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Juventude Popular da Maia www.jpmaia.org [email protected] 2 6 | Ano XX V | Feverei ro de 2010 LIBERDADE TODOS PELA Depoimentos sobre a manifestação pela Liberdade | p. 4 A face oculta da democracia, por Carlos Pinto | p. 6 Liberdade de expressão, por Rita Magalhães e Silva | p. 7

26 O JOVEM [Fevereiro2010]

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O Jovem, jornal oficial da Juventude Popular da Maia. www.jpmaia.org

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Juventude Popular da Maia www.jpmaia.org

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Nº 26 | Ano XXV | Fevere iro de 2010

LIBERDADE

TODOS PELA

Depoimentos sobre a manifestação pela Liberdade | p. 4

A face oculta da democracia, por Carlos

Pinto | p. 6

Liberdade de expressão,

por Rita Magalhães e Silva | p. 7

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primeira página

Michael Seufert

Fernando Nobre candidato

1 - Nos últimos tempos têm chegado até nós de uma

forma preocupantemente constante, notícias, suspeitas,

insinuações, factos e todo um conjunto diverso de

informações que nos deixam alerta relativamente à

liberdade de expressão em Portugal. Não interessam

aqueles que, com o propósito de troçar com estas

preocupações, vêm argumentar que essa liberdade se

vê nas ruas e nos cafés onde os portugueses podem dizer

o que lhes apetece. A liberdade de expressão está, de

facto, ameaçada quando vemos que o poder de

influência de quem controla a máquina estatal, se faz

Tiago Loureiro Editor d’O Jovem

Editorial

ouvir, até com direito a eco

prolongado, nas redacções

de jornais ou televisões, por

força de um conjunto de

telefonemas bem feitos.

Mas surpresa não é coisa

que afecte quem vai

ouvindo estas notícias e

tenha a mínima noção da

realidade do país em que

vive. Compadrios,

influências, manobras,

Mas surpresa não é coisa que afecte quem tenha a mínima noção da realidade do país em que vive. É a mão imunda de um estado que nunca mais acaba e que em tudo marca presença manchando a decência da nossa democracia e da nossa liberdade.

Justo seria um Nobel para cada português… Se se confirmar que algumas empresas cotadas têm servido

para fazer favores políticos, ainda que à custa dos seus

accionistas, de quem lá coloca dinheiro, sendo tomadas

decisões que nada têm que ver com a boa gestão das

mesmas, já não estamos só a falar de condicionamento da

liberdade da informação.

Com este tipo de intervenções não espanta o nosso fraco

crescimento económico na última década, nem as quase

nulas perspectivas de crescimento nos próximos anos.

A competitividade de um país também passa por aqui.

João Miguel Gaspar http://cachimbodemagritte.blogspot.com/

post@s virtu@is

apontamentos

Mau tempo na Madeira

Após o avanço de Manuel Alegre, as eleições presidenciais do próximo ano continuam a ganhar forma. Numa altura em que a recandidatura de Cavaco Silva se mantém como tabu, Fernando Nobre anunciou que será candidato na corrida a Belém.

O Presidente da Juventude Popular teve oportunidade de interpelar o Governo, na figura do Ministro da Presidência, sobre as suas posições sobre a juventude, que está cada vez mais comprometida. A JP continua na linha da frente na defesa dos jovens, nomeadamente no Parlamento!

A Região Autónoma da Madeira foi assolada por violentos temporais que provocaram prejuízos materiais e humanos de elevado grau. Numa altura em que o pior parece ter passado, a JP Maia aproveita para endereçar votos de solidariedade a todos os madeirenses.

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manipulação, enfim, a mão gorda de quem manda e

acha que tudo pode – a mão imunda de um estado

que nunca mais acaba e que em tudo marca presença

– constantemente em acção manchando a decência e

a dignidade da nossa democracia e, acima de tudo,

comprometendo a nossa liberdade.

2 – De modo a não deixar passar em claro esse momento

em que vivemos, O Jovem deste mês é dedicado

especialmente à temática da liberdade em geral, e da

liberdade de expressão em particular. Aproveito para

agradecer aos convidados desta edição por terem,

amavelmente, aceite o convite que lhes foi endereçado,

tornando esta edição de um valor especial.não

constavam subidas de impostos e a nacionalização de

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JP Maia visita “Causa da Criança”

No passado dia 20 de Fevereiro, a Juventude Popular da Maia esteve presente na IPSS – Causa da Criança, em Vila Nova da Telha. Já lá tinha estado, anteriormente, no seguimento da campanha “Juntos por Um Sorriso”, na qual recolheu um conjunto de bens indispensáveis, essencialmente roupas e brinquedos, para as crianças da instituição. A IPSS – Causa da Criança é uma instituição que acolhe crianças durante um período provisório, apesar de lá viverem crianças com carácter permanente, tendo lotação máxima de 22 crianças. 2 desses lugares estão reservados a situações de urgência. As crianças acolhidas são indicadas pela Segurança Social e durante a sua estadia ocorrerá um de dois processos: reintegração da criança na família biológica ou adopção. A

Administração da instituição evidenciou o facto de que o processo de adopção é moroso, pelo que muitos dos “futuros” pais desistem deste processo e os próprios Tribunais Portugueses optam pela sua inaplicabilidade, favorecendo tentativas de acolhimento na família biológica, mesmo esta não tendo as circunstâncias imprescindíveis para

receber a criança. As instalações são adequadas e suficientes para as crianças acolhidas existindo quartos por cada 3 crianças, devidamente equipados com armários, camas, secretárias, livros, computadores e material escolar, um quarto individual, refeitório, cozinha, espaço exterior amplo, o que permite actividades desportivas e de lazer. Estes espaços estão divididos por idades em dois pisos, o que possibilitará um acompanhamento apropriado das crianças. Quanto a recursos humanos, a Causa da Criança conta com a colaboração de 20 pessoas efectivas (cozinheiras, auxiliares de cozinha e de educação, um psicólogo e educadoras) mais um conjunto de pessoas em regime de voluntariado. A instituição recebe apoios monetários da Segurança Social, do Banco Alimentar e donativos ocasionais, quer de particulares, quer de empresas públicas e privadas.

Apresentação de moções Na sexta-feira, dia 5 de Março, a Juventude Popular da Maia teve o prazer de acolher na sua sede concelhia a apresentação pública da Moção de Estratégia Global "Apostar no Norte, Ganhar Portugal!", subscrita por Vera Rodrigues, candidata à liderança da Comissão

Política Distrital do Porto da Juventude Popular. Foram ainda apresentadas as moções sectoriais subscritas por elementos da Juventude Popular da Maia. "Empreendedorismo, uma solução!", por Manuel Oliveira e

"Repensar a Organização Distrital", por Tiago Loureiro. Estes documentos foram escritos com o intuito de serem submetidos a discussão e votação no dia 6 de Março, no Congresso Distrital do Porto da Juventude Popular, em Paredes.

primeiro plano

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especial

TODOS PELA LIBERDADE

Chamar a atenção para a gravidade da situação «A liberdade de imprensa não está em perigo em Portugal. Não foi esse mote que juntou perto de 100 blogues e as mais de dez mil pessoas que assinaram a petição “Todos pela Liberdade”. Mas já teve melhores dias. Nas últimas semanas o país conheceu factos que devem preocupar todos aqueles que desejam uma comunicação social forte e independente do poder político. As manobras de bastidores, orquestradas por membros do círculo do Primeiro-ministro, colocaram em evidência que Portugal é neste momento liderado por gente sem escrúpulos. Um bando que utilizou os meios do Estado, em conluio com agentes do poder económico, para tentar silenciar jornalistas considerados hostis por José Sócrates. Pelo meio, ficamos a saber que o Procurador Geral da República mentiu e protegeu de alguma forma o poder politico, ao “matar” uma investigação à nascença. Por norma sou adverso a concentrações públicas, mas desta vez não pude ficar insensível à gravidade da situação, e juntei-me a outros bloggers no dia 11 de Fevereiro em frente à Assembleia da República. Uma iniciativa meritória, que nasceu na blogosfera e no twitter e que teve amplo destaque na agenda mediática. Valeu a pena ter participado neste movimento, que pelo menos terá servido para chamar a atenção da gravidade da situação. Infelizmente, as instituições continuam com uma imagem degradada, e não se vislumbra que a situação se altere no breve prazo. Mas ninguém poderá dizer que não sabia o que se passava.»

Nuno Gouveia http://twitter.com/gouveia

Falar e conversar em

Liberdade! «Tive receio de ficar sozinho e por momentos fiquei mesmo. Pouco depois tudo mudou, enquanto imagens virtuais iam ganhando forma humana (embora algumas já tivessem contornos dados pelo facebook ou telefone). Foi o primeiro facto relevante. Pessoalíssimo, é certo. A manifestação, ou melhor, o encontro foi tranquilo; dir-se-ia uma coisa "à direita", apesar de estar lá gente de diversas orientações. Uma coisa de amadores, pouco interessada em ser "Manif". O ambiente só foi mesmo cortado pelos berros de uma popular: "liberdade!", ou os cartazes de uns senhores que não são bloggers, nem lhes sei o nome. Muitos desrespeitaram o dress code branco e, em defesa da liberdade de expressão, ninguém ficou calado. É disso que mais me lembro: falar e ouvir. Conversar. Em liberdade.»

Pedro Prola http://twitter.com/maverick47

No passado dia 11 de Fevereiro, um conjunto

de pessoas concentrou-se em frente à

Assembleia da República em protesto

contra os recentes ataques à liberdade que ocorreram no nosso país.

“Todos pela Liberdade” foi o mote de uma manifestação que

nasceu na internet. Para marcar o

acontecimento, pedimos depoimentos a vários

dos que por lá estiveram presentes, e que

habitualmente dão a sua opinião nas redes sociais

que promoveram a iniciativa.

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especial

Manifestação em ambiente descontraído

«A 11 de Fevereiro juntou-se um grupo de pessoas em frente à Assembleia da República, para se manifestarem "Pela Liberdade". Davam assim cara a um movimento de mais de dez mil portugueses que assinaram uma petição a defender a liberdade de expressão e a pedirem às instituições para funcionarem face ao que mostrava ser a falta de respeito do governo pela liberdade de expressão. Não assinei a petição, afinal faço parte dessas instituições que se pedia que funcionassem, mas não pude deixar de - primeiro pessoalmente, depois com a Cecília Meireles para representar o Grupo Parlamentar do CDS - me juntar a tantos que ali se encontravam. O ambiente era descontraído e ao nível do que esperaríamos duma manifestação que, pelo direito a falar sem pressões, só podia ser silenciosa. Encontrei muitos amigos e conheci pessoalmente alguns dos que escrevem em blogues e twitters que sigo diariamente. Não fui o único deputado que se juntou aos manifestantes mas orgulho-me de o CDS ter sido o único partido que desceu, oficialmente, as escadas da Assembleia da República para se encontrar com os organizadores. Não nos esqueçamos que o CDS nasceu da luta contra o que nos queriam calar. Está no nosso DNA a conquista e manutenção da liberdade de expressão e manifestação.»

Michael Seufert Presidente da Juventude Popular e deputado

http://twitter.com/seufert

Primeira manifestação que nasceu das redes sociais

e dos blogues «Ao contrário do que o Dr. Mário Soares, pai da democracia portuguesa em regime de part-time, possa dizer, a verdade é que a manifestação “Todos pela Liberdade” foi um sucesso. Bom, para o observador comum, uma manifestação que reúna entre cem e duzentas pessoas dificilmente se considerará um sucesso, mas se forem atendidas as condicionantes, qualquer um concordará com a primeira frase deste texto. Em primeiro lugar, foi a primeira manifestação que nasceu das redes sociais e dos blogues, com todos os handicaps na capacidade de mobilização que lhes é característica - não havia autocarros gratuitos, querido leitor. Em segundo lugar, foi também a primeira manifestação em Portugal feita para apelar ao bom funcionamento das instituições democráticas, quando estas são tão maltratadas pelos vários agentes do regime. E não esqueçamos a petição online, que reuniu perto de dez mil assinaturas em apenas três dias. Sendo que isto já de si não é pouco, o que importa realmente é a convicção de que fizemos a coisa certa. Exercemos a nossa cidadania do melhor modo que nos foi possível, e isso, nem o Dr. Mário Soares, nem uma tropa de senadores cheios de aspas podem apagar.» Tiago Moreira Ramalho http://twitter.com/tiagomramalho

Valeu a pena! ‘Todos pela liberdade’ foi uma manifestação de indiganção perante o silêncio das instituições da República diante uma evidência grave. A publicação de despachos judiciais, proferidos no âmbito do processo Face Oculta, transcreviam diversas escutas telefónicas, implicando directamente o primeiro-ministro numa estratégia de condicionamento da liberdade de imprensa em Portugal. Foi a gota de água. José Sócrates e os seus assessores tinham já sido acusados de condicionar entrevistas, de telefonar às direcções editoriais de jornais e televisões e da utilização abusiva de empresas públicas para controlo da comunicação social. Os blogues e o twitter ferveram com a reportagem do ‘Sol’ e o copo transbordou. Da esquerda à direita, juntaram-se os protestos. Em frente à Assembleia da República concentraram-se cerca de 100 pessoas, mas, em apenas 4 dias, mais de 10mil portugueses subscreveram o manifesto. Iniciou-se a discussão do caso em sede de comissão parlamentar e, fala-se agora, duma comissão de inquérito. Valeu a pena. João Moreira Pinto http://twitter.com/joaompinto

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A face oculta da democracia

A democracia é geralmente considerada como o menos mau dos sistemas políticos. Este termo é genérico já que engloba um vasto leque de expressões derivadas do poder exercido em nome do povo. O princípio geral do exercício da democracia resume-se à célebre frase de Abraham Lincoln: “o governo do povo, pelo povo, para o povo”. No entanto, toda a dificuldade se situa na aplicação prática desta complexa afirmação. A força deste sistema político assenta na vasta adesão da população, independentemente do modo de funcionamento vigorado. Mais do que a própria democracia, é a ideia democrática que federe os povos, a impressão que somos livres das nossas escolhas, das nossas acções, que estamos dotados dos dirigentes políticos que merecemos. O imaginário democrático é de tal modo vincado, tão enraizado em nós que quando a essência de um poder se modifica, recusamos ver o que salta à vista. O imaginário democrático tem por evidência que o sistema democrático é a emanação da vontade comum e que a este título, tende naturalmente para o bem-estar da maioria, exactamente da mesma forma que o imaginário capitalista não tem dúvidas quanto ao

conceito de auto-regulação dos mercados. A essência da democracia deveria ser o progresso para todos, a igualdade, a liberdade (de expressão) e também a fraternidade, ao livre arbítrio de cada um. O problema é que a democracia contemporânea contradiz o seu próprio imaginário, já que hierarquiza e secundariza a importância do povo, na medida em que a intervenção deste é claramente limitada à designação dos seus representantes na esfera política, a qual decide depois de maneira autónoma, a forma como vai governar o país. O exercício do poder é assim delegado a um grupo restrito de pessoas, as quais têm por missão representar a maioria do povo. Esta evolução democrática afastou o povo e desacreditou a comunidade política. Basta vermos a crescente abstenção nas eleições de diversos órgãos das últimas décadas para colocarmos em causa a legitimidade democrática. Por seu turno, a classe política, tem deixado de conseguir a participação pública requerida ao exercício da democracia, muito por culpa de si própria, motivada principalmente pelos escândalos incessantes que acabam por passar incólumes à luz da justiça.

A perdulariedade do povo português tornaria a explanação de inúmeros actos passados anti-democráticos numa missão muito pouco produtiva, pelo que, vejamos um caso recente e mediático. Não é democrático um governo visado pela divulgação de escutas telefónicas querer sobrepor o segredo de justiça à própria justiça. Embora cada discussão tem a sua razão de ser e a sua importância, nenhuma pode nem deve anular a outra. Assim, é anti-democrático um governo responder sobre o conteúdo de uma questão alegando vício na forma, já que não deixa de ser uma forma de enganar e entreter as pessoas que o elegeram com um voto de confiança, pela escamoteação de um problema. Como também acreditar num sistema judicial marcadamente controlado pelo Estado, que permite a divulgação de certas escutas ou de outros meios, se estes depois acabam por não servir como instrumento de prova mediante a utilização de diversos subterfúgios legais? Como acreditar num poder que prefere discutir de onde e como é que emergiu determinada escuta a público, procurando o silenciamento do(s) mensageiro(s). Este governo deixou-nos cair num sistema democraticamente utópico, em que o problema de escutas é que as próprias escutas constituem várias ordens de problemas. Um sistema em que o melindre de um problema aparente é a apenas a aparência desse problema. Ficamos então com um suposto Estado de direito em que por uma estratégia de pressões, manipulações e tentativas de corrupção de bastidores se consegue que diversos actore s fiquem reféns de si próprios. Ganha-se assim o controlo total dos acontecimentos, por uma mera teatralização dos factos. Mais grave é quando a plateia se consegue aperceber de que a realidade afinal é toda ensaiada e programada, quando o público se torna consciente de que este entretenimento não é para o seu bem-estar mas sim para satisfazer o interesse de uma pequena comunidade política e, ainda assim, lhes bate palmas no final da peça. Afinal, grave é também a mediocridade dos espectadores que voltam a comprar os mesmos bilhetes no dia seguinte!

opinião

Carlos Pinto Vice-Presidente da Juventude Popular da Maia

Não é democrático um governo visado pela divulgação de escutas telefónicas querer sobrepor o

segredo de justiça à própria justiça. É anti-democrático um governo responder sobre o

conteúdo de uma questão alegando vício na forma.

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Liberdade de expressão

Desde o início do ano que somos confrontados com uma crise entre o poder político e a comunicação social. Muito se discutem não só as violações de direitos, liberdades e garantias das figuras públicas, mas também dos órgãos de comunicação social. A meu ver, toda esta questão conflitual anda em torno da liberdade. O que é a liberdade? Quais os seus limites e contornos? Liberdade é uma das exigências do Homem, aparece associada à dignidade da pessoa humana, logo as pessoas são árbitras, soberanas e artífices de si próprias. Sem liberdade, o Homem estaria reduzido a um mero joguete do circunstancialismo da vida. Para se ser livre, é necessária uma afirmação do “ser-se”. Não há livres no rebanho, não é livre aquele que se limita a reproduzir a opinião da massa. É livre quem tem valores, ideais, discernimento, formação, inteligência e também prudência. A prudência é fundamental na decisão que decorre da liberdade: agir ou não agir? Silêncio ou palavra? Claro que nunca esquecendo que o “non facere” é uma forma de agir. E, fugindo um pouco ao tema, será que o alheamento político da nossa sociedade insere-se nesta forma passiva de agir ou será um mero acto de negligência? A liberdade é um valor, um princípio e um direito que pressupõe bens, em concreto. Alguns desses bens são as próprias liberdades, tais como a liberdade de pensamento que só tem relevância quando exteriorizada, o que nos leva à liberdade de expressão. A liberdade de expressão é uma garantia, não só do indivíduo, mas também das entidades colectivas. Refiro-me, claramente, à comunicação social. Há quem entenda que a comunicação social, enquanto 4º poder, fugindo à tripartição clássica, é uma ameaça, pois elege as entidades políticas para bode expiatório, estando permanentemente sob suspeita de incompetência e corrupção. Eu vejo-a como um contributo.

A comunicação social é condição fundamental duma opinião pública autónoma, constituindo uma garantia substantiva da formação democrática e da democracia. O direito a informar e a sermos informados está consagrado, quer em legislação nacional, quer em legislação comunitária, sem impedimentos (censura), nem discriminações. A liberdade de expressão incita a uma democracia transparente e munida de veracidade. Porém, em Portugal, ainda corre a noção de que a “liberdade de expressão é de respeitar, desde que não incomode”, citando Francisco Teixeira da Mota, partilha-se da ideia de que os comentários a figuras públicas, principalmente políticas, têm que ser caute losos e sem excessos. Os próprios tribunais, por vezes, actuam como censores e não entendem que a liberdade de expressão é um direito fundamental estruturante da sociedade e de um Estado de Direito. Valha-nos, ao menos, um acórdão do Tribunal Constitucional que vê os trabalhos jornalísticos como expressão deste princípio, desde que sérios e

credíveis, principalmente quando incidam em assuntos de interesse público. Aliás, há o entendimento de que os limites de crítica admissível são maiores nestas situações, a não ser que se tratem de meros insultos ou juízos de valor com o intuito de ofender. A liberdade de expressão não pode admitir a calúnia e a difamação, pois isso seria matá-la. O próprio Tribunal entende que existe um consentimento tácito para a divulgação de factos relativos à vida pública das figuras públicas. Quanto a conflitos/ colisão de direitos, deve atender-se a um critério de concordância prática e não de hierarquia, avaliando a necessidade, a adequação e a proporcionalidade. Neste sentido, há casos em que a liberdade de imprensa deve prevalecer sobre o direito ao bom nome e reputação, com tolerância para juízos de valor emitidos de boa fé e assentes em factos verídicos. Noto ainda que a comunicação social é independente do poder político e do poder económico e devem ter a possibilidade de partilhar opiniões diversas com estes poderes.

opinião

Rita Magalhães e Silva Militante da Juventude Popular da Maia

A comunicação social é condição fundamental duma opinião pública autónoma, constituindo uma garantia substantiva da formação democrática e da democracia. A liberdade de expressão incita a uma democracia transparente e munida de veracidade.

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Afinal, estão a comemorar o quê?

N’ O Jovem de Janeiro impôs-se, e muito bem, o tema da Regionalização a par do debate organizado pela Juventude Popular da Maia. Ainda assim, um pedido de desculpas aos leitores d’ O Jovem pela manifesta falta de oportunidade de incluir esta opinião sobre o Centenário da República Portuguesa na edição do mês passado, a qual seria a mais apropriada devido ao início das comemorações na cidade do Porto no passado dia 31 de Janeiro. Quem me conhece sabe que talvez seja impossível distanciar-me das minhas convicções pessoais e até das posições que já muitas vezes defendi em público, mas não posso deixar de ficar indiferente a este completa palhaçada que é a comemoração de um regime que antes de mais deveria ter vergonha de si próprio. É do conhecimento público que os contribuintes portugueses (é verdade, nós outra vez!) vão desembolsar cerca de dez milhões de euros para comemorar o que, arrisco eu, aquilo que nem os próprios republicanos devem estar muito certos do que seja: a ética republicana. Mas não só. Segundo a Comissão Nacional para as comemorações do centenário, este é o ano em que se elogia todos aqueles que se bateram

pelo fim do regime opressor do desenvolvimento e da igualdade, a Monarquia. Nesses ilustres combatentes da Liberdade, encontraremos personagens tão éticas e seríssimas no respeito pelos direitos universais como Manuel Buíça, Afonso Luís da Costa e Aquilino Ribeiro - responsáveis pelo assassinato de um Chefe de Estado português; Sidónio Pais - memorável Presidente da República que desrespeitou por completo a própria Constituição republicana de 1911 que ajudou a redigir, responsável pela participação de Portugal na 1ª Guerra Mundial e que mais tarde acabaria assassinado por republicanos; General Óscar Carmona - Presidente da República responsável pela Ditadura Militar de 1928 e fantoche ao serviço de António Oliveira Salazar. Vou, para não ferir susceptibilidades, preferir não fazer referência a outros nomes que, ainda que conhecidos, são tão maus que os próprios republicanos preferem defender que estes personagens não foram nem republicanos, nem monárquicos. E até que podíamos ir por aí. Mas, mais importante ainda que estes distintos portugueses, é conseguir sintetizar numas cinco linhas o que foram

verdadeiramente cem anos dum regime que nunca foi, nem será, alvo de sufrágio universal – método de participação democrático tão honrosamente defendido pela República! Em cem anos, são mais de vinte os Chefes de Estado - só a 1ª República teve oito; quase seis dezenas de Primeiros-Ministros – uma média de mandato de um ano e meio; quarenta e um anos vividos em regime totalitário, carrasco da liberdade de expressão e da democracia; trinta e seis anos de democracia frágil, no início caracterizada por actos de terrorismo político e presentemente suspeita de atentados à liberdade de expressão; economia actual assente em pilares socialistas que conduziu a um Estado gordo de mais, alicerçado por uma máquina judicial desacreditada e uma representatividade política tudo menos representativa. Não esquecer a tendência para sermos ultrapassados consecutivamente, em termos de desenvolvimento económico, social, científico e tecnológico, por países que até 1989 estavam condenados ao socialismo e a uma política de igualdade aberrante. Embora muitos não tenham a coragem de o dizer, é isto que efectivamente estão a comemorar este ano. Este belo cenário de evolução política e humana. Alguns republicanos criticam o festejo da 1ª República, muitos criticam o festejo de todo o século republicano. Não me interessa aqui perceber se tivéssemos outro tipo de regime estaríamos melhor ou pior, o que sei é que com este não estamos, nem estaremos. Sempre defendi que este ano não deveria ser de comemoração, mas sim de reflexão. Partindo do pr incípio profundamente democrático, defendido na Constituição e apoiado por “democratas”, que estamos todos condenados a este sistema político, então podíamos pelo menos reflectir nele. Estamos satisfeitos com o actual estado das instituições democráticas, da economia, da saúde, da educação e da justiça? Estamos satisfeitos com um modelo de Chefe de Estado que só é representativo de alguns e que estará sempre condicionado na sua arbitragem pelo seu passado partidário? Afinal, estão a festejar o quê? A Ética Republicana? Tenham vergonha!

opinião

Manuel Oliveira Presidente da Juventude Popular da Maia

Quem me conhece sabe que talvez seja impossível distanciar-me das minhas convicções pessoais e até

das posições que já muitas vezes defendi em público, mas não posso deixar de ficar indiferente a

este completa palhaçada que é a comemoração de um regime que antes de mais deveria ter vergonha

de si próprio.

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