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22@BCN E BEIRUTE: As transformações na paisagem urbana.
DINIZ, CLÁUDIA.
FEA/FUMEC – Faculdade de Arquitetura da FUMEC. Rua Cobre 200 – Bairro Cruzeiro – CEP. 30.310-190 – Belo Horizonte /MG
www.fumec.br
RESUMO
No século XXI estamos frente à obrigação de pensar a cidade de uma forma global, visão que implica tanto uma inserção no território como uma identificação das funções chaves de sua dinâmica interna. As políticas atuais devem preocupar-se com a autenticidade do patrimônio preservado, reconhecendo a importância de seus valores e referências locais. Com a evolução do conceito de patrimônio, o significado de paisagem cultural passou a incorporar a definição de patrimônio cultural, quando associou o patrimônio com as “obras conjugadas do homem de da natureza”. Em urbanismo, a paisagem passa por este processo de construção que envolve o homem e o meio ambiente. Neste trabalho utilizaremos a definição de paisagem cultural urbana como àquela que está evidenciado na cidade, que conforma um espaço apropriado para o homem, quem o constrói, quem o utiliza e quem o transforma cotidianamente: o chamado townscape ou cityscape (Alanen & Melnick, 2000).Nos últimos anos as cidades vêm passando por realidades questionáveis, hibridas e contraditórias, que podem ser colocadas como: a valorização do patrimônio cultural e seu retorno econômico por meio do consumo turístico; as alterações da paisagem provocadas pelo processo de desenvolvimento; a importância do patrimônio na vida coletiva, assim como o resgate da memória e da identidade; a conservação integrada acompanhada pelo processo de justiça social e da proteção da cultura tradicional popular. Dessa maneira este artigo pretende expor dois estudos de casos onde a paisagem cultural sofreu mudanças importantes em processos de intervenções urbanas: o caso 22@BCN, em Barcelona, e a reconstrução de Beirute, no Líbano. O estudo de caso de Poblenou em Barcelona, 22@BCN é um exemplo de mudança significativa da paisagem industrial do bairro original aos atuais edifícios emblemáticos que ali foram incorporados. O exemplo também ilustra os conflitos entre a sociedade civil e o governo local pelo tombamento e proteção do seu patrimônio industrial. Hoje Poblenou convive com o que lhe restou do seu patrimônio industrial graças às reivindicações sociais que culminaram com a aprovação de um plano de proteção. No exemplo de Beirute o patrimônio cultural foi praticamente desconsiderado, onde predominou a política de tabula rasa. Um exemplo de privatização do urbano com o objetivo de transformar Beirute no maior centro financeiro, comercial e turístico do Oriente Medio. Neste caso podemos questionar quem destruiu mais a paisagem cultural local, a guerra civil libanesa de 15 anos ou a própria reconstrução do centro urbano de Beirute?
Palavra-chave: patrimônio cultural, paisagem cultural, intervenções urbanas.
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
Patrimônio histórico urbano
O conceito de patrimônio foi ampliado e hoje o termo adquiriu diversas acepções, tais como
patrimônio natural, que inclui a paisagem e os recursos naturais de determinado lugar, e
patrimônio mundial da humanidade cuja preservação é de interesse global, rompendo as
fronteiras da nacionalidade. Essa dilatação dos limites do patrimônio emerge ao considerar
que a cultura se plasma também nas criações do homem sobre o território, nas suas formas
de assentamentos que foram configuradas historicamente, e na utilização do espaço físico
como lugar de convivência e intercambio cultural. Dessa forma a cidade, o território, onde
são evidentes os vestígios do homem, são expressões de patrimônio cultural.
A Carta de Veneza de 1964 teve um papel fundamental na ampliação do conceito de
patrimônio cultural, a partir do momento que abarcou as obras modestas e os conjuntos
urbanos adquiriram significado histórico e cultual ao longo do tempo.
Em 1972 a Carta de Paris incluiu em sua definição de patrimônio histórico os sítios naturais
ou manipulados pelo homem que tenham adquirido representatividade cultural, constituem
os conjuntos de construções que interagem com a paisagem e lhe confere valor excepcional
desde o ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.
A partir de então o conceito de patrimônio passou a incorporar outro significado, o de
paisagem cultural, seja natural ou transformada, tanto como lugar de contemplação como
lugar de experiências coletivas. O conceito de paisagem cultural começou a ser incorporado
na Carta de Paris (1972) no momento que associou a definição de patrimônio cultural às
“obras conjugadas do homem e da natureza” (art.1). Em 1992 o Comitê do Patrimônio
Mundial da UNESCO incorporou a categoria de paisagens culturais na lista de Patrimônio
Mundial.
No urbanismo a paisagem também passa por este processo de construção que envolve o
homem e o meio ambiente. Para efeito deste artigo se tomará a definição de paisagem
cultural urbana como aquela que está evidenciada na cidade, que conforma um espaço
apropriado pelo homem, que é quem o constrói, o utiliza e o transforma cotidianamente: o
chamado townscape ou cityscape (Alanen & Melnick, 2000). A partir dessa evolução de
conceito de patrimônio a palavra “cultural” vai difundindo-se cada vez mais, perde o seu
caráter pessoal e torna-se indústria, a cultura como negócio. Neste contexto o patrimônio
histórico urbano adquire duplo significado: propicia o saber e o prazer, mas também são
produtos culturais a serem consumidos (Choay, 2006). Este consumo vem tendo como
consequência uma inegável difusão do conhecimento do patrimônio, que muitas vezes está
unido a uma atitude de valorização e preocupação em relação ao mesmo. Mas, por outro
lado, a indústria da cultura transforma o valor de uso em valor econômico; um
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
empreendimento público e privado tem como objetivo a exploração do patrimônio com o
objetivo de atrair cada vez mais visitantes.
Essas operações de conservação e transformação do patrimônio histórico e sua
transformação em produto econômico, muitas vezes através de reconstituições “fantasiosas,
demolições arbitrarias, restaurações desqualificadas” trazem consequências trágicas na
transformação da paisagem cultural de centros urbanos (Choay, 2006, p. 214).
Além disso, cabe destacar os reflexos sociais causados pelo consumo cultural, onde muitas
vezes a população local é excluída e com ela as atividades do cotidiano.
O patrimônio cultural é um recurso valioso nos programas de intervenção de centros
urbanos como instrumentos de valorização da cidade, seja como turismo ou como
competitividade da cidade na economia global. As cidades passam a serem mercadorias de
luxo dirigidas a um púbico específico (Vainer, 2000).
Portanto cabe fazer uma reflexão de casos de estudos onde as intervenções urbanas
provocaram transformações na paisagem cultural local. As experiências de intervenções
urbanas analizadas a seguir caracterizam o processo de desenvolvimento de políticas
urbanas no cenário mundial; denotam distintos modelos de gestão urbana, que podem
basear-se em premissas do pensamento moderno de tabula rasa, do urban renewal, ou em
programas urbanísticos mais incluentes, que buscam integrar as múltiplas realidades da
cidade contemporânea, sempre tendo como pano de fundo o patrimônio cultural.
A reconstrução do centro histórico de Beirute.
O caso de reconstrução do centro histórico de Beirute é um típico exemplo onde o
patrimônio histórico foi desconsiderado propriamente: uma intervenção dentro da linha da
tabula rasa. É um exemplo de privatização do urbano, onde o city marketing joga um papel
fundamental em todo o processo, concebendo o patrimônio como uma ficção do passado
que teve como objetivo transformar Beirute no maior centro financeiro, comercial e turístico
do Oriente Medio. Trata-se de um bom exemplo que ilustra conceitos de valor, identidade e
exclusão social.
A paisagem da área central de Beirute foi marcada pelas distintas camadas que revelam a
história da cidade e que contribuem à diversidade cultural libanesa. A zona também foi
marcada pelas civilizações Cananeia e Otomana, além dos elementos construidos na época
da colonização francesa (Ragab, 2011). Até 1975, o centro de Beirute tinha uma morfologia
complexa, uma combinação de zouks árabes com antigas edificações otomanas,
construções do mandato francés e de estilos internacionales (Davie, 2008).
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O resultado de tantas civilizaciones não poderia deixar de provocar um conflito cultural no
Líbano. O conflito cultural no país é percebido hoje através da estrutura destas comunidades
extremistas, cada umas com seus múltiplos estratos sociais e diferentes conjuntos de
valores. O centro das diferenças culturais resume-se em duas ideologías principais, que têm
sido historicamente rivais: a cultura ocidental, de religião cristã, e a oriental islâmica.
Esta estrutura social gerou a guerra civil libanesa (1975-1990), que se manteve intacta
depois da guerra, apesar do Acordo de Taif assinado em 1989, com o objetivo de
restabelecer o sistema político no Líbano. Foram quinze anos de guerra civil onde o centro
da cidade se transformou em uma terra sem lei, de constantes batalhas, edificios eram
lugares estratégicos para atacar o inimigo, eram utilizados como arma: “destruir um edificio
culturalmente importante para seu inimigo é derrota-lo de alguma forma” (Antunes, 2013).
O processo de intervenção
A guerra civil deixou no Líbano muitas marcas, destruição massiva e uma população
fragmentada, com um grande número de vítimas civis. Neste contexto deu-se a
reconstrução do país, representando um típico exemplo de privatização do espaço urbano.
Desde o fim do movimento, em 1990, o multimillonário Rafiq al-Hariri esteve a frente da
reconstrução do centro histórico de Beirute. Devido à ineficiência das autoridades públicas,
as quais foram marginalizadas pela guerra civil, Hariri tinha a capacidad de influenciar nas
decisões políticas e de atuar na transferência de poder em favor de suas idéias de
planejamento. Suas propostas eran benvindas no momento, com um centro urbano
devastado e de grandes dificultades de reconstrução, no meio a tantos problemas que
teriam que ser resolvidos: dificultade de relação entre propietários e inquilinos, estado
fragmentado, edificios abandonados pelos habitantes no centro, posteriormente ocupados
por familias de refugiados. Assim, Hariri, um bem sucedido homem de negócios, se oferece
para reconstruir o centro da cidade sem ajuda financeira alguma do Estado.
Em dezembro de 1992 Hariri fundou a imobiliária Solidere, com a qual acordaram as bases
legais para a reconstrução do downtown de Beirute. Alguns sócios da empresa eram
investidores internacionais que tinhan como objetivo transformar Beirute em um centro
financeiro de referência internacional, com base na nova economia urbana do mundo
globalizado. O projeto iria transformar o centro de Beirute em uma mescla de usos de
serviços, tando de lazer, como culturais e, evidentemente, financeiros.
Enquanto o centro da cidade era percebido como um espaço arcaico e degradado, por outro
lado possuía uma centralidade ancorada em sua longa história. Portanto, este espaço
estava na mira da população para reconstruir a sua identidade, destruida pela guerra.
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Sem embargo, a política da Solidere era de tabula rasa: a nova cidade deveria limpar-se,
metafórica e fisicamente, decretando o fim da velha orden urbana. Em 1994 começaram os
trabalhos de ‘reconstrução’ com a destruição de 80% das edificações remanescentes; uma
perda muito maior que a dos quinze anos de guerra. Os propietários foram desapropriados e
os inquilinos expulsos, sendo os terrenos foram transferindos para empresas privadas
(Schmid, 2006).
A destruição massiva e as extensas desapropriações provocaram um debate público muito
controvertido sobre os objetivos e conteúdos do plano de reconstrução. Os opositores
criticavam o monopólio da empresa privada responsável do projeto, assim como os
aspectos de planejamento urbano, os quais não correspondiam aos interesses do público: a
grande escala dos edifícios, a construção de autopistas e a segregacião morfológica do
centro urbano.
O fim da polémica e as limitaciones de libertade de expressão fizeram que grande parte da
população ficasse excluída do debate. Por outro lado, como o tema do patrimônio histórico
do centro provocou vários protestos, Solidere utilizou a linguagem da memória para
conquistar os libaneses e investidores internacionales. Expressões como “Beirute renascido”
e “o passado informa o futuro” foram usadas pela mídia.
Foi assim que passou-se a colocar uma atenção especial na restauração de edifícios
históricos. Para comercializar estes temas, o plano propunha resgatar a identidade nacional
libanesa com a preservação histórica.
Entretanto, muito das antigas construções do centro de Beirute já tinham sido devastadas
para dar um uso mais lucrativo ao terreno. O projeto de preservação de Solidere referia-se a
um passado que merecia a proteção como uma lembrança, mas já não refletia a identidade
da população local. Estava claro que o principal objetivo da Solidere era lograr uma
simulacião histórica específica e exclusivamente em termos de apariências visuais. Assim, o
argumento de reinterpretação histórica limitou-se a um pastiche emblemático que se
integrou ao projeto no âmbito do marketing e mediante uma estética superficial.
Resultado
O resultado é parecido com um mosaico de diferentes tipologías arquitetônicas, parte da
área foi preservada, como por exemplo, algunos edificios no entorno da Place d’ Étoile, da
época do dominio francés; outras foram derrubadas para a construção de novas edificações.
A Solidere investiu no que Borja (2010, p.122) chama de ‘arquitetura do objeto singular´,
foram contratados grandes nomes da arquitetura internacional para construir seus
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“playgrounds arquitetônicos” (Antunes, 2013, p. 77). Parte do antigo souk (mercado árabe)
foi reconstruido por Rafael Moneo, as estreitas ruas cheias de cores, sons e cheiros foram
transformadas em um centro comercial de lojas luxuosas, cafés e restaurantes (Muir, 2004).
Existem transformações similares por toda a área central da cidade, um Word Trade Centre,
edificios de escritórios internacionales, novos hotéis, são ícones produzidos regularmente.
Vários edifícios assinados por arquitetos como Jean Nouvel, Herzog & Meuron, e Norman
Foster entre otros estão em construção e transformando o centro de Beirute (Antunes,
2013).
No processo de reconstrução de Beirute, o patrimônio histórico joga um importante papel no
que se refere à identidade da população. Percebe-se que o patrimônio cultural foi
completamente desconsiderado no inicio, e posteriormente utilizado como um pastiche
emblemático para lograr uma simulação histórica epidérmica, utilizado como jogo de
marketing em uma intenção de reconciliar o desejo da população com o plano proposto de
transformar a área em um centro finaceiro. Mas o valor que se atribuiu ao patrimônio foi
exclusivamente o económico; o valor patrimonial histórico e cultural com o quais a
população se identificava foi devastado. Criou-se e inventou-se um patrimônio histórico
acessível ao visitante, que não tem nenhuma relação com a vida de pré-guerra de Beirute.
Também é exemplo de exclusão social transformando o centro urbano em um gueto de ricos
e poderosos.
A paisagem cultural de Beirute foi totalmente desfigurada, o novo plano de reconstrução do
seu centro destruiu mais que os quinze anos de guerra civil.
Imagem do souk na área central de Beirut antes da guerra civil.
Fonte: Antunes (2012). Divulgação Solidere
Imagen atual do souk
Fonte: http://www.panoramio.com. Autoria: Malek Narch
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O caso de 22@BCN em Poblenou, Barcelona.
No final dos anos oitenta Barcelona iniciou um processo de renovação urbana profunda com
o objetivo de internacionalizar a cidade. A criação da Cidade Olímpica, principalmente com a
reforma da frente marítima e do porto, marcou o início de uma política urbana orientada a
modernizar a cidade e promovê-la como um destino turístico e de serviços. As operações
foram acompanhadas de uma política de marketing urbano significante.
Os processos de planejamento urbano nas últimas décadas foram fomentados por
diferentes formas de planejamento do território, tais como os planos estratégicos ou
atuações mediante projetos urbanos. Gallach e Martí-Costa (2010, p.112) apontam a
influência do contexto da globalização nestes processos que levaram as cidades a um
“espiral de competição ascendente”.
O plano de renovação das áreas industriais de Poblenou, o chamado plano 22@BCN
adequa-se ao estudo aqui proposto principalmente pelo seu grau de modificação na
paisagem industrial do bairro, com a sobreposição de edificios emblemáticos.
Poblenou tem sua origem histórica na expansão de Barcelona no século XVIII e primeira
metade do XIX. A partir da segunda metade do século XIX, com a Revolução Industrial,
Poblenou adquire o caráter industrial que o converteu no chamado ‘Manchester catalão’,
baseado no setor têxtil e na posterior diversificação de atividades como a indústria pesada,
química, alimentícia, etc.
Os trabalhadores dessas fábricas foram os que começaram a habitar esta zona; portanto,
passou a ser um bairro de funções mistas: industrial e residencial (fundamentalmente
ocupado por operários), reforzado pela primera linha ferroviária da Espanha, localizada ali
pela disponibilidade de solo e pela proximidade ao centro e ao porto.
Era um bairro protagonizado pela conflituosidade social e laboral, onde os movimentos
políticos e sindicais da esquerda prosperaram principalmente no inicio do século XX. A vida
social também aflorou: corais, clubes esportivos, associações.
Nos primeiros anos dos anos sessenta iniciou-se a decadência e desintegração do núcleo
industrial da cidade, por dois motivos. Em primer lugar, pelo deslocamento de grande
número de empresas devido à obsolescência de suas instalações e à imposibilidade de
competir com outras empresas do setor; as empresas transferiam-se para a periferia de
Barcelona onde criavam novas indústrias dotadas com tecnologias próprias do momento.
Em segundo lugar, devido ao efeito negativo de diferentes planos urbanísticos cujo objetivo
era a remodelação dos setores litorâneos, a exemplo do Plano da Ribera, formulado em
1966, que desestimulou a renovação dos edifícios pelo temor de desapropriação.
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Contudo, até o ano 2000, época da aprovação do Plano 22@BCN, Poblenou tinha mantido
maioritariamente seu tecido industrial, apesar de que parte tinha sido derrubada para a
construção da Vila Olímpica. Tratava-se de um amplo repertório de estruturas construtivas
de grande interesse que conformavam uma gama de tipologias industriais, com variantes
estilísticas notáveis, desde neoclássicas, como o conjunto fabril de Can Ricart, as ecléticas,
modernistas, novecentistas e racionalistas, além dos exemplos do movimento moderno.
Neste contexto, a proteção de todo este patrimônio vivo, sua conservação e reutilização, de
acordo com seu valor patrimonial, supunha um verdadero desafio para a política municipal.
Mas a única ação protetora da Prefeitura apoiava-se somente em um Catálogo de
Patrimônio, o qual incorporava um número restritivo de edificios, aproximadamente umas
trinta, entre as quais a maioria era chaminés.
O Plano 22@BCN
No final de 1990 iniciou-se um processo de reflexão sobre o futuro do solo industrial de
Poblenou que contou com a contribuição de diversos setores da sociedade. Por um lado,
estudos sobre novas estratégias econômicas e territoriais para a cidade de Barcelona
propunham um distrito terciário na zona. Por outro lado, começava-se a introduzir
argumentos a favor de criar um distrito de novas atividades econômicas. Em contraposição,
os setores vinculados aos promotores imobiliários e propietarios de solo defendiam uma
transformação em direção aos usos residenciais, o qual gerou uma grande especulaão
imobiliaria.
O estudo “Ciutat Digital”, de autoria do Instituto Catalão de Tecnologia de1998, foi decisivo
para consolidar um consenso geral na hora de definir Poblenou como um novo distrito
produtivo de atividades relacionadas com as tecnologias.
A meta do Plano 22@BCN era colocar Barcelona e seu sistema metropolitano em nível de
competitividade internacional em relação às capitais provedoras de serviços que exigem
espaços e zonas adequadas para o desenvolvimento de setores terciários, e nas quais as
tecnologias de gestão da informação e de comunicação teriam um papel principal. A
Prefeitura de Barcelona propôs então uma regeneração e reciclagem do solo e das
edificações que, por seu valor histórico, estado de conservação ou adaptabilidade à nova
qualificação urbanística e destino, podiam ser reutilizados, em principio.
O processo refletiu num esforço de pensar o plano como um conjunto integrado baseado em
três normativas específicas: a Modificação do Plano Geral Metropolitano (MPGM), o Plano
Especial de Infraestruturas (PEI) e a Modificação do Plano Especial do Patrimônio
Arquitetônico Histórico- Artístico da cidade de Barcelona.
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A MPGM, aprovada no ano 2000, estabeleceu diretrizes concretas e um marco de referência
claro, com um amplo leque de mecanismos de transformações adaptadas às circunstâncias
de cada setor. A Prefeitura planificaria e gestionaria seis planos especiais que atuariam
como motores na transformação do bairro. Os demais seriam desenvolvidos por promoções
privadas, delimitando quarteirões como unidades de atuação. O Plano 22@ respondia
assim, a um triplo objetivo: a revitalização urbana, econômica e social.
Os principais elementos estruturadores do plano foram:
Patrimônio histórico. O Plano considerou a importância do patrimônio histórico como
signo de identidade de uma coletividade e propôs sua incorporação no modelo urbano.
Fomentava a variedade de traçados espaciais que, juntamente com os elementos
arquitetônicos representativos do passado industrial, criavam um entorno de grande
valor cultural que combinava tradição e inovação (Ajuntament de Barcelona, 2012).
- Preveram-se dois tipos de atuações sobre os patrimônios históricos: as vinculadas aos
elementos territoriais, como antigas passagens ou traçados parcelários; e a arquitetura
industrial, sejam complexos fabris, edificações de valor industrial ou estruturas
singulares. O Plano garantia a incorporação destes elementos na ordenação mediante a
formulação de Planos de Melhora Urbana. Previu-se a reabilitação destes edifícios para
implantação de novas atividades chamadas “@”, equipamentos @, e sua reutilização
para moradias tipologicamente não convencional (Ajuntament de Barcelona, 2000).
A criação de uma nova zona urbanística 22@, cuja denominação vem da antiga zona
industrial 22a, com um regime de usos coerentes com o novo modelo urbano que se
propôs no bairro:
- Atividades @: atividades econômicas emergentes relacionadas com as tecnologias
da informação e comunicação, além das de investigação, design, cultura e
conhecimento.
- Restrição das atividades industriais, excluindo as indústrias contaminantes, incômodas
ou perigosas, aquelas incompatíveis com a habitação.
- Serviços e comércios eram em geral admitidos, apesar de certas limitações e
condicionantes ao planejamento derivado.
- Residência. Admitiam-se a residência, embora limitada quantitativamente a
determinadas circunstâncias:
o Edifícios existentes, sem limitações, exceto em caso de incremento de volume,
permitindo em frentes consolidadas sobre determinadas condições.
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o Habitação sujeitas à proteção pública, obrigatórias nas operações de
transformação, em uma proporção de um 10% da superfície total construída.
Criação de um novo sistema de equipamentos 7@ que deviam integrar-se ao novo
sistema produtivo com o objetivo de potencializar a relação entre o setor público e o setor
privado. Trata-se dos equipamientos vinculados à pesquisa, formação e difusão do
conhecimento: universidades, centros de inovação científica e tecnológica, entre outros. Os
equipamentos tradicionais destinados à população residente deviam conviver com a nova
geração de equipamentos vinculados com o setor produtivo. O total do solo destinado a
equipamentos equivale a 10% do ámbito de atuação.
Melhora da infraestrutura urbana, a fim de adequá-la à correta implantação das novas
empresas e atividades. Para tanto, articula-se um Plano Especial de Infraestruturas (PEI)
que atuaria tanto nos espaços públicos como nos espaços privados comunitários,
determinando aspectos do solo e do subsolo. O conteúdo do plano inclui aspectos
relacionados com a mobilidade, acessibilidade, mobiliário público, serviços de distribuição
de energia, gás, água, etc., introduzindo parâmetros de sustentabilidade. O modelo urbano
aposta pelo transporte público como meio dominante de acessibilidade.
a) A gestão da transformação
No ano 2000, com o objetivo de impulsionar e gestionar a transformação prevista no Plano
22@, a Prefeitura de Barcelona criou a sociedade 22@Barcelona, de capital integralmente
municipal. A sociedade tinha personalidade jurídica própria e competência para executar o
projeto segundo os objetivos urbanísticos e de promoção, nacional e internacional, do
distrito. 22@Barcelona era encarregada da redação dos distintos instrumentos de
planejamento e da gestão urbanística municipal e do seguimento dos projetos de iniciativa
privada, além da redação e ejecução das obras de infraestrutura.
Com relação à gestão das obras de urbanização previstas no Plano Especial de
Infraestruturas (PEI), o Plano 22@BCN preveu que seus custos estivessem a cargo dos
propietários, exceto os custos que deveriam ser assumidos pelas empresas de distribuição
de serviços.
Os sistemas de gestão relacionados com as operações de transformação urbanística do
Plano 22@BCN devem ser feitos mediante um planejamento derivado, os PERI (Planos
Especias de Reforma de Interior), ajustados a cada unidade de atuação.
Em 22@BCN o agente público tinha o papel de impulsionar, estimular, adimitindo que a
implantação do plano dependeria fortemente da conjuntura do mercado. Desta manera, uma
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pequena quantidade de dinheiro público deveria mobilizar uma quantidade muito maior de
dinhero privado.
A Prefeitura propôs atuar sobre seis áreas estratégicas criando as primeras infraestruturas
urbanas e incentivando o desenvolvimento de posteriores atuaciones por parte da iniciativa
privada. Seu desenvolvimento definiu-se mediante planos especiaies por cada âmbito das
operaciones com os siguientes objetivos: garantir uma coesão morfológica; realizar uma
localização estratégica de usos diversos; dar suficiente continuidade aos tecidos
residenciais, garantindo a presença de pequenos terciários; e explorar a riqueza espacial e
tipológica de cada setor.
Estes âmbitos predeterminados representan 48% do total de solo a ser transformado; o
resto dos setores pode ser desenvolvido indistintamente pela iniciativa pública ou privada.
b) A modificação do Plano Especial do Patrimônio Arquitetônico Histórico-
Artístico da cidade de Barcelona
Desde a declaração de Barcelona como sede dos Jogos Olímpicos de 1992 intensificaram-
se os estudios sobre o patrimônio industrial em Barcelona. Diversos bairros da cidade, em
especial Poblenou, perderam peças significativas e emblemáticas do patrimônio industrial.
Graças à sensibilidade cidadana, a luta das associações de vezinhos, além de diversos
trabalhos e estudos realizados por instituições, acadêmicos e profissionais, consiguiu-se
frear algumas das aciones mais destrutivas de dito patrimônio (Tatjer, 2008). Como o caso
da antiga fábrica Can Ricart, um exemplo de ação cívica que culminou com a Modificação
do Plano Especial do Patrimônio Arquitetônico Histórico-Artístico da cidade de Barcelona.
Varios trabalhos, estudos, jornadas, conferências e, muito especialmente, a mobilização
cidadana por Can Ricart serviram para aprofundar no conhecimento sobre o patrimônio
industrial de Poblenou e deu bases para a revisão do catálogo de tombamento. Em
novembro de 2006 aprovou-se definitivamente a Modificação do Catálogo do Patrimônio
Arquitetônico Histórico-Artístico da Cidade de Barcelona, distrito de San Martí que prevê a
conservação de um total de 114 elementos (46 já anteriormente protegidos e os 68 novos
elementos incluidos).
A questão de Can Ricart foi emblemática por ter conseguido por fim à destruição sistemática
da memória de Poblebou, e provar que o urbanismo social é capaz de recuperar seu
patrimônio e afrontar os interesses imobiliários.
Neste caso, ficou evidente a necesidade de mobilização da sociedad civil em defensa do
patrimônio, em geral, e do industrial, em particular. Sem embargo, para que fosse efetiva
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essa mobilização, foi fundamental a realização de um rigoroso trabalho que incitasse
diálogos e participação coletiva com profissionais em diferentes âmbitos de conhecimentos.
Em suma, foi relevante o processo de socialização e difusão de conhecimentos que se
produziram em torno às questões históricas e arquitetônicas entre os vezinhos de Poblenou
e, até mesmo na cidade como um todo.
Os resultados
Até junho de 2012 renovou-se 70% das áreas industriales de Poblenou, um total de 141
planos de melhora urbana. Dos 141 planos aprovados 85 foram promovidos pelo setor
privado, em uma clara resposta por parte do setor imobiliário à estratégia transformadora.
Nos primeros dez anos do Plano, o novo sistema econômico consolidou-se com a presença
de 7.000 empresas, um total de 90.000 trabalhadores, das quais 64% instalaram-se depois
da MPGM.
También é importante destacar a construção de vários centros tecnológicos e incubadoras
de empresas, assim como, a presença de universidades e outras instituições e escola de
posgraduação.
Em dezembro de 2011 executaram-se um poco mais que 40% do PEI, construiram-se
distintas redes e serviços urbanos, além de obras de urbanização de ruas (101 tramos de
rua executados), galerías públicas e privadas (um total de 3.031 metros lineares, dos quais
69% foram privados), redes de climatização, de electricidade e telecomunicações, além de
coleta pneumática (Ajuntament de Barcelona, 2011).
Em junho de 2012, um grande número de edificios industriales tombados encontrava-se
reabilitados, observando-se diferentes estratégias de atuação e distintos usos:
equipamentos @ (fundações, escolas, universidades), atividades @ (diversas empresas),
moradias não convencionais (lofts, misto de equipamentos, atividades e moradia).
Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento do Plano, em 2009 técnicos da empresa
22@Barcelona, a partir de análises das universidades, de contribuições das associações de
vizinhos e dos comerciantes, assim como da Comissão de arquitetura da Prefeitura de
Barcelona, elaboraram um documento Estudi i conclusions do desenvolupament do Plano
22@ (Corduente, 2011). Os principais pontos analizados foram:
- preservação dos setores tradicionais. O caráter de Poblenou é sua rica diversidade de
tecido, consequência da progressiva ocupação de solo a partir do núcleo inicial do bairro. O
resultado é uma paisagem urbana com uma qualidade própria baseada na heterogeneidade,
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fragmentação, diversidade e ausência de regularidade, com valores que se asemelham mais
a um centro histórico que a uma área industrial convencional.
- Como ponto positivo pode-se destacar a aprovação, em 2010, do Plano de Ordenação e
Proteção do Centro Histórico do Poblenou, uma normativa específica destinada à
conservação de seus valores urbanos.
- Considera-se que a maioría das edificações históricas não apresenta o grau de
consolidação, ficando em uma situação de “paralisia urbanísticas” (Corduente, 2011, p. 213)
com relação às obras e usos permitidos; apesar de reconhecerem os usos não se permitem
incrementos de área. São âmbitos difíceis de desenvolver-se, pois, ainda que a normativa
preveja a transformação dessas áreas mediantes planos derivados, trata-se de um tecido
com um parcelamento fragmentado (estrutura de propriedade muito dividida) e com muitas
residências existentes.
- Densidade e continuidade na distribuição de residência. Todavia existem àreas com uma
importante descontinuidade do setor residencial, principalmente nas zonas com menos
presença de residências preexistentes.
- Áreas pendentes de transformação. Em 2010 as áreas pendentes de transformação
representavam 34% da superficie inicial. A metade das áreas pendentes de transformação
são, em grande parte, ilhas inteiras que se propõem estabelecer como novos âmbitos de
iniciativa pública, com o objetivo de vertebrar e estruturar o território, tal como nos seis
planos iniciais. O resto da área, a outra metade, propõe-se introduzir modificações na
normativa atual devido à dificultade de transformar-se, causa atribuída a diferentes
características morfológicas, de tamanho e usos.
- Arquitetura. Apesar de Poblenou caracterizar-se por sua riqueza tipológica, na última
década essa diversidade tipológica se acentuou devido às novas atividades econômicas,
além da nova arquitetura dos edifícios habitacionais e de equipamientos. Em definitiva, a
transformação urbanística e a flexibilidade da normativa influenciaram muito na paisagem
urbana do bairro. A altura dos edificios é um tema muito controvertido e debatido agora.
Outro aspecto a ser considerado nos novos projetos arquitetônicos é a relação do pavimento
térreo com o espaço público. Por fim, devido à heterogeneidade do tecido, a transformação
produziu diferentes relações de diálogo entre o novo e o velho. Propõe-se, nos terrenos
intersticiais, suturar o tecido existente com edificios com alturas e profundidades similares
do entorno. Por outro lado, nos locais onde existem poucos edifícios, é necessário fazer
referência às novas edificações do entorno, mesmo que estejam em construção ou ainda
em projeto, levando sempre em consideração a unidade de conjunto e a continuidade
urbana, fatores fundamentales para a cidade.
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- Espaço púbico. O sistema de zonas verdes está integrado pelos espacios livres de
diferentes escalas e vocações de uso, com uma boa conectividade que lhes permite
acessibilidade.
Em resumo, pode-se concluir que o bairro de Poblenou ganhou densidade com o aumento
de edificabilidade, melhorando a qualidade do espaço urbano com novas zonas verdes, de
infraestruturas e equipamientos.
Não obstante, a paisagem urbana sofreu transformações importantes devido à flexibilidade
nas normativas, provocando falta de unidade de conjunto e descontinuidade urbana
provocada pelas novas edificações com respeito ao patrimônio histórico existente.
O processo de iniciativa pública foi possibilitado pela atuação de profissionais, propietários e
promotores privados, somado aos dos movimentos sociales.
Conclusão
Como se pôde observar, as experiências de intervenções urbanas apresentadas propõem-
se reverter o processo de degradação física, social e econômica de centros de interesse
histórico, alguns com enfoques turísticos, outros econômicos e/o tecnológicos. Apesar das
diferenças, todos utilizan o patrimônio cultural como leitmotiv de atuação, seja através de
sua reabilitação e preservação da identidade local ou mediante à sua reinvenção –como o
falido caso de Beirute.
Em muitos casos, observa-se como o planejamento urbano das últimas décadas está
dirigido a intereses económicos e de promoção da cidade no âmbito internacional. A
diferença entre eles está no modelo de gestão, nos instrumentos que se utilizam para
intervir, além da capacidade dos cidadãos à hora de mobilizar-se em defesa de seu
patrimônio.
A obsolescência funcional 1960-1990
Fonte: http://www.22barcelona.com
O constraste do novo com o velho.
Fonte: Corduente (2011).
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Os casos de Beirute e Poblenou compartem de certa similitude enquanto a maior parte do
financiamento vir da iniciativa privada, mas com uma diferença grande no modelo de gestão.
O plano de Beirute foi gestionado por uma empresa privada com intereses puramente
econômico, é um ejemplo claro de uma gestião autoritaria sem participacião cidadã, onde o
patrimônio histórico foi utilizado e manipulado para criar pastiches, sem nenhuma
preocupação real com sua autenticidade e integridade histórica. É um exemplo onde o
patrimônio imaterial foi desconsiderado, representado pelos costumes dos habitantes, como
os souks de Beirute ou pela preservação da população local, é um processo de expulsão de
residentes e perda de identidade local, com uma transformação drástica da paisagem
cultural.
No caso 22@BCN destaca-se o papel dos movimientos sociais de reivindicação urbana e de
gestão pública e privada. No caso do Poblenou, o Plano 22@BCN propôs criar uma zona de
nova economia preservando o equilibrio dos usos, preservando a função residencial
existente e promovendo um aumento de habitação social, e ao mesmo tempo melhorando a
oferta de espaços públicos e culturales. Apesar de tudo, as ‘sombras’ versam sobre essa
intervenção, pois o financiamento é praticamente do setor privado, e é aí onde aparecem
conflitos, considerando que interesses entre promotores privados e movimientos sociais são
muitas vezes opostos. Ditos movimientos sociais foram fundamentais para evitar que o
processo de renovação urbano eliminasse totalmente o patrimônio físico e cultural do local,
apesar da questionável transformação da paisagem urbana da área.
O conflicto entre a transformação física e a reabilitacião do patrimônio arquitetônico,
segundo Jordi Borja (2010), é inevitável. Os intereses imobiliários optam pela demolicião e o
deslocamento de empresas e trabalhadores em lugar de sobrepor e somar (Montaner,
2008), enquanto que os movimientos sociais buscam reabilitar o existente, dando novos
usos e mantendo a identidade física e social da área. Hoje, o Poblenou convive com o que
restou do patrimônio industrial do bairro, graças a reivindicações sociales que culminaram
com a aprobação do Plano de Proteção do Patrimônio Industrial.
Pode-se concluir que as cidades, além de seu significado cultural, são sistemas dinâmicos
que cumprem funções econômicas, de serviços e de residência, que se devem levar em
conta ao tentar preservar seus valores culturales e artísticos, questão sumamente complexa
nos casos de conjuntos históricos (Gonzáles-Varas, 2000).
O centro deve ser visto como uma obra de arte não estática, onde o patrimônio histórico,
juntamente com seus habitantes e usuários, jogam um papel fundamental como principais
conformadores da rede urbana, que lhe dão soporte e identidade (Rocha & Collera, 2010).
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