22
NOTAS SOBRE O PROCESSO RECENTE DE DR BANIZACAO/METROPOLIZAçAO NO ESTADO DA BARIA * Na tentativa de e~plicar o dinamismo do recente processo de urbanizayão/metropolizayão na Bahia , mais especificamente a partir de 1940, adotamos como critério inicial, dois conjuntos espaciais, um referente ao Estado da Bahia como um todo e ou- tro destacando a Região Metropolitana de Salvador que serão vistos em dois planos de análise, um ex terno à região e outro interno. Evidentemente reconhecemos as importantes interações entre as dimensões espaciais e os niveis analiticos. Os cortes esquemáticos visam apenas resumir, de for- ma lógica, os principais componentes do processo de urbanização/metropolização no Estado da Bahia. A Tabela 1 destaca, em termos abrangentes, os principais elementos responsáveis pelo dinamismo do processo de urbanização/metropolizayão no Esta do da Bahia. * Comunicação apresentada ao 11 Encontro Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Ur- bano e Regional, realizada em T~esópolis, RJ, em novembro de 1987. ** Professor do Departamento de Geog~afia eg9 Mes trado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBa.

3011-7088-2-PB

Embed Size (px)

DESCRIPTION

3011-7088-2-PB

Citation preview

  • NOTAS SOBRE O PROCESSO RECENTE DE DRBANIZACAO/METROPOLIZAAO NO ESTADO

    DA BARIA *

    Na tentativa de e~plicar o dinamismo do recenteprocesso de urbanizayo/metropolizayo na Bahia ,mais especificamente a partir de 1940, adotamoscomo critrio inicial, dois conjuntos espaciais,um referente ao Estado da Bahia como um todo e ou-tro destacando a Regio Metropolitana de Salvadorque sero vistos em dois planos de anlise, um externo regio e outro interno. Evidentementereconhecemos as importantes interaes entre asdimenses espaciais e os niveis analiticos. Oscortes esquemticos visam apenas resumir, de for-ma lgica, os principais componentes do processode urbanizao/metropolizao no Estado da Bahia.

    A Tabela 1 destaca, em termos abrangentes, osprincipais elementos responsveis pelo dinamismodo processo de urbanizao/metropolizayo no Estado da Bahia.

    * Comunicao apresentada ao 11 Encontro Nacionalde Ps-graduao e Pesquisa em Planejamento Ur-bano e Regional, realizada em T~espolis, RJ,em novembro de 1987.

    ** Professor do Departamento de Geog~afia eg9 Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBa.

  • ELEMENTOS COMPONENTES DA DINMICA DA URBANIZAO/METROPOLIZAONO ESTADO DA BAHIA

    PLANOS ANALTICOS~. "'".. ..... '-'v>J PI.ANO (,Xl'1',RNO

    ~!~_E~~_~__,~(DIMENSES) ESPACIAIS

    Nivel Estariual mudanasna estrutura eno relacionamento daeconania nacional emumcontexto internacional.

    mudanasno sistema detransporte a nivel n~cional, em termos de estrutura emrede.

    mudanasno papel exercido pelas cidades, emtermos sistmicos.

    necessidade de uma desconcentrao da econ~mia nacional exigiQdounvigoroso papel do setorpblico emdeterminadasareas.

    necessidade de integr~o da econania naci~nal exigindo una adequ~o do sistema de tr~portes e ccmmicCiesemregies especificas.

    mudanas no relacion~mento da econania estadual e de sua estruturaeconmica

    expanso e retrao deeconanias sub-regionaise urbanas.

    mudanasnas funes urbanas.

    dinamismodas atividades econmicas metropolitanas, sobretudo industriais.

    reorganizao de reasurbanas e implantaode novos eixos de exp~so metropolitana.

  • Tendo o Estado da Bahia como um todo, destaca-se ,preliminarmente, a induo externa, de carter nacional, como sendo a principal responsvel pelaevoluo recente do processo de urbanizao/metro-polizao. Com efeito, a economia nacional nos ltimos cinquenta anos, relacionada a um contexto i~ternacional, ora adverso ora favorvel, experimen-tou uma significativa transformao estrutural,pa~sando progressivamente de um estgio primrio - e~portador para um estgio de carter urbano-indus -trial, o que levou a integrar as economias region~is outrora mais autnomas e atreladas tradicional-mente aos mercados externos.

    Este processo de mudana, fortemente conduzido p~10 Estado, beneficiou, inicialmente, a regio Su-deste, particularmente so Paulo, onde foram maisrpidas as transformaes estruturais da economiarepercurtindo em uma reorganizao do espao prod~tivo com um intenso mecanismo de metropolizao.A conformao de uma regio central de carter nacional requeria uma rpida integrao do mercadonacional, estabelecendo um conjunto de relaes dotipo centro-periferia de que passou a fazr parteo Estado da Bahia. A este processo de mudana esteve vinculada uma vigorosa politica de transpor -tes beneficiando sobretudo as rodovias j que asmesmas estavam associadas implantao e ao rpi-do crescimento da indstria automobilistica. Comoexemplo, a rede rodoviria do Estado da Bahia, segundo dados dos Anurios Estatisticos do Brasil(IEGE), passou de 11.739 km em 1937 para 133.953km,

  • em 1986, dos quais 9.946 km so asfaltados. Tamb~segundo esta mesma fonte, a relao habitantes/ve!culo registrado no Estado da Bahia passou de 783,0em 1940 ~ara 31,6 em 1985. Todos estes complexosmecanismos de mudana, envolvendo um considervelnmero de elementos, causaram substanciais altera-es no papel exercido pelas cidades que, em termos gerais, passaram progressivamente de centrosl~cais e/ou regionais, sem uma expressiva interdepe~dncia, a no ser com as metrpoles regionais, pa-ra centros com uma variada hierarquia funcionalmelhor equipados, e com um forte interrelacionamento abrangendo uma grande dimenso espacial, ou' seja, o espao nacional. Assim, pouco a pouco podese falar em um sistema urbano nacional, integrandovrios subsistemas como, por exemplo, o da Bahia.

    Estas mudanas, definidas como sendo de carter nacional, tiveram, portanto, uma repercusso direta,no plano interno, ou seja, a nivel do Estado da Bahia como um todo. Para a consolidao de uma regi-o com caracteristicas urbano-industriais predomi-nantes, o Sudeste brasileiro, foi necessrio impl~mentar a unificao do mercado nacional como um todo, para escoamento dos produtos industrializadose integrao dos setores produtivos, sobretudo a-travs da produo de insumos nas reas perifri -caso Assim, tambm ocorreu na Bahia o grande cre~cimento do setor industrial, superando o da agrop~curia, na composio do PIB estadual, na dcadade 70. A progressiva integrao da economia bras!leira causou, por outro lado, a partir de meadosda ltima dcada, uma expressiva superioridade das

  • transaes internas (com o resto do Pas) sobre asexternas (com o resto do mundo) , o que significou,concomitantemente, a introduo de importantes mudanas no sistema urbano-regional. 1

    Por outro lado, as relaes comerciais da Bahiacom o resto do Brasil, inclusive com so Paul~tmsido superavitrias nos ltimos anos, graas importncia e natureza do processo recente da industrializao baiana, destacadamente concentradona oferta de insumos industriais. Como este pr~gressivo relacionamento foi efetivado sobretudo a-travs do sistema rodovirio, com grandes eixos p~vimentados N-S e L-W, algumas economias sub-regi~nais com vrios centros foram bastante beneficia-das na Bahia enquanto outras reas mais iSOladas ,com suas respectivas cidades, entraram em crise.2As vantagens para determinados espaos foram prin-cipalmente de duas ordens, uma referente aos est-mulos que passaram a .ser oferecidos aos setores ~dutivos (ampliao de mercados, diversificao deatividades com o aproveitamento de novos recursos,etc.) e outra relacionada com o crescimento da vida de relaes. Em ambos os casos, destaca-se opapel dirigente das cidades, conduzindo o processode mudanas econmicas e a vida de relaes intere intra-regionais. As desvantagens para as reasque ficaram margem deste processo tambm seguem,em geral, a mesma lgica mas ao inverso, com a fa!ta de estmulo para as atividades produtivas, sup~radas na concorrncia com outras reas e, por conseguinte, com fraca vida de relaes, afetando, negativamente, o crescimento urbano.

  • A titulo de exemplo, as reas de Salvador, Feirade Santana, Vitria da Conquista, Ilhus-Itabuna ,Eunpolis-Itamaraju, Irec e Barreiras representammuito bem o primeiro caso enquanto as zonas da C~pada Diamantina Meridional, o Nordeste do Estado ealgumas reas do Recncavo, alm de vrias sub-reas e municipios diversos, expressam sintomas decrise urbano-regional, com estagnao ou decrsci-mo de suas populaes urbanas e mesmo rurais, emdeterminados casos.

    A simples menyo das cidades e reas mais ou menosdinmicas destaca a importncia de suas localiza -yes ao longo dos grandes eixos de circulayo decarter nacional, resultando no crescimento de economias sub-regionais e o peso das localizaes intersticiais, com certo isolamento, causando deses-timulo s atividades produtivas. As grandes viasde integrao nacional beneficiando sub-regies ecidades aparecem como as mais importantes e aolongo destas vias que se localizam, em geral, aslocalidades com maiores itidices de crescimento(Feira de Santana, Vitria da Conquista, Itabuna, Eun~polis, Itamaraju, Barreiras, etc.). O~ espaos"vazios" e os trechos com pequenos fluxos corres -pondem s reas mais fracamente urbanizadas no Es-tado e com pequeno dinamismo. A Malha rodoviriaest, evidentemente, associada ao crescimento devrias atividades economicas em diferentes espaoscomo, por exemplo, a expanso da fronteira agrico-Ia nas reas de Irec (cereais), Extremo Sul (e~plorao florestal e pecuria), Oeste (cereais epecuria), Vitria da Conquista (pecuria e caf)

  • e Chapada Diamantina Central(caf) Outras reasmais tradicionais tiveram suas economias regionaise urbanas submetidas a um intenso processo de mu -danas como, por exemplo, nas reas de Valena (d~senvolvimento de uma policultura) e Feira de Santana (intensificao da pecuria, industrializao ecrescimento dos servios). Com isto, ocorreu pr2gressivamente na Bahia um novo arranjo econmico -espacial com reas dinmicas ao longo de eixos quesurgem quase como corredores de crescimento econ-mico urbano-regional e com reas declinantes ou e~tagnadas correspondente a espaos com menor acesslbilidade e com crises nas atividades produtivas ~~duo do setor agricola, como em reas marginaisdo velho Recncavo e exausto dos recursos nnatu-rais, como em Andarai, Lenis e Mucug

    significado para a Regio Metropolitana de Salvador a ponto de se poder afirmar que esta area e,sem dvida alguma, a que melhor expressa as trans-formaes j mencionadas. Com efeito, esta regio o principal locus do processo recente de indus -trializao estadual, setor responsvel pelas mudanas estruturais da economia baiana e pelo redi-recionamento de suas relaes. Evidentemente, isto tambm demandou uma re-estruturao nos trans -portes visando melhor integrar esta rea aos sist~mas regionais e nacionais em expanso. A duplica-.o da rodovia Salvador-Feira, a construo do pOEto de Aratu, a implantao do Ferry-Boat e a edificao do novo aeroporto so exemplos que confirmam

  • esta constatao. Com tudo isto, Salvador teve alterado seu papel tradicional de centro de cartercomercial e de outros servios, elo entre o mundosubdesenvolvido, para uma outra funo em que a r~gio de Salvador passa a somar a tudo isto a ativ!dade e centro industrial de carter nacional,con~tituindo-se em um dinmico centro de negcios bastante vinculado aos interesses ~ economia brasi -leira.Vale a pena transcrever aqui uma definio de Salvador feita por Milton Santos em 1959 e que retratabem sua funo antes das grandes transformaes queiriam ocorrer nas dcadas posteriores: "... Salva-dor uma criao da economia especulativa, a metrpole de uma economia agricola antiga que aindahoje subsiste ;p,laconserva as funes que lhe deram um papel regional, e embora penetrada pelas novas formas de vida, devidos sua participao aosmodos de vida do mundo industrial, mostra, ainda ,na paisagem aspectos materiais de outros periodos"~Com o crescimento das atividades da PETROBRS naarea, com a CHESF, o BNB, a SUDENE, o crA e o COPEC, alm de outros elementos de transformao, esta posio tradicional substancialmente alteradanas dcadas seguintes no sentido de que a economiaurbana de Salvador adquire maior importncia e dinamismo, em termos nacionais. somente a partirdai que se pode substituir a tradicional expresSo"mtropole regional" pelo uso do conceito modernode "regio metropolitana" inserida em um amplo sistema urbano-regional de carter nacional.Com a rea tradicional de influncia de Salvadorocorreram ta~eim mudanas np sentido de que houve

  • perda de parte de suas caracteristicas de interme-diao j que, com a integrao do mercado nacio -nal dos transportes e das comunicaes, muitastransaes passaram a ser diretamente feitas entreos centros consumidores e os centros produtoresMas Salvador passou a oferecer, em contrapartida ,novos bens e servios, alguns desses ltimos de nivel bem elevado, sua regio de influncia.

    so grandes, portanto, os mecanismos de interaoentre os planos externos e internos, a nivel esta-dual envolvendo a Regio Metropolitana de Salvador.

    Em termos de destaque, tentamos mostrar alguns el~mentos externos atuando e repercutindo na RegioMetropolitana de Salvador. Neste nivel, as mudan-as na economia nacional passaram a demandar umasubstancial desconcentrao econmica com um fortepapel do Governo (Federal e Estadual). Com efeit~a partir dai o modelo de desenvolvimento econmicoimplementado no Pais desde os anos 50 se aproximamuito, em termos espaciais, do tipo "desconcentra-o concentrada" proposto por Rodwin~ em que a estrutura centro-periferia reduzida graas ao papel de centros regionais dinmicos. Este modelo,teoricamente, tentaria promover um equilibrio entre os principios de eficincia e equidade espaci-ais, ou seja, por falta de uma racionalidade econmica que justifique uma ampla descentralizao,pr~cede-se a uma desconcentrao parcial com certograu de hierarquizao. Salvador, com sua regioimediata, se encaixa bem neste modelo, razo pelaqual ocorreu, no plano intra-regional, um grandedinamismo das atividades econmicas, sobretudo in

  • dustriais. A ao do Setor Pblico, direcionandoa rea empresarial, foi decisiva em termos econmico-financeiros, atravs de diversos mecanismos, efisicos, com a preparao de grandes reas indus -triais infra-estruturadas e com a melhoria relati-va da infra-estrutura da prpria cidade do Salva -dor. Com o crescimento do setor industrial, sobr~tudo a partir da implantao do Plo Petroquimicode Camaari, cresceram bastante as atividades comerciais e de outros servios na regio, particularmente em Salvador. ~ preciso tambm mencionarque o desenvolvimento recente da Reg~o Metropoli-tana de Salvador (e de vrias outras reas do Estado) igualmente se beneficiou, em termos comparati-vos com outras regies do Nordeste, das menoresdistncias com o Sudeste.

    Esta desconcentrao, mesmo que parcial, passou aexigir uma correspondente adequao do sistema detransporte e comunicaes o que, a nivel interno ,determinou a reorganizaco de reas urbanas e o direcionamento de novos eixos de expanso urbana emetropolitana (avenidas de vale, Avenida Paralela,Avenida Suburbana, via Parafuso, Estrada do Cco ,ampliao dos telefones, etc.). Ao lado da j de~tacada expanso dos transportes e comunicaes, ho~ve tambm a melhoria de outros setores da infra-e~trutura urbana, notadamente gua e energia, naoobstante o reconhecimento da persistncia de gr~ves carncias nestas reas e em outras, como ocor-re mais significativamente no esgotamento sanit -rio.

  • quncia, uma grande expanso das reas resienci -ais, sobretudo nas zonas perifricas, com destaquepara as enormes reas de invaso, e o desdobramen-to e a decadncia do congestionado centro da cidade do Salvador, ampliando-se os demais sub-centrosque j estavam em formao (Calada, Liberdade, S~te Portas, Barra) e criando praticamente um novo"centro de negcios" na rea da Pituba - Vale doCamurujipe. Com as novas reas industriais concentradas no CIA (rodovia BR-324) e no COPEC (Camaa-ri), a vrias dezenas de quilmetros da metrpole,no puderam ainda servir de residncia para os op~rar~os e tcnicos, implantou-se um intenso fluxopendular residncia-trabalho.S

    Assiln, de maneira abrangente, este processo de de~concentrao relativa da moderna economia brasile!ra foi fundamental tambm para que Salvador passasse efetivamente a agir como um tipo de plo decrescimento, na linguagem de perroux~ ou seja, comuma economia urbana dinmica, com certa especiali-zao, integrao e capacidade de gerar adaptaesmudanas e crescimento. Esta insero de Salvado~nas modernas formas assumidas pelo capitalismo br~sileiro fez com que ela passasse a ter a posiode maior destaque no Nordeste do Pais e uma rele -vante funo do conjunto do sistema metropolitanonacional.

    3. AVALIAAO CONJUNTA DA URBANIZAAO/METROPOLIZA-Ao

    O processo de difuso da urbanizao concomitanteao da metropolizao foi acentuado nas ltimas d

  • cadas na Bahia graas a uma forte induo externacombinada com fatores internos favorveis ao crescimento. ~ surpreendente observar, como j desta-caram Geiger e Davidovich? que a industrializaodo Sudeste, resultando em Ulna enorme concentraoespacial do crescimento e no incremento das dispa-ridades regionais. foi quem obrigou o governo central a se envolver cada vez mais com o desenvolvi-mento econmico regional, sobretudo a partir de1956, ou seja, no incio da chamada fase "desenvolvimentista" da economia nacional. Com isto, o Estado brasileiro procurava, de certa forma, compensar as regies perifricas pelos privilgios atento majoritariamente atribuidos ao Sudeste, emtermos de alocao de grandes investi~entos pbli-Cos e de poltica econmica (Cia. Siderrgica Nac!onal, Vale do Rio Doce, Fbrica Nacional de Moto -res, Cia. Nacional de Alcalis, infraestruturas, p~ltica cambial, etc.)

    Por outro lado, tambm surpreendente que a difuso da urbanizao tenha ocorrido na Bahia pelo m~nos com igual intensidade que o processo de metro-polizao, conforme tivemos a oportunidade de me -dir. Com efeito, no modelo altamente centralizadode nossas estruturas poltico-administrativas, ec~nmicas, sociais e culturais, seria mais lgicouma ainda mais forte metropolizao. Entendemosque o crescimento urbano-regional no interior doEstado ocorreu sobretudo eM funyo da forma comose desenvolveu a penetrao do capital nessas reas diretamente relacionadas ao centro dinmico damoderna economia brasileira atravs de um novo sis

  • tema de transportes e comunicaes. Este relacio-namento se deu, portanto, por meio de eixos prioritrios envolvendo diferentes reas, inicialmentesem grande integrao entre si.8 A Regio Metropo-litana de Salvador deve ser colocada tambm nesteesquema, com a observao de que, com a "abertura"do interior, Salvador v reduzido em parte seu tr~dicional papel de centro regional mas agrega novasatividades econmicas responsveis pelo seu dina -mismo em termos nacionais.Portanto, a integrao do mercado nacional oprincipal fator responsvel pelo dinamismo dos pr~cessos recentes de difuso da urbanizao e de metropolizao. Pode-se dizer tambm que graas aoforte predominio da induo externa, os dois prccessos, urbanizao no interior e metropolizaoem torno da Capital, tm uma integrao ainda fra-ca at nossos dias.

    Neste sentido, bre-se um enorme leque de possibi-lidades de interao entre os dois processos, conduzido por um eficiente e aberto sistema de plane-jamento, no sentido de se projetar, de forma inov~dora, um sistema urbano-regional dinamicamente ar-ticulado, capaz de maximizar caca vez mais os ben~ficios de suas relaes externas e de internaliz-los atravs do incremento das relaes internSem busca de um desenvolvimento mais eficiente, bemsustentado e justo. S assim se poderia falar efetivamente em uma relao positiva entre urbaniza -o/metropolizao e desenvolvimento econmico-s~cial amplamente difundido. Para tanto, precisoreconhecer o potencial j representado pelo atual

  • estgio db sistema urbano baiano mas tambm os seusus aspectos criticos. Assim, com a difuso da urbanizao e com a metropolizao, poderiam ser destacados os seguintes aspectos positivos:

    (a) emergncia de ~a metrpole com tamanho e dinamismo capaz de atuar mais efetivamente comocentro propulsor da economia regional atravs de:

    economias de escala e de aglomerao,importante rea de mercado para produtos re-gionais,

    pesquisa - desenvolvimento e difuso de ino-vaes,atividades comerciais, de transporte e comu-nicaes,prestao de outros servios de alto nivelo

    (b) emergncia de Uma rede de cidades no interiorcapaz de atuar sobre amplos espaos, de formarelevante, como:

    centros de servio pfiblicos e sociais, inclusive dirigidos ao campo,

    centros comerciais, centros de abastecimento e de desenvolvimen-to da agro-indfistria,centros de desenvolvimento de indfistrias pe-quenas e mdi.as,centros de transporte e comunicaes,

    em casos especiais, centros de turismo e Iazer,centros de mudana social.

    Os aspectos criticos podem ser destacados daseguinte forma:

  • (a) exagerada concentrao espacial do crescimentona Regio Metropolitana de Salvador, com:

    grande concentrao das indstrias modernas,desequilibrio no crescimento industrial beneficiando os setores quimicos e metal-mecnico, fraqueza das relaes inter-industriais,crescimento desordenado e grande expanso dasreas de baixa renda,problemas de transporte e saneamento,problemas de abastecimento urbano e de comercializao,fraqueza de suas relaes com o restante dosistema urbano estadual,

    (b) desnivel nas atividades econmicas e no padrode vida das cidades mdias e pequenas com rel~o Regio ~etropolitana de Salvador, com:

    fraqueza das atividades industriais,fraqueza da oferta de equipamentos e de distribuio de bens e servios,dificuldades nas reas de infraestruturatransportes e comunicaes,fragilidade de suas relaes com a Regio Metropolitana de Salvador.

    Estes as~ectos sero analisados proximamente, in-clusive permitindo a proposlao de estratgias dedesenvolvimento urbano-regional. A prioridade ser dada aos seguintes temas:

    I

    (a) incentivar as relaes da Regio Metropolitanade Salvador com as demais regies do Estado v~sando criar condies de sustentao e cresci-mento da base econmica de inmeras reas e ci

  • dades e tambm da prpria Regio Metropolita -na, ampliando a rea de mercado e repercutindona elevao dos padres de emprego e renda;

    (b) reforar significativamente, mediante diretri-zes especiais, as cidades intermedirias e p~quenas, considerando o seu papel no processode produo e distribuio de bens e serviossobre todo o territrio do Estado e na estruturao mais eficiente e eqitativa do espaobaiano em regies funcionalmente integradas.

    ~ importante observar, de forma resumidamente conclusiva que:

    a urbanizao na Bahia teve um lento crescimentono periodo colonial pelas caracteristicas tipi -cas da economia primrio-exportadora que necess!tava somente de uma 'metrpole comercial e admi -nistrativa e de pequenos ncleos nas reaS deproduo;

    - c desenvolvimento urbano no periodo ps-colonialse fez inicialmente por expanso da malha viriaintra-regional associada ao crescimento de novasatividades produtivas, mudanas estas que no alteraram fundamentalmente a estrutura primaz dosistema urbano comandado por Salvador;

    com o crescimento industrial no Sudeste do Pais,o Estado da Bahia entra primeiramente em crise ,afetando o crescimento urbano-regional;com a necessidade de unificao do mercado nacional, implantando complementaridades entre as ati

  • vidades de produqo e consumo, bsica para a'r~produo do capital, passa a ocorrer uma progre~siva integrao das economias urbano _regionais-do Estado economia nacional, O que transmitegrande dinamismo para o sistema, sobretudo aps1960. A malha viria inter-regional de fundamental importncia. Vrias regies do Estadoso especialmente beneficiadas e a partir dessemomento que se implanta efetivamente a regiometropolitana de Salvador e cresce sua base econmica.

    Cabe perguntar agora sobre o que aconteceria seno fosse a integrao do mercado nacional, ou se-ja, do papel da nova induo externa transformandouma tradicional economia regional em crise. Certamente pode-se afirmar que o dinamismo seria bemmenor e provavelmente sujeito a ciclos de expansoe retratao em funo da dependncia dos mercadosinternacionais como historicamente ocorreu e ocor-re ainda hoje na regio cacaueira do Estado.

    Deve-se tambm perguntar, a esta altura, sobre asrelaes deste processo de urbanizao/metropoliz~o com o desenvolvimento econom~co e suas perspe~tivas. J destacamos que este processo expressauma alterao estrutural da economia baiana e umagrande mudana nas suas relaes externas, com reflexos em muitos setores. Entretanto, no obstan-te o fato de que o processo de urbanizao apareceigualmente como um relevante indicador do direcio-namento das migraes inter-regionais na busca demelhores condies de vica, a consecuo desteobjetivo no se efetivou para grandes parcelas dapopulao das cidades e da metrpole. Isto, ao la

  • do da persistente pobreza rural, certamente confi-gura um enorme desafio em termos de perspectivas~ra o processo de urbanizao/metropolizao no Es-tado da Bahia a mdio prazo.

    Neste sentido, importante uma reflexo sobre osgrandes problemas inseridos neste processo, tendoem mente os aspectos de eficincia e eqidade:

    incremento dos diferenciais cidade e campo, resultando em um intenso xodo rura1

    grande dependncia do dinamismo do processo deindustrializao a nivel naciona1 ;

    expanso de agriculturas comerciais no Estado edependncia exterma em alimentos ;

    - desequilibrios metrpole versus demais cidadesdo sistema urbano no setor industrial e no setorde servios;

    - desequilibrios intra-metropolitanos. ,intenso processo de favelizao via invaso indicando os graves problemas de acesso terra, emprego e renda.

    A anlise efetuada, baseada sobretudo em questesde organizao espacial, sua evoluo e'projees,permite, entretanto, destacar os aspectos favorveisda importante difuso de urbanizao ocorrendoao mesmo tempo que um intenso processo de metropo-lizaco, pelos resultados j atingidos e, sobretu-do, pelo potencial em termos de mudanas que podemser inseridas visando alcanar um estgio maiseqitativo e eficiente para o sistema de cidadescomandado por Salvador. Neste sentido, assumindo

  • estrategicamente a hiptese de que para uma maioreficincia e eqidade deve haver um incentivo srelaes entre a metrpole e as demais partes deseu sistema, ao lado do aperfeiyoamento das rela-es externas, deveriam ser destacados os seguin -tes aspectos em termos prospectivos:

    - medir o grau de interao entre a ,Regio Metrop2litana e as cidades do Estado, delimitando nveis de intensidade.

    realizar anlises visando a proposiyo de uma reformulao do conceito de Regio Metropolitanade Salvador e de sua delimitao

    comparar o nvel de oferecimento em bens e servios entre a Regio Metropolitana de Salvador eas demais cidades do Estado, propondo uma adequ~da hierarquia funciona1 ;

    - propor medidas estratgicas para o desenvolvime~to urbano-regional com base nos critrios de eficincia e eqidades espaciais.

    Desta forma, seria possvel tentar maximizar asvantagens, para os setores produtivos e para a sociedade, de uma urbanizao desconcentrada associ~da ao dinamismo de uma metrpole em expanso. Sassim poderamos falar em uma real interao entreo processo de urbanizao/metropolizao e desen -volvimento econmico-social no Estado da Bahia, a-proximando-o da experincia internacional que temdemonstrado com efeito, que as regies metropolit~nas que mais tm induzido e sustentado o desenvol-vimento regional so as que tm mantido suas rela-es internas e externas com eficincia e eqidade.

  • 1SILVA, S.C. BANDEIRA de MELLO e. Cartografia daacessibilidade no Estado da Bahia. Geografia,Rio Claro, l (13-14): 57-73, out. 1982.

    ___________. O sistema urbano de Salvador e sua insero no contexto nacional. DEBATES/CENPES(Centro de Projetos e Estudos), Salvador,~ (5):233-257, jul. 1985.

    20 primeiro e o mais importante destes grandes eixos, a BR-116 (Rio-Bahia), s foi totalmente as -fltado em 1963. Sua implantao inicial data de1947-48.

    3SANTOS, M. O centro da cidade do Salvador. Sal-vador, Progresso, 1959, p. 192.

    4pRODWIN, L. Planejamento urbano em pases em desenvolvimento. Rio de Janeiro, USAID, 1967p. 81-85.

    5Como os locais de trabalho industrial esto dis -tantes da rea urbana de Salvador e como a mora -dia do pessoal ocupado est inserida majoritaria-mente dentro do tecido urbano, Salvador um exe~plo raro de ocorrncia de migraes pendulares aoinverso do que ocorre na maioria das regies me -tropolitanas do mundo. Com efeito, muito maisfrequente e intenso que a moradia esteja nas cidades pequenas e mdias da rea metropolitana eque os locais de trabalho se situem sobretudo namaior cidade, ou seja, na prpria metrpole ou emsua periferia imediata. Entre ns, s entre o

  • COPEC e Salvador, estima-se que o fluxo pendularatinja hoje o total de 20.000 pessoas/dia. O cus-to deste transporte para as empresas de cercade 1 salrio mnimo/homem/ms.

    6pERROUX, F. Note sur le notion de "ple de croissance" . Economie Applique, 8: I :07-320, 1955.

    7GEIGER, P.P. & DAVIDOVICH, F.R. The spatial stra-tegies of the state in the political-economicdevelopment of Brazil. In: SCOTT, A.J. & STORPER, M. (eds.). Production, work, territory.Winchester, Allen & Unwin, 1986, p. 281-298.

    8Tambm na poca em que Salvador exercia plenamen-te seu tradicional papel de centro regional, asdiversas regies geo-econmicas do Estado no tinham grande intera~o entre si mantendo sobretudorelaes diretas com a metrpole soteropolitana.

    O trabalho analisa o processo de urbanizao/metr~polizao no Estado da Bahia, a rartir de 1940, a-travs da proposio de um quadro interpretativo anvel estadual e a nvel metropolitano, destacan -do-se os planos externo e interno. A nvel estaduaI destaca-se o papel da induo externa com a co~solidao da integrao da economia nacional, oque causou significativas mudanas na estrutura eno relacionamento da economia baiana. Com o pred~mnio do transporte rodovirio, ao longo dos gra~des eixos, muitas cidades do interior do Estado sobeneficiadas, contribuindo para o incremento e adifuso espacial do processo de urbaniza~o. A ni