2010 Geografia - Espaço e Modo de Produção Asiático - ODT

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Este artigo é parte de um estudo maior procurando identificar as filiações entre Espaço, Ideologia e Meio Ambiente em formações sociais não-capitalistas, via de regra enquadradas no modelo do Modo de Produção Asiático, em tese localizado em civilizações pré-colombianas, africanas e asiáticas. Como o texto sugere, a análise das espacialidades constituídas em cenários não-ocidentais e não-capitalistas, necessariamente compreende uma ênfase para determinados aspectos da superestrutura - a religião, por exemplo – que cumpriam simultaneamente papel de infra-estrutura. Os fundadores do socialismo científico - Marx e Engels - utilizavam a denominação "Velha Ásia" para categorizar um amplo rol de civilizações "orientais" que malgrado diversas insuficiências teóricas, ainda mostra pertinência para a compreensão de vários aspectos da reprodução espacial e social destas antigas civilizações. A partir destes estudos pioneiros, é possível demarcar sociedades caracterizadas por violentos antagonismos, muito distantes da aura de um romântico "ecologismo pré-capitalista" que alguns observam consignado no passado. Uma sociedade ecológica está por ser instaurada e não restaurada.

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  • ESPAO E MODO DE PRODUO ASITICO

    SPACE AND ASIATIC MODE OF PRODUCTION

    Maurcio Waldman1

    RESUMO:

    Este artigo parte de um estudo maior procurando identificar as filiaes entre Espao, Ideologia eMeio Ambiente em formaes sociais no-capitalistas, via de regra enquadradas no modelo do Modo deProduo Asitico, em tese localizado em civilizaes pr-colombianas, africanas e asiticas. Como otexto sugere, a anlise das espacialidades constitudas em cenrios no-ocidentais e no-capitalistas,necessariamente compreende uma nfase para determinados aspectos da superestrutura - a religio,por exemplo que cumpriam simultaneamente papel de infra-estrutura. Os fundadores do socialismocientfico - Marx e Engels - utilizavam a denominao "Velha sia" para categorizar um amplo rol decivilizaes "orientais" que malgrado diversas insuficincias tericas, ainda mostra pertinncia para acompreenso de vrios aspectos da reproduo espacial e social destas antigas civilizaes. A partirdestes estudos pioneiros, possvel demarcar sociedades caracterizadas por violentos antagonismos,muito distantes da aura de um romntico "ecologismo pr-capitalista" que alguns observam consignadono passado. Uma sociedade ecolgica est por ser instaurada e no restaurada.

    ABSTRACT:

    This article is part of a larger study which searches for links between Space, Ideology and Environmentin non-capitalist social formations, normally fitted in the Asiatic Mode of Production model, which, inthesis, located in Pre-Colombian, African and in the Asian civilizations. As the text suggests, the analysisof spatial relationships composed by non-western and non-capitalistic sceneries, necessarily includes anemphasis on certain features of the superstructure - religion, for instance - that simultaneously playedthe role of an infrastructure. The founders of the scientific socialism - Marx and Engels - used thedenomination "Old Asia" to label a large roll of "oriental" civilizations. And, in spite of some theoreticalinsufficiencies it still shows its pertinence for the comprehension of many features of the spatial andsocial reproduction of theses ancient civilizations. From these pioneering studies, its possible to observesocieties with violent antagonisms, far from the romantic "pre-capitalistic environmentalism" that somepeople claim to have existed in the past. An environmental society is still to be created and not to berecreated.

    Palavras-Chave: Espao, Modo de Produo Asitico, Meio Ambiente, Ideologia, Ecologia.

    Key Words: Space, Asiatic Mode of Production, Environment, Ideology and Ecology.

    INTRODUO

    O conjunto das formulaes filosficas e dos sistemas de pensamento anteriores ao Sculo XXestiveram no Ocidente, sob o domnio do tempo. Isto, tambm verdadeiro para o marxismo.Dinmicas e categorias temporais constituem o essencial de sua argumentao: "a nica cincia que

    1 Ps-graduando do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP.

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  • conhecemos a cincia da histria", palavras do prprio Karl MARX (1977:23). Por esta razo, salientaEdward SOJA, o surgimento de um forte materialismo histrico no foi correspondido por umigualmente robusto materialismo geogrfico (1986:4).

    Procurando suprir tal lacuna, uma gerao inteira de gegrafos, a partir da dcada de 70, passou apreocupar-se com o resgate do espao. Mais ainda, com a espacializao de conceitos marxistastemporalizantes.

    O resultado destes esforos levou, muito sinteticamente, ao entendimento de que modo de produo eformaes sociais, conceitos enraizados na tradio temporalizante ocidental, teriam, uma traduoespacial. o que afirma Milton SANTOS: "O Espao, espao-paisagem, o testemunho de um modode produo nestas suas manifestaes concretas, o testemunho de um momento do mundo"(1978:138).

    A modelagem do espao geogrfico, os arranjos dados aos elementos naturais que o homem encontroudiferentemente dispostos no meio ambiente, resultaram de transformaes histricas especficas.Traduzem relaes sociais, mantidas pelos homens entre si, e destes, com a natureza. Neste processo,a natureza original ou primeira, foi transformada em natureza segunda.

    Assim sendo, uma formao social no pode ser compreendida sem levar o espao em considerao.Recorrendo uma vez mais s colocaes de Milton SANTOS, temos que "No h e jamais haverformao social independentemente do espao" (1978:199). As formaes sociais constituiriam, narealidade, formaes scio-espaciais, ou espaciais, abreviadamente.

    Nesta contextualizao, o espao no mero receptculo das relaes sociais de uma formao socialqualquer. Contribuem em igual medida, para a organizao do espao, os condicionamentos oriundosdas heranas espaciais do passado.

    No raro, objetos e formas espaciais do passado, como, por exemplo, sistemas de irrigao ou umconjunto de aldeias, determinam ou so as bases fixas para a rearticulao do espao. assim quesendo verdadeiro que o tempo se transforma em espao, igualmente correto entender que o espao,por sua vez, tambm se transforma em tempo.

    Deste modo, termos novos, como espacialidade e processos de espacializao, ganharam uso correntenas anlises sobre Subdesenvolvimento, Diviso Regional e Internacional do Trabalho, etc.Demonstram a incorporao da dimenso espacial em processos antes entendidos comoeminentemente temporais.

    As formaes espaciais podem ser explicitadas por algumas "frmulas gerais", que seriam:

    Analisar como o tempo se transforma em espao e como o tempo passado e o tempo presentetm, cada qual, um papel especfico no funcionamento do espao atual (SANTOS, 1978:105).

    Interpretar o espao, na acepo deste constituir um fator, um fato e uma instncia social (idem,130).

    Compreender o papel pertinente s rugosidades, formas espaciais criadas pela ao dohomem, cuja inrcia espacial condiciona novas localizaes (idem, 138).

    Entender que as formas espaciais so durveis, influenciando a organizao do espao mesmocom o fim dos processos que lhe deram origem. Elas so factveis de serem revivificadas pelomovimento social (idem, 149).

    A relao Homem/Natureza uma relao que produz espao, onde a natureza transformada,socializada, um arranjo espacial, uma natureza segunda (idem, 201). Em suma, o espao uma herana dinmica, no qual temos uma acumulao desigual de tempos (idem, 209).

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  • Tais contribuies enriqueceram o conceito de modo de produo, pois revelaram a sua concretude. Oespao, sem a dimenso tempo, um espao congelado. Do mesmo modo, pensar um modo deproduo apenas pelo prisma do tempo, a-espacialmente, pensar um tempo abstrato, no qual podemconfundir-se, diferentes formaes sociais (vide MOREIRA, 1982:62).

    Naturalmente, a questo do espao tambm se coloca para as formaes sociais pr-capitalistas. Emface de erros derivados da no-espacializao da Histria que foi dado formao social feudal,fenmeno espacialmente restrito a uma poro do continente europeu, "uma universalidade que noteve", originando discusses sobre o modo de produo asitico (MOREIRA, 1982:62).

    Resgatar a especialidade da formao social asitica, ou oriental, uma forma de questionar a rgidainterpretao unilinear dada ao tempo histrico, que imps a todos os povos do mundo, a evoluosocial originria da Europa Ocidental como paradigma cientfico e poltico. Paralelamente, um estudoauxiliar para a compreenso da configurao espacial articulada pelo capital em vrias reas doTerceiro Mundo.

    O MODO DE PRODUO ASITICO E A GEOGRAFIA

    Antes do debate que resultou no conceito de formao espacial, outras disciplinas desenvolveramestudos nessa direo. Na Sociologia, mile Durkheim j assinalava que a organizao do espaovariava de acordo com as sociedades; Maurice Halbwachs, a importncia do espao na memriacoletiva; Georg Simmel, a proeminncia de um centro espacial num Estado Eclesistico (Kirchenstaat),como o Tibet, onde a capital, Lhasa, tem em seu exato meio um grande convento - o Potala, ao qualconduzem todas as estradas e era a sede do governo (Vide CUVILLIER, 1975:138/161).

    Na Antropologia, tambm possvel destacar preocupaes espaciais. Elas justificam-se, entre outrasrazes, pelo fato das "sociedades arcaicas" trabalharem a todo o momento com uma articulaoorgnica entre espao social e sistemas mticos, nos quais uma percepo csmica da natureza parteindissocivel de sua reproduo social. Assim, Marc AUG e Claude TARDITS (1985), em suasavaliaes, respectivamente sobre a frica Ocidental e o Reino Bamoun (situado no que, hoje, constituio atual Kamerun ou Camares), reportaram, direta ou indiretamente, ao espao.

    Mas, ao no articularem conceitualmente uma totalidade scio-espacial, seus dinamismos internos e,particularmente, suas contradies no plano do espao-tempo, tais estudos no afirmaram, ou noresgataram a espacialidade inerente a qualquer formao social.

    Analisar um espao socialmente organizado uma atitude que no se confunde com compreender umaespacialidade. Esta se refere a um conceito muito mais complexo, onde se intercalam diferentesvariveis. Cognitivamente, apenas so apreensveis com o recurso de um modelo explicativo geral, umaconstruo terica do espao, para a qual convergem mltiplas determinaes2.

    O conceito de modo de produo asitico, enriquecido de contribuies derivadas da Antropologia, daSociologia e da Histria entre muitas outras, constitui um modelo terico muito pertinente para acompreenso dos processos de espacializao ocorridos no Terceiro Mundo. Caracterizado por umconjunto de formaes sociais diferentes das existentes na Europa, coube, no Terceiro Mundo,relevante papel para a formao social asitica (LACOSTE, 1980:61/65).

    A par do minucioso estudo da economia poltica, da antropologia econmica e das instituies destaformao social, compreender os "contedos" de sua espacialidade sugere especial ateno para aideologia destas sociedades. Vrios objetos espaciais foram, por exemplo, articulados em funo dospressupostos religiosos, pelo que a religio das antigas formaes asiticas um recurso explicativoimportante (BANU, 1978).

    A Cartografia e a Iconologia produzida na Velha sia, denunciadora de certo imaginria espacial,tambm no podem ser descartadas.

    2 "O estudo mais e mais preciso do conceito e articulao de formao econmico-social e de modo de produo, a par do estudominucioso da economia poltica, das instituies e da ideologia, sem o qual no se pode mergulhar fundo na compreenso deuma formao econmico-social, e a convergncia de tudo isso ao estudo do conceito, forma e processos da formao espacial,eis o que nos parece que necessrio para um bom trabalho de construo terica do espao" (MOREIRA, 1982:63).

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  • Na Cartografia, patente a influncia deste imaginrio espacial enquanto filtro na seleo dos dadosespaciais representados nos mapas. No geral, a representao do espao no assinala, nestacartografia, dados exclusivamente relacionados ocupao do territrio. Fundamentalmente, elesespelham uma viso de mundo. Mostram como o espao habitado foi metamorfoseado em imagens quereproduziam indues polticas do modo de produo asitico. Constituem imagens espaciais,representaes simblicas do espao, calcadas na ideologia dominante.

    Quanto Iconologia, o estudo da formao das imagens e dos arqutipos figurativos, dos seus papissimblicos, visando uma leitura de diferentes nveis de significao em contextos de civilizaoespecficos, ajudam a revelar as razes de determinadas orientaes ou bloqueios espaciais.

    Exemplificando, os Mandalas (fig.1), diagramas simblicos pretendendo representar a evoluo e ainvoluo do universo em relao a um ponto central, expressam uma organizao valorativa dosimpulsos espaciais, qualitativamente destacados. Parte de um imaginrio espacial oriental, no srepresentaram, mas condicionaram expectativas e demandas sociais. Fixaram ou ajudaram a fixardeterminados impulsos, fluxos, feixes, circuitos e prteses.

    Modelo indissocivel da evoluo social de grande nmero de povos, o modo de produo asiticoconsagra a irrupo de uma arquitetura social onde a constituio do Estado, a inveno da escrita e aformao de uma casta burocrtica formada por escribas consegue, pela primeira vez, "dominar oespao e os homens" (CLAVAL, 1979:95).

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    FIGURA 1 - Mandala tibetano - teto do Templo do Potala, em Lhasa, Tibet.(Reproduzido de CUVILLIER, 1975:144).

  • OS CONTEDOS DA ESPACIALIDADE ORIENTAL

    Os contedos da espacialidade oriental no conflitam, em nenhum momento, com os compromissosmaiores do modo de produo. Tais compromissos fundamentam-se na existncia de um EstadoTeocrtico, personificado por um Dspota, divinizado ou semidivinizado, concentrando grandespoderes.

    o chamado Despotismo Oriental. No plano social, a diviso em castas assegura uma diviso social dotrabalho imutvel, assim como regras sociais fixas e inalterveis.

    Economicamente, toda estrutura baseia-se na tributao das comunidades aldes pelo Estado. Estestributos, em espcie e em trabalho, tm contrapartida em public works (obras pblicas), geralmentevoltadas para assegurar os circuitos da produo agro-pastoril. Perpassando todas estas variveis, aideologia religiosa, que assegura uma unidade encarnada na pessoa do Dspota, ser tribal imaginrioque o Deus (MARX, 1975:67/68).

    Em funo destes compromissos que se d a organizao do espao no modo de produo asitico,possibilitando explicar dinamismos e elementos centrais desta espacialidade.

    Neste sentido, o espao asitico um arranjo espacial cuja reproduo eminentemente horizontal, viaatividades de fundo agrcola e pastoril. Devido ao fraco desenvolvimento das foras produtivas, asmarcas naturais so determinantes para a organizao do territrio.

    o caso dos grandes rios, que assumem o papel de eixos no direcionamento dos fluxos e dos circuitos.Assim acontece com o Nilo (Egito), Tigre e Eufrates (Mesopotmia), Hoang-Ho (China) e com o Indus(Moenjodaro/Harapa).

    Dada a imbricao da economia e da poltica com a religio, no raro os cursos d'gua confundem-secom representaes csmicas de fundo fantstico - caso do Nilo, que no Egito Faranico possua umparadigma celestial na forma de um outro "Nilo", situado no extramundo. Tais cosmogonias refletem esimultaneamente reforam uma inrcia espacial especfica do modo de produo asitico.

    O espao oriental firma-se e tm sua reproduo assegurada pelo Estado, cuja base tributria socomunidades aldes conectadas a circuitos de apropriao do excedente econmico, como os Ayllu, noImprio Inca e os Calpulli entre os astecas.

    Sobre esta base extremamente frgil, constituda por aldeias autrquicas, repousa a manuteno dopoder desptico. Para os padres civilizatrios em pauta, as demandas em tributos requeridas peloEstado Asitico so gigantescas (Fig. 2).

    Para atend-las, a construo de vias de acesso expediente fundamental para assegurar aestabilidade do espao. O pequeno excedente que cada aldeia produzia isoladamente era maximizadopela ampliao da rede de tributao, equilibrando o balano energtico requerido pelo sistema.

    Os imprios asiticos constroem, pois, vastas redes de estradas, autnticos prodgios de engenharia.Elas transpem obstculos naturais de grande envergadura e enormes distncias - caso das estradasincas cruzando profundos desfiladeiros e vales inacessveis dos Andes, e da Estrada Real, que um dia,uniu Susa, uma das capitais do Imprio Persa Aquemnida, com Sardes, na sia Menor.

    No entanto, a manuteno do fluxo de tributos e do circuito de distribuio tanto frgil quanto onerosa.Qualquer tenso adicional (como pragas, colheitas insatisfatrias ou cataclismos naturais), podedesarticular para sempre o espao asitico.

    o que ocorreu na antiga Felix Arbia (atual Ymen), aps a ruptura da barragem que represava asguas do Rio Adhanat, por um terremoto em 542 d.C. Prtese fundamental para manter o sistema deirrigao que transformou a Arbia Meridional, em um jardim de especiarias ao longo de um milnio emeio, o rompimento do dique foi golpe decisivo para destruir para sempre o arranjo espacial dos antigosReinos do Incenso.

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  • FIGURA 2 - Cenas da vida agrcola no Egito Faranico(Reproduzido de CARDOSO, 1982:30).

    O temor de uma ruptura do espao explica a ateno dada pelos soberanos da Antiguidade orientalpara as obras de manuteno de prteses como canais de irrigao, diques, barragens, pontes efortalezas. A ameaa induziu a criao de mecanismos de controle e administrao dos fluxos deenergia, como o entesouramento e a criao de reservas de alimentos.

    Esta preocupao engendra a construo de silos (acumulao de recursos energticos) e a instalaodas primeiras formas de equivalente universal, desde cedo identificadas com os metais preciosos. Ostemplos transformaram-se nos primeiros "bancos", de carter "sagrado", onde moravam os deuses docomrcio da Antiguidade (MARX, 1975b: 146).

    O campo de fora do espao asitico atua em sentido centrpeto. Voltados para o interior do espao jconsolidado, os fluxos do sistema (materializados nos tributos) e seus circuitos (as redes dedistribuio), esto condicionados por pressupostos de centralidade, funo desempenhada pela redeurbana, em especial.

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  • O entorno agro-pecurio est marcado pela simplicidade de um aparato produtivo combinado com auto-suficincia, associando-se com diversos encaixes artificiais, tais como cidades, templos e guarniesmilitares.

    No entanto, as prteses, diferentemente da espacialidade que hoje conhecemos, no esto voltadaspara aprofundar o desenvolvimento das foras produtivas do entorno. Antes, maximizampotencialidades pela centralizao de esforos, tarefa esta assumida pelo Estado, com o qual estasprteses se confundem.

    As grandes cidades da Antiguidade, os centros regionais de captao do excedente e/ouadministrativos, articulavam-se entre si atravs de grandes eixos, assegurando a circulao interna doespao articulado. Este papel era desempenhado por rios, canais e estradas. A complexidade e omagnfico porte desta estrutura espacial - que tanto assombra aos incautos - expressava umaespacialidade dependente de recursos escassos, da a necessidade de concentr-los.

    A especialidade asitica sustentava-se com base em mecanismos simples de reproduo social eespacial. O comando, pelos estados orientais, "de quase toda populao no agrcola e o domnioexclusivo do monarca e da classe sacerdotal sobre esse excedente, proporcionavam-lhes os meiospara construrem aqueles monumentos portentosos com que encheram o pas... Para movimentaresttuas colossais e massas enormes cujo transporte causa espanto, empregou-se, de maneira prdigae quase exclusivamente, trabalho humano. Bastavam o nmero dos trabalhadores e a concentrao deseus esforos" (R. Jones, citado in MARX, 1975b: 382/383).

    O espao asitico somente compreensvel pela permanncia do arcasmo em nvel de aldeia, quesustenta uma estrutura da qual o Estado Teocrtico seu mximo desdobramento histrico, com eleconvivendo.

    A tenacidade e a resistncia da aldeia s transformaes (que apesar de ocorrerem, so seguramentemuito lentas), determinam a inalterabilidade e o isolamento do sistema de aldeias. Em suas ltimasconsequncias, este compartimento desdobra-se no isolamento da clula espacial maior, o espaoarticulado pelo Estado Asitico, dos demais espaos.

    Com efeito, os imprios asiticos eram espaos estanques entre si. Seus deuses, seus cdigos jurdico-religiosos, sua iconologia e sua topofilia (TUAN, 1980) demarcavam em sua espacialidade, atributosque confundiam Espao, Estado e Meio Ambiente.

    No por acaso, rios, cidades, templos e diversos outros sinais referentes aos recursos do territrio(como minas), esto identificados ou associados nos mapas asiticos, inclusive atravs da toponmia,com divindades e outras referncias csmicas.

    Simultaneamente, so bastante comuns denominaes de carter mgico ou fantstico - exacerbadaspelo desconhecimento e desprezo ao estrangeiro - para as reas pouco conhecidas pelas civilizaesantigas. Suas populaes eram denominadas universalmente de "brbaras" ou "semibrbaras" pelosimprios asiticos3.

    Mas, por detrs desta "cartografia csmica", destacando templos e monumentos sagrados nas cidadese denominando-os frequentemente com eptetos sacros, caso de Babilnia, que significa "Portal dosDeuses, o suporte social da topografia asitica so consideraes fiscais e cadastrais. Em razo disto,os astecas elaboraram detalhado levantamento cartogrfico de seu imprio, ironicamente mais tardeutilizado, com sucesso, por Fernando Cortez em sua campanha militar de conquista do Vale do Mxico(Fig. 3).

    Pontos nevrlgicos e ndulos condensadores de fluxos, as cidades asiticas caracterizam-se pelafuno de centralizao administrativa e no por uma atividade produtiva. Os centros urbanoslocalizam-se, normalmente, no cruzamento de rotas comerciais, locais propcios captao de tributos,regies de interesse estratgico ou, de acesso - sempre controlado pelo Estado - com o exterior.

    3 Um mapa chins antigo (reproduzido em RAISZ, 1969:10), mostra a China como imprio central e todos os outros pases comopequenas ilhas ao redor, com destaques como "montanha do esprito do Fogo", "pas dos homens superiores", "grandemontanha perifrica", etc. comum no imaginrio das civilizaes asiticas a perspectiva destas constiturem o "centro douniverso" juntamente com a concepo deste centro reunir o essencial da vida civilizada.

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  • FIGURA 3 - O Vale do Mxico, com Tenochtitln e localidades vizinhasaos tempos do conquistador Fernando Cortez (Reproduzido de SOUSTELLE, 1972:112).

    As cidades asiticas revelam a essncia do modo de produo. Abrigam os quadros que compem a"comunidade superior", constituda pelos Dspotas, sacerdotes, artesos, corpo militar, comerciantes eescribas. O esplendor dos Templos e dos Palcios tem contrapartida na rusticidade do meio rural. Entreambos, formou-se uma espcie de "unidade indiferenciada de cidade e campo", onde a grande cidadepropriamente dita, "deve ser considerada como um acampamento de prncipes, superpostos verdadeira estrutura econmica" (MARX, 1975:74).

    Em alguns casos, o Dspota e seus prepostos imediatos, deslocam-se de cidade para cidade numa"migrao" cujo interesse a coleta de tributos e oferendas. Na Sria, durante a idade do Bronze, "o reimigrava de cidade a cidade, recolhendo e consumindo in loco os tributos em espcie que lhe eramdevidos" (CARDOSO, 1990:73). Esta a provvel explicao dos casos de "descentralizaoadministrativa", as capitais "de vero" ou de "inverno" de certos imprios asiticos. Entre os

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  • Aquemnidas, Susa, Ecbatana, Perspolis e Pasrgada, eram cidades utilizadas como sede dogoverno, onde foram construdos Palcios magnficos (RIBEIRO, 1955).

    Hipertrofiadas e alheias ao campo, as cidades concentravam o aparato estatal que controlava oscampos em nome dos cus. Centralizavam diversos servios, entre eles o Palcio, o Templo (s vezesconfundindo-se entre si), guarnies militares e vasto elenco de burocratas, artesos e comerciantes,todos dependentes do Estado Teocrtico. A rede urbana, no pode ser explicada pelas atividadescomerciais. Estas so controladas pelo Estado. A hierarquia urbana, no expressa qualquer articulao,mesmo primitiva, referente a uma geografia urbana.

    Epifenmeno de um modo de produo que no dissociava, temporal e espacialmente, o campo dacidade, a rede urbana confundia-se com os terminais dos fluxos, associada rede de tributao e snecessidades de sua preservao. Cidades maiores ou menores traduziam fluxos maiores ou menoresde tributos. No correspondiam a eventuais progressos de uma economia urbana.

    A "marca csmica" evidenciada nas mltiplas atividades aglutinadas na cidade, articulavam-sefuncionalmente a um mecanismo social ideologicamente voltado para a perpetuao de uma "ordemcelestial", inseparvel dos ciclos de matria e energia histrica e socialmente apreendidos. Nestesistema de engenharia (cf. SANTOS, 1988), as cidades eram fixos, terminais de fluxos, adies aonatural, prteses. A combinao destes fixos e fluxos no arranjo espacial asitico era, quaseparadoxalmente, substantivada pela destruio ou queima simblica do excedente duramenteproduzido e arduamente arrecadado.

    O consumo sunturio do Dspota, os holocaustos oferecidos aos deuses e inclusive a realizao desacrifcios humanos eram necessrios para que o ciclo de tributao no cessasse. Estes rituaiscsmicos realimentavam, articuladamente, circuitos da produo acoplados aos ciclos naturais.

    As cidades eram formas espaciais extremamente rgidas. Fruto e smbolo do Despotismo Oriental, acidade asitica reproduzia no espao urbano a estratificao social em castas. A espacializao darigidez social, consubstanciando a rigidez global do sistema, transparecia em bairros de casta. Eles soconstatados na ndia4, no Egito Faranico5 e no Nepal6. A extrema diferenciao encontrada nestesbairros no representava nenhum dinamismo social. Pelo contrrio, eram sua exata negao.

    Na paisagem urbana ganha destaque um objeto espacial de particular interesse: o Templo (Fig. 4).Muitas cidades asiticas tiveram origem a partir de locais de adorao, semantizando ou, como eramais comum ressemantizando estas localizaes.

    No geral, na prpria arquitetura dos santurios possvel apreender seu carter desptico. Altasmuralhas circundam a construo. Suas portas podem estar guarnecidas de torres ou pilones. O prpriodimensionamento do espao arquitetnico reduzia o fiel apenas condio de adorador.

    No Egito, "a finalidade do templo bem expressada pela sua disposio: ele no se destinava areunies de uma grande comunidade de fiis, nem como habitao dos sacerdotes, mas observaodas imagens divinas; dos utenslios sagrados e dos tesouros" (CUVILLER, 1976: 346). Esta definiodo templo egpcio poderia ser facilmente estendida para diversas outras civilizaes orientais.

    No interior do cenrio urbano das cidades asiticas, outro objeto espacial, verdadeiro centro vital,protegia o "elo de ligao entre o cu e a terra". Era o Palcio, a residncia do Dspota. Generalizando

    4 Nos anos 60 do Sculo passado, o socilogo indiano G. S. GHURYE assinalava que "nas regies Tamil e Malayalam, bairrosdiferentes so muito frequentemente, ocupados por castas separadas; ou algumas vezes, o povoado dividido por partes: aquelaocupada pela casta dominante no povoado ou pelos Bramin, aquela reservada aos Sudra e a parte reservada aos Panchama ouintocveis" (1972:109/110).5 A planta da cidade de Kahum, mandada construir na regio de Fayum pelo Fara Sesstris III, revela rgida separao dascastas urbanas em bairros prprios. Alm da morada principesca composta por 70 quartos, existiam bairros prprios quecongregavam escribas, artesos, etc (EL - NADURY et VERCOUTTER, 1979).6 No Nepal, temos que perfeitamente adaptados aos contornos do terreno, essas cidades e ncleos so bastante compactos eesto dispostos em crculos concntricos segundo a profisso de seus habitantes - sacerdotes, mercadores, artesos, lavradores,at os que desempenham funes mais humildes na comunidade. Esses ofcios e funes so transmitidos de gerao a geraodentro do mesmo crculo, o que impede que eles se misturem; a populao cresce, portanto dentro de um modelo vertical. Umavez atingidos os limites permitidos, novos ncleos vo se formando na periferia, mas seguindo o mesmo modelo. Assim, 29ncleos de tamanhos variados se formaram em volta das trs cidades reais de Katmandu, Patan e Bhatgaon (PRUSHA, 1975).

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  • a denominao dada ao quarteiro que em Pequim abrigava os imperadores, o Palcio e suasdependncias podiam formar uma Cidade Proibida, vedada ao comum dos mortais.

    FIGURA 4 - Placa comemorativa da inaugurao do Grande Templo de Tenochtitln: 8 canio = 1487 (Reproduzido de LEHMANN, 1979:35).

    Habitao do Deus Vivo, a Cidade Proibida no estava necessariamente ligada ao Templo. Estepormenor era insignificante frente simbologia religiosa que permeava a figura do Dspota. A CidadeProibida, espao de um ser divino ou divinizado, possua em si mesma conotaes sacerdotais,mgicas ou religiosas7.

    A Cidade Proibida era um ponto sensvel do espao asitico. Na conscincia social das sociedadesorientais, "a fertilidade da natureza, dos campos e por extenso - do ser humano, apareciam comoatributo intrnseco do Dspota" (BANU, 1978:305). A sustentao mgico-religiosa do "espao pessoal"do Dspota evidente. Em ltima anlise, a Cidade Proibida garantia, aos olhos dos que comungavamdesta identidade civilizatria, os equilbrios celestiais entre o cu e a terra.

    Rituais csmicos desenvolviam-se neste espao. Eles aconteciam na China antiga, onde o Ming T'ang,ou Casa do Calendrio (Fig. 5), era uma prerrogativa rgia. Tratava-se de um recinto onde a disposiodos aposentos procurava representar o plano do mundo e das nove provncias do "Imprio do Centro".

    Cabia ao imperador animar este mandala circulando em seu interior, inaugurando sucessivamente asestaes e os meses, promulgando um novo calendrio ao trmino do trajeto anual (CUVILLIER,1975:144/146 e JOPPERT, 1978:126/128).

    7 O Palcio de Korsabad, construdo pelo imperador assrio Sargo II, entre 713 e 706 A.C., pe a nu o carter simultaneamentesagrado e imperial que pode coexistir na habitao de um Dspota. No Palcio de Korsabad, situado em Nnive, "O rei nopassava de um humilde servidor dos deuses e as suas obrigaes religiosas eram absorventes, o que explica a importncia dolugar ocupado pelos santurios neste conjunto arquitetnico: seis templos - trs grandes e trs pequenos - dispostos ao compridoe precedidos de esttuas cariatdicas fictcias de bronze. Dominava o conjunto um zigurate de 43 metros de lado" (AMET,1974:106).

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  • FIGURA 5 - O Ming T'ang ou Casa do Calendrio Reconstituio de acordo com os textos clssicos

    (Reproduzido de CUVILLIER, 1975:145).

    Estes dimensionamentos espaciais conferem cidade asitica um cunho original, diferente da polisgrega, da urbe medieval, dos burgos que nascem com o desenvolvimento do capitalismo. No casoasitico, patente sua dependncia para com o Estado, razo de seu poderio e riqueza.

    Surpreendentemente, o destino das cidades asiticas contradizia a imagem de fausto e magnificnciaque emanavam. Intimamente relacionadas com o aparato de Estado, eram particularmente sensveis aqualquer abalo social, poltico e econmico que interferisse com o modo de produo. Na hiptese deuma forte crise estrutural, chegam a "desaparecer". Estas aglomeraes transformam-se ento emobjeto de relatos fantsticos, de menes que surgem nebulosamente em algum registro cuneiformeretirado das areias do deserto. Tornam-se as "cidades perdidas". Sem a garantia do poder desptico,elas no possuem razo nenhuma para continuar existindo.

    assim que a selva termina por encobrir os audaciosos templos-montanha do Imprio Khmer, comoBayom e Angkor Wat. As areias, por engolirem Nnive, Lagash, Ugarit e Marib. Quanto s orgulhosascidades Maias, estas se transformam em meras colinas da floresta equatorial no Mxico e no Yucatn,indiscernveis da paisagem ao redor. So rugosidades que no condicionam novas localizaes.

    Ironicamente, cada vez que um sistema de engenharia asitico sumariamente destrudo, por conta deinvases de um povo estrangeiro ou por uma violenta convulso social, o desaparecimento das cidades

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  • no acompanhado pelo das velhas aldeias. Elas so reconstrudas, invariavelmente, no mesmo lugarpara, talvez um dia, serem novamente subordinadas por um novo Estado Asitico8.

    Em nenhuma outra formao social do passado, a necessidade de um planejamento espacialpressupondo uma contabilidade dos recursos naturais e humanos, assim como um ordenamento dosfluxos e inclusive uma poltica demogrfica8, foram to evidentes quanto no modo de produo asitico.

    O sistema de engenharia, por ser frgil, necessitava de meticuloso planejamento. Os mecanismos decontrole das entradas e das sadas do sistema, dos deslocamentos e o conhecimento dos ciclosnaturais dos quais estas civilizaes dependiam, constituam prioridade absoluta.

    Por isso, progridem a matemtica, a hidrulica, a agrimensura, a engenharia, a arquitetura e aastronomia. Ligada a esta ltima, a elaborao dos calendrios (Figuras 6a e 6b), vitais para aagricultura. Nenhum destes avanos, porm, conflita com a reproduo horizontal do sistema 9, estandolimitados, portanto, configurao civilizatria materializada no prprio sistema de engenharia.

    FIGURA 6A - Os vinte smbolos dos dias dos Maias(Reproduzido de LEHMANN, 1979:59).

    8 Ressalvou Karl MARX, "Essas comunidades se bastam a si mesmas e se reproduzem constantemente da mesma forma e, seforem destrudas, se reconstroem constantemente no mesmo lugar, com o mesmo nome" (1975b:410). Observa tambm o pai domaterialismo histrico, com base nas observaes de Stamford Rafles, em The History of Java, que "Os habitantes no sepreocupam com o desmoronamento ou a diviso dos reinos; desde que a aldeia permanea ntegra, pouco lhes importa o poder aque foi transferida ou o soberano a que foi adjudicada; sua economia interna permanece inalterada" (MARX, 1975B: 410). Doponto de vista arqueolgico, a imutabilidade que Marx destaca no sistema de aldeias, transparece nos chamados tells, colinasarqueolgicas contadas s dezenas de milhares por todo oriente, resultantes de reedificaes imemoriais das aldeias,sucessivamente umas sobre as outras.9 Apesar da suntuosidade das construes e da exatido dos clculos matemticos, os processos tcnicos de trabalho tm porpremissa, no modo de produo asitico, exclusivamente a explorao direta da fora de trabalho. Exemplificando, na construodas pirmides, da muralha da China e dos imensos reservatrios de gua do antigo Sri Lanka, no transformou a capacidade declculos matemticos em tecnologia passvel de aprimorar o processo de construo destas grandes obras, que apenas contavacom a fora das mos dos camponeses.

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  • FIGURA 6B - Os smbolos dos dias entre os Astecas(Reproduzido de LEHMANN, 1979:45).

    Este planejamento feito em um espao que o Estado Asitico delimita internamente para fins decontrole e de tributao. As comunidades aldes so agrupadas em limites provinciais que em vrioscasos constituem uma herana espacial do passado, frequentemente proto-reinos ou pequenos estadosconquistados pela clula espacial maior. Nos grandes imprios asiticos, estas provncias so o Nomo(ou Spat, no Egito), a Satrpia (na Prsia), o Lugal (na Mesopotmia) e o principado (ou provncia, naChina).

    Unidades menores do Estado Asitico so administradas por prepostos do Dspota, dependentesdiretamente do poder central. Embora colocadas sob rgido controle do imperador, que estabelece emalguns casos sistemas de auditoria e de espionagem (caso dos olhos e ouvidos do rei, na antigaPrsia), o controle do espao instvel. No Egito, como em muitos outros imprios, "paradoxalmente, aprpria centralizao podia fortalecer as provncias, pois as necessidades do poder central em reforarseu controle sobre o territrio os levaram a criar numerosos centros de poder, cada um tendendo autonomia local" (TUNES, 1990:61).

    Enquanto o Estado Asitico como um todo, tem dificuldades em manter seus equilbrios internos, oNomo e o Principado mostram-se mais persistentes e perdurveis. Em razo disto, as fronteirasprovinciais so quase sempre invariveis. Os Nomos egpcios perduram da poca das primeirasdinastias at a dominao romana. Na China, mesmo a violenta anarquia resultante do perodo dosReinos Combatentes (de 206 a.C. a 24 d.C.), no puseram fim diviso territorial estabelecida j naDinastia Shang (1600/1100 a.C.). Diferentes dinastias reinam incorporando uma herana espacial quepode remontar, em alguns casos, o Perodo Neoltico.

    Obcecado pelo domnio de um espao que teima, permanentemente, por escapar-lhe de suas mos, oEstado estabelece, auxiliado por sua "burocracia celestial", diferentes diretrizes polticas de controle. NaPrsia, as Satrapias constituem reas cujas tradies so, dentro de um "critrio asitico", respeitadas

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  • e fortalecidas pelo poder central. J no Imprio Assrio e no Neo-Babilnico, recorreu-se, sempre quenecessrio, deportao em massa da populao como estratgia visando sua submisso (caso doexlio judeu em Babilnia) (Fig. 7).

    O Estado precisava tambm conter a evaso dos "descontentes", justificando um rgido controle dasfronteiras. Especialmente os camponeses abandonam seus territrios de origem, fugindo de umadominao insuportvel. Neste caso, possvel perguntar, "se a marcha rumo ao sul (Nam-Tien) docampesinato vietnamita, que o conduziu por dez sculos do delta do Rio Vermelho ao delta do Mekong,no foi uma fuga rumo ao sul, uma forma de resistir opresso da monarquia e da burocracia estatal"(CHESNEAUX, 1975:63).

    FIGURA 7 Deportao de populao pelos Assrios(Reproduzido de PARROT, 1955:33)

    Aparentemente, tenses scio-espaciais tambm parecem explicar a origem do povo cigano.Provavelmente membros de castas cujas atividades eram socialmente discriminadas, tais como ametalurgia, a forja dos metais, adestramento de animais e a quiromancia, teriam adotado o nomadismocomo forma de evaso dos controles sociais e espaciais exercidos pelas castas dominantes (CLBERT,1965:125) (Fig.8).

    Em outras situaes, a evaso da populao constitui, a posteriori, fonte de ameaas permanentes parao controle do territrio dos quais estas populaes so originrias. No antigo Oriente Mdio, populaesinteiras, pertencentes a diferentes origens tnicas, destacando-se ou colocadas margem dosprocessos econmicos, originaram grandes concentraes de hapiru, palavra egpcia que tambmdesigna os hebreus dos tempos bblicos.

    Os hapiru formavam um grupo heterogneo, constitudo por nmades, camponeses sem terra, escravosfugidos e pastores, habitando a periferia dos grandes imprios do Frtil Crescente. Mencionados nascrnicas rgias do Reino de Mari, dos faras e das cidades cananeias, os hapiru constituam fontepermanente de preocupaes, pressionando continuamente as fronteiras. Alguns destes gruposterminaram por criar, no antigo territrio srio-cananeu, novas clulas espaciais, dentre elas osestabelecimentos hebraicos da Palestina (SCHWANTES, 1984:67/68).

    A organizao e o planejamento burocrticos do espao asitico, alm de no conterem as contnuasevases da populao - um recurso vital para o Estado - sequer constitua uma garantia de coeso

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  • territorial interna. Frequentemente, sbitas e inesperadas incurses de nmades rompiam as defesasespaciais, ultrapassando as muralhas e conquistando vastos territrios, normalmente ao lado de umaimensa apatia por parte da massa de camponeses.

    Contradies entre o Dspota e seus prepostos, provocadas pela disputa das fraes do excedentedisponvel, originavam "levantes regionais", que quando bem sucedidos, estabeleciam novos EstadosAsiticos, fraes em miniatura do anterior.

    FIGURA 8 - Baixo-relevo maia (Yaxchiln), retratando o suplcio da lngua, uma penitncia ritual (Reproduzido de LEHMANN, 1979:64).

    Particularmente, so as Revoltas Camponesas, eventualmente combinadas com a invaso deestrangeiros ou com o levante dos strapas e dos nomarcas, que colocavam em cheque a ordemestabelecida. Elas expressavam o mximo acirramento das tenses espaciais, cuja marca caracterstica o fato dos recursos requeridos pelo Estado entrarem em contradio com a possibilidade objetiva deatend-los. Levada s ltimas consequncias, a crise asitica colocava sob risco iminente o poder doDspota e a prpria existncia do Estado.

    Por isso mesmo, a ideia de unidade, fundamentada em um vnculo unindo a divindade, o Dspota e asfunes poltico jurdicas e de organizao (normativa e repressiva) do Estado, com o funcionamentoordenado do cosmos e a fertilidade dos campos, to frequente na filosofia das civilizaes asiticas.Associava-se na esfera das representaes especificamente orientais, com a imagem do universo-organismo vivo ou ideia do universo-ovo, encontradas em todo o Oriente (BANU, 1978:299/303) (Fig.9).

    Esta unidade, concretamente articulada a partir da unidade aglutinante encarnada no Dspota, nopodia sobreviver na hiptese de cessarem os tributos. A necessidade de manter o arranjo espacial jconsolidado originou representaes fantsticas, nas quais a organizao espacial do Estado Asiticofirma-se nos "arqutipos celestiais" dos territrios, dos templos e das cidades (Ver a respeito, ELIADE,1978:21/35) (Fig. 10).

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  • Cidades e Templos so considerados omphalos, "umbigos do mundo", ao redor dos quais soarticulados diferentes nveis, gradientes e balanos energticos. O Templo se converteu "em umaverdadeira central energtica na qual so liberadas e se dirigem as foras controladas pelos deuses,conforme um plano universal conhecido pelos tcnicos, ou melhor, pelos oficiantes, que as manejam"(PUECH, 1977:143).

    Estes balanos energticos, constitudos numa relao homem/natureza que possua um escassocontedo de artificialidade, estavam articulados em um arranjo espacial que tendia para aperdurabilidade, e ademais, regido por uma concepo cclica do tempo, na qual este se renovavacontinuamente (ELIADE, 1978:88/106).

    FIGURA 9 - Imperador assrio Assurbanipal oferecendo uma libao aos deuses (Reproduzido de PARROT, 1955:54)

    FIGURA 10 - Chegada de tributos da Fencia para o Imperador assrio Salmanasar III (Reproduzido de PARROT, 1955 : 23)

    A ruptura da unidade, ou seja, da espacialidade, traduzia-se, pois, pela imagem do caos, da desordem,de crises temporo-espacial-ecolgicas, que punham a perder os ciclos socialmente estabelecidos de

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  • matria e energia. A oposio entre territrio habitado - O Cosmo - e o espao desconhecido, estranho -O Caos - caracterstica das sociedades tradicionais (BETTANINI, 1982:86/88), encontrava na ruptura daespacialidade asitica, um momento no qual o caos triunfava sobre o cosmos.

    Aos olhos do homem da Antiguidade, tal sucesso de eventos constitua um autntico "fim do mundo",antecipado por inmeras prefiguraes culturais (Fig. 11).

    FIGURA 11 - A Viso Assria do AbismoO Abismo assrio TIAMAT, tragando todas as formas de vida.

    O mundo asitico travava uma guerra sem quartel contra a abominao do caos ou as foras doabismo. Equilbrios hidrotcnicos, a administrao dos recursos naturais numa linha de perdurabilidadee a reposio da fertilidade do solo (obtida, no caso chins, pela implantao de vastas putreries, quecentralizavam a coleta de excrementos e sua redistribuio pelo territrio do imprio), eramfundamentais10 .

    Muito mais do que um compromisso ambiental ou uma idlica preocupao ecolgica, os soberanos daantiga sia sabiam que das colheitas, correspondiam bons ou maus governos (MARX, 1976:22).Apenas com uma criativa administrao dos recursos, sempre sob uma base tcnica rstica, seriapossvel manter ou no a dinastia reinante.

    10 "Essa fertilizao artificial do solo, dependendo de um governo central e caindo em decadncia desde que a irrigao ou adrenagem fosse negligenciada, explica o seguinte tato, que de outro modo pareceria estranho: territrios inteiros, outroraadmiravelmente cultivados, como Palmyra, Petra, as runas do Ymen, vastas provncias do Egito, da Prsia e do Indosto,encontram-se hoje estreis e desrticos. Assim como explica porque uma nica guerra devastadora pde despovoar o pasdurante sculos e priv-lo de toda a sua civilizao" (MARX, 1976:22).

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  • ESPACIALIZAO E ICONOLOGIA

    Procurando sintetizar os contedos da espacialidade asitica, o Grfico Espacializao e Iconologia(Fig. 12) procura assinalar os traos e as analogias existentes entre as prefiguraes espaciais tpicasdo Oriente e o modo de produo asitico.

    FIGURA 12 - Grfico Espacializao e Iconologia

    Temos assim que a forma de especializao coincide com a iconologia das civilizaes asiticas. Damesma forma que os mandalas, que renem uma rgida geometria espacial com uma percepocsmica do espao, temos um centro concentrador de energias (centro do mandala/capital do EstadoAsitico) e uma periferia dispersora.

    O espao objeto de mensurao ou delimitao (imagem do quadrado, pertinente s civilizaesorientais). Quanto ao tempo, este eternizado (imagem do crculo ou do tempo cclico, desenvolvidoat a exausto pelos chineses, indianos, maias e os povos da rea cultural semita).

    A especializao efetivada pelo modo de produo asitico e sua iconologia traduzem a aspirao pelocontrole eterno das superfcies. Romper as linhas do Mandala ou as fronteiras do Estado significacolocar em risco uma organizao csmica, traduzida na filosofia oriental como perodos de triunfo do

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    Mais uma vez aqui a noo de relatividade introduzida por Einstein, aparece comofundamental porque substitui o conceito de matria pelo conceito de campo, o que supea existncia de relaes entre a matria e a energia. Numa comparao talvez grosseira, asformas seriam comparveis matria e a energia, dinmica social" (SANTOS, 1978:122).

  • "caos", podendo, no entanto, ser possvel, aps o "esgotamento do tempo", sua renovao, identificadacom a restaurao da "ordem", ou seja, do Estado (vide "Infelicidade" e "Histria", ELIADE,1978:107/150).

    A restaurao do Estado significa retomar os ciclos naturais, a fertilidade do solo, abundncia dascolheitas, etc. Tudo isso guarda relaes de intimidade com a crena no eterno retorno, pelo qual ofuturo no se distingue daquilo que foi11.

    Esta viso qualitativa do espao e do tempo guarda, pois, ligaes ntimas com a imagem dosmandalas, imago mundi onde esto consagradas as possibilidades tanto de ruptura quanto deperpetuao da harmonia entre o cu e a terra. Isto posto, destacamos no grfico:

    1) Capital: a habitao do Dspota e do squito sacerdotal, assim como um centro concentrador detributos e organizador dos gradientes energticos. Trata-se de um Axis Mundi, associado com o centroda ordem csmica, constituindo, pois um omphalos, ou seja, o "centro do universo ou o "umbigo domundo", caso de Pequim, Mnfis, Cuzco, etc. Assume tambm a forma de uma "Cidade-Templo" ou"Templo-Montanha", caso de Angkor Wat (Imprio Khmer) e Borobudur (Indonsia).

    2) Provncias: So centros menores, geralmente com divindades prprias, que terminam incorporadasem um panteo (caso do Egito, da ndia e da Mesopotmia). So criadas pelo poder central ouresultam, mais regularmente, da incorporao de unidades polticas anteriormente independentes. Emsituaes de crise, almejam separarem-se do Estado Asitico.

    3) Fronteiras: So simultaneamente limites polticos e de influncia ou alcance mximo de umadivindade e/ou panteo. Confundem-se com os limites objetivos da administrao burocrtica. Asfronteiras justificam um isolamento que a marca das sociedades asiticas, condio fundamental paraa preservao da ordem. Obstculos naturais - oceanos, desertos, estepes e rios, entre outros,assinalam os limites do imprio. Na falta de obstculos naturais, erguem-se muralhas, como a Muralhada China e a Muralha dos Prncipes (no antigo Egito, prxima do delta). As fronteiras servem paradelimitar com exatido o principal recurso fsico: a terra. So rigidamente controladas para impedir aentrada de estrangeiros. Para Eugnio VARGA (1978: 53/65), a preocupao com o controle dademografia e o exacerbado cuidado na mensurao do solo, constituem uma singularidade do modo deproduo asitico.

    4) Brbaros: Conjunto de povos que habitam as reas ao redor do Estado Asitico (Tsong Go - Impriodo Centro, isto , a China; e o Twantisuyo - Imprio dos Quatro Cantos da Terra, denominaopatronmica do Imprio Inca), no submetidos ao poder desptico. Eventualmente tributados porexpedies punitivas - razzias - guardam relaes de hostilidade com os Imprios Asiticos.Contradies entre as provncias e o poder central favorecem invases destes povos. Quandovitoriosos, geralmente terminam incorporados como novo grupo dominante (caso dos mongis, naChina e dos hicsos, no Egito).

    5) Arqutipo Celestial: o paradigma imaginrio da espacialidade concreta, sua reproduoextramundo: Segundo as crenas dos mesopotmios, o Tigre tem o seu modelo na estrela Anunit e oEufrates na estrela da Andorinha. Um texto sumrio refere o lugar das formas dos deuses, onde seencontram os deuses dos rebanhos e dos cereais. Tambm para os povos altaicos as montanhas tmum prottipo ideal no cu. Os nomes dos lugares e dos nomos egpcios eram atribudos de acordo comos campos celestes: primeiro reconheciam-se os campos celestes, que depois eram identificados nageografia terrestre (ELIADE, 1978:20/21). No Arqutipo, esto divindades dispostas em um panteo,

    11 "Vimos que nas sociedades primitivas e nas civilizaes antigas, bem como em certos povos no-europeus, o conceito detempo que predominava no era vetorial, mas cclico, produzido por um outro estilo de vida, por uma concepo particular domundo, por um tipo preponderante de sociedade. As concepes de tempo nesta ou naquela sociedade ou regio cultural,refletem a cadncia da evoluo social. O predomnio, na conscincia social, do tempo cclico sobre o tempo linear, condicionada pela relao especfica entre os elementos dinmicos e os elementos estticos no processo histrico"(GOUREVITCH, 1975:283).

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  • geralmente com um Deus principal. Holocaustos, sepultamentos sunturios, construo de complexostemplrios ou outras formas de queima do excedente econmico (de energia) sustentam este planoimaginrio.

    6) Feixes: Inputs e outputs, ligando o espao concreto do modo de produo asitico com seu"arqutipo celestial". Inputs (6a): fertilidade do solo, dos rebanhos e das mulheres; ciclos hidrolgicosem harmonia; paz interna; ampliao da rea cultivada; ausncia de pragas e de cataclismos naturais;prosperidade para o reino. Outputs (6b): holocaustos; funerais sunturios do Dspota, dos seusprepostos e dos grandes sacerdotes; entesouramento para alm vida; sacrifcios de oferendas agrcolase pastoris, eventualmente de seres humanos.

    7) Circuitos e Fluxos: Da Periferia para o Centro, o fluxo de tributos. Do Centro para a Periferia, obraspblicas, proteo militar e integrao csmico-ideolgica. Nos perodos de estabilidade espacial, asforas centrpetas so predominantes. Quando ocorrem crises, predominam foras centrfugas. A torodo espao pode ocorrer seja pela tributao exacerbada ou pelo esgotamento ecolgico do territrio. Ofato das civilizaes asiticas terem articulado seu espao predominantemente com base na agriculturaintensiva, ou seja, em ecossistemas simplificados, tornou-as vtimas constantes de "catstrofesnaturais". No entanto, escassamente marcadas pela artificialidade das formas e dos contedosespaciais, a destruio da espacialidade asitica geralmente no tem como pressuposto a esterilizaoou desvitalizao absoluta do espao. Quase sempre florestas, pntanos, desertos e rios, cujos ritmosso normalmente contidos (mas no destrudos de todo), retomam seus espaos originais, numa re-originalizao das formas e dos processos da natureza segunda do modo de produo desagregado.

    Imagem paradigmtica de Angkor-wat, um templo-montanha agasalhado pelo retorno da floresta

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    QUANDO CITAR ESTE TEXTO, ACATAR A REFERNCIA BIBLIOGRFICA QUE SEGUE:

    WALDMAN, Maurcio. Espao e Modo de Produo Asitico, in Boletim Paulista de Geografia (BPG), publicaoda AGB - Associao dos Gegrafos Brasileiros, Seo Local So Paulo, SP, n 72, pp. 29/62, 1994.

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  • MAURCIO WALDMAN - INFORMAES PORMENORIZADAS

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    ESPAO E MODO DE PRODUO ASITICOSPACE AND ASIATIC MODE OF PRODUCTIONMaurcio Waldman

    Este artigo parte de um estudo maior procurando identificar as filiaes entre Espao, Ideologia e Meio Ambiente em formaes sociais no-capitalistas, via de regra enquadradas no modelo do Modo de Produo Asitico, em tese localizado em civilizaes pr-colombianas, africanas e asiticas. Como o texto sugere, a anlise das espacialidades constitudas em cenrios no-ocidentais e no-capitalistas, necessariamente compreende uma nfase para determinados aspectos da superestrutura - a religio, por exemplo que cumpriam simultaneamente papel de infra-estrutura. Os fundadores do socialismo cientfico - Marx e Engels - utilizavam a denominao "Velha sia" para categorizar um amplo rol de civilizaes "orientais" que malgrado diversas insuficincias tericas, ainda mostra pertinncia para a compreenso de vrios aspectos da reproduo espacial e social destas antigas civilizaes. A partir destes estudos pioneiros, possvel demarcar sociedades caracterizadas por violentos antagonismos, muito distantes da aura de um romntico "ecologismo pr-capitalista" que alguns observam consignado no passado. Uma sociedade ecolgica est por ser instaurada e no restaurada.ABSTRACT:This article is part of a larger study which searches for links between Space, Ideology and Environment in non-capitalist social formations, normally fitted in the Asiatic Mode of Production model, which, in thesis, located in Pre-Colombian, African and in the Asian civilizations. As the text suggests, the analysis of spatial relationships composed by non-western and non-capitalistic sceneries, necessarily includes an emphasis on certain features of the superstructure - religion, for instance - that simultaneously played the role of an infrastructure. The founders of the scientific socialism - Marx and Engels - used the denomination "Old Asia" to label a large roll of "oriental" civilizations. And, in spite of some theoretical insufficiencies it still shows its pertinence for the comprehension of many features of the spatial and social reproduction of theses ancient civilizations. From these pioneering studies, its possible to observe societies with violent antagonisms, far from the romantic "pre-capitalistic environmentalism" that some people claim to have existed in the past. An environmental society is still to be created and not to be recreated.INTRODUOO MODO DE PRODUO ASITICO E A GEOGRAFIAESPACIALIZAO E ICONOLOGIABIBLIOGRAFIA