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CONHECIMENTOS GERAIS O QUE É CIDADANIA A história da cidadania confunde-se em muito com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum. No discurso corrente de políticos, comunicadores, dirigentes, educadores, sociólogos e uma série de outros agentes que, de alguma maneira, se mostram preocupados com os rumos da sociedade, está presente a palavra cidadania. Como é comum nos casos em que há a superexploração de um vocábulo, este acaba ganhando denotações desviadas do seu estrito sentido. Hoje, tornou-se costume o emprego da palavra cidadania para referir-se a direitos humanos, ou direitos do consumidor e usa-se o termo cidadão para dirigir-se a um indivíduo qualquer, desconhecido. De certa forma, faz sentido a mistura de significados, já que a história da cidadania confunde-se com a história dos direitos humanos, a história das lutas das gentes para a afirmação de valores éticos, como a liberdade, a dignidade e a igualdade de todos os humanos indistintamente; existe um relacionamento estreito entre cidadania e luta por justiça, por democracia e outros direitos fundamentais asseguradores de condições dignas de sobrevivência. Expressão originária do latim, que tratava o indivíduo habitante da cidade (civitas), na Roma antiga indicava a situação política de uma pessoa (exceto mulheres, escravos, crianças e outros) e seus direitos em relação ao Estado Romano. No dizer de Dalmo Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. No Brasil, os primeiros esforços para a conquista e estabelecimento dos direitos humanos e da cidadania confundem-se com os movimentos patrióticos reivindicativos de liberdade para o País, a exemplo da inconfidência mineira, canudos e outros. Em seguida, as lutas pela independência, abolição e, já na república, as alternâncias democráticas, verdadeiros dilemas históricos que custaram lutas, sacrifícios, vidas humanas. E hoje, a quantas anda a nossa cidadania? A partir da Constituição de 1988, novos instrumentos foram colocados à disposição daqueles que lutam por um País cidadão. Enquanto consumidor, o brasileiro ganhou uma lei em sua defesa – o CDC; temos um novo Código de Trânsito; um novo Código Civil. Novas ONGs que desenvolvem funções importantíssimas, como defesa do meio ambiente. A mídia, apesar dos seus tropeços, tem

3 Conhecimentos Gerais

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NOES DE SEGURANA E HIGIENE DO TRABALHO

CONHECIMENTOS GERAIS SEQ CHAPTER \h \r 1O QUE CIDADANIA

A histria da cidadania confunde-se em muito com a histria das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e est em permanente construo; um referencial de conquista da humanidade, atravs daqueles que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e no se conformam frente s dominaes arrogantes, seja do prprio Estado ou de outras instituies ou pessoas que no desistem de privilgios, de opresso e de injustias contra uma maioria desassistida e que no se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, no ser obstada. Ser cidado ter conscincia de que sujeito de direitos. Direitos vida, liberdade, propriedade, igualdade, enfim, direitos civis, polticos e sociais. Mas este um dos lados da moeda. Cidadania pressupe tambm deveres. O cidado tem de ser cnscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que a coletividade, a nao, o Estado, para cujo bom funcionamento todos tm de dar sua parcela de contribuio. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justia em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.

No discurso corrente de polticos, comunicadores, dirigentes, educadores, socilogos e uma srie de outros agentes que, de alguma maneira, se mostram preocupados com os rumos da sociedade, est presente a palavra cidadania. Como comum nos casos em que h a superexplorao de um vocbulo, este acaba ganhando denotaes desviadas do seu estrito sentido. Hoje, tornou-se costume o emprego da palavra cidadania para referir-se a direitos humanos, ou direitos do consumidor e usa-se o termo cidado para dirigir-se a um indivduo qualquer, desconhecido.

De certa forma, faz sentido a mistura de significados, j que a histria da cidadania confunde-se com a histria dos direitos humanos, a histria das lutas das gentes para a afirmao de valores ticos, como a liberdade, a dignidade e a igualdade de todos os humanos indistintamente; existe um relacionamento estreito entre cidadania e luta por justia, por democracia e outros direitos fundamentais asseguradores de condies dignas de sobrevivncia.

Expresso originria do latim, que tratava o indivduo habitante da cidade (civitas), na Roma antiga indicava a situao poltica de uma pessoa (exceto mulheres, escravos, crianas e outros) e seus direitos em relao ao Estado Romano. No dizer de Dalmo Dallari:

A cidadania expressa um conjunto de direitos que d pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem no tem cidadania est marginalizado ou excludo da vida social e da tomada de decises, ficando numa posio de inferioridade dentro do grupo social.

No Brasil, os primeiros esforos para a conquista e estabelecimento dos direitos humanos e da cidadania confundem-se com os movimentos patriticos reivindicativos de liberdade para o Pas, a exemplo da inconfidncia mineira, canudos e outros. Em seguida, as lutas pela independncia, abolio e, j na repblica, as alternncias democrticas, verdadeiros dilemas histricos que custaram lutas, sacrifcios, vidas humanas.

E hoje, a quantas anda a nossa cidadania? A partir da Constituio de 1988, novos instrumentos foram colocados disposio daqueles que lutam por um Pas cidado. Enquanto consumidor, o brasileiro ganhou uma lei em sua defesa o CDC; temos um novo Cdigo de Trnsito; um novo Cdigo Civil. Novas ONGs que desenvolvem funes importantssimas, como defesa do meio ambiente. A mdia, apesar dos seus tropeos, tem tido um papel relevante em favor da cidadania. E muitas outras conquistas a partir da Nova Carta.

Como o exemplo da Ao Cidadania Contra a Misria e pela Vida, Movimento pela tica na Poltica. Memorvel a ao dos caras-pintadas, movimento espontneo de jovens que contribuiu para o impeachment do presidente Collor. A Ao Popular, Ao Civil Pblica, Mandado de Injuno, Mandado de Segurana entre outros, alm da instituio do Ministrio Pblico, importante instrumento na defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis.

H um longo caminha a percorrer. s ativar um pouco a nossa acuidade natural e veremos que estamos cercados de um sem nmero de mazelas que insistem em infestar a nossa sociedade. Os representantes que, mal acabam de se eleger, do as costas para o eleitor e este no lhe nega a recproca, deixando aqueles ainda mais vontade para as suas rapinagens.

Uma pesquisa divulgada pelo Ibope

em 25.11.03 traz dados preocupantes sobre as nossas relaes de cidadania. Indica que 56% dos brasileiros no tm vontade de participar das prticas capazes de influenciar nas polticas pblicas. 35% nem tem conhecimento do sejam essas prticas e 26% acham esse assunto chato demais para se envolver com ele. Nem tudo est perdido: 44% dos entrevistados manifestaram algum interesse em participar para a melhoria das atividades estatais, e entendem que o poder emana do povo como est previsto na Constituio. A pesquisa anima, de forma at surpreendente, quando mostra que 54% dos jovens (entre 16 e 24 anos), tm interesse pela coisa pblica. Interesse que cai progressivamente medida que a idade aumenta. A pesquisa ajuda a desmontar a idia que se tem de que o jovem aptico ou indiferente s coisas do seu pas.

A CIDADANIA NA ANTIGIDADE

Em tempos recuados da Histria encontram-se sinais de lutas sociais que lembram bem a busca por cidadania. Bem tratado por Jaime Pinsky, apud Emiliano JosErro! A referncia de hiperlink no vlida., por volta do sculo VIII a.c. os Profetas Isaas e Ams pregavam em favor do povo e contra os opressores:

cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido. Fazei justia ao rfo, defendei a viva.

Portanto, j que explorais o pobre e lhe exigis tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porm no habitareis nelas, plantareis as mais excelentes vinhas, porm no bebereis do seu vinho. Porque eu conheo as vossas inmeras transgresses e os vossos grandes pecados: atacais o justo, aceitais subornos e rejeitais os pobres sua porta.

A CIDADANIA NA GRCIA ANTIGA

Na Grcia de Plato e Aristteles, eram considerados cidados todos aqueles que estivessem em condies de opinar sobre os rumos da sociedade. Entre tais condies, estava a de que fosse um homem totalmente livre, isto , no tivesse a necessidade de trabalhar para sobreviver, uma vez que o envolvimento nos negcios pblicos exigia dedicao integral. Portanto, era pequeno o nmero de cidados, que excluam alm dos homens ocupados (comerciantes, artesos), as mulheres, os escravos e os estrangeiros. Praticamente apenas os proprietrios de terras eram livres para ter o direito de decidir sobre o governo. A cidadania grega era compreendida apenas por direitos polticos, identificados com a participao nas decises sobre a coletividade.

Citando Sabine, Quinto Soares

explica que, em consonncia com a assertiva de que cidadania um mecanismo de representao poltica que permite relacionamento pessoal entre governantes e governados e que esse paradigma assenta-se na instituies greco-romanas e sua complexa transio para a Idade Mdia, demonstra que os modernos conceitos de ideais polticos, como os de justia, liberdade, governo constitucional e respeito s leis, surgiram de conceitos de pensadores helnicos sobre as instituies da Cidade-Estado.

Na Grcia antiga, toda a sociedade da civilizao apresentava a dicotomia cidado e no-cidado. Lage de Resende e Morais, apud Wilba L. M. Bernardes,

ensina que:

A cidadania era para os gregos um bem inestimvel. Para eles a plena realizao do homem se fazia na sua participao integral na vida social e poltica da Cidade-Estado. ...s possua significao se todos os cidados participassem integralmente da vida poltica e social e isso s era possvel em comunidades pequenas.

Wilba L. M. Bernardes

refere-se a outros autores para esclarecer que no incio da evoluo ateniense s uma classe de cidados exercia a plenitude da cidadania (existia uma diviso censitria da sociedade); somente a partir das reformas de Clstenes (509 a.c.), essa cidadania foi estendida a todo cidado ateniense, que poderia inclusive exercer qualquer cargo de governo. Tambm a partir de Clstenes, segundo ensina Fustel de Coulanges, que a antiga aristocracia ateniense sofreu o seu mais duro golpe: Clstenes confirmou as reformas polticas de Slon, introduziu tambm reformas na velha organizao religiosa da sociedade ateniense: A partir deste momento, no houve mais castas religiosas, nem privilgios de nascimento na religio ou na poltica.

Celso Lafer, apud Mrio Quinto, entende que a igualdade resulta da organizao humana, que o meio de igualizar as diferenas por intermdio das instituies. o caso da polis, que tornava os homens iguais atravs da lei. Perder o acesso esfera pblica equivalia a privar-se da igualdade. O indivduo, destitudo da cidadania e submetido esfera privada, no usufrua os direitos, que s podiam existir em funo da pluralidade dos homens. A esfera privada, vinculada s atividades de sobrevivncia do indivduo, era o espao de sujeio no qual a mulher, o escravo e os filhos, destitudos de direitos, estavam sob o domnio desptico do chefe de famlia e a proteo das divindades domsticas.

Lembra Wilba Bernardes que o Estado poca de Roma e Grcia, se que podem assim ser chamados, no tinha a feio que hoje lhe conferida; era mais um prolongamento da famlia, pois esta era a base da sociedade. E sendo assim, o indivduo encontrava-se completamente absorvido pelo Estado ou pela Cidade-Estado. Aos cidados atenienses eram reservados os direitos polticos. Os cidados formavam o corpo poltico da cidade, da a faculdade de tomarem parte das Assemblias, exercerem a magistratura e proporcionarem a justia.

A CIDADANIA ROMANA

Em Roma, tambm se encontra, patente, a idia de cidadania como capacidade para exercer direitos polticos e civis e a distino entre os que possuam essa qualidade e os que no a possuam. A cidadania romana era atribuda somente aos homens livres, mas nem todos os homens livres eram considerados cidados. Segundo Wilba Bernardes, em Roma existiam trs classes sociais: os patrcios (descendentes dos fundadores), os plebeus (descendentes dos estrangeiros) e os escravos (prisioneiros de guerra e os que no saldavam suas dvidas). Existiam tambm os clientes, que eram, segundo informam Pedro e Cceres, homens livres, dependentes de um aristocrata romano que lhes fornecia terra para cultivar em troca de uma taxa e de trabalho.

Em princpio, a diferena entre patrcios e plebeus que estes, apesar de homens livres, no eram considerados cidados, privilgio dos patrcios, que gozavam de todos os direitos polticos, civis e religiosos.

Isso deu motivo a vrias lutas internas, entre patrcios e plebeus. Aps a reforma do Rei Srvio Tlio, os plebeus tiveram acesso ao servio militar e lhes foram assegurados alguns direitos polticos. S a partir de 450 a.C., com a elaborao da famosa Lei das Doze Tbuas, foi assegurada aos plebeus uma maior participao poltica, o que se deveu em muito expanso militar romana. O Direito Romano regulava as diferenas entre cidados e no-cidados. O direito civil (ius civile) regulamentava a vida do cidado, e o direito estrangeiro (ius gentium) era aplicado a todos os habitantes do imprio que no eram considerados cidados.

Ensina Alves, no dizer de Wilba Bernardes, que:

Desde os fins da Repblica, a tendncia de Roma no sentido de estender, paulatinamente, a cidadania a todos os sditos do Imprio. Assim, em 90 a.c., a lex Iulia a concedeu aos habitantes do Latium; um ano depois, a lex Plautia Papiria a atribuiu aos aliados de Roma; e, em 49 a.c., a lex Roscia fez o mesmo com relao aos habitantes da Glia Transpadana.

Em 212 d.C., Caracalla, na clebre Constitutio Antoniniana, concedeu a cidadania a quase todos os habitantes do Imprio. As excees que subsistiram desapareceram com Justiniano.

Na lio de Mrio Quinto

v-se que o Direito Romano, apesar de proteger as liberdades individuais e reconhecer a autonomia da famlia com o ptrio poder, no assegurava a perfeita igualdade entre os homens, admitindo a escravido e discriminando os despossudos. Ao lado da desigualdade extrema entre homens livres e escravos, o Direito Romano admitia a desigualdade entre os prprios indivduos livres, institucionalizando a excluso social.

A CIDADANIA NA IDADE MDIA

Com a decadncia do Imprio Romano, e adentrando a Idade Mdia, ocorrem profundas alteraes nas estruturas sociais. O perodo medieval marcado pela sociedade caracteristicamente estamental, com rgida hierarquia de classes sociais: clero, nobreza e servos (tambm os viles e os homens livres).

A Igreja crist passou a constituir-se na instituio bsica do processo de transio para o tempo medieval. As relaes cidado-Estado, antes reguladas pelo Imprio, passam a controlar-se pelos ditames da Igreja crist. A doutrina crist, ao alegar a liberdade e igualdade de todos os homens e a unidade familiar, provocou transformaes radicais nas concepes de direito e de estado.

Para Mrio Quinto, o desmoronamento das instituies polticas romanas e o fortalecimento do cristianismo ensejaram uma reestruturao social que foi dar-se no feudalismo, cujas peculiaridades diferiam consoante seus aspectos regionais. O feudalismo, considerado idade das trevas, configura-se pela forma piramidal caracterizada por especficas relaes de dependncia pessoal (vassalagem), abrangendo em sua cpula rei e suserano e, em sua base, essencialmente, o campesinato.

Essa relao de dependncia pessoal de obrigaes mtuas originava-se de ato sacramental e solene e que apresentava duas vertentes: o vassalo, em troca de proteo e segurana, inclusive econmica, oferecia fidelidade, trabalho e auxlio ao suserano, que, reciprocamente, investia o vassalo no benefcio, elemento real e econmico dessa relao feudal.

Na poca medieval, em razo dessa ndole hierarquizada das estruturas em classes sociais, dilui-se o princpio da cidadania. O relacionamento entre senhores e vassalos dificultava bastante a definio desse conceito. O homem medieval, ou era vassalo, ou servo, ou suserano; jamais foi cidado. Os princpios de cidadania e de nacionalidade dos gregos e romanos estariam suspensos e seriam retomados com a formao dos Estados modernos, a partir de meados do sculo XVII.

A CIDADANIA NA IDADE MODERNA

Os primeiros sinais de desmoronamento do sistema que caracterizou o medievo foram a privatizao do poder. Hannah Arendt, citada por Quinto

diz que:

A queda da autoridade poltica foi precedida pela perda da tradio e pelo enfraquecimento dos credos religiosos institucionalizados; foi o declnio da autoridade religiosa e tradicional que talvez tenha solapado a autoridade poltica, e certamente provocado a sua runa

Com o fim do feudalismo e a ocorrncia da formao dos Estados nacionais, a sociedade, ainda formada e organizada em clero, nobreza e povo, volta a ter uma centralizao do poder nas mos do rei, cuja autoridade abrangia todo o territrio e era reconhecida como legal pelo povo. Lngua, cultura e ideais comuns auxiliaram a formao desses Estados Nacionais.

J no final da Idade Moderna, observa-se um srio questionamento das distores e privilgios que a nobreza e clero insistiam em manter sobre o povo. a que comeam a despontar figuras que marcariam a Histria da cidadania, como Rousseau, Montesquieu, Diderot, Voltaire e outros. Esses pensadores passam a defender um governo democrtico, com ampla participao popular e fim de privilgios de classe e ideais de liberdade e igualdade como direitos fundamentais do homem e tripartio de poder. Essas idias do o suporte definitivo para a estruturao do Estado Moderno. Lembrando que alguns desses ideais j teriam sido objeto de discusso quando do incio do constitucionalismo ingls em 1215, quando o rei Joo Sem Terra foi forado a assinar a Magna Carta.

As modernas naes, governos e instituies nacionais surgiram a partir de monarquias nacionais formadas pela centralizao ocorrida no desenrolar da Idade Moderna. Segundo Wilba Bernardes desde o momento em que o Estado moderno comea a se organizar, surge a preocupao de definir quais so os membros deste Estado, e, dessa forma, a idia atual de nacionalidade e de cidadania s ser realmente fixada a partir da Idade Contempornea

Citado por Quinto,

J. M. Barbalet diz que:

Desde o advento do Estado liberal de direito, a base da cidadania refere-se capacidade para participar no exerccio do poder poltico mediante o processo eleitoral. Assim, a cidadania ativa liberal derivou da participao dos cidados no moderno Estado-nao, implicando a sua condio de membro de uma comunidade poltica legitimada no sufrgio universal, e, portanto, tambm a condio de membro de uma comunidade civil atrelada letra da lei.

A histria da cidadania mostra bem como esse valor encontra-se em permanente construo. A cidadania constri-se e conquista-se. objetivo perseguido por aqueles que anseiam por liberdade, mais direitos, melhores garantias individuais e coletivas frente ao poder e a arrogncia do Estado. A sociedade ocidental nos ltimos sculos andou a passos largos no sentido das conquistas de direitos de que hoje as geraes do presente desfrutam.

O exerccio da cidadania plena pressupe ter direitos civis, polticos e sociais e estes, se j presentes, so fruto de um longo processo histrico que demandou lgrimas, sangue e sonhos daqueles que ficaram pelo caminho, mas no tombados, e sim, conhecidos ou annimos no tempo, vivos no presente de cada cidado do mundo, atravs do seu ir e vir, do seu livre arbtrio e de todas as conquistas que, embora incipientes, abrem caminhos para se chegar a uma humanidade mais decente, livre e justa a cada dia.

A CIDADANIA NO BRASIL

A histria da cidadania no Brasil est diretamente ligada ao estudo histrico da evoluo constitucional do Pas. A Constituio imperial de 1824 e a primeira Constituio republicana de 1891 consagravam a expresso cidadania. Mas, a partir de 1930, observa Wilba Bernardes

, ocorre uma ntida distino nos conceitos de cidadania, nacionalidade e naturalidade. Desde ento, nacionalidade refere-se qualidade de quem membro do Estado brasileiro, e o termo cidadania tem sido empregado para definir a condio daqueles que, como nacionais, exercem direitos polticos.

A histria da cidadania no Brasil praticamente inseparvel da histria das lutas pelos direitos fundamentais da pessoa: lutas marcadas por massacres, violncia, excluso e outras variveis que caracterizam o Brasil desde os tempos da colonizao. H um longo caminho ainda a percorrer: a questo indgena, a questo agrria, posse e uso da terra, concentrao da renda nacional, desigualdades e excluso social, desemprego, misria, analfabetismo, etc.

Entretanto, sobre a cidadania propriamente dita, dir-se-ia que esta ainda engatinha, incipiente. Passos importantes j foram dados. A segunda metade do sculo XX foi marcada por avanos scio-polticos importantes: o processo de transio democrtica, a volta de eleies diretas, a promulgao da Constituio de 1988 batizada pelo ento presidente da constituinte Ulysses Guimares de a Constituio Cidad. Mas h muito que ser feito. E no se pode esperar que ningum o faa seno os prprios brasileiros. A comear pela correo da viso mope e desvirtuada que se tem em ralao a conceitos, valores, concepes. Deixar de ser uma nao nanica de conscincia, uma sociedade artificializada nos seus gostos e preferncias, onde o que vale no vale a pena, ou a mediocridade transgride em seu contedo pelo arrasto dos acfalos. Tem-se aqui uma Constituio cidad, mas falta uma gora onde se possa praticar a cidadania, e tornar-se, cada brasileiro em um ombudsman de sua Ptria.

inegvel que o Brasil um Pas injusto, ou melhor, a sociedade brasileira extremamente desigual. Basta ver os nmeros do IBGE para indagarmos os motivos de tantos contrastes, de to perversos desequilbrios. E o que pior: a cada pesquisa, as diferenas aumentam, a situao de ricos e pobres que parecem migrar para extremos opostos... nessa escala de aprofundamento das injustias sociais, ao contrrio do que desejava Ulysses Guimares em seu discurso na Constituinte em 27 de julho de 1988:

essa ser a Constituio cidad, porque recuperar como cidados milhes de brasileiros, vtimas da pior das discriminaes: a misria. Cidado o usurio de bens e servios do desenvolvimento. Isso hoje no acontece com milhes de brasileiros, segregados nos guetos da perseguio social.

Por que tudo isso continua? Falta vontade dos governos? Ao que parece, todos se preocupam, reclamam e se incomodam com esta triste realidade, mas, aes consistentes, de efeitos estruturais e capazes de mudar os rumos das tendncias scio-econmicas da sociedade brasileira no se podem vislumbrar, ainda. vontade geral manifesta que haja um mnimo de justia social. Entretanto, por que no fazer valer esse desejo da maioria, se este um Pas democrtico? Ser que se atribui muita importncia, ou se respeitam demais as chamadas minorias? As elites?

As questes so mais profundas. As solues demandam garimpagem com muito tino e sabedoria, requerem grande esforo social conjunto. No servem aqueles apelos carregados de emoo em busca de respostas emergentes e imediatas, que passam logo e deixam a populao ainda mais frustrada, mais descrente. H que se pensar algo mais racional, profundo e que tenha comeo, meios e finalidades claros, objetivos e sem a essncia obrigatria do curto prazo.

Por falar em comeo, que tal pensar-se em construir uma verdadeira cidadania? Alis, construir a cidadania dos brasileiros. Fala-se tanto das qualidades incomuns dos ptrios. Povo alegre, generoso, criativo, pacfico, solidrio, sensvel ante os problemas alheios; povo capaz de reagir rpida e inteligentemente, ante a situaes adversas. Porm, falta a cidadania... Esta, sim, uma qualidade da qual no prescinde um povo que se diz democrtico. Alain Touraine v a liberdade como a primeira das condies necessrias e suficientes sustentao democrtica. A outra condio para uma democracia slida a cidadania.

Para que haja democracia necessrio que governados queiram escolher seus governantes, queiram participar da vida democrtica, comprometendo-se com os seus eleitos, apontando o que aprova e o que no aprova das suas aes. Assim, vo sentir-se cidados. Isto supe uma conscincia de pertencimento vida poltica do pas. Querer participar do processo de construo dos destinos da prpria Nao. Ser cidado sentir-se responsvel pelo bom funcionamento das instituies. interessar-se pelo bom andamento das atividades do Estado, exigindo, com postura de cidado, que este seja coerente com os seus fundamentos, razovel no cumprimento das suas finalidades e intransigente em relao aos seus princpios constitucionais.

O exerccio do voto um ato de cidadania. Mas, escolher um governante no basta. Este precisa de sustentao para o exerccio do poder que requer mltiplas decises. Agradveis ou no, desde que necessrias, estas tm de ser levadas a cabo e com a cumplicidade dos cidados. Estes no podem dar as costas para o seu governante apenas e principalmente porque ele exerceu a difcil tarefa de tomar uma atitude impopular, mas necessria, pois, em muitos momentos, o governante executa negcios que, embora absolutamente indispensveis, parecem estranhos aos interesses sociais. nessas ocasies que se faz necessrio o discernimento, prprio de cidado consciente, com capacidade crtica e comportamento de verdadeiro tambm scio do seu pas.

Ser cidado ter conscincia de que sujeito de direitos. Direitos vida, liberdade, propriedade, igualdade de direitos, enfim, direitos civis, polticos e sociais. Mas este um dos lados da moeda. Cidadania pressupe tambm deveres. O cidado tem de ser cnscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que a coletividade, a nao, o Estado, para cujo bom funcionamento todos tm de dar sua parcela de contribuio. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justia em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.

O termo cidadania parece ter cado nas graas daqueles que tm na comunicao o instrumento de trabalho, como polticos, dirigentes, comunicadores, socilogos e outros profissionais que, de alguma forma, interagem no meio social. Em seu ensaio a Veja, edio de 22/10/03, Roberto Pompeu de Toledo, ao fazer uma crtica ao comportamento do brasileiro, quando este se julga estar por cima e usa da impontualidade como meio de dominao, refere-se pontualidade como expresso de igualitarismo. E acrescenta: , para usar detestvel palavro em voga, uma manifestao de cidadania. Na pontualidade, duas pessoas chegam junto.. Considerada palavra gasta, ou no, o fato que a cidadania parmetro balizador da histria do homem enquanto ser social. Mesmo que, inconscientemente, o homem, na sua caminhada ao longo da Histria, sempre manteve a cidadania como questo central das suas lutas, como se verifica ao se recuar nos primrdios da humanidade.

A luta pela cidadania estava presente no profetismo hebreu. Os contemporneos de Aristteles e Plato organizavam-se para a prtica da cidadania. A Roma de Ccero, atravs do Direito, da civitas, contribuiu significativamente na discusso dos direitos civis e polticos do cidado. Essas histrias de lutas humanas em busca de reconhecimento de direitos do homem como cidado, passa tambm pelo medievo, onde deixam vestgios os mais profundos. Em seguida, pelas revolues burguesas, pelas lutas sociais dos sculos XIX e XX e at nossos dias. A auto-afirmao continua sendo perseguida, dia a dia, atravs de incansveis batalhas contra todo tipo de iniqidades, injustias, opresso, etc., perverses que insistem em obstruir as aes humanas em prol de uma sociedade mais igualitria e feliz.

A histria da cidadania confunde-se em muito com a histria das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e est em permanente construo; um referencial de conquista da humanidade, atravs daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e no se conformam frente s dominaes arrogantes, seja do prprio Estado ou de outras instituies ou pessoas que no desistem de privilgios, de opresso e de injustias contra uma maioria desassistida e que no se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, no ser obstada.

DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Se uma sociedade nega a seus cidados o conhecimento e interpretao de seus direitos e deveres fundamentais , como pode essa mesma sociedade querer formar cidados ?

Como pode uma sociedade como a brasileira anunciar aos quatros cantos do pas e do mundo, que estamos construindo uma cidadania para nosso povo se os fundamentos dessa cidadania lhes so negados at os dias de hoje ?

Pode um povo que nunca leu , nunca questionou , nunca escreveu , nunca viu na escola ou na mdia nenhum de seus 77 direitos e deveres , se dizer cidado ?

Como pode um povo aprender tais fundamentos constitucionais se no tem quem lhes ensinem ?

Como pode quem tem a vocao , talento , que so os educadores, ensinar o que no conhecem ?

Como fazer ento ? Camos num ciclo vicioso , afinal o povo no conhece tais direitos e deveres, pois quem deveria ensin-los no sabe ensin-los e os educadores no ensinam pois no podem ensinar o que no aprenderam.

A soluo ento parece simples: Basta quem no sabe ensinar, aprender e depois ensinar, pois afinal nossos educadores tem o dom, cincia e arte de aprender qualquer assunto e transmitir aos seus alunos e populao em geral.

Mas quem ensinaria aos nossos educadores ? Operadores de direito como professores de direito, advogados, juzes , promotores, desembargadores, ministros da justia, estudantes de direito, livros que abordassem o assunto de maneira leve e didtica, DVDs, rdios, TVs pblicas e educativas ou via INTERNET.

Como seria isso ? O municpio, estado e governo federal no inicio do ano capacitaria os educadores, afinal so somente 77 incisos ou seja aproximadamente 5 pginas e meia de nossa constituio federal.

Precisaria ento criar um cadeira especial para cidadania e ensino dos direitos e deveres do cidado a luz da constituio ? No , para se ensinar cidadania no precisaria necessariamente ter uma cadeira especial. Todo educador deveria ter essa incumbncia. A qualquer momento em sala de aula ou fora dela, certamente surgiria uma oportunidade para que direitos, deveres e garantias fundamentais sejam ensinados.

O ENSINO DA CIDADANIA tambm poderia ser feito atravs de palestras ministradas ao longo do ano, mas se for consenso dos educadores criar uma cadeira especial para CIDADANIA ou ser inserida sutilmente dentro de cada disciplina seria algo a se discutir. O que preciso dar a todo cidado brasileiro acesso aos seus, direitos, deveres e garantias fundamentais de forma simples e didtica. A escola poderia fazer o seu papel e a mdia se apoiasse, seria algo desejvel.

Como isso poderia ser implementado no currculo ou extra-currculo, creio no ser o problema maior, j que criatividade no falta aos educadores , porm vejo a necessidade do nosso povo se tornar cidado de verdade e essa construo tem como base o enraizamento dos seus direitos, deveres e garantias fundamentais dado por nossa constituio federal no artigo 5.

Na Verdade o aprendizado do artigo 5 de nossa constituio federal funcionaria como um despertar para que os demais direitos e deveres constitucionais sejam aprendidos. Um cidado que l e v seus direitos a sua frente no mais um cidado de fcil manobra por pessoas inescrupulosas.

Fatalmente um cidado que aprendeu seus direitos, deveres e garantias fundamentais constitucionais , os ter em papel , possivelmente dobrar tais direitos e deveres dentro de uma carteira e eventualmente o estudar e o aplicar com conhecimento de causa e respaldo maior.

Esse cidado dificilmente parar de buscar os demais direitos e deveres procurando ler e aprender por si s o cdigo de defesa do consumidor, estatuto da criana e do adolescente e o que mais puder , at porque hoje em dia com a difuso da INTERNET e tendo a nossa legislao toda gratuitamente no vdeo com opo de se imprimir , as dificuldades de acesso so menores e tal cidado ter todas as chances de se formar e informar.

A INTERNET trouxe consigo um potencial enorme para ajudar a formao de um cidado e de modo muito mais efetivo que as demais mdias como a TV, que em geral no aborda de maneira didtica e ostensiva direitos, deveres e garantias fundamentais constitucionais do brasileiro.

CONSCINCIA ECOLGICA:

O problema ecolgico, em nossa sociedade, assumiu, em anos recentes, uma centralidade e presena marcantes na vida cotidiana. Habita o concreto de nossas vidas, a cultura do tempo, assim como as subjetividades individual e coletiva. Dificilmente vivemos, um dia sequer, sem registrar uma referncia esta realidade e seus efeitos abrangentes.

Este trabalho prope uma reflexo crtica sobre o fenmeno da conscincia ecolgica. Busca compreender o significado dessa noo, sua origem histrica - material e simblica - os fatores sociais, ambientais, culturais, econmicos e polticos que a impulsionaram, como tambm os principais obstculos e desafios a seu avano.

Os motivos que conduziram presente anlise so questionamentos que refletem a crise scio-ambiental contempornea. Busca-se compreender as possibilidades e os limites de transformar a conscincia e os comportamentos individuais e sociais, no sentido de valorizao da vida, das relaes sociais e destas com a natureza.

As marcas do tempo mostram sinais contraditrios. Somos parte de uma espcie que , simultaneamente, solidria e egosta, salvadora e destruidora, sapiens (inteligente) e demens (demente) (Boff, 1995). Quem vencer essa luta? Saberemos compreender a crise em que estamos envolvidos e pr em prtica respostas sensatas e viveis ou esperaremos o impasse e o desastre para agir? Trabalharemos preventivamente, usando o tempo a nosso favor, ou o usaremos contra ns, tardiamente ? Saberemos nos organizar em defesa da vida e de sua qualidade ou nos adaptaremos sua degradao, numa atitude resignada e conformista? Como na tradio chinesa, o ideograma que representa a idia de crise significa, simultaneamente, perigo e oportunidade. Qual sua opo?

DEFININDO O FENMENO DA CONSCINCIA ECOLGICA

Conscincia ecolgica uma expresso, exaustivamente utilizada na bibliografia especializada, de anos recentes, sem uma preocupao da maioria dos autores de precisarem a que, exatamente, esto se referindo. A noo focalizada se contextualiza, historicamente, no perodo ps Segunda Guerra Mundial, quando setores da sociedade ocidental industrializada passam a expressar reao aos impactos destrutivos produzidos pelo desenvolvimento tecnocientfico e urbano industrial sobre o ambiente natural e construdo. Representa o despertar de uma compreenso e sensibilidade novas da degradao do meio ambiente e das conseqncias desse processo para a qualidade da vida humana e para o futuro da espcie como um todo. Expressa a compreenso de que a presente crise ecolgica articula fenmenos naturais e sociais e, mais que isso, privilegia as razes poltico-sociais da crise relativamente aos motivos biolgicos e/ou tcnicos. Isto porque entende que a degradao ambiental , na verdade, conseqncia de um modelo, de organizao poltico-social e de desenvolvimento econmico, que estabelece prioridades e define o que a sociedade deve produzir, como deve produzir e como ser distribudo o produto social. Isto implica no estabelecimento de um determinado padro tecnolgico e de uso dos recursos naturais, associados a uma forma especfica de organizao do trabalho e de apropriao das riquezas socialmente produzidas. Comporta, portanto, interesses divergentes entre os vrios grupos sociais, dentre os quais aqueles em posio hegemnica decidem os rumos sociais e os impe ao restante da sociedade. Assim, os impactos ecolgicos e os desequilbrios sobre os ciclos biogeoqumicos so decorrentes de decises polticas e econmicas previamente tomadas. A soluo para tais problemas, por conseguinte, exige mudanas nas estruturas de poder e de produo e no medidas superficiais e paliativas sobre seus efeitos.

Essa conscincia ecolgica, que se manifesta, principalmente, como compreenso intelectual de uma realidade, desencadeia e materializa aes e sentimentos que atingem, em ltima instncia, as relaes sociais e as relaes dos homens com a natureza abrangente. Isso quer dizer que a conscincia ecolgica no se esgota enquanto idia ou teoria, dada sua capacidade de elaborar comportamentos e inspirar valores e sentimentos relacionados com o tema. Significa, tambm, uma nova forma de ver e compreender as relaes entre os homens e destes com seu ambiente, de constatar a indivisibilidade entre sociedade e natureza e de perceber a indispensabilidade desta para a vida humana. Aponta, ainda, para a busca de um novo relacionamento com os ecossistemas naturais que ultrapasse a perspectiva individualista, antropocntrica e utilitria que, historicamente, tem caracterizado a cultura e civilizao modernas ocidentais.(Leis, 1992; Unger, 1992; Mansholt, 1973; Boff, 1995; Morin, 1975).

Para Morin, um dos autores que mais avana no esforo de definir o fenmeno:

"(...) a conscincia ecolgica historicamente uma maneira radicalmente nova de apresentar os problemas de insalubridade, nocividade e de poluio, at ento julgados excntricos, com relao aos 'verdadeiros' temas polticos; esta tendncia se torna um projeto poltico global , j que ela critica e rejeita, tanto os fundamentos do humanismo ocidental, quanto os princpios do crescimento e do desenvolvimento que propulsam a civilizao tecnocrtica." (Morin, 1975)

Sinaliza-se, assim, algumas referncias preliminares que indicam o significado aqui atribudo expresso conscincia ecolgica.

A EMERGNCIA DA CONSCINCIA ECOLGICA

Historicamente, podemos considerar os anos do Ps Guerra como o marco inicial do processo de conscientizao social da destrutividade do sistema tecnocientfico humano, e da ameaa potencial desse sistema para a continuidade da prpria vida no planeta. Esta conscientizao cresceu, gradualmente, at os dias atuais, atravs do trabalho persistente de setores da comunidade cientfica, da militncia dos movimentos ambientalistas, pacifistas e da contracultura numa primeira fase, com a adeso, na etapa seguinte, da atuao de rgos governamentais, no-governamentais e internacionais (ONU, BIRD, PNUMA) da iniciativa privada, dos meios de comunicao de massa, e dos demais movimentos sociais e religiosos. Viola & Leis (1995) analisam, oportunamente, esse processo de desenvolvimento do ambientalismo mundial e nacional, que transita de uma forma bissetorial preservacionista para um multissetorialismo orientado para o desenvolvimento sustentvel.

O conceito e a proposta de desenvolvimento sustentvel, so oficialmente apresentados atravs do Relatrio Bruntland, produzido pela Comisso das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD - e publicado em 1987. A proposta inspirada na noo de ecodesenvolvimento, elaborada por Ignacy Sachs e colaboradores, tem com ponto de partida a crtica do modelo de desenvolvimento econmico das naes industriais, considerado esgotado em princpios da dcada de 70. Uma das crticas centrais a esse modelo dominante a contradio existente entre uma proposta de desenvolvimento ilimitado, a partir de uma base finita de recursos naturais. Esta contradio tem sido analisada por diversas perspectivas, todas elas evidenciando a insustentabilidade do modelo, a longo prazo. Segundo o Relatrio Bruntland o desenvolvimento sustentvel definido como aquele que atende s necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as geraes futuras tambm atenderem as suas. Parte do pressuposto de que os problemas do desenvolvimento e do meio ambiente no podem ser tratados separadamente, e atenta para a necessidade de concili-los. Para tanto apresenta uma nova concepo de desenvolvimento que conjuga viabilidade econmica, prudncia ecolgica e justia social. Inova, ainda, ao defender uma abordagem multidimensional do desenvolvimento que integra econmica as dimenses ecolgicas, polticas, culturais, ticas e sociais e ao introduzir nesse debate os problemas da pobreza e da desigualdade social (Lima, 1997).

As repercusses desse avano da conscincia ecolgica, no meio social, se materializam hoje na grande expanso de agncias governamentais voltadas para o ambiental, desde esferas municipais at o nvel internacional. Entre as dcadas de 70 e 80, no exterior e no Brasil, tornou-se freqente a criao de secretarias, ministrios, agncias especializadas, organismos plurinacionais e partidos polticos envolvidos com a questo ambiental. De modo anlogo, o setor privado tem se preocupado em introduzir em seus produtos e estratgias mercadolgicas o "apelo verde", mesmo que de maneira enganadora e superficial, porque j detectou na opinio pblica e consumidora o interesse por esta nova tendncia. Tambm nos movimentos da sociedade civil, e naqueles de carter religioso, a preocupao ecolgica se faz presente, como se fora um ingrediente indispensvel dos novos tempos. Novos e crescentes espaos so, igualmente, ocupados nos meios de comunicao, nas artes e no meio cientfico. Cresce o nmero de publicaes ou de sees ecolgicas em jornais, revistas e demais meios. As Universidades, apesar da dificuldade em superar suas barreiras disciplinares, introduzem o debate ambiental, ampliam o leque de suas possveis abordagens e discutem propostas transdisciplinares.

Pode-se, de modo sucinto, avaliar que essa cultura ecolgica em expanso traz, simultaneamente, conseqncias positivas e negativas. Positivas no sentido que difunde informaes sobre problemas scio-ambientais, influencia comportamentos, desperta para realidades at ento esquecidas, assim como para novas possibilidades de ampliao da cidadania. Negativas na medida em que favorece o modismo, a abordagem superficial e acrtica de problemas que exigem reflexo profunda e anlise pluridimensional. Negativas, ainda, devido banalizao e mercantilizao excessiva da temtica e despolitizao do problema. Essa despolitizao implica numa leitura alienada do problema, que observa a crise ambiental sem enxergar suas causas profundas e sem questionar o modelo de desenvolvimento econmico, poltico, cultural e social que lhe d sustentao (Mansholt, 1973; Herculano, 1992; Morin & Kern, 1995).

Percebe-se assim, no panorama mundial e brasileiro atuais, um duelo de foras favorveis e desfavorveis expanso da conscincia ecolgica. De modo resumido podemos formular esse conflito em torno de duas categorias bsicas, a saber: a daqueles interessados na transformao das relaes entre a sociedade e a natureza - embora orientados por diversas propostas ecoanarquistas, ecossocialistas, fundamentalistas, alternativistas entre outras (2) - e a daqueles interessados na conservao da sociedade capitalista industrial, tal como se configura no momento, defendendo apenas pequenos ajustes tcnicos e demogrficos. Diria at que estes ltimos esto interessados em "mudar" para que tudo permanea como est.

OS OBSTCULOS CONSCINCIA ECOLGICA

Conforme indicamos, o processo de conscientizao da crise ambiental e a deflagrao de aes para combat-la, enfrenta um conjunto de fenmenos que funcionam como obstculos seu crescimento e realizao. Entre esses fatores podem ser elencados: os interesses poltico-econmicos dos grupos socialmente hegemnicos, o tipo de tica predominante na sociedade capitalista industrial; o consumismo, uma certa leitura reducionista da conscincia ecolgica; a pobreza de largos contingentes populacionais e o baixo nvel educacional e de cidadania dessas mesmas populaes.

OS INTERESSES POLTICOS E ECONMICOS DOMINANTES

As exigncias da racionalidade capitalista, expressas na incessante busca de produtividade, competitividade e lucratividade, e materializadas num sistema produtivo e tecnocientfico orientado para tais fins, condicionam comportamentos imediatistas, individualistas e predatrios - por parte dos grandes grupos empresariais e pela prpria ao governamental - que se refletem negativamente sobre o ambiente natural concreto e sobre a cultura ambiental simblica.

A realidade tem, seguidamente, demonstrado que os interesses da acumulao de capital se colocam como os principais responsveis pela presente crise ambiental. Os requisitos inerentes ao sucesso da empresa capitalista encerram incompatibilidades flagrantes com as propostas de preservao da vida. Entre tais requisitos pode-se destacar: a necessidade de volumes sempre crescentes de investimentos (para manter taxas constantes de crescimento), a perspectiva de tempo econmico pautado no curto e curtssimo prazos - j que a rentabilidade depende da maior rotatividade do capital - e, os objetivos centrais visando o crescimento ilimitado e lucros imediatos. Essas caractersticas pressupe um consumo crescente de recursos naturais e energticos, um comportamento consumista por parte dos compradores e um estmulo obsessivo na busca do ganho rpido e fcil, divorciado de quaisquer consideraes ticas. Essa conjugao de caractersticas e objetivos resulta numa equao insustentvel, com impactos perversos sobre a vida humana - em especial da fora de trabalho que torna tal sistema possvel - e sobre o meio ambiente (Cavalcanti, 1995).

Ilustra esse processo a anlise comparativa de Stahel entre a acelerao do tempo econmico e a estabilidade do tempo biofsico no contexto do capitalismo. luz da lei da entropia, tal anlise conclui pela completa incompatibilidade entre esses dois ritmos, e identifica nesse descompasso a origem da crise ambiental e da insustentabilidade do modelo de desenvolvimento capitalista (Stahel, 1995).

Furtado, por outro lado, em seu O Mito do Desenvolvimento Econmico, desmistifica a doutrina desenvolvimentista que, segundo ele, serve, entre outros fins, para explorar os povos da periferia, legitimar a destruio de culturas e do meio fsico e para justificar o carter predatrio do sistema produtivo por ela orientada (Furtado, 1996). Portanto, os imperativos da razo capitalista e os meios tcnicos construdos para sua realizao orientam aes e representaes auto-legitimadoras, que contradizem as propostas prticas, tericas e ticas de sustentabilidade socioambiental.

A TICA NO CAPITALISMO INDUSTRIAL

O paradigma tico predominante na sociedade industrial se coloca como um forte obstculo ao avano da conscincia e ao ecolgicas, na medida em que atua como referncia de comportamentos e aes individuais e sociais. Esse modelo tico, caracterizado pelo individualismo, antropocentrismo e pelo utilitarismo, antagonizado por amplos setores do pensamento ambientalista que, justamente, apoiam seu pensamento e ao na crtica a estas tendncias e, em propostas variadas de reformul-las. exceo de partidrios do que se convencionou nomear de ecocapitalismo - corrente que v na crise ambiental o resultado de problemas demogrficos e tecnolgicos de fcil ajustamento, no demandando reformas profundas do modelo convencional de desenvolvimento capitalista - todos os demais matizes do ambientalismo tecem algum tipo de crtica ao padro tico acima referido ( Leis, 1992; Herculano, 1992). Essa rede tecida com traos utilitrios, individualistas e antropocntricos condiciona comportamentos e legitimaes marcados pelo domnio e explorao do ambiente fsico, em uma relao de sujeio sem limites, da natureza sociedade humana. Boff nos lembra que, j entre os pais da modernidade ocidental, entre outros Descartes e Francis Bacon, se faz presente a proposta de subjugar a natureza, possu-la e escraviz-la para extrair seus segredos (Boff,1995). Nesta concepo a natureza existe e valorada, exclusivamente, em funo do homem, para serv-lo e ser por ele dominada. Deixa de ter leis e necessidades prprias, passando a subordinar-se, estritamente, aos desgnios humanos (Grn, 1996; Unger,1992; Sung, 1995).

O CONSUMISMO E O MEIO AMBIENTE

O consumismo outra caracterstica da sociedade contempornea que produz impactos preocupantes sobre o ambiente natural e construdo. A sociedade capitalista industrial criou o mito do consumo como sinnimo de bem-estar e meta prioritria do processo civilizatrio. A capacidade aquisitiva vai, gradualmente, se transformando em medida para valorizar os indivduos e fonte de prestgio social. A nsia de adquirir e acumular bens deixa de ser um meio para a realizao da vida, tornando-se um fim em si mesmo, o smbolo da felicidade capitalista (Buarque, 1990; Gorz, 1968; Fromm, 1979).

Para a lgica capitalista de produo o principal objetivo atender ao consumidor e estimular necessidades artificiais que promovam uma maior rotatividade e acumulao do capital investido. Naturalmente, nesta lgica as categorias de consumidor e indivduo/cidado so diferentes. Consumidor toda pessoa dotada de poder aquisitivo, capaz de comprar mercadorias. O mercado e as mercadorias no so destinados a satisfazer toda e qualquer necessidade das pessoas, mas sim dos consumidores. por esse motivo que assistimos, freqentemente, por exemplo, o Brasil investir na exportao de soja para alimentar o rebanho animal europeu, enquanto grandes contingentes da populao brasileira no tem feijo para comer e os produtos alimentares bsicos - conhecidas como culturas de pobre, como mandioca e feijo - no so atendidos com investimentos de pesquisa. Assistimos, tambm, diariamente, ao crescimento simultneo do mercado de raes animais e do nmero de menores abandonados nas ruas. Isto porque o mercado no capitalismo um eficiente instrumento para alocar recursos, para indicar os caminhos da maior rentabilidade econmica, mas no foi programado para perceber e responder a necessidades e problemas sociais.

A natureza intrnseca do capitalismo exige, para sua sobrevivncia, acumulao e investimentos crescentes, o que inevitavelmente aponta para a estimulao do sistema de produo/consumo. O sistema de produo que satisfaz as necessidades dos consumidores o mesmo que as cria; seja por processos de competio entre consumidores, pelo estmulo do sistema de valores e prestgio social, seja atravs da publicidade e marketing. Observa-se, assim, que a teoria econmica, historicamente, defendeu o crescimento do sistema de produo/ consumo de forma completamente desvinculada de consideraes ticas entre meios e fins. Os economistas, grosso modo, se atinham satisfao dos consumidores sem se perguntar pela relevncia, justia, legitimidade ou pela racionalidade das necessidades atendidas (Galbraith, 1987; Buarque, 1990).

So, portanto, evidentes as conseqncias do consumismo sobre o meio ambiente e sobre a qualidade da vida social. Tal tendncia conduz, por um lado, ao desperdcio no uso de recursos naturais e energticos e, por outro, agrava os problemas de gerao e processamento de lixo. Do ponto de vista cultural e econmico, aprofunda os processos de alienao e explorao do trabalho e cria irracionalidades como a industria blica, a proliferao de suprfluos e a obsolescncia planejada. Representa, enfim, um tipo de comportamento e de ideologia que alimenta o processo de degradao, tanto das relaes sociais em si quanto das relaes entre sociedade e natureza.

REDUCIONISMO E CONSCINCIA ECOLGICA

Trata-se, neste momento, de criticar certas interpretaes da problemtica ambiental como reais entraves ao crescimento da conscincia ecolgica. So leituras reducionistas que se apresentam: a) reduzindo a complexidade da crise ecolgica a um problema estritamente ecolgico; e b) reduzindo o problema ecolgico a um problema tcnico, desvinculado de outras consideraes. Ambas as colocaes so limitadas e enganadoras. A primeira delas, retira da conscincia ecolgica uma de suas caractersticas centrais, que a de unir realidades, articular e relacionar dimenses complementares que constituem um todo maior. Menosprezar essa capacidade articuladora significa perder a oportunidade de experimentar uma viso sistmica da realidade, que v a vida e a questo ambiental como um campo relacional, um todo integrado onde todas as partes se comunicam entre si e com a totalidade.

A segunda reduo, tambm bastante freqente, expressa o tecnicismo e a excessiva simplificao que reduz a complexa multidimensionalidade da temtica ambiental unidimensionalidade tcnica. Ou seja, tratar um problema ambiental que resultante de fatores econmicos, polticos, sociais, culturais e ecolgicos conjugados como um problema exclusivamente tcnico , no mnimo, incorrer numa simplificao excessiva. Desconsidera o fato de que a crise ambiental produto de um modelo de organizao geral da sociedade, que comporta decises polticas e econmicas que condicionam toda a vida individual e social. Est claro que a questo ambiental tem, entre outras, uma dimenso tcnica, mas esta precedida e condicionada por razes polticas e econmicas, e no o contrrio como pretende a reduo tecnicista. Mostra-se, assim, fora de propsito a leitura que pretende encontrar no desenvolvimento tecnolgico a soluo de todos os problemas. A mesma crtica pode ser estendida ao economicismo, que prope solues exclusivamente econmicas como resposta questes de maior complexidade.

RENDA, CIDADANIA, EDUCAO E CONSCINCIA ECOLGICA

Em anos recentes e, sobretudo a partir de 1987, data de publicao do Relatrio Bruntland, ganha fora no debate ambiental a relao entre pobreza social e degradao ambiental. Entre outras inovaes introduzidas por este relatrio, figura a constatao bsica de que os problemas do meio ambiente esto diretamente relacionados com os problemas da pobreza, e que ambos formam, entre si, um ciclo vicioso de gravidade crescente. Isto , a pobreza ao mesmo tempo que contribui para a degradao ambiental, sofre os efeitos do ambiente agredido. Significa que os mais pobres tendem a destruir, no curto prazo, os prprios recursos que deveriam garantir sua subsistncia a longo prazo. Na verdade, essa constatao levou o PNUMA (Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente) a diagnosticar que as duas causas bsicas da crise ambiental so o mau uso das riqueza e a pobreza. Os pobres, como vimos, pela prpria situao de escassez em que vivem, destrem os recursos naturais para sobreviver, enquanto os ricos consomem e desperdiam, excessivamente, a base de recursos naturais, deixando os custos, mais uma vez, para os mais pobres (CIMA, 1991). Ignacy Sachs, economista polons, formulador do Ecodesenvolvimento, muito antes do Relatrio Bruntland j alertava para a desigualdade social como causa primria do mau desenvolvimento, fato, em geral, ocultado pelos arautos do desenvolvimentismo. Segundo ele, a opulncia no mais que a outra face da misria e, embora as grandes vtimas sejam sempre os mais pobres, toda a sociedade perde em sistemas muito desiguais (Sachs, 1986). Isto porque, entre outros motivos, a concentrao de riqueza, prpria ao capitalismo, cria situaes extremas e desfavorveis conscincia e atitude ecolgicos. Evidencia-se, pois, a importncia da distribuio de renda como um instrumento democratizador, que ao melhorar as condies gerais de vida de uma populao - atravs do acesso alimentao, trabalho, educao, sade, informao, moradia e lazer - tende a favorecer mudanas e atitudes de defesa da vida, tanto dos prprios homens como de seu ambiente.

Raciocnio anlogo desenvolvemos no tocante relao entre cidadania e conscincia ecolgica. Nesse sentido, as mentalidades tendero a avanar medida que se perceba o ambiente como um direito poltico, relacionado qualidade de vida e ao usufruto de um patrimnio pblico comum. Trata-se, assim, de associar a politizao da questo ambiental com o avano da conscincia e ao ecolgicas. A realidade tem demonstrado que a ao e o nvel de conscincia ecolgicas so mais presentes e desenvolvidos naqueles pases com maior nvel de informao, educao, renda e cidadania. Ou seja, onde os indivduos conhecem e exercitam plenamente seus direitos e deveres sociais. Confirmam, tambm, essa tendncia, a maior incidncia de organizaes, partidos polticos e associaes centradas na questo ambiental - assim como movimentos de protesto e de consumidores contra produtos e processos agressivos vida e aos direitos dos cidados - nos pases poltica e scio-economicamente mais desenvolvidos.

Reconhecemos que ambos os condicionantes, renda e cidadania, so fatores necessrios, mas no suficientes, para transformar o nvel de conscincia de um povo. Essa transformao exige uma conjugao de elementos, que alm dos citados inclui a qualidade da educao e da informao, a motivao social e a capacidade de organizao para participar na soluo dos problemas comunitrios. Deve-se, ainda, observar que o processo de mudana de mentalidades e atitudes envolve um conjunto de estmulos econmicos, polticos, sociais e culturais, e que a definio de uma ordem de prioridades entre eles depender de cada configurao social especfica.

A educao outro elemento chave no processo de mudana de mentalidades, hbitos e comportamentos, no sentido de uma sociedade sustentvel. Analistas e filsofos da educao preocupados com a questo ambiental tm desenvolvido propostas pedaggicas com caractersticas:

a) democrtica - que respeita e atua segundo o interesse da maioria dos cidados;

b) participativa - onde o cidado faz parte da elaborao de respostas aos problemas vividos pela comunidade que integra;

c) crtica - que exercita a capacidade de questionar e avaliar a realidade socioambiental;

d) transformadora - que busca a mudana de comportamentos, valores e mentalidades contrrios vida coletiva;

e) dialgica - fundada no dilogo entre todos os participantes do processo educativo e da sociedade circundante;

f) multidimensional - que pauta sua compreenso dos fatos na integrao dos diversos aspectos da realidade.(Freire, 1996; Reigota, 1995;UNESCO/UNEP, 1977; Grn, 1996;Dias,1993).

Isto significa dizer que uma educao convencional, conservadora, de tendncia monodisciplinar, desintegrada da realidade comunitria e da participao social, acrtica e autoritria representa, na verdade, um obstculo mudana de conscincia e atitudes.

Por outro lado, parece difcil pensar uma educao de qualidade em sociedades onde a educao continua sendo um privilgio e no um direito prioritrio, onde a elite cultural importa dos centros industrializados no s conhecimentos tcnicos mas concepes de desenvolvimento, valores e padres de comportamento.

Merecem destaque, ainda, certas propostas de educao ambiental que tendem a banalizar o tratamento da questo ambiental com um enfoque superficial, despolitizador e invertido dessa realidade. Isso porque focaliza e d excessiva ateno aos efeitos mais aparentes do problema, sem questionar suas causas profundas, que do origem crise atual. o caso, por exemplo, de chamar muita ateno para uma espcie ameaada de extino e promover sua reproduo em cativeiro, sem perguntar e discutir os modelos de ocupao e explorao dos recursos naturais, responsveis pela destruio de ecossistemas inteiros para satisfazer interesses econmicos e polticos, completamente alheios degradao que causam. Assim, criar ilhas de conservao fica parecendo a melhor soluo para um problema com razes mais profundas. Concentra-se toda ateno em paliativos superficiais sem tocar nas reais causas que originam os problemas scio-ambientais. Alm disso, anlises superficiais do tipo citado tendem a atribuir, de modo genrico, as responsabilidades dos danos ambientais ao humana, deixando de dizer que o homem vive em sociedades heterogneas, formadas por grupos e classes sociais com poderes, atividades e interesses diferenciados. Assim, os homens ocupam posies sociais diferentes, e se relacionam com a natureza e o ambiente diversamente. Alguns so governantes, outros governados; alguns so proprietrios, outros so assalariados; uns so produtores, outros consumidores; uns includos, outros excludos. Portanto a afirmao genrica de que "o homem" o grande predador da natureza e do ambiente deve ser melhor qualificada, para evitar concluses apressadas e enganosas. o caso de transferir para toda a sociedade as responsabilidades de um problema ambiental causado por um determinado grupo empresarial ou iniciativa governamental.

O problema de inverso da realidade se observa na nfase que certas vertentes de educao ambiental colocam na esfera do consumo - destino do lixo, reciclagem, limpar a praia - em detrimento da esfera da produo, ponto de origem de todo processo industrial, onde se decide o que, quanto e como produzir. o caso, por exemplo, da opo de usar embalagens renovveis ou descartveis, de produzir mais bens necessrios ou mais bens suprfluos, de escolher entre produtos com maior vida til ou produtos que rapidamente se tornam obsoletos. A educao ambiental, portanto, exige uma compreenso mais global do sistema de produo/consumo e um enfoque que privilegie mais a esfera da produo (causa) - que engendra e condiciona toda a dinmica produtiva - que a esfera do consumo (efeito). Do contrrio, estaremos invertendo e parcializando a realidade(3). As citadas propostas de educao ambiental tambm tornam-se despolitizadoras, porque desconsideram as causas polticas da questo ambiental, substituindo-as por motivos e solues tcnicas e, assim fazendo, desviam a ateno pblica dos interesses polticos e econmicos que, de fato, explicam a origem dos problemas scio-ambientais. por esse motivo que analistas mais crticos da questo pensam a educao ambiental como uma educao poltica com vistas ao exerccio pleno da cidadania (Reigota, 1995).

DESAFIOS CONSCINCIA ECOLGICA

Vimos at aqui que, desde os anos 70 a conscincia ecolgica avanou bastante, embora, ainda no o suficiente para conter o crescente ritmo de degradao socioambiental.

H, em primeiro lugar, que reconhecer-se que a conscincia e o discurso ecolgicos se expandiram mais rapidamente que os comportamentos e aes prticas. Portanto, o primeiro desafio consiste, justamente, em materializar idias e teorias em prticas cotidianas ecologicamente orientadas.

Nesse sentido, insere-se como ingrediente indispensvel o exerccio da participao social. Todas as propostas de fortalecimento da sociedade civil, da cidadania e de melhoria da qualidade da vida social passam, necessariamente, pelo desenvolvimento da participao social. Diversos analistas das relaes entre sociedade, meio ambiente, educao e sustentabilidade enfatizam a impossibilidade de realizar transformaes, com sentido democrtico, sem a promoo da participao social (Sorrentino, 1991; Penteado, 1994; Reigota, 1995; Guimares, 1996). Chamam ateno para os vcios herdados de uma sociedade historicamente autoritria, paternalista, individualista e dotada de baixos nveis de educao poltica. Tais caractersticas sociais terminam produzindo nos indivduos um conjunto de atitudes e sentimentos negativos, que os distancia da ao coletiva e da mobilizao para resolver seus prprios problemas comunitrios. Assim, acabam predominando a descrena, a apatia, a inrcia e o despreparo para a participao social. O indivduo, nessas condies, tende a perder a confiana e a crena de que sua atitude individual se transforme numa iniciativa coletiva e eficaz, atrofiando as possibilidades de participao. Soma-se a isso o histrico descrdito nas autoridades e iniciativas pblicas, que to bem se expressam no antigo divrcio entre o pblico e o privado no Brasil. Da Matta, em pesquisas sobre o tema, observa com lucidez que a vida pblica no Brasil foi construda, desde a Colnia, de uma forma onde a casa (a esfera privada) funciona e a rua (a esfera pblica), no.

Por isso, segundo ele, a identidade do brasileiro contm mais valores da vida privada que da vida pblica, diferentemente de outras naes, onde a coisa pblica mais valorizada e prxima do cidado (Da Matta, 1996). Nesse contexto, a participao social cumpre o relevante papel de romper o distanciamento entre a ao individual e coletiva e de mostrar a possibilidade de transformar a realidade no sentido de valorizao da vida do indivduo consigo mesmo, com os outros e com o seu ambiente.

Um outro ponto, central nessa discusso, reside na necessidade de exercitar um enfoque multidimensional na anlise e tratamento dos problemas ambientais. Esse enfoque supera as abordagens anteriores de carter unilateral e reducionista, que pretendiam explicar os problemas ambientais, ora por uma tica econmica estrita, ora por um ponto de vista exclusivamente biolgico ou tcnico. Isto para no perder a riqueza e maior fidedignidade de uma compreenso e anlise pluricausal da realidade, que incorpora e articula dimenses polticas, culturais, ecolgicas, econmicas e filosficas. Dentro dessa compreenso plural surge um outro desafio, que o de priorizar e hierarquizar as diversas dimenses do real, o que nos remete ao prximo ponto.

Refiro-me politizao da questo ecolgica, j percebida e praticada por diversos setores do ambientalismo, mas ingenuamente esquecida por setores tradicionais do conservacionismo e bastante manipulada pelos setores dominantes do ecocapitalismo. Numa ou noutra verso, tratam os problemas ecolgicos ora como problemas meramente biolgicos, desvinculados das relaes polticas e econmicas, ora como problemas estritamente tcnicos, facilmente ajustveis atravs do desenvolvimento tecnolgico. O desafio, portanto, consiste em tratar os problemas ecolgicos como problemas polticos. Conceber o ambiente como um patrimnio pblico comum e sua defesa como um direito poltico que amplia a compreenso e a prtica da cidadania. Convergente com o desafio acima proposto, se coloca a questo do fortalecimento poltico da sociedade civil na construo da sustentabilidade social. Sem negar a importncia da participao do Estado e do Mercado nesse processo, a contribuio dos movimentos civis se revela como decisiva na reorganizao de uma sociedade voltada aos interesses da maioria dos cidados e pautada em princpios democrticos, participativos, de justia social, prudncia ecolgica e viabilidade econmica. As outras opes lideradas pelo Estado e pelo mercado, pela prpria natureza dos interesses que encarnam, privilegiam, respectivamente, a interveno normativa e controladora do sistema social - orientada por interesses fortemente contraditrios - e a eficincia alocativa a servio de interesses privados. Ademais, a realidade tem demonstrado que so as prprias iniciativas estatal e privada os principais agentes responsveis pela devastao scio-ambiental. Por outro lado, assistimos perda progressiva, por parte do Estado, de sua importncia e autonomia na relao com os conglomerados transnacionais, no contexto da globalizao e do neoliberalismo. Portanto, embora a via da sociedade civil e da cidadania se apresente, ainda, como uma alternativa frgil diante das trs foras apresentadas - dada a composio de poder presente no neoliberalismo e da conseqente desorganizao, perplexidade e desmobilizao da sociedade civil nesse quadro, em especial nos pases perifricos - a que representa a resposta mais legtima e sintonizada aos interesses e necessidades da maioria dos trabalhadores e a mais promissora, j que o Estado tende atrofia e o mercado, embora em posio hegemnica, no responde aos crescentes e, cada vez mais, dramticos problemas sociais.

Vimos, pela anlise precedente, que a mudana da conscincia e da ao ecolgicas encontra obstculos objetivos e subjetivos poderosos, cuja superao exige profundas transformaes no modelo de desenvolvimento scio-econmico, na direo dos meios cientficos e tcnicos, nos padres de comportamento social e nos referenciais ticos que dirigem os rumos hegemnicos da sociedade capitalista globalizada. A realizao de tais mudanas vai, cada vez mais, exigir a descoberta dos limites quantitativos e qualitativos do crescimento econmico, a subordinao do avano tcnico-cientfico a controles ticos, a reforma da tica do egosmo no sentido da solidariedade e o despertar para a dependncia ecossistmica a que est sujeita a sociedade e vida humanas. So tarefas e desafios de magnitude, que vo exigir iniciativas proporcionais pautadas no dilogo, na participao social e na luta por uma vida mais digna.

Uma sociedade consciente e bem educada no gera lixo e sim materiais para reciclar. Selecionando o lixo, voc vai ajudar a diminuir a poluio do ar, solo e gua, bem como vai reduzir a necessidade de novas reas para aterros sanitrios. Tal atitude, tambm vai ajudar a diminuir a proliferao de insetos e roedores, responsveis pela transmisso de vrias doenas. Os recursos naturais vo ser poupados, pois o lixo separado vai ser reciclado e transformado pelas indstrias em matria-prima novamente, baixando assim os custos do produto final por ns consumido.

O lixo gerado por ns apenas uma pequena parte da "montanha" gerada todos os dias, composta tambm por resduos industriais, de construo civil, de minerao, de agricultura e outros. De todo lugar sai lixo. O que no podemos ignorar que o lixo precisa ser devidamente separado e coletado, reaproveitado ou reciclado antes de ser descartado.

Lixo basicamente todo e qualquer resduo slido proveniente das atividades humanas ou gerado pela natureza em aglomeraes urbanas. No entanto, o conceito mais atual o de que lixo aquilo que ningum quer ou que no tem valor comercial. Neste caso, pouca coisa jogada fora pode ser chamada de lixo.

REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR

So conceitos fundamentais para um bom gerenciamento dos Resduos Slidos, ou seja, do Lixo. So conceitos que devem ser absorvidos, praticados e divulgados.

Podemos REDUZIR a gerao do lixo consumindo menos e melhor, isto , racionalizando o uso de materiais no nosso cotidiano.

Como reduzir? Preferir produtos com embalagens retornveis Preferir produtos com embalagens reciclveis Combater o desperdcio de produtos e alimentos planejando bem as compras Pegar carona sempre que possvel No deixar as torneiras pingando Assinar jornais e revistas em conjunto com outras pessoas Escrever em papel reciclado

Podemos REUTILIZAR diversos produtos antes de descartar, usando-os para a mesma funo original ou criando novas formas de utilizao.

Como reutilizar? Separar sacolas, sacos de papel, vidros, caixas de ovos, papel de embrulho que podem ser reutilizados. Usar o verso das folhas de papel j utilizadas para rascunho. Pensar em conservar e consertar objetos antes de jogar fora. Doar ou vender tudo o que possa ser reaproveitados por outros. No jogar no lixo aparelhos : podem ser vendidos ao ferro velho ou desmontados para o reaproveitamento de peas.

E podemos RECICLAR o lixo quando o retornamos ao ciclo da produo, seja ele industrial, agrcola ou artesanal.

Como reciclar? Fazer compostagem domstica com seus restos de jardim e de cozinha. Separar materiais reciclveis (plsticos, vidros, metais e papis), para os programas de coleta seletiva.

Depois de tomar a sua melhor cerveja, no esquea de reciclar a latinha, mas lembre:

a cerveja mais saborosa aquela que vem no casco de vidro retornvel - a gente sempre tem que tomar com mais algum; e que mesmo para produzir a latinha a partir de material reciclvel necessrio o consumo de energia.

Veja como funciona:

O LIXO

Muito se tem discutido sobre as melhores formas de tratar e eliminar o lixo -- industrial, comercial, domstico, hospitalar, nuclear etc. -- gerado pelo estilo de vida da sociedade contempornea. Todos concordam, no entanto, que o lixo o espelho fiel da sociedade, sempre to mais geradora de lixo quanto mais rica e consumista. Qualquer tentativa de reduzir a quantidade de lixo ou alterar sua composio pressupe mudanas no comportamento social.

A concentrao demogrfica nas grandes cidades e o grande aumento do consumo de bens geram uma enorme quantidade de resduos de todo tipo, procedentes tanto das residncias como das atividades pblicas e dos processos industriais. Todos esses materiais recebem a denominao de lixo, e sua eliminao e possvel reaproveitamento so um desafio ainda a ser vencido pelas sociedades modernas.

De acordo com sua origem, h quatro tipos de lixo: residencial, comercial, pblico e de fontes especiais. Entre os ltimos se incluem, por exemplo, o lixo industrial, o hospitalar e o radioativo, que exigem cuidados especiais em seu acondicionamento, manipulao e disposio final. Juntos, os tipos domstico e comercial constituem o chamado lixo domiciliar que, com o lixo pblico -- resduos da limpeza de ruas e praas, entulho de obras etc. -- representam a maior parte dos resduos slidos produzidos nas cidades.

Destinao do lixo urbano e hospitalar

A adequada conduo do servio de limpeza urbana importante no s do ponto de vista sanitrio, mas tambm econmico-financeiro, social, esttico e de bem-estar. Apesar disso, um estudo conveniado da Organizao Pan-Americana de Sade, de 1990, que estimou em mais de oitenta mil toneladas a quantidade de resduos slidos gerados diariamente nas cidades brasileiras, constatou que apenas a metade era coletada. A outra metade acabava nas ruas, terrenos baldios, encostas de morros e cursos d'gua. Da parte coletada, 34% iam para os lixes (depsitos a cu aberto) e 63% eram despejados pelos prprios servios de coleta em beiras de rios, reas alagadas ou manguezais, prtica cada vez mais questionada por suas implicaes ecolgicas. Somente trs por cento da parte coletada recebiam destinao adequada ou pelo menos controlada.

O lixo coletado pode ser processado, isto , passar por algum tipo de beneficiamento a fim de reduzir custos de transporte e inconvenientes sanitrios e ambientais. As opes de tratamento do lixo urbano, que podem ocorrer de forma associada, so: compactao, que reduz o volume inicial dos resduos em at um tero, triturao e incinerao. Boa opo do ponto de vista sanitrio, a incinerao, porm, condenada por acarretar poluio atmosfrica.

A disposio final do lixo pode ser feita em aterros sanitrios e controlados ou visar compostagem (aproveitamento do material orgnico para a fabricao de adubo) e a reciclagem. Esses dois ltimos processos associados constituem a mais importante forma de recuperao energtica. A reciclagem exige uma seleo prvia do material, a fim de aproveitar os resduos dos quais ainda se pode obter algum benefcio, como o caso do vidro, do papel e de alguns metais.

A soluo defendida por muitos especialistas, porm, envolve a reduo do volume de lixo produzido. Isso exigiria tanto uma mudana nos padres de produo e consumo, quanto a implantao de programas de coleta seletiva de lixo. Nesse caso, os diversos materiais reciclveis devem ser separados antes da coleta, com a colaborao da comunidade.

Os pases industrializados so os que mais produzem lixo e tambm os que mais reciclam. O Japo reutiliza 50% de seu lixo slido e promove, entre outros tipos de reciclagem, o reaproveitamento da gua do chuveiro no vaso sanitrio. Os Estados Unidos (EUA) recuperam 11% do lixo que produzem e a Europa Ocidental, 30%. A taxa de produo de lixo per capita dos norte-americanos, de 1,5 quilo por dia, a mais alta do mundo. Equivale ao dobro da de outros pases desenvolvidos. Nova York a cidade que mais produz lixo, uma mdia diria de 13 mil toneladas. So Paulo produz 12 mil toneladas. Entre os lderes mundiais da reciclagem de latas de alumnio destacam-se Japo (70%), EUA (64%) e Brasil (61%), conforme dados de 1996 da Associao Brasileira de Alumnio.

POLUIO DO SOLO As principais causas da poluio do solo so o acmulo de lixo slido, como embalagens de plstico, papel e metal, e de produtos qumicos, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas. O material slido do lixo demora muito tempo para desaparecer no ambiente. O vidro, por exemplo, leva cerca de 5 mil anos para se decompor, enquanto certos tipos de plstico nunca se desintegram, pois so impermeveis ao processo de biodegradao promovido pelos microorganismos.

As solues usadas para reduzir o acmulo de lixo, como a incinerao e a deposio em aterros, tambm tm efeito poluidor, pois emitem fumaa txica, no primeiro caso, ou produzem fluidos txicos que se infiltram no solo e contaminam os lenis de gua. A melhor forma de amenizar o problema, na opinio de especialistas, reduzir a quantidade de lixo produzida, por meio da reciclagem e do uso de materiais biodegradveis ou no descartveis.

MTODOS DE ELIMINAO

O aterro sanitrio o modo mais barato de eliminar resduos, mas depende da existncia de locais adequados. Esse mtodo consiste em armazenar os resduos, dispostos em camadas, em locais escavados. Cada camada prensada por mquinas, at alcanar uma altura de 3 metros. Em seguida, coberta por uma camada de terra e volta a ser comprimida. fundamental escolher o terreno adequado, para que no haja contaminao nem na superfcie, nem nos lenis subterrneos. Alm disso, o vazadouro deve ter boa ventilao. Os incineradores convencionais so fornos, nos quais se queimam os resduos. Alm de calor, a incinerao gera dixido de carbono, xidos de enxofre e nitrognio, dioxinas e outros contaminantes gasosos, cinzas volteis e resduos slidos que no se queimam. possvel controlar a emisso de poluentes mediante processos adequados de limpeza dos gases. A fabricao de fertilizantes ou adubos, a partir de resduos slidos, consiste na degradao da matria orgnica por microorganismos aerbicos. O hmus resultante contm de 1% a 3% de nitrognio, fsforo e potssio. GERAO DE RECURSOS ENERGTICOS possvel gerar energia a partir de alguns processos de eliminao de resduos. Alguns incineradores aproveitam para gerar vapor e produzir eletricidade. A pirlise um processo de decomposio qumica de resduos slidos por meio do calor em uma atmosfera com pouco oxignio. Isto gera uma corrente de gs composta por hidrognio, metano, monxido de carbono (os trs so combustveis), dixido de carbono, cinza inerte e outros gases. RECICLAGEM muito antiga a prtica de reciclagem de resduos slidos. Os utenslios metlicos so fundidos e remodelados desde os tempos pr-histricos. Os materiais reciclveis so recuperados de muitas maneiras, como o desfibramento, separao magntica de metais, separao de materiais leves e pesados, peneirao e lavagem.

Mais sobre Poluio do solo

A poluio pode afetar tambm o solo e dificultar seu cultivo. Nas grandes aglomeraes urbanas, o principal foco de poluio do solo so os resduos industriais e domsticos. O lixo das cidades brasileiras, por exemplo, contm de setenta e a oitenta por cento de matria orgnica em decomposio e constitui uma permanente ameaa de surtos epidmicos. O esgoto tem sido usado em alguns pases para mineralizar a matria orgnica e irrigar o solo, mas esse processo apresenta o inconveniente de veicular microrganismos patognicos. Excrementos humanos podem provocar a contaminao de poos e mananciais de superfcie. Os resduos radioativos, juntamente com nutrientes, so absorvidos pelas plantas. Os fertilizantes e pesticidas sintticos so suscetveis de incorporar-se cadeia alimentar.

Fator principal de poluio do solo o desmatamento, causa de desequilbrios hidrogeolgicos, pois em conseqncia de tal prtica a terra deixa de reter as guas pluviais. Calcula-se que no Brasil sejam abatidos anualmente trinta mil quilmetros quadrados de florestas, com o objetivo de obter madeira ou reas para cultivo.

Outra grande ameaa agricultura o fenmeno conhecido como chuva cida. Trata-se de gases txicos em suspenso na atmosfera que so arrastados para a terra pelas precipitaes. A chuva cida afeta regies com elevado ndice de industrializao e exerce uma ao nefasta sobre as reas cultivadas e os campos em geral.

DESTINO FINAL DO LIXO

LixoO lixo apenas a disposio do lixo a cu aberto em terrenos baldios onde fica exposto sem nenhum tratamento e sem nenhum critrio sanitrio de proteo ao ambiente, provocando intensa proliferao de moscas, mosquitos, baratas e ratos, e ainda aproveitado pelos "catadores de lixo" que correm o risco de contrair doenas.

Outro inconveniente o "chorume", lquido que resulta da decomposio do lixo que possui alta taxa de compostos orgnicos de difcil degradao e que polui o solo e os lenis d'gua.

Os gases tambm produzidos pela decomposio do lixo poluem o ar e so vetores de doenas atravs de germes patolgicos.

Aterro controladoUm aterro controlado caracteriza-se, segundo a ABNT/NBR-8849/85, pela disposio do lixo em local controlado, onde os resduos slidos recebem uma cobertura de solos ao final de cada jornada. Como no possuem impermeabilizao dos solos nem sistema de disperso de chorume e gases, muito comum nesses locais a contaminao de guas subterrneas (IPT/CEMPRE, 1995).

Aterro sanitrioO chamado aterro sanitrio no um processo de tratamento. Consiste na decomposio de camadas de lixo alternadas com camadas de argila auxiliando na impermeabilizao e materiais inertes, como mantas de polietileno em terrenos com sistemas de drenagem para o chorume. Nessas condies as camadas de lixo sofrem decomposio aerbia e depois anaerbia.Na atualidade, segundo literatura especializada, o Aterro Sanitrio Stio So Joo, em So Paulo, parece ser o melhor do Brasil, visto que nele foram consideradas as melhores tecnologias, inclusive uma das principais, qual seja, a relativa proteo total dos mananciais hdricos vizinhos a jusante do aterro.

Alm do sistema de drenagem para o chorume, necessrio tambm um sistema de drenagem de tubos para os gases, principalmente o gs carbnico, o gs metano e o gs sulfdrico, pois, se isso no for feito, o terreno fica sujeito a exploses

IncineraoA incinerao um processo dispendioso, no qual o lixo queimadoem fornos de alta temperatura, propiciando uma relativa reduo novolume do lixo, alm de destruir a maioria do material orgnico e doscontaminantes que causam problemas nos aterros.

Alm de calor, a incinerao gera dixido de carbono, xidos deenxofre e nitrognio, dioxinas e outros contaminantes gasosos, cinzasvolteis e resduos slidos que no se queimam e que concentramsubstncias txicas com potencial de contaminao do Meio Ambiente.

As dioxinas so consideradas uma das substncias mais txicas presentes no ambiente. Alm de serem de difcil destruio, elas podemcausar srios efeitos sade humana.

As cinzas resultantes podem tambm ser usadas na indstria defertilizantes.

Usinas de compostagem

No processo de compostagem, o material orgnico do lixo segregado e sofre um tratamento biolgico do qual resulta o chamado "composto", material utilizado na fertilizao (como adubo na agricultura) e recondicionamento do solo ou em rao para animais.NOES DE SEGURANA E HIGIENE DO TRABALHO

INTRODUO

A base para as Boas Maneiras a auto-estima. Se a pessoa no se valoriza, ento ela no se cuida; se ela no d trato a si mesma e se a sua prpria figura e os seus modos ofendem pela inadequao o sentimento de sociabilidade de seus semelhantes, cair por terra toda possibilidade de que seus gestos possam significar deferncia e respeito para com os outros. Os cuidados consigo mesma, includa a higiene pessoal e a higiene do ambiente pelo qual a pessoa responsvel, devem ser, portanto, nosso ponto de partida.

O Brasil tem ainda, no campo e nas cidades, muita gente de hbitos muito primitivos de higiene, o que me obriga, dentro do propsito destas minhas pginas, a abordar alguns costumes que as pessoas mais cultas acharo detestveis. No tomem como desrespeito e insensibilidade, pois desejo mostrar uma realidade a aqueles que podem, atravs do ensino, contribuir para que tais hbitos sejam mudados.

HIGIENE

ConceitoConsiste na prtica do uso constante de elementos ou actos que causem benefcios para os seres humanos. Em seu sentido mais comum, podemos dizer que significa limpeza acompanhada do asseio. Mais amplo, compreende de todos os hbitos e condutas que nos auxiliem a prevenir doenas e a manter a sade e o nosso bem-estar, inclusive o colectivo.

Com o aumento dos padres de higiene e estudos socio-epidemiolgicos tm demonstrado que as medidas de maior impacto na promoo da sade de uma populao esto relacionadas melhoria dos padres de higiene e nutrio da mesma.

Muitas das doenas infecto-contagiosas existentes que so encontradas, em locais inadequados decorrentes dos baixos padres de higiene, por vezes relacionados com o baixo padro cultural e social local, actualmente, so de certa forma contidas com a implementao de padres de higiene, atravs da consciencializao da populao e instruo de novas metodologia as quais ensinam como a sociedade deve comportar-se nesses momentos em relao a sua Higiene, quanto ao aspecto pode ser:

HIGIENE FSICA, MENTAL E SOCIAL

A higiene engloba uma srie de processos que se destinam a assegurar o bem-estar fsico e psquico dos indivduos, bem como a sua articulao harmoniosa com o meio envolvente.

Ao nvel do indivduo, a higiene caracteriza-se por dois aspectos principais: a higiene fsica e mental.

HIGIENE FSICA

A higiene fsica visa a manuteno de uma adequada limpeza do corpo, removendo a sujidade, secrees e microrganismos que, durante a atividade diria, se tenham instalado sobre ele, assegurando assim a manuteno da pele, mucosas e outras estruturas, em contato com o meio externo, em condies ptimas, bem como uma adequada preveno da instalao de parasitas ou agentes infecciosos, como vrus, bactrias e fungos. Engloba tambm a manuteno dos ritmos e hbitos de vida que respeitem as necessidades do organismo, como, por exemplo, uma adequada dieta (higiene) alimentar.

um conjunto de hbitos de limpeza e asseio com que cuidamos do nosso corpo, por ser um vector de importncia em nosso dia a dia, acaba por influenciar no relacionamento inter social, pois implica na aplicao de hbitos, que viram normas de vida em carcter individual, como:

Tomar banho - Diariamente - Devemos utilizar sabonete neutro.

Assepsia - Com o uso de desodorizante bastante til, especialmente de Vero. No entanto devem ser evitados os que inibem a produo de suor, podendo assim aumentar a transpirao noutros locais do corpo transpirao compensatria.

Lavar as mos sempre que necessrio, especialmente antes das refeies, antes do contacto com os alimentos e depois de utilizar o quarto de banho. Alm disso, importante manter as unhas bem cortadas.

Os dentes e a boca devem ser lavados depois da ingesto de alimentos, usando um dentfrico com flor. Uma higiene inadequada dos dentes est na origem da crie dentria, que pode ser causa de inmeras doenas.

Beber gua mineral ou filtrada.

Uma alimentao equilibrada com alimentos se possvel mais natural e que encontrem-se em melhores condies.

HIGIENE MENTAL

O que voc gosta de fazer para relaxar? Ler um bom livro, escutar msica suave, ficar sem fazer absolutamente nada?

No importa a sua escolha. Voc tem o direito de relaxar. A maioria das mulheres se sente CULPADA quando pra a correria do dia a dia para fazer absolutamente NADA. Ou para fazer alguma "bobagem".

Ser "bobo" fundamental. Faz bem para o corao - voc j se viu diante da televiso assistindo algum programa idiota de humor e dando risada "feito boba"? timo!!! Saiba que rir toa resgata a criana dentro de ns. Rejuvenesce a pele, ilumina o dia. Portanto, saia do srio e faa alguma coisa "boba". Alugue um filme do Leslie Nielsen (tipo "corra que a polcia vem a"), assista aos episdios do Mr. Bim (meu pai, minha sogra e outros morrem de rir com ele), enfim....vale tudo para dar umas boas risadas. Serve at revisitar lbuns de fotos antigas e ver alguns parentes e amigos com aqueles cortes de cabelo dos anos 70 ou 80!!!

A higiene mental caracteriza-se pela manuteno dos indivduos em ambientes no causadores de stress excessivo, que sejam susceptveis de desencadear perturbaes psquicas ou neurolgicas, bem como a ausncia de estmulos susceptveis de desencadear essas mesmas alteraes. Para a manuteno de uma adequada higiene mental, necessrio tambm o respeito pelo perodo do sono, varivel consoante a idade e a atividade diria, a fim de possibilitar no apenas a recuperao fsica, mas, tambm, psquica, j que o sono fundamental para o ordenamento da memria, principal interface das reaes do organismo com o meio ambiente.

A higiene pode tambm ser analisada sob um ponto de vista ambiental e social.Em termos ambientais, a manuteno de boas condies sanitrias fulcral para a manuteno da higiene individual. A existncia de sistemas de tratamento de lixo, guas residuais e guas para consumo essencial para a conservao das populaes de microrganismos potencialmente patognicos a nveis baixos, reduzindo assim os riscos de contaminao microbiana dos indivduos. A conservao da natureza e dos ecossistemas naturais essencial para a manuteno da vida, j que eles asseguram a manuteno dos ciclos de energia e matria, logo, a possibilidade de manuteno do planeta num equilbrio higinico homeosttico.

HIGIENE SOCIAL

A higiene social engloba os aspectos ambientais inerentes sociedade humana, nomeadamente as relaes interpessoais e os sentimentos de segurana, fatores cruciais para a manuteno de uma adequada higiene mental, logo, tambm fsica. As preocupaes com a manuteno da higiene so bem visveis nas unidades de sade, onde existem especialistas de higiene - individual e ambiental -, a fim de assegurar uma boa sade pblica.

HIGIENE PESSOALO CORPOAlm de fundamental para o intercmbio social, a higiene do corpo tambm importante para a sade. Inmeras doenas, principalmente da pele, dermatoses, impetigo, larva geogrfica e micose de praia, por exemplo, decorrem de falta de higiene. Manter o corpo asseado e perfumado, e as roupas limpas, o primeiro preceito a ser ensinado s crianas e jovens, no lar e na escola, e um imperativo para os adultos.

Cheiro do corpo. O cheiro do corpo pode afetar o relacionamento social, como o caso do cheiro de suor, a bromidrose, (suor malcheiroso) e do mau hlito, ou pode afetar apenas o relacionamento entre duas pessoas, como o caso dos odores em partes ntimas.

Origem do odor. Como a maioria dos animais, o homem tem dois tipos de glndulas sudorparas, as glndulas ecrinas, que produzem apenas lquido refrescante para o corpo, e as glndulas apocrinas, cuja secreo transporta gorduras e protenas das clulas para o exterior do corpo.

As glndulas ecrinas esto distribudas por todo o corpo e abrem diretamente na superfcie da pele. Elas respondem prontamente a tenses ou ao calor. O suor que produzem um plasma filtrado incolor que 99% gua e 1% outras substncias qumicas como compostos de sdio, cloro, potssio, clcio, fsforo e cido rico.

As glndulas apocrinas, ao contrrio, concentram-se em certas reas peludas: nas axilas, na parte cabeluda da cabea, e nas regies umbilical, pubiana e anal. O suor que produzem vaza para os folculos capilares (raiz dos cabelos), e no diretamente sobre a pele. A secreo das glndulas apocrinas alimento para as bactrias que esto na epiderme, e os produtos do metabolismo das gorduras e protenas secretadas, digeridas pelas bactrias, que produzem o cheiro desagradvel do suor.

Raas. Nos estudos sobre caractersticas raciais, - uma das preocupaes mais fortes da sociologia em fins do sculo XIX e primeira metade do sculo XX -, indicaram que so os europeus e africanos que possuem maior quantidade de glndulas sudorparas do tipo apocrina. A raa mongol tem menor quantidade, e nas axilas, onde a concentrao normalmente maior nas duas primeiras raas, os mongois podem no ter nenhuma, ou ter muito poucas. Os japoneses quase no tem odor nas axilas. Ao tempo da escravatura, os negros africanos se queixavam do cheiro dos mercadore