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DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO - II DIREITO CIVIL I –PARTE GERAL– LUCY FIGUEIREDO [email protected]

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DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO - II

DIREITO CIVIL I –PARTE GERAL– LUCY FIGUEIREDO

[email protected]

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1 - DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS1.1 Conceito legal de estado de perigo;1.2 O estado de necessidade no âmbito dos negócios jurídicos;1.3 Negócios usurários;1.3 Lesão;1.4 Fraude contra credores;1.4.1 Credor quirografário;1.4.2 Ação pauliana

PLANO DE ENSINO

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Art. 156:"Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa".

ESTADO DE PERIGO

O estado de perigo ocorre no momento em que se declara a vontade assumindo obrigação excessivamente onerosa, por consta da necessidade de salvar a si ou alguém a quem se liga por vínculo afetivo, de grave dano conhecido pela outra parte. O agente somente assume obrigação excessivamente onerosa, por conta do perigo atual e iminente, que atua como fator de desequilíbrio, não aniquilando a vontade por completo, mas limitando a liberdade de manifestação

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Um perigo corrido pela própria pessoa ou por alguém da

família (ou até mesmo por um não-parente, quando, pelas

circunstâncias, o risco puder afetar emocionalmente o

declarante, tal como se dissesse respeito a uma pessoa da

família), deve ser a causa determinante de um negócio

jurídico que se contrata em bases excessivamente

onerosas. É justamente para escapar ao risco de dano

pessoal grave que o negócio se consuma.

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ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM O ESTADO DE PERIGO

a)Existência de grave danob)Que o dano seja atual (ou iminente)c)Que o perigo seja a causa determinante da declaraçãod)O conhecimento do perigo pela outra partee)A existência de obrigação onerosa excessivamentef)Intenção do declarante de salvar-se a si ou a pessoa de sua família ou a terceiro.

EX. depósito em dinheiro ou prestação de garantia exigidos por hospitais e clínicas, a título de caução, para que o paciente possa ser atendido em situação emergencial.

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Estado de perigo e estado de necessidade

ESTADO DE NECESSIDADE ESTADO DE PERIGOÉ mais amplo, mais abrangendo,

tanto quanto no direito penal, a exclusão da responsabilidade por danos, como prevê o art. 188, II do CC, que se refere à destruição de coisa alheia ou lesão à pessoa. Exige-se que o perigo não tenha sido voluntariamente causado pelo autor do dano e que este não fosse evitável. O afastamento ou eliminação da necessidade gera um dano que deve ser regulado pelos casos de responsabilidade civil.

É um tipo de estado de necessidade, porém constitui defeito do negócio jurídico que afeta a declaração de vontade do contratante, diminuindo a sua liberdade por temor de dano à sua pessoa ou a pessoa de alguém de sua família. A necessidade do outro é desfrutada pelo outro, sem qualquer destruição. E, mesmo que o perigo tenha sido voluntariamente causado pela pessoa que a ele esteja expondo, e fosse evitável, caberá anulação.

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ESTADO DE PERIGO LESÃOA oferta se acha viciada em razão do comprometimento da liberdade de manifestação da vontade, em conseqüência do extremo risco existente no momento em que é formalizada.

Não há vício da própria oferta, mas usura real, isto é, lucro patrimonial exagerado..

O contratante se encontra em uma situação na qual deve optar entre dois males; sofrer as conseqüências do perigo que o ameaça ou ameaça a sua família ou pagar ao seu ‘salvador’ uma quantia exorbitante

O declarante participa de um negócio desvantajoso, premido por uma necessidade econômica.

A inexperiência não constitui requisito para a sua configuração.

Pode decorrer da inexperiência do contratante.

Exige, além do elemento objetivo (prestação excessivamente onerosa), também o conhecimento pela outra parte que se aproveita da situação(elemento subjetivo).

Admite suplementação da contraprestação (art.157,§2º), indicando que só ocorre em contratos comutativos, em que a contraprestação é um dar.

Pode conduzir a negócios unilaterais em que a prestação assumida seja unicamente da vítima; promessa de recompensa, obrigação de testar em favor de alguém.

Exige desequilíbrio de prestações.

Estado de perigo e lesão

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Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;

EFEITOS ESTADO DE PERIGO

O Enunciado n. 148 da III Jornada de Direito Civil, promovida

pelo Conselho da Justiça Federal, dispõe: “ Ao ‘estado de

perigo’ (art. 156,CC) aplica-se, por analogia, o dispositivo no §

2º do art. 157”. O referido dispositivo, visando à conservação

contratual, proclama que não se decretará a anulação do

negócio “se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte

favorecida concordar com a redução do proveito”

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O estado de perigo e a lesão são aspectos da chamada usura real em contraposição à usura financeira.

A usura real se caracteriza pela cobrança de juros a taxas superiores ao que seria legal ou honestamente aceitável nos empréstimos de dinheiro;

A usura financeira é a que se refere a qualquer prática não equitativa que transforma o contrato bilateral em fonte de prejuízos exagerados por uma das partes e de lucros injustificáveis para a outra. É uma anomalia verificável nos contratos bilaterais onde o normal seria um razoável equilíbrio entre as prestações e contraprestações.

Negócios usurários

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Art. 157 "ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta".

LESÃO

A lesão que o novo Código admite como vício de

consentimento para gerar a anulabilidade consiste na

hipótese em que a pactuação do negócio tenha sido fruto de

premente necessidade ou de inexperiência de uma das

partes, circunstâncias que foram determinantes das

prestações avençadas de maneira manifestamente

desproporcional.

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O desequilíbrio entre as prestações deverá decorrer do

estado de premência ou de inexperiência.

O desequilíbrio deve ser congênito, ou seja, deve ter se

dado no momento da contratação e não ser fruto de

oscilações de mercado ulteriores ao negócio.

O desequilíbrio deve persistir até o momento da

anulação porque é daqueles defeitos que a lei permite

sejam remediados a posteriori.

CARACTERÍSTICAS DA LESÃO

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Para fins de anulabilidade, a lesão deve ocorrer no ato da formação do ato. Se ocorrer por decorrência de fatos supervenientes, é causa de revisão contratual com base na teoria da onerosidade excessiva.

Lesão consumerista- fatos superveniente geram nulidade apenas da cláusula usurária, devendo o juiz rever o contrato para "restabelecer o equilíbrio da relação contratual", ajustando-o ao "valor corrente" e, se for o caso, ordenando "a restituição, em dobro, da quantia recebida em excesso, com juros legais a contar do pagamento indevido" (Medida Provisória 2.172-32, art. 1º, inc. II)

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A lesão é a quebra da comutatividade do negócio jurídico

e o desequilíbrio entre as prestações deverá decorrer do

estado de premência ou de inexperiência

Embora o CC disponha sobre a anulabilidade, admite-se

que o juiz(ou árbitro) efetue revisão do negócio jurídico

quando o lesionador se predispuser a reduzir o proveito

obtido ou oferecer suplemento suficiente. Em tal hipótese

a revisão do pacto permite a adequação.

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•Extinta, pois, a disparidade de prestações, não mais

haverá razão para a ruptura da avença. Isto, porém,

pressupõe prestações ainda por satisfazer.

•Se a lesão já se consumou e o negócio se exauriu, pouco

importa que o bem tenha se valorizado ou desvalorizado

posteriormente ao contrato. A anulação será possível em

função do prejuízo que o lesado efetivamente sofreu no

momento do ajuste”.

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EFEITOS DA LESÃO

“Pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio, deduzindo desde logo, pretensão com vistas à revisão judicial do negócio por meio de redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço”. Enunciado 291, IV Jornada de Direito Civil CFJ

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

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No estado de perigo, o que determina a submissão da

vítima ao negócio iníquo é o risco pessoal (perigo de vida

ou de grave dano à saúde ou à integridade física de uma

pessoa).

Na lesão (ou estado de necessidade), o risco provém da

iminência de danos patrimoniais, como a urgência de

honrar compromissos, de evitar a falência ou a ruína dos

negócios.

LESÃO X ESTADO DE PERIGO

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Artifício ardil utilizado pelo devedor com o intuito de burlar o

recebimento do credor; consiste na alienação de bens capazes

de satisfazer a pretensão legítima do detentor do crédito..

A fraude contra credores, prevista no artigo 106 do Código

Civil, é a mais comum dessas manobras. Contra essa

artimanha utilizada pelo devedor, surgiu a Ação Pauliana, que

visa a anulação da alienação fraudulenta, para que o credor

possa, assim, ter o seu crédito satisfeito.

FRAUDE CONTRA CREDORES (106,CC)

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Há dois elementos característicos:

a) eventus damni (a insolvência)

b) consilium fraudis (conluio fraudulento).

Podemos ao analisar certo contrato presumi-lo como fraudulento, por exemplo, se este ocorre na clandestinidade, se há continuação da posse de bens alienados pelo devedor; se há falta de causa do negócio; se há parentesco ou afinidade entre o devedor e o terceiro; se ocorre a negociação a preço vil; e pela alienação de todos os bens.

CARACTERÍSTICAS DA FRAUDE CONTRA

CREDORES

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Credor Quirografário - “É o credor que não possui

qualquer título de garantia ou preferência, em relação aos

bens do devedor, devendo, por isso, ser pago segunda a

força dos bens livres do devedor.”

Devedor Insolvente - “É o devedor que deve mais do

que possui, é aquele que não paga suas dívidas na data

aprazada”.

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A ação que pode socorrer os credores em caso de fraude é a ação pauliana ou revocatória e, pode incidir não só nas alienações onerosas, mas igualmente nas gratuitas (doações). Há o ônus de se provar o consilium fraudis e eventus damni (art. 158 do C.C.).

A ação pauliana visa prevenir a lesão aos direitos dos credores, e acarreta anulação do negócio. Embora maior parte da doutrina defenda que ocorra ineficácia relativa do negócio se demonstrada a fraude ao credor, então a sentença declara a ineficácia do ato fraudatório perante o credor, permanecendo o negócio válido entre os contratantes. Os efeitos da declaração da nulidade relativa é “ex nunc”, da sentença em diante.

AÇÃO PAULIANA

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Não se pode confundir a fraude aos credores com fraude à execução. Fraude à execução é instituto do direito processual, pressupõe a demanda em andamento e devedor devidamente citado, também por ter requisitos o eventual consilium fraudis e o prejuízo do credor.

A fraude à execução independe de ação revocatória e, apenas é aproveitada pelo credor exeqüente. E, por fim, acarreta a nulidade absoluta onde a má fé é presumida ( in re ipsa).

A fraude aos credores acarreta a nulidade relativa do negócio jurídico e, é aproveitada indistintamente por todos credores.

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Ana Elisa empresta R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a seu amigo, Luiz Gustavo. No vencimento da obrigação, Luiz Gustavo não paga o empréstimo. Ana Elisa, dispondo de título executivo, ingressa com a ação de execução. Nenhum bem de Luiz Gustavo é encontrado para ser penhorado. Ana Elisa, porém, descobre que Luiz Gustavo, após vencido o débito, havia vendido para seu irmão Otacílio o único imóvel de que era titular, mais precisamente, uma sala comercial avaliada em R$ 95.000,00 (noventa e cinco mil reais).Pergunta-se:1) É válida a venda entre Luiz Gustavo e Otacílio?2) A situação seria diferente caso, ao invés de venda, tivesse havido uma doação?3) Que providências devem ser tomadas por Ana Elisa, caso ela queira reaver o dinheiro emprestado?

Caso Concreto 1

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Em ação anulatória de negócio jurídico ajuizada por Berenice em face de Cláudia, alega a autora que celebrou contrato preliminar de promessa de compra e venda com a ré, atribuindo a uma luxuosíssima mansão preço vil, o que só constatou posteriormente. Neste sentido, pretende a autora a anulação invocando ter ocorrido a figura da lesão. Por outro lado, em contestação, a ré sustenta que a autora é pessoa culta, que inclusive se qualificou como comerciante no instrumento do contrato. Logo, não poderia alegar que desconhecia o valor de seu próprio imóvel, devendo prevalecer o negócio celebrado.Pergunta-se:a) Se ficasse comprovado nos autos que o valor do bem estava próximo ao valor de mercado poderia se considerar a existência da figura da lesão? Justifique.b) O argumento da ré quanto às condições pessoais da autora é pertinente para o estudo da figura da lesão? Justifique.

Caso Concreto 2

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Carla sofre acidente, vindo a necessitar urgentemente de

socorro médico. Um médico que estava na cidade a

socorre e a interna em uma pequena clínica, que exige o

pagamento de um exorbitante valor de trezentos mil reais.

No dia seguinte, Cláudio, marido de Carla, após pagar o

valor, consulta seu advogado para saber se tal negócio

pode ser anulado. Com fundamentos legais, responda à

consulta do cliente.

Caso Concreto 3