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Nota técnica discute a natureza da concorrência no setor de aeroportos e chama a atenção para sua importância no estímulo aos investimentos. Estes últimos são essenciais para superar os gargalos do setor. Como aumentar a concorrência e o investimento nos aeroportos São Paulo – maio 2013 Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais

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Nota técnica discute a natureza da

concorrência no setor de aeroportos e

chama a atenção para sua importância

no estímulo aos investimentos. Estes

últimos são essenciais para superar os

gargalos do setor.

Como aumentar a

concorrência e o

investimento nos

aeroportos São Paulo – maio 2013

Grupo de Economia da Infraestrutura

& Soluções Ambientais

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1

Ficha técnica O presente estudo consiste em obra coletiva elaborada por pesquisadores integrantes

do Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais, hospedado pela Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.

Equipe:

Gesner Oliveira – economista e professor da EAESP/FGV.

Fernando S. Marcato – Professor do Pós GV-Law da EDESP/FGV.

Pedro Scazufca – Mestre em economia pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da

FEA/USP.

Lavínia Hollanda - Engenheira Elétrica, doutora em economia pela EPGE-FGV,

Professora da FGV-RJ.

Paolo Zupo Mazzucato – Professor da Faculdade de Direito Milton Campos. Mestre

em Direito Econômico pela UFMG.

Bruno Palialol – Economista formado pela FEA - USP

João Pedro Durães Oliveira - Bacharelando da FGV-SP em Administração, na linha

de formação específica de Administração Pública.

Eduardo Quadros - Mestrando em Engenharia Mecânica pela Technische Universität

Darmstadt (Alemanha) e cursando Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo. (USP).

Guilherme Marthe – bacharelando em economia na Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo

Suzana Santana - Bacharel em Administração de Empresas formada pela

Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Marcela de Lima Altale - Advogada, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito

da Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestranda em Direito do Estado pela Faculdade

de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Sobre o Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais

O Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais constitui espaço de

interação multidisciplinar entre acadêmicos, autoridades, reguladores e empreendedores,

visando estimular o desenvolvimento sustentável.

Ao longo da última década o Grupo se reuniu regularmente para discutir diversos

temas de interesse, além de ter participado em quatro edições do Encontro Nacional de

Economia promovido pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia

(Anpec).

Entre outros trabalhos, o Grupo lançou em 2009 o livro “A Economia do

Saneamento no Brasil”, publicado pela Editora Singular. Em 2010, foi realizado o livro “O

Caso Sabesp”. Em 2013 será lançado, em parceria com o IFC-International Finance

Corporation, Manual para Redução de perdas de água e eficiência energética no setor de

saneamento.

Agradecimentos

A equipe agradece a valiosa contribuição do Professor da DIREITO GV, Caio Mario

da Silva Pereira Neto. O seu apoio foi fundamental para a melhor seleção das fontes

bibliográficas, definição da linha de pesquisa e aplicação de metodologia em direito

comparado, a qual permitiu um estudo aprofundado dos casos internacionais.

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3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 6

2 INVESTIMENTOS NO SETOR DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA SÃO INADIÁVEIS 7

2.1 COMPORTAMENTO DA DEMANDA POR PASSAGENS AÉREAS NO PERÍODO RECENTE ................................. 7

2.2 OS GARGALOS EXISTENTES NO SETOR .................................................................................................. 10

2.3 AUMENTO ESPERADO NA DEMANDA PARA OS PRÓXIMOS ANOS ............................................................ 12

2.4 O PAPEL DO SETOR PRIVADO NA ELIMINAÇÃO DOS GARGALOS ............................................................. 15

3 CONCORRÊNCIA É INDISPENSÁVEL PARA VIABILIZAR INVESTIMENTOS EM

AEROPORTOS ............................................................................................................................................ 18

3.1 CONCORRÊNCIA É ESSENCIAL PARA ESTIMULAR INVESTIMENTOS ........................................................ 18

3.2 CONCORRÊNCIA ENTRE AEROPORTOS ................................................................................................... 20

3.3 RESTRIÇÕES À PROPRIEDADE CRUZADA COMO VETOR PARA O AUMENTO DE CONCORRÊNCIA .............. 23

4 CONTROLE SOBRE PROPRIEDADE CRUZADA É FUNDAMENTAL PARA GARANTIR A

CONCORRÊNCIA ...................................................................................................................................... 28

4.1 EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL ............................................................................................................. 28

4.1.1 O caso australiano ....................................................................................................................... 28

4.1.2 O caso mexicano .......................................................................................................................... 32

4.1.3 O caso do Reino Unido................................................................................................................. 34

4.2 CASOS NO SETOR DE INFRAESTRUTURA ................................................................................................ 35

4.2.1 – Telefonia 4G .............................................................................................................................. 35

4.2.2 – Caso Telefônica / Telecom Italia ..................................................................................................... 37

4.2.3 – Energia Elétrica ............................................................................................................................... 40

4.3 NOVA COMPETÊNCIA DO CADE EM ATOS DE CONCENTRAÇÃO ............................................................ 41

4.4 EMBASAMENTO LEGAL PARA RESTRINGIR PROPRIEDADE CRUZADA ..................................................... 42

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4

5 CONCLUSÕES ............................................................................................................................................ 46

6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 48

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5

SUMÁRIO DE QUADROS

QUADRO 1 – PASSAGEIROS DE TRANSPORTE AÉREO VERSUS POPULAÇÃO ................................................................ 8

QUADRO 2 – REDUÇÃO NA TARIFA PAGA PELOS PASSAGEIROS ................................................................................. 9

QUADRO 3 – EVOLUÇÃO COMPARADA DA TARIFA AÉREA E RENDA .......................................................................... 9

QUADRO 4 – TIPOS DE GARGALOS APRESENTADOS PELOS AEROPORTOS EM 2009 .................................................. 11

QUADRO 5 – EVIDÊNCIAS DE SATURAÇÃO DOS AEROPORTOS ................................................................................. 12

QUADRO 6 – PROJEÇÃO DA DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO ............................................................................ 13

QUADRO 7 – PROJEÇÃO DA CAPACIDADE NECESSÁRIA PARA ATENDER DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO ......... 14

QUADRO 8 – PROJEÇÃO DOS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS PARA ATENDER DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO . 15

QUADRO 9 – RESUMO DAS CONCESSÕES FEITAS EM FEV/2012 ............................................................................... 17

QUADRO 10 – PRINCIPAIS ATIVIDADES EXERCIDAS NOS AEROPORTOS ................................................................... 23

QUADRO 11 – MATRIZ DOMÉSTICA DE ORIGEM E DESTINO ..................................................................................... 25

QUADRO 12 – PASSAGEIROS POR ANO NOS PRINCIPAIS AEROPORTOS BRASILEIROS ................................................ 26

QUADRO 13 – EXEMPLO DE MODELO SOCIETÁRIO PARA CONCESSÃO DE AEROPORTOS .......................................... 27

QUADRO 14 – COMPARAÇÃO DE CUSTOS POR PASSAGEIROS .................................................................................. 30

QUADRO 15 – LUCRO OPERACIONAL POR PASSAGEIRO........................................................................................... 31

QUADRO 16 – COMPARAÇÃO DE TAXAS COBRADAS NOS AEROPORTOS AUSTRALIANOS E EM OUTROS AEROPORTOS

..................................................................................................................................................................... 32

QUADRO 17 – ESQUEMA DA COMPOSIÇÃO SOCIETÁRIA .......................................................................................... 33

QUADRO 18 – A ESTRUTURA SOCIETÁRA ANTES DA OPERAÇÃO ............................................................................. 38

QUADRO 19 – ESTRUTURA SOCIETÁRIA APÓS A OPERAÇÃO.................................................................................... 38

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo desta Nota Técnica é mostrar a importância da competição para a

obtenção de bons resultados nas concessões aeroportuárias, para o que o estímulo aos

investimentos na infraestrutura aeroportuária é fundamental.

O estudo procura mostrar cinco pontos:

i) É fundamental aumentar investimentos em aeroportos;

ii) A competição é essencial para aumentar investimentos;

iii) É crucial e possível aumentar competição em aeroportos;

iv) O controle sobre propriedade cruzada é necessária para garantir a competição

entre aeroportos potencial ou efetivamente concorrentes; e

v) Há precedentes em outros países e setores e sólida base legal para controle da

propriedade cruzada.

O texto está organizado da seguinte forma. A Seção 2 mostra a urgência de acelerar

os investimentos em aeroportos. A Seção 3 mostra como se dá a concorrência entre diferentes

estruturas aeroportuárias; em particular, procura-se mostrar o aeroporto como um mercado de

duas pontas.

A Seção 4 contém as bases da jurisprudência e da legislação para o controle da

propriedade cruzada em três dimensões. Primeiro, são oferecidos exemplos da experiência

internacional; em seguida, são apresentados precedentes dos segmentos de energia elétrica e

de telecomunicações. Finalmente, é discutida a ampla base legal para controle dessa natureza.

Uma seção final apresenta as principais conclusões do estudo.

Este documento foi elaborado com base em fontes públicas, devidamente citadas ao

longo do texto.

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7

2 INVESTIMENTOS NO SETOR DE INFRAESTRUTURA

AEROPORTUÁRIA SÃO INADIÁVEIS

O objetivo desta seção é mostrar a importância de aumentar os investimentos no

setor aeroportuário. Os gargalos do setor são conhecidos e deram origem à expressão de

“apagão aéreo”. Os próximos parágrafos ilustram o descompasso entre a expansão da

demanda por transporte aéreo e a da capacidade dos aeroportos.

A Seção 2.1 explica como vem se comportando a demanda por passagens aéreas nos

últimos anos. A Seção 2.2 descreve os gargalos existentes no setor. A Seção 2.3 apresenta

projeções de demanda para os próximos anos. Por fim, a Seção 2.4 mostra os primeiros passos

dados pelo Governo Federal para eliminar esses gargalos, focando na primeira rodada de

concessões dos aeroportos de Guarulhos (GRU), Viracopos (VCP) e Brasília (BSB) ocorrida

em fevereiro de 2012.

A expectativa é a de que com as concessões dos serviços aeroportuários haja uma

rápida eliminação dos gargalos mediante salto nos investimentos privados. Porém, isso só

ocorrerá se houver uma estrutura de incentivos favorável e em particular um grau adequado

de concorrência entre os consórcios privados vencedores das licitações.

2.1 Comportamento da demanda por passagens aéreas no período

recente

O objetivo desta subseção é mostrar como vem evoluindo a demanda por passagens

aéreas no Brasil nos últimos anos. O Quadro 1 mostra a evolução comparada da população

brasileira com o número de passageiros embarcados nas aeronaves. Verificou-se crescimento

exponencial da demanda.

É possível notar que o número de passageiros cresceu mais do que à população.

Enquanto a população do Brasil aumentou pouco mais de 10%, o número de passageiros

quase triplicou no período. No período 2002-12, os números de passageiros embarcados

cresceram a uma taxa média anual de 10,8%, o que equivale a dobrar o conjunto de

passageiros transportados em um intervalo menor do que sete anos! Verificou-se pela

primeira vez no país um sinal de massificação do transporte aéreo no país.

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QUADRO 1 – PASSAGEIROS DE TRANSPORTE AÉREO VERSUS POPULAÇÃO

Fonte: ANAC.

A expansão da demanda está associada a vários fatores como a expansão da renda,

do crédito e a redução de preço das passagens aéreas e a diversificação de opções de rotas. A

redução das tarifas e o aumento dos salários são ilustrados em seguida.

Ressalte-se, por exemplo, a redução na tarifa paga pelos passageiros ao longo do

tempo, conforme Quadro 2. Em 2002, a tarifa aérea média1 paga pelos usuários foi de R$

515,17, valor esse reduzido consideravelmente ao longo dos dez anos seguintes, resultando

em uma tarifa média estimada de R$ 293,50 em 2012 (valores em reais de dezembro de

2012). Verificou-se, assim, uma queda em termos reais no valor médio da tarifa aérea de

43%! Na mesma linha, o yield da tarifa aérea doméstica2, que era de 0,85 em 2002, caiu mais

de 50%, chegando a 0,37 em 2012.

1 Tarifa Aérea Média é o valor médio pago pelo passageiro por uma viagem aérea em território brasileiro.

2 Yield Tarifa Aérea Doméstico é o valor médio que o passageiro paga para voar 1 km em território nacional.

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9

QUADRO 2 – REDUÇÃO NA TARIFA PAGA PELOS PASSAGEIROS

Fonte: ANAC. Elaboração Danielle Crema.

Essa redução na tarifa paga pelos usuários do transporte aéreo de 2002 a 2012 veio

acompanhada de um crescimento do salário mínimo real no mesmo período. O Quadro 3

mostra como aumentou o salário real, em comparação à queda na tarifa aérea doméstica real.

O salário mínimo passou de R$ 385,82 em 2002 para R$ 658,48 em 2012 em reais de

dezembro de 2012.

QUADRO 3 – EVOLUÇÃO COMPARADA DA TARIFA AÉREA E RENDA

Fonte: ANAC.

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10

A Seção 2.2 analisa o lado da oferta, mostrando como o setor aeroportuário não

conseguiu responder ao aumento da demanda do setor aéreo, indicando seus principais

gargalos.

2.2 Os gargalos existentes no setor

O objetivo desta subseção é mostrar a situação de capacidade do setor aeroportuário

brasileiro, apontando para os principais gargalos e a defasagem com relação aos padrões

internacionais.

Estudo encomendado pelo BNDES em 2009 mostra os tipos de gargalos

apresentados pelos aeroportos brasileiros. Em 19 dos 20 aeroportos considerados na análise,

já havia algum tipo de gargalo identificado em 2009, como mostrado no Quadro 4. Os

gargalos considerados foram pista, pátio e terminal de passageiros.

Praticamente todos os terminais de passageiros do país já estavam saturados em

2009. Na mesma linha, muitos pátios já apresentavam demanda superior à oferta e Congonhas

possuía limitação de pistas para pousos e decolagens. Na mesma época, havia previsão de

Guarulhos apresentar essa mesma limitação para alguns horários específicos.

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QUADRO 4 – TIPOS DE GARGALOS APRESENTADOS PELOS AEROPORTOS

EM 2009

Fonte: BNDES, cap. 3, p. 121.

Mais especificamente, o Quadro 5 detalha algumas evidências de saturação dos

aeroportos em 2009, bem como prevê qual a data máxima para que essa saturação ocorra.

Segundo estudo da Fiesp (FIESP-IDT, 2013), o número médio de pousos e

decolagens por hora no Brasil é de 38, apenas 43% da média internacional (88). Em uma

amostra de 142 países do Fórum Econômico Mundial (WORLD ECONOMIC FORUM,

2013), a qualidade dos transportes no Brasil ocupa a 134ª posição.

Fica claro que os principais gargalos apresentados pelos aeroportos brasileiros

ocorrem no lado terra, onde há o processamento de passageiros. Não obstante isso, o estudo

indicou também sinais de saturação no lado ar.

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QUADRO 5 – EVIDÊNCIAS DE SATURAÇÃO DOS AEROPORTOS

Fonte: BNDES, cap. 3, p. 124.

São claros os gargalos presentes no setor aéreo brasileiro. Esse fato aliado ao

aumento de demanda dos últimos anos torna indispensável um salto nos investimentos no

setor, de forma a eliminar as principais restrições.

A próxima seção mostra evidências do aumento de demanda esperado para os

próximos anos e, a partir daí estima os investimentos necessários para cobrir os gargalos do

setor.

2.3 Aumento esperado na demanda para os próximos anos

Esta seção apresenta estimativas de crescimento para a demanda do transporte aéreo

nos próximos anos e a partir daí estima os investimentos necessários para atender o excesso

de demanda.

O Quadro 6 apresenta como vem crescendo o número de passageiros no Brasil desde

1997. Entre 1997 e 2002, o número de passageiros cresceu a uma taxa média de 4% a.a. Da

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mesma forma, de 2003 a 2008 o número de passageiros cresceu 59%, valor superior ao

crescimento mundial no mesmo período de 35%.

QUADRO 6 – PROJEÇÃO DA DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO

Fonte: BNDES, cap. 3, p. 129.

Baseado no crescimento histórico verificado, o Quadro 7 apresenta estimativas de

demanda por passagens aéreas até 2030. Espera-se que até lá, o Brasil enfrente uma demanda

por 312 milhões de passagens aéreas, praticamente o triplo do que apresentava em 2009.

Baseado nisso, a oferta dos aeroportos brasileiros, que gira em torno de 130 milhões de

passageiros por ano precisaria mais do que dobrar para atender o aumento na demanda.

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QUADRO 7 – PROJEÇÃO DA CAPACIDADE NECESSÁRIA PARA ATENDER

DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO

Fonte: BNDES, cap. 3, p. 125.

Fica evidente, portanto, a urgência dos investimentos nos aeroportos brasileiros.

Estima-se que seriam necessários entre R$ 25 e R$ 34 bilhões de investimentos nos vinte

principais aeroportos até 2030 para que o aumento de capacidade atenda à demanda.

O Quadro 8 detalha tais investimentos por tipo e período. A área que mais necessita

inversões são os terminais de passageiros (R$ 16– 1,4 bilhões) enquanto que os investimentos

mais vultosos (R$ 10,7 – 14,2 bilhões) devem ser feitos entre 2021 e 2030, que representa o

período em que mais aumenta a demanda de passageiros no Brasil.

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QUADRO 8 – PROJEÇÃO DOS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS PARA

ATENDER DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO

Fonte: BNDES, cap. 3, p. 126.

Está clara a necessidade de vultosos investimentos para que os aeroportos possam

comportar o aumento de demanda esperado para os próximos anos. Uma das estratégias do

Governo Federal para enfrentar esses gargalos foi conceder à iniciativa privada alguns dos

principais aeroportos do país.

A primeira rodada de concessões ocorreu em fevereiro de 2012, que envolveu os

aeroportos de Guarulhos (GRU), Viracopos (VCP) e Brasília (BSB). Há a expectativa de que

a segunda rodada de concessões ocorra ainda em 2013, envolvendo os aeroportos do Galeão

(GIG) e Confins (CFN). O desenho regulatório e concorrencial desta segunda rodada é

importante para assegurar bons resultados futuros, em especial no tocante á geração de

capacidade no setor.

2.4 O papel do setor privado na eliminação dos gargalos

O objetivo desta subseção é discutir aspectos relevantes das concessões de aeroportos

feitas ao setor privado em 2012.

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O Quadro 9 apresenta o resumo das concessões feitas em fevereiro de 2012. Nessa

rodada de concessões, os aeroportos de Guarulhos (GRU), Viracopos (VCP) e Brasília (BSB)

foram concedidos à iniciativa privada. Os contratos de concessão envolvem investimentos da

ordem de R$ 16 bilhões até 2032. Esses investimentos visam aumentar a oferta desses três

aeroportos para um total de 192 milhões de passageiros por ano, sendo que a demanda atual é

da ordem de 53 milhões de passageiros por ano, um aumento de mais de três vezes.

A licitação para a concessão do aeroporto de Guarulhos, um dos principais hubs do

país foi vencida pelo consórcio Invepar (formado pela Invepar e Airport Company South

Africa)3, por um prazo de 20 anos. O lance dado pelo consórcio foi de R$ 16,2 bilhões,

representando um ágio de 373,5%.

A licitação para a concessão do aeroporto de Viracopos foi vencida pelo consórcio

Aeroportos Brasil Viracopos (formado pela Triunfo, UTC e Egis) por um período de 30 anos.

O lance apresentado pelo consórcio teve ágio de 159,7%, totalizando R$ 3,82 bilhões.

A licitação para a concessão do aeroporto de Brasília foi vencida pelo consórcio

Inframérica (formado pela Infravix, e Corporación America) por um período de 25 anos. O

lance apresentado foi o que apresentou o maior ágio (673,4%) considerando as três

concessões, totalizando R$ 4,51 bilhões.

3 A Invepar é formada por quatro acionistas principais: OAS, com 24,44%; PREVI, com 25,56%; FUNCEF, com

25,00%; PETROS, 25,00%. A sociedade “Aeroporto de Guarulhos Participações S.A.” tem participação de 49%

da Infraero, sendo os 51% restantes divididos na proporção de 90% para a Invepar e 10% para a Airport

Company South Africa (ACSA). Disponível em: <www.ri.invepar.com.br>.

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QUADRO 9 – RESUMO DAS CONCESSÕES FEITAS EM FEV/2012

Aeroporto Consórcio

Vencedor

Tráfego em

2011

(milhões de

pax)

Tráfego

estimado em

2032

(milhões de

pax)

Duração Investimentos

estimados

Lance

vencedor /

Ágio

Guarulhos Invepar (Inverpar

+ ACSA) 29,9 53 20 anos US$ 4,6 bi

R$ 16,2 bi

/ 373,5%

Viracopos

Aeroportos Brasil

Viracopos

(Triunfo + UTC

+ Egis)

7,5 89 30 anos US$ 8,7 bi R$ 3,82 bi

/ 159.75%

Brasília

Inframérica

(Infravix +

Corporación

America)

15,3 50 25 anos US$ 2,8 bi R$ 4,51 bi

/673.4%

Fonte: ANAC. Elaboração própria.

Os primeiros passos no sentido de eliminar os gargalos do setor já foram dados. As

três concessões realizadas em fevereiro de 2012 deveriam em princípio contribuir para elevar

os investimentos nestes três importantes aeroportos brasileiros.

Na mesma linha, espera-se que em 2013 ocorram as concessões para os aeroportos

de Confins (MG) e Galeão (RJ), sendo este último de maior importância pelas características

que apresenta de hub para as companhias aéreas. É oportuno neste momento chamar atenção

para fatores que possam ser decisivos para o comportamento dos investimentos de forma a

fechar o hiato hoje existente entre a demanda e a oferta de capacidade aeroportuária. Este é o

objeto das próximas seções.

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18

3 CONCORRÊNCIA É INDISPENSÁVEL PARA VIABILIZAR

INVESTIMENTOS EM AEROPORTOS

O objetivo desta seção é mostrar como a concorrência constitui ingrediente

fundamental para estimular investimentos na infraestrutura aeroportuária. Para tanto,

discutem-se as peculiaridades da competição no setor.

3.1 Concorrência é essencial para estimular investimentos

Em mercados competitivos, a maximização do bem-estar econômico de

consumidores e de produtores se dá pelas forças do próprio mercado. O preço decorrente do

equilíbrio é o ideal (equivalente ao custo marginal), e aquele que iguala a quantidade

demandada à quantidade ofertada. Intervenções exógenas ao mercado apenas reduziriam sua

eficiência, posto que seria praticamente impossível reguladores replicarem em normas as

forças que regem a concorrência.

O mercado de um determinado bem ou serviço pode ser caracterizado como

concorrência perfeita quando nenhum dos participantes detém poder de mercado suficiente

para influenciar o preço praticado pelos agentes. O preço de equilíbrio é determinado pela

interação entre oferta e demanda, sendo a oferta o resultado da produção do conjunto das

empresas existentes nesse mercado. Independentemente da quantidade que uma determinada

empresa produza, terá que vender a sua produção ao preço de equilíbrio do mercado.

De forma geral, são necessárias cinco características para configurar esse tipo de

mercado:

i) Existência de um grande número de empresas, cada uma produzindo produtos

similares.

ii) As empresas são tomadoras de preço, e assumem que suas ações não têm

efeitos sobre o preço de mercado.

iii) Os preços são conhecidos por todos os participantes do mercado – a

informação é perfeita.

iv) Cada uma das empresas maximiza seus lucros.

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19

v) As transações têm custo zero. Compradores e vendedores não incorrem em

custos em suas operações.

O mercado de aeroportos não apresenta tais características. Dadas as elevadas

economias de escala e escopo, as estruturas aeroportuárias encerram elementos de monopólio

natural quando se considera uma determinada área específica. Não seria razoável supor a

possibilidade de um grande número de aeroportos competindo entre si.

Um mercado perfeitamente competitivo tem o pressuposto fundamental de que o

preço para um determinado produto independe da produção de cada competidor do mercado

(VARIAN, 2006). Logo, nesta estrutura de mercado, a decisão de cada produtor está

relacionada com a quantidade que irá ofertar.

De forma simplificada, o lucro de uma determinada firma é dado pela receita total

menos o custo total:

Na qual:

= Lucro

q = quantidade vendida

= receita da venda de ‘q’ unidades

= custo da venda de ‘q’ unidades

A decisão racional desta firma seria vender até o ponto de lucro máximo, o que

equivale matematicamente a fazer:

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20

Que é a condição de primeira ordem para a maximização de lucro4, na qual e

denotam receita e custo marginal, respectivamente.

No caso de firmas que atuam em ambiente perfeitamente competitivo, a condição

expressa pela igualdade entre receita marginal e custo marginal pode ser simplificada pelo

fato de que, nesta estrutura de mercado, os agentes são tomadores de preços. Sendo os preços

determinados no mercado, independentemente das escolhas de qualquer firma individual, para

uma determinada firma as receitas marginais são iguais ao preço vigente no mercado (Rmg =

p), ou seja, a cada nova unidade vendida, a receita total da empresa aumenta em valor

equivalente ao preço da unidade, que é dado e único no mercado. Por fim, dada a equivalência

entre receita marginal e custo marginal, o preço de mercado pode ser igualado ao custo

marginal de produção, ou p = Cmg.

Conforme assinalado anteriormente, na prática, são raros os mercados que podem ser

considerados de concorrência perfeita. O conceito, no entanto, é fundamental como ponto de

referência para avaliar a eficiência de mercados competitivos, em maior ou menor escala. Em

linhas gerais, em mercados competitivos, o melhor resultado para a sociedade é atingido

quando não há interferência regulatória, ou pelo menos quando tal ingerência é mínima.

Já em mercados com necessidade de intervenção regulatória, como é o caso dos

aeroportos, os reguladores devem definir normas que aproximem os resultados daqueles que

seriam obtidos em um mercado competitivo. A boa regulação é aquela que, na medida do

possível, mimetiza os mecanismos de mercado.

3.2 Concorrência entre aeroportos

O mercado de infraestrutura aeroportuária é conceituado como um mercado de duas

pontas. Nesse tipo de mercado, dois grupos distintos de agentes econômicos interagem por

meio de uma “plataforma”, que representa uma condição necessária para a interação entre tais

4 Por brevidade, não serão discutidas as condições de segunda ordem neste texto.

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21

grupos. Nesse contexto, os benefícios para um agente aderir dependem da quantidade de

agentes do outro grupo que já participam da plataforma. (ARMSTRONG, 2005).

Além do mercado de infraestrutura aeroportuária, o mercado de dois lados está

presente, por exemplo, nos segmentos de cartões de crédito, de aplicativos para celular e de

vales–refeição, para citar alguns exemplos amplamente estudados na literatura. No primeiro,

as operadoras de cartões de crédito oferecem a plataforma necessária para a relação entre

usuários do cartão e a chamada bandeira. No segundo, a tecnologia do aparelho celular

constitui plataforma necessária à interação entre os desenvolvedores de aplicativos e os seus

devidos consumidores. Há em ambos os casos o conceito de externalidade de rede, no qual os

benefícios para um agente aderir à plataforma dependem do número de agentes do outro

grupo que já a utilizam.

No mercado de aeroportos, toda a infraestrutura contemplada em um terminal pode

ser entendida como uma “plataforma”. Mas quem são os clientes de um aeroporto? Há dois

grupos interdependentes: os passageiros e as companhias aéreas. Quanto mais passageiros

utilizarem um determinado aeroporto, mais atraente será para as companhias aéreas. Da

mesma forma, quanto mais voos em um aeroporto, maior sua capacidade de atrair

passageiros. Trata-se do chamado “mercado de duas pontas”.

A atração das empresas aéreas depende da localização, bom controle de tráfego,

telecomunicações, manutenção de pista e alto padrão de serviços especializados. É quando um

aeroporto pode se tornar ponto de referência e conexão da maioria das rotas de uma empresa,

constituindo o que se chama de “hub”. Por sua vez, para atrair passageiros, o aeroporto deve

oferecer bom acesso, estacionamento, serviços financeiros, instalações apropriadas e opções

de rotas convenientes.

Nos mercados de duas pontas, uma ponta reforça a outra. Boas companhias e rotas

conquistam passageiros; elevado fluxo de viajantes atrai as empresas líderes. Mas sem

competição, os investimentos não acontecem. Assim, se apenas um grupo controlar os

principais aeroportos do país, não haverá estímulo para melhorar a qualidade dos serviços

aeroportuários.

O mercado relevante de serviços aeroportuários pode ser entendido pelas duas

dimensões: a dimensão produto e a geográfica.

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22

Na primeira dimensão, há dois tipos de produtos: viagens de curta e de longa

distância. Essas compreendem, respectivamente, voos de no máximo quatro horas e voos

acima de quatro horas. Estes estão normalmente relacionados a viagens internacionais.

A segunda dimensão, por sua vez, é representada pela área de influência de um

aeroporto, sendo definida como o tempo gasto por um passageiro para se deslocar até o

terminal. Definiu-se, no caso do Reino Unido, que o tempo de deslocamento de passageiros

seria de uma hora para os voos de curta distância e de duas para os de longa. (FIUZA;

PIONER, pp. 40-41, 2009).

A interação entre essas duas dimensões contribui para compreender a competição

entre aeroportos. Deduz-se dessa interação que a competição entre as rotas de viagens

disponíveis (dimensão produto) depende da intersecção das áreas de influência abrangidas por

cada aeroporto (dimensão geográfica). Logo, a escolha de um consumidor entre uma mesma

rota disponível em mais de um aeroporto depende, fundamentalmente, do preço dessa viagem

e, por sua vez, do tempo de deslocamento até o terminal.

Uma determinada administração aeroportuária tem controle sobre variáveis que

impactam a competição no mercado relevante em que está inserida. Caso haja intersecção de

suas áreas de influência com um ou mais aeroportos, tais variáveis influem diretamente nas

escolhas dos dois grupos de clientes atendidos: as companhias aéreas e os passageiros.

Um aeroporto encerra um complexo de serviços. Será tanto mais competitivo quanto

melhor a relação preço/qualidade de seus serviços. A diversidade e a qualidade dos serviços

prestados são essenciais para sua competitividade. O Quadro 10 pormenoriza as atividades

aeroportuárias organizando-as nas categorias operacional, de manuseio e comercial.

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23

QUADRO 10 – PRINCIPAIS ATIVIDADES EXERCIDAS NOS AEROPORTOS

Fonte: (BETANCOR; RENDEIRO, p.2, 1999).

As atividades exercidas pelos aeroportos, por se inserirem em um mercado de dois

lados, impactam os passageiros e as companhias aéreas. Em relação às companhias é evidente

que investimentos são cruciais para melhorar a qualidade e a eficiência dos serviços

prestados, atraindo mais companhias aéreas e, por sua vez, aumentando a capacidade de

oferecer mais rotas para diferentes localidades.

Naturalmente quanto maior o grau de concorrência entre duas estruturas

aeroportuárias, maior o incentivo para os grupos controladores investirem nos vários serviços

mencionados.

3.3 Restrições à propriedade cruzada como vetor para o aumento

de concorrência

A propriedade cruzada, no conceito da infraestrutura, significa que um mesmo grupo

econômico detém participação acionária em duas operações distintas. Isso pode inibir a

concorrência em determinadas circunstâncias:

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24

(a) Caso essas duas operações sejam concorrentes ou potencialmente concorrentes; e

(b) O acionista comum seja capaz de controlar direta ou indiretamente (inclusive

através de acordos de acionistas ou outros instrumentos contratuais) ou mesmo

influenciar em uma ação coordenada entre as duas operações.

Portanto, em tese, um mesmo acionista poderia até mesmo deter participação nas

duas operações concorrentes, desde que não pudesse exercer qualquer direito de controle ou

de influência nos negócios em um dos ativos.

Caso contrário, a estratégia mais racional do controlador seria a de manter o nível

mínimo de qualidade exigido para as atividades exercidas, visto que controla total ou

significativamente as duas operações.

No caso especificamente de aeroportos, caso haja intersecção entre as áreas de

influência de dois aeroportos distintos em uma determinada região, mas esses sejam

controlados por um mesmo agente econômico, não haverá muito incentivo para atrair mais

clientes e companhias aéreas por meio de investimentos na qualidade dos serviços prestados.

O controlador terá poucos incentivos para melhorar a qualidade de seus serviços e de

sua infraestrutura, visto que atua na prática como monopolista em um determinado mercado

relevante. Neste mercado as companhias aéreas e os passageiros disporiam de poucas

alternativas.

Os impactos decorrentes da propriedade cruzada, portanto, mostram-se mais

prejudiciais em regiões que contenham aeroportos que apresentem elevado grau de

concorrência potencial ou efetiva entre si.

O Quadro 11 apresenta a origem e o destino de passageiros (em milhões) no Brasil e

evidencia que o Sudeste é o principal destino dos voos provenientes de todas as regiões

brasileiras.

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25

QUADRO 11 – MATRIZ DOMÉSTICA DE ORIGEM E DESTINO

Fonte: ANAC, 2011. Elaboração Própria.

Por ser o principal destino dos voos brasileiros, a Região Sudeste tem os principais

aeroportos nacionais. Por sua vez, o Quadro 12 mostra a quantidade de passageiros por ano

nos aeroportos no Brasil, evidenciando que dois entre os três maiores aeroportos do país (de

15 a 30 milhões de passageiros por ano) estão localizados nessa região.

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26

QUADRO 12 – PASSAGEIROS POR ANO NOS PRINCIPAIS AEROPORTOS

BRASILEIROS

Fonte: Secretaria de Aviação Civil. Elaboração: Ministério da Fazenda.

Uma situação de propriedade cruzada nessa região implicaria uma alta probabilidade

de inibição da concorrência. Dessa forma, medidas preventivas para incentivar a rivalidade

entre as estruturas aeroportuárias são oportunas.

Chama a atenção em particular a intersecção das áreas de influência dos aeroportos

de Guarulhos e do Galeão. Os dois aeroportos em questão representam parte estrutural do

setor aeroportuário brasileiro. Segundo o último anuário estatístico da Empresa Brasileira de

Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO, 2013), os aeroportos de Guarulhos e do Galeão

respondem por mais de 80% da movimentação internacional de passageiros e por mais de

50% da carga internacional transportada pelos aeroportos brasileiros.

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27

A importância evidente dos aeroportos mencionados para o fluxo internacional de

passageiros no Brasil justifica diretamente a necessidade de restringir situações que

prejudiquem a qualidade e a eficiência aeroportuária.

O Quadro 13 apresenta proposta de como fazer isso. O Quadro 13 mostra uma

provável estrutura societária visando garantir a concorrência no setor aeroportuário após a

segunda rodada de concessões prevista para ocorrer ainda em 2013.

QUADRO 13 – EXEMPLO DE MODELO SOCIETÁRIO PARA CONCESSÃO DE

AEROPORTOS

Fonte: Elaboração Própria.

Conforme assinalado antes, a proposta consiste em impedir que um ou mais

consorciados em Guarulhos tenham capacidade de ingerência estratégica no Galeão. Pois se

isso viesse a ocorrer, haveria uma clara tendência de inibição da concorrência e haveria menos

alternativas para companhias aéreas e passageiros. A consequência disso seria um menor

estímulo a investir, frustrando a expectativa do Governo brasileiro e da sociedade de grande

salto na capacidade dos aeroportos.

Page 29: 2013.05.28 policy paper

28

4 CONTROLE SOBRE PROPRIEDADE CRUZADA É

FUNDAMENTAL PARA GARANTIR A CONCORRÊNCIA

O objetivo desta seção é mostrar como o controle sobre a propriedade cruzada em

aeroportos concorrentes encontra amparo na jurisprudência de outros países e setores e na

legislação nacional.

4.1 Experiência internacional

As experiências de privatização de aeroportos na Austrália, no México e no Reino

Unido são ilustrativas no tocante à necessidade de controlar a propriedade cruzada de

aeroportos potencialmente concorrentes.

A experiência australiana de privatização de aeroportos é considerada uma das mais

bem sucedidas. Grande parte desse sucesso se deveu ao seu modelo institucional que

privilegiou a concorrência entre os diversos aeroportos concedidos. No mesmo sentido, a

experiência mexicana trouxe evidências de que o controle da propriedade cruzada de

aeroportos contribuiu para melhorias na regulação e trouxe benefícios para o setor

aeroportuário como um todo. Já o exemplo do Reino Unido indica que faltou controle da

propriedade cruzada por ocasião da privatização dos aeroportos naquele país, acarretando

custos concorrenciais e exigindo posterior desinvestimento.

4.1.1 O caso australiano

O modelo de privatização adotado na Austrália tem sido considerado bem sucedido.

As limitações de participação cruzada impostas pelo Governo Australiano foram essenciais

para os resultados alcançados pelos aeroportos do país.

A privatização dos aeroportos da Austrália ocorreu entre os anos de 1997 e 2002.

Durante o processo, o Governo Australiano considerou a importância dos quatro maiores

aeroportos do país. Na época, 81% do tráfego de passageiros da Austrália estavam

concentrados nos aeroportos de Sidney, Melbourne, Brisbane e Perth. A demanda anual de

passageiros do aeroporto de Sidney era de 20,7 milhões de pessoas, em Melbourne era de 13,5

milhões, em Brisbane de 10,26 milhões e em Perth de 4,6 milhões.

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29

Com o objetivo de evitar a propriedade cruzada dos quatro principais aeroportos

australianos e incentivar a concorrência entre eles, o Governo limitou a participação da

empresa operadora do aeroporto de Sidney nos outros aeroportos em 15%. O objetivo desta

restrição era garantir a concorrência entre os aeroportos e impedir que a operadora de Sydney

adotasse medidas que pudessem reduzir a qualidade dos serviços e o ritmo dos investimentos,

na medida em que controlasse dois ou mais aeroportos concorrentes entre si.

Isto contribuiu para que o ambiente fosse competitivo em preço e em qualidade,

garantindo a concorrência entre os quatro terminais. Além disso, a política adotada pelo

Governo Australiano possibilitou a redução da necessidade de fiscalização e regulação do

setor aeroportuário pelos órgãos reguladores.

Como resultado, a Associação Australiana de Aeroportos divulgou em 2011 um

estudo que verificou a qualidade dos aeroportos do país. Os aeroportos australianos possuem

hoje tarifas abaixo da média internacional, reduzidos custos por passageiros e investimentos

por passageiro acima da média.

Dentre os investimentos, boa parte é direcionada à expansão de capacidade. Todos

esses fatores contribuem atualmente para que estes aeroportos estejam entre os mais eficientes

do mundo.

O Quadro 14 compara os custos por passageiros de Sydney, Melbourne, Brisbane e

Perth à média de custos de outros 34 aeroportos. Os quatro aeroportos australianos estão

substancialmente abaixo da média, com destaque para o custo de pessoal por passageiro, o

que comprova elevado índice de eficiência operacional.

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30

QUADRO 14 – COMPARAÇÃO DE CUSTOS POR PASSAGEIROS

Fonte: Australian Government Productivity Commission.

Em consequência dos baixos custos destes aeroportos, é possível aumentar também o

lucro operacional por passageiro, como representado no Quadro 15. Novamente, o lucro

posiciona-se em relação favorável à média dos outros aeroportos.

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31

QUADRO 15 – LUCRO OPERACIONAL POR PASSAGEIRO

Fonte: Australian Government Productivity Commission.

O Quadro 16 mostra a comparação de taxas dos aeroportos da Austrália com outros

aeroportos no mundo. Destaquem-se os aeroportos de Melbourne e Perth que cobram taxas

aeroportuárias inferiores a eficientes aeroportos europeus como o de Amsterdam e Frankfurt.

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32

QUADRO 16 – COMPARAÇÃO DE TAXAS COBRADAS NOS AEROPORTOS

AUSTRALIANOS E EM OUTROS AEROPORTOS

Fonte: Australian Government.

4.1.2 O caso mexicano

A experiência no México demonstra que o processo de privatização dos aeroportos

com limitações à propriedade cruzada contribui para a ação do órgão regulador e favorece o

setor aeroportuário como um todo. Neste contexto, vale reforçar a recomendação da

Comissión Federeal de Competência (CFC) após estudo detalhado do setor, de limitar o

controle dos aeroportos da região onde o maior aeroporto do país está localizado.

A gestão dos aeroportos mexicanos era feita desde a década de sessenta pela empresa

estatal Aeropuertos y Servicios Auxiliares (ASA). Durante a privatização, 35 dos 58

aeroportos operados pela ASA foram divididos entre quatro empresas: Grupo Aeroportuario

del Pacífico (GAP), Grupo Aeroportuario del Centro Norte (OMA), Aeropuertos del Sureste

de México (ASUR) e Aeropuerto Internacional de la Ciudad de México (AICM). Cada uma

das empresas controlava um aeroporto de grande porte (com movimento de pelo menos 5

milhões de passageiros/ano) e outros aeroportos de menor porte, conforme as diferentes

regiões do país.

O processo de privatização ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa, o controle das

empresas GAP, OMA e ASUR foi concedido a diferentes sócios estratégicos, que adquiriram

Page 34: 2013.05.28 policy paper

33

15% das ações das respectivas empresas. Foram impostas limitações de propriedade cruzada,

de forma que cada sócio poderia participar apenas de uma das três sociedades. Na segunda

etapa do processo, os outros 85% das ações de cada empresa foram vendidos a sócios

estratégicos e em bolsa de valores, conforme Quadro 17.

QUADRO 17 – ESQUEMA DA COMPOSIÇÃO SOCIETÁRIA

Fonte: CFC México.

Assim como na primeira etapa, foi proibida a participação dos sócios em mais de um

empreendimento. Devido a fatores políticos, a gestão do maior aeroporto do país, o AICM,

continuou sob controle da ASA, e não ficou submetido à regulação de preços e qualidade dos

aeroportos privados.

Em 2007, a Comissión Federeal de Competência (CFC), órgão antitruste mexicano,

divulgou um estudo concorrencial detalhado do setor aeroportuário mexicano. Nesse estudo,

foi comparado o desempenho dos aeroportos por diferentes métricas e as recomendações

finais foram que o AICM fosse regulado pelas mesmas métricas aplicadas aos operadores

Page 35: 2013.05.28 policy paper

34

privados e que os novos aeroportos próximos ao AICM não fossem controlados pela ASA. O

principal argumento desta última recomendação foi que esta medida promoveria a

concorrência entre os terminais da região.

Uma grande vantagem da restrição da propriedade cruzada indicada pelo caso do

México foi a possibilidade de avaliar o desempenho do setor comparando indicadores dos

diferentes operadores. Esta prática é conhecida como yardstick regulation e não é aplicável

quando aeroportos semelhantes estão sob o controle de um mesmo operador.

Ao fim desta experiência concluiu-se que a restrição à propriedade cruzada foi

favorável ao desenvolvimento do setor aeroportuário mexicano. Isto é reforçado, pela

recomendação da CFC para que os novos aeroportos próximos ao AICM sejam operados por

empresas privadas, e pelo fato da limitação da propriedade cruzada promover vantagens à

avaliação dos aeroportos e à ação regulatória.

4.1.3 O caso do Reino Unido

Desde as décadas de sessenta a oitenta o controle dos principais aeroportos do Reino

Unido concentrava-se em uma única operadora: a British Airports Authority (BBA). Entre as

referidas décadas a BAA era responsável pela administração dos sete principais aeroportos do

país: London Heathrow Airport (grande Londres), London Gatwick Airport (grande Londres),

London Stansted Airport (grande Londres), Glasgow International Airport (Glasgow,

Escócia), Prestwick International Airport (grande Glasgow), Edinburgh Airport (Edimburgo,

Escócia) e Aberdeen Airport (Aberdeen, Escócia).

Em 1987 decidiu-se privatizar a companhia. Entretanto, optou-se por não separar os

aeroportos controlados pela BAA, alegando-se que a estrutura da época incentivaria maiores

investimentos na expansão dos terminais, tendo em vista os ganhos de escala decorrentes da

concentração. Em 2005, os aeroportos geridos pela BBA controlavam: 60% da movimentação

de passageiros intra-Reino Unido; 90% da movimentação na Região Sudeste da Grã-

Bretanha; e 84% da movimentação na Escócia.

Porém, a concentração do controle dos aeroportos na BAA resultou na incapacidade

de manter níveis apropriados de investimentos em seus terminais. Os resultados foram a

saturação dos terminais, altas tarifas e baixa qualidade dos serviços.

Page 36: 2013.05.28 policy paper

35

O Office of Fair Trading (OFT), órgão responsável pela investigação de práticas

anticoncorrenciais, iniciou uma investigação sobre os efeitos da concentração dos principais

aeroportos britânicos. Chegou-se à conclusão que o controle de diversos aeroportos por um

mesmo grupo é prejudicial à concorrência no setor. Após esta investigação a OFT

recomendou que a Competition Comission – CC (órgão responsável por zelar pela

concorrência no Reino Unido) iniciasse uma análise mais detalhada do caso.

Após a investigação, a CC chegou à conclusão que a concentração da propriedade

cruzada realmente causava a diminuição da qualidade dos serviços, a limitação de

investimentos em infraestrutura e o aumento de custos. Além disso, foi observado que pela

falta de competição, os aeroportos controlados pela BBA eram menos eficientes que os

demais aeroportos europeus. Entre os parâmetros de comparação estavam tarifas mais altas e

qualidade de serviços inferior.

A CC decidiu por impor à BAA o desinvestimento dos aeroportos de Stansted e

Gatwick, além de optar pela alienação do aeroporto de Glasgow ou de Edimburgo. Para

cumprir suas obrigações, a BBA vendeu os aeroportos de Gatwick e Stansted por 1,5 bilhão

de libras esterlinas, cada um, e optou pela venda do aeroporto de Edimburgo por 807 milhões

de libras esterlinas.

4.2 Casos no setor de infraestrutura

Esta subseção detalha os casos de outros setores da infraestrutura onde o controle

cruzado de empresas e operações potencialmente competitivas foi limitado, no intuito de

assegurar maior eficiência para o setor.

4.2.1 – Telefonia 4G

Em junho de 2012, ocorreu o leilão das faixas de frequência para oferta de serviço da

banda larga e telefonia móvel de quarta geração (4G). Em comparação com a tecnologia 3G, a

conexão 4G traz avanços significativos principalmente na velocidade de conexão e no

carregamento de dados. O relevante para a análise é a maneira como ocorreu o leilão para a

exploração dos serviços dispostos a partir desta tecnologia.

Page 37: 2013.05.28 policy paper

36

A tecnologia de telefonia móvel 4G está disposta entre diferentes radiofrequências5,

sendo que o leilão ocorrido em junho de 2012 abrangeu as radiofrequências dispostas na

subfaixa de 2500 MHZ a 2690 MHZ e/ou na subfaixa DE 451 MHZ a 458 MHZ e DE 461

MHZ a 468 MHZ, conforme o Edital de licitação referente ao leilão emitido pela ANATEL.

Havia 273 lotes que constituíam o objeto da licitação e seriam leiloados entre os participantes.

Os 273 lotes foram subdivididos em quatro grupos, denominados de “A”, “B”, “C” e

“D”, sendo que as frequências foram subdivididas da seguinte maneira:

Tipo A: 451 MHz a 458 MHz / 461 MHz a 468 MHz – Lote 1;

Tipo B e Tipo C: que correspondem à mesma radiofrequência6 - Lotes 2 a 5 e Lotes 6

a 9, respectivamente;

Tipo D: U. (35 MHz) U+T. (50 MHz) ou P. (10 MHz + 10 MHz) – Lotes 10 a 273.

Esta subdivisão, somada ao impedimento à propriedade de mais de uma delas pelo

mesmo grupo econômico previsto no edital publicado pela ANATEL, restringiu a propriedade

5 Radiofrequência é a faixa do espectro eletromagnético de 9 kHz a 300 GHz utilizada na

radiocomunicação.

O espectro de radiofrequências é um recurso limitado, constituindo-se em bem público e, conforme prevê

a Lei nº 9.472, é administrado pela Anatel.

Na administração do espectro de radiofrequências são observadas as atribuições das faixas, definidas em

tratados e acordos internacionais, aprovados na União Internacional de Telecomunicações - UIT, e, anualmente, é

emitido o Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências no Brasil, o qual contém o

detalhamento do uso das faixas de radiofrequências associadas aos diversos serviços e atividades de

telecomunicações. (informação retirada do site da ANATEL em: <

http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?codItemCanal=671&nomeVisao=Informa%E7%F5es%20

T%E9cnicas&nomeCanal=Radiofreq%FCencia&nomeItemCanal=Apresenta%E7%E3o > )

6 As subfaixas de radiofrequências dispostas nos tipo B e C são: W (20 MHz + 20 MHz),“V1 (10 MHz + 10

MHz, de 2.530 MHz a 2.540 MHz e de 2.650 MHz a 2.660 MHz), V2 (10 MHz + 10 MHz, de 2.540 MHz a

2.550 MHz e de 2.660 MHz a 2.670 MHz) e X (20 MHz + 20 MHz). Todavia o tipo B compreende também a

subfaixa de Radiofrequência de 451 MHz a 458 MHz e de 461 MHz a 468 MHz.

Page 38: 2013.05.28 policy paper

37

cruzada evitando uma diminuição nos incentivos à melhor oferta destes serviços. O Capítulo

VIII do Edital foi explícito nesse sentido:

“Capítulo VIII-Dos Direitos, Garantias, Obrigações e Restrições da

AUTORIZADA

Cláusula 8.9 - A AUTORIZADA, suas coligadas, controladas,

controladoras, ou qualquer de seus acionistas que tenham participação, direta ou

indireta, igual ou superior a 5% (cinco por cento) das ações com direito a voto da

AUTORIZADA, somente poderão possuir ações sem direito a voto de

prestadora(as) do STFC atuante na mesma Área de Prestação e na mesma

modalidade de serviço, até o limite de 20% (vinte por cento) do capital social.”

Como se pode notar, o Governo Federal teve preocupação específica em restringir a

propriedade cruzada de frequências concorrentes, visando assegurar a concorrência e

competição no setor.

4.2.2 – Caso Telefônica / Telecom Italia

Esta seção7 apresenta a jurisprudência do ato de concentração submetido ao CADE

onde, através da aquisição indireta de ações minoritárias, em 2007, da Telecom Itália pela

empresa de telefonia Telco, sociedade na qual Telefônica está inserida. A relevância deste

caso para que fosse julgado no CADE provém, dentre outro fatores8, do fato que o Grupo

Telecom Itália, no Brasil, era controlador da TIM no Brasil, enquanto o Grupo Telefônica

era/é controlador da Telesp e, por conta de uma joint venture com a Portugal Telecom,

controlador da Vivo.

7 Esta seção está baseada no voto do Conselheiro do CADE, Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo; o Ato nº

68276/07, Ato nº 5166/08 e Ato nº 3084/09,da ANATEL; e documento da OCDE sobre Participações

minoritárias: OECD, Minority Shareholdings – Policy Roundtables, 2008. Disponível em:

<http://www.oecd.org/daf/competition/mergers/41774055.pdf>.

8 O faturamento do grupo de ao menos um dos participantes do ato excedeu o valor de R$400 milhões no Brasil,

então, consequentemente, teve de ser submetido ao CADE, vide termos da Lei nº 8884/94.

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38

O Quadro 18 e o Quadro 19 demonstram como era e como ficará a estrutura

societária, envolvendo empresas componentes de cada grupo, antes e depois da operação:

QUADRO 18 – A ESTRUTURA SOCIETÁRA ANTES DA OPERAÇÃO

Fonte: ANATEL.

QUADRO 19 – ESTRUTURA SOCIETÁRIA APÓS A OPERAÇÃO

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39

Fonte: ANATEL.

Uma vez que, no Brasil a Telecom Itália é controladora da Tim e o Grupo Telefônica

controla a Telesp e a Vivo, houve a possibilidade de que a aquisição indireta das ações da

Telecom Italia pelo Grupo Telefônica impactasse de forma indesejável o mercado de

telecomunicações brasileiro. Desta forma, a preocupação com a defesa da concorrência

surgiu não apenas no CADE, mas também na agência reguladora do setor, a ANATEL.

Após um cuidadoso estudo das áreas do mercado relevante de ambas as empresas

envolvidas, a ANATEL avaliou que, se houvesse a integração da administração da Vivo e da

TIM, haveria a possibilidade de gerar uma considerável concentração de mercado no setor de

telecomunicações brasileiro. Neste sentido, a análise concorrencial da ANATEL aprovou a

operação, não sem antes enumerar uma gama de restrições regulatórias impostas à operação.

As restrições tinham como objetivo a vedação do controle e a vedação da influência e trocas

de informação. Estas restrições foram as seguintes:

I. Vedação, à Telefônica, de controle de empresas do Grupo Telecom Italia

atuantes no mercado de telecomunicações brasileiro;

II. Vedação, à Telefônica, de direitos de voto, veto e de participação em reuniões

dos órgãos de administração da Telecom Italia e subsidiárias, que tratem de

matérias relacionadas ao mercado relevante;

III. Vedação de que administradores da Telefônica e da Telecom Italia no Brasil

sejam eleitos para órgãos administrativos, uma da outra;

IV. A limitação da relação comercial entre empresas dos grupos;

O CADE esteve plenamente de acordo com as restrições implementadas pela

ANATEL à operação, apenas chamando atenção para duas preocupações: incrementar o

limite de modo mais eficaz a troca de informações entre a Telefônica e a Telecom Italia

relativamente aos seus negócios no Brasil; e tornar mais robusto o monitoramento das

condutas de ambas as empresas.

Sobre este caso, dois pontos ainda são relevantes para esta Nota Técnica. Em

primeiro lugar, a severidade da punição da ANATEL no caso de descumprimento das

restrições. Caso alguma das empresas envolvidas mostre que há uma violação das restrições, a

autorização da operadora de exploração do mercado brasileiro é removida.

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40

O segundo ponto relevante é a concordância observada nas restrições à operação

elaboradas pela ANATEL com aquelas observadas pela OCDE em casos similares no mundo.

Conforme publicação da OCDE, existem quatro categorias de soluções comuns em casos de

participações minoritárias entre rivais: desinvestimento da totalidade ou de parte das ações

minoritárias; transformação da participação ativa em participação passiva; eliminação de

“interlocking directorates”9; impedimento de troca de informações privilegiadas entre os

envolvidos na operação. A OCDE advoga que as três primeiras soluções são as mais efetivas.

Boa parte dessas soluções foram abrangidas pelas restrições da ANATEL e do CADE.

Com isso, podemos demonstrar como a noção de restrição à propriedade cruzada está

solidificada no setor de telecomunicações, em particular como maneira de evitar concentração

do mercado e de estimular e incentivar investimentos.

4.2.3 – Energia Elétrica

Já no setor elétrico, o chamado Novo Modelo do Setor, instaurado a partir da

promulgação da Lei 10.848/2004, estabeleceu a obrigatoriedade da desverticalização das

empresas do setor. Com isso, tornou-se mandatória a segregação das atividades de geração,

transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. A ideia foi evitar a existência

de subsídios cruzados entre essas atividades e estimular a competição nos segmentos de

geração e comercialização de energia elétrica.

O modelo definiu ainda que a compra de energia elétrica pelas distribuidoras no

ambiente regulado fosse realizada através de leilões competitivos.

Os segmentos de distribuição e geração não são concorrentes, mas são

complementares e fazem parte de uma mesma cadeia de produção. No entanto, o ponto em

comum com o caso dos aeroportos é o fato de que a existência de participação cruzada em

setores concorrentes em mercados geográficos ou em segmentos relacionados de forma

vertical é potencialmente prejudicial ao consumidor, pois permite que o controlador privilegie

9 Precisamente a restrição número III da ANATEL.

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41

um ou outro segmento, conforme sua conveniência. No caso do setor elétrico, a preocupação

era que eventuais custos indevidos fossem repassados aos consumidores cativos dos

segmentos de distribuição e à transmissão.

4.3 Nova competência do CADE em atos de concentração

O CADE geralmente conduz minuciosas investigações de toda a cadeia de controle de

um grupo econômico para identificar possíveis participações cruzadas capazes de prejudicar a

competição, assim como possui uma série de decisões afirmando ser a participação cruzada

entre competidores lesiva à competição. Em determinados casos, o CADE ordena que tais

relações estruturais sejam desfeitas, conforme exemplificado nas subseções anteriores.

Entretanto, desde a edição da Lei federal nº 12.529, de 30 de novembro de 2011

(“Nova Lei do CADE”), as associações, sociedades de propósito específico e joint ventures

constituídas entre os vencedores de determinada licitação pública, passaram a ter um

tratamento específico, que dificulta o controle de concentração pelo CADE.

O artigo 9010

, da Nova Lei do CADE dispensa de aprovação prévia atos de

concentração quando duas ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint

venture em função de terem vencido determinada licitação pública.

Assim, caso os editais da segunda rodada de concessões não levem em conta a

dimensão concorrencial limitando o controle dos novos aeroportos a serem concedidos pelos

grupos controladores dos aeroportos já concedidos ou mesmo não impeça a controle cruzado

dos dois aeroportos que virão a ser concedidos (Galeão e Confins), o CADE não terá

10 Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando:

I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;

II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de ações,

quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via

contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas;

III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou

IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint venture.

Parágrafo único. Não serão considerados atos de concentração, para os efeitos do disposto no art. 88

desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quando destinados às licitações promovidas pela administração

pública direta e indireta e aos contratos delas decorrentes.

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42

instrumento legal que permita avaliar os impactos concorrenciais do controle cruzado dos

aeroportos concedidos antes da conclusão do ato de concentração.

A análise deverá ser feita a posteriori e somente quando provados os efeitos deletérios

do controle cruzado à concorrência. Naturalmente, tais efeitos só serão sentidos após alguns

anos de operação conjunta dos aeroportos. Até lá, há elevado risco de uma atuação menos

eficiente pelos aeroportos sujeitos a controle comum e de realização do mínimo permitido de

investimentos.

Em um país com elevados déficits de infraestrutura e com os gargalos apontados na

Seção 2 é temerário correr esse risco.

4.4 Embasamento legal para restringir propriedade cruzada

Além dos evidentes fundamentos concorrenciais que justificam restrições à

propriedade cruzada, não há qualquer restrição legal para o estabelecimento de regras pró-

competitivas que restrinjam a propriedade cruzada entre os aeroportos.

Ao contrário, no âmbito da Constituição Federal, especialmente em seu artigo 170, IV

e V11

, são princípios da ordem econômica, a livre concorrência, bem como a defesa do

consumidor.

A Lei Federal nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 (“Lei de Concessões”), no artigo

29, XI12

, dispõe que Administração Pública está incumbida do fomento à competição na

prestação de serviços públicos concedidos a privados.

11 Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor; (...)

12

Art. 29. Incumbe ao poder concedente:

(...)

XI - incentivar a competitividade; e (...)

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43

Por sua vez, a Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993 (“Lei de Licitações”), em

seu artigo 3º13

, mantém a previsão constitucional que impõe à administração pública a

obrigação de promover processo licitatório que assegure igualdade de condições a todos os

concorrentes, bem como assegura em seu artigo 23, § 1º14

, sempre que técnica e

economicamente viável, as licitações devem ser divididas em lotes, visando aumentar a

concorrência.

A Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005, que cria a Agência Nacional de Aviação

Civil – ANAC confere competência à agência para o estabelecimento do modelo de concessão

da infraestrutura aeroportuária, pautada pela Política Nacional de Aviação Civil.

O artigo 6º15

da mesma lei impôs à ANAC a obrigação de harmonizar suas ações

institucionais com a defesa e promoção da concorrência bem como comunicar aos órgãos de

defesa da concorrência sempre que tome conhecimento de fato que comprometa ou possa

comprometer a concorrência.

Já o Decreto 7.624, de 22 de novembro de 2011, que regulamenta a exploração

privada da infraestrutura aeroportuária, expressamente dispõe, no artigo 15, I16

, a

13 Art. 3º. A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da

proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será

processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da

moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento

convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

14 Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas

em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação:

§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em tantas parcelas quantas se

comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento

dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de escala.

15

Art. 6o Com o objetivo de harmonizar suas ações institucionais na área da defesa e promoção da concorrência,

a ANAC celebrará convênios com os órgãos e entidades do Governo Federal, competentes sobre a matéria.

Parágrafo único. Quando, no exercício de suas atribuições, a ANAC tomar conhecimento de fato que configure

ou possa configurar infração contra a ordem econômica, ou que comprometa a defesa e a promoção da

concorrência, deverá comunicá-lo aos órgãos e entidades referidos no caput deste artigo, para que adotem as

providências cabíveis.

16

Art. 15. A fim de assegurar as condições de concorrência, o poder concedente poderá estabelecer as seguintes

restrições quanto à obtenção e à exploração da concessão, dentre outras, observadas as atribuições do Sistema

Brasileiro de Defesa da Concorrência:

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44

possibilidade de a agência criar regras que restrinjam a participação de empresas no processo

licitatório para a concessão dos serviços, com vistas a preservar a competição.

Por fim, Decreto 6.780, de 18 de fevereiro de 2009, que aprova a Política Nacional de

Aviação Civil, fixa, dentre outros objetivos, a eficiência das operações da aviação civil (item

2.6)17

.

Desta forma, com base no arcabouço legal ora apresentado, o Edital do Leilão

02/2011, que regeu a primeira rodada de concessões aeroportuárias, determinou

expressamente que eventuais consórcios vencedores poderiam apenas operar um dos

aeroportos licitados18

. Nota-se nos próprios esclarecimentos feitos pela ANAC no curso da

primeira rodada da licitação, que tal provisão seria válida também para os outros leilões19

.

I - regras destinadas a preservar a concorrência entre aeródromos; 17

2.6. A EFICIÊNCIA DAS OPERAÇÕES DA AVIAÇÃO CIVIL

A eficiência das operações da aviação civil beneficia a todos e é um objetivo a ser perseguido. Para tanto, o

aperfeiçoamento da navegação aérea, a otimização do uso do espaço aéreo e da infraestrutura aeroportuária civil,

de maneira coordenada e harmônica, e a melhoria dos métodos, processos e práticas de gestão, devem ser

continuamente buscados.

O grande beneficiário dos avanços tecnológicos deverá ser o gerenciamento moderno e dinâmico do tráfego

aéreo, capaz de minimizar as limitações impostas ao usuário do espaço aéreo. Sem comprometimento da

segurança, o usuário deverá ser capaz de aderir ao seu perfil de vôo conforme planejado e solicitado.

O Sistema de Aviação Civil deverá ser capaz de acompanhar o desempenho dos seus elementos constitutivos e

de equipar-se de maneira compatível com os avanços e inovações introduzidas no sistema.

No mesmo sentido, o marco regulatório da aviação civil, em todos os seus segmentos, deve ser desenhado de

maneira a buscar maior eficiência econômica, novamente sem prejuízo da segurança e observados os interesses

estratégicos do País.

A obtenção de maior eficiência econômica permite a ampliação do bem-estar social e possibilita melhor alocação

de recursos produtivos. A alocação eficiente dos recursos possibilita maior oferta dos serviços de transporte

aéreo, o que, sob a égide dos apropriados instrumentos regulatórios, resulta na ampliação da concorrência. A

maior concorrência, por sua vez, ao incentivar maiores níveis de qualidade e menores preços, age no sentido de

agregar novos usuários ao modal de transporte aéreo.

18 Nesse sentido, assim se manifestou o TCU no TC 032.786/2011-5: “440. A necessidade de preservar – ou, em

última instância, emular – o ambiente competitivo decorre do fato de que estruturas de mercado imperfeitas (i.e.

oligopólios e monopólios) afiguram-se desfavoráveis aos consumidores, tanto mais intensamente quanto maior o

poder de discriminação da firma ofertante. O art. 29, inciso XI, da Lei 8.987/1995 atribui ao Poder Concedente

a incumbência de incentivar a competitividade da atividade outorgada.” (g.n.)

19 “O Edital já prevê a hipótese do leilão dos 3 (três) aeroportos não ser concomitante, quando delega a ANAC

o poder de decidir, discricionariamente, se prossegue ou não com o Leilão em caso de suspensão relativa a

apenas um ou dois Aeroportos. Ainda que ocorra esta situação, serão mantidas as condições as disposições

previstas no item 5.15.1, ou seja, um proponente só pode ser titular de um único aeroporto. Não há a

contradição apontada pelo interessado.” (g.n.)

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45

Diante do contexto apresentado, não se vislumbra qualquer entrave ou empecilho para

que a restrição ao controle cruzado dos aeroportos seja replicada para a segunda rodada de

licitações de aeroportos. A legislação ampara, ainda, que essa restrição se estenda aos

aeroportos já licitados.

Essa questão é particularmente importante na segunda rodada de licitações, dada a

possibilidade de que as novas concessões acabem por permitir a participação cruzada de um

mesmo grupo econômico entre os aeroportos de Guarulhos e Galeão, os dois principais huns

brasileiros para voos internacionais.

De acordo com as normas acima expostas, em especial aquelas relacionadas ao setor

aeroportuário, a promoção da concorrência entre aeroportos por meio de regra que impeça a

concentração do controle de aeroportos concorrentes em um mesmo grupo econômico atende

não somente a um dos objetivos definidos no próprio Plano Nacional de Aviação Civil, como

encontra respaldo em leis e regulamentos em vigor.

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46

5 CONCLUSÕES

Esta Nota Técnica concluiu que a situação da infraestrutura portuária brasileira é precária

e que a demanda por serviços aeroportuários vem crescendo de forma acelerada no país. Os

investimentos precisam crescer urgentemente sob pena de acarretar prejuízos consideráveis à

competitividade nacional.

As concessões de aeroportos são uma alternativa aconselhável para acelerar

investimentos. Entretanto, é fundamental levar em consideração a dimensão concorrencial

entre aeroportos.

A experiência internacional indica que a concorrência entre aeroportos leva a uma

melhoria considerável de seus serviços e de sua eficiência. Uma maneira eficiente de

assegurar a concorrência entre aeroportos é restringindo o controle cruzado por um mesmo

grupo econômico.

O caso australiano demonstra os benefícios desse controle. De 1997 a 2002, os aeroportos

de Sidney, Melbourne, Brisbane e Perth foram privatizados, representando mais de 80% do

tráfego aéreo australiano. O aeroporto de Sidney foi privatizado em 1997. Por ocasião da

privatização dos outros três, em 2002, as autoridades restringiram a participação pelo

Aeroporto de Sidney a 15% do capital dos outros aeroportos. Além disso, essa participação

não poderia representar qualquer exercício de controle ou ingerência sobre os aeroportos. Foi

autorizada a mera participação financeira. O resultado foi positivo. Estudo da Associação

Australiana de Aeroportos de 2011 registrou tarifas abaixo da média internacional e elevados

investimentos.

Em contraste, o caso do Reino Unido mostra os efeitos negativos de ausência de

controle sobre participação cruzada. A Autoridade Aeroportuária Britânica foi transferida a

um único grupo privado em 1987. Em 2005, os aeroportos geridos pela BAA controlavam

60% da movimentação de passageiros dentro do Reino Unido. O órgão de investigação da

concorrência (Office of Fair Trading) constatou que a concentração no setor aeroportuário era

prejudicial. Verificaram-se baixos investimentos, saturação dos terminais, altas tarifas e piora

na qualidade do serviço. Como resultado, a CC ordenou a venda de três aeroportos: Gatwick,

Stansted e uma opção pela venda de Glasgow ou Edimburgo, tendo este último sido alienado

neste ano.

Tais experiências mostraram a necessidade de controlar a participação de um mesmo

grupo em aeroportos potencialmente concorrentes.

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O estudo concluiu, ainda, que é vital controlar a propriedade cruzada dos aeroportos

que vem objeto das rodadas de concessão, em especial os aeroportos de Guarulhos, concedido

em 2012 e do Galeão, que deverá ser licitado ainda em 2013. Isto porque estes dois aeroportos

representaram cerca de 84% da movimentação internacional de passageiros do Brasil (2009-

12).

A restrição à propriedade cruzada tem precedentes. Dois exemplos: telecomunicações

e energia elétrica. No primeiro, a licitação da nova faixa de radiofrequência 4G foi

subdividida em quatro partes, com restrições à propriedade de mais de uma parte pelo mesmo

grupo. No caso de compra pela Telefônica de participação minoritária no bloco de controle da

Telecom Itália, o Cade congelou os direitos políticos da Telefônica na TIM Brasil. Na

privatização da Telebrás, o Cade e a Anatel congelaram os direitos políticos dos fundos de

pensão decorrentes de suas participações na Telemar (Oi), pois tais instituições controlavam a

Brasil Telecom.

A Lei 10.848/04, do setor elétrico, estabeleceu a obrigatoriedade de segregação das

atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. A ideia

foi evitar a existência de subsídios cruzados entre essas atividades e estimular a competição.

Por fim, o estudo indica que essas restrições estão amparadas pela Constituição e

legislação federal. Tal controle já ocorreu na 1ª rodada de concessões dos aeroportos, na qual

os licitantes só puderam arrematar uma única concessão. Por sua vez, a Lei de Licitações

determina que, sempre que técnica e economicamente viável, as licitações devem ser

divididas em lotes, visando aumentar a concorrência. A Lei 11.182/05 estabelece obrigação da

Anac em comunicar aos órgãos de defesa da concorrência sempre que tome conhecimento de

fato que comprometa ou possa comprometer a concorrência.

Está cada vez mais claro que o investimento em infraestrutura é essencial para o

crescimento sustentado da economia brasileira. Urge assinalar neste momento que, no médio

e longo prazo, a competição entre aeroportos constitui poderoso incentivo à inovação e ao

próprio investimento.

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48

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