23, 24).

Tito não apenas se dedicava de coração aseu ministério (2 Co 8:16), mas também sabia como trabalhar em equipe. Paulo o chama de "companheiro e cooperador". Titonão era como o membro de certa comissãoda qual ouvi falar. Na primeira reunião, esseindivíduo disse:

- Enquanto eu estiver nesta comissão,nenhuma votação será unânime!

Os membros da tesouraria não são do

nos do dinheiro; ele pertence ao Senhor. Os

tesoureiros são apenas despenseiros que administram os fundos com honestidade e prudência a serviço do Senhor. É importanteobservar que Paulo também considera acomissão um grupo de servos das igrejas. A coleta dessa oferta especial foi um esforço cooperativo das igrejas gentias, e Pauloe os representantes serviram apenas de"mensageiros" dessas igrejas. O termo grego é apostolos,  do qual vem nossa palavra"apóstolo - aquele que foi enviado com uma

comissão especial". Esses cristãos consagrados sentiam-se compelidos a trabalhar paraa igreja de modo honesto e bem-sucedido.

Ofertar pela graça é uma aventura emocionante! Quando aprendemos a contribuir"pela graça [...] mediante a fé" (da mesmaforma como fomos salvos - ver Ef 2:8, 9),começamos a experimentar uma libertaçãomaravilhosa das coisas e das circunstâncias.Começamos a controlar as coisas ao invésde ser controlados por elas, desenvolvendo

novos valores e prioridades. Não medimosmais a vida ou as demais pessoas com base no dinheiro e nos bens. Se o dinheiro é omaior indicador de sucesso, Jesus era umfracassado, pois era um Homem pobre!

A contribuição pela graça nos enriquece,à medida que enriquecemos a outros e quenos tornamos mais semelhantes a Cristo.

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8

A G r a ç a   d e   O f e r t a r   -  

P a r t e   2

2Coríntios 9

Considerando quanto Deus tem nosdado, é estranho que nós, cristãos, pre

cisemos de incentivo para contribuir. Deushavia enriquecido os coríntios de maneira

maravilhosa, no entanto hesitavam em compartilhar o que tinham com outros. Não estavam acostumados a ofertar pela graça, demodo que Paulo teve de lhes explicar esseconceito. Depois dessa explicação, Paulotentou motivá-los a participar da ofertaespecial compartilhando cinco palavras deestímulo relacionadas à contribuição pelagraça.

1* N o s s a   c o n t r i b u i ç ã o   e s t i m u l a r á  a   o u t r o s   (2 Co 9:1-5)Apesar de não ser correto os cristãos competirem entre si no serviço do Senhor, devemos "[considerar] também uns aos outros,para nos estimularmos ao amor e às boasobras" (Hb 10:24). Quando vemos o queDeus faz na vida de outros e por meio deles,devemos nos esforçar para também lhe servir melhor. Há uma linha muito tênue que

divide a imitação carnal e a emulação espiritual, e devemos ser cautelosos. No entanto,o zelo cristão pode ser uma forma de instigar a igreja e de motivar as pessoas paraorar, trabalhar, testemunhar e contribuir.

É interessante observar que Paulo usouo zelo dos coríntios para desafiar os ma-cedônios, mas agora usava as igrejas daMacedônia para desafiar os coríntios! Umano antes, os coríntios haviam se compro

metido, com todo entusiasmo, a participar daoferta, mas até então não haviam tomadoqualquer providência nesse sentido. As igre-

e Paulo temia ter se gloriado dos coríntiosem vão.

O apóstolo enviou Tito e outros irmãosa Corinto a fim de incentivá-los a participarda oferta. Muito mais importante do que odinheiro, em si, eram os benefícios espiri

tuais que a igreja desfrutaria, se contribuísse em resposta à graça de Deus em sua vida.Paulo havia escrito à igreja anteriormentepara dizer como realizar a coleta das contribuições (1 C o 16:1-4), de modo que nãotinham desculpas para sua demora. Paulodesejava que a contribuição total estivessepreparada quando ele e sua comissão especial chegassem, para que não houvessecoletas de última hora na igreja, dando a

impressão de uma imposição.Com isso, Paulo desejava evitar qualquerconstrangimento para si mesmo e para a igre

 ja, caso a oferta não estivesse pronta. Afinal, havia vários representantes das igrejasda Macedônia na comissão especial (ver At20:4). Paulo havia se gloriado da igreja deCorinto para os macedônios e temia que ohavia feito em vão.

Ao que parece, Paulo não via nada de

errado ou de não espiritual em pedir que aspessoas assumissem o compromisso deofertar. Não lhes dizia quanto   deveriam prometer, mas esperava que cumprissem suapromessa. Quando uma pessoa faz uma assinatura de uma linha telefônica, por exemplo, se compromete a pagar certo valormensalmente. Se é aceitável assumir compromissos desse tipo para coisas como telefones, carros e cartões de crédito, certamente

deve ser aceitável fazer o mesmo para a obrado Senhor.É importante observar as palavras que

Paulo usa ao escrever sobre a coleta. É uma"assistência a favor dos santos", um serviçopara os irmãos em Cristo. Também é uma"expressão de generosidade" (2 Co 9:5), ouseja, uma dádiva generosa. É possível quePaulo esteja insinuando que os coríntiosdevem dar mais do que haviam planejado?

No entanto, o apóstolo toma cuidadopara não colocar qualquer pressão sobreeles. Deseja que sua dádiva seja uma "ex-

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desprendimento] e não de avareza [algoextraído deles à força]". Os apelos que pressionam a pessoa a ofertar não fazem parteda contribuição pela graça.

Nosso grande incentivo para contribuiré o fato de que isso agrada ao Senhor, masnão há nada de errado em praticar o tipo deoferta que estimula outros a contribuir. Issonão significa que devemos anunciar aosquatro ventos aquilo que fazemos como indivíduos, pois esse tipo de prática violariaum dos princípios fundamentais da contribuição, que é dar ao Senhor em segredo{Mt 6:1-4). Paulo está escrevendo às igrejas;e não é errado uma congregação anunciarqual foi sua oferta coletiva. Se nossa motivação é a vanglória, não estamos ofertandopela graça. Mas, se nosso desejo é estimular a outros a compartilhar, então a graça deDeus pode operar por meio de nós e ajudara outros a contribuir.

2. N o s s a   c o n t r i b u i ç ã o   n o s  

a b e n ç o a r á   ( 2 C o 9 : 6 - 1 1 )"Dai, e dar-se-vos-á" {Lc 6:38) - essa foi apromessa que Jesus fez e que continua valendo nos dias de hoje. A "boa medidarecalcada" que ele usa para nos dar nemsempre é em dinheiro ou bens materiais, massempre vale muito mais do que o que demos. Ofertar não é algo que  fazemos,   masalgo que somos.  É um estilo de vida para ocristão que compreende a graça de Deus.O mundo simplesmente não entende umadeclaração como a que encontramos emProvérbios 11:24: "A quem dá liberalmente,ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao queretém mais do que é justo, ser-lhe-á em puraperda". Na contribuição pela graça, nossamotivação não é "conseguir" alguma coisa,mas as bênçãos de Deus que recebemossão alguns dos benefícios adicionais.

A fim de que nossa contribuição nosabençoe e edifique, devemos ter o cuidadode seguir os princípios explicados por Paulonesta seção.

O pr incípio do cresciment o; ceifamos  na medida em que semeamos (v. 6).  Esseprincípio não precisa ser explicado em detalhes, pois o vemos em funcionamento em

nossa vida diária. O agricultor que plantamuitas sementes terá maior probabilidade decolher uma safra abundante. O investidorque coloca uma grande soma de dinheirono banco, sem dúvida, receberá mais dividendos. Quanto mais investirmos na obra doSenhor, mais "frutos" teremos (Fp 4:10-20).

Sempre que somos tentados a nos esquecer desse princípio, devemos nos recordar de que Deus demonstrou para conoscogenerosidade suprema. "Aquele que nãopoupou o seu próprio Filho, antes, por todosnós o entregou, porventura, não nos darágraciosamente com ele todas as coisas?" (Rm8:32). Tanto em sua natureza quando emsua graça, Deus é um Doador generoso; oque deseja ser piedoso deve seguir o exemplo divino.

O pr in cípio da in tenção: ceifam os o  que semeamos pelos mot ivos cert os (v. 7). Para o agricultor, a motivação não faz diferença alguma! Se ele plantar sementes boase o tempo cooperar, terá sua colheita, queresteja trabalhando pelo lucro, por prazer oupor orgulho. Não importa de que maneirapretende usar o dinheiro que receber - acolheita provavelmente virá.

No entanto, o mesmo não se aplica aocristão: a motivação ao contribuir {ou emqualquer outra atividade) é de importânciavital. Nossa contribuição deve ser feita decoração, e a motivação do coração deve seragradável a Deus. Não devemos ser "contribuintes tristes", que dão de má vontade, ou"contribuintes zangados", que dão porqueprecisam ("por necessidade"); antes, devemos ser "contribuintes contentes", compartilhando com alegria o que temos, poisexperimentamos a graça de Deus. "O generoso será abençoado, porque dá do seu pãoao pobre" (Pv 22:9).

Se não podemos dar com alegria (o termo grego usado nessa passagem é o radicalde nossa palavra hilariante), devemos abrir ocoração ao Senhor e pedir que nos concedasua graça. Sem dúvida, Deus pode abençoara oferta entregue por senso de dever, masnão abençoará o que dá a oferta a menosque seu coração esteja em ordem. Ofertarpela graça significa que Deus abençoa não

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apenas a contribuição, mas também o con

tribuinte, e que este se torna uma bênção aoutros.

O pr in cípi o do imediat ísmo: colhemos  atémesmo enquant o estamos semeando (w . 8-11).  O agricultor precisa esperar pela co

lheita, mas o cristão que contribui pela graçacomeça a colher imediatamente. Por certo,nossa contribuição traz benefícios a longoprazo, mas também há bênçãos imediatas.

Em primeiro lugar, começamos a compartilhar a graça abundante de Deus (2 Co9:8). As "declarações universais" desse versículo são extraordinárias: toda  graça; sem

 pre ; em tudo, ampla suficiência; em toda boaobra. Isso não significa que Deus enriquecetodos os cristãos com coisas materiais, massignifica que os cristãos que dão ofertas pelagraça sempre terão tudo de que precisarem,quando precisarem. Além disso, a graça deDeus enriquece o servo do Senhor, moral eespiritualmente, de modo que cresce emcaráter cristão. Em sua caminhada e em suaobra, depende inteiramente da suficiênciade Deus.

É perturbador ver quantos cristãos, hoje

em dia, dependem inteiramente uns dosoutros no que se refere a seus recursos espirituais. Os pastores não conseguem prepararum sermão a menos que o tomem emprestado de um livro ou fita. O s líderes da igrejaficam transtornados quando surgem problemas e só descobrem o que fazer depois queligam para dois ou três pastores conhecidos.Muitos membros da igreja precisam consultar o pastor semanalmente para não esmo

recer na fé.O termo suficiência   significa "recursos

interiores adequados" (ver Fp 4:11). JesusCristo nos capacita a enfrentar as exigênciasda vida. Como cristãos, precisamos ajudar eencorajar uns aos outros, mas não devemosdepender uns dos outros. Nossa dependência deve ser apenas do Senhor. Somente elepode nos dar aquela "fonte a jorrar" no coração que nos torna suficientes para a vida

(Jo 4:14).Não compartilhamos apenas a graça de

Deus, mas também sua justiça (2 Co 9:9).

112:9. Esse salmo descreve o homem justoque não receia coisa alguma, pois seu coração é sincero e temente a Deus. Paulo nãosugere que passamos a ser merecedores  da

 justiça porque ofertamos, po is o ún ico meiode ser justificados é pela fé em Jesus Cristo.No entanto, quando nosso coração está emordem, nossa contribuição será usada porDeus para tornar nosso caráter justo. Acontribuição pela graça constrói o carátercristão.

Colhemos o que semeamos e participamos da multiplicação maravilhosa que Deusrealiza daquilo que damos e fazemos (2 Co9:10). O agricultor deve decidir a porção degrãos que precisará armazenar com o alimento e a porção que usará como semente. Sea colheita foi pouca, terá menos grãos tantopara alimento como para o plantio. Mas o

cristão que acredita na contribuição pelagraça não precisa preocupar-se com essadecisão: Deus supre todas as suas necessidades. Há sempre "pão" espiritual e material para a alimentação e "semente" espiritual

e material para o plantio.Nessa passagem, Paulo se refere a Isaías

55:10, 11, trecho que usa a "semente" e o"pão" para falar tanto da Palavra de Deusquanto da colheita literal no campo. É impossível dividir a vida cristã em "secular" e"sagrada". A contribuição financeira é umato tão espiritual quanto cantar hinos ou distribuir folhetos evangelísticos. O dinheiro é semente.  Se ofertarmos de acordo com osprincípios da graça, ele se multiplicará paraa glória de Deus e suprirá muitas necessida

des. Se o usarmos de outras formas alémdaquela que Deus deseja, a colheita seráescassa.

Por fim, à medida que semearmos, seremos enriquecidos e enriqueceremos a outros(2 C o 9:11). O agricultor colhe benefíciosfísicos imediatos ao trabalhar em seu campo, mas para receber os frutos da colheita,precisa esperar. O cristão motivado pela graça colhe as bênçãos do enriquecimento

pessoal na própria vida e caráter, e esse enriquecimento transforma-se em benefíciopara outros. O resultado final é glória para

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de ressaltar que a contribuição pela graçanão é um sistema de crédito; redunda emação de graças a Deus. Somos apenas canaisque Deus usa para suprir as necessidadesde outros.

Mas 2 Coríntios 9:11 ensina mais umaverdade: Deus nos enriquece para que nossa contribuição seja ainda mais abundante.Uma das alegrias de ofertar pela graça époder dar cada vez mais. Tudo o que temos- não apenas nossa renda - pertence aDeus, é dado por Deus e usado por Deuspara realizar sua obra. Somos enriquecidosem tudo, pois compartilhamos tudo com elee com os outros.

Como pastor, tenho observado jovenscristãos aplicarem esses princípios da contribuição pela graça e começar a crescer. É

uma grande alegria vê-los crer em Deus eofertar motivados pela graça. Ao mesmotempo, também tenho visto outros cristãossimplesmente sorrirem ao ouvir falar dessesprincípios e, aos poucos, se tornarem cadavez mais pobres. Alguns "prosperam" financeiramente, mas sua renda acaba sendo suaruína e não os enriquece de fato. Recebemsua recompensa, mas perdem as oportunidades de enriquecimento espiritual.

Ofertar pela graça significa que cremos,

realmente, que Deus é o grande Doador eque usamos os recursos materiais e espirituais de acordo com essa convicção. É impossível ser mais generoso do que Deus!

3 . N o s s a   c o n t r i b u i ç ã o   s u p r i r á  

n e c e s s i d a d e s   (2 Co 9:12)Paulo introduz uma nova palavra para acontribuição: assistência.  O termo refere-seao "serviço sacerdotal" e, desse modo, Paulo mais uma vez eleva a prática de ofertar

ao nível mais alto possível. Considera essacoleta um "sacrifício espiritual" apresentado a Deus, da mesma forma que um sacerdote apresentava um sacrifício no altar.

Os cristãos não oferecem mais animaiscomo sacrifício a Deus, pois a obra de Cristo na cruz declarou o fim do sistema levítico(Hb10:1-14). Mas, se forem entregues emnome de Jesus, as ofertas materiais que levamos para o Senhor tornam-se "sacrifícios

espirituais" (Fp 4:10-20; Hb 13:15, 16; 1 Pe2:5).

No entanto, a ênfase em 2 Coríntios 9:12é sobre o fato de que sua oferta supriria asnecessidades dos cristãos carentes na Ju-déia. "Porque o serviço desta assistêncianão só supre a necessidade dos santos, mastambém redunda em muitas graças a Deus"(2 Co 9:12). Os cristãos gentios poderiamter encontrado várias desculpas para nãocontribuir, como, por exemplo: "a escassezde alimentos e a pobreza na Judéia não sãoculpa nossa!"; ou "as igrejas mais próximasda Judéia é que deveriam ajudar"; ou ainda,"cremos na importância de ofertar, mas também acreditamos que devemos cuidar primeiro de nossos necessitados".

Quando um cristão começa a inventardesculpas para não contribuir, sai automaticamente da esfera da contribuição pela graça.  A graça nunca procura um motivo: busca  apenas uma oportunidade. Se há uma necessidade a ser suprida, o cristão controladopela graça fará o que estiver a seu alcancepara supri-la.

"Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé" (Cl 6:10).Paulo admoesta os cristãos ricos "que pra

tiquem o bem, sejam ricos de boas obras,generosos em dar e prontos a repartir" (1 Tm6:18). A maioria de nós não se considerarica, mas para os padrões de muitas partesdo mundo, somos, de fato, abastados.

No entanto, não somos nós   que devemos receber a glória; o Senhor é que deveser glorificado (Mt 5:16). Muitos darão graças a Deus porque nossas contribuiçõessupriram suas necessidades. Podemos nãoouvir essas ações de graça aqui na Terra hoje,

mas as ouviremos no céu quando a Igrejaestiver reunida.

Convém observar aqui o uso que Paulofaz do conceito de abundância  ao escreveresta epístola. Ele começa a carta com umsofrimento abundante igualado por um consolo abundante (2 Co 1:5). Também fala degraça abundante (2 Co 4:15) e de alegria egenerosidade abundantes (2 Co 8:2). Porcausa da abundância da graça de Deus,

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podemos "[superabundar] em toda boaobra" (2 Co 9:8). Para o apóstolo, a vida cristãé abundante, pois Jesus Cristo nos dá suficiência em todas as situações.

Nossa contribuição deve ter como objetivo suprir as necessidades, não subsidiar

luxos. Há carências importantes a ser supridas, e nossos recursos não podem ser desperdiçados. Por certo, a necessidade, em si,não é o único motivo de contribuirmos, poissempre vai haver mais necessidades do queum cristão ou uma igreja será capaz de suprir; no entanto, a carência propriamente ditaé importante. Algumas necessidades sãomaiores do que outras, e algumas são maisestratégicas do que outras. Precisamos deinformações exatas e de discernimento es

piritual ao procurar suprir as muitas carências a nosso redor hoje.

4 . N o s s a   c o n t r i b u i ç ã o   g l o r i f i c a r á   a  

D e u s   (2 Co 9:13)"Assim brilhe também a vossa luz diantedos homens, para que vejam as vossas boasobras e glorifiquem a vosso Pai que estános céus" (Mt 5:16). Esse é um dos aspectosmais admiráveis da contribuição na igreja:nenhum indivíduo leva a glória que perten

ce somente a Deus.Quais seriam os motivos de agradecimento dos cristãos judeus? Sem dúvida,louvariam a Deus pela generosidade das igre

 jas gentias ao suprir suas necessidad es físicas e materiais. Mas também louvariam aDeus pela submissão espiritual dos gentios,sua obediência ao Espírito de Deus que lhesdeu o desejo de contribuir. Diriam: "Essesgentios não apenas pregam o evangelho,mas também o praticam!"

A expressão e  para todos,  no finaí deste versículo (2 Co 9:1 3), é sugestiva. Os cristãos judeus dariam graças porque outros também recebiam a assistência das igrejasgentias. Cada pequena congregação auxiliada seria grata por essa ajuda e pela ajuda dada a outros. Em vez de perguntar: "Porque nós  não recebemos mais?", louvariama Deus porque outros necessitados seriamajudados. É assim que funciona a contribuição pela graça.

Pode ser bastante proveitoso a igrejaanalisar se alguém está dando graças a Deuspor nossa obediência e generosidade. Nãohá zelo ou adoração que compense pelasoportunidades perdidas de servir a outros ede suprir suas necessidades práticas. Não

são atividades mutuamente exclusivas. A fimde que nossa luz brilhe de maneira intensae constante, deve haver um equilíbrio entrecompartilhar o evangelho e atender às necessidades práticas. Alguém disse bem queé difícil pregar o evangelho a um homemfaminto (ver Tg 2:15, 16).

Lembro-me de ler sobre um cristão ricoque, em seu culto doméstico diário, oravapelas necessidad es dos missionários que suaigreja sustentava. Certo dia, depois que o

pai terminou de orar, o filho pequeno lhedisse:

- Pai, se eu tivesse seu talão de chequespoderia responder a suas orações!

Que menino perspicaz!

5. N o s s a   c o n t r i b u i ç ã o   p r o m o v e r á  

a   u n i ã o   d o   p o v o   d e   D e u s  

(2 Co 9:14, 15)Por certo, este era um dos principais objetivos de Paulo ao desafiar as igrejas gentias a

ajudar os cristãos judeus. Os legalistas daigreja haviam acusado Paulo de opor-se aos judeu s e à Lei. As igrejas gentias encontravam-se afastadas da "igreja mãe" em Jerusalém, tanto em termos geográficos quantoculturais. Paulo desejava evitar uma divisãoda igreja, e essa oferta fazia parte de seuplano de prevenção.

De que maneira a oferta criaria vínculosmais estreitos entre as congregações de cristãos judeus e gentios? Em primeiro lugar, era

uma expressão de amor. Os gentios não tinham obrigação de contribuir (apesar dePaulo considerar essa oferta o pagamentode uma "dívida espiritual"; ver Rm 15:25-27),mas o fizeram pela graça de Deus. Os judeus, por sua vez, se sentiriam mais ligadosa seus irmãos e irmãs gentios.

Outro vínculo espiritual seria a oração."Enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundantegraça de Deus que há em vós" (2 Co 9:14).

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9

D e s e n c o n t r o s  

M i n i s t e r i a i s

2 CORÍNTIOS 10

Sempre que recebo uma carta com críticas de um leitor ou de um ouvinte do

programa de rádio, costumo colocá-la emum arquivo específico, onde a deixo guar

dada até estar preparado para responder.Houve ocasiões em que escrevi respostasapressadas e depois me arrependi. Ao esperar, me permito um tempo para pensar e orar,"ler nas entrelinhas" e preparar uma reposta

que traga o máximo de benefícios e quecause o mínimo de estragos.

O Espírito cond uziu Paulo a usar umaabordagem bastante sábia ao escrever aos

coríntios. O apóstolo dirige-se a uma igreja

dividida (1 Co 1:11ss), uma igreja que resistia à sua autoridade, seduzida por falsosmestres. Assim, a primeira coisa que Paulofaz é explicar seu ministério, de modo a nãodeixar dúvidas quanto a sua sinceridade.Em seguida, incentiva o povo a participarda oferta, pois sabe que esse desafio o ajudará a crescer na vida espiritual. Contribuirpela graça e viver pela graça são duas coi

sas que andam juntas.

Agora, na última seção da carta, Paulodesafia os rebeldes da igreja - inclusive osfalsos mestres - e reafirma seu ministérioapostólico. Ao ler 2 Coríntios 10 a 13, vê-sePaulo se referindo diretamente a seus acusadores (2 Co 10:7, 10-12; 11:4, 20-23, porexemplo) e respondendo a suas incrimi

nações falsas. Não esconde o fato de queos judaizantes na igreja são ministros deSatanás que desejam destruir a obra de Deus

(2 Co 11:12-15).Em 2 Coríntios 10 a 13, há uma palavraque Paulo usa vinte vezes no original e que

leitura desses capítulos nos dá a impressãode que Paulo estava se vangloriando, masnão é o caso. Paulo gloriou-se "em Deuspor nosso Senhor Jesus Cristo", não em simesmo nem em suas realizações (Rm 5:11;Gl 6:14; Fp 3:3). Gabou-se dos coríntios a

outros, mas talvez o tivesse feito em vão(2 Co 7:4, 14; 8:24).É importante lembrar que Paulo não se

defendia pessoalmente; antes, defendia seuministério e sua autoridade apostólica. Nãose envolveu em uma "competição de personalidades" com outros ministros. Seus inimi

gos não hesitavam em acusá-lo falsamentenem em promover a si mesmos (2 Co 11:12).Foi a atitude mundana dos coríntios que

obrigou  Paulo a se defender, refrescando-lhes a memória sobre a vida e o ministériodele. Paulo jamais hesitava em falar de Jesus Cristo, mas se recusava a falar de si mesmo, a menos que houvesse bons motivos

para isso.Por fim, quando Paulo gloriou-se, limitou

suas asserções ao ministério que Deus ha

via lhe dado (2 Co 10:13) e enfatizou seussofrimentos,  não seu sucesso. Quando sua

carta foi lida na reunião dos coríntios, deveter envergonhado os que haviam criticadoPaulo - e deve ter feito os judaizantes parecerem tolos.

O primeiro passo de Paulo ao reafirmar

seu ministério foi corrigir algumas idéiasequivocadas com referência a seu trabalho.As pessoas não entendiam três áreas importantes do ministério.

1. AS BATALHAS ESPIRITUAIS(2 Co 10:1-6)A acusação (w . 1, 2).   Não é difícil identifi

car a acusação. Liderados pelos judaizantes,os rebeldes da igreja afirmaram que Pauloera corajoso quando escrevia de longe, masera fraco e acanhado quando estava pessoal

mente com os coríntios (ver também 2 Co10:9-11). Os judaizantes mostravam-se sempre arrogantes em suas atitudes - e eram

extremamente benquistos pelo povo (2 Co11:20). O modo de vida "incoerente" dePaulo é semelhante a sua abordagem "rela-

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Ao fundar a igreja em Corinto, o propósito de Paulo era exaltar a Cristo, não a simesmo (1 Co 2:1-5). Os cristãos costumamcrescer de acordo com o contexto em quenascem. Quando nascem na fé dentro deum ambiente de liderança ditatorial, crescem

dependentes da sabedoria humana e da força. Quando nascem em um ambiente dehumildade e de amor, aprendem a depender do Senhor. Paulo desejava que seus convertidos confiassem no Senhor, não no servodele; assim, evitou deliberadamente enfatizara própria autoridade e capacidade.

É impressionante ver como os coríntioscontinuavam ignorantes, mesmo depois detudo o que Paulo lhes havia ensinado. Nãopercebiam que o verdadeiro poder espiritual

encontra-se na "mansidão e benignidade"(2 Co 10:1), não na imposição e opressão.A própria atitude de Paulo nesses primeirosversículos já é suficiente para desarmar suaoposição. (Na verdade, o fato de usar seunome é bastante sugestivo, pois Paulo  significa "pequeno".) Se Paulo era fraco, entãoJesus Cristo também havia sido, pois demonstrou mansidão e benignidade (Mt 11:29). Noentanto, Jesus também podia ser severo eaté se enfurecer quando preciso (ver Mt

15:1, 2; 23:13-33; Mc 11:15-17; Jo 2:13-16).Paulo os advertia com amor. "Por favor, nãome obriguem a visitar vocês e a mostrarcomo posso ser enérgico!"

A resposta (w . 3-6).  Sua resposta revelaa verdadeira natureza da luta espiritual. Influenciados por falsos mestres, os coríntios

 julgavam o ministério de Paulo só pela aparência, por isso não conseguiam enxergar opoder presente em sua obra. Estavam avaliando o apóstolo "segundo a carne" (2 Co

10:3), não segundo o Espírito. Assim comoalgumas das "grandes personalidades religiosas" de hoje, os judaizantes impressionavam o povo com suas habilidades e palavraspoderosas e com suas "cartas de recomendação" dos líderes da igreja.

Paulo usava uma abordagem diferente,pois, apesar de ser um homem como outroqualquer, não dependia do poder humano,mas sim do poder divino, das armas espirituais que o Senhor havia lhe dado. Suas

batalhas não eram segundo a carne, porquenão lutava contra carne e sangue (ver Ef6:1 Oss). Não se pode lutar nas batalhas espirituais usando armas carnais.

O termo milícia, em 2 Coríntios 10:4, significa "campanha". Paulo não estava apenas

envolvido em uma briga qualquer emCorinto; o ataque do inimigo nessa cidadefazia parte de uma grande campanha militar, Os poderes do inferno continuam tentando destruir a obra de Deus (Mt 16:18), eé importante não ceder nenhum territórioao inimigo, nem mesmo uma só igreja!

Todos têm certas barreiras mentais deresistência, e esses muros (como as muralhas de Jericó) devem ser destruídos. O quesão essas barreiras? São raciocínios que se

opõem à verdade da Palavra de Deus. Oorgulho da inteligência que exalta a si mesma. É importante entender que Paulo nãoestá atacando a inteligência, mas sim o intelectualismo, a atitude pedante das pessoasque pensam saber mais do que de fato sabem (Rm 12:16). Paulo havia enfrentado a "sabedoria dos homens" ao fundar a igreja emCorinto (1 Co 1:18ss), e ela havia reaparecido com a chegada dos judaizantes.

A atitude de humildade de Paulo era, na

verdade, uma de suas armas mais poderosas, pois o orgulho dá espaço para Satanásagir. Vemos claramente que, com sua mansidão, o Filho de Deus possuía muito maispoder do que Pilatos (ver Jo 19:11). Paulousava armas espirituais para destruir a oposição - oração, a Palavra de Deus, o amor,o poder do Espírito operando em sua vida.Não dependia da personalidade, das habilidades humanas e nem de sua autoridadecomo apóstolo. No entanto, uma vez que a

congregação tivesse se sujeitado ao Senhor,o apóstolo estava preparado para disciplinar,se necessário, os transgressores.

Muitos cristãos, hoje em dia, não têm consciência de que a Igreja está envolvida emuma batalha, e os que entendem a seriedadedessa batalha cristã nem sempre sabemcomo agir em combate. Tentam usar métodos humanos para derrotar forças demoníacas, métodos estes condenados a fracassar.Quando Josué e seu exército marcharam ao

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redor de Jericó durante uma semana, oshabitantes da cidade que observavam pensaram que os israelitas eram loucos. Quandoo povo de Israel confiou em Deus e obedeceu a suas ordens, derrubou as grandesmuralhas e conquistou o inimigo (Js 6:1-20).

Quando pastoreava uma igreja em Chicago, costumava me encontrar toda semana com três pastores amigos meus, e, juntos,fazíamos nossas "orações de combate". Apropriávamo-nos das promessas de Deus paraeliminar qualquer idéia equivocada que impedisse as pessoas de se entregarem aDeus, e o Senhor fez grandes coisas na vidadaqueles por quem intercedemos. Uma vezque as barreiras da mente são destruídas, aporta do coração pode ser aberta.

2. A AUTORIDADE ESPIRITUAL

(2 Co 10:7-11)Uma das lições mais difíceis que os discípulos de Cristo tiveram de aprender foi que,no reino de Deus, a posição e o poder nãosão evidência de autoridade. Jesus advertiuseus seguidores a não seguir o exemplo deliderança dos gentios que gostavam de exercer sua autoridade sobre outros e de agircomo se fossem muito importantes (ver Mc

10:35-45). Nosso exemplo é Jesus Cristo, queveio como servo e ministrou aos outros.Paulo seguiu esse exemplo.

No entanto, os coríntios não haviamdesenvolvido uma mentalidade espiritual osuficiente para discernir o que Paulo fazia.Contrastaram sua mansidão com a personalidade poderosa dos judaizantes e chegaramà conclusão de que Paulo não possuía autoridade alguma. Sem dúvida, escrevia cartasenérgicas; mas sua aparência física era fraca e seu discurso não impressionava ninguém. Em vez de exercitarem discernimentoespiritual, julgavam pelas aparências.

Certa vez, alguns amigos e eu ouvimosum pregador cuja mensagem inteira era constituída de "palavras poderosas" e de uma ououtra citação da Bíblia (normalmente, fora decontexto) e de várias referências a acontecimentos mundiais e "sinais dos tempos". Aosairmos da reunião, um de meus amigos disse: "1 Reis 19:11 descreve perfeitamente o

que acabamos de ver: 'O S e n h o r   não estavano vento'". No entanto, as pessoas a nossoredor comentavam que aquele era "o sermãomais maravilhoso" que já haviam ouvido.Duvido que, dez minutos depois, fossemcapazes de se lembrar de qualquer coisa

concreta que aquele pregador havia dito.Paulo não negava que possuía autoridade, mas se recusava a exercitá-la de formanão espiritual. O propósito de sua autoridade era edificar os cristãos, não destruí-los, eé preciso muito mais habilidade para construir do que para demolir. Além disso, a edificação requer amor (1 Co 8:1); e os coríntiosinterpretaram o amor e a mansidão de Paulo como sinais de fraqueza.

A diferença entre Paulo e os judaizantes

era que Paulo usava sua autoridade para fortalecer a igreja, enquanto os judaizantesusavam a igreja para fortalecer a autoridadedeles.

Ao longo de muitos anos de ministériopastoral e itinerante, sempre me admiro coma maneira de algumas igrejas locais trataremseus pastores. Se um homem demonstraamor e verdadeira humildade, resistem à sualiderança e lhe causam grande tristeza. Opastor seguinte costuma ser um "ditador",

que "governa sobre a igreja" - e conseguetudo o que quer. É benquisto pela maioria ecoberto de elogios! Jesus Cristo também foitratado com desprezo, de modo que talveznão devamos nos admirar que isso continuea acontecer.

Os opositores na igreja acusavam Paulode não ser, verdadeiramente, um apóstolo;pois, se fosse mesmo um apóstolo, provariaseu direito de receber esse título exercendosua autoridade. Por outro lado, se Paulohouvesse imposto sua autoridade, tambémteriam criticado sua atitude. É isso o queacontece quando os membros da igreja nãotêm mentalidade espiritual e avaliam o ministério do ponto de vista do mundo.

No entanto, as acusações desses rebeldes voltaram-se contra eles próprios. Se Paulonão era apóstolo, não passava de uma fraude e nem sequer era cristão. Mas, se isso fosse verdade, a igreja de Corinto também nãopoderia ser considerada autêntica. Paulo já

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havia deixado claro que era impossível separar seu ministério de sua vida pessoal (2 Co1:12-14). Se ele era um enganador, os corín-tios eram os enganados!

O apóstolo também ressalta que não hácontradição alguma entre sua pregação e

suas cartas. Mostrou-se enérgico em suascartas, pois foi o que a ocasião pediu. Semdúvida, teria preferido muito mais poder lhesescrever com ternura, mas palavras brandasnão teriam cumprido o propósito desejado.Mesmo quando escrevia cartas "graves efortes", ele o fazia por amor. Em outras palavras, Paulo está dizendo: "É melhor se prepararem para minha próxima visita, pois, sefor necessário, mostrarei como posso serenérgico".

A maneira de um cristão usar a autoridade revela sua maturidade espiritual e seucaráter. Uma pessoa imatura torna-se arro

gante no uso da autoridade, mas uma pessoamadura cresce ao exercer sua autoridade epromove o crescimento de outros a seu redor. Assim como um pai sensato, o pastorprudente sabe quando esperar com paciência e amor e quando agir com rigor e firmeza.Uma pessoa madura não usa sua autoridade para exigir   respeito, mas para conquistá- 

lo.  Os líderes maduros sofrem enquantoaguardam para agir, enquanto os líderesimaturos agem de maneira impetuosa e fazem os outros sofrer.

Os falsos mestres dependiam de "cartasde recomendação" para provar sua autoridade, mas Paufo havia recebido uma comissão divina do céu. Sua vida e seu trabalhoeram "credenciais" suficientes, pois deixavam claro que a mão de Deus estava sobreele. Paulo poderia ter a ousadia de escrever:

"Quanto ao mais, ninguém me moleste;porque eu trago no corpo as marcas de Jesus" (G! 6:17).

Quando minha esposa e eu vamos à Inglaterra, sempre procuramos organizar nossa agenda de modo a ter um tempo paravisitar Londres. Gostamos especialmente defazer compras na Selfridge's e na Harrod's,as duas principais lojas de departamento deLondres. H. Gordon Selfridge, que construiua grande loja que leva o seu nome, sempre

atribuiu seu sucesso ao fato de ser um líder,não um "chefe". O líder diz: "Vamos lá!",enquanto o chefe diz: "Vão vocês!". O chefe sabe  como as coisas devem ser feitas; ofíder mostra  como fazê-las. O chefe inspiramedo; o líder inspira entusiasmo baseado

no respeito e na boa vontade. Quando algosai dos eixos, o chefe sabe sempre em queou quem jogar a culpa.  O líder, entretanto,sabe como colocar as coisas de volta noseixos. O chefe usa sempre "eu" em seu discurso. O líder prefere dizer "nós". A filosofia administrativa de Selfridge não era muitodiferente da filosofia de liderança do apóstolo Paulo.

3. A AVALIAÇÃO DO MINISTÉRIO

e s p ir i t u a l   (2 Co 10:12-18)Suponho que a maior causa dos problemasda igreja seja o hábito de "avaliar o ministério". Se o trabalho da igreja é a obra de Deus,e se essa obra é um milagre de Deus, comopodemos medir um milagre? Em sua avaliação das sete igrejas citadas em Apocalipse 2 e 3, Jesus as mediu com parâmetrosmuito diferentes daqueles que essas igrejasusavam para sua avaliação. A igreja que pensava ser pobre foi considerada rica; a igreja

que se gabava de sua riqueza foi declaradapobre (Ap 2:8-11; 3:14-22).Algumas pessoas avaliam o ministério ex

clusivamente através de estatísticas. Apesarde ser verdade que a Igreja primitiva costumava registrar números {At 2:41; 4:4), também é verdade que fazer parte da igrejanaquela época era muito mais difícil e perigoso (ver At 5:13). Anos atrás, uma das maioresdenominações dos Estados Unidos escolheucomo tema anual "Mais um milhão em '64

- e todos dizimistas!" Ouvi um pastor importante dessa denominação comentar: "Searranjarmos mais um milhão igual ao últimoque conseguimos, estaremos perdidos!"Quantidade não é garantia de qualidade.

Parâmetros falsos (v. 12). Os judaizanteseram especialistas em avaliar seu ministério,pois é muito mais fácil medir uma religiãocom várias atividades exteriores do que umafé que envolve a transformação interior. Olegalista pode quantificar o que faz ou deixa

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de fazer, mas somente o Senhor pode ver ocrescimento espiritual no coração do cristão. Por vezes, os que mais crescem se sentem os mais ínfimos.

Em certo sentido, os judaizantes per

tenciam a uma "sociedade de admiraçãomútua", que determinava os próprios parâmetros e os aplicava na avaliação de todosao seu redor. E evidente que os membrosdesse grupo eram bem-sucedidos, enquanto os de fora não passavam de fracassados.Paula não fazia parte dessa "sociedade" e,portanto, era considerado um fracassado. Seesses líderes houvessem usado Jesus Cristocomo seu parâmetro (ver Ef 4:12-16), tudo

teria sido diferente.Parâmetros verdadeiros (w. 13-18).  Paulo propõe três perguntas que po demos fazera nós mesmos quando procuramos avaliarnosso ministério de acordo com a vontadede Deus.

Estou no lugar que Deus reservou para mim? (w . 13, 14).  Deus determinou uma "esfera de ação" em que Paulo deveria trabalhar: havia sido comissionado para ser oapóstolo aos gentios (At 9:15; 22:21; Ef 3).Também deveria ir a lugares onde nenhumoutro apóstolo havia ministrado antes; deveria ser um "pregador pioneiro" aos gentios.

Paulo usa de certo "sarcasmo santo" emsua defesa. "A área que Deus demarcou paramim incluía até mesmo vocês coríntios!" (ver2 Co 10:13). Os judaizantes não haviam levado o evangelho a Corinto. Assim como oslíderes de seitas hoje, entraram em cena depois que a igreja havia sido fundada (ver Rm

15:15-22).As igrejas e os ministros não estão com

petindo entre si; cada um compete consigomesmo. Deus não irá nos avaliar com basenos dons e nas oportunidades que deu agrandes pregadores como Charles Spurgeonou Billy Sunday. Ele irá avaliar nosso trabalho de acordo com a incumbência que deua cada um de nós. Deus exige fidelidadeacima de todas as coisas (1 Co 4:2).

Alguns encontros de pastores ou congressos de denominações têm um ar intimidante, pois as pessoas que estão no palco

os números mais impressionantes. Pastoresmais jovens e ministros mais idosos quetrabalham em campos restritos e difíceismuitas vezes voltam para casa sentindo-seculpados, pois seu trabalho fiel parece não

produzir muitos frutos. Alguns desses obreiros desanimados tentam implantar programas e promover seu trabalho de todas asmaneiras. O resultado é mais de cep ção e,por vezes, o desejo de deixar o ministério.Se ao menos soubessem que Deus avalia oministério deles de acordo com o lugar ondeos colocou, e não tomando como referência alguma outra cidade, se sentiriam maisencorajados a não abandonar a obra e a

perseverar fiéis em seu serviço.Deus é glorificado por meio de meu mi

nistério? (vv. 15-17).  Trata-se de mais uma"provocação santa" aos judaizantes, que roubavam convertidos de outros obreiros, dizendo que eram frutos de seu próprio trabalho.Paulo jamais se vangloriava do trabalho alheionem invadia o território de outros obreiros.Todo o seu trabalho consistia, na verdade, naatuação de Deus por meio dele, e, portanto,toda glória deveria ser dada a Deus.

Certa vez, ouvi uma palestra sobre com oformar uma grande Escola Bíblica D ominical.Tudo o que o palestrante disse era corretoe, sem dúvida, havia funcionado em algunsministérios maiores nos Estados Unidos. Oúnico problema era que aquele homem nun

ca havia formado sua própria Escola Bíblica  Dominical!  Visitara vários desses grandesministérios e entrevistara pastores e membros das equipes, usando esses dados para

desenvolver o curso que oferecia. Terminada a palestra, uma porção de gente foiprocurá-lo para fazer perguntas e pedir autógrafos. Por acaso, eu estava ao lado deum pastor que havia formado uma das igre

 jas mais respeitáveis (e maiores) dos Estados Unidos.

- Esse povo todo deveria estar falandocom você - comentei com ele. - Você temexperiência prática e sabe muito melhor do

que ele como fundar uma Escola BíblicaDominical.

- Deixe-o aproveitar os holofotes - co-

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-Estamos todos fazendo a mesma obra, e oque importa é que Deus seja glorificado.

Paulo acrescenta outro toque de "ironiasanta" quando diz que a única coisa que oimpedia de ir "além das fronteiras" deles eraa falta de fé dos coríntios. Se tivessem se

sujeitado a sua liderança e sido obedientesà Palavra, poderia ter alcançado mais almasperdidas; no entanto, criaram tanta confusão que se viu obrigado a gastar tempo deseu ministério missionário resolvendo os problemas da igreja. Em outras palavras, o apóstolo está dizendo: "Eu teria estatísticas maisimpressionantes a apresentar, se vocês nãotivessem atrapalhado meu trabalho".

Paulo cita Jeremias 9:24 em 2 Coríntios10:17, uma declaração que já havia usado

em 1 Coríntios 1:31: Os coríntios tinham atendência de se gloriar nos homens, especialmente agora que os judaizantes haviam assumido o controle da igreja. Quando oscoríntios ouviram os "relatórios" daquilo queesses mestres haviam feito e viram suas "cartas de recomendação", deixaram-se encantar por eles. Em decorrência disso, Paulo eseu ministério ficaram parecendo pequenose fracassados.

No entanto, a prova final não está nos

relatórios anuais. A prova final se dará no tribunal de Cristo "e, então, cada um receberáseu louvor da parte de Deus" (1 Co 4:5). Deusnão pode ser glorificado quando os homenslevam toda glória. "Eu sou o S e n h o r , este é omeu nome; a minha glória, pois, não a dareia outrem, nem a minha honra, às imagens deescultura" {Is 42:8).

Isso não significa que pastores bem-sucedidos e ministérios prósperos estejam privando Deus da sua glória. Glorificamos o Pai

quando crescemos e damos "muitos frutos"(Jo 15:1-8). Mas devemos ter cuidado paraque sejam "frutos" que vêm da vida espiritual, não "resultados" que apareçam quandomanipulamos pessoas e forjamos estatísticas.

Meu trabalho é digno dos elogios do Senhor? (v. 18).  Podemos elogiar a nós mesmos ou receber elogios de outros e, aindaassim, não ser dignos da aprovação de Deus.De que maneira Deus aprova nosso trabalho? Ele testa o que fazemos. O termo "aprova

do" em 2 Coríntios 10:18 significa "aprovaratravés de verificação". Nossas obras serãoavaliadas no tribunal vindouro de Cristo (1 Co3:1 Oss), mas já estão sendo testadas no presente. Deus permite que a igreja local passepor dificuldades a fim de que sua obra sejaverificada e aprovada.

Ao longo dos anos, tenho visto ministérios passando por provações como perdasfinanceiras, invasões de falsas doutrinas,surgimento de líderes arrogantes que dese

 jam ser "donos da igreja" e desafios decorrentes de mudanças. Algumas dessas igre

 jas se desintegraram e quase morreram, poissua obra não era espiritual. Outros ministérios cresceram em função dessas provações e se tornaram mais puros e fortes e,em meio a todas as dificuldades, Deus foiglorificado.

Sem dúvida, devemos manter registros epreparar relatórios sobre nossos ministérios,mas precisamos ter cuidado para não cair

na "armadilha das estatísticas" e pensar queos números são a única medida de uma obra.Cada situação é singular, e nenhum ministério pode ser avaliado com base em outrotrabalho. O mais importante é estar ondeDeus nos colocou, fazendo sua vontade paraque seu nome seja glorificado. De acordocom os parâmetros de Deus, a motivação étão importante quanto o crescimento. Seprocuramos glorificar e agradar somente aDeus e se não temos medo da avaliação que

ele faz de nosso coração e de nossa vida,não precisamos temer a análise e as críticasdos homens.

"Aquele, porém, que se gloria, glorie-seno Senhor" (2 Co 10:17).

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O P a i   S a b e   o   Q  u e  

É M e l h o r

2 CORÍNTIOS 1 1

Como pastores cristãos, de que maneira

podemos convencer os membros denossa congregação de que verdadeiramente os amamos?

Esse era o problema que Paulo enfrentava ao escrever esta epístola. Se lembrasse o

povo do trabalho que havia realizado nomeio deles, poderiam responder: "Paulo estáse gabando!" Se não dissesse coisa algumasobre seu ministério em Corinto, os judai-zantes poderiam dizer: "Estão vendo, nósfalamos que Paulo não fez coisa alguma!"

Afinal, que atitude Paulo tomou? O apóstolo foi orientado pelo Espírito de Deus parausar uma imagem muito bela - uma comparação - que certamente tocaria o coraçãodos cristãos em Corinto. Comparou-se a um

"pai espiritual" cuidando de sua família. Havia usado essa imagem anteriormente paralembrar os coríntios de que, como "pai", eleos havia gerado por meio do evangelho eque podia discipliná-los se julgasse necessário (1 Co 4:14-21). Eram seus filhos amados,e desejava o melhor para eles.

Paulo lhes oferece três provas de seuamor paternal.

1 . S e u   z e l o   p e l a   i g r e j a  

(2 Co 11:1-6, 13-15)O verdadeiro amor não é ciumento, mas temo direito de ser zeloso para com o objetoda afeição. Um marido que zela pela esposa ressente-se, com razão, e resiste a qualquer rivalidade que ameace o amor mútuodo casal. Um verdadeiro patriota tem todoo direito de ser zeloso para com sua liberdade e de lutar para protegê-la. Semelhantemente, um pai (ou mãe) zela pelos filhos e

10 procura protegê-los de qualquer coisa quepossa lhes fazer mal.

Vemos aqui a imagem  de um pai amoroso, cuja filha está noiva e prestes a se casar.Sente que é seu privilégio e dever mantê-lapura, a fim de poder apresentá-la a seu marido com alegria, não com pesar. Paulo vê a

igreja local como essa noiva, prestes a secasar com Jesus Cristo (ver Ef 5:22ss e Rm7:4). Esse casamento só ocorrerá quandoCristo voltar para buscar sua noiva (Ap 19:19). Enquanto isso, a igreja - e isso significaos cristãos como indivíduos - deve manter-se pura e se preparar para o encontro comseu Amado.

O  perigo,  portanto, é que ela seja infielao noivo. A mulher que está noiva tem umcompromisso de amor e de lealdade a um só

homem, o noivo. Se ela se entrega a qualquer outro homem, é culpada de infidelidade. O termo traduzido por "simplicidade",em 2 Coríntios 11:3, significa "sinceridade,devoção única". Um coração dividido conduz a uma vida corrompida e a um relacionamento destruído.

A imagem do amor e do casamento, bemcomo da necessidade de fidelidade, é usada com freqüência nas Escrituras. O profetaJeremias via o povo de Judá perder seu amor

por Deus e os advertiu: "Assim diz o S e n h o r : Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras

 jovem, e do teu amor quando noiva, e decomo me seguias no deserto, numa terra emque se não semeia" (Jr 2:2). A nação de Judáhavia perdido aquele amor da lua-de-mel eera culpada de idolatria. Jesus usou essamesma imagem ao advertir a igreja de Éfeso:"Tenho, porém, contra ti que abandonasteo teu primeiro amor" (Ap 2:4).

A  pessoa por trás do perigo  é Satanás,

retratado aqui como uma serpente, uma referência a Gênesis 3. Co nvé m observar que,ao escrever sua carta aos coríntios, Paulofala em várias ocasiões sobre nosso adversário, o diabo. Adverte que Satanás usa devários subterfúgios para atacar os cristãos.Pode colocar um peso indevido sobre a consciência de cristãos que pecaram (2 Co 2:10,11), cegar a mente dos incrédulos (2 Co 4:4),iludir a mente dos cristãos (2 Co 11:3) e até

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mesmo esbofetear o corpo dos ministros deDeus (2 Co 12:7).

O texto concentra-se na mente, pois Satanás é um mentiroso e procura nos fazerdar ouvidos a suas mentiras, pensar sobreelas e acreditar nelas, exatamente como fez

com Eva. Primeiro questionou  a palavra deDeus ("É assim que Deus disse...?"); depois,negou a palavra de Deus ("É certo que nãomorrereis"); por fim, a substituiu pela pró

 pria mentira  ("como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal") (ver Gn 3:1, 4, 5).

Sem dúvida, Satanás é astuto e sabe queos cristãos não aceitarão suas mentiras deimediato; assim, usa uma isca em seu anzolpara tornar mais atraente o que ele tem aoferecer. Satanás não passa de um imitador:

copia o que Deus faz e depois tenta nosconvencer de que tem algo melhor a oferecer. Para isso, usa falsos obreiros que fingemservir a Deus, mas que, na verdade, estãoservindo a Satanás.

Satanás possui um falso evangelho (Gl1:6-12) no qual há outro salvador e outroespírito. Infelizmente, os coríntios haviamrecebido prontamente esse "novo evangelho" - uma mistura de Lei e graça que, naverdade, não era evangelho coisa nenhuma.

Existe somente um evangelho, e, portanto,só pode haver um Salvador (1 Co 15:1ss).Quando cremos no Salvador, recebemos oEspírito Santo de Deus em nós, é há um sóEspírito Santo.

Os  pregadores  desse falso evangelho(que continuam a existir hoje) são descritosem 2 Coríntios 11:13-15. Afirmavam possuirautoridade divina como servos do Senhor,mas sua autoridade era falsa. Chamavam osverdadeiros servos de Deus de impostores,como fizeram com Paulo em sua época.Chegavam ao extremo de se considerar"super-apóstolos", muito maiores que Paulo.Usavam sua retórica astuta para encantar oscristãos ignorantes e, ao mesmo tempo, diziam que Paulo não era um orador competente (2 Co 11:6; 10:10). Como é tristequando cristãos instáveis são influenciadospelo "belo discurso" dos ministros de Satanás, em vez de permanecerem firmes nasverdades fundamentais do evangelho que

lhes foram ensinadas por pastores e mestres fiéis.

"Não são, de maneira alguma, 'super-apóstolos'!", advertiu Paulo. "Na verdade,são  pseudo-apóstolos  - falsos profetas! Suamotivação não é glorificar o nome de Deus,

mas obter benefícios para si mesmos gran jeando convertidos. Seus métodos são enganosos" (ver 2 Co 2:17; 4:2). Essa passagemapresenta a idéia de uma isca sendo usadapara pegar peixes. Esses mestres oferecemaos membros da igreja uma vida cristã "superior" àquela descrita no Novo Testamento, uma vida que consiste em uma misturaantibíblica de Lei e graça.

Em vez de serem movidos pelo poderdo Espírito Santo, o poder desses ministros

vem de Satanás. Em três ocasiões, Paulo usao termo "transformar" para se referir à obradesses homens (ver 2 Co 11:13-15). A palavra grega significa, simplesmente, "disfarçar,mascarar". Pode-se observar uma mudançaexterior, mas não há qualquer mudança interior. Como o próprio Satanás, seus obreirosnunca mostram seu verdadeiro caráter; estãosempre usando algum disfarce e se escondendo por trás de algum tipo de máscara.

Enquanto eu escrevia este livro, vários

"ministros mascarados" bateram à minha porta. Um deles, uma jovem muito atraente,tentou me explicar que trabalhava em prolda paz mundial; no entanto, quando a confrontei, admitiu que fazia parte de uma seita.Dois jovens bem vestidos apresentaram-sedizendo: "Estamos aqui como representantes de Jesus Cristo!" Mais que depressa, osinformei de que conhecia o grupo que representavam e fechei a porta, sem sequerdizer "Adeus". Para os que consideram esse

tipo de atitude uma indelicadeza, convémler 2 João 5-11 e obedecer à sua instrução.Paulo provou seu amor pela igreja prote

gendo-a de ataques dos falsos mestres; noentanto, os membros "caíram na conversa"desses judaizantes e abriram as portas paraeles. Os coríntios haviam "abandonado oprimeiro amor" e não mais se dedicavam detodo coração a Jesus Cristo. O problemamais sério não era sua oposição a Paulo,mas sim seu distanciamento de Cristo.

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2. S u a   g e n e r o s id a d e   p a r a   c o m   a  

i g r e j a   (2 Co 11:7-12)Um pai amoroso procura suprir as necessidades da família, e Paulo sacrificou-se a fimde ministrar à igreja de Corinto. Enquantoestava nessa cidade, o apóstolo trabalhou

com as próprias mãos confeccionando tendas (At 18:1-3) e até recebeu ofertas de outras igrejas para que pudesse evangelizar oscoríntios. Em outras palavras, os coríntios nãotiverem de pagar coisa alguma para receberos benefícios do ministério apostólico desse grande homem de Deus.

A maioria dos coríntios não deu o devido valor aos sacrifícios que Paulo fez poreles. Na verdade, os judaizantes usaram apolítica financeira de Paulo como "prova"

de que não era um verdadeiro apóstolo. Afinal, se fosse mesmo um apóstolo, teriaaceitado ser sustentado por eles.

Paulo já havia explicado sua posiçãoquanto a esse assunto numa carta anterior(1 C o 9). Ressaltou que era um apóstolo genuíno, pois havia visto o Cristo ressurreto erecebido dele sua comissão. Paulo tinha odireito de pedir sustento material, como também o têm os servos fiéis de Deus hoje; noentanto, havia deliberadamente aberto mão

desse direito, a fim de que ninguém o acusasse de usar o evangelho simplesmente comoum meio de ganhar dinheiro. O apóstoloabriu mão de seu direito de sustento material por amor ao evangelho e aos pecadores perdidos, que poderiam considerar umtropeço qualquer coisa que lhes desse a impressão de que se tratava de um "empreendimento religioso".

No entanto, os judaizantes eram os culpados de "mercadejar o evangelho" visan

do o lucro pessoal. Paulo havia lhes pregadoo evangelho "gratuitamente" (2 Co 11:7, literalmente, "sem qualquer custo"), mas osfalsos mestres pregavam um  falso  evangelho- e roubavam da igreja (2 Co 11:20). Paulousa um toque de ironia em 2 Coríntios 11:8:"Despojei outras igrejas, recebendo salário,para vos poder servir". Agora, os judaizantesestavam, de fato,  despojando os coríntios.

Um pai amoroso não coloca fardos sobre os filhos. Antes, sacrifica-se para que os

filhos tenham tudo de que precisam. É difícilensinar a uma criança a diferença entre "preços" e "valores". As crianças parecem nãofazer idéia do que significa para os pais terde sair todos os dias para prover o sustentoda família. Quando um de meus sobrinhos era

bem pequeno, ouviu seus pais conversando sobre a compra de alguns eletrodomésticos grandes e não conseguiu entender porque não podiam simplesmente sair e comprar o que queriam.

- Por que você não escreve num dessepedaços de papel? - perguntou apontando para o talão de cheques do pai. Aindanão entendia que era preciso haver dinheiro no banco para cobrir o que o pai escreveria no "pedaço de papel".

Paulo não trata da questão de dinheiroa fim de se gabar. Na realidade, está usandotodos os meios possíveis para calar a jactância dos judaizantes. O apóstolo sabia queabsolutamente ninguém poderia acusá-lo decobiça ou de egoísmo (ver At 20:33-35, otestemunho de Paulo para a igreja de Éfeso).Suas mãos estavam limpas, e ele desejavaeliminar qualquer oportunidade de que seusinimigos o acusassem.

O termo "pesado" em 2 Coríntios 11:9

merece consideração especial (ver também2 Co 12:13, 14). No grego, significa, literalmente, "ficar entorpecido". O termo vem daimagem de uma enguia elétrica entorpecendo a vítima com seu choque elétrico. Umaparte entorpecida do corpo poderia ser umpeso para a vítima. Paulo não havia usadode subterfúgios enganosos para pegar oscristãos de surpresa, atacá-los ou roubardeles. Tanto em sua pregação do evangelhoquanto em sua maneira de lidar com as finan

ças, havia sido sempre aberto e honesto.Em minhas viagens, por vezes me deparo com certas situações em igrejas locais queme deixam com o coração pesado. Há congregações que praticamente não demonstram qualquer apreciação por pastores fiéisque se sacrificam pelo crescimento da igre

 ja. Alguns deles recebem muito menos doque merecem e trabalham muito mais do quedevem, no entanto a igreja não parece terqualquer amor por eles. Seus sucessores,

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mestres se gloriavam visando o benefíciopróprio, ou seja, aquilo que poderiam obterda igreja. A motivação de Paulo era pura; amotivação deles era egoísta. 2 Coríntios11:20 apresenta uma listra das diversas maneiras como os judaizantes estavam se apro

veitando da igreja:Escravizando - ensinavam uma doutrina

legalista contrária ao evangelho da graça.Devorando - "abocanhavam" tudo o que

podiam da igreja; aproveitavam-se do privilégio de receber sustento material.

Detendo - Nesse caso, o verbo tem osentido de "enganar". A imagem é de um pássaro preso em uma armadilha ou de umpeixe enroscado num anzol. "Lançaram aisca e fisgaram vocês!"

Exaltando - Exaltavam a si mesmos, nãoao Senhor Jesus Cristo; gostavam de ser honrados e tratados como líderes.

Esbofeteando - É provável que se tratede uma referência a ataques verbais, não aviolência física; os judaizantes não hesitavam em humilhar os coríntios em público.

Paulo termina sua exposição das atitudes e ações nada espirituais dos judaizantes com um pouco de "ironia inspirada":"Ingloriamente o confesso, como se fôra

mos fracos [demais para tais coisas]" (2 Co11:21). Os coríntios pensavam que a mansidão de Paulo era um sinal de fraqueza,quando, na verdade, era parte de sua força. No entanto, pensavam que a arrogância dos judaizantes era sinal de poder. Porvezes, os cristãos podem ser extremamente ignorantes!

Em se tratando de sua herança judaica,os falsos mestres eram iguais a Paulo; mas,em se tratando do ministério de Cristo, o

"superapóstolo" era Paulo, não os judaizantes. Vejamos agora o que Paulo sofreu poramor à causa de Cristo e por sua preocupação com as igrejas.

Sofrimentos por amor a Cristo (w. 23- 25a).  Se Paulo não fosse apóstolo, não teriapassado por essas tribulações. Recebeu"açoites sem medida", tanto de judeus quanto de gentios. Em três ocasiões, apanhoucom varas e, em cinco ocasiões, recebeutrinta e nove açoites dos judeus. O Livro de

Atos relata um açoitamento (16:22) e umapedrejamento (At 14:19).

Paulo sabia, desde o início de seu ministério, que sofreria por amor a Jesus (At 9:15,16), e Deus lhe reafirmou esse fato no decorrer do ministério (At 20:23). Aquele que

fez outros sofrerem por sua fé teve de sofrer aflições na própria pele por essa mesma fé.

Dif icu ld ad es natur a is (vv. 25Ò-33).Quase qualquer viajante daquela épocahavia passado por pelo menos uma dessassituações difíceis; no entanto, não podemosdeixar de pensar que foram causadas peloinimigo em uma tentativa de impedir a obrado Senhor. Atos 27 relata um dos três naufrágios; não sabemos coisa aiguma sobre

os outros dois. Só podemos imaginar quantos de seus pertences pessoais de valorPaulo perdeu nesses percalços.

Uma vez que estava sempre viajando,Paulo expunha-se, com freqüência, a perigosdesse tipo. Os judaizantes visitavam lugaresseguros; Paulo viajava para lugares difíceis.No entanto, o apóstolo não era um viajante comum, mas sim um homem marcado.Possuía inimigos tanto no meio dos judeusquanto dos gentios, e alguns deles o teriam

assassinado com prazer.Em 2 Coríntios 11:27 Paulo descreve as

conseqüências pessoais de todas essas viagens difíceis. Em meu próprio ministérioitinerante limitado, desfruto a conveniênciade automóveis e aviões, no entanto, devoconfessar que as viagens são cansativas.Paulo enfrentou desconfortos e dificuldadesmuito maiores! Não é de se admirar que estivesse exausto e cheio de dores. Passavalongos períodos sem alimento, sem água e

sem dormir e, por vezes, não tinha roupassuficientes para mantê-lo aquecido.Sem dúvida, outros viajantes passaram

por experiências desse tipo, mas Paulo suportou-as por amor a Cristo e à igreja. Suaprioridade não era aquilo que estava a seu redor, mas o que estava dentro dele: a preocupação com todas as igrejas. Por que elese importava tanto? Porque se identificavaplenamente com os outros cristãos (2 Co11:29). Tudo o que acontecia a "seus filhos"

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afetava seu coração, e ele não poderiaabandoná-los.

No auge da narrativa de seus sofrimentos, Paulo fala da experiência humilhante emDamasco, quando - o grande apóstolo -teve de ser retirado da cidade às escondi

das dentro de um cesto passado por sobreo muro! (2 Co 11:32, 33). Será que algumdos judaizantes tinha uma história dessaspara contar? Claro que não! Mesmo ao relatar seus sofrimentos, Paulo cuidou para queCristo, não ele próprio, fosse glorificado.

É impossível ler esses versículos sem admirar a coragem e a devoção do apóstoloPaulo. Cada provação deixou marcas em suavida, e, no entanto, ele foi em frente servindo ao Senhor: "Porém em nada considero avida preciosa para mim mesmo" (At 20:24).

Paulo certamente provou seu amor pelaigreja. Era chegada a hora de a igreja provarseu amor por ele. Que possamos sempredar o devido valor aos sacrifícios de outrosno passado que nos permitem desfrutar hojeas bênçãos do evangelho.

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U m   P r e g a d o r  

n o   P a r a í s o

2 C o r í n t i o s   1 2 : 1 - 1 0

Esta seção é o ponto culminante da defesa de Paulo de seu apostolado e de seu

amor pelos cristãos de Corinto. A princípio,havia se mostrado relutante em falar de suasexperiências pessoais, mas era o único modode resolver o problema. Na verdade, para

evitar exaltar a si mesmo, Paulo usa a tercei*ra pessoa do singular em vez da primeira.Compartilha com seus leitores três experiências com Deus.

1 . G l ó r i a : D e u s   o   h o n r o u  

(2 Co 12:1-6)Os judaizantes estavam ansiosos para receber honras e se gabavam de suas "cartas derecom enda ção" (2 Co 3:1 ss). Paulo, no entanto, não procurava a honra dos homens;

deixava que Deus o honrasse, pois é somente essa honra que importa.

Em primeiro lugar, Deus honrou Paulodando-lhe visões e revelações. No dia de suaconversão, Paulo viu Cristo glorificado (At9:3; 22:6). Teve uma visão de Ananias ministrando-lhe (At 9:12) e outra na qual Deuso cham ou para pregar aos gentios (At 22:17).

Ao longo de seu ministério, recebeu visões de Deus que o guiaram e encorajaram,como no caso de seu chamado para ir àMacedônia (At 16:9). Em meio às dificuldades do ministério em Corinto, Deus tambémencorajou Paulo com uma visão (At 18:9,10). Depois de ser preso em Jerusalém, oapóstolo voltou a ser encorajado por umavisão de Deus (At 23:11). Em outra ocasião,um anjo lhe apareceu no meio da tempestade e lhe garantiu que todos os passageirosdo navio onde ele se encontrava seriam salvos (At 27:23).

11 Além dessas visões especificas relacionadas a seu chamado e ministério, o apóstolotambém recebeu do Senhor certas verdadesdivinas (ver Ef 3:1-6). De us lhe deu uma compreensão profunda de seu plano para estaera, e, sem dúvida, Paulo entendeu os mistérios de Deus.

O Senhor também honrou Paulo levando-o para o céu e, depois, enviando-o devolta à Terra. Essa experiência maravilhosaocorreu quatorze anos antes de ele escrever esta carta, ou seja, por volta do ano 43d.C. e corresponde ao período entre suapartida de Tarso (At 9:30) e a visita que recebeu de Barnabé (At 11:25, 26). Não háregistro algum dos detalhes desse acontecimento, e de nada adianta especular.

Os rabinos judeus costumavam referir-

se a si mesmos na terceira pessoa do singular, e Paulo adota essa abordagem ao exporesse acontecimento aos seus amigos (e inimigos) em Corinto. Foi uma experiência tãomaravilhosa que o apóstolo não estava certo de se Deus o havia levado fisicamentepara o céu ou se seu espírito havia deixado ocorpo. (Que contraste entre ser descido poruma cesta e ser "arrebatado até ao terceirocéu"!) Nessa passagem, Paulo reafirma arealidade do céu e mostra que Deus pode

levar seu povo para lá. O terceiro céu  corresponde ao "paraíso", o céu dos céus,onde Deus habita em glória. Graças à ciência moderna, o ser humano pode visitar océu de nuvens (voando acima das nuvens)e o céu dos corpos celestes (andando naLua), mas o ser humano não é capaz dechegar ao céu de Deus sem ajuda divina.

O mais interessante é que Paulo guardou essa experiência para si durante catorze anos! Ao longo desses anos, havia sidoesbofeteado por seu "espinho na carne" e,talvez, levado as pessoas a se perguntarempor que sofria tamanha aflição. É possívelque os judaizantes tenham adotado a mesma posição que os amigos de Jó e dito: "Essaaflição é castigo de Deus" (na verdade, erauma dádiva  de Deus). Talvez alguns dosamigos mais chegados de Paulo tenhamprocurado animá-lo dizendo: "Coragem, Paulo, um dia você estará no céu!". Ao que Paulo

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teria respondido: "Na verdade, já estive nocéu e, por isso, tenho esse espinho!"

Deus honrou Paulo concedendo-lhe visões e revelações e levando-o ao céu; noentanto, honrou seu servo ainda mais permitindo que ele ouvisse "palavras inefáveis"

enquanto estava no céu. Paulo ouviu segredos divinos compartilhados no céu; coisasproferidas por Deus e pelos seres celestiais,mas impronunciáveis pelos seres humanos.

Acaso os judaizantes também poderiamrelatar experiências desse tipo? Moisés, cujorelacionamento com Deus era tão íntimo,só se encontrou com o Senhor no alto damontanha; mas Paulo encontrou-se com oSenhor no paraíso. Havia exercitado grande disciplina espiritual durante aqueles ca

torze anos, pois não relatou a experiênciaa ninguém. Sem dúvida, essa visão da glória de Deus deu forças ao apóstolo em suavida e ministério. Quer estivesse na prisão,no abismo ou em viagens perigosas, sabiaque Deus estava com ele e que tudo estava bem.

Iremos para o céu somente quando morrermos ou quando Jesus voltar. No entanto, podemos encontrar grande estímulo nofato de que hoje  estamos assentados com

Cristo nos lugares celestiais (Ef 2:6). Temosuma posição de autoridade e de vitória acima de todas as coisas (Ef 1:21, 22). Apesarde não termos visto a glória de Deus damesma forma que Paulo, compartilhamos nopresente dessa glória divina (Jo 17:22) e, umdia, entraremos no céu e contemplaremosa glória de Cristo (Jo 17:24).

Uma honra como essa teria enchido amaioria das pessoas de orgulho. Em vez depermanecerem caladas durante catorze

anos, teriam espalhado o acontecimentopara o mundo todo imediatamente e se tornado famosas. Mas Paulo não se orgulhou.Apenas disse a verdade - não se tratando,portanto, de vanglória - e deixou que os fatos falassem por si mesmos. Sua grande preocupação era que ninguém roubasse de Deusa glória que lhe era devida a fim de dá-la aoapóstolo. Desejava que outros julgassemsua pessoa e seu trabalho com honestidade(ver Rm 12:3).

Como foi possível Paulo ter uma experiência tão maravilhosa e, ainda assim, permanecer tão humilde? Isso se deveu à segundaexperiência que Deus lhe deu.

2. B o n d a d e : D eu s   o   h u m i l h o u  

(2 Co 12:7, 8)Deus sabe como equilibrar nossa vida. Se tivermos apenas bênçãos, poderemos nos tornar orgulhosos; assim, permite que tambémtenhamos fardos. A experiência maravilhosade Paulo no céu poderia ter arruinado seuministério na Terra; em sua bondade, Deuspermitiu que Satanás esbofeteasse Paulo, afim de evitar que se tornasse orgulhoso.

O mistério do sofrimento não será inteiramente resolvido nesta vida. Por vezes, sofre

mos pelo simples fato de sermos humanos.Nosso corpo muda à medida que envelhecemos e que nos tornamos mais suscetíveisaos problemas normais da vida. O mesmocorpo que nos dá prazer também nos causadores. Os mesmos membros da família eamigos que nos alegram também magoamnosso coração. Faz parte da "comédia humana", e a única maneira de escapar é deixar de ser plenamente humano, algo queninguém deseja fazer.

Às vezes, sofremos porque somos insensatos e desobedecemos ao Senhor. Nossarebelião pode nos afligir, ou o Senhor podeescolher nos disciplinar em amor (Hb 12:3ss).O rei Davi sofreu grandemente por causade seu pecado; as conseqüências foramdolorosas, como também o foi a disciplinade Deus (ver 2 Sm 12:1-22; SI 51). Em suagraça, Deus perdoa nossos pecados; mas,em sua soberania, nos permite colher o quesemeamos.

O sofrimento também é um instrumento de Deus para construir um caráter piedoso (Rm 5:1-5). Sem dúvida, Paulo era umhomem rico em caráter cristão, pois permitiu que Deus o moldasse e transformassepor meio de experiências dolorosas de suavida. Quando caminhamos à beira do mar,observamos que, nos lugares protegidosda água, as pedras são pontiagudas, masnos lugares onde as ondas batem, são lisas earredondadas. Deus pode usar as "ondas

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e vagalhões" da vida para nos polir, se assim0 permitirmos.

Paulo recebeu o espinho na carne paraguardá-lo de pecar. Experiências espirituaisemocionantes - com o ir para o céu e voltar- costumam inflar o ego humano, e o orgu

lho conduz a inúmeras tentações. Se o orgulho tivesse tomado conta do coração dePaulo, aqueles catorze anos teriam sido repletos de fracassos ao invés de sucessos.

Não sabemos o que era o espinho nacarne do apóstolo. O termo traduzido por"espinho" significa "uma estaca afiada usada para tortura ou empalação". Era uma aflição física de algum tipo que causava dor eagonia ao apóstolo. Alguns estudiosos daBíblia acreditam que Paulo sofria de um problema de visão (ver Gl 6:11), mas não épossível determinar com certeza. É melhornão saber exatamente a natureza desse "espinho", pois, quaisquer que sejam os nossos sofrimentos, podemos aplicar as liçõesque Paulo aprendeu e, assim, também serencorajados.

Como havia feito no caso de Jó, Deuspermitiu que Satanás afligisse Paulo (ver Jó1 - 2). Apesar de não entendermos plenamente a origem do mal no universo nem ospropósitos que Deus tinha em mente quando permitiu que o mal viesse a existir, sabemos que Deus controla o mal e que podeusá-lo até para a glória de seu nome. Satanás não pode afligir um cristão sem a permissão de Deus. Tudo o que o inimigo fez aJó e a Paulo foi dentro da vontade de Deus.

Satanás recebeu permissão de "esbofetear" Paulo. O termo significa "bater, acertarcom o punho". O tempo do verbo indica queessa dor era constante ou repetitiva. Quando paramos para pensar que Paulo tinha

cartas a escrever, viagens a fazer, sermões apregar, igrejas a visitar, perigos a enfrentarenquanto ministrava, podemos entendercomo se tratava de um problema sério. Nãoé de admirar que o apóstolo orasse três vezes (como Jesus havia feito no jardim [Mc14:32-41]) pedindo que a aflição fosse removida (2 Co 12:8).

Quando Deus permite o sofrimento emnossa vida, há várias maneiras de lidar com

ele. Alguns ficam amargurados e colocam aculpa em Deus por privá-los de sua liberdade e prazer. Outros simplesmente "desistem" e não recebem bênção alguma pormeio dessa experiência, pois não a enfrentam com coragem. Outros rangem os dentes,

colocam uma máscara de valentia, determinados a "suportar até o fim". Apesar de seruma reação corajosa, normalmente ela esgota todas as forças necessárias para a vidadiária, e, depois de um tempo, não é raroocorrer um colapso.

Paulo pecava ao pedir que fosse livradodos ataques de Satanás? Creio que não. Enormal um cristão pedir que Deus o livre deenfermidades e de dores. Deus não  prom e

teu  curar todos os cristãos que lhe pediremem oração, mas nos incentiva a levar até elenossos fardos e necessidades. Paulo nãosabia se esse "espinho na carne" era umaprovação temporária ou uma experiênciapermanente com a qual teria de conviver.

Há quem acredite que um cristão aflitoenvergonha o nome de Deus. De acordocom essas pessoas: "Se você obedece aDeus e se apropria de tudo o que tem direito em Cristo, nunca ficará doente". Nãoencontrei esse ensinamento em parte alguma da Bíblia. Por certo, Deus prometeu aopovo de Israel bênçãos especiais e proteção dentro da antiga aliança (Dt 7:12ss), masem momento algum prometeu aos cristãosdo Novo Testamento que seriam imunes aenfermidades e sofrimentos. Se Paulo tinhaacesso a uma "cura instantânea" em funçãode seu relacionamento com Cristo, então porque não lançou mão desse recurso para simesmo e para outros, como, por exemplo,Epafrodito? (Fp 2:25ss).

Que contraste gritante entre as duas ex

periências do apóstolo! Passou do paraíso àdor, da glória ao sofrimento. Provou a bênção de Deus no céu e sentiu os golpes deSatanás na Terra. Passou do êxtase à agonia,no entanto as duas coisas andam juntas. Umasó experiência de glória o preparou para asexperiências constantes de sofrimento, poissabia que Deus podia suprir sua necessidade.Paulo havia sido elevado ao céu, mas aprendeu que o céu também podia vir até ele.

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3 . G r a ç a : D eu s   o   a j u d o u  

(2 Co 12:9, 10)Essa experiência dolorosa contém duas mensagens. O espinho na carne era a mensagem de Satanás a Paulo, mas Deus tinhaoutra mensagem para seu servo, uma men

sagem acerca da graça. O tempo do verboem 2 Coríntios 12:9 é importante: "Entãoele [Deus] me disse de uma vez por todas".Deus deu a Paulo uma mensagem que ficou com ele. Não lhe foi permitido compartilhar conosco as palavras que ouviu no céu;mas pôde compartilhar as palavras que Deuslhe deu na Terra - palavras de grande estímulo para nós hoje.

Foi uma mensagem de graça. Mas o queé graça? É a provisão de Deus para tudo de

que precisamos, quando precisamos. Alguém disse bem que Deus, em sua graça,nos dá o que não merecemos e, em suamisericórdia, deixa de nos dar o que merecemos. Outra pessoa definiu a graça como"as riquezas de Deus disponíveis à custa deCristo". "Porque todos nós temos recebidoda sua plenitude [de Cristo] e graça sobregraça" (Jo 1:16).

Foi uma mensagem de graça suficiente. A graça nunca está em falta. Deus é sufi

ciente para nosso ministério espiritual (2 Co3:4-6), para nossas necessidades materiais(2 Co 9:8) e para nossas necessidades físicas(2 Co 12:9). Se a graça de Deus é suficientepara nos salvar, sem dúvida é suficiente paranos guardar e fortalecer em nossos momentos de sofrimento.

Foi uma mensagem de graça fortalecedo- ra. Deus nos permite enfraquecer, para quepossamos receber sua força. Trata-se de umprocesso contínuo: "Porque o [meu] poderse aperfeiçoa [está se aperfeiçoando] na[sua] fraqueza" (2 Co 12:9). A força que sabeque é forte, na verdade é fraqueza, mas afraqueza que sabe que é fraca, na verdadeé força.

Na vida cristã, muitas das bênçãos querecebemos vêm por meio da transformação, 

não da substituição.  Ao orar três vezes rogando que sua dor fosse removida, Paulopediu uma substituição: "dá-me saúde emvez de enfermidade; livramento, em vez de

dor e fraqueza". Por vezes, Deus supre anecessidade pela substituição; em outrasocasiões, supre pela transformação. Ele nãoremove a aflição, mas nos dá sua graça, demodo que a aflição trabalhe em nosso favor, não contra nós.

Enquanto Paulo orava sobre seu problema, Deus lhe deu uma compreensão maisprofunda daquilo que fazia em sua vida.Paulo descobriu que o espinho na carne erauma dádiva de Deus.  Que presente maisestranho! Havia apenas uma coisa a fazer:Paulo devia aceitar esse presente e permitirque Deus cumprisse seus propósitos. Deusdesejava guardar Paulo de se exaltar, e essefoi o meio que lhe aprouve usar para cumprir esse propósito.

Quando Paulo aceitou sua aflição comouma dádiva de Deus, permitiu, com isso, quea graça de Deus operasse em sua vida. Foientão que Deus lhe falou e lhe garantiu asua graça. Sempre que passamos por aflições, convém gastar mais tempo estudandoa Palavra de Deus; podemos estar certos deque Deus falará a nosso coração. Ele sempre tem uma mensagem especial a seus filhos quando estão aflitos.

Deus não ofereceu qualquer explicação

a Paulo; em vez disso, lhe deu uma promessa: "A minha graça te basta". Não vivemos de explicações; vivemos de promessas. Nossos sentimentos mudam, mas as promessasde Deus são sempre as mesmas. As promessas geram fé, e a fé fortalece a esperança.

Paulo apropriou-se da promessa de Deuse se valeu da graça que lhe foi oferecida;esse passo transformou em triunfo o que,antes, havia parecido uma tragédia. Deusnão mudou a situação removendo a aflição;mudou-a acrescentando um ingredientenovo: a graça. Nosso Deus é "o Deus detoda graça" (1 Pe 5:10) e está assentado no"trono da graça" (Hb 4:16). A Palavra de Deusé a "palavra da sua graça" (At 20:32) e, deacordo com sua promessa, ele "dá maiorgraça" (Tg 4:6). Sob qualquer ponto de vista, a graça de Deus é suficiente para todasas nossas necessidades.

No entanto, Deus não nos concede suagraça simplesmente para que possamos

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2 C O R Í N T I O S 1 2 : 1 - 1 0 885

"suportar" os sofrimentos. Até mesmo os nãoconvertidos podem demonstrar enorme capacidade de suportar a dor. A graça de Deusdeve permitir que nos elevemos acima  detodas as circunstâncias e sentimentos e fa

zer com que nossas aflições trabalhem em nosso favor,  para nosso bem. Deus desejaconstruir nosso caráter de modo a nos tornar mais semelhantes ao nosso Salvador. Agraça de Deus permitiu que Paulo não apenas aceitasse suas aflições, mas se gloriasse nelas. Seu sofrimento não era um tiranoque o controlava, mas um servo que trabalhava para ele.

Que benefícios Paulo colheu desse sofrimento? Em primeiro lugar, experimentouo poder de Cristo em sua vida. Deus transformou a fraqueza de Paulo em força. O termo traduzido por repousar   significa "abriruma tenda sobre algo". Paulo consideravaseu corpo uma tenda frágil (2 Co 5:1 ss), masa glória de Deus havia entrado nessa tendae a transformara num santo tabernáculo.

Além disso, o apóstolo foi capaz de segloriar em suas enfermidades. Isso não significa que preferia a dor à saúde, mas que

aprendeu a se beneficiar das enfermidades.O que determinou essa diferença? Ele "[sentiu] prazer nas fraquezas" e problemas, nãoporque era emocionalmente desequilibradoe gostava da dor, mas porque sofria por amora Jesus Cristo. Glorificava a Deus com seumodo de aceitar e de lidar com as experiências difíceis da vida.

Nas palavras de P. T. Forsyth: "É mais formidável orar pedindo a conversão da dor

do que sua remoção". Paulo conquistou avitória, não pela substituição, mas pela transformação. Descobriu a suficiência da graçade Deus.

A partir da experiência de Paulo, podemos aprender várias lições práticas.

1. Para o cristão devoto, o espiritual é mais importante que o físico. Não se trata de umasugestão de que devemos ignorar o aspecto físico, pois nosso corpo é templo do Es

pírito de Deus. Significa, porém, que nãodevemos procurar fazer de nosso corpo umfim em si. Ele é um instrumento de Deus

Deu s faz para desenvolver nosso caráter cristão é muito mais importante do que a curafísica sem caráter.

2. Deus sabe equilibrar em nossa vida as bênçãos e os fardos, o sofrimento e a glória. 

A vida é parecida com a fórmula de um remédio: se os ingredientes são tomados separadamente, podem causar a morte, mas,quando misturados da maneira correta e nadevida proporção, podem nos ajudar.

3. Nem toda enfermidade é causada pelo  pecado.  De acordo com a argumentação dosamigos de Jó, ele havia pecado, por isso estava sofrendo. No entanto, essa linha de raciocínio estava completamente errada no casode Jó e também não se aplica a Paulo. Háocasiões em que Deus permite aflições deSatanás, a fim de realizar, por meios delas,seus propósitos maravilhosos em nossa vida.

4. O peca do é pior que a enfermidade; e o  pio r pecado de todos é o orgulho.  Apessoa saudável que se rebela contra Deusestá em piores condições do que a pessoaaflita que se submete a Deus e que desfruta sua graça. É um paradoxo - uma evidência da soberania divina - Deus ter usado

Satanás, o mais orgulhoso de todos os seres, para conservar a humildade de Paulo.

5. A aflição física não deve ser um impedi

mento para o serviço cristão eficaz.  Os cristãos de hoje têm a tendência de ser cheiosde caprichos e de usar qualquer pequenodesconforto ou dor como desculpa para nãoir à igreja ou para recusar alguma oportunidade de servir ao Senhor. Paulo não permitiuque seu espinho na carne fosse uma pedra

de tropeço. Antes, deixou que Deus transformasse esse espinho em uma pedra de apoio.

6. Podemos sempre descansar na Palavra de Deus.  Ele sempre tem uma mensagemde encorajamento para nós em tempos detribulação e de sofrimento.

Madame Guyon, a grande mística francesa, escreveu certa vez a uma amiga aflita:"Ah! se você soubesse do poder inerente àagonia que é aceita!"

Paulo conhecia esse poder, pois confiava na vontade de Deus e dependia da graçade Deus, e esse mesmo poder nos é ofere-

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P r e p a r e m -s e !

2 C o r í n t i o s 1 2 : 1 1 - 1 3 : 1 3

12

Q uando Paulo se aproxima do final dacarta, seu amor aos coríntios o leva atazer um último apelo. Não desejava que

sua terceira visita à igreja deles fosse outraexperiência dolorosa para ambas as partes.Havia aberto o coração, explicado seu mi

nistério, respondido a suas acusações e instado que se sujeitassem à Palavra de Deus eque obedecessem ao Senhor. O que maislhe restava dizer ou fazer?

Nesta última seção da epístola, Paulo usatrês abordagens, na tentativa de motivar oscoríntios à obediência e à submissão.

1 . V e r g o n h a   ( 2 Co 1 2 : 1 1 - 2 1 )

É bom quando as pessoas são capazes dese envergonhar de suas atitudes e atos erra

dos. Quando uma pessoa culpada não sentemais vergonha, é sinal que seu coração estáendurecido, e sua consciência, cauterizada."Serão envergonhados, porque cometemabominação sem sentir por isso vergonha;nem sabem que coisa é envergonhar-se.Portanto, cairão com os que caem; quandoeu os castigar, tropeçarão, diz o S e n h o r " {Jr6:15).

Em primeiro lugar, Paulo chama a atenção dos coríntios por seu menosprezo  (2 Co

12:11-13). Deveriam elogiar o apóstolo emvez de obrigá-lo a gloriar-se de si mesmo. Noentanto, estavam se gabando dos "supe-rapóstolos", os judaizantes, que haviam conquistado sua afeição e que controlavam aigreja.

Por acaso Paulo era inferior a esses homens? De maneira alguma! Os coríntios viram Paulo trabalhar; na verdade, lhe deviama alma. O apóstolo havia realizado no meio

deles sinais miraculosos que provavam seuapostolado (Hb 2:1-4). Havia perseveradoem seu ministério em Corinto apesar detodas as perseguições exteriores e problemas interiores. Além do mais, não haviadado despesa alguma à igreja. Paulo voltaa usar de certa ironia ao escrever: "Porque,

em que tendes vós sido inferiores às demais igrejas, senão neste fato de não voster sido pesado? Perdoai-me esta injustiça"(2 Co 12:13).

Um dos perigos que corremos na vidacristã é de nos acostumarmos às bênçãos.Um pastor dedicado ou um professor deEscola Bíblica Dominical pode fazer tantacoisa por nós que acabamos não dando odevido valor a seu ministério. (Devo ser justo e dizer que, por vezes, os pastores tam

bém não dão o devido valor aos membrosde sua igreja.) Essa atitude levou Paulo achamar a atenção dos coríntios por seudesapreço (2  Co 12:14-18).

Apesar das dificuldades envolvidas, Paulo havia sido fiel em visitar os coríntios eestava prestes a voltar para vê-los (ver 2 Co13:1). Em vez de ficarem gratos, os coríntioscriticaram Paulo por sua mudança de planos.O apóstolo não havia aceitado nenhumacontribuição da igreja para seu sustento;

antes, havia se sacrificado por essa congregação. No entanto, os coríntios não estavamdispostos a mostrar sua apreciação compartilhando suas riquezas com outros. Pareciaque, quanto mais Paulo os amava, menoseles retribuíam seu amor! Essa atitude devia-se ao fato de não terem amor sincero porCristo (2 Co 11:3). Paulo estava disposto a"se gastar e se deixar gastar" a fim de ajudara igreja.

Os judaizantes haviam empregado méto

dos astutos para explorar a igreja (ver 2 Co4:2), mas Paulo fora sincero e os havia tratado sem dolo algum. O único "artifício" usado pelo apóstolo havia sido sua recusa emreceber deles seu sustento. Com isso, oshavia desarmado e impedido de acusá-lo deestar interessado somente em dinheiro. Nenhum dos colaboradores enviados por Paulo havia explorado os coríntios de algummodo nem se aproveitado deles.

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2 C O R Í N T I O S 1 2 : 1 1 - 1 3 : 1 3 887

É triste quando os filhos não apreciam oque os pais fazem por eles. Também é tristequando os filhos de Deus não dão o devidovalor ao que seus "pais espirituais" fazempor eles. Qual é a causa dessa  falta de apre

ciação?   Paulo trata dessa questão no pará

grafo seguinte: a  falta de consagração  (2 Co12:19-21). Havia pecados terríveis dentrodaquela igreja, e Paulo desejava que fossemtratados e abandonados de uma vez portodas antes que chegasse. Do contrário, suavisita seria mais uma experiência dolorosa.

É provável que alguns membros da igre ja dissessem: "Se Paulo vier nos visitar outravez, criará mais problemas!" Paulo deixa claro que seu desejo é resolver  os problemas efortalecer a igreja. Os pecados dentro da

igreja devem ser encarados com honestidade e tratados com coragem. Varrê-los paradebaixo do tapete só piora a situação. Opecado dentro da igreja é como um câncerno corpo humano: deve ser extirpado.

Vejamos as transgressões das quais a igre ja era culpada, que deveriam ter sido confessadas e deixadas. Eram culpados dealtercações ("contendas") porque invejavama outros. Tinham ataques de raiva ("iras").Promoviam fofocas e tramas ("intrigas") no

meio da congregação. Tudo isso tinha comoorigem sua presunção e uma idéia exagerada de importância ("orgulho") e resultavaem desordem ("tumultos") dentro da igreja(2 Co 12:20). Se compararmos essa lista depecados com 1 Coríntios 13, veremos o queestava em falta na congregação: amor.

Ao lado desses "pecados do espírito"(2 Co 7:1), também havia os pecados vulgares da carne - "impureza, prostituição elascívia". Paulo tratou dessas questões em

1 Coríntios 5 e 6, mas alguns dos transgressores persistiam em sua desobediência. Emvez de se entregarem à nova vida, permitiam que a velha natureza os controlassenovamente (1 Co 6:9-11).

Paulo não estava ansioso para fazer essaterceira visita. Temia não encontrar a igrejanas condições em que desejava e que elestambém se frustrassem em suas expectativascom relação ao apóstolo. Mas Paulo prometeu que, mesmo estando humilhado e

profundamente entristecido (neste caso, overbo chorar   se refere a "prantear os mortos"), ainda assim usaria sua autoridade paracolocar as coisas em ordem. Seu amor poreles era grande demais para ignorar os problemas e permitir que continuassem a en

fraquecer a igreja.Os coríntios deveriam estar envergonha

dos, mas não estavam. A fim de garantir aclareza de sua mensagem, Paulo usa outraabordagem.

2. A d v e r t ê n c i a   (2 Co 13:1-8)Esta passagem contém duas advertências.

"Preparem-se1" (w. 1-4).  Ao tratar dopecado na igreja local, devemos saber dosfatos, não apenas dos boatos. Paulo cita

Deuteronômio 19:15, e encontramos paralelos em Números 35:30, Mateus 18:16 e1 Timóteo 5:19: A presença de testemunhasajudaria a garantir a veracidade, especialmente tendo em vista a total desarmonia em quese encontrava aquela comunidade cristã.

Se os membros da congregação de Corinto tivessem seguido as instruções dadaspor Jesus em Mateus 18:15-20, teriam conseguido resolver a maioria dos problemaspor conta própria. Já vi pequenos desenten

dimentos na igreja se transformarem em problemas enormes e complicados, só porqueos cristãos não obedeceram às instruçõesde Cristo. O pastor e a congregação nãodevem se envolver em uma questão até queos indivíduos em conflito tenham buscadosinceramente uma solução.

Os judaizantes na igreja haviam acusado Paulo de ser um homem fraco (ver 2 Co10:7-11). Sua abordagem ao ministério eraautoritária e ditatorial, enquanto a abor

dagem de Paulo era mansa e humilde (ver2 Co 1:24). Agora, Paulo assevera que, casose/a necessário,  pode ser enérgico. Sua advertência é: "Não os pouparei!", e usa umtermo que significa "poupar na batalha". Emresumo, Paulo declarava guerra a qualquerum que se opusesse à autoridade da Palavra de Deus.

"Então, que Paulo prove ser um verdadeiro apóstolo!", desafiaram seus oponentes; ao que o apóstolo respondeu: "Assim

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como Jesus Cristo, quando pareço fraco éque sou forte". Na cruz, Jesus Cristo manifestou fraqueza; mas a cruz ainda é "poderde Deus" (1 Co 1:18). Paulo já explicou seumétodo de guerra espiritual (2 Co 10:1-6) eadvertiu seus leitores a que olhassem além

da aparência superficial das coisas.Pelos padrões do mundo, tanto Jesus

quanto Paulo foram fracos; mas, pelos padrões do Senhor, ambos foram fortes. Oobreiro sábio e maduro sabe quando ser "fraco" e quando ser "forte" ao tratar dos problemas de disciplina na igreja local.

Um pastor amigo meu, que agora estáno céu, costumava pregar de maneira muitotranqüila e usava uma abordagem semelhante em seu ministério pessoal. Depois de ou

vir um de seus sermões, uma visitante disse:- Fiquei esperando para ver quando ele

começaria a pregar de verdade!Estava acostumada a ouvir pastores pre

gando aos brados, gerando mais calor doque luz. No entanto, meu amigo construiuuma igreja forte, pois sabia quais eram osverdadeiros paradigmas do ministério. Sabia como ser "fraco em Cristo" e tambémsabia como ser "forte".

De que maneira as pessoas avaliam o

ministério nos dias de hoje? Pela retóricapoderosa ou pelo conteúdo bíblico? Pelocaráter cristão ou por aquilo que a mídiadiz? Muitos cristãos seguem os padrões domundo ao avaliar os ministérios, quando, naverdade, deveriam prestar atenção aos padrões de Deus.

*Examinai-vos" (w. 5-8).  Este parágrafoé uma aplicação do termo  prova  que Paulousa em 2 Coríntios 13:3: "vocês têm me examinado", escreve o apóstolo, "mas por que

não examinam a si mesmos?" Tenho observado em meu ministério que os que examinam e condenam os outros mais depressasão, muitas vezes, os mesmos que têm dentro de si os pecados mais sérios. Aliás, umaforma de melhorar nossa imagem é condenar outra pessoa.

Em primeiro lugar, Paulo diz aos coríntiosque devem examinar seu coração a fim dedeterminar se são, de fato, nascidos de novo e membros da família de Deus. Você tem

o testemunho do Espírito Santo no coração?(Rm 8:9, 16). Ama seus irmãos e suas irmãsem Cristo? (1 Jo 3:14). Pratica a justiça? (1 Jo2:29; 3:9). Venceu o mundo e, portanto, levauma vida de separação piedosa? (1 Jo 5:4).Essas são apenas algumas perguntas que

podemos aplicar a nossa vida para nos certificarmos de que somos filhos de Deus.

Em uma das igrejas que pastoreei, tínhamos um adolescente que era o centro dequase todos problemas do grupo de jovens.Era um músico talentoso e membro da igre

 ja, mas, ainda assim, problemático. Duranteum retiro de que ele participou nas férias,os líderes da mocidade e eu combinamosde orar juntos por ele todos os dias. Em umadas reuniões do retiro, levantou-se e anun

ciou que havia sido salvo naquela semana!Sua profissão de fé cristã, até então, nãopassara de uma farsa. Esse rapaz experimentou uma mudança dramática em sua vida e,hoje, serve ao Senhor fielmente.

Sem dúvida, muitos dos problemas daigreja de Corinto eram causados por pessoas que se diziam salvas, mas que, na verdade, nunca haviam se arrependido nem cridoem Jesus Cristo. Nossas igrejas estão cheiasde gente assim hoje. Paulo as chama de re

 provadas, que significa "falsificadas, desacreditadas depois de uma prova". O apóstolovolta a usar essa palavra em 2 Coríntios 13:6,7, enfatizando a importância de uma pessoa saber com certeza que é salva e vai parao céu (ver 1 Jo 5:11-13).

Em 2 Coríntios 13:7, Paulo deixa claroque não desejava que os coríntios fossemreprovados no teste só para mostrar que estava certo. Também não desejava que levassem uma vida piedosa só para o apóstolo

poder se gabar deles. Não se importava deser criticado por causa deles, desde que estivessem obedecendo ao Senhor. Não sepreocupava com a própria reputação, poiso Senhor conhecia seu coração; estava, sim,preocupado com seu caráter cristão.

O mais importante é a verdade do evangelho e a Palavra de Deus (2 Co 13:8). Paulonão diz aqui que é impossível atacar a verdade ou obstruí-la, pois era exatamente issoo que estava acontecendo naquela época

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os seus pecados e problemas, tinham todoo direito de se animar.

"Vivei em paz" era uma admoestaçãonecessária, pois havia divisão e dissensão naigreja (ver 2 Co 12:20). Se praticassem oamor e buscassem a unidade, as guerras

cessariam, e eles desfrutariam de paz em suacomunhão. "Sede do mesmo parecer" nãosignifica que todos deveriam concordar sobre tudo, mas que deveriam concordar emnão discordar nas questões secundárias.

Nosso Deus é "o Deus de amor e depaz" (2 Co 13:11). Será que o mundo a nosso redor é capaz de perceber essa realidadepela forma como vivemos e conduzimos osnegócios da igreja? "Vejam como amam unsaos outros!", foi o que o mundo perdido dis

se sobre a Igreja primitiva, mas há muito tempo a Igreja não tem se mostrado digna dessetipo de elogio.

Desde a Antiguidade, o beijo ("ósculo")é uma forma de saudação e um gesto deamor e de comunhão, sendo trocado entremembros do mesmo sexo. A Igreja primitivacostumava usar o beijo da paz e o beijo do amor  como prova de sua afeição e de preocupação uns pelos outros. Era um "ósculosanto", santificado por sua devoção para

com Jesus Cristo. Os membros da Igreja primitiva muitas vezes beijavam os recém-con-vertidos depois que estes eram batizados,como sinal de que os recebiam de braçosabertos na comunhão.

A comunhão diária com o povo de Deusé importante para a igreja. Devemos nossaudar mesmo quando não estamos em umareunião da igreja, demonstrando preocupação uns pelos outros. Ao dar essa admoestação em 2 Corintios 13:12, Paulo certamente

apontava, de maneira enérgica, para um dos

problemas mais sérios da igreja: sua divisãoe falta de consideração uns pelos outros.

A bênção final em 2 Corintios 13:13 éuma das prediletas das igrejas. Enfatiza a Trindade (ver Mt 28:19) e as bênçãos que podemos receber pelo fato de pertencermos a

Deus. A graça do Senhor jesus Cristo nos trazà memória seu nascimento, quando ele sefez pobre a fim de nos tornar ricos (ver 2 Co8:9). O amor de Deus nos leva ao Calvário,onde Deus deu seu Filho como sacrifício pornossos pecados (Jo 3:16). A comunhão do Espírito Santo nos lembra Pentecostes, quando o Espírito de Deus veio e formou a Igreja(At 2).

Os cristãos de Corinto, naquela época,e todos os cristãos hoje precisam encareci-

damente das bênçãos da graça, do amor eda comunhão. Os judaizantes daquela época, assim como as seitas de hoje, enfatizavama Lei em vez da graça, a exclusividade emvez do amor e a independência em vez dacomunhão. Se ao menos o povo tivesse vivido pela graça e o amor de Deus, a competição na igreja de Corinto e as divisõesresultantes teriam sido evitadas.

A Igreja é um milagre e pode ser sustentada somente pelo ministério de Deus. Não

há talento, capacidade ou plano humanocapaz de transformar a Igreja no que ela deveser. Somente Deus pode fazer isso. Se cadacristão depender da graça de Deus, caminhar em amor a Deus e participar da comunhão do Espírito, não andando na carne, seráuma parte da solução, não do problema.Estará vivendo  essa bênção e sendo umabênção a outros!

Devemos pedir a Deus que nos transforme em cristãos desse tipo. Sejamos encora

 jados e encorajemos a outros!