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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE CINCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE QUMICA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    ESTUDO DAS ELETRODEPOSIES DE LTIO E GLIO SOBRE Au(111) E HOPG UTILIZANDO LQUIDO INICO COMO ELETRLITO

    Luiz Henrique da Silva Gasparotto

    Orientador: Prof. Dr. Nerilso Bocchi

    Bolsista FAPESP

    SO CARLOS SP 2009

    Tese apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Qumica como

    parte dos requisitos obteno do

    ttulo de DOUTOR EM CINCIAS (rea

    de concentrao: FSICO-QUMICA)

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria/UFSCar

    G249ee

    Gasparotto, Luiz Henrique da Silva. Estudo das eletrodeposies de ltio e glio sobre Au(111) e HOPG utilizando lquido inico como eletrlito / Luiz Henrique da Silva Gasparotto. -- So Carlos : UFSCar, 2009. 113 f. Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2009. 1. Fsico-qumica. 2. Eletroqumica. 3. Eletrodos. I. Ttulo. CDD: 541.3 (20a)

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    Departamento de Qumica PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QU~VICTCA

    Curso de Doutorado

    Assinaturas dos membros da banca examinadora que avaliaram e aprovaram a defesa de tese de doutorado do candidato Luiz Henrique da Silva Gasparotto, realiza& em 06 de maro de 2009:

    Prof. Dr. Romeu Cardozo Rocha Filho

    Prof. Dr. Artur de Jesus Motheo

  • Dedico esse trabalho aos meus pais, Vilma e Luiz, e aos meus irmos, Guilherme e Eduardo, que me apoiaram incondicionalmente durante todas as etapas da minhavida.

  • AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer, de forma geral, a todas as pessoas que

    contriburam direta e indiretamente na realizao desse trabalho. Entretanto, gostaria

    de destacar algumas pessoas:

    9 Meu orientador Prof. Dr. Nerilso Bocchi, pelas inmeras discusses cientficas e pela amizade durante o desenvolvimento do trabalho;

    9 Aos Profs. Dra. Sonia R. Biaggio e Dr. Romeu Cardozo Rocha-Filho pela amizade e apoio durante todos esses anos no LaPE;

    9 O Prof. Dr. Frank Endres, que proveu todas as condies para que a maior parte desse trabalho fosse desenvolvida em seu laboratrio;

    9 A Dra. Natalia Borisenko, pela amizade, treinamento no microscpio de tunelamento e inmeras discusses cientficas;

    9 Aos meus tios Ivone e ngaro, que sempre me apoiaram durante esses anos; 9 Aos amigos do LaPE, pelos bons momentos compartilhados: Adilson, Adriana,

    Carla, Elivelton, Edison, Fbio, Kallyni, Karina, Kikuti, Las, Lcio, Leonardo,

    Nilson, Rogrio e Sheila.

    9 Aos meus amigos de graduao, especialmente ao Gezimar, Francini, Francine e Cludia, pessoas que foram muito importantes durante esses anos como

    socarlense.

    9 Aos meus amigos de repblica: Klaus, Bruno, Rodolfo e Juracy (fase 1), Matheus (fase 2), Lo e Jnior (fase 3), Jnior e ngelo (fase 4).

    9 E por fim CAPES e FAPESP, pelos auxlios concedidos.

  • A f no move montanhas. Na

    verdade coloca montanhas

    onde no h nenhuma.

    Friedrich Wilhelm Nietzsche

  • Lista de Figuras VI

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1.1 Ctions orgnicos e nions orgnicos/inorgnicos comumente usados

    para preparao de LIs.

    ...................................................................................................................................02

    FIGURA 2.1 (A) Diagrama de fase slido-lquido e (B) distribuio das espcies aninicas com a variao da composio para a mistura de (EMIm)Cl com cloreto de

    alumnio (AlCl3).

    ..................................................................................................................................08

    FIGURA 2.2 Janelas eletroqumicas simplificadas para um eletrodo de carbono vtreo

    em cloreto de N-butilpiridinio (BPCl) e (EMIm)Cl com AlCl3.

    ..................................................................................................................................09

    FIGURA 2.3 Diagrama esquemtico mostrando o tunelamento de um eltron; EF1e EF2

    = nveis de Fermi da amostra e ponta, respectivamente; (x) = funo de onda do eltron; a = distncia entre a ponta e superfcie da amostra; Vbias = EF1 - EF2.

    ..................................................................................................................................19

    FIGURA 2.4 Vista esquemtica de um microscpio de tunelamento.

    ..................................................................................................................................21

    FIGURA 3.1 Tampa da clula eletroqumica com os eletrodos de trabalho embutido no

    suporte de PFTE, auxiliar e pseudo-referncia.

    ..................................................................................................................................28

    FIGURA 3.2 Esquema da tcnica do eletrlito pendente; apenas a face 111 entra em

    contato com o eletrlito.

    ..................................................................................................................................29

    FIGURA 3.3 Estrutura qumica do (BMP)Tf2N: ction esquerda, onde o grupo R o

    butil e o nion Tf2N direita.

    ..................................................................................................................................30

  • Lista de Figuras VII

    FIGURA 3.4 Esquerda: A) base de PTFE com conexes eltricas, B) chapa retangular

    de ao inoxidvel, C) Au(111), D) HOPG e E) clula eletroqumica. Direita: clula

    eletroqumica montada com A) eletrodo de referncia e B) contra eletrodo (ambos de

    Pt).

    ..................................................................................................................................31

    Figura 3.5 Esquema de produo das pontas do STM.

    ..................................................................................................................................33

    FIGURA 3.6 Cabea do STM: 1) suporte de ao inoxidvel, 2) motor de passo, 3)

    parafuso de preciso micromtrica, 4) engrenagem, 5) base de ao que suporta a clula

    eletroqumica, 6) clula eletroqumica, 7) basto guia, 8) mola e 9) cabea hemisfrica

    do parafuso de preciso micromtrica.

    ..................................................................................................................................35

    Figura 3.7 Esquema do sistema de varredura mostrando seu interior: (1) cilindro de

    ao inoxidvel, (2) tubo piezoeltrico, (3) soquete de cermica (MARCOR), (4) anel de

    ao inixidvel, (5) anel de MARCOR, (6) soquete de ao inoxidvel, (7) suporte para a

    ponta, (8) basto de PFTE, (9) e (10) flanges de ao inoxidvel e (11) tampa do cilindro.

    ..................................................................................................................................36

    FIGURA 3.8 Fotografias da cabea de STM contendo o sistema de varredura e a clula

    eletroqumica: (1) suporte da cabea, (2) motor de passo, (3) parafuso de preciso

    micromtrica, (4) engrenagem, (5) suporte da clula eletroqumica, (6) clula

    eletroqumica, (7) basto guia, (8) mola, (9) cabea hemisfrica do parafuso de preciso

    micromtrica e (10) sistema de varredura.

    ..................................................................................................................................37

    FIGURA 4.1 Voltamogramas cclicos para o eletrodo de HOPG em (BMIm)BF4 antes a

    aps tratamento trmico a 120 oC por 12 h sob vcuo. Potencial de circuito aberto

    (OCP) = 0,3 V vs. Pt. = 20 mV s-1. Inset: voltamograma com limite catdico estendido.

    ..................................................................................................................................39

    FIGURA 4.2 Voltamogramas cclicos para o eletrodo de Au(111) em (BMIm)BF4 antes e

    aps tratamento trmico a 120 oC por 24 h sob vcuo. OCP = -0,35 V vs. Pt. = 20 mV

    s-1.

    ..................................................................................................................................41

  • Lista de Figuras VIII

    FIGURA 4.3 - Voltamogramas cclicos para o eletrodo de Au(111) em (BMIm)PF6 antes e

    aps tratamento trmico a 120 oC por 24 h sob vcuo. OCP = -0,2 V vs. Pt. = 20 mV

    s-1.

    ..................................................................................................................................42

    FIGURA 4.4 Voltamograma cclico para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N. = 10

    mV s-1. Ei (OCP) = -0,05 V vs. Pt.

    ...................................................................................................................................45

    FIGURA 4.5 Imagem de STM in situ da superfcie do Au(111) em (BMP)Tf2N puro. E

    (OCP) = -0,1 V vs. Pt; Diferena de potencial de tunelamento (bias) = 0,5 V.

    ....................................................................................................................................46

    Figura 4.6 (A) Imagem de STM in situ da superfcie do Au(111) em (BMP)Tf2N puro. E

    = -0,9 V vs. Pt, bias = 0,7 V. (B) Regio ampliada da Figura 4.6(A). (1) Perfil de altura.

    .....................................................................................................................................47

    FIGURA 4.7 Sequncia de imagens de STM in situ mostrando a reestruturao

    eletroqumica da superfcie do Au(111) em (BMP)Tf2N; Diferena de potencial de

    tunelamento (bias) indicada nas figuras.

    ....................................................................................................................................48

    FIGURA 4.8 Voltamograma cclico para o eletrodo de Au(111) em (EMIm)Tf2N puro.

    = 10 mV s-1.

    ....................................................................................................................................50

    FIGURA 4.9 Imagens de STM in situ da superfcie do Au(111) em (EMIm)Tf2N puro em

    diferentes potenciais. Diferena de potencial de tunelamento (bias) indicada nas

    figuras........................................................................................................................52

    FIGURA 4.10 Voltamograma cclico para o eletrodo de HOPG em (BMP)Tf2N. Ei (OCP)

    = -0,1 V vs. Pt. = 10 mV s-1.

    ....................................................................................................................................54

    FIGURA 4.11 Imagens de STM in situ da superfcie do HOPG em (BMP)Tf2N puro. E

    (OCP) = -0,1 V. (1) Perfil de altura.

    ...................................................................................................................................55

  • Lista de Figuras IX

    FIGURA 4.12 Imagem tpica de STM in situ da superfcie do HOPG em (BMP)Tf2N puro

    no intervalo de potencial entre -0,1 V e -1,3 V.vs. Pt.

    ................................................................................................................................56

    Figura 4.13 Imagens de STM in situ da superfcie do HOPG em (BMP)Tf2N puro em

    diferentes potenciais. (A) 0,8 V; (B) 1,4; (C) e (D) 1,7 V vs. Pt. Resoluo: 1000 nm x

    1000 nm.

    ................................................................................................................................57

    FIGURA 4.14 (A) Imagem de STM in situ da superfcie do HOPG em (BMP)Tf2N puro

    no potencial de 2,9 V vs. Pt. (B) perfil de altura.

    ................................................................................................................................58

    FIGURA 4.15 Primeiro ciclo voltamtrico para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N

    contendo GaCl3 0,5 mol L-1. Ei (OCP) = -0,2 V vs. Pt. = 10 mV s-1. inset: janela

    eletroqumica do LI puro.

    ................................................................................................................................60

    FIGURA 4.16 Voltamogramas cclicos para eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N

    contendo GaCl3 0,5 mol L-1. Ei (OCP)= 0,2 V vs. Pt. = 10 mV s-1.

    ................................................................................................................................61

    FIGURA 4.17 Primeiro ciclo voltamtrico para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N

    contendo GaCl3 0,5 mol L-1. Ei (OCP)= 0,2 V vs. Pt. = 10 mV s-1..

    ................................................................................................................................62

    FIGURA 4.18 (A) Micrografia de MEV do eletrodepsito de glio sobre Au(111) obtido

    em -0,9 V por 30 min em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1, (B) espectro de EDX

    de uma nica esfera e; (C) Espectro de EDX da regio inteira

    ................................................................................................................................63

    FIGURA 4.19 Esferas de Ga sobre Au(111) eletrodepositadas em -0,6 V por 1 min em

    (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................64

    FIGURA 4.20 (A) Micrografia de MEV do eletrodepsito de glio sobre Au(111) obtido

    em -1,5 V por 1 h em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1 e; (B) Espectro de EDX do

    eletrodepsito.

    ................................................................................................................................65

  • Lista de Figuras X

    FIGURA 4.21 Perfil da quantidade de tomos obtido por SIMS para eletrodos de

    Au(111) sem (A) e com (B) eletrodepsito de glio obtido em -1,5 V por 1 h em

    (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................66

    FIGURA 4.22 Imagens de STM in situ em diferentes magnificaes do Au(111) em

    (BMP)Tf2N + GaCl3 0,5 mol L-1. E (OCP) = -0,14 V ; Diferena de potencial de

    tunelamento (bias) = 0,4 V.

    ................................................................................................................................68

    FIGURA 4.23 Espectro de tunelamento in situ do depsito formado sobre Au(111)

    apresentado na Figura 4.22 (B).

    ................................................................................................................................69

    FIGURA 4.24 Imagem de STM in situ do Au(111) em (BMP)Tf2N + GaCl3 0,5 mol l-1 . Ei

    = -0,14 V; Diferena de potencial de tunelamento (bias) = 0,4 V. As setas indicam

    diferentes estruturas que apareceram ao longo dos degraus.

    ................................................................................................................................70

    FIGURA 4.25 Imagem de STM in situ do Au(111) em (BMP)Tf2N + GaCl3 0,5 mol l-1. Ei

    (OCP)= -0,14 V. (1) Perfil de altura.

    ................................................................................................................................71

    FIGURA 4.26 Potencial de circuito aberto em funo do tempo para o eletrodo de

    Au(111) em (BMP)Tf2N + GaCl3 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................72

    FIGURA 4.27 Imagens de STM in situ do Au(111) em (BMP)Tf2N + GaCl3 0,5 mol L-1

    em potenciais mais negativos do que o OCP.

    ................................................................................................................................73

    FIGURA 4.28 Imagens de STM in situ do HOPG em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5

    mol L-1 em diferentes potenciais. Resoluo das imagens : 2000 x 2000 nm2.

    ................................................................................................................................75

    FIGURA 4.29 Voltamograma cclico para eletrodo de HOPG em (BMP)Tf2N contendo

    GaCl3 0,5 mol L-1. = 10 mV s-1.

    ................................................................................................................................76

  • Lista de Figuras XI

    FIGURA 4.30 Transientes de corrente resultantes de experimentos potenciostticos

    obtidos para o eletrodo de HOPG em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1. Einicial= -

    0,2 V vs. Pt.

    ................................................................................................................................77

    FIGURA 4.31 Comparao dos transientes de corrente adimensionais derivados dos

    cronoamperogramas da Figura 4.30 obtidos para o eletrodo de HOPG em (BMP)Tf2N

    contendo GaCl3 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................79

    FIGURA 4.32 (A) Micrografia de MEV do eletrodepsito de glio sobre HOPG obtido

    em -1,5 V por 1 h em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1 e; (B) Espectro de EDX do

    eletrodepsito.

    ................................................................................................................................81

    FIGURA 4.33 Micrografia de MEV do eletrodepsito de glio sobre HOPG obtido em -

    0,7 V por 2 min em (BMP)Tf2N contendo GaCl3 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................82

    FIGURA 4.34 Espectro exploratrio de XPS para o filme de glio sobre HOPG obtido

    no potencial de -1,5 V por 1h.

    ................................................................................................................................83

    FIGURA 4.35 Epectros de alta resoluo para o pico Ga2p3/2 obtidos aps

    bombardeamento com ons argnio por: (A) 15 min e (B) 30 min.

    ................................................................................................................................84

    FIGURA 4.36 Primeiro ciclo voltamtrico para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N

    contendo LiTf2N 0,5 mol L-1. = 10 mV s-1.

    ................................................................................................................................86

    FIGURA 4.37 Segundo ciclo voltamtrico para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N

    contendo LiTf2N 0,5 mol L-1. = 10 mV s-1. Inset: 2o ao 10o ciclos voltamtricos.

    ................................................................................................................................87

    FIGURA 4.38 Micrografia de MEV do eletrodepsito de ltio sobre Au(111) obtido em

    -2,9 V por 1h em (BMP)Tf2N contendo LiTf2N 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................88

  • Lista de Figuras XII

    FIGURA 4.39 Micrografias de MEV em diferentes magnificaes do eletrodepsito de

    ltio sobre Au(111) obtido em -3,5 V por 1h em (BMP)Tf2N contendo LiTf2N 0,5 mol L-1.

    ................................................................................................................................89

    FIGURA 4.40 Perfil da quantidade de tomos obtido por SIMS para o eletrodo de

    Au(111) com o eletrodepsito de ltio obtido em -3,5 V por 1 h em (BMP)Tf2N contendo

    LiTf2N 0,5 mol L-1

    ................................................................................................................................90

    FIGURA 4.41 Transientes de corrente resultantes de experimentos potenciostticos

    obtidos para o eletrodo de Au(111) em (BMP)Tf2N contendo LiTf2N 0,5 mol L-1. (B)

    Comparao dos transientes de corrente adimensionais derivados do

    cronoamperograma em -3,5 V e 3,6 V.

    ................................................................................................................................91

    FIGURA 4.42 Sequncia de imagens de STM in situ do Au(111) em (BMP)Tf2N + LiTf2N

    0,5 mol L-1. (A) OCP = -0,2 V, (B) -0,8 V, (C E) -0,9 V e (F) Figura 4.36. Resoluo de

    todas as imagens: 500 nm x 500 nm. Os nmeros ordinais nas figuras indicam o

    nmero de monocamada.

    ................................................................................................................................93

    FIGURA 4.43 - Imagem de STM in situ do Au(111) em (BMP)Tf2N + LiTf2N 0,5 mol L-1 no

    potencial de -1,2 V (pico C1 da Figura 4.36).

    ................................................................................................................................95

  • Resumo

    XIII

    RESUMO ESTUDO DAS ELETRODEPOSIES DE LTIO E GLIO SOBRE Au(111) E

    HOPG UTILIZANDO LQUIDOS INICOS COMO ELETRLITO No presente

    trabalho, as eletrodeposies de ltio e glio sobre Au(111) e HOPG (grafite piroltico

    altamente orientado) foram estudadas utilizando lquidos inicos (LIs) como eletrlito

    e empregando-se as seguintes tcnicas: voltametria cclica, cronoamperometria,

    microscopia eletrnica de varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva de

    raios X (EDX), espectroscopia fotoeletrnica de raios X (XPS), espectrometria de

    massas de ons secundrios (SIMS) e microscopia de tunelamento in situ (STM in

    situ). Inicialmente, constatou-se que a gua residual diminui drasticamente a janela

    eletroqumica dos LIs tetrafluoroborato de 1-butil-3-metil-imidazlio [(BMIm)BF4] e

    hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)PF6]. Posteriormente, medidas

    de STM in situ mostraram que o ction orgnico desempenha papel fundamental na

    reconstruo do Au(111) nos LIs bis (trifluorometilsulfonilimida) de 1-butil-1-

    metilpirrolidnio [(BMP)Tf2N] e bis (trifluorometilsulfonilimida) de 1-etil-3-

    metilimidazlio [(EMIm)Tf2N] puros. Os voltamogramas para a deposio de glio

    sobre Au(111) em (BMP)Tf2N sugeriram que a formao da liga Au-Ga precede a

    deposio massiva de glio e as imagens de STM in situ revelaram uma fina

    camada de glio est sobre Au(111) no potencial de circuito aberto. A espessura do

    filme de glio obtido potenciostaticamente foi de no mnimo 40 nm. A nucleao de

    glio sobre HOPG no seguiu nenhum dos mecanismos de nucleao (instantnea

    ou progressiva) aplicados e, para pulsos de potencial de curto tempo, esferas de

    glio se depositaram preferencialmente nos degraus entre os planos basais do

    HOPG. O voltamograma para a deposio de ltio sobre Au(111) mostrou um

    processo de UPD, formao de uma interface de eletrlito slido, deposio massiva

    de ltio e sua oxidao. As micrografias de MEV mostraram que o eletrodepsito

    composto por cristais poligonais e a anlise por SIMS confirmou que o depsito era

    ltio metlico. A nucleao de ltio sobre Au(111) tambm no seguiu nenhum dos

    mecanismos de nucleao aplicados e as imagens de STM in situ revelaram que a

    UPD de ltio ocorre camada sobre camada com a formao de trs monocamadas.

  • XIV

    ABSTRACT

    STUDY OF THE ELECTRODEPOSITIONS OF LITHIUM AND GALLIUM ON Au(111)

    AND HOPG USING IONIC LIQUIDS AS ELECTROLYTES In the present work, the

    electrodepositions of lithium and gallium on Au(111) and HOPG (highly oriented

    phyrolytic graphite) were studied using ionic liquids (ILs) as electrolytes and

    employing the following techniques: cyclic voltammetry, chronoamperometry,

    scanning electron microscopy (SEM), energy-dispersive spectroscopy (EDS), X-ray

    photoelectron spectroscopy (XPS), secondary ion-mass spectrometry (SIMS), and in

    situ scanning tunnelling microscopy (in situ STM). Initially, it was found that the

    residual water drastically decreases the electrochemical window of the ILs 1-butyl-3-

    methylimidazolium tetrafluoroborate [(BMIm)BF4] and 1-butyl-3-methylimidazolium

    hexafluorophosphate [(BMIm)PF6]. Then, in situ STM measurements showed that the

    organic cation plays a fundamental role on the behaviour of Au(111) in the pure ILs

    1-butyl-3-methylpyrrolidinium bis trifluoromethylsulfonil)imide [(BMP)Tf2N] and 1-

    ethyl-3-methylimidazolium bis(trifluoromethylsulfonil)imide [(EMIm)Tf2N]. The cyclic

    voltammograms for gallium deposition on Au(111) suggested that the Au-Ga alloy

    formation precedes the bulk gallium deposition and in situ STM images revealed a

    thin gallium layer on Au(111) at the open circuit potential. The thickness of the

    gallium film potentiostically obtained was 40 nm, at least. Gallium nucleation on

    HOPG did not follow any of the applied nucleation mechanism (instantaneous or

    progressive) and, for short-time potential pulses, gallium spheres were formed

    predominantly along the HOPG step edges. The voltammogram for the lithium

    deposition on Au(111) revealed an UPD process, solid electrolyte interface formation,

    lithium bulk deposition and its oxidation. The SEM micrographs showed that the

    lithium electrodeposit is composed by polygonal crystals and the SIMS analysis

    confirmed that the deposit was metallic lithium. The lithium nucleation on Au(111) did

    not follow any of the applied nucleation mechanisms neither and the in situ STM

    images showed that the lithium UPD process occurs via layer-by-layer with the

    formation of three monolayers.

  • Sumrio

    XV

    SUMRIO 1 INTRODUO 01

    1.1 Lquidos inicos temperatura ambiente (LI) 02

    1.2 Relevncia e objetivos 04

    2 HISTRIA DOS LIs E FUNDAMENTOS DE MICROSCOPIA DE TUNELAMENTO (STM).................................................. ..........................................07

    2.1 Eletrodeposio de metais utilizando lquidos inicos 07

    2.1.1 Sistemas baseados em AlCl3: a primeira gerao de lquidos inicos 07

    2.1.2 Lquidos inicos estveis ao ar e gua: a segunda gerao de lquidos

    inicos 10

    2.1.2.1 Misturas com cloreto de zinco (ZnCl2) 10

    2.1.2.2 Tetrafluoroborato de 1-etil-3-metilimidazlio [(EMIm)BF4] e

    tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)BF4]

    11

    2.1.2.3 - Hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)PF6] 12

    2.1.2.4 - Bis(trifluorometilsulfonil)imida de 1-butil-1-metilpirrolidinio

    [(BMP)Tf2N] e bis(trifluorometilsulfonil)imida de 1-butil-3-metilimidazlio

    [(BMIm)Tf2N] 13

    2.1.2.5 - Cloreto de colina/MCl (M = Zn, Sn) 14

    2.2 Propriedades fsicas e eletroqumicas dos LIs 14

    2.2.1 Condutividade 14

    2.2.2 Viscosidade 15

    2.2.3 Densidade 16

  • Sumrio

    XVI

    2.2.4 Janela eletroqumica 16

    2.3 Microscopia de varredura por tunelamento (STM) 18

    2.4 Reconstruo superficial de metais 23

    3 MATERIAL E MTODOS 26

    3.1 Influncia da gua residual na janela eletroqumica dos LIs 26 3.1.1 Eletrlitos e tratamento trmico 26

    3.1.2 Eletrodos empregados e clula eletroqumica 27

    3.2 Eletrodeposio de ltio e glio 30

    3.2.1 Solues e clula eletroqumica 30

    3.2.2 Microscopia eletrnica de varredura (MEV) 31

    3.2.3 Espectroscopia fotoeletrnica de raios X (XPS) 32 3.2.4 Espectrometria de massas de ons secundrios (SIMS) 32

    3.2.5 Microscopia de tunelamento (STM) in situ 32

    4 RESULTADOS E DISCUSSO 38

    4.1 Influncia da gua residual na janela eletroqumica dos LIs 38 4.1.1 Tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazlio (BMIm)BF4 38

    4.1.2 Hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio (BMIm)PF6 42

    4.2 Eletrodeposio de ltio e glio 44 4.2.1 Comportamento eletroqumico dos eletrodos de Au(111) e HOPG no LI

    (BMP)Tf2N puro: estudo por STM in situ 44

    4.2.1.1 Au(111) 44

    4.2.1.1 HOPG 53

    4.2.2 Eletrodeposio de glio sobre Au(111) utilizando o LI (BMP)Tf2N 60

    4.2.3 Eletrodeposio de glio sobre HOPG em (BMP)Tf2N 76

    4.2.4 Eletrodeposio de ltio sobre Au(111) em (BMP)Tf2N 86

  • Sumrio

    XVII

    5 CONCLUSES 96

    6 ETAPAS FUTURAS 99

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 100

  • Introduo 1

    CAPTULO 1 INTRODUO

    A eletrodeposio de metais em soluo aquosa , frequentemente,

    limitada pelo intervalo de potenciais (janela eletroqumica) onde no ocorra

    oxidao ou reduo da gua1. Dependendo da composio da soluo e do

    substrato utilizado, um intervalo de aproximadamente 1,2 V obtido. No limite

    de potenciais positivos ocorre a reao de desprendimento de oxignio e/ou

    oxidao do material de eletrodo e no limite de potenciais negativos ocorre a

    reao de desprendimento de hidrognio. Como consequncia, metais menos

    nobres como alumnio e magnsio, refratrios como tntalo e nibio e

    semicondutores como silcio, germnio, arseneto de glio e antimoneto de glio

    so dificilmente obtidos utilizando solues aquosas2. A electrodeposio

    desses materiais ocorre sob forte reduo da gua, portanto diminuindo

    drasticamente a eficincia de corrente e prejudicanto a qualidade dos

    eletrodepsitos dado o desprendimento de gs hidrognio. O uso de solventes

    orgnicos pode ampliar a janela eletroqumica, porm a pureza dos

    eletrodepsitos obtidos prejudicada devido aos produtos de decomposio

    orgnicos que podem ser incorporados ao eletrodepsito quando os limites de

    potencial da janela eletroqumica so atingidos. A alta presso de vapor

    apresentada por esses solventes tambm representa um problema pois

    impossibilita o estudo de eletrodeposio em altas temperaturas.

    Eletrlitos lquidos de sais fundidos a altas temperaturas apresentam

    propriedades fsico-qumicas interessantes. Apresentam alta condutividade

    inica (> 1 S cm-1) e muitos compostos qumicos podem ser dissolvidos neles3. A alta condutividade e a ampla janela eletroqumica tornaram esses eletrlitos de

    sais fundidos muito importantes para a indstria, como por exemplo eletrlitos

  • Introduo 2

    para eletrodeposio de metais4 e semicondutores5. No entanto, os eletrlitos de

    sais fundidos clssicos requerem condies experimentais especiais e, na

    maioria dos casos, os sistemas experimentais devem estar livres de oxignio e

    gua para propiciar resultados reprodutveis. Outro problema a restrio na

    escolha de materiais de eletrodo dado que o meio altamente corrosivo em

    temperaturas elevadas6. Portanto, h um interesse crescente pela busca de

    eletrlitos que sejam inertes em um amplo intervalo de potenciais e propiciem a

    eletrodeposio de metais reativos em baixas temperaturas, de modo a evitar

    altos gastos energticos. Os lquidos inicos temperatura ambiente (LIs), isto

    , sistemas com pontos de fuso abaixo de 25 oC, vm sendo empregados nos

    ltimos anos para este fim, pois atendem aos requisitos necessrios7,8.

    1.1 Lquidos inicos temperatura ambiente (LI)

    Lquidos inicos temperatura ambiente (LI), anteriormente chamados

    de sais fundidos temperatura ambiente, podem ser convenientemente

    descritos como substncias compostas inteiramente de ons que esto em sua

    forma lquida em temperaturas ao redor de 25 oC, bem como abaixo dela9-11. Os

    LIs so essencialmente sais constitudos por ctions orgnicos que esto

    combinados com nions inorgnicos. A Figura 1.1 apresenta os ctions e nions

    mais comuns utilizados para preparao de LIs.

    NNR1 R3

    R2

    +

    dialquilimidazlio

    NR1

    +

    alquilpiridina

    NR2R1 +

    dialquilpirrolidnio

    NR1

    R2R4R3

    +

    alquilamnio

    Br I

    CF3COO CF3SO2

    BF4 NO3 PF6

    Cl-

    --

    --

    -

    -

    -

    N SSO

    O OCF3 CF3

    O-

    bis(trifluorometilsufonil)imida

    Figura 1.1 Ctions orgnicos (acima) e nions orgnicos/inorgnicos (abaixo)

    comumente usados para preparao de LIs12.

  • Introduo 3

    A maioria dos lquidos que so familiares (gua, etanol, acetona,

    benzeno, etc.) molecular, isto , independentemente se so polares ou

    apolares, so basicamente constitudos de molculas. No entanto, os lquidos

    inicos temperatura ambiente so primordialmente constitudos por ons, o que

    faz que se comportem diferentemente dos lquidos moleculares convencionais

    quando usados como solventes. Em contraste aos solventes moleculares,

    lquidos inicos so usualmente no volteis, na maioria dos casos no

    inflamveis, menos txicos, bons solventes para compostos orgnicos e

    inorgnicos e podem ser usados em uma ampla faixa de temperatura. Earle et

    al.13 mostraram que possvel destilar LIs a 300 oC e 0,1 mbar em tempos que

    variaram de 4 h a 8 h dependendo do LI utilizado. Porm, dependendo das

    condies experimentais utilizadas, LIs podem ser utilizados em tcnicas que

    requeiram ultra-alto vcuo. Em 2006, Smith et al. 14 estudaram a superfcie de

    LIs por meio de espectroscopia fotoeletrnica de raios X (XPS) e espectrometria

    de massa de ons secundrios (SIMS) e mostraram que tcnicas de ultra-alto

    vcuo so adequadas para o estudo de LIs, oferecendo a oportunidade de

    conseguir espectros de solues com alta resoluo. Ainda, LIs apresentam boa

    condutividade eltrica2,15 e amplas janelas eletroqumicas16-19. Portanto, lquidos

    inicos, especialmente aqueles que so estveis ao ar e gua, tm atrado

    ateno considervel como solventes em uma vasta gama de aplicaes,

    incluindo eletrodeposio20-22, baterias23, catlise24, separao25 e sntese

    orgnica26.

    Historicamente, os LIs podem ser divididos em trs grupos:

    a) sistemas baseados em cloroaluminatos (AlCl3) e diferentes sais

    orgnicos como o cloreto de N-butilpiridina e haletos de 1,3-

    dialquilimidazlio27. Neste caso, tem-se um lquido inico denominado

    binrio (sal formado por ction orgnico e nion inorgnico + sal

    inorgnico);

    b) sistemas baseados em ctions orgnicos como o on 1,3-

    dialquilimidazlio e nions fluorados como BF4-, PF6- e SbF6-15,16,25;

  • Introduo 4

    c) sistemas baseados em ctions orgnicos como o on 1,3-

    dialquilimidazlio e diferentes nions resistentes hidrlise, como por

    exemplo tosilatos e outros28.

    Alm de aplicaes em sntese orgnica26, sntese de polmeros29,

    catlise30 e em baterias23, nos ltimos vinte anos os LIs tm sido empregados

    como eletrlitos devido a caractersticas muito atrativas a baixas temperaturas,

    tais como:

    ampla e estvel janela eletroqumica, o que permite a eletrodeposio de metais menos nobres como alumnio31 e alcalinos como ltio, sdio e

    potssio32, que no podem ser obtidos em meio aquoso. Janelas

    eletroqumicas de 6,35 V vs. Pt e 5,95 V vs. Pt foram relatadas para

    eletrodos de carbono vtreo e ouro microcristalino/policristalino em

    hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio, respectivamente19;

    alta condutividade, alta solubilidade a diversos reagentes, inflamabilidade e presso de vapor negligenciveis18. As condutividades intrnsecas

    apresentada pelos LIs exclui a necessidade de adio de um outro sal

    (eletrlito de suporte), diminuindo o nmero de variveis que poderiam

    interferir durante um dado processo eletroqumico11;

    possibilidade de obteno de eletrodepsitos de alta pureza e com estruturas em escala nanomtrica33, o que de grande interesse para a

    indstria eletrnica e para o desenvolvimento de semicondutores cada

    vez menores34 e sensores qumicos pequenos, seletivos e de resposta

    rpida35.

    1.2 Relevncia e objetivos

    Ltio metlico comercialmente produzido por meio de eletrlise de

    seus sais fundidos36, principalmente pela eletrlise de uma mistura de cloreto de

    ltio (LiCl) e cloreto de potssio (KCl). Os problemas desse processo so:

  • Introduo 5

    corroso dos equipamentos durante a reciclagem do gs cloro gerado no anodo

    e oxidao do anodo de grafite pelo oxignio gerado, uma vez que uma pequena

    quantidade de um sal de ltio que contenha oxignio (geralmente LiCO3)

    adicionada mistura37. Alm disso, h o consumo energtico adicional

    decorrente da temperatura em que a reao ocorre (400 oC 480 oC) e os

    materiais envolvidos no processo devem suportar tal meio agressivo. Nesse

    contexto, os LIs so uma tima alternativa a esse processo, uma vez que

    apresentam ampla janela de potencial mesmo temperatura ambiente.

    O glio um metal frgil e de colorao prateada. Apesar de sua forma

    pura no ser freqentemente utilizada na indstria, ligas de glio apresentam

    ampla aplicao comercial como, por exemplo, em microeletrnica, na forma de

    GaAs e GaN, os quais so semicondutores38. A preparao de nanopartculas

    metlicas de suma importncia, pois apresentam potenciais aplicaes em

    diversos campos como espectroscopia e catlise seletiva. A produo de

    nanopartculas de glio, por exemplo, pode ser o primeiro passo na manufatura

    de aparelhos de quantum dots de GaAs e GaN com caractersticas

    aprimoradas para aplicaes em eletrnica e fotnica.

    Dadas as excepcionais propriedades dos lquidos inicos temperatura

    ambiente (LI) como eletrlitos e a dificuldade de se obter metais reativos nessa

    temperatura, o objetivo geral do presente trabalho foi investigar os processos de

    eletrodeposio de ltio e glio metlicos sobre Au(111) e HOPG temperatura

    ambiente a partir de solues de seus sais em LIs. Para tal foram utilizadas as

    tcnicas de voltametria cclica, cronoamperometria, microscopia eletrnica de

    varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva de raios X (EDX),

    espectroscopia fotoeletrnica de raios X (XPS), espectrometria de massas de

    ons secundrios (SIMS) e microscopia de tunelamento (STM) in situ.

    Especificamente, os objetivos do presente trabalho foram: avaliar a influncia da

    gua residual na janela eletroqumica de LIs por meio de voltametria cclica;

    caracterizar os eletrodos de Au(111) e HOPG (grafite piroltico altamente

    orientado) em LI puro por STM in situ; estudar as eletrodeposies de ltio e

    glio sobre Au(111) e HOPG temperatura ambiente, utilizando as tcnicas de

  • Introduo 6

    voltametria cclica e cronoamperometria; estudar as eletrodeposies de ltio e

    glio sobre Au(111) por STM in situ.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 7

    CAPTULO 2 HISTRIA DOS LIs E FUNDAMENTOS DE MICROSCOPIA DE TUNELAMENTO (STM) 2.1 Eletrodeposio de metais utilizando lquidos inicos 2.1.1 Sistemas baseados em AlCl3: a primeira gerao de lquidos inicos

    A histria dos lquidos inicos se inicia em 1914 quando o primeiro

    trabalho sobre um LI foi publicado por Walden39. Ele relatou as propriedades

    fsicas do nitrato de etilamnio, [(C2H5NH3) NO3], que apresenta ponto de fuso

    em 12 oC. formado pela reao entre etilamina e cido ntrico concentrado e

    tem sido usado para recristalizao de protenas40. Mais tarde, Hurley e Wier41

    prepararam um LI pela mistura de brometo de etilpiridina com cloreto de

    alumnio, que foi usado para eletrodeposio de alumnio temperatura

    ambiente. A extrema higroscopicidade apresentada por esses cloroaluminatos e

    a necessidade de usar sistemas de gs inerte levaram a um desinteresse por

    esses lquidos por um longo tempo. Nos anos 70 e 80, Osteyoung e

    colaboratores42-44 e Wilkes et al.27 ampliaram as pesquisas sobre os lquidos

    inicos baseados em organoaluminatos. Esses compostos so facilmente

    preparados pela mistura de sais de amnio quaternrios, especialmente com

    haletos de N-alquilpiridnio e 1,3-diaquilimidazlio com AlCl3.

    A combinao de cloreto de 1-etil-3-metilimidazlio [(EMIm)Cl] ou

    cloreto de 1-n-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)Cl] com AlCl3 produz lquidos

    inicos cujas propriedades fsico-qumicas dependem principalmente da frao

    molar do composto de alumnio. A Figura 2.1 mostra diferentes pontos de fuso

    e distribuio das espcies aninicas para o (EMIm)Cl, dependentes da frao

    molar de AlCl3.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 8

    Figura 2.1 (A) Diagrama de fase slido-lquido e (B) distribuio das espcies aninicas com a variao da composio para a mistura de (EMIm)Cl com

    cloreto de alumnio (AlCl3)45.

    No diagrama da Figura 2.1A observam-se dois mnimos, nos quais a

    mistura est lquida a temperaturas bem inferiores ambiente

    (aproximadamente -70 oC e -90 oC). Uma caracterstica dos halogeno-

    aluminatos a doao ou recepo de pares de eltrons dependendo da

    composio da mistura. Convencionou-se chamar de mistura neutra aquela que

    apresenta frao molar (x) de AlCl3 igual a 0,5. Valores acima deste

    caracterizam um excesso de cido de Lewis no sistema e, portanto, so

    denominados sais cidos. Para valores de x inferiores a 0,5, o sal , por

    analogia, bsico. A Figura 2.1B mostra que diferentes espcies inicas esto

    presentes no sistema (EMIm)Cl/AlCl3 dependendo da acidez do lquido. Para

    sais bsicos as espcies Cl- e AlCl4- predominam, enquanto que para sais cidos

    a quantidade da espcie AlCl4-sofre diminuio e ocorre um aumento da espcie

    Al2Cl7-.

    Boa condutividade inica e janela eletroqumica ajustvel so

    caractersticas importantes para a eletroqumica. O sistema (EMIm)Cl/AlCl3

    apresenta condutividade inica de 1,17 x 10-2 S cm-1 a 30 oC (44% de AlCl3);

    com 50% e 67% de AlCl3, valores de 2,27 x 10-2 S cm-1 e 1,54 x 10-2 S cm-1

    Frao molar de cloreto de alumnio (%)

    A B

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 9

    foram relatados na literatura, respectivamente2. Em relao janela

    eletroqumica, a Figura 2.2 mostra um esquema simplificado em funo da

    acidez de Lewis.

    Figura 2.2 Janelas eletroqumicas simplificadas para um eletrodo de carbono

    vtreo em cloreto de N-butilpiridinio (BPCl) e (EMIm)Cl com AlCl32.

    Em sistemas cidos, cloro gasoso se forma no limite andico, e, no

    limite catdico, alumnio depositado. Em sistemas bsicos gs cloro se forma

    no limite andico e, no limite catdico, ocorre oligomerizao dos ctions

    orgnicos. Essa flexibilidade de caractersticas fsico-qumicas, reguladas pela

    composio do lquido, permitiu que fossem largamente utilizados para fins de

    eletrodeposio. Endres e Freyland46 estudaram, por meio de saltos de

    potencial, voltametria cclica e microscopia de tunelamento in situ (STM), a

    eletrodeposio de prata sobre grafite piroltico altamente orientado (HOPG),

    utilizando o sistema cloreto de 1-metil-3-butilimidazlio/AlCl3 (razo molar 55/45)

    contendo 0,05 mol L-1 de AgCl. As imagens de STM mostraram o HOPG em

    escala atmica; observaram-se buracos nesse material devido sua oxidao

    neutro

    neutro

    cido

    cido

    bsico

    bsico

    (BPCl)/AlCl3

    (EMIm)Cl/AlCl3

    V vs. Al

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 10

    quando os potenciais aplicados foram maiores que 1 V vs. Ag/Ag+. Foi

    observado que a prata deposita-se preferencialmente nos defeitos e nos

    degraus entre os planos basais do HOPG. Constatou-se tambm que a

    eletrodeposio de prata sobre HOPG requer um sobrepotencial de -0,3 V a

    -0,35 V vs. Ag/Ag+; para sobrepotenciais mais negativos, o mecanismo de

    eletrodeposio muda de nucleao progressiva tridimensional para instantnea

    tridimensional. Utilizando o sistema cloreto de 1-butil-3-metilimidazlio/AlCl3,

    Kamavaram et al.31 mostraram que possvel obter alumnio metlico via

    eletrlise a 103 2 oC. Uma matriz de compsito de alumnio metlico (portanto no pura) foi utilizada como anodo, eletrodepositando-se no catodo de cobre

    alumnio metlico com pureza acima de 98%. A eficincia de corrente e o

    consumo energtico foram 70-90% e 3,2-6,7 kW h kg-1 para as condies

    experimentais estudadas, respectivamente. O baixo consumo energtico e a

    ausncia de poluentes foram as duas principais vantagens do processo.

    A natureza higroscpica dos lquidos baseados em AlCl3 tem diminudo

    sua aplicao, uma vez que eles tm que ser preparados e manuseados sob

    atmosfera inerte. Portanto, LIs que so estveis ao ar e gua tm sido alvo de

    intensa investigao.

    2.1.2 Lquidos inicos estveis ao ar e gua: a segunda gerao de lquidos inicos

    2.1.2.1 Misturas com cloreto de zinco (ZnCl2)

    Vrios trabalhos na literatura mostram que lquidos inicos podem ser

    obtidos da combinao de cloreto de zinco com cloreto de piridnio47, cloreto de

    dimetiletilfenilamnio48, cloreto de 1-etil-3-metilimidazlio49 e cloreto de 1-butil-3-

    metilimidazlio50. Esses lquidos so fceis de preparar e no sofrem

    decomposio em presena de gua e ar. Como ZnCl2 um cido de Lewis, a

    acidez de Lewis pode ser controlada variando-se a razo molar entre ZnCl2 e os

    sais de amnio quaternrio nos lquidos. A dependncia da janela eletroqumica

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 11

    com a acidez de Lewis do (EMIm)Cl/ZnCl2 foi estudadapor Hsiu et al.51. Os LIs

    (EMIm)Cl/ZnCl2 bsicos de composio 3:1 apresentam janela eletroqumica de

    3,0 V para o eletrodo de carbono vtreo, com oxidao de Cl- no limite andico e

    reduo de (EMIm)+ no limite catdico. Para LIs (EMIm)Cl/ZnCl2 cidos com

    razo molar maior que 0,5:1, ocorre deposio de zinco metlico no limite

    negativo e no limite positivo oxidao de complexos clorozincatos. Lquidos

    inicos cidos so teis para eletrodeposio de zinco e suas ligas. Como esses

    LIs so aprticos, complicaes relacionadas ao desprendimento de gs

    hidrognio so eliminadas. Materiais como a liga Pt-Zn52, Fe e a liga Zn-Fe53, Sn

    e a liga Sn-Zn 54 e Cd e a liga Cd-Zn55 podem ser eletrodepositados utilizando o

    lquido inico cido (EMIm)Cl/ZnCl2.

    2.1.2.2 Tetrafluoroborato de 1-etil-3-metilimidazlio [(EMIm)]BF4 e tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)]BF4

    Houve um grande avano na rea de LIs quando em 1992 a sntese do

    lquido inico tetrafluoroborato de 1-etil-3-metilimidazlio [(EMIm)BF4] estvel ao

    ar foi relatada56. No comeo, a pureza desse lquido ainda no era satisfatria.

    Um dos problemas com a sntese baseada em tetrafluoroborato de prata

    (AgBF4) era a dificuldade de remover a prata remanescente. O custo do AgBF4

    bastante alto e esse lquido ainda se mostrava completamente miscvel em

    gua. Sweeny e Peters57 introduziram peneiras moleculares no LI

    tetraflouorborato de 1-butil-3-metil-imidazlio (BMIm)BF4 para a remoo da

    gua. Por meio de voltametria cclica, observaram que aps 180 minutos em

    contato com as peneiras moleculares no mais se observa sinal voltamtrico

    proveniente da reduo da gua. Katayama et al.58 relataram que o lquido

    inico (EMIm)BF4 pode ser usado como banho eletroltico alternativo para

    deposio de prata. Esse lquido superior aos cloroaluminatos porque a

    deposio de prata pode ser promovida sem contaminao por alumnio.

    Deposio e dissoluo eletroqumica de prata em um eletrodo de platina foi

    possvel nesse LI contendo AgBF4.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 12

    Foi demonstrado que semicondutores como antimoneto de ndio

    (InSb)59 e telureto de cdmio (CdTe)60 podem ser eletrodepositados no lquido

    inico bsico (EMIm)BF4. InSb um semicondutor III-V e CdTe um

    semicondutor II-VI, ambos largamente usados em aparelhos eletrnicos e

    clulas solares. Anlise dos eletrodepsitos de InSb por espectroscopia de

    energia dispersiva de raios X mostrou que a composio dos eletrodepsitos

    pode ser variada pelo potencial de deposio e pela concentrao de In(III) e

    Sb(V) na soluo.

    2.1.2.3 Hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)PF6]

    O hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)PF6] pouco

    solvel em gua e apresenta um mximo de 2% em massa de gua, que

    relativamente fcil de ser retirada a presso reduzida e temperaturas mais altas2.

    Kazaminezhad et al.61 produziram nanofios de prata por eletrodeposio em

    hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio utilizando uma membrana

    comercial de policarbonato como molde. A microscopia eletrnica de

    transmisso mostrou que os nanofios apresentavam dimetro mdio de 80 nm e

    comprimento de 5 m. Endres et al.62,63 mostraram, pela primeira vez, que bicamadas finas de Ge(111) podem ser obtidas em (BMIm)PF6 contendo GeI4

    como fonte de ons germnio. No entanto, nanoclusters estveis ou camadas

    espessas de germnio no puderam ser obtidas nesse sistema. Recentemente,

    o mesmo grupo relatou que camadas espessas de germnio podem ser

    eletrodepositadas em (BMIm)PF6 contendo GeBr4 ou GeCl464. Uma fina camada

    de germnio matlico de 300 pm de espessura se forma antes da sua deposio

    massiva (espessamento do material). A deposio massiva comea com

    nanoclusters e camadas de espessura nanomtrica podem ser facilmente

    obtidas.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 13

    2.1.2.4 - Bis(trifluorometilsulfonil)imida de 1-butil-1-metilpirrolidnio [(BMP)Tf2N] e bis(trifluorometilsulfonil)imida de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)Tf2N)]

    Resultados sobre a eletrodeposio de tntalo no lquido inico

    (BMP)Tf2N foram tambm relatados por Endres et al.65,66. At ento, o uso de

    sais de metais alcalinos fundidos a altas temperaturas era o nico modo possvel

    de depositar tntalo. No entanto, sua deposio foi possvel utilizando

    (BMP)Tf2N contendo TaF5 a temperaturas moderadas, obtendo-se camadas

    aderentes, densas e uniformes de tntalo. Os padres de difrao de raios X

    mostraram claramente os padres caractersticos de tntalo cristalino.

    Utilizando o mesmo lquido, os autores mostraram, pela primeira vez, a

    possibilidade de se obter silcio elementar via eletrodeposio67. Utilizando SiCl4

    como fonte de ons silcio, obtiveram uma camada eletrodepositada que

    provaram ser silcio elementar por meio de medidas de STM in situ. Curvas de

    corrente/voltagem obtidas por esta tcnica revelaram um band gap simtrico

    de 1,0 0,2 eV, que tpico para silcio elementar semicondutor. Medidas de

    microscopia eletrnica de varredura (MEV) mostraram uma camada de silcio de

    100 nm de espessura sobre HOPG; a espectroscopia de energia dispersiva de

    raios X (EDX) mostrou que no havia cloreto no eletrodepsito. Tambm,

    utilizando esse mesmo lquido, observaram a reconstruo/reestruturao do

    Au(111), e posteriormente, eletrodepositaram silcio nesse substrato. Por meio

    de imagens de STM in situ observaram a reconstruo superficial do Au(111),

    que foi dependente do potencial aplicado. A superfcie continha muitos defeitos,

    buracos e terraos quando em potencial de circuito aberto. Aps polariz-la

    negativamente, o nmero de defeitos diminuiu acentuadamente, obtendo-se

    uma superfcie totalmente reconstruda.

    Em 2003, Mukhopadhyay e Freyland21 obtiveram, pela primeira vez,

    nanofios de titnio sobre HOPG, utilizando o sistema 1-butil-3-metil imidazlio

    bis(trifluorometilsulfonil)imida [(BMIm)Tf2N], contendo TiCl4 0,24 mol l-1. Por meio de STM in situ, obtiveram imagens dos estgios iniciais de nucleao e

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 14

    deposio dos nanofios de titnio ao longo dos degraus do HOPG. A distribuio

    de espessura dos fios foi de 10 2 nm e comprimentos maiores que 100 nm. Mais tarde, os mesmos autores e colaboradores promoveram a eletrodeposio

    de titnio em Au(111) 20.

    2.1.2.5 Cloreto de colina/MCl (M = Zn, Sn)

    Abbott et al.68 relataram a sntese e caracterizao de um novo lquido

    inico estvel ao ar e gua produzidos pela reao de cloretos metlicos e sais

    de amnio quaternrio disponveis comercialmente. Eles mostraram que

    misturas de cloretos de colina (cloreto de 2-hidroxietiltrimetilamnio)

    [(Me3NC2H4OH)Cl] e de alguns metais (MCl2; M = Zn, Sn) produzem lquidos que

    so condutores e viscosos em torno da temperatura ambiente. Esses LIs so

    fceis de preparar, estveis ao ar e gua; o baixo custo permite que sejam

    usados em aplicaes que exijam grandes quantidades. Ainda, esses autores

    relataram que um lquido verde escuro e viscoso se forma quando cloretos de

    colina e cloreto de cromo (III) hexahidratado (CrCl3.6H2O) so misturados69;

    cromo pode ser eletrodepositado a partir deste LI. Adicionando-se LiCl ao lquido

    inico cloreto de colina/CrCl3.6H2O possvel obter filmes de cromo negros e

    nanocristalinos. Esse LI apresenta vantagens ambientais para a eletrodeposio

    de cromo, ao invs de usar banhos cidos de cromo convencionais.

    2.2 Propriedades fsicas e eletroqumicas dos LIs

    2.2.1 Condutividade

    Lquidos inicos apresentam boas condutividades inicas quando

    comparadas quelas dos sistemas solvente orgnico/eletrlito (em torno de 10

    mS cm-1). A temperaturas elevadas, por exemplo a 200 oC, valores de

    condutividade de 0,1 S cm-1 podem ser atingidos para alguns sistemas. No

    entanto, temperatura ambiente, os valores de condutividade dos LIs so

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 15

    geralmente mais baixos que aqueles de eletrlitos aquosos concentrados.

    Apesar dos LIs serem constitudos por ons, a condutividade no est

    relacionada somente ao nmero de portadores de carga, mas tambm s suas

    mobilidades. Os ons volumosos que constituem os LIs reduzem a mobilidade

    inica e, portanto, os valores de condutividade so mais baixos. Ainda, a

    formao de pares inicos e/ou formao de agregados contribuem para a

    diminuio dos valores de condutividade. No caso dos LIs baseados no on

    imidazlio, a interao eletrosttica o principal fator da atrao entre os ons. A

    Tabela 2.1 apresenta os valores de coeficiente de difuso para alguns lquidos

    inicos. Os valores relativamente baixos encontrados (na faixa de 10-10 10-11

    m2 s-1) so devidos aos altos valores de viscosidade dos LIs.

    Tabela 2.1 Valores de coeficientes de difuso para alguns LIs.

    LI Ref. D+ / 1011 m2 s-1 D- / 1011 m2 s-1 T /K

    (EMIm)+ BF4- 70 5,0 4,2 298

    (EMIm)+ CF3SO2- 71 5,0 3,0 298

    (EMIm)+N(CF3SO2)2- 70 6,3 3,5 298

    (BPi)+ BF4- 70 0,91 1,0 298

    (BPi)+ N(CF3SO2)2- 70 2,4 2,0 298

    (EMIm)+ AlCl4- 72 1,02 6,1 303

    EMIm = 1-etil-3-metilimidazlio; BPi = N-butilpiridnio.

    2.2.2 Viscosidade

    Geralmente, LIs so mais viscosos que solventes moleculares comuns,

    com valores entre 10 mPa s e 500 mPa s temperatura ambiente. A Tabela 2.2

    apresenta valores de viscosidade temperatura ambiente de alguns LIs mais

    conhecidos.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 16

    Tabela 2.2 Valores de viscosidades de alguns LIs temperatura ambiente.

    LI Ref. Viscosidade / mPa s

    (BMIm)PF6 73 312

    (BMIm)BF4 74 154

    (BMIm)Tf2N 15 52

    (BMP)Tf2N 75 85

    BMIm = 1-butil-3-metilimidazlio; BMP = 1-butil-3-metilpiridnio.

    A viscosidade dos LIs determinada por foras de van der Waals,

    ligaes de hidrognio e foras eletrostticas. O aumento do comprimento da

    cadeia alqulica do ction leva a um aumento nos valores de viscosidade.

    Ligaes de hidrognio envolvendo nions afeta diretamente a viscosidade,

    razo pela qual nions fluorados como BF4- e PF6- formam lquidos viscosos. A

    viscosidade dos lquidos inicos decresce significantemente com o aumento da

    temperatura.

    2.2.3 Densidade

    Em geral, LIs so mais densos que gua, com valores de densidade

    entre 1,0 g cm-3 e 1,6 g cm-3, que decrescem com o aumento da cadeia alqulica

    do ction76. Por exemplo, em LIs compostos de ctions imidazlio substitudos e

    nions triflato (CF3SO3-), a densidade decresce na seguinte ordem: (EMIm)+>

    (EEIm)+> (BMIm)+> (BEIm)+. O tipo de nion tambm afeta a densidade dos LIs.

    A ordem crescente de densidade para LIs constitudos por um dado ction 10:

    CH3SO3- BF4- < CF3CO2- < CF3SO3- < C3F7CO2- < (CF3SO2)2N-.

    2.2.4 Janela eletroqumica A janela eletroqumica uma importante propriedade dos LIs e mostra

    sua potencialidade para eletrodeposio de metais e semicondutores. Por

    definio, a janela eletroqumica o intervalo de potencial no qual o eletrlito

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 17

    no sofre oxidao nem reduo10 e determina a sua estabilidade eletroqumica.

    Como bem conhecido, a eletrodeposio de metais e compostos em eletrlitos

    aquosos limitada pela sua pequena janela eletroqumica (~1,2 V). Ao contrrio,

    lquidos inicos apresentam amplas janelas eletroqumicas. Suarez et al.19

    relataram janelas de 6,10 V e 5,45 V para eletrodos de tungstnio e carbono

    vtreo em (BMIm)BF4, respectivamente, e de 7,10 V e 6,35 V para os mesmos

    eletrodos em (BMIm)PF6, respectivamente. Para o trifluoroacetato de 1-n-butil-3-

    metilimidazlio [(BMIm)CF3CO2] foram encontrados os valores de 4,50 V e 2,50

    V para eletrodos de carbono vtreo e platina, respectivamente30. A Tabela 2.3

    apresenta as janelas eletroqumicas para alguns pares LI/eletrodo. Os amplos

    valores de janela eletroqumica permitiram que se obtivesse metais e compostos

    temperatura ambiente que antes s eram obtidos em sais fundidos a altas

    temperaturas.

    Tabela 2.3 Janelas eletroqumicas de alguns pares LI/eletrodo.

    LI Janela

    eletroqumica / V Eletrodo de trabalho

    (BMIm)F 3,1 Pt16

    (BMIm)BF4 2,6 Pt77

    (BMIm)[CF3SO3] 4,1 Pt15

    (BMIm) [N(CF3SO2)2] 4,5 Carbono vtreo78

    (BMIm)N(CF3SO2)2 4,0 Pt79

    (BMIm)(CN2)N 3,0 Pt79

    (BMIm)PF6 4,2 Nanotubos de carbono80

    (BMPy)N(CF3SO2)2 6,0 Grafite81

    (M3BuN)N(CF3SO2)2 4,0 Carbono81

    (EMIm)Cl/AlCl3 4,1 W82

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 18

    Por essas excepcionais caractersticas, a pesquisa com lquidos inicos

    tm crescido exponencialmente nos ltimos anos. A diversidade de lquidos

    produzidos por vrias empresas e a tendncia em diminuir custos podero fazer

    com que os LIs sejam rotineiramente utilizados, inclusive para fins industriais.

    2.4 Microscopia de varredura por tunelamento (STM)

    O microscpio de tunelamento uma poderosa ferramenta amplamente

    utilizada para a obteno de imagens em escala atmica de superfcies de

    metais e semicondutores. Aproximando-se uma ponta metlica idealmente

    terminada em um tomo a uma distncia da superfcie menor que 1 nm, obtm-

    se imagens tridimensionais da superfcie em estudo. O primeiro microscpio de

    varredura por tunelamento foi construdo por Gerd Binnig e Heinrich Rohrer em

    198183. Cinco anos mais tarde, estes cientistas foram laureados com o Prmio

    Nobel de Fsica pela inveno.

    A microscopia de varredura por tunelamento (STM) se utiliza da

    natureza ondulatria do eltron. A mecnica quntica prev que uma partcula

    como um eltron pode ser descrita por uma funo de onda. Assim sendo, existe

    uma probabilidade finita de entrar em uma regio classicamente proibida e, por

    conseguinte, tunelar atravs de uma barreira de potencial que separa duas

    regies classicamente permitidas. A probabilidade de tunelamento (|(x)|2) exponencialmente dependente da largura da barreira de potencial. Ento, a

    observao experimental dos eventos de tunelamento s mensurvel para

    barreiras bastante finas. A probabilidade de uma partcula tunelar atravs da

    barreira de potencial (|(x)|2) pode ser obtida resolvendo-se a equao de Schrdinger independente do tempo:

    )()()()( xExxVdx

    xdm

    =+

    2

    2

    2

    2h (2.1)

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 19

    onde 2h=h , sendo h a constante de Planck, m a massa do eltron, x uma

    varivel unidimensional, (x) a funo de onda do eltron, V(x) a energia potencial e E a energia do eltron. Utilizando-se as seguintes condies de

    contorno

    V(x) =

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 20

    Inicialmente, o eltron na amostra apresenta funo de onda [(x)] oscilatria. Aplicando-se uma diferena de potencial (Vbias) entre a amostra e a

    ponta, o nvel de Fermi da amostra (EF1) deslocado em direo ao nvel de

    Fermi da ponta (EF2), de modo que os eltrons passem atravs da barreira.

    Como pode ser visto na Figura 2.3, a funo de onda entre a amostra e a ponta

    no oscilatria e decai exponencialmente. Se a barreira no muito espessa,

    a funo de onda no decai a zero e volta a apresentar comportamento

    oscilatrio na ponta do STM. Portanto, o fluxo de eltrons atravs da barreira

    constitui a corrente de tunelamento.

    Os componentes de um microscpio de tunelamento so: uma ponta

    metlica (sonda), um tubovarredor piezoeltrico que controla o movimento da

    ponta nas direes x, y e z, motores e parafusos para aproximar a amostra e a

    ponta, um sistema anti-vibratrio e um computador. A Figura 2.4 apresenta os

    principais constituintes de um STM. A corrente de tunelamento flui entre a

    superfcie de interesse e uma ponta metlica muito fina que age como sonda

    local, normalmente em torno de 1 nm distante da superfcie. Para se obter

    imagens tridimensionais, a ponta conectada a um tubo piezoeltrico.

    Aplicando-se uma diferena de potencial ao cristal piezoeltrico, o mesmo

    deforma-se nas trs direes x, y e z, movendo bidimensionalmente a ponta ao

    longo da superfcie; a expanso e contrao movimenta-a em z. Diferenas de

    potencial na faixa de 300 V so aplicadas ao cristal piezoeltrico. Como tubos

    piezoeltricos no sofrem alongamento maior que 1 m em z, utiliza-se parafusos de preciso micromtrica conectados a motores para aproximar a

    ponta da superfcie da amostra. Com a aplicao de uma diferena de potencial

    (entre 1 mV e 4 V), uma corrente de tunelamento (tipicamente entre 0,1 nA e 10

    nA) pode fluir dos estados eletrnicos ocupados no nvel de Fermi da amostra

    para estados desocupados da ponta do STM.

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 21

    Figura 2.4 Vista esquemtica de um microscpio de tunelamento.

    O STM pode operar em dois modos: altura constante ou corrente constante. No caso do modo de altura constante a ponta fixada em uma posio z e varre a amostra em x e y. A vantagem desse mtodo que altas

    velocidades de varredura podem ser usadas e, portanto, processos dinmicos

    podem ser melhor estudados. A medida mais rpida do que no caso do modo

    de corrente constante, porm h um maior risco de se quebrar a ponta. Portanto,

    o modo de altura constante aplicado quando a superfcie a ser estudada

    bastante plana. Nesse modo, informaes sobre a variao local da densidade

    de estados (DOS) so obtidas. Se a superfcie sob estudo rugosa, o STM

    operado em modo de corrente constante. Neste caso, a corrente mantida

    constante ajustando-se a altura do tubo piezoeltrico por um sistema de

    feedback. Por exemplo, quando o sistema detecta um aumento da corrente de

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 22

    tunelamento, a diferena de potencial aplicada ao tubo piezoeltrico ajustada

    para aumentar a distncia entre a ponta e a superfcie da amostra.

    Se a corrente de tunelamento constante durante o experimento, a

    ponta obtm informaes do nvel de Fermi da superfcie. A diferena de

    potencial de tunelamento (Vbias) deve ser pequena para se obter imagens

    confiveis da superfcie a ser investigada. Porm, na prtica pequenas voltagens

    fazem com que a ponta quebre rapidamente devido pequena distncia entre a

    ponta e a superfcie. importante ressaltar que se o experimento realizado em

    condies eletroqumicas (in situ), a ponta pode ser severamente alterada

    devido a deposio metlica. Portanto, a diferena de potencial de tunelamento

    deve ser escolhida na faixa de potenciais onde a reao eletroqumica no

    observada. Neste caso, a equao da corrente de tunelamento para corrente

    constante 84:

    dEzeVETeVEEI rr teV

    st ),,(),(),( = rr 000

    (2.2)

    onde, ),( Ers 0r e ),( eVErt 0r so as densidades de estados (DOS) da

    amostra e da ponta, respectivamente, na posio 0rr

    , que o raio de curvatura

    da ponta, E a energia relacionada ao nvel de Fermi, z a distncia entre a

    ponta e a amostra e T(E, eV, z) a probabilidade de transmisso, dada por:

    )(),,( EeVmzzeVET ts ++=22

    8 hexp (2.3)

    onde s e t so as funes trabalho da amostra e da ponta, respectivamente. Se a distncia entre a ponta e a amostra mantida constante (z =

    constante), e supondo que as respectivas densidades de estados (DOS)

    tambm so constantes, a equao da corrente de tunelamento simplificada

    para:

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 23

    dVVconstIV

    t )exp(0 = (2.4)

    e para uma diferena de potencial de tunelamento constante (V = constante),

    )exp( zconstIt = (2.5)

    onde a mdia aritmtica entre as funes trabalho da amostra e da ponta.

    2.5 Reconstruo superficial de metais

    tomos superficiais de slidos frequentemente ocupam posies que

    diferem daquelas esperadas quando se considera um material perfeitamente

    acabado. Esse desvio resultado do desbalano de foras na superfcie, onde

    os tomos encontram um ambiente que altamente assimtrico quando

    comparado com aquele do interior do material. H casos em que os tomos

    apenas se deslocam lateralmente, porm, as vezes podem gerar estruturas

    superficiais bastante diferentes. Tal rearranjo dos tomos superficiais, que

    impulsionado pela diminuio da energia superficial, chamado reconstruo

    superficial85.

    Superfcies de ouro e platina de baixo ndice de Mller sofrem

    reconstruo em ultra alto vcuo quando submetidas a um tratamento trmico.

    Por exemplo, as superfcies [100] de ambos os metais se reconstrem de modo

    a formar um empacotamento hexagonal (hex). No entanto, no se transformam

    em genunas superfcies [111], pois ocorre um desalinhamento entre a camada

    de tomos superficial que foi hexagonalmente reconstruda e a camada [100]

    imediatamente abaixo. Apesar de uma superfcie reconstruda ser em geral

    termodinamicamente mais estvel do que a no reconstruda, existe uma

    barreira de ativao que impede a reconstruo espontnea temperatura

    ambiente. Essa barreira de ativao pode ser alta, uma vez que em vrios casos

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 24

    a reconstruo envolve quebra de ligaes e transporte de tomos, ao invs de

    simples deslocamento de tomos da clula unitria. Portanto, uma superfcie

    no reconstruda em ultra alto vcuo est presa em seu estado metaestvel,

    sendo novamente necessrio o aquecimento da superfcie para o re-

    estabelecimento do estado reconstrudo.

    A reconstruo de uma superfcie limpa em ultra alto vcuo pode ser

    removida pela adsoro de tomos ou molculas. Isso pode ser compreendido

    em termos de uma adsoro que energeticamente mais favorvel em uma

    estrutura mais aberta (1x1) do que em uma superfcie densamente empacotada.

    Uma interpretao alternativa seria que o adsorbato cria um ambiente, em

    termos de simetria, do tipo do interior do material adsorvente para os tomos

    superficiais. Um exemplo conhecido de remoo da reconstruo o de CO

    sobre Pt(100). Na ausncia de CO adsorvido, a estrutura (hex) superficial da

    platina termodinamicamente mais estvel do que a estrutura (1x1). Quando o

    CO est adsorvido, a estrutura (1x1) agora mais estvel. Isso sugere que a

    diferena entre os calores de adsoro para as superfcies no reconstruda e

    reconstruda suficientemente grande para compensar a perda em energia

    superficial devido remoo da reconstruo85.

    Alm do papel dos adsorbatos na determinao da estabilidade de

    superfcie reconstrudas, h um segundo parmetro discutido na literatura que

    governa o fenmeno da reconstruo, chamado carga superficial. Energias

    superficiais dependem da carga superficial; se os valores absolutos para

    superfcies reconstrudas e no reconstrudas no diferem muito do estado

    descarregado, a reconstruo pode ser induzida pelo carregamento da

    superfcie metlica (adsoro de ons ou imposio de potencial). A interface

    metal-soluo constitui uma dupla camada eltrica que resulta dos diferentes

    nveis de Fermi de ambos os meios. Essa dupla camada pode ser descrita como

    um capacitor de placas de dimenses moleculares: um lado do capacitor

    constitudo pelo metal e o outro por ons solvatados do eletrlito a uma distncia

    limitada pelo raio de solvatao. Devida pequena distncia entre as placas

    (em torno de 3 , que o raio do on solvatado), os valores de capacitncia so

  • Histria dos LIs e fundamentos de STM 25

    extremamente altos (da ordem de 50 F cm-2) e variam com o potencial aplicado. Essa alta capacitncia da dupla camada eltrica faz da interface metal-

    soluo um local de possibilidades experimentais nicas. O simples

    carregamento da dupla camada promove campos eltricos da ordem de 107 V

    cm-1 e altas cargas superficiais so facilmente obtidas. Aplicando-se um

    potencial suficientemente negativo a uma superfcie de ouro no reconstruda,

    por exemplo, promove-se a reconstruo da superfcie. No incio, a superfcie

    no reconstruda se encontra em seu estado metaestvel e a reconstruo da

    superfcie no carregada suprimida devido barreira de ativao. O efeito

    contrrio tambm pode ser observado aplicando-se um potencial mais positivo

    do que o potencial de carga zero. A barreira de ativao reduzida a tal

    extenso que a transio (hex) (1x1) (remoo da reconstruo) ocorre

    mesmo temperatura ambiente, o que mostra que a estrutura superficial de um

    eletrodo pode ser fortemente alterada de acordo com o potencial aplicado.

  • Material e Mtodos 26

    CAPTULO 3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Influncia da gua residual na janela eletroqumica dos LIs 3.1.1 Eletrlitos e tratamento trmico

    A influncia da gua residual foi avaliada em dois lquidos inicos

    distintos: tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazlio (BMIm)BF4 e

    hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazlio (BMIm)PF6 (ambos Aldrich).

    Primeiramente, o comportamento eletroqumico desses lquidos como recebidos

    foi estudado temperatura e atmosfera ambientes. Aps, os lquidos foram

    submetidos ao tratamento trmico, que consistia em coloc-los dentro de um

    dessecador e, posteriormente, inseri-los em uma estufa a 120 oC. Pelo orifcio

    superior da estufa, conectou-se a mangueira de uma bomba ao dessecador,

    promovendo-se vcuo por 12 h e 24 h. Esse tratamento s foi possvel porque

    os LIs apresentam presso de vapor negligencivel e, portanto, praticamente

    no evaporam. Aps esse tratamento, o dessecador contendo os LIs foi

    tranferido para uma cmara seca (Labconco modelo 50600) com umidade

    controlada (< 10 ppm de H2O) pela passagem de argnio (pureza de 99,999%), onde o vcuo foi desfeito. A clula eletroqumica, que ser descrita

    posteriormente, foi montada dentro da cmara seca pra evitar que os LIs

    entrassem em contato com o ar atmosfrico. A eficincia do tratamento foi

    avaliada por meio de voltametria cclica, pelo monitoramento do processo

    eletroqumico de reduo da gua nos LIs. Ainda, para garantir que toda a gua

    havia sido retirada do sistema, adicionou-se peneiras moleculares (4A 8-12

    Mesh, Aldrich) clula eletroqumica, onde promoveu-se agitao por tempos

  • Material e Mtodos 27

    de 2 h e 4 h com o auxlio de um agitador magntico. Aps esses tempos, novos

    voltamogramas foram obtidos para os eletrodos de trabalho que sero descritos

    em seguida, a fim de se avaliar o sinal voltamtrico da gua.

    3.1.2 Eletrodos empregados e clula eletroqumica

    Como eletrodos de trabalho foram utilizados grafite piroltico altamente

    orientado, HOPG) SPI supplies; 1 cm x 1 cm x 2 mm e ouro monocristalino,

    Au(111) (1 cm x 1 cm x 1 mm). Como o HOPG apresenta estrutura lamelar,

    superfcies limpas de desse material so facilmente obtidas fixando o HOPG em

    uma fita adesiva e retirando uma camada do mesmo. O procedimento repetido

    sempre que se deseje superfcies novas. Depois, o HOPG era colocado em um

    suporte de politetrafluoroetileno (PTFE), que foi confeccionado embutindo-se um

    cilindro de cobre (contato eltrico) em uma haste de PTFE e possua uma tampa

    com rosca e perfurada para deixar exposta uma rea de 0,20 cm2 do HOPG.

    Para os estudos voltamtricos, utilizou-se uma clula eletroqumica

    convencional de um nico compartimento, para a qual confeccionou-se uma

    tampa com aberturas para os eletrodos de trabalho, auxiliar (placa de Pt de 1 cm

    x 1 cm x 1mm) e pseudo-referncia (fio de Pt), como pode ser visto na Figura

    3.1. Antes dos experimentos, todas as partes da clula eletroqumica foram

    lavadas com uma soluo de HNO3/H2SO4 2:1 (V/V). Aps, a clula foi lavada

    com gua destilada e desionizada, seca em estufa e transferida para a cmara

    seca. As medidas voltamtricas foram realizadas utilizando-se um

    potenciostato/galvanostato da Eco Chemie modelo Autolab/PGSTAT 30,

    interfaciado a um computador e controlado pelo programa GPES.

  • Material e Mtodos 28

    Figura 3.1 Tampa da clula eletroqumica com os eletrodos de trabalho

    embutido no suporte de PFTE, auxiliar e pseudo-referncia.

    O eletrodo de ouro monocristalino foi gentilmente cedido pelo Grupo de

    Eletroqumica Interfacial (GEqI) do IQSC-USP, liderado pelo Prof. Dr. Artur de

    Jesus Motheo. O mtodo utilizado para preparao do ouro monocristalino pode

    ser dividido em etapas distintas: crescimento do cristal, orientao

    cristalogrfica, corte e polimento, tratamento trmico e tratamento qumico da

    superfcie. O processo completo para a produo do Au(111) est

    detalhadamente descrito na literatura86. No caso do Au(111), foi utilizada a tcnica de menisco, de modo que somente a face de interesse mantivesse

    contato com o eletrlito. Nessa tcnica, o eletrodo toca o eletrlito apenas por

    um menisco, como mostrado na Figura 3.2.

  • Material e Mtodos 29

    Figura 3.2 Esquema da tcnica de menisco; apenas a face 111 entra em

    contato com o eletrlito.

    Antes de se adicionar um novo eletrlito clula, esta era retirada da

    cmara seca, lavada com gua destilada, deixada em contato com soluo de

    HNO3/H2SO4 2:1 (V/V) por 12 h, novamente lavada com gua destilada e

    desionizada e seca em estufa.

  • Material e Mtodos 30

    3.2 Eletrodeposio de ltio e glio

    3.2.1 Solues e clula eletroqumica

    Para os experimentos de eletrodeposio foi utilizado o lquido inico

    bis(trifluorometilsulfonilimida) de 1butil1metilpirrolidnio [(BMP)Tf2N] (Iolitec),

    que foi submetido ao mesmo processo de secagem descrito no tem 3.1.1. A

    Figura 3.3 apresenta e estrutura do LI utilizado.

    Figura 3.3 Estrutura qumica do (BMP)Tf2N: ction BMP+ esquerda, onde o

    grupo R o butil, e o nion Tf2N direita.

    Aps o tratamento do LI, adicionou-se cloreto de glio (GaCl3) (Aldrich)

    e bis(trifluorometilsulfonilimida) de ltio (LiTf2N) (Merck) a duas diferentes

    alquotas de LI, de modo que a concentrao final fosse 0,5 mol L-1.

    Como eletrodos de trabalho foram utilizados placas de vidro recoberto

    com ouro (Arrandee), de modo que a orientao cristalogrfica final fosse 111,

    e de grafite piroltico altamente orientado (HOPG) (GE Advanced Ceramics),

    ambas com dimenses de 12 mm x 12 mm x 1 mm. As placas de vidro recoberto

    com ouro eram submetidas a um tratamento de reduo por chama (flame

    annealing), que consistia em coloc-las em contato com uma chama de H2 por

    dois a trs minutos. O eletrodo de HOPG era preparado como descrito no tem

    3.1.2. Para os estudos eletroqumicos bsicos, utilizou-se o sistema apresentado

    na Figura 3.4. Ele consistia em uma base de PTFE com conexes eltricas para

    os eletrodos de trabalho, auxiliar (fio de Pt) e pseudo-referncia (fio de Pt).

  • Material e Mtodos 31

    Ajustava-se os eletrodos, Au(111) ou HOPG sobre a base de PTFE e colocava-

    se um anel de vedao recoberto por PTFE sobre o mesmo para evitar

    vazamento do LI e delimitar sua rea. Por fim, ajustava-se a clula eletroqumica

    (tambm confeccionada em PTFE) suportada por uma chapa retangular de ao

    inoxidvel.

    Figura 3.4 Esquerda: A) base de PTFE com conexes eltricas, B) chapa

    retangular de ao inoxidvel, C) Au(111), D) HOPG e E) clula eletroqumica.

    Direita: clula eletroqumica montada com A) eletrodo de referncia e B) contra

    eletrodo (ambos de Pt). 3.2.2 Microscopia eletrnica de varredura (MEV)

    Os eletrodepsitos de ltio e glio foram analisados ex situ por meio de

    MEV e espectrometria de energia dispersiva de raios X (EDX), uma vez que

    fornecem informaes importantes sobre a topografia, morfologia e a

    composio elementar da amostra. Para isso, o eletrodo de trabalho com o

    depsito foi retirado da cmara seca, lavado com isopropanol (99,5 %,

    gua < 0,05 %) para a remoo do lquido inico e seco. Utilizou-se um

    microscpio eletrnico de alta resoluo Carl Zeiss DSM 982 Gemini.

    A

    B

    CD

    E

    AB

  • Material e Mtodos 32

    3.2.3 Espectroscopia fotoeletrnica de raios X (XPS)

    A composio superficial dos eletrodepsitos foi analisada ex situ por

    XPS, utilizando uma fonte de raios X comercial (Fisons XR3E2-324). Os

    espectros foram coletados sob ultra-alto vcuo (10-10 mbar), usando fonte de

    radiao primria Al K (14 kV, 20 mA, 1486,6 eV). Os valores de energia em eV

    utilizam como referncia o pico C1s (C1s 285 eV).

    3.2.4 Espectrometria de massa de ons secundrios (SIMS)

    SIMS tambm foi empregada para a anlise ex situ dos filmes de ltio e

    glio. O experimento foi conduzido com um instrumento Cameca IMS usando O-

    como feixe de ons primrios com energia de 14,5 keV e corrente de 45 nA. A

    rea bombardeada foi de 250 x 250 m2 e os ons ltio e glio secundrios foram monitorados durante a anlise. Em seguida, a espessura dos filmes foi estimada

    utilizando um perfilmetro KLA-Tencor AlphaStep500.

    3.2.5 Microscopia de tunelamento (STM) in situ

    Os experimentos de STM in situ foram conduzidos no Instituto de

    Metalurgia da Universidade Tcnica de Clausthal - Alemanha - sob

    responsabilidade do Prof. Dr. Frank Endres, que gentilmente concordou em

    realizar esse trabalho em colaborao, alm de ceder os equipamentos

    necessrios para sua execuo.

    Como exposto anteriormente, a tcnica de STM consiste em aproximar

    uma ponta muito fina a uma amostra condutora e uma diferena de potencial

    aplicada entre ambos. As pontas foram confeccionadas por dissoluo a

    corrente constante (mximo 30 A) de um fio de Pt-Ir (90:10) de 0,05 mm em soluo de NaCN 4 mol L-1. O esquema de produo das pontas mostrado na

    Figura 3.5.

  • Material e Mtodos 33

    Figura 3.5 Esquema de produo das pontas do STM.

    O fio de Pt-Ir colocado ao centro do anel de Pt (Fig. 3.5 A). O conjunto

    , ento, submerso em uma soluo de NaCN 4 mol L-1 (Fig. 3.5 B), de modo

    que um menisco formado (Fig. 3.5 C). Aplicando-se uma corrente de no

    mximo 30 mA ao sistema, o fio de Pt-Ir corrodo at se romper (Fig. 3.5 D),

    obtendo-se duas pontas. A platina resistente oxidao e a adio de irdio

    torna o material mecanicamente mais resistente. Em experimentos in situ h a

    necessidade de se isolar a ponta (exceto seu final) para evitar correntes

    faradaicas. Para tal, as pontas foram submetidas a um recobrimento

    eletrofortico utilizando-se uma tinta da BASF (ZQ 84-3225 0201). Em seguida,

    as pontas foram termicamente tratadas a 100 oC por 1 h e depois a 200 oC por

    10 minutos. Desse modo, a ponta era totalmente isolada, exceto o seu final.

    Os experimentos de STM foram conduzidos com um controlador de

    STM PicoScan 2500 da Molecular Imaging, em modo feedback e em atmosfera

    inerte. A cabea do STM, confeccionada no prprio Instituto de Metalurgia,

    mostrada em detalhes na Figura 3.6. constituda por um suporte de ao

    inoxidvel (1), sobre o qual trs motores de passo (2) esto montados formando

  • Material e Mtodos 34

    ngulos de 120o. Trs parafusos de preciso micromtrica (3) so

    movimentados pelos motores via engrenagens (4). Uma base de ao inoxidvel

    (5) que suporta a clula eletroqumica (6) guiada por trs bastes de ao

    inoxidvel (7). Molas (8) fixam a base de ao (5) s cabeas hemisfricas (9)

    dos parafusos de preciso micromtrica, que movimentam a base de ao para

    cima e para baixo durante o experimento.

  • Material e Mtodos 35

    Figura 3.6 Cabea do STM: 1) suporte de ao inoxidvel, 2) motor de passo, 3)

    parafuso de preciso micromtrica, 4) engrenagem, 5) base de ao que suporta

    a clula eletroqumica, 6) clula eletroqumica, 7) basto guia, 8) mola e 9)

    cabea hemisfrica do parafuso de preciso micromtrica.

  • Material e Mtodos 36

    No orifcio ao centro da cabea do STM acopla-se o sistema de

    varredura, que mostrado em detalhe na Figura 3.7. O suporte do sistema de

    varredura um cilindro oco (1) de ao inoxidvel que acomoda o tubo

    piezoeltrico (2). O tubo colado ao soquete (3), feito de uma cermica vtrea

    (Corning MARCOR), que parafusado ao cilindro via um anel de ao inoxidvel

    (4). Do outro lado do piezotubo, um anel de cermica (MARCOR) (5) colado ao

    soquete de ao inoxidvel (6). O suporte para a ponta composto por trs

    partes: um capilar de ao inoxidvel (7) que fixado a um basto de PFTE (8)

    para isolamento. Este conjunto conectado a uma flange de ao inoxidvel (9).

    Esta flange ento parafusada no soquete (6) que est conectado ao tubo

    piezoeltrico. A flange abaixo (10) conectada flange (9) e, por fim, veda-se o

    sistema com a tampa do cilindro de ao (11).

    Figura 3.7 Esquema ( esquerda) do sistema de varredura mostrando seu

    interior: (1) cilindro de ao inoxidvel, (2) tubo piezoeltrico, (3) soquete de

    cermica (MARCOR), (4) anel de ao inixidvel, (5) anel de cermica

    (MARCOR), (6) soquete de ao inoxidvel, (7) suporte para a ponta, (8) basto

    de PFTE, (9) e (10) flanges de ao inoxidvel e (11) tampa do cilindro. Fotos dos

    sistema de varredura direita.

  • Material e Mtodos 37

    A montagem da cabea do STM e o preenchimento da clula

    eletroqumica com as solues foram realizadas em uma cmara seca (Omni-

    Lab da Vacuum Atmospheres) com umidade controlada (< 2 ppm de H2O e O2) pela passagem de argnio (pureza de 99,999%), especialmente reservada para

    a montagem da cabea de STM. A Figura 3.8 apresenta fotografias da cabea

    de STM com o sistema de varredura e a clula eletroqumica.

    Figura 3.8 Fotografias da cabea de STM contendo o sistema de varredura e a

    clula eletroqumica: (1) suporte da cabea, (2) motor de passo, (3) parafuso de

    preciso micromtrica, (4) engrenagem, (5) suporte da clula eletroqumica, (6)

    clula eletroqumica, (7) basto guia, (8) mola, (9) cabea hemisfrica do

    parafuso de preciso micromtrica e (10) sistema de varredura.

    A cabea do STM foi sempre colocada dentro de um cilindro de ao

    inoxidvel preenchido com argnio para assegurar atmosfera inerte durante os

    experimentos. O sistema era ento transferido para um laboratrio com

    temperatura controlada em 23 1 C e colocado sobre uma mesa anti-vibratria (IDE - Alemanha). O potencial do eletrodo de trabalho foi controlado por um

    potenciostato PicoStat da Molecular Imaging. Em todos os experimentos as

    imagens de STM foram obtidas varrendo-se a rea de interesse de baixo para

    cima com velocidade de varredura de 2 Hz e resoluo de 512 pixels por linha.

  • Resultados e Discusso

    38

    CAPTULO 4

    RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Influncia da gua residual na janela eletroqumica dos LIs

    Apesar de alguns LIs serem essencialmente imiscveis em gua, como

    por exemplo o (BMIm)PF6, eles podem absorver quantidades considerveis de

    gua se no mantidos sob atmosfera inerte, resultando em mudanas nas suas

    propriedades fsicas e qumicas87. Portanto, na primeira parte do presente

    trabalho avaliou-se a influncia da gua residual dos LIs na janela

    eletroqumicas de alguns pares eletrodo/LI.

    4.1.1 Tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazlio [(BMIm)BF4]

    A Figura 4.1 apresenta voltamogramas cclicos a 20 mV s-1 para um

    eletrodo de HOPG em (BMIm)BF4. Inicialmente, os experimentos voltamtricos

    foram conduzidos em atmosfera ambiente e o (BMIm)BF4 foi utilizado sem

    qualquer tipo de tratamento de secagem. No voltamograma obtido para o

    sistema sem tratamento, observa-se um pico catdico C1 em torno de 1 V

    devido ao processo de reduo da gua, uma vez que esse LI apresenta boa

    miscibilidade com gua, sucedido pela reduo irreversvel do ction orgnico,

    denotada por C3. Sweeny e Peters57 j relataram que LIs como (BMIm)BF4

    podem absorver gua atmosfrica rapidamente e sua presena afeta

    profundamente os voltamogramas cclicos obtidos com eletrodos de carbono

    vtreo.

  • Resultados e Discusso

    39

    + e- + HadsN N

    H

    + NN ..

    -2 -1 0 1 2-60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    A

    C3

    C2

    -2 -1 0 1 2-60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    E / V vs. Pt

    I / A

    C1C1

    I / A

    E / V vs. Pt

    sem tratamento com tratamento

    Figura 4.1 - Voltamogramas cclicos para