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2 a Edição Revista, atualizada e ampliada

2a atualizada Edição e ampliada - Editora Juspodivm

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2aEdição

Revista, atualizadae ampliada

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3DIREITO SOCIETÁRIO

O OBJETIVO desse Capítulo é discorrer sobre os aspectos fundamentais do direito societário, partindo do conceito de sociedade, até chegar às ques-tões mais densas que permeiam o estudo das sociedades. Serão enfrentados nesse Capítulo todos os tipos societários empresários do direito brasileiro, com especial ênfase às normas concernentes a sociedade limita e a sociedade anônima, por se tratarem dos tipos societários mais frequentes no cotidiano e, portanto, mais cobrados nos certames públicos em geral. Igualmente, serão enfrentados nesse capítulo os regramentos das sociedades em comum e das sociedades em conta de participação (sociedades não personificadas), haja vista a importância do conteúdo para a vida acadêmica, para a prática da advocacia, assim como para concursos públicos em geral.

1. CONCEITO DE SOCIEDADE

As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, que traduzem uma convenção entre duas ou mais pessoas, que se obrigam a conjugar esforços para realização de um fim comum, partilhando, ao afinal, os resultados (art. 981, CC)1.

1 Embora tal conceito abarque as diversas espécies societárias, é importante estar atento ao texto do artigo 1.052, § 2º, CC (incluído pela Lei nº 13.874/19), ao tornar possível a constituição de sociedade limitada formada por apenas 1 (uma) pessoa.

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2. SOCIEDADES PERSONIFICADAS

As sociedades podem contar ou não com personalidade jurídica. As sociedades dotadas de personalidade jurídica (sociedades personificadas) são aquelas cujos atos constitutivos foram objeto de registro nos órgãos competentes.

Desse modo, perceba-se que a personalidade jurídica é adquirida a partir do registro dos atos constitutivos da sociedade no respectivo órgão registrário, dela advindo as autonomias:

• Negocial – capacidade da sociedade para, em nome próprio, cele-brar os negócios jurídicos necessários ao desenvolvimento de seu objeto social;

• Processual – capacidade da sociedade para, em nome próprio, defender seus interesses em juízo, e

• Patrimonial – capacidade da sociedade para, em nome próprio, titularizar patrimônio. Permite a separação entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios.

Importante frisar, contudo, que a Sociedade em Conta de Participação, ainda que tenha seu ato constitutivo levado a registro, não terá persona-lidade jurídica.

2.1. Sociedades simples e sociedades empresárias

▶ Sociedades empresárias

São aquelas que desenvolvem a empresa (atividade empresária).Vale recordar que atividade empresária é a organização econômica dos

fatores de produção, desenvolvida por pessoa natural ou jurídica, para a produção ou circulação de bens ou serviços, através de um estabelecimento empresarial e que visa lucro.

▶ Sociedades simples

Consistem em sociedades personificadas, reguladas pelo Código Civil entre os arts. 997 e 1.038, representando uma forma societária própria para o exercício de atividades civis (não empresárias), como no caso, por exemplo, de uma sociedade de advogados, de uma cooperativa, ou

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mesmo das atividades desenvolvidas por profissionais intelectuais, desde que ausente o “elemento de empresa” (art. 966, parágrafo único, CC). São atividades civis:

• Aquelas exercidas por quem não é empresário;

• Aquelas fundadas em profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, salvo se o exercício da profissão constituir “elemento de empresa” (art. 966, parágrafo único, CC);

• As exercidas por empresários rurais não registrados no RPEM (arts. 970 e 971, CC);

• As desempenhadas pelas cooperativas, as quais, por expressa dis-posição de lei, serão sempre sociedades simples, desenvolvendo assim atividade civil (art. 982, parágrafo único, CC).

As sociedades simples têm como ato constitutivo um contrato social, que deve materializar as cláusulas e requisitos dispostos no art. 997 do CC, e ter a sua inscrição requerida ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ) nos trinta dias subsequentes a sua celebração (art. 998, CC), com vistas ao nascimento de sua personalidade jurídica.

Embora contem com regime próprio (arts. 997 – 1.038, CC), as socie-dades simples podem adotar tipos societários empresários, exceto os tipos por ações (conforme arts. 983 e 982, parágrafo único, CC).

1 Atenção:

As sociedades simples regidas por suas normas próprias são doutrinariamente conhecidas como sociedades simples pu-ras, ao passo que aquelas que optam por um dos tipos socie-tários empresários possíveis (N/C, C/S ou LTDA), são nomina-das sociedades simples impuras e serão regidas pelas regras do tipo societário adotado, havendo a aplicação subsidiária das normas da sociedade simples.Importante ressaltar que, a adoção de um tipo societário empresário por uma sociedade simples, não a converte em sociedade empresária.

Diferentemente das sociedades empresárias, nas quais todos os sócios têm que contribuir com bens, dinheiro ou crédito para a formação do

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capital social, nas sociedades simples pode haver a contribuição de sócio apenas a partir de prestação de serviço. Neste caso, deverá o sócio dedi-car-se exclusivamente à atividade exercida pela sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído (art. 1.006, CC).

A diferença básica entre as sociedades simples e as empresárias está no modo de exploração do seu objeto social, ou seja, na qualificação ou não da atividade exercida como empresária. Se essa exploração for feita com organização profissional dos fatores de produção, será empresária, se não, será simples.

Exceções: As cooperativas (independente do seu objeto), em que pese registradas nas juntas comerciais (JC), por força de lei, serão sempre consideradas sociedades simples; e empresárias as sociedades por ações (art. 982, parágrafo único, CC).

Observe o quadro:

TIPO DE SOCIEDADE AQUISIÇÃO DE PJ AQUISIÇÃO DE AUTONOMIA

Sociedade empresária a partir do registro no RPEM, a cargo das JC

Negocial, processual e patrimonial

Sociedade simples a partir do registro no RCPJ Negocial, processual e patrimonial

Cooperativa

(É sociedade simples)

a partir do registro no RPEM, a cargo das JC

Negocial, processual e patrimonial

2.2. Tipos societários empresários do direito brasileiro

As sociedades empresárias devem adotar um dos cinco tipos societários empresários do direito brasileiro. As sociedades em N/C, em C/S e LTDA estão regidas pelo CC, ao passo que as sociedades em C/A e S/A pela Lei 6.404/76. No caso de lacuna da norma de aplicação direta, atentar para as normas de aplicação subsidiária, conforme a seguir:

TIPO SOCIETÁRIO NORMA DIRETA NORMA SUBSIDIÁRIA

NOME COLETIVO (N/C) arts. 1.039 – 1.044, CC arts. 997 – 1.038, CC

COMANDITA SIMPLES (C/S) arts. 1.045 – 1.051, CC arts. 1.039 – 1.044, CC

LIMITADA (LTDA) arts. 1.052 – 1.087, CCarts. 997 – 1.038, CC

(ou Lei 6.404/76, havendo pre-visão expressa nesse sentido)

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TIPO SOCIETÁRIO NORMA DIRETA NORMA SUBSIDIÁRIA

COMANDITA POR AÇÕES (C/A) Lei 6.404/76

CC

Atenção: arts. 1.090 – 1.092, CC

SOCIEDADE ANÔNIMA (S/A) Lei 6.404/76CC

Atenção: arts. 1.088 e 1.089, CC

2.2.1. Sociedade em Nome Coletivo

A sociedade em nome coletivo é regida de forma direta pelo Código Civil (art. 1.039 – 1.044), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 997 – 1.038).

Trata-se de uma sociedade personificada, haja vista o seu registro no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das juntas comerciais (quando sociedade empresária), ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (quando sociedade simples impura).

A sociedade em nome coletivo trata-se de sociedade de pessoas, que tem como ato constitutivo um contrato social, sendo formada exclusiva-mente por pessoas físicas.

Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão e de forma ilimitada, o patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas, poderá ser acionado o patrimônio pessoal dos sócios, que responderá solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

A administração da sociedade em nome coletivo compete exclusi-vamente a sócios.

No caso de falecimento de sócio, se o contrato social da sociedade não dispuser a respeito, opera-se a liquidação das quotas do de cujus. Para que os sucessores do sócio falecido possam ingressar na sociedade, ainda que contra a vontade dos sobreviventes, será indispensável expressa previsão no contrato social.

Seu nome empresarial é formado a partir de firma.

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2.2.2. Sociedade em Comandita Simples

A sociedade em comandita simples é regida pelo Código Civil (art. 1.045 – 1.051), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade em nome coletivo (1.039 – 1.044).

Trata-se de uma sociedade personificada, considerando o seu registro no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das juntas comerciais (quando sociedade empresária), ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (quando sociedade simples não pura).

A sociedade em comandita simples é uma sociedade de pessoas, que tem como ato constitutivo um contrato social, sendo formada por duas classes de sócios:

• sócios comanditados (os quais respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais), e

• sócios comanditários (os quais respondem limitadamente pelas obrigações sociais).

Os sócios comanditados devem ser pessoas físicas, entrando com trabalho e capital, assumindo a administração da sociedade e, portanto, respondendo de forma ilimitada pelas obrigações sociais.

Os sócios comanditários, por sua vez, podem ser pessoas físicas ou jurídicas, não exercendo função de administração e, portanto, respondendo apenas pela integralização das quotas adquiridas.

1 Atenção:

Apenas os sócios comanditados podem ser administradores das sociedades em comandita simples. Não obstante, os só-cios comanditários poderão receber poderes especiais por meio de procuração, para a realização de negócios determi-nados.

Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão e de forma ilimitada, o patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas, poderá ser aciona-do o patrimônio pessoal dos sócios, que responderá, no caso dos sócios comanditários, de forma ilimitada; e dos sócios comanditários de forma limitada.

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Da mesma forma que os sócios comanditados, os sócios comanditá-rios têm o direito de participar da distribuição dos lucros da sociedade, na medida de suas respectivas quotas. Têm ainda o direito de participar das deliberações da sociedade, assim como o direito de fiscalizar a sua administração.

No caso de falecimento de um sócio comanditado, dar-se-á a dissolu-ção parcial da sociedade, salvo previsão no contrato social que autorize o ingresso de sucessores. No caso de falecimento de um sócio comanditário, em princípio, não haverá dissolução (art. 1.050, CC).

Seu nome empresarial é formado a partir de firma, a qual deverá ser composta apenas pelo nome civil dos sócios comanditados.

2.2.3. Sociedade Limitada

A sociedade limitada é regida diretamente pelo Código Civil (art. 1.052 – 1.087), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 997 – 1.038) ou, se o contrato previr expressamente, as disposições da Lei 6.404/76 (Lei das S/A), conforme disposto pelo art. 1.053, CC.

Pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas, conforme o artigo 1.052, § 1º, CC.

Trata-se de uma sociedade contratual, podendo assumir a forma de sociedade de pessoas ou de capital (natureza híbrida), circunstância de deverá ser aclarada por seu contrato social.

1 Atenção:

A flexibilidade para livre circulação de quotas, como no caso da existência de cláusula autorizando a entrada de terceiros estranhos à sociedade, sem a necessidade de aquiescência dos demais sócios, indica tratar-se de uma sociedade de ca-pital. Já o controle quanto à entrada de novos sócios indica tratar-se de uma sociedade de pessoas.Na ausência de qualquer indicativo no contrato social que permita qualificá-la como sociedade de pessoas ou de capital, deve considerar-se a limitada como sociedade de pessoas, afi-nal, trata-se de sociedade contratual e é da essência das socie-dades contratuais a forma das sociedades de pessoas.

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É sociedade personificada, considerando o seu registro no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das juntas comerciais (quando sociedade empresária), ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (quando sociedade simples não pura).

Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão e de forma ilimitada, o patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas, poderá ser aciona-do subsidiariamente o patrimônio pessoal dos sócios apenas nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, os quais responderão solidária e limitadamente pelas obrigações sociais.

1 Atenção:

Cada sócio responde pelo capital que subscrever. Entre-tanto, haverá solidariedade entre os sócios até o limite do capital total subscrito e não integralizado. Sendo assim, caso o total subscrito já tenha sido integralizado, a princípio, o patrimônio pessoal dos sócios da sociedade limitada não poderá ser alcançado.

Não obstante, deliberando os sócios de modo contrário ao disposto em lei ou no contrato, responderão de forma ilimitada aqueles que apro-varam dita deliberação.

1 Atenção:

Diante da regra do art. 1.080 do CC, não seria justo que os sócios que não concordaram com a deliberação infringente da lei ou do contrato, ou mesmo aqueles que não partici-param da mesma, também fossem penalizados com a perda da limitação de sua responsabilidade. Por isso, o art. 1.072, § 5º do CC estabelece que os sócios dissidentes ou ausentes, apenas vincular-se-ão às decisões tomadas de acordo com a lei e o contrato social.

Quanto ao nome empresarial, poderá ser formado a partir de firma ou denominação acrescido da expressão “limitada” ou sua abreviação (“Ltda.”).

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O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas, iguais ou desiguais, devendo todos os sócios contribuir para a sua formação com bens, dinheiro ou crédito, não se admitindo a contribuição que consista em prestação de serviços. Havendo contribuição com bens, será necessária uma avaliação dos sócios ou de terceiros, para que os mesmos possam ser valorados. Nesse caso, pela exata estimação atribuída aos bens entregues para a formação do capital social, responderão solidariamente todos os sócios, pelo prazo de 5 anos, a contar da data do registro da sociedade (art. 1.055, CC).

Como os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social, não integralizada a quota por um sócio (sócio remisso), os outros podem, sem prejuízo da responsabilização pelo dano emergente da mora e da possibilidade de optar a maioria dos demais sócios pela redução da quota ao montante integralizado, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, quando, sendo omisso o contrato social, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social, tendo eficácia a cessão a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.

Ao tratar-se sobre o capital social, embora não se possa ignorar o <<princípio da intangibilidade do capital social>> também conhecido como <<princípio da integridade do capital social>> (protege os interesses dos credores da sociedade ao impedir a distribuição de lucros fictícios, com o desfalque do capital social, para concessão de benefícios aos só-cios), mostra-se importante destacar a possibilidade de seu aumento ou redução, conforme ensinam os arts. 1.081 a 1.084 do CC. Sendo assim, o princípio em comento não visa impedir a redução do capital social, mas sim garantir que só poderão ser distribuídos entre os sócios valores que correspondam a lucros reais.

O aumento do capital social pode ser aumentado, com a respectiva alteração no contrato social aprovada por assembleia, desde que todas as quotas já tenham sido integralizadas. Até trinta dias após a deliberação pelo aumento do capital, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.

A redução do capital social, a seu turno, se restringe às hipóteses de perdas irreparáveis uma vez integralizado o capital social ou se excessivo em relação ao objeto social.

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Na sociedade limitada, o controle ou poder de decisão da sociedade é exercido por aquele que detiver o maior número de quotas. Na even-tualidade de empate, a definição se dará a partir da quantidade de sócios. Persistindo o empate, caberá ao juiz resolver (art. 1.072 c/c 1010, § 2º, CC).

A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais pessoas, sócios ou não sócios.

1 Atenção:

Os poderes conferidos a administrador sócio são irrevogá-veis (desde que previstos no contrato social, excetuada a jus-ta causa); ao tempo que, aqueles atribuídos a administrador não sócio, são revogáveis (art. 1.019, CC).

A designação de administradores não sócios é possível, mas dependerá de aprovação de todos os sócios (enquanto o capital não estiver integra-lizado), e de no mínimo 2/3, após a integralização.

Ademais, importante destacar que, se a administração da sociedade limitada for atribuída no contrato social a todos os sócios, a condição de administrador não se estenderá aos que posteriormente adquirirem essa qualidade. Exemplo: Em uma sociedade limitada constituída por João Hen-rique e Maria Eduarda, cujo contrato social contém cláusula atribuindo a todos os sócios a administração da sociedade, o simples ingresso de novo sócio não investirá este automaticamente na condição de administrador, função que caberá unicamente a João Henrique e Maria Eduarda (arts. 1.060 e 1.061, CC).

Além disso, tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas cor-respondentes a mais da metade do capital social, salvo disposição diversa constante do contratual social (art. 1.063, § 1º, CC, conforme a redação dada pela Lei 13.792/2019).

Como sabido, o administrador, no exercício de suas funções, deve atuar na medida dos interesses da sociedade, sempre pautando a sua conduta no cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art. 1.011, CC). Nesse sentido, ao respeitar o limite dos poderes que lhe foram regularmente conferidos, os atos do administrador obrigam a pessoa jurídica (art. 47, CC). No entanto, se contrariamente, ao praticar atos de gestão, o administrador vier a violar

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os poderes a ele conferidos pelo contrato social, tais atos não poderão ser imputados à sociedade. É a chamada “teoria ultra vires societatis” (além do conteúdo da sociedade), a qual visa à proteção da pessoa jurídica. Desse modo, a sociedade ficará isenta de qualquer responsabilidade frente a terceiros pelos atos ultra vires, a menos que tenha se beneficiado com a prática dos mesmos. Nesse sentido, enuncia o art. 1.015 do CC:

Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores so-mente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I – se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; II – provando-se que era conhecida do terceiro; III – tratando-se de operação evidentemente estranha aos ne-gócios da sociedade.

Portanto, como se desprende do dispositivo em análise, o excesso de poderes praticado pelo administrador poderá ser oposto a terceiros apenas se estes tinham como saber do excesso praticado.

1 Atenção:

Segundo o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil do CJF, não se aplica a teoria ultra vires societatis às sociedades por ações, em razão da existência de regra específica traçada pelo art. 158, II da Lei 6.404/76.

É indispensável que o administrador, seja ou não sócio, esteja identifi-cado no contrato social ou em ato separado (o qual deverá estar registrado na junta comercial), de modo a que terceiros possam tomar conhecimento quanto à pessoa que representa a empresa, e que atos está autorizada a praticar. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar,

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antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade (art. 1.012, CC).

Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (art. 1.011, §1º, CC).

Se o contrato social for silente quanto à pessoa do administrador da sociedade limitada, suas funções serão exercidas por cada um dos sócios separadamente (art. 1.013, CC). Sem embargo, o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria, responderá por perdas e danos perante a sociedade (Art. 1.013, § 2º e 1.016, CC).

As decisões em uma sociedade limitada serão tomadas em reunião ou em assembleia, as quais serão convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.

1 Atenção:

Quando os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, a reunião ou assembleia poderá tam-bém ser convocada por sócio, ou por titulares de mais de 20% do capital social, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado (art. 1.073, CC).

Nas sociedades limitadas compostas por mais de dez sócios, as de-liberações deverão ocorrer obrigatoriamente através de assembleia (art. 1.072, § 1º, CC).

Ordinariamente, nas sociedades limitadas, as decisões devem ser to-madas a partir da maioria de votos considerado o capital social do qual detém cada sócio. Contudo, algumas decisões só poderão ser tomadas havendo unanimidade. São elas:

• a decisão sobre a dissolução da sociedade com prazo determinado, e

• sobre a designação de administrador não sócio, enquanto o capital social não estiver integralizado (art. 1.061, CC).

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Será necessária a aceitação de 3/4 do capital social, para (art. 1.071, V, VI e 1.076, I, CC):

• alteração do contrato social, e

• aprovação de fusão, incorporação e dissolução.Será necessária a concordância de 2/3 do capital social, para (art.

1.061, CC):

• Destituição de sócio administrador designado pelo contrato social, e

• Designação de administrador não sócio se o capital social estiver totalmente integralizado.

Será necessária a concordância da maioria absoluta do capital social (mais da metade do total do capital), para (art. 1.071, II, III, IV, VIII e art.1.076, II, CC):

• Designação de sócio administrador realizada em ato separado;

• Remuneração de administradores, e

• Exclusão de sócio por justa causa.Será necessária a concordância de maioria simples do capital social

(mais da metade do capital considerando os sócios presentes), para (art. 1.071, I, VII e art.1.076, III, CC):

• Aprovação da prestação de contas dos administradores, e

• Nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada.

Aos sócios da sociedade limitada é garantido o direito de fiscalizar a sua administração. Nesse sentido, o conselho fiscal, órgão de formação facultativa, composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no país e eleitos em assembleia, uma vez cons-tituído, tem como atribuições:

Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes:I – examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os adminis-tradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;

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II – lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo;III – exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patri-monial e o de resultado econômico;IV – denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade;V – convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;VI – praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.

A dissolução da sociedade pode ser total ou parcial. A dissolução total implica na desconstituição da sociedade, culminando na desvinculação de todos os sócios. Já na dissolução parcial, há desvinculação de algum sócio do quadro social, o que não gera a desconstituição da sociedade, que prossegue com suas atividades. Assim, na dissolução parcial, a sociedade não se extingue, nem mesmo perde a sua personalidade.

A dissolução será total nas seguintes hipóteses (art. 1.087 c/c arts. 1.033, 1.034 e 1.044 do CC):

• Consenso unânime dos sócios;• Fim do prazo de duração;• Deliberação dos sócios, por maioria absoluta, se de prazo

indeterminado;• Falência;• Impossibilidade de execução do objeto social;• Falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo legal de

180 dias;• Extinção da autorização para funcionar;• Por determinação judicial;• A requerimento de qualquer dos sócios;• Anulação de sua constituição;

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Parte I • Cap. 3 • DIREITO SOCIETÁRIO 103

• Exaurimento do fim social;• Dentre outras causas previstas no contrato.

A dissolução será parcial (resolução da sociedade em relação a um sócio), nos casos de (art. 1.028 a 1.032, CC):

• Morte de sócio;• Retirada de sócio;• Exclusão de sócio.Restando demonstrado que um ou mais sócios estão pondo em risco a

sobrevivência da empresa, pela prática de atos que vão de encontro à lei ou aos objetivos sociais, ressalvado o caso em que haja apenas dois sócios na sociedade, estes poderão ser excluídos pela vontade da maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, desde que cumpridos os requisitos legais (art. 1.085, caput e parágrafo único do CC, com a redação dada pela Lei 13.792/2019). Trata-se de hipótese de exclusão extrajudicial, que não pode ser confundida com a exclusão judicial prevista no art. 1.030, CC. Nesta, a exclusão poderá operar-se mediante iniciativa da maioria dos sócios, não se levando em consideração o volume da participação deles no capital social.

1 Atenção:

Se, extrajudicialmente, não é possível a exclusão de sócio ma-joritário, dada a redação do art. 1.085 do CC, judicialmente, dita exclusão será admissível, uma vez demonstrada a prática de ato de inegável gravidade, na teia do art. 1.030, CC.

Importante ainda destacar que, o simples rompimento da affectio societatis (vontade de permanecer em sociedade), por si só, não é razão capaz de ensejar a exclusão de sócio.

POSIÇÃO DO STJ

“CIVIL E COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. DISSOLUÇÃO PAR-CIAL DE SOCIEDADE. EXCLUSÃO DE SÓCIO. QUEBRA DA AFFEC-TIO SOCIETATIS. INSUFICIÊNCIA. Para exclusão judicial de sócio, não basta a alegação de quebra da affectio societatis, mas a de-monstração de justa causa, ou seja, dos motivos que ocasiona-ram essa quebra (...).” (REsp 1.129.222/PR de 1º/8/2011).

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2.2.4. Sociedade em Comandita por Ações

A sociedade em comandita por ações é regida pela Lei 6.404/76 (art. 280 – 284), sem prejuízo das disposições do Código Civil, compreendidas entre os arts. 1.090 – 1.092.

Trata-se de uma sociedade personificada (considerando o seu registro no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das juntas comerciais), com capital social dividido em ações.

A sociedade em comandita por ações é uma sociedade de capital, sendo livre o ingresso de terceiros estranhos ao seu quadro social. Portanto, nela há livre circulação de ações.

Tem como ato constitutivo um estatuto social, sendo formada por duas classes de sócios:

• sócios diretores – exercem cargo de administração, respondendo de forma subsidiária, solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, e

• sócios comuns – não exercem cargo de administração, respondendo de forma subsidiária e limitada pelas obrigações sociais.

Somente sócio ou acionista (diretores) podem ocupar cargo de administração nas sociedades em comandita por ações (art. 282, Lei 6.404/76 c/c art. 1.091, CC), os quais, como já visto, respondem de forma ilimitada pelas obrigações sociais.

Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação dos acionistas que representem no mínimo 2/3 do capital social. O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

Os sócios comuns, por sua vez, não exercem função de administração, respondendo, insista-se, de forma limitada pelas obrigações sociais.

A sociedade em comandita por ações conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão e de forma ilimitada o patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obri-gações assumidas, poderá ser acionado o patrimônio pessoal dos sócios (subsidiariamente), que responderão, no caso dos sócios diretores, de forma ilimitada; e dos sócios comuns, de forma limitada.

O nome empresarial da sociedade em comandita por ações pode ser formado a partir de firma ou denominação.

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Parte I • Cap. 3 • DIREITO SOCIETÁRIO 105

Os acionistas, reunidos em Assembleia geral, não podem (mesmo com aprovação assemblear), sem o consentimento dos diretores da sociedade (art. 1.092, CC):

• mudar o objeto social;

• prorrogar-lhe o prazo de duração;

• aumentar ou diminuir o capital social;

• criar debêntures ou partes beneficiárias.Em que pese às sociedades em comandita por ações sigam as disposi-

ções concernentes às sociedades anônimas, a elas não se aplicam as regras sobre (art. 284, Lei 6.404/76):

• o Conselho de Administração;

• autorização estatutária de aumento de capital, e

• emissão de bônus de subscrição.

2.2.5. Sociedade Anônima ou Companhia

Também conhecida como “companhia”, a sociedade anônima é regida por lei especial (Lei 6.404/76 – Lei das S/A), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, subsidiariamente, as disposições do Código Civil.

Trata-se de uma sociedade personificada, considerando o seu registro no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das juntas comerciais.

1 Atenção:

As sociedades anônimas serão sempre sociedades empresá-rias, consoantes o disposto pelo art. 982, parágrafo único, do CC c/c art. 2º, § 1º da Lei 6.404/76.

A sociedade anônima é uma sociedade de capital, que tem como ato constitutivo um estatuto social e capital social dividido em ações. Nela, é livre o ingresso de terceiros estranhos ao quadro social, havendo livre circulação de ações.

Nenhuma companhia poderá funcionar sem que seja arquivado e publicado o seu estatuto social (arts. 94 e 98, Lei 6.404/76).

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4PROPRIEDADE INTELECTUAL

O OBJETIVO deste capítulo é apresentar as noções básicas da pro-priedade industrial, discorrendo sobre os seus objetos, estabelecendo os traços distintivos entre os mesmos e apontando os prazos estatuídos pela lei relacionados ao direito de exclusividade dos mesmos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A propriedade intelectual abrange duas grandes áreas: o direito autoral e a propriedade industrial. Nesse sentido, temos:

Propriedade Industrial + Direito Autoral = Propriedade IntelectualPropriedade intelectual é o conjunto de regras voltadas a proteção de

bens imateriais ou incorpóreos, que surgem como resultado da capacidade inventiva de seu autor. Consiste em expressão genérica, que visa garantir aos titulares de qualquer produção do intelecto o direito de usufruir, ainda que por um período apenas, de recompensa pela própria criação. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), constituem propriedade intelectual as invenções, obras literárias e artísticas, símbolos, nomes, imagens, desenhos e modelos utilizados pelo comércio.

Direito autoral é o conjunto de normas que visam à proteção dos direitos do autor, assim como daqueles ligados a ele, cuidando especifica-mente de obras artísticas e literárias, programas de computador, domínios

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na internet e cultura imaterial. Através do direito autoral busca-se, por exemplo, a proteção das obras do autor, do seu direito de auferir crédito pela criação, de não ter suas obras alteradas sem prévia autorização ou de ser remunerado por aqueles que utilizem a sua obra.

Hodiernamente, os direitos autorais são regulados pela CF, assim como pela Lei 9.609/98, a qual dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programas de computador e sua comercialização no Brasil; e pela Lei 9.610/98, a qual altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais.

Já a propriedade industrial – objetivo central deste capítulo – é regu-lada pela Lei 9.279/96 (LPI), encontrando fundamento também no art. 5º, XXIX CF. Ela cuida das marcas, patentes, desenho industrial, indicações geográficas e proteção de cultivares.

Por constituir um dos bens incorpóreos que compõe o estabelecimento empresarial – como foi estudado no Capítulo 1 ao tratar sobre o estabe-lecimento empresarial –, a propriedade industrial faz parte do aviamento da empresa, razão pela qual merece e efetivamente recebe proteção legal. Para a proteção da propriedade industrial, o Estado institui a patente e o registro, através dos quais o empresário terá o direito de explorar com exclusividade o objeto de sua criação.

Nesse sentido, são quatro os bens imateriais protegidos pelo Direito Industrial (art. 2º, I, II, III, LPI):

• A patente de invenção;• A patente de modelo de utilidade;• O registro de desenho industrial;• O registro de marca.

1 Atenção:

Cabe ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a concessão da propriedade industrial, devendo zelar ainda por sua proteção e fiscalização.

2. PATENTE

Podem ser objeto de patente:

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2.1. Invenção

É um ato de originalidade, fruto do espírito inventivo do gênio hu-mano. Assim, toda vez que alguém projeta algo que desconhecia, estará produzindo uma invenção (art. 8º, LPI).

1 Atenção:

A invenção difere da descoberta, haja vista que esta implica em desvendar algo que já existe.

2.2. Modelo de utilidade

É o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, com novo formato ou disposição do qual resulte melhores condições de uso ou fabricação. Não há propriamente invenção, mas sim acréscimo na utilidade de alguma ferramenta, instrumento de trabalho ou utensílio, pela ação da novidade parcial que se lhe é agregada. É co-nhecido também como “pequena invenção” e goza de proteção autônoma em relação à da invenção cuja utilidade foi melhorada (art. 9º, LPI).

INVENÇÃO MODELO DE UTILIDADE

Novidade criativa Melhoria em algo já existente

1 Atenção:

O “estado da técnica” é aquilo que já é acessível ao público antes da data do depósito do pedido. Aquilo que já podia ser conhecido pelo público não pode ser patenteado.

IMPORTANTE: Não se considera invenção nem modelo de utilidade (art. 10, LPI):

• Descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;• Concepções puramente abstratas;• Esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis,

financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;

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1PETIÇÃO INICIAL

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A petição inicial, como primeiro ato do processo, demonstra formal-mente ao juiz a intenção do autor de efetivamente utilizar o seu direito de ação.

Como a atividade jurisdicional é marcada pela inércia, o autor precisa provocar o juízo, ou seja, demandar, a fim de que possa obter a prestação jurisdicional.

A petição inicial, também chamada de exordial, peça inaugural, pros-cenial ou peça vestibular, nesse sentido, é o ato mais importante para o autor, na medida em que esta é o instrumento da demanda.

Tal entendimento está devidamente sedimentado no artigo 2º do CPC, ou seja, “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”.

Na petição inicial são fixados os limites da lide, onde se pode per-ceber que de acordo com o artigo 141 do CPC, “o juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de ques-tões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte”. Ainda nesse sentido, é importante perceber que o artigo 489, CPC, ao elencar os elementos essenciais da sentença, traz no inciso I, que o relatório deverá

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conter a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e no inciso III, a necessidade de que a sentença resolva no dispositivo as questões principais que as partes lhe submeterem.

Devemos observar que conforme o artigo 492, CPC, “é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado”.

Pois é justamente na petição inicial que o autor terá a oportunidade trazer toda a sua pretensão a juízo, sob pena de preclusão consumativa, ou seja – salvo exceções – de só poder fazer outro pedido através de outra ação.

Caso a petição inicial não siga uma lógica adequada, proporcionando a clareza necessária através dos fatos e fundamentos jurídicos trazidos à juízo, e não sendo devidamente emendada em 15 (quinze) dias, será indeferida, nos termos dos artigos 321 caput e parágrafo único e 330, I e §1º do CPC.

Portanto, é a partir do pedido contido na petição inicial, que a lide é devidamente instaurada, obrigando o juiz a decidi-la nos termos em que foi proposta.

Os elementos da ação, quais sejam, partes, causa de pedir e pedido, são os requisitos mais importantes de qualquer petição inicial.

Tais requisitos podem ser identificados como: quem, porque e o quê se pede. Essas, repita-se, são informações que devem constar em todas as petições iniciais, devendo fazer parte do vocabulário daqueles que preten-dem elaborar um exordial de acordo com as normas processuais.

2. REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL

O artigo 319 do CPC indica os requisitos da petição inicial, sendo de fundamental importância o estudo de cada um deles.

Porém, é fundamental que tenhamos em mente que não são apenas os requisitos do retrocitado artigo 319, CPC, que, obrigatoriamente, devem ser observados ao elaborarmos uma inicial.

Sobre o tema, devemos observar que o artigo 192, CPC, adverte que “em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da língua portu-guesa”. Sendo necessária a confecção de versão em vernáculo, tramitada por via diplomática, autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado, de qualquer documento em língua estrangeira que for acostado aos autos, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo 192, CPC.

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Parte II • Cap. 1 • PETIÇÃO INICIAL 269

Segundo o artigo 202, CPC, poderá incorrer em multa correspondente à metade do salário-mínimo, a parte que lançar nos autos cotas marginais ou interlineares, as quais o juiz mandará riscar. Regra que deve ser obser-vada na elaboração de uma exordial.

Ainda é importante salientar que, conforme o artigo 211, CPC, exceto quando expressamente ressalvadas, não se admitem nos atos e termos pro-cessuais espaços em branco, salvo os que forem inutilizados, assim como entrelinhas, emendas ou rasuras.

Pode-se facilmente perceber que até o momento tratamos apenas de artigos do Código de Processo Civil, ao trazermos o rol de artigos que devem ser observados quando da confecção de exordial. Caberia indagar, portanto, se é possível que o Poder Judiciário, através de portaria ou qual-quer outro ato normativo, estabeleça novas exigências que impactem na elaboração e recebimento da petição inicial.

A resposta para tal questionamento é negativa, pois não pode o Poder Judiciário estabelecer quaisquer exigências, que não aquelas estabelecidas por lei federal, para o recebimento da exordial.

Com a indicação de dispositivos de suma importância no contexto da exordial, passemos ao estudo de cada um dos requisitos presentes nos incisos do artigo 319, CPC, que devem ser a bússola daquele que irá ela-borar uma petição inicial.

2.1. Endereçamento

Toda petição inicial deve começar com o endereçamento, ou seja, a indicação de quem deve apreciá-la.

Em primeiro lugar é importante perceber que seguindo uma nomen-clatura aplaudida pela doutrina, o inciso I do artigo 319, preceitua que a petição inicial deve indicar “o juízo a que é dirigida”, ao invés da vetusta expressão contida no artigo 282, do código anterior que requisitava ao autor que indicasse “o juiz ou tribunal”, ao qual a petição seria dirigida.

Faz-se imperioso perceber que a petição inicial deve ser endereçada a um órgão jurisdicional, ou seja, ao juízo competente para apreciá-la e julgá-la e não à pessoa física do juiz.

Veremos que a elaboração do texto referente ao endereçamento não apresenta maiores dificuldades, bastam poucas palavras para designá-lo.

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A dificuldade reside em sabermos para quem endereçar. Perguntas como “para qual justiça, estadual ou eleitoral, devo endereçar?” e/ou “para qual comarca ou seção judiciária de Belo Horizonte ou de Porto Alegre?”.

Nesse campo, deve-se conhecer as regras de competência. Devemos saber para qual justiça iremos endereçar a nossa petição.

Ou seja, qual a competência funcional. O poder judiciário é dividido em cinco ramos. As chamadas “Justiças especializadas” são: Justiça do Trabalho, Justiça Penal Militar, Justiça Eleitoral. Já a Justiça Federal e a Justiça Esta-dual são chamadas de “Justiça comum”. A competência de cada um desses ramos está prevista nos artigos 106 e seguintes da Constituição Federal.

Caso não seja o caso de competência da Justiça especializada, a Justiça comum será a competente.

No âmbito da prática empresarial, algo crucial em se tratando de competência, é saber se a petição deve ser endereçada à Justiça Estadual ou Federal.

A resposta mais uma vez passa pela exclusão. É que, se a causa não tiver de ser apreciada pela Justiça Federal, será então o caso de endereçá-la para a Justiça Estadual, há, nesse caso, competência residual.

Analisar qual é a competência da Justiça Federal faz-se imprescindí-vel para que possamos fazer a distinção entre a competência desta e a da Justiça Estadual.

A resposta para tal questão está insculpida no artigo 109 da Consti-tuição Federal. Portanto, não incidindo as regras de tal artigo, a exordial deve ser endereçada para a Justiça Estadual.

Vale ressaltar ainda a existência dos Juizados Especiais caracteriza uma opção em relação a Justiça comum. A competência dos Juizados Cíveis e Criminais Estaduais, está prevista nos artigos 3º e 4º da Lei 9.099/95.

No âmbito federal, há os Juizados Especiais Federais, com a compe-tência prevista no artigo 3º da Lei 10.259/01.

Os Juizados Especiais da Fazenda Pública, previstos da Lei 12.153/09, possuem competência para processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos, conforme o artigo 2º deste diploma normativo.

Estudadas as disposições acerca da competência funcional, passemos à competência territorial, ou seja, onde a demanda deve ser ajuizada.

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Parte II • Cap. 1 • PETIÇÃO INICIAL 271

O autor ao endereçar a sua petição inicial ao órgão jurisdicional, deverá seguir as regras de competência, constantes, em termos de Código de Processo Civil, nos artigos 42 e seguintes.

Por exemplo, o artigo 46 do CPC, indica que “a ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu”. Já “a ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente”, de acordo com o artigo 50, CPC.

A forma como o endereçamento é redigido não segue regra legal específica, porém, a praxe indica que deve-se começar por uma saudação ao juiz seguida pela identificação do órgão competente.

Abaixo seguem alguns exemplos de endereçamento:

Demanda seja endereçada a um Juízo Estadual

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE, MINAS GE-RAIS

Demanda endereçada a um Juízo Federal

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE BELO HORIZONTE, MI-NAS GERAIS

Demanda endereçada ao Tribunal de Justiça

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESI-DENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Demanda endereçada ao Tribunal Regional Federal

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FE-DERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO

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