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IV. A EDIFICAÇÃO DA IGREJA “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na OBRA DO SENHOR, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” (1 Coríntios 15:58) “Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se VINHO NOVO EM ODRES NOVOS, e assim ambos se conservam.” (Mateus 9:17) A. INTRODUÇÃO 1. Recapituação Fizemos nos capítulos anteriores um enquadramento histórico em que procurámos: a) Explicar que a nossa Igreja transporta em si a herança evangélica da Reforma; b) Que somos fruto do derramamento do Espírito Santo que deu início ao movimento pentecostal. A nossa experiência em Portugal remonta a um avivamento espiritual no final dos anos 70, caracterizado por um derramamento do Espírito Santo com batismo com o Espírito Santo e a restauração de dons e ministérios do Espírito; c) Que esse avivamento está associado ao momento profético que a Igreja vive atualmente e que visa preparar a Igreja para o Arrebatamento. 2. Vinho novo requer odres novos A história dos avivamentos, sejam eles generalizados ou localizados, levanta sempre um mesmo problema: uma vez recebida a bênção de Deus, como mantê-la? Como conservar o “vinho novo” do Espírito? Durante o século 20, como referimos, inúmeras igrejas puderam experimentar o fogo do Espírito Santo, que foi derramado sobre toda a carne. Mas também em muitos casos esse fogo rapidamente se extinguiu. Porquê? O Senhor Jesus, usando a imagem do odre e do vinho, explicou: Página 36 2ª parte: ENQUADRAMENTO DOUTRINÁRIO

2ª parte: ENQUADRAMENTO DOUTRINÁRIO - … · pentecostal. A nossa experiência em Portugal remonta a um avivamento espiritual no final dos ... O Senhor Jesus, usando a imagem do

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IV. A EDIFICAÇÃO DA IGREJA

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na OBRA DO SENHOR,

sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” (1 Coríntios 15:58)

“Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se VINHO NOVO EM ODRES NOVOS,

e assim ambos se conservam.” (Mateus 9:17)

A. INTRODUÇÃO

1. Recapituação

Fizemos nos capítulos anteriores um enquadramento histórico em que procurámos:

a) Explicar que a nossa Igreja transporta em si a herança evangélica da Reforma;

b) Que somos fruto do derramamento do Espírito Santo que deu início ao movimento pentecostal. A nossa experiência em Portugal remonta a um avivamento espiritual no final dos anos 70, caracterizado por um derramamento do Espírito Santo com batismo com o Espírito Santo e a restauração de dons e ministérios do Espírito;

c) Que esse avivamento está associado ao momento profético que a Igreja vive atualmente e que visa preparar a Igreja para o Arrebatamento.

2. Vinho novo requer odres novos

A história dos avivamentos, sejam eles generalizados ou localizados, levanta sempre um mesmo problema: uma vez recebida a bênção de Deus, como mantê-la? Como conservar o “vinho novo” do Espírito? Durante o século 20, como referimos, inúmeras igrejas puderam experimentar o fogo do Espírito Santo, que foi derramado sobre toda a carne. Mas também em muitos casos esse fogo rapidamente se extinguiu.

Porquê? O Senhor Jesus, usando a imagem do odre e do vinho, explicou:

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2ª parte: ENQUADRAMENTO DOUTRINÁRIO

“Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” Mateus 9:17

Isto é, para conservar o vinho novo, tem de se recorrer a odres novos (que eram feitos de pele de animais), que têm flexibilidade e resistência suficientes para aguentar a fermentação. O importante é o vinho; o odre é apenas um recipiente capaz de guardar o vinho.

Esta imagem pode ser aplicada à vida individual do crente: a menos que este tenha a sua vida regenerada e viva como nova criatura, a bênção que um dia conheceu pode extinguir-se.

Mas podemos fazer um paralelo com a Igreja: do mesmo modo que o vinho novo requer odres novos, assim a bênção nova do Espírito, para se manter, necessita de uma estrutura renovada de Igreja. O importante é o conteúdo, a bênção espiritual; mas sem uma estrutura adequada para a conservar, ela acabará por se perder.

No início, o Senhor concedeu-nos, pela Sua graça, o mais importante — a bênção do Seu Espírito; mas a nossa estrutura e mentalidade de Igreja eram profundamente tradicionais e inadequadas para a nova operação do Espírito Santo que estávamos a experimentar.

Um exemplo: O nosso conceito de pastor era o de alguém com formação teológica, geralmente assalariado pela Igreja e responsável pela realização da maior parte do trabalho da Igreja. Este entendimento tradicional colidia com a nova compreensão que o Senhor nos estava a dar do ministério da Palavra, que não era uma profissão ou título, mas uma função no Corpo. Como acomodar este novo entendimento de ministério numa estrutura tradicional de Igreja?

Isto levou o grupo inicial a buscar um “odre novo”, isto é, uma estrutura de funcionamento da Igreja (que obviamente estivesse de acordo com a Palavra de Deus) compatível com a nova realidade que experimentávamos. Note-se que, nessa época, o Senhor já começara a revelar-Se através dos dons espirituais, usando irmãos e irmãs de várias proveniências. Além disso, também haviam sido levantados pastores onde se manifestavam diversos ministérios (incluindo profetas e mestres, como em Antioquia, cf. Atos 13:1-2). Isto é, havia recursos para o Senhor falar e discernimento para discernir a revelação.

Esse “odre novo” começou a ser formado mediante um entendimento que o Senhor nos foi dando a respeito de determinados aspetos da vida da Igreja, tais como:

a) A OBRA — O que significava “fazer a Obra”? Começámos a entender que Obra não é um projeto nosso nem de uma denominação. Tornou-se claro que o compromisso do Senhor é com o Seu projeto e não o nosso e que a sua execução deve ser dirigida pelo Seu Espírito;

b) A PALAVRA VIVA — Estávamos habituados a usar a Bíblia em estudo e pregação. Mas não haveria algo mais além da mera interpretação literal da Palavra de Deus? A Bíblia é a Palavra inspirada e inerrante de Deus, mas não é também uma Palavra “viva e eficaz” (Heb. 4:12)? Como experimentar essa dimensão mais profunda das Escrituras?

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Um beduíno do deserto usando um odre tradicional, feito da pele de animal

c) O CORPO DE CRISTO — Quais as implicações práticas do facto de a Igreja ser Corpo de Cristo?

d) DONS ESPIRITUAIS — Na prática, como podem ser usados na vida diária da Igreja?

e) MINISTÉRIO — O que é um pastor? Como é levantado? Por que fala a Bíblia de cinco ministérios e não apenas de um (Ef. 4:11)? Como se relacionam os pastores entre si? Um pastor tem uma autoridade irrestrita na Igreja?

f) O CULTO — Que fazer quando a Igreja se reúne? Como louvar, pregar ou orar em conjunto? Como integrar os dons espirituais no culto? Etc.

A estas e outras perguntas o Senhor foi-nos respondendo. Deste modo, passados alguns anos sobre a primeira visitação do Espírito Santo, a nossa Igreja, para além de ter um nome — por necessidade prática e exigência legal, mas que é de importância secundária — adquiriu uma determinada estrutura e uma identidade doutrinária (graças aos princípios a que chamaremos “Fundamentos da Obra”) que tornou possível ter um odre novo capaz de conservar o vinho novo do Espírito.

3. A importância da doutrina

A doutrina é hoje muitas vezes desvalorizada (para muitos, o mais importante seria a vida da Igreja, não a sua doutrina) ou mal interpretada (caso das igrejas que transformam a doutrina em regulamentos internos sobre os seus usos e costumes). Mas a Bíblia dá-lhe grande importância. De facto, a palavra “doutrina” surge logo no cap. 2 de Atos, quando nasce a Igreja, onde lemos:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” Atos 2:42

É curioso notar que Lucas, ao descrever a vida diária da Igreja nascente, menciona em primeiro lugar a perseverança dos crentes na “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42). Depois da doutrina seguem-se, por ordem, a comunhão, o partir do pão e as orações.

Porquê esta preeminência atribuída à doutrina, ênfase que é amplificada em muitos outros textos do Novo Testamento?

i. Em 1º lugar, a doutrina é importante porque ela define e estabelece com autoridade a verdade revelada, sobre a qual se firma a Igreja de Cristo.

• Conhecer a verdade permite-nos identificar o erro. Por exemplo: qualquer doutrina que desloque Cristo da Sua posição como “pedra de esquina” e “cabeça do Corpo” deve ser considerada liminarmente como uma falsa doutrina.

• Há muitas outras revelações que Deus, na Sua providência, permitiu que ficassem registadas na Bíblia: sobre o Espírito Santo, a Igreja, a segunda vinda de Cristo, etc. Essas revelações são absolutamente (e não circunstancialmente) verdadeiras, válidas para o Povo de Deus de todos os tempos e lugares, e que em caso algum podem ser contraditadas. (Estudaremos as principais na área disciplinar “Grandes Doutrinas da Fé”).

• A doutrina revelada constitui portanto o próprio alicerce da Igreja. Uma casa sem alicerces não se sustenta e acaba por desabar. Um corpo sem ossos não tem estrutura que o suporte. Assim é uma Igreja que não é edificada sobre fundamentos doutrinários sólidos.

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Odre velho não aguenta vinho novo

ii. Em 2º lugar, a doutrina é importante porque a doutrina gera a unidade do Corpo.

Ao contrário de alguns que afirmam que “o amor une e a doutrina divide”, a verdade é que a doutrina une o Corpo de Cristo e assim permite que, nessa unidade, ele viva em verdadeiro amor (amor no Espírito).

iii. Em 3º lugar, a doutrina é importante porque a doutrina dá saúde à Igreja.

Por isso Paulo, em diversas ocasiões, menciona a “sã doutrina” (cf. Tito 2:1). Ela é “sã” porque é pura e porque promove a saúde espiritual do Corpo de Cristo. É ela que nos guia na obra da edificação da Igreja.

B. O FUNDAMENTO DA IGREJA

Concentremos agora a nossa atenção em I Cor. 3:10-13

“Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.

E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.”

Encontramos neste texto algumas verdades fundamentais que iremos comentar com pormenor a seguir.

1. O fundamento é Cristo

Qual o fundamento desta construção – a Igreja – que o Espírito Santo está a edificar?

O fundamento único e exclusivo da Igreja é Cristo e nenhum outro fundamento pode ser lançado além deste:

“Ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. 1 Cor. 3:11

É este o fundamento lançado pelos apóstolos e profetas:

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina”. Ef. 2:20

Sobretudo nas construções antigas, onde as pedras se encaixavam umas nas outras, se fosse retirada a pedra de esquina a uma construção, o edifício acabaria por desabar. Do mesmo modo, se retirarmos a pessoa e obra de Cristo do fundamento da Igreja, esta não poderá prevalecer – ou então será outra coisa que não a Igreja do Senhor.

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Uma pedra de esquina numa casa em construção

2. O fundamento foi lançado pelos apóstolos

a) Os apóstolos (neles incluído Paulo) receberam diretamente do Senhor Jesus a revelação dos fundamentos doutrinários da Igreja. O Senhor Jesus tinha prometido:

“Aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto tenho dito.” (João 13:26)

Nos evangelhos, encontramos o relato da vida e Obra do Senhor Jesus. Sem dúvida, o Espírito Santo fez lembrar aos escritores tudo quanto Cristo tinha dito.

Mas a promessa ia mais longe: o Espírito iria ensinar-lhes todas as coisas e conduzi-los a toda a verdade. As epístolas documentam isso mesmo. De facto, as cartas escritas pelos apóstolos são verdadeiros comentários de toda a Bíblia:

• São antes de mais comentários dos evangelhos, não apenas comentários em palavras mas também em exemplos vivos, como documenta o livro de Atos.

• São também comentários do Velho Testamento: por exemplo, Romanos e Gálatas explicam o sentido da Lei; Hebreus explica o sistema de sacrifícios do culto levítico.

• Mas também contêm indicações claras sobre a Igreja: a sua natureza, a sua missão, o seu funcionamento, os seus recursos e até uma antevisão profética da sua existência ao longo dos séculos.

b) Embora outros apóstolos tenham surgido depois e continuem a surgir nos nossos dias, o ministério dos primeiros apóstolos é irrepetível neste sentido: foram eles que lançaram as bases, os alicerces ou os fundamentos da Igreja. Por isso Pedro reivindica esta autoridade particular:

“Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador.” 2 Pedro 3:2

C. OS MATERIAIS PARA A EDIFICAÇÃO

Na 2ª parte do texto que estamos a analisar (I Cor. 3:10-13) lemos o seguinte:

“… mas veja cada um como edifica sobre ele. (…) E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.”

1. O arquiteto e os edificadores da Obra

Paulo distingue aqui:

(i) O arquiteto (“pus eu, como sábio arquiteto”) - referindo-se ao trabalho dos apóstolos que lançaram o fundamento;

(ii) Os edificadores ou obreiros, os que edificam sobre o fundamento (“veja cada um como edifica sobre ele”). Hoje, podemos incluir-nos neste grupo: também nós somos edificadores da Obra.

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Paulo adverte: “veja cada um como edifica”. O arquiteto tem o projeto e lança os alicerces. Mas todo o t raba lho de edificação é realizado pelos edificadores.

O arquiteto foi inspirado e dirigido pelo Espírito Santo. E os edificadores (nós, hoje), não necess i t a rão da mesma bênção do Espírito?

Dito de outro modo: a Obra do Espírito Santo terminou quando o fundamento foi estabelecido? É evidente que não: hoje, o mesmo Espírito continua a realizar a Obra do Senhor. O Espírito de Cristo continua no meio da Igreja, conduzindo-nos a toda a verdade. Não para acrescentar revelações novas ao Novo Testamento: o cânone da Bíblia está encerrado e ai de quem lhe retirar ou acrescentar alguma coisa! Não para lançar o fundamento. Mas hoje o Espírito Santo continua a ensinar-nos a edificar a Igreja. É esse o sentido da afirmação de João:

“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine...” (1 João 2:27).

A fonte de toda a verdade é sempre o Espírito Santo. É Ele quem nos ajuda a discernir o erro e a fugir dele. Por isso, o Espírito Santo não apenas se manifestou no lançamento do fundamento da Igreja, como Ele continua hoje a guiar-nos na edificação da Igreja de Cristo.

ESPÍRITO SANTO

O arquiteto Os edificadores

Lança o fundamento: Cristo Edificam sobre o fundamento

Ministério dos primeiros apóstolos Obreiros (incluindo-nos a nós)

2. Dois tipos de materiais

a) A preocupação de Paulo tem a ver não apenas com o fundamento mas também com uma questão específica: os materiais que os edificadores usam na obra da edificação.

• Enumera seis desses materiais: ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha. Lembremos que o edifício servirá como “templo santo no Senhor... morada de Deus em Espírito” (Ef. 2:21-22). Obviamente, num edifício desta natureza não cabem materiais como madeira, feno e palha.

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“Veja cada um como edifica”

1 Coríntios 3:10

• Qual a diferença entre os primeiros três e os últimos? A diferença fundamental tem a ver com o teste do fogo: os primeiros três sobrevivem ao fogo, e de certa forma até são beneficiados por ele, porque se tornam mais puros e valiosos. Os últimos três são de fácil combustão e por isso desaparecem rapidamente.

b) Como podem os edificadores escolher os materiais adequados?

Nos versículos que se seguem a I Cor. 3:10-13, Paulo explica que para essa escolha é necessária a sabedoria de Deus. Paulo contrasta dois tipos de sabedoria: a dos homens ou do mundo, que “é loucura diante de Deus”; e a sabedoria de Deus, que é loucura para o mundo.

• Os primeiros materiais – ouro, prata e pedras preciosas – representam as escolhas dos edificadores sábios.

• Madeira, feno e palha são escolhas segundo o mundo, que Deus considera loucura.

Podemos afirmar que nós, como Igreja de hoje, estamos perante o mesmo dilema: o fundamento está lançado e temos consciência disso. Agora, como vamos edificar? Quais serão as nossas escolhas? Essa é a nossa grande responsabilidade.

Não é por acaso que Paulo enumera três materiais bons e três que não servem. Comecemos pela primeira série de três. O número três, na Bíblia, remete-nos frequentemente para a Trindade. Podemos assim estabelecer uma associação de cada um destes materiais com cada pessoa da Trindade divina.

3. Os materiais adequados

a) O Ouro

• O ouro remete-nos para Deus Pai, autor do projeto da redenção, e para a Palavra do seu poder. Lembremos que o poder de Deus está na sua Palavra, que cria todas as coisas. A Palavra de Deus é viva e só ela tem a capacidade de gerar vida:

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.” 1 Pedro 1:23

• A Palavra de Deus é comparada ao ouro. No livro dos Salmos lemos a respeito dos juízos de Deus que são...

“...mais desejáveis do que o ouro, sim, do que muito ouro fino”. Sal. 19:10

O salmista escreve:

“Por isso amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino”. Salmo 119:127

À Igreja de Laodiceia, o Senhor diz:

“Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças”. Apoc. 3:18

• A Palavra poderosa do Pai é o ouro. O Pai é o autor do projeto da redenção. Por isso, a nossa primeira preocupação como edificadores deverá ser a de colocar a Palavra de Deus acima de qualquer outra coisa. Nada tem mais valor do que ela. Jesus associou a Palavra ao poder de Deus, quando censurou os saduceus:

“Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. Mat. 22:29

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Não há verdadeiro poder espiritual se este não tiver a sua origem na Palavra de Deus. É inútil procurar o poder de Deus se este não estiver de acordo com o projeto revelado nas Escrituras. Mas a Palavra tem de ser vivificada pelo Espírito Santo. Como o Senhor Jesus declarou:

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.” João 6:63.

Este é o ouro de que a Igreja de Cristo necessita.

b) A Prata

A prata representa o sangue de Jesus, que foi o preço pago pela nossa redenção.

• José foi vendido pelos irmãos por vinte moedas de prata (Gn. 37:28).

• Os primogénitos de Israel eram resgatados com prata (Núm. 3:44-50).

• Segundo a profecia de Zacarias (11:12-13), o Messias seria avaliado por trinta moedas de prata. Foi precisamente esse o preço que os príncipes dos sacerdotes pagaram a Judas Iscariotes para trair o Senhor Jesus (Mt 26:15), o preço pago no mercado por um escravo comum.

Pedro refere-se ao preço da redenção dizendo que:

“...não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados... mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado”. 1 Pe. 1:18-19

A prata simboliza, portanto, o preço da redenção, identificando um recurso fundamental da Obra de Deus: o sangue do Cordeiro, o precioso sangue de Jesus derramado na cruz.

Paulo, escrevendo em 1 Coríntios 2:2, afirmou de forma enfática:

“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”.

Não basta falar de Cristo; temos de falar de Cristo oferecido como sacrifício de sangue em nosso lugar. Esse é o verdadeiro evangelho. Não há salvação sem sangue (Heb. 9:22).

O Senhor tem-nos levado a valorizar o sangue do seu Filho Jesus. Só neste sangue há verdadeira salvação e vitória.

c) Pedras Preciosas

Se o ouro nos fala do poder do Pai e a prata da redenção pelo sangue do Filho, as pedras preciosas remetem-nos para os recursos preciosos que o Espírito Santo coloca ao dispor da Igreja para a Obra da edificação. A esse conjunto de recursos, em que se destacam os dons e os ministérios, podemos chamar “o ministério do Espírito” (cf. 2 Cor. 3:8).

No cap. 12 de 1 aos Coríntios, Paulo sublinha que tudo o que existe no Corpo vem pelo Espírito: “a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil...” (v. 7).

• Os dons espirituais são concedidos “pelo Espírito” (vs. 8 a 10): “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. (v. 11)

• Os cinco ministérios da Palavra descritos em Ef. 4:11 são outra manifestação do Espírito, concorrendo de forma decisiva para a edificação da Igreja. Teremos oportunidade de voltar a este tópico.

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Resumindo:

Seguindo a sugestão de Paulo de considerar três tipos de materiais bons para a Obra – ouro, prata e pedras preciosas – podemos sistematizar três grandes conjuntos de doutrinas e práticas (“Fundamentos da Obra”) que fazem parte da Obra de edificação da Igreja:

1º- A doutrina da Palavra [ouro]: inspirada por Deus e infalível; Palavra viva, revelada pelo Espírito Santo.

2º- A doutrina do Sangue [prata]: a importância crucial do sangue de Jesus na redenção, santificação e preservação da Igreja; essencial nesta hora da partida da Igreja (Arrebatamento).

3º- A doutrina do Corpo [pedras preciosas]: a estrutura da Igreja, o seu governo, a sua unidade e a sua diversidade de ministérios, dons e serviços.

3. Os materiais imprestáveis

Por oposição a estes recursos preciosíssimos, encontramos outro conjunto de três materiais de qualidade incomparavelmente inferior: a madeira, o feno e a palha. São todos materiais facilmente combustíveis: não passam o teste do fogo.

• São materiais que representam o homem na carne. Podem-nos impressionar a ciência, a inteligência humana, a cultura, o magnetismo pessoal, a eloquência, a capacidade de persuasão e tantas outras capacidades do homem. Mas são totalmente imprestáveis no que toca à realização da Obra de Deus.

• Em 1 Cor. 2, o apóstolo enfatiza com muita clareza a diferença entre a sabedoria de Deus (que usa os materiais adequados) e a sabedoria dos homens (que recorre aos materiais imprestáveis). Formula um raciocínio que arrasa com qualquer pretensão dos sábios deste mundo: se os príncipes, isto é, as pessoas detentoras de poder e sabedoria segundo o mundo, conhecessem a sabedoria de Deus, “nunca crucificariam ao Senhor da glória” (1 Cor. 2:8). Que sabedoria é essa que crucifica o Filho de Deus? A vergonha da cruz é pois a prova cabal de que o homem não consegue penetrar, nem um pouco só, nos mistérios da sabedoria de Deus. Conclui:

“Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Cor. 2:11).

Não adianta pois tentar construir a Obra com aquilo que não presta. O fogo virá e tudo desaparecerá rapidamente. Em resumo:

Materiais adequados

OURO Poder do PAI

PRATA Redenção do FILHO

PEDRAS PRECIOSAS Recursos do ESPÍRITO SANTO

Materiais imprestáveis

Madeira, feno e palha O homem na carne

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D. TRÊS MODOS DE EDIFICAR A IGREJA

Indo um pouco mais longe, podemos inferir a partir do texto de 1 Coríntios 3 três modos de edificar, ou três tipos de atitudes na obra da edificação da Igreja:

1ª atitude - Edificar sobre o fundamento certo usando os materiais certos: fazer a OBRA DE DEUS.

A nossa oração e todo o nosso esforço é que sejamos capazes de edificar deste modo a Obra do Senhor.

2ª atitude - Edificar sobre o fundamento certo mas usando materiais impróprios: fazer a OBRA DO HOMEM.

É a esta atitude que Paulo se refere no texto em análise e que consiste em recorrer à sabedoria humana, que reflete o espírito do mundo, em lugar de depender da sabedoria de Deus e dos recursos que Ele coloca à nossa disposição.

3ª atitude - Rejeitar o fundamento: fazer as obras da RELIGIÃO (apóstata).

Esta é a posição histórica das igrejas que na prática substituíram o único fundamento, Cristo, por outros fundamentos. É o caso da Igreja de Roma e das igrejas protestantes liberais, que já não creem na Palavra de Deus que nos revela Jesus como o Cristo Filho de Deus.

Esta rejeição do fundamento permite-nos considerar estas Igrejas como falsas Igrejas, uma vez que têm um falso fundamento, sobre o qual é edificada uma falsa obra. Uma vez que Cristo é substituído por outro fundamento, podemos considerá-las não apenas formas de religião não-cristã como, na sua essência, formas de uma religião anti-cristã.

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Pergunta 16

Qual o significado do "odre novo"?

Selecione uma opção de resposta:

a) Uma nova forma de pregar a Palavra.b) Um novo conceito de ministério.c) Uma nova estrutura espiritual, o Corpo, capaz de manter a nova bênção do Espírito Santo.d) Mais liberdade para o uso dos dons espirituais na Igreja.e) Uma nova denominação, separada das tradicionais.

Pergunta 17

Quem lançou o fundamento da Igreja, que é Cristo?Selecione uma opção de resposta:

a. Os doze apóstolos.b. O apóstolo Paulo.c. Os apóstolos e os profetas da Igreja primitiva.d. Os apóstolos Pedro e Paulo.

Pergunta 18Responda às perguntas a seguir, escolhendo a letra que corresponde a uma das seguintes respostas:

a) A redenção pelo sangue de Jesus.b) O poder da Palavra do Pai.c) Os recursos do Espírito Santo no Corpo (ministérios, dons, etc.).

1- O que simboliza a prata, na edificação da Obra? R: a – b – c 2- O que simbolizam as pedras preciosas, na edificação da Obra? R: a – b – c3- O que simboliza o ouro, na edificação da Obra? R: a – b – c

Pergunta 19Qual o valor da sabedoria humana na edificação da Obra de Deus?Selecione uma opção de resposta:

a. Útil.b. Nenhum.c. Reduzido.d. Muito útil.

Perguntas de revisão

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Pergunta 20Responda às perguntas a seguir, escolhendo a letra que corresponde a uma das seguintes respostas:

a) Religiãob) Fazer a Obra de Deusc) Realizar a obra do homem

1- Edificar sobre o fundamento certo usando os materiais certos é ... R: a – b – c 2- Edificar sobre o fundamento certo usando materiais impróprios é ... R: a – b – c 3- Edificar sobre um falso fundamento é ... R: a – b – c

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