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Cairo Mohamad Ibrahim KatribCoordenador de Conteúdos - Dirco

EXPEDIENTEISSN 2317-7683

O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Uni-versidade Federal de Uberlândia (UFU).Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | [email protected].

Diretora de ComunicaçãoMaria Clara Tomaz Machado

Coordenador de JornalismoFabiano Goulart

Coordenador de ConteúdoCairo Mohamad Ibrahim Katrib

Equipe de JornalismoDiélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva

EstagiáriosAna Luiza Honma, Aline Pires, Carlos Gabriel Ferreira, Daniela Malagoli, Júnior Barbosa,Isabela Lavor e Isley Borges

EditoraEliane Moreira (RP525/RN)

Projeto gráfico e diagramaçãoElisa Chueiri

RevisãoDiélen Borges eMaria Clara Tomaz Machado

FotografiaMilton Santos

ImpressãoImprensa Universitária - Gráfica UFU

Tiragem2500 exemplares

Docente colaboradorEduardo Macedo

Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor:Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Mar-lene Marins de Camargos Borges | Prefeito Uni-versitário: Reges Eduardo Franco Teodoro

Reivindicações, lutas e reconhecimentos: uma questãode consciência

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Comitês analisam situação das bacias hidrográficas

O Rio Uberabinha está na Bacia do Rio Paranaíba, de onde 70% da água captada vão para a agricultura

Água:envolver-se

é precisotexto Marco Cavalcanti

foto Milton Santos

De qual bacia hidrográfica vem a água que utilizamos? Saber a res-posta dessa pergunta é fundamental para nos envolvermos nas questões que interferem na quantidade e na qualidade de um dos mais impor-tantes bens de domínio público. Isso porque é nas reuniões dos comitês de bacias hidrográficas – formados por representantes do poder público, dos usuários (setores econômicos) e das comunidades – que os problemas e conflitos são discutidos.

“Quando a gente fala em água, normalmente, não assumimos a res-ponsabilidade. A coletividade não se vê como ‘ator’ nas ações de conser-vação, mas é fundamental que par-ticipe”, observa Wilson Shimizu, engenheiro civil com pós-graduação em Planejamento Sócio-ambiental, servidor da UFU e um dos integran-tes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba.

A universidade tem representan-tes tanto nas plenárias dos comitês, como nas suas câmaras e grupos de trabalho. Estudos científicos de pes-quisadores da UFU fazem parte do banco de dados que os comitês utili-zam para consultas ou na elaboração do Plano de Recursos Hídricos – do-cumento fundamental para se ter um “raio X” da bacia e propor ações como a criação de áreas de proteção.

Uso exagerado da água, falta de estrutura do estado para controlar e definir as outorgas (licenças que dão o direito de uso de recursos hí-dricos), modelo de desenvolvimento altamente predador, remoção da co-bertura vegetal, usos de agrotóxicos e drenos colocados nas áreas úmidas são problemas que castigam as ba-cias, segundo o geógrafo Cláudio Di Mauro, diretor do Instituto de Geo-grafia da UFU.

O professor coordenou uma equi-pe formada por integrantes de vários segmentos que propôs, em 2012, a criação de uma Unidade de Con-servação para proteger a nascente do Rio Uberabinha, manancial que abastece o município de Uberlân-dia. No entanto, o projeto foi barrado

nas votações do Comitê da Bacia do Rio Araguari. Como uma alternativa, hoje os trabalhos estão voltados para uma área menor: a nascente do Ri-beirão Bom Jardim, da qual é feita a captação de metade da água distribu-ída aos moradores da segunda cidade mais populosa de Minas Gerais.

A reação não é à toa. Conforme mostra o diagnóstico da Bacia do Paranaíba, enquanto 7,4% da água utilizada vão para o abastecimento público, 3% são consumidos pela pe-cuária, 19,3% pelas indústrias e 70% pela agricultura.

“O que você tem é a questão da briga do capital. Quem é que precisa de mais água? Para produzir quanto? Para ganhar quanto de dinheiro? Esse pessoal não está disposto simples-mente a fazer acordo”, revela Cláudio Di Mauro ao se referir à influência de produtores rurais e empresários.

“Eles [os que são contra a criação da Unidade de Conservação] quase sempre tomam a gente como quem não está do lado deles. Quando é o contrário. Nós queremos que eles te-nham água durante todo o tempo e no futuro. Nós estamos pensando na preservação, no que eles chamam de

sustentabilidade até do sistema eco-nômico. Eu quero, na verdade, uma sustentabilidade ambiental, que vai dar sustentabilidade econômica”, afirma Di Mauro.

Bacia“Na gestão dos recursos hídricos,

a unidade territorial de planejamen-to não é o município, mas a bacia hi-drográfica”, explica Shimizu. A partir das nascentes e escorrendo do lugar mais alto para o mais baixo, córre-gos, ribeirões e um ou mais rios for-mam as bacias – separadas de outras bacias por relevos divisores de águas. Uberlândia, por exemplo, é uma das cidades situadas na Bacia do Rio Para-naíba, formada por sub-bacias. Uma delas é a Sub-bacia do Rio Araguari, batizada com o nome do rio que nasce no Parque Nacional da Serra da Ca-nastra (MG), que recebe as águas do afluente Rio Uberabinha e deságua no Rio Paranaíba. A Bacia do Rio Para-naíba, por sua vez, é uma das bacias que formam a Região Hidrográfica do Paraná, em referência ao Rio Paraná, formado pelas águas do Paranaíba e do Rio Grande. O Brasil possui outras 11 regiões hidrográficas.

Vivenciamos atualmente, um turbilhão de situações que tem nos cobrado mudanças de pos-tura e atitudes que vão desde o uso consciente da água, do respeito as diferenças ou de situações simples como parar o veículo na faixa de pedestre, respeitar o assento para idosos no transporte pú-blico e não jogar papel no chão. Mas para que tais mudanças ocorram é preciso que cada um de nós não nos esqueçamos do nosso compromisso ético social em sermos porta vozes desse processo de transformação.

Se desperdiçamos alimentos e água, antes tidos como recursos inesgotáveis, hoje presenciamos um clamor coletivo, no sentido do uso consciente desses bens que estão se tornando cada vez mais escassos. Porém nos deparamos com pessoas desperdiçando água lavando carros, calçadas, aguando canteiros públicos, além de nos depararmos todos os dias com um grande número de alimentos sen-do descartados em latas de lixos nas portas de supermercados, sacolões e frutarias.

É notório, também, presenciarmos cenas na mídia e nos nossos espaços de vivência de conjunturas em que a conscientização em relação as nossas posturas e a efetivação de atitudes cidadãs são atropeladas pela banalidade com que as cenas do cotidiano se descortinam em nossa frente, para isso basta ligarmos a TV ou folhearmos revistas e jornais. Alí nos deparamos com cenas de violên-cia, discriminação, corrupção, asassinatos, desaparecimentos, um verdadeiro circo dos horrores. É necessário provocarmos a transformação, ver e ler com outros olhos a realidade presenciada.

Novembro, mês da Consciência negra, da Proclamação da República. Período de conscientizar sobre o uso racional da água, de assumirmos o consumo com responsabilidade, de fazer um “raio X” de nossas atitudes; de pensar a educação e as novas tecnologias e a democratização da ciência como processo desencadeador da transformação social. De tratar com zelo o bem público e de possibilitar o acesso à população à cultura e à valorização das práticas sociais como transformadoras da realidade.

A edição do Jornal da UFU traz uma miscelânea de artigos que abordam, justamente esse olhar múltiplo sobre o universo social e acadêmico, evidenciando a necessidade de preservação dos ma-nanciais do município de Uberlândia; do uso dos recursos tecnológicos no bom funcionamento e acesso do acervo da biblioteca-UFU; da necessidade de se rever posturas e olhares em relação a im-portância do negro para a história do país ancorado a experiências exitosas realizadas no âmbito da Universidade; de retirar do anonimato sujeitos que lutaram pelo exercício pleno da cidadania, como é a história de Ismene Mendes, ex-aluna da UFU, assassinada nos anos de 1980 por reivindicar os direitos dos trabalhadores rurais do município de Patrocínio-MG.

Apresentamos também, a pesquisa sobre a “Formiga esperta de Uberlândia” que demonstra a parceria positiva de docente do curso de Ciências Biológicas UFU e a relevância da descoberta para o cenário científico internacional. O leitor conhecerá melhor o trabalho de reabilitação neurológi-ca do curso de Fisioterapia-UFU; poderá entrever pela história dos oito anos de funcionamento do Campus Pontal e da Faculdade de Ciências Integradas sob o olhar da historiadora e Pró-Reitora de Extensão, Cultura e Assuntos, professora Dalva Maria de Oliveira Silva, além de fazermos uma relei-tura da musicalidade e de sua importância sociocultural por meio do projeto de extensão Orquestra Popular do Cerrado. Uma boa leitura!

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Tecnologiaa serviço dos usuáriosOtimização e eficácia no atendimento das Bibliotecas

texto Eliane Moreirafoto Milton Santos

Menos de cinco minutos. Esse é o tempo que o estudante leva para re-novar o empréstimo de publicações que faz junto ao Sistema de Biblio-tecas da UFU. Tudo feito no próprio aparelho celular. A transação é possí-vel devido ao aplicativo MozGo, para dispositivo móvel, desenvolvido por uma empresa norte-americana para gerenciar os serviços oferecidos pe-las Bibliotecas e que tem facilitado o acesso dos usuários. O aplicati-vo permite a reserva, a renovação, a pesquisa e a gestão do cadastro do usuário. “De qualquer lugar posso re-novar meus empréstimos, me ajuda a não acumular multa”, ressalta Marcos Guilherme, aluno do segundo ano do curso de Economia.

De acordo com os coordenado-res do Sistema de Bibliotecas, o de-senvolvimento de novas tecnologias foi necessário em função da grande demanda. Diariamente, só a unida-de central, que fica no campus Santa Mônica, recebe cerca de quatro mil usuários. Com um acervo de apro-ximadamente 306 mil exemplares (livros, partituras, catálogos, CDs, DVDs, normas técnicas, etc.), em

2013, as oito bibliotecas receberam juntas cerca de 2,1 milhões de visitas. “Foi necessário implantar serviços e tecnologias que pudessem otimizar o tempo dos servidores, aproveitan-do sua competência informacional e personalizando o atendimento aos usuários”, explica Maira Nani, coor-denadora de atendimento aos usuá-rios das bibliotecas.

Além dos serviços, são disponibi-lizados também os empréstimos de equipamentos eletrônicos como ta-blets (50), netbooks (100) e e-readers (150 leitores digitais). A UFU é a pri-meira universidade federal a empres-tar esses equipamentos, permitindo que o usuário leve-os para casa e fi-que com eles durante sete dias. “No momento do empréstimo é feita uma conferência e o equipamento deve ser entregue da mesma maneira”, ex-plica Paulo Cunha, coordenador de circulação e restauração.

Outras tecnologiasSão oferecidos, também, aos usu-

ários das Bibliotecas dos campi Santa Mônica e Umuarama o autoemprés-timo e o serviço de autodevolução

24 horas. Há ainda, disponível na Bi-blioteca central, o scanner planetá-rio, que permite digitalizar e salvar os arquivos diretamente em pen drive ou enviá-los por e-mail. “É mais fácil manusear [o scanner] que a impres-sora, rápido e econômico, sem contar que é sustentável, pois dispensa o uso de papel”, ressalta Natállya Ferreira, estudante de Engenharia Ambiental.

Avaliação e melhoriasA partir dos indicadores obser-

vados nos relatórios da Comissão Própria de Avaliação (CPA), muitos avanços têm sido introduzidos nos serviços prestados pelas Bibliotecas. “Todo ano, quando chega o relatório, avaliamos as sugestões e traçamos nossas metas. O nosso objetivo é que aquela reclamação não volte a acon-tecer. É trabalhar para que não haja reincidência”, afirma Maira Nani.

As considerações do Ministé-rio da Educação, elaboradas a par-tir das avaliações dos cursos da instituição, também são utiliza-das como balizadores para a imple-mentação de melhorias dos serviços prestados pelas Bibliotecas. Nesse

processo são avaliados indicadores como: bibliografias básica e com-plementar, periódicos eletrônicos e infraestrutura.

Um dos próximos desafios é im-plantar um serviço de indexação e recuperação de informações de todas as bases de dados disponibilizadas pelas Bibliotecas a partir de uma úni-ca interface (metabuscador), além da busca da certificação de qualida-de para o setor. São metas que devem ser atingidas em médio prazo, tendo em vista a qualidade dos trabalhos oferecidos e que tem se tornado refe-rência para outras instituições.

Para baixar o aplicativo em smartphone e tablet com sistema Android, basta acessar o Google Play. Em aparelhos com sistema iOS (Apple), a operação é feita pela App Store.

Bibliotecas UFU:Santa Mônica, Umuarama, Educação Física, Ituiutaba, Monte Carmelo, Patos de Minas, Escola de Educação Básica (Eseba) e Hospital de Clínicas.

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texto Cairo Katrib, Lou Bertoni e Wylliane Paixão, bolsistas do PET (Re)conectando Saberesfoto Milton Santos

Marciele Dias participou do projeto, com a oficina “Cabelos e Penteados Afro”

Lutar pelo reconhecimento, pela visibilidade positiva e pelos direitos negados durante séculos de silencia-mento é a tônica que movimenta as re-flexões sobre a Consciência Negra no mês de novembro. A data é referenda-da pela Lei 10.639/03. O 20 de novem-bro homenageia Zumbi dos Palmares, exalta a bagagem cultural africana na nossa formação e evidencia o direito à liberdade de expressão cultural e reli-giosa e a luta contra o preconceito, o racismo e a discriminação.

Se Zumbi dos Palmares é o repre-sentante oficial da luta por liberdade e reconhecimento do protagonismo

do negro na nossa história, quantos outros anônimos não se espelham e espelharam nele, lutando pelo reco-nhecimento e pela contribuição dei-xada pelos africanos ao país? Dentre eles, citamos Abdias do Nascimento, José do Patrocínio, Cartola, Chica da Silva, Bispo do Rosário, Dom Obá e Maria Firmina.

Eles são heróis, pois, de uma for-ma ou de outra, contribuíram para termos uma sociedade mais justa, ca-paz de reconhecer nossa diversidade e pluralidade cultural. Quantos ou-tros não renascem a cada dia entre os jovens negros brasileiros?

Mesmo com tantas vozes a res-soar em prol da consolidação de um país efetivamente plural, o respeito às diferenças ainda é frágil.

Ora, é preciso recuperar as me-mórias adormecidas de nossa histó-ria para enxergarmos que atitudes xenofóbicas não são aceitáveis. Essa aversão é mais latente quando a cor da pele, o tipo físico ou o cabelo des-toam de um padrão estético imposto.

Qual é o pente que te penteia?Bolsistas do Programa de Educa-

ção Tutorial (PET) (Re)conectando Saberes, do Campus Pontal da UFU,

As cores da nossa cor:alteridade, identidade e consciência

Projeto de extensão contribui para pesquisasobre preconceito e racismo

desenvolveram uma pesquisa, por meio das redes sociais, na qual so-licitaram que as pessoas indicassem denominações sinônimas de cabelo afro. O objetivo foi perceber como a tônica do preconceito e do racismo se desvela por meio de adjetivos pe-jorativos aplicados ao cabelo.

O interesse pela temática surgiu após a ação de extensão “Qual é o pen-te que te penteia?”, desenvolvida nas escolas públicas da cidade de Ituiu-taba-MG. Durante o projeto de valo-rização da estética negra, as petianas notaram que um dos principais veto-res para discriminação racial, além da cor da pele, é o cabelo. Entre as crian-ças negras, o problema é mais latente.

Por meio da pesquisa, observou--se a quantidade de denominações existentes em referência ao cabelo crespo, a maioria relacionando-o à falta de higiene e, até mesmo, à ani-malização, não somente do cabelo como da própria pessoa com carac-terísticas físicas do negro.

Porém, isso não se restringe às denominações recolhidas durante a pesquisa. Verificou-se que alguns desses nomes direcionados ao cabe-lo do negro estão em um patamar que vai além de um simples apelido, constituindo um significado.

Os mais de 200 participantes da pesquisa, de diversas regiões brasilei-ras, apresentaram diversas denomina-ções racistas que já ouviram em relação ao cabelo afro, dentre elas: “cabelo-de--bosta-de-rolinha, de-espeta-caju, de--semente-de-mamão, gafuringa, juba de pimenta, aranzel, eriçado, leão, Mi-ckey Mouse, pelo de macaco, cabelo ruim, duro, feio, de nego, e de bruxa”.

Todas as denominações reme-tem a uma imagem negativa da esté-tica negra e reforçam uma história de exclusão e de não valorização cultu-ral da ancestralidade africana. Para as petianas, as pessoas que apresentam essas visões distorcidas das formas de expressão da beleza negra esque-cem que o cabelo representa a autoa-firmação e o empoderamento de uma cultura, de uma etnia, dos valores herdados, da conscientização racial e que faz parte da nossa história. O ca-belo não pode ser visto como passa-porte social, ainda mais num país tão diverso como o nosso.

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SubcomiSSão da Verdade tenta reconStituirhistória de ismene mendes, ex-aluna da uFu

texto Renata Neiva foto arquivo família Ismene Mendes

EM BUSCA DO PEDIDO

DE PERDÃOEm meados dos anos 1980, um

cortejo fúnebre mobilizou trabalha-dores rurais de Patrocínio, município mineiro com pouco mais de 88 mil ha-bitantes. Enquanto eles se despediam de “Mãezinha”, as janelas das casas e as portas do comércio se fechavam. Sinal de respeito? Medo, talvez. Pelo menos, é o que relataram homens e mulheres do campo à Subcomissão Regional da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, que tenta descobrir o que teria ocorrido com a vereadora Isme-ne Mendes, formada em Direito pela UFU, que morreu aos 29 anos.

O caso de Ismene, conhecida como a “Mãezinha” do Sindicato dos Tra-balhadores Rurais, ainda parece dei-xar desconcertadas algumas pessoas de Patrocínio. Essa é a percepção de Neiva Flávia de Oliveira, professora de Direito da UFU e integrante da Subco-missão da Verdade. Ao buscar arqui-vos, documentos e fontes à procura do que estaria por trás da morte da verea-dora, Neiva Flávia encontrou resistên-cia, silêncio, medo e preconceito. “Por

que você está mexendo com isso?”, “ela era mulher de vida fácil” ou “nunca ouvi falar dessa mulher” foram frases ouvidas em algumas instituições pro-curadas pela professora. O curioso é que Ismene Mendes dá nome ao ple-nário da Câmara Municipal, a uma rua e a uma sala da Justiça do Trabalho.

Mas quem foi Ismene Mendes? E por que, quase 30 anos após a mor-te da vereadora, ainda parece difícil falar sobre ela na cidade onde viveu? Neiva Flávia conta que o caso come-çou a ser apurado neste ano pela Sub-comissão da Verdade. Apesar de todas as dificuldades, foram ouvidos relatos de trabalhadores rurais, sindicalistas e familiares da advogada. Vencida a re-sistência dos primeiros encontros, al-gumas pessoas decidiram enfrentar o medo e prestaram depoimentos, desde que sob anonimato.

Ismene foi apontada por colegas e parentes como uma advogada comba-tiva, defensora dos direitos dos traba-lhadores rurais ligados ao sindicato e à cooperativa dos cafeicultores. Eles

contaram à subcomissão que, na déca-da de 1970, ela lutava para conseguir melhores condições de trabalho, de transporte e de alimentação para a ca-tegoria. Os trabalhadores disseram que eram transportados em caminhões de carga, junto com ferramentas. Numa ocasião, um dos veículos caiu no rio, ocasionando dezenas de mortes. A ad-vogada tomou frente para pedir inde-nizações para as famílias das vítimas. A partir daí, afirmaram os sindicalis-tas, Ismene teria enfrentado uma série de problemas.

Segundo os depoimentos de fami-liares, a advogada era constantemen-te ameaçada de morte. “Ela chegava a receber balas de 38 pelos Correios e o telefone tocava a noite toda”, afirmou um dos parentes da vereadora. Em ou-tubro de 1985, ao sair do trabalho, ela foi abordada por uma criança que pe-diu ajuda para a mãe grávida que es-taria passando mal. Nesse momento, de acordo com os relatos, Ismene foi cercada e estuprada por homens enca-puzados. Mesmo ferida, ela dirigiu-se

à delegacia. Pouco tempo depois, pas-sou mal e morreu em casa. A versão oficial: autoestupro seguido de suicí-dio por envenenamento.

A irmã de Ismene contou à Subco-missão da Verdade que, após a morte da vereadora, encontrou no armário de casa cinco cartas de despedida, mas em nenhuma delas reconheceu a letra da advogada. Curiosamente, as cartas desapareceram do processo. “O de-legado não periciou as cartas; nunca convocou ninguém para entrevistar”, afirma Neiva Flávia. Outro passo da subcomissão será tentar encontrar o processo, que desapareceu dos arqui-vos de Patrocínio.

Para a professora Neiva Flávia de Oliveira, não há dúvidas de que Is-mene Mendes foi assassinada. Segun-do o relato da irmã, a advogada era investigada pela Polícia Federal. A própria irmã teria sido abordada por um agente federal numa das reuni-ões junto a trabalhadores rurais em que acompanhava a advogada. “O objetivo foi atingido com a morte de

Vereadora Ismene Mendes, formada em Direito pela UFU, morreu aos 29 anos de idade

Ismene”, acredita a professora. “De-pois que ela morreu, a gente passou a aceitar tudo; se mataram ela, que era advogada, o que iam fazer com a gen-te?”, questionou um dos trabalhado-res ligados ao sindicato.

Neiva Flávia explicou que a Sub-comissão da Verdade está fazendo le-vantamentos sobre a vereadora no Arquivo Nacional. Para a professora, o Estado foi omisso com relação ao caso e deve à família um pedido de perdão. “Ninguém vai punir ninguém, mes-mo porque o objetivo da Comissão da Verdade não é esse”, esclarece. O caso Ismene Mendes foi aceito pela Comis-são da Verdade de Minas Gerais. As recomendações da Subcomissão Tri-ângulo Mineiro e Alto Paranaíba são a mudança da certidão de óbito, o pe-dido de perdão do Estado à família e a reparação indenizatória. Neiva Flá-via espera que tudo isso seja feito até março de 2015. É uma corrida contra o tempo para tentar devolver a verda-de à família. Um desejo de reparação, principalmente, diante do pai de Isme-

ne, um homem de 86 anos de idade, que conduziu a filha ao sindicato nos anos 1970: “tudo o que eu queria era a verdade. E não sei se acredito nisso. Eu lutei por muitos anos pela verdade sobre a minha filha”.

ForçaA Subcomissão Regional da Verda-

de Triângulo Mineiro e Alto Paranaí-ba foi criada neste ano, como resultado de uma parceria entre o Diretório Aca-dêmico XXI de Abril (Direito/UFU) e grupos de pesquisa. A proposta é cola-borar com a Comissão da Verdade em Minas Gerais e com a Comissão Na-cional da Verdade. O objetivo é apurar violações aos direitos humanos ocorri-das no período entre 1946 e 1988, que inclui a ditadura militar (1964-1985).

São os seguintes grupos de traba-lho: Justiça de transição, Trabalhado-res urbanos, Trabalhadores do campo, Polícia Militar e Artes. A professora Neiva Flávia de Oliveira explica que, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, houve maior envolvimento

dos civis que dos militares. “As pessoas precisam entender o que foi isso, por que foi, se alguém se beneficiou, quem e por que”, esclarece.

Além do caso Ismene Mendes, a Subcomissão da Verdade recebeu ou-tros dois encaminhamentos da Secre-taria Nacional de Justiça: sindicalistas de Monte Alegre e de Iturama que te-riam sido assassinados por pistolei-ros. Sem informações, os integrantes vão começar do zero o trabalho de investigação. Pela frente, eles têm um longo percurso a seguir: tentar rom-per o silêncio e o medo. E rastrear palavras, pistas e sinais que levem ao caminho da verdade. Ou a outras ver-sões dos fatos.

Teatro“As pessoas de Uberlândia e região

pensam que aqui não houve esse tipo de violência, que viviam numa redo-ma, mas aqui houve violência e resis-tência, sim” – afirma Neiva Flávia de Oliveira. Mas como provocar reflexão sobre direitos humanos? A alternati-

va pensada pela turma do Direito da UFU foi a criação do grupo Artima-nha, que encontrou na arte uma das melhores formas de expressão. Inspi-rado na história de Ismene Mendes, o grupo montou a peça “Ismênia”, que foi levada ao palco do Teatro Munici-pal de Uberlândia no fim de outubro. A ideia foi gerar na plateia o desejo de conhecer essa história.

No espetáculo, uma livre adapta-ção, um grupo de camponeses ocupan-tes de terras improdutivas é ameaçado por uma sádica latifundiária. Órfã de pai e mãe, criada entre os trabalhado-res do campo, Ismênia leva a vida de uma advogada que tem como objetivo lutar por aqueles que considera sua fa-mília. A fazendeira, ao se sentir ame-açada pela advogada, ergue uma rede de conspirações contra Ismênia. Numa luta entre o poder e a justiça, segredos obscuros são revelados, ao passo em que a cidade se torna um verdadeiro tabuleiro de xadrez, no qual bispos, peões e reis se atracam, sob as ordens de uma tirana rainha.

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texto Diélen Borges foto Scott Powell

A formiga espertade Uberlândia

Professor da UFU publica artigo nos EUA sobre espécie descoberta aqui

Cephalotes specularis imita outra formiga para tirar vantagem

Se, nas fábulas, a formiga personi-fica a trabalhadora exemplar, enquan-to a cigarra é a preguiçosa e o coelho é o esperto, em Uberlândia, Esopo e La Fontaine teriam que rever a moral de suas histórias. Aqui têm formigas ope-rárias, mas também têm as ardilosas. É a Cephalotes specularis, descoberta no clube de Caça e Pesca Itororó pe-los professores Kleber Del-Claro, do Instituto de Biologia da UFU, e Scott Powell, da George Washington Uni-versity (Estados Unidos).

A Cephalotes specularis é muito pacífica, não pica nem tem ferrão. “Essa formiga difere totalmente do padrão das outras Cephalotes. Ao in-vés de ser mais achatada e gordinha, ela é muito parecida com uma for-miga menor que levanta o abdômen e ferroa dolorosamente”, descreve Del-Claro. A formiga brava é a Cre-matogaster ampla. É ela que a Cepha-lotes specularis imita.

A Crematogaster faz ninhos dentro de troncos de árvores e ali nenhum predador tem coragem de entrar, pois além de atacar em bando, essa formi-ga agressiva tem gosto muito ruim e cheiro de ácido fórmico. Quase não haveria estranho no ninho, se não fos-se a pacata Cephalotes, que fura o blo-queio imitando o comportamento da Crematogaster, o que os biólogos cha-mam de parasitismo social.

A formiga mansa fica espiando a brava, entra na trilha alheia sem ser percebida e vai até a fonte de comi-da, que costuma ser néctar de plantas ou bichos mortos. Se a Crematogas-ter olha, a Cephalotes disfarça levan-tando o traseiro como se fosse uma companheira de ninho.

“A Cephalotes consegue ficar protegida dos predadores porque parasita todo o sistema de defe-sa dessa outra formiga em benefi-cio próprio”, explica o professor da UFU. A Crematogaster não recebe qualquer benefício e ainda perde espaço. “A Cephalotes fecha a entra-da do ninho com a cabeça como se fosse uma tampinha. Essa cabeça é muito dura, a outra quer ferroar e não consegue. Aí ela dá umas duas cutucadas e vai embora”, esclarece Del-Claro.

O experimentoOito anos atrás, o professor Scott

escreveu a Del-Claro, manifestan-do interesse em fazer pós-douto-rado no Instituto de Biologia. “Ele veio da Inglaterra para cá com uma bolsa britânica e ficou aqui durante dois anos. Nesse período ele se in-teressou muito pelas formigas”, re-corda o docente da UFU. Um dia, Scott guardou as formigas em uma caixinha e mostrou a Del-Claro, que propôs fazer experimentos em labo-ratório. As Cephalotes specularis de-vem ser endêmicas da nossa região, pois foram encontradas apenas no clube de Caça e Pesca Itororó e na reserva do Panga.

Os professores coletaram colônias das duas espécies. “Eu deixava tiras de papel dentro da colônia das formi-gas que são imitadas. Elas andavam em cima daquela tira para encontrar comida e deixavam o cheiro quími-co delas ali. Aí, na colônia da outra formiga, a que imita, e dava duas op-ções: um tronco com a tira de papel em que a Crematogaster andou e um tronco com a tira de papel em que nós só passamos água destilada”, re-lata Del-Claro. Uma filmadora capta-va o dia a dia nos formigueiros.

O que acontecia com as formigas Cephalotes? “Elas saiam do ninho, paravam nesse Y [bifurcação forma-da pelas duas tiras de papel] e iam todas para o lado que tinha o chei-ro daquela que elas queriam imitar”, revela Del-Claro. A equipe fez ou-tros testes, por exemplo, “de colocar a formiga no meio da trilha repen-tinamente e ver que ela era atacada quando não dava tempo dela se dis-farçar”, narra o professor.

Del-Claro e Scott, juntamente com os professores Rodrigo Feitosa, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Carlos Roberto Brandão, também da USP, publicaram o artigo Mimicry and Eavesdropping Enable a New Form of Social Parasitism in Ants (Mimetismo e espionagem permitem uma nova forma de parasitismo social em formigas) na edição de outubro da revista The American Naturalist. “É uma das revistas mais importantes dos Estados Unidos, mais que centenária. Os trabalhos que são publicados nela são conhecidos pela profundidade”, conta o professor da UFU.

Moral da história: por que biólo-gos se trancam em um laboratório filmando a rotina das formigas? “As formigas são animais sociáveis e nós também somos sociáveis. Nós, seres humanos, estudamos a evolução dos sistemas sociais e quando encontra-mos um organismo que burla todo um sistema social extremamente ela-borado como o das formigas, é inte-ressante para descobrir como é que se podem burlar sistemas sociais”, analisa Del-Claro, ao comentar que sociedade humana tem se valido de estudos sobre outras espécies para justificar sua própria organização.

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Mais conforto aos pacientes da Clínica de Reabilitação Neurológica

texto e fotos Aline Pires

Quando se imagina uma clínica, logo vem à mente um ambiente bran-co, frio e hermético. Mas essas não são as características da Clínica de Reabilitação Neurológica do curso de Fisioterapia da UFU. Ao contrário, o ambiente esbanja cores nas bolas, nos brinquedos das crianças e nas meias estampadas que as alunas usam para pisar nas superfícies emborrachadas que cobrem o chão, também colori-das. O clima da sala de espera não é de desânimo, mas aqui e ali se enga-tam conversas entre os acompanhan-tes que aguardam pacientemente.

Enquanto isso, dentro da clínica, os alunos trabalham na reabilitação neurológica de crianças e adultos, su-pervisionados por professores, como ocorre nos estágios. Os estudantes co-locam em prática o que aprenderam em sala de aula e a universidade de-sempenha seu papel para a comuni-dade onde está estabelecida.

A graduação em Fisioterapia da UFU é relativamente nova e teve sua primeira turma formada em 2014. De acordo com o coordena-dor do curso, Marcos Kishi, a clíni-ca tem condições de oferecer mais de 100 atendimentos por semana. Kishi salienta que, devido ao caráter de gratuidade do serviço prestado, o trabalho “desafoga” o sistema de saú-de municipal.

Sobre o contato com os pacien-tes, a aluna Fabiana da Silva Soares,

que está no décimo período de Fisio-terapia e faz estágio na clínica, afir-ma que a experiência é impactante. “Apesar do pouco tempo, é possível ter uma evolução significativa e ver a satisfação deles e dos acompanhan-tes”, ressalta. Além disso, segundo a estudante, o trabalho na clínica per-mite a aplicação dos conhecimentos na prática, em diferentes casos.

A clínica mudou de endereço no mês de junho e agora está na Aveni-da Duque de Caxias, 285, no Cen-tro de Uberlândia. Anteriormente, funcionava no espaço disponibiliza-do pela ONG Certo (Centro de Ex-celência em Reabilitação e Trabalho Orientado), que atua na cidade, ofe-recendo atendimento especializado para reabilitação de pacientes com baixa renda. Kishi afirma que a es-trutura da ONG era adequada para

as necessidades da clínica, mas no novo endereço o espaço é maior. Com isso, foi possível a introdução de mais equipamentos e, devido à localização, o acesso é mais fácil para os pacientes.

Para ser atendido pela Clínica de Reabilitação Neurológica, é pre-ciso entrar em contato pelo telefone (34)3234-9902. Posteriormente é fei-to um trabalho de triagem e encami-nhamento para a fila de espera.

O curso de Fisioterapia também oferece o Atendimento Dermato--funcional, no bloco 2B do Campus Umuarama. Essa área tem como foco o estudo dos tecidos do ser humano, bem como suas melhores condições de funcionamento. O procedimento de atendimento é o mesmo da clíni-ca, com contato por meio do telefone (34)3218-2866.

Em novo endereço, local passou por readequações

Atendimento permite aos alunos aliar teoria e prática

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Campus Pontal e Facipcomemoram 8 anos

Trazer à memória e celebrar os oito anos de existência do Campus Pontal, localizado em Ituiutaba-MG, e da Fa-culdade de Ciências Integradas do Pontal (Facip/UFU) oportunizam uma reflexão pessoal e institucional. Se a ocasião permite a cada um que tenha participado des-se processo rememorar o seu fazer e a sua contribuição ao longo desses anos, como instituição cabe refletir so-

bre as decisões tomadas, os caminhos trilhados e os re-sultados obtidos dessa experiência. Evocar a história e a memória é um convite – não apenas à comunidade UFU no Pontal, mas à universidade, em meio ao seu frenético existir – a fazer um balanço, um olhar no retrovisor do processo de expansão que transformou a UFU em outra universidade.

texto Dalva Maria de Oliveira Silva foto Milton Santos

A história, conforme reflexões baseadas em Heródoto, Tucídides e outros, é determinada pela fortuna – contin-gência que permeia as ações humanas – e pela necessidade – causas que definem o curso dos acontecimentos, inde-pendentemente da vontade humana. A fortuna é justa, mas também, por vezes, arbitrária, pois a sua justiça consiste perpetuamente em elevar os rebaixados e rebaixar os ele-vados. Já a necessidade é implacável, segue o seu curso pró-prio desde que, num primeiro ato de vontade, os homens desencadearam um processo que não poderão mais con-trolar (CHAUI, 2000). A decisão pela expansão trouxe uma nova realidade e, com ela, a necessidade de mudanças em procedimentos, que impactaram todos os setores da uni-versidade, mudanças que ainda se fazem necessárias e que se encontram em curso, que exigem de cada servidor um olhar para além do espaço que ocupa.

No mês de janeiro de 2005, em reunião do Conselho Universitário, a UFU iniciou o processo de discussão que culminou com a decisão pela expansão, com a criação do Campus Pontal, em dezembro do mesmo ano. A Portaria nº 75 do Ministério da Educação, de 30 de março de 2006, liberou as primeiras vagas para docentes. Os concursos fo-ram realizados em junho do mesmo ano e, em setembro, tomaram posse os primeiros 32 professores contratados pela UFU para atuarem na Facip.

A cerimônia oficial de inauguração do campus aconte-ceu no dia 4 de setembro de 2006, com o descerramento da placa comemorativa na sede administrativa, situada na Avenida José João Dib, nº 2545 (prédio alugado que abri-gou as coordenações dos cursos, salas de professores, gabi-nete da direção e outras atividades até o mês de março de 2012), e a posse de professores no salão do Líder Hotel, em Ituiutaba. Estiveram presentes o então ministro da Educa-ção do governo Lula, Fernando Haddad; o reitor da UFU, professor Arquimedes Ciloni; o vice-reitor, professor Elmi-ro Resende; os deputados Gilmar Machado e Ricardo Du-arte; o prefeito Fued Dib e outras autoridades. A cerimônia, ao mesmo tempo em que coroava o resultado de um longo trabalho da administração superior da UFU e de lideranças políticas, também iniciava outra importante etapa na histó-ria do campus: a posse dos professores, a espera pela chega-da dos técnicos administrativos, o processo de construção e aprovação dos projetos pedagógicos dos nove cursos e a constituição efetiva do campus, com a chegada dos alunos e início do primeiro semestre letivo em abril de 2007.

Hoje, o campus conta com 156 professores, sendo 113 doutores e 43 mestres, 62 técnicos administrativos e cerca de 2.200 alunos, distribuídos em onze cursos: Administra-ção, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção, Física, Geografia, História, Matemática, Quí-mica, Pedagogia e Serviço Social, organizados no interior de uma única unidade Acadêmica, a Facip. O campus foi criado com nove cursos, mas em 2009 foi desencadeado,

pela administração superior, um processo de reestrutura-ção que culminou com o fechamento do turno matutino dos cursos de História e Física e a criação dos cursos de Serviço Social e Engenharia de Produção, com vagas de do-centes que ainda não haviam sido contratados. Há também, atualmente, um curso de mestrado profissional em Ensino de Ciências, em parceria com os Institutos de Física e de Química do Campus Santa Mônica.

O Campus Pontal inicialmente funcionou em instala-ções alugadas de instituições de ensino superior de Ituiutaba e de particulares. Um terreno de 500 mil metros quadrados, no bairro Tupã, foi doado à universidade por empresários da cidade, com a intermediação da Prefeitura Municipal de Ituiutaba. Uma comissão foi constituída e nomeada para a elaboração de um Plano Diretor e as obras do campus tive-ram início no ano de 2008. A mudança para as novas insta-

lações se deu no início de 2012. A estrutura física conta hoje com cinco prédios, sendo um de pesquisa, conquistado no edital CT-Infra, e quatro blocos para atividades de ensino e extensão. Encontram-se em processo de licitação três novos prédios: dois para pesquisa e um terceiro que abrigará salas de professores e laboratórios dos cursos de Química e En-genharia de Produção. Novos cursos estão sendo propostos pela comunidade acadêmica em resposta a anseios de pro-fessores, técnicos e da sociedade tijucana e região.

Neste ano de 2014, o campus comemorou oito anos de existência e a comunidade, por iniciativa da direção da Facip, foi convidada a celebrar este momento com o plantio de uma árvore, mesas-redondas com reflexões sobre os desafios e perspectivas da produção do conhecimento na contempora-neidade e sobre o histórico de criação do campus. Um olhar retrospectivo percorreu o tempo aparentemente curto, po-rém intenso e que remonta ao ano de 2003, quando se inicia-ram as primeiras conversas que culminaram com a criação do Campus Pontal da UFU em Ituiutaba. Muitos desafios fo-ram superados, mas outros tantos vão surgindo no processo dinâmico e natural da universidade e da sociedade em cons-tante mutação, em que impera a “implacável necessidade”.

“Um olhar retrospectivo percorreu otempo aparentemente curto, porém intenso

e que remonta ao ano de 2003, quando se iniciaram as primeiras conversas que

culminaram com a criação doCampus Pontal da UFU em Ituiutaba.”

Dalva Maria de Oliveira Silva Docente da Facip/UFU e pró-reitora de

Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis

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texto Jussara Coelhofoto Milton Santos

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O curso de Música da UFU, por meio do projeto de extensão do pro-fessor Adriano Goio Lima, criou, em 2010, a Orquestra Popular do Cer-rado (OPC), que tem como objeti-vo apresentar-se com o repertório da Música Popular Brasileira (MPB). Segundo o professor, músico e atual coordenador do projeto, Alexandre Teixeira, “sempre que nos apresen-tamos, tocamos standards de jazz, como Summertime, de George Ger-shwin, compositor americano, e Pan-tera Cor-de-rosa. Temos também um repertório brasileiro muito amplo. Músicas do João Donato, Tom Jobim, Milton Nascimento, Moacir San-tos, Maestro Duda, Pixinguinha que são escritas para essa formação”. São adaptadas algumas músicas para essa formação da OPC, o que torna possí-vel a execução de um grande número de estilos: baião, frevo, música regio-nal, bossa nova, samba e rock samba.

Teixeira explica que, inicialmen-te, o principal projeto era a Orques-tra Sinfônica Camargo Guarnieri. “Quando eu cheguei aqui, em 2010, como professor recém-contratado, participei das duas. Mas a Sinfôni-

ca sucumbiu por não termos meios de dar continuidade ao empreendi-mento”. O docente elucida: “uma or-questra sinfônica tem uma série de exigências e necessidades que até o momento nós, a UFU e o curso de Música, ainda não descobrimos os caminhos para suprir”. Uma das di-ficuldades citadas por Teixeira é que o curso não tem professores de todos os instrumentos que compõem uma orquestra sinfônica.

Outro obstáculo citado é o espa-ço físico, um lugar para guardar o material, estantes, cadeiras e alguns instrumentos que precisam ser ad-quiridos. “É impensável pedir para os músicos que tocam contrabaixo, um instrumento grande, que tragam o seu de casa”, salienta o coordenador. O trabalho de organização dos ensaios, segundo Teixeira, é também bastan-te árduo e precisaria de monitores ou talvez um técnico administrativo es-pecífico apenas para cuidar disso.

Em contraponto, o professor afir-ma que a OPC é um grupo fácil de funcionar e operalizar com os recur-sos disponíveis atualmente. Como se trata de música popular, é possível

atuar com 17 músicos, enquanto uma orquestra sinfônica precisa ter, no mínimo, 45 para tocar o repertório.

Para que este projeto não acabe, a coordenação tenta envolver o maior número de professores possível, for-mando um conselho artístico. Estão elaborando também um regimento interno. O processo de instituciona-lização é para que o grupo permane-ça, independentemente das pessoas. “Conseguimos um apoio financeiro da UFU. Às vezes, um aluno deixava de comparecer aos ensaios por falta de passagem de ônibus e agora esta-mos conseguindo, dentro da reserva orçamentária da instituição, destinar uma bolsa artística para que este alu-no possa se dedicar mais ao grupo e ao curso do qual ele está fazendo par-te”, esclarece Teixeira.

Para fazer parte da OPC há uma audição em que o músico deve to-car o repertório escolhido no mo-mento por uma banca e demonstrar a leitura da partitura. O coordenador orienta que, ainda em 2014, haverá outra audição para novos integran-tes. A seleção é aberta a todos os alunos de quaisquer cursos da UFU.

Caso as vagas não sejam preenchidas, é possível que se tenham músicos da comunidade que participarão como convidados. Há ainda a intenção de, em editais futuros, serem contempla-dos os técnicos e professores.

Luiz Otávio Rodrigues Pinheiro Júnior é aluno do oitavo período de Bacharelado em Trombone e parti-cipa da OPC desde 2011. Ele relata que a orquestra alavancou seu cur-rículo musical, pois puderam tocar com grandes nomes da música mi-neira como Toninho Horta, Paulo Jobim (filho do tom Jobim) e João Donato, e fizeram também a aber-tura do show de Milton Nascimen-to em Uberlândia. Jorge Stefson está no nono período de Educação Fí-sica e participa do projeto há três anos. Ele conta que ficou sabendo da oportunidade por já participar do cenário musical da cidade e tocar na Banda Municipal.

Os ensaios da Orquestra Popular do Cerrado são abertos à comunida-de e acontecem às segundas-feiras, das 19h30 às 22h, na sala Camargo Guarnieri, no bloco 3M do campus Santa Mônica da UFU.

Do erudito ao popularOrquestra traz musicalidade para universidade