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O ESPÍRITO SANTO EM ATOS 2: UM ESTUDO SOBRE A NATUREZA E O PROPÓSITO DO PENTENCOSTES The Holy Spirit in Acts 2: Study on the Nature and Purpose of Pentencostes Érico Tadeu Xavier 1 RESUMO A questão da natureza e o propósito da atuação do Espírito Santo no contexto de Atos 2 são discutidos neste artigo para favorecer uma compreensão adequada do tema, desenvolvendo um estudo sobre “o Pentecostes” na visão do Antigo Testamento em consonância com a abordagem do Novo Testamento, descrevendo o cumprimento da profecia em seus contextos remoto e próximo; aspectos da Igreja e sua missão, incluindo fatores sobre o nascimento da igreja neotestamentária e ressaltando a perspectiva missionária do pentecostes. Tais referendos explicitam a ação soberana do Espírito, como sendo uma ação de caráter único e universal, tendo em vista esclarecer a representatividade das línguas, do vento e do fogo, tal como simbolismos do poder divino do Espírito Santo. PALAVRAS-CHAVE: Espírito Santo. Pentecostes. Missão ABSTRACT The issue of the nature and purpose of the action of the Holy Spirit in the context of Acts 2 are discussed in this article to promote a proper understanding of the topic, developing a study on “Pentecost” in a view of the Old Testament in accordance with the approach of the New Testament, describing the fulfillment of prophecy in its remote and close contexts; aspects of the Church and its mission, including factors about the birth of the New Testament church is and emphasizing the missionary perspective of Pentecost. Such referendums explicit the sovereign action of the Spirit, as an action of universal and unique character, in order to clarify the representation of languages, wind and fire as symbols of divine power of the Holy Spirit. KEYWODS: HOLY SPIRIT. PENTECOST. MISSION. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo mostrar que o batismo do Espírito Santo, o dom de línguas e a edificação da igreja, em Atos 2, foram necessários como meio e não como fim do propósito fundamental de Deus para a igreja e o mundo, pois a natureza e o propósito do pentecostes são eminentemente missionários (BOER, 1961). 1 Doutor em Teologia pelo Programa Doutoral Latino Americano - PRODOLA. Professor no Seminário Adventista Latino Americano de Teologia – SALT/IAENE.

276-1112-1-PB REVISTA TEOLOGICA

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  • O EspritO santO Em atOs 2: um EstudO sObrE a naturEza E O prOpsitO dO pEntEncOstEs

    The Holy Spirit in Acts 2: Study on the Nature and Purpose of Pentencostes

    rico Tadeu Xavier1

    ResumoA questo da natureza e o propsito da atuao do Esprito Santo no contexto de Atos 2 so discutidos neste artigo para favorecer uma compreenso adequada do tema, desenvolvendo um estudo sobre o Pentecostes na viso do Antigo Testamento em consonncia com a abordagem do Novo Testamento, descrevendo o cumprimento da profecia em seus contextos remoto e prximo; aspectos da Igreja e sua misso, incluindo fatores sobre o nascimento da igreja neotestamentria e ressaltando a perspectiva missionria do pentecostes. Tais referendos explicitam a ao soberana do Esprito, como sendo uma ao de carter nico e universal, tendo em vista esclarecer a representatividade das lnguas, do vento e do fogo, tal como simbolismos do poder divino do Esprito Santo.

    PalavRas-chave: Esprito Santo. Pentecostes. Misso

    abstRactThe issue of the nature and purpose of the action of the Holy Spirit in the context of Acts 2 are discussed in this article to promote a proper understanding of the topic, developing a study on Pentecost in a view of the Old Testament in accordance with the approach of the New Testament, describing the fulfillment of prophecy in its remote and close contexts; aspects of the Church and its mission, including factors about the birth of the New Testament church is and emphasizing the missionary perspective of Pentecost. Such referendums explicit the sovereign action of the Spirit, as an action of universal and unique character, in order to clarify the representation of languages, wind and fire as symbols of divine power of the Holy Spirit.

    Keywods: holy sPiRit. Pentecost. mission.

    intRoduo

    O presente artigo tem como objetivo mostrar que o batismo do Esprito Santo, o dom de lnguas e a edificao da igreja, em Atos 2, foram necessrios como meio e no como fim do propsito fundamental de Deus para a igreja e o mundo, pois a natureza e o propsito do pentecostes so eminentemente missionrios (BOER, 1961).

    1 Doutor em Teologia pelo Programa Doutoral Latino Americano - PRODOLA. Professor no Seminrio Adventista Latino Americano de Teologia SALT/IAENE.

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    A Bblia Sagrada (1999), em Lucas, preparando o cenrio para apresent-lo desta forma diz em Atos 2. 5: Ora, estavam habitando2 em Jerusalm judeus, homens piedosos, vindos de todas as naes debaixo do cu.

    Antes de analisar o pentecostes propriamente dito, ser apresentado um panorama geral da festa, incluindo a sua finalidade e o que ela representava, ressaltando aspectos contextuais relevantes no Antigo e Novo Testamento bblico.

    o Pentecostes no antigo testamento

    No livro de Levtico captulo 23, acham-se registradas as festas e santas convocaes ordenadas pelo Senhor. So sete ao todo. Trs delas so as grandes festas do ano a pscoa, o pentecostes, e a festa dos tabernculos. Sobre as trs festas, A Bblia Sagrada (1969) declara:

    Trs vezes ao ano todo varo entre ti aparecer perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher, na festa dos Pes asmos, e na festa das semanas, e na festa dos tabernculos. Porm, no aparecer vazio perante o Senhor (Dt 16:16).3

    Alm da pscoa, do pentecostes, da festa dos tabernculos e do dia da expiao, havia trs outras, isto , a festa das trombetas, que tinha lugar no primeiro dia do stimo ms, a festa dos pes asmos e a festa das primcias (Lv 23:24, 6, 9-14; Ex 12:17 e Nm 28:17).

    As duas ltimas mencionadas celebravam-se conjuntamente com a observncia da pscoa, mas so positivamente indicadas como distintas daquela (Ex 12:12, 15 e 17; Nm 28:16-17; Lv 23:9-14).

    A pscoa era observada no dcimo quarto dia do primeiro ms, a festa dos pes asmos comeava no dcimo quinto dia do mesmo ms, e os primeiros frutos eram movidos no dia dezesseis (Lv 23:5, 6 e 11). As trs primeiras festas vinham assim no primeiro ms do ano. As ltimas trs no stimo ms: a festa das trombetas no primeiro dia, o dia da expiao, no dcimo dia, e a festa dos tabernculos, no dcimo quinto (Lv 23:24, 27 e 39). A de pentecostes vinha entre esses dois grupos de festas, cinquenta dias a contar do dia seguinte do sbado, o quer dizer o dia dezesseis de abib, o primeiro ms. Isso traria o pentecostes a ltima parte do terceiro ms do ano judaico, ou nosso maio ou junho (Lv 23:15-16).

    2 O termo habitando significa hospedados no original.3 As duas palavras utilizadas para designar festas e santas convocaes diferem de maneira

    significativa em sua significao. Hag, que se aplica especialmente s trs festas mencionadas a cima, quer dizer uma ocasio de regozijo, uma festa. Moadeem indica de preferncia ocasies designadas, observncias, ou reunies solenes. Um exemplo seria o Dia da Expiao, que no era uma festa em qualquer sentido da palavra, mas uma santa convocao (Lv 23:26-32).

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    O Pentecostes vinha cinquenta dias depois da apresentao do molho movido no dia 16 de abib. Na Bblia Sagrada (1999), encontra-se: Daquele dia contareis cinquenta dias: ento oferecereis nova oferta de manjares ao Senhor. Das vossas habitaes trareis dois pes de movimento: de duas dzimas de farinha sero, levedados se cozero: primcias so do Senhor (Lv 23:16-17).

    Como era apresentado o molho movido no princpio da colheita, antes que coisa alguma da nova produo fosse usada, assim vinha o pentecostes ao fim da ceifa de todo gro, no somente da cevada, como no caso do molho movido, representando o jubiloso reconhecimento por parte de Israel, de sua dependncia de Deus como doador de todas as boas ddivas. Desta vez no era molho que se apresentava, mas dois pes de farinha movidos, cozidos com fermento, juntamente com sete cordeiros sem mancha, de um ano, e um novilho, e dois carneiros (Lv 23:17-18). Isto era acompanhado de um bode para a expiao do pecado, e dois cordeiros de um ano por sacrifcio pacfico (Lv 23:19).

    Na celebrao da pscoa, era particularmente recomendado que no se devia comer nem ter nenhum fermento. No pentecostes deviam-se apresentar dois pes, e se recomendava: levedados se cozero (Lv 23:17). O molho movido Cristo as primcias. Ele era sem pecado. O po no criao imediata de Deus, em parte obra do homem. imperfeita, misturada com fermento. Mas aceita. Movia-se perante o Senhor, com os dois cordeiros: santos sero ao Senhor, para o uso do sacerdote (Lv 23:20).

    O Pentecostes simboliza o derramamento do Esprito Santo. Como os pes se ofereciam cinquenta dias depois do molho movido ser apresentado, assim havia justamente cinquenta dias entre a ressurreio de Cristo, e o derramamento do Esprito no pentecostes (At 2:1-4). Quarenta desses dias, Cristo passou na Terra instruindo e ajudando os discpulos (At 1:3). Depois, ascendeu ao Cu, e por dez dias os onze discpulos continuaram em orao e splicas at se cumprir o dia de pentecostes. Com este, veio a plenitude do Esprito.

    PRoPsitos do Pentecostes de atos 2

    No difcil percebermos que o relato do Pentecostes por Lucas teve dois propsitos fundamentais, sendo que o primeiro mencionado para balizar e dar respaldo ao segundo. O primeiro propsito trata do contexto prximo e remoto da profecia bblica e seu primeiro cumprimento. O segundo tem a ver com a inaugurao da igreja neotestamentria e sua misso no mundo.

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    a PRofecia e seu cumPRimento em atos 2 (contexto Remoto)

    Dentre as passagens bblicas do Antigo Testamento que profetizam o derramamento do Esprito Santo em Atos 2, a mais conhecida a de Joel 2:28-32, justamente porque a ela que Pedro faz meno na primeira parte de seu discurso em Atos 2:14-21, para explicar o pentecostes do Esprito aos que simplesmente no o entenderam ou zombaram dos que falavam em outras lnguas, chamando-os de embriagados.

    Em consonncia com o exposto White (1990, p. 40) diz que

    Os sacerdotes resolvidos a atribuir o poder miraculoso dos discpulos a alguma causa natural, declararam estarem eles embriagados por terem bebido demais do vinho novo preparado para o banquete. Alguns dos mais ignorantes dentre o povo creram na acusao, mas os mais inteligentes sabiam que isso era falso; e os que compreendiam as diferentes lnguas testificavam da correo com que eram usadas pelos discpulos.

    Utilizando o texto da Bblia Sagrada (1999), no livro de Joel, Pedro diz:

    Ento se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Vares judeus e todos os habitantes de Jerusalm, tomais conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens no esto embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre o que foi dito por intermdio do profeta Joel: E acontecer nos ltimos dias, diz o Senhor, que derramarei o Meu Esprito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizaro, vossos jovens tero vises, e sonharo vossos velhos; at sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do Meu Esprito naqueles dias, e profetizaro. Mostrarei prodgios em cima no cu e sinais embaixo na terra; sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converter em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecer que todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo. (At 2:14-21).

    So evidentes algumas semelhanas entre a passagem de Joel 2:28-32 e a de Atos 2:14-21. Por exemplo: nos dois casos o Senhor derrama o Esprito Santo sobre a comunidade reunida de Israel. No pentecostes os judeus da Disperso estavam reunidos em um s lugar. Em seu discurso, Pedro afirma que aps Jesus ressuscitar dos mortos, Ele foi exaltado direita de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Esprito Santo, derramou (evxe,ceen ) isto que vedes e ouvis (At 2:33). O verbo evxe,ceen vem de evkce,w (derramar) e o mesmo usado pela LXX na traduo de Eu derramarei de Joel 2:28-32.

    Pedro se utilizou da profecia de Joel, e no da de outro profeta do Antigo Testamento, porque em Joel a profecia acerca do derramamento do Esprito Santo uma das mais completas do AT.

    A citao de Pedro segue a LXX, mas com algumas pequenas alteraes para adaptar a profecia ao seu contexto. Marshall (1985), em seu comentrio de Atos, alista quatro temas importantes da profecia de Joel em Atos 2.

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    O primeiro tema da profecia, e o principal, segundo Marshall, que Deus est para derramar o Seu Esprito sobre todos os povos, isto , sobre todos os tipos de pessoas (judeus e gentios), e no apenas sobre os profetas, reis e sacerdotes, como nos relatos do Antigo Testamento.

    Um segundo elemento da profecia a ocorrncia de sinais csmicos do tipo que se associa com os quadros apocalpticos do fim do mundo (Ap 6.12). Aqui, podemos notar que Pedro alterou a expresso de Joel: prodgios no cu e na terra, para prodgios em cima no cu e sinais embaixo na terra. Os sinais seriam provavelmente o dom de lnguas e os vrios milagres de cura que logo passariam a ser narrados. O que dizer, porm, dos prodgios? Se no aceitarmos que a referncia diz respeito aos sinais csmicos que acompanharam a crucificao (lc 23.44-45), ento teremos que entender que Pedro antev os sinais que anunciaro o fim do mundo. Estes ainda so futuros e pertencem ao fim dos ltimos dias, e no ao comeo deles, que estava se realizando.

    O terceiro elemento na profecia de Joel o evento do qual estes sinais so a prefigurao. Para Joel, claro, o Senhor era o prprio Jav. Para Pedro e Lucas surge a pergunta: Senhor, aqui, no significa implicitamente Jesus? Isto porque em Atos 2:36 Jesus ser declarado Senhor.

    Em quarto lugar, a profecia de Joel termina com uma promessa no sentido de que aquele que invocar o nome deste Senhor, isto , apelar a Ele, pedindo socorro, ser salvo. Para os cristos, certamente, se tratava de procurar em Jesus a salvao (cf. Em 10:13,14; 1Co 1:2). Reconhece-se que, se Pedro citou o texto em hebraico, haveria clara referncia a Jav, e, portanto, a aplicao a Jesus ficaria clara somente queles que ouviam ou liam o texto em grego (MARSHAL, 1985).

    a PRofecia e seu cumPRimento em atos 2 (contexto PRximo)

    Na concepo de Barcley (1981), Joo Batista antecipou de modo vvido o que aconteceria em Atos 2. Lucas relata em seu Evangelho que Joo pregava assim: Eu, na verdade, vos batizo com gua, mas vem o que mais poderoso que eu, do qual no sou digno de desatar-lhe as correias das sandlias; Ele vos batizar com o Esprito Santo e com fogo (Lc 3.16; cf Mt 3.11). Para o Autor, a palavra fogo nesta passagem refere-se ao pentecostes, mas tambm ao juzo final.

    Mais tarde, no final de seu Evangelho, Lucas volta a tratar daquela mesma promessa, agora dita pelo prprio Senhor Jesus. Eis que envio sobre vs a promessa de Meu Pai; permanecei, pois, na cidade, at que do alto sejais revestidos de poder (Lc 24.49). E o Cristo exaltado derramou o Esprito Santo prometido que Ele recebeu de Deus Pai (At 2.33).

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    Contudo, o contexto mais prximo que se pode ter do Pentecostes est exatamente no captulo 1 do segundo livro de Lucas:

    E, comendo (Jesus) com eles (Seus discpulos), determinou-lhes que no se ausentassem de Jerusalm, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque Joo, na verdade, batizou com gua, mas voz sereis batizados com o Esprito Santo, no muito depois destes dias. Ento, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, ser este tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: No vos compete conhecer tempos ou pocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre voz o Esprito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm como em toda a Judia e Samaria a at aos confins da terra (At 1:4-8).

    Jesus ordenou aos Seus discpulos que no se ausentassem de Jerusalm enquanto no recebessem o batismo do Esprito. S podemos entender adequadamente esta ordem luz de seu contexto histrico. Aps a Sua ressurreio, Jesus instruiu os discpulos a retornarem Galilia (Mt 28.10; Mc 16.7). E eles prontamente o fizeram, por duas razes. Em primeiro lugar, eles teriam a oportunidade e v-lo novamente na Galilia, segundo prometera (Mc 14.28). Em segundo lugar, eles no estavam nem um pouco interessados em permanecer em Jerusalm, o lugar onde os judeus mataram Jesus e que eles, os discpulos, tambm estariam correndo perigo de morte.

    Jerusalm, o lugar onde Jesus concluiu seu ministrio terreno, seria agora o ponto de partida de uma nova era. Dali, no dia de Pentecostes, Ele enviaria a Sua igreja como primcias e testemunha de tudo o que Ele disse e fez, isto , que em seu nome se pregasse arrependimento para remisso de pecados a todas as naes, comeando de Jerusalm (Lc 24:47).

    Por isso, mais tarde, logo aps a ascenso, os discpulos fizeram imediatamente o que Jesus mandou. Retornaram do Monte das Oliveiras para Jerusalm, e quando ali entraram subiram ao cenculo, local onde o Senhor celebrou a pscoa. Lucas diz que no cenculo Todos estes (os onze, At 1:13) perseveraram unnimes em orao, com as mulheres, com Maria, me de Jesus, e com os irmos Dele (At 1:14). Certamente havia entre eles uma grande expectativa naquilo que estava para acontecer (Marshal, 1977).

    a igReja e sua misso

    De acordo a perspectiva da misso a cumprir-se pela Igreja, assim como a viso missionria apresentada por ocasio do pentecostes, so descritas a seguir a inaugurao da igreja do Novo Testamento, com as probabilidades visualizadas pelo pentecostes e os aspectos simblicos das lnguas, do vento e do fogo.

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    o nascimento da igReja neotestamentRia

    O tempo entre a ascenso de Jesus e a espera dos discpulos para o derramamento do Esprito Santo foi curto, de apenas dez dias. Nas palavras de Jesus, o Pentecostes ocorreria no muito depois destes dias (At 1:5).

    O contexto da inaugurao da igreja neotestamentria no poderia ser outro. Estavam presentes em Jerusalm judeus piedosos vindos de todas as naes debaixo do cu (At 2:5).

    Era impossvel para a maioria dos judeus comparecerem a todos os trs festivais a cada ano, visto que eles estavam amplamente dispersos pelo mundo. No entanto, um nmero considervel vinha a Jerusalm para adorao nas trs ocasies. Uma vez que a viagem pelo Mediterrneo era mais segura ao final da primavera, quando o Pentecostes era celebrado, esta festa normalmente trazia muita gente para a cidade de Jerusalm. Sua populao, que normalmente era de cinquenta mil habitantes, chegava a quase um milho nesta poca do ano.

    Lucas relaciona, em Atos 2:9-11, quinze naes do mundo antigo. Estavam pessoas das mais diversas origens: partos, medos, elamitas, capadcios, do Ponto, da sia, da Frigia, da Panflia, do Egito, de partes da Lbia, Cirene, Roma, e ainda cretenses e rabes. E assim, No dia de Pentecostes, Cristo, atravs do poder do Esprito Santo, abre as portas e envia os discpulos para o mundo (BARRO, 2002, p. 111), cumprindo-se o que se l em Atos 1:8, que eles receberiam o poder e iriam atuar como testemunhas para a disseminao da palavra.

    QuadRo1: naes demonstRadas no Pentecostes

    O quadro a seguir ressalta as naes demonstradas no pentecostes:

    Povos Caractersticas

    Partos

    Regio sudeste do Mar Cspio, que nos tempos do Novo Testamento alcanava at o Rio Eufrates. Os partos eram os sucessores dos antigos persas e tornaram-se adversrios dos romanos.

    Medos Povo indo-europeu que habitava a rea ao sudoeste do Mar Cspio.

    ElamitasPovo que habitava Elam, o distrito ao norte do Golfo Prsico, prximo parte inferior do Rio Tigre e ao sul da regio dos medos.

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    Judia A rea na qual se encontrava Jerusalm.

    Capadcia Um territrio na parte leste da sia Menor, ao sul de Ponto e oeste da Armnia.

    PontoEra, originalmente, o nome do Mar Negro, mas veio a designar a rea da fronteira deste mar na parte nordeste da sia Menor.

    sia Era a provncia romana da sia Menor, formada em 133 a.C.

    Frigia Era a maior rea no centro da sia Menor.

    Panflia Era um distrito costeiro na regio sul da sia Menor, a leste da Lcia e oeste da Cilcia, ao sul da Psdia.

    Egito Um antigo pas no continente africano, lar dos antigos faras.

    Partes da Lbia e Cirene

    Era um territrio na costa norte da frica, cuja capital era Cirene.

    Roma Este o nome de uma cidade e no de um territrio, o nico local que no estava na rea leste do Mediterrneo.

    Cretenses e rabes

    Do oeste (habitantes da ilha de Creta) e do leste (povos do deserto da Sria, a oeste da Mesopotmia e leste de Orontes, e da pennsula limitada pelo Golfo Prsico, Oceano ndico e Mar Vermelho).

    Fonte: Adaptado de BARRO (2002, p. 111).

    No se sabe ao certo porque Lucas omite em sua lista as naes que obviamente deveriam ser mencionadas, como Grcia, Macednia e Chipre. Contudo, a inteno primordial do autor est bem evidente, isto , enfatizar que as boas novas transcendem as barreiras lingsticas e que aqueles representantes das naes certamente voltariam para suas terras anunciando os efeitos poderosos de Deus.

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    a PeRsPectiva missionRia do Pentecostes

    O Pentecostes o ponto alto da sequncia de eventos relacionados morte, ressurreio e ascenso de Jesus. por isso que para Lucas o Pentecostes possui um significado prtico e dinmico, traduzido em termos de nascimento e misso da igreja neotestamentria.

    Lucas apresenta o pentecostes como o incio da misso mundial da Igreja, visto que igreja e misso so partes inseparveis na mente do Esprito. Por isso, a implementao do programa de Atos 1.8 dependia do Pentecostes. Aqueles que testificaram os efeitos do derramamento do Esprito Santo e ouviram o evangelho pregado por Pedro, representavam todas as naes debaixo do cu (At 2:5). E a lista, como j vimos, inclua um vasto panorama das naes do Mediterrneo oriental (At 2:9-11).

    O carter missiolgico de Atos 2 facilmente percebido pela importncia que Lucas d ao Pentecostes. O Pentecostes est no comeo de um novo livro escrito por ele e no no final de sua primeira obra. No seria exagero dizer que pela posio do Pentecostes em Atos, Lucas atribui a ele um valor e importncia semelhantes ao nascimento de Cristo no incio de seu Evangelho, ou mesmo a algo como o relato da criao no incio de Gnesis. Concordamos com Kistemaker (1990, p.90), quando diz: Depois da obra da criao de Deus e a encarnao do Filho de Deus, a descida do Esprito Santo no Pentecostes o terceiro maior ato divino. Tal afirmao corrobora para uma compreenso adequada do evento.

    lnguas, vento e fogo

    Lucas deixa claro que os galileus4 (no caso os apstolos e outros que estavam na casa) de Atos 2.7 falavam as lnguas das naes presentes naquela festa (At 2:6-11). Atos 2 apresenta a enorme diferena entre o verdadeiro dom de lnguas manifestado entre os discpulos de Jesus e o falso dom de lnguas defendido pelos pentecostais de hoje.

    A concesso do dom de lnguas relatada em Atos 2 foi a maravilhosa capacitao dos discpulos para cumprirem a ordem de ir e pregar o evangelho a todo o mundo (Mt.28:19). O grande desafio era o seguinte: como homens simples (os discpulos) poderiam pregar o evangelho para pessoas de diferentes nacionalidades, reunidas para a festa de pentecostes?

    4 Um estudo interessante do termo galileus em Atos 2.7 pode ser encontrado em C.S.Mann, Pentecosts in Acts. In: MUNCK, Johannes (ed.). Anchor Bible: The Acts of the Apostles. New York: Doubleday & Co., 1967, p. 271-275

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    White (1990, p. 39, 40), responde ao dizer que:

    Durante a disperso, os judeus tinham sido espalhados por quase todas as partes do mundo habitado, e em seu exlio tinham aprendido a falar vrias lnguas. Muitos desses judeus estavam, nessa ocasio, em Jerusalm assistindo s festas religiosas que ento se realizavam. Cada lngua conhecida estava por eles representada. Esta divergncia de lnguas teria sido um grande embarao proclamao do evangelho; Deus, portanto, de maneira miraculosa, supriu a deficincia dos Apstolos. O Esprito Santo fez por eles o que no teriam podido fazer por si mesmo em toda uma existncia.

    Concordando com o exposto Nichol (2001, p. 141), comenta que:

    Para a festa de pentecostes tinham se reunido em Jerusalm, peregrinos dos quatro pontos cardeais... Estes judeus da dispora entendiam suficientemente o hebraico... mas possivelmente no estavam em condies de entender o arameu idioma cotidiano dos discpulos.

    Note que essas outras lnguas no eram estranhas, pois os representantes dos vrios idiomas, ali presentes, entendiam perfeitamente o que os discpulos diziam: Todos os temos ouvido em nossas prprias lnguas... (At 2:11). Esse o verdadeiro dom de lnguas. Outro detalhe importante que, em Atos 2, a palavra grega para lnguas glw/ssa. Ela tambm encontrada em Atos 10 e 19, com o significado de lnguas de naes.

    Em Atos 2:6 mencionada a confuso das pessoas, ao que tudo indica, buscando ao discpulo que estava falando o idioma que lhes era conhecido. E, ao perceber que os galileus, de fato, estavam falando em vrios idiomas, a multido ficou maravilhada (At 2:7). O fato de os onze discpulos terem se colocado em p, quando Pedro comeou a explicar o fenmeno, provavelmente em aramaico (associando-o a profecia de Joel 2), evidencia que estavam traduzindo as palavras de Pedro para os diversos idiomas ali representados. Alm disso, ao final do sermo as pessoas perguntaram a Pedro e aos demais apstolos: Que faremos irmos? (At 2:37). Foi Pedro quem pregou. Por que ento os outros apstolos tiveram que responder pergunta da multido? Cada grupo lingustico, naturalmente, perguntou ao apstolo que estava traduzindo o sermo para o seu idioma.

    Em sua sabedoria, Deus viu que aquele era o momento oportuno para levar o evangelho a vrias naes, e concedeu o dom necessrio no momento certo. Logo, o dom de lnguas foi concedido com um propsito evangelstico (At 2:37-39), Pois para White (1990, p. 40, 48), os discpulos

    agora podiam proclamar as verdades do evangelho por toda a parte, falando com perfeio a lngua daqueles por quem trabalhavam... Da por diante, a linguagem dos discpulos era pura, simples e acurada, falassem eles no idioma materno, ou numa lngua estrangeira... As boas-novas de um Salvador ressuscitado foram levadas at as mais longnquas partes do mundo habitado.

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    De acordo com Gonzales (1986, p. 156), Sons e enunciaes ininteligveis sempre foram caractersticas do paganismo, e hoje so comuns nas reunies espritas, nos candombls e centros umbandistas. Ali so faladas tambm lnguas estranhas.

    Para Xavier (2011), ao contrrio do que aconteceu no Pentecostes (quase trs mil pessoas convertidas) de acordo com Atos2:41, as chamadas lnguas estranhas dos pentecostais no tm nenhum fim evangelstico, pois so faladas entre os prprios crentes de uma mesma nacionalidade.

    Quanto natureza, propsito e contedo das lnguas faladas em Atos 2 importante observar Marshal (2000, p. 357), afirmando que a histria ensina que lnguas humanas inteligveis so significativas, no as lnguas ininteligveis como as frequentemente encontradas na glossolalia moderna ou como as que usualmente pensam-se terem sido faladas em Corinto. Considerando ainda que o propsito principal dos dons do Esprito concedidos igreja era a misso, e no especificamente a edificao particular da igreja ou dos seus membros individuais.

    E qual o significado do vento e do fogo em Atos 2? O vento simboliza o Esprito Santo. O som do vento denota poder celestial e seu aparecimento repentino revela a inaugurao de algo sobrenatural.

    O fogo era o cumprimento da descrio de Joo Batista do poder de Jesus: Ele vos batizar com o Esprito Santo e com fogo (Mt 3:11;Lc 3:16). No Antigo Testamento o fogo frequentemente um smbolo da presena de Deus para indicar santidade, juzo e graa (Ex 3:2-5; 1 Rs 18:38; 2 Rs 2:11). Em Atos 2 o fogo se dividiu em lnguas de fogo que pousaram sobre cada um dos crentes presentes na casa. Em decorrncia disto eles falaram em outras lnguas.

    Notemos que Lucas tem o cuidado de observar que no foram simplesmente vento e fogo que invadiram a casa, mas sim o Esprito Santo como vento e fogo. Esta foi a maneira que Lucas encontrou para dizer que o que aconteceu naquele dia no tinha nada a ver com fenmenos meramente naturais.

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    PRinciPais caRacteRsticas do Pentecostes

    H pelo menos trs caractersticas do Pentecostes de Atos 2 que podem ser destacadas:

    ao sobeRana do esPRito

    Lucas relata nos quatro primeiros versculos de Atos 2 como o Esprito Santo atuou soberanamente naquele dia, em fragrante contraste com a passividade dos que estavam reunidos no mesmo lugar(At 2:1). Diz que de repente, veio do cu um som , e encheu toda casa onde estavam assentados (At 2:2, grifos nossos). E apareceram, distribudas entre eles, lnguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles (At 2:3, grifos nossos). Todos ficaram cheios do Esprito Santo e passaram a falar em outras lnguas, segundo o Esprito lhes concedia que falassem (At 2:4, grifos nossos). Nesta ao sobrenatural do Esprito Santo est evidente o carter sobrenatural do Pentecostes quando o Esprito vem do cu e entra na casa com um som repentino como o vento impetuoso e lnguas de fogo que pousavam sobre cada um dos que ali estavam, ficando todos cheios do Esprito e passando a falar em outras lnguas, segundo a concesso do prprio Esprito Santo.

    O dom das lnguas em Atos 2 nos faz relembrar o ensino de Paulo em 1 Corntios 12:11? Mas um s e o mesmo Esprito realiza todas estas cousas, distribuindo-as como lhe apraz, a cada um, individualmente.5

    ao nica na histRia

    A segunda coisa que aprendemos em Atos 2 que o Pentecostes foi um ato nico na histria da humanidade. Naturalmente este um ponto controvertido, visto que as igrejas histricas o defendem mas as igrejas carismticas o rejeitam terminantemente. Ao procurar uma definio equilibrada a esse respeito, acreditamos que Pierson; Stott, Bruner & Ladd (1986) fazem uma abordagem adequada ao afirmarem que alguns estudiosos falam de um Pentecostes samaritano e de um Pentecostes gentlicoque sucedeu o Pentecostes de Jerusalm. No podemos fazer o mesmo de modo

    5 George E. Laad , Teologia do Novo Testamento.2 ed. (Rio de Janeiro: Juerp, 1986), p. 327, utiliza este mesmo captulo (1 Co 12) para tecer um comentrio importante do significado teolgico do batismo com o Esprito em comparao ao Pentecostes de Atos 2. Diz ele: O significado teolgico do batismo com o Esprito no explicado em parte alguma de Atos,e h apenas uma declarao, em todo o Novo Testamento, neste sentido.Embora isto seja encontrado em Paulo,as vrias extenses do Pentecostes, relatadas em Atos, podem ser compreendidas luz desta afirmao: Pois em um s Esprito fomos todos ns batizados em um s corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos,quer livres; e a todos ns foi dado beber de um s Esprito (1 Co 12.13). O batismo com o Esprito o ato do Esprito Santo reunindo,em uma unidade espiritual, pessoas de diferentes origens raciais e formao social,a fim de que formem o corpo de Cristo a evkklhsi,a .

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    nenhum, claro. O primeiro Pentecostes, quando o Esprito foi derramado sobre os crentes, foi o nico. No entanto, existe um sentido, segundo o qual, estes termos esto corretos.

    O Esprito veio sobre a igreja de Jerusalm para prepar-la e capacit-la para a sua misso, e a preparou para os prximos passos. O Esprito do Cristo ressurreto continuava a liderar a sua igreja para fora dos limites de Jerusalm e da sua familiar cultura judaica em direo a outros povos, lugares e culturas at aos confins da terra.

    ao univeRsal

    Um terceiro ponto que gostaramos de destacar o carter universal do Pentecostes. Percebemos facilmente a inteno de Deus ao enviar o Esprito Santo numa ocasio em que estavam habitando em Jerusalm judeus, homens piedosos, vindos de todas as naes debaixo do cu (At 2:5).

    Entre os judeus vindos de todas as naes havia tambm proslitos (At 2.11). Mas isto no tudo. O carter universal do Pentecostes fica ainda mais evidente no trecho do discurso de Pedro que diz: Pois para vs outros a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda esto longe, isto , para quantos O Senhor, nosso Deus, chamar (At :.39; cf. Jl 2:32).

    No sabemos at onde Pedro entendeu que a profecia de Joel prometia este dom ou batismo do Esprito todos os crentes. Se tomarmos isoladamente o texto de Atos 10, poderemos concluir que foi somente aps aquela experincia em Jope e na casa de Cornlio que Pedro e a igreja de Jerusalm entenderam que tambm aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida (At 11:18).6 Contudo, recordemos que em seu discurso Pedro cita Joel, dizendo: E acontecer que todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo (At 2:21). No esqueamos que os proslitos de Atos 2:11 eram gentios.

    Para Stott & Kuiper (1986), a passagem citada a pouco de Atos 2:39 tambm parece lanar uma luz sobre a concepo universal de Pedro. Uma referncia aos gentios por Pedro altamente provvel, tendo em vista a maneira rabnica de entender a frase em Isaas 57:19 (cf. Ef 2:13,17).

    Na verdade, na concepo de Ladd (1986, p. 327):

    os primitivos cristos no compreenderam de imediato que era a sua misso proclamar o evangelho em todo o mundo. Eles permaneceram em Jerusalm, e a misso mundial no comeou seno quando a perseguio expulsou os elenistas para fora da capital. De qualquer forma, Lucas, que era gentio, tinha em mente o evangelho para todos os povos quando escreveu Atos 2.

    6 interessante notar que em sua justificativa perante a igreja de Jerusalm em Atos 11 Pedro menciona o Pentecostes de Atos 2 para convencer seus ouvintes.Veja Atos 11.15-18( Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1976), p. 59-61.

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    consideRaes finais

    O pentecostes de Atos 2, no verdadeiro sentido do termo, foi um ato nico na histria. No foi o fim, mas o incio de uma nova era. A era do Esprito Santo. White (1990, p. 37), comenta que: Durante a era patriarcal a influncia do Esprito Santo tinha sido muitas vezes revelada de maneira muito notvel, mas nunca em Sua plenitude.

    A mesma autora diz que Antes de deixar os discpulos, Cristo soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Esprito Santo (So Joo 20:22). E continuou: Eis que sobre vs envio a promessa de Meu Pai (So Lucas 24:49). Somente depois da ascenso, porm, foi o dom recebido em sua plenitude. Apenas quando os discpulos se renderam plenamente Sua operao em f e splicas, foi derramado sobre eles o Esprito Santo. Ento os bens do Cu foram concedidos aos seguidores de Cristo em sentido especial (WHITE, 1990, p. 327).

    Favorecendo a compreenso do tema, Xavier (2006, p. 66), prope que o Pentecostes assinalou o incio da dispensao do Esprito Santo mediante Sua instalao como administrador da igreja em todas as coisas. Quando Jesus ascendeu ao cu, entregou por inteiro a administrao de Sua igreja ao Esprito Santo, at o Seu prprio retorno em glria.

    E aquele comeo no poderia ser mais extraordinrio. Quer seja pela maneira como o Esprito se manifestou; quer seja pelo resultado daquela manifestao. Dos que ouviram a pregao do evangelho naquele dia, trs mil foram salvos.

    O propsito fundamental do Pentecostes de Atos 2 foi a formao de uma igreja missionria, a comunidade dos chamados para fora. Em Atos, a igreja primitiva no viveria o mito da vida espiritual interior e individual ou narcisismo eclesistico. A comunidade adoradora e missionria de Atos estaria voltada para fora de si mesma.

    A forma como os cristos primitivos compreenderam o Pentecostes atesta um fato bsico. Sem o Esprito Santo no h proclamao possvel e eficaz do evangelho. No h nem mesmo evangelhos, nem vida em Cristo. Antes do Pentecostes os apstolos de Jesus eram apenas testemunhas de Sua ressurreio no sentido passivo do termo. A partir do Pentecostes eles, e a igreja como um todo, abalariam o mundo com o testemunho entusiasticamente vibrante de que Jesus concede vida a todos os que nEle crerem. A igreja empurrada ao mundo, descobrindo de maneira clara que verdade para o mundo, convencida de que O Esprito no foi concedido to somente para seu deleite pessoal, mas principalmente para capacit-la a proclamar que Deus amou o mundo de tal maneira que agora lhes possibilitar a vida em Jesus.

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    O Pentecostes contempla a criao de um povo missionrio formado por homens e mulheres que amam verdadeiramente a Jesus Cristo. O sacerdcio universal dos crentes comea no Pentecostes. E a partir daquele dia todos ns fazemos parte de uma mesma misso. A misso de proclamar, pelo poder e presena do Esprito Santo, as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, a saber, Jesus, a esperana da glria.

    RefeRncias

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