23
21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental ABES – Trabalhos Técnicos 1 VI-060 - PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA – NAS PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAIS Zuleika Stela Chiacchio Torquetti (1) Engenheira Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987). Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Escola de Engenharia/UFMG (1998). Pesquisadora da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM/ Minas Gerais desde 1988. Professora Assistente do Departamento de Engenharia Química da UFMG desde 1996. Endereço (1) : Rua Castigliano, 282, apto.º 701 - Belo Horizonte - MG - CEP: 30720-310 - Brasil - Tel: (31) 34646481 e (31) 9135-9781 - e-mail : [email protected] RESUMO As normas NBR ISO 14.001 e NBR ISO 14.004 descrevem os elementos básicos de um Sistema de Gestão Ambiental - SGA - eficaz para uma organização de qualquer natureza e tamanho, assim como apresentam algumas orientações sobre como iniciá-lo, aprimorá-lo e mantê-lo. Entretanto, as normas não dizem como o sistema deve ser elaborado e também não definem os critérios de avaliação do desempenho ambiental das organizações, destacando apenas que o SGA deve ser adequado ao tipo, ao porte e à realidade sócio- econômica das mesmas. Verifica-se que a essência do planejamento do SGA, nos moldes da NBR ISO 14.001, recai sobre a tarefa de avaliação da importância ou significância dos impactos ambientais, a qual fornecerá a base para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais em cada empresa. A norma NBR ISO14.004 coloca que esta avaliação pode ser facilitada levando-se em conta tanto as denominadas “Considerações Ambientais” como as “Considerações Comerciais”. Algumas metodologias de planejamento do SGA já empregadas por empresas certificadas baseiam-se apenas na análise das características do impacto relacionadas à sua escala (ou abrangência) e severidade no meio ambiente, e à sua duração ou probabilidade de ocorrência, a partir da utilização de técnicas tradicionais de Avaliação de Impactos Ambientais - AIA. Estas metodologias, não incluem de maneira sistemática em sua estrutura, por exemplo, o custo e a dificuldade de alteração do impacto na avaliação de sua importância. Considerações desse tipo, relacionadas muito mais às questões gerenciais das organizações, podem ter um peso muito significativo na estruturação do Programa de Gestão Ambiental nas Pequenas e Médias Indústrias – PMI’s - e devem ser cuidadosamente consideradas no planejamento do SGA, a fim de não inviabilizá-lo para uma organização de menor porte. Sugere-se, assim, uma nova abordagem para o planejamento do SGA no contexto das normas da série ISO 14.000, ponderando-se critérios de importância ambiental com critérios de importância gerencial, como uma ferramenta de gestão integrada, adequada à realidade das pequenas e médias indústrias. PALAVRAS-CHAVE: Gestão Ambiental, ISO 14.000, Planejamento do SGA, Avaliação de impactos, SGA. 1. INTRODUÇÃO Desde que surgiram as normas NBR ISO 14.001 – Sistemas de gestão ambiental – especificação e diretrizes para uso – e NBR ISO 14.004 – Sistemas de gestão ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio - , muito se tem discutido sobre sua aplicabilidade nas organizações de pequeno e médio porte. Este questionamento existe principalmente porque as normas não estabelecem como o sistema deve ser elaborado e também não definem os critérios de avaliação do desempenho ambiental das organizações, destacando apenas que o SGA deve ser adequado ao tipo, porte e à realidade sócio-econômica das mesmas. Este fato cria uma certa dificuldade no entendimento das normas e na implementação do SGA, que é ainda mais ressaltada no caso das Pequenas e Médias Indústrias – PMI’s, que, além de enfrentar restrições

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e · PDF fileAção Corretiva Revisão Gerencial ... ♦ adotar como padrão o plano proposto, ... implantação do Sistema de Gestão

  • Upload
    dokhue

  • View
    216

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 1

VI-060 - PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA –NAS PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAIS

Zuleika Stela Chiacchio Torquetti (1)Engenheira Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987). Mestre emSaneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Escola de Engenharia/UFMG(1998). Pesquisadora da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM/ Minas Geraisdesde 1988. Professora Assistente do Departamento de Engenharia Química da UFMGdesde 1996.

Endereço(1): Rua Castigliano, 282, apto.º 701 - Belo Horizonte - MG - CEP: 30720-310 - Brasil - Tel: (31) 34646481e (31) 9135-9781 - e-mail: [email protected]

RESUMO

As normas NBR ISO 14.001 e NBR ISO 14.004 descrevem os elementos básicos de um Sistema de GestãoAmbiental - SGA - eficaz para uma organização de qualquer natureza e tamanho, assim como apresentamalgumas orientações sobre como iniciá-lo, aprimorá-lo e mantê-lo. Entretanto, as normas não dizem como osistema deve ser elaborado e também não definem os critérios de avaliação do desempenho ambiental dasorganizações, destacando apenas que o SGA deve ser adequado ao tipo, ao porte e à realidade sócio-econômica das mesmas. Verifica-se que a essência do planejamento do SGA, nos moldes da NBR ISO14.001, recai sobre a tarefa de avaliação da importância ou significância dos impactos ambientais, a qualfornecerá a base para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais em cada empresa. Anorma NBR ISO14.004 coloca que esta avaliação pode ser facilitada levando-se em conta tanto asdenominadas “Considerações Ambientais” como as “Considerações Comerciais”. Algumas metodologias deplanejamento do SGA já empregadas por empresas certificadas baseiam-se apenas na análise dascaracterísticas do impacto relacionadas à sua escala (ou abrangência) e severidade no meio ambiente, e à suaduração ou probabilidade de ocorrência, a partir da utilização de técnicas tradicionais de Avaliação deImpactos Ambientais - AIA. Estas metodologias, não incluem de maneira sistemática em sua estrutura, porexemplo, o custo e a dificuldade de alteração do impacto na avaliação de sua importância. Consideraçõesdesse tipo, relacionadas muito mais às questões gerenciais das organizações, podem ter um peso muitosignificativo na estruturação do Programa de Gestão Ambiental nas Pequenas e Médias Indústrias – PMI’s -e devem ser cuidadosamente consideradas no planejamento do SGA, a fim de não inviabilizá-lo para umaorganização de menor porte. Sugere-se, assim, uma nova abordagem para o planejamento do SGA nocontexto das normas da série ISO 14.000, ponderando-se critérios de importância ambiental com critérios deimportância gerencial, como uma ferramenta de gestão integrada, adequada à realidade das pequenas emédias indústrias.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Ambiental, ISO 14.000, Planejamento do SGA, Avaliação de impactos, SGA.

1. INTRODUÇÃO

Desde que surgiram as normas NBR ISO 14.001 – Sistemas de gestão ambiental – especificação e diretrizespara uso – e NBR ISO 14.004 – Sistemas de gestão ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas etécnicas de apoio - , muito se tem discutido sobre sua aplicabilidade nas organizações de pequeno e médioporte.

Este questionamento existe principalmente porque as normas não estabelecem como o sistema deve serelaborado e também não definem os critérios de avaliação do desempenho ambiental das organizações,destacando apenas que o SGA deve ser adequado ao tipo, porte e à realidade sócio-econômica das mesmas.

Este fato cria uma certa dificuldade no entendimento das normas e na implementação do SGA, que é aindamais ressaltada no caso das Pequenas e Médias Indústrias – PMI’s, que, além de enfrentar restrições

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos2

financeiras, possuem recursos limitados em termos de mão-de-obra técnica especializada, têm necessidade desuporte prático para aconselhamento nas questões ambientais do negócio e esperam pequeno retorno na suaimagem como resultado da aplicação de ações visando a melhoria da performance ambiental. Logo, aabordagem das normas NBR ISO 14.001 e NBR ISO 14.004 nas PMI’s deve ser diferenciada.Analisando-se mais detidamente os requisitos normativos, verifica-se que a essência do planejamento doSGA recai sobre a tarefa da avaliação da importância ou significância dos impactos ambientais, pois seusresultados configuram a base para o estabelecimento da política ambiental e dos objetivos e metas ambientaisem cada organização.

Por meio da pesquisa de algumas metodologias de planejamento de sistemas de gestão ambiental empregadaspor empresas brasileiras de grande porte, certificadas ou em fase de certificação no ano de 1997, verificou-seque as rotinas adotadas baseiam-se apenas na análise das características do impacto relacionadas à sua escala– ou abrangência – e severidade no meio ambiente, e à sua duração ou probabilidade de ocorrência, a partirda utilização de técnicas tradicionais de Avaliação de Impactos Ambientais – AIA.

Essas metodologias não incluem de forma sistematizada, por exemplo, o custo e a dificuldade de operação doimpacto na avaliação de sua importância no contexto da indústria. Naquelas em que os chamados “filtros designificância” relacionam-se com a legislação ambiental, compromissos assumidos ou com as partesinteressadas, o nível de interferência destes na priorização da importância dos impactos aparece de formadiscreta.

Isto pode ser explicado pelo fato de que a maioria das técnicas de Avaliação de Impactos Ambientais foramdesenvolvidas na década de ’70, distantes, portanto, da atual percepção mundial sobre o conceito de eco-eficiência, ou seja, o que era antes encarado como custo na tarefa de identificar impactos adversos e propormedidas mitigadoras, hoje significa uma oportunidade de melhoria, com aumento da produtividade einvestimentos integrados com a qualidade ambiental.

Após uma análise mais aprofundada dos requisitos das normas, verifica-se que a NBR ISO 14.004 permiteque a avaliação dos impactos ambientais receba uma abordagem mais apropriada, no momento em quesugere que esta tarefa pode ser facilitada levando-se em conta “considerações ambientais” e “consideraçõesgerenciais”.

Com o objetivo de aproximar essa análise da realidade industrial, foi realizado, entre março/97 e março/98,um estudo de caso em parceria com uma indústria de médio porte do setor têxtil de acabamento de malhas,com produção média de 300 t/mês e 98 funcionários, situada no Distrito Industrial do Vale do Jatobá, emBelo Horizonte/MG. O presente trabalho apresenta uma metodologia para planejamento do Sistema deGestão Ambiental de acordo com NBR ISO 14.001, adequada à realidade técnica-econômica de indústrias depequeno e médio portes, desenvolvida a partir dos resultados obtidos no referido estudo (TORQUETTI,1998).

A metodologia proposta foi aplicada com sucesso pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais –CETEC, durante o ano de 2000, para planejamento do SGA em empresas participantes do Projeto Ensino eDesenvolvimento Tecnológico para Controle Ambiental na Indústria - Subprojeto 3: Setor de Laticínios,conhecido como Projeto Minas Ambiente, que está sendo parcialmente financiado com recursos da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG (MINAS AMBIENTE/CETEC, 2000). Otrabalho “Planejamento do Sistema de Gestão Ambiental para uma Indústria de Laticínios de Pequeno Porte”desenvolvido por alunos do 9.º período do curso de graduação em Engenharia Química da UniversidadeFederal de Minas Gerais durante o primeiro semestre de 1999, também baseado na aplicação dessametodologia e orientado pela autora, recebeu os Prêmios Sociedade Mineira de Engenheiros de Ciência eTecnologia, edição 1999, nas categorias Engenharia Química e Integração Universidade Indústria, em15/12/99.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 3

2. ASPECTOS GERAIS DO SGA

As Normas Internacionais de Gestão Ambiental têm por objetivo prover às organizações os elementos de umSGA eficaz, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. O próprio texto daNBR ISO 14.001 enfatiza que a mesma foi redigida de forma a aplicar-se a todos os tipos e portes deorganizações e para adequar-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais. Além disso, a normadestaca que o SGA deve ser passível de integração com o sistema de gestão global das organizações.

Uma organização deve ser entendida, conforme definição da norma, como uma “... companhia, corporação,firma, empresa ou instituição, ou parte ou combinação destas, pública ou privada, sociedade anônima,limitada ou com outra forma estatutária, que tem funções e estrutura administrativa próprias. (...) Paraorganizações com mais de uma atividade operacional, cada unidade isolada pode ser definida como umaorganização”.

Da mesma forma, a definição encontrada na NBR ISO 14.001 para sistema de gestão ambiental é “parte dosistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente emanter a política ambiental.”

A base da abordagem da norma NBR ISO 14.001 é o processo de melhoria contínua, representado na Figura1.

FIGURA 1 - Modelo do SGA conforme o Processo de Melhoria ContínuaAdaptado de NSF International (1996).

Este modelo está descrito no documento de orientação NBR ISO 14.004 - Diretrizes Gerais sobre Princípios,Sistemas e Técnicas de Apoio. Ele segue a visão básica de uma organização que subscreve os seguintesprincípios:

♦ Princípio 1 - Comprometimento e Política♦ A organização deve definir sua política ambiental e assegurar comprometimento com seu SGA.

♦ Princípio 2 - Planejamento♦ A organização deve formular um plano para cumprir com sua política ambiental.

Start

MelhoriaContínua

Implementação

PlanejamentoVerificação /

Ação Corretiva

RevisãoGerencial

PolíticaAmbiental

Início

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos4

♦ Princípio 3 - Implementação♦ Para uma efetiva implantação, a organização deve desenvolver as capacidades e apoiar os

mecanismos necessários para o alcance de suas políticas, objetivos e metas.

♦ Princípio 4 - Medida e Avaliação♦ A organização deve medir, monitorar e avaliar sua performance ambiental.

♦ Princípio 5 - Revisão e Melhoria♦ A organização deve rever e continuamente aperfeiçoar seu sistema de gestão ambiental, com o

objetivo de aprimorar sua performance ambiental geral.

É fácil perceber que as normas da série NBR ISO 14.000 compartilham princípios comuns de sistemas degestão da qualidade em consonância com a série de Normas ISO 9.000. Por este motivo, a norma NBR ISO14.001 destaca que “as organizações podem decidir utilizar um sistema de gestão existente, coerente com asérie ISO 9.000, como base para seu sistema de gestão ambiental”. Daí o estabelecimento de analogias entreas duas séries de normas e dos processos para sua implantação.

O Controle da Qualidade Total - TQC (Total Quality Control) no estilo japonês é um sistema gerencial jáconsagrado em todo o mundo, baseado na participação de todos os setores e de todos os empregados de umaempresa, no estudo e na condução do Controle da Qualidade de seus produtos. Este sistema engloba umasérie de técnicas que permitem a produção econômica de bens e serviços que satisfaçam às necessidades doconsumidor (WERKEMA,1995).

O controle dos processos necessário à implementação do TQC é exercido por meio do Ciclo PDCA (Plan,Do, Check, Action), definido como um método gerencial de tomada de decisões para garantir o alcance dasmetas necessárias à sobrevivência de uma organização, sendo composto pelas seguintes etapas:

1. Planejamento (P):♦ estabelecimento de metas;♦ definição do método para alcançar as metas propostas.

2. Execução (D):♦ execução de tarefas exatamente como foi previsto na etapa anterior e coleta de dados que serão

utilizados na etapa seguinte. São essenciais a educação e o treinamento no trabalho.

3. Verificação (C):♦ comparação do resultado alcançado com a meta planejada a partir dos dados coletados na

execução.

4. Atuação Corretiva (A):♦ atuação no processo em função dos resultados obtidos das seguintes formas:

♦ adotar como padrão o plano proposto, caso a meta tenha sido alcançada;♦ agir sobre as causas do não cumprimento da meta, caso o plano não tenha sido efetivo.

Pela similaridade das etapas envolvidas, tem sido amplamente proposto e aplicado o ciclo PDCA paraimplantação do Sistema de Gestão Ambiental, com as adequações necessárias, de modo a atender aosrequisitos da norma NBR ISO 14.001. A seguir, será apresentada a metodologia de planejamento do sistema,adequada às indústrias de pequeno e médio portes, que corresponde à etapa “P” do ciclo PDCA aplicado aoSGA, conforme mostra a Figura 2.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 5

3. METODOLOGIA DE PLANEJAMENTO DO SGA PARA PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS

3.1 DEFINIÇÃO DO ESCOPO E RESPONSABILIDADES

Antes de iniciar o seu planejamento, a empresa deverá definir o escopo do SGA, ou seja, para quais áreas,setores ou atividades será focalizado o sistema e nomear um representante da sua administração coordenar ostrabalhos de planejamento e implementação.

FIGURA 2 - Ciclo PDCA adaptado para implementação do SGA. Fonte:FCO, 1996.

Principalmente no caso das Pequenas e Médias Indústrias - PMI’s, é interessante começar a implementaçãodo SGA escolhendo um dos setores (ou atividades) produtivos ou alguns setores (ou atividades) similares, aoinvés de adotá-lo logo de início para toda a organização. A evolução do sistema e sua implementação emtodas as áreas da empresa seriam, então, conseguidas a partir da análise crítica (“A” do PDCA) e daimplementação de medidas voltadas ao aprimoramento do desempenho ambiental. Esta prática diminui osriscos de fracasso em função de dificuldades técnicas e econômicas iniciais que possam vir a ocorrer devido àprópria estrutura de uma empresa de menor porte.

O representante específico da alta administração da empresa deve, independentemente de outras atribuições,ter responsabilidade e autoridade para assegurar que o SGA esteja sendo mantido e implementado e pararelatar o desempenho do sistema à administração. Do ponto de vista prático, esse representante pode ser ogerente geral, o gerente de produção, o gerente de meio ambiente ou o proprietário, que terá como principalresponsabilidade coordenar e supervisionar o SGA, mesmo que seja contratada uma consultoria técnica parao planejamento e a implementação do sistema. Em qualquer caso, este representante deverá ter autoridade,responsabilidade e recursos suficientes para assegurar que o SGA seja implementado de modo eficaz.

12

3

4

5

P

D

Diagnóstico Gerencial

Comprometimento

Revisão Ambiental Inicial

Política Ambiental

Objetivos e Metas

A

Educare Treinar

Executar

CVerificar osEfeitos doTrabalhoExecutado

Atuar noProcesso emfunção dosResultados

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos6

3.2. DIAGNÓSTICO GERENCIAL

De acordo com o item 4.2 da NBR ISO 14.001, a primeira etapa na formulação do SGA é definir umapolítica ambiental como uma “declaração da organização, expondo suas intenções e princípios com relaçãoao seu desempenho ambiental global, que provê uma estrutura para ação e definição de seus objetivos emetas ambientais”.

Ou seja, a política dá o sentido geral da direção e comprometimento da organização com relação ao meioambiente e fornece um contexto de trabalho para a definição dos objetivos e metas ambientais.

Na maioria das vezes, o esboço da política ambiental não é uma tarefa fácil, considerando que ela deve serabrangente o suficiente para levar em conta todos os aspectos citados acima, sem perder a objetividade eclareza, e, ainda, responder a exigências financeiras da organização.

Como em qualquer sistema gerencial, as políticas sem o compromisso da alta administração não têm valoralgum. Por isso, as normas enfatizam fortemente a necessidade do comprometimento da alta administração,entendida como sendo “constituída de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos que tenhamresponsabilidade executiva pela organização” e ressalta que sua liderança permanente é crucial para osucesso e aperfeiçoamento do SGA.

Por este motivo, sugere-se que antes da definição do escopo da política, o que pressupõe o comprometimentoda alta administração com o processo do SGA, sejam efetuadas as etapas referentes ao Diagnóstico Gerencial,como mostra a Figura 2.

O Diagnóstico Gerencial consiste na aplicação de um questionário para algumas pessoas selecionadas naempresas, com o objetivo de identificar os diferentes pontos de vista sobre a situação real da organizaçãofrente aos requisitos da NBR ISO 14.001. Por meio de um sistema de ponderação, traça-se o Perfil gerencialda empresa, onde podem ser identificados os problemas ambientais que mais causam preocupação, sob oponto de vista gerencial, bem como aqueles que estão em conformidade com a norma.

Assim, os seguintes requisitos da NBR ISO 14.001 formam os itens do Questionário para DiagnósticoGerencial:

1. Comprometimento da alta administração com o SGA2. Política de Meio Ambiente da empresa3. Identificação de Aspectos Ambientais4. Identificação da Legislação Ambiental pertinente (requisitos legais)5. Existência de Objetivos e Metas Ambientais6. Desenvolvimento do Programa de Gestão Ambiental7. Gestão da qualidade dos efluentes líquidos8. Gestão da qualidade do ar9. Gestão de resíduos sólidos10. Gestão do consumo de água e energia11. Gestão de produtos perigosos12. Atendimento a situações de emergência ambiental13. Programas de conscientização e treinamento14. Sistemas de documentação relativa ao meio ambiente15. Sistemas de comunicação interna sobre questões ambientais16. Sistemas de comunicação externa sobre questões ambientais17. Interação com as partes interessadas

O questionário é formado por três colunas, sendo que a da esquerda descreve a pior situação possível de serobservada em relação ao atendimento de cada requisito da norma e, ao contrário, a coluna da direitaapresenta uma descrição da situação ideal de conformidade com cada requisito, como representado a seguir.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 7

REQUISITOS LEGAIS

A empresa não identificou a LegislaçãoAmbiental aplicável à sua atividade.Quando necessita de alguma informaçãofaz consultas específicas a profissionaise/ou órgãos do governo competentes.

1 2 3 4 5 � � � � �

NA�

Leis, decretos, resoluções,portarias municipais e estaduais,assim como códigos setoriaisrelativos à qualidade ambientalestão documentados e sãoperiodicamente atualizados edivulgados por toda a empresa,estando já incorporados às práticasoperacionais.

A coluna central, reservada às respostas, contém cinco opções a serem assinaladas de acordo com aspercepções individuais sobre a situação real da organização frente aos requisitos da norma.

A escala utilizada representa assim o “grau de conformidade” e varia de 1, que significa a pior situaçãopossível, até 5, que representa o atendimento total aos requisitos da norma, passando pelos níveisintermediários 2, 3 e 4, que representam o atendimento parcial, em menor ou maior grau, aos requisitos daNBR ISO 14.001. A opção NA refere-se às situações onde, porventura, um determinado requisito “Não seAplica” à organização que está sendo avaliada.

As pessoas escolhidas para responderem ao questionário assinalam, então, um dos campos de 1 a 5 para cadaum dos fatores descritos acima, de acordo com seu ponto de vista em relação ao grau de conformidade aosrequisitos da norma existente na empresa.

Após o preenchimento, os resultados dos questionários individuais são ponderados da seguinte maneira:

a) para cada questão, multiplica-se o número de cada grau de conformidade (1, 2, 3, 4 ou 5) pelo número derespostas assinaladas para cada um deles em todos os questionários, a fim de se obter o resultadoponderado de cada opção.

b) somam-se os resultados ponderados de cada opção para se obter o resultado ponderado de cada questão.c) divide-se o resultado de cada questão pelo número de questionários respondidos para se obter a média

ponderada de cada questão.

Desta forma, traça-se o “Perfil Gerencial” da empresa, plotando-se o gráfico “Grau de Conformidade comcada requisito x Média ponderada dos valores atribuídos para cada questão”, no qual pode-se facilmentevisualizar o desvio real da organização em relação aos requisitos da norma NBR ISO 14.001, como mostra oexemplo da Figura 3.

Contudo, o resultado mais importante desta etapa é, segundo a FCO, a definição de dois pontos fundamentaispara o planejamento do SGA:_ “Onde estamos?” com relação à NBR ISO 14.001 e_ “Onde queremos chegar?” a partir da implementação do SGA.

O Diagnóstico Gerencial conduzido na fase preliminar do planejamento do Sistema de Gestão Ambientalressalta a importância da necessidade de comprometimento da alta administração da empresa, com oprocesso e pode ajudar os membros da equipe, principalmente, o seu coordenador, a conhecer o nível depercepção das pessoas sobre a situação atual em que a organização está com relação aos problemasambientais e, por conseguinte, aos requisitos das normas de Gestão Ambiental.

Uma análise crítica dos resultados frente à situação real da empresa poderá salientar os enganos cometidos eindicar a necessidade de esclarecimentos sobre questões mais específicas. Isto também pode auxiliar oprocesso de planejamento das ações necessárias para educação e treinamento da equipe, e ainda a

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos8

identificação dos pontos mais sensíveis (com maior desvio) que deverão receber atenção especial na fase deidentificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais.

Numa etapa posterior, o Diagnóstico Gerencial pode servir de parâmetro para avaliação da evolução daequipe envolvida no SGA no que se refere à identificação e conhecimento dos problemas ambientais daempresa, o que pode ser muito útil para o processo de melhoria contínua do sistema. Por este motivo, sugere-se que este procedimento seja repetido sempre ao início de cada ciclo PDCA.

1 2 3 4 5

1. Comprometimento

2. Política Ambiental

3. Aspectos Ambientais

4. Requisitos Legais

5. Objetivos e Metas Ambientais

6. Programa de Gestão Ambiental

7. Gestão da qualidade dos ef. líquidos

8. Gestão da qualidade do ar

9. Gestão de resíduos sólidos

10. Gestão do consumo de água e energia

11. Gestão de produtos perigosos

12. Ações de Emergência

13. Conscientização e Treinamento

14. Documentação

15. Comunicação Interna

16. Comunicação externa

17. Interação com as partes interessadas

Média dos valores atribuídos para a questão

FIGURA 3 – Exemplo do Perfil do Diagnóstico Gerencial.

3.3. REVISÃO AMBIENTAL INICIAL

A Norma NBR ISO 14.001 recomenda, em seu Anexo A, que uma organização que não possua o SGA,estabeleça inicialmente sua situação atual com relação ao meio ambiente, através de uma avaliação ambientalinicial. Esta etapa tem extrema importância em toda a sistemática do SGA, pois nela são identificados osaspectos e impactos ambientais a serem priorizados na fase posterior de planejamento, e sobre os quais aorganização deve possuir controle e influência.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 9

A revisão inicial subsidia toda a estruturação do SGA e, realmente, é a etapa que demanda mais tempo paraexecução, motivo suficiente para que seja bem programada e conduzida. Desta forma, sugere-se que aRevisão Ambiental Inicial seja dividida nas etapas descritas nos itens subseqüentes.

3.3.1. LEVANTAMENTO DO PROCESSO INDUSTRIAL

Esta fase deve consistir de uma série de visitas às instalações da empresa, com o objetivo de reconhecer asoperações unitárias que compõe o processo produtivo e a tecnologia de produção empregada. Paralelamenteàs visitas, devem ser levantados registros existentes na empresa referentes à tecnologia de produção, tipos deprodutos fabricados, matérias-primas e insumos utilizados, bem como dados gerais de caracterização daorganização.

Ressalta-se que todas as informações e dados coletados nesta fase devem ser registrados, objetivando acomposição de um texto que será incluído no relatório da Revisão Ambiental Inicial, contendo:

Ø a caracterização da empresa, incluindo dados básicos (razão social, endereço, número de funcionários,turnos de trabalho, etc), identificação da unidade dentro do grupo empresarial, produtos, principal áreade atuação, organograma organizacional, fornecedores, clientes e outros dados considerados importantes.

Ø a descrição do processo produtivo, incluindo todas as etapas de fabricação, a identificação das matérias-primas e insumos, pontos de consumo de recursos naturais e energia, relação dos equipamentos emáquinas utilizados, tecnologias empregadas, etc. É recomendável que esta descrição seja acompanhadade um diagrama de blocos do processo, para facilitar a visualização da produção. Também podem serincluídas fotos da unidade produtiva para ilustração e registro das condições de operação.

Esta caracterização inicial é muito importante para a manutenção e melhoria do SGA, uma vez que ascaracterísticas da organização e do processo produtivo podem mudar com o tempo, e os gestores terão que teracesso à base de dados que subsidiou o planejamento do sistema no momento em que estiverem efetuando a“Revisão Gerencial”, ou seja, as fases C (Verificação) e A (Atuação Corretiva) do Ciclo PDCA.

3.3.2. SELEÇÃO DAS UNIDADES E SUB-UNIDADES OPERACIONAIS

Este procedimento consiste em dividir o processo produtivo em unidades e sub-unidades operacionaisdistintas, utilizando-se o critério de similaridade e/ou complementaridade das operações unitárias e/ouatividades que o compõe.

Desta forma, uma linha de processo (macro-fluxo) pode ser decomposta em suas várias etapas de produção(fluxos operacionais), identificadas como Unidades Operacionais. De acordo com a complexidade doprocesso, pode-se subdividir as unidades em Sub-unidades Operacionais (fluxos de atividades), onde sãoagrupadas sub-áreas ou atividades distintas que, em conjunto, compõe a estrutura da Unidade Operacional.Um esquema simplificado da divisão do processo em unidades e sub-unidades operacionais é mostrado naFigura 4.

Esta divisão do processo facilita o levantamento de dados da Revisão Ambiental Inicial, uma vez que permiteo detalhamento dos fluxos de entrada e saída de matérias-primas e insumos em cada Unidade Operacional,bem como a identificação precisa de todos os pontos de geração de efluentes líquidos, emissões atmosféricase resíduos sólidos e ainda dos pontos de reutilização e recirculação de materiais.

A divisão dos setores produtivos de uma empresa em Unidades Operacionais (OP) pode ser feita observando-se o critério da similaridade das operações e atividades industriais. As Sub-unidades Operacionaisoriginaram-se naquelas Unidades onde existiam etapas específicas, as quais puderam ser sub-divididas emvárias atividades independentes, que compõem, em conjunto, o fluxo operacional.

O procedimento de definição de Unidades e Sub-unidades Operacionais na fase inicial da Revisão Ambiental,além de facilitar o processo de levantamento de dados, auxilia também a identificação precoce de pontos

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos10

sensíveis do processo, sob o ponto de vista ambiental. Além disso, esta divisão do processo produtivo pode vira ser utilizada no treinamento funcional, numa etapa posterior de implementação do SGA.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 11

FIGURA 4 - Esquema simplificado da divisão de um processo em Unidades e Sub-unidadesoperacionais. Adaptado de FCO (1996).

3.3.3. COLETA DE DADOS DO PROCESSO INDUSTRIAL

Esta fase da Revisão Ambiental Inicial tem por objetivo levantar e registrar dados do processo industrialatravés do acompanhamento “in loco” das atividades produtivas, com o objetivo de formar o conjunto deinformações necessárias às etapas subseqüentes.

Sugere-se que os dados sejam coletados a partir da observação direta do trabalho dos operadores em cadauma das unidades e sub-unidades operacionais definidas. Deve-se procurar acompanhar, na medida dopossível, os ciclos completos de cada etapa do processo, identificando todas as atividades operacionais,parâmetros de controle, matérias-primas e insumos utilizados, procedimentos de descarte de efluentes, reciclode materiais, tempo de duração das diversas fases, etc. Esta observação pode ser acompanhada por entrevistascom os operários, supervisores de turno e gerentes de setor.

Para sistematizar e registrar corretamente os dados obtidos, como determina a NBR ISO 14.001, sugere-se ouso da Planilha para Coleta de Dados da Revisão Ambiental Inicial, cuja estrutura é apresentada a seguir,que possui espaços reservados às anotações sobre a seqüência básica das operações e para registro dos dadossobre o processo produtivo, ou seja, durante a operação normal da atividade. De acordo com o requisito danorma, existe o espaço reservado às anotações a respeito das situações anormais observadas no momento dolevantamento, bem como das possíveis situações de risco em cada unidade operacional.

MACRO-FLUXO Indústria de Laticínios

3

1

2

FLUXO OPERACIONAL

Recebimento eEstocagem de

Matérias-primas eInsumos

UNIDADEOPERACIONAL

PROCESSO SUB-UNIDADEOPERACIONAL

FLUXO DEATIVIDADESLaboratório de

controle dequalidade do leite

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos12

REVISÃO AMBIENTAL INICIALPLANILHA PARA COLETA DE DADOS N.º

UNIDADE OPERACIONAL:SUB-UNIDADE:Seqüência Básica de Operações:

Informações/ dados recolhidos:

Situações anormais / Emergências:

Dados que necessitam de confirmação/verificação: Confirmado/verificado: Data

Observações:

Práticas de gestão ambiental existentes:

Responsável(is) pelo fornecimento das informações: Cargo(s):

Responsável pelo preenchimento: Data: / /

Este procedimento é extremamente útil, uma vez que propicia a criação de registros detalhados dos aspectosoperacionais e sua interação com o meio ambiente. Adicionalmente, outras vantagens da observação diretadas atividades e do preenchimento das planilhas são:

♦ a identificação de condutas operacionais incorretas;♦ a identificação de pontos de desperdícios de materiais e energia;♦ a identificação de pontos ou parâmetros de processo que devem ser melhor controlados;♦ coleta de informações para definição de estratégias de treinamento da equipe;♦ formação da base de dados para a elaboração de Procedimentos Operacionais Padrão, na fase de

implementação (“Do”) do PDCA.

3.3.4. ELABORAÇÃO DO BALANÇO DE MASSA DO PROCESSO

O item 4.2.2 da NBR ISO 14.004 define que durante a identificação de aspectos ambientais e avaliação dosimpactos significantes deve-se observar, dentre outros, os critérios de intensidade e freqüência do impacto.Para tanto, torna-se necessário quantificar, sempre que possível, os aspectos ambientais inerentes ao processoprodutivo.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 13

As ferramentas mais precisas para isto são os balanços de massa e energia, que tem por objetivo quantificardetalhadamente os fluxos de matérias-primas e insumos, a emissão de efluentes líquidos e gasosos, a geraçãode resíduos sólidos, e o consumo de recursos naturais. Cabe ressaltar que o nível de complexidade do balançode massa e a escolha das bases de cálculo ficam a critério dos envolvidos no planejamento do SGA.

Na prática, como as quantidades exatas de muitos produtos químicos, água, vapor e insumos não são medidaspelas empresas, bem como sua aferição demandaria medições em campo que poderiam ser demoradas e/ouonerosas, sugere-se elaborar balanços nos sistemas correspondentes às Unidades Operacionais definidasanteriormente. Assim, pode-se calcular, aproximadamente, os fluxos totais de matérias-primas e insumos doprocesso, assim como os volumes de efluentes e resíduos gerados em cada etapa de fabricação. De um modogeral, isto é suficiente para quantificar os aspectos ambientais da atividade para efeito da análise daimportância dos impactos associados, pois os resultados refletem a realidade, com uma margem de erropouco significativa. Existem softwares matemáticos, como o MatchCad, que podem ser utilizados paraelaboração do balanço de massa do processo. É importante anexar a memória de cálculo no relatório daRevisão Ambiental Inicial, porém, basta uma tabela contendo um resumo dos resultados obtidos paravisualização das taxas de fluxo de materiais e das quantidades de poluentes que deixam o processo.

3.3.5. LEVANTAMENTO DOS REGISTROS AMBIENTAIS EXISTENTES

Esta etapa pode ocorrer simultaneamente às duas etapas anteriores e tem como objetivo identificar e analisartodos os registros existentes na empresa que componham seu histórico ambiental, tais como:

♦ licenças ambientais;♦ compromissos com órgãos controladores do meio ambiente;♦ resultados de monitoração ambiental;♦ registros de fiscalizações e autuações ambientais;♦ registros de situações de risco ou de acidentes anteriores;♦ registros de demandas e/ou reclamações das partes interessadas;♦ outros documentos importantes (correspondências, atas de reunião, fotos, filmes, etc).

É comum existir uma grande deficiência desse tipo de registro nas empresas, principalmente nas de pequenoe médio porte, e, por isso, a consulta e a análise detalhada dos registros ambientais pode vir a serprejudicada em razão destes não serem completos e atualizados. Por isso, vale lembrar a sugestão do item4.1.3 da NBR ISO 14.004, que ressalta que as organizações também podem consultar fontes externas paraobtenção de dados e informações, tais como órgãos governamentais e associações setoriais

Dessa forma, com base em todas as informações obtidas, elabora-se o histórico ambiental da empresa,contendo a referência de todos os registros ambientais existentes. Note-se que este histórico fará parte doRelatório da Revisão Ambiental Inicial e deverá ser atualizado a cada ciclo do SGA. Pode-se optar por trataras situações anormais e de risco em separado, preparando um histórico específico descrevendo asinformações provenientes de investigações de incidentes anteriores, como destaca a NBR ISO 14.004.

Na prática, a etapa de levantamento de registros existentes pode ser bastante trabalhosa e exigir muito tempode execução, em virtude da falta de registros sistematizados sobre as questões ambientais. Este fato podedemandar várias consultas externas e/ou levantamentos junto aos funcionários mais antigos da empresa paraa coleta de informações importantes. Neste ponto, os requisitos da norma NBR ISO 14.001 referentes àdocumentação do SGA podem auxiliar muito as empresas a planejar e implementar registros adequados à suaestrutura organizacional.

3.3.6. LEVANTAMENTO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL

As práticas de gestão ambiental incluem todas as medidas implementadas pela empresa com os seguintesobjetivos:

Ø redução do volume dos despejos;

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos14

Ø otimização do consumo de água através da reciclagem;Ø redução do consumo, recuperação, reutilização e substituição de produtos químicos;Ø modificação dos processos de fabricação;Ø implantação e manutenção de rotinas adequadas;Ø implementação de sistemas de tratamento e disposição dos efluentes e resíduos gerados.

Porém, aliada à deficiência de registros técnicos e ambientais observada nas empresas brasileiras, encontra-sea inexistência de procedimentos sistematizados e padronizados de gestão ambiental. Muitas vezes, estaspráticas são até adotadas, mas de maneira intuitiva, sem um controle apropriado e sem o acompanhamentodos resultados obtidos.

Por este motivo, é conveniente que seja efetuado um levantamento das práticas de gestão ambiental existentesna organização, por meio da observação direta das operações rotineiras e da consulta às informações e dadosdisponíveis. Isso pode ocorrer de forma simultânea às etapas de coleta de dados do processo e preenchimentodas planilhas da Revisão Ambiental Inicial e de levantamento dos registros ambientais disponíveis.

Durante o acompanhamento das atividades operacionais deve-se procurar identificar práticas de controle dageração de efluentes líquidos, de gerenciamento de resíduos sólidos, de otimização do consumo de matérias-primas e de recursos naturais, de racionalização de energia e de prevenção e atendimento a situação de risco.Estas informações podem registradas nas Planilhas de Coleta de Dados da Revisão Ambiental Inicial, nocampo específico.

Também devem ser consultados os projetos de sistemas de tratamento de efluentes líquidos, emissõesatmosféricas, gerenciamento de resíduos sólidos, planos de redução do consumo de materiais e energia,manuais de atendimento a situações de emergência, etc.

Assim, pode-se organizar uma descrição sucinta das práticas de gestão ambiental existentes na empresa antesdo início de implementação do SGA, que fará parte do relatório da Revisão Ambiental Inicial e deverá seratualizada a cada ciclo de melhoria contínua do sistema.

3.3.7. IDENTIFICAÇÃO DE REQUISITOS LEGAIS E OUTROS REGULAMENTOS

Esta etapa do planejamento do SGA merece uma atenção especial pois trata-se de um dos requisitos da NBRISO 14.001 - item 4.2.3, que determina que “a organização deve estabelecer e manter procedimento paraidentificar e ter acesso à legislação e outros requisitos por ela subscritos, aplicáveis aos aspectos ambientaisde suas atividades, produtos e serviços.” Entretanto, o item 4.1.1 da NBR ISO 14.004 recomenda que aorganização comece a implementação do SGA onde existam benefícios óbvios, por exemplo, focalizando aconformidade legal.

Assim, de início pode-se optar pela identificação das leis e regulamentos correspondentes aos aspectosambientais mais problemáticos da empresa, como por exemplo, a legislação municipal e estadual pertinenteao licenciamento ambiental da atividade e aos padrões de lançamento de efluentes líquidos, emissõesatmosféricas e resíduos sólidos. Entretanto, à medida que o SGA evolua no processo de melhoria contínua,deve-se refinar o levantamento dos requisitos legais, incluindo regulamentações sobre aspectos ambientaismenos significativos, até que toda a legislação pertinente àquela atividade seja identificada. Outrosregulamentos específicos de setores produtivos ou de produtos também devem ser incluídos nas revisões doSGA.

Portanto, sugere-se elaborar uma relação contendo todas as leis, decretos, portarias, deliberações,regulamentos, códigos, etc., pertinentes à atividade da organização, contendo a identificação clara dorequisito legal, data de publicação, assunto (caput), a referência de onde pode ser encontrado e outrasespecificidades (vigência, aplicações, exclusões, etc.).

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 15

3.4. IDENTIFICAÇÃO DE ASPECTOS AMBIENTAIS

Um aspecto ambiental é definido no item 3.3 da NBR ISO 14.001 como “um elemento das atividades,produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente.” Pode envolver, porexemplo, uma descarga, uma emissão, consumo ou reutilização de um material, ou ainda o ruído emitido poruma atividade.

O exercício de identificação de aspectos ambientais pode despertar a atenção dos funcionários da empresapara questões ambientais, as quais, talvez, não considerassem anteriormente na observação cotidiana. Esteprocedimento deve tornar-se contínuo, já que a norma ressalta que a organização deve manter estasinformações atualizadas. Por isso, deve-se proceder esta identificação de forma sistematizada, e, se possível,com a participação de todos ou de grande parte dos colaboradores da empresa.

Para o desenvolvimento da identificação dos Aspectos Ambientais sugere-se a aplicação da técnicadesenvolvida pela FCO (1996), baseada no preenchimento da Tabela de Identificação AspectosAmbientais, na qual são discriminadas todas as atividades operacionais de cada uma das unidades e faz-se aidentificação dos aspectos ambientais a elas relacionados, através da análise das entradas e saídas dematérias-primas e recursos naturais em cada atividade. As origens das entradas e os destinos das saídastambém são discriminados.

Por exemplo, numa unidade de geração de vapor, poderia ser discriminada a atividade operacional relativaao processo de desmineralização da água que alimenta as caldeiras. A Tabela de Identificação dos AspectosAmbientais a ela relacionados pode ser elaborada da seguinte maneira:

ATIVIDADE OPERACION

AL

ENTRADAS

ORIGENS SAÍDAS DESTINOS

ASPECTOS AMBIENTAI

S

CLASSI- FICAÇÃ

O Desmineralização da água dealimentação das caldeiras

- Água -Carvãoativado -Sodacáustica

- COPASA - FornecedorA - FornecedorB

-Águadesmi-neralizada -Meiofiltranteexaurido(carvão)

-Caldeiras - Pátio daempresa

- Consumoágua -Transporte,manuseio,armazenamento sodacáustica - Geração deresíduo sólido (carvão)

- Uso derecursonatural - N -Riscopotencialde acidente- R -Poluiçãopotencial -P

A última coluna da tabela corresponde à classificação preliminar de cada Aspecto Ambiental em 3classes, de acordo com sua interação com o meio ambiente:⇒ Poluição potencial - P⇒ Utilização de recursos naturais - N⇒ Risco potencial de acidente ambiental – R

Existe também a possibilidade de identificação de atividades operacionais que correspondam a aspectosambientais positivos, como no caso da reutilização, reciclo ou recuperação de matérias-primas, insumos,efluentes ou resíduos. Neste caso, o aspecto ambiental recebe a classificação “Aspecto Positivo“, sendoindicado pelo símbolo “(+)”, na última coluna da tabela. Apesar de a NBR ISO 14.001 não abordar e nem incluir requisitos relativos a aspectos de gestão de saúdeocupacional e segurança no trabalho, em muitas situações os aspectos ambientais relacionados às atividadesoperacionais também têm interação com a saúde e segurança no trabalho. Pode-se, então, optar pela inclusãodesta avaliação no preenchimento da Tabela de Identificação de Aspectos Ambientais,ampliando-se os níveis

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos16

de classificação dos aspectos ambientais, incluindo-se na tabela o item “Risco à saúde e segurançaocupacional - S”.

O preenchimento das Tabelas de Identificação de Aspectos Ambientais requer um profundo conhecimento detodas as atividades operacionais da empresa, e as Planilhas para Coleta de Dados da Revisão AmbientalInicial devem ser amplamente consultadas nesta fase do trabalho. Ao final, obtém-se um conjunto de tabelas de identificação de todos os aspectos ambientais, por Unidade eSub-unidade Operacional, com relação à situação de operação normal da unidade industrial, às situaçõesanormais e às situações de risco ambiental.

3.5. IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

De acordo com a norma de orientação NBR ISO 14.004,o relacionamento entre aspectos e impactosambientais é o de causa e efeito. Aspectos são atividades que interagem com o meio ambiente e impactossão as mudanças observadas no meio ambiente resultantes desta interação. Por exemplo, o aspecto é aemissão de algum poluente para o ar (causa) e o impacto ambiental é a alteração da qualidade do ar noentorno da fábrica (efeito). Seguindo esta orientação, como uma ferramenta para a identificação clara e objetiva destes impactos sugere-se a aplicação do Quadro Resumo de Aspectos Ambientais e Impactos Associados, que tem por objetivoordenar e condensar as informações já captadas nas etapas precursoras, sempre tendo em vista facilitar oplanejamento do SGA.

O preenchimento deste quadro deve seguir a relação de causa e efeito entre aspectos e impactos, procurando-se listar todos os impactos possíveis no meio ambiente, negativos e positivos. Aqueles relacionados aos riscosà saúde e segurança ocupacional também podem ser incluídos. Para o exemplo dado anteriormente, para a situação de operação normal do processo de desmineralização deágua para caldeiras, o Quadro Resumo de Aspectos Ambientais e Impactos Associados poderia ser elaboradoda seguinte forma:

UNIDADEOPERACIONAL

SUB-UNIDADE ASPECTOSAMBIENTAIS

IMPACTOASSOCIADO

Geração de Vapor Estação de tratamento daágua de alimentação dascaldeiras

-Consumo de água -Geração de resíduosólido (carvão exaurido)

- Uso de recurso natural - Poluição do solo ou daágua

É importante lembrar que devem ser identificados os impactos associados aos aspectos ambientais levantadospara as situações de operação normal, anormais e de risco, conforme requisito da norma. Por isto, sãogerados três Quadros Resumo de Aspectos Ambientais e Impactos Associados, referentes aos três tipos desituações avaliadas. A maior vantagem na elaboração destes quadros está na rápida visualização de todos os aspectos e impactosambientais existentes na empresa, o que permite aos membros da equipe de implementação do SGA umavisão global das não conformidades identificadas. Por outro lado, a identificação dos impactos ambientaispositivos também permite a correlação com as práticas de gestão ambiental já existentes na empresa.

3.6. AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Desta forma sugere-se como ferramenta para análise da importância dos impactos ambientais uma matrizúnica, na qual cada aspecto ambiental e o respectivo impacto associado são analisados de acordo com osdenominados Critérios de Importância. Estes critérios espelham as considerações sugeridas pela norma, e

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 17

incluem alguns dos “Filtros de Significância” definidos por algumas metodologias empregadas por indústriasde grande porte estudadas, porém, não restringem a avaliação da importância dos impactos ambientaissomente às considerações sobre sua escala, severidade e freqüência observadas no meio ambiente.

Os Critérios de Importância são, assim, divididos em duas categorias, como mostra o Quadro 1. Quadro 1 – Critérios de Avaliação da Importância Ambiental-Gerencial dos Impactos Ambientais

IMPORTÂNCIA AMBIENTAL IMPORTÂNCIA GERENCIALCritério Descrição Critério Descrição

Escala

Abrangência do impacto nos meiosfísico, biológico e antrópico, ouabrangência das conseqüências deuma situação de risco.

Potencial deexposição legal

Probabilidade da organização sofresanções legais ou regulamentares emfunção do não cumprimento depadrões e/ou procedimentos.

Severidade

Grau de intensidade do impacto,considerando a capacidade do meioambiente em suportá-lo e reverterseus efeitos. Para situações de risco,é o grau de intensidade dasconseqüências de um acidente.

Dificuldade dealteração do

impacto

Grau de dificuldade real daorganização em promover aadequação ou alteração do aspectoambiental, visando à minimização dosimpactos.

FreqüênciaDuração do impacto no meioambiente, em situações de operaçãonormal e anormal.

Custo paraalteração

Estimativa do custo para adequaçãoou modificação do impacto ambiental.

Probabilidade de

ocorrência

Possibilidade de ocorrência deacidentes com danos ambientais,relacionados com as situações derisco.

Efeito daalteração do

impacto

Tipo de influência que a adequaçãoou alteração do impacto surte emoutras atividades ou processos daempresa.

Preocupaçõesdas partes

interessadas

Nível de preocupação que o impactodesperta nos órgãos de controle,comunidade, funcionários, etc.

Efeitos naimagem pública

Indica como o impacto afeta aimagem pública da empresa.

Os Critérios Ambientais são divididos em três níveis de avaliação, os quais receberam pontuação relativa, ou“pesos”, iguais a 1- BAIXO, 3 - MÉDIO ou 5- ALTO, dependendo da situação real observada quanto àextensão de cada impacto no meio ambiente. Quanto maior o valor numérico do peso relativo de cada nívelde avaliação, maior a escala, a severidade e a freqüência do impacto nos meios físico, biológico e antrópico. Os Critérios Gerenciais, à exceção do critério “potencial de exposição legal”, também recebem três níveis depontuação, com pesos relativos iguais a 1, 3 e 5, correspondendo, da mesma forma, à situação real observadana empresa, no tocante ao gerenciamento de cada impacto ambiental. Como a conformidade com os requisitos legais é um ponto muito forte ressaltado pelas normas, foram criadosquatro níveis de pontuação para o critério “potencial de exposição legal”, que recebeu um nível deimportância maior do que aos demais critérios gerenciais, uma vez que a situação mais crítica, ou seja, umALTO grau de não conformidade com os requisitos legais, recebeu um peso relativo maior, igual a 9. Nestecaso, também teve que ser prevista a possibilidade da inexistência de referências legais pertinentes aoimpacto causado, correspondendo a um potencial MUITO BAIXO de exposição legal, que recebeu um pesorelativo igual a 1. Um tratamento diferenciado também teve que ser dado aos critérios de importância gerencial “dificuldade dealteração do impacto”, “custo para alteração” e “efeitos da alteração do impacto em outras atividades”. Paradirecionar a avaliação da importância dos impactos de modo a privilegiar as ações gerenciais com menorgrau de dificuldade, menor custo e que produzem efeitos positivos dentro da empresa, estas situações

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos18

receberam o peso mais alto no sistema de pontuação, correspondente ao valor 5. Assim, os impactosrelacionados a aspectos ambientais mais facilmente “gerenciáveis” recebem maior pontuação, e, portanto, asações necessárias para sua adequação poderão ser priorizados pela empresa. A ferramenta que subsidia esta fase do planejamento do SGA é a Matriz de Avaliação da Importância dosImpactos Ambientais, cuja estrutura é mostrada na página seguinte.

O preenchimento desta matriz é linear, partindo-se da identificação da Unidade Operacional (primeiracoluna) e dos aspectos e impactos ambientais decorrentes de sua operação normal, das situações anormais ede risco, preenchendo-se uma matriz para cada caso. Os aspectos ambientais e impactos associadosidentificados na fase anterior são, então, transportados para a segunda e terceira colunas da matriz,respectivamente. Para condensar as informações contidas nas matrizes, os impactos associados às sub-unidades operacionais que possuem a mesma natureza podem ser agrupados em uma única linha.

MATRIZ DE AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA AMBIENTAL-GERENCIAL DOS IMPACTOS

AMBIENTAIS

SITUAÇÃO:

CRITÉRIOSAMBIENTAIS

CRITÉRIOS GERENCIAIS

Unid. Opera- cioanl

ASPECTO AMBIENT

AL

IMPACTO AMBIENT

AL

E S F Soma Lei Dific. Alter

ar

Custo Efeito

P.Int.

Imag. Soma

Legenda: E: Escala Lei: Potencial de exposição legal Efeito: Efeitos daalteração sobre outras atividades S: Severidade Dific. Alterar: Dificuldade de alteração P. Int.: Grau depreocupação das partes interessadas F: Freqüência C: Custo para alteração Imag.: Efeitos na imagempública da organização AMB: Score normalizado dos critérios ambientais GER: Score normalizado dos critérios gerenciais Total: Score total normalizado (ambiental + gerencial) Classe : Classificação do Impacto

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 19

A seguir, procede-se à pontuação dos critérios ambientais (colunas 4, 5 e 6) e gerenciais (colunas 8 a 13)definidos de acordo com a realidade da empresa, lançando nas colunas indicadas os valores numéricosresultantes da avaliação dos impactos ambientais, conforme os níveis estabelecidos.

Como o número de critérios de cada categoria é diferente, torna-se necessária a normalização dos resultadosobtidos na totalização dos pesos aferidos, para que eles possam ser comparados entre si. Assim, a soma depontos em cada categoria (colunas 7 e 14) é dividida pelo valor máximo que pode ser obtido se todos oscritérios receberem pontuação máxima. Logo, a soma de pontos dos critérios ambientais deve ser dividida por15 e a soma dos critérios gerenciais por 34. Os valores normalizados dos critérios ambientais e gerenciais são, então, lançados nas colunas 15 e 16 damatriz, respectivamente. A coluna 17 refere-se à soma dos valores normalizados (coluna 15 + coluna 16) erepresenta o resultado final da avaliação dos impactos ambientais. Como, geralmente, , de início, as empresas possuem muitos problemas a serem atacados, sugere-se umsistema de priorização da significância dos impactos ambientais em três níveis, de acordo com o total depontos obtido na matriz:

PONTUAÇÃO

VALOR OBTIDO

CLASSE DEIMPORTÂNCIA DO

IMPACTO abaixo de 50% do valormáximo

score ≤ 0,99 POUCO SIGNIFICATIVO

entre 50 e 75 % do valormáximo

1,0 ≤ score ≤ 1,49 MODERADO

entre 75 e 100% do valormáximo

1,50 ≤ score ≤ 2,0 CRÍTICO

A normalização dos resultados efetuada como descrito acima considera que a importância dos CritériosAmbientais e Gerenciais na avaliação dos impactos ambientais da organização é a mesma, ou seja, que ospesos relativos de ambas as categorias é igual a 50 %. Esta seria uma situação conveniente e aceitável parauma PME que está iniciando o processo de implementação do Sistema de Gestão Ambiental, e que possuigrande número de não- conformidades a serem solucionadas Porém, à medida que o SGA evolui, os pesosrelativos destas categorias deverão ser alterados com o objetivo de revelar a importância relativa dos critériosambientais no planejamento do sistema. Este procedimento vem de encontro ao princípio da “melhoriacontínua” da gestão ambiental, preconizado pelas normas da série ISO 14.000.

Desse modo, os Objetivos e Metas ambientais que irão compor o Programa de Gestão Ambiental da empresapoderão ser direcionados, por exemplo, para a adequação ou eliminação dos Impactos Críticos. 3.7. DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS E METAS

O requisito básico do item 4.3.3 da NBR ISO 14.001 é “estabelecer e manter objetivos e metas ambientaisdocumentados, em cada nível e função pertinentes da organização”. A norma destaca ainda que os objetivosdevem se específicos e as metas mensuráveis, onde exeqüível. Desta forma, objetivos são os propósitosglobais para o desempenho ambiental, que devem constar da política ambiental da organização, e as metassão estabelecidas para atingir estes objetivos, dentro de prazos especificados. Para a definição dos objetivos e metas ambientais sugere-se uma das ferramentas de planejamento daqualidade do sistema TQC, denominada Diagrama de Árvore. De acordo com DELLARETTI FILHO (1996),esta técnica é muito eficaz na definição de meios para se alcançar um objetivo, pois permite fazer omapeamento detalhado dos caminhos a serem percorridos e assim traçar uma estratégia de abordagem,possibilitando ainda uma visão geral da estrutura do tema em questão.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos20

A construção do diagrama se faz a partir do objetivo básico (o que fazer) e a definição dos meios (comofazer) relacionados diretamente a ele. O esquema de construção é mostrado na Figura 5, onde as perguntas “oque fazer?” e “como fazer?” são sistematicamente repetidas, da esquerda para a direita, até que se esgotemtodos os meios possíveis para se atingir o objetivo básico, através de uma ação executável.

Pode-se ainda analisar a árvore resultante no sentido inverso, da direita para a esquerda, formulando-se,então, as perguntas “por que fazer?” ou “para que fazer?”, com o objetivo de se verificar a sistemática relaçãode causa-efeito.

No Diagrama de Árvore do SGA, os objetivos básicos e os blocos contidos na segunda coluna dedesdobramento compõem, respectivamente, os Objetivos e Metas ambientais da organização. Os blocos daterceira coluna correspondem aos meios, ou projetos, necessários e, os da última coluna, às ações executáveispara se atingir esses objetivos. Cabe destacar que nem sempre é possível desdobrar os objetivos iniciais emquatro colunas, mas sempre, a última coluna do diagrama deve corresponder a uma ação executável.

Dessa forma, os objetivos e metas ambientais da empresa podem ser definidos levando-se “em consideraçãoas constatações pertinentes feitas por ocasião das análises ambientais, bem como os aspectos ambientaisidentificados e impactos associados”, como orienta o item 4.2.5. da NBR ISO 14.004.

3.8. DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL - PGA

A última fase do ciclo de planejamento do SGA refere-se ao atendimento ao requisito contido no item 4.3.4da NBR ISO 14.001, que diz respeito ao estabelecimento e à manutenção de um programa ou plano de açãopara a implementação do Sistema de Gestão Ambiental.

Figura 5 – Esquema geral da construção de um Diagrama de Árvore. Adaptado de DELARETTIFILHO (1996).

OBJETIVOBÁSICO

OBJETIVOMEIO

OBJETIVOMEIO

MEIOAÇÃO

AÇÃO

AÇÃO

MEIO

AÇÃO

AÇÃO

O QUE?

COMO?O QUE ?

COMO?O QUE? COMO?

POR QUE?PARA QUE?

POR QUE?PARA QUE?

POR QUE?PARA QUE?

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 21

A norma define que este programa deve incluir a atribuição de responsabilidades em cada função e nívelpertinente da organização, para atingir os objetivos e metas ambientais definidos, bem como para detalhar osmeios e o prazo no qual estes devem ser atingidos.

O PGA pode ser elaborado pela equipe do SGA, a partir dos objetivos e metas definidos no Diagrama deÁrvore desenvolvido, incluindo o detalhamento das ações executáveis, cronogramas e pessoal responsávelpela implementação, como recomenda a NBR ISO 14.001. A norma ainda destaca que o programa pode sersub-dividido para abordar elementos específicos das operações da organização. O item 4.2.5. da NBR ISO14.004 sugere que sejam definidos Indicadores de Desempenho Ambiental para cada meta estipulada, quepossam ser monitorados ao longo da implementação do sistema, visando a verificação da melhoria contínua.

Sugere-se, assim, que o Programa de Gestão Ambiental seja descrito na forma de tabelas de referênciacontendo a discriminação dos objetivos, metas, projetos, indicadores de desempenho (itens de verificação),responsáveis e custos envolvidos no SGA. Para melhor acompanhamento da implementação, sugere-se aindaa elaboração de planilhas de detalhamento de projetos, como mostrado nos exemplos a seguir, baseados nosDiagramas de árvore.

3.9. DEFINIÇÃO DA POLÍTICA AMBIENTAL

A definição da Política Ambiental da organização aparece na NBR ISO 14.001 como o primeiro requisitobásico do sistema de gestão ambiental. A norma diz que a política é o elemento motor para a implementaçãoe aprimoramento do SGA e deve constituir a base para o estabelecimento dos objetivos e metas daorganização.

Todavia, como já visto, sugere-se que antes da definição do escopo da política, sejam efetuados na empresa oDiagnóstico Ambiental e a Revisão Ambiental Inicial, com o objetivo de fornecer aos responsáveis pelaimplementação do SGA uma visão geral da situação atual com relação aos problemas existentes.

Porém, devido à carência de registros ambientais e de procedimentos operacionais e de gestão, formalizados eimplantados, comuns nas empresas iniciantes no SGA, verifica-se na prática que, mesmo após a execuçãodas duas etapas de trabalho citadas acima, o panorama delineado pode ainda ser insuficiente para a definiçãoda Política Ambiental, principalmente nas empresas de menor porte. A falta de conhecimento real das não-conformidades existentes e a natureza das medidas de gestão necessárias fazem com que a alta administraçãoda empresa e as pessoas da própria equipe do SGA não se sintam seguras o bastante para estabelecer asdiretrizes da Política Ambiental.

Assim, julga-se conveniente a definição da Política Ambiental somente após a conclusão total da fase deplanejamento do SGA, ou seja, depois de fixados os objetivos e metas e o Programa de Gestão Ambiental.

Isto assegura que a Política Ambiental seja calcada numa avaliação das possibilidades técnicas e financeirasreais da empresa, e não numa caracterização preliminar de sua situação em relação ao meio ambiente. Destamaneira, e em consonância com os requisitos das normas, a política naturalmente torna-se apropriada àrealidade da empresa e reflete o comprometimento da alta administração com o SGA, uma vez que umprograma de melhoria da performance ambiental já foi estabelecido.

É importante ressaltar que esta inversão na ordem de execução das etapas não compromete o planejamentodo SGA , uma vez que as próprias normas da série ISO 14.000 não impõem diretrizes para sua construção,limitando-se somente a estabelecer os requisitos do sistema de gestão ambiental para fins de certificação, e afornecer algumas orientações gerais para sua implementação. Além disso, presume-se que, quando não seobjetiva a certificação do SGA a curto ou médio prazo, essa ordem torna-se ainda menos relevante.

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos22

4. CONCLUSÃO

A metodologia apresentada nesse trabalho cobre todas as etapas requisitadas pela norma NBR ISO 14.001para o planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental, desde a revisão inicial até a definição do Programade Gestão Ambiental, incluindo o esboço da Política Ambiental.

A aplicação prática dessa metodologia permitiu constatar que o ponto crítico do planejamento do SGA nosmoldes da NBR ISO 14.001 recai sobre a tarefa de avaliação da importância ou significância dos impactosambientais. Como esta tarefa fornece a base para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metasambientais em cada empresa, atenção especial deve ser dada à mesma, para que o SGA realmente sejaimplementado com sucesso.

A observação da realidade presente na maioria das empresas brasileiras indica que as consideraçõescomerciais, relacionadas muito mais às questões gerenciais do que com as ambientais, podem ter um pesomuito mais significativo na estruturação do Programa de Gestão Ambiental de uma empresa iniciante noSGA, do que para as grandes organizações, se forem consideradas suas limitações técnicas e econômicas.Por isso, devem ser cuidadosamente avaliadas durante o planejamento do SGA, a fim de não inviabilizá-lo.

Em outras palavras, os objetivos e metas ambientais devem ser estabelecidos com cautela, iniciando-se comações realmente executáveis dentro do contexto técnico-econômico de cada empresa, assim como ressaltamas próprias normas ISO 14.000. Por este motivo é que sugere-se que os aspectos gerenciais sejam avaliadasem conjunto com as questões ambientais..Tendo em vista os resultados extremamente positivos alcançados na aplicação deste modelo de planejamentodo SGA presume-se que este pode tornar-se um excelente instrumento para iniciar o caminho em busca daconformidade com a legislação ambiental e da melhoria da performance ambiental das organizações comoum todo. Além disso, pode tornar-se uma ferramenta para autodeclaração do sistema de gestão ambientalda organização, visando a demonstrar às partes interessadas que ela possui comprometimento com asquestões ambientais inerentes à sua atividade, de acordo com a premissa da NBR ISO 14.001.Entretanto, diante da realidade brasileira, deve-se considerar o longo caminho ainda a ser trilhadopelasempresas, desde a iniciativa de regularização de sua situação junto aos órgãos ambientais, até acompleta implementação e manutenção de sistemas de gestão ambiental. Por isso, destaca-se aqui, aimportância da participação e colaboração das várias entidades representativas dos setores produtivos, parapromover a mudança do ponto de vista dos pequenos e médios empresários com relação às questõesambientais de seus negócios. Isto pode ser alcançado através da criação de mecanismos para disseminar oentendimento das normas de gestão ambiental e dos benefícios do SGA, assim como para apoiarimplementação do sistema, como, por exemplo, a criação e manutenção de bancos de dados referentes aosrequisitos legais regionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro. NBR ISO 14.001; Sistemasde gestão ambiental - Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. 1996. Rio deJaneiro, out. 1996.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro. NBR ISO 14.004; Sistemasde gestão ambiental - Especificações e diretrizes para uso. 1996. Rio de Janeiro, out. 1996.

3. DELLARETTI FILHO, O . As sete ferramentas do planejamento da qualidade. Belo Horizonte. 1996.Fundação Christiano Ottoni, 1996. 183 p. (Série Ferramentas da Qualidade, vol. 5).

4. FUNDAÇÃO CHRISTIANO OTTONI. Sistema de Gestão Ambiental; Implementando a ISO/DIS14.001 no ambiente da GQT.1996. Belo Horizonte, set. 1996. (Apostila de curso).

5. GILBERT, M. J. ISO14.000/BS7750 : Sistemas de gerenciamento ambiental. São Paulo. 1995. InstitutoIMAM, 1995

6. MINAS AMBIENTE/CETEC. Pesquisa tecnológica para controle ambiental em pequenos e médioslaticínio de Minas Gerais: medidas de gestão e controle ambiental. Belo Horizonte. 2000.(RelatórioProjeto Ensino e Desenvolvimento Tecnológico para Controle Ambiental na indústria -Subprojeto 3: Setor de Laticínios).

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 23

7. NSF INTERNATIONAL. Environmental management systems: An implementation guide for small andmedium-sized organizations. An Arbor, Michigan. 1996.(http://www.epa.gov).

8. TORQUETTI, Z.S.C. Planejamento ambiental-gerencial integrado em pequenas e médias empresas.Contribuição para implementação de sistema de gestão ambiental: estudo de caso para o setortêxtil/malharia. Belo Horizonte. 1998. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.Dissertação, Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

9. WERKEMA, M.C.C. As ferramentas da qualidade no gerenciamento de processos. Belo Horizonte.1995. Fundação Christiano Ottoni, 1995. (Série Ferramentas da Qualidade, Vol. 1).