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FORTALEZA-CE, QUARTA-FEIRA, 11 de abril de 2007 FORTALEZA 10 Corregedoria vai investigar denúncias de abuso de poder CONTRA CAPITÃO ] Uma comissão deverá ir, na próxima semana, aos municípios de Mombaça e Iguatu investigar denúncias de abuso de poder contra o capital PM Daniel Gomes Bezerra e outros policiais na região Rocélia Santos da Redação A Corregedoria da Se- cretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) vai investigar denúncias de abuso de poder con- tra o capitão PM Daniel Gomes Bezerra, durante o período em que ele trabalhou nos municípios de Mombaça e Iguatu. O órgão que saber também quem ajudou o mi- litar a fugir após o assassinato dos estudantes de medicina Leonardo e Marcelo Moreno Teixeira, ocor- rido no dia 17 de março deste ano. Conforme relatos dos familiares das vítimas que, acompanhados do assessor da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, Regino Pinho, se reuniram, ontem, com os corregedores da Secretaria, após matar os jovens, o capitão teve o apoio de uma viatura da Polícia Militar para sair do local do crime. O corregedor do Gabinete Disciplinar do Interior, tenente- coronel Hélcio Queiroz, afirmou que uma comissão, na próxima se- mana, deverá se deslocar à região para apurar as denúncias. Ele afir- mou também que a Corregedoria nunca foi informada de qualquer ato ilícito cometido pelo capitão, no período em que ele foi coman- dante em Mombaça. “Agora, va- mos investigar e identificar quem estaria acobertando e até mesmo participando dessas atitudes ilíci- tas que não foram apuradas nem notificadas pelos órgãos compe- tentes”, declarou Queiroz. O assessor da SEDH, Regino Pinho, relatou que testemunhas do duplo homicídio estão sofren- do ameaças e intimidações por parte de policiais e aliados do ca- pitão. “A família das vítimas nos trouxe informações que não eram do conhecimento dos delegados da corregedoria que apuram o caso, como casos de ameaças e agressões contra as pessoas que presenciaram o crime. Isso mostra que o abuso de autoridade policial continua depois do crime”, obser- vou Pinho, acrescentando que a SEDH está tentando incluir essas pessoas no Programa Estadual de Proteção à Testemunha (Provita). Nelson Benevides, pai dos estudantes mortos, afirmou estar otimista quanto ao andamento do processo contra o capitão. “Ficou claro o corporativismo nesse caso. Como é possível um capitão co- meter um crime e fugir na viatura da polícia? Um dia após o crime, o comandante do Policiamento da Capital (Cel. Sérgio Magalhães) deu uma declaração de que o ca- pitão era um homem íntegro, de passado limpo, que a arma utili- zada no crime era dos meus filhos que ele usou para se defender. O que dá medo é por que ele decla- rou isso. Mas estou esperançoso de que tudo será apurado”. O coronel Hélcio Queiroz in- formou que o Conselho de Justi- ficação da PM está analisando o caso de Daniel Gomes e deverá, no prazo de 60 dias, julgar se o capitão tem capacidade de perma- necer na corporação. Ele explica que um relatório será elaborado e encaminhado à Corregedoria, que fará a revisão processual e encami- nhará ao Tribunal de Justiça (TJ). “Caso o TJ confirme a expulsão, o relatório será enviado ao governa- dor que fará a demissão”. Durante esse processo, Daniel continuará preso no quartel do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Para o advogado do capitão Daniel Gomes Bezerra, Delano Cruz, é compreensível a angústia da família do médico Nelson Be- nevides, mas de acordo com ele, nenhuma das denúncias apresen- tadas tiveram como base qualquer documento que as comprovasse. “Não existem documentos em re- lação a essas questões, nunca foi instaurado nenhum procedimen- to ou processo contra ele”, disse, referindo-se a seu cliente. Além disso, Cruz destacou que o capitão tem uma “ficha funcio- nal impecável”, tendo em 2004 recebido o título de “Policial Pa- drão” de toda a Polícia Militar do Estado, e em 2005, o de “Policial Padrão” da região de Mombaça. “Documentos que comprovam isso já estão anexados a sua defe- sa”. O advogado ressaltou também que “a Polícia tem sido totalmente imparcial e profissional”. O assessor da SEDH, familiares dos estudantes de medicina assassinados, em Iguatu, e do comerciante Zildécio Lopes da Si lva, morto em 2002 em Horizonte, e delegados da Corregedoria da SSPDS foram recebidos, no fim da manhã de ontem, pelo secretário de segurança, Roberto Monteiro. No encontro, Nelson Benevides, pai dos estudantes assassinados, expôs os casos de abuso de poder por parte do capitão Daniel Gomes nos períodos em que ele foi comandante do Pelotão de Mombaça e trabalhava em Iguatu. “Queremos saber que providências serão tomadas pela Secretaria em relação a esses casos”, afirmou Regino Pinho. Roberto Monteiro lamentou que o assassinato dos jovens tenha sido causado por um policial, “uma pessoa treinada para defender a vida e não para tirar”, e que vai mandar apurar, com rigor, todas as denúncias que envolvam policiais. Ele pediu aos familiares de Leonardo e Marcelo e de Zildécio que propagem, em suas cidades, a necessidade de se denunciar os casos de violência. O próprio secretário afirmou que já havia sido informado de outros casos de abuso de poder cometidos pelo capitão Daniel em que foram abertas sindicâncias mas não houve aprofundamento na investigação. Além de acompanhar o caso, Monteiro afirmou que a Secretaria adotará medidas para diminuir os casos de violência envolvendo policiais, entre elas a aplicação de testes psicológicos. Outra medida é a criação de conselhos municipais que fiscalizem as ações de segurança. Sindicâncias não foram aprofundadas FCO FONTENELE CAPITÃO PM, Daniel Gomes Bezerra, quando prestou depoimento da Superintendência da Polícia Civil em Fortaleza

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FORTALEZA-CE, quARTA-FEiRA, 11 de abril de 2007

FORTALEZA10

Corregedoria vai investigar denúncias de abuso de poderCONTRA CAPITÃO ] Uma comissão deverá ir, na próxima semana, aos municípios de Mombaça e Iguatu

investigar denúncias de abuso de poder contra o capital PM Daniel Gomes Bezerra e outros policiais na região

Rocélia Santosda Redação

A Corregedoria da Se-cretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) vai investigar

denúncias de abuso de poder con-tra o capitão PM Daniel Gomes Bezerra, durante o período em que ele trabalhou nos municípios de Mombaça e Iguatu. O órgão que saber também quem ajudou o mi-litar a fugir após o assassinato dos estudantes de medicina Leonardo e Marcelo Moreno Teixeira, ocor-rido no dia 17 de março deste ano. Conforme relatos dos familiares das vítimas que, acompanhados do assessor da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, Regino Pinho, se reuniram, ontem, com os corregedores da Secretaria, após matar os jovens, o capitão teve o apoio de uma viatura da Polícia Militar para sair do local do crime.

O corregedor do Gabinete Disciplinar do Interior, tenente-coronel Hélcio Queiroz, afirmou que uma comissão, na próxima se-mana, deverá se deslocar à região para apurar as denúncias. Ele afir-mou também que a Corregedoria nunca foi informada de qualquer ato ilícito cometido pelo capitão, no período em que ele foi coman-dante em Mombaça. “Agora, va-mos investigar e identificar quem estaria acobertando e até mesmo participando dessas atitudes ilíci-

tas que não foram apuradas nem notificadas pelos órgãos compe-tentes”, declarou Queiroz.

O assessor da SEDH, Regino Pinho, relatou que testemunhas do duplo homicídio estão sofren-do ameaças e intimidações por parte de policiais e aliados do ca-pitão. “A família das vítimas nos trouxe informações que não eram do conhecimento dos delegados da corregedoria que apuram o caso, como casos de ameaças e agressões contra as pessoas que presenciaram o crime. Isso mostra que o abuso de autoridade policial continua depois do crime”, obser-vou Pinho, acrescentando que a SEDH está tentando incluir essas pessoas no Programa Estadual de Proteção à Testemunha (Provita).

Nelson Benevides, pai dos

estudantes mortos, afirmou estar otimista quanto ao andamento do processo contra o capitão. “Ficou claro o corporativismo nesse caso. Como é possível um capitão co-meter um crime e fugir na viatura da polícia? Um dia após o crime, o comandante do Policiamento da Capital (Cel. Sérgio Magalhães) deu uma declaração de que o ca-pitão era um homem íntegro, de passado limpo, que a arma utili-zada no crime era dos meus filhos que ele usou para se defender. O que dá medo é por que ele decla-rou isso. Mas estou esperançoso de que tudo será apurado”.

O coronel Hélcio Queiroz in-

formou que o Conselho de Justi-ficação da PM está analisando o caso de Daniel Gomes e deverá, no prazo de 60 dias, julgar se o capitão tem capacidade de perma-necer na corporação. Ele explica que um relatório será elaborado e encaminhado à Corregedoria, que fará a revisão processual e encami-nhará ao Tribunal de Justiça (TJ). “Caso o TJ confirme a expulsão, o relatório será enviado ao governa-dor que fará a demissão”. Durante esse processo, Daniel continuará preso no quartel do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Para o advogado do capitão Daniel Gomes Bezerra, Delano Cruz, é compreensível a angústia da família do médico Nelson Be-nevides, mas de acordo com ele, nenhuma das denúncias apresen-tadas tiveram como base qualquer documento que as comprovasse. “Não existem documentos em re-lação a essas questões, nunca foi instaurado nenhum procedimen-to ou processo contra ele”, disse, referindo-se a seu cliente.

Além disso, Cruz destacou que o capitão tem uma “ficha funcio-nal impecável”, tendo em 2004 recebido o título de “Policial Pa-drão” de toda a Polícia Militar do Estado, e em 2005, o de “Policial Padrão” da região de Mombaça. “Documentos que comprovam isso já estão anexados a sua defe-sa”. O advogado ressaltou também que “a Polícia tem sido totalmente imparcial e profissional”.

O assessor da SEDH, familiares dos estudantes de medicina assassinados, em Iguatu, e do comerciante Zildécio Lopes da Si lva, morto em 2002 em Horizonte, e delegados da Corregedoria da SSPDS foram recebidos, no fim da manhã de ontem, pelo secretário de segurança, Roberto Monteiro. No encontro, Nelson Benevides, pai dos estudantes assassinados, expôs os casos de abuso de poder por parte do capitão Daniel Gomes nos períodos em que ele foi comandante do Pelotão de Mombaça e trabalhava em Iguatu. “Queremos saber que providências serão tomadas pela Secretaria em relação a esses casos”, afirmou Regino Pinho.

Roberto Monteiro lamentou que o assassinato dos jovens tenha sido causado por um policial, “uma pessoa treinada para defender a vida e não para tirar”, e que vai mandar apurar, com rigor, todas as denúncias que envolvam policiais. Ele pediu aos familiares de Leonardo e Marcelo e de Zildécio que propagem, em suas cidades, a necessidade de se denunciar os casos de violência. O próprio secretário afirmou que já havia sido informado de outros casos de abuso de poder cometidos pelo capitão Daniel em que foram abertas sindicâncias mas não houve aprofundamento na investigação.

Além de acompanhar o caso, Monteiro afirmou que a Secretaria adotará medidas para diminuir os casos de violência envolvendo policiais, entre elas a aplicação de testes psicológicos. Outra medida é a criação de conselhos municipais que fiscalizem as ações de segurança.

Sindicâncias não foram aprofundadas

FCO FONTENELE

CAPITÃO PM, Daniel Gomes Bezerra, quando prestou depoimento da Superintendência da Polícia Civil em Fortaleza

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#Data: 070411 #Clichê: Primeiro #Editoria: Fortaleza
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#Autor: Rocélia Santos #Crédito: Fco Fontenele <INVESTIGAÇÃO> <ASSASSINATO> <MÉDICO> <POLICIAL> <POLÍCIA MILITAR> <IGUATU /CE/>
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Erramos
ERRAMOS O correto na matéria é: contra o “capitão” PM Daniel Gomes Bezerra e outros policiais.