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"A matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o mundo" Galileu Galilei IME 2010 PORTUGUÊS Leia os textos a seguir e responda às questões. Texto 1 Entre a lembrança e a realidade: registros de viagem NEVES, Auricléa Oliveira das. Entre a lembrança e a realidade: registros de viagem. Amazonas: Universidade do Estado do Amazonas, 2008. 5 10 15 20 25 As viagens têm um profundo significado na história da humanidade. Inicialmente, no período da coleta, as migrações se faziam pela necessidade de buscar alimentos, posteriormente elas foram realizadas para conquistar espaços mais apropriados para o bem estar da comunidade. Outros objetivos também suscitaram o deslocamento do homem: a posse de espaços territoriais, a exploração de riquezas, o conhecimento de novas terras, o estudo de locais específicos, ou simplesmente a viagem como forma de lazer. (...) No plano ficcional, vários autores no Ocidente, a partir do Homero, com a Odisséia, se dedicaram a usar as viagens como tema. Na literatura de língua portuguesa, os registros iniciais são oriundos dos relatos orais de marinheiros, apontamentos náuticos, diários de bordo, escritos de pilotos que, presumidamente, serviram de fonte para Gomes Eanes de Zurara, primeiro cronista conhecido das viagens oceânicas portuguesas. Na história literária na América e do Brasil, os primeiros registros advêm dos escritos de viajantes: o Diário de Critóvão Colombo e a Carta de Pero Vaz de Caminha. A revelação de novos espaços, paisagens, floras, faunas, costumes e religiões, as aventuras e peripécias de viagens mais fabulosas que dos romances de cavalaria e as dos poemas da Antiguidade, inspiraram [...] uma vasta literatura descritiva e narrativa, que assumiu várias formas desde os grandes tratados históricos ou geográficos em grossos volumes até às curtas reportagens em folhetos de cordel. (Saraiva & Lopes, 1982, p. 294). Em cada época, as jornadas se realizaram de formas e condições variadas, seus viajantes apresentam objetivos diversos como conquista, exploração, reconhecimento, administração, catequese, aventura ou lazer. Durante o iluminismo, com a mudança de mentalidade de muitos dirigentes, as relações entre os governos da Europa e suas colônias da América assumem novos significados, assim, as viagens passaram a ter o caráter científico. O empreendedor dessas jornadas tem a preocupação com a observação, a descrição e a classificação de tudo que há nas terras conquistadas no século XVI para que os governos possam inventariar a fortuna natural de suas colônias e obter controle sobre elas.

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"A matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o mundo"Galileu GalileiIME2

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PORTUGUÊS

Leia os textos a seguir e responda às questões. Texto 1

Entre a lembrança e a realidade: registros de viagem NEVES, Auricléa Oliveira das. Entre a lembrança e a realidade: registros de viagem. Amazonas: Universidade do Estado do Amazonas, 2008.

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As viagens têm um profundo significado na história da humanidade. Inicialmente, no período da coleta, as migrações se faziam pela necessidade de buscar alimentos, posteriormente elas foram realizadas para conquistar espaços mais apropriados para o bem estar da comunidade. Outros objetivos também suscitaram o deslocamento do homem: a posse de espaços territoriais, a exploração de riquezas, o conhecimento de novas terras, o estudo de locais específicos, ou simplesmente a viagem como forma de lazer.

(...) No plano ficcional, vários autores no Ocidente, a partir do Homero, com a Odisséia, se

dedicaram a usar as viagens como tema. Na literatura de língua portuguesa, os registros iniciais são oriundos dos relatos orais de marinheiros, apontamentos náuticos, diários de bordo, escritos de pilotos que, presumidamente, serviram de fonte para Gomes Eanes de Zurara, primeiro cronista conhecido das viagens oceânicas portuguesas.

Na história literária na América e do Brasil, os primeiros registros advêm dos escritos de viajantes: o Diário de Critóvão Colombo e a Carta de Pero Vaz de Caminha.

A revelação de novos espaços, paisagens, floras, faunas, costumes e religiões, as aventuras e peripécias de viagens mais fabulosas que dos romances de cavalaria e as dos poemas da Antiguidade, inspiraram [...] uma vasta literatura descritiva e narrativa, que assumiu várias formas desde os grandes tratados históricos ou geográficos em grossos volumes até às curtas reportagens em folhetos de cordel. (Saraiva & Lopes, 1982, p. 294). Em cada época, as jornadas se realizaram de formas e condições variadas, seus

viajantes apresentam objetivos diversos como conquista, exploração, reconhecimento, administração, catequese, aventura ou lazer. Durante o iluminismo, com a mudança de mentalidade de muitos dirigentes, as relações entre os governos da Europa e suas colônias da América assumem novos significados, assim, as viagens passaram a ter o caráter científico. O empreendedor dessas jornadas tem a preocupação com a observação, a descrição e a classificação de tudo que há nas terras conquistadas no século XVI para que os governos possam inventariar a fortuna natural de suas colônias e obter controle sobre elas.

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Texto 2

José de Anchieta, jesuíta hispano-brasileiro. UOL Educação. José de Anchieta, Jesuíta hispano-brasileiro. Disponível em: http://educação.uol.com.br/biografias/ult1789u421.jhtm>capturado em 18.05.09.

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José de Anchieta nasceu em família rica, numa das sete ilhas Canárias, de onde avistava os navios que se abasteciam no ponto de Tenerife para seguir rumo ao Oriente ou ao Novo Mundo. O pai era um nobre basco, e a mãe, uma judia conversa. Aos 14 anos foi estudar em Coimbra (Portugal). Sentia a vocação religiosa e, em 1551, foi admitido como noviço no colégio jesuíta da Universidade de Coimbra.

Em 1553, com 19 anos, foi convidado a vir para o Brasil como missionário acompanhando Duarte da Costa, o segundo governador-geral nomeado pela Coroa. No comecinho de 1554, chegou a São Vicente, a primeira vila fundada no Brasil. Lá teve o primeiro contato com os índios.

No mesmo ano, junto com o jesuíta português Manuel de Nóbrega, subiu a serra do Mar até o planalto que os índios denominavam Piratininga, ao longo do rio Tietê. Os dois missionários estabeleceram um pequeno colégio, e, em 25 de janeiro de 1554, celebrou-se ali a primeira missa. Anchieta começou o trabalho de conversão, batismo e catequese.

Para os índios, foi médico sacerdote e educador: cuidava do corpo, da alma e da mente. Na catequese, usava o teatro e a poesia, tornando a aprendizagem um processo prazeroso. Ensinou latim aos índios, aprendeu tupi-guarani com eles e (seguindo a tradição missionária, que mandava assimilar e registrar os idiomas) escreveu a “Arte da Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil”, publicada em Coimbra em 1595.

O colégio de São Paulo da Piratininga, como era chamado, logo expandiu seu núcleo. Mas, ao longo do litoral de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, as tribos formaram uma aliança (conhecida como Confederação dos Tamoios) que atacou São Paulo diversas vezes entre 1562 e 1564.

Anchieta e Nóbrega tiveram um conflito com Duarte da Costa e decidiram iniciar as negociações de paz com os tamoios em Iperoig (hoje Ubatuba). Anchieta, falando tupi-guarani e viajando por toda aquela costa, foi crucial para ganhar a confiança dos índios, e, após muitos incidentes, estabeleceu-se a paz entre tamoios, tupinambás e portugueses. Nessa época, Anchieta escreveu o “Poema em Louvor à Virgem Maria”, com 5.732 versos, alguns dos quais traçados nas areias das praias.

Em 1565, entrou com Estácio de Sá na baía de Guanabara, onde estabeleceram os fundamentos do que viria a ser a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

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Texto 3

Padre Fernão Cardim FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala – Introdução à história da sociedade colonial no Brasil – Formação da Família Brasileira sob o Regime da Economia Patriarcal. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio. Ed. 1993, 20ª ed.

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É certo que o Padre Fernão Cardim, nos seus Tratados, está sempre a falar da fartura de carne, de aves e até de frutas com que foi recebido por toda parte no Brasil do séc. XVI, entre os homens ricos e os colégios de padres.

Mas de Cardim deve-se tomar em consideração o seu caráter de padre visitador, recebido nos engenhos e colégios com festas e jantares excepcionais. Era um personagem a quem todo agrado que fizessem os colonos era pouco: a boa impressão que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos talvez atenuasse a péssima, a vida dissoluta que todos eles levavam nos engenhos de açúcar: “os peccados que se cometem nelles (nos engenhos) não tem conta: quase todos andam amancebados por causa das muitas occasioes; bem cheio de peccados via esse doce por que tanto fazem; grande é a peciencia de Deus que tanto soffre”.

Texto 4

Retirantes da educação

MARCH, Rodrigo. Retirantes da educação. Caderno Boa Chance: O GLOBO, 10 de maio de 2009.

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Irinilda da Silva, de 31 anos, deixou de amamentar a filha, de quatro meses, que ficou em casa com o pai. Robéria Gomes, de 36, viajou grávida e seu bebê, João Vitor, nasceu na quinta-feira passada, no Hospital Central do Exército, em Benfica. As duas são retirantes da educação: integram um grupo de 12 professores do Acre que cruzou 4521 quilômetros de Brasil, superando uma série de dificuldades, para fazer uma pós-graduação. Um exemplo das barreiras de qualificação profissional no país. Hoje, 53% dos cursos de mestrado e doutorado estão no Sudeste; só 3,8% na Região Norte, a de menor cobertura.

Eles estão aproveitando um convênio firmado entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), de Niterói. Onze fazem mestrado e uma, doutorado. Todos em educação – mesmo as faculdades particulares do Acre não têm curso de pós-graduação nessa área. Nove deles dividem a mesma casa em São Domingos, Niterói, como num Big Brother, só que sem conforto algum. Para se ter uma ideia, a TV foi emprestada por uma colega de curso, e quase todos dormem em colchonetes. Apesar da proximidade à Faculdade de Educação da UFF, só andam em grupos: por insegurança, sensação que ainda não tinham experimentado.

O périplo deles começou antes mesmo de a parceria com a UFF ser fechada, já que eles já tinham tentado convênios com outras instituições, mas que não possuíam cursos com nota cinco em avaliação, uma determinação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da qual são bolsistas. Foram oferecidas 15 vagas no mestrado, porém dos 19 inscritos, só 11 foram aprovados. No doutorado, apenas três se inscreveram, mas só uma passou na seleção.

A dificuldade seguinte foi encontrar uma casa para alugar em Niterói. A professora de letras Sâmia El-Hassani, de 46 anos, veio 15 dias antes para tentar resolver o problema. O marido dela, Dalbi D’Ávila, também é de letras e faz o mestrado. Trouxeram os filhos, que foram matriculados numa escola.

– Niterói não aluga imóvel por temporada, pelo menos na área do Centro e da Zona Sul – observa Sâmia, que também achou os preços altíssimos.

Com muito custo – e também por falta de opção –, eles conseguiram uma casa que estava à venda, mas que sequer tinha torneiras. O dono aceitou fazer um contrato de três meses com pagamento antecipado de R$ 6.800,00 enquanto não acha um comprador. Mas eles vão precisar renovar mais um mês, já que estarão na cidade até 17 de julho – no segundo semestre, os professores da UFF vão ao Acre dar as aulas, sendo que ano que vem, o vaivém se repete, pois o curso de mestrado é de dois anos.

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Considere o título do texto 1 destacado abaixo e as afirmativas a seguir.

Entre a lembrança e a realidade: registros de viagem. I. De acordo com o texto, relatos orais não podem ser considerados registros de viagem. II. A expressão “Entre a lembrança e a realidade” pode ser considerada como preocupação com a memória enquanto dado histórico de uma nação. Esta afirmativa pode ser comprovada com a seguinte afirmação da autora: “O empreendedor dessas jornadas tem a preocupação com a observação, a descrição e a classificação de tudo que há nas terras conquistadas no século XVI para que os governos possam inventariar a fortuna natural de suas colônias e obter controle sobre elas”. III. O objetivo primeiro das viagens, segundo a autora, foi: “serem realizadas para conquistar espaços mais apropriados para o bem estar da comunidade”. Pode-se dizer que está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s): A) I B) II C) III D) I e II E) II e III Comentário: – Nas linhas 8-9, a autora menciona que “os registros iniciais são oriundos dos relatos orais de marinheiros”, logo o item (I) está incorreto. – Nas linhas 1-2, o texto diz que “Inicialmente,..., as migrações se faziam pela necessidade de buscar alimentos, posteriormente elas foram realizadas para conquistar espaços mais apropriados para o bem estar da comunidade”. Isso torna o item (III) incorreto.

Alternativa B

Considere o período a seguir e as cinco assertivas. “... uma vasta literatura descritiva e narrativa, que assumiu várias formas desde os grandes tratados históricos ou geográficos em grossos volumes até às curtas reportagens em folhetos de cordel.” (Texto 1, linha 16). I. Há duas preposições com a função de explicar a expressão “várias formas”. II. A oração “que assumiu várias formas desde os grandes tratados históricos ou geográficos em grossos volumes até às curtas reportagens em folhetos de cordel” refere-se aos adjetivos “vasta”, “descritiva” e “narrativa”. III. O autor denigre os “folhetos de cordel”, taxando-os de “curtos”. IV. O uso do acento indicador da crase é optativo devido à presença do vocábulo “até”. V. O período discute o conteúdo dos tratados e reportagens. Pode-se dizer que estão corretas as alternativas: A) I, II e IV B) I, II e V C) II, III e IV D) II, IV e V E) III, IV e V Resolução: Esta questão apresenta problemas quanto à clareza de alguns itens, bem como em relação a conceitos linguísticos. Observe: I- As preposições “desde” e “até” não têm a função de explicar a expressão “várias formas”. Elas acompanham, respectivamente, os termos “os grandes tratados” e “as curtas reportagens”, a fim de impor limites, marcações, dentro das quais se inserem as “várias formas” de literatura citadas anteriormente. Logo, o item deve ser julgado falso. II- A oração adjetiva explicativa “que assumiu várias formas desde os grandes tratados históricos ou geográficos em grossos volumes até às curtas reportagens em folhetos de cordel” não pode se referir a outros adjetivos, como sugere o item, e sim ao substantivo “literatura”. Item falso. III- A oposição “grandes x curtas” não nos permite fazer uma avaliação qualificativa ou pejorativa de “tratado“ e “reportagens”, respectivamente; serve apenas para realçar a existência de várias e diferentes formas de literatura. Item falso. IV- Após a preposição “até”, o emprego do acento indicador de crase é opcional. Item correto. V- No período, nada se comenta acerca do conteúdo dos tratados e reportagens; fala-se apenas sobre seu formato. Item falso. CONCLUSÃO: Como há apenas um item definitivamente correto, a questão deve ser considerada SEM RESPOSTA.

Alternativa SEM RESPOSTA

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Acerca dos sujeitos dos verbos “entrou” e “estabeleceram” presentes em: “Em 1565, entrou com Estácio de Sá na baía de Guanabara, onde estabeleceram os fundamentos do que viria a ser a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”. (Texto 2, linha 29) Podemos afirmar que A) são respectivamente a cidade do Rio de Janeiro e a baía de Guanabara. B) Nóbrega é o sujeito da forma verbal “entrou”; Nóbrega e Estácio de Sá, da forma verbal”estabeleceram”. C) Anchieta é o sujeito da forma verbal “entrou”; Anchieta de Estácio de Sá, da forma verbal”estabeleceram”. D) Nóbrega é sujeito da forma verbal “entrou”; Anchieta, Nóbrega e Duarte da Costa da forma verbal “estabeleceram”. E) não existem; são orações sem sujeito. Comentário: – Como se trata da biografia de José de Anchieta, os verbos usados para apresentar as informações em ordem cronológica (foi convidado, chegou, subiu, ensinou etc.) referem-se a ele, ainda que seu nome não esteja expresso. Logo, podemos entender o último período da seguinte forma: “Em 1565, (José de Anchieta) entrou com Estácio de Sá na baía de Guanabara, onde (os dois juntos) estabeleceram os fundamentos...”

Alternativa C

Identifique a oração em que a palavra “se” possui a mesma função morfológica de: “... e, em 25 de janeiro de 1554, celebrou- -se ali a primeira missa” (Texto 2, linha 12). A) “... de onde avistava os navios que se abasteciam no porto de Tenerife”. B) Se ergueu e acenou para os amigos. C) Teu pai foi-se embora. D) Estuda-se muito aqui. E) Estuda-se a matéria dada. Comentário: – Em “celebrou-se ali a primeira missa”, temos o “se” atuando como pronome apassivador, por acompanhar um verbo transitivo direto em voz passiva sintética, que equivale a “a primeira missa foi celebrada ali”. O “se” tem a mesma classificação apenas na alternativa “E”. Nos outros itens, a classificação é a seguinte: • em (a) e (b), funciona como pronome reflexivo; • em (c), atua como pronome expletivo (de realce); • em (d), é índice de indeterminação do sujeito.

Alternativa E

“Sentia a vocação religiosa (...)” (Texto 2, linha 4). A opção em que o verbo “sentir” tem o mesmo significado do período acima é: A) Sentir perfumes, sabores, asperezas./ Utilizar os sentidos físicos. B) Sinto não me terem prevenido./ Levar a mal. C) Sentir-se de uma crítica./ Melindrar. D) É um homem que sente tudo./ Ter sensibilidade física ou moral; perceber. E) Sentir-se um pássaro./ Imaginar-se. Comentário: – A leitura do texto sugere que, quando jovem, José de Anchieta já percebia que tinha vocação religiosa; por isso, ingressou como noviço na Universidade de Coimbra. Portanto, o significado de “sentia” no texto aproxima-se apenas do apresentado no item “D”.

Alternativa D

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O processo de coesão pode ser realizado através de vocábulos anafóricos – aqueles que se referem a um outro anteriormente expresso. A oração do texto 2 que NÃO apresenta vocábulo anafórico é: A) (...) chegou a São Vicente, a primeira vila fundada no Brasil. Lá, teve o primeiro contato com os índios. B) Para os índios, foi médico, sacerdote e educador; cuidava do corpo, da alma e da mente. C) Anchieta escreveu o “Poema em Louvor à Virgem Maria”, com 5.732 versos, alguns dos quais traçados nas areias das praias. D) Em 1565, entrou com Estácio de Sá na baía de Guanabara, onde estabeleceram os fundamentos do que viria a ser a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. E) José de Anchieta nasceu em família rica, numa das sete ilhas Canárias, de onde avistava os navios que se abasteciam no porto de Tenerife para seguir rumo ao Oriente ou ao Novo Mundo. Comentário: - No item (A), o advérbio “Lá” retoma “São Vicente”; - em (C), a expressão “alguns dos quais“ refere-se ao antecedente “versos”; - em (D), o pronome relativo “onde” conecta-se a “baía de Guanabara”; - em (E), “onde” recupera “uma das sete ilhas Canárias”.

Alternativa B

A relação que se estabelece no quarto parágrafo do texto 2, entre “Ensinou”, “aprendeu” e “seguindo”, sugere PRINCIPALEMENTE A) confiança. B) tolerância. C) inquietação. D) dedicação. E) paciência. Comentário: - Os verbos “ensinou” e “aprendeu” sugerem que José de Anchieta executou sua tarefa de missionário, que era “assimilar e registrar os idiomas”. Já o verbo “seguindo” indica que ele cumpriu fielmente o seu ofício, o que nos permite inferir sobre sua total dedicação ao trabalho missionário.

Alternativa D

No primeiro parágrafo do texto 4, as formas verbais “cruzou”, “superando” e “fazer” referem-se A) ao baixo nível da educação no Brasil. B) ao vocábulo “grupo”. C) ao vocábulo “barreiras de qualificação”. D) às retirantes Irinilda e Robéria e ao bebê João Vítor. E) à concretização do convênio firmado entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), de Niterói. Comentário: - Nas linhas 4-5, as informações expressas pelas formas verbais “cruzou”, “superando” e “fazer” referem-se a “um grupo de 12 professores do Acre”.

Alternativa B

Acerca do período: “Apesar da proximidade à Faculdade de Educação da UFF, só andam em grupos: por insegurança, sensação que ainda não tinham experimentado.” (Texto 4, linha 13). Podemos afirmar que: A) a palavra “grupos” guarda o mesmo valor semântico do primeiro parágrafo do texto 4.

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B) a expressão “por insegurança” sugere um antigo desafio aos estudantes retirantes, por já estar presente na viagem feita para atravessar o país. C) a fusão do “a” artigo com o “a” preposição poderia ser substituída pela preposição “com” e o artigo “a”. D) o vocábulo “só” traduz a sensação de abandono sentida por estudantes nascidos em lugares tão distantes. E) a palavra “que” não pode ser substituída por “a qual”. Comentário: – No primeiro parágrafo, o termo “grupo” assume o valor de “equipe”; no trecho destacado, a expressão “em grupos” equivale a “juntos”, “acompanhados”. – “Insegurança” é uma sensação que os estudantes ainda não tinham experimentado, e não um “antigo desafio”. – No fragmento, “só” corresponde a “somente”, e não a “sozinho”. – O pronome relativo “que” pode, sem qualquer prejuízo, ser substituído por “a qual”. – O termo “proximidade” pode tanto reger a preposição “a” quanto “com”, sem alteração de sentido.

Alternativa C

Ainda acerca do trecho apresentado na nona questão e considerando que os termos de um texto entrelaçam-se por meio de mecanismos coesivos, os quais permitem ao leitor identificar relações entre as palavras, podemos afirmar que o termo “insegurança” sugere ao leitor que os estudantes A) se encontram despreparados para cursar uma pós-graduação. B) têm medo de morar sozinhos. C) organizam-se em grupos para detectá-la. D) experimentam a sensação própria de habitantes de metrópoles. E) sentem-se distantes da Faculdade. Comentário: – A análise do texto nos permite inferir que a “insegurança” dos estudantes retirantes é a mesma dos cidadãos que vivem nos grandes centros urbanos. Dois fatos ajudam a sustentar essa ideia: o medo faz com que eles só andem em grupos; eles jamais haviam experimentado essa sensação quando moravam no Acre.

Alternativa D

Considere os seguintes trechos. Trecho I – “Mas de Cardim deve-se tomar em consideração o seu caráter de padre visitador”. (Texto 3, linha 4). Trecho II – “Robéria Gomes, de 36, viajou grávida” (Texto 4, linha 2). Trecho III – “pois o curso de mestrado é de dois anos ”. (Texto 4, linha 33). É correto afirmar que A) a preposição “de” é uma preposição essencial nas cinco ocasiões em que é utilizada. B) a conjunção “mas” é responsável por conferir a função de preposição acidental à preposição “de”, no trecho I. C) o autor do trecho I utilizou a ordem direta para apresentação do padre Fernão Cardim, o qual é citado logo ao início da oração. D) as palavras “mestrado” e “anos” no trecho III, trazem, à preposição “de”, a função de preposição acidental. E) em todas as ocasiões, a preposição “de” confere uma relação de causa às orações. Comentário: - São consideradas preposições acidentais as palavras que originalmente pertencem a outra classe gramatical, mas que em determinado contexto assumem o valor de preposição (como, desde, segundo, exceto etc.) Os termos que primitivamente se classificam como preposições são considerados “essenciais” (de, com, sem, a, em etc.). - O trecho (I) está organizado em ordem indireta. - Em nenhuma das cinco ocorrências, a preposição “de” estabelece relação de causa.

Alternativa A

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O campo semântico relacionado à palavra “périplo” (Texto 4, linha 16) é A) sacrifício, percalço, busca, esforço. B) pesquisa, objetivos, concurso, insatisfação. C) vitória, UFF, cansaço, inseguranças. D) convênio, salas de aula, seleção, conquistas. E) vítimas, nota cinco, CAPES, alcance. Comentário: – O texto menciona que os professores tiveram que superar “uma série de dificuldades para fazer a pós-graduação” (linha 5). Essas dificuldades vão sendo apresentadas ao longo do texto por meio de várias expressões, como as que seguem: “sem conforto algum” (linha 12); “insegurança (linha 14); “périplo” (linha 16); “dificuldade” (linha 22); “com muito custo” (linha 28).

Alternativa A

Observe o trecho a seguir: “... a classificação de tudo que há nas terras conquistadas no século XVI” (Texto 1, linha 25). A forma verbal da oração acima tem o mesmo sentido em: A) Partiu há dois dias. B) Saiu há uma hora. C) Daqui a um tempo, ele retorna. D) A polícia estava à distância de 20 metros. E) Viu que há alunos em sala. Comentário: – O verbo “haver” foi usado no trecho destacado com o sentido de “existir”, o que ocorre apenas na alternativa “E”. Nos itens (a) e (b), o verbo “haver” indica tempo passado; em (c) e (d), não se trata de uma forma verbal, e sim da preposição “a”.

Alternativa E

Considere o trecho abaixo. “... a boa impressão que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos talvez atenuasse a péssima, a vida dissoluta que todos eles levavam nos engenhos de açúcar.” (Texto 3, linha 6). É correto afirmar que A) o pronome “lhe” refere-se ao Padre Fernão Cardim. B) o termo “péssima” refere-se à “vida dissoluta”. C) a intenção dos senhores de engenho era manter o religioso na catequese das fazendas. D) “a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos” é objeto indireto da forma verbal “causassem”. E) a expressão “todos eles levavam nos engenhos de açúcar” refere-se ao padre e aos senhores de engenho. Comentário: - (A) A mesa farta e os leitos macios causariam boa impressão ao Padre Fernão Cardim; - (B) “péssima” refere-se a “impressão” (note: boa x péssima); - (C) os senhores de engenho só tratavam bem o padre para encobrir “a vida dissoluta que levavam”; - (D) o termo entre aspas funciona como sujeito de “causassem”; - (E) a expressão em destaque refere-se apenas aos senhores de engenho.

Alternativa A

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Ainda sobre o trecho destacado na décima quarta questão, podemos afirmar que a forma verbal “levavam” é sinônimo de A) sentiam. B) deixavam-se dominar. C) tinham. D) exibiam. E) encaravam. Comentário: - Dizer que os senhores de engenho levavam uma vida dissoluta equivale a dizer que eles tinham uma vida dissoluta.

Alternativa C

Escolha um dos temas abaixo e redija uma dissertação entre 25 e 35 linhas. Tema 1 O texto 3 narra as passagens do Padre Fernão Cardim por terras brasileiras. Gilberto Freyre afirma que

“Era um personagem a quem todo agrado que fizessem os colonos era pouco; a boa impressão que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos talvez atenuasse a péssima, a vida dissoluta que todos eles levavam nos engenhos de açúcar”.

Disserte sobre as verdadeiras intenções dos nossos primeiros colonos em relação a nossa pátria brasileira. Em sua conclusão, compare seus argumentos a algum fato que se configure como reflexo deste comportamento em nossa sociedade atual. Tema 2 Considere os trechos abaixo:

“No mesmo ano, junto com o jesuíta português Manuel da Nobreza, subiu a serra do Mar até o planalto que os índios denominavam Piratininga, ao longo do rio Tietê. Os dois missionários estabeleceram um pequeno colégio, e, em 25 de janeiro de 1554, celebrou-se ali a primeira missa. Anchieta começou o trabalho de conversão, batismo e catequese.” (Texto 2, 3º Parágrafo). “Irinilca da Silva, de 31 anos, deixou de amamentar a filha, de quatro meses, que ficou em cada com o pai. Robéria Gomes, de 36, viajou grávida e seu bebê, João Vitor, nasceu na quinta-feira passada, no Hospital Central do Exército, em Benfica. As duas são retirantes da educação: integram um grupo de 12 professores do Acre que cruzou 4.521 quilômetros de Brasil, superando uma série de dificuldades, para fazer uma pós-graduação.” (Texto 4. 1º Parágrafo).

Disserte sobre os objetivos e desafios em comum dos educadores brasileiros atuando em séculos tão distintos. Conclua seu trabalho citado possíveis iniciativas (privadas ou não) que melhorem e dignifiquem a atuação dos professores no Brasil. Comentário:

A prova de Redação do Concurso de Admissão ao Curso de Formação e Graduação do Instituto Militar de Engenharia (IME) apresenta duas propostas temáticas. A primeira versa sobre um fragmento de texto do livro “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freire: disserte “sobre as verdadeiras intenções dos nossos primeiros colonos em relação a nossa pátria brasileira.” Assim, é preciso levar em consideração que o comportamento, as atitudes dos primeiros colonos destas terras foram determinantes no modo de organização social e política que se instaurou no Brasil de então. O “patriarca da terra” era tido como o dono de tudo que nela se encontrasse, como os escravos, sobretudo as “escravas”. Não é à toa que o fragmento de texto inserido na proposta de redação relata “a péssima, a vida dissoluta – devassa, corrupta, libertina – que todos eles levavam nos engenhos de açúcar.” Dessa forma, é evidente que as verdadeiras intenções dos primeiros colonos não eram as mais nobres possíveis. Daí depreendem-se alguns interessantes argumentos, a saber: - a violência do sistema patriarcal no que diz respeito à relação do branco europeu com o negro;

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R E D A Ç Ã O

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- a dignidade da mulher negra violentada, atingindo sua honra no âmbito moral e sexual; - uniões mantidas à força sob o espectro do medo, da insegurança. - as “naturais” relações de promiscuidade; - a imposição do desejo do “nobre da terra” frente a sociedade: o que valia era o seu desejo. Por fim, como instrução da proposta, havia a necessidade de se comparar os argumentos a algum fato que configure como reflexo desse comportamento em nossa sociedade atual. Fatos, nesse sentido, não faltam. A intolerância e a violência da imposição do poder econômico, político, social imperam na contemporaneidade: os desmandos do Congresso Nacional (atos secretos); a relação capital-trabalho principalmente após a instauração da crise econômica de 2008; as denúncias de trabalho escravo no País, uma prática abominável ainda recorrente no Brasil; o trabalho escravo infantil; a intolerância do homem machista em relação à mulher – Lei Maria da Penha. Esses são alguns dos inúmeros exemplos que poderiam configurar o reflexo do comportamento dos primeiros colonos na sociedade contemporânea. O tema 2 considerava dois trechos de textos da prova de português: o 02 e o 04. Ambos relatam a vida de educadores: o primeiro, a saga de José de Anchieta e de Manuel da Nóbrega, em 1554, e, o segundo, a dura vida de duas retirantes da educação; Irinilda da Silva e Robéria Gomes. Professoras do Acre, cruzaram 4521 quilômetros no Brasil superando uma série de dificuldades, para fazer pós-graduação no Rio de Janeiro. Após a consideração desses trechos, a orientação é para dissertar sobre os objetivos e desafios em comum dos educadores brasileiros atuando em séculos tão distintos. Apesar de épocas tão distintas, os desafios não são tão díspares. Se no passado havia a resistência do índio em assimilar a cultura do homem branco, hoje, educadores esforçam-se para fazer com que alunos, dos rincões brasileiros ou dos grandes centros urbanos, entendam a importância da aquisição cultural para a transformação da realidade brasileira. Se no passado era difícil catequisar o índio – visto como um antropófago –, hoje, superar as barreiras que separam os “dois Brasis”, um encravado no século XIX – analfabeto, atrasado, desdentado e alicerçado no empirismo –, o outro globalizado, integrado às mais novas tecnologias, com sofisticadas ferramentas de evolução social, não é menos complicado. Os objetivos também são comuns: propiciar, através da educação, a transformação social em todos os seus sentidos; a inserção do indivíduo na sociedade; o combate à exclusão social, a construção de um mundo mais justo, mais humano, mais digno, enfim, civilizado. Também como prerrogativa da prova havia a necessidade de citar possíveis iniciativas (privadas ou não) que melhorem e dignifiquem a atuação de professores no Brasil. O resgate da cidadania do professor, um projeto político-social que amplie e melhore a formação do professor, o estímulo ao aperfeiçoamento do seu trabalho são iniciativas que poderiam melhorar e muito a atuação dos professores no Brasil. Mas nada dignificaria mais a imagem do professor do que o respeito e a valorização político-econômico-social deste “alquimista“ que transforma a pedra bruta – a criança em seu estado mais puro – em ouro – o cidadão consciente de seu papel na sociedade.

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