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o presente texto busca, ainda que de forma prelim~ nar, questionar teoricamente alguns "preconceitos" que permeiam a prática do URBANISMO, do PLANEJAME~ TO URBANO e da ARQUITETURA, lastreados em larga me dida por um falso conceito do que seja a ORDEM e/ ou DESORDEM. Em vários ramos do conhecimento, tanto nas ciênci- as da natureza como nas ciências humanas, e até nas artes, a no~ão de ORDEM e DESORDEM subtende e vincula sempre outros conceitos do tipo: estruturado perfeito equilibrado organizado sistema estável harmônico desestruturado imperfeito desequilibrado desorganizado sistema instável desarmônico Assim como a ciência se dedicava a construir as leis que regem e explicam seus objetos de estudo , baseada no presuposto de que equilíbrio e estabili dade representavam ~ normalidade das coisas, tam bém durante muito tempo no campo das artes, das e~ genharias e da arquitetura, predominaram como basi lares de uma "BOA-ORDEM", os objetos criados bus * Arquiteto, Professor do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFga.

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  • o presente texto busca, ainda que de forma prelim~nar, questionar teoricamente alguns "preconceitos"que permeiam a prtica do URBANISMO, do PLANEJAME~TO URBANO e da ARQUITETURA, lastreados em larga medida por um falso conceito do que seja a ORDEM e/ou DESORDEM.

    Em vrios ramos do conhecimento, tanto nas cinci-as da natureza como nas cincias humanas, e atnas artes, a no~o de ORDEM e DESORDEM subtende evincula sempre outros conceitos do tipo:

    estruturadoperfeitoequilibradoorganizadosistema estvelharmnico

    desestruturadoimperfeitodesequilibradodesorganizadosistema instveldesarmnico

    Assim como a cincia se dedicava a construir asleis que regem e explicam seus objetos de estudo ,baseada no presuposto de que equilbrio e estabilidade representavam ~ normalidade das coisas, tambm durante muito tempo no campo das artes, das e~genharias e da arquitetura, predominaram como basilares de uma "BOA-ORDEM", os objetos criados bus

    * Arquiteto, Professor do Mestrado em Arquiteturae Urbanismo da FAUFga.

  • cando a "perfeio" atravs do equilbrio e da si-metria das formas, volumes, massas, cheios e vazios, cores, etc.

    A nedidaem que a fsica, a psicanlise, a astronomia, as artes, e outras formas de conhecimento, evoluem para mudar paradigmaticamente o eixo de suas acertivas e contribuies, no considerando maiscomo secundrio as irregularidades, os desequi-lbrios, os desvios, parece da maior importnciar~ver criticamente a situao do URBANISMO face problemtica conceitual que envolve o binmio ORDEM X DESORDEM.

    Desde um ponto de vista filosfico, a concepoclssica sempre trouxe implcita a noo de que 0BDEM implica numa determinada relao entre as paEteso Esta viso clssica, ontolgica, quando atrelada ao pensamento religioso de que as coisas foram criadas por Deus segundo forma, medida e ordem, implica em duas acertivas: primeira, de queordem equivale perfeio (criao divina) i seguE.da, uma subordinao do inferior ao superior, docriado ao criador.

    A viso acima tambm desdobrou-se em noes outrasonde a ordem equivale disposio das coisas deacordo com uma anterioridade e uma posterioridade,tendo por base um princpio. Assim, as coisas estariam ordenadas conforme princpios pr-determin~dos.

    As concepes mais modernas de ordem - com a evoluo da teoria do conhecimento - passam pela noode que a ordem reside nas coisas em s, enquanto

  • coisas conhecidas. Neste sentido a desordem pode-ria ser tomada como a negao de uma ordem, o queimplica na admisso de uma ordem contraposta.

    Esta desontologizao do conceito de ordem no sose contrape viso clssica que estabelecia umarelao entre a coisa real e sua idia, como abrea perspectiva de incorporar a dialtica no entendimento do que seria ordem e desordem, abandonando aviso determinista e idealista, de apoiar o enten-dimento da ordem das coisas em principios, com fOEte inspirao metafisica e em valores transcenden-tais.

    Explicar a ordem das coisas implica em submeter aquesto s formas de pensar a realidade, resultan-do em diferentes concepes de mundo. Sem preten-der esgotar todas as formas possiveis, mas guisade levantar hipteses, arrola-se, dentre outrosdois tipos de concepo de mundo, que aparecem hi~toricamente como fortes influenciadores dos urba -nistas e de suas noes de ordem e desordem urbana:o mecanicismo e o organicismo.

    o mecanicismo, oriundo dos estudos da mecnica (fisica), admite que certos fatos so susceptiveis deserem reduzidos a um sistema de determinaes mecanicas. Ai est implicita a noo de que todo tipode eguilibrio e movimento (como na mecnica) acon-tece obedecendo a uma lei causal. Veja-se que uma concepo de ordenamento do tipo clssico, dado que o movimento obedeceria assim, a principiospr-determinados. Descarta-se ai, o acaso, a aleatoriedade, os processos no deterministicos ou estocsticos, tipicos das cincias humanas. Assim, o

  • mecanicismo se ope, em certo sentido, ao organi-cismo, onde a estrutura de um "organismo" qualquerno equivale a urnamquina. As noes de funcionalidade e de totalidade, prprias dos organismosadmitem e incorporam outros conceitos no mecani -cistas e deterministas corno: espontaneidade e adaEtabilidade. O automovimento urna caracterstica,cornotambm o so: autoformao, autodiferencia -o, autolimitao, etc. so conceitos que se contrapem ao mecanicismo e conduzem sempre idiade irredutibilidade do orgnico ao no-orgnico.

    ~_importante salientar que tais conceitos teri -cos so tratados de forma muito diferenciada porvrios autores, e o que se pretende aqui, to s~mente urna sntese que permita ao leitor correlacionar as vertentes do urbanismo e algumas formas depensar a ordem e a desordem urbana.

    Estabelecida esta conceituao inicial, especial -mente no que concerne distinguir mecanicismo de 0Eganicismo - enquanto formas de pensar e perceber omundo - e importante atentar ainda para o carterde um artigo, muito mais exploratrio e provocati-vo, que um aprofundamento sistemtico do ponto devista filosfico e epistemolgico.

    Assim, importa avanar algumas co~sideraes prel!minares, sujeitas a contestaes de toda ordemq~to propriedade dos argumentos, mas arriscando estabelecer algumas pontes entre tais conceitos e odiscurso urbanstico.

    O que salta vista, corno se ver a seguir, a irnpropriedade conceitual terica e metodolgica de

  • algumas vertentes em que se apoiam urbanistas eplanejadores, que retomam, numa linguagem s vezestida como "moderna" e "atual", formas de pensarbastante antigas e em desacordo com a lgica domundo real. Dai, o sub-titulo ser: "Notas de umdiscurso vazio", sem dvida uma radicalizao pro-vocativa ao debate que se faz necessrio.

    Vale ressaltar que um discurso vazio pode at seexpressar de um modo forte, e sua forma, momentan~amente, se travestir de uma pseudo-verdade, mas,quando confrontado com outras formas de pensar, ogde os conceitos so trabalhados de formas mais consistentes, se desmancham em aparncias e falcias.De forma a iniciar um processo de discusso, cons~deraremos trs tipos de vertentes que correntemen-te se praticam no Brasil: a) o urbanismo progres -sista; b) o planejamento compreensivo ;c) c urba -nismo dos modelos (1).

    A expresso urbanismo progressista a mesma empr~gada por CHOAY (1976) (2), e no caso brasileiro est fortemente condicionada s idias de Le Corbusier (1935/46), cuja maior nfase recai na propostade NOVAS-CIDADES, ou trechos de cidades, em substituio s estruturas urbanas desordenadas.

    Por planejamento compreensivo, ou globalista, derivado do conceito ingls "comprehensive planning" ,entende-se aquele tipo de planejamento com nfasenos diagnsticos exaustivos da realidade, cuja origem remonta a obra de Patrick Geddes (1910/15) (3)

    J o urbanismo dos modelos seria aquele centradonas noes de sistema e estrutura urbana, desenvol

  • vidas a partir das contribuies de Lowry (1961)(4), Buchanam (1963) (5), Echenique (1968) (6)dentre outros.

    o que se passa ento no urbanismo e no planejamen-to quando se tenta ORDENAR as cidades?

    Como a prpria histria ensina, o URBANISMO surgecomo uma reao "DESORDEM URBANA", que se insta~rava na Europa com a revoluo industrial. Vem daia associao que via de regra se faz nas faculda -des de arquitetura, na imprensa, nos discursos p~liticos, de que, se continuar a DESORDEM instaladanas cidades, breve chegar-se- ao CAOS (7).

    Desordem e caos, so imagens largamente utilizadaspelos "progressistas", seja urbanista, politico ousimples cidado. Leia-se o que todos eles dizemdesde as pocas pioneiras do pr-urbanismo at opresente.

    Assim, o caos o pano de fundo e argumento maisforte que o discurso progressista encontra, parasimplificar toda a questo do que seria a supostaDESORDEM URBANA.

    Ao "progressista" nao interessa entender profunda-mente a DESORDEM, dai, no "perderem tempo" com e~tudos, diagnsticos, pesquisas, que lastreiem seusraciocinios e argumentos.Assim a busca da ORDENAAO URBANA, para resolver apseudo-desordem da cidade industrial, sequer considera as estruturas urbanas pr-existentes. A ques-to simplificada pela criao ou anncio de umaNOVA ORDEM, onde o progresso, dai vertente proqres

  • como um individuo-tipo, padro, desvinculado de qualquer conceito do tipo l~ta-de-classes, pauta-cultural, nivelde renda e consumo, etc. As contradi-es sociais inexistem, apenas seusefeitos.

    - A Razo - onde a "cincia", via racionalismo,peE.mitiria resolver todos os problemasque afligem o HOMEM e por extenso asociedade.

    - A Ordem - da anlise racional acima, baseada numHOMEM-TIPO, seria possivel encontrar aORDEM-TIPO, capaz de ser aplicada emqualquer tempo ou lugar. Logo, um modelo-ideal de cidade a meta princi -paI.

    ~ evidente que a CIDADE-IDEAL criada a partir dospresupostos acima tenha que, em primeiro lugardesconhecer, desconsiderar, abandonar a CIDADE-REAL em que se vive.

    So estruturas urbanas desenhadas perseguindo oideal da BOA-FORMA, da ORDEM, da REGULARIDADE, assim, da "Ville Radieuse" de Le Corbusier, concret.!.zada curiosamente, no em seu pais de origem, masno mundo subdesenvolvido - de Chandigard na ndiae de Brasilia no Brasil - fica sempre a perplexid~de de se desconsiderar completamente em tais exem-plos prticos, as estruturas urbanas pr-existen -tes, ou a sociedade em que esto inseridas.

  • Abandonar a DESORDEM o lema. Mas o que a desordem seno um outro tipo de ORDEM desconhecida?A viso apocaliptica do caos decorre, em grande ~te, desse equivoco de base.A racionalizao ai, nunca se d atravs do estu-do sistemtico da realidade execrada. A racionalizao do "progressista" se d pelageometrizaodas formas, padronizao dos elementos construti -vos (visando a industrializao), estandardizaodos espaos, etc. "A rua curva o caminho dos asnos, a rua reta o caminho dos homens", chegou avaticinar Le Corbusier (8), antecipando a ortogon~zao dos espaos corno "boa-forma".

    A classificao rigorosa dos locais para trabalha4estudar, recrear e circular, cria ao lado da geo-metrizao das formas equilibradas e simetricamen-te dispostas - aquela LOGICA FUNCIONAL imprescindivel NOVA-ORDEM. Como dizia Le Corbusier, "numadisposio simples que impressione os olhos e ossatisfaa".

    ~ um conceito de ORDEM que busca correspondnciaentre LOGICA-BELEZA-ORDEM, sequer respeitando asvariadas formas de percepo e apropriao poss!veis do espao pelos diferentes individuos e grupos sociais (9).

    Assim, as favelas, os subrbios, os centros deca -dentes, representam a DESORDEM, e outros lugaresda ordem-tradicional das cidades, como as ruas eas praas, so eliminados, porque de certa formapermitem a "baguna" no seu uso cotidiano.

  • io do pedestre, e isto pode ser visto na ordena-o de Brasilia, do Centro Administrativo da Bahia-CAB, do Centro Industrial de Aratu, etc.

    Nesta lgica de ordenar cada coisa no seu lugar, oque prevalece a "casa cornomquina de morar", a"fbrica corno lugar de trabalhar", a "via corno lugar do carro circular", etc., tudo muito "moderno"e "ordenado" para o progresso-da-homem numa cida-de, ou trecho desta, menos de viver, e mais de ve~enfim, que "impressione os olhos e os satisfaa"Sem dvida, urnaviso mecanicista de mundo.

    O-espaa-progressista expresso com preciso geo-mtrica e de detalhes, eliminando variantes, poss~bilidades de adaptaes, expanses futuras, pois ,tudo que no foi previsto acaba se transformandonum acessrio, ou complemento esdrxulo, dispens-vel.Vide os exemplos dos "anexos" ministeriais em Bra-silia, e da Assemblia Legislativa da Bahia, oumesmo ampliaes de qualquer natureza no previs -tas no desenho das cidades do URBANISMO PROGRESSISTA. ~ corno se a realidade proposta fosse imutve~e as necessidades no fossem dinmicas. ~ urna noo de ORDEM, mecnica, inflexivel, tecnolgica(10) Ai a criatura subjugada pelo criador, daforma mais ditatorial possivel.

    A nica saida ser sempre tombar tais monumentos ,de modo a congel-Ias em seus prprios designios ,ou deixar que a suposta DESORDEM, relegada a planosecundrio em suas formulaces, reordene-as paraabsorver o dinamismo da vida?

  • Um outro conceit.o de ORDEM/DESORDEM, parece ser oderivado da vertente do "comprehensive planning",formulado possivelmente a partir das teses do Pa-trick Geddes.

    A nfase no diagnstico exaustivo da realidadepressupe: primeiro conhecer a DESORDEM, depoisplanej-Ia, ordenadamente.

    Tomando emprestado o conceito evolucionista das espcies, enfim Geddes era bilogo, as cidades soentendidas como evolutivas, assim possuem histri~passado-presente-futuro. Os conceitos de ORDEM eDESORDEM no so antagnicos como na viso progre~sista, onde a regra era abandonar e substituir aDESORDEM existente pela NOVA ORDEM.Esta nfase no "diagnstico", expresso derivadada medicina, presupe um conhecimento global e ampIo da realidade. Dai, para conhecer a DESORDEMem sua complexidade se requer a interdisciplinari~dade: histria, arquitetura, sociologia, economia,geologia, geografia, etc., contribuindo para a viso "orgnica" do todo e suas partes.

    Entretanto, como o todo no a soma das partesnem a decomposio da cidade em seus aspectos fis~cos, sociais, econmicos, politicos, suficientepara integrar a quantidade de informaes passveisde serem coletadas, avolumam-se dificuldades deoutra natureza para se reordenar o futuro de modo"orgnico" e "natural".

    A primeira de natureza epistemolgica, algunsramos do conhecimento esto forosamente mais de -senvolvidos que outros, e suas interfaces , rebati

  • mentos e troca de insumos nem sempre podem estarbem articulados, demandando tempo e recursos materiais, que no tempo politico-administrativo deelaborao dos planos nunca se consegue.

    A segunda de natureza metodolgica, pois necessariamente uma boa proposta nem sempre decorre domelhor diagnstico. O mesmo diagnstico no sose presta a diferentes reflexes por diferentes pe~soas ou grupos sociais, como a criao da NOVA-OBDEM no deriva univocamente da VELHA-ORDEM.A falta de clareza na tal articl~ ucorgnica"das partes social, econmica, politica, fisica, dodiagnstico, e as dificuldades de explicitao entre resultados de diagnsticos e prognsticos verSllS as propostas de ORDENAMENTO FUTURO, so pontoscruciais do planejamento compreensivo.

    Conhecer a totalidade da DESORDEM, ou da ORDEM, implicita a mesma, aliada a uma viso histrica doprocesso de formao das cidades, tem sido a con -tribuio do planejamento compreensivo. Contradit~rio ser responsvel ao mesmo tempo, pela sua fragilidade terico-metodolgica na prtica.

    As dificuldades de apreender esta globalidade, pa~sa pelo estgio de acumulao do conhecimento emcada disciplina, conflitando ainda com os proces -sos politicos, mormente no Brasill estruturadosnOem funo da racionalizao, da clareza ou objeti-vidade do que se quer ordenar, mas no pragmatismoprprio do modo de produo capitalista, aliado auma "cultura urbana", destituida de memria e devalores voltados para aes de cunho globalisantemais estruturais.

  • Para articular as partes comum o planejador "compreensivo" apelar para comparao da cidade com os"organismos vivos". Facilita "entender" a comple-xidade e remete a DESORDEM ao plano das "enfermidades" porque passa a cidade, aviando receitas paraos efeitos, j que as causas estruturais no soobjeto de interveno do urbanismo e/ou planejame~to.

    As razes de "ORDEM HIGIt:NICA", de "ORDEM DE SEGU-RANA" e de "ORDEM SOCIAL" permeiam as justificat.!vas dos planos. O "tecido urJ:ano necrosado" oraestirpado (relocalizao de favelas p. ex.), orarevitalizado (reurbanizao), ou simplesmente, "zoneado" como "reas especiais", porquanto so desv.!os da normalidade, da ORDEM, para "tratamentos" cuja "medicao" nunca se vislumbra qual .Assim, o futuro (ordenado) pelo simples fato de estar atrelado - quando est - a anlises consisten-tes do passado, e do presente, no possue clarezasuficiente de como se chegar l.Como a cidade nao e o "organismo vivo" que o homem, os remdios para artrias (vias) entupidaspara o corao (centro) enfartado, para os "pul-mes" (reas verdes), para as clulas habitacio-nais e os tecidos necrosados (reas decadentes),en-fim, para qualquer rgo debilitado, nada mais soque paliativos ou falcias de um discurso vazio.

    A ORDEM da cidade, por certo, no encontra qualquercorrespondncia com a ORDEM dos organismos ou seres vivos, dai expresses como as "cidades nascem,crescem e morrem", em nada ajudam real compreen-so para a interveno, no mximo reforam retori-

  • camente as frase de efeito de um organicismo asavessas.

    J a vertente dos modelos, em parte procura supriralgumas deficincias dos procedimentos dos "pro-gressistas" e "compreensivos".De certa forma, procura aliar alguns pressupostosda Teoria Geral dos Sistemas, elaborados a partirde Von Bertalanffy (1940/46) (11), constataoempirica de que impossivel conhecer/intervir natotalidade das partes.

    Tomando a noo de sistema como uma tentativa deentender a articulao das partes da cidade, o eixo da contribuio dos mOQelos outro, pois busca simular a ORDENAAo da estrutura espacial interna do SISTEMA URBANO, de modo a explicitar seu desempenho e funcionamento.

    A simulao se baseia num pressuposto empiricamen-te constatado de que, a localizao das atividades no espao urbano gera fluxos de pessoas nosentido de alcanar/consumir os bens e serviosdisponiveis, bem como no sentido de trabalhar. Assim, a localizao e distribuio das atividades ~conmicas, responsveis pela localizao do empre-go, atraem pessoas das reas residenciais. Por outro lado, nestas reas residenciais no s se localizam servios que atraem os moradores prximoscomo os centros, subcentros e "corredores" de ati-vidades (tercirias e/ou secundrias) atraem oscompradores/consumidores no s da cidade, comoat de outras regies (o caso das capitais e cida-des polarizadoras de regies, p. ex.). Ai estari-

  • am assentados os principios da lgica de funciona-mento do sistema urbano.Entretanto, como informatizar todos os dados deuso do solo, Qe emprego, de renda, de servios einfraestrutura viria dos transportes, necessrios projees e simulao do futuro?

    Via de regra recorre-se aos chamados MODELOS GRAVITACIONAIS derivados, segundo os "sistmicos", node uma analogia do tipo que os planejadores compr~ensivos faziam e fazem com a biologia (cidade = organismo vivo), mas de um ISOMORFISMO.

    Na viso do Bertalanffy, a teoria geral dos siste-mas, uma teoria que busca entender e explicar ossistemas, independente de onde eles se encontrem Pode ser o estudo do sistema solar, pode ser o es-tudo do sistema biolgico do homem, pode ser o estudo dos sistemas sociais, polticos, etc. Da sechega noo de SISTEMA URBANO, que, como todosistema, um conjunto articulado de componentes(partes), onde importa entender e representar a e~trutura de funcionamento do mesmo numa unidadesignificativa.Um outro aspecto, aliado a esta lgica, queum sistema sempre um sub-sistema de outro siste-ma, assim, uma cidade ou qualquer objeto de estud~pode a um s tampo ser visto como um sistema em sivinculado a outros sistemas (outras cidades, reg!o, pais, etc.), como pode ser decomposto em ou,tros sub-sistemas (educao, sade, transporte, ha

  • Entretanto, para operar a lgica de funcionamentode uma cidade, baseada no pressuposto de que asATIVIDADES distribudas espacialmente comandam osFLUXOS, - representados pelas viagens das pessoas-a simulao requer quantificaes s possveis deserem feitas atravs de uma modelaomatemtica,e douso do cenputadorpara pro
  • temas) SERIA A DE RECONHECE-LOS, ESTUD-LOS E UTILIZ-LOS EM SUAS FORMULAOES DE MODO A ENTENDER AORDEM DAS COISAS (11).

    Est claro, desde o incio, que no se pretende,neste artigo, aprofundar todas as questes implic!tas nos pontos levantados quanto s formas dispon!veis de ver e planejar o ordenamento das cidades ,na tica da Teoria Geral dos Sistemas (12).Mas nao pode passar desapercebi~o que as prticas correntes derivam, em sua maioria, de fundamen -tos muito precrios, sobretudo no seu ambasamentoterico-metodolgico.

    Sintetizando, para o PROGRESSISTA, o que conta no a ordem vigente, mas uma NOVA ORDEM, a qualquercusto e sacrifcio social - vem da que as idiasprogressistas florescem muito quando articuladashistoricamente a uma concepo do Estado onde oautoritarismo a tnica. E preciso uma forte dose de interveno do Estado para se impor saciedade uma nova ordem, criada, no a partir do corposocial e suas foras, mas do urbanista, e ungidapelos polticos sequiosos de manterem a sociedadeem expectativa por UM FUTURO SEMPRE A ALCANAR, onde o passado um peso a ser descartado (13).Para o planejador COMPREENSIVO (globalista) fica aperplexidade de uma ORDEM NOVA, que deveria reco -nhecer e alterar as condies anteriores de desor-dem. Porm, como faz-la acontecer, se a totalidade impossvel de ser reconhecida? E mesmo quetal empreitada fosse vivel, caberia ao planejadoralterar as variveis estruturais que comandam o

  • processo de desenvolvimento das cidades? Logo, umreordenamento de fato, implicaria em outras tantasintervenes racionais nos processos polticos-ec~nmicos e sociais, que no ccrrpeteao planejarrento faz-los.Ou CCfll:lete?Para o urbanistaque c::p:rraMJDEIDSde uso-do-soloe tranSPOEtes tp. ex.) fica a indagao:o que a ORIEM URBANAtem decorrespcndnciacem a ORDEMNO UNIVERSO,ou parte deste?

    A natureza dos objetos de estuco parece mais distante que a aproximao forada do conceito de ISOloDRFISIDdo de ANALOGIA, o que na cincia,inl'licaserrpreemreduzir um campo de conhecimento a outro, na ~s-sibilidadeccncretade explic-lopor seus prq,rios meios.Chamar a cidade de "organismo vivo" soa igual a d!.zer que ela obedece "gravitao" no seu funcionamento. Ou no?

    Isto posto, fica a indagao: como ORDENAR A DESORDEM URBANA, se o corpo terico-metodolgico dos uEbanistas e planejadores tem sempre tomado emprest~do de outras esferas do conhecimento, os pressupo~tos que dariam "cientificidade" s intervenes pr~tendidas? No interesse de QUEM, e para QUE, se ordenam as cidades?

    Em qualquer caso, preciso considerar que os problemas da ORDEM e da DESORDEM passam pelo campo da"dialtica" entre as unidades e a estrutura global.No caso das cidades, as mesmas se ordenam em funo de uma "estrutura global", vinculada ao modode produo, forma de organizao do Estado, esuas relaes intrnsecas, com o processo de acum~lao do capital, reproduo da fora de trabalho,etc.

  • Da, querer entend-Ias e ORDEN-LAS, nao luz dacorreta interpretao social e econmica do capit~lismo, mas moda da GEOMETRIA + TECNOLOGIA, ou daBIOLOGIA + MEDICINA ou da ASTRONOMIA + FSICA, pa-rece no mnimo uma insensatez. Urnagrande falciaque precisa ir sendo desvendada para urnamelhor a-proximao ao objeto de estudo em sua concretude ,e no em suas aparncias.

    A questo de incio sintetizada conceitualmentedesde um ponto de vista filosfico, levantando ahiptese de que dois tipos de concepo de mundoparecem influenciar mais de perto as noes deORDEM X DESORDEM dos urbanistas: o mecanicismo eo organicismo.

    Tais concepes, quando rebatidas s vertentes do:a) urbanismo progressista; b) planejamento compr~ensivo; c) urbanismo dos modelos; produzem incon-sistncias terico-metodolgicas, cuja origem sebaseia em preconceitos e no em conceitos inquest!onveis, cientificamente falando.

    1) Outras vertentes no esto aqui arroladas poruma questo de espao. Entretanto, bom res -saltar que a vertente "incrementalista", na experincia do planejamento urbano no Brasil, vemsendo muito utilizada nos ltimos anos, assimcorno, nos meios acadmicos, fala-se na alternat!va de uma vertente "est.ruturalista", alm de outras denominaes corno "planejamento estratgi-

  • 2) CHOAY, F., El Urbanismo: Utopias y Realidades.Barcelona, Lumen, 1970.

    3) GEDDES, Patrick, Cities in Evolution. Londres,William and Norgate, 1915.

    4) LOWRY. I.S., A Model of Metropolis. California,Rand Corporation, 1964.

    5) BUCHANAM, C., Traffic in Tow'ns, in BuchanamReport, HMSO, 1963.

    6) ECHENIQUE, M., Models: A Discussion, LUBFS ,Working Paper n9 6, 196B;e Development of Mo-dei of Town, LUBFS, Working Paper n9 26, 1969.

    7) A expresso "caos urbano" j est incorporadaao domnio comum, e sua associao a fenmenosdecorrentes de irregularidades climticas, inv~ses de terras pelos favelados, violncia urba-na, assaltos, trnsito congestionado, etc., peEmeiam os manchetes da imprensa cotidianamente.

    9) Vide RAPOPORT, Amos, Aspectos Humanos de iaForma Urbana, Barcelona, G.GILLI, 1978.

    10) A crtica feita por Christopher Alexander emsuas obras, arquitetura e ao urbanismo modernos, bastante convincente, quanto a tal rigidez.Ver p. ex.: Urbanismo y Participacin, Barcelo-na, Gustavo Gilli, 1976.