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Sacramentos do Batismo e da Crisma 1 Alguns aspectos dos sacramentos do Batismo e da Crisma Curso promovido pela Comissão de Liturgia da Região Sé - 27 e 28/08/13 1. Evolução histórica na Igreja primitiva: “O poder da cruz de Cristo (1Cor 1,17) expande-se no mundo através do batismo celebrado continuamente no Corpo de Cristo, repleto do Espírito, que é a Igreja. O batismo não é metáfora representada, baseada na cruz: é o poder da cruz tornado atual entre os que crêem. O batismo é assim a faceta mais imediata do evangelho que leva Paulo a pregar”. 1.1 Vemos nas cartas de Paulo, como em João ou em os outros autores do Novo Testamento , que as referências ao batismo são mais alusivas que descritivas. Assumindo a existência de padrões batismais, estes autores se preocupavam principalmente com refletir sobre padrões que conheciam, e menos com relatar como esses padrões eram levados a efeito em pormenor. Este fato, todavia, não nos deixa inteiramente às escuras sobre os pormenores dos ritos batismais durante o período do Novo Testamento. Conhecemos, em primeiro lugar, alguns pormenores específicos acerca de várias abluções, purificações, e “batismos” no judaísmo, dos quais surgiram, sem dúvida, as práticas cristãs. Em segundo lugar, as alusões dos autores do Novo Testamento por vezes sugerem pormenores sobre a execução do rito. E em terceiro lugar, porque os documentos do Novo Testamento não foram produzidos de uma só vez, mas emitidos pelo espaço de talvez três gerações, depois da morte de Jesus, podemos descobrir neles crescimento da prática batismal que nos leva aos primeiros anos do século II, quando outros testemunhos, como a Didache(c. 100) e Justino Mártir (C. 150) dão mais pormenores, ao descreverem a estrutura de iniciação como um todo. No período apostólico tanto o batismo na água como a efusão do Espírito são necessários, assim como ambos seguem a proclamação da ressurreição e exaltação de Jesus (Kerigma). Estes três eventos - proclamação, batismo e descida do Espírito - constituem a integridade de iniciação na comunidade de fé, o lugar do Espírito, que é a Igreja. 1.2 Características fundamentais da etapas de iniciação : Em primeiro lugar, tanto em sequência como em importância, a proclamação do Evangelho (no mais alto grau de sua integridade por uma testemunha ocular da vida e morte, ressurreição e glorificação do Senhor) precede sempre o batismo. Em segundo lugar, espera-se que a reação normal dos que ouvem o evangelho proclamado seja a conversão para a fé no Senhor exaltado. Esta conversão é por vezes de tal qualidade a ser acompanhada pela efusão manifesta do Espírito mesmo antes do batismo, especialmente se os ouvintes já pertencem a uma tradição batista pré-pascal e recebem o evangelho de uma testemunha ocular apostólica, que pode unir os ouvintes em si mesmo com a comunidade pentecostal de Jerusalém. Quando faltam estas condições, mesmo a pregação apostólica precedendo a conversão, e o batismo seguindo-a, não basta para suscitar a efusão do Espírito (Por exemplo, At 8, 4-17, em que a pregação e batismo de Filipe entre os samaritanos tiveram que ser completados por Pedro e João, como enviados da comunidade de Jerusalém. Sob esse enfoque, pode ser significativo o fato da narração do batismo do eunuco etíope, por Filipe, não mencionar nenhum fenômeno pneumático resultante dele, a não ser que Filipe, não o eunuco, “foi arrebatado” pelo Espírito do Senhor). Em terceiro lugar, o evangelho proclamado e aceito tem geralmente por consequência o próprio banho batismal. Às vezes, uma efusão se segue à proclamação, como vimos, frequentemente ligada à imposição das mãos sobre o recém-batizado por um apóstolo. Esse fato não diminui, de modo algum, o batismo na água, nem sugere que o batismo na água e o “batismo no Espírito” fossem

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Sacramentos do Batismo e da Crisma

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Alguns aspectos dos sacramentos do Batismo e da Crisma

Curso promovido pela Comissão de Liturgia da Região Sé - 27 e 28/08/13

1. Evolução histórica na Igreja primitiva:

“O poder da cruz de Cristo (1Cor 1,17) expande-se no mundo através do batismo celebrado continuamente no Corpo de Cristo, repleto do Espírito, que é a Igreja.

O batismo não é metáfora representada, baseada na cruz: é o poder da cruz tornado atual entre os que crêem.

O batismo é assim a faceta mais imediata do evangelho que leva Paulo a pregar”.

1.1 Vemos nas cartas de Paulo, como em João ou em os outros autores do Novo Testamento, que as referências ao batismo são mais alusivas que descritivas. Assumindo a existência de padrões batismais, estes autores se preocupavam principalmente com refletir sobre padrões que conheciam, e menos com relatar como esses padrões eram levados a efeito em pormenor. Este fato, todavia, não nos deixa inteiramente às escuras sobre os pormenores dos ritos batismais durante o período do Novo Testamento. Conhecemos, em primeiro lugar, alguns pormenores específicos acerca de várias abluções, purificações, e “batismos” no judaísmo, dos quais surgiram, sem dúvida, as práticas cristãs. Em segundo lugar, as alusões dos autores do Novo Testamento por vezes sugerem pormenores sobre a execução do rito. E em terceiro lugar, porque os documentos do Novo Testamento não foram produzidos de uma só vez, mas emitidos pelo espaço de talvez três gerações, depois da morte de Jesus, podemos descobrir neles crescimento da prática batismal que nos leva aos primeiros anos do século II, quando outros testemunhos, como a Didache(c. 100) e Justino Mártir (C. 150) dão mais pormenores, ao descreverem a estrutura de iniciação como um todo.

No período apostólico tanto o batismo na água como a efusão do Espírito são necessários, assim como ambos seguem a proclamação da ressurreição e exaltação de Jesus (Kerigma). Estes três eventos - proclamação, batismo e descida do Espírito - constituem a integridade de iniciação na comunidade de fé, o lugar do Espírito, que é a Igreja.

1.2 Características fundamentais da etapas de iniciação:

Em primeiro lugar , tanto em sequência como em importância, a proclamação do Evangelho (no mais alto grau de sua integridade por uma testemunha ocular da vida e morte, ressurreição e glorificação do Senhor) precede sempre o batismo.

Em segundo lugar, espera-se que a reação normal dos que ouvem o evangelho proclamado seja a conversão para a fé no Senhor exaltado. Esta conversão é por vezes de tal qualidade a ser acompanhada pela efusão manifesta do Espírito mesmo antes do batismo, especialmente se os ouvintes já pertencem a uma tradição batista pré-pascal e recebem o evangelho de uma testemunha ocular apostólica, que pode unir os ouvintes em si mesmo com a comunidade pentecostal de Jerusalém. Quando faltam estas condições, mesmo a pregação apostólica precedendo a conversão, e o batismo seguindo-a, não basta para suscitar a efusão do Espírito (Por exemplo, At 8, 4-17, em que a pregação e batismo de Filipe entre os samaritanos tiveram que ser completados por Pedro e João, como enviados da comunidade de Jerusalém. Sob esse enfoque, pode ser significativo o fato da narração do batismo do eunuco etíope, por Filipe, não mencionar nenhum fenômeno pneumático resultante dele, a não ser que Filipe, não o eunuco, “foi arrebatado” pelo Espírito do Senhor).

Em terceiro lugar, o evangelho proclamado e aceito tem geralmente por consequência o próprio banho batismal. Às vezes, uma efusão se segue à proclamação, como vimos, frequentemente ligada à imposição das mãos sobre o recém-batizado por um apóstolo. Esse fato não diminui, de modo algum, o batismo na água, nem sugere que o batismo na água e o “batismo no Espírito” fossem

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formas litúrgicas em competição nas comunidades cristãs primitivas. Antes, o fato sublinha o caráter fundamentalmente pneumático de toda prática batismal pósnumerosos outros batismos tanto do judaísmo como do paganismo. Parece devem ser lidos sobre esse fundo.

Em quarto lugar, há acontecimentos que se seguem ao batismo na água. A lista relatada mais patente destes está em At 2,42: (didache), à comunhão fraterna ((proseuchais)”. Em outras palavras, o que se seguia da proclamação apostólica, conversão, batismo em água e no Espírito - todo o processo iniciatório vivendo por ensinamento apostólico, em união com testemunhas apostólicas do Senhor ressuscitado, que é glorificado e se tornou Espírito de vida para o seu povo, pela oração eucarística em casa, e prece impetratória na sinagoga. Os eventos reguma série de acabamentos específicos litúrgicos de um rito de água apenas parcial, mas pleno e rigoroso engajamento na própria Igreja: toda uma nova ética e modo de vida.

Em suma, podemos concluir que a base lógicristianismo é algo como se segue. ressuscitado e glorificado, e pela conversão, o batismo no Espírito, por água pelas mãos apostólicas, inicia o indivíduo na vida plena da comunidade, na qual o evangelho começou a ser práxis. Este é o terreno comum que serve como ponto de articulação paramultivalentes que entram no contínuo iniciatório.

Enfim, apesar de todo desenvolvimento da iniciação cristã nestes dois mil anos, seu núcleo ainda se centraliza na proclamação, conversão e batismoprimitivas em obediência ao mandato do Senhor: nações”. Vamos ver, através dum desenho ilustrativo e quadro esquemático a evolução e desenvolvimento histórico do batismo e crisma como processo de InicIgreja das origens.

LINHA DO TEMPO:

PMRC Diáspora Didaché Constantino Trento Conc. Vat. II0 33 70d.C 100d.C | | | |

IGREJA PRIMITIVA

Apóstolos ���� Mártires ���� Primeiros cristãosIgrejaX Estado � Cristianismo X PaganismoCatecumenato = Evangelização Dimensões: batismal - eclesial - sacramentalEstrutura e organização comunitáriaVisão pascal renovadora

Sacramentos do Batismo e da Crisma

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formas litúrgicas em competição nas comunidades cristãs primitivas. Antes, o fato sublinha o caráter fundamentalmente pneumático de toda prática batismal pós-pascal, como distinto dos

tanto do judaísmo como do paganismo. Parece devem ser lidos sobre esse fundo.

, há acontecimentos que se seguem ao batismo na água. A lista relatada mais patente destes está em At 2,42: “Eles mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos

hão fraterna (koinonia), à fração do pão (klaseitouartouEm outras palavras, o que se seguia da proclamação apostólica, conversão, batismo

todo o processo iniciatório - era vida numa comunidade repletavivendo por ensinamento apostólico, em união com testemunhas apostólicas do Senhor ressuscitado, que é glorificado e se tornou Espírito de vida para o seu povo, pela oração eucarística em casa, e prece impetratória na sinagoga. Os eventos regulares pós-batismais neste período não são uma série de acabamentos específicos litúrgicos de um rito de água apenas parcial, mas pleno e rigoroso engajamento na própria Igreja: toda uma nova ética e modo de vida.

Em suma, podemos concluir que a base lógica que une a estrutura iniciatória primitiva do cristianismo é algo como se segue. Precedido por autêntica proclamação do ressuscitado e glorificado, e pela conversão, o batismo no Espírito, por água pelas mãos apostólicas, inicia o indivíduo na vida plena da comunidade, na qual o evangelho começou a ser

. Este é o terreno comum que serve como ponto de articulação paraentram no contínuo iniciatório.

Enfim, apesar de todo desenvolvimento da iniciação cristã nestes dois mil anos, seu núcleo ainda se proclamação, conversão e batismo em sua plenitude pascal, como fizeram a

primitivas em obediência ao mandato do Senhor: “Ide, batizai, e fazei discípulos em todas as Vamos ver, através dum desenho ilustrativo e quadro esquemático a evolução e

desenvolvimento histórico do batismo e crisma como processo de Iniciação cristã, desenvolvido na

(Bibliografia: “Batismo, rito da iniciação cristã

PMRC Diáspora Didaché Constantino Trento Conc. Vat. II100d.C 314d.C XVI

[ | ] IGREJA PRIMITIVA IGREJA DA CRISTANDADE

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Primeiros cristãos Religiosos + Clero + PovoCristianismo X Paganismo Igreja + Estado

Sociedade cristã + Cultura pagãsacramental Dimensão: social

Estrutura e organização comunitária Estrutura e organização piramidalVisão formal, parcial, jurí

Sacramentos do Batismo e da Crisma

formas litúrgicas em competição nas comunidades cristãs primitivas. Antes, o fato sublinha o pascal, como distinto dos

tanto do judaísmo como do paganismo. Parece que At 10, 44-48 e 11,5

, há acontecimentos que se seguem ao batismo na água. A lista relatada mais “Eles mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos

klaseitouartou), e às orações Em outras palavras, o que se seguia da proclamação apostólica, conversão, batismo

era vida numa comunidade repleta do Espírito, vivendo por ensinamento apostólico, em união com testemunhas apostólicas do Senhor ressuscitado, que é glorificado e se tornou Espírito de vida para o seu povo, pela oração eucarística

batismais neste período não são uma série de acabamentos específicos litúrgicos de um rito de água apenas parcial, mas pleno e rigoroso engajamento na própria Igreja: toda uma nova ética e modo de vida.

ca que une a estrutura iniciatória primitiva do Precedido por autêntica proclamação do Christos-Messiah

ressuscitado e glorificado, e pela conversão, o batismo no Espírito, por água pelas mãos apostólicas, inicia o indivíduo na vida plena da comunidade, na qual o evangelho começou a ser

. Este é o terreno comum que serve como ponto de articulação para todas as práticas

Enfim, apesar de todo desenvolvimento da iniciação cristã nestes dois mil anos, seu núcleo ainda se em sua plenitude pascal, como fizeram as Igrejas

“Ide, batizai, e fazei discípulos em todas as Vamos ver, através dum desenho ilustrativo e quadro esquemático a evolução e

iação cristã, desenvolvido na

Batismo, rito da iniciação cristã” - AidanKavanagh)

PMRC Diáspora Didaché Constantino Trento Conc. Vat. II XX 1962 | |

IGREJA DA CRISTANDADE

Religiosos + Clero + Povo

Sociedade cristã + Cultura pagã

Estrutura e organização piramidal Visão formal, parcial, jurídica e individualista

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2. Aspectos práticos de como era vivida a iniciação cristã dos primeiros séculos

A Igreja primitiva considerava os pecados como frutos da fraqueza humana, como próprios de um homem que está a caminho da plenitude e, embora não a possuindo plenamente, se sente atraído por ela (Vida Eterna). Na verdade o homem tem a certeza dessa vida, porque é testemunha viva da santidade de Deus, que é absoluta. No princípio, a Igreja primitiva concebia o pecado superado através do Batismo. Portanto, era muito difícil imaginar o homem regenerado pela vida batismal recair de forma grave numa situação de pecado, que o privasse definitivamente da Vida Eterna. Em consequência disso, a Igreja até aquele momento - nas primeiras gerações do cristianismo - não tinha nenhuma explicitação do Sacramento da Penitência, que não fosse o próprio Batismo. Todavia, após as dificuldades e obstáculos que foram surgindo com a expansão do cristianismo primitivo (perseguições internas e externas de ordem pessoal, familiar e social, ou desânimos causados pelos longos períodos de sofrimentos, aliada a desesperança e falta de perspectiva do futuro, sobretudo acirrada em face dos martírios) propiciou situações graves na comunidade cristã, tais como: apostasia, homicídio e adultério público que obrigou a Igreja primitiva a instituir aos poucos o Sacramento da Penitência, qual “segundo Batismo”.

Os pecados de morte (apostasia, adultério, homicídio), eram considerados a negação do Caminho cristão. As quedas ou caídas eram consideradas próprias da realidade débil do homem, salvo as que foram citadas acima, têm uma relação maravilhosa com a conversão. A Igreja primitiva considerava o Batismo como início da conversão (“Metanóia” - Grego, ou “Teshuva” - Hebraico) e, consequentemente, o cristão

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jamais era um homem completo, chegado e finalizado em sua caminhada. Ao contrário, é sempre um homem a caminho de conversão, no sentido de que está sempre olhando para Deus, que o conduz para a renovação completa do homem velho. O que conta não é o arrepender-se do passado, tão somente, mas muito mais colocar-se a caminho no Caminho Batismal (= processo de crescimento e amadurecimento da fé) para frente, para o futuro.

Todavia é importante saber que o homem está sempre a caminho da conversão e sente-se atraído para esta Vida plena. Ele leva consigo a certeza da existência dessa Vida que o transcende (o dinamismo da fé) e torna-se testemunho da santidade de Deus que é absoluta e habita seu coração. Decorre disso, portanto, que aquele que recebia o Batismo e a Crisma, na Igreja primitiva, tinha plena consciência que através destes sacramentos os seus pecados estavam perdoados de uma vez por todas em Cristo e não deveria jamais recair neles. Quando houve ocasião do pecado ressurgir, trazendo novamente a morte, tal qual vimos com os delitos de adultério, homicídio e apostasia, foi necessário propor o “Segundo Batismo” (=Sacramento da Penitência) para “lavar” novamente os pecados e restaurar novamente o homem. A primeira manifestação dessa recuperação penitencial se deu com a “excomunhão” da comunidade cristã, que segundo a qual agia como fator pedagógico a fim de se dar, logo em seguida, a penitência. Tudo funcionava como remédio para cura do doente, tal como faz a mãe quando corrige o filho que erra. Todavia, isso não se fazia na base da lei, mas de forma sacramental porque a Igreja, como Sacramento de salvação e do Reino, não poderia admitir um pecado grave em seu seio que significasse a completa renegação de Cristo ou o retorno à escravidão humana. Tal situação concorreria - se fosse conivência da própria comunidade cristã - como um mal que atinge o próprio corpo e a humanidade inteira. Em outras palavras, ela estaria agindo frontalmente ao contrário de sua missão: salvar os homens!

Dessa forma, reafirmando esse aspecto penitencial da conversão, se ocorresse de alguém renegar o Caminho cristão teria que ser submetido à excomunhão - como já foi dito sair da Igreja - se mandado embora temporariamente e submeter-se ao período penitencial para ser recuperado e arrepender-se do que fez a fim de se converter novamente. Esse recurso se configurava como um dom, uma nova chance, a oportunidade de uma segunda conversão propriamente do penitente. Todavia, nada isso poderia acontecer sem a mediação da Igreja: a conversão do penitente dependia da oração da Igreja e da gestação que se operava nele; para a Igreja era fundamental, através dessa excomunhão que se fazia ao penitente, a participação comunitária de toda a Igreja que se preocupava e rezava pela conversão dos penitentes, a fim de que o Espirito Santo os iluminasse na conversão e retorno ao seio da comunidade-Igreja. Todo esse processo penitencial de volta à comunidade cristã se dava no período quaresmal (Quarta feira de Cinzas) e durante a Vigília Pascal, num clima de liturgia e festa por parte de toda comunidade e assembleia reunida que acolhia os catecúmenos para o Batismo e os Penitentes para o perdão.

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PLANEJAMENTO PASTORAL DO BATISMO Igreja de Santa Margarida Maria - 2013

1. ASPECTOS ESSENCIAIS PARA A RENOVAÇÃO EM NÍVEL DE UMA INICIAÇÃO CRISTÃ:

• A evangelização deve ter a precedência sobre a administração dos sacramentos.

• Suscitar nas pessoas afastadas a necessidade de retomar o caminho da fé e a vivência dentro da nossa Igreja.

• A pastoral se desenvolverá em três momentos: � ANTES (Acolhida, entrevista e confraternização: iniciará com a participação da missa das 8h30, no 1º Domingo do mês) �� DURANTE (Formação, catequese e confraternização ocorrerá no 2º Sábado do mês das 15h às 18h) �� DEPOIS (Liturgia e rito batismal: iniciará com a missa das 8h30, no 2º Domingo do mês, e se concluirá o rito, depois da missa).

• A estruturação da pastoral definirá objetivo, método e conteúdo sob dois aspectos: preparação imediata e preparação remota.

1.1 Objetivo geral:

1.1.1 Preparação imediata para pais e padrinhos que estão interessados apenas no batismo de crianças e têm uma participação frequente em nossa Igreja;

1.1.2 Preparação remota para pessoas adultas (dentre elas, pais e padrinhos) que desejam receber os sacramentos de iniciação cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma) ou sacramento do matrimônio e estão afastadas da nossa Igreja.

1.2 Método: a pastoral do batismo, quando redimensionada em nível de uma iniciação cristã de adultos, propõe atender estas duas situações, com seus objetivos bem definidos:

1.2.1 Preparação imediata visa um grupo de pessoas previamente selecionadas na entrevista:

1.2.1.1 Católicos praticantes ou de vida sacramental regular que desejam fazer o curso para batizar;

1.2.1.2 Católicos não praticantes ou de vida sacramental irregular que apenas visam fazer o curso para batizar, sem se comprometer com a Igreja.

1.2.2 Preparação remota: visa catequizar algumas pessoas interessadas e provenientes de duas situações distintas:

1.2.2.1 Algumas pessoas que se interessaram a partir da entrevista com pais e padrinhos;

1.2.2.2 Outras pessoas da paróquia que foram convidadas e estão interessadas em receber os sacramentos da iniciação cristã (B + E + C) ou matrimônio, como foi exposto acima.

1.3 Conteúdo:

1.3.1 Preparação imediata: inscrição - catequese - liturgia

1.3.1.1 Primeiro encontro: após a missa das 8h30 do 1º domingo do mês (porta de entrada/adro da Igreja) será feito acolhida, inscrição, entrevista e confraternização (acompanhada de um kerigma);

1.3.1.2 Segundo encontro: no 2º sábado do mês à tarde será administrada algumas catequeses (palestras), com diversos temas:

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• O ser humano: a pessoa (conhecer-se a si mesmo); a família (matrimônio, filhos, educação, etc.) e sociedade (trabalho, economia, política, etc.);

• Catequese sobre a fé: a proposta de Deus e a resposta do homem;

• Sinais do sacramento do Batismo: exteriorizam e explicitam a fé.

1.3.1.3 Terceiro encontro: durante a celebração da missa dominical das 8h30 serão realizadas as partes iniciais (em três momentos) do rito do batismo, dentro da missa:

• Apresentação das crianças e de seus nomes, ao sacerdote no presbitério, através dos pais (cfr. o rito à p. 31);

• Pedido do batismo (diálogo entre sacerdote e os pais e padrinhos, como está no rito à p. 33);

• As crianças são acolhidas com o sinal da cruz (segue o rito à p. 34);

(Fazer a procissão do círio pascal e sua colocação no porta-círio)

OBSERVAÇÃO: o rito batismal pode ser apenas iniciado ou realizado completamente dentro da missa.

1.3.2 Preparação remota: visando adultos que pretendem fazer sua iniciação cristã, o estudo baseado no Catecismo da Igreja Católica e outras fontes (“O Caminho”, “Porta aberta” e “Água viva”).

2. ESTRUTURAÇÃO DA PASTORAL DO BATISMO:

2.1 Primeira fase: acolhida - entrevista - confraternização

2.1.1 Local: as pessoas interessadas serão recepcionadas no adro da Igreja e se dirigirão à sala SMM para se fazer acolhida, entrevista e confraternização (acompanhada de um kerigma);

2.1.2 Dia e hora: após a missa dominical das 8h30 (2º domingo);

2.1.3 Vagas: o número de crianças não pode exceder a ...

2.1.4 Preenchimento do cadastro dos pais e padrinhos (cf. página nº?): se houver alguma pessoa que ainda não fez sua 1ª comunhão, a crisma ou ainda não se casou poderão ser convidadas para se preparar na catequese de adultos a fim de receberem oportunamente estes sacramentos;

2.1.5 Apresentação do kerigma e conclusão com oração final: logo após devem ser dados os comunicados e os lembretes para encerrar com a confraternização;

2.1.6 A Equipe do batismo se reúne para fazer a triagem: seleciona cada situação e se determina o dia que tal pessoa irá vir fazer o encontro de formação do sábado, após prévia comunicação;

2.1.7 Divulgação e comunicação pessoal: encerrada a triagem das fichas e feito a seleção as pessoas poderão ser avisadas na secretaria paroquial.

2.2 Segunda fase: encontro de três horas com algumas abordagens (catequese - formação - estudo)

2.2.1 Hora e local: sala SMM, com entrada pelo estacionamento na Avenida Lins de Vasconcelos;

2.2.2 Dia e hora: previamente marcados durante a primeira fase (2º sábado a partir das 15h até às 18h);

2.2.3 Temas desenvolvidos: serão apresentados, num espaço de 3 horas, com intervalos correspondentes aos trabalhos de grupo, plenários e com ensaio de cantos. A disposição dos temas será:

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• O ser humano: a pessoa (conhecer-se a si mesmo); a família (matrimônio, filhos, educação, etc.) e sociedade (trabalho, economia, política, etc.);

• Catequese sobre a fé: a proposta de Deus e a resposta do homem;

• Sinais do sacramento do Batismo: exteriorizam e explicitam a fé.

2.2.4 Exposição sintética de cada tema a ser apresentado:

2.2.5 (O restante deste planejamento ainda está sendo elaborado)

O que é preciso saber sobre a CRISMA (Texto recolhido por Padre Valmir)

A. Quem e como se prepara para a Crisma?

A comunidade (Igreja) pelo exemplo de fé, pela catequese (conhecimento da doutrina) e através da celebração forma os jovens na vida cristã para receberem piedosa e dignamente o sacramento da Crisma. Dessa forma, os (as) jovens conscientes se identificam ao Cristo pelo Espírito Santo.

II. A Confirmação: sacramento do Espírito Santo

A. Leitura: ver Atos 8, 14-18;

B. Explicação do texto:

Através da leitura do texto é possível perceber uma distinção entre os dois sacramentos do Batismo e da Crisma. Os membros da comunidade de Samaria havia apenas recebido o Batismo em nome do Senhor. Quando os apóstolos lhes impuseram as mãos, eles receberam o Espírito Santo. Mediante a imposição das mãos do Bispo e a oração os (as) jovens receberão o Espírito Santo e serão confirmados como cristãos. Esse gesto além de 7onfirma-los na fé e na graça do Batismo lhes possibilitará de modo mais sensível o dom do Espírito Santo.

III. As maravilhas que o Espírito Santo realizou

O Espírito Santo é a vida, a força, a sabedoria, a ação do próprio Deus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem na mais perfeita comunhão de Amor e de Vida sendo um só Deus em três pessoas: Deus-Pai Criador é fonte de todo ser, Deus-Filho é o Salvador que veio ao mundo e se encarnou e Deus-Espírito Santo santifica e vivifica a criação.

Por obra do Espírito Santo Jesus nasceu no seio da Virgem Maria. Assim, também por sua ação se prolonga a obra salvadora de Cristo dentro dos nossos corações. O Senhor Jesus quer que nós estejamos unidos com Ele e o Pai, no Espírito Santo. Por isso, Ele nos prometeu o Espírito Santo quando partiu desse mundo para o Pai.

IV. O Espírito prometido é dado à Igreja

A. Leitura: Jo 14, 26;

B. Explicação do texto:

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Sacramentos do Batismo e da Crisma

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Estas foram às promessas de Jesus: no dia de Pentecostes, sob forma de línguas de fogo, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade reunida no cenáculo (At 2, 1-14). E, a partir daí, toda a Igreja caminhou sob a ação do Espírito Santo (Cfr. At 9,31 e At 4,31).

O Espírito Santo que habita nos fiéis, que enche e governa toda a Igreja, é quem realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e une todos tão intimamente em Cristo, de modo a ser o princípio de unidade da Igreja. É Ele quem opera a distribuição das graças e dos ministérios, enriquecendo a Igreja de Jesus Cristo com diferentes dons a fim de aparelharem os santos para a obra do ministério na edificação do Corpo de Cristo.

V. O dom sublime da Confirmação:

Ao ser crismado o sacramento opera no jovem consciente alguns efeitos:

• 1º Lugar: recebe o dom sublime do Espírito Santo.

Significado: ao ser ungido com o óleo da Crisma o Bispo dirá: “Recebe, por este sinal, o dom do Espírito Santo”. O Espírito Santo nos transmite os seus sete dons para servir a Deus, aos homens e à Igreja: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus;

• 2º Lugar: recebe uma força especial.

Significado: ela nos ajuda a vencer o mal e dar testemunho de Jesus (At 1,8);

• 3º Lugar: fica marcado com sinal indestrutível.

Significado: o Batismo imprime na alma o sinal de Filho de Deus. A confirmação imprime nela o sinal de testemunha de Cristo (Ef 4,30);

• 4º Lugar: fica perfeitamente unido a Igreja.

Significado: recebe mais luz, mais força, mais sabedoria espiritual, ou seja, quem é crismado torna-se muito mais capacitado para tornar parte ativa na Igreja;

• 5º Lugar: deve difundir e defender a fé, como testemunha de Cristo.

Significado: mais unidos à Igreja, aqueles que são crismados devem se interessar por ela. Devem difundir e defender a fé que a Igreja anuncia. Devem ajudar na evangelização, como membros conscientes da Igreja;

• 6º Lugar: chamado a participar da Eucaristia.

Significado: A Eucaristia é o sacramento central da Igreja. Aí se recebe o alimento da Palavra e do Corpo de Cristo. Aí se oferece o maior culto a Deus. E aí todos nos unimos em comunhão.

VI. Explicação da celebração do Crisma

A. Renovação das promessas do Batismo;

B. Invocação do Espírito Santo;

C. Unção com imposição das mãos;

D. Significado à luz da Bíblia.

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Orientações para a pastoral da Crisma (CNBB Nacional - Texto provisório - dezembro de 1989)

1. Reflexões teológico-históricas.

Há uma unidade íntima entre os sacramentos do batismo e da crisma de forma que não se pode compreender o segundo independentemente da primeiro. O Batismo pede a Crisma, embora tenha sentido em si mesmo: a Crisma exige, como pré-requisito, o batismo e não tem sentido sem o batismo. Originalmente ambos constituem uma unidade por seu sentido (participação no ministério pascal de Cristo) e também por seu gesto simbólico (banho e perfumar-se depois do banho).

A graça crismal é fundamentalmente a mesma do batismo: participação no ministério pascal de Cristo. Mas o ministério é uma realidade complexa que consta de vários momentos, embora esses momentos constituam uma unidade. O ministério pascal de Cristo é morte-ressurreição-ascensão-pentecostes. É, por excelência, a manifestação da Trindade na história. O evangelho de João mostra muito claramente a unidade íntima desses momentos: a morte de Jesus já é o momento de sua glorificação (cf. Jo 12,32-33) e no instante mesmo da morte “entrega o Espírito”aos que estão os pés da cruz e constituem o primeiro germe da Igreja (cf. Jo 19,30).

O batismo é participação no ministério pascal de Cristo como unidade total: participação na morte e ressurreição, mas também na efusão do Espírito. O Novo Testamento afirma sempre de novo da crisma, por ser este o sacramento do Espírito Santo. Seria querer fazer a crisma viver à custa do batismo, pois o Espírito já nos foi dado no batismo. Tampouco pode dizer-se que a crisma dá “mais” Espírito, pois não é lícito qualificar o dom de Deus. Nem dizer que o dá em maior intensidade, pois seria não levar em consideração a afirmação bíblica sobre o batismo.

A diferença entre batismo e crisma não se dá, pois, no nível do sentido do sacramento ou da graça sacramental, mas no nível da expressão significativa, no gesto simbólico. O gesto simbólico do batismo é passar pela água, como povo de Deus passou pelo Mar Vermelho, como passou da escravidão à liberdade, do não ser povo a ser povo: como Jesus passou da morte à vida. Esse gesto simbólico acentua um aspecto do mistério pascal: a participação do cristão na morte e ressurreição de Cristo, sua passagem da morte do pecado à vida nova em Cristo. É o aspecto fundamental do mistério pascal que inclui os outros e, portanto, também a efusão do Espírito, pois a vida nova mais é que o Espírito em nós.

O gesto simbólico da crisma é a unção com perfume (o crisma, óleo perfumado, na Igreja Latina: o míron, mistura de perfumes preciosos, na Igreja Orienta). O perfume evoca o “bom odor de Cristo” que se difunde onde o cristão vive (cf. 2Cor 2,15-16). Nesse sentido sugere o testemunho vivo do cristão na vida cotidiana, graças ao dom do Espírito.

No Antigo Testamento, a unção simboliza a força do espírito que impelia o ungido à missão de defender o direito e a justiça, ao anúncio da libertação (cf. Is 9,6; 11,1-5; 61,3-1). O gesto simbólico da Crisma sublinha, portanto, outro aspecto de nossa participação no mistério de Cristo: a efusão do Espírito com o decorrente envio em missão e a tarefa de dar testemunho (cf. Lc 3,21-22; 4,18-22).

A Crisma é assim o sacramento do envio, da missão, mais que da decisão ou da maturidade. Como sacramento do envio é um começo e não um ponto final. O começo da caminhada da missão é expressão através do gesto simbólico da Crisma.

Como todo sacramento, a Crisma não é uma celebração individual, mas uma celebração da Igreja como todo (a comunidade que celebra a crisma, portanto) se renova e celebra a missão que lhe foi confiada pelo Ressuscitado ao lhe dar o Espírito Santo. Por outro lado, a comunidade se compromete pelo neo-crismados que reforçarão a tarefa missionária da Igreja (Atos, cap. 2)

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Na Igreja Oriental, até hoje, batismo e crisma constituem uma unidade inseparável. A separação na Igreja Latina se deu por razões de ordem prática, não de ordem teológica. O cristianismo era inicialmente um fenômeno urbano. Cada comunidade urbana era presidida pelo bispo auxiliar por seu presbitério e pelos diáconos. A vida da comunidade se refletia nas celebrações. Assim no batismo-crisma, os presbíteros e diáconos batizavam, enquanto o bispo realizava a unção pós-batismal, confirmando o que havia sido feito. A celebração se realizava na Vigília da Páscoa. Havia duas possibilidades de solucionar o impasse: delegar toda a celebração ao presbítero ou deixar a “confirmação” por parte do bispo para outra oportunidade, quando a pessoa viesse à cidade ou o bispo visitasse o campo. A primeira alternativa foi o caminho seguido na Igreja do Oriente; a segunda, a solução encontrada na Igreja Latina.

Com a separação prática, perde-se na Igreja Latina, ao passar dos séculos, consciência da unidade dos dois sacramentos e, ao iniciar a reflexão explícita sobre os sete sacramentos (séc. XII), os teólogos foram em busca de um sentido para a Crisma, independentemente do batismo. Esquematicamente se poderiam distinguir duas tradições. Uma com raízes no bispo semi-pelagiano Fausto dos Reis (séc. V), afirma que a graça específica da crisma é a preparação do soldado de Cristo (daí o famoso “tapa” que o bispo dava no rosto do crismando depois de ungi-lo). A outra tradição, com suas origens em HrabanusMaurus (séc IX), vê o específico da crisma na capacitação para a profissão de fé pública e para o testemunho. As duas interpretações não se excluem: podem até complementar-se. Tampouco significa que estejam de todo erradas. A falta fundamental é não levar em consideração a unidade entre batismo e crisma.

Há ainda uma terceira modalidade, também tradicional, de explicar a crisma. Ela tem raízes na antropologia como também na história e fenomenologia das religiões. Há fases etárias e circunstâncias na vida humana que são experimentadas como decisivas ou perigosas e todas as religiões as ritualizam. Tais o nascimento, a puberdade, a idade adulta, o casamento, a morte... Muitos talvez considerem mais fácilexplicar a crisma antropologicamente a partir da fase etária em que hoje é administrada. Em si é possível, pois tradicionalmente (S. Tomás de Aquino) se procurou relacionar o sacramento com as diversas fases da vida, do nascimento à morte. É possível, mas não é bíblico. Inclusive porque o batismo não é o sacramento do nascimento, mas do novo nascimento que se dá ao converter-se alguém à prática de Jesus. E isso se dá ao converter-se alguém à prática de Jesus. E isso se dá em qualquer idade biológica.

Na prática pastoral da Igreja Latina a separação entre batismo e crisma se tornou ainda maior pela prática da primeira comunhão das crianças e a crisma do adolescente ou jovem. Em vez da ordem correta dos sacramentos (batismo-crisma-eucaristia), dá-se normalmente uma ordem totalmente anômala (batismo - penitência - eucaristia - crisma). O que dificulta fazer perceber que a crisma está intimamente relacionada como batismo.

2. O papel da comunidade.

A igreja é uma comunidade. E em cada comunidade eclesial “acontece” a igreja.A exemplo das primeiras comunidades cristãs (At. 2,42-47; 4,32-35), esta comunidade eclesial se caracteriza como uma comunidade fiel ao ensino dos apóstolos, à vida fraterna, à oração e celebração, ao testemunho e à vocação missionária (cf. Mt 28,18-20).

A Igreja, e, portanto cada comunidade, não pode se fechar em si mesma, mas está exatamente pelo Batismo e pela Crisma.Por isso, a Crisma é a celebração da comunidade eclesial. Seu papel é indispensável. É a comunidade que convida, prepara e envia os crismandos.

O envio é feito solenemente pelo bispo como aquele que, em nome de Cristo, pastoreia, une e confirma a comunidade.Os que recebem a Crisma são enviados a assumirem compromissos na própria comunidade eclesial e, frequentemente, em outros níveis da Igreja. Ao mesmo tempo são chamados a testemunhar o Evangelho de Cristo através de serviços em vista da transformação do mundo. A título de exemplo pode-se citar: nas escolas e universidades, no meio rural, no trabalho, na política, nos movimentos ecológicos,

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nas associações de bairro, no lazer, no Meio de Comunicação e nos mais diversos ambientes onde o cristão atua.

Esta missão anuncia a novidade do mistério de Cristo exige também uma atitude de escuta e diálogo com o mundo para perceber onde estão seus valores e legítimos anseios, para discernir onde o Espírito Santo já está atuando.

É dentro desta perspectiva que se situa a pastoral da Crisma. Esta não consiste apenas na preparação para um sacramento; mas visa à formação da comunidade eclesial e sua missão na construção do Reino de Deus.

Para conseguir este objetivo é necessário que a pastoral da Crisma faça parte da pastoral de conjunto e que integre as diversas pastorais, principalmente as que se dedicam aos jovens: catequese, juventude, vocacional... Assim se evita que a Crisma funcione à margem da caminhada da comunidade.

A preparação para crisma é uma oportunidade para envolver toda a comunidade através de celebrações, novenas,tríduos, participação de diversos setores, descoberta de novas lideranças...

Isto supõe um planejamento em que os jovens encontram espaço para atuar na comunidade e se sentem incentivados e orientados para sua atuação no mundo.

Muitas vezes, os jovens não sentem este estímulo da comunidade, menos ainda o testemunho de uma Igreja participativa e comprometida coma caminhada do povo e com o serviço do Reino.

O incentivo do pároco é importante. Que tenha um bom relacionamento com a comunidade e com os crismandos, que abra espaços para reflexões e encontros, que saiba descentralizar os poderes, criando uma igreja que possibilita o surgimento de lideranças, que acredite nos jovens, que promova uma Igreja toda ministerial.

É importante que a comunidade celebre frequentemente a ação do Espírito Santo na Igreja, não só na celebração da Crisma, mas também em outras oportunidades como: Pentecostes, dia do Catequista, Dia mundial das Vocações, Dia mundial da Juventude, Dia das Missões, em assembleias, encontros e outros eventos.

FICA UMA PERGUNTA :

O que fazer quando não há consciência de comunidade, quando a Crisma se limita só a um período de preparação para receber mais um sacramento, quando não há nenhuma pastoral orgânica?

Pode-se responder: A experiência do grupo dos crismandos vale sempre como fermento para o crescimento da comunidade local.

3. Qual a Metodologia a usar?

O que se entende por metodologia?

É a própria caminhada, a própria vida da comunidade. É o processo dinâmico, o fio condutor, o pano de fundo que vai determinar todo o andamento da pastoral da Crisma. É a metodologia que expressa à mística, a visão, o sentido, o significado da pastoral.

Existem métodos libertadores e métodos opressores. Por isso é importante o constante questionamento: Que tipo de Igreja, de comunidade, de jovens se quer formar? Repetidores de conteúdos e sistemas, submissos, alienados, desligados da comunidade,que apenas querem um rito sacramental, ou jovens

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conscientes, com senso crítico, com visão da realidade, sujeitos da história e líderes capazes de assumir os compromissos da Igreja?

É a metodologia que vai responder a estes questionamentos.A metodologia da Crisma requer:

• Organizar a pastoral da Crisma em pequenos grupos (da própria comunidade) que não ficam sós com estudos, mas que se tornam comunidades de vivência afetiva, de amizade, que leva ao compromisso;

• Partir da realidade, dos questionamentos, das experiências dos crismandos, iluminando-os com a Palavra de Deus;

• Ser participativa e dialogal;

• Seguir uma pedagogia libertadora (pessoal, grupal, comunitária, social);

• Integrar fé e vida;

• Usar o método VER-JULGAR-AGIR ou AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO para evitar só a teoria ou discussão ou só à prática sem reflexão (conteúdo). As celebrações são parte integrante deste método.

Todo processo seja preparado por uma equipe que reflita, analise, estude, acompanhe e avalie a caminhada.

(É necessário fazer uma distinção entre metodologia e didática, técnicas, recursos, dinâmicas que estão em função da metodologia).

4. Quais os temas a serem tratados?

Ao tratar dos temas que fazem parte da preparação para a Crisma, não se tem a pretensão de fazer um esquema de manual.

Não há uma sequência dividindo os assuntos em aspectos antropológicos, depois teológicos, em seguida litúrgicos e assim por diante. Todos os aspectos estão interligados e vão amadurecendo durante todo o processo.

Quando o grupo está refletindo sobre determinada realidade, esta reflexão precisa ter uma iluminação bíblica, levar a um compromisso, a uma atitude de vida, a uma espiritualidade.

Aspectos que precisam ter uma atenção na Pastoral da Crisma:

A) ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS

• Vida familiar, afetividade, personalidade, relacionamentos, libertação de amarras psicológicas, sexualidade, amizade, namoro, casamento, divorcio homossexualismo, drogas, AIDS, bebidas...

• Situação econômica, moradia, trabalho, estudo, salário, transporte...

• Formação religiosa: iniciação na fé e na vida comunitária, questionamento, decepções, religiosidade...

• Formação política, senso crítico, engajamento, militância...

• Valores éticos: direitos humanos...

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B) ASPECTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS

• Bíblia: uso e manuseio: leitura da bíblia na perspectiva “texto-comunidade - realidade”: visão geral da Bíblia, Projeto de Deus.

• Jesus Cristo: Encarnação - Revelação do PAI

Jesus no seu tempo

O Reino e sua existência (pecado)

Morte e Ressurreição

Envio do Espírito Santo

• Espírito Santo: Pentecostes (envio)

O Espírito Santo nas primeiras comunidades

O Espírito Santo na Igreja e no povo hoje

O Espírito Santo no mundo atual

• Igreja: Sinal e instrumento do Reino

Igreja - povo de Deus

Igreja - Corpo de Cristo (Comunicação, dons, carisma, ministérios)

missão da igreja no mundo (profetismo - martírio)

(vocação: humana, cristã, matrimônio, específicas)

• Escatologia: sentido da vida e da morte, vida eterna, sofrimento (unção dos enfermos), esperança...

• Maria na Igreja

• A igreja celebra o mistério pascal de Cristo: Batismo, Crisma, Eucaristia e reconciliação.

C) A DIMENSÃO ESPIRITUAL

O Espírito Santo era grande força na vida de Jesus. Deve sê-lo também do crismando.A pastoral da Crisma não só informa sobre a espiritualidade, mas quer introduzir e levar à prática de uma espiritualidade a partir da realidade conflitiva da América Latina, a partir da realidade do crismando. Precisa levar a uma profunda experiência de Deus, a um contato íntimo com o Deus vivo, à amizade com Jesus Cristo que leva ao seguimento dele. É toda uma experiência feita durante o tempo da preparação que vai motivar para uma vivência comunitária e uma atuação no mundo.

Por isto, a preparação à Crisma esteja impregnada por:

• Uma iniciação à vida de oração, acontecendo dentro dos próprios encontros através de oração de louvor e agradecimento, de preces, meditação, reflexão, interiorização, celebração. A oração não seja somente um contato com Deus em nível individual, mas perpasse ávida da comunidade e do mundo. A oração parta da vida nas suas múltiplas manifestações e situações.

• Iniciação à leitura da Bíblia como Palavra de Deus: não para conhecer, mas para escutar Deus.

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• Introdução ao devocional: saber algumas orações de cor, alguns textos bíblicos, hábitos de rezar orações tradicionais da Igreja.

• Devoção Mariana, tendo o Magnificat como fonte inspiradora.

• Procura de uma vida santa no mundo, não fugindo dele, mas assumindo seus valores e desafios.

Na preparação para a Crisma organizem-se dias de retiro, encontros de oração, etc.

5. Os padrinhos

Os padrinhos (madrinha) não são meras peças acidentais na Crisma. Através da história da Igreja tem-se valorizado a presença dos mesmos. Como eles podem ter seu sentido atualmente? Ser padrinho em seu sentido enquanto:

• Representa a própria comunidade na hora da Crisma

• É membro atuante na comunidade

• É cristão comprometido na sociedade

• Acompanha o crismando na sua caminhada de fé, como amigo e companheiro.

Nota-se que os jovens querem escolher, eles mesmos, seu padrinho (madrinha).

A comunidade prepare também os padrinhos, através de reuniões e encontros para sua tarefa.

(O código do Direito Canônico se refere aos padrinhos de Crisma nos Cân. 892 e 893 parágrafos 1 e 2)

6. Como celebrar?

Aconselha-se a celebração da crisma em etapas, através de momentos fortes durante toda a preparação.O tempo da preparação seja ao menos um ano, que não coincide necessariamente com o ano escolar. É melhor não fixar de antemão a data da Crisma, como por exemplo, à festa do padroeiro ou outra festa Litúrgica, mas que se deixe amadurecer o processo. Muitas vezes se apressa uma preparação por causa da data já fixada em detrimento do verdadeiro sentido da catequese da Crisma.

De preferência se faça à preparação e a celebração com pequenos grupos homogêneos.

Na celebração também se evite toda ostentação para não dar ao acontecimento um caráter de “formatura”.

MOMENTOS FORTES NA PREPARAÇÃO E DA CELEBRAÇÃO

a) Apresentação dos candidatos à comunidade (de preferência numa ocasião em que a comunidade está mais presente, como por exemplo a Missa dominical);

b) Uma celebração da renovação das promessas do Batismo. Pode ser feita à noite, inspirando-se na vigília pascal, com a presença do pároco, dos pais e padrinhos e membros da comunidade;

c) Uma celebração da vida da comunidade, em que se apresenta o perfil da comunidade, o que se faz, quais seus projetos, suas equipes e lideranças, tudo isto em forma de celebração;

d) Se possível, organizar-se um encontro com o Bispo. Os crismandos podem convidar o Bispo para um encontro para estreitar os laços de um modo descontraído.

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Se não for possível, os crismandos podem escrever uma carta ao Bispo, dizendo por que querem ser crismados. O Bispo pode mandar uma carta como resposta;

e) Uma celebração da reconciliação;

f) Um dia de retiro;

g) Entrega dos símbolos (Pai Nosso, Credo, crucifixo, Bíblia, vela, plano pastoral da paróquia, etc.);

h) Uma novena ou um tríduo em preparação com toda a comunidade, abordando os principais aspectos da celebração;

i) Uma vigília na noite anterior ao dia da Crisma;

j) A celebração da Crisma. Ela seja feita, de preferência, durante a celebração da Eucaristia, expressando com isto também a ligação que a Crisma tem com a Eucaristia.

Destaca-se nesta celebração:

• A apresentação dos crismandos pelos pais ou padrinhos, com algum testemunho dos agentes da Crisma ou de algum padrinho. Alguém pode acolher os crismandos em nome da comunidade.

• A imposição das mãos

• A unção com óleo

• O ósculo da paz

• O ENVIO (o Bispo leva os crismandos até a porta da Igreja, onde os envia). OBS: É impossível que, depois da celebração, o bispo tenha tempo para ficar um pouco mais com a comunidade e os crismandos.

7. Os agentes da Crisma

• Diante da grande responsabilidade dos agentes da Crisma algumas exigências devem ser feitas.

• Observa-se que os agentes tenham:

• Vivência de fé

• Maturidade psicológica

• Liderança: que sejam aceitos pelos jovens

• Conhecimento dos problemas e da psicologia da juventude

• Capacidade de dialogar

• Atuação concreta na comunidade

• Formação bíblica e doutrinal

• Maleabilidade, intuição, não se impondo, não sendo moralista.

• Boa metodologia.

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Tudo isto requer que a comunidade invista na preparação dos agentes de Crisma, evitando a improvisação de ex-crismandos ou de pessoas que tem apenas experiência de movimento ou da catequese infantil.

8. Como continuar o processo?

No processo iniciado é importante que o jovem encontre uma comunidade ou um grupo. O que garante a continuidade na comunidade é a dimensão afetiva. O próprio grupo dos crismandos pode continuar como grupo, ou eles se engajem em outros de jovens, grupos de catequistas, círculos bíblicos, CEDs, etc.

Crisma não é um ponto final, mas início de todo um processo de amadurecimento que ninguém faz sem algum tipo de comunidade.

A comunidade tem que acompanhar os crismandos, fazer de vez em quando encontros com eles. A comunidade tenha um plano de engajamento dos jovens na comunidade, abra espaço para a atuação deles, troque experiências entre paróquias e dioceses. Que haja sempre um trabalho de conjunto integrando as diversas pastorais.

Não se esqueça d acompanhar os jovens no seu engajamento político em social (sindicatos, partidos políticos, grupos ecológicos, grêmios estudantis, associações de bairro, preparação profissional...) como realização da vocação do leigo inserido no mundo.

Brasília - DF., 20 de dezembro de 1989

Linha 3 - Catequese

CNBB - Nacional

Textos recolhidos e elaborados pelo Padre Valmir Neres de Barros.