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Sociologia da Edtlca~ao Alberw TosiRodrigues Colc~ao [0 que voce preciSJ sJbersabre ...] COOI\DENA<;:AO Paulo Ghiralclelli Jr. e Nadja Herman Esta cole~ao C ul11a iniciativa doGT-Filosofia da Educa~ao da r\nped na gcsr;io de Paulo Ghiralddli Jr. cNadja Herlll"l\ I~evisi1o de proVa5 Paulo TellesFerreira Andrb Carv;11ho Sociologia da Educa<;ao Projcw grdfico c diagrama~ao Maria G,1bricla Delgado Ca/Ja Rodrigo Murtinho Alberto T osiRodrigues CIP-BRASIL.Cataloga~~\o·na.fontc Sindicato Nacionai (jos Ediwres de Livros, RJ R611s Rodrigues, Albeno Tosi Sociologia da Educa,ao /Alberto Tosi Rodrigues. - Rio de Janeiro: DP&A, 2004, 5. eeL .- (0 que voc~precisa saber sobre) 14 x 21 CI11 160p. Inc1ui bibliogrnfia ISBN: 85- 7490-289-6 C00370.19 CDU37.015.'1 G ~ DP&A. edi1:ora. PASTA N° _ TEXTO N:; .= FLS. Y fA. _

3 - Sociologia da Educação - RODRIGUES, Alberto Tosi

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Sociologia da Edtlca~aoAlberw Tosi Rodrigues

Colc~ao[0 que voce preciSJ sJber sabre ...]

COOI\DENA<;:AO

Paulo Ghiralclelli Jr. e Nadja Herman

Esta cole~ao C ul11a iniciativa do GT-Filosofia da Educa~ao da r\npedna gcsr;io de Paulo Ghiralddli Jr. c Nadja Herlll"l\

I~evisi1o de proVa5Paulo Telles Ferreira

Andrb Carv;11hoSociologia da Educa<;ao

Projcw grdfico c diagrama~aoMaria G,1bricla Delgado

Ca/JaRodrigo Murtinho Alberto Tosi Rodrigues

CIP-BRASIL.Cataloga~~\o·na.fontc

Sindicato Nacionai (jos Ediwres de Livros, RJ

R611s

Rodrigues, Albeno TosiSociologia da Educa,ao / Alberto Tosi Rodrigues. - Rio de

Janeiro: DP&A, 2004, 5. eeL. - (0 que voc~ precisa saber sobre)

14 x 21 CI11

160 p.

Inc1ui bibliogrnfiaISBN: 85- 7490-289-6

C00370.19CDU37.015.'1

G~DP&A.edi1:ora.

PASTA N° _TEXTO N:; .=FLS. Y fA. _

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CAPiTULO II

-~ Sociedade, educac;ao e vida moral

N Ukl III SLUS S/\~lI\/\S, P..\UI.Ii'Jlll) 11:\ V I( 11.:\ 11:IIT:1 ;\ I r;ljcI (')ri;\ de IIIll

l11abndro do 1110rro, Chico Briw. N:l C<1I1~;'ill,ele c rna!andro,sirn, vive no crime e e preso a wela hora. Pa\dinho, porcrn, naoatriblli sua condi~ao a uma falhZl de car~t(;r. Chico era, ernprincipio, tao bom como qualquer outra pessoZl, mas "0 sistema"nao [he deixZlL1 outrZl oportunicbele ell' sohrevivcricia que nao amarginalidade. 0 Cdtirno verso eliz tudo: "Zl culpa c da sociecbdeque 0 trans(Llrl11au". J:', em outra CIl1t;;:lo, hem 111{\isconhecicb,Geraldo Vandrc cb 11111recado com semido 1l1'0stO: "quem sabefaz a hora, nao espera acontecer".

Somos nos que fazemos a horZl) Ou a hora j<'i vem rnarcZlela,pela socieclZlcle em que vivemc)s? 0 que, Zlfinal, 0 "sistema" nosobriga Zlfazer em nossa viela) Qual ;1 nossa l11argem de m;lllobra)Qual 0 wmanho cia nossa liberdacle)

DZlta c10s primeiros esfor~os, elos funcbclores c!a sociologiaC0l110 c1isciplina COI11pretensoes cientflk;IS a clificukbde el11 licbrCOI11essa tens5a existente entre, de Ui11 bdo, a possibiliclacle ell'ver <1sociedade C0l110 Ul11a estru tu 1'<1COI11poeler de coer~ao e ell'deterl11ina<;ao sobre as <1~oes inelividuais e, de ourro, a de vcr 0

indivfduo como ;lgente cri;lelor e trans(orl11<1c[or cia vida coletiva.

Diante da necessidacle de dernarclr \1111 esl':\\U l'n')l'ril/ elentrodo campo cientffico p:lra CSr:1 nm'a discil1lin:1 :lCad":'micl, al.~:llnsse ernpenh;1ram ern dcmonstr:ll' :1 exislcnci:\ plena lie urna \'ielacoletiva com aIm;l pr6pria, acima e (or;l clas 111el1(CS GOS

indivfduos. Busc\v:\m com issu delirnit:lr \1111 (;III1I'U de

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investiga<.;:ao que estivesse fora cla al<.;:aclacla psicologia (que ja

lidava com a mente do indivfcluo) ou de Olltra cicncia human3qualquer. Outros pensaram em tratar a a<.;:50individual como 0ponto de partida para 0 entendimento da realidade social e,embora tambem fugissell1 do "psicologismo", colocaram a enfasenao no peso da coletividadc sobre os homens, m;!s n3 C<1p:Kicbdedos homens e1e (orjar a socicdade a partir de S'U:1Srcla<.;:0cs uns

f'com os outros.

E provavel que todos tivessem raz50. Os homens criam 0mUl'ldb"s;cial em que vivem - de onde mais de viria? - e aomesmo tt:'h1ri.oesse mundo criado sobrevive ao tempo de vida decada indivicluo, influenciando os modos de vida das gera<.;:oesseguintes. Como pensar a hist6ria humanJ sem resgat<1r abiografia dos homens? Como escrever uma biografia semconsiderar a sociedade e 0 inomento hist6rico em que 0biografado viveu? Portanto, a sociedade faz 0 homcm na mesmanredida'em 'que 0 homem faz a sociedade. Prcferir uma parte doproblema em cletrimento da outra e apenas uma quest50 deenfase.

No entanto, essa cnfasc e importante quando consicleral'nosa concep<.;:50 que cacla um dos principais autores da sociologiatinha sobre J ecluca<.;:ao. Ou, pelo menos, a concep<:;ao deecluca<.;:50 que poclemos cleduzir de seus escritos sociologicos.

Fortemente influenciaclo pelo cientificismo clo scculo XIX,principalmente pela biologia, c extrem:1mc.1le prcocllp;ldo comuma clelimita<;:ao clara clo objeto e do metodo cla sociologia, 0frances Emile Durkheim (1858-1917) vislumbrou em sua obra aexistcnciJ de um "reino socizd", que sui;l distinto do miner;ll eclo vegetal.

Nao por coincidcnci:l, ele Ch:lI1L\\',\ eSle rcino soci:d, :\S vczcs,cle "reino moral". a reino mCH;l! seria 0 lug;H onde seprocessariam justamente os "fenomenos morais", e seria compostopor ;lmbientes constituidos pcbs ·"idcias" ou pelos "ic\cais"coletivos. Toda vida social se d5, p;lr:! Durk.heim, nesse "meiomoral", que esta P;lW as conscicncias inclivic\uais assim como osmeios ffsicos estao par:l os org;:mismos \'ivos.

Entender que esta dimens:lo de fato exisw, qlle tal meiocoletivo sej::l real e cletennin:lnte na vich das pessoas, nao ealgo evidente por si mesmo, e nao e t::neb p:lr:l qU:llquer um,achava Durkheim. a soci61ogo e 0 l'mico cientistZl preparaclopar:l deteetar esses estados coletivos. Para tanto, ele deveriaenfrentar Sll:l :1ventura intelcctual com :I mesm;1 postura dos demaiscientisLas, coloc:lndo-se num estaclo de espirito semclhante aodos fisicos, qufmicos ou bi61og~)s em seus bbor::ltllri,)s. Se a lei Janravidade ou a da inercia sao leis cb n;1tureZZl - n:-\o se pocleb

qllestiona-bs, nao se pode muJ,i-Ias, e s6 nos resta conhece-laspClra melhor viver -, do mesmo modo a socicdaclc, a vicla colctiv:l,cleve ter suas leis pr6prias, independentes d:l vonwde humana,que precisam ser conhecidas. A ([sica ne\\'toni:ln:l clescobriu asleis cIa gravicbde c cb inerci:l dos corpos. Cabe ;1 sociologia,na visao c\e Durkhcim, clescobrir :IS leis ,b vicb soci:1!.

Sua pretensao c apresent;1r a sociologia como lima cicnClapositiva. como um estuclo met6c1ico. Scgllindo os mc(\)(los certos,portanto, 0 soci610go poclera c1escobrir ;1Sleis sociZlis. Durkheimcompreendia "lei" (lei cientffica, nestc c:lso) como umZl "reb;ao

Durkheim e 0 pensamento sociol6gico

Eclucar e conservar? all revolucionar? Edllcar e tirar a venc\ados OIIlOS ou impedir que 0 excesso de luz nos deixe cegos? Edllc;lre preparar pma a vida? Se for :lssim, para qU:l1 vicla?

Com a palavra, ess.es inquietos senhores, os formuladores dateoria sociologica. E 'comecemos logo pOl' acjuelc que foi ccontinua senclo um dos mais influentes pensadores da sociologi::le cia soc'iologia cia ecluca<;:50.

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necessaria", como a clescoberta cia logica inscrita no proprio reale apresentacl<l na (orma de llll1 enlll1ci:lL!o pelo ciClltist:\. Esse

.positivismo c,' para ele, a unica posi<;:ao cognitiva possfveLNa explica<;:50 que de proporciona, 0 "(ator social" c sempre 0

cleterminante. Em tal universo intelectual, a vereladclra CicnciClso aparece quando Ocorre a per(eit:l sep:u:lC::10 elll're teori:l C

·pr:'itica. 0 meio moral que SCI·ve de elll()J'I)O :H1Si;ldiviclll()s cleveser tdmado como um elado bruto a observarao do invcstioaclor

:s- oJ,

qlie nao eleve em momenta algum assumir os v:llores ne1c, contidos/.ourkheim escreve que as principais (e11omenos sociais,como a religi50, a mora!, a direito, a economia ou a celucaC80~ ,sao na verdacle sistem:Js de valores. Se cstivermos colltaminadoscom os valores que esses (enomenos exprcssam, 11;]0 teremos aisen<;ao necessaria para cntendc-los.

A sociologia, enuncia Durkhcil11, eo estudo c10s fatas soci:Jis.E (aeos socia is sao justamelltc aquclcs modos ell' agir que cxercemsobJ:e a i!=lclivfduo uma cocrc;cio cx[crior, e que aprescntam uma

existcncia propria, independente das mani(esta<;:()es individuaisque possam ter. Os racos sociais, em sUl11a, devem ser consiclerJdosC01110 coism. Durkheim nota que na vieb cmidiana tcmos umaideia vaga e confusa c10s (3'COS sociais - como 0 Estado, aliberdadc, ou a que quer que scja - justamentc porque sendoeles uma realidade vividCl, temos a ilusao de conhecC-los.o senso comum, as maneiras habituais de pcnsar S;]O, portanto,conrrarias ao estudo cientffico c10s fenomenos sociais. A mancit.ada logica CdrtesiClnCl, ell' acln nccessario desconfiClr SCll1prc cbspriml'iras impress6es. DClf a necessiclaele ele tratar os fCltOSsocia iscomo coisas, para livrar-se c1as prc-no<;:6es, dos precanceitos naacil'ntfficas. Para conhece-Ias cientificaml'nte 0 fundamental cestarmos canvencidos de que des n50 s50 inteligfveisimediatamente.

Mas cuiclado af can1 as pabvras, cara 1citor. Veja 15 queconclus6es vai tirar c1el~. Durkheim naa afirmou que os fatos

socialS sao de fata coisas maten~lIS, mas apenas que devem serI:r:1I:1L!os como se (()sscm (ois:!s 1:lis (()I1Hl ;IS ("is:IS m:lll'rI:!IS.

"Coisa" para de e tad a abjeto de conhccimcnlll que ainleligcncia hum:lIIa nao penetr:l de modo imedi:llo,necessitando a auxflio da cicncia. Tratar os (aeos saciais comocois:ls, port:lnto, {: lIm:l pOSl:lIr:l inl'c1cClII:11, lima ~II'irll(1c mCIH:l1.

POl' oulro hdu, C plls~i"el rec(11111l'l:l'I' 0 (l'II\lllll:lltl s()ci:1!

parque de se impClc aos individuos, ou scjcl, os f<lwS sociaisexercem coen;;l0 sobre os com[~OJ'(amenlOS illdividuais, como 0

c!emanstram a moda, 0 casamento, as CotTeJ1lcs de opiniao. Umcrime, par cxcmplo, C rcconhcciclo como .tal porquc c deconhecimellto cO!clivo que lodu crime slisciLI ullla S:IIl~;io, quedevl' ser punido pclas regras que a sociedade estabelccc(no casa, pcbs leis juridicas). f\ lei esr;ILdece l'ulli~;IU porqueo crillle (ere a conscicncia co!etiva, conrrac!iz :lS cOIl"ic~C1CS maisVi";lS e pra(uncbmeillc comp:lrrilh:lc!:lS. No enLlIlto, 0 crime !laoc um:l abe!TCl<;:50. Sc exislem rcgms SOCi:lis que prevcem a quesera e a que n5a sera crime C porque 0 crime c algo normal.o crime, partanto, c um faw soci,1I, assim comu a lei que pre"csua pUlli~a6. Sao (atas socia is Ilao s6 porquc S:la norma is, m<lSparque s5a pcrcebidos como (:ltos sociais pelos membrClS dasocicdade; c porque exercclll algulll:l prcssao sobre os inc!idduos,alguma coerC;,ao, alguJl1<1 obrigatoriedadc.

Ou seja, 0 rccado de DurkheiJl1, com ('SS:l COllvel·S:l lochsabre como definir corretamcnce os (;ltUS sociais, c que naaadiant:l simplcsmcnte dizcr que 0 hOJl1cm C UJl1 ser inscl·ic!o nasocil'dClde, ccrc<1c!o de Cacos sociais pOI' todos as lados. Issa n5.odiria nacla. A caisa c mais complic(lch. 0 n::c;1do C 0 seguince:a sociee/ae/e CS[C[ )1a cabcc;a e/os h01l1cns (' elm 11wlheres, de todos edc cuda 1m), Pais s6 existe um modo de cOllhecer os Cams quel'st;\O J nossa voll;1, scjam elcs pedr;ls, paus, C1S:lS, :\\'i,-)es,einocoes, leis, delitos, pneus, rClUp;1S, pc~as de le:ltru, religic)esau s~i 1<1 a quc. E criando em nOSS;1 mcntc um:l id~icl do que

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sejam ou um ideal que diga respeito ao modo como deveriam ser.Em outras palavras, e gerando uma rejJrescntm;ao mental, umaespecie de chave interpretativa que construimos para lidar com

. aquilo que a principio nao conhecemos.

A sociedacle na cabe<;:a de cada Ulll

E, c af que a sociologia de Durkheim tem gra~a. Para cle, asrepresenta<;:6es podem ser individuais (pessaais) ou colctivas(compartilhadas). As representa<;:6es sobre os fatos sociais saarepreSci11'<1~6escoletiv<1s, san percebicbs em coletivo. l~ como sehouvesse dbis~de nos dentro de nos mesmos: um ser individualem cuja cabe<;:a existem est<1dos ment<1is referentes apenas ;nossa pessoa, <1nassa vid<1como indivfcluos, e, ao mesmo tempo,um ser social.. Na cabe<;:<1desse ser social que habita em nos nao

. trafegam apenas estados mentais'pessoais, mas um conjunto de: cren<;:as, de habitos, de valores, os quais nao revebm co isas que"pensamas com nossa propriCl cabe<;:a" (se e que t<1]coisa poderiaexistir, na visao de Durkheim). Tais cren<;:as e valarcs nao rcvebmuma supasta personalidade privada. Revebm, sim, a quanto kidos outros em nos. De todos QS outros! Das pessoas que vivcmconosco na saciedade em que vivemas e clas pessoas que nemconhecemos, e inclusive das que nao vivem mais, que jj~narreram, taIvez h:'i muitos anos. A sociedacle vive na cabe<;:ade cad a um e, assim como 0 Cristo biblico, onde dois ou m~1isestiverem reunidos em seu nome ela estar:'i no meio deles. Maisdo que isso ate, pois se dcstacarmos um lmico indivfduo dasociedade ande ele vive e 0 levarmos para outra sociedade oumesmo para uma ilha desena, ele levara um pouco da sociecladcconsigo, dentro de sua cabc<;:a. Lcmbram-se do modo comoRobison Crusoe sobreviv;eu apos 0 naufragio? Pois e, foi gra<;:as asociedade e seus saberes, que viviam dcntro cle sua c1be~a, Clpesarcia ausencia ([sica clas clemais pesSO~1s.Ponanto, nao apenas 0

inclivfcluo faz parte da spciedacle; uma parte cb socicdade hz

parte delco Ao mesmo tempo, par autro Iada, a sociedaclc s6existe em sua plenitude se tomarmos 0 conjllnro, porque cianaa cabc tocla, completa, na cabe~a dc clda um .

As representa<;:oes coletivas, assim, sao exreriores asconscicncias individllZ',is; elas nfio clcrivam dos individuDSconsieler;-tc!os is()\;l(I;-tI11(~IHe, Jl);)S de SII:l c(J(J!Jcr!u:/io. N;)constru<;:~l0 du rcsult;lelo CUl1111111elC~S;1 CULlb()r;I<;;lu, eli:Durkhcim, cada um entra com sua quot;J-p;Jrte; mas ossentimcntos privados s() se tornam SUCi;lisqll~1I1d() se c<1l11bin;ll11entre si, SaG compartilk1dos c gcr;Jm, em dccmrcncia, al.l;o novo.Par causa das combina~oes e cbs mlltac;6es que sofrcm ;)0 Sl.::

combinarem, as sentimentos inclivicluais 5C [ransJonl1ml1 em Olum

coisa. E como um<1sfntese quimic<1. 0 hiclrogenio c a oxigeniosaa dais gases di(erenres, mas se combinaclns cm cert<1 proporC;~lo.determinada e sob certas conclic;.ClCS fisicas especfficZ!s,transformam-se em algo complctamentc clifcrente: 8glla. Setomarmos as p;utes que compoem a :'igU<1,nao entendercmos ZI

8gllZ! jamais, pois que suas p;-trtes constitutivas S:1Ogases. Domesmo modo, se tam::nmas as inclivkluos, n;io cnlemkrcmus ,\socieclade jamais, pois se c vercbdc que ela existc em caclZ! um,em cada um so existe um (ragmento clela. 0 toelo, paraDurkheim, tem preccclcncia sabre <1Spartes. A saciccbde temvantacle propria. Ela pensa, sente, c1cseja, embora nao possapensar, sentir, desejar e principalmcnrc agir sen50 atrZlves dosinclivfduos. A conscicncia calctiva existe atr,wcs cbs conscienci;\sparticulares. Cada uma nao c nada sem a outra.

Talvez a esta alrurZl, caro leitor, voce ja csteja um POllCOansioso. Talvez ja esteja sc perguntando: bem, mas 0 que temtudo isso a ver com educa<;:ao? Em que Durkhcim nos ajucla,afinal, a pensar a ecluca<;:ao?

Calm;1, calma. Vamos cheg:lr L1 agor~l.

Disso que acabei de di:er, retcnha dois r<1ciocfniosfunclZlmentais. Primeiro, a conscicncia colerivZl, est:1 sociecbcle

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viva na cabec;a de cada indivfduo e ao mesmo tempo exterior acad a pessoa e que a obriga a comportar-se Con forme 0 desejo c1;)sociedade, nao existe individualmente, mas somente pelacool)cra~ao entre osindivfduos. Segundo, essa existencia social,essa vida coletiva, e obra nao apenas dos indivfduos quecooperam entre si num dado momento da vich da sociedade,11~::lStambcm clas gcra<;:()cs passad;ls, que ~ljudar,lm ;\ eriar as

, cren~as, os valores e as regras que ainda hoje estao presentes eque nos obrigam de certo modo a nos comport::lrmos de acordocom ~~a-.~ol1tade da sociedade".

desuso, obviamcme porque a sociedack c t;lmbcm as eondi~oeseconomicas mUlbm. Pergunte :1 SCII p:li OIl ;IVl, (sc ek loi umhomem "hem edueaclo" eb primcira mctadc do scculo XX) ()que se c1evia tazer ao cruzar, na calc;ada, com uma pessoa maisvclha. A resposta c: oferecer 0 bdo de dentro cia calc;ada, fiGll1dovoce com 0 helo ch rua. Pr:1 que? Nan eSCJue~a que a maioriacbs rll<\Ser:1 de lerr:\, e () risco de ul!:lll1c·:\r II [el"l\() dc· L::ISell1ir:1branca era bem maior para os que ficassem perto da rua nos diasde chuva. Com a urbaniza\50 e 0 desenvolv.imento econ6mico,a regra caducou. Alem elisso, 0 SWCllS c10s mais \'elhos er;1difereme do que existe hoje. Esses cxemplo~ tomam apcnaspequenos Ir::lgmenros (\:1 teia ele nmm~lliza\.6cs olerecielas pelasocieelade, mas s50 parte integrame de um determinado meio·moral que compzlrtilhamos.

Ltc meio mor::ll, nos eliz Durkheim, C produzido pebcooperac;:'io entre as inclivfduos, atr:1VCS de um processo dcinterZl~50 que chamou de divis50 do tr;lb:1lho social. Dito deOutro modo: conforme 0 tipo de divis:'io do tr:1balho socia! quepredomina n<l vid::l eoktiv::l numa c!ctL'l'minacb CpOC::l, tcmosUI11tipo difereme de cooper::l<;50 entre os indivfduos. E este tipodiferente cle coopera<;50, pOI' SU::lve~, d:1 origem :1 um::l vichmoral clifcrel1te. Vicla moral que ser:j a base elos conteuc!ostr::lnsl11itidos n::l (orma de cren<;as, valores e norm::lS cle gerac;50para gera<;50. E que cacb nOV~1geraC;;1o, ao nasccr, rccebe pront::lna forma de educ::lc;50.

N50 estou f::tlando apen::lS de educ3<;50 escol::lr, note bem.Estou blando de aprcncler a viver. Estou fabndo clo modo comosomos ensinados a ser membros cia sociecbcle da qU::ll lazemosparte. Cois::l que, voce ja cleve ter reparado, ningucm nascesabendo. Alias, alguns jam::lis aprcndcm.

Como j,1 \limos, ;10 renetir suhre como, ;lfin;J!, um simplescon j u n to de in d iv felu 0 s po cle co 11S tit u irum::l so c ie ela dc,Durkheim observ::l que um:-t condi<;;lO lundamental pJra que a

A diferenciac;~o da sociedade

Ora, se agimos segundo a vontade dJ sociedade, e porqueassim CllJrcn~emos. Porque fomos edIlcados para isso. Essaeducac;ao, naturalmente, n30 se faz no vacuo. Eta tem GonteCJc!os.Tais conteudos sao dados pdo meio moral que compartilhamos,quer dizeT, por este mar de crenc;as, v::llores c regras produzidospelas gerac;6es de indivfduos p::lssadas e presentes d::l sociedadeem que vivemos. Existe um numero quase infinito de regrassocia is que, de tao comuns, ate esquecemos que existem, masdas quais imediatamente nos l~mbramos se colocados diamc deuma situac;ao que as exija: e proibido matar seres hUI11::lnos,e proibido fazer sexo corn 0 irmaozinho ou a irl11:1zinh::l,e recomendaveI que 0 homem envie flores a mulher amada(s6 na fase da conquista, claro), c pouco educado perpetrar urnsonora arroto durante as refeic;6es ete. Isso parece 6bvio demais?Entao veja estas outras duas regras socia is: c gentil arrotar durantea refeic;ao, pois significa que estamos gostando d::l comida;e gentil oferecer sua espos::l para uma noite de sexo com oshomens visitantes. Ben;, essas ja p::lrecem mais ex6ticas par::ln6s, pelo menos alguns de n6s, mas ::l pril11eir::l vale para CCrt::lSculturas de povos arabes, e a segunda v::llc para a cultUraesquim6. Hc"i outras re~[as de "bo::l educaC;:lO" que caem em

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sociedade possa existir c a presenr;:a de um conscnso. Pois semconsenso nao hc'i cooperaS;ao entre os indivfduos e, portzll1to,nao hc'i vida social.

Quando os homens possuem pouca divisao do trabalho em• sua vida em comum, existe entre eles um tipo de solidariecbde

baseaclo na semelhanr;:;1 entre ;1Spessoas. NUIl1;1 triho de fndios,por exelllplo, toclas as pcssoas (azclll pralicamc·nlc :IS mcsmastarefjls: car;:am, pescam, fazem cestos de vime, participam derituais religiosos ele. A liniel divisau llUC gcr:dmcl1L<.: CXiSlC_alem ..cta~presenr;:a de indivfduos destacaclos, como 0 chefe ou 0

curaI1d'eir() -: C a divisao sexual de tarefas entre homens emulheres. b tipo de solidariedade que se cstabclece entre essaspessoas e 0 que Durkheim chama de solidariedade mecal1ica.As pessoas estao juntas porque fazem juntas as lllesmas coisas..Mas no caso radicalmente oposto, ou seja, na moderna sociedadeindustrial, as tarefas SaG extremamente dividicbs. Com a divisaodo trabalho ~ocial, cada vez mais, os inc1ivfc1uos desempenhanlfun-r;:6es diferentes umas das outras. Tal processo se radicalizoucom 0 capitalismo, que levou a uma superespecializar;:ao dastarefas. Na fabrica moclerna, ha um homem para apertar 0

parafuso, outro para encaixar as per;:as, OLltro para pintar osencaixes ete. Alem desses, que san todos oper:irios, ha outrostipos de profissionais superespecializados: 0 medico, 0 professor,o dentista, 0 carteiro, 0 ferreiro, ° ac;:ougueirq, ° comador ete.

Imagine 0 que diria a velha Durkheim se vivesse nos c1ias dehoje, rodeado por tecnicos em informatica, consu[tores demarketing, pHotos de conida, analistas cIe sistemas, tiidcomakcrs,astronautas ... Talvez nem se espantasse. Talvez confinnasse comum sorrisinho nos labios que tuda 0 que se fez desde ° infcio doseculo XIX foi 0 incremento cIe uma difcrcnciaqao social cadavez maior.

o tipo de solidariedade que se.estabclece entre os indivfcIuoscom este e!evado grau ~e divisao cIo trabalho nao pode ser a

mesma solicIariecIade cIos fndios na tribo. Na socieclacle industrialmoderna ha uma solichrieclade par di(erci1c;a e n:\u mais porscmelhanc;:a. E 0 que Durkheilll cham:l de snUdwicdudc mganicu.As pessoas nao estao juntas pOI'que fazem juntas as mcsmascoisas, mas 0 contrario: cstao juntas pOl'que f;1zem coisasdiferentes e, portanto, p:na viver (inclusive para comer, heher evcslir) dcpcndcm d:IS uulr:ls, que (;\Zelll c()is:IS qlle el:ls 1l;'I()querem ou n3.o SaGmais capa:es de fazer. Como 0 alfai:tte comeri:1e como 0 cozillhcim SL'vcsliri:l sc II:\() (I.'SC:1 CxiSI('lll·i:\ ,1() (JlIl1"rl.

Se uma tribo (osse devastada por um ataque inimigo e Sl) restasseuma peSSO<1,cia poderia J.inda sobreviver na m:.ta clc;:ando oupescando ou comendo frutos cbs :lrvorcs, cm.[,urd vivcr scm 0

grupo talvez nao fizesse m::ris scntido para cIa, tao lig::rda aocoletivo ela e. Mas 0 que voce faria, c::rro kitor, se um;1 cxpediC;aode marcianos C<1pturasse tad a a populac;:3.o ela terra paraexperiencias e s6 esquecesse voce par aqui? Como comeria?Claro, voce pode assaI tar a balc\o frigorifico elo supermercado.M<1squanto tempo a energia elCtrica elUl'aria sem a manutenc;:3.odo pessoal cia comp::rnhia de forr;:a e luz? Quem pag<1ria seus<11ariol Quem lava ria suas cuecas ou calcinhas? E pr:1 que us~ucuecas ou calcinhas se nfio h:i mais escritl1rio paw IT~1balhar ouaula para ass~stir, nem ningucm para vcr voce pehdo ou pelaeb?Qucm the ensin<1ria sociologia cia eelucac;:3.o na \I ni versidaele?Quem passaria aqucle filme rom~lntico e1e S:ib~IClo:1 lIoite?

L;1mento informar, mas voce depenele c10soutras. Sua relar;:Ziocom os GlItros toelos que estao a sua volta, mcsmo com aquelesque voce odeia, sua rebC;ao com seu p::rtr3.o ou com sua sogra, ClIm::r relac;3.o de solidariedade. De soliclarieclaclc org:'mica.

A diferenciac;:'io social, isto C, :1 pass~1gcm eb solicbriccbdemecanica para a organica, C similar a luta pela sobrcvivencia noreino animal. A divis3.o do trab~1Iho, P:H~1Durkheim. c a so[uc;aopacffic<1 cIa luta pcla vida. Em ve: de matar lIns aos outros parcausa cla competir;:50 que scriam obrigados a cmpreencler com

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seus semelhantes na luta pela sobrevivencia, os seres humanosdiferenciam-se. Nas socicdades humanas e posslvel a 11111nllmeromaior de pessoas sobrevivcr, difcrenciando-sc Ul113Sdas Outras,fazendo coisas que as outras n50 fazem p3ra tOrJ1dr-se parte ciasociedade, e par consegllinte substituindo a s()lidaricd~ldebaseada na s~melh3n<;:a pel a solidariedade baseackt n::\ diferene:'l.

M;ls h:l outro ponto illlPlll·C\lllc. Durkhei';l ;lS:,ill;lla quequ::\ooo ha pouca divisao do trabalho e, em decorrcncia,solidariedade mecanica, a conscicnci3 coktiva c mais forte cexten...siy~ a um nLllnero maior de pessoas. Isso ocorre porqucdesempenhgmdo fun<;:6esSOCidismuito scmelhantes, os indivlduospcnsam "com' a mesma cabe<;a", por assim dizcr. Quando, aocontrario, h5 muita divis50 do trabalho c, em dccorrcncia,solidariedade organica, c<lda pessoa, em diversas cirCUi1StJllCiasda vida, tem 'Ulna margem maior de tiberdade, para pensar eagir por conta pr6pria. H::l, portanto, um cnfraquecimencorela~ivo d.a consciencia coktiva nas sociedades complcxas, h5um enfraquecimento c!as rea~6es da coletividade conte, :1qllebradas regras estabelecidas e ha uma margem m;1ilH pdr;1 ainterpreta<;ao pessoal ou grupal clessas rcgrdS.

Assim, os meios morais, nas sociedacles com POUCd e nascom muita divisao do trabalho·, sao bastante distintos. Os vatorcs,as cren<;:as e as normas compartilhados no seio de uma clliturapelos indivfduos saG muito mais imperativos, obrigat6rios ehomogeneamente transmitidos de gera<;ao pard gera<;ao numasociedade pouco diferencidda, enquanto que, pelo contr::lrio,sofrem interferencias de grupo, de SWtHS e de c1asse numasociedade ·muito diferenciada, como a sociedade industrialmoclerna. Quando todos sao rigid;1mente ei1Sinados a obcdecerct? mesmas normas, a comp,lrtilhar as mesmas crencas e osmesmos valores, a tendehcia, pensa Durkheim, c 0 cl~nscnso.Quando cada indivfduo, am (lln<;:ao da divisao cia trabalho e daespecializa<;ao, assume v't~ores, cren<;as c ~10rmas clifercnciadas

conforme 0 grupo ao qllal se vincub na vicb profissional, asregras gerais Hcam relativiiadas, Hcam mais (r;lc1s. Pnde-se darintcrpreta<;6es cli(erentes a ebs conformc 0 lugar ell' onde saovistas. E quando h5 forte diferencia<;ao social h<1mllitos lug;1resclifercntes de oncle se olhar :1S regr;1S. r\ tcnc!cncia ser;1, entao,o conflito, decorrcl1te da comretie:?io impost:l pcl:l c1i(erenci:lc}io.Os intlivitilltlS P:ISS:111l:\ glli:tr-sc' 11c·LI \'11:,(:1 ,LI .':III,I:II~>·ltl ,IL-interesses que SClOcada ve: mais pessoais c «,da \'c mcnoscoletivos, na luta pcb sobre\'ivC:ncia que ;lprendem n:l suciedCldecomplexa em que nasccm. t assim que Durkheim vt?um (en()menoextrcmamente c!isseminado nos di;IS e1e hoje:o. il1llividu:dismo.

E a c1ivisao do traGal ho cad i(ercnci<1s;:'1ll sucial quepossibilitam 0 surgimcnto da liberchc!e moc!erna. SCl numasocieclacle complex<1 e elilcrcnci;lLh c que se turn:1 posslvclclim in u ir a rigiclez cbs regras soc ia is, sU;1 v:ll iebel e ge ra I cindistinta, e s6 assim 0 inelivfduo pock tel' cerra liberd;1dc dejulg;1mento e de a~ao. Mas qUdl1tO m;\is liberlladc individual,mais indiviclualismo, entendido como ~1perda dc,:; sentimentosgrcg::lrios e de respeito JS norm,\s gcr~lis cla socieclaclc,

Educac;:50 para a vi~a

Chamo cntflO sua atcn<;f1a para ;1 scguinte questao: quantomais individualista em termas de crcn~as e valorcs c umasocied;1c1e, mais importante se tOrn:1 resolver 0 problema ele comopreservar uma parte da conscienci;1 colctiva, que era quase totalnas socieclaclcs pouco difcrenciachs. Pois qllilnto mais 0individualismo cresce, mais a conscicncia colctiva eliminui.E no entanto, paraeloxillmente, sem CC1l1scicncia colctiva, semlima moral coletiva, d sociedade n50 poele sobreviver.A solidarieelacle c a cimento que d5 lig;, ;\ sociechcle. Se Fossecleix~1eh par3 scguir seu rumu scm cUl1trule, ;\ solie!;triecL!,leorganica (baseada na difcren<;a) pro\'oc3ria a clesintegra~ao ciasocicdade, provocaria 0 que Durkheim chal1lou ele (11101Jliu,istu c,

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a ausencia de regras, 0 caos. Se isso nao ocone por completo eporque a conscicncia colctiva ainch se m:1ntcm ele ;llgum<1form:1.

Num meiO moral cm que 0 individualismo possibilitado pebdiferencia~ao social compete com a consciencia colctiva propriaa toda vida social, a eduGlI;;50 assume 0 significado de cduGI~aomoral. Assumc a condi<;ao de peelr:1 funchmcnt:ll dc prescrv:1~?iocia coesao social.

Assim, a educa<;ao, para Emile Durkheim, e csscncialmentco processo pelo qual aprendemos a ser mcmbros da sociedade.Edu<3a<;50-e socializa<;50.

"E um-a ilusao acrcditar que iJodcmos cducar nossos filhoscomo qucremos", sentencia Durkhcim no seu livro Eclucw;c1u C

sociologia. Existem ccrtos costumcs, ccrtas rcgras, que dcvemser obrigatoriamente transmitidos no processo celucacional,gostemos deles ou nao. Se nao fizcrmos isso, a sociedadc se

" vingara de nossos mhos, pois nao estarao cm condi<;6es de viver, em· meiO' aos' outros quando adultos. A cad a momcnto hist6rico,acredita Durkheim, existc um tipo adequado de educa<;ao a sertransmitida. Idcias educacionais muito ultrapassadas ou mUltoa frente de seu tempo, diz nosso soci610go, nao SaG boas porquenao permitem que 0 indivlduo educado tenha uma vida normal,harmonica com seus conte'mporfll1eos.

Mas se, como dissemos antes, as socicclades moelcrnas SaGm'iJito diferenciadas, devido a divisao do trabalho social, comoseria posslvel um unico tipo adcquado de cduca<;ao para welos)Ora, nao seria posslvel. Para Durkheim, a cduca<;ao adequadae a educa<;ao pr6pria ao meio moral quc cada um compartilha.

"Nas sociedadcs complexas existem muitos meios morais, con forme'a divisao em classes, em castas, em grupos, em profissoes ete.Assim, nao existe uma ~duca<;ao unica para que wdos aprcndama ser membros da sociedade., Voce aprendc a ser um membra desua classe, de seu grupo, de sua casta, de sua profiss<1o, enfim,de seu meio moral. E~.este e 0 modo cspecffico, particular,

pelo qual voce sc t01'l1,1mcmbro eLl soci"chdc, ESLI n~\Oe algoque cstej;\ disponi"cl CIl) Sll:\ :lhr:\l1.c:l'lh'i;; Illl;J! \1:\r:\ II)l\;l~ :\~pessoas. Sociali:ar-sc c aprender " ser mcmbru d;1 sociecbde, caprcncler a ser membra d" socieebclc c Zlprel1(kr ° seu devidolug:1r neb. Sll assi!11 e possi\'c! preser":H :1sllcied<l,lc. l'rcsen';l-h inclll~ivc de SII:I prt')pri:\ dirnl'llci:!I)",

:\prender ;1 ser lIm cngcl1heirt), \1:\1':\ UUI"i,hl'illl, 11;-111Csimplcsmcnte aprender :1 f:l:cr pbnt;lS ou G\lcubr voilimes deconcreto. Assim como aprender Zlser mec!icl1 n;lo se limita ;1aprcncler a COrl;lr h:nrig:ls (ll] serr;lI" ()sSll~,I\prellder :1 scr medicoou engellheiro significa ,1prender :\ ;l,!.;ir11;1\;id;1 cnl11n mcc!ico 'ou ellgcllheiro, :1 rclacion;1r-~e CO!11os o\llros :\ p:\nir desl:l (1\]

cbquela prafiss:1o. Significa :lprellder :\ ;I,c:irC0l110 :) s()cied:\decspera que um mcdico au um engcllhciro Zljam. Significa cntrZlrnum meio mor"I, an'aves cia aquisi<;ao de uma mur;t1 profissioll;'1.POl' isso, as sistcmZlS CducKion:lis conlempur;\ncos nao S:10homogeneos. Educa~f1o homogC:lle;l, ;t1ijs, Sl) sc volt{issemos aprc-hist6ria, em socied.ldcs sem cli(ercncia<;:-\o,

No entanto, por mais especftkos que sej:lm os mcios moraispara os quais somas cduc:1c!os, sCl11prccxistir;m crcn~:1s c v;t1oresb5sicos que dcvcm scr COInuns ;:I toelos, /\ eclucac;ao doengenheiro pock ser Inuit,,) clifcrente eLldo mcdico, ou do liter:1to,mas ,\lltcs de serem edUClClos p,lra essas ativi,bdcs profission:lis,passaram !)or uma educac<1o fundamental no crcral

~ 1 b

compartilhZlcb com tuelos. Mesmo nUI11:1sociecbde rigidamentcdividida em castas, como na fndi;l, ollde ZlSpcsso:\S n:1sccm emorreIn, gera<;:'io :lp6s ,c:cr:l<;:1o,sel11 ch:lncc de P:1SS:lrcle: UI11:l(;:Ist,1 p;:Ira outra, existcm :11,f;unsvalorcs Cl1!11UnS:1 todos; parexcmplo, unn rcligi?io cOl11um. Assil11, mcsmo que IIcm toelosn6s fumel110s um detcrminado Ci~;IITO, ":t1crum:l co is;, :l "elite

'•.J u 0

tem quc tcr CI11comum". N:'io seri,l possi\'c! cxistir sociecLlcle:sem isso. E fundamcnt:ll que h:lj;1 certa homogelleid;lClc, c :lecluca<;:'io cleve pcrpctu;l-h c n.:(m<;{i-h n:\ :t1111;1da cri;1l1C;;1ljuc

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e educada, insistiu 0 soci6!ogo frances, Assim como e'fundamental para ele que, a partir de certo pomo, ;'1 edUC1C)Ose diferencie, pilra adequar as cI'ian~as a seus meias especfficmde vida,

Cr\PiTULO III

-~ Sociedade, edUG1<;:5.oe emallcipJ<;:50

Para resumir esta idci~l, permita-me cit~1r a defil1i;50 que LJpr()prio Durkheim eLl Il:1r:l ('LitICl,::l\):

AlCdLlca~50 C a a~50 cxcrcicb pcbs gera<;iies adultas SOblT :IS ger;1~,-)eSque n:1o se encontram aind:l prl'par:1<1:1$P:lr:1 :1 \'i":l S(lci;l]; tem p(lrobjcto suscitar c c1cscnvolvcr, n:1crian<;:l, CCI'lOI1l-lmerude c$!:ldos (isiCl)s,int~lc~tuais e morais, rccl<1mados ,pcb socicd<1dc politica, IllYsellconjunto: e Pclo meio moral:1 quc a crian~a, particLlbrmenrc, se dcstinc(Eclllcar;do c socioloj;ia, c;lj), I),

E isso quc nos permite viver cm sociecbde, c isso que permiteque a sociedade viva em n6s c c isso quc permite J socieclaclccontinual' viva: sennas igU:lis e c1i(eI'el1tes au meSI1H) l'empo, S\-)a ecluca<;ao pcb glial pass~ln:os C capaz de nus Lm::r :lssim, [ CpOI' isso que a educa~ao c um pracesso sociaL

EST ..\ I3E1\1, r\ SOCII:D,\DE ",os 1\1,)LLl ..\, i\ ClIUC1<;:-lOLjUc recehcmllstem pnr nhjetivo 110," cnqll:lllr:1r :lS eXllccr:lIi\':lS ,1\) ll1l'io $oci:t1em que vivemllS -11,)SS:1 chsse, 11,)SS:l!)r\)(i,;s:-Il), 11\)SS\)Illei,) 1111)1':11,

Cada gcI'ac;.:1o transmite J seguil1le, all'avcs d:l elluclC;:10, \1Selemel1tos (ul1dament:lis p:1ra a m;llH1ten<;:l\) JI eS!:lhiliL!:llk' lL1SClllctiviL!:lclcs hUJ)):lI1:1S, Esses :lch:l,l\lS ,Ie lJIII-kh\.:illl S\..'111d(I\'i\.l:lclc\-'cm scr consiclcra\.los como um imp\.lrl:ll1le pomp de p:lrtidad:l socio!ogia, c t:lInhcll1 d:\ sucio!ugi,l ll:l CdUClt;,-IP,

1"bs nos ljucsrinnemos um plllIC,) :'l,~OI':1sl1hre 11Ii.'\\) que exisienos P\.)J'(-)CSeh socie(Llclc, 0 que cxi~t\., Illlr tr:\s ,Lls :lp:lrcnci:ls

dess:1 110va, ma 1':1\'il hosa e te rrf vel I'e:1Iichde !l;nid" a (CHcepspel" modern:1 oI'dcm il1dustri:1! clpir:1Iisi;l' QIl:lis ns mcclI1ismosde cl1quaLlramcnto sohre, ns in,livlclu\)S e :\ que ini,;I'l'SSl'S ele:.;de (;HO Scrvel11? Que (\Jr~:lS $\1Ci:lis l'mcrgentcs llL'sie 11')1'\1mOI1lCl1ro hisCl)ricu S,-IPC1Il,l:es ,Ie ClllllTO!:lr :IS Cl1I1,ciC'l1ci:IS lipshomensl Mais que i~~n: diante dn ,lCllmull1 ,Lls m:l:el:l~ SPCi:lisj:\ c!es,!c 0 ber<;o LIZ!socied:1dc capil;1Ii~ra, comu tI'al1sformar CS[;1I'ealidaLlc? Como impcdir que os muitos que est:io por b,lixu scjamcsm8gaclos pclos poucos que cst;1U POI' cima' ScI',\ que 0 aeo'deeducar pode scr algo mais do que um mecmismo de m;muteI1C;:locia ol'c1em? Ser:i posslvel ecluc1I' !1<lra a emancip'ls;.:1l) llo homem,para livI':\-I() de LOci,) ;1 "preSS:10 que u esm:lg:1?

Mitrx C 0 pl'ns;lml'nlo sociol6gico

,\ obra do alcm;1u Karl Heimich \brx (1018-1803) marCUl!como um corte de 11<l\'alha 0 pCl1samel1to ocidel1tal do scculo XIX,

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Seu objeto de pesquisa fund\lmenral, para n:io dizer U lll1ico, fuia sociedade capitalism de seu tempo. Ele olhou 8 sua volta epercebeu que,' para' alem clos sinais aparentes de miscri~1 esofrimento das classes trabalhadoras - esses qualqucr um quecaminhasse pcbs ruas das gran des cidades industriais podi~1 ver- havia um processo hist6rico em curso que, enquanto levava ab\lrg\lesi~1 ~I cllndi~;iu de CLISSCd\)lllin:1I1Il:, CXpr\)11I'i;\v;\ d\IStrabaihaclores manuais seus instrumentos de produc;:ao e seussaberes, 'transmitidos com zelo de gewc;:ao para gcrac;:50 ~:ltravcsc10ss~q*)s, ao tempo da velha ordem feudal. Perceber este pontotalvez seja,o grande diferencial cia sociologia de M~1rx.

Mas devo adverti-lo desde logo, caro Icitor, que 0 pcnsamentode Karl Marx nao se adapta facilmente ao r6tulo de "sociologia".Pois a sociologia e uma discip!ina ciemffica e empfrica, de car5teranalftico. E Marx combinoll em seu pensamcnto duasperspectivas dife~entes, dois modos diversos de cncar;H areaJidad~. Por um lado s~.~pens~~er\.t? .L~n~Ut.ic<?,., isto ~-'_

,pretende ver a realid~le CO}11Oelac, dissecanc!o:<;J erecon~truiI.:!c1.2-a concei~~,~~nelHe para entend0-la. Nessesentido, de foi um praticante das ciencias sociais (a sociologiZl,a hist6ria e a economi3 polftii::a). Por outro Iado, seu pensamentoe normativo, isto e, pretende vislumbrZlr como a realicbdedeveria ser, construindo uma utopia em nome da qual serianecessario agir para transformar esta realidade, valorativamentecaracterizada por ele como infqua. Nesse senticlo, de faziafilosofia. Alias, Marx nao era apenas un~J2..~nsad()r. Er~..JaLUk~1)um militante polItico, que prete~,-<;,lia_c.91oc.0r.s,qas,id(ias.empratica atra~cs de_.!!.n:!...p_artido polftico. Mas nao se conformavaem propor 0 socialismo como uma opc;:ao entre tantas oun'as.Seu socialismo era "cientffico", e sua ciencia Ihe dizia que 0socialismo estava fadado a triunfar.

Para de nao havia contradiC;:50 entre tcoria e pratlCa, nementre 0 modo como as coisas SaG e 0 modo como elevem ser.~.

Pelo contr,1['10, sc :<s()cied~llk verd:ldciL1Il1Cl1le hUIl1:\l1:<"dc\'eser" um di:< um:< socicdaelc scm cxplc)r:lc;:;ioe nprcssf'lu, C porC]ueest:< possibililbdc CSt:1dad:\ j:l <1gl)L\,I1Umodo mesmo como ~1socieclaclc presente "C". A c()!.~~L:<liis0o.par<1Ma~x l~?iOC um::1h!h~do r~~.sio.~[l1~()!Clgic:,l2!c,() modo pe\o qU:lI.~\ rc:;Ii~cLids-,'ie_expreSS::1,e 0 futuro cksejac!o est~1cOl1tido no presente oclioso.

'L'\ Lllll(lIo,)! C;I!IILI. l'lI cXJlliLll.

P<1rachegar ao entendimento da socidacle c<lpit~1Iist<1,lvl.!JrxjLIIgou necess5rio dcscobrir COml) ~\ hist6ria hUIl1:ll1:\ (unciun:l,dc""di2 as primClrdios da civiliwc;:ao ate seus elias. N~1~@,..!l'\..enc~~e iss<;J,E :<creditou de (;uo h:wcr dcscuberto este mecll1ismo.Como disse 0 ~1mig()e parccil'O il1telccni<1l Friedrich Engels (1820-1895), num discurso proferido no enrerro e1e M:lr:-.:,~lssim comoDarwin havia descoberto as leis c]a evoluc;:io das espccies. M:<rxh:<via clescoberto as leis cia histc')ri:\. Ncssc scntidu. :\ pretensJude M:\rx se assemclh:< muito ;1 de Durkhcim: 0 flll1d;1mCl1l':1lpJra as cicncias soci:<is c que scj:<m capa:es ele enunciar leisque tenham tama valiclacle gcr:1! quanto as leis cI<1fbic:1 ou c]abio!ogia.

Bem, mas que "descobert:1" era ess,l? 0 enunci:ldu cia lei d:\historia, segundo )vbrx, scri~1algu cumo 0 scguintc: "0 que move<1hist6ria e a luta entre as classes sociais". Comprcenclenclo estJchave, 0 investigaclor (e, pril1cipzl!mcl1tc, 0 tr:<nsfonnador) socialcompreencleria a naturcw da s\.Kied<1dc Glpit;l!ista e a direc;aona qual ela estaria se transformz1l1do, gr<1c;as<1suas contradic;ClCsintcrnas. Como a luta entre as classes chegou em5o:< constituir-se em motor cia muelanc;:a hist6ric<1?

Marx e Engd~_cs,~J:~~~.r;,l!.l!..Ql~.;).hist.Clli~J.~~II.1.l-'\--'-laC a historiag,a relac;ao clos homens com ..a nature:<1 e dos homens.(::l)tr.e .si.Nesses dais tipos de relac;:ao <1parece como intermeck1rio ume!cmento essencial: 0 tr<1b:llho hum<1no.

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E atraves do trabalho ~c 0 homcm mllda ~1naturcZ'lcolocal.:!d~=-a a S~U.Ji~!:,::,js;;;·~lc1;1;:;,'1ta,c~'~'I;~',:C'~~:lLl~~~CIj~~l(iI;;:vive aU'aves de sell traball~o. Na mcclicla em que (l scr hUlllanose reproduz, aU'aves das rel:l\ocs sexuais entre homem e mulher,~Q!:2cesso se expande~lo aumentQ. natlII~,l popula<;.J..9.Ao mesmo tempo, para melhor desencumhir-se de sua tarchde prodll~;\o da vid:\ IlLllL'ri:d (l ll\llllClll lkscllvll1VCl1inSl'rumentos de trabalho, que cada vez mais (oram (uncionandocomo cxtens6es e COIllO aumento cbs c1pacidades do coqX)hun.lano.-Em vez de cortar ou qu.ebrar com as proprias Ill:JOS,inventou; a ·machadinha de peck1, clepois de Illetal cort:<ntecte. Domcsticou animais' para (azer (l tr:1b:dho IlL1is pes:ldu,desenvolvcu tecnicas de cultivo (como irriga<;ao ou eseolhacle tcrrenos) para potenclalizar os resultados de seus es(on;os.Com scu genio, com a capacidadc dc raciocinar que (alta aosoutros animais, 0 homcm (oi cada vez mais sendo capaz de'lL,!ment,ar e melhorar os resultados obtidos pclo tr:lballw querealizava com 0 suor de seu rosto. Nesse processo, trabalhomanual c rcflexao intelcctual jamais se separ:lram, cmhOLl _como apontarci mais abaixo - 0 predomfnio de eel'LOSgruposdc homens sobrc outros ao longo cia hist6ria tenh:< geradouma diston;ao no modo yclo qu~d os homens tomamconsciencia cia rclac;:50 entrc 0 mundo material e 0 mundodas ideias. 0 ser humano, assim, clescnvolveu 80 longo d~lhist6ria, cada vez mais, aquilo a que M8rx e Engels cler<1m 0

nome de "(orc;:as, proclutivas". 0 desenvolvimcnto das (orcasprodutivas (oi oresponsavcl pelo incremento cb proclutivid,;clee pdo aumcnto do clomfnlo do homcm sobrc a naturezZl, bemcomo pelo con(orto e pela riqueza matcrial dccorrentes, queas sociedades acumularam ao longo cia historiZl. E, note bcm

. (or<;as produtivas nao;sao apenZls m8chadinh8s C ZHZlc!OS,nL1~tambcm as tecnologias clcsenvolvidas pela capacidZldereflexiva do homem.

~,

M:lS niio :lpen:lS isso. Ao mesmo rem!',) l'm que 0 IT,1h:llho Co il1termedi~lrio cl:1 rclZl<;;:iodo homcm C,lm ~1 n<llureZ<l, elc c,tambem, 0 intermediario cb relac;:50 c10s homens uns com osOlltrOS, Porque 0 trabalho que sao obrigados Zlclcsenvolver par"sobreviver clita 0 modo pelo qual CISsocieclacles humanas secSI!"llIII!":III\. 1':lr:1 :1111111'111:11':1 l'r.,.llllivi.l:lIk .,,,<,i:ll, I':<!":<

5bcnvol vcr as forS8s C!'Uclllti:::l~!~)\1'!111~I1~Y1I1AlCI1:.foi.,tlD,;ani:::llld<L~produ<;flo junto com seus scmclkllltes, distribuinclo tZlrc(as cb.c.l.1cfkios .entre as membros cb sociedadc. Foi cstc 0 ponto depaaida do proccsso ele divis?io cia trZlblho, Primeiro, :<divisiiosexu:11, entre 0 IT,'lb~dhode humens e 11H11hL'r·cs.DCl'uis, :1divis;\(}entre a ZlgriculturZl c a criZl<;Ciode :lnim~lis. E, ~Issim pur c1iZllltC,(oi se dando Zldivis:lo entre ,) clmpo C:1 ci,LJdc, entrC:1 prodLJ(;ao8grfcob e ZlindustriZll, entrc estz1e 0 comcrcio cte. Nesse senticlo,como est" org8ni::a<;;ao cb produ<;ao advcm cia cap8cicbdehllm:lna de r:lCiunZlli::ar clrcLls nu scntidu do :llImcnto d,lprodlltivicbcle social, Zldivisao do tr8blho C tambcm pZlrte doconjunto cbs for<;ZlsproelutivZls, Ambas, elivisao do trZlbalho eforS:1s proellltivZlS, ao mesmo tempo determin~lm-se to: SaGdeterminacbs uma peb outra.

;vbs Zldivisao social do Lr~lkJ!ho n:lo C 1I11FIsimplc:s clivisaode t:<refZls:fllbno fa: isso, beltrane> :lqUi!O. N:lo. ELl C l"<1mbcmaexpressao ela existcnciZl de di(c:rentes (orm~ls de propriecbde noseio de lImZlcbcb sociedadc num e!Zldotempo historico ..As reb<;0escle propried8e1e, par SUZlvez, di:em respeito 80S tipos dc rclas;oessociais preclominantes nllm:< sociechde a partir elos tipos deproprieclade \·igentes. Do ponto de_~~i:s.t~nd.~_l\'hrx,. ebs il~~plicZlm.nlll~U .scpara<;CiobJ~i<;.8:CI~[1S.()Sin~.tr.~IIi1Cntos o~~m\2i(!.s.u~i!i:~L.lospZlrZl0 trZlbalho, de um bdo, e 0 proprio tr8h:J!ho, de outro. Isso. - . ... _ .. _. - ..... --'

2ig~litka quc.nO.l'rllCCSSO de clivisao do tr:lb:llho.ncnuempre ..oshc~~ns.9..u'::J?'?.ssuem ~")s.m~~:~l:~~~,lre~di~.'l.!·._C2tr.~'.aU~~~~.0~1II-\ame_llel::...~ell~pl:e()~.CJt~e_t:.'·.Zllxdh<1lnpo.sSL1CI1lesscs meios, As rebs;6csele propriecl:1dl.:, portZlnto, s:\o ;\ base liaS c1csiguakLldcs soci<lis,

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na medida em que a divisao do trabalho possibilitou a cxistenciade homens que trabalham para os outros, porque 0 fazem comos meios de outr?s; e de homens que nao trabalham porquctem· meios e podemfazer com que OlltFOS trabalhem para si.A esses modos espedficos de organiza~ao do trabalho e ciaproprierbde M;1rx c Engels dCFall1 0 nOIl\{' dc "rd:l\'-'CS SO,i:lisde produC;;JO".

f .

. C::lda epoca hist6rica possui um conjunto de for~as produtivasdesenv,'?~vj~l()s, sob 0 connole dos homens que nesta epoca viveme, ao mesmo tc.mpo, um conjunto institufdo de reb~6es sociaisde produ~ao: que san 0 modo pelo· qual os homcns assumem 0controle sobre as for~as produtivas, isto C, as rclacoes depropriedade. A este conjunto total Marx e Engels ch;maram"modo de produ~ao".

Assim, as grandes transforma~6es pelas quais passou J hist6ri::lda I:umal;ida.de foram as transforma~6es de um modo deprodu~50 a outro. Simplificadamente, podemos dizer que nossosautores descrevem tres difercntes mod os de produ~8.o ;10 longoda hist6ria: 0 modo de proc!u<;ao escravista antigo (Grccia eRoma antigas, onde 0 trabalho era rcalizado pOI' escravos), 0modo de produ~50 feudal (vigente no mundo medieval) e 0

modo de produ~50 capitalista. A cada um desses mod os deprodu~50 correspondem diferentes estagios de desenvolvimentodas for~as produtivas materiais e diferentes formas de org8niza~aoda propriedade (ou rela~6es socia is de produ~ao). No primeiro,a rela~50 social b,asica c a escravidao, que op6e escravos esenhores de escraVOSj no segundo, a rela~ao social b5sica e a deservidao, que op6e servos de glcba e senhores feudais; e noterceiro, a rela~ao social fundamental e a de assalariamento,que op6e capitalistas e operarios, isto e, burgueses e prolet<lrios.Dessas diferentes rela~6e~ de propriedade, ou melhor, da posi~aodos homens com rela~ao as formas de propriedade vigenres numdado modo de produ~adf c que surgem as classes SOCi'lis.

A transforma~ao de uma forma a outra, de um modo deprodu~50 ::loutro, se da pelos conflitos ::lbertos POl' Glllsa da lut<1entre ;1 cbsse clomin;lda e ;) chssc L!omin;lIIte em cl(h cpoca.Marx diz que as rela~6es sociais de proclu<;ao, isto C, as formasde propriedadc, quando se cstabelccem, funcion8m como um::lforma de desenvolvimento das (orC,;1Sproclutivas, mas cheg;1 um1l1lll11CIllll CI11 l\llC :IS (,'I<.;:\S l'I",II'lil':I\ 11:11' 111:li:, l·'II\:'l"I~IIL·111 sv

desenvolver sob a vigcnci;) daquel;1s rela<;:6cs de propriecl<1de .Abre-se entJo um perfodu de convulsall sllcial, no qual ;ISrcla<;:6es de propriedade vigentes san contest;1c!as. A classeopril11icb, polftic;1 c/ou econOl11iCarnenlc c!omin;IL!:l, sc insup'c

b

contra 0 predomfnio cia cbsse dominante. t. l"lur isso que nossosautores 8finnal11 que aquilo que move ,1 historia c a luta entreas classes.

Nessa cxplicac;:ao generic8 cia teori:l cla histol·ia de Marx eu56 Ihc o;pus, atc ;1qui, 0 a~pcctn lel:1Cion;Kln com as (OrJ)l;lSdeproduc;:ao material e c!e org;mi=a~:io L!;\ cstrutur;1 social debsdecorrentes. lvbs como 0 trab<1lho e a rencx8.o c1ohomel11, comoja sublinhei, sao (aces da mcsl11a 1110ecb ZlO longo cla hist6ria, <1tcoria dc Marx se propoc tambcm a explicar de que modo 0mundo c!as ickias, do conhecimento, das crcnC;::ls e d~1Sopini(lesse relaciona com este mundo nnterial, cia proclu<;:IO:do tr::lbalho.Jvbrx e Engels se veem entao diante cia seguinte pergunt8: comoexplicar (1 conscicncia que os homens tcm ou cleixam cle tel' arespeito de seu pr6prio modo de vida, cia produ<;ao material desua socieclade e cbs rebc;:6es de cbsse, sejam cbs cconomicasou polfticas!

A conscicncia esta lig8da ?is condic;:6cs materiais de vida,;10 intercambio economico entrc os homens, como j;i vimos. M<1Sa consciencia que os homens tcm dessas reb~()eSI "firmam nossosautores, nao concliz com as rcbc;:(ks l11;lteri:lis reais que cle f:lto

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vivem. As ideias, as concep~6es sobre como funciona 0 mundosao representa~6es que os homens fazem a respcito cle Silas vichs,do modo como as rela~oes ajJCLTccem n3 sua cxpericnciacotidiana. Essas representa~6cs s50, partama, aparcncia. P<uaMarx essas represcnta~6es implicam, num primciro momcnto,numafalsa conscicncia, numa comcicncia invertida, pois se prcnclcm~ aparcncia e n:\o s50 capaz('s de clptar ;\ cssC:nci:1 lLtS I'C!:\l;C)CS

as quat's os homens estao de fato submetidos. .

'Se estiver muito complicado, nao c1csanime agora. Vou lhedar unr·ex~nlplo pratico e cbra dcssa falsa conscicncia CJueacabeide mencionar no paragrafo acima. Quando sc cstabelccc nahist6ria uma determinada forma de divisao do trabalho, qu:-mc!ocia se torna dominante e generalizada dentro de uma socieclacle,cia estabclece 0 lugar de cada um clentro do proccsso proclutivo.Assim, as rcia~6es de propriedadevigcntes, 0 pocler polftico decertos grupos sobre outros e as formas de explora~50 do trabalhoque uma determinada c1asse social consegue implancar numadeterminada epoca hist6rica, estabeleccm e clcterminam 0 quecad a indivfduo esta obrigado a fazel', 0 modo como esta obrigadoa trabalhar e viver. No capitalismo, diz Marx, existcm osproprietarios dos meios de produ<;ao (as fabricas, as mjquinas ea pr6pria for~a de trabalho do trabalhadar). Estes sao obviamentcos burgueses. E existem aqudcs a quem naa rcsta Outraalternativa de vida a nao ser vender 0 unico bem de que clisp6em:sua for~a de trabalho, em troca do pagamento de UI11salc'irio.No entanto, na cabe~a dos homens que vivem sob este sistema,isso e percebido, no, plano das ideias, como algo normal, natural.Ao trabalhador Ihe parece natural que certas pessoas tenhamque trabalhar em troca de um salario para viver, como sc issoscmpre houvesse existido e, mais ainda, como se tivcsse quecontinual' existindo par'a sempre. Esse indivfduo n50 ve asociedade capitalista como uma sociedade historicamenteconstrufda pel a luta ent~~ uma c1asse com inten~ao de scr a

classe dominante (a burguesia) e outr"s ch~:ses, que aC:1baramsendll suhmetid,\s ;\ cst;] c\;\sse dllmin:lI\te, tr:tllsr\lrlll;\ndo-seem prolet:1riado. N50. A medich que 0 tempo p:1SS:1e ;1sociedadecapitalista se estabiliza, cta c percebida pcbs pessoClS, na vidacotidi:1na, como ;1 uniC<l socieclade possfvcl. Assim como emolll'ros tempos, ;1 s<lcicd:lde (l'lI\l:d, !)<l[' C:\l'111111<l,(( Ii !)(:rcl'l)id:\

pelos homcns C01110a Lll1ica socied;lde possivel (dur;1I1te scculos,num intervalo de tcmpo, :1]i5s, bC111m;lior do Cjue :1dur<1~ao docapitalismo).

Rep:1re :1qui um:1 cli(crcn~:l (uncl<1ment;1! entre Durkhei111 eM:1rx. Durkhci111 nos mostr;\ () peso cb so'cicchclc sobre osindivfeluos, :1pont:1 que ;\ conscicncia il1Llividu;t1 C llalb pcbpreponderancia ele um:1 conscicnci:l coleti,,;\, Cjue us indivfcluosnao pensam com sua pr6pria cabe<;;1. Ivlarx, pOI' sua \'e:, mosuaquc isso nao c assim simpksmcme porClue CIu:11qucr socieeladede homens cleve necessariamente ser exterior e coercitiva sobreos indivfduos. Ele mostr,l que 0 car5ter coercitivo, dominador,nao se manifesra igu;11mente pur parte "cia sociedade em geral"sobre todos os h0111ens inclistint:1mente, mas sim dc umZl parteda sociedadc sobre outra, ou melhar, de uma cbsse social queaSSU111e0 papel de domin:1nte sobre as outras, Cjue se tornamdominadas. E que est:1 situ:1<;:lo n50 est5 :1li clcsclc Cjue 0 mundoe mundo, mas que ela (oi criacla pcb luta hist6ricl entre asclasses sociais. Marx 8firma que se :1S rcb~6cs de domina<;:aoexistem em toda e qualquersociecl:1de e porque e1as s50social mente construfclas. E, ponamo, nZlOprecisam existir p:1rasemprc, pois 0 homem pock construir outros tipos de rela~6es,sem ;1 domina<;50 de U111;1classe sobre outra. lvlas percebe, noentanto, que os homcns, no seu uni\'erso coticli;\l1o, c1entro cloqld estao submeticlos a este processo de clomina<;:lo. n50 tcmuma conscicnci;\ real eLl clomin;\\ao de que s:io objclO.

Pensemos no processo de passagcm do modo de produ<;:aofeuclal par:1 0 modo ele proclu<;:io Glpitalista, p;1ra que n50 reste

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duvidas sobre isso. A forma de produ~ao de mercaclorias nomundo feudal er~ 0 artesanato. Como resultado de uma enormegama de transforma~6es ocorriclas entre os scculos XVI e XIX,o artesanato s~ transformou em grande inclustri::l. Como isso sedeu, do ponto de ,vista clas rela~6es de proprieclacle? Noartesanato, 0 Mestre de Offcio - por exemp]o, lI!11s:lpateiro -reaHzava tad as as etapas cia produc;:ia de seu produto. 0 MestrcSapate(ro curtia 0 couro clos animais, cortava, tingia, construfaas f6rmas de madeira para a fabrica~ao dos sapatos, casturava-os,pregava-6s"'s6Iados, fazia 0 acabamento e, aincb, os vendia emseu estabelecimcnto. E claro que esre era um processo lento, elIm numero reduzido de pares de sapatos era produzido. Mas 0

Mestre Sapateiro tinha 0 controle de cacla detalhe. Eie, comopessoa, sabia fazcr sapatos e era este saber (somado aos meiosmateriais necess5.rios para a fabrica~ao de sapatos) que determinavao lugar que este homem ocupava no mundo e suas rela~6es comsells contemporaneos. E de onde veio este saber? Ele aprendeude um outro Mestre, muitas vezes seu pai, com 0 qual exercitouo offcio desde crian~a, na condi~ao de aprendiz. Do mesmo modoele ensinaria, depois de Mestre formado, 0 offcio a seusaprendizes" muitas vezes seus mhos.

Com 0 desenvolvimento do comcrcio, no entanto, umanascente classe de comerciantes come~ou a ter pressa. Quantomais sapatos vendidos, mais luero. Os comerciantes passaramentao a contratar fabricantes de sapatos e reuni-los en'. galp6esonde pudessem fiscalizar a produ~ao e cobrar a acrilidade, 0

necessaria. Ao fazerem isso, come~aram a entender 0 processode fabrica~ao do sapato e perceberam que seria possive! agilizara produ<;:ao se as tarefas fossem divididas entre os trabalhadores.Cada um Faria apenas uma etapa, po is seria bem mais ;,\rril apenas, 0

co'rtar 0 couro, ou apenas costurar, repetidas vezes, em vez detodos realizarem todas as etapas e passarem de uma tarefa aoutra. E seria bem ma~s simples, tambem, que os novos

trabalhadores q'ue iam sendo contratac!os tivcssem que aprcnderlima so tareCa, em vcz ele ;lprcnelcr 0 proCCSSl)lodo, jllntou-sc ;1

esta mudanc,;a um outm chelo fllnelamental. Com II dcscnvolvimento

tecno16gico daqueles scclllos, 0 XVIII e 0 XIX principalmeme,foram criadas maqllinas novas p;na aumentar a proelu~ao.A princfpio eSS:lSm{iC]\lin:ls elepencli:lIn clo \ISOq\le () IT:lkdklc1nrLlZi:l dcLis, I\\:\S cum SCII ;lpcr(ci<;ll;\lllCI\lU, ;\S m;'lljllin;IScome~aram a ditm 0 ritmo cia prodll~80, sendo 0 tr:lbZllhadorobrigaclo Zl operar no ritmo da m{)qllina, e nao Zl m;\quin;) ZlO

ritmo do trabalhador.

Agora pense 0 que acontecel1, nao so com os sapZlteiros doexemplo, mas com toclos os ramos cia proclu~:io 'm;1terial, entre 0

tempo do mteS:lnZlto e 0 cb grZlncle incllistri:l. 0 que ;1Conteceu,para Marx, c que os trabZllhac!ores foram cluplamente cXjJ1'ojJriudos

pelos capitalist;)s, isto c, deles foram subtrafcbs clllas COiSZlS:osmeios de jJrodw;clo cb vida mZlteriat e 0 .)(lhcr clo qllZlI cIependiZl ;)fabricZlc;ao de um produLO e Zlpropria posic;iio social do artesao.EIes cram Zluto-suficientes e passaram a se torn;)r clepenelentesdos capitZl!ist;IS. Primeiro, porque n50 tinham mais os meiosmateriais de vida, e forZlm obrigados ;) vender sua for~Zl detrabalho em troca de um sZlI;'\rio.E depois, porqlle nao saberiammais como produzir por contZl prCJpria sc tivcsscm esses meiosmZlteriais, j{) que foram obrigados Zl rcduzir SUZlcapacidade detrabalho Zl tarefas simples e parciZlis. Este saber foi apropriado econtrolado pelo capitalista, que 0 desenvoIveu e rZlcionaIizou.AU'aves cla maquinZlria industri:ll moelerna e de posse dcssc saber,o capitalista recluziu 0 trabalhaclor Zl excc\ll;;ao clas tarehssimplificadas, parciZlis e repetitivas 11Z\linha de procIu~ao claf{)brica. Assim, ZlS fOr<;:ZlSprodutivas forZlm enormementedesenvolvidas, mas Zltravcs de um proccsso social ele cXjJrojJri(l~clo

de bens materiais e de saberes.

ExplicZldo assim, numZl perspectiva historica, pocle :ltc pZlrecerconvinccnte, m8S Zlperccp~ao dessZlexpropriZlc;ao e 0 entendimento

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de suas consequencias para cada um fica bloqueacla pdo modocomo 0 indivfduo aclquire conscicncia do munclo social em quenasce c no quai cresce e morre. Ele s6 aprencle que clevetrabalhar para receber 0 salo1rio e viver, pois esta c a pcrcep~50

. 'que tem da realiclacle na vicla coticliana. Existem as fjbricas cstus clonos. E ao trZlbalh;1clor, que nao C clcl110de c.nisa ~dglIm;l,cabe trabZllhZlr nelas e ponto-final. Por causa clo saL.lrio pago; 0

trabalh~, que cobra de cada ser humano, c compreendiclocom'o algo que nao pertence a este ser humano. Qtrab31h9,9.l:!esemp1'~' foi 0 meio £<:l2....9~I.al0 hom~~1 relaciOI]OU-,?e CO,!11.anatureza e com Os outros homens, e 'individ,~Ja!mente percebidoc-;~Tg~;~-;;--qu8IcCLtrab;-] Ih<\c!oU1ao tem_cQl1.1r:9-k.

o trabalhador foi separado, pclo capitalismo, clo controleaut6nomo que exercb sobre seu trabalho e tambem do (rutodeste trabalho. '0 trabalho c cntfio RercebLcl9 pelo trabalhaclorcomo algo fora cle si, que pertence a outras. A is_so,lvIarxcli 0nome-de alicna-qao. Par causa do trab~\ho alicl~Zl.slo_aquecstaosubmetidos, os l1.omen~ admlil:~\lli1fLCon,s...ci¢_n~ia_falsa_clomunclo em que vivem, vcem 0 trab_a.1b9_<l)ien~~J.ge_a...d.ol!lin.zl<;50de uma cJasse social sobre;, OlIq-~.£.Q,m.o(atp.sllaJL,Ir.;liLe

Oo,paSSCll1l,

portanto, a compartilhar um8 concep~fio de munclo cJentro cialli@l~6._ t-eJ}.L~~sso_as ap~:~·cnci~~_s~,;.1~~~~~J: c,ap.·az.C'.S-.d.ecomDrcenc!er 0 pr.Qcesso hist6rico real. A isso Marx do10 nomccleidcologia. A ideologia, portanto, is aquele sistema ordenaclode ideias, de concep~6es, de normas e de regras (com base noqual as leis juridicas sao kitas) que obriga os homens acomportarem-se segundo a vontade "clo sistema", mas - e issoe importante - como sc cscivcsscm sc co1lljJOrwnclo scgl!lldo SlW

jn6j;ria voncadc. Esta coer~ao "do sistema" sobre os indivfduos,revela Marx, na verclade e a coer~ao da classe dominantesobre as classes clominadas. POl' isso Marx afirma que aideologia dominante numa dada cpoca hist6rica c a icleologiada classe dominante nes~a cpoca.

ExpIQ_Gl0lQ...C:S:..Q.[10mi~ae opressao l!olfticu.ln hO!l1Cm pC\(l..h.Q111.CJIL~~Ju.p..Le_IlQlly_<;_e_11.Lt.Qd.;).s-.iLs_s.o..ci.l:,;I<1~k4.ill...s:I1LCJ1Q

C;1pi ~a1ismo h ;l,~,cLi£e rc..!l.~!.l:JI11..Jl)(I,;),s_;l::i__.<,.UltI:<1s.J()m1as .cLcd_QQliD.fi.<;..;;lgJ.lLsJ.Oric_aanJ~l:io.L<;.~J.Q. ciQll!.i.!)~1ct.0salJ50.,9.~e_~G'1®!l1jpadCL~ ,~0.biaSWS.DL~:£l.S.~L!_d9.l:Qll1..,!ds~I:.0 CSWlvn sabia g,L~sell sel1hor 0 mantinha em cativeiro~_()brig.w~ trahalhar

-'j;;lra XiI (;~;'~:l,-~'~~r\;'(;~;;I~i;l <Jl~-~~_l,~t.)!:(_)d<.'J.l:::..l(~lllJbY_:.(.!:!.::II1C:1V:l

a maior parte do que plant;l\Ia e Clllhi:l. No clpitaJ.02.:~~)contI'ario,o trabalhaclor acha que c justo qLJ~"c1,~scja_~.pa,r;:~lc:d;--~~w~f;~,t~:~;E;ll~o ~~~'cdiZl;1t~ '~. l~agZll11C11to...':~~~~~.0.~o,

o m::1ximo dc il1jLJsti~aC~~~t~0'1.~j~~{~~r:lhZllT1~~ll;;~~~'l:r-.!.11:,llnleI1t.cse~~-i~~·~i.~;:~;;it~~'.!.0.L::iZ!..L6x.i0J);1i.::OS_i.:-i!s:C:(1J.1d i.~l)CS,I'll!I1S

de tra ba Iho (jornZlclas IOl:g,0.~.._~~111ai:',J!.I~aJ ~Ib~i.d:,~~_~,t:.c.).MZlr~IZ2.;-;·Z;~<--~I~'·~ ~a'l::1rion:lo r.cmul1cr0.t<~dQ_LU!·i:\.b;!.lhol-:-;;li;J~, l11ZlSapenas uma partc dele, f\ outr:1 P;1rtc c

;;;;;~)riada~} capitZllista e sc transforma el11Iucru. EI11rcsumo,a teoria de lvlarx c Engels afil'l11:1que <jll:'dqucr s:ll:1riu ~ injusroporque a reh~ao de assalarial11el1lo C il1jllst~1 ern si. E il1just~1porquc sepZlra 0 trZlkdk\c!or do reslIll;1(/o de ~ell li'~lb~l!ho, eisso 0 ~1!icn;1c 0 deSG1I":1cterizZlCllmo ~er hUll1al1u. [ 111:1is;lind:l:cssa injusti~Zl n50 pock scr percebill:l pclo traktlh~ldor (cornbase el11 sua propria cxpericncia l1a vjd~1 cotidi:1I1:1) por GllIS;\cia ideologia, que C ul11a conccp<;:lo de I1llll1do .~cr:1da pcbC!ZlSSCdominantc c Zlssumilb pcb chssc d0l11in~1d~1C0l110 sefosse su Zl. A-.illJ:u:.eJl"Ltiron iaJkLGWi.t:l U::;.Il1.U_~_(Jll1'-Q_d.QIn,in~d.open sZl co l11,il.C::~~bcc;a.._l~lg_~L0.111in a lIl,?r, _~.C~";1.~ 0_J:~lL~11a d celOI11il~.0(U.D~i.s.. ..,~i.s..~..ra[. HO._Glpira.li.suill ...Os__tr<1b.~\1hadc)rcscl;";~1;e111COI110 inj.D..lig9l~()_!.!f.9!tZlve 1!11C!1JC_iu.sJalad.cUDLS_UJpr6pri~,t.:t,,-~_n~c.., welos os dias SCI11saber. E.l[UilSC ..~()111().~c:..~I~sse ern SCtl ccrchro urn ciIiL!.l!.';:t:.~::~D..\Ld_ccU.Jl.1p~!tad0f,elesses de filrnc ele ficc50 cientf(icZl,.quc 0 obrig0sse alcv.an~arno OLltro elia ~'h~:L1;'-\;i~I~~ ~b .!l1_~SJ1.1~1_JQ.IJ)!!}QtIC,11Q....QiZlanterior.

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·::';"~r'~f~t.·.",J

Mas Marx e Engels nao faziam fic<.;:aocientffica. Eles, aomesmo tempo, tinham fe na ciencia e alimentavam uma utopia.POI' abra da cicncia, acreclitaram haver clescoberro ~1Sleis clahist6ria. Essas leis lhes diziam que chegaria um momenta em~ue a desenvolvimento clas for~as produtivas proporcion;1Clo pelncapitalismo inevitavelmente entraria em contr<ldic;ao com <lS(orn1<1Sclpit,llistas de propried<lde e quc, qU:lI1c1llCSSCllllllllClllllchegasse, se abriria uma epoca de revoluc;ao soci<ll e polftica.E af entra sua utopia: acreelitavam que esta revolu<;ao - aqual se ,.~e~\liria uma fase de cransi<.;:aoem que os resqufcios dasociedade capitaJista seriam clestrufdos (a fase do socialismo) _daria origem' a uma nova sociedade, sem exploraelores neme~plorados, sem aliena<.;:aoe sem icleologia, sem classes sociais esem Estado (pOl'que 0 Esrado para des c uma manifestac;ao e1asrelac;6es de classe, e deixaria de e"istir quanelo as classes naoexistissem mais). Nessa nova sociedacle, a sociedade comunista,sem dCtvicla a ~nais bela utopia do scculo XIX, 0 homcm serecncontrarla consigo mesmo, seria um ser autonomo, autocentradoe autoconsciente, trabalhador manual e intelectual aO mesmotempo. Daria a sociedade, pOI'sua propria vontade, rado 0 esforc;oe trabalho que pudesse, e receberia deIa tudo 0 que prccisasse,grac;as ao desenvolvimento matcri81 propiciado pelo capit<tlismo.Os homcns e as mulheres seriam, cnfim, seres hum;:mos inteiros,complctos. E, e claro, seriam fdizes para sempre.

Bem, e de se esperar que a cssa altura vocc jn esteja de novominhocando sobre 0 que toda essa conversa de explorac;ao,dominaC;ao, alienaC;ao, ideo!ogia e comunismo tem a vcr comeducac;ao. Pois yOU the dizer 0 que eu acho e1isso.

Acho que Marx e Engels viam a educac;ao com os mcsmosolhos com que viam 0 capitalismo. POI' um !ado, fazenclo umaanalise empfrica (ainda C1j.lepOLKO aprofllnelada) cia situac;ao

educacional dos filhos e10s oper5rios do nascente sistema fabril,identi(icaram na edllcac;50 uma clas mais import::lntes formas deperpetuac;ao cia explor,1c;:io de uma cbsse suhrc llutr,1, utili::1Clapelo capitalista para disseminar a ideologia dominante, parainclllc~1r no trabalhador 0 modo hllrgucs de vcr 0 l11ul1llo. Pllroutro lado, pens:lndo :l eeluc:lc,ao como parte cle SU;1UCOpi;1revlllucilln;'tria, idcllli(ic;lralll Ill.:l:l 1l11l;1:tflll;1 v;tli".,;t ;1 "crempreg;1da em favor da emancipaC;ao clo ser humano, de sualiberwc;:\o cia explura<;ao c do jugo do C<lpit:d. Oll scj,l, paraMarx e Engels nao existe "educac;ao" em ger:11. Confonnc 0

contdLdo de clQS5C ao qual C5tivcr eX/lo5w, cia /loclc ser W)W cclucw;ao

/laJ'(l a alicnaqao ou W11a CclllCOqcio /lC1W ([ c1l1cl1lci/JCl';;c/o.

Em seu livro mais conhecido. 0 Ca/liCdI (de 1867), lvlarx fa:um:1 ancllise clas condic;6es cle viela elm trabalh;1dores inglcsesna cpoca clas rapiclas transformac;6es econ(mlic;1S c polfticasprovocadas pcb Revoluc,iio Industrial, justamcnte :1 fase deafirmacao dei capitalismo industrial moderno. Ao comentar alegisla;ao trabalhista e1aepoca, ele nota que a lei inglesa ;1nteriora 1844 permitia ;1 contratac;ao de cri:,nc.:1s para trab~l1h;1r nasfclbricas, com a concliC;:lo de que os p;1trCles :tpresenrassem umatestado de que os 111eninos (reqi.'1cntav;1111a escola. Olhandomais de perro, parc111, Marx concluill que 0 tipo ele ecluc<1C;aodado as crianc;as opcr6rias era tao preGlrio, que s6 pocleria scrvirpara perpetual' <1Srelac.Cles de oprcssao ZlSqU:lis CSS:1Scri:lnC;;1s eseus pais oper6rios cstavam sujeitos. 0 descaso er:l t,1I1[O quequalqucr um que tivesse uma casa 12 alcgassc ser zdi um:1 escabpoderia fornecer os "atestados de freql',cncia as aulas" de queas fabricas precis:1vam p:lra livrar-sc cia fisC<lli:ac.ao. Segundorelato ele um inspetor do trabalho cia epnca, cit:1ClopOI' l\·'l<uxemsell livro, numa dessas "escolas" que visitou

a $,11:1de aLIb rinh:J 15 p~s de comprimenLO pm 10 p~s ele hrgur:J econrinha 75 cri,1n<;:1sque grunhi:1m,1lgoinii1rcligkcl. (...) Abn elissa,o mobili<\riocscobr ~pobrc. h,) (alta de livrllsc de materi:J1de cnsino e

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utHa atmosfera viciada e fctieb exerce efcitOdeprimcntc sobl'c as infclizescrian<;as, Estive em tHuitas dessas escolas e nclas vi filas intcir<ls dec'rian<;as que n~o faziam abso!utamcntc InL!;\, c a istD sc lLi () ;llcsWL!Dde frequcnci<l escobr; e esses mcninQS figuram na catcgmia de instruidosde nossas estatisticas ofici<lis (0 CalJiwl, cap. XIII, itcm 9). '

A legisla~ao inglesa de 1344 mudou as regras. A partir deentiio s6 poderiam ser contr;lradas para ;\$ Ljhric\s' cri;1I1S;;\s ljllC

ja tive5,liem pelo menos a instru~ao primaria, e que j~1 tivessemaprendido as primeiras lell'as e nlImeros. Marx consickrava issoutn avan~9 importante, pois acreditava que todas as crian~asdeveria;'~l 'c~mbinar, em sua forma~ao como pessoa, a educa~;loformal escol'ar "e a trabalho manual nas Llbricas. Nao nosesque~amos de que Marx era um entusiasta dos aVC1n~os docapitalismo. Ele lembrou em v<'irios de seus tcxtos que 0

capitalismo havia mclhorado a ,nivcl material de vida clasociedade humana, em menos de cem ,mos, muit"s Ve2es m~lisdo que a sistema anterior havi" feito em m~li$ de mil. /\ critic\de Marx ao capitalismo dirigia-se contra a apropria~ao privaclado lucro, eo nao contra a existcncia da civiliza~ao industrial.Pelo contrario, sua utopia coinunista seria impossive! sem adesenvolvimento propiciado pclo capitalismo. Seu ideal era ade que, no comunismo, todos diviclissem 0 trabalho manual nasfabricas com 0 trabalho intelectual e com 0 lazer. Assim, toclosseriam homens completos. Nesse sentido, Marx festcjou alegisla~ao inglesa'de 1844, po is ela permitia combinar, naforma~ao da crian~a, a ecluca~ao escobr e 0 trabalho na fabrica.Marx afirma, inclusiye, que a escola em tempo integl'<1! e poucoprodutiva, porque, nao sendo combinada com a trabatho manual,toma a dia da crian~a enfadonho, 0 trabalho do professor maisduro e 0 rendimento escolar menor. "As crian~as com escola demeio perfodo e trabalho no outro perfodo aprendem t,mto oumais que as crian~as que ficam na escola 0 dia todo", escreveuMarx. Para ele, uma vez' conjugados 0 trab"lho e a cscola,

~.

uma atividade funcionaria como descanso p;:;'a a outra. Mas 0

fundament,,\ c qtlC, illr;Wl'S dCSS:l cunjlIgac;:-!u, sni:\ p\)ssivel 11;\visao cle Marx romj)Cl', 11ClformCl~ao dClS fl£(11rOS gCf(l~OCS, com Cl

sel)am~ao entrc LTClbCllho ma1Hw! c inLc/ectHal, e tambem com aparciaka~ao das tarefas impostas peb divisao do trabzdh,o naLllJrica mClc!erna. E romper com C:SSilSejl;\r;\c::-\() I'· 11m:)decllITl'nc\;)fUIlLbment~d dilS ;1I1:'t1iscs de M:lrx e LIlgel~, Ilurqlle C deb qllebrotam a alienac;ao e a icleo\ogiil,

Talvcz 0 Clue vou dizer <1gora pClSsa chocn illguns de nlls,CJue vivemos a beil" do scculo XXI, milS sq~t111du i\ Cllncep~il~lde Marx, que era Ulll homelll do scculo XIX, 0 tr;tb<1lho 111f,1I1u\c desej;lvel, dcsde que 0 Est<1do garantil <10Stilhos dos operilriosuma escob de meio perioclo que nao seja UI1l mero deposito elecrian~as e clesde que <1superexplor<1C;;\o clo trabalho infillltil sej"controLlcb pela Icgisbc:;'io. E c desejiivel simplcsmente porC]t1eM"rx n:lo "crec!itava que Ulll hOlllcm novo, r()m UIll novo cn:lter,puelcsse ser forjado apenas COIll uma edUGlt;':\O escuLlr, (orm~l.Para ele, as maGS sujas de graxa e 0 suor do rosLO se!'lam ta~ec!ucativos, do ponto de vista Illoral, quanLO os livms, os cadcrnose os lapis, Se c atravcs do trab::dho que 0 humelll PIOdlIZ paraviver, colocando a n"turcZCl " scu scrvic;o c iW mc:.smo temporelacionando-se COIll seu sClllclhante, 0 trabillho lllilI1ual cle\'eser exercitac.lo por toc!os, e os resulwdos dos esforc:os colctivosc1eveni ser compartilhados conformc as nccessiclaclcs de cadaum. Para que nao reste dllvida sobre. este pontO, vejamos 0 quec1izMarx num texto intitulado 11lS!rl{(;C10 Cl()'\ ddcgac!()s do COrlSdhoGeml c!a lmcnwcio)lal ConllOlisw (de 1866), Oiz ele:

COllsideramos que c progrcssist;l, s:i c legitim:l :\ tcndC:nci;\ eLlindllstriamoderna de illcorporar as crian<;<1sc os jO\'cns p:lr:l que coopercm nogr;l11dcrrab:llho eLlproclu<;:ioSOCiil1,cmbor:l S( ,h () rcgil1~cc;q'it; Ii iSt;1eLl

tenh:t sido dcfonnaela ate chegar <1uma abomin;l~~l), Em todo rcgImesoci<11razoavel, qualquer crianc;-;'1de 9 :lnos de iclade dcn: ser UIl1trab::llhac!or produtivo, do mesmo mnc!o que redo aclulto :I!'l\) p:tra 0

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trabalho deve obedecer a lei geral da natureza, a saber: trabalh;:lr parapoder comer, e trabalhar nao s6 com a cabe<;a,mas com ~smaos.

No sentido deregrar a superexplorac;50 da f5brica capitalista,Marx prop6~ que as militantes de set! partido, 0 PartidoComunista, lutem para que a lei cstabclec;a um ucltame;1toclifcrcnci;:lclo conforme a falx;1 et:iri:1, prevendll jurn:1lhs tictraball)O com durac;ao diferenci,lCb p;1r;1cri;1n<:;;1se jovcns: de 9a 12 anos, des deveriam trabalhar 2 horas pOl' dia; de 13 a 15anos, 4}'..0.~as; e as de 16 e 17 ,mos, 6 horas. Sem um8 lcgislac;aoc1esse tipo, c1iz0arx, nao haveria (reios para a g::ll1JnCi,1burguesae as pais op~rarios, premidos pcb 'pobreza, seriam obrigados atrans(onnar-se em agenciaclores cla escravid50 (abril dos pr6priosfilhos, comprometendo set! futuro. E conclui: "n50 se devepennitir em nenhum caso aos pais e patroes 0 emprego dotrabalho das crianc;as e jovens se este emprego nao estiverconj~gado. C01:1 a educac;ao".

E que educac;ao c essa? Dc que contclldos cleve ocupar-se!Bem, Marx da poucas inclicac;6cs sobre isso, mas 0 que se podeconcluir de seus apontamentos e que a preocupac;ao cla educac;aodeveria ser, (undament8lmente, 8 de romper com a alienac;aodo tr8b8lho, provocada pcb divisao do tr8balho n<l Libricacapitalista. Pois este seria, em sua visao, 0 ponto' de partida pararomper com a passividade do trabalhador (rente a idcolooia dab

classe dominante. Para tanto, 0 caminho que Marx vislun~bravacontava com a contribuic;ao do processo educacional, e seriapor assim dizer inv~rso ao caminho da expropriac;ao dos saberesprodutivos das classes trabalhacloras, da qual serviu-se 0capitalista industrial para constituir sua fabrica. N50 ~e tratavade ensinar ao filho do operario que ele era uma vftima daexplorac;ao burguesa, l11'as sim ensina-Io a operar as f;ibricasburguesas. Nao atraves ~e uma opcrac;ao circunscrita ilS tare(asparciais, como ocorria, mas de um processo educacional quelhe devolvesse, tanto qu~nto possfvel, a percepc;ao do conjunto

do processo produtivo moderno. Isso, para Marx, era objetivamentepossfvel, pOl'que ele acreditava CJue ;1 mesm;1 divis::o do tr:lkllhoeo me sma avanc;o tecno16gico que trans(ormavam a tr;1balhadornum trabalhador parcial silll/!lifi((l'V(lll1 :lS tard:ls produtivas c,portanto, tornZlvam essas tare(8s ;1cessfveis a qualquer um. Essenovo s:lher seri;1 0 fllm!:lmcnto de SlI:l nll~rllr:l com :l :dicn;1C::1odo tr;:lb;:llho e, portanlU, uma d:\s ch:lvcs lie Sll:\ Clll:llKip:I<:;;IUcomo ser humano. Em outr:1S palavras, nenhum contclldoeducacional doutrinario muclaria a vis:io de mundo L!os filhosc!os opcr:lrios se :l ecluc;1~;l() n:l0 lhes dcssc meios p:lr:1 super:lr

sua conc!ic;ao de trab;1lhador parci;ll, Clp:l: de executar umaunica carda simpliFicada, clitada pcbs exigend:ls clo capital.

E pOl' isso que Marx di: que os contellL!os Cduc;1cionais dc"emcontemplar trcs dimensi:'es: uma educa<;::io mcncll, umacducac;ao ffsica e uma educac;ao tecnologica. Elc n50 explicita,no texto citado acima, 0 que scria essa educac;ao mental, maspocle-se dcduzir do contcxto que seria uma eclucaczlo elementarpara 0 trabalho intclcctual. A cducaC;ao ({sica seria a cllucac;aodo corpo tal como ofcrecicla nos ginjsios esportivos e notreinamento militar. E, finalmentc, a educacao tecnolorrica scria

o '"'

a inicia<;:ao das crianc;as e jovens no manejo clos instrumcntos edas maquinas dos difercntes ramos cla indllstria, cHcfa quecleve ria oconer em concomitfmcia com 0 trabzdho cbs "crianc;as"na (abrica, dos 9 aos 17 anos. Com tal (ormac;50, pensava, osfilhos de operarios poderiam estar em nfvel muito superior 80clos burgueses e aristocraws, uma vez que estes li!timos tambcmjamais seriam homens complctos, a me!1OS que rompcssem coma separac;ao entre trabalho intelcctual e I11:1nual. Em sua vis50,pOl·tanto, e preciso substituir 0 indivfcluo parcial, "mero(ragmento humano que repete sempre uma operac;fto parcial,pclo inclivfduo integralmente dcsenvolvido, para 0 qual asdiferentcs (unc;6es sociais n50 passariam de (onnas diferentes esucessivas de sua ativicbdc" (1n511"1((;;OCS ... , 0/;. ciL). Del1t!·o de

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tal concep~ao, as escolas politecnicas e as escolas agronomicaseram consideradas aliadas importantes do processo detransforma~ao, assim como as escolas profissionais da cpoca, quedavam algum ensino tecnol6gico aos filhos de oper6rios, e nasquais eram iiliciados no manejo pr6tico de diferentes'instrumentos de prodll<;:ao.

, A leflisla~ao de 1844 havia arrancado do capit;:d, na Visaode Marx, uma primeir<1, mas muito insuficiente, concessao, namedida em sue obrigava 0 c<1pitalista a permitir que seconjugas'scil1 0 trabalho e 0 ensino para os filhos de oper;jrios.No entanto, derj.ois da inevit,jvel conquista do podcr politicopelos operarios comunistas, 0 que Marx antevia era a acloc;:ao do"ensino tecnol6gico, te6rico e pr6tico nas escolas dostraba!hadores". Note Gem: "nas escolas dos trabalhadores", pois nocomunismo nao haveria mais burgueses. Todos, indistincamente,seriam trabalhadores. 0 ensino, entao, seria publico e igual paratodos,-mas tsso 'f<1zia parte da utopia de Marx, de seu projetopara 0 futuro. Ele nao era, ao contrario do que se possa pensar,um entusiasta do ensino oferecido pelo Estado capitalist:1. Sim,porque 0 Estado capitalista, como 0 nome ja diz, era em suacoilCepc;:ao uma forma politica de perpetual' a exp!oraC;:;lOeconomica de uma c1asse sobre outra. POI' esta r<1zao rechac;:avapropostas genericas de adoc;:ao de um ensino publico e gratuito"para todos" e oferecido pelo Estado, Para dc, nao fazia sentido: .se 0 Estado e llm Estado de classe e se a classe dominanteprecisa disseminar ao maximo sua icleologia para manter suadominac;:50, a ele parecia 6bvio que um ensino ofere cicio pOI'este Estado burgues s6 pocleria ensinar os (ilhos dos oper6rios <1moldarem-se a dominac;:ao. Debatendo com seus aclvcrs6riosinternos do Partido Comur)ista, ele deixou essa visao bem clara.Num texto ch<1mado Critica do Prograrna de Gotha, de 1875,escreveu: "lsso de uma edLicac;:ao popular a cargo do 'Est,lc1o' eabsolutamente inadmissfvfI. (... ) E preciso livrar a escola de

toda innucncia pOI' parte do goverlll) e ch Igrej;1. (... ) t <10contrario, 0 Estado que ncccssiLl receber do pon> um:1 educaC;:<lomuito severa",

A titulo de ilustr:1c;:ao, porem, e preciso ZlssinZl!ar que M;1rxe Engels, quando escrever,lm separacbmente sobreo assunto,deixZlr:1m indicacoes contrZlc!itt'iriZls. Num [ext·u cktm,lduPrillcij!i().\ c/() Ui1IlI;lli.\lI!(), de I (i'17, LJlI:l~e II illl:\ :I1l()~ :lIlies ll:\

passagem de Marx que acabei de citar, Engels havia escrito queumZl clas reivinclicac;:ClCs cia cl:tsse opcdria ;linchdllr:1nte 0

capitZllismo deveria ser a "educZlC;:;1~ele codas as cri,1I1\;as em. estabelccimentos estatais e ;1 clrgo do [stado, ;1 p;lrtir domomento em que possal11 prescinc!ir do cuicbdu 'c!,l m<1e". 13em,mas esses sao detalhes, que servem apenas par,llembr:1r-nus comoera complexo, mesmo par:1 esses soci()!ogm- (ikiso!()s-ccono!11ist:1s-milit::mtes, 0 trabalho ele articular propostas ec!uclCion:1is pr{)ticZlsque tivcssem um carMer liben{)rio.

Resta saber ent,10, para encelT:1rmus este ponto, () Cjuc scri,lda eelucac;:ao pLlblica c1epois que 0 Estado rec:ebcsse dos opel'{)riosarn1:1dos, no momento cIa rcvulu~;1U comllnisLl, SU:I deIT~ldeir;llic;:ao. Comu seria Zl educaC;::lo no comuni~mo? C0!110 M,nx eEngels viam, nesta nova sociccbele que dct'encli:lm, lIm proccssoeducacional que contribufsse cfetivZlmclHe pZlr:1 emancipar 0

ser humano?

Acho que aqui h;j duas questoes import;1I1tes, ambasrelacionadas ao perfil do "novo homem" que 0 comunismocleveria gerZlr.

A primeira c que, alem ele mudar :1 forma ele cxpIOr;l\;:iOecon6mica, eles acredit:1V,lm ser precisCl muchr ;1 forma deorganizac;:ao social, p:1ra que um;l nOV,l CclUC<1<;:<10puc!cssc sedesenvolver. Nesse aspecto c central a critica de M,lrx c Engelsa familia. No celebre Manifesto co1Jlllnisw, ele 1848, lembramque a famfliZl burguesa se apoi<1 no capital c no lucro priv:1clo eque sua existenci:1 Zlparentemente virtl!OS;l sustent;l-se na

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supressao da familia proletaria, mergulhada na clesagregac;aocausacla pela miseria, pdo vicio e pela prostitui~fio. A f;1mflia Co lugar por excclencia cia clifusao e do enraizamento clos valorescapitalistas e burgueses, e 0 espac;o social onde as crianc;as

° aiJrendem clesde a terl'ra idack a pensar com a cabec:;a cia classed~minante, achavam. E 0 lugar oncle ocone a explorac:;ao c10sfilhos pclos pais, reproduzil1du :\ CXpIOL1<;:iUdus 0PL'L'IIOi()spclospatr6es .••.Razao pcb qual a familia, nos moldes que conhecemos,deveria ser radicalmente suprimicIa, na proposta politicl dc M;1rxe Engel~:oA,EQrma de inverter 0 conteCido de cbsse da cducac;aoburguesa, portan~o, seria Sllbstiwir ll1J1{l CdllC{l~aO domestiC([ 1)or Ll17WcducQI;ao de c~rater socicr!, \{a qual os valores da nov::l sociedadcsolid aria pudessem clesenvolvcr-se scm a influcncia'deldcria claestreiteza do espac;o privado represent::ldo peb (amfli::l.

A segunda questao importante c que, com 0 comunismo,conforme j~ vimos, terminariam ::ldivisao da sociedade em classcsea (o!ma cflpita[ista de clivisao do trab::llho. Na visao d"Cnossosaotores nao bastava ao comunismo, portanto, aproveitar-se doprogresso material proporcionaclo pelo desenvolvimento docapitalismo. Seria preciso educar 0 "novo homcm" comunistade tal modo que ele puclesse de fato superar a divisao do trabalhoque 0 alicnava sob 0 capitalismo. Nao seria suficiente a revoluc;aopolftica, e 0 controlc do poder do Estado pe[os operariosdecorrente dela, para socializar os meios dc produ<;ao, pcnsavamMflrx e Engels. Seria necessario que, ao socializar os meios deproduc;ao, a nova forma de organizac;ao industrial encontrasseum homem preparado para dcsempenhar um trabalho que naoFosse alienado, parcial, restritivo de suas potencialidades. Seriapreciso, pois, uma mudanc;a de atitude frente a produ<:;i'io, paraviabilizar 0 controle coletivo de scus beneffcios. No jc1 citadoPrinC£pios do comunismo, E\~gels explicita de modo bastante claroo que esperavam afinal d~ nova educac;ao. Oiz cle:

A eclUGH;aOdara aos jovens a possibilic!ackde as'il11ihrrapidal11cnlenapr:\tica todoo sistema de pn xlu<;:-\()e Ihl:spnl11iliLl!),bs:lrsllcl'ssiV;1l11Cl1ll:de um mmo de prcxlu<;;'\oa outro, segundo as neccssicbdcs d:l sociccbdeou suas proprias inclina<;flcs,Pm cOl1segllinte,a cc!lIcac;:io110Slibcrtar{,ckste carateI' unilateral que a divis:io :llu;11do trah:dho iml'llC :1 cadaimlivfduo, Assim, a socieclade mgani:ad:l sohrl:h1SCSc(,mlll1ist;1Sc!;lraaSt.:\1S 11lt.:lllhr,,\ a 1,,,\\ihili..1:\lk lie- l'lllJ\rq~;1\ lO\1I Il'..1"o' I" ;"'I\("lO\I'o' \\1:1\

bculdades descnvol \'idas univcrsalml:l1ll:.

Basta olharmos, nus di;\s qUl: currl:I11, p;\r;\ u perfil du"trabalhacfor polivZllcntc" exigido pcbs indClstri;lS contel11por:'lI1eZlS_ em func;ao cia reestruturac;ao produtiva que ocon'c na esteirada chZlmada lcrccira Rcvo\uc;i'io InduslriaI- para comprcenclcrmosque Zll1111dZlnc;aseria bcm mais cOl11plicada do quc faz crer esteespcr,mc;oso paragrafo escrito em 1847. foi 0 prClprio capital(e nao nenhul11a revoluc;ao comunistZl) que rcvolucionou aclivisao do trabalho na linha clc produ<;ao. Haje, 0 descnvolvimentotecno\6gico, com 0 advento cia rob6tica c da inforl11:\tica, permiteao capitalista realizar a mesma proc!uc;ao que antes 0 obrigava acmpregar milhares de opedrios, agora com Zlpcnas :l!gul11asdczenas de trabalhadorcs superqu<1lificados c, portZlnto,cducados. Educados, mas nem pOl' isso cmancipaclos. Vivemoshofe os dias cla "sociedadc dZl informac;ao", dZl "sociecbcle doconhecimento", mas 0 fosso social que scp;1ra as classcs continuaa aumentar. Talvez por isso mesmo os instrumentos cIa rcflex;\osociol6gica sobre a educac;ao scjam cada vez mais importantes.

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CAPiTULO IV

-[ISociedade, educa<;:5.o e desencantamento

As SUUULl.)(:INi IlL UUJU;IILl~1 I: Ivl:\I\.'\, j,'1 Vill\()S, p,lrlil',II\\ cLI idei,\de que s6 c possive] compreenckr <IS rela<;:oes entre os homcnsse comprccnclcrmos <I sociccbdc que os obrig;1, em niveis e emmeelicbs elivcrs;ts, <l :1.~irele ;1cordo com 1~)r<;:;1sestr;1nh:!S ;1 SU:1S

vuntades individuais, e impositiv;1S COI11rel;1(/lO :1 ebs. P,l1'<10primciro, a educ<l<;.:ioC 0 mecanismo pelo qual 0 indivicluo tOrl1a-semembro da sociecbde. se "socialiw"; p;1r;10 segundo, eb C lImmec<lnismo que, con(orme sell C(1l1lclldll de CLISSC,puck serutili:aclo par:1 oprimir ou 1~:lr;lCI11:1I1ciI1,\r(1 hUI11eI11.

M:1S h:'i outl"O ponto de p'lI·tid'l posslvel. i\ socil1logia doalem.:io 1\11:1:\:Weber 0864-1920) tcm COI11(lpremiss:! <l idci;1 eleque:! sociedJck n:10 C apcnas um:1 "COiS:1"exterior c cllcrcitiv;1que determina 0 comportamentlJ dos indivilillos, m:b sim 0

resulLado de ul11a cnorme e inesgot,lvcl nllvcm de intera<;Clesinterindi:::iduais. A sociccbde p:\ra \'Veher nao C ;Iqllilo que}Jcsa sabrc os individuos, mas ,1quilo que sc WiCll/d Clllrc eles.As conseqi.icncias dessa vis:io p:l1';1a sociologi:\ d" educlc;:io, ccbro, scrao bast:mtc signi(icaliv'ls.

M<ls antes de continu<lr, dcixe-me dar-Ihe um ,wiso.Os r<lciocfnios quc \\'cber descnvolvc n:'io sau muitu simples aprimeira vista. E poclcm parecer um pouco intrinc:lclos. E Cju::1I1dovoce fur ciaI' um<l olhacb num texto escrito pclo prc)prio \Veber,vera que dc n50 e muito "t1uemc", digamos assim. No cntanto,embor<l os tcxtos pare<;am um pOLICOlTlIncaclos, ;1Sic!ci;1S\'<llemmuito a pena. \'Veber C 1I111autor de uma enl1r111eorigin;11icbdee sua tcoria socio16gica, que c muito poueo clisclltida n~ ,'irC:tcb educ<1<;50. tem contriblli<;Cles impmt,1I1llssim:\s ;1 ll:lL

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Entao, vamos'la. Respirc fundo, rcgulc 0 scu grau de aten<.;:aoe prepare-se para entrar num mundo bem diferente do deDurkheilll e Marx. 0 que vou tentar fazer a seguir c introduzi-10 aos rudimencos mais elementares da sociologia de Weber e,em seguida, discutir um pouco sua teoria da hist6ria, que tempontos de contato. e distanciamento com a de MJrx, parafinalmente levantar algumas implica<;6cs que cstc' modclo tempara a ,educa<.;:ao.

Weber ..~_q,p.ensamento sociol6gico

o ponto ,de. partida de toda sociologiZl weberianZl reside noconceito de "a<.;:aosocial" e no postulado de que a sociologia cuma ciencia "compreensiva".

Tanto 0 mundo naturalquanto a realidacle cia vicla SOCiZlISaG concebidos' por Weber como (1m conjunto inesgot,'ivel deacontecimentos. Ao contra:io cle Durkheim, ele postula que,difercntemente das ciencias naturais, para as quais osacontecilllentos SaG relativamente independentes clo cientistaque os analisa, nas cicncias sociais - entendiclas por ele comoaquelas que dizelll respeito a vida cultural - os acontecimentosclependem fundamentalmente cla postura e cia pr6pria ac;:50 doinvestigador. A realidade n50 e uma coisa em si. Ela garfha Ullldeterminado wsto conforme 0 olhar que voce lan<.;:asobre cia.As a<.;:6essociais praticadas pdo cientista social em seu trabalhode investiga<.;:ao, que SaG de mesma natureza das a<.;:6espraticadaspor qualquer homem ou grupo de homens por cle investigado,sao, portanto, fundamentais.

Ja de safda recusa tratar as "btos" socia is como se fossem"coisas". Para ele, isso simplesmente n50 C possfvel, porque as"coisas" que eu vejo pode~l ser diferentes das "coisas" que voceve, embora vivamos na mesma socieclade na lllesma epoca

. hist6rica. Alias, pode ser que as "coisas" que eu vejo nem sejam"coisas" pra voce. E par q~~? Porque os homens veem 0 mundo

que os cerca a panir de seus vu[())"cs. Os v;l!ores S:1Ocompartilhados, c claro, mas s50 inculcaclo~, introjetados (sZio5I(ojeci'vados) de moclos distintos, con(ormc 0 processo cleintera<.;:8.o em que 0 inclivfduo csta inscrido. Um mcsmo meiocultural poclc assumir significaclos clifcrentes para os difcrentesinclivfduos nelc imersos e, no momento da ac;:;'io, ocasionardiferen<.;:as cle comporwmcntu con(ormc 0 mudu de ;lssimibc;ZiocIessa cultura, e sobretudo c011formc os elifcrentcs tijJOS eleracio11aliclaele emjJrcgaelo5 jJclos inc!i11[elllOS.

A realidacle c concebicb por \X!eber, ent:'io, como () encontroentre os homens e os vu[orcs aos quais cles se vincllhm c osquais articulam cle mocIos clistintos no plano subjctivo. As cicnciassocia is (que elc preferc chamaI' de ci0ncias cla cultura) s50vistas como a possibilidadc cle capta<.;:Jo cla intera~Jo entrehomens c valores no seio c1:1vida cultural, isto c, ;1 capL1~,IOcla a<.;:50 social. Como a realiclade c infinita, apcnas umfragmento dc cad a vez poclc ser objeto de conhecimento.o "wclo" (a sociedade) que supostamcnte pcsaria sobre aspartes (os individuos), para \Vebcr, c literalmcntc incomprcensivelse for trataclo como um todo, como uma coisa. Pcb simplesrazao de que este todo reside 11a intcrcl~iio entre as jJartcs e n50 epossivel conhccer todas cbs ao mesmo tempo, porqlle SJO muitase porque se renovam a cada dia. Fluxos cIa mudan<.;:a ecristaliza<.;:oes cia permanencia se combinam na vida social.A sociedaele, IJara W/cber, nao c wn bloco, C I07W tcia. Na selcc;:50do fragmemo a ser investigado estar50 presentes os val oresclo investigaclor, que faz parte dessa sociedade ou de algumaoutra. Trata-se de um processo subjetivo, 0 que, no entanto,n50 comprometc a objetivicIade clo conhecimento, desde queo investigaclor leve em conta, na interpreta~;'io cbs ac;:6es erelac;:6es, os valores que de atribui ao pr6prio ator social, istoc, aqude que pratica a a<.;:Zio,e n50 os seus pr6prios valores(clo investigador).

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Assim como Ourkheim, Weber destaca 0 pape! dcdcs'vendamento do rea! desempenhado pelo pensamento cientffico,que segundo cle faz aquilo que e cvidente por conVCl1Cl0 servis to como um problema. 0 trabalho cicntffico c ~assimii1esgotavel, pQrqueo' rea! 0 e, bem como fragmel~t<'!rio ~especializado. A produc;ao cientffica teode a disseminar-se pelasociedadc atraves da educaC;50, e voce ja pock ir minhocandodesdc j;'i fluais seriam na visao dc Wcber as rehc;ues entre aeducac;ao c a vida social.

Mas l\a.o~.v(Ju colocar ° carro adiante dos bois. Tudo 0 quelhe digo por eI1ql!anto e que 0 objctp c/as cicncias cia culturased. a decifrac;50' da significac;ao (0 scntido) da ac;ao social(as condutas humanas). E a unica maneira de estudar esse objetoe a compreeosao, que voce j<'!vai saber 0 que e. E clirei tambcmque Weber era um pessimista inveter.~1do: ele achava que 0 tipode vida imposto as pes,soas no mundo l1lodcrno fazi<1com quc aeducaC;~lo de.ixa~se de formar 0. homcl1l, para sil1lpk~l1lcnteprepara-lo para desempenhar t<1rcfas na vida.

Mas tente acompanhar agor:! a linha de argul1lcntaC;,lo b,'!sicadesenvolvida pOI' Weber na definic;ao de sua SOCil)logiacompreensiva,

POnto de partida: 0 que e a~~aosocial? Para \Veher, cia Oconequando um indivfduo leva os outros em considerac:io nomomento de tomar uma atitudc, de praticar uma ac;.:io.~

Antes de Ihe explicar em detalhe vou reprodllZir umapassagem de um texto chamado Sabre algumas CCltcgorim dasociologia comlJrCc115iva (de 1913), onde Weber define ac;ao e 0tipo de ac;ao que interessa a S1l0 sociologia. Oiz clc quc:

por "ac;50"(incluinclo a omissao c a tolcrancia) cntenckl110ssempre umcomportal11cnto cOl11prccn~lvclCOI11rclac;.'1oa "ohjetos", isttl C, umcomportamcnto cspcci(ic\1do Oll cal:<lctcriz;ldo por UI11,cmido(subjetivo) "rcal" ou "mcntal", I11csmo que de n;'1osej:! Cjuase

~.

pcrccbiclo. (...) A ac;ao que cspcciricamentc tel11il11port<inciapar:! asociologia cOl11prccnsiva C, cm p<1rticuhr, 11111COlllj"..,rr:lIl1ento quc:1. cst,'!rcbcionado '10scntido suhjelivo pcns;ldo daquek que age comrc(crcncia ao comportamcnto dc outros; 2. cst;'!co-c!cterminado no seuc1ccursopar csta rcfcrcnci<1signiFic<1tivac, pmt;l1lto,3. pock scr cxplicaclopcla comprccnsao a partir dcstc scnticlo mcnt<1](subjcti \'<1mcntc).

Di (fei!! Vej~ll11lls.

Quando vocevai a escola, isto C lima ac;;1osoci:l!. Nao apenasporquc ali voce encontra SCliS profcssores, seus colcgas, seugrupo. Estar junto com outras pessoas, apen,lS, nZiu faz de voceum anirmd socia!. Ir a cscola c uma ac;:ao social l,orCjue aginc10assim voce cst:'1 (nlcll/undo (mesmo C]ue nao pense nissoconscientemente todos os dias) os custos e os benc!fcios Cjuevoce ter,l, indo ou, no caso inverso, deixando dc ir. An ir aescola VOCl:emprcga sua ruci01wliclUi/L e IcV,1 l'm C(1n~illcr~I\,lu ;1raciOn,llilbele c10s outros C 0 modo C(llllO el:\ interfere (lU !1(lllcvii' a intcrtcrir solxe seu pr6prio cOmporl;lmcnto. Se V(lCl: (osscpur,1mente racional, pocleria e1i:cr: "lllinha finali(hdc n,l \'iLia cter dinhciro, mulhcres (ou homem) a dispusiC;,"lo e carros do'1no, mas para isso precise escolher a proCiss;'to que me de: maisrenda 0 lllais r;'ipielo posslve!; co Illeio m,li5 aclcCju,ldo p;1r,l ,ltingircste Cim ~ ir il cscola".

Mas n,lO precisa ser um dlculo C]ue vise mCr;ll11CnrC sellsinteresses pessoais "egofstas", suas finzdiclaeles "cxclusivamcnteindi\'iduais". Voce pock calcular tambcm com b:1sc, par exclllplo,no valor que sua (amilia d:'i a educac;ao. Se em SU,l Clsa toclosprezarem uma boa educ'1C;;lo ~1Cima ell' tudo, ser;l lllulto diffcilpra voce deixar de ir a escola, ceno? Se um dia voce cogitarabandonar os estudos, a primeira coisa que vai pensar ser,'!:"0 que 0 pessoal 1:'1em casa vai di:er disso)" Ali:'1s (alve: \'()(l:nem cogite abanc!onar a escola, porqlle fl)i ensinadu em Clsadescle crianc;a que estudar ou que formar-se era al,C:oill1port:mte.Levar isso em comiderac;Zio talllhclll C um,l form;l de dlcu!o.

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Mas voce pode calcular tambem com base, por exemplo, nasatisfaC;ao ou no conforto pessoal que sente em ir a escola, mesmoque essa sa tisfac;ao nao es tej a ligada d ireta men te a s u asatividades estudantis. Voce pode gostar da escob porque tem~l1nizade con1' professores e colegas, ou porque arra njou uman:.l111orada ou namorado la.

A~ir em sociedade, portanto, implica em ~dgum gl'<1Uderacionalidadc (inclusive a tot31 irracionalidade) por parte de quemage, e implica no fato de que esta racionalidade de cadaindivfcf~~' sempre est<1 rde:rida aos outros inclivfcluos que ascercam. Iss6 {.fundamental para cntender \Veber.

Partindo do exemplo acima, quando voce vai a escobpensando em se formar e ganhar dinheiro, csta praticando 0que Weber chama de a~iio social racional com rcl(l~iio a fins. Umcomportamento racional com relaC;ao a fins c aquelc que: seorienta por meios tidos como adequados (subjctivamente) paraobter firls d~terminados, fins estes tidos por voce comoindiscutfveis (subjetivamentc). ]a se voce for a cscola porqucsua formac;ao familiar deu muita import5ncia ::lOSestudos, ent50est~1 praticando uma a~ao sociill mciond com rclw;cio a t1alorcs.No caso, trata-se dos valores d~ sua famnia, ou entao do modocomo voce os incorporou a sua pr6pria hicrarquia de valores.Finalmentc, se voce vai a escola apenas por causa dos amigos,dos professores ou da namorada ou namorado, para \Veber vocepratica uma aqiio spcial afctiva. Neste tipo de comportamento,voce estaria sendo irracional, po is 0 que \Vcber chama de"racionalidade pe'rfcita" c a adequac;ao entre os meios de quevoce se vale para agir e os fins que voce objetiva alcanc;ar comesta ac;ao. Na ac;ao afetiva, voce nao leva em consideraC;aoobjetivos a serem alcanC;pdos nem busca utilizar-se dos melhoresmeios para isso e, portanto, esta sendo irracional. Suponha,finalmente, que voce Fosse a escola apenas porque todo mundovai, e ficaria chato pra v.pce, dentro do seu cfrculo de amizades,

dizer que nao frequenta a escola. Nesse caso vocC: volta a serracional, pratic:1ndo um:1 w;:cio .wciil[ mC;IJllal cum rclaqci() a()regular. Voce estaria calculando com relac;ao a media decomportamentos aceitos em sell grupo especffico.

Repare que \Veber gosta de estabclecer ti/JOS de ac;50. S6 nop::lI'<lgrafo acima Cll citei CjII<'lIrolipos difnentes de :Jc:io soci:t1,selldo lres r~lciUllais e UI1l irraciun:". M:\s, rcp;lrc LlInhcl1\ queno dia-a-dia esses tipos n50 aparecem scparadamcnte. Ningucm,na pratica, vai a escola tlniea e exclusivarnente para namorar,nern mcsmo so paLl g<1l1h:,r () diplnma c g:lI1h;H dinheiro. E"s;1sco isas todas se eanfunclem, se cncai:-.:am umas ZlSoutras. E muitopossfvel quc voce V<1Zlescal::l pOl' toclas ou quase tod;)s cssasrazoes que eu citei no exemplo. As raZ(lCS se misturam. Noencanto, c absolutamente fundamental isolar esses tipos "puros"de COl11port:1mcnto. Alias, este C 0 mctodo de \Vchcr. Ele s;)bcperfeitamcnte que na pr<1tica empfriea os tipos !Juras nao existem,mas os constr6i par:1 CJue SirVZ\ll1de refcrC:neia.

Ei, alegre-se! Voce esta sendo aprcsent~lelo ::l Ul11dm m;)isil11parL;)ntcs mctodos de investigas;:'io clas eiC:ncias soci;)is.A receit<l metodol6gica, passo <Ip;1SS0, C <I"cguinl'c:

1u. Construa um (i/JO idcal "pura" (\Veber construfa v:S.rios: tiposde ac;ao social, tipos de domin;)C;ao po!ftiea etc.). 0 tipo cuma construc;ao mental,. feita na eabec;a elo investigador, apartir de v:S.rios exemplos hist6ricos. Ele c um cxagero deperfeic;ao, que jamais ser:S. encontrado na vida pr::l.tic;).

2u. O/hc ° munelo socd que 0 cerea, eSl'a l'cia inesgol':1vel deevcntos e processos, e selccione dele 0 aSllecto a scrinvestigado (n50 cIa pra ser ['udo, l'em Cjue ser um:l eoisa decada vez).

3". C01Jl!x/rc 0 muncIo soci;)1 ernpfrieo com 0 tipo ideal que voceconstruiu. Mas note bcm: "icleal" ;)qui nao significa "desejado",nao significa "idealizado", como par exemplo i(It~::l!i:ar 0 que

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seria uma "sociedade perreita". Significa apenas que voceescolhe as caracterfsticas mais "puras" dos tipos, e \Veberachava que os ti'pos de conduta malS puros S:10os 111;1is r;lcionais,no sen'tido de adequ,a~50 entre meios e fins,

4u. A medida q~ie voce descreve 0 quanto a realiclacle sc cl/Jroximaou se c1iswllcia do tipo "puro" que voce construiu, eSS;l realichdese apresenta a voce, se reveb el11seu CH;\ter l11ais Clll11p!cXO;

: os CO(11portamentos vcm a [uz revelando a racionaliJade e airracionalidade que os tornou possfveis.

E as'si~1~'q~e a a~ao social raetonal com reb<;50 a fins (aquelecaso hipote(jc6 em que 0 inclivfduo rcalizaria UI11dlculoperfeitamente racional) serve exatamentc para que se possaavaliar 0 a!cance, na pr5tica, daquilo que c irracional comrela\=50 aos fins a que se prop6e aqucle que pratic;t ;1 ac;:ao.Ressalto novamente: quando falainos de um comport;1I11entoSl'lbjcCivo, no contexto cia sociologia de \Veber, nao estamosfalarrdo l1um' comportamento cxclusivClmente /)s/qllico,Comportamento subjetivo C 0 comportamento do s!(jciw cia a<;ao,e nenhuma a\=50 c social se n50 se referir 30 comportamcnto dosoutros sujeitos e dos obstc\culos que todos en(rentClm para leva I'suas a\=oes atc as ultimas conscqLiencias. Aquila que c ment;11,exclusivamente psfquico, par;t \(/eber c incom/Jrccns/vd do pontode vista da sociologia.

Oaf chegamos a um entendimento melhor clo que seja asociologia que ele chama de com/JTccnsiva: trata-se daqucla quese refeTe a analise dos comportamentos movidos pcb

, I

racionalidade clos sujeitos com rela~50 aos outros.

Para Weber, os comportamentos dos atores sao intcrpretadoscomo sendo dotados de intencionalidade c, assim, como sendoa<;6es propria mente ditas; embora certos elementos dessas a\=oes(a estrutura\=ao do sistema de prefcrcncias, a escolha dos meiospara obter os fins descjados, a habiliclade de cada indivfduo nautiliza~50 dos meios ct&'.) sc:jam cleterminaclos par elementos

t;. ":...>~

;ll1teriores ~1prclpria a<;:Jo. 0 mctodo de Weher c individual iSlan50 porque ele prefira 0 inclivfcluo, nem mlJii:1 mcnnS;l j1sico!ogi:lindividual, em dClrimento da SOciclbde, n1;1Sj10rque para elc ()indivic/zLO conscicui 0 Itnico [JOrcac/or dc IOI1 com/J()l'Cml1cnco /Jrovicloc/e senticlo, ele incenci01lClliclclCie. Em conseCjL'lcnci;l, conccitos COli1(),Estaclo, capit;1lismo ou Igrej;l, j1;tra SII;l s()ci\)]()gi:J, rcdllLem-se ;1categori:lS que 5C re(crcm ;\ dl'{'cl'lllin;,d'ls lIlIlIilJs de () !IIHIIClilagir em socieclaele. A t;1I'ef;) cia sociologia c interprelc1l' este ;lgirde modo que ele se tome um agir compreensivel, e isto significa,sem exce~50, um agir de homens que se re!:1cilln;lm uns com osou eros.

o individuo e as institui~6cs sociais

1\1;lS seria um g['ancle erro pens;1I' que Durkheim c u homemque acha que ;1 socieclade uhriga 0 inelivkluo a a,gir e \Vcber,pdo contr{]rio, C 0 homel11 que ;1Cha que u inclividuo ;l,ge comoCluer. N;lo c n;llh dissu. 0 indiv/cluo, p;lr;\ \\lchl'l', lev;! emconsielera~;lO, no mumenlo de ;lgir, 0 compUrL;\mel1('o tlos CHIITOS,e c isso que fa: ele sua ;1~50 um;l ;1~50 suCi;ll. Mas n:lO so: ek cobrigaclo ;1 relacilln;u-se t;tmbcm cum ;IS norm;lS soei;lisconsolicbcl;ts, inslitucion;lli:;lcl;lS, que (em inllu('nci;\ s\lbre sellagir. Ou, melhor cli:endo, essas normas inf/ucnciw1! () cwir eloinelill/clLlo l1a mcs))w medicla em quc Scl() rc.\lilcaclo elo ogir dn5 /)):~/Jriosinclivicll£OS llO fango clo tcm/JO,

QueI' en tender como isso (uneiona) Entao vej;l como \Veberdistingue os conceitos ele "conllll1iclade" e "socicclacle". Eu vousimpliEicar bastantc a c1eEini~:io do nosso autor, que c detalhada,s6 para que possamos en tender esta Vi8 de m;1o cluph que, n(\cabcc;:a de \V'eber, liga 0 inelivfduo as estruturas SOCi;1ise estas;10 indivfduo.

fie die, basic;1l11enec, que u (/gir cm ((mll/nidwl" C ;Ique!cagir que se basei;l nas cxpectativ;ls que ,emos com reLlClO ;HlcompOrt;lmcntu dm outros, Se tli:el11o,-;"hom-eli;I" ;1ll l'nC~)Jltr;lr

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determinada pessoa e pOl'que esperamos que cia responda "bom-dia" tambem. Sc 0 comportamento dos outros fossc totalmenteimprcvislvel para 'n6s, seria diffeil viver. a agir em comunidacleexplica-se pela existe,pcia objetiva de uma maior ou menorprobabilidade de que tais expectativas sejam fundamcmadas(algo que Weber chama de "julzo dc possibilicbdc objetiva"),Quando agimos racion::llmcntc, CSper~111l0Sque os GU'u'os t;\lnbcmajam as~im, para que possamos calcular as possibilidades reaisde lCvarmos nossos objetivos ate 0 fim, EJ assim como no casodos tipos'-d'e a~ao comentados acima, essa racionalidade n50precisa ser afJenas com rela~ao aos fins do atar. 0 agir emcbmunidade tan~bem pode se fundamentar na expectativa deque os outros deem determinado peso a cerros valores e cren~as,ou en,tao na expectativa de que os outros se comporrem de umnlodo regular, na media dos comporramentos geralmente usadospara aqucla situa~ao. au, ainda, de que se comportem dc modoemotivo, i-rraciona!. Em resumo: agir em comunidade ccompart~r-se com base na expectativa de que os outros tambcmse, comporrem de um determinado modo.

]a 0 agir em sociedade e um conceito mais especffico. 0 agirem sociedade e um agir em comunidade no qual as ex!)cctativasse basciam nos regulamentos sociais vigentes, Eu acredito quevoce nao vai matar sua mae, nao apenas porque imagino ,quevoce gosta deb, mas pOl'que tenho certeza cIe que voce sabeque os assassinos s50 conden::ldos e presos pelo sistcma legalvigente. Alem de pouco afetivo, praticar este ato seria bastanteirracional. No agir em sociedaelc, ::llcm do indivfeluo oriemar-sepor este tipo de expectativa baseada nos regulamentos, sup6e-seque tais regulamentos tenham sielo fcitos justamente com 0

objetivo de que os homcqs ajam segundo suas c1etermina~6es, enao de outra m::lneira. Se'voce que c homem praticar scxo comuma menor de 14 anos,' nao 'apen::ls podera ser m::llvisro navizinhanc;a, mas pode se~. preso, pOl'que foi feim uma lei para

oriental' seu comporramento de tal modo que voce nao pratiqueestc ;lto.

Pois bem. A lei profbe e voce evit;l elesobeclecc-la para naosofrer as consequcncias. Mas qU;lndo 0 inclivfeluo calcula que cmelhor agir com b;1SC :1;1S regr;ls t;lmhcl1l 111m/lie 0., ()lams

igl{{(/mCll1C (lgC:Ill Sc:.l;ll1l1/() (IS rcgrm, cle cst;', ;lf~il1d()cm SOCiClhdc.Veja hcm; n:io estou dizendo que 11<1sucicehde tudos ubedeccIl1a lei. a proprio criminoso, quando foge ou se escol1de, est,') seoriemando conformc os rcgulamcntos, porque sabc que se forcapturado, sera puniclo. bta, port;lnto, agindo cm socicclaclc,ele acordo com um dlculo que tem pOl' base as regras.

As regrasJ porranto, funcionam como um;1 cspccis:: de"condensac;5.o de expectativas rccfprocas" eJ em conscqlicnciaelissoJ torn am 0 universo social arganizado e inteligfvel pcbsatores inclivieluais, Quando isso ocorrcJ \X!eber diz que existeuma arc/em social. Mas a valicbdc cia norma n5.o sc baseia apcl1Zl.Snas expectativas recfprocas. Qu,1nto mais e1issclllinadasocialmcnte estiver a convic<;5.o de cad a um ell' quc as rcgrass50 obrigaloriCls para eles, mclhor fUl1damcntachs ser5.o asexpcctativas de uns com rclaC;;lo ;l0 comport;lll1el1to dus outros.Esta c a eliferenc;a entre a ConVen~cl() - onde 0 rcgubmcnto cgarantido apenas medi;lnte uma "elcs;lprova<;Jio social" comrelac;5.o aos infratores - e 0 Dirciw - em que a v;llidade doregulamento c garanticla pOl' Ulll aparato cocrcitivo e punitivo.Se voce se vestir com um,1 roupa Il1uiro fma de mOlla

Jpocle ser

que tenha elificuldade de arranjar namorada ou n;lmoradoJ

porque est;:\ CClIlvcllciCJ7wclo um determin;lc!o tipo dc roup,! damoela. Mas diantc cia elcclarac;ao al1ld do imposto dc renda,voce nao pode escolhcr se qucr p;lgar ou n;lO Cl mcnos quc sejaum banqueiro ou Ulll grande eillpreiteiro e more no Brasil. ecbro): voce est;:\ obrigac/o ;l p;lg;lrJ porqllC ;l lei ;lssilll 0 dcterillinapara roelos e, sc voce e1escumprir,· saGe que cst;) sujeiro :IS sanc;6escorresponelentes.

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Assim, em busca de seus objetivos e [evando emconsidera~ao a existencia das norm as - sejam cssas normasentendidas como' a condensa~ao de cxpectativas reciprocas(c9nven~5oo) ou como imposi~.6es mediante san~ao (direito) -o;;ltor social pocle deliberadamente fazer parte de umacoletividade orientada de modo comum pOl' estes referenciais.A esta coktividaJe Weber lL't 0 nOll1e de u~~()ciu~(l() rUCir)lllL!

com fin;. Os proprios mcmbros da associa<;:ao estipulam os. 11 (If II H )) l( I - n J"orgaos ,os ins, os estatucos e 0 aparato c e coa~ao ua

associa~a·o."Com isso, cada "socio" confia que os demais secomportarao(ap'roximacbmente) con forme as nllrmas, e estaexpectativa C levada em considera~ao na oricnta<;:ao de suapropria conduta. Se voce for socia de um clube "social", dessescom sauna e piscina cujos "fins" sao a recrea~Jo e 0

entretenimento, e se voce insistir em entr~H' na 6gua antes detrat~H aquelas frieiras horrorosas que infect::\ln os dedos dosseus pes, alcm de sentir-se culpado ou culpada pOl' contaminaraquelas meninas tao bonitinlns ou ;:-tquelcs rap;:-t:es c!nrmososque nadam ali, voce esta sujeito a suspensJo de sua c1l'teirinhade s6cio. Nessa situa~ao, a pressuposi~Jo de cada um de que anao-observancia das norma:; pock ser punida com co,1~oesfisicas ou psfquicas, refor~a a certeza de que a confian~a mlituanao sera deccpcionada.

Ocone, porcm, que uma associa~ao com fins, dcfinida pcbex'istencia de regras gerais e de 6rgaos proprios, quandopl~namente desenvolvida, n500 e uma forma~ao social efemera,ou seja, mesmo renovando-se os s6cios a associa<;ao permanece,na medida em que as regras e os orgaos permane~am. Quandoisso ocone, Weber diz que as associa~6es humanas seinstitucionalizam. Sao instit,ui<;6es sociais, pOl' exemplo, as farmasde comunidade religiosa as quais chamamos Igreja ou as farmasn~ais estruturais da vida 'politica entre os homens, as quaiscostumamos chamaI' Esta~o.

~-IC:. ~ .. ~ ..:"t-!

'.

A vida comum em associa~ao permit..: que sejamos capazesde preyer quais scrao os p<lSSOSmais prov,1vcis das outr;:-tspessoas;cla torna 0 mundo que nos cerca, como ja comentei, inccligfvclpara n6s. Quanta mais <IS pessoas assimilam subjetivamcntc aobrigatoriedade das l'egras, mais a previsibjliclade ::wment;:-t.E e so quando as pessoas aceitam este Cluadro normarivo Clue aillSLiLlIcion;l!i:;t<;;lU sc cllll1!',kLI.

De um clube de associados com sauna e piscina voce pocleescolher sail' a qualquel' momento, venclcr seu titulo de s6cioou simplcsmence nfio freqiiencar. S6 esta suhmeticlo ;'s re,c:ras namedie/;J em que optou pOl' scr sclcio. Porcm, no (aso d;1 ;Issocia~;lo .'polfticd mais abrangente de codas, que C 0 Estaclo, as coisas S<10diferences. A durabilidacle clcsSJ assacidS;,10 dtr;wcs cbs gcra~6esde indivfcluos c <lnccessie!<le!c de cst;tbeleccr UIl1,1reguL\lllentaS;JOque recubra toda a vicla SOCi,1l(a: com Cjue 0 pertencimcnto aeb nJO seja volunt;1l'ia. Voc0 nJO escolhc scr ll1embro elo Estac!obrdsileiro, pOl' exemplo. Chico Guarque, em Punic/o uleo, canta:"Deus c um cara gozaclor, aelor« brincadeir,l, puis pra me batarno Il1Undo tin ha 0 m undo in lc i1'0. ~vbs ;lchllU mll itll engr;1<;adome botar cabreiro. Na b;lITiga d,1 miscria, n,1sci br;1silciro". Se ,1divina provielencid 0 fe: nascer aqui, meu :1ll1igo, nJO 11;1escolhas:voce pcrtcnce JO Estado brasileiro, quer queira quer n;io, e est;)automaticamente sujeito a todas ,1S SU(lS regr;IS, sem tel' sequel'o direico de alcgJl' ignor5ncia debs.

o bonito disso, 0 ponto importante que a sociologia de \'Vebernos pel'mite pensar C que, embora as coisas ja estivessem prontasquando voce nasceu e embora estcja obrig«do a agir con formeeste pacote ele regr;1$ que reg,d::ll11a sua viJa, c preciso considerarque essas l'egras faram cri;lc1as pOl' indi\'fcluos como voce, emtempos pdssados, e continu;1m a ser cri:ldas; e t;lmhcm que cbsestJO af para serem mu,laclas, e portanto voc': tambcm p;uticipadissa. Vejd, nao estou falanclo Sll clas leis, dos decretos, c1essetipo de l'egras. Eswu falando de codas as regr::1S.0 Brasil fai um

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pais escravocrata ate outro dia. Negros pOl' aqui cram valorizadosapenas enquanto investimento 'privado de compra e venda, ouenquanto insumo agrfcola. Hoje, se voce chamaI' sua empregaclade "negrinha" e mand~-Ia entrar no predio pdo elevador deservi~o pode ser- preso com base na lei que profbe cliscrimina~aode ra~a. Este c um exemplo de extraordinari::l tr;1\1s(orl11a<;;\o,nUI11curtissimo bpso de tcmpo, nflo apenas na lei, n{as no modo,como a sociedade ve as rela~6es entre as ra~as. Alias, a leigeralrllente se fundamenta num consenso social sobre esses pontosde vista cc;illp~rtilhados. E embora todos saibamos que os negroscontinuam a iofr~er discrimina~ao e continuam a paclecer pOl'conta da exclusao social que os segrega na marginalidadeeconomica, e preciso reconhecer que a expectativa de umtratamento mais .igualitario entre as pessoas passou a figural' noscalculos dos atores socia is e a oriental' crescentemente suaconduta, de cem anOq para ca.

Historicamel~te, diz Weber, as associa~6cs polfticas hum::mas,e 0 Estado em particular, passaram pOl' um proccsso deinstitucionaliza~ao. Nesse proccsso, as regras foram se tornzmdocada vcz mais racionais, isto C, forzllll sendo fcitas com vistas afins especfficos (como a regra segundo a qual os negros naodevem ser discriminados apenas pela cor de sua pete) eesrabelecendo os meios mais adequados para leva-Ios a cabo(como as puni~6es que vao de multas em dinheiro a meses dereclusao, que a lei anti-racismo preve).

Ou seja, esta associa~5.o mais abrangente que e 0 Estadodetem um poder de imposi~ao. Tal poder se baseia numainfluencia especffica - que Weber chama dc domina:;ao - dehomens concretos sobre a "as,:ao em associa<;50" de outroshomens. Tal influcncia, ta[; domina~ao, se baseia, pOl' sua vez,entre outras coisas, na possibilidade de aplica~ao de uma coCl:;c1o

(ffsica ou psiquica). Agir segundo esses fins da associa~ao, queSaD garantidos pela aplica~ao da coa~ao, C agir segundo um

"consenso". As possibilidades de quc essc C\.mscnso seja dc (ata/Josto em /mitica na vida social scraa tanto maiorcs quanta maisse puder esperar que os indivfcluos que obeclecem aosregulamencos 0 fa~am !;orqllc considcram obrigmoria, tambcmsubjetivamente, a rela~5.o de domina~5.o. QueI' dizer, quando aspesso;\s obedcccm ;\S regr:\s n;-Il1:'PCI1:\SP{11'CJIICIcmel11 ;\ pllnic,;lo,mas tambcm porque cstflo cOI1VCnCilLls e1:\ necessiel:\lk e1eobedecer, porque "introjetaram" a norma, Weber diz que adomina<;ao baseia-se no consenso da Icgitimic1ClClc.

o fundamental aqui, em suma, nao C 0 faro dos homenssen~m coagidos, mas sim 0 faro de "girem rac;ionalmcntc, e deque esta racionalidade os fa~ canscntirem com a c1omina<;ao aqual estao sujeitos, para que possam com isso ganhar condi~oesde previsibilidade com rela<;~l0 a a~ao dos outros homens queest50 tambcm sujeicos a mesma reh<;~l0 de clomin<lc,50 e, em

decorrcncia, possam viver em socieclack. -

Ufa! ... Tenho que reconhecer. Essc Glinaracb, ]v1:n: \\leber,pensa c1iffcil. ]v1~lSd entre n6s, mesmo que voce tenha quc leI'mais uma vez, nao precisa clesistir. Tenho certeza de que 0 sentidogeral voce C capa~ de captar. Scgure as pontas S() mais um pouco.Daqui a alguns p~1ragrafos, garanto que vai compensar 0

investimento.

Desencantar 0 Illundo

o estabelecimento de uma (xclem social "com rclac,50 a fins"(quer dizer, racion"j) vai sc tornando entau each ve: m:\is amplo.o consenso af construfdo e obticlo mediante regras c mcck11lteco"c.50, e uma crescente transforma~Jo c1"s associac,ocs em

institui~6es organizJelas de mancil''' racional com rebc.aa a fins

se opera n" sociedade.

E cste 0 sentido hist6rico clo processo que \\leber chama de

HlciOlwliZClc;ao.

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<!l''. .'

A hist6ria humana, segundo ele, e um processo de crescenteracionaliza~ao da vida, de abandono c\as concep~6es m:lgicas etradicionais com'o justificativas para 0 comportamento doshomens "e para a administra~ao social. Podc-se compreenderaqui 0 sentido de uma outra tipologia muito conhecida de \V'eber,a das formas de dominat;iio legitima. Para Weber h;1 tres tipospuros de domina<;:::io lcgftil11a: a d01llillw,Jio trw[[cirJllLll, clljalegitimidade se baseia na tradi~ao, a dominw;iio carismatica, cujalegitlmidade se baseia no carisma do lfder, e a dominar;iio racional-legal, cuja1egitimidade se baseia na lei e na racionalicbcle(adequa~ao etltl:~ meios e fins) que esta pOl' tras da lei. Se aassocia~ao estatal passa pOI' um processo de racionaliza~ao(e tambem de burocratiza~ao, porque para fazer cumprir as regrasracionais e necessaria uma burocracia cada vez mais complexa),as fonnas de domina~ao no Ocidentecaminham, tendencialmente,para 0 tipo racional-legal.

Pe-rmita:me 'recapitular 0 que foi dito ate aqui, para que voceentenda melhor a idCia de racionaliza~ao e suas implica<;:oes paraa sociologia da educa~ao weberiana. Diferentemcnte ciaconcep~ao organicista de Dllrkheim e cia concep<;:ao matcrialistade Marx, a sociologia hist6rica' cle Max Weber parte cl::tat;iio eda interat;iio dos individuos - na base clas quais estao tambemco'njuntos de valores comparcilhados - como constitutivas dasociedade. Quanto mais complexas as sociecbdes, isto C, quantomaior sua racionalizat;ao, argumenta Weber, maior 0 numero deregulamentos sociais a serem obeclecidos. Quanto mais complexaa sociedade, mais conj1itiva tende a ser a interZl~ao entre osindivfduos e grupos, um3 vez que maiores serao as "cons(ela~6esde interesses" que se contrap6em e maior tambcm a necessidadede regulamenta-los. Assim como em Durkheim, em Weber a,complexifica~ao gera conflito, 0 que pOl' sua ve: gera anecessidade da regra. A regulament3~ao mais desenvolvicla dasIutas em sociedade ap:yece em Weber como um aparato

especializ3do de dominio, que c ° Eswdo !'v1odc.'rl1o.0 ingressodos individllos nest;1 gr;1I1ck ;lssoci:\C;:lO, 11:1'1u:ll es\;-\o ()hrig;1dllsa submeter-sc ao poder j:'\ institllklo, nao c volU!1l;lrio, e as regrassac feitas, eliz ele, pOI' meio da fort;a, ela imposi~ao cla vontadede alguns individuos e grupos sobre outros inclividuos e grupos.Para resumir em poucas pabvras: uns mancbm, outros obedeceme :\ eSSL:process,) \Vcher c!L\Il\;\ de r!(""illl1':'-W.\':11':\ k.L:il illLlr-sL',ista C, para g,Hantil' a Zlceit~,~~\Odos comandados, ;1 domin(1~;)ose baseia ou n<1 tradit;cio, ou no carisma elo lfder ou na for<;a dodirciw roCiOl1([1. No caso el;1 tracliC;;lo e do carisma, a c1ominaC;:1o

se excrce pelo domfnio dos lideres sobre ~s dominados, queobedecem porque foram educados (ou scjJ, compartilh<1ram deuma traeli<;;ao) ou porque julgam que 0 Ifder tenha clotessobrenaturais (que \X!eber chama de carisma). Mas no Cdtimocaso, que codas sociedades modert1<1s e complex as, a obecliC:ncian;)o e clcvicla ~ Figura clo !ider, m;1S ?1 posi<;;?io.que ele ocupa noaparato de domina<;:1o, cleviclamente garanticla pOI' uma lcgislat;clocle car:'\ter Hlcionul. 0 exercfcio da autoriclacle r<1cion~,1c1ependede um quach'o aclministrativo hierarquizado e profissional, quese caracteriz<1 pela existC:nci:1 de uma bUr(lcr~Ki~l. E cste () senticlohisc6rico do processo que \Veber ChJm~1 de ruCiOl1U!i;::CU;clOdJSsociecbdes: uma crcscentc transforma~;1o c10s modos informaise traclicionais de extra<;::1o de obecliC:l1cia em institui~C)esorganizaelas racionalmente, i'mpesso:llmente e Icg:llmentc paraa obten~30 deslZl obedicncia.

Rem, aqui vou !he cJar ;1 primclI;1 clic, ,\ rcspciro dasimplica~6es ela perspcctiv" de \X!eber par:, a sociologia ciacduca<;;:1o. A educaC;:lo parZl \Veber, ao que me parcce, C 0 modopelo qual os homens - ou determinados tipos de homens emespecial - sao prcp;H:'Iclos p:lra excrcer as (un~C)es que atransforl11a~ao causad" pcb racionaliz~1(~:1o cb vida lhes colocoua elisposi~ao. Eu sei quc estou di:endo Ul11acoisa muito gencric<1.Mas voce vai entendcr.

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A logica da racionalidade, chi obediencia a lei e clo treinamentodas pessoas para administrar as tarefas burocraticas do Estaclofoi aos poucos se disseminando. Na formac;ao clo Estado moclemoe do capitalismo modemo, que sac inseparaveis um clo outro,Weber da especial atenc;ao 3 dois aspectos: de um laclo, aconstituic;ao cle um dirciw racional, um dos pilares clo processode racionalizac;ao cia vida, e de outro, a constitui~,-IO de limaadministlaqao racional em moldes burocrciticos. 0 c1ireito raclonaloferece as garantias contratuais e a codiflcac;ao basica clas rclac;6esde troca-ec6n6mica e troca politica que sustentam 0 capitalismoe 0 Estado n\,Odemos, enquanto que 0 clesenvolvimento ciaempresa capita'lista moderna oferece 0 modelo para aconstituic;ao da empresa de clominac;ao politica propria docapitalismo, 0 Estado burocdltico,

E aqui e que se toma mais claro 0 modo como \Veber pensaa educac;ao. A educac;ao sistematica, analisa ele, passou a serum "p-acote" de conteudos e de disposic;6es voltados para 0

treinamento de inclivfduos que tivessem cle fato condic;6es deoperar essas novas func;6es, de "pilotar" 0 Estado, as empresas ca pr6pria politica, de um modo" raciona!". Um dos elementosessenciais na constituic;ao do Estado moclerno c a formJc;ao deuma administrac;ao burocratica em moldes racionais. Tal processos6 ocorreu 'de modo completa no Ocidcnte, onde houve asubstituic;aopaulatina de um funcionalismo nao especializado erebdo por orientac;6es mais ou menos cliscricionarias (naobaseadas em regras) por um funcionalismo cspccificamentetreinado e politicam'ente orientaclo com base em regul"mencosracionais.

formac;ao humanfstiGl inclicaclos par:, 0 posto, mas sempreparac;ao especfficJ pJr~1 a administra~;1\; e sem conhecimentocia jurispruclcncia. Uma vez que nao d:wam impartancia asrealizac;6es politicas, nao administravam de fata, ficando a gestaoefetiva em maos de auxiliares. Os mandarins cram transferidosde um lugar para outro, nunca atuando em sua provfnci,1 nat;l!,c mUll<IS vczes Liescllnlh:cendl) () Lii;l!L-II) Li;1 !I)cdilhllc ell\ que

atuavam, N?io mantinh:1m, portanto, cont,llo cum ,1 popubC;flu,Na pratica, tais fllncionarios n?io govern:1vam, apen:1s intervinhamcm caso cle :1gitaC;ao ou incidcntes desagrad,'\veis. Na realiclade,nesse tipa de acll1linistrac;ao tudo repousa na' concepc;ao m<'igicade que a virtude clo 1l1lperaclor e dos funcion~lrius, au seja, deque sua superioridade em maccri:1 !iter6ria, basta para gave mar.1\ coisa C l1luito clistinta nu Est;\do r;1Ciun,d, u (mica em quepode prosperar 0 capitalismo moderno. Ele se funcb na burocraciaprofissional e no clireito raciona!.

o quc' isto tem :1 vcr com educa<;/lO! Vou Ihe cli::er agora,

Na exposic;ao de Weber, 0 Oriente aparece como prot6tipoda administrac;ao irracion,a!. A China antiga aparece descritacomo um modelo de aclminisrrac;ao em que havia. acima ciacamada das familias, dos gremios e das corporac;6es, uma pequenacamada de funcionarios, ~s mandarins. Eles eram literatos de

Treinar, em vcz de cullivar 0 intelccto

Chegamos ao punto: :1 r:lcinnali::lC;:ln C :1 hurocratiz:lC;;10;11teraram radicalmel1tc os muclos de edUCt!'. [,11tcraram t,1mbcmo S[(lUiS, 0 reconhecimento c 0 :1cessu i1 bens m<1teri;\is por partedos inclivfcluos que se submetem ;1educac;flo sistematica, [ducarno sentido da racionalizac;:;\o passou a ser fundamental para 0

Estado, porque elc precisa de um dircito racion:1! e de umaburocracia montacla em moldcs racionais, Educar no senticlo ciaracionalizac;ao tambcm P;\SSOU :1scr flmd:1I11cnt:d para a emprcsacapitalisca, pois cia se paut;1 peIa 16gica clo luera, do c5lculo clecustos e beneffcios, e precisa de prafissionais treinaclos para isso.Mais que profissionais da empresa ou da aelministrac;ao publica,o capiralismo e 0 Estado c;1pitalista forjaram um novo homem:um homem racional, tendencialmcnte livre ele concepc;:6esmagicas, para 0 qual nao existc mais lugar rcscrvado J obediencia

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que nao seja a obeclienciaao clircito racional. Para estc homcm,o munclo pcrclcu 0 encant::lmcnto. Nao c mais 0 Illunclo closobrenatural e dos dcsfgnios de Deus ou dos Imperaclores. E 0

munclo clo imperio clq lei e cia razao. Educar num munclo assim,certamcntc 11ao e 0 mesmo que ecIucar antes elessa grandetransforma<;:ao, provocada pelo aclvento do capitalismo modemo.

A educa<;:io, para Weber, n:io c mais, elll:iu: ;\ prep;\r;I\';:-lu, .

para que 0 membra do todo organico aprenda sua parte nocomportamento harmonico do organismo soci,d, como proposDurklfC"in\.' Nem e tampouco vista como possibilicIade deemancipa<;:a6 com base na ruptura c'om a aliena<;:ao, como propelsMarx. Ela passa a ser, na medicla em que a sociedade seracionaliza, historicamente, um fator cle estratificac;ao social,um meio de distin<;:ao, de obten<;:ao cle honras, de prebendas,de poder e de dinheiro.

E aqui chegamos ao cerne cia sociologia da cc!uca<;:aode \'V'cber.

No modelo ideal wcberiano a educac;ao C, conformc 0 caso,socialmente dirigida a tres tipos (de novo os tipos!) cle finalidades:desjJertar 0 carisma, preparar 0 aluno para uma concllite! de vicla etransmitir conhecimento espccializwlo.

o primeira tipo nao constitui propriamente uma peelagogia,uma vez que nao se aplica a pcssoas normais, comuns, Illas apenasaquelas capazes de revelar qualidades m;'igicas ou dons hcroicos.Weber refere-se aqui ao ascetismo magico antigo e aos her6isguerreiros da Antigi.iidade e cIo mundo medieval, que crameclucados para adquirir uma "nova alma", no sentido animista,e ponanto "renascer". Num texto chamaclo Os lctrados chincscs,\'V'eber escreve que 0 mago ou 0 her6i visavam despenar nonovic;o sua capacidade considerada inata, "um dom cia gr::l<;:acxclusivamente pessoal, ;pois nao se pode ensinar nern prepararpara 0 carisma. Ou ele <;xiste in l1lICeou e infiltraclo ,ltravcs deum milagre de renascimento magico - de olltrZl forma e impossfvelalcanc;5-lo". ~.

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Ao segundo tipo \'V'eber chZlm;1 /)cdugogia do cllitivo. Elaprocura formZlr llm tipo de homcll1 qU'~sCj,1CIllw, omlc 0 ideZlIde cllitura ckpcnde cia cZlmZlc!ZlSOCi~llpZlr,l Zlqll;11 0 indivfduoesta sendo prcparado, e que implicZl em prepara-lo para certostipos de COll1port;ll11e!HO interior (all seja, P~H;l ;1 rd1cxivichcle)e extcrior (ou seja, um determinado tipo de comportamentosoci;l1). T:ll PJ'()(L'SS() ('(!IIClcion:l1 :lS.SII111i;\ 0 ;lspeet'o de Ilm:1"qualificZl<;;:\O culturZlI", no sentidu de llma cduca<;;:lo geral. ec!estinava-se, ao mesmo tempo, 8 camposi<;;ao de determinaclogrupo de sWtLLS (sacerdotcs, cavZllciras, letrados, intelcctuaishumZlnistZls etc.) e :')composi<;;ao do apZlrZlto ;1elnlinistrativo tlpicadas (ormZls tr;1c1icionais de cIomina<;:;'iopo~ftica. Eo CZlSOcb ChinaAntiga, o-nde os candidatos a ocupar postas aciministrZltivos cramrccrutaclos, como ell ja (risei, pOl' suas habilidades humanfsticas,atrZlvcs de exames ?Is vezes ministrZldos pelo prllprio ImperZlclorem pessoZl. Escreve Weber, no mesmo tcxto citado acima:

Os chincscs n;10compl'OV~1VZlmhZlbilita<;Clcsespeci~lis,como os nossosl11odcrnosC r:lcionaisc"amcs bllrocr;1licospara jLlrisws,m0c1icos,tccnicos.Ncm COmjXOVZlV:lm(...) a possc dc clrism:1. (...) Os c"amcs c!ZlChinacomprovaV:lm sc :lmcntc do c:lndic!:Jrocsr:W:lcmhehida de !ircr;HlIracsc cic POSSlII:lOLi n;10os 1l!odu.1 de pcns;n ~1(kllll;ld(lS;1L11llhomcm CLlILOc rcsLllranrcsdo conhecimento d:1lilcr:1LLlrZi,

Na China, assim que ZlprovZldo, 0 candicbto, mesmo antesde ser emprcgZldo, pZlSSZlva Zl (azcr parte de um cst amen toprivilegiado, um grLlpo de pcssoas com direitos especiais sobreas outras, cujZlSprinci~1ais regaliZls cram a isenS;Jo no pZlg;:unentade impostos, a imunicbde em rclZlC;:'io;1 pllnic;oes corpora is 8Squais 0 homem Comlli11 est;1VZlslljcito e a percepc;{io de limarcmunera<;:50 monetaria,

Fil1Zl1mcnte, ZlOtcrcciro tipo ele celucas;:io \Veber chamZljJcd((fTorriado trcillWnCll[Q. Com a r::lcionali:;1C;1o da vicb social c

'" '" >

a crcscente burocrati:Zl<;;JO cIo ap~1r::lto pllblico ele clominaC;Jo

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polftica e dos aparatos pr6prios as grandes corpora<;6es capitalistasprivadas, a educa<;ao deixa paulatinamente de ter como meta a"qualidade da posi<;ao do homem na vida" - e note-se que, paraWeber, este, e 0 sentido pr6prio do terIno "educa<;5.o", enqllantobase dos sistemas de status - e torna-se cada vez mais um jJrcjJarocs.1JcciaUzado com 0 objetivo de tornar 0 indiviclllo lIm perito,

Transparece no tcxto de \V'eber sobre os rlllllllS da edllca<;:k1uma cel"ta mcIancolia, 0 mesmo tipo dc dcpress50 intelcctllalque de exprime com rela<;50 aos descaminhos cia liberdadehumana,wB as clesignios da especializa<;5.o, cla burocratiw~5.o eda racionaliza£:5G cla vida, Aincla mais que, alcm de minimizaruma forma~5.o humanistica de cararer mais integral, a ecluca~5.opor assim dizer "racionalizacla", que e a pedagogia clotreinamento, continua a ser usada como mecanismo cle ascensaosocial e de obtei1<;ao de staCm privado,

Com 0 perdao da longa citJ<;5.o, acho importante reproduzi!'aqui o-que Weber diz, num texto clo inicio do scculo XX chamadoBurocracia, sobre 0 recuo da edllca<;5.o enquanto forma<;50 dohomem, em favor de uma educa<;5.o enquanto treinamenLOespecializado e parcializado para habilitar 0 individuo adesempenhar certas rarefas. Pessimista que era, de seu ponto devista 0 capitalismo reduzia tudo, inclusive a educa<;50, 3 mcrabusca pOl' riqueza material e stClttLs.

o desenvolvimento do diplom;'lIniversit5rio das eseolas e1eeomcreio eengenharia, e 0 clamor universal pcb eria<;:ao dos eertifieadosedueacionais em tc;>dosos campos levam a forma<;:ao de uma camadaprivileglada nos eserit6rios e reparti<;:6es. Esses certificaelos ap6iam as

, pretensoes de seus portadores de intermatrimonios com bmfli~lSnotc'iveis(nos escrit6rios comerciais as pessoas esperam naturalmel1te a prefercnciaem rcla<;:50 a filha do chqfe), as pretensoes de serem admiticlos emcfrclllos que segllem "e6c1igos de homa", pretensoes de remunera<;:50"respeit5vcl" em vez da renlunera<;:fio pdo trabalho realizaclo, pretensoesde progresso garanticlo ~.c1e pensoes na vclhice e, aeima de wclo,

pretenSl)eS cle monopolizar cargos soci:1le economie;,mente vant<ljosos.QU<lnclo ouvimos, de toclos os Lldos, ;, e~:i;:C:nci:1de uma ;1dll<;:aodecurriculas regula res e exames especi:\is, a r~1z~lop~lr~1isso c, deccrtu, n;JUuma "secle de educ;1<;:ao"surgid~l subitamente, m~lS0 desejo de rcstringira oferta clessas posl<;:CJese de sua monopoliza<;;'io pclos clonos dos tltulosedllC;1cionais. Como;, educ;1<;,?ionecess5ri:1:1 ~lljuisi<;?iodo titulo exigec!espes:1s cOl1sidcr:lveis e 11mPCdllelll ell' ('"per;l dl' rCI111II1n;I(:;:Jllp1cl1;l,c.I>o[IlIU sigllificu lOll rC(I((, ['llrll u (ll!c'II(U (c'dri~J1I11) C'lllj;Il'urt!1l ri'/l!c~ll,

pois os cusros "it1lelcccuais" dos cenific:1dns de educaS:lo S~lOscmprcbaixas, e COI110 cresccnte \'olume dcsscs certlnc~ldns os custos intekctuaisn50 ;1Ul11el1tam, m:lS decresccm, (,.,) Por tr:1Sde tmhs ~lSdiscusstics;1tU;1issol1l'c;1sb;1ScSclu siSlem;1 edllc;1cion:ll, se OClIII:1CI11:d.l.:lIm;1SI~cct()mais decisivo:1 luta dos "cspcci;disLls" col1tra'o tipu m:lis ;1ntigo de"homem culto". Essa Jut,) Cdctermin;1da pcb eXj1;1ns:'ioirresiscivel dabllrocrati::1<;:ao de rodas as rcl:l<;:6espllblic1s e pl'iv,lc!;1Sde ;llItoricbdee pel;1 crescente impOrLil1ci~l dos pel'itos e do conhecimentoespeci;1!i::1c!o. Ess~11ut;1est;1 presente em tochs ~lSljucstlll':S cultur;'lsintim;1s (\V'EIiER,BllrlJcrocia).

A di(erenca entre Z'l!)(~d'1!.!O!.!i::1do cultivo e ;1 !iedarrorria do..:> •.••• '-' b b

treina111cnto C pZ'lrZ'l\X!cbcl' ~) 111eS111~1difcren~Z'l que existe entreZ'lS(ormas trZ'ldicionais c Z'lSrZ'lci,mZ'lis-lcg~lis de dominas;:io, entreas for111as prc-capitZ'llistZ'ls e <1Scapit<1listas de econ0111i,1.

Mal'x via no CZ'lpitZ'llis1110,1 escraviZ;lC;:lO du sel' hUl11zll1o porI11cio cia aliena<;5.o do trZ'lb<1lho, c n<l edUGlc;:io Z'lpussibilicbdede r0111per com cia. \X!eber via nZ'l pedagogia do treina111eiHo,imposta pcb racionaliZ<1~::io cb vida, 0 fi111cia possibilicbde dedesenvolver 0 talento cIo ser hUl11Z'lno, e111 n0111C da prepZ'lI'Z'l<;5.opara a obten~::io dc podcr e dinheiru. A rZ'lcionaliza~::io Cincxol'6vel, invencfvel, c a educZ'l~::io cspecdizacb, a logicZ'l do[l'eina111cnto, pZ'lrZ'l\X!cber, tambc111 0. P,lr::1 cle, n::io h~ nada quesc possa fazer a respcito.

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(,\PiT U1.0 V

---I-~Tr-~; visoes sobre 0 processo educacional

~ no seculo XX

CREIO QUE VIMOS ACIMA OS FUNDAMENTOS mais basicos cb teoriasociologica e 0 modo pelo qual des resultaram em concep<;6esanalfticas difcrcntes a prop6sito do processo educacional, ou,ainda, resultaram em proposi<;c)es <Jrespeitci de como tal processodeveria scr, conformc as finalidadcs a que os autorcs se propunham.

Nestc brevc cZlpftulo, gostariZl de mcncionar, ainda que deforma muito resumida, tres contribui<;6es importzmtcs do seculo xxa an;jlise socio16gicZl em gerZll e Zl sociologiZl da educa<:;80 empZlrticular.

A primeirZl e ~1clo soci6lo.c:o fr~mccs Pierre I3ourdicu, queretoma 0 ponto de vista durkheimiano e n mcscla a outrasvcrtentes intelcctuZlis com 0 objctivo de demonstrZlr 0 peso do"sistema" sabre ZlSprz\ticas cducZlcionZlis. A seguncla e Zldo tfdcrcomunist~ e imclcctuZll italiano Antllnio GrZlmsci, que, a partirdo marxismo, nos ajuda J pensar,'lS carZlcterfsticZlS cb luta pclopodcr nas socicd<Jdcs contcmpor,'lncZls e, tambcm, 0 quanto Zleduca<:;~l0esta rebcionach a cssZllutZl. E finZllmcnte Zldo socilliogohllllgZlro Karl Mannheim, que Zlqui mCIICionZlremos 'llJCnas pelovies de sua retomZlda cia an,11isc wcbcrianZl c lh l,roposta de ummodclo educZlcionZll que incorpore <JSdifcrellces pccbgogias queWeber identifica.

Bourdicu c os csqucmas reprodutorcs

o pensamento dc Durkhcim scrviu de base e ofcreccu osmctodos fundamcntZlis para Zlconstrue/In de umZl sociologia cia

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educa~ao muito influente ao longo do scculo XX. Um clos maisimportantes soci6logos a analisar a educa~ao contemporaneasob a influencia 'cIo modelo de Durkheim e 0 tambem francesPierre Bourdieu.

Para levar'a cabo a ambi~50 de Durkheim de unificar ascicncias humanas em tomo da sociologia, Bourclicu introduziuuma Sfl}tesc tcorica entre 0 moddo durkheil11i~\l1oC 0 CSLllllUmlis))l().

o estruturalismo se conecta a sociologia c1eDurkheim na meclidaem 'que pret,ende desvendar justamente 0 peso das cstruturassocia is po('tras das a~6es dos sujeitos. Na verdadc, trata-se aquide uma vers~o inais radical do modclo de Durkheim, que levaas ultimas conseqiiencias 0 ponto de partida segundo 0 qual osindivfcluos estao submetidos ao controle das estruturas dasociedade.

Para 0 estruturalismo em geral, e tambem 0 de Bourclicu naprimcira fase ~e sua produ~50, publicada por volta da decadade 1960, os sujeitos sociais s50 vistos - para simplificar a questao- como uma especie de marionetes c\as estruturas dominantes.Para 0 soci610go frances, a teoria clurkheimiana e 0 estruturalismopermitem demonstrar como os individuos, em sua a~50, apenasrCj)TOduzcm as orienta~6es determinadas pela estrutura socialvigente.

Segundo ele, os agentes sociais, mesmo aqueles que pensamestar liberados dascletermina~6es socia is, s50 na verclademovidos por, digamos assim, for~as ocultas, que os estimu\am aagir, mesmo que nao tenham consciencia disso. Sao essas"condi~6es objetiv~s" que 0 investigador cleve desvendar, poisnelas e que residem as explica~6es. Os sujeitos da ac;50 estaoausentes claquele nivel cia sociedacle em que sao objetivamentecleterminaclas as suas a~6es. 0 sujeito cle fato nao existe. 0 quechamamos de ac;ao, para ,Bourdieu, Ii na vcrdadc 0 proccsso jJCloqual as cstruturas sc rcpTOdL1zcm. 0 sujeito esta simplesmentesubmeticlo aos clesfgnios l!Ia socieclade, faz 0 que suas estruturas

determinam, n50 sabe clisso e ainda c iludido pelos discursosdominantes, que 0 fazem pensar que SU;\ aC;:lo e resultante devontacle propria.

Em 1964, Bourclieu publicou um livro, em coIaboraC;ao comJean-Claude Passeron, que pretendia combater uma ideia muitocomum na r:ranc:a cla [poel, segundo ;1 CjlJ:l1os cstlllhntcs C 0

mcio cstulbntil SCri~1I111I111;1cLIssc soci~d ;1 p:\rtc n:1 socicd:\dc.E scriam rcspons:1veis, em raz50 de sua juvcntudc e de suadisposi~50 pJra a ac;50, pcb lideranc;a da trans(ormac;50 social.Apenas quatro anos depois, no celebre mcs de maio de 1968 emParis, os estudantes de fata sairiam as ruas, culminando umproccsso de mobilizaC;ao que teria um alcance bem maior doque a capital francesa. Mas para Bourdieu, em seu livro, aexplica~ao dos processos eclucacionais real mente importantesresiele em Olltra parte. Nas estruturas, e claro. A ironia c quc 0livro serviu como combustivel, por seu aspecco crftico as basesdo sistema dc ensino, para essas mesmas revoltas estudantis.

Neste livro, chamado Os hcrdciros, os Zlutores atacam 0discurso dominantc segundo 0 qual a conquista de uma "escobpara todos", de carater igualitario, tornaria possfvel a realizac;:aoc\as potencialicbdes humanas. Eo (a::em colocanclo em evidcnciao que a instituic;50 escolar dissimula pOl' tras de sua aparenteneutralidade, ou seja, justamente a reproduc;50 c!as relac;6cssociais e de poder vigentes. Encobertos sob as aparencias c1ecriterios puramente esco\ares, cst50 critcrios sociais de triageme de sele~50 dos indivfduos pZHZIocupar deterI11inaclos postos navida.

Ao mesmo tempo em ljuc e:;pClcm :l (;lce acult:1 do sistemade ensinG, Bourdieu e Passeron negz1m qualquer possibilicladede romper com as estruturas de rcprocluc;50 e a(irmam que asteorias pedagogicas na verdacle 550 uma cortin" de fuma~a queprocura ocultar 0 poder reproclutor clo sistema que est:1 nas maosdos cducadores. Simplesmente nao h{l safcb: 0 sistema de ensino

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filtra os alunos sem que eles se deem conta e, com isso, reproduzas rela~6es vigentes. Nao h5 possibilidacle cle mudanc.;a, A propriarevolta estudantil, para cles, nao faz mais que refor~ar 0 sistema.Pois, cia e absorvida e, serve como aprenclizaclo para as estruturasmelhor se comportarem no sentido cle reprocluzir as re[a<;;oes.A revolta contra as normas vigentes c apresentacla par eles comolIm reforc.;o cia i11tcriorizac.;;\u da prtlpria nOnl1;l.,

Em 1970, os autores refinaram suas ideias, incorporanclo maissistematicamente as contribuic.;6es de Marx e Weber, alcm deOurkheihl', c pub!icaram um novo livro: A rc!nodw;;Cio:Elc/Hcncos!Jara Lima tcarier do sistcma dc cmino: Sua tese central ;lesta obrae a de que coda ac;Cio IJcdag6gica c, objctiva/Hc71tc, Wlla violcnciasimb6/ica. 0 conceito de "violencia simb6lica" designa para elesuma imposi<;;ao arbitr5ria que, no entanto, e apresent<:lda aquelcque sofre a vioiencia de modo dissiinulado, que oculta as rela~6esde for<;a que estiio na base de seu poder. A a<;iio pecbgogica,portanto, € uma viol-encia simb61ica porque imp6e, por um poderarbitrario, um determinaclo arbitrario wltllral. Oito de modosimplificado, esse arbitrario cultural nada m8is C clo que ,1concep<;ao cultur81 dos grupos e cbsses dominantes, que cimposta a toda a sociedade atraves clo sistema de ensino. Estaimposi<;;ao, porcm, nao aparec:'e jamais em sua verclade inteira ea pedagogia nunca se realiza enquanto pedagogia, po is limita-sea inculca<;;iio de valores e normas. Oaf ser preciso, para que aa~iio pedagogica se efetive, uma aworicladc !Jcdag6gica, por partedas institui<;;6es de ensino. Ela e necessaria para que a inculca~aopossa oconer, sob a fachada dissimulada de uma aleaada

. b

pedagogia.

Enquanto imposi~ao arbitraria cia cliitura c!as classes e grllposdominantes, e na meclida em que pressup6e uma autoriclacle,pedagogica, a a~ao peclag6gica implica em algo que Bourclieu eP~sseron chamam de "trabalho pedagogico", isto e, um trabalhode inculca<;;ao daquele 1fferido "arbitrario" que deve durar 0

bastante para que 0 educando "naturalizc" scu contclldo, encare-o como natural, como cvidcntemcnre corl'cln em si mesmo, 0

bastante para produzir uma "{orma<;;ao clur,1vcl". Na medida emque 0 educando interioriza os prindpios culturais que Ihe saoimpostos pelo sistema de ensino - de tal modo que, mesmo depoisde terminada sua fase de forma~fio escolar, ele os tenkliI1CllJ'[xlr;\(.Iu :IUSSCliS jll'('lj1l'ius v;l!urL's C SL'j:1(:11);1: lk rq11,<"III:i,llls

n:1 vida e transmiti-los aos outros - l)Olll'diCli diz quc ele adquireum Iwbitlls. Uma vez que 0 arbitr;lrio culturZlI a ser impasto cincorporado ao IlClbiws do professor, 0 trab:11ho pedag6gico tendea reprodllziras mesmas concli~6es soci;lis (dc dnmina<;50 deckterminados grupos SObl"e outros) que dCl:al11origem aC[lIelcsvalores dominantes. )' \" ';':' I

Assim, todo sistcma de ensino il1slj~~i~2!.}"aJ.iz;lel9visa emalguma medida rcalizar de modo organizado c sistematico ainculca~ao dos valores dominantes e reproclllzir as condit;;6es dedomina~ao social que est30 por tr,1S ele sua a<;50 pedag6gica.Isso explica a desigldcbde que cst;:! n<1base clo processo desdccelo escobr. Os ZluLOres, valcnclo-se de dados empiricos,dcn~onstram que as "condi<;oes dc c1asse elc origcm" dos alunosque entram no sistema de cnsino Frances determinam tanto aprobabilidade de sucesso desse aluno quanto a probabilidadede passagem ao n(vel escobr scguinte, qU:1nto, aincla,o tipo deestabelccimenlO de ensino ao qual de tem acesso (se de melhorou pior qualidade). Tal situa~50 se reprocluz, do ensino basicoao medio e ao superior e cletermina tambcm, no fin:11cbs contas,a "condi<;;ao de classe de chegada" deste aluno, isto e, 0 tipo clehabiols que adquiriu, 0 "capital cultural" ao qual teve acesso e,em especial, a posi~ao l1a hierarqui:1 econClmic<l e socd a quechegou.

Bem, mas talvez seja 0 momento de retom:1r a quest50 quecoloquei no princfpio dcste livro: Sera que a barreira dadomina<;;ao social c intral1spon(vel? Sera que estamos condenados

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a reproduzir as estruturas indcfinidamcnte? Gramsci, do pontode vista do marxismo, e Mannheim, do ponto de vista dademocracia libc'ral, achavam que n50.

Gramsci e a reforma intelectual e moral

o comllnist;-t it;-tli;-tno Antt1l1io Gr~msci (IR9l-1917) nunc\public~u um livro em vida. No entanto, sua militfll1cia polfticadesdc a juventudc deixou como legaclo varios artigos empcri6d}5=_?~,de particlos poIfticos e na imprensa. Deixou tambcm,e isso C 0 mais ~mportante, v~1rios cadernos de not~ls manuscritasdurante 0 perfodo em que csteve p'reso, sob a guarcla do Estadofascista italiano, a epoca cle Mussolini. Conhecic!os como

.Cadcrnos do carccrc, esses esc1'itos fo1'am publicados apos suamo1'te e 1'cp1'esentam, ate hoje, uma Fonte de 1'd1ex50 filos Ofica ,sociol6gica e poIftica fmpar.

f'.- imp'01'tancia das ideias de Gramsci esta em sua capacicladede atualizar 0 pensamento de inspira<;5.o marxista, cle modo a;adequa-Io as ca1'acterfsticas das sociedadcs emopcias de'Capitalismo avan<;ado da primei1'a metaclc clo scculo XX. Seusconceitos inovadores v5.o no senticlo de clemonstrar que asconcep<;6es de Marx referiam~se a sociedades do sCCltlO XIX eas de Lenin, 0 revolucionario russo, a sociecbdes agrarias,atrasadas e com capitalismo pouco desenvolvido.

Sua primeira distin<;ao polftica importante e entre Orientee Ocidente. E nao se trata apenas de uma distin<;50 geografica~ntre leste e oeste., Ele entende por Oriente aqueles paises ond~o Estado, as estruturas politicas, concentram todo 0 poder conde a sociedaele civil e fraca, pouco organizada, sem clpaciclaclede contrapor-se a tal podcr concentraclo no Estaclo. 0 unicomodo de lutar pelo poder em tal situa<;5.o e investir contra 0Estac!oo No casu dos con)unis~as, tentar uma revolu<;5.o armada,que desalojasse os poc!ei-osos e dessc 0 poder aos operarios. Foiisso que Lenin fez na Rg'volu<;5.o Russa de 1917. Por Ocidcnte,

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ao contra rio, de entende aquelcs paises em que a sociecladecivil tem estrutura, e mCdtipla, vital, org:lI1izada e tem concli<;6esde dividir com 0 Estaclo e as estruturas politicJS institucionais aadminist1'a<;5.o da vida social. Essas s50 as sociedades dccapitalismo niais avan<;aclo, com um mercado intcrno forte ecom umJ vich politic;) plur~1. Ness;)s cOllcliC;C1CS,cic nota quc 0

puder n;\o se CUIlCClll r;\ tudu IlU !:s[;ldu, C()IlH) ILlS sucied:Jdcs

mais atrasadas. Ele CStc1diluiclo entre 0 Estaclo e a sociedaclecivil. Nao esta num lug"r S(l, cst;l em muitos lugarcs ,10 mcsmotcmpo. Est:) no governo, mas tambem cst:) nas empresas, nosclubes, no mcrcado, nos partidos, na cultura, nas conccp<;C1CSde mundo que as pessoas veicuhm.

Esta percep<;50 permitc ;) Gramsci umJ vis:io bem maiscocrente c p1'ecisa cb luta politica no c:lpiLalismo contcmpor:ll1eo.Deb, ele C capaz cle concluir que, p~ra obter poder, as classesou grupos politicos revolucion{lrios nao poclem fazcr um;) politicaapenas de insurrei<;50 ou de luta golpista contra 0 Estaclo.E: lJrcciso WJW rcvolw;clo 110 cotidiwlO. E esta liC;50 nilo sc limitaaos que pretendem revolucionar a socicclacle. E uma liC;ilo sobre::l politica e a sociedacle em ge1'al. A politica tem que ser feita l1a

socicdaclc, cleve 1'eferir-sc a todos os esp,lC;0Sde pocler disponiveis.A luta politica nilo pocle limitar-se apena:; a uma lutZl cle purafor<;a fisica ou de puro pocler economico. 0 Estaclo c for<;a,coer<;ao, domina<;ao, mas a sociedacle C 0 espac;.o clo conscnso, eo lugar onde os homens conflitJm seus interesses at raves cialJCrslwsclo. Nao bastZl fo1'<;J, portanto. E preciso conquisrar aconscicncia das pessoas. Quem quiser clisputar 0 poder nessasociedac!e ocidental, moclerna, complexa, tem que, no dizer deG1'amsci, "ganhar a batalha das iclcias".

Sc e t5.o importZlnte assim 0 convencimento cbs pessoas nasociedacle, clentro cia luta politica, nilo basta apenas eliminar aexplo1'ac;ao econ6mica de uma classe sob1'e outra, eliminara apropria<;ao priv<lda clos meios cle produc;ao da riqueza,

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comoclemonstrara Marx no seculo anterior. E preciso tambcmIutar contra a aJ)roJ)Tia~/io J)rivacla, Oll clicisw, cIa saber c cIa cldwra.Com isso, cliz de, a meta seria acabar com a clivisao entre"inte!ectuais" e "p~s:oas simples". E isso c fundamental porqueapenas aquele que c tido como inte[ectual ocupa os postos daaclministra<;ao do Estado, da vida polftica e social em geral, epartanto concentr~1 mais puder.

A'este processo lemo e complexo de luta pelo poder polfticana's sociedades complexas, Gramsci chama de disputa pelahcgcmorrid .. Para chegar ao poder nao basta ganhar a clei<;Jo Ollclar um golpe de Estado, diz ele. E preciso, repito, gZlI1k,r a batalh;,do convencimento, obter um consenso social em torno cle suasconcepc;:6es. 0 pensador FIorentino Nicolo Maquiavelli, noseculo XVI, ja havia ensinaclo, em sua celebre obra chamadao JJT[nciJJc, que quando 0 sober,\l)o obtcm seu poder mais peloamor que 0 povo tem a c!e do que pelo medo que tem de suafor<;a, a conquista c mais duradoura. E mc!hor ser amado quetemido, ensinou MaquiaveHi. E preciso mais convencimento doque fOlsa, c preciso ser hcgcmonico, confirma Gramsci.

Ora, se para conquistar a hegemania polftica e ideologica cnecessaria "ganhar a batalha'das idcias", evidentcmente osintelectuais clesempenham um papel-chave nesse processo. Poisos intclectuais orgClniZClm (l cll[tllra. Elcs clefinem os par<lmetraspe[os quais os homens concebem 0 mundo em que vivem, veema divisao de pocler e de riqueza de sua socieclade, c tambcmdefinem s,e os homens percebem como justa ou injusta essasitua<;ao. E pOI' esta razao que 0 processo cle elimina<;50 de toclaclesigualclacle e cle toda injusti<;a, segundo Gramsci, passa POl'uma "reforma intc!ectual e moral". Ao proprio partido polfticomoclerno, que c um clos .,nores principais dessa luta, ele chamacle "intelectual coletivo" 'aqucle que atua no semido de reformaras mentaliclacles, as conce'p<;6es de mundo, e portamo, no sentidoda conquista cia hegem~nia.

Mas, note bem, na luta pcb hegemonia, isto <2,na luta pe10poder, ha olwiamente as que cksej,1I11m:1l1ler a hegemoni;, atuale as que clesejam uma nova hegenWI11'1. Esses gruposrepresentam, e claro, as cliferentes classes e fra<;6es de classessociais em disi)ut'a pelo poder na sociecbde. Nos momentos dedisputa mais acirrada, tende a ocorrer lima pobriza<;50 entre osintnesses dos quc ljucrcm COl1scrv;\r c us dl'S qilC ljllncm 1l111d;\r.Os do is grupos tra<;<1m ;11i<1I1~;\Sinrcrn'ls. C<lda U111dc 11111ladoclo campo de batalha. A C<1C1aum desses agl'lIpamcntos dc classese fra<;6es de classc em tomo de interesses hist6ricos determinadosGramsci chama de blow ou "bloco hist6rico". Repare que nocapftulo 7, que voce vai !cr m;lis ~ (rcnte,'u sucilllugo lvlichaclApple, autor do capftulo, lItiliza esses conceitos de Gramsci para<1nalisar a cduca<;50 atlla!. Vale a l'ena, entf!o, capt,n esscsconceitos agorJ, pma depois ve-Ios ol'erando na an,'llise.

Em Sllma, na luw pcb hegclllllnia. t~1Iltoas cbsses clomin<1ntcsquanto as dominadas sc organizam em biocos, e cada lima delasconta com seus proprios intc!cClllais, cuj:1S id0ias compctem entresi na tentativa de org,lnizar a cultlll',\ de uma dada cpocaconforme seus interesscs. N,l vercbde, Graillsciconstr6i umatipologia c10s intelectuais. Para ele. h5 dois tipus principais.o primeiro c a incdcCCiw[ orgclnico, que surge elll liga~Jo diretacom os interesses d<1 chsse que <1scende ;w podcr. Surgeexatamcnte pJrJ dar homogeneid<1de e coercnd,l interna ~l

concep<;ao de ll111ndo que interessa a essa classe, uu seja, surgepara ciaI' conscienciCl a cia, A burgucsia. as classes dominantesem gera1, pOSSlIcm sells intelectllais org,lnicos, cuja fun<;80 isfazer com que codos pensem com a cabe~a cia cbsse clominJnte,inclusive e principalmcnte os dominaclos. Esta c a fonte dapersliasao, do convcncimento, cnfim, cb hegemonia cb classeburgllesa, Do mesmo modo, os dominaclos. ~lcbsse trabalhadora,Dossuem seus intclecluais, cujo obj,elivo 0 c1esenvolvcr a~oncep~80 de lima concw-hcgcmonic!. 0 segundo tipo de

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intelectual e 0 inceleccual tradicional, ou seja, uma classe deintelectuais que, em epocas passadas, foram intelectuaisorganicos das classes que er~m entao dominantes. 0 exemploclassico deste tipo e 0 clew, po is os padres deram coerencia eorganicidade-.a dO;11fna<;ao da nobreza aristocratica, na cpocado feudalismo. Mas atualmente, depois do clcsaparccimcnto daclasse a que cstav;1 ligaclo, esse tipo tr;ldicion:l!'dc intclcclll:licontil)Ua agindo politicamentc, de modo independentc e sempre.numa dire<;ao conscrvadora, podendo vir a tra<;ar alian<;as comas cla:.s~~, d.ominantes no presente. A fun<;ao clos dois tipos deintclectual, po:tanto, e a cle ser um instrumento de construr;aoe consolida~ao. de uma vontade coletiva, cle um conscnso socialem torno clas idcias por eles veiculadas, das concepr;6es de mundodo bloco hist6rico ao qual estao ligaclos, na luta peb hegemonia.

Mas de onde vem os inte[ectuais?

Ganhou um pirulito quem disse "cia escola". Sim, c claro, 0

intclectu<\l e [ormado na escola. Quer clizer, para vir a ser umdia um intclectual org5nico ou Llln intelectual traclicional, cdesempenhar fun<;6es de organiza<;ao cia cultura, 0 indivfduoprecisa passar por uma fonna<;ao cscolar que the cle Ulll accssoespecial a esta cultura. Daf q'uc Gramsci tenha se preocupaclocom as caracterfsticas clo sistema escolar de seu tempo.

Ao analisar 0 sistema escolar italiano cle sua epoca, Gramscinota uma caracterfstica muito parecida com a percebida parWeber na Alemanha, e que 0 havia [evaclo a uma distin<;aoentre a pedagogia do cultivo e a pedagogia cia treinamento,mcncionadas acima. Gramsci observa que na socicclade modernaa ciencia misturou-se a vida cotidiana de um modo nunca vistoantes - 0 que diria ele se vivesse hoje? - e as ativiclaclcs pr5ticas(a construr;ao de casas" a cura das pessoas, a aclministra<;aopublica, e ate mesmo as artes) tomaram-se atividacles complcxase especializadas. Em vista disso, ele escreve num dos cadernosde notas do carcere, pU~.icado com 0 tftulo de Os incdecwais c

a organiZ(l(';cio da culcuw, que "roda Zltivi(hdc prZltlcZl tende acriar uma cscola para os pr6prios clirigentcs c espccialist<.ls c,consequentemente, tende a criar um grupo de intelcctuaisespecialist8s de nfvel mais elcvado, que ensin<:lln ncss<.lScscolas".Isso gera um sistema eclucacion<.l! hfbriclo. De um bclo um tipode cscola "humanistZl", que dol umZl (ormar;:io "classica",deSlin:\d:\ :1 dL'SL'nV()!verL'11l(;Ilh il\t1ivitlll<l 1111\:1t'ldlllr;1 i:t'r;d,dcstinada a dar a cad~l Ulll, n~lSp~d~lvr~lsde Gr:lI11sci, "0 puderfundamental de penS3r e de saber sc orientar na vida". De outrelado suroiram as diversas escolas es')eciZlliz<!clas, volwdas para

I b t.

a formar;:io espccffica dos clifcrentes ramos profission<.lis, oubaseadas na necessidaclc de operZlcion.alizZlr os contellcloscientfficos. Se voce perguntar a seus p~lis ou Zlv6s sobre acstrutura da cscola br:)silcir:) no tempo dclcs, ver;") que erZlexatamente a mesma 16gic<.l que prcsicliZl Zl c1ivisao entre 0

"cl6ssico" c 0 "cicntffico", bem como a scpZlra<;:io entre <.lescola"normal" ((omlZl<;50 pZlra 0 mZlgistcrio), a escola "de comcrcio"e a escola "industrial" (form:,<;ao tccniGl prnfissionalizantc).E isso aimb no ensino que hoje corrcspondcria all Ensino Mcdio,scm contar naturZllmentc com 0 surgimcnto do Ensino Superiorno Brasil, cuj:,s bases se cstrutm:H:\1ll :, 1':1rlir lh (unda~:i() daUSP em 1936 e se diversificZlram com a enorme expansao doEnsino Superior privado durante () rc,~ime- milit;1r, n3 clccacla de1970. Bem, mas CSSZlc uma outra hist6ri:l.

o fundamental em perceber CSSZlclistin<;50, P~IrZlGramsci,e notar que cia tem um conteLlclo de cbssc. A (orma<;:io geralque (aculta ;10 indivfduo (orl1l;1r-SCem contZlto com ;1 culturahumanista acumulacb ao longo dos scculos, form:lr-se como Lllllindivfduo completo, c reserv:lcla ZlOSfilhos clas classes dominantese, portamo, a forma<;50 de seus pr6prios intelectuais orgflllicos.Mas isso nao c tudo. 0 proprio perfil da (orm<.l<;ao desteintelcctual orgfll1ico das classes clominZlntcs mudou, na mecliclaem que 0 desenvolvimcnto industrial e ;1urbaniz:l<;:io 0 exigiram.

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Desenvolveu-se ao lac!o c!<lescob cl5ssica (baseacl<l nos v<l[orcsda cultura greco-romana) lima escob tecnica (prafissional, masnao manual), que acabou par suplantar a cl;lssica, na meclicla

em que era mais ad:~lIac!a a forma~ao dos intelectuais orgfmicosdas classes dGminantes. . .

No mesmo texto citado acima, Gramsci afirmZl que

a ltnd0ncia hojc c a de aoolir qualquer lipo de "escll!cl dcsinlcrcssada". (n50 imedialamcnte interessada) e "formativa", ou conserv"r debs lfia-SOl~~<;.nj:,e.um reduziclo exempl:u deslinado a uma pequcna elile de

senhores.: de. mulheres que nao devel11 pens~,r el11sc prepJrJr para Ulllfuturo profissional, oelll como a de cli(undir cJda vez mais ~'sescolaspro(issionais especializadas, nas quais 0 deslino do aluno e sua (ulUraatividade sao predeterminados.

Tal cscola de CjuZllidade deveri;l 'er (uncbment<llmentcpublica, para que Fosse g<:1rantido a ;lCeS~()de wcbs as classes aela e para que as intcresses econl)micllS imccli;ltos nZlOinterferissem,scndo a escob privacb, na form:1~;'io clm Zilunos.

Fic<l cbra que <l preclCupZi~aO cle Gral11Scl C Zibrir a todas aschsses, e n:io "pen"s ?IS clomin;mtes, ;] c;,p:1ciclacle ele fOrJ)wrScICS !mi!Jri()s illrc!cClIl<lis, puis SClll iSSI) ;1 1111;1!)l'!u pll,kr (icl

extrem,m,ente desequilibrZida nas sllcielbdes comp!cx;]s. Setad as nao tiverem acesso Zi umZl escola que lhes permita umZlformZl~ao cultllrZlllx'1sicZl, que POSSZIser cvenluZllmente cxpZlndiclaem seguida, a "batalhZi cbs icleias" VZlisex sempre ganha pcbs

classes dominantes.

Gramsci ve nisso, alem do ditismo e da exclusao dasclasses trabalhadoras de uma forma<;ao de qualidadc, lImindf<;;io de: que a expansao do ensino - necess5ria para cIarconta das novas tecnologias e dos aV,ll1~OS da ciencia e ciariacionalidade - estava se dando de um modo ca6tico, poucoorganizado, sem que fossem tra<;adas polfticas oriel1tadoras.Nesse sentido, ele tinha sua propria proposta de polfticaeducacional, tinha uma visao bastante precisa de como a novaescola deveria ser.

Para ele, recuperanclo a percep~ao de Marx discutida acimae amplianclo-a, a nova escoia deveria ser organizadZi do seguinten~odo. E~ll primeira lugar, uma cscola Ll11itdria, que corresponderiaaos nfveis do Ensin? Fundamental e do Media, que teria umcarater fonnativo e objetivaria equilibrar de forma cqu:mime adesenvolvimento da capacidade de trabalhar manual mente e adesenvolvimento das c0pacidades clo trabalho intelectua!.A par~ir dessa escola (mica, e intermediaclo par uma oricnta~50praflsslonal, a aluno passaria a uma escola especializada voltadapara a trabalho produtiv9j.

Fechemos ent50 a c:1pftulo com um comcnt;lrio sobrc umpensador do sccufo XX, preocupaclo com a sociologiZi ciaec1uca<;ao, que retoma a formub~50 de \Vebcr sobre os lipos deecluca<;50 (as pec1agogias do cultivo e do trcin~lmento) e eL5.aeh a perspcctiva elc um programZi parZi a muclan<;a cia educZl~50.

o fil6sofo e soci6logo h(lngaro-germ:mico-brit<"Inico Karllvlannheim (1893-1947), fugindo clc ccrto modo ao pessimismo\\'cberiano, propoe Cjue a sociologia sirv;] dc embasamcnw te6ricopara eclucadores e ec1uczll1dos no objctivo elc compreenderem asilua~50 educacional modcrna. Mannheim Zlchava que apensamento social nao pock cX!Jlicar a vieh humana, apcnascx/ncssa-la. 0 papel cb teoria, em SUZiopiniao, code compreenclero que as pessoas pcnsam sabre ZIsociecbde c n50 0 ele proporcxplic<l~oes hipotcticas sobrc cia. No pbno cbs SUZISpr6priasconvic~oes pessoais, elc dcfcndia uma sociccbde que Fosseessencialmente democr;'1lic<l, uma dClllocracia de bem-estarsoci<:11 dirigicla pelo planejamento r~1cional e, vcja voce,governada pOl' cientistas. Este det::dhe pock Zltc parcccr ex6tico,mas ajuda a cntcndermos sua sociologiZi ca eclucaS-ao.

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Para ele, se e verclacle que a racionalizac;ao cia vida levou aum eleclfnio da educac;ao volwela para a formac;ao do homem

.' integral, tambem e verclacle que -0 arejamento promoviclo pebclemocratiza~ao clas ,rela~6es sociais permitiu 0 surgimento denovas esperanc;as. Embora 0 capitalismo tenha geradoclesigualclacles sociais, 0 interesse dos jovens cbs classes inferioresem ascender socialmente ;\ elite. em sua vis:iu, tiaz au processoecluc:1cional as contribui~6es culturais cbs diferentes camadassoCia is e a intercomunica~ao entre cbs.

Mannlieim percebeu 0 seguinte: a sociologia fazia-se cadavez mais importante. n3 moclerniclacle, para 0 estuclo closfen6menos eclucacionais. justamente pOl'que a vida baseacla riatracli~ao estava se esgotando. Nas epocas historicas dominaclaspeb tradi~ao (pre-capitalista) a eeluca~ao resumia-se a ajudara crianc;a a 'ajustar-se a ordem social tradicionalInenteestabelccida. Valenclo-se cia influcncia da psican5lise, de observaque. tal processo era apenas de assimilac;ao "inconsciente", pebcrian~a, do modelo da ordem vigente. Mas quanta mais atradi\;aOi,vai sendo substituiiclalje!21 'r<:l~iOi1aliza~ao da vida,'provocada pela consolida~ao cia sociedacle industrial. mais oscontelldos educacionais devem ser transmitidos num processo"consciente". em que 0 educando se aperceba do meio socialem que vive e das mudan~a~ pelas quais passa.

Portanto. para estc autor, nem os objetivos do processoeducacional nem as metas que elc visa podem ser concebidossem a consiclera~ao do contexto social, po is eles sao socialmcnteorientaclos. As perguntas que a sociologia obriga a fazel', lembraele, sac portanto: Quem ensina quem?; Para qual sociedacle?;Quando e como ensina?

Como nao concorqava com a ideia elc que a teoria podeexistir apenas pela teoria, apenas como tcntativa de,explicac;ao. Mannheim 'achava que a sociologia poderia servirde base para 0 aprimoran;cnto cia ecluca~ao. Num cle seus ensaios,

chamaclo "0 futuro", publicac10 em sua IlHrodlli;clo d sociologiaJa CChlCW;aO, ele afirma: "Queremos CUl111~l'eendcrnosso tempo,as dificuldades desta Era e como a educac;fio saclia poclecontribuir para a regenera~;)o da sociedack c do homem".

Regenerar de que? E 0 que seria essa "educa~fio sadia"?

A res posta ?1 primeil'a Cjucsr:to 0: rC'i~cncr:H :1 socicdadc: c 0

homem dus efeitos perversos que \,C'm ell1bulidus nu processo deracionaliza~ao cletectac10 pOl' Weber. Mannheim ye como luz nofim clo t(mel a possibilidade cle valer-se da compreensao closdiferentes tipos hist6ricos de educa~ao, construfdos pOI' Weber,

, para a montagem de uma pedagogia Cjue de conta cle educar 0

homem moderno sem arranc;lr-lhe as pos-sibilidades oferecidasPOl' uma forma~ao mais integr;11.

Para Mannheim nao h~i.pOl' que pensar que a pecbgogia docultivo est5 condenada Z1 morte. Ele reconhece que os modos devida incutidos par est~l educac;fio, vol tach par~l a cultur;l e a erucli<:;ao,estavam associados ao poeler de certas classes privilcgiadas "queclispunham de lazer e de energia excedentes para cultiv5-la";,e que;ais classes entrar<lm em cleclfnio com 0 clcsenvolvimento docapitalismo e a ascensao cia classe burguesa. E concorela tambcmque a educa~ao especializada desin~egra ~ personalicbclc e acapacidade de compreencler de modo m;lis completo 0 mundo emque se vive. Mas argumenta que <1grande quest;)o educacionaldaquela primeira metade do scculo XX era justamente saber se osvalores veicubdos pOl' este tipo de form<l<:;aosao cxclusiviclac1edessas classes ociosas ou se podem ser transferic10s em alguma medida8S classes medias' e aos trabalhadores.

o elemento hist6rico decisivo na abertura das possibilidadescladas na sociedade atual, na visao de Mannheim, c polftico. ouseja, 0 adVCl1LO da dcmocracia moclcnw. E isso responde Z1 segundaquestao, a respeito do que seria essa socicdade "saclia".

Para ele existem tendcncias no senticlo de erial' padr6esmelhores de vida. Ele ::tponta os movimenros c1ajuventucle como

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responsaveis pelo desenvolvimento de um ideal de homem"sincero", interessado numa relac;:ao mais alltcntica com anatureza e com os outros; aponta a psicancllise como responsavelpor um novo padrao de vida, com saude mental, capa: de deixaro homem livre das' r~press6es adquiridas na formac;:~o; apontaate mesmo 0 "novo homem" forjado na Rllssia cOI11\lI)ist;l como1I11\prollltipo de el1lllSi;\SI\Hl e de dedic:\,:Jltl ;\ \'id;i (tH\\UlliL-ll'i;1.Enfimr para Mannheim, a modernidade nao tem apenas custos,ouameac;:as a liberdade. A modernidade traz tambem esperanc;:ase valOfeS-{iociais solidarios, abertos,

A principal contribui<;:~o de todas as que a l1\oelernademocracia c capaz de oferecer c a possibilidaele ele que todas

'i:as cianiad'4's sociai's'tldiH'j'MH',Itolihibliir' cot'h 0 processoeducacional. E a sociologia c a disciplina, em sua vis~o, capazde fazer a s(ntcsc dessas contribllic;:oes, Por isso c tao importante,para ele, que a sociolagia sirva de base a pedagogia,

Ele explica tal processo do segllinte modo, na mesmo textoja citado acima:

Em pCl'fodos de clcvad<1cultura, kwia equilfbrio, em patTe conscicnte,em !')arte inconsciente, entl'e ;1Scontl'ibui~6es 1'resladas 1'elos difercntesgrllpos a cduca<;:ao, Esse equilfGrio b••seava-se as ve:es na id~i;1de umahierarquia de estamentos ou cast ••s se1'••radas, cad •• unu cbs qU:lis

'apresentava sua contribui~ao cultural propria em nfvcis difcr'cntcs, (,..)A concep<;:ao dcmocratica ajunt<1, a ideia de sfntcse a livrcintercomllnica<;:ao entre as camadas sociais e suas contribui~':-lCSculturais, Seu interesse principal reside no acesso, as c1itcs, e1t)Smembroscalclltosos das classes inferiorcs, na inven<.;ao e1e111CWelOS {/(ICQWlel05 elc

5clc<;ao social, e no impcdir quc a socied;lelc se e1ctcriore, convertida emmassas nao difcrenciadas.

Em suma, Mannheim era um homem de seu tempo, em bllscade um programa de estudos em sociologia cla educa<;:50 quepossibilitasse a formufa<;ao de projetos eclucaciol1ais queampliassem 0 horizonte cYo homem, que superasse as clivisoes em

blocos politicos e iclcologicos, que n~() n satisfazi;1m, Ele viveu 0terrivel momento (b crise eCOl1tli:,ic\ de 1929, qU;lnelo 0capitalismo da "livre COnC()ITCl1ci~l" (u I(/isse~-J~lin:) el1!TOli cmcolapso, e vivencioli em segllida a asccl1sao e10 l1a:ismo de Hitlere suas conseqi.icncias politiGls e morais n~l Segul1da GuerraMundi;1! (saill dol 1\!cIl1;lIIh;l e (oi p;lr;\ ;j lngbtcrr;\ fllginelo ell)11;\:isll\O), Ll'i~':-I,li"s ,lr;IIII:\li(l)~ ,Ll lli~II"li;\ tl" <'l'lIl" \X ljlll'\X!eber n~o chegou ;l prescnci;1L Par;1 \X/chcr, ;1;lsccnsao e10 lllundobascado na raz~o e na lei racional era um processo incontrolclvcl,mas para Mannheim ::rexpericl1cia do l1azismCl sigl1ificou a voltacia' irr;1cionalidade, ch c!esull1;1l1ichdc, da h;Hh~lric, S{) ndel11ocr:1cin poderia b:cr slIq;ir a 11iZnl) fim du tllllCI. P,lra dc,a sllperac;:~o das formas :1tr;~S:1d;lS e tr:1di'cionai~ de e~I~;cnc;:aopodia ser fonte de otimismo, se tratZlda a p;Htir cia vis~odemocratica que 0 mundo viu nasccr no segundo p6s-guerra,com a derrota do nazi-bscismo,

Est;lmos vi\'endo nU111;1cr;\ de pbnej;1Il1Cnltl - escre\'clI elc no tcxl:ocitado acim;l - destinad:l •• cncuntr;lr nov;l (urm;l de c':lClI'dena~'\ll.estamos vivendo num:l era em que ,IS (urC;;lsn;;t) .1(1 da tr;Kli<.;;'io,m;1S1;1ll1hcmdo i1uminisll1o, sc ,1c.liIllq., r;lI11, CSI;lIlHlS\'i\Tllllu Illll11;1era quc'1'assa do est;'igio do prec!oll1fnio d:1Seliles limit;ld;1s 1';ll'a a dCll1ocr;Kiade maSS;lS, CSt;lIl1US\'i\'endo nUIl1:1CI';Icuj;'ts forc;;lSn;-IllcontroLld"s1'rovocall1 a cksull1ani:;\~;;o c a desintegr;l~ao ,Ll !'ersun;llid;ldc,Final111cnte, a educa<.;:io ter{\ de SCI'concchid;l como Ulll;lnov;l (onlladc contmle social, que n:io c nCIl1" incule;1 du ("scisIl10nem;1 Cllll1!'!ct:lal1:lrquia de um~l!)olftica delerior;ld;l do Iili.\sc::.-fdirc,

A j ulg::rr pdos desdobramcntos do capitalislllCllllllndial, depoisde 1945 e ate os ,llloS 1970, Mannhcilll est,wa certa, A crisecapitalisw dos anos J 970, porCIll, provocOll 0 retorno da ideologi::rdo livre-Illercado, associ~1(1a a 1I111pcriudu de declinio d,llibcrd::rdc c chs esper;ln<:;,lS, no qu<d "ivClllos hojc. ;\rrisqlleillos<lgora conheccr llill pOlleo Illais sohre a cduca<:;,-\o 110 C!i;1Sque

correm,