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Direito Civil Professora Jesica Lourenço Turma: Juiz Leigo Material complementar elaborado pela Professora Jesica Lourenço com base nos últimos editais do certame. Tem como objetivo a preparação do candidato de maneira focada nos temas de maior incidência nas provas de Juiz Leigo. 2014 Professora Jesica Lourenço Direito Civil & Direito do Consumidor Graduação, Pós-Graduação, OAB e Concursos Públicos www.jesicalourenco.com.br

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Direito Civil Professora Jesica Lourenço Turma: Juiz Leigo Material complementar elaborado pela Professora Jesica Lourenço com base nos últimos editais do certame. Tem como objetivo a preparação do candidato de maneira focada nos temas de maior incidência nas provas de Juiz Leigo.

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JESICA LOURENÇO

Especialista em Direito Civil-Constitucional (UERJ). Autora de Obras Jurídicas pela Editora

Saraiva. Professora de Direito Civil, Processo Civil e Direito do Consumidor em cursos de

Pós-Graduação (Universidade Cândido Mendes e Universidade Santa Úrsula) e em cursos

preparatórios para OAB e Concursos Públicos (Ênfase/Damásio, Master Juris, Alcance

Concursos, CEJ 11 de Agosto, Tempo de Concurso UnyLeYa, Super Professores, Lexus, Iuris,

Atual Concurso SP, Canal Exame de Ordem SP, CEIJUR SP. Professora da TV Justiça (STF) no

Programa Saber Direito. Pesquisadora em Direito Privado. Membro do IBDCivil. Membro do

IBDFAM. Membro do Brasilcon. Palestrante. Articulista no Atualidades do Direito. Advogada

(PUC/RS).

CONTATO Dúvidas: [email protected]

Dicas de estudo, resumo, revisões: www.facebook.com/JesicaLourenco

Site: www.jesicalourenco.com.br

Youtube: www.youtube.com/jesicalourenco

Twitter: www.twitter.com/jesicalourenco

APRESENTAÇÃO Prezado aluno! Desenvolvi esse material complementar para auxiliar seus estudos. Foi

elaborado com base nos últimos editais do certame e tem por objetivo sua preparação de

maneira focada nos temas de maior incidência em prova. Meu objetivo é sua aprovação.

Conte comigo ao longo dessa caminhada! Um abraço carinhoso. Profª. Jesica Lourenço

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PARTE GERAL

CAPÍTULO 1: LINDB – Decreto-lei 4.657/42 CAPÍTULO 2: Pessoa Natural: capacidade e personalidade CAPÍTULO 3: Direitos da Personalidade CAPÍTULO 4: Ausência CAPÍTULO 5: Pessoa Jurídica CAPÍTULO 6: Domicílio CAPÍTULO 7: Bens CAPÍTULO 8: Teoria dos Fatos Jurídicos CAPÍTULO 9: Prescrição e Decadência OBRIGAÇÕES

CAPÍTULO 1: Modalidades das Obrigações CAPÍTULO 2: Adimplemento das Obrigações CAPÍTULO 3: Transmissão das Obrigações CAPÍTULO 4: Inadimplemento das Obrigações TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

CAPÍTULO 1: Princípios contratuais CAPÍTULO 2: Formação dos contratos CAPÍTULO 3: Vícios redibitórios CAPÍTULO 4: Evicção CAPÍTULO 5: Extinção dos contratos CONTRATOS EM ESPÉCIE

CAPÍTULO 1: Classificação de alguns contratos típicos CAPÍTULO 2: Prestação de Serviços CAPÍTULO 3: Empreitada CAPÍTULO 4: Mandato CAPÍTULO 5: Transação CAPÍTULO 6: Compra e venda CAPÍTULO 7: Doação CAPÍTULO 8: Empréstimo CAPÍTULO 9: Seguro RESPONSABILIDADE CIVIL

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PARTE GERAL

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Trata-se de uma norma de sobredireito, ou seja, é uma norma jurídica que visa regulamentar outras normas. Justamente pelo fato de não ser uma norma exclusiva de Direito Civil é que a Lei 12.376/2010 alterou seu nome para LINDB. A LINDB é uma norma atemporal, porque ela tanto serviu para introduzir o CC/16 como o CC/02. Assim a é por conta do seu objetivo que é ditar aspectos gerais acerca da interpretação e aplicação da norma.

A LINDB é

Norma de sobredireito é uma norma jurídica que visa regulamentar outras normas. Justamente pelo fato de não ser uma norma exclusiva de Direito Civil é que a Lei 12.376/2010 alterou seu nome de LICC para LINDB.

Norma atemporal porque tanto serviu para introduzir o CC/16 como o CC/02. Assim a é por conta do seu objetivo que é ditar aspectos gerais acerca da interpretação e aplicação da norma.

1. VIGÊNCIA – Arts. 1º e 2º 1.1. VIGÊNCIA As leis são criadas por meio de processo legislativo. Primeiro é elaborado um projeto de lei, que será analisado pelas duas casas legislativas (Senado Federal e Câmara dos Deputados), depois é submetido ao Chefe do Executivo que irá sancioná-lo ou vetá-lo. Sancionada, a lei será promulgada e depois publicada para que venha ao conhecimento de todos. Vigência está relacionada com a produção de efeitos da norma. Quando uma norma está vigendo, produz efeitos, impõe condutas e possui caráter coercitivo. Há um prazo entre a publicação da norma e a sua vigência, sendo isso chamado de vacatio legis, ou seja, um prazo razoável para que se tenha conhecimento da lei. Pode a lei em seu próprio texto trazer a sua data de vigência, mas se for silente aplica-se o art. 1º da LINDB: Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Esse é o prazo em território nacional. Qual o período de vacatio tem uma norma brasileira para produzir efeitos no exterior? Art. 1º, §1º – 3 meses

CAPÍTULO 1 LINDB – Decreto-lei 4.657/42

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§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Vigência da lei brasileira Vacatio legis

No país 45 dias

Em território estrangeiro 3 meses

Lei: Elaboração – Promulgação – Publicação – Vacatio Legis – Vigência

Durante o prazo de vacatio a lei não tem obrigatoriedade e deve ser computada de acordo com o §1º, LC 95/98: Art. 8 A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1 A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. Não confundir com o art. 132, CC: Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. Art. 8º, §1º, LC 95/98 – contagem do prazo de vacância. Art. 132, CC: prazos de natureza obrigacional. ATENÇÃO! QUANDO TEVE INÍCIO A VIGÊNCIA DO CC/2002? O CC foi publicado em 11.01.2002. A vacatio legis foi de 1 ano. Portanto o dia de vigência segundo o STJ: fundamento art. 132, §3º CC. Entrada em vigor: dia 11.01.2003 Ou 12.01.2003 (controvérsia). OBSERVAÇÃO: ART. 2.028, CC Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Prazos: Mais da metade: CC/1916. Menos da metade ou metade: CC/2002. ENUNCIADOS CJF – IV JORNADA

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299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decorrido, salvo quando o não-aproveitamento do prazo já decorrido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já decorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal. 300 – Art. 2.035. A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos celebrados antes do novo Código Civil será a vigente na época da celebração; todavia, havendo alteração legislativa que evidencie anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará as obrigações das partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pelas regras revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do negócio. § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 1.2. EFICÁCIA DAS LEIS A lei produz seus efeitos até que outra a modifique ou revogue. É o Princípio da continuidade das leis. Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Então a exceção são as leis temporárias, ou seja, aquelas que já trazem em seu texto prazo de vigência, que quando termina já revoga automaticamente a lei. Ex: lei orçamentárias. 1.3. REVOGAÇÃO DE LEIS DERROGAÇÃO – revogação parcial de uma lei, ou seja, parte continua a viger e parte se extingue com a entrada em vigor de uma nova lei. AB-ROGAÇÃO – é quando a revogação abrange toda a lei Art. 2º, § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare (revogação expressa), quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. (revogação tácita)

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§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

REVOGAÇÃO DE LEIS

Revogação expressa A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare.

Revogação tácita A lei posterior revoga a anterior quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior

Revogação total Também chamada de ab-rogação. Dica: “Ab”: absoluta = total

Revogação parcial Também chamada de derrogação.

1.4. REPRISTINAÇÃO É a retomada automática da vigência da lei que foi revogada pela simples perda de vigência da sua norma revogadora. Art. 2º, §3º LINDB. Não é aceita a repristinação. Art. 2º, § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Exceção: para a lei revogada volte a produzir efeitos, deverá constar expressamente da lei que retirou os efeitos da lei revogadora, ou a última lei coloca no corpo do seu texto o que quer que da primeira lei permaneça. Não se admite repristinação tácita. OBS: Efeito repristinatório - STF Acima existiam 3 leis em jogo. Uma lei A, que foi revogada por uma lei B e posteriormente essa lei B foi revogada por uma lei C, de modo que a lei A só voltará a viger se a lei C dispuser nesse sentido. Agora aqui existem duas leis e uma decisão judicial: Lei A foi revogada por uma lei B e essa lei B posteriormente foi declarada inconstitucional pelo STF. De acordo com o art. 11, §2º, Lei 9.868/99, a lei A voltaria a produzir efeitos. Porém, o STF admite que seja afastado o efeito repristinatório nos casos em que a lei anterior também está acometida pelo mesmo vício de inconstitucionalidade. 2. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS – ART. 3º Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 3. FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA – Art. 4º Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

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A lei é a fonte primária, enquanto que as fontes formais secundárias são a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. De acordo com o art. 126, CPC o juiz não pode deixar de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade na lei (proibição do non liquet) 4. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS – Art. 5º Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Métodos de interpretação: devem ser observados em conjunto. - Quanto à interpretação das leis, os métodos de interpretação abaixo elencados devem ser observados em conjunto.

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS

QUANTO À ORIGEM

Autêntica Seu sentido é explicado por outra lei.

Doutrinária Seu sentido provém da doutrina.

Jurisprudencial Realizada pela jurisprudência.

QUANTO AO MÉTODO

Gramatical Baseada nas regras de linguística.

Lógica Reconstitui o pensamento do legislador.

Histórica Estudo do momento da edição da lei e sua progressão no tempo.

Sistemática Harmonização do texto em exame com o ordenamento jurídico.

Teleológica Examinam-se os fins para os quais a lei foi editada.

QUANTO AO RESULTADO

Declaratória Limita-se a dizer o sentido da lei.

Restritiva O legislador disse mais do que deveria e o intérprete deve restringir.

Ampliativa O legislador disse menos e cabe ao intérprete ampliar o sentido.

5. APLICAÇÃO DO DIREITO NO TEMPO – Art. 6º Art. 6º, LINDB A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

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§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Aqui vamos estudar o Direito Intertemporal. É possível uma lei nova atingir um fato pretérito (ato jurídico, Situação jurídica constituída, direito adquirido) praticado sob a égide de uma lei anterior? Os princípios que regulam o direito intertemporal: Princípio da irretroatividade da norma regra geral, lei nova não retroage, não atinge fato pretérito. Art. 5º, XXXVI CF; art. 2.035, 1ª parte do CC; art. 6º LINDB. Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, // mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Princípio da Retroatividade Mínima efeitos futuros de fatos pretéritos podem ser atingidos por lei nova. Art. 2035, 2ª parte CC. Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Em síntese: Validade no negocio juridico: lei do momento da celebração. Efeitos do negócio jurídico: lei do momento da produção de efeitos. Assim, pode ocorrer de um mesmo negócio jurídico ser regulado por dois diplomas. - Quanto à aplicação do direito no tempo, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

PRINCÍPIOS NORTEADORES DA APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Irretroatividade da norma Como regra geral, lei nova não retroage, não atinge fato pretérito. Art. 5º, XXXVI, CRFB; art. 2.035, 1ª parte, CC.

Retroatividade mínima Típicos das relações de trato sucessivo, os efeitos futuros de fatos pretéritos podem ser atingidos por lei nova. Art. 2035, 2ª parte, CC.

6. APLICAÇÃO DO DIREITO NO ESPAÇO – Arts. 7º ao 19

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Art. 7º, LINDB: regra geral. Teoria do Domicílio. Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. Exceções: arts. 8º ao art. 12 da LINDB O §6º, art. 7º LINDB foi alterado pela Lei 12.036/2009. O prazo para ratificar no Brasil divórcio realizado no exterior anterior era de 3 anos. § 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.

1. CONCEITO DE PESSOA NATURAL É o ser humano com vida, ou seja, aquele dotado de uma estrutura biopsicológica, a pessoa humana. Pode assumir obrigações e titularizar direitos. Vale lembrar que a dignidade da pessoa humana é fundamento da República, conforme art. 1º, III, CRFB. Todo ser humano é dotado de personalidade jurídica. Nesse caso, pouco importa se a pessoa referida é fruto de uma concepção natural (relações sexuais) ou de uma concepção artificial (fertilização). Até mesmo em se tratando de embrião fertilizado em laboratório, permanecendo congelado por determinado prazo, uma vez implantado no útero, passa à condição de nascituro e goza de proteção jurídica.

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Portanto, a pessoa natural é que é sujeito de direitos e deveres. Animais e seres inanimados estão afastados desse conceito, sendo, portanto, objeto de relações jurídicas, gozando de proteção específica da legislação ambiental.

2. INÍCIO DA PESSOA NATURAL

CAPÍTULO 2 PESSOA NATURAL: CAPACIDADE E PERSONALIDADE

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Quando buscamos apurar o início da pessoa natural, consequentemente estamos buscando o início da personalidade jurídica. Historicamente a personalidade jurídica foi compreendida tão somente como uma aptidão genérica reconhecida a toda e qualquer pessoa para que pudesse titularizar relações jurídicas. A visão moderna civil-constitucional tem a personalidade como um atributo reconhecido a uma pessoa, seja ela natural ou jurídica para que possa atuar no plano jurídico e reclamar uma proteção jurídica mínima, básica, reconhecida pelos direitos da personalidade. Ainda na perspectiva civil-constitucional, a personalidade não se esgota na possibilidade de alguém ser sujeito de direitos, relacionando-se com o próprio ser humano, sendo a consequência mais relevante do princípio da dignidade da pessoa humana. Art. 2o, CC A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; (...) Assim, conclui-se que os requisitos para o reconhecimento da personalidade jurídica são nascimento e vida. Nascido é o feto separado do corpo da mãe. Comprova-se o nascimento com vida por meio da presença de ar nos pulmões pela respiração. O nome do procedimento é docimasia hidrostática de Galeno ou docimasia pulmonar. É o clássico “respirou, nasceu com vida”. Dessa forma, uma primeira conclusão é que o registro do nascimento tem caráter meramente declaratório, sem natureza constitutiva, já que foi o nascimento que ensejou a aquisição da personalidade. Vale lembrar que o registro é feito no Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais.

3. O NASCITURO Art. 2o, CC (...) mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O nascituro é aquele que já está concebido no ventre materno, mas ainda não nasceu. Importante não confundir nascituro com a noção de concepturo. O nascituro é o filho que alguém já concebeu, mas ainda não nasceu, enquanto que o concepturo é o filho que alguém ainda vai conceber (a chamada prole eventual). Um ponto importante a tratar diz respeito à natureza jurídica do nascituro, principalmente diante da imprecisão conceitual do art. 2º, CC.

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TEORIAS

Natalista A personalidade começa com o nascimento com vida, de modo que não se reconheceriam direitos ao nascituro. Ex: Silvio Rodrigues, Arnoldo Wald.

Condicionalista Parte do pressuposto que a personalidade começa com o nascimento com vida, no entanto entende que o nascituro é uma pessoa condicional, já que a aquisição de sua personalidade depende da condição suspensiva “nascer com vida”. Ex: Fábio Ulhoa Coelho, Washington de Barros Monteiro.

Concepcionista

(mais moderna)

Entende que a personalidade jurídica é adquirida antes mesmo do nascimento, no momento da concepção, de modo que seus direitos patrimoniais ficam apenas condicionados ao nascimento com vida. Ex: Pontes de Miranda, Flavio Tartuce. Referências que amparam essa teoria: - Art. 1.609, § único, CC: reconhecimento da filiação do nascituro. - Art. 1.779, CC: nomeação de curador ao nascituro. - Art. 542, CC: doação ao nascituro. - Art. 1.798, CC: capacidade sucessória do nascituro. Há precedentes no STJ reconhecendo a possibilidade de dano moral ao nascituro.

Jurisprudência

STF Não tem uma posição específica: ora adota a natalista, ora a concepcionista.

STJ Tem adotado a teoria concepcionista.

Assim, a partir da concepção o nascituro já possui personalidade jurídica e é titular de direitos da personalidade. Nessa linha, pode postular alimentos, assistência pré-natal e indenização por eventuais danos causados pela violação de sua imagem. Vale lembrar também da Lei 11.804/08, que permite a concessão de alimentos gravídicos em favor do nascituro. Para a fixação dos alimentos gravídicos, a parte interessada deverá demonstrar indícios de paternidade, mas vale ressaltar que isso não induz um reconhecimento de paternidade. Há controvérsia na doutrina quanto à legitimidade, se seria do nascituro ou da gestante, devendo ser levado em conta o princípio da instrumentalidade das formas. Teoria Condicionalista X Teoria Concepcionista – distinção Ambas reconhecem direitos ao nascituro, apenas divergindo quanto ao reconhecimento da personalidade jurídica, que para os condicionalistas estaria submetida a uma condição, enquanto que para os concepcionistas o nascituro tem personalidade desde o momento da concepção. Observação 1: A proteção que o Código Civil defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. Enunciado 1, I Jornada Direito Civil, CJF. Natimorto é aquele que embora concebido não nasceu com vida.

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Observação 2: A proteção conferida ao nascituro não obsta o reconhecimento da possibilidade de aborto de feto anencefálico, conforme entendimento do STF na ADPF 54/DF, com fundamento na falta de viabilidade potencial da vida humana e na necessidade de preservação a integridade psicofísica da gestante. Observação 3: Há precedente no STJ reconhecendo o direito dos pais de receber indenização do Seguro DPVAT por conta do atropelamento de uma gestante que ocasionou o óbito do nascituro. O fundamento básico foi a proteção da vida intrauterina com base no princípio da dignidade da pessoa humana. (REsp 1.120.676/SC).

4. OS EMBRIÕES IN VITRO Os embriões laboratoriais são aqueles remanescentes de uma fertilização na proveta, são os embriões excedentários. Podem ser também os embriões pré-implantatórios, que ainda serão implantados numa mulher. O CC nada disse sobre o tema. De forma majoritária, a doutrina reconhece que o embrião laboratorial não goza da mesma proteção conferida ao nascituro e, por conseguinte, não teria direitos da personalidade. Seria possível o descarte dos embriões congelados? A Lei de Biossegurança (11.105/05) permite que quando não utilizados no prazo de 3 anos sejam encaminhados para pesquisas com células-tronco. O STF reconheceu a constitucionalidade desse dispositivo na ADI 3510/DF na qual se firmou o entendimento que a proteção constitucional do direito à vida não atinge o embrião humano fertilizado in vitro.

5. CAPACIDADE CIVIL Dado o conceito de personalidade, é importante não confundir personalidade e capacidade. E para falarmos em capacidade, precisamos ler o art. 1º, CC: Art. 1o, CC Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Adquirida personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de adquirir direitos e obrigações. A isso também se chama capacidade de direito ou de gozo. Assim, todo ser humano tem capacidade de direito porque a personalidade jurídica é um atributo inerente a sua condição. No entanto, nem toda pessoa possui a aptidão para exercer pessoalmente os atos da vida civil, seus direitos, caso em que lhes falta a chamada capacidade de fato. São os absolutamente incapazes, presentes no art. 3º, CC e os relativamente incapazes, presentes do art. 4º, CC. Os primeiros necessitam de representação para validade de seus atos, enquanto que os últimos precisam estar assistidos, sendo certo que são franqueados aos

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relativamente incapazes a pratica de alguns atos sem assistência sem que isso importe em alguma espécie de invalidade. Em síntese:

PERSONALIDADE ≠ CAPACIDADE ≠ LEGITIMAÇÃO

Personalidade Jurídica

A personalidade não se esgota na possibilidade de alguém ser sujeito de direitos, relacionando-se diretamente com o princípio da dignidade da pessoa humana.

Capacidade de Direito

É a capacidade de adquirir direitos, ínsita a todo ser humano que nasce com vida, o que faz esse conceito ser diretamente ligado ao de personalidade jurídica.

Capacidade de Fato

É a capacidade de exercício, ou seja, de exercer por si só os atos da vida civil. Quem não a possui é considerado incapaz, relativa ou absolutamente.

Absolutamente incapazes Relativamente incapazes

Art. 3º, CC – devem ser representados, sob pena de nulidade do ato – art. 166, I, CC.

Art. 4º, CC – devem ser assistidos, sob pena de anulabilidade do ato – art. 171, I, CC, mas podem praticar alguns atos sem assistência.

Legitimação

É uma espécie de capacidade especial que a lei exige de determinadas pessoas em certas situações para a prática de determinados atos. Exemplo: art. 496, CC.

6. TEORIA DAS INCAPACIDADES

A incapacidade é o reconhecimento da inexistência numa pessoa dos requisitos que a lei determina como indispensáveis para que ela exerça os atos da vida civil de forma direta e pessoal. Não há outras categorias de incapacidades além das previstas em lei. Ex: analfabetismo, velhice... não são causas de incapacidade. Absolutamente incapazes Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; [o reconhedimento desta incapacidade impõe o procedimento de interdição – curatela dos interditos] III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. [ex: sofreu um acidente e está internado no CTI] Relativamente incapazes Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

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II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; [ex: dependentes de álcool, toxicômanos] III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. [Estatuto do Índio – Lei 6.001/73]

7. EMANCIPAÇÃO Em regra, a incapacidade cessa com o fim da causa que a determinou ou com a aquisição da maioridade civil. A emancipação é a antecipação da capacidade de fato e não da maioridade civil, já que esta só é atingida aos 18 anos completos. O que se antecipam são alguns efeitos da maioridade civil. Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: [Emancipação Voluntária] I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, (...) [Emancipação Judicial] I - (...) ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; [Emancipação Legal ] II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Em síntese, a emancipação pode ser:

ESPÉCIES DE EMANCIPAÇÃO

Voluntária Para o menor de 16 anos completos, pode ser concedida pelos pais.

Judicial Nesse caso, ouve-se o tutor e a emancipação é deferida por sentença.

Legal Decorre de casos previstos em lei.

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Observação 1: A emancipação é irrevogável e irretratável. Ex: menor que se casa – emancipado e depois vem a se divorciar. Observação 2: A emancipação voluntária e a emancipação judicial não eximem os pais da responsabilidade civil pelos atos praticados pelos filhos emancipados, nos termos do art. 932, CC. É nesse sentido igualmente a jurisprudência do STJ. Se for emancipação legal, a responsabilidade é direta e pessoal do filho.

8. EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL: MORTE Com a morte ocorre ao fim da personalidade jurídica e, por conseguinte, uma mutação subjetiva nas relações jurídicas patrimoniais que eram mantidas pelo falecido e passam a ser titularizadas pelos seus sucessores.

8.1. Efeitos da morte a) Extinção da personalidade e dos direitos da personalidade b) Abertura da sucessão – art. 1.784, CC c) Extinção do poder familiar – art. 1.635, I, CC d) Finda contratos personalíssimos e) Cessa obrigação alimentar f) Finda o casamento/união estável g) Extingue o usufruto

8.2. Morte real A regra no ordenamento jurídico é a morte real. É aquela em que há a declaração médica da ocorrência da morte encefálica, sendo lavrada a certidão de óbito no cartório do registro civil. O Art. 80, Lei 6.015/73 traz os detalhes sobre a certidão.

8.3. Morte presumida (sem decretação de ausência) Nesse caso, não há o cadáver para haver a certificação do óbito por um profissional da Medicina. Ocorre em casos em que era muito provável a morte da pessoa. Os requisitos são a prova de que a pessoa estava no local do evento catastrófico e seu posterior desaparecimento. Art. 7o , CC. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

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Nesse caso, para a morte presumida exige-se o reconhecimento pelo juiz, por meio de procedimento especial de jurisdição voluntária de justificação de óbito. Art. 77, LRP - Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.

8.4. Comoriência Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Dada a falta de provas de quem morreu primeiro, o ordenamento jurídico supõe que morreram ao mesmo tempo. A comoriência traz consequências fundamentais no Direito das Sucessões, já que os comorientes não sucederam entre si. Dessa forma, conclui-se que somente haverá comoriência entre pessoas sucessíveis entre si ou que tenham estabelecido entre si uma relação jurídica de transmissão de direitos (ex: recebimento de indenizações oriundas de seguro de vida), fora isso não haveria interesse jurídico. Em síntese:

Morte real É a que ocorre com o diagnóstico de cessação da vida encefálica.

Morte simultânea (comoriência)

Quando duas pessoas falecem na mesma ocasião, não necessariamente no mesmo lugar, e não se puder precisar quem faleceu primeiro, serão considerados óbitos simultâneos. A consequência é que não há sucessão entre os comorientes.

“Morte civil” Quando uma pessoa viva não pode mais participar do ato jurídico. Ex: herdeiro deserdado ou indigno.

Morte presumida

Com declaração de ausência Sem declaração de ausência

No caso dos ausentes. Art. 7º, CC.

Observação: Testamento vital O testamento vital é um documento, redigido por uma pessoa no pleno gozo de suas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos tratamentos e nao tratamentos a que deseja se submetida quando estiver diante de um diagnóstico de doença terminal e impossibilitado de manifestar sua vontade. É importante que este documento seja redigido com a ajuda de um médico de confiança do paciente. Ademais, ressalte-se que as disposições, para serem válidas no Brasil apenas podem versar sobre interrupção ou suspensão de tratamentos extraordinários, que visam apenas prolongar a vida do paciente. Tratamentos tidos como cuidados paliativos, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente nao podem ser recusados.

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Também chamado de diretivas antecipadas ou living will o testamento vital diz respeito ao direito à morte digna (right to die). Dentro da perspectiva civil-constitucional e tendo em vista a cláusula geral de tutela da pessoa humana, ao direito de viver com dignidade deverá corresponder o direito de uma morte digna. Trata-se de permitir que a natureza das coisas siga seu curso, sem a manutenção da vida por meios artificiais. Trata-se de respeito à autonomia privada do paciente. A questão é regulada pela Resolução CFM 1995/2012. As pessoas podem escolher não serem submetidas a tratamentos extraordinários de manutenção da vida na fase final de doenças como demência, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica ou câncer, quando já não existe possibilidade de reversão do quadro. Mas o cuidado deve continuar até o momento da morte, com ênfase no controle dos sintomas e na resolução de pendências. A pessoa não é abandonada jamais e o foco da intervenção passa a ser o seu conforto. A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que a pessoa e seus familiares possam viver plenamente o tempo que lhes resta. A intenção não é dar anos a vida, mas sim, vida aos anos. Valorizar o tempo que existe. Você sabe a diferença? | Eutanásia x Ortotanásia x Distanásia Eutanásia: Já bem conhecida por todos. Acelera-se, com métodos artificiais, a morte de um paciente. Ortotanásia: Ao invés de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), deixa-se que este se desenvolva naturalmente (ortotanásia). O paciente não é mantido vivo com meios artificiais. Distanásia: é o prolongamento, através de meios artificiais e desproporcionais, da vida de um enfermo incurável em fase de terminalidade da vida.

CONCEITO Certas prerrogativas individuais, inerentes à pessoa humana aos poucos passaram a ser reconhecidas pela jurisprudência e protegidas pelo ordenamento jurídico.

CAPÍTULO 3 DIREITOS DA PERSONALIDADE

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Os direitos da personalidade são os direitos não patrimoniais inerentes à pessoa, compreendidos no núcleo essencial da sua dignidade. Os direitos da personalidade concretizam a dignidade da pessoa humana no âmbito civil. Francisco Amaral define os direitos da personalidade como direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual. Para responder a essa pergunta, antes precisamos abordar brevemente o histórico dos direitos da personalidade. BREVE HISTÓRICO O Código Civil de 1916, em harmonia com as codificações liberais e patrimonialistas, não tinha normas que fizessem referência expressa aos direitos da personalidade, de modo que a vida privada recebia tratamento protetivo pelos textos constitucionais, sem existir uma preocupação em expor sistematicamente a matéria. A natureza não patrimonial, em desacordo com a cultura jurídica ocidental de valorização do indivíduo proprietário fez com que permanecessem à margem do direito civil, sendo que foi preciso compreender que sua violação deveria se enquadrar no âmbito dos danos morais. O grande passo para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com o advento da CRFB/88, que se refere a eles no art. 5º, X: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; A doutrina afirma que os direitos da personalidade constituem, como se pode depreender da leitura que fizemos, verdadeira herança da Revolução Francesa, cujos lemas foram Liberdade, Igualdade e Fraternidade, decorrendo daí as dimensões dos direitos fundamentais. Prevê ainda, a CRFB/88 em seu art. 5º, a proteção aos direitos autorais: XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; Além disso, a CRFB prevê em seu art. 1º, III a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República. Vejamos então agora a relação entre os direitos da personalidade e o princípio da dignidade da pessoa humana.

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Os direitos da personalidade concretizam a dignidade da pessoa humana no âmbito civil. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VALOR FUNDAMENTAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO O viés que permite a unificação da personalidade jurídica é o princípio da dignidade da pessoa humana, presente no art. 1º, III, CF, como um dos fundamentos da República. O direito civil não pode se distanciar de nenhuma forma da legalidade constitucional, impondo-se obediência estrita às premissas fundamentais da Constituição Federal de 1988. Diante disso, impõe-se reconhecer a elevação da pessoa humana ao centro do ordenamento jurídico, no sentido de que as normas são feitas para a pessoa e sua realização existencial, devendo garantir um mínimo de direitos fundamentais que sejam vocacionados para proporcionar uma vida com dignidade. Funciona como uma mola propulsora da intangibilidade da vida humana, tendo como consectários, com o intuito de lhe garantir autonomia e o livre desenvolvimento da personalidade, o respeito à integridade física e psíquica das pessoas; admissão da existência de pressupostos materiais mínimos para que se possa viver e o respeito às condições fundamentais de liberdade e igualdade. NATUREZA Os direitos da personalidade tem natureza, segundo a tese dominante, de poderes que o homem exerce sobre a sua própria pessoa. TITULARIDADE Não há a menor duvida de que o ser humano é o titular por excelência dos direitos da personalidade. Todavia, cabe destacar que o instituto alcança também os nascituros, que, embora não tenham personalidade jurídica, tem seus direitos resguardados pela lei desde a concepção, nos termos do art. 2º, CC. Outro ponto importante quanto à titularidade diz respeito à pessoa jurídica, se seriam ou não titulares de direitos da personalidade. Mas esse item nós trataremos no final da aula em momento separado, já que agora estamos detidos na análise da pessoa física. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Vamos passar ao estudo das características dos Direitos da Personalidade. Em primeiro lugar, é preciso já saber que as características que serão mencionadas admitem certa flexibilização, e as veremos no momento adequado. INATOS – no sentido de surgirem com a própria existência da pessoa humana.

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GERAIS – A noção de generalidade significa que os direitos da personalidade são outorgados a todas as pessoas simplesmente pelo fato de existirem. EXTRAPATRIMONIAIS –Ou seja, são insuscetíveis de apreciação econômica, embora sua lesão possa gerar efeitos patrimoniais. Da extrapatrimonialidade decorre sua impenhorabilidade. ABSOLUTOS – são oponíveis erga omnes. Impondo a coletividade o dever de respeita-los, sendo um dever geral de abstenção dirigido a todos. INDISPONÍVEIS – já que são impenhoráveis e irrenunciáveis. Todavia, a compreensão dos direitos da personalidade deve se dar na perspectiva de sua relativa indisponibilidade, impedindo que seu titular possa dispor em caráter permanente ou total, preservando sua estrutura psicofísica e intelectual. Admite-se, eventualmente, a cessão do seu exercício (e não da sua titularidade) em determinadas situações e dentro de certos limites. Exemplo: direito de imagem, que pode ser cedido, onerosa ou gratuitamente, durante determinado lapso temporal. Enunciado 4, I Jornada Direito Civil - CJF –O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. Ou seja, o ato precisa ser específico e transitório. IMPRESCRITÍVEIS – inexiste um prazo extintivo para que seja exercido um direito da personalidade. Atenção, pois não se confunde com a prescritibilidade da pretensão indenizatória decorrente de um eventual dano à personalidade. Nesse caso, prescreve normalmente em três anos a pretensão de obter a indenização, conforme art. 206, §3º, V, CC. INTRANSMISSÍVEIS – extinguem-se com a morte do titular, havendo a extinção das relações jurídicas personalíssimas. Vale lembrar que o art. 12, § único atribui legitimidade aos chamados legitimados indiretos para reclamar em nome próprio seus direitos da personalidade. São o cônjuge ou companheiro e parentes em linha reta colateral ate o quarto grau. Por fim, apesar dos direitos da personalidade serem intransmissíveis, vale lembrar que os seus reflexos patrimoniais admitem transmissão. O que estou querendo dizer com isso é que perpetrado um dano contra a personalidade de alguém, surge uma pretensão reparatória por dano moral que se transmite aos herdeiros juntamente com a herança. Como mencionado, esses direitos podem ser mitigados até certo ponto, como nos casos de concessão de uso da imagem e o direito do autor, bem como no livre desenvolvimento da personalidade. Em síntese:

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DIREITOS DA PERSONALIDADE

Titularidade Pessoa natural. A pessoa jurídica não é titular de direitos da personalidade, já que estes são ínsitos à pessoa humana. No entanto, a pessoa jurídica, em casos excepcionais, é equiparada à pessoa natural para, no que for cabível, receber a proteção legal, tanto que pode sofrer dano moral.

Características Inatos, extrapatrimoniais, absolutos, indisponíveis, imprescritíveis e intransmissíveis. Vale lembrar que essas características, a depender do caso concreto, podem ser mitigadas para a proteção da dignidade da pessoa humana.

Tipicidade Estão elencados no CC de forma exemplificativa, ou seja, possuem tipicidade aberta, tendo em vista a impossibilidade de previsão de todas as hipóteses de direitos inerentes.

Classificação Podem ser divididos em 5 grupos: honra, imagem, corpo, nome e privacidade.

Tutela Preventiva Repressiva

Pelo ajuizamento de ação cautelar ou ordinária com multa cominatória, para evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade.

Pela imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou penal em lesão consumada.

ART. 11. COM EXCEÇÃO DOS CASOS PREVISTOS EM LEI, OS DIREITOS DA PERSONALIDADE SÃO INTRANSMISSÍVEIS E IRRENUNCIÁVEIS, NÃO PODENDO O SEU EXERCÍCIO SOFRER LIMITAÇÃO VOLUNTÁRIA. Enunciado 274, IV Jornada Direito Civil - CJF – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. A ponderação de valores é a técnica utilizada pelo intérprete quando lida com valores constitucionais situados em linha de colisão. Assim, como não há uma supremacia de um valor em relação ao outro, devem ser realizadas concessões recíprocas de modo a produzir um resultado que seja o socialmente desejável. A QUESTÃO DA AUTOLIMITAÇÃO OU DA DISPONIBILIDADE DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE – ANÁLISE DA AUTONOMIA PRIVADA.

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Em primeiro lugar, vamos reforçar que nenhuma pessoa pode renunciar qualquer parte ou dimensão de seus direitos da personalidade, pois atingiria o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana. Todavia, questiona-se se é possível a autolimitação de algum direito da personalidade. Atualmente, há vários casos de autolimitação, especialmente no que tange à privacidade, com ampla divulgação e estímulo pela mídia. Tem-se como exemplo os reality shows. A difusão atual dos meios de comunicação, amplificada com a revolução da informática e da chamada sociedade da informação levou ao extremo a potencialidade de invasão de privacidade das pessoas pelas empresas e indivíduos. As empresas utilizam-se de programas invasores, que coletam informações sobre as pessoas, para fins de induzi-las ao consumo de seus produtos/serviços, muitas vezes com a colaboração de pessoas que prestam informações que aparentemente são inofensivas sobre dados que integram sua intimidade e vida privada. Questiona-se então até que ponto a proteção jurídica da privacidade pode ser exequível na sociedade da informação. A informação potencializada ao infinito no mundo informativo pode ser irreversível. A banalização da autolimitação da privacidade está fazendo com que algumas pessoas encarem como normal sua violação. Bem, fato é que no plano jurídico constitucional e dos valores para concretizar a existência da pessoa e sua dignidade, não é possível a autolimitação irrestrita dos direitos da personalidade. Atenção pois para que não se configure renuncia certas esferas do direito da personalidade podem sofrer limitação voluntária em seu exercício. Vejamos 2 Enunciados aprovados nas Jornadas de Direito Civil no tocante ao tema: ART. 11. COM EXCEÇÃO DOS CASOS PREVISTOS EM LEI, OS DIREITOS DA PERSONALIDADE SÃO INTRANSMISSÍVEIS E IRRENUNCIÁVEIS, NÃO PODENDO O SEU EXERCÍCIO SOFRER LIMITAÇÃO VOLUNTÁRIA. Enunciado 4, I Jornada Direito Civil - CJF –O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. Enunciado 139, III Jornada Direito Civil - CJF – Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes. Vale lembrar que a autolimitação há de ser expressa e indiscutível e, ainda, é possível o direito de retratação, que é a possibilidade do titular revogar o consentimento, cabendo ao prejudicado o direito de indenização que comprovadamente resultar desse ato.

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CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE O Código Civil dedicou um capítulo novo aos direitos da personalidade, situados entre os artigos 11 e 21. Segundo Miguel Reale, Coordenador do Projeto do CC/2002, em virtude de se tratar de uma matéria complexa, foi dada preferência na elaboração o enunciado de poucas normas dotadas de rigor e clareza, objetivando seu melhor desenvolvimento pela doutrina e jurisprudência. Segundo Maria Celina Bodin de Moraes, não há mais que se discutir sobre uma enumeração taxativa ou exemplificativa dos direitos da personalidade, tendo em vista que, diante do princípio da dignidade da pessoa humana, estamos diante de uma cláusula geral de tutela da pessoa humana, motivo pelo qual também não se fala apenas em direitos subjetivos da personalidade, podendo se configurar sob outras formas como poder jurídico, direito potestativo, interesse legítimo, faculdade, ônus, enfim, diante de uma circunstancia jurídica relevante. Assim, os direitos da personalidade no CC/2002 estão previstos de maneira exemplificativa, tendo em vista a impossibilidade de previsão de todas as hipóteses de direitos inerentes, o que poderia levar à recusa de tutela jurídica a situações que fossem atípicas. Assim, os direitos da personalidade gozam de tipicidade aberta. Assim, quando o juiz se deparar com uma situação fática que não se enquadre nos casos previstos na lei, mas que evidencia uma violação a personalidade, deverá verificar se é cabível a tutela do princípio da dignidade da pessoa humana. Vamos adotar aqui a ideia de 5 grandes grupos de direitos da personalidade, que nas próximas aulas trataremos mais detida e separadamente: - Direito à honra - Direito à imagem - Direito ao corpo - Direito ao nome - Direito à privacidade Além desses, temos os tipos constitucionais dos direitos da personalidade como: direito à vida, liberdade, intimidade, vida privada, imagem, honra, sigilo, direito moral do autor, direito à identificação pessoal e direito à integridade física e psíquica. A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Em linhas gerais, a proteção dos direitos da personalidade poderá ser preventiva ou repressiva.

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Preventiva principalmente por meio do ajuizamento de ação cautelar ou ordinária com multa cominatória, objetivando evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade. Repressiva por meio da imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou penal (persecução penal) no caso de lesão que já se efetivou. Note que uma lesão à personalidade humana, em virtude das suas especificidades, não se coaduna com a recondução do prejudicado ao estado anterior. Vejamos o que o CC/2002 disciplina sobre o tema no art. 12, caput: ART. 12. PODE-SE EXIGIR QUE CESSE A AMEAÇA, OU A LESÃO, A DIREITO DA PERSONALIDADE, E RECLAMAR PERDAS E DANOS, SEM PREJUÍZO DE OUTRAS SANÇÕES PREVISTAS EM LEI. Observa-se que o dispositivo reforça os mecanismos de proteção no momento patológico da violação: além da possibilidade de recurso às medidas cautelares e ao pedido de antecipação de tutela, é preciso observar o art. 461, CPC, referente às ações que tenham por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Nesse sentido: Enunciado 140, III Jornada Direito Civil - CJF –A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo. Por outro lado, a reclamação por perdas e danos, que no caso de lesão à dignidade da pessoa humana, consiste na reparação do dano moral. Atenção, pois o art. 12 é a regra geral do direito civil, sendo aplicável subsidiariamente às hipóteses previstas no art. 20, CC, em caso específico de direito de imagem, que veremos adiante. O parágrafo único do art. 12 é foco de profundas controvérsias. Vamos a sua leitura: PARÁGRAFO ÚNICO. EM SE TRATANDO DE MORTO, TERÁ LEGITIMAÇÃO PARA REQUERER A MEDIDA PREVISTA NESTE ARTIGO O CÔNJUGE SOBREVIVENTE, OU QUALQUER PARENTE EM LINHA RETA, OU COLATERAL ATÉ O QUARTO GRAU. A pergunta que surge é o que explica a legitimidade do cônjuge e dos parentes para garantir a proteção dos direitos da personalidade do falecido, já que sendo os direitos da personalidade intransmissíveis eles se extinguem com a morte do titular? Embora a morte do titular implique a extinção dos direitos da personalidade, alguns interesses resguardados permanecem sob tutela, como o nome, imagem, autoria, sepultura e o cadáver do falecido. Por isso é que o ordenamento confere ao cônjuge e aos parentes legitimidade, já que seriam os efetivamente afetados pela lesão . Vale lembrar que deve ser feita interpretação

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extensiva do dispositivo de modo a dar legitimidade ao companheiro no caso de união estável. Além disso, vale lembrar que: Enunciado 398, V Jornada Direito Civil - CJF Art. 12, parágrafo único. As medidas previstas no art. 12, parágrafo único, do Código Civil podem ser invocadas por qualquer uma das pessoas ali mencionadas de forma concorrente e autônoma. Além disso, dentro da CRFB no art. 5º há inúmeras garantias específicas de proteção dos direitos da personalidade, com o uso de habeas corpus, habeas data, mandado de segurança, mandado de injunção, ação popular... Por fim, vale registrar que a Convenção Interamericana de Direitos Humanos – o Pacto de São José da Costa Rica, determina no plano internacional que os Estados se comprometem a respeitar e garantir os direitos da personalidade. As pessoas jurídicas têm direitos da personalidade? DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA Até agora tratamos dos direitos da personalidade das pessoas físicas. E as pessoas jurídicas, como ficam? Excelente pergunta, as pessoas jurídicas têm direitos da personalidade? A análise do tema principia no art. 52 do CC/2002 que diz o seguinte: Art. 52, CC. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Bem, a aplicação no que couber não significa que a pessoa jurídica seja titular de direitos da personalidade, mas sim de que está equiparada à pessoa física para exercer alguns deles. O direito muitas vezes se vale de equiparações para resolver casos em que não se pode promover uma igualação. Portanto, respondendo ao questionamento feito, no universo dos direitos da personalidade, a titularidade pertence unicamente à pessoa física ou humana, porque nenhum deles é inerente à pessoa jurídica. ENUNCIADO 286, IV JORNADA DE DIREITO CIVIL, CJF: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. Então como fica a situação da pessoa jurídica? Aí entra a equiparação e a solução para os casos em que uma pessoa jurídica tem violados direitos da personalidade. Em primeiro lugar, vamos lembrar as lições de Gustavo Tepedino no sentido de que o ataque que na pessoa humana atinge a sua dignidade, afetando seu psicológico, na pessoa jurídica repercute no âmbito da iniciativa econômica por ela desenvolvida.

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Vale lembrar, é claro, que não apenas as pessoas jurídicas com fins lucrativos estão suscetíveis a violações configurando danos institucionais que atingem a pessoa jurídica em sua credibilidade ou reputação. Determinados direitos da personalidade apenas dizem respeito à pessoa humana. Um exemplo é que não há cabimento a alegação de violação à vida ou a integridade física ou psíquica ou à liberdade da pessoa jurídica. Por outro lado, outros direitos da personalidade são plenamente exercitáveis pela pessoa jurídica e sua violação proporciona a indenização compensatória por danos morais. Nesse sentido, Súmula 227, STJ, a saber: SÚMULA 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Então, dentro de suas peculiaridades, a pessoa jurídica também será protegida, dentro do que for cabível. A doutrina aponta como cabíveis à pessoa jurídica a honra objetiva, também chamada de honra externa, que representa aquilo que os outros pensam sobre ela, sendo objeto de tutela contra eventuais atos difamatórios; e também a proteção a sua reputação ou imagem social. STJ, REsp 1.298.689/RS A pessoa jurídica pode sofrer dano moral desde que haja ferimento à sua honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social. DIREITO À HONRA E À IMAGEM A CRFB/88 no art. 5º, X assegurou direito à indenização também nos casos de lesão à honra e à imagem das pessoas. O CC/2002 disciplina o tema no art. 20: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. O parágrafo único estende de certa maneira a legitimidade para a defesa da imagem e da honra, ultrapassando a figura singular do lesado. Mas não se configura ai uma negação à intransmissibilidade que é atributo da personalidade. Ainda quanto à legitimidade para a defesa em juízo da personalidade, o parágrafo único do art. 20 deve ser lido em consonância com o art. 12, CC. De outra parte, por vezes, está em questão a imagem de todas as pessoas de um mesmo grupamento social. À guisa de exemplo, na defesa de imagem dos integrantes de suas categorias profissionais atuam os conselhos estaduais e o Conselho Federal de enfermagem, em casos notabilizados pela ampla cobertura da imprensa contra publicações e alusões que associavam as profissionais desta área à permissividade sexual.

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USO DE IMAGEM NÃO AUTORIZADA SÚMULA 403, STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Enunciado 5, I Jornada Direito Civil - CJF – Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12. Enunciado 275, IV Jornada Direito Civil - CJF – Arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro. DIVULGAÇÃO DE FATOS VERDADEIROS PELA IMPRENSA Quando se atribui a uma pessoa um fato falso a ofensa a honra é inquestionável. A natureza verídica do fato retratado não constitui uma carta branca para sua difusão nem isenta o jurista do controle de legitimidade do modo de divulgação da verdade. É preciso verificar, mesmo em se tratando de caso verídico, se foram adotadas as medidas necessárias a proteger a reputação do envolvido, sem exageros e sem o fim de gerar escândalos e furos de reportagem. Somente assim se terá garantida a liberdade de informação em consonância com a proteção a honra da pessoa humana. DIREITO À IMAGEM: PARÂMETRO DA PESSOA PÚBLICA Há alguns falsos parâmetros na proteção da imagem como o falso parâmetro do lugar público e da pessoa pública. Quanto a pessoa pública, que são as celebridades, pessoas notórias, elas devem ter mais ainda sua imagem protegida já que estão muito mais expostas a violações. DIREITO À IMAGEM: PARÂMETRO DO LUGAR PÚBLICO Quanto ao lugar público, o direito a imagem deve ser tutelado em qualquer lugar, o que não se confunde com a pessoa ser retratada na vida em comunidade, foto de uma torcida comemorando, banhistas numa praia lotada...diferente de uma mulher que é fotografada sozinha na praia com zoom e sua foto vai para as paginas dos jornais. Veja que o lugar é o mesmo, mas isso não torna licita a divulgação desautorizada de sua imagem, que nesse ultimo caso não mais representa um momento coletivo, mas sim sua intima individualidade.

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DIREITO AO CORPO Art. 13. salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. o ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Os limites à disposição do próprio corpo fundam-se na proteção à dignidade da pessoa humana. O CC/2002, seguindo a mesma linha do Código Civil italiano, e buscando um equilíbrio entre a proteger a livre manifestação da personalidade através do corpo e vedar atos de autolesão que impõem prejuízo à saúde e dignidade, apresenta dois critérios para definir a ilicitude do ato de disposição: - a diminuição permanente da integridade física - ou afronta aos bons costumes, - ressalvados os casos de exigência médica. Note, portanto, que nos dois primeiros casos, o consentimento não produziria efeitos. O terceiro critério, que é hierarquicamente superior, é a finalidade terapêutica chamada pelo legislador de exigência medica. Esse critério permite que a inviolabilidade seja quebrada em nome da proteção da vida ou da integridade psicofísica, na perspectiva de ser admitido um sacrifício em nome de um bem maior. Nota-se, como isso, que o próprio legislador realizou a ponderação de princípios. TRATAMENTO MÉDICO DE RISCO – ART. 15, CC/2002 ART. 15. NINGUÉM PODE SER CONSTRANGIDO A SUBMETER-SE, COM RISCO DE VIDA, A TRATAMENTO MÉDICO OU A INTERVENÇÃO CIRÚRGICA. ENUNCIADO 533 – O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos.

DIREITO AO NOME

NOÇÕES CONCEITUAIS O direito e a proteção ao nome e ao pseudônimo são assegurados nos artigos 16 a 19, CC/2002.

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O direito ao nome é espécie dos direitos da personalidade, pertencente ao gênero do direito à integridade moral, pois todo o indivíduo tem direito à identidade pessoal, de ser reconhecido em sociedade por denominação própria. Tem caráter absoluto e produz efeitos erga omnes devendo por todos ser respeitado. Direito de ter um nome Direito de interferir no próprio nome Direito de impedir o uso indevido por terceiros Art. 17. o nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. SÚMULA 221, STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. CARACTERÍSTICAS DO NOME Reconhecido o nome como direito da personalidade, ele possui algumas caracteristicas. Vamos às mais relevantes. ABSOLUTO – produz efeitos erga omnes. OBRIGATÓRIO – vejamos o art. 50, LRP Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório. INDISPONIVEL – seu titular não pode ceder, alienar, renunciar etc. EXCLUSIVO- essa característica pertence apenas a pessoa jurídica, já que em pessoas físicas admite-se a homonímia. IMPRESCRITIVEL – nao se perde o direito ao nome pelo seu não uso. INALIENÁVEL – a pessoa humana não pode vender ou dar seu nome já que não pode dispor de sua identificação pessoal. Mas a pessoa jurídica pode dispor de seu nome fantasia, já que é elemento integrante de seu patrimônio. INCESSÍVEL – caráter privativo. INEXPROPRIÁVEL – não suscetível de desapropriação pelo Poder Publico, salvo se for pessoa jurídica. IRRENUNCIAVEL – salvo casos em que se admite o despojamento de parte do nome. INTRANSMISSIVEL – já que é indisponível MAS A PRINCIPAL CARACTERISTICA DO NOME É A SUA IMUTABILIDADE RELATIVA. PRINCÍPIO DA INALTERABILIDADE RELATIVA

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Art. 58, LRP. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. Considerando que o nome é um direito da personalidade o ordenamento jurídico brasileiro abraça sua inalterabilidade relativa, com a intenção de proteger a pessoa humana. Assim, a principio, o nome será alterável apenas em casos excepcionais previstos expressamente em lei ou em situações excepcionais reconhecidas por decisão judicial. Isso porque o nome implica em registro publico e os registros públicos prezam por espelhar ao Maximo a veracidade dos fatos da vida. Assim o que se pretende com o nome civil é a real individualização da pessoa perante a família e a sociedade.

DIREITO À PRIVACIDADE

O tema está disciplinado no art. 21, CC/2002: ART. 21. A VIDA PRIVADA DA PESSOA NATURAL É INVIOLÁVEL, E O JUIZ, A REQUERIMENTO DO INTERESSADO, ADOTARÁ AS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA IMPEDIR OU FAZER CESSAR ATO CONTRÁRIO A ESTA NORMA.

O CC/1916 tratava o ausente como absolutamente incapaz, o que se revelava equivocado, já que o ausente não é incapaz, mas sim alguém que necessita de proteção aos seus interesses por estar desaparecido. No CC/2002 o instituto vem tratado de forma autônoma, conforme se observa a partir do art. 22: Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. O primeiro ponto a se observar é que a ausência necessita de declaração judicial, que se dá por meio de procedimento especial de jurisdição voluntária (Art. 1.159, CPC) A ausência é tratada como um tipo de inexistência da pessoa por morte, nos casos em que a pessoa desaparece de seu domicílio sem dar notícias e sem deixar procurador ou representante. Há presunção relativa de morte. São três fases

CAPÍTULO 4 AUSÊNCIA

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FASES DA AUSÊNCIA

Curadoria dos bens do ausente

Sucessão provisória

Sucessão definitiva

1ª fase | Curadoria dos Bens do Ausente A primeira fase se inicia com a provocação de qualquer interessado ou do MP, comunicando ao juiz o desaparecimento. Após, o juiz declara a ausência e na mesma decisão determina a arrecadação dos bens do ausente, nos termos do art. 1.161, CPC: Art. 1.160, CPC. O juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhe-á curador na forma estabelecida no Capítulo antecedente. Art. 1.161, CPC. Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais durante 1 (um) ano, reproduzidos de dois em dois meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens. No primeiro caso que se observa no art. 22, CC, o ausente não deixou procurador para administrar seus bens, caso em que há necessidade de nomeação de um curador para os bens do ausente. Ocorre que mesmo em alguns casos que o ausente deixa procurador, será possível a nomeação de curador, como se observa no art. 23, CC: Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.

c/c art. 1.159, CPC Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. Note que nessa primeira fase as atenções estão voltadas à proteção do patrimônio do ausente, flexibilizando-se a proteção de terceiros, motivo pelo qual é vedada a prática de qualquer ato de disposição pelo curador nomeado pelo juiz. Com relação à escolha do curador para os bens do ausente, art. 25, CC: Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. No que tange à tutela especial da família, as regras do Código Civil que se referem apenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica que envolve o companheiro, como, por exemplo, na hipótese de nomeação de curador dos bens do ausente (art. 25, CC). – Enunciado 97, I Jornada de Direito Civil, CJF.

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Atenção! O procedimento da ausência estará submetido à lei vigente no momento da declaração da ausência (1ª fase). Contado um ano da arrecadação dos bens do ausente, inicia-se a 2ª fase. Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

c/c Art. 1.163, CPC. 2ª fase | Sucessão Provisória

Prazos para Abertura da Sucessão Provisória

1 ano da arrecadação dos bens do ausente Ausente não deixou procurador.

3 anos da arrecadação dos bens do ausente Ausente deixou procurador.

Atenção! Conforme art. 28, § 1º , CC, se ninguém se manifestar nos prazos mencionados, cabe ao MP requerer a abertura da sucessão provisória. Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.

c/c art. 1.163, § 2º, CPC Os interessados para requerer a abertura da sucessão provisória estão elencados no art. 27, CC: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

c/c art. 1.163, § 1º, CPC Observe que a ideia de provisoriedade da sucessão se dá em virtude de ainda não se ter certeza acerca do falecimento do ausente, embora seja provável. Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

c/c art. 1.165, CPC A partir daí os herdeiros serão imitidos na posse dos bens, mas para tanto deverão prestar caução de restituir em caso de retorno do ausente, em virtude do caráter precário da transmissão que ocorre na sucessão provisória.

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Exceção! Herdeiros necessários estão dispensados da caução. Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. § 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.

c/c art. 34, CC

Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.

Observação 1: Credores do ausente. Os credores do ausente que nessa fase tiverem seus créditos satisfeitos não serão obrigados a restituir caso o ausente reapareça. Observação 2: Hipótese de alienação de imóveis do ausente. Não sendo caso de desapropriação, apenas será possível a alienação para evitar perecimento do bem. Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas. Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.

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3ª fase | Sucessão Definitiva

Hipóteses e Prazos de Requerimento da Sucessão Definitiva

10 anos da sentença que reconheceu a abertura da sucessão provisória. Art. 37.

Ausente desaparecido há pelo menos 5 anos +

O ausente tenha pelo menos 80 anos de idade. Art. 38

Isso porque a idade avançada diminui a probabilidade de estar vivo. Em virtude de estar acentuada essa presunção de óbito do ausente é que se justifica a transmissão do patrimônio em caráter definitivo. Nesse momento, a preocupação do legislador foi resguardar os interesses dos herdeiros do ausente. Nesse momento, os herdeiros podem dispor livremente do domínio dos bens. No entanto, essa disposição está sujeita a uma condição resolutiva, ou seja, se nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva o ausente retornar, receberá os bens no estado em que se encontrarem. E se o bem tiver sido alienado? O ausente receberá o preço que ao herdeiro foi pago. Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. Em tempo, vale lembrar que com o trânsito em julgado da sentença que reconhece a abertura da sucessão definitiva, há a presunção de morte do ausente. Art. 6º, CC: Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. É a morte presumida com declaração de ausência. Assim, tendo em vista que haverá transmissão patrimonial aos herdeiros, há incidência do imposto. Súmula 331, STF: É legítima a incidência do imposto de transmissão "causa mortis" no inventário por morte presumida.

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Relembrando: Efeitos do retorno do ausente.

Efeitos do Retorno do Ausente

1ª fase Nada acontece, em virtude de não ter decorrido nenhum efeito.

2ª fase Receberá os bens no estado em que se encontram, podendo levantar a caução em caso de perecimento ou depreciação do bem. Da mesma forma, se houver melhorias, deverá indenizar os possuidores de boa-fé.

3ª fase Receberá os bens no estado em que se encontram, ou o que se sub-rogou em seu lugar.

Se o ausente retornar após 10 anos da sentença da sucessão definitiva não terá mais direito a receber nenhum bem.

Observação: Dissolução do casamento do ausente Art. 1.571, § 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente. Há discussão doutrinária se o casamento estaria dissolvido na 1ª fase, quando da abertura da sucessão provisória, ou na 3ª fase, quando da abertura da sucessão definitiva. Em sede civil-constitucional, reconhecida a ausência, o ordenamento juridico deve buscar a reconstrução familiar no plano material e afetivo, resguardando a dignidade de cada membro do núcleo. Assim, o melhor entendimento é no sentido de que a ausência produz efeitos para: Fins patrimoniais: a partir da abertura da sucessão definitiva; Fins existenciais: a partir da abertura da sucessão provisória. De toda sorte, o cônjuge do ausente pode se valer do divórcio direto. Vale lembrar que retornando o ausente após a dissolução de seu casamento, em nada afetará o novo casamento de seu ex-cônjuge, sendo este plenamente válido e eficaz. Nessa linha, propõe-se uma releitura do instituto da ausência que é tão preso a valores puramente patrimoniais, e passar a um enfoque também de reconstrução familiar. Enfim, aspectos existenciais.

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INTRODUÇÃO A análise da pessoa jurídica na visão civil-constitucional reclama soluções que respeitem a tábua axiológica constitucional, em especial o princípio da dignidade da pessoa humana. Tendo em vista a necessidade de emprestar personalidade jurídica a agrupamentos humanos, o ordenamento jurídico empresta autonomia e independência a determinadas entidades, dotando-as de estrutura própria e personalidade jurídica distinta daqueles que a instituíram. Assim, a pessoa jurídica tem capacidade para titularizar relações jurídicas e praticar atos da vida civil, curvando-se sempre ao princípio da dignidade da pessoa humana e ao desempenho de uma função social. Então, a pessoa jurídica deve em atendimento a essa função social exercer suas atividades dentro de limites de razoabilidade e proporcionalidade, sob pena de incidir em abuso de direito, nos termos do art. 187, CC. A teoria da função social da empresa traz consigo a ideia do estabelecimento de comportamentos empresariais, positivos e negativos, instrumentalizando a utilização do capital a favor da pessoa humana. Isso porque a própria CRFB em seu art. 170 tratou a atividade economica submetendo-a à valorização do trabalho humano, da função social da propriedade etc. Sobre a temática, Enunciado 53, I Jornada de Direito Civil, CJF: Deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação das normas relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa. Alguns exemplos: - Desconsideração da personalidade jurídica (Art. 50, CC) quando a função social da empresa é desatendida em virtude de uso abusivo da empresa; - Possibilidade de extinção da pessoa jurídica, em virtude da ilicitude de sua finalidade; - Concorrência desleal atentatória à função social da empresa, combatida pelos arts. 174, CRFB e pela Lei Antitruste (Lei 8.884/94)

CAPÍTULO 5 PESSOA JURÍDICA

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A função social da empresa impõe a chamada responsabilidade social aos empresários, servindo como parâmetro para que o intuito de lucro não viole os direitos fundamentais da pessoa humana. É chamada também de empresarialidade responsável, comprometida com valores humanitários e sociais. Em última análise, é mais uma representação da passagem da valorização do ser em detrimento do ter, a despatrimonialização do Direito Civil. CONCEITO É o conjunto de seres humanos ou de bens constituídos na forma da lei com personalidade juridica distinta da dos seus integrantes. OBS1: Pessoa jurídica formada por conjunto de bens: fundações. OBS2: Princípio da Separação das Personalidades. Personalidade da Pessoa Jurídica ≠ Personalidade da Pessoa Física A desconsideração da personalidade jurídica é a mitigação do princípio da separação das personalidades. Ocorrerá quando houver desvio de finalidade ou confusão patrimonial. ELEMENTOS São elementos caracterizadores da pessoa jurídica: - a vontade humana criadora, que lhe dá origem; - a organização de pessoas ou destinação de um patrimônio afetado a um fim específico; - a licitude de seus propósitos; - a capacidade jurídica reconhecida pela norma jurídica CARACTERÍSTICAS A pessoa jurídica regularmente constituída tem as seguintes características: - personalidade jurídica distinta da de seus instituidores, adquirida a partir do registro de seus estatutos; - patrimônio distinto de seus membros (exceto em casos excepcionais de desconsideração); - não podem exercer atos privativos de pessoas naturais face a ausência de uma estrutura biopsicológica (Adoção, casamento); - podem ser sujeito ativo ou passivo em atos civis e criminais.

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- a regra é a responsabilidade subsidiária e limitada do sócio, exceto naqueles tipos societários em que a responsabilidade é ilimitada já desde o início. INÍCIO DA PESSOA JURÍDICA - A existência legal da pessoa jurídica começa a partir da inscrição do seu ato constitutivo no respectivo registro (art. 45, CC). Se não houver registro será uma:

SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA

Sociedade de fato Sequer possui ato constitutivo.

Sociedade irregular Possui ato constitutivo, mas não foi levado ao registro.

CLASSIFICAÇÃO - Em relação à classificação das pessoas jurídicas, elas podem ser de direito público ou de direito privado, da seguinte forma:

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Direito Público

Pessoa Jurídica

Pessoa Jurídica de Direito Público

Interno

Entes Federativos

Autarquias

Associações Públicas

Entidades de caráter público criadas por

lei

Externo

Estados estrangeiros

Pessoas regidas pelo direito internacional

público

Pessoa Jurídica de Direito Privado

Associações

Sociedades

Fundações

Organizações religiosas

Partidos Políticos

EIRELI

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Interno art. 41 CC. Rol exemplificativo (demais entidades...).

Pessoas jurídicas de direito público com estrutura de direito privado: fundações públicas e entes de fiscalização profissional.

Externo art. 42 CC. República Federativa do Brasil (Estado nacional soberano) Direito Privado art. 44 CC. Rol exemplificativo. Enunciado 144 CJF. A relação das pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva. Entes Despersonalizados (pessoas formais) Conjunto de seres humanos ou de bens que nao possuem personalidade jurídica própria. Sua personalidade se confunde com a de seus integrantes. - condomínio - espólio - massa falida - sociedade de fato Não possuem personalidade jurídica própria porque lhe falta a característica essencial do affectio societatis (intenção de estar junto com objetivo comum). O único ente que possui affectio societatis, mas mesmo assim nao tem personalidade juridica própria é a sociedade de fato, porque não preencheu o requisito legal do registro. Em um ente despersonalizado quem são sujeitos de direito: - condôminos (representado pelo síndico); OBS: a teoria dos entes despersonalizados adotada no Brasil não produz efeitos no âmbito processual. Art. 12, VII CPC. Podem integrar relação jurídica processual, embora não possuam legitimidade jurídica própria. Possuem personalidade judiciária. AS SOCIEDADES, ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES. SOCIEDADES

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Disciplinadas pelo direito empresarial. Sua principal característica é a finalidade de lucro que será repartido entre os sócios. Há affectio societatis. Ato constitutivo – contrato social. ASSOCIAÇÕES As associações são pessoas jurídicas de direito privado formada pela união de pessoas organizadas para fins não econômicos. Ressalta-se que a o fato de as associações terem finalidade não econômica não obsta a obtenção de lucro, desde que este seja revertido para a manutenção das atividades da associação. O que distingue a associação da sociedade é que na associação não há affectio societatis (art. 53, § único) em razão de não haver qualquer relação reciproca entre os associados. Já as sociedades tem como ponto central o desempenho de atividades econômicas em proveito dos sócios. Ato constitutivo – estatuto, registrado do Cartorio de Registro Civil de PJ. OBS: sindicato e centrais sindicais tem natureza de associação. A exclusão do sócio só é admissível havendo justa causa e após procedimento que assegure direito de defesa e recurso. Enunciado CJF – V Jornada 407) Art. 61. A obrigatoriedade de destinação do patrimônio líquido remanescente da associação a instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, em face da omissão do estatuto, possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a vontade dos associados, desde que seja contemplada entidade que persiga fins não econômicos. FUNDAÇÕES As fundações não são grupos humanos personificados; resultam da afetação de um patrimônio, por testamento ou escritura pública, que faz o seu instituidor com o objetivo de realizar uma finalidade ideal. O art. 62, § único deve ser lido de forma ampliativa. Enunciado CJF – I Jornada 8 – Art. 62, parágrafo único: A constituição de fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código Civil, art. 62, parágrafo único.

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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA É a mitigação ao princípio da separação das personalidades. Permite que o patrimônio do sócio responda por dívida que é da pessoa jurídica. Art. 28 do CDC foi que introduziu no ordenamento jurídico. Hipóteses previstas no CDC: - art. 28 caput elemento necessário para desconsiderar é imprescindível a presença de fraude. Para provar fraude necessita de um conteúdo probatório maior. Teoria Maior da Desconsideração. Também chamada de Teoria Subjetiva. - art. 28, §5º não é necessário comprovar fraude. Desconsidera sempre que a personalidade for um obstáculo para ressarcir o consumidor. Teoria Menor da Desconsideração. Os dispositivos são antagônicos. O STJ até 2004 só admitia a desconsideração com base na teoria maior. De 2004 em diante, o STJ passou a admitir a desconsideração com base na teoria menor. Portanto, a jurisprudência admite a aplicação das duas teorias, casuísticamente. Hipótese do CC: - art. 50 para as relações civis adota a Teoria Maior da Desconsideração. O juiz não pode de ofício desconsiderar a personalidade jurídica. Isso só ocorre na justiça do trabalho. Isso já ocorria antes mesmo da previsão do CC. OBS1: Não é necessária a comprovação de insolvência para que ocorra a desconsideração. OBS2: o direito brasileiro admite a desconsideração das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativo (ex: associação) OBS3: o direito brasileiro admite a desconsideração inversa. A desconsideração bem como sua decisão pode ser a qualquer momento. Desconsideração no Direito de Família: STJ: é possível. Sócio transfere bens pessoais para o patrimônio da pessoa jurídica. Desconsideração na Administração Pública: É possível. Ocorre quando desconsidera a personalidade jurídica para, por exemplo, ampliar uma sanção em procedimento licitatório. ANÁLISE DOS ENUNCIADOS DO CJF

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Enunciados do CJF – I Jornada 7 – Art. 50: Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido. Enunciados do CJF – III Jornada 146 – Art. 50: Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial). (Este Enunciado não prejudica o Enunciado n. 7) Enunciados do CJF – IV Jornada 281 – Art. 50. A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica. 282 – Art. 50. O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso de personalidade jurídica. 283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros. 284 – Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica. 285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor. Enunciados do CJF –V Jornada 406) Art. 50. A desconsideração da personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade quando presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades.

SÚMULAS DO STJ

SÚMULA 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

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Domicílio corresponde à sede jurídica da pessoa. Dentro da visão civil-constitucional a regulamentação do domicílio corresponde a uma projeção da proteção constitucional da própria pessoa humana, tendo em vista que a casa é o asilo inviolável do indivíduo (art. 5º, XI, CRFB). Algumas distinções conceituais são importantes: Moradia: Local onde se está acidentalmente, sem intenção de ali permanecer. Ex: casa de praia. Residência: Lugar em que a pessoa habita com a intenção de permanecer, mesmo que ausente eventualmente. Domicílio: é o centro habitual de negócios jurídicos da pessoa, sua sede jurídica. Essas são as definições da doutrina, um pouco distintas do que traz o art. 70, CC: Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Dois elementos podem ser extraídos da definição legal de domicílio: Elemento objetivo: fixação da residência Elemento subjetivo: ânimo de permanecer no local O Brasil adota a Teoria da Pluralidade Domiciliar (domicílio múltiplo), ou seja, pela regra da voluntariedade a pessoa pode ter quantos domicílios quiser, desde que os exerça com ânimo definitivo. Nesse sentido o art. 71, CC: Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. - São modalidades de domicílio:

MODALIDADES DE DOMICÍLIO

Domicílio ocasional ou aparente

Quando não tem residência habitual, o domicílio será aquele onde for encontrada (ex: caixeiro-viajante, circenses).

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.

Domicílio profissional Lugar onde a profissão é exercida; se for mais de um, será

CAPÍTULO 6 DOMICÍLIO

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qualquer um deles.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Domicílio da pessoa jurídica

Art. 75, CC

União DF

Estados e Territórios Suas capitais

Município Local da Administração Municipal

Demais pessoas jurídicas

Local das diretorias e administrações

Domicílio necessário ou legal

Art. 76, CC

Nos casos em que a lei impõe o domicílio.

Incapaz Do representante/assistente.

Servidor Público

Onde exerce permanentemente suas funções

Marítimo Local de matrícula do navio.

Preso Local onde cumpre pena.

Militar Exército Onde estiver servindo.

Marinha ou Aeronáutica

Na sede do comando militar a que estiver subordinado.

Domicílio especial Quando há uma cláusula de eleição de foro.

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

Adônidas Pessoas sem domicílio. Será o local onde forem encontradas.

Observação 1: Cláusula contratual de foro de eleição em contrato de consumo, nos termos do art. 51, CDC, tal cláusula será nula de pleno direito se causar prejuízo ao consumidor. Isso porque a cláusula de eleição de foro somente tem eficácia plena quando há liberdade de contratar, o que na maioria das vezes não se verifica nos contratos de consumo, que são grande parte de adesão. Art. 112. Parágrafo único, CPC. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu. O intuito do legislador é a proteção do consumidor que no contrato de adesão concorda com a cláusula abusiva de eleição de foro. Conclusão: o processo será remetido ao domicílio do “réu-aderente”. Observação 2: Nos contratos de locação de imóveis urbanos, em virtude do art. 58, II, Lei 8.245/91, é válida a eleição de foro contratual, exceto se demonstrada a abusividade (art. 187, CC). Vale lembrar que se nada constar no contrato, a competência será o foro do lugar em que está situado o imóvel.

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Consequências da fixação do domicílio a) Indica o local onde as obrigações contraídas deverão ser cumpridas (art. 327, CC); b) Determina a competência; c) Determina regras sobre começo e fim da personalidade, nome, capacidade e direitos de família (art. 7º, LINDB); d) Estabelece o local onde será aberta a sucessão hereditária e proposto o inventário (art. 1.785, CC / art. 96, CPC).

Bens são espécies de coisas com conteúdo econômico e suscetíveis de apropriação. O patrimônio representa um complexo de relações jurídicas apreciáveis economicamente (ativas ou passivas) de uma determinada pessoa. Importante lembrar a teoria do patrimônio mínimo de Luiz Edson Fachin, segundo a qual há o reconhecimento da necessidade de se garantir o mínimo existencial para a subsistência da pessoa e garantia de sua dignidade, visando à despatrimonialização das relações. Os bens podem ser classificados da seguinte forma:

CLASSIFICAÇÃO DOS BENS

BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

Imóveis Móveis

Bens imóveis por natureza (acessões naturais e artificiais), bens imóveis por imposição legal.

Bens móveis por natureza, bens móveis por imposição legal, bens móveis por antecipação, semoventes.

Fungíveis Infungíveis

São os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

São os móveis que não podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Consumíveis Inconsumíveis

São bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

São aqueles que admitem uso constante como, por exemplo, um livro.

Divisíveis Indivisíveis

São os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Não é possível fracionar sem a perda da essência do bem.

Singulares Coletivos

CAPÍTULO 7 BENS

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São os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais.

São representados pelas universalidades de fato e de direito.

BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Principais Acessórios

São aqueles que têm existência própria. Não possuem existência própria. Pelo princípio da gravitação jurídica, o acessório segue o principal.

BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO SUJEITO

Bens públicos Bens privados

São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno. São os bens de uso comum do povo, bens dominicais e bens de uso especial.

Seu conceito é dado por exclusão. São todos os demais são bens privados.

- Não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do Código Civil. - Pertenças são as coisas destinadas a conservar ou facilitar o uso das coisas principais, sem que destas sejam parte integrante. As pertenças substituiram os antigos bens por acessão intelectual que não estão no CC/02, sendo estes bens que a vontade humana imobiliza. - Partes integrantes são bens que se unem ao principal, formando um todo desprovido de existência própria. - De acordo com o art. 3º, Lei 9.610/98, os direitos autorais são bens móveis. - Seguem algumas distinções importantes entre bens imóveis e bens móveis:

BENS IMÓVEIS BENS MÓVEIS

Só podem ser adquiridos por escritura pública registrada no Cartório de Imóveis.

Só podem ser adquiridos pela tradição.

Os prazos para aquisição dos bens imóveis pela usucapião são mais dilatados (15, 10 ou 5 anos)

Já os prazos para os móveis (5 ou 3 anos)

Podem ser objeto de comodato Podem ser objeto de mútuo

A hipoteca é a garantia real que, em regra, é destinada aos bens imóveis.

O penhor é a garantia real dos bens móveis.

- Os bens dominicais podem ser afetados para ficarem livres de alienação, se tornando bens de uso especial. Da mesma forma, em sentido contrário, os bens de uso especial precisam ser desafetados para serem alienados.

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- O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos, conforme Enunciado 287, IV Jornada de Direito Civil, CJF. - Os bens públicos são impenhoráveis, imprescritíveis e inalienáveis (salvo se for desafetado).

SÚMULAS DO STJ

Súmula 228 - É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.

TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS - Os fatos jurídicos são aqueles que apresentam relevância na órbita jurídica, dividindo-se em fatos naturais e fatos humanos, sendo estes últimos divididos em ilícitos e lícitos, estes últimos representados pelos atos jurídicos em sentido estrito, pelos atos-fatos jurídicos e pelo negócio jurídico. - Nos atos jurídicos os efeitos estão previstos na lei, sem margem para o exercício da autonomia privada. No negócio jurídico as partes determinam os efeitos que desejam ver incidir na relação, dentre os efeitos possíveis previstos na norma. - O negócio jurídico é composto por elementos estruturais a ser estudado por meio da “Escada Ponteana” (Pontes de Miranda), segundo a qual o negócio jurídico possui três planos.

PLANO DA EXISTÊNCIA

PLANO DA VALIDADE

PLANO DA EFICÁCIA

Agente Capacidade Condição

Vontade Liberdade Termo

Objeto Licitude, possibilidade ou determinabilidade

Encargo

Forma Adequação Outros elementos

- A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. - No que tange à vontade, a reserva mental a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

CAPÍTULO 8 TEORIA DOS FATOS JURÍDICOS

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- Em relação à interpretação dos negócios jurídicos nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Além disso, os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. - Os elementos acidentais são introduzidos nos negócios jurídicos por vontade das partes, sendo facultativos, enquanto que os essenciais são obrigatórios.

ELEMENTOS ACIDENTAIS

Condição Conceito Subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Condição suspensiva É aquela que enquanto não ocorrer, impede a produção de efeitos do negócio jurídico.

Condição resolutiva É aquela que quando ocorre tem o condão de cessar os efeitos que estavam ocorrendo normalmente no negócio jurídico.

Termo Conceito Subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo.

Termo inicial Diz respeito ao início dos efeitos do negócio.

Termo final Diz respeito ao momento em que cessam os efeitos do negócio jurídico.

Encargo É um ônus que vem atrelado a um ato de liberalidade. Caso não seja cumprido o encargo, a liberalidade pode ser revogada. Note que aqui não se fala em suspensão ou resolução dos efeitos do negócio jurídico.

- É importante traçar a diferença entre condição suspensiva e o termo inicial, para além da questão do evento ser incerto no primeiro caso e certo no último. Enquanto a condição suspensiva suspende o exercício e a aquisição do direito, o termo inicial, enquanto não ocorrido, suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. - Os defeitos do negócio jurídico podem se apresentar sob a forma dos vícios de consentimento ou dos vícios sociais. São vícios do consentimento:

VÍCIOS DO CONSENTIMENTO

Erro É a falsa representação da realidade; a pessoa se engana sozinha. Pode ser substancial ou acidental, sendo certo que somente o erro substancial, escusável e real é capaz de anular o negócio jurídico. O erro substancial recai sobre aspectos relevantes, devendo ser a causa determinante sem a qual o negócio não se realizaria (art. 139, CC).

Dolo É um artifício malicioso empregado para que uma pessoa aja de forma a beneficiar o autor do dolo ou até mesmo um terceiro. Somente o dolo principal vicia o negócio jurídico, ou seja, o negócio foi realizado apenas porque uma das partes foi induzida. Há outros tipos de dolo que podem levar à anulação:

Dolus malus É aquele que não é tolerado, por ser mais grave.

Dolo de terceiro É causa para anulação, se a parte beneficiada pelo dolo de terceiro dele tinha ciência.

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Coação Ocorre quando há o emprego de violência psíquica para viciar a vontade. Pode ser absoluta (física), caso de inexistência do negócio jurídico por ausência de manifestação de vontade, ou relativa, que é a coação psicológica, esta sim apta a anular o negócio jurídico. Além disso, a coação pode ser principal, que é a causa determinante do negócio ou acidental, sendo certo que apenas a principal é apta a conduzir à anulação do negócio. A coação deve ser grave, injusta, causa determinante do negócio, o dano deve ser atual ou iminente e deve constituir ameaça de prejuízo à pessoas ou bens.

Estado de perigo Ocorre quando uma pessoa em extrema necessidade de salvar sua vida ou de outrem celebra negócio assumindo obrigação desproporcional e excessiva. A outra parte deve ter ciência da situação para o negócio ser anulável.

Lesão Ocorre quando uma das partes celebra negócio com obrigações manifestamente desproporcionais já em sua origem, em virtude de sua inexperiência ou premente necessidade, que não precisa ser conhecida pela outra parte para tornar o negócio apto à anulação. Vale lembrar que pelo princípio da conservação dos contratos, se for oferecido suplemento necessário ou redução do proveito, não será anulado o negócio.

- Além dos vícios de consentimento, onde há um descompasso entre o que a parte quer e o que ela manifesta, há os vícios sociais, que são aqueles em que existe coerência na manifestação de vontade, mas ela é dirigida de forma prejudicial. Os vícios sociais, de acordo com a doutrina, são representados pela fraude contra credores e pela simulação.

VÍCIOS SOCIAIS

Fraude contra credores Ocorre quando o devedor reduz ou elimina seu patrimônio, já sendo ou tornando-se insolvente. De acordo com o princípio da responsabilidade patrimonial, o patrimônio do devedor é a garantia de suas dívidas, motivo pelo qual o CC permite que o credor promova o desfazimento dos atos fraudulentos. Seus elementos são o dano (objetivo) e o conluio fraudulento (subjetivo). A ação para anular o negócio jurídico é a ação revocatória ou pauliana, de natureza desconstitutiva, devendo o bem retornar ao patrimônio do devedor.

Simulação Conceito Ocorre quando aparentemente foi realizado um negócio jurídico, que pode sequer não ter sido realizado ou ter sido realizado para ocultar o real negócio pretendido. A simulação pode ser absoluta ou relativa.

Absoluta Ocorre quando o ato é realizado com o intuito de não produzir nenhum efeito, sendo apenas uma aparência. O negócio jurídico será nulo.

Relativa Ocorre quando o ato é realizado para ocultar outro negócio, o dissimulado. Nesse caso, o negócio

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jurídico será nulo, mas poderá subsistir o negócio dissimulado se for válido na forma e na substância.

- O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real dispensa o prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia. - Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros. O aproveitamento do negócio jurídico dissimulado não decorre apenas do afastamento do negócio jurídico simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e formais de validade daquele. - É pertinente traçar algumas diferenças entre a fraude contra credores e a fraude contra a execução.

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE CONTRA A EXECUÇÃO

Trata-se de vício social disciplinado pelo CC, sem que haja nenhuma ação ou execução em andamento contra o devedor.

Trata-se de questão processual (art. 593, CPC) e a oneração do patrimônio ocorre no curso do processo, com o intuito de frustrar a execução.

Gera a anulação do negócio jurídico, desde haja a propositura da ação pauliana, aproveitando a todos os credores. Faz-se necessário provar a má-fé do terceiro.

Gera a ineficácia da alienação em face do credor, podendo requerida por petição nos autos e ser reconhecida de forma incidental no processo, aproveitando apenas o exequente.

- Um tema que sempre é objeto de cobrança em provas é a diferença entre nulidade absoluta e nulidade relativa:

NULIDADE ABSOLUTA X NULIDADE RELATIVA

ASPECTOS ANALISADOS NULIDADE ABSOLUTA NULIDADE RELATIVA

LEGITIMADOS Qualquer interessado; pode ser conhecida de ofício pelo juiz (matérias de ordem pública).

Somente a parte a quem aproveite, sendo vedado o conhecimento de ofício.

PRAZOS A qualquer tempo. Prazo decadencial, que pode ser de 2 anos (art. 179, CC) ou 4 anos (art. 178, CC).

SANABILIDADE DO VÍCIO Vício insanável, mas em alguns casos admite-se a conversão substancial do negócio jurídico.

Vício sanável pelas partes.

SENTENÇA – NATUREZA JURÍDICA E EFEITOS

Declaratória, com efeitos ex tunc.

Constitutiva, com efeitos ex nunc.

SÚMULAS DO STJ

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Súmula 195: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.

- Quando violado um direito nasce para o seu titular uma pretensão, que se não for exercida no prazo fixado na lei extingue-se pela prescrição. A prescrição tem como requisitos, assim, a violação de um direito, a inércia do seu titular e o decurso do tempo fixado em lei. Os prazos prescricionais somente podem ser fixados por lei. - A decadência é a perda do direito potestativo, em virtude da inércia do seu titular no prazo legal. A decadência pode ser legal ou convencional. - Um tema que sempre é objeto de cobrança em provas é a diferença entre prescrição e decadência:

PRESCRIÇÃO X DECADÊNCIA

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Extingue a pretensão. Extingue o direito.

Está ligada a direitos subjetivos, atingindo ações condenatórias.

Ligada a direitos potestativos, atingindo ações constitutivas (positivas e negativas)

Os prazos são estabelecidos pela lei. Os prazos podem ser estabelecidos pela lei (decadência legal) ou por acordo entre as partes (decadência convencional).

Deve ser conhecida de ofício pelo juiz. Decadência legal – deve ser conhecida de ofício pelo juiz.

Decadência convencional – não pode ser reconhecida de ofício.

A parte pode renunciar à prescrição (após a consumação)

Decadência legal – não admite renúncia.

Decadência convencional – admite renúncia (após a consumação).

Não corre contra determinadas pessoas. Se opera contra todos, exceto os absolutamente incapazes.

Há casos de impedimento, suspensão e interrupção dos prazos de prescrição.

Salvo regras específicas, não é impedida, suspensa ou interrompida.

Prazo geral de 10 anos (art. 205, CC) Majoriatariamente entende-se que não há um prazo geral de decadência, mas sim um prazo geral para anular o negócio jurídico (2 anos, a contar da celebração).

Prazos especiais: art. 206, CC, variando de 1 a 5 anos.

Previstos em dispositivos esparsos no Código Civil.

CAPÍTULO 9 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

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- Assim como não corre a prescrição entre os cônjuges na constância da sociedade conjugal (art. 197, I, CC), não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da união estável. - O prazo prescricional de três anos para a pretensão de reparação civil aplica-se tanto à responsabilidade contratual quanto à responsabilidade extracontratual, conforme Enunciado 419, V Jornada de Direito Civil, CJF.

- Prescrição intercorrente é aquela que ocorre em processo em curso, quando o autor permanece inerte durante determinado tempo, gerando a perdão da pretensão. - Vale lembrar que existem pretensões imprescritíveis tais como as ações relativas a: direitos da personalidade, estado das pessoas, exercício facultativo ou potestativo, bens públicos, direito de propriedade, reaver bens confiados à guarda de outrem e ações destinadas a anular inscrição de nome empresarial.

SÚMULAS DO STF

SÚMULA 494: A ação para anular venda de ascendente a descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em vinte anos, contados da data do ato, revogada a Súmula 152. SÚMULA 443: A prescrição das prestações anteriores ao período previsto em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio direito reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta. SÚMULA 383: A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo. SÚMULA 264: Verifica-se a prescrição intercorrente pela paralisação da ação rescisória por mais de cinco anos. SÚMULA 230: A prescrição da ação de acidente do trabalho conta-se do exame pericial que comprovar a enfermidade ou verificar a natureza da incapacidade. SÚMULA 154: Simples vistoria não interrompe a prescrição. SÚMULA 153: Simples protesto cambiário não interrompe a prescrição. SÚMULA 151: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. SÚMULA 150: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação. SÚMULA 149: É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.

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SÚMULAS DO STJ

SÚMULA 477: A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários. SÚMULA 405: A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em três anos. SÚMULA 412: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. SÚMULA 291: A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos. SÚMULA 278: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral. SÚMULA 229: O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. SÚMULA 210: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em trinta (30) anos. SÚMULA 194: Prescreve em vinte anos a ação para obter, do construtor, indenização por defeitos da obra. SÚMULA 143: Prescreve em cinco anos a ação de perdas e danos pelo uso de marca comercial. SÚMULA 106: Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência. SÚMULA 101: A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano. SÚMULA 85: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior a propositura da ação. SÚMULA 39: Prescreve em vinte anos a ação para haver indenização, por responsabilidade civil, de sociedade de economia mista.

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OBRIGAÇÕES

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- As obrigações podem ser classificadas quanto ao seu objeto em obrigações de dar, de fazer e de não fazer.

Obrigação de dar Coisa certa Abrange seus acessórios embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou de circunstâncias do caso.

Coisa incerta A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. A escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.

Obrigação de fazer O devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível arcará com perdas e danos. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Obrigação de não fazer Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Entretanto, será extinta a obrigação, desde que, sem culpa do devedor, se torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.

Ponto de destaque no estudo das obrigações de dar e de restituir é a consequência quando ocorrida a perda ou deterioração do objeto, a depender se para o fato o devedor concorreu ou não com culpa, conforme se verifica abaixo.

OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA

Perda Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos

Sem culpa Fica resolvida a obrigação para ambas as partes

Deterioração Com culpa O credor poderá exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, podendo exigir em ambos os casos indenização das perdas e danos.

Sem culpa O credor poderá resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR

Perda Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos

Sem culpa O credor terá a perda e a obrigação será resolvida, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Deterioração Com culpa Responderá pelo equivalente + perdas e danos

Sem culpa O credor receberá como se encontrar, sem direito a

CAPÍTULO 1 MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

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indenização.

- No que tange aos elementos, as obrigações podem ser alternativas, facultativas, cumulativas, fracionárias, divisíveis e indivisíveis e solidárias.

Obrigações alternativas São aquelas em que, embora exista uma multiplicidade de prestações de possível realização naquela obrigação, apenas uma delas deverá ser satisfeita. A escolha, em regra, cabe ao devedor e é chamada de concentração. Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. Por fim, se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.

Obrigações facultativas Nestas é facultado ao devedor trocar o objeto da prestação por outro que já estava especificado no pacto, sendo um direito potestativo do devedor. A diferença fundamental é que há apenas uma prestação simples e, portanto, não existe o ato de escolha. Por conta disso, a prestação substituta jamais pode ser exigida pelo credor.

Obrigações cumulativas São aquelas em que há duas ou mais prestações exigíveis conjuntamente, de modo que o descumprimento de uma delas importa no inadimplemento total da obrigação.

Obrigações divisíveis e indivisíveis

Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação for indivisível, cada um será obrigado pela dívida toda, sendo certo que o devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Obrigações solidárias Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. A solidariedade pode ser ativa ou passiva.

- As obrigações solidárias possuem alta incidência em provas com este foco, motivo pelo qual importante se faz reforçar alguns aspectos das solidariedades ativa e passiva.

Solidariedade ativa - Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. - O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a

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dívida até o montante do que foi pago. - Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

Solidariedade passiva - O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. - O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. - Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

- Abrigadas em mais uma classificação das obrigações, agora quanto à exigibilidade e, encontram-se as obrigações civis e naturais.

Obrigações civis São as obrigações que possuem exigibilidade.

Obrigações naturais São aquelas cujo cumprimento não é exigível e se for feito não é cabível a repetição do que foi pago. É o que ocorre, por exemplo, nas obrigações fundadas em pretensões prescritas e nas dívidas oriundas de jogo ou aposta.

- E, por fim, quanto ao conteúdo, as obrigações dividem-se em obrigações de meio e obrigações de resultado.

Obrigações de meio O devedor não se obriga a atingir um resultado. Sua obrigação consiste em utilizar todos os meios necessários, adequados e eficientes para que o resultado seja atingido.

Obrigações de resultado O devedor se obriga pela ocorrência do resultado, sem o qual será considerado inadimplente.

- Conforme a jurisprudência do STJ é de resultado a obrigação nas cirurgias estéticas, comprometendo-se o profissional com o efeito embelezador prometido.

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- Superada a concepção clássica do direito obrigacional, vigora a visão de obrigação como processo, em um prisma dinâmico que deve ser conduzido ao adimplemento, que é a forma de extinguir a obrigação pactuada. O modo de adimplemento por excelência é o pagamento. Há requisitos subjetivos e objetivos para o pagamento.

REQUISITOS SUBJETIVOS

Quem paga É o solvens. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Também pode ser feito por terceiro não interessado se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Além disso, o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Vale lembrar, por oportuno, que se o pagamento for feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não haverá obrigação de reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Quem recebe É o accipiens. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. No entanto, se o pagamento for feito de boa-fé a credor putativo será válido, ainda provado depois que não era credor. Sobreleva destacar, por fim, que não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

REQUISITOS OBJETIVOS

Objeto É o que une devedor e credor na relação obrigacional. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Importa salientar que quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Prova A prova no pagamento consubstancia-se na quitação. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Quando o pagamento for em parcelas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.

Local O pagamento será feito no domicílio do devedor, salvo se as partes estipularem diferente ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias, sendo certo que estipulados dois ou mais lugares, caberá ao credor a escolha. Ressalta-se que o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

CAPÍTULO 2 ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

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Tempo Não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente, salvo convenção em sentido diverso. Quando se tratar de obrigações condicionais estas serão cumpridas na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que o devedor teve ciência. Há casos em que o credor poderá cobrar a dívida antes de vencido o prazo, conforme art. 333, CC.

- A quitação regular referida no art. 319, CC engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de comunicação à distância, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes. - A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do equilíbrio, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor. - Embora o pagamento direto estudado seja o meio por excelência de adimplir uma obrigação, existem modalidades especiais de pagamento também chamadas de modos de pagamento indireto, que terão o condão de produzir o mesmo resultado prático do pagamento direto, qual seja, o adimplemento e a extinção da obrigação avençada.

PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

Trata-se do meio judicial (depósito judicial) ou extrajudicial (em estabelecimento bancário) que o devedor pode adotar para exonerar-se da obrigação com o depósito da coisa devida. Será cabível a consignação se: O credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; O credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; O credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; Ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; Pender litígio sobre o objeto do pagamento. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito.

SUG-ROGAÇÃO

Ocorre quando há a substituição de uma coisa ou pessoa por outra, motivo pelo qual a sub-rogação pode ser real ou pessoal. Além disso, a sub-rogação pode ser legal ou convencional.

Sub-rogação Legal Sub-rogação convencional

Opera-se de pleno direito em favor: Do credor que paga a dívida do

A sub-rogação será convencional quando: Quando o credor recebe o pagamento de

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devedor comum Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; Do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos, como na cessão de crédito; Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Nesse sentido, no que concerne à produção de efeitos, a sub-rogação produz o efeito liberatório, já que exonera o credor originário, bem como o efeito translativo, na medida em que ocorre a mudança objetiva ou subjetiva na relação.

IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

- Trata-se do direito que a pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem de indicar a qual deles oferece pagamento, desde que todos sejam líquidos e vencidos. Nessa situação, se o devedor não explicitou em qual das dívidas líquidas e vencidas queria imputar o pagamento, e se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a escolha feita pelo credor, exceto se provar a ocorrência de violência ou dolo. Por fim, se a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. - São requisitos da imputação do pagamento: Pluralidade de débitos; Débitos de mesma natureza líquidos e vencidos Pagamento suficiente para extinguir quaisquer dos débitos. Identidade de credor e devedor.

DAÇÃO EM PAGAMENTO

Ocorre quando o credor consente em receber prestação diversa da que lhe é devida. A dação tem como requisitos: A existência de um débito anterior entre as partes; Que seja acordada entre devedor e credor; A coisa dada em pagamento deve ser diversa da devida.

NOVAÇÃO

Ocorre quando é constituída uma nova obrigação para suceder a obrigação primitiva. A novação pode ser objetiva ou subjetiva.

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Novação Objetiva Novação Subjetiva

Ocorre quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior.

Passiva Ativa

Quando o novo devedor sucede o antigo, ficando este quite com o credor.

Quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Para a ocorrência da novação são exigidos os seguintes pressupostos: A obrigação anterior precisa ser válida; As partes precisam estar de acordo com a nova dívida; Animus novandi.

COMPENSAÇÃO

Será possível a compensação se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, caso em que as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. Para tanto, precisa se dar entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. A compensação pode ser legal, judicial e convencional.

Legal É a que se dá apenas em relação a dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Judicial É aquela em que os créditos não são em si líquidos, mas o juiz pode determinar sua liquidação sem que isso envolva complexidade.

Convencional Decorre da vontade das partes em extinguir os créditos recíprocos, mesmo que as dívidas não sejam líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Em alguns casos a compensação será vedada: Dívidas provenientes de esbulho, furto ou roubo; Obrigações derivadas de comodato, depósito e alimentos; Dívidas sobre bens insuscetíveis de penhora; Em prejuízo de direito de terceiro; Quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.

CONFUSÃO

- Ocorre a confusão quando na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor, caso em que há a extinção da obrigação. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Seus requisitos são: Existência de única obrigação Identidade na mesma pessoa de credor e devedor Reunião de patrimônios. - Salienta-se, nos termos do art. 383, CC que a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.

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REMISSÃO

A remissão consiste no perdão da dívida por parte do credor, que deve ser aceito pelo devedor e não prejudicar terceiros. A remissão não se confunde com a renúncia ao crédito, já que na remissão o devedor pode se opor ao ato, enquanto que a renúncia é ato unilateral do credor, não havendo necessidade da anuência do devedor.

- A concepção de obrigação como processo permite a compreensão do fenômeno obrigacional como algo passível de mutações em decorrência de vicissitudes a que a vida está sujeita. Nesse cenário, tendo em vista essas possíveis modificações, é que inicia o estudo das formas de transmissão das obrigações. Como o próprio nome diz, nos casos a seguir ocorre uma substituição de sujeitos na obrigação e não em si sua extinção. De toda forma, o objetivo precípuo é o adimplemento obrigacional eficaz. - As principais formas de transmissão das obrigações são a cessão de crédito e assunção de dívida, que serão analisadas separadamente.

CESSÃO DE CRÉDITO

- O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor. Na cessão abrangem-se todos os seus acessórios, salvo disposição em contrário.

Se houver cláusula proibitiva da cessão, esta não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação, em virtude do princípio da publicidade.

Se a cessão não celebrar-se mediante instrumento público ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654, CC, será ineficaz perante terceiros.

A cessão também será ineficaz perante o devedor que não for dela notificado. Isso é importante porque fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida.

Na cessão a título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

No que tange à responsabilidade do cedente em relação ao cedido, a cessão de crédito pode ser:

Pro soluto Pro solvendo

O cedente garante apenas a existência do crédito.

O cedente assume o risco da insolvência do devedor.

CAPÍTULO 3 TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

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- É muito comum a cobrança de questões em provas que procurem confundir o candidato em relação à cessão de crédito, novação e sub-rogação, motivo pelo qual sobrelevam as distinções a seguir traçadas.

NOVAÇÃO SUBJETIVA ATIVA CESSÃO DE CRÉDITO

A obrigação primitiva é extinta. A obrigação primitiva é mantida.

Requer anuência do devedor. Dispensa a anuência do devedor, que precisa apenas ser notificado.

A obrigação primitiva é extinta com seus acessórios.

Abrange todos seus acessórios.

CESSÃO DE CRÉDITO SUB-ROGAÇÃO

Pode não haver correspondência entre o valor que o crédito foi adquirido e o seu valor nominal.

Não tem caráter especulativo.

Não há preferência de recebimento entre credores, devendo o pagamento ser fracionado.

Se a sub-rogação for parcial o credor originário manterá a preferência na cobrança do restante da dívida.

A produção de efeitos se dá após a notificação do devedor.

Produz efeitos imediatamente.

- Na assunção de dívidas ocorre a transmissão do débito obrigacional.

ASSUNÇÃO DE DÍVIDA

Pela assunção de dívida, é facultado a um terceiro assumir a obrigação do devedor. Há necessidade do consentimento expresso do credor. O devedor primitivo ficará exonerado salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. A assunção de dívida poderá ser liberatória ou cumulativa.

Liberatória O devedor primitivo fica exonerado.

Cumulativa O novo devedor assume a dívida junto com o devedor primitivo.

Além disso, a assunção poderá ser por expromissão ou por delegação.

Expromissão Também chamada de unifigurativa, nela o pacto é realizado diretamente entre o novo devedor e o credor, sem necessidade de anuência e participação do devedor primitivo, seja ela liberatória ou cumulativa.

Delegação Também chamada de bifigurativa, nela o antigo devedor delega o débito ao novo e, para tanto, é preciso a anuência do credor.

- Assim como na cessão de crédito, na assunção de dívida é importante traçar sua diferença em relação a institutos afins.

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- Assunção liberatória X Novação Subjetiva Passiva

ASSUNÇÃO LIBERATÓRIA NOVAÇÃO SUBJETIVA PASSIVA

Em ambas ocorre substituição no polo passivo.

Modo de transmissão da obrigação. Modo de extinção da obrigação.

A relação obrigacional que passa do devedor originário para o novo é mantida, inclusive com seus consectários.

A obrigação originária é extinta com seus acessórios, criando-se uma nova.

- Assunção cumulativa X Fiança

ASSUNÇÃO CUMULATIVA FIANÇA

O novo devedor assume a dívida junto com o devedor primitivo.

O fiador não assume a posição de devedor, sendo subsidiária sua responsabilidade.

O novo devedor quando paga não se sub-roga já que está pagando débito próprio.

O fiador quando paga a dívida sub-roga-se nos direitos do credor.

- Assunção cumulativa X Promessa de liberação

ASSUNÇÃO CUMULATIVA PROMESSA DE LIBERAÇÃO

Em ambos os casos uma pessoa se compromete a pagar prestação alheia.

O credor pode cobrar de qualquer um dos devedores.

O credor somente pode cobrar do devedor originário, já que o terceiro tem relação unicamente com o devedor, não se obrigando perante o credor.

- Pelo princípio da responsabilidade patrimonial, todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento das obrigações. - O não cumprimento de uma obrigação pode decorrer de um ato culposo do devedor ou de fato que a ele não possa ser imputado (caso fortuito e força maior).

CAPÍTULO 4 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

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- As espécies de inadimplemento são as seguintes:

- Vale lembrar que a inobservância ao princípio da boa-fé objetiva e seus deveres anexos no curso da relação obrigacional acarreta, igualmente, o inadimplemento que, nesse caso, é chamado de violação positiva do contrato. Nesse sentido, Enunciado 24, I Jornada de Direito Civil, CJF. - Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e correção monetária, sendo estas algumas consequências do inadimplemento.

• o credor poderá exigir o cumprimento forçado ou, se impossível, indenização.

Ato culposo

do devedor

• quando da ocorrência de caso fortuito ou força maior. O devedor não responderá pelos danos, salvo se por eles tiver se responsabilizado.

Fato não imputável

ao devedor

Inadimplemento

absoluto

Total

(totalidade do objeto. a obrigação não pode mais ser

cumprida de forma útil ao credor)

Parcial

(apenas alguns objetos da prestação foram cumpridos)

Inadimplemento

relativo

Mora

(cumprimento imperfeito da obrigação sem observar tempo, lugar ou forma

ajustados.

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- Mora é o atraso ou cumprimento imperfeito da obrigação. É importante distinguir a mora do inadimplemento absoluto. Ambos são espécies do gênero inadimplemento, no entanto se houver utilidade ou proveito ao credor no cumprimento da obrigação fala-se em mora; caso o cumprimento tenha se tornado inútil ao credor, fala-se em inadimplemento absoluto. - A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor, conforme Enunciado 162, III Jornada de Direito Civil, CJF. - Há duas espécies de mora: mora do devedor e mora do credor. - Mora do devedor

MORA DO DEVEDOR

Ocorre quando há o descumprimento da obrigação ou quando esta é cumprida de modo imperfeito. Há dois tipos de mora do devedor, a saber:

Mora ex re É automática, dispensando atitude do credor.

Ocorre quando: Nas obrigações com termo predeterminado, em que o vencimento por si só interpela; Débitos decorrentes de ilícito extracontratual; Quando o devedor declara que não cumprirá a obrigação

Mora ex persona Ocorre nos casos em que não havia um termo para o cumprimento da obrigação, caso em que o credor deverá promover a interpelação do devedor.

- Mora do credor

MORA DO CREDOR

Ocorre quando há o retardamento no recebimento da prestação pelo credor.

Pressupostos

Vencimento da obrigação Oferta da prestação pelo devedor Recusa injustificada em receber pelo credor Constituição em mora por meio da consignação em pagamento

Efeitos

Desobriga o devedor em relação à conservação da coisa Responsabiliza o credor pelo pagamento das despesas efetuadas pelo devedor O credor ficará sujeito a receber a coisa, em caso de oscilação do preço, pela estimação mais favorável ao devedor.

- Vale lembrar que pode ocorrer a mora tanto por parte do credor tanto por parte do devedor, podendo ser moras simultâneas ou moras sucessivas.

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MORAS SIMULTÂNEAS MORAS SUCESSIVAS

Quando as duas partes estão em mora ao mesmo tempo, a mora de um exclui a mora do outro, compensando-se. Nesse caso, nem credor nem devedor podem exigir perdas e danos.

Nesse caso, credor e devedor responderão em virtude da mora a que deram causa nos períodos respectivos.

- Os efeitos da mora podem ser sanados seja pela purgação da mora ou pela cessação da mora.

PURGAÇÃO DA MORA Devedor Oferta da prestação atrasada +

Prejuízos

Credor Oferta do recebimento da prestação +

Ressarcimento das despesas do devedor +

Oscilação do preço

Terceiro O terceiro também pode purgar a mora, suportando os mesmos encargos que incidiriam sobre o devedor.

CESSAÇÃO DA MORA Decorre da extinção da obrigação.

- Em relação às perdas e danos decorrentes do inadimplemento obrigacional, nelas estão compreendidos os danos emergentes e os lucros cessantes.

- Juros são rendimentos de capital, sendo considerados frutos civis da coisa. Os juros dividem-se em compensatórios, moratórios, convencionais, legais, simples e compostos.

JUROS

Compensatórios Moratórios

São os remuneratórios devidos em razão do uso do capital durante determinado lapso temporal.

São aqueles que incidem em virtude do atraso ou descumprimento da obrigação.

Convencionais Legais

PERDAS E DANOS

Dano emergente

É a diminuição patrimonial que a

vítima sofreu, o efetivo prejuízo.

Lucro cessante Representa o que a

vítima deixou de lucrar.

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Decorrem de acordo entre as partes. Decorrem da lei.

Simples Compostos

Calculados sobre o capital inicial. Capitalizados anualmente, calculando-se juros sobre juros.

- No que diz respeito aos juros, mister se faz esclarecer a partir de que momento começam a fluir os juros moratórios e a correção monetária nas indenizações por dano moral e ressarcimento de danos materiais.

SÚMULAS DO STF

SÚMULA 255: Sendo ilíquida a obrigação, os juros moratórios, contra a Fazenda Pública, incluídas as autarquias, são contados do trânsito em julgado da sentença de liquidação. SÚMULA 254: Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial

DANOS

MORAIS

Juros moratórios

Responsabilidade extracontratual

A partir do evento danoso (54, STJ)

Responsabilidade contratual

Obrigação líquida

mora ex re

A partir do vencimento

Obrigação ilíquida

mora ex persona

A partir da citação

Correção monetária

Correção a partir da data em que a indenização foi

arbitrada (362, STJ)

DANOS MATERIAIS

Juros moratórios

Responsabilidade extracontratual

A partir do evento danoso (54, STJ)

Responsabilidade contratual

Obrigação líquida

mora ex re

A partir do vencimento

Obrigação ilíquida

mora ex persona

A partir da citação

Correção monetária Correção a partir da

data do efetivo prejuízo (43, STJ)

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ou a condenação. SÚMULA 163: Salvo contra a fazenda pública, sendo a obrigação ilíquida, contam-se os juros moratórios desde a citação inicial para a ação. SÚMULA 121: É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada.

SÚMULAS DO STJ

SÚMULA 464: A regra de imputação de pagamentos estabelecida no art. 354 do Código Civil não se aplica às hipóteses de compensação tributária. SÚMULA 426: Os juros de mora na indenização do segura DPVAT fluem a partir da citação. SÚMULA 422: Os juros remuneratórios não estão limitados nos contratos vinculados ao Sistema Financeiro de Habitação. SÚMULA 298: O alongamento de dívida originada de crédito rural não constitui faculdade da instituição financeira, mas, direito do devedor nos termos da lei. SÚMULA 296: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado. SÚMULA 283: As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura. SÚMULA 76: A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não dispensa a previa interpelação para constituir em mora o devedor. SÚMULA 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. SÚMULA 43: Incide correção monetária sobre divida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

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TEORIA GERAL DOS

CONTRATOS

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1) PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.

A palavra função social deve ser entendida no sentido de finalidade coletiva, sendo efeito deste princípio a relativização da força obrigatória dos contratos. - A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. - A função social do contrato, prevista no art. 421, CC constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. Além disso, também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes, promovendo a proteção dos vulneráveis, vedando a onerosidade excessiva ou algum desequilíbrio contratual. Por fim, esse princípio não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o seu alcance quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. - A recusa de renovação das apólices de seguro de vida pelas seguradoras em razão da idade do segurado é discriminatória e atenta contra a função social do contrato. - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

2) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA A boa-fé objetiva é a exigência de conduta leal dos contratantes - O princípio da boa-fé objetiva apresenta tríplice função: interpretativa, integrativa e de controle.

CAPÍTULO 1 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

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PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA E SUAS FUNÇÕES

INTERPRETATIVA INTEGRATIVA CONTROLE

Visa esclarecer o conteúdo das disposições contratuais. Art. 113, CC.

Traça os deveres de conduta do credor e do devedor, alargando o conteúdo patrimonial. Art. 422, CC.

Visa impedir o exercício abusivo de direitos subjetivos e potestativos nas relações obrigacionais. Art. 187, CC.

- Os deveres anexos da boa-fé, ínsitos a qualquer negócio jurídico, consubstanciam-se em deveres de cuidado, de cooperação, de lealdade e de informação. Vale lembrar que não precisam estar previstos no instrumento contratual.

DEVERES ANEXOS DA BOA-FÉ

CUIDADO COOPERAÇÃO LEALDADE INFORMAÇÃO

Representa o dever de proteção da parte durante a relação obrigacional.

As partes devem se abster de qualquer comportamento que possa desequilibrar a relação. Credor e devedor deverão colaborar para a consecução do adimplemento da obrigação.

As partes devem agir com lealdade, em virtude do princípio da confiança e expectativa que é gerada na outra parte em virtude de comportamentos adotados.

O dever de informar deve ser observado em todas as etapas contratuais, desde as conversações preliminares. A transparência decorre do dever de esclarecimento.

- Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422, CC, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa, chamada de violação positiva do contrato. Além disso, o princípio da boa-fé objetiva, que deve ser observado pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo (duty to mitigate the loss). - A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil, conforme Enunciado 362, IV Jornada de Direito Civil, CJF. - Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. - Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

3) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

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A autonomia privada é o poder que os particulares têm de, pelo exercício de sua própria vontade, regular as relações que participam, estabelecendo o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica que irá incidir.

Esse princípio traz limitações claras, principalmente relacionadas com a formação e reconhecimento da validade dos negócios jurídicos. A eficácia social pode ser apontada como uma dessas limitações, havendo relação direta com o princípio da função social dos contratos. Nesse sentido, Enunciado 23, I Jornada de Direito Civil, CJF:

A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.

4) PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS (PACTA SUNT SERVANDA) Decorrente da ideia clássica da autonomia da vontade, a força obrigatória dos

contratos preconiza que tem força de lei o estipulado pelas partes na avença, constrangendo os contratantes ao cumprimento do conteúdo completo do negócio jurídico.

Este princípio continua vigente, mas não mais como regra geral. A força obrigatória

constitui exceção à regra geral da socialidade, secundária à função social do contrato, sendo certo que este princípio atualmente sofre mitigações pelos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva.

5) PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO Segundo este princípio, o contrato, como típico instituto de direito pessoal, gera efeitos inter partes. Encontra exceções, de modo que é possível afirmar que o contrato também gera efeitos perante terceiros. Alguns exemplos: - Estipulação em favor de terceiro (art. 436, CC): um terceiro, que não é parte no contrato é beneficiado pelos seus efeitos, podendo exigir o seu adimplemento. Ex: seguro de vida. - Promessa de fato de terceiro (art. 439, CC) – figura negocial pela qual determinada pessoa promete que uma determinada conduta seja praticada por outrem, sob pena de responsabilização civil. - Contrato com pessoa a declarar (art. 467, CC)no momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se à faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. - Tutela externa do crédito ou eficácia externa da função social do contrato.

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Enunciado 21, I Jornada de Direito Civil, CJF - A função social do cont rato, prevista no art . 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.

O contrato nasce de uma conjunção de duas ou mais vontades coincidentes e a presença de

outros elementos. Há quatro fases na formação do contrato:

1) NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES

Também chamada de puntuação, essa é a fase em que ocorrem os debates prévios,

tratativas sobre o contrato preliminar ou definitivo. Esta fase não está prevista no CC, sendo uma espécie de carta de intenções entre as partes, antes de haver uma formalização da proposta, em que manifestam sua vontade de celebrar um contrato no futuro.

Assim, a doutrina entende que essa fase não vincula as partes e, consequentemente,

não haveria responsabilidade contratual. Todavia, é preciso observar nas circunstâncias do

caso concreto se já não se formou uma legítima expectativa de contratar, caso em que em

virtude da confiança depositada, a quebra desse dever poderia gerar a responsabilidade em

virtude da incidência do princípio da boa-fé objetiva na fase pré-contratual.

2) PROPOSTA

Também chamada de fase da policitação ou oblação, constitui a manifestação da

vontade de contratar por uma das partes que solicita a concordância da outra. É uma

declaração de vontade receptícia, ou seja, só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte.

Assim, de acordo com o art. 427, CC, a proposta vincula o proponente, no entanto

vale a leitura do art. 428, CC que consagra as hipóteses em que a proposta deixa de ser

obrigatória.

3) CONTRATO PRELIMINAR

Também chamada de pré-contrato, essa fase está prevista no art. 462, CC e não é

obrigatória. São dois os tipos de contrato preliminar previstos no direito brasileiro: a) o

compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção; b) compromisso bilateral de

contrato.

CAPÍTULO 2 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

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No compromisso unilateral de contrato as duas partes assinam o instrumento, mas

apenas uma das partes assume a obrigação de fazer o contrato definitivo, existindo para o

outro contratante apenas uma opção de celebrar o contrato definitivo.

No compromisso bilateral de contrato, as partes assinam o instrumento e, ao mesmo

tempo, assumem a obrigação de celebrar o contrato definitivo, desde que não haja cláusula

de arrependimento.

4) CONTRATO DEFINITIVO

É a última fase, momento a partir do qual o contrato está aperfeiçoado, gerando todas as suas consequências. Vale lembrar que a boa-fé objetiva e seus deveres anexos irradiam efeitos também nesta fase, inclusive, na fase pós-contratual. - Vícios redibitórios são vícios ocultos, contidos na coisa recebida em virtude de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor. Diante de um vício redibitório, o adquirente tem duas opções: rejeitar a coisa, redibindo o contrato ou reclamar abatimento no preço por meio das ações edilícias.

AÇÕES EDILÍCIAS

AÇÃO REDIBITÓRIA AÇÃO ESTIMATÓRIA

Acarreta a devolução da coisa com a restituição dos valores pagos ao alienante.

Busca-se um abatimento do preço, conservando-se o negócio jurídico.

- Ressalta-se que a disciplina dos vícios redibitórios no Código Civil vista anteriormente não se confunde com o tratamento dos vícios do Código de Defesa do Consumidor.

VÍCIOS REDIBITÓRIOS – CC VÍCIOS – CDC

O vício é oculto. Pode ser oculto ou aparente.

O vício é na coisa. Pode ser em produtos ou serviços.

Incide nos contratos comutativos. Independe da relação contratual.

Ação redibitória ou estimatória (quanti minoris)

Substituição do produto; restituição imediata da quantia paga corrigida; abatimento proporcional do preço.

As ações edilícias acima mencionadas são direcionadas em face do alienante, estando protegidos os proprietários anteriores.

Pode se voltar contra qualquer um dentro da cadeia de produção, de forma individual ou por litisconsórcio passivo.

Os contratantes podem estipular a Não é possível. Admite-se, no máximo, uma

CAPÍTULO 3 VÍCIOS REDIBITÓRIOS

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exclusão de responsabilidade por vícios redibitórios.

redução da indenização, mas não a exoneração da responsabilidade.

A comprovação dos requisitos para configuração do vício redibitório, principalmente quanto a sua preexistência, cabe ao adquirente.

Possibilidade de inversão do ônus da prova pelo juiz.

A ignorância do alienante quanto aos vícios exclui a sua responsabilidade, mas não o exime de suportar a rescisão do contrato ou abatimento do preço.

É irrelevante a análise da boa-fé do fornecedor, já que responderá objetivamente pelos produtos/serviços viciados que colocar no mercado.

BEM MÓVEL IMÓVEL PRAZOS

Entrega efetiva

30 dias 1 ano Vícios aparentes 30 dias – não duráveis 90 dias – duráveis (a contar da entrega) Conta da

alienação, se já estava na posse

15 dias 6 meses

Entrega brevi manu

180 dias 1 ano Vícios ocultos 30 dias – não duráveis 90 dias – duráveis (a contar da descoberta do vício)

- A evicção é a perda da coisa em virtude de uma decisão judicial (ou até mesmo de um ato administrativo) para um terceiro. Tem natureza de garantia e subsiste mesmo que tenha sido adquirido em hasta pública. Vale lembrar, por oportuno, que nos termos do art. 199, II, CC não corre a prescrição pendendo ação de evicção. - As partes podem expressamente reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. Contudo, não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. - Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. O STJ entende, no entanto, que a ausência de denunciação da lide ao alienante, na evicção, não impede o exercício de pretensão reparatória por meio de via autônoma (Enunciado 434, V Jornada de Direito Civil, CJF). - Além disso, importante salientar que o art. 456, CC permite a chamada denunciação da lide per saltum, ou seja, possibilita que o evicto se volte contra qualquer um dos responsáveis pelo vício.

CAPÍTULO 4 EVICÇÃO

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Os contratos possuem formas normais de extinção, como o próprio cumprimento da obrigação ou quando findo o prazo previsto para o negócio, desde que todas as obrigações tenham sido adimplidas. No entanto, a extinção do contrato pode se dar também por causas anteriores, contemporâneas ou supervenientes à formação do contrato.

CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS

Nulidades absoluta e relativa O não preenchimento de requisitos afeta a validade.

Cláusula resolutiva Pode ser expressa ou tácita.

Direito de arrependimento Se houver previsão no contrato, a parte pode unilateralmente desistir do contrato. Só pode ser exercido no prazo convencionado ou, se não houver prazo, antes da execução do contrato.

CAUSAS SUPERVENIENTES

Resolução Inadimplemento voluntário Decorre de comportamento culposo de uma das partes.

Inadimplemento involuntário Decorre de atos de terceiros ou de caso fortuito ou força maior.

Onerosidade excessiva Decorre da ocorrência de acontecimentos extraordinários, imprevisíveis, excessivamente oneroso para uma parte e excessivamente vantajoso para a outra.

Resilição Deriva exclusivamente da manifestação de vontade das partes.

Bilateral Chamada distrato, representado pelo acordo de vontades.

Unilateral Cabível apenas em alguns contratos e pode se dar por meio de denúncia, revogação ou resgate.

Rescisão Ocorre em contratos eivados de lesão ou estado de perigo.

- Vale lembrar que quando há o adimplemento substancial, ou seja, um inadimplemento mínimo, não deve haver a resolução de acordo com o princípio da conservação do contrato e com o princípio da função social do contrato. - A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478, CC, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às consequências que ele produz. - Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478, CC deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual. É possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato, conforme entendimento do Enunciado 440, V Jornada de Direito Civil, CJF.

CAPÍTULO 5 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

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CONTRATOS EM

ESPÉCIE

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- Em relação à classificação dos contratos, alguns sobrelevam nas características, conforme destaque abaixo:

Compra e venda

Doação Comodato Mútuo Prestação de serviços

Seguro Fiança

Bilateral Unilateral Unilateral Unilateral Bilateral Bilateral Unilateral

Consensual Consensual Real Real Consensual Consensual Consensual

Oneroso Gratuito Gratuito Gratuito ou oneroso

Oneroso Oneroso Gratuito ou oneroso

Comutativo ou

aleatório

Comutativo Comutativo Comutativo Comutativo Aleatório Comutativo

Solene ou não solene

Solene ou não solene

Não solene Não solene Não solene Solene Solene ou não solene

- A prestação de serviços é toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, que pode ser contratada mediante retribuição. Tem por objeto qualquer serviço, desde que seja lícito. - Com relação à duração pode ser estipulado pelo prazo máximo de 4 anos, quando então se extingue, mas novo contrato pode ser celebrado por igual prazo. Quando realizada sem prazo determinado está sujeita à resilição unilateral, devendo ser dado aviso a outra parte:

Antecedência de 8 dias Se o salário se houver fixado por tempo de um mês ou mais.

Antecedência de 4 dias Se o salário se tiver ajustado por semana, ou quinzena.

De véspera Quando se tenha contratado por menos de sete dias.

- Ocorre o término do contrato de prestação de serviços nos seguintes casos: morte de qualquer das partes (personalíssimo), escoamento do prazo, conclusão da obra, rescisão do contrato mediante aviso prévio, inadimplemento de qualquer das partes, impossibilidade de continuação por força maior. Por fim, importante analisar o art. 608, CC. O comando legal traz a tutela externa do crédito. Mantém íntima relação também com o princípio da boa-fé objetiva, já que o aliciador desrespeita esse princípio ao intervir no contrato mantido por duas partes, agindo em abuso de direito, sendo sua responsabilidade de natureza objetiva.

CAPÍTULO 1 CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS CONTRATOS TÍPICOS

CAPÍTULO 2 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

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Trata-se de uma forma especial de prestação de serviços. Por meio da empreitada uma das partes se obriga a fazer ou mandar fazer determinada obra, mediante remuneração. Há três modalidades de empreitada, conforme traz o art. 610, CC:

a) Empreitada sob administração: é aquela em que o empreiteiro apenas administra as pessoas contratadas pelo dono da obra, que também fornece os materiais.

b) Empreitada de mão de obra ou lavor: é aquela em que o empreiteiro fornece a mão de

obra, contratando as pessoas que irão executar a obra. Os materiais, no entanto, são fornecidos pelo dono da obra.

c) Empreitada mista ou de lavor e de materiais: é aquela em que o empreiteiro fornece tanto a mão de obra quanto os materiais, comprometendo-se a executar a obra inteira. Nesse caso, o empreiteiro assume obrigação de resultado perante o dono da obra. Vale lembrar que a obrigação de fornecer materiais não pode ser presumida, resultando da lei ou da vontade das partes.

É o contrato pelo qual alguém transfere poderes a outrem para que este, em seu nome, pratique atos ou administre interesses. O mandatário age sempre em nome do mandante, havendo negócio jurídico de representação. Não confundir o mandato com a procuração, uma vez que esta não constitui um contrato, mas sim o meio pelo qual o negócio se instrumentaliza. Principais classificações do mandato Quanto à origem

a) Mandato legal: é aquele que decorre da lei e dispensa a elaboração de qualquer instrumento.

b) Mandato judicial: conferido em virtude de ação judicial, em que o juiz nomeia um mandatário. Ex: inventariante que representa o espólio.

c) Mandado convencional: decorre de contratos firmados entre as partes, sendo manifestação da autonomia privada. Pode ser ad judicia para representar a pessoa

CAPÍTULO 3 EMPREITADA

CAPÍTULO 4 MANDATO

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em juízo (privativo de advogados) ou ad negotia para administração em geral na esfera extrajudicial.

Quanto às relações entre mandante e mandatário

a) Mandado oneroso: nesse caso a atividade do mandatário é remunerada.

b) Mandato gratuito: é a forma presumida pela lei. Não há remuneração. Quanto à pessoa do mandatário ou procurador

a) Mandato singular ou simples: nesse caso existe apenas um mandatário.

b) Mandato plural: existem vários mandatários e pode assumir as seguintes formas: mandato simultâneo, mandato solidário, mandato fracionário, mandato substitutivo. Quanto ao modo de manifestação da vontade

a) Mandato expresso: existe a elaboração de um instrumento de procuração que estipula os poderes do mandatário

b) Mandato tácito: a aceitação do encargo decorre da prática de atos que a presumem (ex: início da execução do ato). Quanto à forma de celebração

a) Mandato verbal: é permitido em todos os casos em que não se exige a forma escrita, podendo ser provado por testemunhas.

b) Mandato escrito: elaborado por meio de instrumento particular ou público. Quanto aos poderes conferidos

a) Mandato geral: há outorga de todos os direitos que tem o mandante. O mandato em termos gerais só confere poderes para a prática de atos de administração.

b) Mandato especial: engloba determinados direitos, estando, por isso, restrito aos atos ou negócios especificados expressamente no mandato.

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A transação consiste no contrato pelo qual as partes pactuam a extinção de uma obrigação por meio de concessões mútuas ou recíprocas, o que também pode ocorrer de forma preventiva. Contudo, se ambas as partes não cedem, não há que se falar em transação, mas um mero acordo entre as partes. Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, consensual e comutativo, devendo ter como objeto apenas direitos obrigacionais de cunho patrimonial e de caráter privado. Ou seja, por exemplo, não pode haver transação versando sobre direitos da personalidade ou sobre direitos de família (alimentos, parentesco, p ex). Vale lembrar que o contrato de transação é, em regra, não solene, mas eventualmente poderá ser necessária escritura pública, se o contrato tiver por objeto um bem imóvel. A transação pode ser judicial ou extrajudicial:

a) Transação judicial ou extintiva: é aquela feita perante o juiz, quando há litígio em relação à obrigação. A lei prevê nesse caso a necessidade de escritura pública ou de termos nos autos, assinado pelas partes e homologado pelo juiz da causa.

b) Transação extrajudicial ou preventiva: é aquela realizada com o intuito de prevenir eventual litígio judicial, não havendo maiores solenidades apontadas pela lei, exigindo-se apenas a adoção da forma escrita.

Em ambos os casos, vale anotar que a transação deve ser interpretada de forma restritiva, nunca de forma extensiva, tendo em vista que trata-se de negócio benéfico. Por meio da transação não se transmitem, mas apenas se declaram ou reconhecem direitos. Além disso, diante de sua natureza contratual, a transação não aproveita nem prejudica terceiros, senão os que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível, gerando efeitos inter partes, em regra, mas há exceções no art. 844, CC. - Se a transação for concluída entre o credor e o devedor sem o conhecimento do fiador, este ficará desobrigado. - -

CAPÍTULO 5 TRANSAÇÃO

CAPÍTULO 6 COMPRA E VENDA

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No contrato de compra e venda um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Assim, os elementos da compra e venda são a coisa, o consentimento e o preço. - No que concerne ao preço na compra e venda, sua fixação pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa. - Ademais, como inovação no CC/2002 é possível a venda sem fixação de preço caso em que, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. Vale lembrar que nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço. - A coisa objeto da compra e venda precisa existir (aceita-se a existência potencial, como no caso de safra futura), estar individualizada (determinada ou determinável) e disponível. - Os principais efeitos da compra e venda são a ocorrência de obrigações recíprocas para as partes e a responsabilização do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção. - A coisa deve ser entregue no local em que se encontrava na época da venda, salvo se diferente foi convencionado entre as partes. - Algumas pessoas não possuem legitimação para realizar compra e venda com em alguns casos sem que sejam preenchidos os requisitos necessários, como é o caso da compra e venda entre ascendente e descendente, aquisição de bens por pessoas encarregadas de zelar pelos interesses do vendedor (como tutores e curadores), venda de parte indivisa em condomínio e venda entre cônjuges. - Destaquem-se as modalidades de vendas especiais:

VENDAS ESPECIAIS

Venda mediante amostra Venda ad corpus Venda ad mensuram

Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem.

O bem é adquirido como um todo, de modo que a fixação do preço não sofre influência de suas dimensões.

O preço é estipulado com base nas dimensões do imóvel. Se a área não corresponder, o comprador pode exigir a sua complementação.

- Há também cláusulas especiais que podem ser inseridas nos contratos de compra e venda:

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CLÁUSULAS ESPECIAIS NA COMPRA E VENDA

Retrovenda O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.

Venda a contento A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.

Venda sujeita a prova Presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.

Preempção ou preferência A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a 180 dias, se a coisa for móvel, ou a 2 anos, se imóvel.

Venda com reserva de domínio O vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

Venda sobre documentos A tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos. Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado.

Pelo contrato de doação uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Poderá ser feita por escritura pública ou instrumento particular. - A doação apresenta os seguintes elementos:

CAPÍTULO 7 DOAÇÃO

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ELEMENTOS DA DOAÇÃO

Natureza contratual É necessária a participação do doador e do donatário.

Animus donandi É a ação desinteressada, sem coação.

Transferência de bens É preciso que haja a transferência de bens de um patrimônio para outro.

Aceitação Para que a doação se aperfeiçoe, é preciso a aceitação do donatário, que poderá ser expressa, tácita ou presumida.

- O doador pode fixar prazo ao donatário para manifestar-se em relação à doação. Se o donatário ciente do prazo não se manifestar entender-se-á que aceitou, exceto se for doação com encargo. Registre-se que se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura. - Algumas espécies de doação merecem destaque no estudo:

ESPÉCIES DE DOAÇÃO

Contemplativa O doador menciona expressamente que o motivo da doação é em decorrência, por exemplo, de algum mérito do donatário.

Nascituro A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.

Cláusula de reversão O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro.

- A doação sofre algumas restrições legais, a saber:

RESTRIÇÕES LEGAIS

Devedor insolvente A doação feita pelo devedor já insolvente ou reduzido à insolvência é nulo e representa fraude contra credores.

Doação inoficiosa Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

Doação universal É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador.

Cônjuge adúltero Com o intuito de proteger a família, a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até 2 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

CAPÍTULO 8 EMPRÉSTIMO

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Em relação ao contrato de empréstimo, este se subdivide em mútuo e comodato. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. - O comodatário é tem a obrigação de conservar a coisa, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até a restituição, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. - O comodatário não poderá cobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada. - O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição. - Tema que sempre é objeto de cobrança concerne ao mútuo feito a menor. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. - Quaisquer contratos de mútuo destinados a fins econômicos presumem-se onerosos (art. 591, CC), ficando a taxa de juros compensatórios limitada ao disposto no art. 406, CC com capitalização anual. - Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada. O risco é elemento essencial do contrato de seguro. - O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, o princípio da boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. - As principais classificações dos seguros são:

CAPÍTULO 9 SEGURO

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SÚMULAS DO STF

SÚMULA Nº 489: A compra e venda de automóvel não prevalece contra terceiros, de boa-fé, se o contrato não foi transcrito no registro de títulos e documentos. SÚMULA 246: O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada. SÚMULA Nº 181: Na retomada, para construção mais útil de imóvel sujeito ao decreto 24150, de 20/4/1934, é sempre devida indenização para despesas de mudança do locatário. SÚMULA Nº 177: O cessionário do promitente comprador, nas mesmas condições deste, pode retomar o imóvel locado. SÚMULA Nº 176: O promitente comprador, nas condições previstas na Lei 1300, de 28/12/1950, pode retomar o imóvel locado. SÚMULA Nº 175: Admite-se a retomada de imóvel alugado para uso de filho que vai contrair matrimônio. SÚMULA Nº 413: O compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que não loteados, dá direito à execução compulsória, quando reunidos os requisitos legais. SÚMULA Nº 412: No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo. SÚMULA Nº 335: É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do

Seguro de

danos

Seguro de coisas

Seguro de responsabilidade

civil

Seguro de pessoas

Seguro de vida

Seguro de acidentes pessoais

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contrato. SÚMULA Nº 188: O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro. SÚMULA Nº 187: A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. SÚMULA Nº 186: Não infringe a lei a tolerância da quebra de 1% no transporte por estrada de ferro, prevista no regulamento de transportes. SÚMULA Nº 169: Depende de sentença a aplicação da pena de comisso. SÚMULA Nº 168: Para os efeitos do Decreto-Lei 58, de 10/12/1937, admite-se a inscrição imobiliária do compromisso de compra e venda no curso da ação. SÚMULA Nº 167: Não se aplica o regime do Decreto-Lei 58, de 10/12/1937, ao compromisso de compra e venda não inscrito no registro imobiliário, salvo se o promitente vendedor se obrigou a efetuar o registro. SÚMULA Nº 166: É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Decreto-Lei 58, de 10/12/1937. SÚMULA Nº 161: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar. SÚMULA Nº 105: Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro. SÚMULA Nº 49: A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos bens.

SÚMULAS DO STJ

SÚMULA 473: O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada SÚMULA 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual. SÚMULA 465: Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de indenizar em razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação. SÚMULA 450: Nos contratos vinculados ao SFH, a atualização do saldo devedor antecede sua amortização pelo pagamento da prestação.

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SÚMULA 419: Descabe a prisão civil do depositário infiel. SÚMULA 402: O contrato de seguro por danos pessoais compreende danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão. SÚMULA 382: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade. SÚMULA 381: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. SUMULA 380: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor. SUMULA 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros moratórios poderão ser fixados em até 1% ao mês. SÚMULA 371: Nos contratos de participação financeira para aquisição de linha telefônica, o valor patrimonial da ação (VPA) é apurado com base no balancete do mês da integralização. SÚMULA 369: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora. SÚMULA 319: O encargo de depositário de bens penhorados pode ser expressamente recusado. SÚMULA 308: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel. SÚMULA 304: É ilegal a decretação da prisão civil daquele que não assume expressamente o encargo de depositário judicial. SÚMULA 294: Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato. SÚMULA 293: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil. SÚMULA 284: A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado.

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SÚMULA 245: A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação do valor do débito. SÚMULA 239: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis. SÚMULA 176: É nula a cláusula contratual que sujeita o devedor a taxa de juros divulgada pela ANBID/CETIP. SÚMULA 92: A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no certificado de registro do veiculo automotor. SÚMULA 72: A comprovação da mora e imprescindível a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente. SÚMULA 61: O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado. SÚMULA 60: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste. SÚMULA 31: A aquisição, pelo segurado, de mais de um imóvel financiado pelo Sistema Financeiro da Habitação, situados na mesma localidade, não exime a seguradora da obrigação de pagamento dos seguros. SÚMULA 28: O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor. SÚMULA 26: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário. SÚMULA 335: Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. SÚMULA 268: O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado. SÚMULA 214: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

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RESPONSABILIDADE CIVIL

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- Responsabilidade é um dever secundário ou sucessivo, nasce em razão da violação de um dever originário, dever esse que pode ser pautado na lei ou no contrato. Dentro da responsabilidade civil existe uma máxima, que é não causar danos a outrem. - A responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual.

RESPONSABILIDADE CIVIL

CONTRATUAL ou NEGOCIAL EXTRACONTRATUAL ou AQUILIANA

Ocorre nos casos de inadimplemento de uma obrigação, previsto dos arts. 389 a 391, CC, sendo este último com a consagração do princípio da responsabilidade patrimonial, ou seja, pelo inadimplemento da obrigação respondem todos os bens do devedor. Lembrando sempre, é claro, que de acordo com o art. 649, CPC alguns bens são impenhoráveis.

No CC/1916, essa responsabilidade tinha como único pilar o ato ilícito do art. 159 daquele diploma. Hoje, no CC/2002, a responsabilidade está baseada no ato ilícito do art. 186, CC e no abuso de direito do art. 187, CC.

- Em relação ao ato ilícito aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito, que deverá ser reparado. Esse ilícito pode ser punido em três esferas: a) administrativa; b) criminal; c) cível. - Incide em abuso de direito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. É a chamada Teoria dos Atos Emulativos. Amplia-se aqui a noção de ato ilícito, para considerar que um ato originariamente lícito enseje responsabilização civil, por ter sido exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa. - Nas ações de responsabilidade civil por cadastramento indevido nos registros de devedores inadimplentes realizados por instituições financeiras, a responsabilidade civil é objetiva.

- A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927, CC, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade.

- A responsabilidade civil prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do Código Civil deve levar em consideração não apenas a proteção da vítima e a atividade do ofensor, mas também a prevenção e o interesse da sociedade. - A regra do art. 927, parágrafo único, segunda parte, do CC aplica-se sempre que a atividade normalmente desenvolvida, mesmo sem defeito e não essencialmente perigosa, induza, por

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sua natureza, risco especial e diferenciado aos direitos de outrem. São critérios de avaliação desse risco, entre outros, a estatística, a prova técnica e as máximas de experiência. - A responsabilidade objetiva, prevista no art. 927, parágrafo único, do CC, não se aplica a empresa hospedeira de site de relacionamento no caso de mensagens com conteúdo ofensivo inseridas por usuários. - A impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, CC traduz um dever de indenização equitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como consequência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade.

- Em regra, a responsabilidade civil é direta, ou seja, quem causou o dano é que arca com a sua reparação. No entanto, há casos de responsabilidade civil indireta, em que quem é responsabilizado não é quem efetivamente causou o dano. É a chamada responsabilidade civil por ato de terceiros.

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO DE TERCEIROS

Responsável indireto Causador do dano

Os pais Pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia.

O tutor e o curador Pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições.

O empregador ou comitente Por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.

Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime

Até a concorrente quantia.

Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação.

Pelos seus hóspedes, moradores e educandos.

- O incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116, ECA, no âmbito das medidas socioeducativas ali previstas. Ademais, a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, I, CC. - Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores.

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- Na hipótese do art. 934, CC o empregador e o comitente somente poderão agir regressivamente contra o empregado ou preposto se estes tiverem causado dano com dolo ou culpa. - No caso do art. 935, não mais se poderá questionar a existência do fato ou quem seja o seu autor se essas questões se acharem categoricamente decididas no juízo criminal. - O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida. - A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à categoria de danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos. - Segundo o STJ, a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico. - A responsabilidade civil do dono ou detentor de animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato exclusivo de terceiro. - A responsabilidade civil do dono do prédio ou construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva. - Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. É a chamada responsabilidade civil por defenestramento. Se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso. - As agremiações esportivas são objetivamente responsáveis por danos causados a terceiros pelas torcidas organizadas, agindo nessa qualidade, quando, de qualquer modo, as financiem ou custeiem, direta ou indiretamente, total ou parcialmente, conforme Enunciado 447, V Jornada de Direito Civil, CJF. - Segundo o STJ, o incorporador, como impulsionador do empreendimento imobiliário em condomínio, atrai para si a responsabilidade pelos danos que possam advir da inexecução ou da má execução do contrato de incorporação, abarcando-se os danos resultantes de construção defeituosa. Ainda que o incorporador não seja o executor direto da construção do empreendimento imobiliário, mas contrate construtor, permanece responsável juntamente com ele pela solidez e segurança da edificação, tratando-se de obrigação de garantia assumida solidariamente com o construtor.

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- A agência de turismo que comercializa pacotes de viagem responde solidariamente, nos termos do art. 14, § 3º, II, do CDC, pelos defeitos na prestação dos serviços que integram o pacote. - Os provedores de acesso à internet não têm responsabilidade objetiva pela veiculação de toda e qualquer mensagem postada na rede. Entretanto, respondem por conteúdos ofensivos ou dados ilegais caso não tomem as providências cabíveis para minimizar os danos. - A seguradora de seguro de responsabilidade civil, na condição de fornecedora, responde solidariamente perante o consumidor pelos danos materiais decorrentes de defeitos na prestação dos serviços por parte da oficina que credenciou ou indicou, pois, ao fazer tal indicação ao segurado, estende sua responsabilidade também aos consertos realizados pela credenciada.

SÚMULAS DO STF

SÚMULA Nº 562: Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária. SÚMULA Nº 493: O valor da indenização, se consistente em prestações periódicas e sucessivas, compreenderá, para que se mantenha inalterável na sua fixação, parcelas compensatórias do Imposto de Renda, incidente sobre os juros do capital gravado ou caucionado, nos termos dos arts. 911 e 912 do Código de Processo Civil. SÚMULA Nº 492: A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado. SÚMULA Nº 491: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado. SÚMULA Nº 490: A pensão correspondente à indenização oriunda de responsabilidade civil deve ser calculada com base no salário mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores. SÚMULA Nº 341: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. SÚMULA Nº 261: Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente. SÚMULA Nº 28: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

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SÚMULAS DO STJ

SÚMULA 498: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais. SÚMULA 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. SÚMULA 474: A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez. SÚMULA 403: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou empresariais. SÚMULA 388: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral. SÚMULA 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral. SÚMULA 385: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. SÚMULA 370: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. SÚMULA 362: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento. SÚMULA 281: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa. SÚMULA 257: A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização. SÚMULA 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. SÚMULA 221: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. SÚMULA 186: Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somente são devidos por aquele que praticou o crime. SÚMULA 145: No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em

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dolo ou culpa grave. SÚMULA 132: A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado. SÚMULA 130: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento. SÚMULA 37: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.