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  • mudanas. Diriamos mesmo que o momento e particularmente pr~picio para esta discusso, quando a nova Constituio defla-graum processo de reviso de toda a legislao ordinria e apolitica habitacional exige uma urgente redefinio.

    Criou-se no pais, por forada ideologia dominante, uma bar-reira artificial separando o passado do presente, o patrim-nio edificado da vida contempornea. Mitificou-se o patrim-niQ cultural como algo intangivel, fora da realidade social eeconmica dos mortais, o que serve'de pretexto omisso dasautoridades ligadas ao desenvolvimento urbano e habitao.De outra parte, as autoridades e tcnicos de preservao, comuma viso mui'toesttica do problema, justificam o estado dedeteriorao a qu~ chegou o patrimnio edificado pelos limit~dos recursos que lhes so postos a disposio, como se fossepossivel preservar conjuntos histricos fora de uma politicaintegrada de desenvolvimento urbano.

    Um dos,pontos fundamentais para romper este impasse e cons-cientizar as comunidades para o valor social e econmico des-te patrimnio, que precisa ser reciclado para cumprir plena-mente sua funo social e cultural. Esta recuperao e um di-reito da comunidade. Sem integrao na vida contempornea, opatrimnio cultural e uma farsa.Para sensibilizar tcnicos em habitao, geralmente poucoafeitos a problemas culturais, tivemos que usar conceitos li-gados economia, como estoque habitacional, obsolescnciafisica e funcional, reciclagem. Embora a acolhida propostatenha sido boa, no resultou em nenhuma medida concreta. Maso BNH, pouco depois, admitiu financiar a titulo experimental,um programa habitacional no centro histrico de Olinda, prom~vido pela prefeitura local e aprovado pela SPHAN. Usou-se pa-ra isto recursos do Projeto CURA, que embora no permitindo

  • todas as operaes necessrias recuperao de um conjuntohistrico, apresentou resultados a.1tamente satisfatrios.

    Na reviso do texto para publicao mantivemos as refernciasa rgos da epoca, que j no existem, para que o leitor com-preenda o contexto em que a proposta foi feita. Esses rgosforam trocados por outros, com as mesmas deficincias e vi-cios, o que mantem atual a proposta. Mas passemos ao documen-to.

    liApoltica habitacional brasileira tem sido orientada, quaseexclusivamente, para a construo de novas habitaes destin!das aos vrios estratos da sociedade brasileira (1). Esta po-ltica, que e tambem seguida por outros pases subdesenvolvi-dos, reflete a preocupao de seus responsveis pela alta ta-xa de crescimento demogrfico e de urbanizao do pais.

    Uma anlise mais cuidadosa do problema revela que os crescentes deficits habitacionais no podem ser atribudos exclusiv!mente a raz5es demogrficas e baixa renda de grande faixada populao brasileira. Dentre outros fatores que contribuempara o aumento deste deficit figura a obslescncia progressiva das habitaes, o que redunda na diminuio gradativa doestoque habitacional. Este aspecto do problema parece total-mente esquecido pelas autoridades responsveis pela polticahabitacional.

    Alem da perda por deteriorao, so destrudos anualmentemuitos edifcios relativamente novos, que poderiam ter umautilizao social por cinquenta ou mais anos, para em seu lo-cal surgirem edifcios mais altos, por mecanismos puramenteespeculativos. t uma contradio e representa um enorme nussocial para um pas to deficitrio de habitaes, que se der

  • rubem edificios de dez e ate quinze pavimentos, construidosh apenas vinte ou trinta anos, para em seu lugar se cons-truir novos edificios com o dobro do numero de pavimentos. E!te fato vem ocorrendo, cada dia com maior frequncia,nos bai!ros mais valorizados das grandes cidades brasileiras e, o quee pior, na maioria dos casos com o suporte do Sistema Finan-ceiro da Habitao. Este e, alis, um vicio estrutural da ec~nomia capitalista. Em muitos pa;ses do chamado primeiro mun-do, em especial nos EEUU, tem-se realizado enormes operaesde renovao urbana com a destruio massiva de slums e cons-truo de blocos de apartamentos e escritrios. A politica doFederal Bulldozer responde, na verdade, a enormes interesseseconmicos, mais que sociais.

    Esta politica j vem sendo, porem, revista em muitos paiseseuropeus, como a Inglaterra e a Itlia, onde so maiores asconquistas sociais, considerando que e mais barato reuperarunidades obsoletas do que destru;-las e ter que substitui-las.

    Neste ponto, e conveniente tornar claro o sentido de algunsconceitos aqui utilizados. O edificio de habitao, como qualquer outro bem produzido pelo homem, e feito em resposta a umanecessidade. Para que o bem responda a esta necessidade devepossuir requisitos capazes de preencher um conjunto de fun-es. A obsolescncia habitacional se caracteriza pela nocorrespondncia entre a necessidade e a resposta oferecida p~la moradia. A obsolescencia resulta, em ultima instncia, dastransformaes que sofre o edif;cio e a sociedade no tempo.P~de-se assim distinguir dois tipos de obsolescencia:

    1.1 Obsolescncia f;sica - que resulta das transformaes quesofre o edificio em decorrncia de causas naturais deao lenta (acomodaes do solo, fadiga dos mater;is ,agentes metereolgicos e biolgicos) ou violenta (alu-

  • vloes, tremores de terra, incndios, etc) e da ao humana (depredaes, uso ictensivo, etc).

    1 .2 Obso 1escnci a funci ona 1 - que decorre das transformaespor que passa em particular a familia, como resultadodas continuas mudanas da sociedade.

    A obsolescncia como efeito de um processo de transformaopode assumir diversos graus. Torna-se, consequentemente, im-portante determinar o grau de obsolescncia das moradias queconstituem o estoque habitacional de uma determinada cidadese quisermos intervir no processo. O metodo utilizado paraverificar o grau de obsolescncia de uma habitao dada e co~par-la com dois modelos de refernci: um fisico e outro funcional, constituido pelo conjunto de requisitos necessriosa uma vida decente (2).

    A recuperao e, portanto, uma interveno destinada a elimi-nar a obsolescncia fisica e funcional de uma habitao e permitir seu pleno uso social, evitando sua disfuno, abandonoe consequente destruio. Considerando que a operao de rec~perao custa uma frao do valor de reposio de uma unidadedestruida, e fcil compreender o alcance scio-econmico deum programa de manuteno e recuperao do estoque habitacionaL

    Um dos pontos da plataforma eleitoral do Partido Trabalhistaingls, em 1964, era o compromisso de construir, ate 1970,500.000 novas moradias. Em janeiro de 1968, no obstante o e~foro realizado, os objetivos do Partido Trabalhista se redu-ziram a 16.500 novas moradias. ~este mesmo ano apolitica ha-bitacional inglesa seria revista, com a publicao do que sechamou Liv~ ~nco da Hab~o, no qual se anunciava a in-

  • teno de destinar maiores recursos para a recuperao de ca-sasobsoletas (3). A nova poltica foi inau~urada em 1969com a aprovao do Housing Act, que estabeleceu um sistemade subvenes para os proprietrios de imveis obsoletos queconcordassem em renovar seus edifcios segundo normas mnimasestabelecidas pelo poder publico. Para incentivar a renovaodas habitaes, o governo ingls admitiu a majorao dos alu-guis proporcionalmente s inverses realizadas, mas estabel!ceu um sistema de escalonamento proqressivo dos aluguis, queem alguns casos chegava a cinco anos. Este mecanismo visavapossibilitar ao inquilino permanecer ocupando o imvel e po-der adaptar-se aos novos nveis de aluguel. Este sistema desubvenes para a renovao da habitao teve sua origem nops-guerra e foi utilizado pela primeira vez em 1949.

    A experincia inglesa demonstrou que programas menos ambicio-sos e mais flexveis, como o adotado em Leeds, so mais efi-cientes que outros, mais institucionalizados e ambiciosos, c~mo o de Newcastle. Em Leeds se adotou, uma subveno standardde 310 libras para o cumprimento de cinco pontos bsicos rel!tivos a instalaes de banheiros, cozinhas e reas de servio.Preferiu-se deixar aos proprietrios a escolha de pequenos e~preiteiros, que estabeleciam uma relao pessoal com os ocu-pantes dos imveis, no exigindo que os mesmos se deslocassemde suas casas, em vez da implantao de grandes projetos derecuperao que exigiam a evacuao dos imoveis e implicavamem custos elevados de administrao.

    Pouco depois inicia-se na Itlia um programa semelhante derecuperao de reas centrais deterioradas. O desenvolvimentoindustrial do norte da Itlia havia provocado nos anos 50 e60 uma grande migrao das populaes sulinas em direo aonorie industrial, exigindo a execuo de.grandes programas deconstruo de habitaes. No incio da dcada de setenta, a

  • crise do petrleo e o recesso da economia europeia provoca-rim uma inverso das migraes internas na Itlia. Muitasfami1ias deixara~ Milo, Turim e Bolonha e retornaram s pe-quenas e medias cidades de onde haviam rartido. r neste con-texto que surge o projeto de revita1izao do Centro Histri-co de Bolonha, que haveria de encorajar programas semelhantesem numerosas cidades italianas.

    o sucesso da experincia de Bolonha decorre do fato de ter-se, pela primeira vez, tentado restaurar um centro histricono em funo do turismo, seno da melhoria de vida de seushabitantes. Partindo do principio de que o centro histricoe"Um patrimnio da comunidade, a Municipal idade de Bolonha iniciou seu programa desapropriando e recuperando setores dete-riorados que eram em seguida devolvidos a seus ocupantes (4).Aps as primeiras experincias bem sucedidas, a crise econmica italiana e a crescente imobilizao de recursos criou umdilema para a Munipa1idade controlada pelo PCI: parar o pro-grama de revita1izao ou progresst-10 admitindo a participa-o de capitais privados, embora adotando mecanismos legaiscapazes de impedir a especulao imobi1iria no centro hist-rico. Decidiu-se optar pela segunda alternativa.

    Este sistema, que desencoraja a expanso urbana como formade redirecionar as inverses para o centro, vem sendo utiliz!do em muitas outras cidades italianas que apresentam o mesmoproblema: centros histricos obsoletos funcional e fisicamen-te. O sistema funciona da seguinte maneira: os governos lo-cais declaram de utilidade publica, para efeito de recupera-o, os setores mais deteriorados dos seus centros hi'stricose elaboram planospara os mesmos. So ento convocados os pro-prietrios de imveis na rea para uma reunio com as autori-dades e tecnicos municipais, quando o Municipio anuncia seuprograma de inverses e convida os donos dos imveis a faze-

  • rem o mesmo, oferecendo assistncia tcnica, financiamento eincentivos. Os proprietrios aderentes ao plano tm seus im-veis liberados da declarao de utilidade publica e podero,aps as obras, reajustar os aluguis de seus imveis na pro-poro das melhorias oferecidas.

    Aqueles inquilinos que comprovadamente no tm condies desuportar o aumento do aluguel podero solicitar a complement~o do aluguel Prefeitura e permanecer vivendo no mesmo im~velo Os proprietrios no aderentes tero seus imveis "cong~lados" e podero ser desapropriados pelo poder publico. A de-sapropriao na Itlia feita a preo inferior ao de mercado,j que a lei no considera a valorizao decorrente da exis-tncia de infraestrutura urbana que, em ultima instncia, de-ve ser creditada comunidade.

    O Brasil, com sua alta taxa de crescimento demogrfico e urb~nizao, no poder, ao contrrio do que foi adotado na It-lia, freiar a construo de novas habitaes, mas tambm nopoder descuidar da conservao do seu estoque habitacional,para que no tenha que repor unidades a um custo mais altoque o de sua conservao.

    Dentro do estoque habitacional brasileiro merecemateno as cidades e setores urbanos centrais dehistrico-cultural que, alm de abrigarem milhareslias, no podero ser destruidas por estarem sob ado Governo Federal.

    especialinteresse

    de fami-proteo

    Poucos tm idia da extenso destes conjuntos arquitetnicosde interesse cultural. Tombados pela Secretaria de PatrimnioHistrico e Artistico Nacional (SPHAN) existem no pais 16 ci-dades hls~ricas e 31 si"tios urbanos (5). Acrescente-se a is-

  • to as cidades e stios tombados pelos governos estaduais e osedifcios tombados isoladamente pelos dois governos ..Estas cidades e conjuntos esto em sua maior parte constitudos por~ortios, onde famlias inteiras vivem em uma ou duas peasnas piores condies de higiene e promiscuidade. Tais conjun-tos apresentam uma problemtica mais qrave que as favelas, jque estas apresentam uma dinmica prpria de melhora habita-cional e integrao urbana, enquanto os cortios tendem se-gregao e ao arruinamento.

    Qual o futuro destes conjuntos? No temos duvida que, se nose adotar uma poltica realista, em mais ou menos anos, elesdesaparecero ou sero substitudos. Os estudiosos de econo-mia e uso do solo urbano explicam que o preo de um imvel u!bano depende no s das suas caractersticas fsicas como dasua vizinhana e localizao. Quando uma zona atinge um dete!minado grau de deteriorao, as inverses privadas diminuemprogressivamente, porque a recuperao de um imvel no enco~tra retorno compensador, j que estas ini~iativas isoladasno conseguem mudar a imagem do bairro perante o mercado. De~te modo, cada proprietrio assume uma atitude de expectativacom relao s iniciativas dos vizinhos e do poder publico. C~mo ninguem quer correr o risco, as inverses baixam a nvelzero e o conjunto se deteriora rapidamente (6). A recuperaos economicamente compensadora e vivel se for feita comouma operao conjunta em todo o setor, provocando a "reversoda expectativa do mercado". Sem, portanto, interveno do po-der publico para organizar a interveno conjunta no h con-servao, nem muito menos recuperao.

    O tombamento destes conjuntos, unica opo que cabe SPHANdiante de sua crnica falta de recursos, em nada contribuipara a conservao dos mesmos. As experincias brasileiras einternacionais provam que os metodos de defesa passiva de con

  • juntos urbanos ao entrarem em choque com os interesses priv~dos provocam. em ultima instncia. efeitos contrrios que-les desejados. ou seja: falta de conservao. desvalorizao.ocupao por estratos sociais incapazes de mant-los. mudan-as no uso do solo e arruinamento.

    Os proprietrios consideram o tombamento uma trava plenautilizao econmica do edificio e vem no arruinamento.qua~do no o provocam dolosamente. um processo .natural para selivrarem do tombamento e resgatarem o solo urbano central p~ra outras finalidades mais rentveis. ligadas atividade te!.ciria. Em muitos casos basta deixar o imvel ruir e trans-form-lo em estacionamento. Por outro lado. como o regime deuso dos imveis situados nesses conjuntos e. na sua quase tQtalidade. a locao ou sub-locao. seus inquilinos. tendoque pagar um aluguel exorbitante por um cmodo sem luz nemventilao. vem no imvel apenas um instrumento de explora-o do senhorio.

    No obstante ser o cortio a mais dramtica manifestao dehabitao subnormal existente no pais. praticamente nenhumaateno tem recebido das autridades responsveis pela poli-tica habitacional. E preciso lembrar que. alem de seu valorcultural. os conjuntos h.istricos constituem uma parte subs-tancial do estoque habitacional brasileiro. desempenhando umaimportante funo no sistema de reproduO da fora de trabalho.

    4. Uma Politica de Conservao e Recuperao do PatrimnioUrbano

    A restaurao de um conjunto arquitetnico e um caso espe-cial de renovao urbana. que deve ter como objetivo a melhQria da qualidade de vida dos que ali habitam e a conservaode seus valores culturais. o que vale dizer. sua estrutura

  • urbanstico-arquitetnica. Para que esses conjuntos no so-fram transformaes que comprometam o seu carter, sua funoprimitiva deve ser mantida. Todas as recomendaes internacionais sobre o assunto insistem em que as populaes que atual-mente vivem nesses conjuntos no devem ser expulsas ou pres-sionadas a deixarem os mesmos em consequncia da recuperao.Pelas razes expostas, a recuperao s ser vivel se atin-gir toda a unidade deteriorada e forem adotadas medidas destinadas a evitar a especulao imobiliria em decorrncia dosinvestimentospblicos, o que implicaria na expulso dosatuaisocupantes e inviabilizaria. economicamente, a continuao doprograma.

    Mas existem algumas peculiaridades nos nossos centros histricos que no podem ser esquecidas em qualquer plano de recupe-rao habitacional. To grave quanto a obsolescncia fsicadas estruturas e a obsolescencia funcional dos imveis que osconstituem. Construidos em sua maioria nos sikulos XVIII eXIX para uma sociedade patriarcal escravocrata, os sobradosque integram esses conjuntos no se adaptam s necessidadesda sociedade atual. Em primeiro lugar, muitos padres habita-cionais aceitos na epoca e servios desenvolvidos por escra-vos, tm que ser meihorados e desempenhados por instalaeseletricas, mecnicas e hidrulicas. O segundo problema decor-re da prpria dimenso da famrl ia. Os grandes sobrados patri'a,!cais j no podem ser ocupados e mantidos por uma s famlia;devero ser sub-divididos em apartamentos menores, de difere~tes capacidades. Isto implica no desmembramento legal dasatuais unidades arquitetnicas. Por razes de desempenho fun-cional e econmicoe desejavel que se crie condomnios maisamplos, de quarteires, que possibilitem a criao de instal!es coletivas como acessos verticais e reas de iluminaocomuns, play-grounds, sub-estaes rebaixadoras, reservat-rios, etc.

  • o problema, como vemos, no exclusivamente de natureza cul-tural. Neste campo temos, pelo menos, quinze anos de atrazocom relao a utros paises (atualmente 26, N.A.l. Em 1962, oento Ministro de Assuntos Culturais da Frana, Andr Malraux,props, e a Assemblia Nacional Francesa aprovou, uma lei pa-ra o que se chamou de "setores salvagua rdados" (7). Esta 1e-gislao, consciente da complexidade do problema, confiou auma comisso interministerial a execuo da politica de recu-perao daqueles setores.

    Com a inteno de promover o debate sobre o tema, apresenta-mos, em 1971, ao 11 fYlc.oYLtJw de GoveJl.YlO.doJtv., yxvr.a. PJtueJtva..odo Pa:tJmYo H-iJ,:tJ..c.o, AJtiJ..J.,tic.o, AAqueoigic.o e Na.:twr..a.l do8Jta.h~, um anteprojeto de legislao atendendo s peculiari-dades da recuperao dos conjuntos monumentais brasileiros(8).Embora o documento final d~Encontro tenha recomendado a ado-o de uma legislao complementar ao Decreto-Lei n9'25, de1937 ,especifica para conjuntQs tombados, nenhuma iniciativafoi tomada pelas autoridades.

    Revendo aquela proposta no sentido de simplificar o seu fun-cionamento, imaginamos o seguinte sistema de conservao e recuperao de edificios de interesse cultur.al, isolados ou in-tegrados em conjuntos.

    4.1 Um programa 'especifico para conjuntos histricos.O Banco Nacional de Habitao (atualmeYl:te a.Caixa. fc.OYl-mic.a FedeJtal, N.A.l criaria um Proqrama de Conservaoe Recuperao do Patrimnio Habitacional com juros e pr~zos especiais. O programa atuaria de quatro modos:4.1.1 Financiando a renovao ou ampliao da infraes-

    tt'utura e equipamentos sociais de conjuntos ar-quitetnicos de interesse cultural, tombado ouno pelo SPHAN, a critrio de uma comisso inte-

  • rinstitcional. o retorno seria garantido pelosgovernos locais atravs de cobrana de contribuio de mel hori a, impos tos, etc.

    4.1.2 Financiando cooperativas habitacionais para aqulsio, recuperao e transformao em condomi-nios de edifTcios deteriorados, isolados ou int!grados em conjuntos. Estas cooperativas deveriamser integradas prioritariamente por moradores doconjunto. Quando a populao local no ofereceras garantias formais exigidas para o emprstimo,a prefeitura local poderia assumir o papel demuturio final, celebrando com os ocupantes con-tratos de aluguel-venda.

    4.1.3 Financiando a conservao ou recuperao de edi-ficios unidomiciliares de interesse cultural, porseus prprios donos, tendo como garantia os mes-mos imvei s .

    4.1.4 Atendendo com prioridade, em outros proqramashabitacionais de interesse social, o excedentepopulacional por ventura existente nos conjuntosarquitetnicos recuperados ou os moradores inte-ressados em se transferirem para outras reas.

    Devido ao interesse social e cultural destes conjuntos,a aprovao dos projetos e a concesso dos financiamen-tos seria feita por uma comisso integrada por reoresentantes do:

    4.2.1 Banco Nacional da Habitao (hoje Caixa Eeonrni-ea Fedenat, N.A.J.

  • 4.2.2 Secretaria de Patrimnio Histrico e Artlstico Nacional.

    4.2.3 Programa das Cidades Histricas da Secretaria dePlanejamento da Presidncia da Repblica.

    Seriam Agentes Executores do Programa de Conservao eRecuperao do Patrimnio Habitacionalas fundaes est~.duais de cultura que j vem servindo de agentes do Pro-grama das Cidades Histricas (SEPLAN). Estas fundaes,em convenio com os governos locais, deveriam realizar asseguintes fun5es:

    4.3.1 Identificar conjuntos arquitetnicos de interessecultural deteriorados e elaborar projetos de recuperao.

    4.3.2 Promover a declarao de utilidade pblica destasreas (9).

    4.3.3 Acionar as sanses previstas no Cdigo de Postu-ra Municipal aos imoveis carentes de conservaoe condies de higiene e segurana.

    4.3.4 Promover a adoO do Imposto Predial Progressivoque ser aplicado aos imveis nO recuperados dentro da programao prevista.

    4.3.5 Organizar cooperativas habitacionais dos morado-res do conjunto para a realizao da recuperaode cortios e outros edificios de utilizao plu-ridomiciliar.

  • gramas habitacionais do BNH de possveis exceden-tes populacionais dos conjuntos que sero recupe-rados.

    4.3.7 Coordenar e fiscalizar as obras de recuperaodos conjuntos arquitetnicos de interesse cultu-ral.

    o sistema funcionar do seguinte modo:Identificado pelo Agente Executor um conjunto arquitet-nico deteriorado, seriam feitos estudos scio-econmicose arquitetnico-urbansticos e elaborado um plano de re-cuperao, vivel economicamente. Na realizao desteplano importante adotar-se mtodos confiveis de ava-liao da obsolescncia dos imveis que permitam determinar com preciso o custo final das obras (10). Outro po;to importante a classificao tipolgica dos lmoveis-que permite a racionalizao dos procedimentos de adapt!o e interveno nos mesmos.

    Aprovado o plano pela comisso tripartite: BNH [CEF,N.A.l,SPHAN e SEPLAN, o Agente Executor organizar, de prefe-rncia no mbito de cada quadra, cooperativas habitacio-nais de seus moradores para aquisio e recuperao dosedifcios super ocupados (cortios) e subocupados (fe-chados e arruinados). Os terrenos vagos, aonde existiramno passado construes, podero ser reconstrudos pelomesmo sistema.

    Em seguida, o Agente Executor negociar com os propriet!rios dos imveis super e sub ocupados, inclusive runase terrenos baldios, a aquisio dos mesmos para as CoOp!rativas habitacionais. Estas aquisies devero ser fei-

  • tas de uma s vez em todo o conjunto. evitando-se mano-bras especulativas depois de iniciadas as obra~. Se nofor possivel chegar a um acordo. dever ser aplicado oImposto Predial Progressivo ou pr~movida a desapropria-o do imvel. Aos proprietrios de unidades unidomici-liares sero oferecidos financiamentos .para realizaremas obras de recuperao de seu imvel previstas no plano.Se houver excedente populacional no conjunto. este deve-r ser encaminhado a outros programas habitacionais deinteresse social do BNH (atual CEF, N.A.I.As obras de recup~rao das unidades habitacionais deve-ro ser realizadas por etapas. com o rodizio dos seos ~radores dentro do conjunto. evitando-se que eles tenhamque abandonar o conjunto, ainda que temporariamente. Arenovao ou ampliao da infraestrutura e equ~pamentossociais dever ser feita concomitantemente com a recupe-rao das habitaes" .

    (1) o BNH tem nos ltimos anos demonstrado interesse por ou-tros aspectos do problema habitacional, como a renovaourbana e habitacional, interesse que se reflete na cria-o de programas como o CURA e, mais recentemente,oFICANPrograma de Financiamento de Construo, Ampliao ou M~lhoria da Habitao de Interesse Social.

    '2) BERTUGLIA et alii. Obsolescenza e Recuoero dell'Abl'-tazlone nei Centrl Urbani. Napoli, Guida Edl~ori, 197!J.

    (3) PEPPER, Renovacion de Ia Vivienda: Objetivos y Estrate -~. Barcelona, Gustavo Gili, 1974.

  • (4) CERVELLATI, Pier Luigi e SCANNAVINI, Roberto. Bolonia ,Politica y Metodologia de Ia Restauracin de CentrosHistricos. Barcelona, Gustavo Gili, 1976.

    (6) DAVIS Y WHINSTON, Aspectos Econmicos de Ia RenovacinUrbana in SECCHI, Analisisde Ias Estructures Terri-toriais. Barcelona, Gustavo Gili, 1960.

    (7) BRASIL. Leis eDecretos. Lei nC?62-903, de 3/V111/1962regulamentada por decreto de l3/VII/1963.

    (8) ENCONTRO DE GOVERNADORES, 11. Salvador, outubro de 1971.Anais; para preservao do patrimnio histrico, ar-tTstico, arqueolgico e natural do Brasil. Rio de Ja-neiro, IPHAN,1973. (Pub. 26).

    (9) O decreto-lei nC? 3.365; de 2l/VI/194l, em seu artigo 5C?,alfnea K, considerou a conservao e a preservao demonumentos e conjuntos como um caso de utilidade pblicapara efeito de desapropriao.