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1 José Mauricio De Morais Carmo 1 1 Professor Associado da disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Universidade do estado do Rio de Janeiro, Responsável pelo Centro de Cirurgia da Mão e Microcirurgia do serviço da disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ, Membro Titular da sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia, Membro Titular e ex-presidente da sociedade brasileira de cirurgia da mão (1998), Membro Titular e ex-presidente da sociedade brasileira de microcirurgia reconstrutiva do aparelho locomotor (1996-97). ANATOMIA FUNCIONAL DO PLEXO BRAQUIAL ANATOMIA O plexo braquial é responsável pela inerva- ção sensitiva e motora do membro superior; é formado pelos nervos espinhais ou raízes de C5,C6,C7 e T1. Eventualmente a raiz de C4 contribui externamente para o plexo bra- quial, este é chamado de pré-fixado. Quando essa contribuição é de T1, denomina-se pós- -fixado. Após a saída das raízes pelos forâmes vertebrais estas se colocam no espaço inter- muscular do músculo escaleno anterior e mé- dio. A este nível formam os troncos superior (C5 e C6 ), médio (C7), e inferior (C8 e T1). Os troncos sofrem novo rearranjo em estru- turas chamadas cordões na passagem entre a clavícula e 1ºcostela, nesse nível se dividem em divisões anteriores e posteriores, as 3 di- visões posteriores formam o cordão posterior, as divisões anteriores dos troncos superior e médio formam o cordão lateral e a divisão anterior do tronco inferior forma o cordão medial. Embaixo do peitoral os cordões en- volvem a artéria axilar, esta servindo de refe- rência nominal aos cordões lateral, medial e posterior (conforme a localização em relação a artéria axilar). A partir dos cordões formam- -se os nervos principais do membro superior. O cordão lateral da origem ao nervo muscu- locutâneo e parte do restante do cordão late-

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  • 1Jos Mauricio De Morais Carmo1

    1 Professor Associado da disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Universidade do estado do Rio de Janeiro, Responsvel pelo Centro de Cirurgia da Mo e Microcirurgia do servio da disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitrio Pedro Ernesto UERJ, Membro Titular da sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia, Membro Titular e ex-presidente da sociedade brasileira de cirurgia da mo (1998), Membro Titular e ex-presidente da sociedade brasileira de microcirurgia reconstrutiva do aparelho locomotor (1996-97).

    ANATOMIA FUNCIONAL DO PLEXO BRAQUIAL

    ANATOMIA

    O plexo braquial responsvel pela inerva-

    o sensitiva e motora do membro superior;

    formado pelos nervos espinhais ou razes

    de C5,C6,C7 e T1. Eventualmente a raiz de

    C4 contribui externamente para o plexo bra-

    quial, este chamado de pr-fixado. Quando

    essa contribuio de T1, denomina-se ps-

    -fixado. Aps a sada das razes pelos formes

    vertebrais estas se colocam no espao inter-

    muscular do msculo escaleno anterior e m-

    dio. A este nvel formam os troncos superior

    (C5 e C6 ), mdio (C7), e inferior (C8 e T1).

    Os troncos sofrem novo rearranjo em estru-

    turas chamadas cordes na passagem entre a

    clavcula e 1costela, nesse nvel se dividem

    em divises anteriores e posteriores, as 3 di-

    vises posteriores formam o cordo posterior,

    as divises anteriores dos troncos superior e

    mdio formam o cordo lateral e a diviso

    anterior do tronco inferior forma o cordo

    medial. Embaixo do peitoral os cordes en-

    volvem a artria axilar, esta servindo de refe-

    rncia nominal aos cordes lateral, medial e

    posterior (conforme a localizao em relao

    a artria axilar). A partir dos cordes formam-

    -se os nervos principais do membro superior.

    O cordo lateral da origem ao nervo muscu-

    locutneo e parte do restante do cordo late-

  • 2ral se une com parte do cordo medial para

    formar o nervo mediano. O cordo posterior

    da origem ao nervos radial e axilar. O cordo

    medial d origem ao nervo ulnar e parte dele

    se une a parte do cordo lateral para formar o

    mediano.

    De uma forma simplificada, podemos di-

    zer que: as razes de C5 e C6 so responsveis

    pelos movimentos do ombro e flexo do coto-

    velo, a raiz de C7 responsvel pelo comando

    do grupo muscular extensor do cotovelo, pu-

    nho e extrnseco do polegar e dedos; e as razes

    C8 eT1 conferem a inervao motora de boa

    parte do grupo flexor extrnseco e muscula-

    tura intrnseca; sendo ento, os responsveis

    pela maior parte da motricidade e capacidade

    apreensora da mo. (1)

    O nervo torcico longo formado direto

    a partir das razes de C5, C6 e C7, inerva

    parte da musculatura interescapulo-vertebral,

    dentre eles o msculo serrtil anterior, que

    mantm a escpula junto ao trax. A disfun-

    o deste msculo leva a deformidade chama-

    da escpula alada, que indica uma leso muito

    proximal das razes de C5, C6 e C7.

    O nervo supra-escapular ramo direto do

    tronco superior, inerva os msculos supraespi-

    nhoso e infraespinhoso, tem importante fun-

    o estabilizadora do ombro sendo priorizado

    nas reparaes por enxerto ou por neurotiza-

    o direta com o nervo espinhal acessrio ( XI

    par craniano ).

    O nervo frnico formado pelas razes de

    C3 e C4 , localizado mais anteriormente em

    relao ao plexo, em geral sobre a borda an-

    terior do escaleno anterior. Este nervo serve

    Fig.1 - Representao grafica do plexo braquial

  • 3de reparo anatmico durante o acesso ao ple-

    xo, devendo ser protegido, inerva o diafragma

    do lado correspondente. No paciente adulto,

    pode ser eventualmente, utilizado para neu-

    rotizao

    Distalmente, o plexo braquial d ainda

    origem a outros ramos diretos com expresso

    anatmicas que so: O nervo tracodorsal

    que inerva o msculo grande dorsal; o nervo

    subescapular superior e inferior que inervam

    o msculo subescapular e o redondo maior;

    os nervos torxicos lateral e medial, tambm

    conhecidos como peitoral medial e lateral. O

    nervo peitoral medial, pode ser fonte de neu-

    rotizao para o bceps nas avulses C5-6.

    Na sua trajetria, desde a regio cervical

    at a axilar, os elementos do plexo braquial

    esto sujeitos a diversos tipos e combinaes

    de leso por trao ou compresso. Esse fato

    torna-se evidente quando se relembra que as

    estruturas nervosas, desde seus componentes

    intraforaminais, at a formao dos diversos

    nervos na periferia, passa por numerosos aci-

    dentes osteo-ligamentares e aponeurticos

    existentes em regio de ampla mobilidade e

    fulcro de movimentos, como o segmento cer-

    vico-braquial.

    Nos traumatismos em que o ombro for-

    ado abruptamente para baixo (aduo) e ,

    principalmente, quando concomitantemente a

    cabea forada em sentido oposto, a poro

    alta do plexo braquial mais comprometida. J

    quando o membro superior forado em ab-

    duo exagerada, as razes inferiores so mais

    vulnerveis. Se os traumatismos de baixa ener-

    gia podem causar leses variveis s estruturas

    neurais, entende-se que os acidentes de maior

    energia cintica, podem causar estiramentos

    graves, roturas ou avulses, associadas ou no a

    leses vasculares e ou osteo-ligamentares.

    Estudos anatmicos tm demonstrado a

    presena de tecido de ancoragem das razes

    superiores nos formes vertebrais, mais resis-

    tente nas razes de C5 e C6 este arranjo anat-

    mico, sugere que as razes inferiores esto mais

    sujeitas a avulso que as superiores, as quais,

    sofrem mais leses por estiramento ou rotura

    em continuidade aps o formen vertebral.(2)

  • 4HISTRIA E EXAME FSICO

    PERTINENTES

    A leso em geral causada por traumatismos

    envolvendo acidentes ou colises de motocicle-

    ta, bicicleta, automveis , atropelamentos, que-

    das de altura, quedas de objetos sobre o ombro

    e acidentes industriais com maquinaria pesada.

    Mais freqentemente acomete indivduo jovem

    e do sexo masculino, quanto maior a velocidade

    ou energia cintica, mais grave costuma ser a le-

    so do plexo e das estruturas associadas.

    Ao avaliarmos um quadro na fase aguda,

    necessrio verificar o nvel de conscincia do pa-

    ciente, assim como, examinar os outros mem-

    bros para se afastar leses do S.N.C ou da coluna

    cervical que podem simular uma leso do plexo

    braquial.

    Nos casos crnicos o tempo de leso e os tra-

    tamentos prvios realizados tm importncia

    prognstica

    As leses do plexo braquial podem ser par-

    ciais ou totais.

    Fig.2A Leso parcial C5-6-7, mo preservada

    Fig.2B Leso total, paralisia completa

  • 5As leses parciais podem ser do tipo alta,

    quando acometem as razes C5,6 e 7 ou baixa

    quando C8,D1 encontram-se fora de funciona-

    mento. Nas leses altas, paralisia de Erb, em que

    h perda dos movimentos do ombro e da flexo

    do cotovelo (C5,6) e da extenso do cotovelo,

    punho, polegar e MF dos dedos (C7), existe pre-

    servao da musculatura intrnseca e de parte da

    musculatura extrnseca da mo. Estas so muito

    mais freqentes do que as parciais baixas, parali-

    sia de Klumpke, cujo quadro motor e sensitivo

    inverso, com acometimento da mo (C8,D1).

    Nas leses totais ou completas, so caracte-

    rizadas por um membro balante decorrente da

    perda completa da motricidade e por anestesia

    total do membro superior, exceto na face interna

    do brao (T2), decorrentes da ausncia da fun-

    o das cinco razes do plexo braquial, so apa-

    rentemente mais freqentes que as parciais. (3)

    importante observar que nem todos os ele-

    mentos podem sofrer o mesmo grau de leso,

    na maioria dos pacientes avulso, rotura e esti-

    ramento coexistem em diferentes razes, troncos

    ou segmentos distais.

    O sinal de Horner, caracterizado pela presen-

    a de miose, anidrose, enoftalmia e ptose palpe-

    bral, no lado afetado, indica leso severa das ra-

    zes de C8 e T1, estando fortemente correlacio-

    nado com avulso de uma ou de ambas as razes

    inferiores, resulta da leso do ramo comunicante

    de T1 com o gnglio estrelado.(2) Este pode estar

    presente imediatamente, mas ocasionalmente

    pode no estar bem identificado at 3 ou 4 dia

    da leso.

    Fig.3 - Representao dos diferentes graus de leso das razes e dos troncos.(Modificados de Wilgisefs. Nerve graft to the braquial plexus. In AAOS symposium on microsurgery pratical use in orthopaedics. Ed CV mosby co. St louis, 1977:193).

  • 6A dor severa na extremidade anestsica tam-

    bm um sinal de mau prognstico e avulso ra-

    dicular. A dor freqentemente descrita como

    constante, profunda e incomodativa ou em quei-

    mao, pode ser exacerbada intermitentemente e

    no ceder com analgsicos comuns. Pode persistir

    por anos, em muitos pacientes, tende a dimi-

    nuir a um nvel tolervel com o tempo. A dor da

    avulso se origina na medula, portanto no pode

    ser tratada pela cirurgia ao nvel do plexo bra-

    quial, nem to pouco com amputao do mem-

    bro paraltico. No entanto, nas reas em que h

    continuidade fibrtica de leses mistas ao nvel

    das razes, troncos e ramificaes, as liberaes e

    reconstrues ps traumticas podem explicar a

    melhora referida por muitos pacientes aps a ci-

    rurgia. Os recursos de clnica especializada de dor

    devem ser utilizados nos pacientes com queixa

    mais severas, visando evitar a cronificao com

    corticalizao do quadro doloroso. Em casos ex-

    tremos, procedimentos ao nvel do sistema ner-

    voso central, com a eletrocoagulao do corno

    posterior da medula (DREZ), pode ser avaliados

    com o devido critrio, j que o ndice de compli-

    caes pode ser alto.(4)

    A presena de postura anormal da cabea e

    pescoo, caracterizada pela projeo da cabea e

    pescoo para o lado so, sinal conhecido como

    posio de danarina balinesa, indica desbalan-

    o da musculatura paravertebral por denervao

    dos msculos profundos do pescoo do lado so,

    esta fortemente correlacionado com leso severa

    como avulso das razes.

    Nos pacientes que se apresentam na fase

    aguda com uma leso por trao do plexo bra-

    quial a regio supraclavicular pode apresentar

    aumento de volume, edema e equimose. Com

    o passar do tempo o edema vai sendo substi-

    tudo por uma tumefao localizada especifi-

    camente na topografia do plexo, que tende a

    desaparecer deixando dor palpao profunda.

    Fig.4 - Sndrome de Honer: miose (pupila pequena), enoftalmia (depresso do globo ocular), pitose palpebral (queda da palpebra)paciente do Drs Bertelli e Ghizoni, UNISUL Tubaro - Santa Catarina.

  • 7O teste de Tinel ( presena sensao de

    choque a percusso ), quando presente na fos-

    sa supraclavicular, aps as primeiras semanas,

    evidencia que h alguma regenerao axonal

    proximal (leso ps-ganglionar), quando a ir-

    radiao se dirige para o ombro e borda radial

    da mo dedos polegar e indicador correspon-

    de ao dermatomo raiz C5 e C6. As razes C8 e

    T1 localizam-se mais caudal e profundamente

    com resposta menos evidencivel para borda

    ulnar da mo, no deve ser empregado for-

    a na percusso local. Millesi(5) considera a

    presena do teste de Tinel como o parmetro

    mais animador e decisivo para a indicao do

    tratamento cirrgico.

    A estabilidade gleno-umeral deve ser ava-

    liada, pois luxao do ombro ocorre freqen-

    temente associada com o trauma que causou

    a leso do plexo braquial, alm disso, luxao

    inferior pode estar presente em avulso do

    nervo axilar dentro do msculo deltide ou

    leso no espao quadrangular, o que deve ser

    diferenciado de uma leso supraclavicular das

    razes superiores do plexo, podendo as leses

    em ambos os nveis ocorrerem associadas.

    O pulso radial e o estado da circulao do

    membro dever sempre ser avaliado. Pode

    haver associao de trombose ou at mesmo

    rotura da artria subclvia ou axilar, que tra-

    duz tambm a gravidade da leso traumtica

    ocorrida, com necessidade de investigao e

    possvel interveno vascular em carter de

    urgncia. No entanto, a circulao distal

    freqentemente, compensada pela circulao

    colateral da cintura escapular. Se o prognsti-

    co motor distal da leso for pobre, no haver

    tambm grande demanda arterial na regio,

    podendo dispensar cirurgias de reconstruo

    vascular, nas leses fechadas. A interveno

    vascular prvia na mesma rea da interveno

    neurolgica do plexo deve ser evitada devido

    a fibrose acentuada, a qual poder prejudi-

    Fig.5 - Pesquiza do teste de tinel na regio supra escapular

  • 8car a ambas no caso de uma nova explorao.

    Nos casos de emergncias com desvasculari-

    zao, todo o esforo deve ser feito para que

    as equipes vascular e microcirrgicas, atuem

    simultnea ou subseqentemente no mesmo

    ato cirrgico. Se no for possvel a reparao

    plexual, as leses agudas encontradas devem

    ser demarcadas em mapas, ou mesmo local-

    mente com uso de marcadores metlicos, ou

    pontos de sutura com fios coloridos inabsorv-

    veis (p.ex. Prolene ou Nylon 3.0 cortado lon-

    go) como parte importante, do planejamento

    para reconstrues secundrias.

    Mesmo na ausncia de qualquer leso arte-

    rial, o membro denervado ter uma sensao

    fria ao paciente, podendo se apresentar com

    temperatura diminuda e colorao azulada

    ao examinador. A supresso da inervao sim-

    ptica pela leso deixar a pele seca.(19)Altera-

    es trficas cutneas das extremidades ten-

    dem surgir nos casos evoludos.

    importante a investigao do funciona-

    mento do msculo serrtil, inervado pelo

    nervo torcico longo, formado direto a par-

    tir das razes de C5, C6 e C7, que mantm a

    escpula junto ao trax, a disfuno isolada

    deste leva a deformidade chamada escpula

    alada. Bertelli(6) descreveu o teste da Protao,

    que o movimento anterior da cintura esca-

    pular executado pelas digitaoes superiores

    do trapzio, inervadas por C5 nervo toraxi-

    co longo testado com o paciente deitado que

    tenha os peitorais paralisados pela leso e o

    trapezio nao acionado durante o exame.

    Fig.6 - Teste da Protao: o paciente e instrudo a descolar a escapula do leito, eviando a ativao do trapezio. (Bertelli Ja, Ghizoni Mf. Leses Traumticas Do Plexo Braquial. In Pardini Eds. Traumatismos da Mo 4Ed. Medbook 2008: 377-409).

  • 9O msculo romboide, testado pela retro-

    pulsao do brao com o cotovelo fletido man-

    tido na regio dorsal inervado pelo nervo

    escapular dorsal que se origina de C5, pro-

    ximalmente ao tronco superior deve ser tam-

    bm testado, embora possa vir de C4.

    A presena de ambos fala a favor da pos-

    sibilidade existncia de um coto da raiz C5

    ou C5 e C6 disponvel em condies de ser

    reparado.

    O exame muscular e sensitivo do membro

    superior acometido deve ser realizado e devi-

    damente registrado de forma a ser comparado

    com avaliaes futuras. A sensibilidade deve

    tambm ser acuradamente e rapidamente tes-

    tada, por meio do toque de um objeto agudo

    e rombo, nos diferentes dermtomos. Um ob-

    jeto muito pontiagudo, como uma agulha de

    injeo, no deve ser utilizado para este fim.

    Existem muitos modelos e mapas da inerva-

    o motora e sensitiva para a localizao e en-

    tendimento das leses nervosas como a ficha

    de avalio da Clinica Mayo, Shin(7) .

    Fig.7 - Teste do musculo romboide. A contyracso muscular pode ser observada e palpada quando o paciente tyenta empurrar para traz contra resistencia o seu brao,com a mo no dorsoe o cotovelo fletido a 90 modificado de Tubiana R. Examination of the Hand & Upper Limb. Philadelphia WB Saunders co, 1984:135)

  • 10

    Fig.8 - Componentes motores e sensitivos de cada grupo muscular inervado pelo plexo braquial so abordados. Utiliza a a escala de fora do british medical research concil. Giuffre JL, Kakar S, Bishop AT, Robert J. Spinner RJ, Shin AY - J

    Hand Surg 2010;35A:678688. Escala utilizada na Clnica Mayo.

  • 11

    Os dados colhidos no exame devem ser

    registrados em folha especfica para compa-

    rao em futuras avaliaes, e para preparo

    pr operatrio. A ficha introduzida por Merle

    dAubigne, que combina os dados do exame

    muscular, sensitivo utilizando a tabela do Bri-

    tish Medical Consul e outros achados pode

    ser utilizada para anotar estes dados de avalia-

    o e evoluo dos pacientes com leso trau-

    mtica do plexo braquial.(8)

    FIG 9

    Fig.9 - ficha de avaliaao neurologica do plexo braquial indroduzida por Merle DAlbigne e Deburge-Revue de chirurgie ortopdique 1967,53:23, modificada por Narakas.

  • 12

    EXAMES COMPLEMENTARES

    Na avaliao necessrio se realizar radio-

    grafias da coluna cervical, trax, clavcula e

    escpula, para se avaliar a possvel presena

    de fraturas associadas. A radiografia de trax

    dever incluir uma incidncia em inspirao e

    uma em expirao, para se determinar a ativi-

    dade do diafragma. A paralisia diafragmtica

    indicativa de grave leso das razes superio-

    res do plexo braquial, devido a acometimento

    associado do nervo frnico. A presena de fra-

    turas dos processos transversos nas radiogra-

    fias da coluna cervical denotam leso por alta

    energia, e consequentemente um prognstico

    menos favorvel.

    O avano progressivo das tcnicas moder-

    nas de imagem e a especializao profissional

    vem cada vez mais aumentoa possibilidade de

    prever a leso que o cirurgio ir encontrar na

    explorao. A tradicional mielografia contras-

    tada tem sendo substituda pelos exames de

    tomografia computadorizada (mielotomogra-

    fia) ou pelo exame de ressonncia magntica.

    A presena de pseudomeningocele tm

    sido fortemente correlacionada com avulso

    das razes correspondentes, embora no seja

    patognomnica, pois a imagem indica que a

    duramater foi tracionada, e no propriamente

    da raiz. Se estes exames so realizados poucos

    dias aps o acidente, podem levar a um alto

    ndice de falsos-positivos, porque o contraste

    pode vazar por pequenas laceraes da dura,

    no necessariamente associadas com avulso

    de raiz. Outras evidncias de leso severa in-

    cluem: aparncia vazia da bainha da raiz e des-

    vio da medula em relao a linha media do

    canal vertebral.

    O exame de ressonncia magntica deve ser

    realizado com bobina de superfcie para ob-

    ter melhor resoluo das imagens. O estudo

    deve compreender as regies cervical e supra-

    -clavicular, nos planos coronal, axial e sagital,

    com cortes finos isto , em torno de 4 mm. A

    ressonncia visa evidenciar no s a avulso

    de razes, bem como o espessamento e agru-

    pamento da poro supra-clavicular da leso

    correspondente ao neuroma, alm de avaliar,

    a integridade dos vasos subclvios e estrutu-

  • 13

    ras musculares adjacentes. um mtodo de

    imagem no invasivo, no utiliza irradiao

    ionizante nem contraste.

    Os estudos eletrofisiolgicos so impor-

    tantes na avaliao e evoluo do paciente.

    Eles compreendem a Eletroneuromiografia

    (ENMG) e os Potenciais Evocados Somato

    Sensitivos (PESS).(9) A ENMG a avaliao

    do estado funcional da unidade motora e

    constituda pela eletroneurografia(ENG) que

    o estudo da conduo sensitiva e motora;

    e pela eletromiografia (EMG), que o estu-

    do da fibra muscular atravs de eletrodos de

    agulha. Enquanto a ENG pode produzir in-

    formaes bastante precoces, a EMG deve-

    r ser realizada em um mnimo de 21 dias,

    prazo equivalente ao trmino da degenerao

    walleriana. A ENMG permite identificar, lo-

    calizar e quantificar as leses dos nervos pe-

    rifricos; um do exemplos mais importantes

    de sua aplicao a deteco de avulso de

    razes (leso pr-ganglionar), onde respostas

    sensitivas normais na presena de anestesia

    no dermatoma correspondente, sugerem que

    os axnios continuam ligados aos corpos das

    clulas situados no gnglio da raiz dorsal, e

    que a via sensitiva est interrompida logo aci-

    ma do referido gnglio. O PESS so obtidos

    pela estimulao dos nervos ou dermtomos,

    com a captao das respostas produzidas na

    medula ou crtex sensitivo atravs de eletro-

    dos de superfcie. Assim como a ENG, os

    PESS podem fornecer informaes, no de-

    pendendo da concluso do processo de dege-

    nerao walleriana. Ambas tcnicas podem ser

    executadas no ato cirrgico, sendo uma das

    principais aplicaes do PESS a avaliao da

    continuidade eltrica de uma raiz traumatiza-

    da ou coto proximal desta, feita durante a fase

    de explorao na cirurgia do plexo braquial.

  • 14

    CLASSIFICAES

    Embora as leses do plexo braquial possam

    ocorrer em uma grande variedade de circuns-

    tncias, Leffert props uma classificao base-

    ada no tipo de leso: (10)

    I - Leso aberta do plexo braquial

    II - Leso fechada ( trao ) do plexo braquia

    A - Supraclavicula

    1 - Supra-ganglinica

    2 - Infra-ganglinica

    B - Infraclavicular e Subclavicular

    C - Combinada

    D - Paralisia ps-anestsica

    III - Leso por Radiao do plexo braquial

    IV - Paralisia Obsttrica

    Millesi enfatiza a classificao em nveis da

    leso nervosa que pode ser supra-ganglinica(

    pr-ganglionica), infra-ganglinica( ps-gan-

    glinica ), leses dos troncos e cordes. Qual-

    quer combinao entre estas formas podem

    ocorrer.(11)

    Nvel 1 - Leses supra-ganglinicas, proxi-

    mal ao gnglio espinhal. As razes so avulsio-

    nadas da medula. As fibras motoras degene-

    ram porm as sensitivas mantm condutivida-

    de para impulsos aferentes. No h formao

    de neuroma e o teste de Tinel est negativo.

    No h alteraes do sistema nervoso vegeta-

    tivo, pois a conexo com o gnglio simptico

    permanece intacta. A musculatura paraverte-

    bral cervical mostra evidncias de denervao.

    Nvel 2 - Leses infra-ganglinicas, perif-

    ricas ao gnglio espinhal. Os axnios motores e

    sensitivos degeneram, h perda da condutivi-

    dade eltrica sensitiva e motora. H formao

    de neuroma e o sinal de Tinel esta presente, in-

    dicando regenerao proximal. Os msculos

    que recebem inervao direta por nervos que se

    originam mais proximalmente no plexo, apre-

    sentam alguma funo motora. Ex: msculo

    serrtil anterior - nervo torcico longo, mscu-

    los romboides - nervo escapular dorsal.

  • 15

    Nvel 3 - Nas leses dos troncos e cordes

    h formao de neuroma a nvel supra e in-

    fra- clavicular com teste de Tinel positivo e

    perda da condutibilidade sensitiva e motora.

    Alm do serrtil anterior e do romboide, os

    msculos supra e infra-espinhos podero estar

    intactos - nervo supra-escapular - (ramo dire-

    to do tronco superior).

    Nvel 4 A leso isolada abaixo dos cor-

    des ou a combinao entre leses supra e

    infra claviculares pode ocorrer com do nervo

    musculocutneo na entrada do msculo cora-

    cobraquial, do axilar no espao quadrangular

    de Velpeau e do supra escapular no noth de

    escpula.

  • 16

    BIBLIOGRAFIA

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