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A Singularidade da Interveno do
Treinador como a sua
Impresso Digital na
Justificao da Periodizao Tctica como uma
fenomenotcnica.
Carlos Csar Arajo Campos
Porto, 2007
.
A Singularidade da Interveno do
Treinador como a sua
Impresso Digital na
Justificao da Periodizao Tctica como
uma fenomenotcnica.
Monografia de Licenciatura realizada no
mbito da disciplina de Seminrio do 5
ano da licenciatura em Desporto e
Educao Fsica, na opo de Futebol,
da Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto
Orientador: Professor Vtor Frade
Autor: Carlos Csar Arajo Campos
Porto, Dezembro 2007
Provas de Licenciatura
Campos, C. (2007). A Singularidade da Interveno do Treinador como a sua
Impresso Digital na Justificao da Periodizao Tctica como uma
fenomenotcnica. Porto: C. Campos. Dissertao de Licenciatura
apresentada Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PRINCPIOS DE JOGO,
INTERVENO e INTER(ACO).
III _____________________________________________________________________________
Dedicatria
A todos aqueles que vieram antes de mim, planaram o terreno custa da
escavao de densas pedreiras e da devastao de mato robusto, permitindo
que agora eu apenas tenha que procurar contribuir para uma pavimentao
cada vez mais bela e rica.
havia a cincia Newtoniana. E, Ludwig von Bertalanffy disse: deixe o
sistema todo ser maior do que a soma das suas partes. Norbert Wiener
acrescentou: deixe o feedback positivo e negativo flurem por todo o sistema.
Ross Ashby postulou: deixe o sistema ter a quantidade de variedade
necessria para interagir com o seu ambiente. E nasceu a teoria geral dos
sistemas.
Ward (cit. por Tani e Corra, 2006, p. 15)
.:
V _____________________________________________________________________________
Agradecimentos
Ao Professor Vtor Frade pelo seu saber contagiante e estimulante,
pela paixo que transborda na transmisso do seu conhecimento e das suas
dvidas emergentes, pelas aulas e pela disponibilidade simultaneamente
motivada e motivadora. Sinto-me verdadeiramente um privilegiado!
Aos meus entrevistados: Professora Marisa Gomes, Mestre Jos
Guilherme Oliveira e Professor Rui Faria pelo enorme contributo para o
enriquecimento deste trabalho. A vossa humildade em atenderem o meu
pedido jamais ser esquecida!
Ao meu primo Joca e aos meus amigos Jos, Madalena e Sara pelo
contributo efectivo para a realizao deste trabalho numa altura em que o
tempo escasseava.
Aos meus pais e irm pela simples razo de os quatro sermos um s!
Nenhum de ns se reduz a si prprio!
Gabi por estar sempre presente, por acreditar em mim, por partilhar
comigo todo este caminho com um sorriso terno e encorajador! Sem ti nada
seria igual
Aos meus amigos e colegas que comigo viveram estes curtos e
intensos anos de Faculdade, especialmente ao ngelo, ao Guisande, ao Daniel
Pinho, ao Daniel Pinto e Andreia entre outros que comigo partilharam
vivncias duradouras, marcantes e irrepetveis. Reencontrmo-nos na
Premiership!
.
VII _____________________________________________________________________________
ndice Geral
Dedicatria III
Agradecimentos V
ndice Geral VII
ndice de Figuras X
ndice de Anexos XI
Resumo XIII
Abstract XV
Rsum XVII
1. Introduo 1
2. Reviso da Literatura 7
2.1. Existncia de um Modelo de Jogo como condio
impretervel para dele se ter conscincia 7
2.2. constituindo-se a prtica como princpio e fim da sua
transmisso 10
2.3. que vai condicionar a espontaneidade decisional do aqui
e agora 13
2.4. com permanente subordinao aos Princpios de Jogo
como objectos mentais 20
2.5. que passam a fazer parte da memria de modo a serem
evocados sempre que necessrio 24
2.6. para haver a manifestao de um padro de
comportamento regular que se pretende eficaz 28
2.7. graas evoluo individual de cada jogador sustentada
em referenciais eminentemente colectivos 34
2.8. que vai permitir a ecloso da desordem desequilibradora
sustentada numa ordem implcita 37
2.9. determinada previamente pelo treino 42
3. Material e mtodos 49
3.1. Caracterizao da Amostra 49
3.2. Metodologia de Investigao 49
VIII _____________________________________________________________________________
3.3. Recolha de Dados 50
4. Anlise e discusso dos resultados 51
4.1. A Especificidade da repetio sistemtica dos Princpios de
Jogo 51
4.1.1. necessita de um profundo conhecimento do
Modelo de Jogo 51
4.1.2. e est na interaco dos princpios da alternncia
horizontal, da progresso complexa e das propenses
devidamente contextualizados
52
4.2. A mesma abordagem com diferente grau de complexidade
como fulcro do processo de assimilao dos Princpios de
Jogo
55
4.2.1. que nunca esgotam a sua riqueza impedindo o
uso do conceito de manuteno do princpio de jogo 56
4.3. A focalizao no comportamento que se pretende treinar
advm da configurao do exerccio 58
4.3.1. e de uma interveno do treinador centrada
precisamente nesses aspectos. 60
4.4. A auto-hetero-superao est no limiar entre sucesso e
insucesso 61
4.4.1. e depende em grande medida da interveno
adequada do Treinador 62
4.5. A antecipao permitida pela existncia de uma lgica de
resoluo dos problemas 64
4.6. A desmontagem do jogo referenciada ao plano macro como
chave do plano micro 66
4.6.1. o que implica uma fractalidade no plano
transversal 67
4.6.2. e uma fractalidade em profundidade 68
4.6.3. geridas por um tipo de interveno anti-
determinista 70
4.7. A qualidade individual apenas pode ser manifestada
quando est subjugada a algo hierarquicamente superior 72
IX _____________________________________________________________________________
4.7.1. havendo que actuar sobre o(s) jogador(es) em
causa 75
4.7.2. e simultaneamente sobre o Modelo de Jogo,
reajustando-o sem perda do Padro Global 78
4.8. A criatividade Especfica como um desvio treinado, previsto
internamente e enriquecedor 80
4.8.1. apenas possibilitada por uma interveno
amplamente competente por parte do treinador 84
4.9. A preponderncia da prtica na aquisio de hbitos
enquanto capacidade organizante 85
4.9.1. que deve estar associada a uma identificao
terica consciente dos comportamentos a manifestar 87
4.9.1.1. possibilitada por uma transmisso verbal e
pelo uso de imagens 88
4.10. A necessidade de uma SUPRA-ESPECIFICIDADE face
escassez de tempo para treinar quando se est a top 90
5. Concluses 93
6. Referncias Bibliogrficas 97
7. Anexos 103
X _____________________________________________________________________________
ndice de Figuras
Figura 1 - Sistema de roldanas representativo da Fractalidade
Transversal 68
Figura 2 - Puzzle representativo da Fractalidade em Profundidade 70
Figura 3 Interaco imaginada pelo Treinador para um
determinado momento do jogo 77
Figura 4 Formato da interaco global segundo as limitaes do
jogador (4) antes de qualquer reajuste 77
Figura 5 Configurao do contributo idealizado pelo Treinador
para o jogador (4) 78
Figura 6 Configurao do contributo possibilitado pelas
capacidades do jogador (4) 78
Figura 7 Configurao das interaces resultante dos reajustes
do Modelo e da interveno especfica sobre o jogador (4) 80
Figura 8 Configurao da interaco do jogador (4) aps treino
direccionado para a sua melhoria contextualizada 80
Figura 9 Contemplao da criatividade no Modelo de Jogo 83
XI _____________________________________________________________________________
ndice de Anexos
Anexo 1 Entrevista Professora Marisa Gomes I
Anexo 2 Entrevista ao Mestre Jos Guilherme Oliveira XXI
Anexo 3 Entrevista ao Professor Rui Faria XXXIV
.
XIII _____________________________________________________________________________
Resumo
Considerando que o processo de treino nico e que deve ter em vista o
jogo que se procura, este dever ento, ter por base o Modelo de Jogo
consubstanciado num conjunto de princpios de aco que serviro de
referncia conduo do processo e que permitiro alcanar o objectivo de
organizao da equipa.
As decises dos jogadores devem ter como base determinados princpios
que constituiro, no seu conjunto, a lgica interna de funcionamento da equipa.
Para que isto acontea tem que se treinar tendo como principal prioridade a
aquisio de hbitos referentes a uma determinada forma de jogar futebol, que
no nosso entender e de acordo com a pesquisa efectuada mormente
facilitado e promovido pela Periodizao Tctica. consecuo deste objectivo
no alheia uma interveno competente e adequada do treinador ao longo do
processo pois permite um direccionamento mais concreto e eficaz.
Para perceber melhor as entrelinhas destas questes definimos os
seguintes objectivos: descrever os mecanismos inerentes ao processo de
cumprimento dos princpios de jogo; indagar acerca das formas de perspectivar
este processo por parte dos treinadores no que se refere sua interveno
especfica; possibilitar uma maximizao da transferncia dos contedos
essenciais do treino para o jogo.
De forma a atingir estes objectivos entrevistamos trs treinadores de
Futebol, a Professora Marisa Gomes, o Mestre Jos Guilherme Oliveira e o
Professor Rui Faria.
Na anlise e discusso dos resultados foram tidas em conta as
entrevistas bem como a reviso bibliogrfica efectuada sendo possvel no final
extrair algumas concluses das quais se destacam: a necessidade de uma
perfeita congruncia entre aquilo que o treinador idealiza e o modo como
sistematiza e operacionaliza isso; a relevncia de uma interveno competente
do treinador que permita um permanente acrscimo de Especificidade no
treino; a necessidade de construir uma lgica comum de resoluo dos
problemas que permita a antecipao da deciso por parte dos colegas; a
promoo da criatividade inscrita numa matriz comportamental Especfica; a
imprescindibilidade de dominar bem os objectivos referentes ao plano macro
para a partir da actuar sobre o plano micro; a premncia de condicionar a
evoluo individual a referenciais colectivos e o auxlio que a identificao
terica com o padro comportamental tem na prtica.
Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PRINCPIOS DE JOGO,
INTERVENO e INTER(ACO).
..
XV _____________________________________________________________________________
Abstract
Considering that the training process is unique and must keep in mind the
pursuited game, it should have as base the Game Model consubstantiated in a
group of principles of action that will serve as reference for the conduction of the
process and will allow us to reach the objective of the team organization.
The players decisions should have as base certain principles that will
constitute, as a whole, the internal logic of the teams functioning. For this to
happen the trainings principal aim has to be the acquisition of habits necessary
to a certain way of playing football that, in our point of view, and according to
the conducted research, is mainly facilitated and promoted by the Tactical
Periodization. In the way of achieving this objective the coachs competence
and proper intervention during the process is not lost in thought, because it
allows a more concrete and effective conduction.
To read between the lines of these questions we defined the following
objectives: describe the mechanisms inherent to the following of the game
principles; to enquire the coaches about their perspective of the process,
referring to their specific intervention; optimise the transference of the essential
content of the training to the game.
In order to achieve these objectives three Football coaches were
interviewed, the Professor Marisa Gomes, the Master Jos Guilherme Oliveira e
the Professor Rui Faria.
In the analysis and discussion of the results the interviews were taken into
account as well as the bibliographic revision effectuated allowing us to extract,
in the end, some conclusions among which we stand out: the necessity of a
perfect congruence between the things that the coach idealizes and the way he
systematises and operates it; the relevance of a competent intervention of the
coach that allows a permanent raise of the training Specificity; the need to
construct a common logic of problem resolution that allows an anticipated
decision on the part of the colleagues; the creativity promotion inscribed in a
Specific behavioural matrix; the necessity to well dominate the objectives
referring the macro plan in order to act on the micro plan; the urgency to
regulate the individual evolution regarding collective referentials and the
assistance that the theorical identification with the behavioural padron has in
practice.
Key Words: FOOTBALL, TRAINING, GAME PRINCIPLES,
INTERVENTION and INTER(ACCTIONS).
..
XVII
_____________________________________________________________________________
Rsum
Considrant que le processus d'entranement est unique et qu'il doit avoir en
vue le jeu qui se cherche, celui-ci devra alors, avoir par base le Modle de Jeu
consolid dans un ensemble de principes d'action qui serviront de rfrence la
conduction du processus et permettront d'atteindre l'objectif de lorganisation de
l'quipe.
Les dcisions des joueurs doivent avoir comme base dtermins principes
qui constitueront, dans leur ensemble, la logique interne de fonctionnement de
l'quipe. Pour que ceci arrive a il faut s entraner ayant comme principale priorit
l'acquisition d'habitudes affrentes une certaine forme de jouer football, qui
ntre avis et conformment la recherche effectue ceci est facilit et promu par la
Priodisation Tactique. Comme consequence de cet objectif une intervention
comptente et ajuste de l'entraneur au long du processus n'est pas carter,
permetant un direccionement plus concret et efficace.
Pour percevoir mieux les entrelignes de ces questions nous avons dfini les
suivants objectifs: dcrire les mcanismes inhrents au processus
d'accomplissement des principes de jeu; enquter concernant les formes de mettre
en perspective ce processus de la part des entraneurs en ce qui concerne son
intervention spcifique; rendre possible une maximisation du transfert des contenus
essentiels de l'entranement pour le jeu.
De manire atteindre ces objectifs nous avons interview trois entraneurs
de Football, la Professeur Marisa Gomes, le Matre Jos Guilherme Oliveira et le
Professeur Rui Faria.
Dans l'analyse et la discussion des rsultats ont t tenues en compte les
entrevues ainsi que la rvision bibliographique effectue fin dtre possible
xtraire quelques conclusions desquelles ils se dtachent: la ncessit d'une
parfaite congruence entre ce qui l'entraneur idalise et la manire comme il
systmatise et opre cela; l'importance d'une intervention comptente de
l'entraneur qui permet une permanente addition de Spcificit dans l'entranement;
la ncessit de construire une logique commune de rsolution des problmes qui
permette l'anticipation de la dcision de la part des collgues; la promotion de la
crativit inscrite dans une matrice comportemental spcifique; lextreme
importance de dominer bien les objectifs affrents au champ macro pour partir de
l agir sur le champ micron; l'urgence de conditionner l'volution individuelle des
rfrentiels collectifs et l'aide que l'identification thorique avec la norme
comportementale a dans la pratique.
Mots-cls: FOOTBALL, ENTRANEMENT, PRINCIPES DE JEU,
INTERVENTION et INTER (ACTION).
Introduo _____________________________________________________________________________
1 _____________________________________________________________________________
1. Introduo
Williamas e Hodges (2004, p. 637) referem que nos ltimos anos tm
sido levadas a cabo inmeras pesquisas com o objectivo de se identificar os
factores mais importantes que levam a bons desempenhos no desporto.
Lembram que a importncia das cincias do desporto apreciada por todos
aqueles que esto envolvidos em equipas profissionais e que a grande maioria
dos trabalhos nesta rea pertena dos fisiologistas do exerccio sendo que
disciplinas como a psicologia desportiva ou a aprendizagem motora so
relegadas para segundo plano no que produo cientfica diz respeito. Estes
autores chegam mesmo a dizer que o futebol adoptou as cincias biolgicas
com muito maior entusiasmo que o revelado no interesse da compreenso do
comportamento ou das cincias sociais.
Da mesma forma que fazem a constatao destes factos, Williams e
Hodges (2004, p. 637) encontram explicaes para eles: muito mais fcil
avaliar a efectividade de um programa de condio fsica do que monitorizar
intervenes que visam alterar comportamentos. Mudanas nas capacidades
aerbia e anaerbia ou nas caractersticas antropomtricas como a massa ou
composio corporal, podem ser facilmente determinadas usando testes
laboratoriais padronizados. Por outro lado, constructos como a ansiedade,
auto-confiana, antecipao e tomada de deciso so difceis de medir
directamente e podem apenas ser inferidos atravs de mudanas
comportamentais ao longo do tempo. Estas explicaes servem-nos tambm a
ns, pois a realizao deste trabalho visa compreender melhor a forma como o
Treino conduz a uma determinada forma de jogar futebol, isto , tratamos o
comportamento, as interaces, a vivenciao de decises dentro duma matriz
especfica que caracteriza uma equipa e isso exige um profundo conhecimento
daquilo que estamos a falar, no nosso caso do jogar que pretendemos, pois
s assim poderemos direccionar o treino nesse sentido, promovendo as
interaces adequadas ao surgimento efectivo da nossa ideia de jogo.
Introduo _____________________________________________________________________________
2 _____________________________________________________________________________
Ao abordarmos um assunto, seja ele de que ndole for, convir logo
partida tornar claros alguns pressupostos que, de forma velada ou no,
condicionaro vincadamente o modo como trataremos esse mesmo tema.
Num mundo descentrado como o nosso, cada um torna-se responsvel
pela experimentao de novas prticas sintonizadas com o pensamento
sistmico. Todos os caminhos so vlidos pois tudo depende daquilo com que
nos deparamos e daquilo que est no centro da nossa busca. Esta uma das
ideias bsicas do pensamento complexo: tendo em conta a multiplicidade de
caminhos que se abrem investigao, fundamental a existncia de um
centro comum a todas as reas interligadas, assumindo a articulao um papel
fulcral. Esta ideia sistmica deita por terra as receitas, descendentes directas
da causalidade linear, e apela de uma forma racional, individualizao,
necessidade de atentar e analisar cada caso como diferente de todos os outros.
A este propsito Morin (1986) diz que paradoxalmente so as cincias
humanas que, actualmente, oferecem a mais fraca contribuio ao estudo da
condio humana, precisamente porque esto desligadas, fragmentadas e
compartimentadas. Estabeleamos uma analogia com Morin (1986, p. 42)
quando este diz: Imaginemos uma tapearia contempornea. Ela comporta
fios de linho, seda, algodo, l, de cores variadas. Para conhec-la, seria
interessante conhecer as leis e princpios relativos a cada uma dessas
espcies de fio. Contudo, a soma dos conhecimentos sobre cada tipo de fio
que compe a tapearia insuficiente para conhecer essa nova realidade que
o tecido (ou seja, as suas qualidades e propriedades). tambm incapaz de
nos auxiliar no conhecimento da sua forma e configurao. Ora o mesmo se
aplica em relao ao Futebol, isto , at podemos tentar decomp-lo nas suas
mais nfimas partes mas no menos verdade que isso manifestamente
insuficiente no tratamento duma configurao em que as relaes situacionais
estabelecidas variam de forma vertiginosa. Se acreditamos que o nosso jogar
com tudo aquilo que o caracteriza aquilo que nos pode levar ao sucesso
ento sobre ele que devemos actuar. Aquilo que alvo da preocupao
central de um treinador tambm aquilo que o distingue enquadrando-o numa
ou noutra concepo metodolgica.
Introduo _____________________________________________________________________________
3 _____________________________________________________________________________
A primeira etapa da complexidade indica que conhecimentos simples
no ajudam a conhecer as propriedades do conjunto. Trata-se de uma
constatao banal, que no entanto tem consequncias bem relevantes: a
tapearia mais do que a soma dos fios que a constituem. O todo mais do
que a soma de suas partes. Este postulado de Morin (1986, p. 43) desacredita
aqueles que insistem em fragmentar, decompor e reduzir. A fragmentao
reduz na medida em que so sonegadas as correlaes que se estabelecem
com tudo aquilo que envolve determinada situao. Ao perspectivarmos
determinada componente de forma isolada do seu contexto real estamos a
adulter-la pois ela parte de um todo sem o qual deixa de fazer sentido.
A segunda etapa da complexidade revela que o facto de existir uma
tapearia faz com que as qualidades deste ou daquele fio no possam, todas
elas, expressar-se na sua plenitude, pois esto inibidas ou virtualizadas. Assim,
o todo menor do que a soma de suas partes (Morin, 1986, p. 43). Com isto o
autor adverte que ao darmos o primado globalidade teremos de relativizar
cada uma das suas partes. O relativizar aqui poder ser entendido como uma
contextualizao, ou seja, um enquadramento na realidade a que pertence
dentro do todo.
A terceira etapa da complexidade a mais difcil de entender pela
nossa estrutura mental. Ela diz que o todo ao mesmo tempo maior e menor
do que a soma de suas partes. Esta aparente contradio de Morin encerra
uma verdade que a chave do entendimento de todas as questes
relacionadas com este assunto. O todo maior que a soma das partes quando
o entendemos como uma estrutura extremamente complexa fruto de inmeras
interaces das partes umas com as outras e com o meio envolvente. Nesta
perspectiva o todo sempre tratado considerando a sua essncia global
surgindo daqui a necessidade de se criarem processos que conduzam a esse
mesmo tratamento holstico, isto , definir as prioridades e actuar sobre elas de
modo a que se obtenham incrementos nos mecanismos gerais. Por outro lado
o todo menor que a soma das partes se entendermos cada uma delas como
relevante em si, ou seja, se atribuirmos significado contextual a algo
descontextualizado. Por exemplo a periodizao convencional atomiza o j
atomizado treino aerbio em treino de recuperao, treino aerbio de baixa
Introduo _____________________________________________________________________________
4 _____________________________________________________________________________
intensidade e treino aerbio de alta intensidade. Cada uma destas
componentes , segundo esta concepo metodolgica do treino de futebol,
tratada isoladamente esperando-se depois um transfer adequado para a
realidade competitiva. Constatando esta realidade, Tani e Corra (2006, p. 16)
certificam que a noo de que um sistema pode ser separado em
componentes sem perder as suas caractersticas essenciais est ainda muito
presente no campo dos desportos colectivos, por exemplo, quando se d muita
nfase prtica de fundamentos tcnicos na aprendizagem ou no treino de
certas modalidades desportivas colectivas.
Changeux (2002) segue na mesma linha de pensamento afirmando que
para compreender bem como se construam as catedrais, no chega a
descrio minuciosa das pedras assumidas uma a uma: preciso ter tambm
uma representao das suas relaes mtuas e do plano de organizao geral
dos pilares, das abbadas, dos tmpanos. Para tentar reconstruir uma funo, e
no final, um comportamento, a partir dos constituintes elementares do crebro
recenseados no decurso das dcadas recentes, temos de compreender as
regras de organizao que determinam uma arquitectura geral das redes de
neurnios que caracterizam o crebro do Homem.
Assim, assumir o pensamento sistmico como base para o entendimento
do futebol implica um acrscimo de complexidade pois as redes de relaes
que se estabelecem so incontveis o que nos conduz a um crescente esforo
de compreenso que nunca ser finalizado. Isto poder ser tido como
estimulante para uns mas fastidioso para outros, razo pela qual so mais os
que perspectivam a fenomenologia do jogar de forma estanque. No nosso
caso inserimo-nos no primeiro grupo e mesmo conscientes da impossibilidade
de compreender tudo do todo, caminharemos no sentido se perceber cada vez
melhor os princpios que regem a aplicao do jogar imaginado pelo
treinador.
Surgrue, Corrado e Newsome (2005, p. 363) dizem-nos que o interesse
na tomada de deciso resultou da emergncia de novas reas interdisciplinares
de pesquisa que expressam o objectivo de perceber as bases neuronais da
escolha do comportamento. Ainda no mesmo artigo vemos que as decises -
ltima expresso da vontade - podem ser dissociadas das aces sob as quais
Introduo _____________________________________________________________________________
5 _____________________________________________________________________________
so normalmente manifestadas, e devem a sua verdadeira existncia a
processos escondidos dentro do crebro (Surgrue et al., 2005, p. 363).
Estes factos tornam-se tanto mais importantes quando se conhece a
constante modificao transitoriedade das situaes de jogo - onde o
sucesso depende, fundamentalmente da capacidade de julgamento do meio
envolvente bem como da deciso e ajustamento dos movimentos de acordo
com as exigncias dos eventos ambientais (Tani, cit. por Barbosa, 2003).
Embora aqui ainda no se perceba de forma clara a importncia do treino no
condicionamento dessas decises, j se antecipa que ter que existir um fio
condutor em direco a algo que buscamos.
Gomes (2006) complementa dizendo que o jogar uma totalidade que
resulta das interaces dos jogadores e por isso, no deve ser interpretado
como um somatrio de acontecimentos aleatrios porque se inscreve num
contexto colectivo. Atravs desta premissa, a tomada de deciso no
abstracta porque tem repercusses no contexto onde se inscreve. A deciso do
jogador no se reduz a si mesma, tem influncia na dinmica das relaes com
os seus colegas, adversrios e portanto, no contexto da dinmica colectiva, ou
seja, no jogo.
Tendo por base a Periodizao Tctica e sua forma particular de
operacionalizar o treino no sentido de transmitir a Ideia de Jogo do treinador,
pareceu-nos vital abordar a problemtica das adaptaes que o treino induz no
sentido de se evidenciar um determinado jogar, um determinado futebol em
detrimento de outro jogar, de outro futebol tendo particular ateno na
interveno do treinador que permanentemente reconfigura e reajusta
pormenores(maiores) visando a maximizao disso mesmo.
Posto isto, parece-nos pertinente colocar os seguintes objectivos ao
nosso trabalho:
Descrever os mecanismos inerentes ao processo de
entendimento/cumprimento dos princpios de jogo pretendidos pelo treinador
por parte do jogador de futebol;
Indagar acerca das formas de perspectivar este processo por parte dos
treinadores no que se refere sua interveno especfica;
Introduo _____________________________________________________________________________
6 _____________________________________________________________________________
Possibilitar uma maximizao da transferncia dos contedos essenciais
do treino para o jogo atravs da compreenso do funcionamento dos
mecanismos de aprendizagem do jogador.
Buscando a concretizao destes objectivos entrevistamos trs
treinadores de Futebol, a Professora Marisa Gomes, o Mestre Jos Guilherme
Oliveira e o Professor Rui Faria, todos eles sintonizados com a Periodizao
Tctica enquanto corrente metodolgica para o Treino no Futebol. A partir
daqui fizemos a sistematizao das suas ideias relativamente a alguns pontos
estruturantes relacionados com os objectivos traados.
Tendo por base esta metodologia estruturamos o trabalho em sete
pontos. Inicimos com a Introduo na qual expomos e delimitamos o tema e
sua pertinncia bem como procedemos delimitao dos objectivos propostos.
No segundo ponto fazemos a reviso bibliogrfica onde articulamos um
conjunto de informao relevante sobre o tema em estudo procurando
percorrer os aspectos mais relevantes que conduzem induo do
cumprimento dos Princpios de Jogo no Futebol.
No terceiro ponto fazemos a apresentao do material e mtodos a partir
dos quais desenvolvemos o nosso trabalho.
No quarto ponto fazemos a anlise e discusso dos dados sustentando
e confrontando os conceitos desenvolvidos na reviso bibliogrfica com os
dados provenientes das entrevistas.
No quinto ponto apresentamos as concluses mais relevantes de uma
forma directa e sinttica.
O sexto ponto reporta-se s referncias bibliogrficas que nos serviram
de base realizao deste estudo.
No stimo e ltimo ponto esto as trs entrevistas realizadas na ntegra
constituindo-se como anexos disponveis para consulta.
Reviso da Literatura _____________________________________________________________________________
7 _____________________________________________________________________________
2. Reviso da Literatura
2.1. Existncia de um Modelo de Jogo como condio impretervel
para dele se ter conscincia
H uma necessidade permanente do modelo estar sempre presente em
todo o instante de forma a que as coisas se direccionem sempre como eu
pretendo que aconteam. (Guilherme Oliveira, 2006)
Exercitamos o nosso Modelo de Jogo, exercitamos os nossos princpios
e sub-princpios de jogo, adaptamos os jogadores a ideias comuns a todos, de
forma a estabelecer a mesma linguagem comportamental. Trabalhamos
exclusivamente as situaes de jogo que me interessam, fazemos a sua
distribuio semanal de acordo com a nossa lgica de recuperao, treino e
competio, progressividade e alternncia. Criamos hbitos com vista
manuteno da forma desportiva da equipa, que se traduz por um frequente
jogar bem (Mourinho, 2005)
Guilherme Oliveira (2004), aponta o Modelo de Jogo como aspecto
nuclear do processo de treino, assumindo-se mesmo como um aspecto
fundamental do referido processo, ao ponto de deixar de ter sentido sem a sua
existncia, j que ser a partir dele que tudo se ir gerir, organizar, desenvolver
e criar. Assim pensa tambm Faria (1999, p. 49) para quem o Modelo de Jogo
condiciona um modelo de treino, um modelo de exerccios e, necessariamente,
um modelo de jogador. A sua existncia torna-se assim a base
fundamentadora de tudo e a sua aprendizagem constitui-se como algo de
relevncia inquestionvel. A presena do Modelo de Jogo no
imaginrio/conscincia dos jogadores constitui-se portanto um processo que
importa perceber.
Reviso da Literatura _____________________________________________________________________________
8 _____________________________________________________________________________
Frade (2004a) lembra que o Jogo pr-existe ideia que dele se tem.
Este Jogo sempre subdeterminado ao jogo referente ideia de jogo de
cada um, quilo que cada um quer que acontea que ser sempre diferente
das demais ideias. Estes jogos todos juntos, com a sua variedade mandam
no Jogo pois definem grosseiramente os seus traos gerais. O que nos
interessa o jogo pois sobre este que vamos actuar e assim condicion-lo
ideia que dele temos. Assim, quando falamos em modelo de jogo referimo-nos
precisamente ao nosso jogo particular sendo por isso um conceito Especfico
para cada treinador.
A tomada de deciso no algo aleatrio ou seja, apesar das
particularidades do contexto, o jogador sobrecondicionado a decidir em
funo do projecto de jogo da equipa e portanto, dos seus princpios. Assim, o
modelo de jogo permite condicionar as escolhas dos jogadores para um padro
de possibilidades ou seja, orienta as decises dos jogadores (Gomes, 2006).
Logicamente que no basta a mera existncia de um modelo de jogo para que
os comportamentos sejam condicionados nesse sentido pois h que trein-lo
de forma a enraza-lo no imaginrio dos jogadores e da equipa, torn-lo
presente de forma consciente e seguidamente subconsciente.
Edelman (cit. por Souza, Halfpap, Min & Lopes, 2007, p. 145) afirma que
a conscincia corprea, isto , somente seres corporais podem experimentar
a conscincia como indivduos pois ela o resultado de funes corporais e da
organizao e funcionamento do crebro de cada indivduo, um processo que
engloba de forma vincada a histria das interaces com o ambiente deste
indivduo. Exprimimos em primeiro lugar uma emoo, antes de sentirmos
eventualmente no fundo de ns mesmos um sentimento que lhe estaria
associado como o rosto mais ntimo de uma manifestao essencialmente
corporal (Revoy, s/d). Daqui inferimos que a conscincia de algo depende
tambm da histria das interaces com o ambiente, ou seja, para
promovermos e facilitarmos a possibilidade da consecuo de algo que
pretendemos, devemos proporcionar uma histria de interaces nesse sentido
concreto e isso no futebol s poder ser conseguido atravs do treino
Especfico dos comportamentos tcticos que consubstanciam o modelo de jogo
criado para que isso facilite a tomada de conscincia e execuo daquilo que
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temos como ideia de jogo e assim pensa tambm Faria (2002, p. VIII) quando
opina da seguinte forma: se tu queres instalar uma linguagem comum com
regras, princpios, uma cultura de jogo, um modelo de jogo () fundamental
que isso seja feito atravs do jogo referindo que para isso necessrio no
treino situaes que permitam os jogadores estarem identificados com aquilo
que se quer que seja a competio (o jogar), ou seja, consegue-se atravs do
treino especfico desse modelo de jogo. Acresa-se o que diz Damsio (2000)
quando refere que padro neural ou mapa neural algo que acontece no
crebro, um conjunto de actividades neurais que pode ser encontrada nos
crtices sensoriais quando eles esto activos (por exemplo nos crtices visuais
em correspondncia com uma percepo visual). S temos acesso aos
padres neurais na perspectiva da terceira pessoa (no sinto padres
neurais). Isto indica-nos que os comportamentos tcticos congruentes com o
modelo de jogo podero aparecer apenas no devido contexto do jogo sem
que deles haja uma apropriao permanente, ou seja, isso permite um uso
ecolgico daquilo que pretendemos pois apenas aparece quando realmente
necessrio.
A conscincia nuclear um conceito fundamental no entendimento das
decises em contextos como o Jogo de Futebol. Por que que numa
determinada situao com todos os detalhes inerentes ao aqui e agora o
jogador age num determinado sentido? A conscincia nuclear constitui ela
prpria o conhecimento, directo e sem qualquer verniz inferencial, do nosso
organismo individual no acto de conhecer e, por sua vez, esse conhecimento
nasce da representao do proto-si no consciente no processo de ser
modificado. Este imediatismo ainda no inferencial assiste transio de
dados, de padres neurais a imagens, e, porque estas ltimas emergem em
plena espontaneidade nesta que uma conscincia do pertinente
instantneo no podem ainda considerar-se em pleno jogo semitico
(Carmelo 2001 p. 4). O treino ter de alguma forma que ser o condicionador
desse imediatismo que acontecer no jogo constituindo-se as imagens e os
padres neurais como os princpios que queremos estabelecer na equipa
devendo por isso emergir no jogo em plena espontaneidade.
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Relativamente conscincia alargada definida por Damsio (2000, pp.
228-229) como a preciosa consequncia de duas contribuies que
possibilitam: primeiro a capacidade de aprender e, consequentemente, de reter
mirades de experincias previamente conhecidas atravs da conscincia
nuclear. Segundo, a capacidade de reactivar esses registos de tal modo que,
enquanto objectos, tambm eles possam gerar um sentido de si e
consequentemente ser conhecidos. Digamos que a conscincia alargada
engloba o passado, o futuro antecipado e o aqui e agora.
Nash (1999) relata uma leso cerebral ocorrida especificamente ao nvel
do hipocampo sendo essa a causa de extino da conscincia alargada que
levou uma doente a deixar de formar novas memrias ou antever o futuro
passando a flutuar livremente num presente descontextualizado. Ora a
formao de novas memrias um dos objectivos primordiais do treino, local
onde devem assentar as memrias do jogo.
Analisemos o seguinte exemplo que nos trazido por Revoy (s/d):
Suponhamos que Simone uma pianista profissional. Quando d um
concerto, as suas aces so essencialmente automticas, no sendo nem
precedidas nem acompanhadas de intenes conscientes especficas.
Podemos pensar que ela no age livremente? a que negligenciamos todo o
seu trabalho meticuloso de preparao, as horas infindveis que ela passou
para ter estes automatismos. Era da sua parte um sacrifcio feito livremente e
deliberadamente consentido." Por aqui vemos que o treino o fulcro de tudo,
mesmo daquilo que fazemos de forma automtica a aparentemente
inconsciente.
2.2. constituindo-se a prtica, como princpio e fim da sua
transmisso
Escreveram-se tratados sobre estratgias e tcticas mas o jogador no
um estudante universitrio, sobretudo um prtico e s passa a acreditar
nesta estratgia ou naquela tctica se ela se lhe demonstra em campo.
(Bella Gutman)
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A repetio sistemtica dos princpios , numa determinada concepo
metodolgica assumida em todo este trabalho, o caminho para a devida
consecuo do modelo de jogo criado, sendo este efectivamente um modelo
abstracto na medida em que cada treinador deve elaborar o seu de acordo com
aquilo que pretende ver implementado e com aquilo que tem em mos. Esta
caracterizao abstracta sustenta-se numa causalidade no linear que confere
grande dinmica a todo o processo, contudo, segundo Frade (2004a) existem
trs princpios que devem ser cumpridos nesta repetio sistemtica: o
principio da progresso complexa diz-nos que o modo como se passa de uns
dias para os outros diverso sendo que isso tem consequncias evidentes.
Isto resulta do facto de nos diferentes dias se trabalharem diferentes coisas, ou
seja, h uma alternncia, mas uma alternncia horizontal em especificidade,
isto , em cada dia trabalham-se coisas diferentes. Conforme se sabe as
contraces musculares so fundamentalmente definidas por trs parmetros:
velocidade de contraco, durao da contraco e tenso da contraco. Ora
a alternncia horizontal tem isso em conta pois privilegia a dominncia de
diferentes parmetros nos diferentes dias. O princpio das propenses refere-
se ao facto de se contextualizar as coisas para que aquilo que se quer que
acontea, acontea mais vezes, ou seja, este princpio de jogo ou a articulao
de um princpio com outro, e isto est tudo balizado pela ideia de jogo que
inicialmente uma configurao mental lata porque o prprio processo gerido por
uma determinada interveno que vai possibilitar o concretizar da sua
existncia.
Algumas intenes resultam de uma inteno consciente anterior
aco e outras h que nascem no calor da aco sem que sejam
necessariamente premeditadas (Oliveira, Amieiro, Resende & Barreto 2006, p.
201). Estas ltimas adquirem no contexto do Futebol uma relevncia tremenda
pois se muitas vezes a conscincia chega j depois da inteno, ento h que
criar hbitos de acordo com aquilo que queremos para que mesmo a deciso
inconsciente v na maioria das vezes de encontro aos princpios estabelecidos.
Nesta perspectiva vemos que a comunicao no substitui de forma alguma a
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aco pois nela que se criam os hbitos que queremos implementar. A
identificao verbal com os princpios no portanto suficiente!
A este respeito, Ferraz (2005) d-nos algumas ideias importantes para o
tema que queremos desbravar:
necessrio um espao onde os comportamentos pretendidos possam
aparecer.
Os sujeitos da aprendizagem tm que estar conscientes dos
comportamentos em causa nas situaes de aprendizagem (exerccios)
para poderem direccionar o foco do seu crebro e regular as possveis
emoes conflituantes.
Eles devem manter o foco do crebro nesse comportamento durante a
exercitao e so necessrios lembretes para auxiliar a manuteno
dessa focalizao.
At que esses comportamentos sejam aprendidos, se tornem hbitos,
tem que haver uma repetio sistemtica que exige bastante tempo.
Quanto maior a sistematizao mais eficiente se tornar o processo.
Os mecanismos inconscientes, entre os quais as emoes, quando
modelados por essa repetio sistemtica tornam as decises mais
eficazes e mais rpidas.
As emoes tm um papel decisivo na concentrao e por consequncia
na aprendizagem, devido aos marcadores somticos, mas tambm na
formao das intenes inconscientes condicionando fortemente as
tomadas de deciso.
Depois de aprendidos os princpios, a exercitao deve ser mantida para
evitar que esse hbito regrida e a nova modelao emocional (cultura)
possa continuar a jogar a favor dos novos comportamentos.
A forma como se deve treinar para poder maximizar essa transio de
dados, de padres neurais a imagens outro dos objectivos deste trabalho e
a parece-nos claro que a melhor forma de o fazer incidir tanto quanto
possvel na exercitao dos princpios a estabelecer, ou seja, o discurso oral e
a exercitao de outros factores que no os comportamentos tcticos
pretendidos, no sortiro efeitos na evoluo qualitativa da organizao
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colectiva pretendida se no forem acompanhados por uma prtica devidamente
configurada para isso. Com Williams e Hodges (2005, p. 645) pensamos: As
novas abordagens prescritivas devem-se em grande parte ao desenvolvimento
de teorias alternativas baseadas na psicologia ecolgica e na teoria dos
sistemas dinmicos. Estas perspectivas vem o sujeito como um sistema
dinmico e complexo com o padro de comportamento observado a constituir-
se como o produto de constrangimentos impostos ao aprendiz. De acordo com
esta viso, a coordenao do movimento atingida como resultado da
adaptao do sujeito aos constrangimentos que lhe so impostos durante a
prtica. A importncia da prtica deve por isso ser convenientemente
sublinhada indo isto de encontro ao cumprimento do princpio da repetio
sistemtica anteriormente referido. S a presena sistemtica e permanente do
jogar que se pretende que pode conduzir sua consecuo. As articulaes
entre partes (princpios) devem concorrer para a globalidade do processo na
certeza que no uma disjuno absoluta que, somada no final, resulta em
algo to articulado e complexo como o jogar bem.
Guilherme Oliveira (1991) sintetiza a relevncia da prtica defendendo
que os exerccios so o principal meio para provocar adaptaes nas vrias
dimenses do rendimento. O mesmo autor, mais recentemente (2006), refere
que para uma equipa jogar de determinada forma h interaces a promover
mas que para jogar de forma diferente, essas interaces so distintas dando
claramente a entender que a prtica deve ter em conta aquilo que se pretende,
ou seja, no se trata de uma prtica universal e incua mas sim de uma prtica
subjugada a algo hierarquicamente superior o Modelo de Jogo.
2.3. que vai condicionar a espontaneidade decisional do aqui
e agora
H vrias formas de resolver os problemas e ns queremos que eles
sejam resolvidos com uma determinada lgica (Guilherme Oliveira)
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Para ilustrar de uma forma algo genrica aquilo que pensamos sobre os
condicionalismos da espontaneidade decisional vejamos o que diz Gomes
(2007): No sei se por exemplo o lateral direito ao receber a bola vai jogar no
extremo ou vai jogar no central porque isso que variabilidade, o aqui e
agora, a deciso do jogador. Mas est sobre-condicionada quilo que
desejamos, portanto, ns queremos ter a posse de bola e o pivot esta a ser
marcado, ele no vai arriscar um passe para o pivot e ento vai jogar para o
central. E est sobre-condicionado a qu? Ao querermos jogar em segurana
para mantermos a posse de bola. No sei o que vai acontecer no aqui e agora
mas sei que a minha equipa vai ter determinados comportamentos pelo que
construo no processo de treino. Este exemplo revela a presena de uma lgica
que sugere determinadas possibilidades de aco tendo em conta algo e o
facto de isso ser edificado no processo de treino vem de encontro nossa
crena, importando agora perceber alguns mecanismos que permitem isso.
Durante um jogo de Futebol, os jogadores so constantemente
chamados a tomar decises e quanto mais rapidamente o fizerem tanto melhor
pois o jogo est crescentemente mais rpido sendo que a velocidade de
execuo distingue os melhores dos medianos. Se nos fissemos no sentido
comum e nas imagens tradicionais, o esprito deveria transmitir as ideias com
uma rapidez que desafiava todas as leis da matria. Na verdade, fenmeno
espantoso que segundo nos diz Changeux (2002) quase o contrrio que
sucede pois o crebro lento, demasiado lento mesmo em relao a certos
fenmenos fsicos de base. E acrescenta: Com efeito, o sistema nervoso de
todos os organismos vivos, includo o homem, propaga os sinais elctricos a
uma velocidade bem menor que a da luz. Isso significa que os sinais neuronais
no exploram as ondas electromagnticas que provm das foras
fundamentais do mundo fsico. Esta limitao fsica uma herana que nos foi
legada atravs da evoluo das espcies, os organismos primitivos
(Changeux, 2002, pp. 23-24).
Num jogo de Futebol entre equipas de topo assistimos a movimentos
velozes, execues em que parece que os jogadores adivinham as
movimentaes dos companheiros e as decises tm de ser tomadas de forma
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espontnea e de acordo com o modelo de jogo estabelecido e treinado. Ora, a
estas exigncias contrape-se a lentido dos processos cerebrais da que algo
tenha que estar por trs desta rapidez que caracteriza o Jogo de Futebol.
Treinar para criar pr-representaes e assim aumentar a velocidade dos
acontecimentos fazendo-os depender de algo j previamente definido e no
somente da soluo que o crebro teria que encontrar e realizar para cada
momento do jogo uma resposta que, de acordo com alguns autores,
explanaremos de seguida.
Changeux (2002, p. 57) afirma que a capacidade de antecipar
representa um recurso essencial de predisposio para adquirir
conhecimentos. Tambm Gomes (2006) refere que a realizao regular dos
princpios de aco faz com que os jogadores criem uma familiaridade com
uma lgica de funcionamento que os leva a antecipar com maior eficcia e
menor esforo os efeitos dos comportamentos.
Segundo Changeux (2002) esta capacidade de antecipao da
recompensa foi registada por mtodos electrofisiolgicos ao nvel dos
neurnios de dopamina do tronco cerebral no macaco. Estes estudos
revelaram que a activao dos neurnios dopaminrgicos no coincide com a
recompensa, mas antecipa-se na sequncia da aprendizagem. Esta concluso
vem de encontro s respostas que procuramos para explicar a rapidez de
processos que as grandes equipas de futebol evidenciam no seu jogar
contrariando a lentido dos mecanismos cerebrais pois perante determinadas
situaes de jogo, o jogador age, activando os neurnios dopaminergticos, o
que lhe permite uma antecipao na sequncia da aprendizagem garantida
pelo treino exaustivo desse jogar almejado. Gomes (2006) refere que essa
antecipao congruente com aquilo que se pretende s acontece quando j se
experimentou a mesma situao e esta se gravou como um hbito - como um
automatismo. Fica aqui bem explcita a importncia do treino para que este
mecanismo que visa contrariar a lentido do crebro possa realmente
acontecer. Jacob e Lafargue (2005) contribuem tambm para uma melhor
compreenso da antecipao quando lembram que quando se produz um acto
voluntrio, o crebro produz uma cpia eferente que prediz instantaneamente
os efeitos da aco e pelo contrrio quando o acto realizado de forma
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involuntria, o crebro no antecipa e preciso algum tempo de latncia para o
perceber. O treino adquire aqui relevncia capital pois apenas podemos
predizer aquilo que j fizemos e conhecemos o resultado. Estas experincias
devem ter sede no processo de treino se este for Especfico em relao aos
comportamentos tcticos desejados, ou seja, se treinamos os comportamentos
tcticos, conhecemos os seus efeitos e isso um aspecto a ter em conta na
consecuo do jogar pretendido.
Changeux (2002, p. 58) prossegue alargando esta explicao s
decises espontneas (muito frequentes no Futebol) e s mais ponderadas
afirmando que se a dopamina contribui para a antecipao de uma
recompensa e para o tratamento do erro, ela pode tambm intervir na
adaptao das estruturas corticais superiores em condies novas pois os
neurnios dopaminergticos (entre outros) ajudam-nos no apenas a motivar-
nos no caso de situaes j conhecidas, mas tambm a resolver os problemas
e situaes novas e a elaborar novos conceitos que as levam em conta. Se
concordarmos que o Modelo de Jogo engloba tudo - vejamos o jornalista
Antnio Tadeia (cit. por Pacheco 2005, p. 26) sobre o treinador Jos Mourinho:
o modelo de jogo a base de referncia de todo o trabalho a desenvolver
desde o incio da poca at a data de entrada para frias - facilmente nos
apercebemos que tudo se vai basear nele da que mesmo situaes
absolutamente novas encontrem uma resposta que de alguma forma se vai
basear nesse mesmo modelo de jogo, ou seja, existe uma diminuio da
margem de variabilidade da actividade espontnea. A este propsito, Gomes
(2006) lembra que adequabilidade da deciso fundamental para resolver as
dificuldades impostas pelo adversrio e por isso, as exigncias colectivas e
individuais que se colocam so tctico-tcnicas, isto , reportam-se ao modelo
de jogo criado e treinado. Mais tarde, a mesma autora complementa aludindo
natureza tctica do jogar que compreende uma organizao colectiva que
por sua vez se repercute em cada inteno e deciso do jogador e portanto,
nas interaces.
Jacob e Lafargue (2005) mostraram que a conscincia da inteno
imediata de executar um acto, precede sempre o acto cerca de 200 mseg.
sendo que nestas condies a nica forma de salvaguardar o livre arbtrio a
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de admitir que, este pequeno intervalo de tempo deixa a possibilidade
vontade consciente de opor a sua recusa a esta aco preparada e de proibir
em ltima instncia a sua realizao material sendo que existem mesmo casos
em que o potencial de aco motriz no seguido de aco, ou seja, se a
deciso do crebro no estritamente conforme as intenes prvias do
sujeito, resta-lhe a possibilidade de no agir. Isto leva-nos a crer que teremos
que treinar o crebro a decidir de determinada forma, de acordo com os
princpios estabelecidos, ou seja, condicionar as intenes prvias que surgem
de forma inconsciente para que estas sejam congruentes com o modelo de
jogo criado. Esta necessidade bem evidente quando sabemos que o tempo
que medeia a conscincia da inteno e a aco propriamente dita se cifra
nuns escassos 200 mseg., o que nos indica de forma bem clara a relevncia
das intenes prvias dos jogadores serem concordantes com a ideia de jogo
do treinador, caso contrrio a tarefa em conseguir tal desiderato estar
condenada ao insucesso.
O crebro comporta-se naturalmente como um sistema autnomo que
projecta em permanncia informao em direco ao mundo exterior em vez
de receber passivamente a sua marca. Changeux (2002) aponta que a
actividade intrnseca espontnea do crebro um dos seus componentes
principais, levando-nos a crer que ele no funciona como uma mquina que
trata passivamente informaes vindas do exterior. O mesmo autor explicita,
num outro captulo da mesma obra, que a actividade espontnea de conjuntos
de neurnios leva o organismo a continuamente explorar e testar o meio
ambiente fsico, social e cultural, a apoderar-se de respostas e a confronta-las
com o que ele possui em memria e em consequncia disso desenvolve
espantosas capacidades de auto-activao e logo de auto-organizao. Da
mesma forma, dizemos ns que, tendo isto em conta, o jogador de futebol
recebe a toda a hora informao do aqui e agora momentneo do jogo e
responde-lhe mais ou menos espontaneamente de acordo com aquilo que
treinou usando para tal as armas da actividade intrnseca e espontnea que o
seu sistema nervoso permite, indo buscar o comportamento adequado para
cada situao especfica s tais respostas e memrias que nos fala
Changeux.
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Esta orgnica cerebral caracterizada pelo dinamismo leva Changeux
(2002, p. 43) a dizer que as representaes internas do crebro, a sua
externalizao e a sua vulgarizao entre crebros individuais no seio do grupo
social e o seu eventual armazenamento nas memrias no cerebrais estariam
na origem da evoluo cultural. Reportando-nos ao Futebol cremos que esta
evoluo dir respeito a uma ideia de jogo que ser cada vez mais rica sendo
que vai ser crescentemente apreendida e armazenada pelos jogadores da
equipa pois tal como afirma Faria (2006, p. 17) a filosofia de treino e de jogo
ser sempre um processo impar de identidade prpria. Munida de
conhecimentos, cresce e desenvolve-se de acordo com as necessidades que a
prpria imprevisibilidade do processo exige. Torna-se complexa e cada vez
mais imagem dos seus mentores. A necessidade obriga a pensar, reflectir e
divagar incansavelmente sobre uma esfera de novas ideias, problemas e
possveis solues. Sabendo, contudo, que a situao provisria.
Rapidamente o processo fica mais rico, mais exigente e mais complexo, mas
sempre inacabado.
Pensemos agora no paradigma de Thorndike que contrasta em absoluto
com concepes empiristas e mecanicistas pois postula que existe uma
relao causal entre o comportamento espontneo, a aco do organismo
sobre o seu meio-ambiente e um dado acontecimento. Ora o comportamento
espontneo que ocorre no jogo de Futebol deve provir realmente de um dado
acontecimento que ter que ser o Treino. Changeux (2002, p. 74) d
seguimento a este raciocnio dizendo que a organizao e o reforo da aco
esto sob o controlo de uma recompensa recebida do mundo exterior e
prossegue afirmando que uma tal aprendizagem por tentativa e erro, em favor
de uma interaco activa com o ambiente, desenvolve-se a partir de um largo
repertrio de impulsos instintivos ou de reflexos endgenos prprios da
espcie. Desta forma temos que criar exerccios que compensem os
comportamentos desejados. Na mesma linha de pensamento segue Guilherme
Oliveira (2006) quando afirma que o jogador s consegue fazer determinado
comportamento bem se primeiro o compreender e depois, se achar que
realmente esse comportamento benfico, tanto para a equipa como para ele.
Ser este o caminho para conseguirmos implementar a nosso ideia de jogo, ou
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seja, se criarmos exerccios com um grau de dificuldade tal que seja difcil,
arriscado ou no seja evidentemente vantajoso cumprir o estipulado, isso ter
um efeito contraproducente no enraizamento desse comportamento no crebro
do jogador. Digamos que o jogador deve ver e sentir na prtica a validade e
utilidade daquilo que lhe requisitado. Jacob e Lafargue (2005) explicam a
importncia da obteno de sucesso na repetio dos comportamentos pois
quando h a inteno de agir, o crtex frontal tem, antes de mais, uma inteno
prvia e consciente da aco a cumprir, depois, o crtex parietal tem uma
inteno em aco no consciente, a rea motriz suplementar cria uma cpia
de inteno e em funo dos resultados do acto a esta cpia, a inteno acede
mais ou menos depressa conscincia. Quando se toma conscincia do facto
que a inteno no se adapta situao, isso conduz criao de uma
estratgia melhor adaptada e esta adaptao de capital importncia no
processo de treino pois proporciona uma adequao e aproximao crescente
quilo que se pretende.
Bechara, Damsio, Tranel e Anderson (1998) procuraram testar uma
tese onde a memria e a tomada de deciso estariam dissociadas dentro do
crtex pr-frontal do ser humano. O trabalho exaustivo destes investigadores
induziria muitas interrogaes na cabea dos treinadores se a sua tese fosse
absolutamente confirmada. Para que serviria o Treino se assim fosse? Na
verdade se a funo cognitiva da memria estivesse completamente dissociada
da funo cognitiva da tomada de deciso importaria questionar a relevncia
do processo de treino na aquisio de um padro de jogo regular: Este
mecanismo, contudo, no explica como que estas representaes so
seleccionadas para a aco. Por isso foi proposto que um outro mecanismo
marca as vrias opes e cenrios guardados temporariamente na memria
atribuindo-lhes uma conotao positiva ou negativa, sendo que depois se d a
ordenao e avaliao das vrias opes sendo a mais vantajosa escolhida
para a aco. Este mecanismo que sublinha a seleco das boas e ms
opes aquilo a que nos referimos como a tomada de deciso (Bechara et
al., 1998, p. 429). Felizmente a tese proposta no foi confirmada chegando-se
concluso que problemas na rea do crebro relacionada com a memria
afectam directamente a tomada de deciso o que vem de encontro aquilo que
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pretendemos mostrar e explicar neste trabalho. A memria de trabalho no
est dependente de eventuais falhas na tomada de deciso, ou seja, os
sujeitos podem agir normalmente na presena ou ausncia de falhas na
tomada de deciso. Por outro lado, a tomada de deciso parece ser
influenciada pelo funcionamento da memria de trabalho, isto , a tomada de
deciso afectada por uma memria de trabalho danificada (Bechara et al.,
1998, p. 434).
Gaiteiro (2006) diz-nos que a finalidade do modelo (referindo-se aos
modelos mentais que nos ajudam a desenvolver a aco) a de produzir
esquemas de aco substancialmente pertinentes sobre o futuro, no sentido de
conduzir as aces presentes. precisamente sobre isto que falaremos no
prximo ponto.
2.4. com permanente subordinao aos Princpios de Jogo
como objectos mentais
A aco do meio ambiente sobre o crebro no se resume a dar ao
crebro instrues de maneira passiva e directa atravs da actividade evocada,
como se supunha no esquema emprico e associacionista clssico. Pelo
contrrio, a hiptese proposta que a aquisio de conhecimentos indirecta
e resulta da seleco de pr-representaes. (Jean-Pierre Changeux)
Como ponto prvio afigurasse-nos importante lembrar que a aplicao
prtica dos princpios de jogo feita por pessoas, ou seja, o treinador em
conjunto com os jogadores levam a efeito a ideia de jogo do treinador que se
consubstancia em determinados princpios, sub-princpios e sub-sub-princpios.
Sem as pessoas isto no existe sendo por isso um conceito eminentemente
prtico (Frade, 2005).
Castelo (1994) faz um resumo daquilo que so princpios de jogo para
alguns autores:
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- os princpios tcticos de base, so durante o jogo as ligaes comuns
a todos os espritos, estabelecendo os pontos de referncia sobre os quais a
imaginao, o gnio, se devero apoiar para elevar o nvel de jogo (Poulain cit.
por Castelo, 1994, p. 155).
- os princpios so bases comuns para que os jogadores falem a
mesma lngua, permitindo exprimirem-se num estilo diferente (Franz cit. por
Castelo, 1994, p. 155).
- os princpios so regras de aco representadas pelo pensamento e o
meio de os jogadores explicarem racionalmente os seus comportamentos
(Mialaret cit. por Castelo, 1994, p. 155).
- os princpios so as condies a respeitar e os elementos a tomar em
considerao para que o comportamento seja eficaz (Grehaigne cit. por
Castelo, 1994, p. 155).
Em todas estas definies encontramos um tronco comum referente a
uma base de referncia que deve orientar de forma aberta o comportamento
tctico dos jogadores, ou seja, os princpios de jogo so vistos por estes
autores como guias de aco.
A propsito da definio de princpios de jogo, Guilherme Oliveira (2006)
opina que o princpio o incio de um comportamento que um treinador quer
que a equipa assuma em termos colectivos e os jogadores em termos
individuais. Importa assim dissecar que mecanismos estaro eventualmente
por detrs deste potenciamento de determinados comportamentos.
Damsio (2000) alerta para a importncia da codificao de sentimentos
atravs das emoes pois estas seriam um conjunto de reaces corporais
face a certos estmulos enquanto que os sentimentos nascem quando se tem
conscincia dessas emoes corporais, quando estas so transferidas para
certas zonas do crebro onde so codificadas sob a forma de uma actividade
neuronal. Analogamente os princpios de jogo devem enraizar-se no imaginrio
dos jogadores atravs da vivenciao dos comportamentos desejados no
treino, criando-se assim as emoes ajustadas para que isso surja de uma
forma natural.
Changeux (2002, p. 58) traz-nos uma noo que se revela importante no
mbito do nosso estudo, o conceito de objectos mentais: Estes referem-se s
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representaes internas que indicam que um certo objecto do mundo exterior
deve ser a causa do mesmo efeito comportamental - ou aco - sobre o
mundo, em todo o indivduo que possua esta representao. Uma
representao definir-se-ia assim pela sua aco causal sobre o
comportamento e mesmo sobre os estados mentais internos. Daqui podemos
inferir que a ideia de jogo que o treinador tem para a sua equipa pode
equiparar-se a um objecto mental. Essa ideia consubstancia-se no modelo de
jogo e transmitida atravs de exerccios que visam dotar todos os jogadores
com os comportamentos concordantes com esse modelo estabelecido. Ora se
todos os indivduos possurem essa representao tero os efeitos
comportamentais congruentes com aquilo que o treinador pretende.
O mesmo autor prossegue afirmando que a actividade espontnea
desempenha um papel central, contribuindo para uma espcie de gerador de
diversidade de tipo darwinista onde as pr-representaes corresponderiam
aos estados de actividade dinmicas, espontneas e transitrias de populaes
de neurnios capazes de formar combinaes mltiplas (Changeux, 2002, p.
70). A importncia do treino na aquisio da ideia de jogo por parte dos
jogadores est bem patente quando Changeux remata dizendo que a
variabilidade intrnseca das redes neuronais resulta em parte das modalidades
do seu desenvolvimento, ou seja, o resultado do tal gerador de diversidade
fortemente condicionado pelo regulador externo que constitui o treino
conjuntamente com o treinador seno vejamos: as pr-representaes
mobilizariam, de maneira combinatria, estruturas inatas (com as diversas
modalidades sensrias e/ou zonas motoras) bem como distribuies neuronais
sadas de experincias anteriores (Changeux, 2002, p. 72). Importa sublinhar
a noo de sistema regulado e para que o sistema seja realmente regulado
por algo preciso regul-lo e isso no est ao alcance de todos. Uma equipa
de futebol (entenda-se sistema) exteriormente regulada pelo treinador que,
como regulador externo, deve fazer surgir uma identidade comportamental na
equipa de modo a que esta se reja por princpios comuns sendo essa a sua
principal funo. Barbosa (2003), vem ao encontro do que est at aqui
descrito quando lembra que o conceito de Modelo arrasta consigo a existncia
de um responsvel pela sua construo, a inteno de conjecturar possveis
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realidades, a relevncia dada a determinados aspectos que o modelizador
aspira e o estabelecimento de relaes entre os elementos de um conjunto.
A definio de princpios de aco para os quatro momentos de jogo
conduzir a um determinado padro de jogo mas para tal h que haver uma
perfeita articulao e congruncia entre esses mesmos princpios. A este
propsito, Kelso (1995, p. 5) refere algo que nos parece pertinente, quando diz
que qualquer princpio relativo formao de um padro dinmico situa-se
entre dois problemas bsicos. O primeiro refere-se forma como um padro
construdo a partir de um enormssimo leque de opes. O segundo diz-nos
que qualquer princpio para a formao de um padro deve ter em conta, no
s o prprio princpio, mas sim como vrios princpios so produzidos para o
padro final se acomodar s diferentes circunstncias. Ora o primeiro problema
fulcral para o treinador de futebol pois a criao de um modelo de jogo deve
ter em conta um sem nmero de factores como o conhecimento do clube, da
equipa e do respectivo nvel de jogo, as caractersticas dos jogadores
individualmente ou mesmo os objectivos a atingir da que a tomada de opes
na definio do modelo de jogo seja logo partida problemtica e como tal
deve ser muito bem ponderada. J no que respeita ao segundo problema,
tambm ele se revela pertinente na medida em que os diversos princpios de
jogo esto articulados entre si e como tal dependem-se mutuamente. Os sub e
sub-sub-princpios que do corpo aos grandes princpios devem reger-se por
regras de continuidade da que na definio de cada um deles devam estar
presentes os demais.
Tendo isto em conta surge-nos o conceito de Especificidade como algo
nuclear para que o modelo de jogo criado pelo treinador seja espelhado em
campo no jogar da sua equipa, ou seja, para isso acontecer h que trabalhar
especificamente. Oliveira et al. (2006) abordam o conceito de Especificidade
afirmando que tem a ver com a necessidade da melhoria de todos os princpios
de jogo e isso s se consegue quando o processo acontece tendo como
preocupaes as melhorias singulares relativas a cada princpio de jogo. O
treino sobre os princpios de jogo respectivamente desintegrados (integrados)
daquilo (naquilo) que o jogar que se pretende, que o cumprir
operacional da especificidade. A especificidade a incidncia repetida no
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treinar de todos os princpios que o jogar contm. De todos, cada um a seu
tempo. Da a necessidade da vivenciao hierarquizada (Frade, 2004a). Esta
definio de Especificidade mostra de forma bem clara o entendimento que se
tem deste termo sob a perspectiva da Periodizao Tctica. Ressalve-se assim
a confuso entre Especificidade e reproduo do jogo num exerccio de jogo
formal 11x11 pois sendo esta a forma de jogo que temos em competio no
implica que esse seja o caminho para fazer surgir aquilo que queremos nesse
11x11 pois para isso e segundo vrios autores (Faria, 1999; Oliveira et al.,
2006; Oliveira, 2004) temos que ver a Especificidade como o acima exposto, ou
seja, tem que haver desintegrao dos princpios como partes do jogar
pretendido. Digamos que as interaces do jogo resultam das relaes dos
jogadores e que devem ser modeladas para fazer emergir a dinmica colectiva
que pretende. Assim, as relaes e interaces dos jogadores inscrevem-se
numa organizao colectiva ou seja, numa lgica que contextualiza esses
comportamentos.
2.5. que passam a fazer parte da memria de modo a serem
evocados sempre que necessrio
O processo de categorizao pode ser espontneo, resultando de uma
experincia desorganizada do individuo, ou ser cultural e organizado de acordo
com regras aprendidas formalmente, atravs do treino. (Alexandre Caldas)
A memria a capacidade de reter, recuperar, armazenar e evocar
informaes disponveis, seja internamente, no crebro (memria humana),
seja externamente, em dispositivos artificiais (memria artificial). A memria
humana focaliza coisas especficas, requer grande quantidade de energia
mental e deteriora-se com a idade. um processo que conecta pedaos de
memria e conhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando a tomar
decises dirias. Memria a base do conhecimento e como tal, deve ser
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trabalhada e estimulada pois atravs dela que damos significado ao
quotidiano e acumulamos experincias para utilizar durante a vida (Dicionrio
Enciclopdico Larouse, 1990). Acreditamos que o mesmo se passa no treino
em relao ao jogo, ou seja, aquilo que se vivencia no treino ser utilizado no
jogo sendo que para tal a memria ter que exercer o seu poder de reteno
para que as experincias vividas no se diluam.
A aco adaptada ao contexto, apta a reagir segundo os imprevistos,
necessita de apelar memria e planificao (Jacob, 2005). Vejamos o que
nos diz Caldas (1999, p. 131) a este propsito: O que julgamos saber hoje
que a aprendizagem parece ter por base biolgica, mecanismos de facilitao
da transmisso sinptica. Este processo pode ser facilitado pelo uso repetido
da transmisso, que criando hipersensibilidade dos receptores, que passam a
responder a doses menores de mediador, quer pela prpria criao de novos
receptores ou, ainda, atravs da maior produo de mediador. Fica assim
evidente que o mecanismo da codificao de algo est directamente
relacionado com a repetio sistemtica que j falamos anteriormente aquando
do tratamento da importncia da prtica.
O mesmo autor continua referindo que quando o crebro processa uma
determinada informao, activa sequencialmente, e em paralelo, um complexo
arranjo de clulas nervosas ligadas entre si. Existe pois um componente
temporal de sequenciao de entrada em actividade de operadores, e um
componente espacial de ocupao topogrfica que tem a ver com a localizao
desses operadores no crebro. Podemos aceitar que quando um indivduo se
confronta duas vezes com uma situao idntica, nas duas vezes activar as
mesmas estruturas, j que a activao das clulas nervosas um processo
desencadeado pelas ocorrncias do mundo exterior que podemos quase
considerar um processo adaptativo automtico. precisamente esse percorrer
do mesmo padro de activao que d ao indivduo o sentido da familiaridade,
isto , o reconhecimento. Por outro lado o crebro humano tem capacidade
para, por vontade prpria, pr em actividade as regies que correspondem ao
evento anteriormente vivido e dar origem assim ao processo de evocao
(Caldas, 1999, p. 132). Fica aqui evidenciada a relevncia primordial do Treino
naquilo que ser o jogar de uma equipa pois ser ele o responsvel pelo
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sentido da familiaridade e reconhecimento que conduzem aos mesmos
padres de activao no que s decises diz respeito.
Caldas (1999, p. 133) prossegue, reforando o interesse do treino na
aquisio de memrias apontando a importncia do processo de categorizao
e segmentao da informao processada para que esta possa ser arquivada
da forma mais conveniente e salientando que o processo de categorizao
pode ser espontneo, resultando de uma experincia desorganizada do
individuo, ou ser cultural e organizado de acordo com regras aprendidas
formalmente, atravs do treino. Reportando-nos ao Futebol estas regras diro
respeito aos princpios de jogo sendo que esta lgica se demarca claramente
de um funcionamento mecnico. Frade (2005) sustenta que os
comportamentos que queremos que aconteam so condicionados existncia
anterior de uma forma que vai dar origem a esses comportamentos. Esta
definio quase elementar de treino, encerra em si muitas particularidades que
uma modelao sistmica e atenta no pode sonegar. Uma dessas
particularidades refere-se ao facto de a estrutura de aco no dever ser
mecnica. Se a sujeio duma equipa a determinados princpios vai gerar uma
dinmica especfica porque estamos perante um mecanismo. S que o
mecanismo no pode ser mecnico, no deve ter uma estrutura absolutamente
funcional, desconsiderando a variabilidade das circunstncias que a vai
sustentar.
Passando agora descrio dos vrios processos que tm sido
relacionados com a memria, trataremos os trs mecanismos bsicos que a
compem segundo Caldas (1999, p. 133): O primeiro designa-se por
codificao e corresponde ao arranjo da informao medida que entra no
sistema, de forma a adequar-se sua experincia prvia e com ela passar a
interagir. Trata-se de um processo muito dependente da experincia prvia de
cada indivduo. O hipocampo tem um papel determinante como porta de
entrada e manuteno da informao em espera medida que se vo
activando as regies do crebro que tm analogias com a informao recebida
e que com ela vo emparceirar. A experincia individual torna-se assim o
fulcro da codificao da informao e o exemplo que nos dado ajuda a
ilustrar isso mesmo: Imaginemos que damos a dois indivduos um nmero de
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telefone para decorar. Imaginemos que esse nmero s difere no algarismo
final do nmero de telefone do primeiro indivduo, mas que no tem nada de
familiar para o segundo. O processo de codificao vai ser claramente diferente
para cada um deles. O primeiro codificar a diferena, enquanto o segundo
codificar todo o nmero. Logicamente que codificar apenas a alterao de
algo que j conhecemos a matriz bem mais fcil que codificar algo que do
nosso absoluto desconhecimento. Isto pode-nos ajudar a compreender o
porqu de jogadores de topo por vezes chegarem a novos clubes e
encontrarem dificuldades em se impor, sendo uma explicao possvel a
dificuldade em codificar um modelo novo com poucas semelhanas
relativamente ao anterior. As to propaladas dificuldades de adaptao podem
ser causadas por diferenas culturais no que aos diferentes jogares diz
respeito (o bom jogador em Itlia pode no o ser em Inglaterra porque pode
demorar muito tempo a codificar um estilo de jogo e fazer desaparecer o antigo
que j estava enraizado). Por outro lado compreendemos agora melhor, o facto
de alguns treinadores terem a preocupao de ir buscar jogadores a pases
culturalmente prximos (ou at ao mesmo pas) pois isso permitir uma
codificao do modelo de jogo mais fcil e rpida.
O mesmo autor que nos tem guiado neste captulo da memria faz
referncia precocidade das aprendizagens como factor relevante na sua
utilizao na idade adulta dizendo que o suporte biolgico da aprendizagem
nos primeiros anos de vida provavelmente mais estvel e talvez estruturante
para o que vier a ser apreendido depois. Por outro lado, variveis como a
frequncia de utilizao tambm se tm revelado de importncia para o arquivo
cerebral da informao. O que mais frequentemente utilizado tem mais
suporte que aquilo que raramente se usa. Se fizermos uma reflexo sobre isto
aplicado ao futebol percebemos a importncia da formao naquilo que deve
ser o entendimento do Jogo na sua essncia. O sucesso de escolas de
formao como a do Ajax encaixa nesta lgica de estimulao precoce duma
ideia de jogo prpria treinada desde bem cedo pois isso facilitar a sua
evocao na idade adulta.
Quanto evocao corresponde ao processo que nos permite ir buscar
a informao de que dispomos sendo que o contexto da situao que nos
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permite fazer a evocao (Caldas, 1999, p. 134). Logicamente que o aqui e
agora do jogo que vai indicar a evocao do comportamento congruente
com o modelo de jogo.
Finalmente, pode considerar-se o processo de reconhecimento que
consiste em confrontar um evento com a experincia prvia e consider-lo
familiar, ou no. Daqui inferimos que as situaes de treino (exerccios) devem
ser to ricas quanto possvel para que ao longo do jogo, todos os
comportamentos possam considerar a experincia prvia, isto , o modelo de
jogo treinado.
Ainda Caldas (1999, p. 139) refere sumariamente um conceito de
memria j abordado por ns, o conceito de priming tratando-se da
conservao da informao em memria inconsciente de forma a condicionar
o comportamento seguinte. Por seu turno, Gomes (2006) fala nos mesmos
termos mas de uma forma mais especfica relativamente ao nosso estudo
lembrando que a prtica de determinados princpios de aco faz com que os
jogadores e equipa adquiram uma memria que os direcciona nas escolhas,
ainda que seja inconscientemente.
2.6. para haver a manifestao de um padro de
comportamento regular que se pretende eficaz
Quando falamos sobre padres, recuamos das coisas em si mesmas e
concentramo-nos nas relaes entre elas. (Scott Kelso)
A dinmica comportamental de uma equipa deve assentar num padro
de jogo consubstanciado pelos princpios e respectivas relaes pois segundo
Pinto (1996, p. 53) a existncia de uma idntica cultura organizacional que
distingue onze jogadores de uma equipa, e uma cultura organizacional
especfica que distingue duas equipas diferentes. A organizao dos
jogadores configura as interaces da equipa e por isso, leva a determinadas
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regularidades que a identificam. Deste modo, um sistema sem organizao
resulta numa agregao aleatria de acontecimentos sobre os quais os
jogadores e treinador tm maiores dificuldades em interagir (Garganta & Cunha
e Silva, 2000).
Vejamos o que nos diz Faria (2006, p. 17) sobre as diversas vertentes
da operacionalizao: Operacionalizar uma filosofia dar corpo inteligncia,
imaginao e criatividade. a responsabilidade de uma ligao umbilical
entre o exerccio, a referncia ideolgica e o seu inventor. A evoluo d-se ao
ritmo de cada exerccio, de cada treino, de cada jogo e de cada competio.
Percorre-se medida que se constri. O objectivo ser sempre o mesmo:
tornar cerebral a dinmica comportamental que a organizao, que a
filosofia, que a emoo. Criar intenes e hbitos. Tornar consciente e depois
subconsciente um conjunto de princpios de forma a exponenciar naturalmente
uma determinada forma de jogar, ou seja, conforme recorda Guilherme
Oliveira (2004) o comportamento do jogador tem que se inserir dentro de um
determinado padro de jogo isto , dentro de uma organizao pr-definida.
Stacey (2005) define fractal como a propriedade de fracturar e
representar um modelo catico em sub-modelos, existentes em vrias escalas
que sejam representativos desse modelo, isto , um fractal uma parte
invariante ou regular de um sistema catico que pela sua estrutura e
funcionalidade consegue representar o todo, independentemente da escala
onde possa ser encontrado. Os fractais so sempre representativos do todo
pois tm uma constituio gentica semelhante ao todo onde foi observado
(Guilherme Oliveira, 2004). Apesar da variabilidade que podem mostrar,
possuem uma grande regularidade estrutural e funcional ao longo das escalas,
ou seja, detm uma invarincia de escala (Stacey, 1995). A invarincia de
escala acontece porque nos sistemas caticos com organizao fractal, existe
uma homotetia interna que faz com que as formas desse sistema ao longo
das diferentes escalas, tenham morfologia igual, ou seja, uma caracterstica
que permite reconhecer que os jogos de diferentes equipas assumem
caractersticas tambm diferentes, isto porque cada equipa, atravs de
processos de auto-organizao e da sua organizao fractal, vai criando
invariantes, que lhes so prprias dentro do contexto de variabilidade e
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aleatoriedade do jogo (Cunha e Silva, 1999; Guilherme Oliveira, 2004). A
aluso importncia do processo de treino nisto que a manifestao regular
de um padro de j