2012-A-Historia-John-Major-Jenkins.txt

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JOHN MAJOR JENKINS 2012 A HISTRIA Traduo Claudia Gerpe Duarte LAROUSSE 2010 No Azul Sonhando com nuvens em Waxactun anjos prendem os meus olhos Seixos tranquilos transcendem a minha razo um meio-di a sem sombra em pleno vero Define este local como sbio O musgo tropical envolve a pedra antiga a cidade esquecida se desintegra Centelhas da alma, longas em um vo o infatigvel chegam solitrias em uma noite sem luar No dorso de raios estelares O tempo e o destino te esperam para encontrar o repouso eterno Quando o mundo se d issolve no azul de um dia que se apagaApenas observe tudo se desmanifestar! JOHN MAJOR JENKINS Waxactun, Guatemala Ago sto de 2008SUMRIO 2012: Uma idia irreversvel PRIMEIRA PARTE A HISTRIA DE 2012 CAPTULO DOIS A Longa Tra jetria do Conta Longa CAPTULO TRS Feitios Sedutores CAPTULO QUATRO Avanos Revolucio s ou um Colapso CAPTULO CINCO A Exploso de 2012 CAPTULO SEIS Especialistas Cticos CA PTULO SETE A Teoria do Alinhamento Galctico: Atualizao SEGUNDA PARTE 2012 E A VISO GL OBAL CAPTULO OITO A Cincia Sagrada e a Filosofia Perene CAPTULO NOVE A Realizao da P ofecia Maia CAPTULO DEZ Vamos Acabar com a Guerra contra Ns Mesmos CAPTULO ONZE A R enascena Maia CAPTULO DOZE Restaurando a Viso GlobalCAPTULO TREZE Depois da Festa Apndice Um: Glossrio de Termos Apndice Dois: Cronologi a da Histria de 2012 Agradecimentos do Autor2012 UMA IDIA IRREVERSVEL Assim a face da Terra foi povoada: eles passaram a existir; se multiplicaram, ti veram filhas, tiveram filhos, esses homenzinhos, entalhes de madeira. Mas nada h avia no seu corao e na sua mente, nenhuma lembrana do seu criador e construtor. Ele s simplesmente iam e caminhavam onde queriam... no se lembravam do Centro do Cu. P OPOL VUH Escrever este livro foi uma realizao imensa que precisou conviver com nov os avanos nas caractersticas em constante transformao de um campo em rpida evoluo. Dev do a sua curiosa progresso no nosso futuro imediato, e, portanto diferente de qua lquer outro tema, a 2012ologia ("dozemiledozeologia") vem crescendo exponencialm ente com um conjunto singular de questes e atraes. Esse crescimento acelerado de in teresse na esfera publica acionado basicamente por cenrios insistentes do fim do mundo prolongados pela mdia convencional e autores oportunistas. E, no entanto a data no simplesmente um novo artifcio inventado pelomercado. Trata-se, na verdade, de um verdadeiro produto do autntico calendrio maia , que sofreu a montagem de texto "cosmologizante" dos aspirantes a mago, dos pro fetas interessados em ganhos pessoais e dos apresentadores famosos. Esse intoxic ante ensopado revolvido no caldeiro do Google, produzindo uma perigosa poo para o i nocente recm-chegado. Quando voc entrar nessa discusso em constante transformao, ser t l ter alguma base histrica e um levantamento norteador a respeito de quem anda di zendo o qu. Isso parte do que este livro tem a oferecer. Venho pesquisando a cult ura maia desde 1985 e escrevi muitos livros e artigos direcionados para a pesqui sa sobre os calendrios e a cosmologia maia. Os dois primeiros foram narrativas so bre viagens, salpicadas de fatos histricos e comentrios sobre a viso de mundo mesoa mericana, que eu mesmo publiquei. Logo fiquei fascinado por vrios enigmas no resol vidos, entre eles a data de 2012, que encerra um ciclo. O meu livro de 1992, Tzo lkin: Visionary perspectives and calendar studies, apresentou o meu trabalho sob re o calendrio de Vnus encontrado no Cdice de Dresden, um dos poucos livros maias s obreviventes. O meu livro de 1998, Maya cosmogenesis 2012, fez novas descobertas no sentido de identificar por que 2012 era importante para os antigos maias, of erecendo uma nova reconstituio do antigo pensamento maia. Perguntas fundamentais f oram formuladas: onde e quando os primeiros maias conceberam o calendrio que nos fornece o ciclo que se encerraem 2012? Por que eles definiram esse ciclo como terminando no dia 21 de dezembro de 2012 e como eles pensavam a respeito disso? Essas perguntas me conduziram a descobertas e concluses que integravam as esferas da astronomia, da mitologia, da profecia e dos ensinamentos espirituais. Descobri que um raro alinhamento astro nmico culmina nos anos que levam a 2012, quando a posio do Sol no solstcio estar alin hada com a galxia da Via Lctea. Esse alinhamento do solstcio com a galxia uma rara o corrncia, acontecendo uma vez a cada 26 mil anos. Pode ser chamado de "alinhament o galctico" e foi percebido pelos antigos astrnomos como uma mudana da posio do Sol, no solstcio, com relao a caractersticas de fundo como as estrelas, as constelaes e a V ia Lctea. Baseado em evidncias das tradies maias e importantes stios arqueolgicos, fic ou esmagadoramente visvel para mim que a futura convergncia do Sol e da galxia foi calculada, com admirvel preciso, pelos antigos maias e a data de 2012 que encerra o ciclo foi escolhida tendo essa convergncia como alvo. Sem entrar em outras ques tes e complexidades, essa situao significa que os antigos maias possuam conhecimento s astronmicos que se encontravam pelo menos no mesmo nvel dos de seus contemporneos de outras partes do mundo, inclusive da Grcia, ndia, Babilnia e Egito. O important e que percebi que as caractersticas astronmicas envolvidas no alinhamento galcticoeram elementos fundamentais da cosmologia maia e da Mitologia da Criao. Essas cone xes no eram opinies inconstantes baseadas em associaes imaginrias que no tinham uma im ortncia real para os antigos maias. Na realidade, as evidncias estavam presentes n a prpria literatura acadmica. Eu estava meramente juntando as peas. O Sol em solstci o, a Via Lctea e uma curiosa caracterstica que existe ao longo da Via Lctea chamada fenda escura eram utilizados no jogo de bola sagrado, nos ritos de criao do rei, nos sistemas de calendrio e no Mito da Criao dos Heris Gmeos. Essas genunas conexes fi aram firmemente o alinhamento galctico dentro de conceitos e tradies maias conhecid os. Nas minhas pesquisas, logo concentrei a ateno no antigo stio arqueolgico maia ch amado Izapa, que os especialistas desconfiavam estar envolvido na formulao do cale ndrio de Conta Longa. Em 1994 os resultados dessa abordagem haviam revelado que I zapa era um lugar criticamente importante para que pudssemos entender o que os ma ias pensavam a respeito do alinhamento galctico na era 2012. Alm disso, a astronom ia estava entremesclada com ensinamentos espirituais, transmitidos como uma dinmi ca mitolgica no Mito da Criao nos inmeros monumentos pictogrficos de Izapa. A astrono mia, o calendrio e o Mito da Criao eram facetas da mesma cosmologia. Crenas a respei to do fim dos ciclos, especialmente do maior que iria ocorrer em 2012, eram repr esentadasnessas tradies e revelavam como os criadores do Conta Longa pensavam a respeito de 2012. O evento no era percebido como um apocalipse dramtico do fim do mundo, como a nossa mdia moderna repetidamente prefere retrat-lo. Mais exatamente, os criador es do calendrio de 2012 utilizavam sofisticados ensinamentos espirituais destinad os a facilitar um processo de transformao e renovao espiritual. Essa era uma notcia c laramente de peso, considerando-se que, em meados da dcada de 1990, quando fiz es sas descobertas, os especialistas nada haviam dito a respeito de 2012, e a inter pretao do dia do fim do mundo estava em alta na mdia popular. Para mim, os anos que se seguiram minha primeira viagem s terras da civilizao maia, em 1986, foram reple tos de descobertas emocionantes, constantes viagens e exploraes de campo em stios a rqueolgicos maias, e durante todo esse perodo convivi e trabalhei com os maias mod ernos e conheci pessoas extraordinrias. Dediquei-me tambm ativamente a escrever e lecionar. Ao longo dos anos, fui convidado a escrever artigos para antologias, f alar em conferncias, comparecer a eventos irresistveis e participar de entrevistas no rdio e na televiso. Naturalmente, algumas delas foram bem produzidas, mas outr as foram mal concebidas, e aprendi muito a respeito do trabalho com organizadore s de conferncias e produtores de documentrios. Durante todo o meu convvio com esse mundo maravilhoso e confuso, repleto de oportunidades, a minha meta deencontrar um editor adequado para um livro que contasse a histria definitiva de 2 012 permaneceu fugidia. Quando a obsesso por 2012 comeou a alcanar a imprensa conve ncional e muitos outros livros comearam a ser publicados, reparei que os autores e a mdia estavam levando o tema de 2012 em direes previsivelmente estranhas. Certa tendncia proeminente, por exemplo, ocupou-se em divorciar de uma maneira lenta e quase imperceptvel o cone de 2012 das suas origens maias. Outra tendncia leva 2012 a servir causa questionvel de cenrios de fim de mundo baseados no medo, povoados p or geneticistas aliengenas, planetas invisveis, exploses solares abrasadoras e aste rides ameaadores. A maior parte dessa torrente de manobras de marketing alarmista e impulsionada pela publicidade era problemtica. Compreendi que eu estava em uma posio excepcional para oferecer objetividade e discernimento, de modo que pus mos o bra, comeando do zero um novo livro que visualizei como sendo a histria definitiva de 2012. O Captulo 1 apresenta as indispensveis descobertas e o trabalho acadmico que durante muitos sculos conduziram a uma imagem impressionante da antiga civili zao maia. Como os exploradores vieram a redescobrir as cidades perdidas dos maias? Como os estudiosos vieram a reconstruir os sistemas de calendrio? Como as descob ertas e as tendenciosidades ajudaram e atrapalharam o processo? E, recuando mais no tempo, como e quando se desenvolveu a civilizao na Mesoamrica? O contedo analisa dono Captulo 1 poderia facilmente ter sido expandido e se tornado por si s um livro, narrando a histria de fascinantes viles e personagens pitorescos que descobriram e exploraram os templos na floresta da antiga civilizao maia, reconstruindo toda u ma viso de mundo com base em meros fragmentos. Como o meu objetivo era escrever u m livro e no uma srie em dez volumes, resumi os eventos mais notveis. Em decorrncia disso, muitos episdios e personagens interessantes foram deixados de fora. Destil ando as interminveis informaes at a sua essncia alqumica, enfatizei determinados temas que, na minha opinio, definem o extraordinrio e permanente processo de recuperao do conhecimento perdido dos maias, a civilizao mais persistentemente incrvel das Amric as. Um desses temas o importante lugar ocupado, repetidamente, pelo observador e xterno independente. Peculiares, excntricos, oferecendo lampejos genunos e extrava gncias polmicas, foram eles que desencadearam e formaram a base do verdadeiro prog resso. O filsofo visionrio Terence McKenna disse o seguinte em uma das suas palest ras: Precisamos celebrar o indivduo. Voc reparou (eu certamente o fiz) que toda mu dana histrica que possa lhe vir cabea na verdade, qualquer mudana na qual voc possa ensar, esquea os seres humanos , qualquer mudana em qualquer sistema na qual voc con siga pensar sempre,em ltima anlise, rastrevel unidade do sistema que esteja passando por algum tipo de mudana de estado de fase. No existem decises em grupo; essas coisas vm depois. O ta lento da criatividade e do incio da atividade sempre reside no indivduo? Os esforos feitos por essas pessoas dinmicas e empreendedoras para transcender tendncias do statu quo impostas por guardies acadmicos que empunhavam as suas marcas limitantes de lgica e decoro podem ser repetidamente observados. Geralmente a verdade acaba va aparecendo, embora fosse, com frequncia, vilipendiada e marginalizada durante dcadas, e os prprios pioneiros morriam sem ser devidamente reconhecidos. Eu me inc luo entre os autodidatas, os perptuos estudiosos alimentados pela paixo e por um s entimento de misso. Os primeiros pesquisadores independentes dos maias tinham pou cos recursos com os quais trabalhar. As coisas aceleraram-se depois dos dias de Frstermann, Goodman e Bourbourg, e espero que a prxima dcada v presenciar muitas nov idades revolucionrias e inesperadas na maneira como interpretamos a astronomia ma ia, as inscries hieroglficas e a extremamente caluniada e mal-compreendida data de 2012, inclusive, como veremos, novas evidncias que respaldam a minha reconstituio d as intenes originais por trs da data de 2012. Mesmo depois que a festa de 2012 acab ar, o trabalho prosseguir.Outro tema a intensa fascinao exercida por 2012. Estou me referindo ao fato de o a ssunto ser do interesse de cientistas, espiritualistas da Nova Era, romancistas, adeptos do survivalismo, criadores de modelos evangelizadores e da comunicao de m assa, embora seja preciso dizer que o aspecto milenrio encontra um solo particula rmente frtil nos Estados Unidos. Quer se manifeste em aspectos negativos ou posit ivos, mesmo assim 2012 encerra significado praticamente em todas as esferas onde aparece. Essa situao pe em dvida os crticos que declaram, com uma segurana e presuno rpreendentes, que 2012 uma farsa ou algo completamente absurdo. Observei e exper imentei diretamente esse tratamento e dialoguei com aqueles que o impem, de modo que me sinto forado a relatar o seguinte: tanto no mundo acadmico quanto na impren sa popular ctica, 2012 apresentado como absurdo na medida em que mal-compreendido . Essa uma equao interessante. Se existe um preconceito que considera absurda a id eia de 2012, ento um semnmero de maneiras criativas de interpret-la podem e devem s er implementadas. Um engano dominante se repete incessantemente, ou seja, que os maias prognosticaram que o mundo terminaria em 2012. Se voc examinar a doutrina maia das Eras do Mundo, as inscries hieroglficas relacionadas com 2012 e a Mitologi a da Criao (Popol Vuh), no encontrar nada desse tipo. Esses conceitos errneos obtm ace itao porque o acesso a informaes de qualidade sobre 2012 seriamente limitado ou est enterrado debaixo do interminvel bricabraque do mercado espiritual. Livros e websites criteriosos, entre eles os meus, esto disponveis e existem h anos, mas precisam competir com os habituais produtos chamativos do mer cado repletos de erros, cujo carter quase sempre em tom sensacionalista. Consider ei desafiante analisar, para este livro, as inmeras distores e equvocos que entopem o mercado de 2012. Senti que seria importante esclarecer, publicamente, a verdad e, de modo que examinei o contedo de teorias e modelos, bem como as informaes forne cidas pelos supostos profetas e visionrios. As verdadeiras histrias que so a base d e muitos desses autores e ideias esto repletas de ironias, fracassos e desmascara mentos, e por sorte tive a viso interna privilegiada de todas essas ocorrncias rev eladoras no desvirtuado tema de 2012. Ofereo as minhas snteses e avaliaes cuidadosam ente ponderadas das melhores teorias associadas a 2012 e apresento essas crticas francas como um guia para os viandantes descuidados no caminho de 2012. Grande p arte do que est relacionado com 2012 enganador e serve de instrumento para o medo e a parania. A pesquisa dessa situao complicada ficar mais fcil, segundo espero, com um pouco de humor sarcstico bem colocado e um esprito zombeteiro. Uma das coisas que aprendi nos vinte anos em que participo do jogo de 2012 que o humor absoluta mente necessrio para quem espera sobreviver torrente de cenrios surrealistas queesto inundando a discusso. Por incrvel que parea, descobriremos que uma relutncia em investigar racionalmente o tema de 2012, que sintomtica de muitos mitos na litera tura popular, tambm contamina o meio acadmico. Um exame crtico do "movimento modern o do calendrio maia" e do seu relacionamento com a abordagem acadmica ser um freque nte ponto de referncia. A Primeira Parte foi concebida como um levantamento crono lgico dos fatos fundamentais do tema de 2012, o que nos coloca em dia com a questo . O resumo das diversas teorias inevitavelmente atrai uma apresentao do meu trabal ho de reconstituio e da "teoria do alinhamento galctico". O Captulo 4 enquadra essa apresentao dentro da questo mais ampla de como ocorrem as grandes descobertas revol ucionrias, enfatizando que o meu trabalho se baseia nas descobertas anteriores de outros especialistas que se dedicam pesquisa dos maias. Com novas decifraes de te xtos hieroglficos, as variadas maneiras pelas quais os antigos maias utilizavam o conceito do alinhamento do Sol em solstcio e a fenda escura da Via Lctea (o "alin hamento galctico") nas suas tradies est se tornando mais claro. Descobri que o jogo de bola dos maias, os ritos de criao do rei e a Mitologia Maia da Criao codificavam a astronomia do alinhamento da era-2012, o que s acontece uma vez a cada 26 mil a nos. Esse alinhamento galctico causado por um fenmeno chamado precesso dos equincios , o lento deslocamento da posio dos equincios (edos solstcios) no cu, resultante do fato de que a Terra oscila muito lentamente no seu eixo. A minha teoria do alinhamento da data final est hoje recebendo um novo respaldo de recentes descobertas no mundo acadmico, e depois de 2012 continuarei o trabalho que venho realizando desde meados da dcada de 1980. Esse alinhamento astronmico tem sido geralmente, e de um modo mais persuasivo, chamado de alinhame nto com "o Centro Galctico", o que causa confuso no que diz respeito aos parmetros relacionados com o tempo, o que explicarei e esclarecerei. Estou confiante em qu e, quando a poeira baixar, um paradigma merecidamente identificado como dimenso " galctica" se tornar consenso no meio acadmico e em que os livros acadmicos incluiro t extos explicativos sobre declaraes hieroglficas envolvendo a fenda escura na Via Lct ea, conceitos precessionais e clculos de inscries hieroglficas, alm de interpretaes da iconografia astroteolgica da Izapa pr-clssica. Ao longo dos anos, viajei e converse i com especialistas e escritores, e revelarei as opinies deles da maneira como el es as expuseram. A conferncia acadmica da Tulane University teve lugar em fevereir o de 2009, bem a tempo para que eu a inclusse neste livro. Foi um evento que repr esentou um marco decisivo e consolidou julgamentos obstinados do mundo acadmico a o mesmo tempo que, paradoxalmente, iniciou uma nova era de abertura acadmica (em alguns setores) com relao a considerar 2012 como oproduto vlido do pensamento maia que ele efetivamente . Compareci s sesses e gravei os trabalhos, e os meus dilogos com os especialistas revelam a situao atual do deba te sobre 2012 no mundo acadmico convencional. A primeira parte do livro se encerr a com um breve resumo de novas descobertas, tanto nas inscries quanto alhures, que respaldam a minha teoria do alinhamento galctico ao mesmo tempo que expande o no sso conhecimento de 2012 e da cosmoviso maia de uma maneira nova, profunda e conv incente. O meu ngulo de abordagem do tema de 2012 parcialmente guiado por uma ava liao direta, bem-informada e objetiva. Mas alguma coisa est faltando. O significado mais profundo que os Adeptos da Nova Era acreditam que 2012 encerra , atrevo-me a dizer, uma parte importante e vlida do debate. Na realidade, ela esteve present e para mim desde os primeiros dias da minha pesquisa. Notei que os ensinamentos maias, entre eles aqueles relativos aos finais de ciclo, pertencem a uma Filosof ia Perene, ou Tradio Primordial, um reservatrio de conhecimento e sabedoria espirit ual comum na sua forma essencial a todas as tradies religiosas. A mensagem simblica interior de 2012 pode encerrar significado para toda a humanidade. Abordar 2012 dessa maneira suspeito para os especialistas em assuntos maias, embora possa se r empreendido racionalmente. O mitlogo comparativo Joseph Campbell, por exemplo, recorreu s perspectivas integrativas dessaFilosofia Perene para mostrar padres de semelhana entre mitologias globais amplame nte separadas. Ele penetrou o vu das aparncias superficiais e da terminologia espe cfica da cultura para divisar o nvel arquetpico de significado. Por conseguinte, pa ra Campbell, os antigos ensinamentos hindus e as ideias budistas poderiam encerr ar um significado espiritual para os buscadores modernos. Assim sendo, os ensina mentos maias pertencem, na sua essncia arquetpica, a essa sabedoria primordial e p odem conter significado para ns hoje em dia, ou para qualquer ser humano em qualq uer poca. Poderamos desconfiar que essa abordagem ao tema de 2012 teria sido insti gada pelos Adeptos da Nova Era e pelos buscadores espirituais, mas no esse o caso . A sede do discernimento espiritual no foi saciada pelos poos sondados pelos auto res espirituais que escrevem sobre 2012, porque, em vez de explorar a sabedoria tradicional maia como uma expresso da Filosofia Perene, todos os tipos de modelos inventivos traados em nome do calendrio maia fizeram, ao contrrio, valer os seus d ireitos no mercado. A veia da pura gnose est presente, bem diante dos nossos olho s, na Mitologia Maia da Criao; precisamos apenas l-la com os olhos sintonizados com o contedo universal arquetpico e simblico. A Segunda Parte se aventura nessa rea de investigao mais profunda, e alm dela encontrase o supremo convite, o convite para que o leitor afaste os livros e abra o seu prprio conduto iniciatrio em direo a uma experincia internadireta da gnose universal para a qual apontam todos os ensinamentos espirituais. Este no o momento de nos isolarmos dos profundos ensinamentos universais da anti ga filosofia maia. O Captulo 12 se dedica a discutir a importncia dessa viso global , como podemos nos abrir para ela, como ela pode ser personificada e como os seu s valores implcitos podem ser colocados em prtica. Estamos sendo chamados para nos entregarmos ao sacrifcio iniciatrio que o ensinamento de 2012 dos maias afirma se r indispensvel. Em ltima anlise, essa a nica maneira pela qual algum ser capaz de ent nder por si mesmo no que consiste 2012. E um entendimento que no limitado a fatos e nmeros; a gnose da unio com toda a conscincia que reside na origem do ego e do m undo. Essas ideias so centralmente importantes para o significado universal de 20 12 e precisam ser levadas a srio, porque o momento est chegando; a data de 2012 es t assomando como um intruso indesejvel no sonho da civilizao ocidental, gritando ins istentemente que alguma coisa est muito errada com a maneira como temos governado o planeta. Essas so as grandes questes, aquelas que qualquer 2012ologista necessi ta abordar. No entanto, na minha opinio, no so preocupaes que iro durar. Ou melhor, ta lvez eu deva dizer que as preocupaes com a viso de mundo sustentvel e a integridade espiritual continuaro a existir, mas a sua ligao com 2012 se extinguir. Depois de 20 12 ningum se interessarmais em relacionar o calendrio maia com os acontecimentos mundiais ou com a impor tncia do despertar espiritual. Para a cultura predominante, o assunto cair no esqu ecimento enquanto o tema seguinte da moda passar a ser considerado. O que perdura r, na minha opinio, est dividido em duas partes: o esforo permanente de reconstruir a antiga cosmologia maia que o especialista em assuntos maias Victor Montejo cha mou de "Renascena Maia". Um movimento ascendente de conscincia nativa define essa renascena, a qual, acho eu, anuncia um despertar e uma renovao global muito maiores e extremamente necessrios. O mundo inteiro precisa passar por uma reviravolta no seu mais profundo centro de conscincia, revertendo os valores de uma tica dominad ora egosta s estratgias de colaborao formadoras de comunidades que eram o ideal das s ociedades indgenas. Sob esse aspecto, a prpria ideia da era-2012 como uma poca de r enovao exatamente o que o mundo como um todo precisa escutar. Este livro ponto cul minante de um quarto de sculo de uma pesquisa dedicada e constante da cultura e d a cosmologia maia e da questo de 2012. Ele no foi escrito por um principiante cont ratado como uma tarefa encomendada, como foi o caso de muitos livros recentes so bre 2012. Investi muito tempo separando o joio do trigo, e ofereo aqui uma aborda gem cuidadosamente examinada de um fenmeno polmico que o mais meticuloso possvel, n a medida em que um tema to complexo permite. Para muitos leitores,a narrativa provavelmente ser desafiante e debilitante. Cada leitor encontrar aqui coisas com as quais concordar e outras das quais divergir. E assim que as coisas devem ser em um livro que lida com um tema dominado por tantas camadas intricada s e possibilidades desconcertantes; isso , na realidade, inevitvel. Esteja ento pre parado para sair na chuva e se molhar. Espero que voc considere a aventura provei tosa, desafiante e informativa. John Major Jenkins 31 de maio de 2009 4 Ahau Con ta Longa 12.19.16.7.0 PRIMEIRA PARTE A HISTRIA DE 2012 CAPTULO UM A RECUPERAAO DE UM MUNDO PERDIDO Lamentavelmente, os padres modernos no esto to conscientes do valor histrico e artsti co de Mitla quanto os seus predecessores; uma sala repleta de antigos afrescos d e importncia arqueolgica inestimvel foi usada em 1904 como estrebaria do padre e pa rte dos afrescos foi derrubada para que um chiqueiro fosse construdo. MIGUEL COVA RRUBIASA histria da presena humana na Mesoamrica uma jornada pica que se estende por mais d e 10 mil anos com limites entremesclados entre as culturas olmeca, Izapa, maia, tolteca e nahuatl. Ela floresceu na civilizao maia clssica (300 d.C. a 900 d.C.), c ujo produto cosmolgico mais importante (o calendrio de Conta Longa) apontava para alm do seu prprio fim, para o final de um grande ciclo: 21 de dezembro de 2012. O conhecimento dos maias a respeito dessa data foi perdido h muitos sculos, mas foi recuperado com base em seus reduzidos fragmentos por exploradores e iconoclastas , embusteiros e acadmicos, que contriburam da sua prpria maneira para o entendiment o, obtido apenas recentemente, de que a data final de um ciclo de 13 Baktuns era um clculo futuro intencional. Este captulo revela o processo por meio do qual ess a data extremamente fascinante, bem como o profundo paradigma a ela associado, f oi redescoberto bem na cspide da concluso do ciclo. Uma coisa incrvel ocorreu no ce ntro das Amricas que persistentemente intrigou e desconcertou os colonizadores eu ropeus. As descobertas e as realizaes das civilizaes dos ndios americanos revelam um talento sem precedente. Uma demonstrao desse talento encontrada no cultivo primiti vo do milho, que ocorreu na regio central do Mxico, no Vale do Rio Balsas, aproxim adamente h 8.700 anos. Dcadas, sculos de um cruzamento persistente foram necessrios para extrair gros de milhosumarentos do teosinto, um gro selvagem muito fino. medida que as suas civilizaes s e desenvolviam, os pioneiros do Hemisfrio Ocidental iam alcanando profundas realiz aes na matemtica, na medicina, na filosofia e na astronomia, fornecendo ao mundo mo derno alimentos bsicos, como o milho, o chocolate, o tabaco e a batata. Sem essas descobertas, o mundo moderno careceria de muitos dos seus melhores bens. Na Mes oamrica, na rea que se estende entre o Mxico central e Honduras, um povo dotado de um talento excepcional se desenvolveu ao longo dos sculos, gerando ideias sobre o cosmo enquanto construa enormes cidades de pedra e criava singulares calendrios. Uma viso de mundo curiosamente avanada est codificada nesses calendrios, viso de mund o essa que divisava os fenmenos da terra e do cu entrelaados. Os ciclos sazonais de chuva e calor, de semeadura e cultivo se combinavam a um mito da criao centrado n a variedade de milho mais. O ciclo de vida do ser humano e os ciclos astronmicos no cu eram considerados integrados como uma majestosa sinfonia. Para os antigos m esoamericanos, a vida era essencialmente um mistrio que nunca poderia ser complet amente compreendido no sentido definitivo que a cincia ocidental busca alcanar. En tretanto, para os antigos maias, que contemplavam o cu noturno dos seus elevados templos, sensveis aos ritmos combinados do cu e do seu prprio coraopulsante, era um mistrio que podia ser vivenciado. Na ascenso e queda da iniciativ a humana, a realizao maia j havia passado quando os conquistadores espanhis chegaram , em 1519. A civilizao Maia Clssica j tinha desaparecido havia muito tempo. O que os invasores encontraram foi um novo imprio asteca que se espalhava por sobre o ele vado planalto do Mxico central, bem a oeste do territrio maia. Depois de uma longa peregrinao em busca de uma nova terra, os astecas haviam topado com o planalto ce ntral mexicano, onde avistaram uma guia pousar em um nopal com uma cobra no bico. Esse foi o cumprimento da profecia, um sinal de que haviam encontrado a sua nov a terra. Construram ento o que mais tarde viria a ser a Cidade do Mxico e, por volt a de 1500 d.C., a sua capital, Tenochtitln, era uma agitada metrpole. Os astecas h erdaram ecos enfraquecidos dos reinos e cosmologias que havia muito tinham desap arecido, inclusive fragmentos de um calendrio pan-mesoamericano de 260 dias desen volvido mais de dois milnios antes pela civilizao olmeca. Embora os astecas tivesse m aparecido cinco sculos depois do colapso da civilizao Maia Clssica (que se desenvo lveu no Mxico oriental e em partes da Amrica Central dos nossos dias), certas trad ies, como a ideia de uma sucesso de Eras do Mundo vividas pela humanidade, eram com partilhadas. Eles acreditavam que o final de cada Era do Mundo sinalizava uma tr ansformao. E, no caso dosastecas, o seu mundo, de fato, logo chegaria ao fim. Os eventos dramticos que tiv eram lugar entre o pequeno, porm determinado, exrcito de Corts e o povo de Montezum a no Mxico central definem o que consideramos a conquista do Mxico. No entanto, o Mxico um lugar grande. Muitos anos ainda se passariam antes que os invasores espa nhis avanassem o suficiente nas terras dos maias para perceber que outra antiga ci vilizao um dia florescera nas runas das cidades da floresta do leste. Embora as ant igas cidades de pedra dos maias estivessem em desintegrao e esquecidas, as tribos que os espanhis encontraram estavam envolvidas em uma fase nova e prspera atividad e cultural. Desde as plancies quentes da Pennsula de Yucatn at os planaltos de Chiap as e da Guatemala, os maias estavam profundamente envolvidos com a questo da civi lizao. Redes de comrcio se estendiam por milhares de quilmetros do litoral aos eleva dos picos vulcnicos. Cidades-estado que exibiam novos estilos arquitetnicos, entre elas o reino MaiaQuich, surgiram nos planaltos guatemaltecos. semelhana do que oc orrera com os astecas no distante oeste, um surto de crescimento cultural havia despontado no incio do sculo XVI, mas foi interrompido pelos estrangeiros esquisit os que montavam animais como veados e vestiam casacos de metal invencveis. Pedro de Alvarado derrotou o rei quich Tecun Uman em 1524, Corts derrotou Montezuma e su bjugou os astecas e os maias iucateques foramtorturados e os seus livros queimados nas fogueiras da Inquisio. Os missionrios fra nciscanos encaravam a religio maia como uma heresia que precisava ser esmagada e os lderes maias eram frequentemente torturados e assassinados por praticar os seu s costumes tradicionais. Em uma carta de 1563 enviada ao rei da Espanha, um cida do de Mrida chamado Diego Rodriguez Bibanco, que havia recebido uma nomeao real como "Defensor dos ndios de Yucatn", documentou as "irregularidades e punies" infligidas aos membros do povo maia acusados de praticar idolatria: E assim, com o poder q ue reivindicavam como juzes eclesisticos, e com aquele investido pela vossa Justia, eles entraram em ao com extremo rigor e atrocidade, submetendo os ndios a grandes torturas com cordas e gua, pendurando-os por polias com pedras de 25 ou 35 quilos amarradas aos ps, e depois de suspendlos dessa maneira aoitavam-nos intensamente a t que o sangue escorria para o cho dos seus ombros e pernas. Alm disso, eles deitav am sobre eles gordura fervente como era costume fazer com os escravos negros, co m a cera derretida de velas acesas pingada sobre as partes desnudas do corpo; tu do isso sem informaes prvias, ou sem pesquisar primeiro os fatos. Essa lhes pareceu a maneira de educ-los."'Milhes de cidados indgenas do Novo Mundo tambm morreram de doenas trazidas pelos euro peus, e mais ou menos em 1600 a populao nativa da Mesoamrica havia sido reduzida a uma frao do seu nmero anterior. Foi um choque de civilizaes, diferente de tudo o que o mundo jamais experimentara, to estranho para os maias como se uma frota de nave s espaciais de Antares aterrissasse no gramado da Casa Branca, trazendo seres al iengenas com sede de megatons de ouro, cobre ou terras. A maioria das culturas te ria virado p, mas os maias, sempre resilientes, possuidores da fora de adaptao do sa lgueiro, receberam os invasores e permitiram que passassem por cima deles de mod o que hoje, quinhentos anos depois, os maias perduram. Em certos aspectos import antes, principalmente na preservao das crenas espirituais e das cerimnias dos calendr ios, os maias nunca foram conquistados. AINDA PRESENTES DEPOIS DE TODOS ESSES AN OS Para esclarecer enfaticamente um conceito errneo habitual, os maias simplesmen te no desapareceram em um recall intergalctico do sculo IX. Depois que as grandes c idades de Copn, Palenque, Tikal e Yaxchiln cederam e tombaram h cerca de 1.100 anos , vtimas da ganncia, da peste e da seca, diferentes grupos maias se dividiram e se dispersaram, iniciando longas jornadas em busca de novas terras.Carregavam consigo as suas identidades e realizaes culturais como fardos nas costa s, estabelecendo-se com o tempo em novas regies, como as ravinas e os planaltos a meados das regies montanhosas da Guatemala. No entanto, por volta de 900 d.C., o Perodo Maia Clssico chegara ao fim, sinalizando o trmino de um estilo de civilizao qu e desmoronara sob o peso do prprio orgulho arrogante, em grande parte como o noss o est desmoronando agora. As culturas ascendem e caem como o dia segue a noite, e uma superabundncia de grupos maias se multiplicou enquanto novas geraes representa vam variaes em constante evoluo do tema da civilizao mesoamericana. A histria da Mesoa ica to complexa quanto a de qualquer outra regio do mundo, talvez ainda mais compl exa devido ao tumultuoso cenrio de terremotos e erupes no qual os maias tradicional mente viveram. Mas as crenas fundamentais e as tradies, como as antigas mitologias e cerimnias, resistiram s eroses do tempo. Em 1700 um frade dominicano chamado Fran cisco Ximnez foi ordenado na regio montanhosa de Santo Toms Chichicastenango. O domn io ainda era chamado de Nova Espanha, pois a Guatemala s viria a existir como repb lica independente em 1821. Francisco Ximnez descobriu que os maias da sua parquia tinham em seu poder um estranho livro redigido na lngua nativa quiche com uma esc rita alfabtica. O exemplar estava cuidadosamente protegido como um textosagrado, passado de gerao a gerao de um ancio para outro, e agora havia sido colocado nas suas mos. Sensvel aos apuros dos membros do seu rebanho maia e a como as pess oas do seu mundo alimentavam idias to errneas a respeito deles, Ximnez decidiu tradu zi-lo. No prefcio ao seu trabalho escreveu o seguinte: Como vi muitos historiador es que escrevem a respeito dessas pessoas e das suas crenas dizer e mencionar as mesmas coisas contidas nas suas histrias que eram apenas fragmentos dispersos, e como os historiadores no tinham visto as histrias efetivas, como foram escritas, d ecido colocar aqui e transcrever todas as suas histrias, de acordo com a maneira como eles as haviam escrito. E assim o Popol Vuh (Livro do conselho, Livro do de spertar da vida) foi copiado para a posteridade e traduzido para o espanhol. Fre i Ximnez, exmio linguista e estudioso da gramtica maia, era bastante adequado para a tarefa. O manuscrito original com base no qual ele trabalhou foi escrito por v olta de 1550. Alguns especialistas acreditam que os ancios maias que o redigiram se basearam em um livro hieroglfico mais antigo. Certas cenas e divindades mitolgi cas encontradas no Popol Vuh tambm so retratadas em antigos monumentos esculpidos encontrados em stios arqueolgicos maias mais antigos, datados de mais de 2.100 ano s atrs, o que indicaque uma mina de ouro ideolgica de grande antiguidade foi preservada no antigo tex to. Mas ouro metafrico no ouro autntico. Como acontecia com tanta frequncia com a ab ordagem da sabedoria nativa, a oferta de Ximnez ao mundo exterior deslizou para a s sombras e s foi publicada em 1857. quela altura, intrpidos exploradores j tinham s e embrenhado nas selvas da Amrica Central e estavam encontrando evidncias de uma c ivilizao esquecida, de pessoas que, mil anos antes de Ximnez, pintaram as histrias d o Popol Vuh em vasos e nos seus livros. Os deuses e os planetas danavam naquelas pginas ao som do calendrio sagrado de 260 dias, um sistema de adivinhao e marcao do te mpo que ainda hoje sobrevive nas aldeias remotas da Guatemala. No entanto, nem t odas as reas habitadas pelos maias retiveram a continuidade das antigas tradies dos calendrios. Durante a conquista dos maias em Yucatn, o calendrio de 260 dias ainda era seguido. Frades franciscanos afluam dos navios, munidos do autode-f catlico, a Inquisio semelhante ao jihad, a cabea carregada de profundos preconceitos contra o s pagos que ignoravam a nica Santa F. O bispo Diego de Landa foi um desses primeiro s evangelistas, determinado a converter os pagos. A sua inteno era restringir o cul to idoltrico do demnio, e o resultado foi a destruio do esprito nativo. O ato de fana tismo desenfreado praticado por De Landa, que envolveu a queima dos livros na al deiamaia iucateque de Mani em 1562, foi coroado de xito. Centenas de livros maias for am empilhados e destrudos. At onde se sabe, sobrevivem hoje apenas quatro exemplar es: os cdices de Dresden, de Madri, de Paris e de Grolier. Na poca, os calendrios n ativos de Yucatn foram igualmente destrudos. Esse tipo de ao no era novo no cristiani smo, cujo defensor, o imperador Teodsio, tambm ordenou que os templos "pagos" fosse m destrudos em 391 d.C., entre eles o Museu Alexandrino e o Sarapeum, que abrigav a a maior parte da biblioteca alexandrina. A escassez de evidncias diretas a resp eito do que os antigos maias sabiam e acreditavam tem feito com que os preconcei tos e os conceitos errneos se multipliquem. A distoro incrustada nas premissas ocid entais, introduzida por pessoas de formao tanto religiosa quanto cientfica, de que os maias no eram cientficos continua a existir hoje e, com frequncia, impede uma av aliao clara, isenta e imparcial da cultura maia. O caso de Landa encerra um compon ente reparador, pois ele tambm foi responsvel por registrar e preservar informaes a respeito das datas e dos glifos do calendrio maia. Em um ato de curiosidade que, pelo menos uma vez, sobrepujou a sua averso, ele compilou informaes de vrios informa ntes maias e tentou interpretar os signos dos dias do calendrio, acreditando que fossem letras fonticas do alfabeto maia. Embora Landa estivesse redondamente enga nado, a sua obra Relacin de las cosas de Yucatn preservou importantesfacetas da escrita e da linguagem maia. O seu livro, redescoberto e publicado trs sculos mais tarde pelo clrigo francs Brasseur de Bourbourg, tornou-se a chave por meio da qual os primeiros estudiosos dos maias puderam comear a reconstruir o con hecimento que havia sido perdido, como o funcionamento do calendrio maia e o enig mtico sistema de escrita hieroglfico. Durante o sculo XVI, um debate teolgico se ala strou entre os franciscanos: os maias tinham alma? Por que ao menos tentar espal har a f crist para pagos desprovidos de alma, irreversivelmente amaldioados? Os anim ais podem entrar no reino dos cus? Esses debates eram correntes em meados do sculo XVI, revelando as atitudes populares e a formulao de uma poltica oficial da Igreja . Hoje, apesar do progresso de permitir que os americanos nativos tenham alma, o s preconceitos continuam profundamente enraizados. Encar-los como nobres selvagen s foi uma das maneiras encontradas no sculo XIX para escapar do impasse do precon ceito. Charles Darwin foi, ao mesmo tempo, um evolucionista que considerava repu gnantes os selvagens nus e um abolicionista determinado, uma postura paradoxal q ue explica as suas atitudes contraditrias com relao aos nativos no seu famoso livro The descent of man. Por um lado ele os via como membros de tribos pacficas e afve is. Por outro eles eram nus, repulsivos e incompreensveis. No obstante, uma descrio romantizada dos nativos agradou imaginao europeia. Ela se ops s atitudes negativas, mas o distanciamento entre as naes "civilizadas" e os pagos "incivilizados" foi mantido, e os maias permaneceram ob jeto de contemplao e no seres humanos do mesmo nvel dos europeus. Nas plancies da flo resta tropical de Lacandn, situadas a oeste do grande Rio Usumacinta, divisa entr e o Mxico e a Guatemala, os ltimos vestgios dos maias inconquistados sobreviveram, tecnicamente, e chegaram ao sculo XXI. Recentemente, na dcada de 1960, antroplogos estavam estudando as antigas crenas, sonhos e cerimnias dos habitantes de Lacandn. Estes ainda visitavam os santurios dos seus antigos ancestrais, queimando incenso em "potes de ouro" (vasos rituais de cermica) nas runas abandonadas de Bonampak. Mas o povo de Lacandn estava na fase decadente do seu ciclo de existncia, o seu nme ro cara para menos de cem, de modo que foram vtimas dos problemas causados pela en dogamia. Embora tenham ficado famosos por se recusar a adotar os hbitos europeus, a gerao mais recente desse grupo minguante de baluartes finalmente deu o salto. P assaram a usar a sua caracterstica tnica branca tremulante somente quando comparec em ao stio arqueolgico de Palenque ou ao centro de estudos e museu de Na Bolon em San Cristobal de las Casas. Mas nos idos de 1870 eles eram fantasmas na selva, e stranhos habitantes da floresta que comiam macacos e se deslocavam por todo lado entre acampamentos encobertos pelas ceibas.Em um grotesco encontro que assinalou o fim do seu idlio com a selva, o explorado r Alfred Maudslay procurou os maias de Lacandn, o "outro" arquetpico, a caminho de Yaxchiln, em 1882. Em um ponto da sua jornada pelo Rio Usumacinta, os seus guias lhe disseram que encostasse o barco na margem. Dali seguiram por um caminho mar cado de tempos em tempos por crnios de jaguar. Finalmente chegaram a uma clareira com trs cabanas onde uma mulher de Lacandn veio ao encontro deles. Maudslay escre veu: Ela no exibia o menor indcio de medo; sorriu feliz e nos recebeu com extrema cortesia, pediu que entrssemos em uma pequena casa aberta e disse que todos os ho mens estavam fora caando cacao... as feies da mulher eram as mesmas dos rostos obse rvados em Palenque e em Mench: testa retrocedente, nariz adunco e grandes lbios. E la era bastante agradvel e loquaz... Os esteretipos que retratam os habitantes de Lacandn como violentos selvagens da floresta no foram confirmados pela experincia d e Maudslay. Os habitantes de Lacandn eram apenas uma folha na rvore da civilizao mes oamericana. Na realidade, depois da Conquista1, a maior parte do que era conheci do e estudado a respeito dos ndios do Novo Mundo tinha origem nos 1 O autor coloca a palavra Conquista em maiscula no original em ingls para se referi r conquista do Mxico pelos espanhis em 1519-1521. Por convenincia, a tradutora mant eve a mesma terminologia. (N. da T.)remanescentes do imprio asteca. A maneira como a situao se desenvolveu ao longo dos sculos relativamente nica na evoluo das interaes entre europeus e nativos no Novo Mu do. Como declarou Carlos Fuentes: "Os mexicanos descendem dos astecas enquanto o s argentinos descendem de navios". A mistura do sangue e o casamento entre as di ferentes culturas tornaram os astecas um componente fundamental do que um mexica no moderno. Hoje muitos americanos de descendncia latina e mexicana reconhecem co m orgulho a sua herana asteca. Embora "o outro" fosse e ainda seja rejeitado como coisa natural por muitos americanos (o que quer dizer os habitantes de todas as Amricas), o mexicano moderno se tornou o outro. DOMNIOS ASTECAS No Mxico central, bem a oeste das terras centrais dos maias, outro frade, Bernardino de Sahagn, con versou com informantes nativos e documentou as crenas dos filhos de Montezuma. O sentimento de que as tradies nativas continham algo profundo que deveria ser prese rvado continuou com outros espanhis bem-intencionados. Diego Duran compilou e pre servou muitos documentos sobre o calendrio e as histrias nativas, e, no final do sc ulo XVI, escreveu The book of the gods and rites of the ancient calendar. Como d e costume, contudo, a obra foi proibida, arquivada e s foi publicada quase trezen tos anos depois.No final do sculo XVII, Don Carlos de Siguenza y Gongora salvou muitos documentos dos arquivos durante um incndio que destruiu a cidade. Ele estudou as tradies dos astecas e afirmou que os ndios anteriores Conquista possuam um conhecimento avanado de matemtica e astronomia. Ao examinar os manuscritos pictogrficos deixados pelos astecas, observou que esse povo tinha um calendrio de 52 anos, hoje conhecido co mo Ciclo de Calendrio. Ele era uma combinao de duas contagens nativas do tempo, uma de 260 dias e a outra, uma aproximao de 365 dias do ano solar. O exame que Siguen za fez dos documentos e dos manuscritos pictogrficos possibilitou que ele calcula sse uma cronologia dos reis anteriores conquista do Mxico. Os textos de Fernando de Alva Ixtlilxochitl, descendente da realeza asteca, foram uma fonte primria que respalda o seu trabalho. Nos dias de Siguenza e por algum tempo depois, os memb ros da famlia de Ixtlilxochitl ainda detinham o ttulo honorrio de proprietrios das t erras de Teotihuacn, a grande cidade do antigo povo nahuatl, no Mxico central, que florescera entre 150 e 750 d.C. Quem foi esse misterioso povo que um dia viveu ali? Quando eles construram a cidade? As respostas para esse tipo de pergunta no e stavam claras na poca, mas grandes novidades estavam prestes a surgir. O esplendo r e a fascinao das Pirmides do Sol e da Lua e da Rua dos Mortos logo chamariam a at eno do mundo.Um viajante italiano chamado Gemelli Careri chegou a Acapulco de barco em 1697 e soube das descobertas de Siguenza. Inspirado e intrigado com o trabalho deste lt imo, Careri percorreu antigas trilhas para visitar as runas no planalto central. Viajando de mula ao norte da Cidade do Mxico, notou a horrvel esqualidez dos nativ os. Ao chegar, Pedro de Alva, neto do famoso Juan de Alva Ixtlilxochitl, mostrou -lhe o local e Careri tomou conhecimento das enormes esttuas de pedra localizadas no topo das Pirmides do Sol e da Lua. As impressionantes pirmides e a longa Rua d os Mortos em Teotihuacn devem ter sido uma cena incrvel para Careri. At mesmo para esse homem experiente, acostumado a viajar pelo mundo, a escala das relquias era impressionante, rivalizando com o que ele vira no Planalto de Giz. A obra de Care ri em seis volumes, Voyage around the world, foi publicada (em italiano) em 1719 . Logo condensada e traduzida para outras lnguas, a obra continha a primeira e me lhor descrio do Mxico a chegar ao mundo exterior. O livro foi um enorme sucesso e o seu mtodo itinerante de usar o transporte pblico inspirou Jlio Verne a escrever A volta ao mundo em oitenta dias. Entretanto, muitos no conseguiram acreditar nos c omentrios de Careri a respeito das culturas do Novo Mundo anteriores Conquista, d e modo que ele foi severamente criticado como sendo uma fraude. William Robertso n, historiador escocs do sculo XVIII, recusou-se a incluir as constataes de Careri n a sua obra altamente imprecisa History of America (1777). Em vez disso, afirmou que "AAmrica no era povoada por nenhuma nao do antigo continente, que fizera um considervel progresso na civilizao". Os mexicanos e os peruanos no estavam habilitados a estar na mesma posio que os habitantes das naes que merecem o nome de civilizadas". Outro famoso historiador de meados do sculo XVII, Cornlius de Pauw, escreveu no seu liv ro Recherches philosophiques sur les Amricains (1769) que o suposto palcio dos rei s mexicanos no era mais do que uma cabana. Ele criticou tanto Careri quanto Sigue nza, pondo em dvida os relatos deles a respeito de um calendrio sofisticado com di scos intricados que calculavam ciclos astronmicos ao longo de muitos sculos. Esse cenrio era completamente inacreditvel para ele, e sem examinar mais a fundo a ques to afirmou que observaes astronmicas desse tipo eram "incompatveis com a prodigiosa i gnorncia daqueles povos" que "no tinham palavras suficientes para contar at dez". E sse tipo de preconceito entrelaou-se na opinio popular a respeito dos povos nativo s da Mesoamrica, a ponto de at mesmo hoje encontrarmos ecos gritantes dele em film es como Apocalypto, de Mel Gibson. "2012: Decoding the Past, Mayan Doomsday Prop hecy", exibido no The History Channel em 2006, tambm fez questo de enfatizar cenrio s lascivos de sacrifcio e violncia, fazendo uma afirmao completamente falsa de que o s antigos maias previram o fim do mundo em 2012.Essas atitudes so consideradas expresses de bom senso, de uma sinceridade franca o u de um ceticismo saudvel. Encontramos os sentimentos de Pauw repetidos sob vrios disfarces ao longo dos sculos, freando a profundidade com que poderamos ousar comp reender o esprito dos americanos nativos. E pode ser difcil detectar o problema ar raigado, porque "fatos decisivos a respeito tanto da histria dos ndios americanos quanto da dos europeus so frequentemente omitidos. O fato de os textos serem amide redigidos por autoridades e acadmicos respeitados torna ainda mais difcil detect-l o. Como uma infeco de baixo grau, ele atua abaixo do nvel da conscincia, afetando os alunos desde o ensino fundamental at a ps-graduao." Eis algumas coisas que os ndios americanos conheciam e praticavam sem nenhuma ajuda externa: metalurgia, cirurgi a cerebral, cultura seletiva das plantas, cura medicinal, matemtica, astronomia, arquitetura de grande porte, arte, msica e poesia. A idia central do preconceito no conceder aos maias e outros grupos americanos nativos o mesmo nvel de capacidade intelectual e sofisticao cultural atribudo s culturas ocidentais. O problema tem si do endmico no mundo acadmico. Na evoluo da interpretao do tema de 2012 no decorrer dos ltimos vinte e cinco anos encontrei com frequncia ecos dessa atitude, um preconce ito desinformado, disfarado de racionalismo contido. Ao longo de todo o sculo XVII I poucos exploradores e escritores mencionaram aabundncia cultural enterrada debaixo do tumulto poltico que era o Mxico. No entanto , em 1790 surgiu a possibilidade do rompimento de uma barreira que, devido ao se u enorme tamanho e localizao central, talvez mudasse a situao. A Pedra do Calendrio A steca, tambm conhecida como Pedra do Sol, foi encontrada debaixo da Cidade do Mxic o e puxada para a luz. Em razo de seu enorme tamanho e localizao central, ela era p rovavelmente um cone muito importante na capital asteca de Tenochtitln que havia s ido destruda por Corts dois sculos e meio antes. Na dcada de 1790, o Mxico ainda era uma colnia espanhola, pois o pas s se tornaria independente em 1821. O escritor mex icano Antonio de Len y Gama analisou o simbolismo da Pedra do Sol e, depois de um a quantidade impressionante de cuidadosas pesquisas combinadas com o discernimen to, revelou que a pedra era uma representao do antigo sistema de calendrio mexicano . No entanto, mais do que isso, era a certeza que provava a existncia de um nvel d e inteligncia e de capacidade previamente considerado ridculo. Os antigos claramen te observavam os ciclos do Sol, da Lua e dos planetas e tinham concebido um sist ema sofisticado de calendrio para acompanhar esses movimentos. At o fim da revoluo d a independncia, que culminou em 1821, viajar para a Nova Espanha era justificadam ente considerado um empreendimento perigoso. A violncia revolucionria encontrava-s e em toda parte de um ambiente catico de agitao, e os estrangeiros eram considerado ssuspeitos. Em 1822, logo depois da independncia mexicana, um ingls chamado William Bullock viajou para o Mxico, entrando no pas pelo porto de Veracruz, no Golfo do Mxico. Foi uma viagem rpida, porm eficaz. Ao voltar a Londres, publicou em 1825 um livro popular, Six months residence and travels in Mexico. Bullock fazia parte d e uma nova fase de interesse pelo Mxico. Poetas romnticos como Shelley e Keats est avam conquistando a imaginao dos europeus nas dcadas de 1810 e 1820 e o romantismo das runas mexicanas era irresistvel. A independncia mexicana prometia uma nova era de estabilidade para a regio, que era fascinante para os visitantes estrangeiros, e, para os observadores externos, o Mxico estava comeando a se parecer mais com u ma terra de oportunidades. O interesse pelos mistrios do Mxico estava crescendo. A monumental History of the conquest of Mexico (1843), de William Prescott, foi u ma obra decisiva que tornou clara a escala de destruio que Corts imps civilizao astec . Von Humbolt fez um apelo para que todos os documentos nativos do Mxico fossem r eunidos em um nico lugar e um jovem ingls chamado Edward King aceitou o desafio. M ais tarde conhecido como lorde Kingsborough, ele gastou uma fortuna entre 1831 e 1848, contratando litgrafos e artistas para copiar e colorir a mo os documentos p ictogrficos originais. Quando completa, a volumosa obra em nove volumes foi ofere cida por um preo equivalente a 3.500 dlares.Ela estava repleta de comentrios em latim, hebraico, grego e snscrito que defendia m a ideia, que Kingsborough roubara de Las Casas, de que os maias descendiam das Tribos Perdidas de Israel. Essa ideia tornou-se um dos pontos da doutrina teolgi ca dos mrmons, cujos arquelogos realizaram um esplndido trabalho cientfico em antigo s stios arqueolgicos maias no sul do Mxico. A obsesso de Kingsborough causou-lhe pro blemas, pois os seus volumes prodigamente produzidos o deixaram endividado. O pa pel feito a mo que ele escolhera para a sua obra estava acima dos seus recursos. Desafortunadamente, ele morreu de tifo em uma priso para endividados, na Irlanda, circunstncia que levou o British Museum a eliminar o nome dele do seu catlogo, re lacionando o trabalho de Kingsborough sob o nome de Aglio, o artista que ele con tratara. OS EXPLORADORES E AS CIDADES PERDIDAS Os viajantes que aportavam em Ver acruz ou Acapulco frequentemente iam ao Mxico. Entretanto, as terras centrais dos maias ficavam muito longe para o leste, e as runas da antiga civilizao maia, mais remotas no tempo do que as dos astecas, ficavam fora do caminho geralmente perco rrido e haviam escapado, em grande medida, ateno dos viajantes. Mesmo assim, rumor es sobre o que jazia oculto nas densas florestas do leste comearam a chegar aos o uvidos dos aventureiros, inclusive aos de um personagem exuberante chamado conde Waldeck.Antonio del Rio visitou Palenque quando era muito difcil chegar l. Conseguiu publi car o seu relato em 1822, e para ilustrar o livro o seu editor em Londres contra tou um homem chamado JeanFrdric Maximilien de Waldeck. Artista, viajante e mulhere ngo, Waldeck ficou de tal maneira intrigado com a histria de Del Rio a respeito d e uma cidade perdida nas selvas mexicanas que, aos 46 anos de idade, cruzou o oc eano para v-la com os prprios olhos. Enquanto se insinuava nos crculos da sociedade da Cidade do Mxico, pintando retratos na tentativa de conseguir fundos para a su a expedio a Palenque, Waldeck afirmava ter sido amigo ntimo de Lorde Byron e Maria Antonieta. Mais tarde o autodesignado conde passou um ano inteiro na povoao de San to Domingo perto de Palenque, e mais quatro meses em uma cabana que construiu so mbra da torre decadente de Palenque. Nesse perodo em que estudou as runas, teve a companhia de uma jovem mestia, que provavelmente lhe proporcionou um certo incent ivo para permanecer naquele lugar terrivelmente quente, infestado de insetos. Ne ssas circunstncias inspitas, Waldeck produziu cerca de 90 desenhos, notveis pela su a habilidade artstica, porm enganadores devido ao embelezamento dos detalhes. Depo is de Palenque, Waldeck foi para Yucatn, onde fez mais desenhos, fugindo para Lon dres quando descobriu que as autoridades locais pensavam que ele era um espio. Os seus desenhos escaparam por pouco de ser apreendidos. Quando descobriu que asautoridades do governo estavam desconfiadas das suas atividades, copiou rapidame nte todos os desenhos e deixou que apreendessem as copias, enquanto os originais estavam escondidos em segurana. O seu estratagema tornou desnecessrias futuras bu scas dos seus pertences. Tendo em mos o seu despojo pictogrfico, Waldeck publicou uma seleo de 21 gravuras com cem pginas de texto, na qual detalhou a sua teoria de que Palenque havia sido construda pelos caldeus e hindus. Levando-se em conta que ningum tinha a menor pista a respeito de quando as cidades maias tinham sido con strudas e habitadas, a estimativa que Waldeck fez do fim de Palenque (600 d.C.) f oi surpreendentemente precisa. O seu livro foi imensamente caro, cerca de 1.500 dlares atuais cada um, sendo o seu pblico-alvo aparentemente formado por nobres e condes como ele prprio. Waldeck realizara o que se propusera fazer, e o fez no se u estilo jocoso caracterstico. At onde sabemos, descendentes de Waldeck vivem hoje nas cercanias de Palenque. No final da dcada de 1830, muitos exploradores tinham percorrido extensamente Anahuac (Mxico), procurando e encontrando indcios de muit as camadas de antigas civilizaes e fragmentos de um calendrio perdido. Mas para a m aioria dos observadores externos tanto europeus quanto pessoas que viviam nos Es tados Unidos, pas que estava se expandindo rapidamente o Mxico e a Amrica Central a inda eram considerados lugares quentes, infestados de doenas e incivilizados, que eramelhor evitar. Dois exploradores iriam mudar tudo, e o mundo estava pronto para receber o que eles tinham para compartilhar. Em 1838, John Lloyd Stephens folheo u o livro de Waldeck na livraria Bartletts, em Nova York. Aos 32 anos, tendo aca bado de escrever a obra aclamada pela crtica Traveis in Egypt and Arabia petraea (1837), Stephens se viu inspirado, apesar da reputao de Waldeck de ser um embeleza dor, a organizar a sua prpria expedio Amrica Central. Convidou um ingls das suas rela , o artista Frederick Catherwood, para acompanh-lo e documentar o que ele descobr isse. A viagem aconteceu antes de a fotografia tornar-se uma prtica, mas a qualid ade dos desenhos detalhados produzidos por Catherwood foi superior a qualquer co isa obtida pela fotografia nas quatro dcadas seguintes. Stephen havia ajudado a e leger o presidente Martin Van Buren e conseguiu uma indicao por intermdio do gabine te dele. Ele seria o Agente Diplomtico dos Estados Unidos na Repblica da Amrica Cen tral. Apesar da frgil posio de uma repblica desse tipo, o seu ttulo e os documentos d e aparncia oficial o ajudariam a percorrer territrios inexplorados onde os governo s ascendiam e caam no ritmo das estaes. Em outubro de 1839, zarparam de Nova York. Aportando em Belize, seguiram os relatrios de um certo Juan Galindo e subiram o R io Motagua em direo Guatemala antes de tomar a direo sul para atravessar uma cadeia de montanhas, seguindo diretamente para a famosa cidadeperdida que hoje chamamos de Copn. A viagem estava apenas comeando. A malria, os ba ndidos e as guerras civis representavam uma constante ameaa e continuariam a s-lo nos trs meses e 8 mil quilmetros seguintes. O sol mal penetrava na densa copa das r vores da floresta, mas o calor sufocante abafava tudo. Trs mulas se esforavam ardu amente e escorregavam na trilha barrenta, carregadas de fardos, telas e mantimen tos. Os dois homens seguiam pacientemente atrs, matando insetos enquanto perscrut avam atentamente a vegetao, tentando avistar atravs dela os sinais reveladores de t emplos perdidos uma pedra em uma posio estranha, um entalhe torto, muros de pedra erguendo-se atravs da sombria mata. Em 17 de novembro de 1839, entraram em Copn. S tephens recordou mais tarde, atenuando a surpresa que eles realmente sentiram: " Estou entrando abruptamente em um novo territrio." Assim comeou uma nova era na ex plorao e recuperao da civilizao maia. Aps passar semanas removendo escombros das escad s e plataformas dos templos, ao mesmo tempo que Catherwood fazia cuidadosamente dezenas de desenhos, eles se deram conta de que mal haviam arranhado a superfcie. Stephens, percebendo a importncia do local, comprou-o do seu legtimo proprietrio p or 50 dlares. Ansiosos para chegar a Palenque, puseram-se a caminho atravs das mon tanhas da Guatemala, descendo pelo vale do Rio Usumacinta e passando pela flores ta tropicalde Lacandn, uma jornada de quase quinhentos quilmetros. Ao chegar a Palenque, Step hens e Catherwood constataram com os prprios olhos que Waldeck e Del Rio no haviam exagerado. Por acaso, outra expedio, chefiada por Walker e Caddy, visitara Palenq ue e acabara de partir. Esse tipo de quase acertos ocorreria repetidas vezes na "descoberta" das cidades perdidas. Palenque, contudo, nunca foi perdida para os habitantes locais, embora durante sculos as pedras tenham ficado abandonadas, sem i-esquecidas, tendo sido frequentemente saqueadas para a obteno de pedras de quali dade para construes. Stephens e Catherwood continuaram a sua jornada, visitando o grande nmero de locais situados na pennsula de Yucatn. Labna, Uxmal e a impressiona nte Chichn Itz encabeavam a lista de lugares que eles exploraram e documentaram. Po r intermdio de um homem, em Mrida, Stephens tomou conhecimento da numerao de pontos e barras que podia ser claramente vista nos glifos. Ele pde assim obter um conhec imento rudimentar de como os nmeros eram simbolizados nas datas do Conta Longa, p ois uma barra representava 5 e um ponto expressava 1. Ele relatou devidamente es sas coisas na sua narrativa de viagem envolvente, embora, s vezes, um tanto seca, atiando a curiosidade de muitos leitores durante vrios anos. Incidents oftravei i n Central America and Yucatn, publicado em 1841.com um preo acessvel, foi um grande sucesso. O livro continua venda at hoje.Os desenhos realistas de Catherwood foram, sem dvida, cruciais para ajudar os obs ervadores externos a compreender a abrangncia e a escala da civilizao perdida. Lame ntavelmente, o nome de Catherwood no foi includo na capa. um fato triste e irnico q ue nem Stephens nem Catherwood tenham vivido tempo suficiente para presenciar a era de explorao cientfica que eles haviam gerado. Stephens morreu de uma doena no fga do aos 46 anos de idade, em 1852. Catherwood morreu em um naufrgio no Atlntico, em 1854. Na dcada de 1860, fotografias medocres, porm convincentes, estavam sendo tir adas nos locais, oferecendo uma prova irrefutvel de que uma civilizao perdida estav a enterrada nas selvas do Mxico. Alm disso, outras indicaes da existncia de uma antig a cultura superior estavam surgindo em manuscritos descobertos e publicados por um clrigo empreendedor que escondia teorias sobre os atlanteus debaixo do manto e clesistico. SURGE O POPOL VUH Nascido na Holanda em 1813, Charles Etienne Brasseu r de Bourbourg passou os primeiros anos da sua juventude escrevendo romances em Paris, indo depois para Roma, onde se ordenou padre. No entanto, ele sempre teve os olhos voltados para os mistrios maias. Inspirado pelos livros de Stephen e De l Rio, partiu para a Amrica em 1845. A sua habilidade para encontrar manuscritos esquecidos em arquivos mofados eraextraordinria. Encontrou histrias no publicadas da Nova Espanha redigidas por Las C asas e Duran, bem como uma narrativa original dos astecas escrita por Ixtlilxoch itl. Passou vrios anos na Cidade do Mxico e nos seus arredores, aprendendo a lngua nahuatl, viajando depois pela Guatemala, El Salvador e indo at a Nicargua, em busc a de artefatos e manuscritos. Na Guatemala encontrou Os anais dos cakchiqueles, bem como a traduo de Ximnez do Popol Vuh guardada nos arquivos da Igreja. Ao voltar para Paris, em 1861, publicou o Popol Vuh em uma traduo francesa. Ainda em Paris, foi-lhe permitido o acesso coleo Aubin de livros e manuscritos raros das Amricas. Ao estudar as suas descobertas e a incomparvel coleo Aubin, cujo exame at ento nunca tinha sido permitido a ningum, Bourbourg produziu um estudo em quatro volumes da histria e da religio mesoamericanas chamado Histoire des nations civilises du Mexiq ue e de l'Amrique Centrale. A obra impressionou de tal maneira os historiadores e spanhis que eles disponibilizaram para estudo as colees dos seus museus. Nos Arquiv os da Academia de Histria Bourbourg encontrou o manuscrito de Landa, esquecido ha via muito tempo, Relacin de las cosas de Yucatdn. Brasseur apressou-se em public-l o, reconhecendo-o como a chave que iria ajudar a decifrar a escrita maia. Ele er a capaz agora de identificar os glifos dos 20 signos dos dias do calendrio sagrad o de 260 dias, bem como os signos dos meses do calendrio civil de 365 dias, mas, como uma Pedra de Roseta, asideias e descries enganadoras de Landa se revelaram enlouquecedoras. Como se a sua faanha de trazer luz livros perdidos no fosse suficiente, Brasseur fez amizade co m um descendente de Hernan Corts em Madri e, em 1864, foi apresentado ao que se t ornou conhecido como o Cdice de Madri um livro maia original de Yucatn com almanaq ues astronmicos e desconcertantes conjuntos de glifos, deuses e datas de calendrio . Tratava-se de um texto inescrutvel no qual Brasseur mesmo assim afirmou ver mui tas coisas. Seguindo a convico mais antiga de Alexander von Humbolt de que as cult uras primitivas contemporneas eram fragmentos de uma civilizao avanada mais antiga d estruda por catstrofes naturais, Brasseur passou a acreditar que o Egito e a Amrica Central tinham a mesma origem cultural e que em outras ocasies as migraes foram ca usadas por cometas, meteoros e distrbios geolgicos de origem celeste. Os mitos de inundaes que ele encontrou foram considerados uma prova dos cataclismos dos tempos antigos, e ele os descreveu como uma verso inicial do mito da Atlntida, que logo se tornaria popular devido obra de Ignatius Donnelly, Atlantis: The antediluvian world (1882). Brasseur de Bourbourg continuou a escrever livros, mas as suas idi as a respeito das origens das culturas mesoamericanas foram se tornando cada vez menos verossmeis para os seus colegas. Na ocasio em que escreveu Chronologie hist orique des mexicains, acreditava firmemente que a lendaasteca de Quetzalcoatl estava relacionada com o mito da Atlntida de Plato. Bourbou rg desenvolveu livremente o tema e afirmou que, em 10.500 a.C., uma sequncia de q uatro cataclismos teve lugar e que as civilizaes humanas no tinham se originado no Oriente Mdio e sim em um continente que um dia se estendera de Yucatn para o Ocean o Atlntico. Tendo afundado debaixo das ondas em sublevaes cataclsmicas talvez desenc adeadas por meteoros, os seus vestgios so as Ilhas Canrias. Encontramos aqui o pont o de origem de grande parte das especulaes e textos sobre a Atlntida, que um tema q ue est constantemente ressurgindo na abordagem da histria maia. Talvez um gro de ve rdade esteja preservado na persistncia desses mitos da Atlntida. Os maias eram, de fato, avanados de uma maneira estranha e difcil de entender. Eles seguiam doutrin as metafisicamente elegantes e espiritualmente profundas que a mentalidade cientf ica moderna em particular est pouco propensa a entender. Tero eles alcanado uma espc ie de conscincia fundamentalmente diferente da conscincia moderna e ser que essa co nscincia pode de alguma maneira ser chamada, com bons motivos, de "atlanteia"? Se m dvida o tema foi distorcido, usado e corrompido ao longo dos anos, mas a sua pe rsistncia sugere que ele seria beneficiado por uma reavaliao. Os crticos de Brasseur , que um dia tinham sido seus fs, observavam desapontados as suas interpretaes que mais e mais indispunham aspessoas. A sua perspectiva foi ficando progressivamente mais estranha, a ponto d e eruditos srios, que um dia o haviam respeitado, tornarem-se cada vez menos conf iantes nas suas ideias. Brasseur, da sua parte, insinuava que os seus crticos no h aviam estudado suficientemente as tradies das Amricas e que abrigavam preconceitos do Velho Mundo. A histria mundial, teimava em afirmar, seria incompleta se os doc umentos do Novo Mundo fossem deixados de fora. Apesar da sua perda de popularida de aos olhos dos seus contemporneos, Brasseur lembrado como tendo trazido luz soz inho muitos textos ocultos e esquecidos de grande importncia, o que lhe conquisto u um lugar de respeito nos anais da investigao privada erudita. Muitas das constat aes de Brasseur de Bourbourg passaram a ser aceitas pela opinio geral sem que o seu nome sequer fosse mencionado. O DR. LE PLONGEON ERGUE O CHAC MOOL No livro Brea king the Maya code, Michael Coe praticamente omitiu, sem fazer comentrios, a curi osa carreira do Dr. Augustus Le Plongeon. No entanto, de todos os fascinantes pe rsonagens que danaram no palco dos estudos maias, ele deveria obter um recorde de bilheteria. E impressionante examinar o empenho e o esforo de Le Plongeon, total mente empreendidos com recursos prprios, de reaver monstruosos artefatos de pedra e explicar as suas desconcertantes circunstncias.Nascido na Frana em 1826, Le Plongeon veio a idolatrar John Lloyd Stephens, cujos relatos das viagens que realizou entre as runas maias estimularam a sua jovem me nte. A caminho das Amricas quando tinha catorze anos, Le Plongeon foi um de dois sobreviventes de um trgico naufrgio. Residiu na Amrica do Sul durante alguns anos a ntes de ir para a Califrnia a tempo de alcanar a Corrida do Ouro de 1849. L tornous e agrimensor, exerceu a advocacia em So Francisco e formou-se em medicina (no est b em claro como ele obteve esse diploma). Depois foi viajar pelo mundo e acabou mo ntando um hospital particular no Peru na dcada de 1860, oferecendo uma terapia ex perimental na qual uma corrente eltrica era aplicada a banhos medicinais. Sempre atento aos mistrios que o cercavam, estudou as runas, a histria e a cultura dos inc as. Quando morava no Peru, escreveu livros religiosos sobre Jesus e um manual prt ico de fotografia. Em 1873 Le Plongeon viajou para Yucatn com a nova esposa de 22 anos de idade, Alice Dixon. Ele fazia questo de logo mencionar que a esposa era sua colaboradora no campo, e passaram 12 anos explorando as runas maias em Yucatn. Moravam perto de Chichn Itz e tiraram mais de quinhentas fotografias, fizeram des enhos, inspecionaram edificaes e o alinhamentos do local, e desenterraram uma enor me escultura de um Chac Mool reclinado, uma divindade iucateque maia cuja barrig a continha uma vasilha na qual um novo fogo era ritualisticamente acendido. Aque les dias em Yucatn, um lugar atrasado,distante do centro principal da Cidade do Mxico, eram perigosos, porque o sentime nto revolucionrio que havia explodido na Guerra das Castas, um levante indgena que teve lugar na dcada de 1860, ainda fervilhava em silncio. Le Plongeon conseguiu d ominar a fundo a linguagem maia no perodo que passou em Yucatn e fez amizade com s acerdotes maias do local, inclusive com um guardio da sabedoria que ele acreditav a ter 150 anos de idade. Adicionando sua vida entre os templos um misticismo ao estilo de Castaneda, ele s vezes vivenciava deslocamentos de tempo e espao enquant o trabalhava no stio arqueolgico ou uma luz brilhante que inexplicavelmente os ban hava em uma incandescncia mstica. Le Plongeon sentia que sobrevivia entre os maias "uma rica corrente vital de sabedoria e prtica oculta, cujas origens recuavam a um passado extremamente distante, bem alm do campo de ao da usual pesquisa histrica" . Podemos imaginar que J. Eric S. Thompson, o arquelogo especialista na cultura m aia, pensava mais ou menos da mesma maneira, tendo em vista a sua longa amizade com Jacinto Cunil, o seu compadre maia (o seu "co-padrinho" espiritual) por quem Thompson nutria um grande respeito. Le Plongeon, no entanto, livre das convenes u niversitrias, foi muito alm de qualquer coisa que Thompson teria ousado imprimir, especulando que os maias pr-colombianos praticavam o hipnotismo, eram clarivident es e usavam espelhos mgicos para prever o futuro. Eles tinham umaespcie de "espelho mgico" prato refletor de obsidiana e placas de pirita , bem como pedras oraculares para predizer o futuro, uma das quais caiu nas mos do astrlogo e lisabetano John Dee. Segundo os seus francos relatos, Dee se comunicava com os a njos por meio desse objeto mgico oriundo do outro lado do oceano ocidental. O fei to mais impressionante de Le Plongeon, a recuperao de uma gigantesca escultura de pedra de Chac Mool, que se encontrava a uma profundidade de quase sete metros de baixo no nvel do solo de Chichn Itz, continua a ser um dos eventos mais estranhos d a arqueologia mesoamericana. Isso porque preciso que se diga que, embora os seus mtodos fossem singulares e primitivos de acordo com os padres modernos, Le Plonge on foi, em 1876, um dos primeiros arquelogos a fazer escavaes no Mxico. Os seus mtodo s eram, reconhecidamente, no ortodoxos. Em uma das edificaes em Chichn Itz, Le Plonge on afirmou haver decifrado o glifo para "Chac Mool", de modo que poderia agora i ndicar com preciso um lugar onde iriam escavar e ele iria encontrar uma efgie dess a divindade. Tudo levava a crer que o local fora escolhido mais ao acaso do que por intermdio de um mapa hieroglfico. Os seus auxiliares trabalharam durante dias e todo mundo deve ter pensado que o empreendimento estava destinado ao fracasso, quando a uma profundidade de quase sete metros atingiram uma pedra macia. Quando escavaram ao redor do contorno da pedra, uma enorme escultura em redondo tomou forma. Usandoapenas trepadeiras da floresta e troncos e casca de rvore, conseguiram traz-la par a a superfcie. Uma fotografia sobreviveu, mostrando um Le Plongeon perplexo e apa rentando cansao, sentado ao lado do monlito que ele apelidou de Chac Mool, bem per to da entrada do buraco onde permanecera enterrado durante sculos. A sua longa ba rba ao estilo de Rasputin e a sua larga testa so de certo modo arquetpicas, um Ind iana Jones do sculo XIX destinado desde que nasceu a fazer o que acabara de fazer . Os comentrios de Le Plongeon a respeito de a cultura maia ter 12 mil anos de id ade so de certo modo compreensveis, considerando-se a profundidade na qual a escul tura foi encontrada. Na realidade, difcil explicar essa profundidade, a no ser que os prprios maias a tenham enterrado por terem sido obrigados a faz-lo, apenas nov e sculos antes, o que atualmente a opinio unnime dos arquelogos. Depois de erguer o monlito, Le Plongeon escreveu imediatamente uma carta ao presidente da Republica do Mxico, informando-o da sua descoberta e das suas intenes, ao mesmo tempo que ofe receu uma aula sobre a antiguidade e o talento da raa maia: Os resultados das min has investigaes, embora realizadas em territrios proibidos para os brancos, e at mes mo para os pacficos ndios obedientes autoridade mexicana; cercado por constantes p erigos, no meio da floresta, onde, alm dos animais selvagens, os violentos ndios d e Chan-Santa-Cruz preparavam emboscadas para mim; sofrendo as pontadas da fome, nacompanhia da minha jovem esposa Alice Dixon Le Plongeon, superaram as minhas mai s agradveis esperanas. Hoje posso afirmar, sem me vangloriar, que as descobertas q ue fiz junto com a minha esposa nos colocam frente dos viajantes e arquelogos que tm se ocupado dos povos americanos da antiguidade. De algum lugar o nmero mgico de 12 mil anos foi invocado: A ao atmosfrica, as inclemncias do tempo e, mais do que i sso, a exuberante vegetao, ajudados pela mo irreverente e destrutiva de iconoclasta s ignorantes, destruram e continuam incessantemente a destruir essas opera magna de uma gerao iluminada e civilizada que abandonou o teatro do mundo h cerca de 12 m il anos, se as pedras, na sua muda eloquncia, no induzirem ao erro. Sempre ambicio so, Le Plongeon pretendia levar o monlito para a Filadlfia a tempo de exibi-lo na comemorao do centenrio da independncia dos Estados Unidos, em 1876. Ele e a sua equi pe conseguiram arrastar em carro de bois a escultura de 2 toneladas pelos 105 qu ilmetros que os separavam de Mrida, onde ela foi imediatamente confiscada pelas au toridades locais (elas simplesmente ficaram esperando que a escultura fosse colo cada nas suas mos). Um navio de guerra do governo central transportou-a at umaferrovia que a conduziu at a Cidade do Mxico, onde se encontra at hoje. Embora abat ido pela sua perda, Le Plongeon renovou os esforos de levar as suas descobertas a o conhecimento da comunidade de intelectuais e cientistas. Enviou pequenos artef atos e fotografias para a Filadlfia, onde chegaram s mos de Stephen Salisbury, memb ro ativo da American Antiquarian Society em Worcerter, Massachusetts, que concor dou em publicar alguns dos achados de Le Plongeon no peridico da sociedade. Entre tanto, o relacionamento deles acabou perdendo fora medida que as opinies radicais de Le Plongeon sobre a histria foram se revelando em cada artigo subsequente. Ele mencionou antigas ligaes entre o Hemisfrio Ocidental e a sia, a frica e a Europa. Ba seado nos seus achados arqueolgicos, descreveu ciclos anteriores da humanidade qu e recuavam a dezenas de milhares de anos. A Atlntida de Plato e os antigos egpcios faziam parte do cenrio. Essas ideias eram avanadas demais para os respeitveis intel ectuais da Nova Inglaterra associados Antiquarian Society; as opinies csmicas de L e Plongeon ofenderam os sentimentos cristos desses homens. A civilizao recuando 12 mil anos? Impossvel, j que todo mundo sabia que a Terra fora criada em 4.004 a.C. Bishop Usher havia demonstrado isso; est escrito na Bblia. A fantasia bblica supero u a atlante e os artigos de Le Plongeon deixaram de ser bem acolhidos naquele pe ridico de intelectuais.Salisbury se desvinculou de Le Plongeon e, junto com Charles Bowditch, do Peabod y Museum of Anthropology de Cambridge, encontrou outro contato com Yucatn, um jov em chamado Edward Thompson. Ed Thompson trabalhou arduamente durante muitos anos em Chichn Itz, dragando a dolina em busca de ouro e outros objetos, permanecendo trinta anos em Yucatn. Thompson chegara l em 1885, no ano em que Le Plongeon parti ra, quando comearia a sua explorao e documentao mais equilibrada. As suas credenciais ? Thompson havia despertado entusiasmo nos crculos acadmicos com um artigo que pub licara na revista Popular Science Monthly. O ttulo do artigo era "A Atlntida no um mito". A FOTOGRAFIA LEVA DECIFRAO Stephens e Catherwood so considerados os precurso res da investigao cientfica da arqueologia maia, mas o processo foi descontnuo, com altos e baixos. Com o tempo os exploradores passaram a se esforar para documentar cuidadosamente as esculturas e a medir os stios arqueolgicos. Mas durante muitas dcadas esses cuidadosos investigadores continuaram a se associar estreitamente co m os que buscavam a Atlntida. Na realidade, eles eram, s vezes, a mesma pessoa. A diferena entre o investigador profissional e o explorador independente era menos definida do que hoje em dia. Escritores que alimentavamfantasias atlantes tambm contriburam com legtimas descobertas. E at mesmo j no sculo X X, quando as metodologias da cincia arqueolgica e da cincia antropolgica foram aperf eioadas e aplicadas com grande cuidado, muitos dos avanos mais significativos cont inuaram a ser feitos por pensadores independentes, de outras reas de especializao. uma situao que caracteriza, e praticamente define, o processo dos grandes avanos na pesquisa da cultura maia. Nesse nterim, respeitados especialistas da era da deci frao moderna deixam, s vezes, vir luz as suas opinies quase racistas, revelando um p reconceito capaz de atrapalhar as interpretaes tanto quanto qualquer fantasia sobr e a Atlntida. Richard Long, linguista especializado em assuntos maias, por exempl o, escreveu na dcada de 1930 que a escrita assinalava a diferena entre a civilizao e o barbarismo e, como os ndios americanos no escreviam frases gramaticalmente corr etas, no eram portanto civilizados. Long se valeu de uma opinio acadmica que consid erava a escrita gramaticalmente correta como sendo a caracterstica que definia a civilizao, como um respaldo para o seu racismo. Michael Coe exps essa tendncia dizen do que a intolerncia de Long se baseava em uma "agenda dissimulada... a sua relutn cia em admitir que os maias de pele morena tivessem uma cultura to complexa quant o a da Europa, da China ou do Oriente Prximo".A dcada de 1880 presenciou o advento de exploraes mais importantes nos stios arqueolg icos maias. A transio agradavelmente simbolizada no encontro que teve lugar em Yax chiln, uma remota cidade da floresta, entre o fotgrafo e pesquisador ingls Alfred M audslay e o aventureiro francs Dsir Charnay. Maudslay era to respeitvel e desinteress ante quanto Stephens. O seu trabalho era paciente e meticuloso. Nascido em 1850 e tendo recebido uma educao aristocrata em Cambridge, tomou gosto pelas viagens e tornou-se assessor jurdico britnico em Samoa, em 1878. Mais tarde foi para as Amric as, onde supervisionou uma mina de ouro no Mxico e depois um pomar na Califrnia, o nde conheceu a sua futura esposa. Tendo lido o trabalho de Stephen, Maudslay com preendeu que um registro completo das inscries hieroglficas em todos os principais stios arqueolgicos ainda teria que ser feito. Foi ento exatamente o que fez, financ iando ele mesmo as suas sete viagens a Quirigu, Copn, Palenque, Yaxchiln, Chichn Itz e outros locais menos conhecidos. Em maro de 1882, Alfred Maudslay montou acampam ento em Yaxchiln, pouco depois de encontrar um bando de ndios de Lacandn. Quando o barco de Charnay se aproximou da costa, Maudslay pde perceber o desprazer no rost o do outro. No entanto, Maudslay acalmou a tenso com cortesia, dizendo: "Est tudo bem, no h motivo para voc ficar to angustiado. O fato de eu ter chegado aqui primeir o foi um meroacaso, como tambm o teria sido se voc tivesse chegado primeiro. Voc nada precisa te mer da minha parte, pois sou apenas um amador e viajo por prazer... Voc pode dar nome cidade, afirmar t-la descoberto, fazer qualquer coisa que deseje." Quando es tava na Guatemala, Maudslay conheceu um mdico americano, chamado Gustav Eisen, qu e estava intrigado com os entalhes e os estranhos hierglifos que Maudslay estava documentando. E claro que homens eruditos tinham conhecimento dos hierglifos egpci os e das tentativas de decifrar as linguagens perdidas do Oriente Mdio. A Pedra d e Roseta tornou-se uma expresso popular e o seu engenhoso decifrador, Jean-Franois Champollion, uma celebridade muito respeitada. Seria possvel que algo semelhante acontecesse no caso das culturas perdidas da regio do leste do Mxico e da Guatema la, que agora estavam sendo chamadas de civilizao "dos maias"? As fotografias de M audslay proporcionaram um material abundante para a anlise de Eisen, que tinha um a vantagem em relao aos outros pesquisadores devido ao seu canal de comunicao direto com o trabalho de Maudslay. Uma correspondncia amigvel e troca de informaes acadmica s que teve lugar entre os dois durante os anos seguintes fez com que Maudslay te ntasse visitar Eisen quando passou por So Francisco em 1893. A essa altura, no en tanto, este ltimo havia transferido a tarefa de decifrao para um conhecido chamado Joseph Goodman, por consider-la impossvel. Quis odestino que a gripe atrasasse a partida de Maudslay para o Oriente quando ele pa ssou por So Francisco em 1893, de modo que foi visitar Eisen. Como este no estava na cidade, Maudslay foi posto em contato com Goodman, que o impressionou com o s eu conhecimento a respeito do antigo sistema de calendrio e dos glifos. As peas do quebra-cabea hieroglfico estavam comeando a se encaixar. Goodman nasceu em 1838 na Costa Leste e, aos 23 anos, tornou-se o editor e proprietrio do jornal Territori al Enterprise, em Virgnia City, no territrio de Nevada. Os ensaios e as poesias qu e escreveu chamaram uma certa ateno. Uma homenagem patritica a Abraham Lincoln foi amplamente citada e o gnero literrio "Sagebrush", que nasceu nas pginas do seu jorn al progressista e interessante, prenunciou o cenrio Bomio que foi definido por Amb rose Bierce, George Sterling e Jack London um fenmeno de fin desicle em So Francisc o que foi ecoado meio sculo depois pelos escritores Beat. Goodman havia ganho uma fortuna com os seus investimentos na rea da minerao com a Comstock Lode e em 1862 ofereceu o primeiro emprego a um jovem escritor chamado Samuel Clemens, que seri a conhecido mais tarde como Mark Twain. A amizade deles durou a vida inteira. Go odman comprou uma propriedade agrcola voltada para a produo de passa de uva, mudouse para So Francisco e levava uma vida confortvel quando comeou a se dedicar aos es tudos da civilizao maia, no incio da dcada de 1880.Foi um encontro casual com o Dr. Eisen em 1882 que conduziu Goodman diretamente s melhores fontes primrias para a anlise dos glifos, a saber, as fotografias de alt a qualidade tiradas por Maudslay, das quais Eisen tinha cpias. Maudslay realizou um grande trabalho de campo, mas pouco se esforou para interpretar e decifrar a c oleo de glifos que estava documentando. Maudslay reconheceu a natureza pioneira do trabalho de Goodman na decifrao da escrita maia e convidou-o para contribuir com um apndice obra em vrios volumes que estava preparando para o Peabody Museum. Esse convite foi uma bno para um pesquisador independente como Goodman, pois obrigou os especialistas profissionais a levar a srio a sua anlise. A sua contribuio, chamada The archaic Maya inscriptions, foi publicada em 1897 como o Volume 5 da Biologia CentraliAmericana de Maudslay. Quando eu estava fazendo pesquisas para o meu li vro sobre o Calendrio de Vnus maia, era fundamental que tivesse a correlao certa. Es tudei a literatura sobre o tema, avaliei e testei as questes envolvidas e li a re speito de Goodman. Interessei-me pelo empenho dele, semelhante ao meu, como inve stigador independente que tenta fazer recuar os limites do consenso acadmico. Qui s examinar ento pessoalmente o apndice de Goodman obra de Maudslay. O nico lugar qu e a tinha disponvel era o arquivo de livros raros da CSU em Fort Collins.Telefone i e marquei umhorrio. O percurso de carro at Fort Collins durou cerca de uma hora e logo o livro foi colocado diante de mim. O "apndice" de Goodman era na verdade um livro compl eto, com mais de duzentas pginas de texto, quadros, grficos, tabelas e ilustraes. Eu o li do comeo ao fim e fiz anotaes. Goodman cortesmente incluiu Eisen como um parc eiro na sua contnua pesquisa sobre os misteriosos glifos, desenvolvendo a convico p essoal de que os glifos eram estritamente numricos e relacionados com o calendrio. At o fim da vida, Goodman acreditou que os glifos pouco tinham a ver com a mitol ogia ou a astronomia, escrevendo que "os calendrios maias, semelhana de todas as c riaes cientficas modernas, eram mpios." Essa tendncia limitante talvez tenha impedido Goodman de enxergar um campo de operaes maior para os glifos, ou seja, a astronom ia, que hoje sabemos estar presente para ser vista. A escrita maia tambm tem um p rofundo envolvimento com a mitologia, a religio, a histria e a computao matemtica. O calendrio de Conta Longa est intimamente envolvido com essas disciplinas e foi usa do em centenas de monumentos esculpidos e vasos de cermica durante quase mil anos (desde aproximadamente 36 a.C. at 909 d.C.). Matematicamente, trata-se de um sis tema de contar os dias que utiliza cinco notaes posicionais: o Kin (dia), o Uinal (20 dias), o Tun (360 dias), o Katun (7.200 dias) e o Baktun (144.000 dias). Uma data de ContaLonga comea com os Baktuns esquerda. Por exemplo, a data 9.16.4.1.1 indica que 9 Baktuns, 16 Katuns, 4 Tuns, 1 Uinal e Kin (dia) se passaram depois da "data zero ", escrita 0.0.0.0.0. A seguinte lista sequencial de datas nos ajuda a entender como o Conta Longa se desloca para a frente medida que os dias so contados: Exemp lo A: 9.16.4.1.18 9.16.4.1.19 9.16.4.2.1 9.16.4.2.2 Exemplo B: 12.19.19.17.18 12.19.19.17.19 13.0.0.0.0 0.0.0.0.1 Quase todas as notaes posicionais no calendrio de Conta Longa usam um sistema de ba se 20 (muda para 0 quando atinge 20). Observe, contudo, que o nvel Uinal (o segun do a partir da direita) contm 360 dias e portanto muda para zero quando atinge 18 . Analogamente, podemos considerar que o ciclo de 13 Baktuns reverte-se para zer o quando 13 Baktuns so completados. Quando exatamente ocorreu a data zero tem sid o tema do debate da correlao (como o calendrio maia se correlaciona com o nosso sis tema gregoriano). A maior contribuio de Goodman para as pesquisas mesoamericanas f oi o fato de ele ter solucionado esse problema. Conhecendo a correlao, podemos cal cular exatamente quando ocorre o fim do ciclo de 13 Baktuns (13.0.0.0.0). O pref acio de Goodman admite o seu status de especialista independente, mas reivindica o mritodo seu trabalho por uma simples razo: os seus "anos de dedicao aos glifos". Com um sarcasmo discreto, ele avisa aos acadmicos e aos cientistas que no fiquem surpreso s se "derem consigo sendo rudemente empurrados dos seus bancos por no especialist as irreverentes", porque: Durante meio sculo eles tiveram esta pesquisa quase que exclusivamente para si mesmos. As nicas informaes que poderiam permitir que ele ti vesse continuidade permaneceram praticamente sob a custdia deles, interditadas pa ra o resto do mundo como se fossem um mistrio hiertico. E qual foi o resultado? Mu ita bajulao erudita e empolada recproca, mas nem um nico ganho substancial no sentid o de entender as inscries... Esperamos sem esperana que eles ofeream uma soluo para o monumental enigma. Fiquei impressionado ao ler uma crtica do mundo acadmico que pa recia ser extremamente atual. Ao longo dos anos, encontrei, repetidamente, confi rmaes das palavras prescientes de Goodman, medida que eu era desprezado e casualme nte descartado por acadmicos que no demonstravam a menor boa vontade ou eram in