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aula Franklin Nelson da Cruz Gilvan Luiz Borba Luiz Roberto Diz de Abreu Ciências da Natureza e Realidade DISCIPLINA Autores 15 O Nordeste, o homem e a seca: natureza de uma realidade 2ª Edição CI_NAT_A15_RAARL_090810.indd S11 CI_NAT_A15_RAARL_090810.indd S11 09/08/10 15:11 09/08/10 15:11

2ª Edição DISCIPLINA - PROEAD · Três são as estruturas geológicas que ... das eras Paleozóica, ... 1/3 da estrutura geológica é formado pelo escudo cristalino,

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Franklin Nelson da Cruz

Gilvan Luiz Borba

Luiz Roberto Diz de Abreu

Ciências da Natureza e RealidadeD I S C I P L I N A

Autores

15

O Nordeste, o homem e a seca:

natureza de uma realidade

2ª Edição

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ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitorNilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho

Secretária de Educação a DistânciaVera Lucia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)

Cruz, Franklin Nelson da.

Ciências da natureza e realidade: interdisciplinar/ Franklin Nelson, Gilvan Luiz Borba, Luiz Roberto Diz de Abreu. – Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.

348 p.

ISBN 85-7273-285-3

1. Meio Ambiente. 2. Terra. 3. Universo. 4. Natureza. 5. Seca. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu, Luiz Roberto Diz de. III. Título.

CDD 574.5RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504

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conhecer um pouco da história de criação e ofi cialização da região Nordeste;

discernir melhor os aspectos físicos, químicos e biológicos da região;

tomar conhecimento de como o Homo Sapiens migrou para a região, gerando as etnias que miscigenadas ao homem branco deu origem ao sertanejo;

evidenciar as variáveis que contribuem para a ocorrência do fenômeno da seca.

ApresentaçãoEsta é a última aula da disciplina Ciências da Natureza e Realidade. A partir de uma

perspectiva sistêmica, você aprenderá a caracterizar e correlacionar a região Nordeste, o homem que a habita e a seca, seu problema mais eminente, a conceitos e apreciações físicas, químicas e biológicas já descritas nas aulas anteriores.

Objetivos

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Permitir a você:

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Natureza de uma realidade

O estudo a ser empreendido nesta aula, tendo como título O Nordeste, o homem e a seca: natureza de uma realidade visa à aquisição dos subsídios necessários à compreensão das questões:

o que é o Nordeste?

o que é a seca?

A primeira, de âmbito geral, tem por objetivo situar e caracterizar a região sob o ponto de vista físico, químico e biológico. A segunda, mais específi ca, tem como intento distinguir as variáveis que contribuem para ocorrência do fenômeno da seca e discuti-las de forma que no decorrer de nossa progressão científi ca possamos apontar soluções que contribuam para atenuar o problema em foco.

A região Nordeste

A divisão do Brasil em regiões no decorrer do Império (1822-1889) até a República Velha (1889-1930) era pouco precisa, constando das províncias e Estados do Norte, do Pará à Bahia; das províncias e Estados do Sul, do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. Até então, inexistia a Amazônia brasileira e as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

O quadro que caracterizou o Nordeste como região principiou com as secas que abateram a região no fi nal do século XIX e início do século XX e que motivaram dois atos de extrema importância para a região emergente: o primeiro sendo a criação da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), em 1906, pelo então presidente do Brasil, Nilo Peçanha; o segundo, a delimitação, em 1936, do polígono da Seca, compreendendo uma área de 936.993 km2.

Ofi cialmente, somente em 1942, o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) defi ne a primeira regionalização ofi cial do Brasil, compreendendo a seguinte distribuição de estados:

Norte – Amazonas, Pará e os Territórios de Acre, Rio Branco e Amapá;

Nordeste Ocidental – Maranhão e Piauí;

Nordeste Oriental – Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e o Arquipélago de Fernando de Noronha;

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Leste – Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo;

Centro Oeste – Mato Grosso, Goiás e os Territórios de Guaporé e Ponta Porã;

Sul – São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A incorporação dos estados da Bahia e Sergipe ao Nordeste se deu no fi nal de 1969 e início de 1970, quando o IBGE adotou para fi ns estatísticos a atual divisão regional na qual se destacam as grandes regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Nessa divisão, o Nordeste é composto dos Estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o Arquipélago de Fernando de Noronha.

O Nordeste físico

O espaço e a localização do NordesteO Brasil possui uma área de 8.514.877 km2 na qual se insere a região Nordeste ocupando

uma superfície de 1.554.257 km2, correspondente a 18,3% do território Nacional, o que permite acomodar com folga os países França, Itália, Reino Unido, Alemanha e Polônia, como demonstra a fi gura a seguir.

Gráfi co 1 – Superfície de Países e da Região Nordeste

Situada entre os paralelos de 01o02’30’’ de latitude norte e 18o20’07’’ de latitude sul, entre os meridianos de 34o47’30’’ e 48o45’24’’ a oeste de Greenwich (Figura 2), a região Nordeste limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com os Estados do Pará, Tocantins e Goiás.

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Duas são as características que marcam essa região. A primeira, a vasta extensão litorânea banhada pelo Oceano Atlântico que atesta o alto grau de maritimidade da região, 2,5 vezes maior que o brasileiro; e a segunda, a grande extensão semi-árida interior que se estende desde o Piauí à Bahia e que representa 62% da área total da região (ALBUQUERQUE, 2005, p. 08). A maior parte da sua extensão é constituída por um planalto de formação geológica antiga. No entanto, devido à diversidade de características físicas da região, ela é dividida em quatro sub-regiões: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte (ANDRADE,1998, p. 25).

Figura 1 – Mapa da Região Nordeste

Atividade 1

Fazendo uso da Internet, site (http://www.heavens-above.com/), determine as coordenadas geográfi cas do seu município.

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A estrutura geológica

Parte integrante da placa tectônica Sulamericana, o território brasileiro apresenta uma complexa evolução geológica originária do período Arqueano ou Arcaico, éon (1 éon = 1 x 109 anos), compreendido entre 3 bilhões e 850 milhões de anos e 2 bilhões e 500 milhões de anos, defi nido pelas características geoquímicas e geofísicas exibidas pelos constituintes primordiais: minerais e rochas. Antes de darmos continuidade, vamos aprender a diferenciar um mineral de uma rocha. Um mineral nada mais é do que um composto inorgânico de propriedades físicas e de composição química defi nida. São exemplos de minerais: ouro, prata, cobre, grafi ta, pirita, quartzo, opala, entre outros. Por sua vez, rochas são materiais constituídos por um agregado natural de minerais e, segundo suas composições, origens ou suas formações classifi cam-se em (TEIXEIRA et al, 2003, p. 27):

rochas magmáticas, também nomeadas de ígneas ou eruptivas, formadas pela solidifi cação de magmas, abrangem as

• rochas plutônicas, que ao serem formadas sofreram um resfriamento no seio da câmara magmática, nomeada por isso de holocristalinas (estrutura completamente cristalizada);

• rochas vulcânicas, originadas a partir de um resfriamento superfi cial rápido, logo após uma erupção vulcânica, sendo por isso caracterizadas de hemicristalinas (estrutura cristalizada e vitrifi cada);

rochas sedimentares, produzidas superfi cialmente na terra ou no leito dos mares por acumulação progressiva em camadas de matérias a partir da ação do vento e da água;

rochas metamórfi cas, geradas pela recristalização e deformação de rochas sedimentares ou magmáticas a partir da ação da temperatura e da pressão crescentes com a profundidade da litosfera.

Por sua vez, a classifi cação dos minerais é feita de acordo com critérios químicos e cristalográfi cos, a partir dos quais estes são agrupados em nove famílias a serem trabalhadas brevemente na disciplina Mineralogia.

Os minerais e, sobretudo, as rochas, são partes fundamentais da litosfera, compartimento sólido responsável pela formação de ilhas e continentes do planeta. As rochas ígneas ou magmáticas, as mais antigas componentes da arquitetura do planeta, precedidas das metamórfi cas, são denominadas de rochas cristalinas em função da cristalização dos seus minerais. Já as sedimentares, mais recentes, correspondem a cerca de 5% da litosfera, constituindo uma espécie de manto protetor da superfície terrestre.

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Três são as estruturas geológicas que compõem o globo terrestre. A primeira, constituída pelas rochas cristalinas, se caracteriza pela regidez, resistência e idade, sendo datadas da era Pré-cambriana. A segunda, nomeada Bacia Sedimentar, resulta da acumulação progressiva de detritos, originando as rochas sedimentares oriundas das eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. A terceira, resultante dos Desdobramentos Modernos, ascendência vertical do terreno, decorrente da elevação da pressão interior do planeta, datadas da era Cenozóica, período terciário. São exemplos: os Andes, os Alpes, o Himaláia, entre outros.

Figura 2 – Estrutura Geológica do Nordeste

No Brasil, 1/3 da estrutura geológica é formado pelo escudo cristalino, constituído de rochas ígneas e metamórfi cas, enquanto os 2/3 restantes compreendem a Bacia Sedimentar. A Figura 2 retrata a estrutura geológica da Região Nordeste, caracterizando as áreas cristalina e sedimentar.

O Nordeste hidrográfi coComo já sabemos, a hidrosfera é a parte da biosfera correspondente ao meio líquido que

recobre sete décimos da superfície planetária. A ciência que estuda a ocorrência, a distribuição e a dinâmica da água na Terra é nomeada de Hidrologia, do grego hýdor, água + lógos, tratado.

A Hidrogeologia, do grego hýdor, água + gê, terra + logos, tratado, é o ramo da geologia que estuda a circulação das águas no solo e subsolo e as interações da geologia com as águas da superfície terrestre.

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Figura 3 - Mapa Hidrográfi co do Brasil

Por sua vez, a Hidrografi a, do grego hýdor, água + graph, resíduo de graphein, descrever, é o ramo da Geografi a associado ao estudo dos diversos lugares ocupados pelas águas, na superfície da Terra.

As três principais bacias hidrográfi cas do Brasil são, segundo VESENTINI (1990, p. 184): a Amazônica (AM), a Platina (PT) e a do São Francisco (SF) (ver Gráfi co 2a). São bacias secundárias as das regiões Nordeste (NE), Leste (LE) e Sudeste-Sul (SS) (ver Gráfi co 2b).

Gráfi co 2 – Brasil – Bacias Hidrográfi cas

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A dinâmica da água no planeta é caracterizada pelo seu ciclo biogeoquímico (ver Figura 4). Como sabemos, são os estados de agregação que caracterizam a matéria, e a água co-existe nos estados: líquido, sólido e gasoso. Portanto, ela circula facilmente entre os três compartimentos que caracterizam a biosfera terrestre, dentre os quais o que armazena maior volume de água é a hidrosfera, 363 milhões de km2 sobre um total de 510 milhões de km2, seguido da litosfera e, por fi m, da atmosfera (RAMADE, 1984, p. 239).

Sol

Atmosfera

Evaporação

Áreas urbanas

Transpiração Evaporação

Filtração

Escoamentod’água

Lençolfreático

Lago

Oceano

Rio

Chuva, Granizo, NeveGelo

Precipitação

Fusão

Infiltração

Condensação

Figura 4 - Ciclo Biogeoquímico da Água

gráfi co 2b

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Na região Nordeste, devido às condições climáticas, a água circula naturalmente nos estados líquido e vapor. A caracterização do seu ciclo biogeoquímico ocorre da seguinte forma: sob a ação do Sol, a água da hidrosfera se evapora e difunde para as camadas altas da atmosfera, originando as nuvens, massas visíveis de gotas d’água ou de cristais de gelo em suspensão. A partir da diminuição de temperatura, esse vapor se condensa e se precipita sob a forma de chuva nos oceanos e na Terra. Por outro lado, o ser humano e os vegetais também exercem infl uência marcante sobre o ciclo da água. As raízes das plantas, atuando como verdadeiros vasos capilares, captam água do solo e a devolvem em parte à atmosfera. Portanto, o processo de desfl orestação, tendo como principal artífi ce o homem, tem modifi cado sobremaneira o ciclo biogeoquímico da água, provocando inundações marcantes em várias regiões do planeta.

Na litosfera, a água circula segundo as vias (ver Figura 4):

por escoamento, seguindo o relevo do ambiente;

por infi ltação, através de fi ssuras naturais dos solos e rochas;

por percolação (fi ltração, sob pressão, de um líquido através de um meio sólido), migrando lentamente através dos solos.

A partir das vias de circulação da água por infi ltração e percolação, ocorre a alimentação dos lençóis freáticos (reservatórios de água subterrâneos).

A interação da água com o meio litosférico ocorre de duas maneiras: a primeira, lenta, contribuindo quimicamente para a fertilização do solo; e a segunda, rápida, a partir da qual observa-se a erosão progressiva do solo, fato extensivamente comum na região Nordeste.

O climaDe acordo com o Glossary Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC – (Painel

Intergovernamental sobre Mudança de Clima),

Clima, em sentido restrito é defi nido como a descrição estatística de quantidades relevantes e mudanças do tempo metereológico num período de tempo, que vai de meses a milhões de anos. O período clássico, defi nido pela Organização Mundial de Metereologia (OMM), é de 30 (trinta) anos. Essas quantidades são geralmente variações de superfície como temperatura, precipitação e vento. O clima em sentido mais amplo é o estado, incluindo as descrições e estatísticas do sistema meteorológico IPCC Glossary 2001.

Durante a era Cenozóica, período quaternário, ao fi nal da época Pleistocênica, início da halocênica, compreendidas entre 10.000 e 2.000.000 de anos, o Cerrado, a Caatinga e o Agreste do Brasil, também conhecidas como savanas tropicais, assemelhavam-se como são nos dias atuais, algumas vezes permeadas por massas de ar seca e fria, o que tornava a sua

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vegetação pouco densa, outras pelo ar úmido e quente, condições propícias para a eclosão de uma vegetação mais densa. A região anualmente se caracterizava por possuir duas estações bem defi nidas: uma de chuva e outra seca. Tais características permitem afi rmar que o Nordeste sempre foi mais árido do que as demais regiões do país (SCHMITZ, 1990, p. 9-32). Como vemos, no Nordeste, o clima, além de exercer uma infl uência marcante sobre a paisagem, é o elemento natural que mais preocupa o homem.

Figura 5 - Climas do Brasil

Com relação às médias anuais de temperatura, grandes variações se registram na região Norte. Parte do interior do Nordeste apresenta temperaturas superiores a 25°C, enquanto a região Sul e parte da Sudeste apresentam temperaturas da ordem de 20°C.

Um fenômeno natural resultante da interação entre a atmosfera e o oceano contribui para os longos períodos de estiagem da região Nordeste. El Niño, como é conhecido o fenômeno, dura de 12 a 18 meses em média e se repete em intervalos de 2 a 7 anos com intensidades diversas. Ele decorre do aquecimento das águas superfi ciais do oceano Pacífi co Tropical, produzindo alterações signifi cativas não somente no clima regional e global, mas também nos padrões de deslocamentos das massas de ar do planeta alterando os regimes pluviométricos das regiões tropicais.

Como vemos, a região Nordeste sofre a infl uência de fenômenos de natureza física como El Niño, além de ser uma zona de confl uência de climas, tais como:

Climas controlados por massas de ar

equatoriais e tropicais

De acordo com a classifi cação de Arthur Strahler, predominam no Brasil, os climas:

Clima Equatorial Úmido da convergência dos Alísios.

Clima Litorâneo Úmido exposto às Massas Tropicais Marítimas.

Clima Tropical alternadamente Úmido e Seco.

Clima Tropical tendendo a seco pela irregularidade das massas de ar.

Climas controlados por massas de ar tropicais e polares

Clima Subtropical Úmido das costas orientais e subtropicais dominado Largamente por Massa Tropical Marítima.

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o Litorâneo Úmido exposto às Massas Tropicais Marítimas – estende-se pelo litoral brasileiro desde o Rio Grande do Norte até São Paulo, recebendo a infl uência da massa de ar Tropical Atlântica (mTa);

Clima Tropical tendendo a Seco pela irregularidade das massas de ar (Clima Semi-Árido) – abrange o Sertão Nordestino, sendo ponto de convergência das massas de ar Equatorial Continental (mEc), Tropical Atlântica (mTa), Equatorial Atlântica (mEa), e Polar Atlântica (mPa), ver Figura 6;

Clima Tropical alternadamente úmido e Seco – no Nordeste abrangendo trechos dos estados da Bahia, Maranhão, Piauí e Ceará e ainda os Estados de Minas Gerais, Goiás, parte de São Paulo, Mato Grosso do Sul, parte do sul de Mato Grosso. Clima tropical característico, ele é quente e semi-úmido, decorrendo dessa característica um período chuvoso (o verão), no qual prevalece a massa de ar Equatorial Continental e outro seco (o inverno), com o recolhimento dessa massa de ar e a penetração da massa Tropical Atlântica e, algumas vezes, da Polar Atlântica.

Figura 6 - Massas de Ar na América do Sul

mTa = tropical atlântica

mEp = equatorial pacífi ca

mPp = polar pacífi ca

mEc = equatorial continental

mPa = polar atlântica

mTp = tropical pacífi ca

mEa = equatorial atlântica

mTc = tropical continental

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Atividade 2

A aula 8 desta disciplina tem como tema Clima e Tempo. Com base na sua leitura, você é capaz de defi nir clima e caracterizar o clima da sua região?

A partir do poema “O Clima”, de Rui Pais, http://www.vaniadiniz.pro.br/asp/textosamigos.asp?cod=1509, você é capaz de selecionar os fatores que infl uenciam o clima da sua Região?

1

2

No inverno o Sol quando aparece

Nesta estação que quase o desconhece

Até a alma rejubila de alegria

Como num sonho ou numa fantasia.

Não é a brisa que chega do mar

Mas um frio húmido de rachar

Até nosso corpo todo se arrepia

Quando agredido por forte ventania.

É o clima da natureza a actuar

Como com o homem querendo comunicar

Todo este espaço é meu reino

É meu o direito de o administrar.

Sou o clima, meu pai é o tempo

Tudo controlamos no espaço com alento

Com apenas uma forte rajada de vento.

Nas nuvens transporto a chuva ao relento.

Num ápice formo um manto de neblina

Com uma espessura assaz consistente

Bloqueando a visão de qualquer vidente

Até o Sol o escondo de repente.

Aqui posso levantar uma tempestade

Mais além um enorme furacão

Em qualquer lado provoco um terremoto

Crio o fogo das entranhas dum vulcão.

Eu sou o clima, sou eu que governo

Mereço vosso respeito e consideração

Se não gostam do Outono e do Inverno

Deixo-lhes a Primavera e o Verão.

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O Bioma Nordeste

A FloraA região Nordeste possui uma cobertura vegetal diversifi cada. Na sua diversidade,

encontramos resquícios da Mata Atlântica, o cerrado que campeia o sul do Maranhão, o sudoeste do Piauí e oeste da Bahia, a caatinga que tão bem caracteriza o semi-árido, as dunas e os mangues, partes integrantes do litoral da região.

A Mata Atlântica, a mais extensa, se estende desde o cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte, até o Rio Grande do Sul. Ela avança do litoral para o interior do continente, estendendo-se por uma faixa média de 200 km, compreendendo a Zona da Mata litorânea (ver Figura 2).

O Cerrado, cobertura vegetal que no Nordeste permeia os estados já descritos anteriormente, apresenta como característica fi togeográfi ca o fato de ser constituído por gramíneas com árvores e arbustos dispersos isoladamente ou em pequenos grupos.

A Caatinga, que etimologicamente signifi ca mata branca, é constituída por variedades de vegetação que se destacam pela pouca folhagem, quase que exclusivamente composta de espinheiros, cactos e gravatás, adaptadas às condições da aridez ambiental. Segundo a região, a caatinga se caracteriza pelas seguintes coberturas: seca e agrupada, seca e esparsa, arbustiva densa e ainda caatinga das serras e do litoral. Estima-se que a fl ora nordestina possui de 2000 a 3000 espécies de plantas, das quais apenas 1000 possuem registro.

Por sua vez, a restinga, formação vegetal pouco densa, apresenta como característica árvores de troncos fi nos que eclodem normalmente em terrenos arenosos do litoral. Em meio a costa associada com a vegetação típica das praias e dunas encontram-se gramíneas, salsa de praia, capim de areia, entre outras, submetida à ação contínua dos ventos impregnados de spray salino provindos do mar. Com aspecto peculiar resultante da combinação envolvendo água e areia salgada, essa vegetação com características arbustiva e herbácea praticamente se estende por quase todo o litoral tropical do mundo.

O mangue é visto como um ecossistema costeiro comum nas regiões tropicais e subtropicais. Interface entre a terra e o mar, ele permeia as margens das baías, barras, enseadas, foz de rios e lagunas ou ainda onde se produza o encontro da água doce com a salgada. Sujeitas ao regime das marés, a sua vegetação é constituída por espécies que se desenvolvem em terreno com pequeno declive, sendo dominada por espécies típicas como o mangue vermelho (Rhizophora mangle, Rhizophora racemosa e Rhizophora harrisonii), conhecido como verdadeiro, bravo, sapateiro e gaiteiro; o mangue preto (Avicennia germinans e Avicennia shaueriana), também chamado de sereíba ou siriuba e o mangue branco (Laguncularia racemosa), conhecido como tinteira ou manso.

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Divisão das Plantas

• Árvore: Vegetal lenhoso que apresenta mais de três metros de altura constituído por

tronco, galhos, ramos e folha.

• Arbusto: Vegetal lenhoso, desprovido de tronco que tem ramifi cações desde a base.

• Erva: Vegetal pequeno, de talo macio, cujas partes verdes morrem em menos de um ano.

Cipó caboclo tá subindo na virola

Chegou a hora do pinheiro balançar

Sentir o cheiro do mato da imburana

Descançar morrer de sono na sombra da barriguda

De nada vale tanto esforço do meu canto

Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar

Tal mata atlântica e a próxima amazônica

Arvoredos seculares impossível replantar

Que triste sina teve cedro nosso primo

Desde menino que eu nem gosto de falar

Depois de tanto sofrimento seu destino

Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar

Quem por acaso ouviu falar da sucupira

Parece até mentira que o jacarandá

Antes de virar poltrona porta armário

Morar no dicionário vida eterna milenar

Quem hoje é vivo corre perigo

E os inimigos do verde da sombra

O ar que se respira

E a clorofi la das matas virgens

Destruídas bom lembrar

Que quando chegar a hora

É certo que não demora

Não chame Nossa Senhora

Só quem pode nos salvar

É caviúna, cerejeira, baraúna,

Imbuia, pau-d’arco, solva,

Juazeiro, jatobá,

Gonçalo-alves, paraíba, itaúba,

Louro, ipê, paracaúba,

Peroba, massaranduba,

Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro,

Catuaba, janaúba, aroeira, araribá,

Pau-ferro, angico, amargoso, gameleira,

Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá.

MatançaElomar Figueira De Melo -por Jatobá; Interpretes: Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai

Atividade 3

A partir dos versos de “Matança” escritos por Jatobá, você é capaz de identifi car algumas das espécies vegetais presentes na sua região? Faça um inventário das espécies mais comuns da sua região.

Font

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A FaunaO Brasil, país tropical, é conhecido por ser possuidor da maior biodiversidade do planeta.

Sua macro-fauna apresenta aproximadamente a seguinte constituição.

GrupoTaxiconômico

Brasil Amazônia Caatinga Cerrado Pantanal Mata Atlântica Campos Suplinos

Total Total End. Total End. Total End. Total End. Total End. Total End.

Flora (1) (2) >56.000 ... ... (3) 932 380 ... 4.400 ... ... ... 8.000 ... ...

Mamíferos 518 320 174 148 10 195 18 132 2 250 82 102 5

Aves 1677 550 32 107 60 180 29 113 ... 197 188 ... 2

Répteis 468 (4) 1.000 340 348 ... 837 20 346 5 (5) 849 60 476 ...

Anfíbios 517 163 12 47 ... 113 32 ... ... 340 87 ... ...

Insetos 10.000.000 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Invertebrados 13.320 ... ... ... 14.425 ... ... ... ... ... ... ...

Peixes H2O Doce 3.000 ... ... 185 106 ... ... 283 ... 350 133 50 12

END. = Endêmicas; (1) O número de espécies da fl ora dos Biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica é estimado entre 10.000 e 21.000 espécies fanerogãmicas. (2) Para os Biomas Cerrado e Mata Atlântica são apresentados números estimados de espécies vegetais endêmicas. (3) O número de espécies da fl ora do Bioma Caatinga corresponde às espécies vegetais, já registradas e catalogadas cientifi camente. (4) Valor aproximado. (5) Exclui as espécies citadas como acidentais, marinhas, insulares, introduzidas e visitantes.

Tabela 1 – Relação da biodiversidade do Brasil e de seus principais biomas.

Font

e: IB

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ade.

Muito embora a caatinga aparente ser um bioma pobre, de acordo com a Tabela 1, ela revela ser um celeiro de espécies endêmicas e de múltipla constituição vegetal. Além disso, enfatizamos que dentre os ecossistemas brasileiros, a caatinga é o menos conhecido, fato atestado pela descoberta e caracterização de novas espécies, com base em trabalhos desenvolvidos por botânicos e zoólogos.

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No sertão nordestino

Tem a sua fl ora típica

E mesmo na caatinga

Bela e exuberante fi ca

Entre o cacto e o juazeiro

Angico e marmeleiro

Vive sua fauna rica.

Tem anu preto e zabelê

O gato maracajá

A onça suçuarana

Tem tatu peba e preá

Irara e porco caititu

Graúna e branco anu

Borboleta-maracujá

O bonito mico estrela

Tem tejo e camaleão

De bando tem avoante

E o passarinho cancão

A linda ararinha azul

O canoro sonhaçú

E o carcará gavião.

Lavadeira ou noivinha

Abre e fecha ou tico-tico

O galinho de campina

Tem o soim que é mico

Frango dágua e juriti

Raposa, gambá e paturi!

Nesse sertão tão rico.

Cobra preta e cobra-cega

E a verdadeira coral

Cascavel e corre campo

A Papa ovo não faz mal

Jararaca e caninana

Cobra verde e muçurana

Tem a jibóia anormal.

Fauna Nordestina

Autor: Daniel Fiúza

Atividade 4

A partir do Cordel Fauna Nordestina, escrito por Daniel Fiúza, Usina de Letras, http://www.usinadeletras.com.br/, você é capaz de identifi car alguns dos animais presentes na sua região? Faça um inventário dos animais mais comuns da sua região.

O feio calango-cego

Lagartixa e calanguinho

Tem tamanduá mirim

João bobo ou rapazinho

Caçote e sapo cururu

E pra carniça o urubu

E azulão o passarinho.

Borboleta da caatinga

Fogo-pagou a rolinha

No lago o pato de crista

Pato preto e marrequinha

Asa branca do sertão

Cantou o rei do baião

Currupião e coroinha.

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O Nordeste social

Os primeiros habitantes do Nordeste

A teoria mais aceita a respeito da origem do homem americano é partidária de que os primeiros habitantes a povoarem o continente migraram da Ásia, passando pelo estreito de Bering, atingindo a América no decorrer da última Era Glacial há 21.000 anos, quando um terço dos continentes do planeta estavam imersos em massa de gelo e a temperatura média da superfície era de 5°C (cinco graus centígrados) (ver Figura 7). A história do nosso planeta contempla avanços e recuo de massas de gelo em grandes extensões dos continentes. Ao movimento dessas massas frígidas, dá-se o nome de Glacinação e atribui-se a denominação de Era Glacial aos períodos nos quais o gelo ocupa grandes áreas em que reinam temperaturas excessivamente frias. Segundo o sérvio Milutin Milankovitch (1879 – 1958), matemático e especialista em astronomia e geofísica, as Glacinações decorrem de alterações na órbita da Terra.

Fígura 7 – A Terra durante o período glacial e na atualidade (A e B, respectivamente)

Figura 7BFigura 7A

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Entre 28.000 e 23.000 anos a.C., uma grande quantidade de água retida nas geleiras do ártico induziu o abaixamento do nível das águas do mar, gerando uma ponte natural ligando o extremo leste do que viria a ser a Ásia, região além Sibéria, com a região isolada e rochosa do atual Alasca. Assim, o homem migrava para o Novo Mundo, para a América. Após um novo período submerso, a ponte emergiu e perdurou durante 14.000 e 10.000 anos a.C. Foi fazendo uso dessa rota que os asiáticos migraram para o continente americano. Admite-se que o homem, ao chegar ao novo Continente já tinha evoluído a Homo Sapiens, fato comprovado pela antropologia, etnografi a e lingüística, ciências defensoras da teoria da migração via estreito de Bering. A ele coube a tarefa de explorar o novo continente e povoar as suas diferentes regiões, uma destas, o Nordeste do Brasil. Além do mais, ele foi o precursor das primeiras comunidades agrícolas no território onde hoje se situam países como México, Guatemala, Honduras, Equador, Bolívia, Peru, Chile, berço das civilizações Maia, Asteca e Inca.

Quanto à migração humana para as terras brasileiras, entre 12.000 e 9.000 anos a.C., duas áreas férteis em dados arqueológicos são levadas em consideração, a primeira compreende a Bacia Amazônica e a segunda ao Planalto Central, ambas ocupadas por incursões sucessivas do Homo Sapiens. Por sua vez, a ocupação do nordeste brasileiro ocorreu ao fi nal do Período Pleistoceno, dando-se a partir do Planalto Central por incursões de caçadores que se estabeleceram próximos aos mananciais aquáticos, o que possibilitou a adaptação progressiva da espécie às condições áridas da região. Nesse mesmo período, coabitavam a região espécimes como o tigre dente-de-sabre, o mastodonte, a preguiça e o tatu gigante, componentes da mega-fauna local (MARTIM, 1999, p. 24-26).

Na futura região Nordeste, o homem primitivo evoluiu a homem do sertão, sertanejo, mestiço resultante da miscigenação entre brancos e índios, até hoje convivendo com as intempéries do seu habitat e assumindo o perfi l tão bem descrito por Euclides da Cunha em sua obra-máxima, Os Sertões (CUNHA, 2002, p. 115).

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. [...] A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, [...]. É desgracioso, desengonçado, torto. [...}. O andar sem fi rmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um carater de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra [...] . Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e fi rme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo – cai é o termo – de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fi ca suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.

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De acordo com o censo de 2000, realizado pelo IBGE, a população da região Nordeste foi estimada em 47.819.334 habitantes, valor correspondente a 28% da população nacional, sendo a sua taxa média de crescimento anual igual a 1,1%. Ela está distribuída nos estados conforme mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – População dos Estados do Nordeste.

Font

e: IB

GE

Estado População

Maranhão 5.660.255

Piauí 2.847.489

Ceará 7.444.000

Rio Grande do Norte 2.780.176

Paraíba 3.445.125

Pernambuco 7.930.964

Alagoas 2.826.575

Sergipe 1.788.747

Bahia 13.096.003

Nos Estados que compõem a região Nordeste do Brasil, encontra-se inserida a região semi-árida (969.589,4 km²) mais populosa do planeta, com 19.343.579 habitantes, assim distribuídos: 10.936.851 habitantes na área urbana e 8.406.728 habitantes na área rural.

Por ser dentre as regiões semi-áridas do planeta a mais populosa, o Nordeste brasileiro enfrenta problemas sérios que interferem efetivamente no seu desenvolvimento, os mais comuns são: a distribuição de terras, a concentração de renda, a seca e, sobretudo, o analfabetismo.

A SecaEvoluindo em meio ao Nordeste brasileiro, a região Semi-Árida (o Sertão) apresenta um

balanço hídrico defi citário, decorrente das precipitações médias anuais inferiores a 800 mm de água. O seu clima se caracteriza por apresentar temperaturas médias anuais no intervalo de 24° a 30°C, enquanto a insolação média que permeia o ambiente, tempo durante o qual o sol está descoberto irradiando localmente, situa-se entre 2800 e 2900 horas/ano. Outro fenômeno a ser enfatizado é a evapotranspiração resultante de duas contribuições: a primeira, sendo a evaporação direta (evolução física sofrida pela água ao passar do estado líquido para o estado de vapor) que se dá a partir da água dos solos humidos e dos diferentes mananciais aquáticos da região; e a segunda, a transpiração dos vegetais. Relatamos que boa parte do vapor d’água presente na atmosfera resulta da transpiração das plantas. As raízes dos vegetais captam a água presente no solo e a conduz por osmose através dos seus vasos capilares; nas suas folhas, através de seus estômatos (microporos), parte da água se evapora e parte é utilizada pelo vegetal para a realização do processo de fotossíntese.

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Atividade 5Acessar o site http://www.agritempo.gov.br/index.php, selecionar o Estado e o Município onde reside e estabelecer através da leitura dos mapas disponíveis no link «Mapas de Monitoramento»:

a) as coordenadas do município (Latitude e Longitude);

b) os valores médios dos parâmetros seguintes: número de dias

correspondentes ao período de estiagem; percentagem de água disponível no solo; valor da precipitação acumulada no período em milimetros de água; porcentagem de reposição de chuvas para o seu Município.

Por tratarmos inicialmente a respeito de precipitação, da temperatura média ambiente, da evapotranspiração, somos induzidos a pensar que a seca é um problema de origem puramente climático. Isso porque algumas vezes a água proveniente da chuva é sufi ciente apenas para fazer fl orescer a caatinga, enquanto outras, mais intensas, acumulam-se em barreiros e açudes da região sem, no entanto, permitir o afl orar dos plantios agrícolas, fenômeno popularmente conhecido como seca verde. Há muito tempo, a repetição do fenômeno seca nos tem mostrado que períodos de estiagens excessivamentes prolongadas provocam distúrbios hidrológicos signifi cativos associados ao equilíbrio físico envolvendo a água no estado líquido e a água no estado de vapor (H2O(l) H2O(v)).

Quando estudada de forma mais detalhada, a seca é um fenômeno complexo tendo em vista que resulta de múltiplas variáveis físico-químicas, algumas das quais externas à região, como a circulação das massas de ar, as correntes oceânicas, que associadas ao movimento atmosférico inibem a formação de chuvas sobre a região, outras, internas, como a sua vegetação xerofítica, caducifoliar e aberta, adaptada a pouca água, a topografi a e a refl etividade do solo.

Porém, as variáveis sociais, como o êxodo rural, a fome e a desnutrição, as moléstias e a alta taxa de mortalidade e, sobretudo, o analfabetismo são barreiras que têm se mostrado quase intransponíveis ao desenvolvimento da região, sendo estas, até então, as formas encontradas pelo Homo Sapiens de isentar-se de culpa e penalizar a natureza.

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ResumoNesta aula, passamos a conhecer melhor o Nordeste brasileiro. Aprendemos que a sua criação foi decorrência de um fenômeno que, pela sua amplitude, a distingue de todas as demais regiões do Brasil: a seca. Também, evidenciamos a região quanto a sua localização espacial, estrutura geológica, hidrografi a e seu clima. Em breve relato, descrevemos a sua fl ora, diversifi cada próxima ao litoral e característica na região semi-árida – a caatinga, além de traçarmos o perfi l estatístico da sua fauna. Retratamos, ainda, a origem do homem do sertão, o sertanejo, resultado da miscigenação entre o homem branco e os nativos, índios das diferentes etnias. Por fi m, traçamos o perfi l físico e social do principal fenômeno que assola a região Nordeste, a seca.

Auto-avaliação Acesse a Internet, no endereço http://earth.google.com/, e grave a versão livre (free) do

programa Get Google Earth, em seguida, instale-a em seu computador. De posse do programa, visualizando o globo terrestre, mais especifi camente, a América do Sul:

visualize o Nordeste e trace um perfi l global do relevo, hidrografi a e preservação da fl ora da região;

localize cada uma das capitais dos Estados da região Nordeste descrevendo-as brevemente a partir da imagem visualizada;

localize o município onde você mora fornecendo as suas coordenadas e preparando uma breve redação a respeito dos aspectos físicos que lhe são característicos.

1

2

3

Nesta atividade, o aluno, além de já ter o programa GET Google Earth instalado no computador em que trabalha, deverá contar com a ajuda do tutor com a fi nalidade de aprender a manipular as opções oferecidas pelo programa.

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Anotações

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EMENTA

> Franklin Nelson da Cruz

> Gilvan Luiz Borba

> Luiz Roberto Diz de Abreu

A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera e o clima, a biosfera, a hidrografi a, a fl ora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira identifi cação de problemas ambientais.

CIÊNCIAS DA NATUREZA E REALIDADE – INTERDISCIPLINAR

AUTORES

AULAS

01 Situando a Ciência no Espaço e no Tempo

02 A Terra – litosfera e hidrosfera

03 A Terra – atmosfera

04 Bioma Caatinga – recursos minerais

05 Bioma Caatinga – recursos hídricos

06 Bioma Caatinga – recursos fl orestais e fauna

07 Interação Sol – Terra: fl uxos de Energia

08 Clima e tempo

09 O Homem – origens

10 A Hipótese Gaia

11 Poluição

12 Ciência e ética

13 Ciência, Tecnologia e Sociedade

14 Universo: uma breve apresentação

15 O Nordeste, o Homem e a Seca: natureza de uma realidade

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