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paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 5• nº 2 • 2015 224 Cultura norte-americana e consumismo em sala de aula: a cultura dominante sobre a cultura dominada Paulo Henrique Padilha Pureza Vanessa Zaniol INTRODUÇÃO As aulas foram planejadas para serem desenvolvidas na disciplina de Língua Inglesa e inserem-se em um projeto pedagógico a ser trabalhado com o 9º ano do ensino fundamental, abordando o tema “consumismo”. A iniciativa de trazer discussões que envolvem “cultura” parte da afirmação de Silva (1999, pág. 85) de que “não se pode separar questões culturais de questões de poder.”, e das reflexões sobre os fenômenos de homogeneização cultural destoantes do suposto destaque à diversidade das formas culturais do mundo contemporâneo. Questões que envolvem cultura e poder também são enfatizadas por Santomé (1995), que afirma que quando se analisa os conteúdos trabalhados nas propostas curriculares, é notável a presença de culturas hegemônicas. A multiplicidade de culturas implicadas em nossas identidades e nas de nossos alunos, como levanta Corazza (1997), e as diversas formas de expressão popular devem tornar-se materiais curriculares, codificadas em temas de estudo, reproblematizações e questionamentos. É a partir da leitura e discussão desses trabalhos que pretendemos associar as temáticas “cultura” e “consumismo” para repensarmos esses conceitos em sala de aula e suscitarmos indagações acerca do ato de consumir produtos estrangeiros no Brasil. PLANO DE AULA 1 º momento: Introdução da aula Apresentação do projeto para a turma: qual será o tema (consumismo), o que será discutido (cultura, publicidade, ostentação) e que tipo de tarefas faremos para refletir sobre o assunto (tarefas de tradução, debates, produção de cartazes) Apresentação do conceito de consumismo.

22 - Cultura norte-americana e consumismo em sala de aula

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Cultura norte-americana e consumismo em sala de aula: a cultura dominante sobre a

cultura dominada

Paulo Henrique Padilha Pureza

Vanessa Zaniol

INTRODUÇÃO

As aulas foram planejadas para serem desenvolvidas na disciplina de Língua Inglesa

e inserem-se em um projeto pedagógico a ser trabalhado com o 9º ano do ensino

fundamental, abordando o tema “consumismo”. A iniciativa de trazer discussões que

envolvem “cultura” parte da afirmação de Silva (1999, pág. 85) de que “não se pode

separar questões culturais de questões de poder.”, e das reflexões sobre os fenômenos de

homogeneização cultural destoantes do suposto destaque à diversidade das formas

culturais do mundo contemporâneo. Questões que envolvem cultura e poder também são

enfatizadas por Santomé (1995), que afirma que quando se analisa os conteúdos

trabalhados nas propostas curriculares, é notável a presença de culturas hegemônicas. A

multiplicidade de culturas implicadas em nossas identidades e nas de nossos alunos, como

levanta Corazza (1997), e as diversas formas de expressão popular devem tornar-se

materiais curriculares, codificadas em temas de estudo, reproblematizações e

questionamentos. É a partir da leitura e discussão desses trabalhos que pretendemos

associar as temáticas “cultura” e “consumismo” para repensarmos esses conceitos em sala

de aula e suscitarmos indagações acerca do ato de consumir produtos estrangeiros no

Brasil.

PLANO DE AULA

1 º momento: Introdução da aula

• Apresentação do projeto para a turma: qual será o tema (consumismo), o que será

discutido (cultura, publicidade, ostentação) e que tipo de tarefas faremos para

refletir sobre o assunto (tarefas de tradução, debates, produção de cartazes)

• Apresentação do conceito de consumismo.

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CONSUMISMO: ato, efeito, fato ou prática de consumir (‘comprar em

demasia’).

2º momento: Tarefa introdutória

• Divisão da turma em pequenos grupos; cada grupo recebe um dicionário e as

seguintes palavras, distribuídas igualmente:

Advertisement – Culture – Shopping – Propaganda – Importation – Ideology – Publicity –

Campaign – Marketing – Brand – Sale

• Cada grupo deve procurar e apresentar a tradução da palavra recebida,

relacionando seu significado com o tema “consumismo”.

3º momento: Tarefa

• A turma, dividida em pequenos grupos, recebe um papel cartaz para que possa

desenhar/colar todos os logotipos que encontrarem em suas roupas e materiais

escolares. Se por um acaso o grupo não possuir nenhum logotipo ou marca estrangeira

em seus pertences, o professor deve levar revistas para que o grupo encontre marcas e

logotipos estrangeiros para desenhar/colar no cartaz. Os alunos, já com os dicionários

usados na atividade inicial, devem traduzir as palavras e frases encontradas pelo grupo.

• Cada grupo responderá as seguintes questões:

- Por que você acha que encontramos tantas marcas estrangeiras em nossos pertences?

- Você acha que as marcas estrangeiras são melhores que as brasileiras?

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- Quem consome mais marcas estrangeiras (crianças, jovens, adultos)? Por que você

acha isso?

4º momento: Apresentação dos cartazes

• Depois que cada grupo terminar seu cartaz e responder as perguntas no caderno,

eles apresentam para a turma o que encontraram.

AULA 2

1º momento: Introdução da aula

Apresentação de uma tirinha.

• Os alunos deverão olhar para a tirinha e escrever uma frase que responda aos

seguintes questionamentos:

Qual é a mensagem que a tirinha a seguir quer transmitir ao leitor?

Você concorda que descrever a cultura nacional seja difícil em meio a tantos anúncios em

inglês? Por quê?

(disponível em: http://www.colegioicj.com.br/conectadonosaber/galeria/imagens/155-tirinha-lingua-

inglesa-na-lingua-portuguesa)

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2º momento:

• Os alunos leem suas respostas, como forma de introdução ao debate do dia.

3º momento: Debate sobre consumismo e funk ostentação

Serão ouvidas três músicas: a primeira música será “Good Life” de Kanye West, que

representa o pensamento do consumista norte-americano, inserido naquela cultura, sobre

“vida boa”; a segunda música se chama “Plaquê de 100”, do MC Guimê, retrato fiel do que

atualmente é classificado como “funk ostentação”; a terceira música se chama “Resposta

ao funk ostentação”, do cantor de MPB Edu Krieger, que faz uma crítica ao funk

ostentação, em contraponto ao que vem sendo discutido em aula, até então.

A ideia é que os alunos possam refletir sobre quem escreveu a música e qual é a

mensagem que a música quer passar, além de tentar estabelecer uma relação com o

pensamento consumista brasileiro.

• Questões norteadoras do debate:

- O que você sabe sobre o compositor da música?

- Qual é a mensagem que a música quer passar? O que evidencia isso?

- O que o tema abordado pela música tem a ver com consumismo?

- Você acha que cada música representa de forma fiel a cultura de onde foi produzida?

- Qual das músicas você acha que mais representa a sua visão de mundo sobre o

consumismo?

• Após as três músicas serem ouvidas, os alunos devem responder estas questões

oralmente.

- O que a referência a todas essas marcas evidencia?

- Que relações podem ser feitas entre as músicas e toda a discussão anterior?

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4º momento: Atividade de conclusão

Reformulação do significado da palavra “consumismo”

Depois das reflexões feitas durante as duas aulas, os alunos terão tido a

oportunidade de discutir sobre o tema do projeto. As tarefas e discussões realizadas

durante as duas aulas tiveram como pressuposto o conceito da palavra “consumismo”.

Neste momento, o aluno é convidado a estabelecer sua definição pessoal do que vem a

ser “consumismo”, utilizando-se de sua autonomia para reinventar o sentido do vocábulo

com suas próprias palavras e com seu conhecimento sobre o tema.

• Cada aluno receberá uma tira de papel para que possa escrever seu significado e

entregar para o professor.

NOME: _________________________ TURMA: _____

CONSUMISMO:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

5º momento: Colagem dos cartazes

• Os cartazes produzidos pelos alunos em aula são colados pela escola para que haja

uma ‘circulação social do que foi produzido em sala de aula.

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Referências Bibliográficas:

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do

currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomás

Tadeu (org.). Alienígenas na sala de aula. Uma introdução aos Estudos Culturais em

Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. p. 159-177.

CORAZZA, S.M. Planejamento de Ensino como estratégia de política cultural. In: MOREIRA,

A.F. (org.) Currículo: questões atuais. 5ed. Campinas: Papirus, 1997. p:103-143.

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Paulo Henrique Padilha Pureza

Graduando em Letras - Licenciatura (Português/Inglês) na

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, atua

junto ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

Docência (PIBID – Língua Portuguesa).

Vanessa Zaniol

Aluna do quarto ano de graduação em Letras

(Português/Inglês) da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. Professora de inglês na escola Learning Fun.