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A MÉRICA L ATINA Universidade pública quer integração via conhecimento Brasil, Argentina e Paraguai estão unindo forças para criar um marco inovador no panorama da educação na América Latina: a Universidade Federal de Integração Latino-Ameri- cana (Unila). A futura instituição terá sede na tríplice fronteira e reunirá alu- nos e professores dos três países em um projeto que pretende fortalecer a integração da região através do co- nhecimento. “Essa iniciativa vai con- tribuir decisivamente para o processo de integração, ao colocar juntos pro- fessores e alunos, do México à Argen- tina, estabelecendo uma solidarieda- de compartilhada, pelo ensino, pes- quisa e extensão nos campos das ciên- cias e das humanidades, inserindo-os na sociedade do conhecimento num mundo globalizado”, afirma Hélgio Trindade, cientista político brasileiro e presidente da Comissão de Implan- tação da universidade. O projeto deverá inaugurar um modelo de universidade pública multinacional com o objetivo de ex- pandir e integrar o ensino superior da região, visando à formação de re- cursos humanos e ao desenvolvi- mento comum. O Projeto de Lei ria a seleção dos alunos brasileiros através do Exame Nacional do Ensi- no Médio (Enem), e a criação de um sistema semelhante adaptado aos lati- no-americanos. A instituição deverá contar com 500 professores, compos- tos de forma semelhante às nacionali- dades dos estudantes. O ensino e a prática das línguas por- tuguesa e espanhola farão parte do cotidiano da instituição. “Estou convicto de que o futuro da inte- gração regional dependerá da ca- pacidade da instituição em pro- mover, através da convivência fra- terna entre várias gerações de estu- dantes latino-americanos, um am- biente plural e solidário a fim de consolidar a democracia e a cultura de paz no continente”, defende Trindade. 14 2878/08, que prevê a criação da Unila, ainda tramita no Congresso Nacional. Enquanto isso, a Comis- são de Implantação, formada por 13 especialistas em educação supe- rior e integração regional, tem até dezembro deste ano para definir o projeto da futura universidade. “A previsão é de que o projeto seja aprovado em 2008, e estamos tra- balhando para iniciar as atividades no segundo semestre de 2009”, de- clara Trindade. A universidade deverá receber 10 mil alunos em um prazo de cinco anos. Metade das vagas será destinada a alunos brasileiros, e a outra metade deverá atender alunos de todos os países da América Latina. A data e a forma de seleção ainda não foram definidas, mas uma das hipóteses se- MUN Membros da Comissão de Implantação da Unila tomando posse no MEC Assessoria de Comunicação MEC

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AM É R I C A LAT I N A

Universidade públicaquer integração viaconhecimento

Brasil, Argentina e Paraguai estãounindo forças para criar um marcoinovador no panorama da educaçãona América Latina: a UniversidadeFederal de Integração Latino-Ameri-cana (Unila). A futura instituição terásede na tríplice fronteira e reunirá alu-nos e professores dos três países emum projeto que pretende fortalecer aintegração da região através do co-nhecimento. “Essa iniciativa vai con-tribuir decisivamente para o processode integração, ao colocar juntos pro-fessores e alunos, do México à Argen-tina, estabelecendo uma solidarieda-de compartilhada, pelo ensino, pes-quisa e extensão nos campos das ciên-cias e das humanidades, inserindo-osna sociedade do conhecimento nummundo globalizado”, afirma HélgioTrindade, cientista político brasileiroe presidente da Comissão de Implan-tação da universidade.

O projeto deverá inaugurar ummodelo de universidade públicamultinacional com o objetivo de ex-pandir e integrar o ensino superiorda região, visando à formação de re-cursos humanos e ao desenvolvi-mento comum. O Projeto de Lei

ria a seleção dos alunos brasileirosatravés do Exame Nacional do Ensi-no Médio (Enem), e a criação de umsistema semelhante adaptado aos lati-no-americanos. A instituição deverácontar com 500 professores, compos-tos de forma semelhante às nacionali-dades dos estudantes. O ensino e a prática das línguas por-tuguesa e espanhola farão parte docotidiano da instituição. “Estouconvicto de que o futuro da inte-gração regional dependerá da ca-pacidade da instituição em pro-mover, através da convivência fra-terna entre várias gerações de estu-dantes latino-americanos, um am-biente plural e solidário a fim deconsolidar a democracia e a culturade paz no continente”, defendeTrindade.

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2878/08, que prevê a criação daUnila, ainda tramita no CongressoNacional. Enquanto isso, a Comis-são de Implantação, formada por13 especialistas em educação supe-rior e integração regional, tem atédezembro deste ano para definir oprojeto da futura universidade. “Aprevisão é de que o projeto sejaaprovado em 2008, e estamos tra-balhando para iniciar as atividadesno segundo semestre de 2009”, de-clara Trindade.A universidade deverá receber 10 milalunos em um prazo de cinco anos.Metade das vagas será destinada aalunos brasileiros, e a outra metadedeverá atender alunos de todos ospaíses da América Latina. A data e aforma de seleção ainda não foramdefinidas, mas uma das hipóteses se-

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Membros da Comissão de Implantação da Unila tomando posse no MEC

Assessoria de Comunicação MEC

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INTEGRAÇÃO Os cursos que deverãoser oferecidos ainda não foram defi-nidos, mas já foi estabelecido queserão no nível de graduação, mes-trado e doutorado em ciências e hu-manidades, sempre buscando áreasde interesse comum e que obede-çam a um novo modelo acadêmico,cujo molde ainda está em estudo. Aênfase será em temas envolvendoexploração de recursos naturais ebiodiversidades transfronteiriças,estudos sociais e lingüísticos regio-nais, relações internacionais e de-mais áreas consideradas estratégicaspara o desenvolvimento e a integra-ção regional. A universidade será implantada emFoz do Iguaçu (PR), em uma área decerca de 40 hectares cedido pelaItaipu Binacional. O projeto é deOscar Niemeyer e faz parte de umplano turístico estratégico da cida-de. Ainda não há data prevista parainício ou entrega da obra. Enquan-to a sede da instituição é construída,as aulas deverão acontecer proviso-riamente no Parque Tecnológico deItaipu (PTI). “Tudo leva a crer, queo impacto tenderá a ser grande, so-bretudo porque o Brasil teve a ini-ciativa de tomar esta decisão estra-tégica num momento em que o te-ma da integração se torna cada vezmais crucial para o continente”,aponta Trindade.

Chris Bueno

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N DN o t í c i a s d o M u n d o

BIÔNICA

Inspiração que vem da naturezaexige visão multidisciplinar na pesquisa

A história parece uma lenda: um

belo dia, um certo cientista estava

passeando pelo campo, quando se

deu conta dos carrapichos em sua

calça. Voltando para o laboratório,

os observou no microscópio e

decidiu que eles poderiam inspirar

um substituto do zíper ou fechos

de roupas. Se você pensou velcro,

acertou. Mas o que pouca gente

pensa é que o tal cientista existiu

e que a idéia veio mesmo do

carrapicho que se agarrou à calça

do engenheiro suíço Georges de

Mestral. Sorte ou acaso? Não:

biônica (ou biomimética, como

alguns cientistas preferem).

A história prosaica do velcro

ilustra a dinâmica das pesquisas

multidisciplinares que compõem

a biônica e que usam observação

de métodos ou sistemas

existentes na natureza como

ponto de partida para desenvolver

tecnologias, adaptar soluções e

criar produtos inovadores.

Apesar de ponto de partida para

várias invenções ao longo dos

séculos (como os primeiros

estudos de uma máquina voadora

mais pesada que o ar), a palavra

biomimética, e, consequentemente,

a sua formulação como teoria, foi

cunhada em 1950 por Otton

Herbert Schimtt, engenheiro

biomédico da Universidade de

Minnesota. Já a palavra biônica foi

criada oito anos mais tarde por

Jack Steele, pesquisador americano

ligado à indústria aeronáutica.

A etimologia da palavra é

basicamente a junção das palavras

biologia e eletrônica.

Desde então, ambas são usadas

como sinônimo (no Brasil, o termo

mais comum é biônica) e as áreas

interessadas no estudo da

natureza como fonte de consulta

para o desenvolvimento de

soluções técnicas aumentaram.

O design, a arquitetura, a química,

as engenharias e a computação

são algumas das áreas que

atualmente possuem interesse no

estudo da biônica.

Inspiração, transpiração e método

Julian Vincent, professor de biônica

na Universidade de Bath, Inglaterra,

é taxativo. “Não preciso de

inspiração”, afirma, “defino os

problemas usando a Triz e procuro

por soluções a partir de métodos

que estamos desenvolvendo”,

completa. Triz é a sigla russa para

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