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    As polticas de combate violncia contra

    a mulher no Brasil e a responsabilizao

    dos homens autores de violncia

    Aparecida Fonseca MoraesDoutora em Cincias Humanas

    Professora de Sociologia da UFRJ

    Coordenadora do Ncleo de Estudos de Sexualidade e Gnero (NESEG/IFCS)

    Instituto de Filosofia e Cincias Sociais (IFCS-UFRJ)

    Rio de Janeiro, Brasil

    > [email protected]

    Letcia RibeiroAluna de graduao do curso de Cincias Sociais da UFRJ

    Colaboradora do Ncleo de Estudos de Sexualidade e Gnero (NESEG/IFCS)

    Instituto de Filosofia e Cincias Sociais (IFCS-UFRJ)

    Rio de Janeiro, Brasil

    > [email protected]

    Sexualidad, Salud y SociedadR E V I S T A L A T I N O A M E R I C A N A

    ISSN 1984- 6487 / n.11 - ago. 2012 - pp.37-58 / Moraes, A. & Ribeiro, L. / www.se xualidadsaludysoc iedad.org

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    Resumo: O artigo analisa os significados que os homens acusados de violncia atribuem sagresses perpetradas contra as mulheres, no contexto da Lei Maria da Penha e de suas pol-

    ticas pblicas no Brasil. Chama a ateno tambm para as possveis contribuies da aborda-gem interacionista e para a importncia do foco nas ideias e nos valores nas anlises das pol-ticas pblicas, principalmente aquelas que alcanam as identidades. A pesquisa realizada emGrupos de Reflexopara homens autores de violncia em um Juizado de Violncia Domsticae Familiar contra a Mulher na cidade do Rio de Janeiro mostrou como alguns valores e ideiasdifundidos, como aqueles associados responsabilizao do agressor, so confrontadospelos homens. Muitas vezes eles recorrem s circunstncias da situao nas quais ocorreramos conflitos interpessoais do casal de modo a denotar as agresses como uma resposta, ouat mesmo punio, ao comportamento inadequadodas mulheres, que teriam desafiado adiviso tradicional dos papis de gnero, reconhecida por eles como universalmente aceita.

    Palavras-chave: gnero; violncia; polticas pblicas; interacionismo

    Las polticas de combate a la violencia contra la mujer en el Brasily la responsabilizacin de los hombres autores de violencia

    Resumen: El artculo analiza los significados que hombres acusados de violencia atribuyen alas agresiones perpetradas contra mujeres, en el contexto de la ley Maria da Penhay de laspolticas pblicas vinculadas a dicha norma. Se sealan las contribuciones de un abordajeinteraccionista y la importancia de enfocar ideas y valores en el anlisis de polticas pblicas,especialmente de aquellas que involucran a identidades. La investigacin, realizada en Gru-pos de Reflexin para hombres autores de violencia de un Juzgado de Violencia Domstica yFamiliar contra la Mujer de la ciudad de Ro de Janeiro, mostr cmo determinadas ideasy valores difundidos como los asociados a la responsabilizacin del agresor son con-

    frontados por los hombres. Ellos recurren frecuentemente a las circunstancias de la situacinen la que tuvieron lugar los conflictos de la pareja, para denotar las agresiones como unarespuesta y hasta como un castigo al comportamiento inadecuado de mujeres que habrandesafiado la divisin tradicional de roles de gnero, que estos hombres reconoceran comoaceptada universalmente.

    Palabras clave: gnero; violencia; polticas pblicas; interaccionismo

    State policy on violence against women in Brazil and mens accountability

    Abstract: This article analyses the meanings that men accused of violence attach to abuseagainst women, in the context of the Maria da Penha Act and current public policy. At-tention is drawn to the possible contributions of an interactionist approach, focusing on

    the importance of ideas and values in the analysis of public policies, especially those thattake identities into account. Research on discussion groups at Domestic and Family Violenceagainst Women Court indicated how some diffused values and ideas, like those associatedwith aggressor accountability of the aggressor, are confronted by men. They frequentlyrefer to the situational circumstances in which the couples interpersonal conflicts occurred,identifying the aggressions as a response, or even punishment, for the inappropriate behaviorof women who would have challenged the traditional division of gender roles, recognized bymen as universally accepted.

    Keywords: gender; violence; public policies; interactionism

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    As polticas de combate violncia contra a mulher no Brasil

    e a responsabilizao dos homens autores de violncia1

    1. O combate violncia contra a mulher

    Na dcada de 1990, a constituio de uma agenda pblica internacional decombate violncia contra a mulher foi impulsionada por uma srie de aes,atravs de conferncias e reunies mundiais, o que objetivou a elaborao de ins-trumentos e a implementao de medidas para prevenir, sancionar e erradicar a

    violncia contra as mulheres.2

    No Brasil, desde o perodo da abertura democrtica nos anos 80, os movi-

    mentos feministas assumiram o protagonismo em mudanas que repercutiram deforma significativa nas lutas contra a chamada violncia de gnero, atingindo asesferas governamentais, as legislaes, as formas de representao de governos e asociedade civil. A adeso de governos a esta vigorosa movimentao civil corres-pondeu criao de conselhos, assessorias e coordenadorias, tanto em nveis locaisquanto em nvel nacional.

    Todo esse processo implicou ainda a criao das Delegacias Especiais de Aten-

    dimento Mulher (DEAMs), at hoje consideradas uma inovao institucionalbrasileira na rea da violncia, com importante repercusso em outros pases daAmrica Latina. Desde a criao da primeira delegacia deste tipo em 1985, nacidade de So Paulo, tm sido significativas as suas transformaes, muitas delasidentificadas em estudos que tambm mostraram o carter histrico e diferenciadona atuao das DEAMs no Brasil (Machado, 2002). Alm das diferenas de cober-tura no territrio brasileiro, tm chamado a ateno as particularidades de funcio-

    1 Agradecemos equipe do NESEG-IFCS pelas proveitosas discusses, em especial Bila Sorje Carla Gomes, tambm ao professor Alexandre Werneck (IFCS) pelas valiosas sugestesrelativas anlise das justificaes e desculpas; finalmente, aos nossos pesquisados pelaconfiana a ns dispensada. A responsabilidade pelo texto apresentado , obviamente, nossa.

    2 Dentre estes instrumentos, destacam-se a recomendao de nmero 19 (publicada em 1992)da Conveno sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra a Mulher

    (CEDAW, conveno aprovada em 1979 pelas Naes Unidas); a II Conferncia Nacional deDireitos Humanos, realizada em 1993, em Viena, e que incorporou a considerao de que aviolncia contra as mulheres uma violao dos direitos humanos; a Conveno Interame-ricana para Prevenir, Sancionar e Erradicar a Violncia contra a Mulher, realizada em junhode 1994, em Belm do Par; a Conferncia Mundial sobre a Mulher, realizada em Beijing, na

    China, em 1995; e a reunio conhecida como Beijing + 5, que integrou uma Sesso Especialda Assembleia Geral das Naes Unidas, cinco anos aps a IV Conferncia Mundial (Cf. Ca-viedes, 2002; Vianna, 2004).

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    namento das delegacias em alguns estados, o que distingue bastante as rotinas da

    instituio (Debert, 2006).3

    Em que pesem as questes continuamente analisadas por cientistas sociais,como a heterogeneidade e a relao complexa entre o Estado e as mulheres vtimasquando ocorre o encaminhamento da violncia conjugal na esfera policial, no Bra-sil estas delegacias so pensadas como parte importante do processo que Soares(1996:15) chamou de vitimizao afirmativa. As DEAMs acabaram personali-zando os seus atendimentos e reduziram com isso o receio que muitas mulherestinham de ir polcia. Nesse processo, as mulheres reconhecem-se como vtimas econstroem novos discursos e subjetividades baseados nessa experincia.

    Desde a criao das DEAMs, as polticas pblicas brasileiras de combate violncia contra a mulher j percorreram uma trajetria de quase trs dcadas.Atualmente chama a ateno o processo de consolidao da Lei 11.340, mais co-nhecida como Lei Maria da Penha (LMP) que, sancionada em agosto de 2006,trata da violncia domstica e conjugal contra a mulher de maneira especfica.

    A Lei Maria da Penha foi resultado, principalmente, da crtica feminista feitaaos Juizados Especiais Criminais (JECRIMs) brasileiros, regulamentados a partirde 1995 atravs da Lei Federal 9.099. Os JECRIMs passaram a receber os casosde contraveno e aqueles considerados de menor potencial ofensivo (tipifica-

    dos como ameaa, leso corporal leve, entre outros). Dentre estes ltimos, umgrande nmero era oriundo de conflitos e de violncias que envolviam homensque agrediam as mulheres nas relaes conjugais. Estudos e organizaes feminis-tas passaram, ento, a requerer a incorporao de uma criminologia feminista(Campos, 2003) na atuao destas instituies. As crticas ao encaminhamentodos casos de violncia contra a mulher aos JECRIMs estavam pautadas na ideiade que, na prtica social incorporada s rotinas destes Juizados, os crimes esta-vam sendo despenalizados.4

    Essas crticas levaram articulao de um consrcio, formado por organi-

    3 O estudo de Debert (2006) mostrou que, em So Paulo, o decreto 40.693 de 1996, que am-pliou a rea de atuao das DDMs (Delegacias de Defesa das Mulheres) com a incluso dedelitos contra crianas e adolescentes, implicou mudanas de rotinas que alteraram o signifi-cado da instituio, apesar de terem sido validadas positivamente pelas agentes das DDMsalcanadas por sua pesquisa. Ver tambm Moraes (2006).

    4 O carter despenalizador do tratamento da violncia domstica contra a mulher nos JE-CRIMs, segundo as organizaes feministas, tinha a ver com o fato de que este tipo deviolncia estava sendo considerado um crime de menor gravidade, com aplicao de medidas

    vistas como inadequadas. As punies aos agressores, em geral, se limitavam ao fornecimen-to de cestas bsicas de alimentos, servios prestados comunidade, participao em gruposteraputicos etc. (Ver Romeiro, 2007; Sorj & Moraes, 2008).

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    zaes no governamentais feministas, que investiu na elaborao de uma nova

    proposta de lei para o encaminhamento dos casos de violncia contra a mulherna Justia. Em 2004, um projeto foi enviado Secretaria Especial de Polticas paraas Mulheres (SPM), no qual se propunha a alterao dos procedimentos institudospelos Juizados Especiais Criminais (JECRIMs) no tratamento dos crimes de vio-lncia conjugal. Do conjunto dessas intensas manifestaes e articulaes resultoua Lei Maria da Penha, que dispe sobre a criao de Varas e Juizados de Violn-cia Domstica e Familiar contra a Mulher com autoridade para aplicar as medidascabveis nos casos de violncia conjugal. A violncia domstica contra a mulherfoi assim retirada da esfera de atuao dos JECRIMs.

    Nos debates em torno do percurso da Lei, tem se destacado o seu apelo efe-tiva criminalizao da violncia contra a mulher. No entanto, trata-se de projetoabrangente que inclui outras medidas de proteo mulher e aos filhos. Alm dasmedidas punitivas, a LMP indica medidas preventivas, assistenciais, educativas ede proteo mulher e aos filhos, trabalho que realizado por uma equipe tcnica,geralmente formada por psiclogos e assistentes sociais. Dentre as medidas cabveisde serem aplicadas aos homens autores de violncia, encontra-se a participao noscentros de reabilitao para os agressores, conforme previsto em seu artigo 35.5

    Feitosa Andrade e Barbosa (2008:03-05), representantes do Coletivo Femi-

    nista Sexualidade e Sade, registraram o surgimento de iniciativas pontuais comhomens autores de agresso contra as mulheres antes mesmo da aprovao da LeiMaria da Penha. Ainda que localizem perspectivas e abordagens terico-metodo-lgicas diversas, os autores identificam motivaes e valores gerais que orientamesses grupos:

    [...] Os trabalhos com homens so realizados por meio da metodologia degrupos reflexivos de gnero, onde cada participante tratado como respon-svel pela violncia contra a mulher.

    [...] O grupo de reflexo cria a oportunidade de ampliao e diversificaode seus papis enquanto homens e o vislumbre de outras possibilidadespara as mulheres, isto , apresenta possibilidades de ressignificarem as suasidentidades de gnero (2008:05).

    As iniciativas de atendimento aos homens autores de violncia domsticaso motivadas pela possibilidade de uma reeducaoque atinja as subjetividades e

    5 Lei 11.340 (2006), artigo 35 A Unio, Distrito Federal, Estados e Municpios poderocriar e promover, no limite das respectivas competncias: V centros de reabilitao para osagressores.

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    s identidades desses homens. Trata-se, principalmente, de promover o reconheci-

    mento da responsabilidade pela violncia perpetrada, ressignificando assim as suasprprias relaes de gnero. O objetivo, em ltima instncia, atingir a autodefini-o identitria do homem agressor, e tambm introduzir novas ideias e formas decompreenso sobre os papis sociais do homem e da mulher.

    2. Atores, interaes, ideias e valores

    A implementao das polticas pblicas de combate violncia no Brasil im-

    plica a coexistncia de diferentes atores e prticas sociais em contextos institucio-nais muito variados. Ilustram esta afirmao as diversas categorias de profissio-nais que representam as instituies do Estado envolvidas em sua execuo: as/os policiais e delegado/as das DEAMs, mas tambm de outras delegacias onde oregistro de ocorrncia tenha sido realizado; profissionais que integram as equipestcnicas de centros de atendimento para mulheres vtimas ou homens autores(psiclogos, assistentes sociais, advogados etc.), operadores de Direito e repre-sentantes do Poder Judicirio etc. Representando parte da sociedade civil, as or-ganizaes feministas tambm foram atores ativos no processo de elaborao e

    fiscalizao destas polticas. Como grupos que dirigem demandas ao Estado, asmulheres que fazem o registro policial e publicizam a violncia sofrida e os ho-mens acusados compem, finalmente, mais um segmento expressivo a integrareste campo de experincias.

    As prticas sociais e as condutas dos agentes que participam dessa polticapblica vm sendo continuamente estudadas, em especial as expectativas, as am-biguidades e os caminhos percorridos pelas mulheres vtimas que decidem tornarpblica a violncia conjugal e domstica. Um comportamento frequentemente ana-lisado tem sido aquele em que as mulheres acionam a polcia como um recurso

    simblico de autoproteo e repreenso do parceiro (Brando, 1998), sem queisto signifique total concordncia com a priso do agressor. Muitas dessas mulhe-res recorrem tambm, quando isto possvel, suspenso da queixa:

    [...] A suspenso da queixa constitui-se, portanto, em mais um elementode negociao de que a vtima disporia para barganhar com o acusado, nosentido de que ele volte a cumprir as obrigaes masculinas assumidas ou,no mnimo, no a perturbe mais (Brando, 1998:79-80).

    Ao examinar o tratamento dos casos de violncia domstica no fluxo do siste-ma de justia criminal de So Paulo e no perodo de aplicao da lei 9099/95 an-

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    tes, portanto, da aprovao da Lei Maria da Penha Pasinato (2004:24) observou

    que, mesmo nos casos em que as mulheres desistiam de representar criminalmenteo agressor, havia uma [...] instrumentalizao do aparelho de Justia para foraro autor a mudar o seu comportamento. Ao recorrer polcia e ao intervir no pro-cesso judicial, de acordo com a autora, as vtimas estariam exercitando um modode poder que ampliaria o seu espao de negociao e expressaria um autorreconhe-cimento da sua condio como sujeitos de direitos, neste caso, em funo de umaleitura muito particular e diferente dos anseios dos movimentos feministas (:21).

    Para entender os contextos em que ocorre a violncia e o significado que estaassume nas relaes interpessoais dos cnjuges, Gregori (1993) ressaltou os aspec-

    tos relacionais e problematizou o papel de vtima passiva das mulheres nos casosde violncia conjugal.6Uma das concluses de seu estudo mostra que, enquanto nodiscurso da instituio feminista pesquisada as mulheres eram vistas como vtimasde uma dominao masculina que se estendia violncia fsica, as suas entrevista-das no manifestavam, necessariamente, o desejo de se separarem dos parceiros.

    Os anseios de mulheres que desejam que o agressor mude, contrapondo-se punio legal como a principal forma de soluo do problema, foram observadosem pesquisas mais recentes com policiais e vtimas que registraram as agresses emuma DEAM e em uma delegacia comum (Moraes, 2006; Moraes & Gomes, 2009).

    Se, por um lado, o desejo de mudana ou mesmo de recuperaodo parceiro nemsempre significava para elas restaurar a relao conjugal, por outro, seus valorese suas emoes orientavam-se para a restituio da harmonia e da solidariedadeque consideravam perdidas na interao familiar. O registro policial era, antes detudo, uma iniciativa para romper com a situao violenta que as atingia, mas eratambm entendida como uma ao que poderia pacificar os circuitos de interaofamiliar nos quais estavam includos os filhos ou mesmo outros parentes. Mesmocom a publicizao dos conflitos e das violncias conjugais na polcia, as mulheresdemonstravam ter enorme zelo pelo bem-estar da famlia, ainda que isto no pu-

    desse ser reduzido simples ideia de que se percebiam, subalternamente, como asnicas responsveis pela sua manuteno.

    Essas expectativas das mulheres sugerem que, em contextos conjugais nosquais os conflitos dos casais e/ou as agresses masculinas ocorrem de maneiracontinuada, as imagens tradicionais dos papis de gnero introduzem tenses quetornam as mulheres receptivas s ideias e aos valores que as concebem como asprincipais apoiadoras e cuidadorasda famlia, principalmente dos filhos.

    6 A base emprica da pesquisa de Gregori (1993) reuniu descrio etnogrfica e entrevistas commulheres e profissionais em uma organizao no governamental feminista de apoio a vtimasde violncia conjugal.

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    Estudos contemporneos sobre a produo de polticas pblicas em diferen-

    tes reas e em vrias partes do mundo tm mostrado como as ideias e os valo-res passaram a ter um papel extremamente relevante. Se antes as polticas eramconcebidas a partir do Estado, sendo predominantemente orientadas pelas lgicasdas disputas e dos interesses, mais recentemente foi fortalecida a participao deoutros setores da sociedade, tais como os movimentos sociais e as organizaesno governamentais (ONGs), cujos iderios influenciam a concepo de aes eprogramas considerados inovadores. Isto significa um notrio aumento da diversi-dade dos grupos de atores envolvidos com a produo das polticas pblicas, mastambm a disseminao de novas ideias e valores que penetram nas rotinas da sua

    implementao (Finnemore, 2009; Finnemore & Sikking, 2005; Levy & Sznaider,2006; Hafner-Burton & Tsutsui, 2005; Guilhot, 2005; Faria, 2003).

    Hoje, a anlise de situaes em que as polticas pblicas se desenvolvem requerperspectivas que estejam muito alm do enfoque clssico que prioriza resultados eprocessos. Devem ser consideradas as prescries de novos papis sociais e identi-dades que esto presentes nos momentos de deciso e formulao das polticas p-blicas, assim como compreender as respostas dos atores internalizao de ideias,valores, regras e normas que as sustentam. Por fim, considerar ainda a maneiracomo tais ideias e preceitos podem ser transformados nas situaes e nos cenrios

    das polticas pblicas em que diferentes atores interagem.As contribuies da perspectiva interacionista podem, neste sentido, ajudar

    muito no mbito analtico. Em recente resenha sobre o livro organizado por Mi-chael Hvid Jacobsen, intitulado The contemporary Goffman, Martins (2011) afir-ma que, apesar de as reflexes de Erving Goffman terem sido elaboradas h algu-mas dcadas, a perspectiva interacionista

    fornece valiosas fontes de inspirao para abordar temas que passaram aocupar uma posio relevante na agenda da teoria social contempornea,

    tais como a questo daperformancepessoal, a temtica do reconhecimen-to, a construo de identidade, a emergncia de um novo individualismo,entre outros (2011:232).

    As mudanas nas agendas das polticas pblicas, nas quais agora surgem te-mticas particulares introduzidas por emergentes fenmenos, assim como a impor-tncia do foco nas interaes revigoram a abordagem interacionista. Em relao pesquisa aqui explanada, tratou-se de sublinhar os significados que os homensautores de violncia atribuem s novas ideias, aos valores, s identidades e aospapis sociais que circulam nas prticas discursivas dos Grupos de Reflexo obser-vados do Juizado de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher.

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    3. Responsabilizao, responsabilidade e accounts

    A responsabilizao dos autores de violncia um dos principais objetivosdos Grupos de Reflexo. Tratada como um valor continuamente enfatizado notrabalho dos profissionais e tcnicos que acompanham os grupos, a responsa-bilizao tambm assume significados particulares nas situaes dos encontros.Sugere ainda uma aproximao com o conceito interacionista de accounte com odesenvolvimento da ideia de responsabilidade na modernidade.

    O interacionismo de Erving Goffman exalta a compreenso dos significadosatribudos na interao social a partir da influncia recproca dos indivduos

    sobre as aes uns dos outros, quando em presena fsica imediata, de modo acausar uma impresso que leve os outros a agirem de acordo com o esperado(1985:23). Abordagens em sintonia com esta perspectiva, como a de Marvin Scotte Stanford Lyman, empregam o conceito de accountna anlise de interaes nasquais os atores no agem de acordo com as expectativas. Accountseria, por de-finio, a afirmao feita por um ator social para explicar um comportamentoimprevisto ou imprprio (Scott & Lyman, 2008:140). Os autores identificamdois tipos de accounts: as justificaes e as desculpas. Nas primeiras, algumaceita a responsabilidade pelo ato em questo, mas renega a qualificao pejorati-

    va associada a tal ato (:141). Nas segundas, ocorre o contrrio: algum admiteque o ato em questo seja ruim, errado ou inapropriado, mas nega ter plena res-ponsabilidade sobre ele (:141).

    A ideia de responsabilidade, por sua vez, bastante abrangente, tanto nosargumentos tericos das cincias sociais quanto nos prprios discursos sociais. Foisignificativo o seu desenvolvimento e reconfigurao, sendo, na sociologia, rela-cionada a diversas concepes importantes da modernidade, tais como igualdade,liberdade, solidariedade, autonomia, individualismo, alm das expectativas no de-sempenho dos papis (Domingues, 2002). De alguma maneira, a responsabiliza-

    orequerida aos autores de violncia domstica implicaria assumir responsabi-lidade pelo fim das agresses. O sentido da responsabilidade est associado aquia princpios jurdicos normativos, mas especialmente a ideias e valores universaisque rejeitam o uso da violncia contra as mulheres na vida familiar.

    Um segundo aspecto relevante envolvido nessa ideia diz respeito relaoentre a responsabilidade e a constituio de identidades, na medida em que estanoo aparece associada aos papis sociais a serem desempenhados pelos indiv-duos para a formao de um bem comum para determinada coletividade (Domin-gues, 2002:253-257). Nos Grupos de Reflexo, a responsabilidade refere-se aodesempenho de um novo papel de gnero dos homens, de modo a estabelecer umbem dentro da esfera familiar. A ideia se dirige a indivduos que so concebidos a

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    partir de valores modernos. Nesse sentido, eles so estimulados a se comportar de

    maneira autnoma e responsvel, o que seria incompatvel com comportamentosagressivos ou violentos contra as mulheres.Em suma, podemos dizer que as expectativas em relao ao trabalho com os

    homens autores de violncia referem-se ideia de que possvel desenvolver umprocesso de reflexo no qual eles sejam capazes de assumir a responsabilidadepelos atos de agresso e de reconhecer que este comportamento inadequado, im-prprio e inaceitvel para os padres da sociabilidade contempornea. Tambm, eno menos relevante, h a ideia de que, em um plano mais amplo de modificaodas atitudes, as suas vises sobre as relaes de gnero poderiam ser alteradas ou

    mesmo ressignificadas.

    4. Contextos

    As nossas discusses e anlises recorrem s observaes e aos relatos et-nogrficos produzidos durante um perodo de quase seis meses, no qual frequen-tamos um Juizado de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher na cidadedo Rio de Janeiro. Nesse espao de tempo acompanhamos, durante dois meses, os

    encontros de dois Grupos de Reflexopara autores de violncia, em que 11 acusa-dos participaram do primeiro grupo e nove do segundo.7

    A maior concentrao por faixa de idade dos homens atendidos nos dois Gru-pos de Reflexo era de 30 a 49 anos, 14 homens no total e, entre estes, sete ti-nham entre 40-49 anos.8A escolaridade mais expressiva era daqueles que tinhamfrequentado o segundo grau (13 homens). Neste grupo, cinco haviam terminadoo ensino superior, quatro completaram o ensino mdio e os quatro restantes nochegaram a termin-lo. Quanto s ocupaes, eles declararam estar trabalhandocomo jornalista, fisioterapeuta, avalista de sistema, tcnico de enfermagem, portei-

    ro, segurana, motoristas (2), comerciantes (3), trabalhadores na construo civil(4). Dois autores disseram possuir alguma renda como trabalhadores autnomos e

    7 Estes dados foram fornecidos por profissionais do Juizado atravs de consultas s fichas tc-nicas. Uma mulher tambm participou do segundo grupo, perfazendo dez componentes aotodo. Ela tinha 33 anos, era solteira, com ensino mdio completo, renda aproximada de R$ 2mil, sem filhos; identificou-se como profissional do sexo e disse ter sido acusada de agres-so pela ex-namorada. Reconhecemos que o fato de uma mulher participar de um dos grupospluraliza o leque de consideraes analticas a serem tecidas. Porm, optamos por passar umcrculo de gizna categoria homens autores, j que ela o foco de interesse deste artigo.

    8 Fora deste grupo, quatro autores tinham entre 20 e 29 anos, e os dois autores mais velhostinham 51 e 68 anos.

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    outros trs se apresentaram como desempregados e/ou sem renda ocupacional.9A

    menor renda decorrente da ocupao profissional era de um a dois salrios mni-mos regional, dez homens recebiam em torno disso. Cinco homens recebiam maisde trs salrios e, entre as duas maiores rendas, havia um fisioterapeuta com dezsalrios e um jornalista com vinte salrios mnimos.

    No que se refere relao dos autores com as vtimas, 13 homens menciona-ram ter co-habitado como maridos/companheiros das mulheres que os acusa-ram de violncia. Entre estes, quatro viviam com as suas companheiras/esposas.Os homens ainda se referiram s vtimas como ex-namoradas (5), ex-sogra(1) e ex-cunhada (1). Considerando todos os seus relacionamentos amorosos, 14

    acusados eram pais de um (7 homens) ou dois filhos (7).10

    Esses grupos so orientados por uma equipe de atendimento multidisciplinarintegrada por profissionais especializados na rea psicossocial. Dois profissionais,preferencialmente de sexos e profisses diferentes (um psiclogo e um assistentesocial), so responsveis pelo acompanhamento de cerca de quatro Grupos de Re-flexo cada, permanecendo nos mesmos grupos ao longo de todo o processo. Oencaminhamento dos homens ocorre por meio de um acordo proposto pela juza,quando cabe a solicitao deste acompanhamento.11

    Os nossos contatos iniciais para a entrada no campo foram feitos junto a um

    psiclogo e a uma assistente social que acompanhavam os dois grupos observados.Logo no primeiro encontro, a principal manifestao dos homens em relao presena de pesquisadores referia-se maneira como a produo do conhecimentopoderia repercutir na sua situao com a Justia, at mesmo se ela poderia levar formulao de propostas para mudanas na Lei.

    As reunies dos grupos aconteciam com um intervalo de 15 dias e tinhamduas horas de durao. Os temas de cada encontro foram escolhidos pelos homensna primeira reunio e, posteriormente, seriam apresentados atravs da exibiode filmes, debates com especialistas convidados e, principalmente, atividades com

    metodologias que incentivassem a manifestao de opinies sobre as relaes fa-

    9 Um trabalhador autnomo recebia em torno de um salrio mnimo e meio, o outro declaroureceber menos de um salrio regional.

    10 Encontramos ainda a seguinte escala crescente: no tinham filhos (2), cinco filhos (1), seisfilhos (2), oito filhos (1).

    11 O acompanhamento tratado como um benefcio oferecido queles que no tm anteceden-tes criminais.

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    miliares e conjugais.12Era frequentemente enfatizado pelos profissionais da equipe

    multidisciplinar que nesses encontros os homens no estavam sendo avaliados eque poderiam falar livremente sobre o que pensavam.Uma importante preocupao manifestada pela equipe tcnica era a de que

    o trabalho que estava sendo realizado no poderia se confundir com terapia emgrupo. As primeiras explicaes sobre as motivaes do grupo ressaltavam que aliestavam reunidos homens autores de violncia e que o foco, portanto, deveria sernos motivos que os levaram a cometer um crime. Ao mesmo tempo, os profissionaislembravam que o grupo no uma pena, pois aqui ningum juiz, ningum estavaliando. Por fim, trs objetivos a serem atingidos no trabalho dos Grupos de Re-

    flexo foram identificados pela equipe tcnica: a) responsabilizar o autor desenvol-vendo nele uma conscincia do crime; b) promover mudana de atitude; c) divulgarinformaes que permitam aos autores tambm se verem como sujeitos de direitos,indicando a possibilidade de tratar os conflitos por meio da Justia.

    5. Benefcioou pena?

    O encaminhamento ao Grupo de Reflexo apresentado como um benefcio

    oferecido pelo/a juiz/juza aos homens que, sendo acusados de violncia contra amulher, no tiveram envolvimento anterior com a Justia. No Juizado em que rea-lizamos a pesquisa de campo, quando o acusado aceita o acordo, deve compareceraos encontros de duas horas de durao, que ocorrem com um intervalo de 15 dias,e so orientados por dois profissionais da equipe tcnica. Se um homem deixa decomparecer a um ou mais encontros, deve repor essa falta participando de reuniesde outro grupo, sendo admitido um nmero mximo de trs faltas. Ao final de oitoencontros, a ficha criminal do acusado fica limpa e o processo se encerra.13

    No entanto, os propsitos e os objetivos da frequncia ao Grupo de Reflexo

    no so compreendidos da mesma maneira pelos diferentes segmentos de atoresenvolvidos na situao. Nos primeiros encontros, enquanto os profissionais e ostcnicos difundiam a ideia de que os grupos eram um benefcio, os homens os

    12 Nos grupos observados, um estagirio da Defensoria Pblica do Juizado e representantes (ho-mens) de um grupo de Alcolatras Annimos foram participantes/especialistas convidadosem quatro diferentes reunies.

    13 As informaes sobre o procedimento implicado no acordo de participao em Grupos de

    Reflexo foram disponibilizadas por profissionais da equipe tcnica e, posteriormente, com-plementadas por um profissional da Defensoria do Juizado convidado para uma das reuniesdo Grupo.

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    viam como parte de uma pena que estaria sendo aplicada. A definio do grupo

    enquanto um benefcio no era facilmente incorporada pelos autores, conformemostra o dilogo a seguir:

    Eu queria saber se existiria outra forma de eu cumprir a determinao dajuza, porque eu estou correndo srio risco de perder o meu emprego, porter que vir aqui duas vezes por ms. Eu no poderia, sei l, at mesmo pagaruma cesta bsica? Ou outra coisa, no sei... [D., 42 anos]

    [...] Acontece o seguinte: quando voc assinou o acordo, concordou emsuspender o processo, voc est dizendo que culpado. um benefcio, a

    juza chama de benefcio, oferecido a quem nunca teve envolvimento cri-minal, porque depois que voc participar dos encontros fica como se nadativesse acontecido. A sua ficha est limpa. [Convidado, estagirio da De-fensoria Pblica]

    (Risos entre os homens)

    Benefcio? Esse apelido est timo! [A., 54 anos]

    A juza chama de benefcio, ento, na verdade, pena que o apelido.[Integrante da equipe tcnica]

    A participao no Grupo de Reflexo tambm pode ser considerada pelosautores como uma forma de solucionar um problema com a Justia. vista comouma sada que vale a pena, j que seria uma opo melhor do que a de conti-nuar com o processo, ir s audincias e tentar provar a sua inocncia.

    Voc est com um processo. A juza diz que, se voc participar do Grupode Reflexo, fica como se no tivesse acontecido o processo, a claro que ocara aceita, mesmo se for inocente. [S., 48 anos]

    Nos primeiros encontros, portanto, os autores demonstraram que no esta-vam presentes porque queriam, mas porque se sentiam obrigados. A participaonos grupos era vista mais como uma obrigao ou condio para reparar umasituao do que propriamente como um benefcio.

    6. Responsabilizao e mudanas nas relaes de gnero

    A ideia de responsabilizaros autores, coloc-los com a obrigao de refletirsobre os seus atos, realmente se mostrou como a mais significativa nas dinmicas

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    e nos encontros dos grupos. A responsabilizao tambm assume outros signi-

    ficados que dizem respeito a fazer com que os homens reflitam sobre o seu papelno interior da famlia e da relao conjugal. Nesse sentido, as discusses duranteos encontros no se limitavam ao tema da violncia propriamente, ou sobre o atode agresso ocorrido, mas sempre terminavam por incorporar questes como aparticipao dos pais na criao dos filhos, a circulao do dinheiro na famlia, osdireitos, a autonomia e a liberdade das mulheres etc. A equipe tcnica procurava,com esses debates, desnaturalizara diviso tradicional dos papis de gnero, enfa-tizando que essas divises so socialmente construdas.

    Alguns planos de tenso emergiam quando os assuntos requeriam reflexes

    sobre os papis de homens e mulheres na famlia e nas relaes de gnero. Acostu-mados a ver a responsabilidade com a famlia associada atuao na vida pblicapara prov-la economicamente, os homens no se identificavam com a ideia de quetambm deveriam, ou poderiam, ser responsveis pelos cuidados e o bem-estaremocional dos filhos e de suas parceiras. Reagiam tambm ideia de que deveriamse comprometer, em tempo integral, com a harmonia e a solidariedade familiar.Ainda que reconhecessem que o uso da violncia era um ato imprprio, e se com-prometessem em no mais agredir ou perpetrar violncias, viam as mulheres comocuidadorasnatas e as principais responsveis por manterem o lar e a famlia como

    um refgio emocional para todos os seus membros. A ruptura da mulher comesse modelo era considerada geradora de muitas desarmonias e conflitos ocorridosna famlia e elas eram, ao mesmo tempo, representadas como desequilibradas,provocadoras, agitadas, nervosas etc.

    A responsabilidade cotidiana de dar apoio emocional destinado aos filhos foidefinida como um dom com o qual as mulheres nascem. Os homens, por outrolado, teriam mais facilidade em disciplinar e proteger os filhos, o que promoveriaa complementaridade necessria ao seu bom desenvolvimento. Grande parte dosacusados de violncia tambm admitiu que as mulheres, nos tempos atuais, mui-

    tas vezes precisam contribuir com a proviso econmica, mas isto no implicariagrandes mudanas nas divises de papis no interior da famlia, na medida em queos seus parceiros homens no teriam as habilidades e as capacidades necessrias sprticas dos cuidados.

    Existem muitas mes solteiras que criam seus filhos sozinhos. Mas achomuito difcil acontecer o contrrio. Eu conheo um exemplo: tem um ami-go meu que a mulher dele morreu, ento ele se encontrou em uma situaoem que teve de se virar, precisou aprender a ser pai e me. Agora, se as

    filhas dele ficam doentes, para o colo da av que elas vo. Ele no conse-guiria fazer isso sozinho. [S., 48 anos]

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    7. Accountsnas interaes dos grupos de homens autores de violncia

    Os homens que participaram dos Grupos de Reflexo observados no se per-cebem como agressores ou autores de violncia. Eles concordam com a regramoral de que no se deve bater em mulher, mas questionam a validade universalda lei diante das situaes concretas que experimentam. Consideram a lei legtimaporque tem muito homem covarde por a, mas procuram demonstrar a sua noaceitao de estarem inseridos em tal categoria. Segundo essa lgica, muitas vezesos debates entre eles se detinham na preocupao com a classificao e a hierar-quizao da gravidade de cada situao, na qual, frequentemente, terminavam por

    enfatizar a menor gravidade de seu prprio caso.Aps a exibio de um documentrio sobre agresses contra as mulheres na

    famlia e da leitura de trechos da Lei Maria da Penha (LMP) que definiam as vio-lncias fsica e psicolgica contra a mulher,14os homens expressaram a suaconcordncia com a Lei, ressalvando, porm, que esta deveria ser aplicada somentenos casos que consideravam graves, como aqueles mostrados no filme. J os seusprprios casos foram interpretados por eles como situaes que poderiam ser re-solvidas no espao domstico, pelo casal.

    Indubitavelmente, a ida Delegacia era interpretada pelos homens como uma

    iniciativa da mulher que trazia implicaes desnecessrias a uma situao consi-derada de leve gravidade. De outro modo, a resoluo dos conflitos no prprioespao domstico significaria, nesses argumentos, a possibilidade de encontrar ca-minhos informais vistos como naturais e amigveis. Os homens apontavam ain-da algumas situaes que exemplificariam as tendncias litigiosas e artificiais quecontaminariam a publicizao da violncia como os casos de mulheres que, insa-tisfeitas com os homens, terminariam procurando a delegacia para se vingar; oenvolvimento de parentes, vizinhos e amigos nos conflitos conjugais e queenchema cabea da mulher para ir Delegacia; os interesses patrimoniais e financeiros

    das mulheres etc. Estas situaes impediriam, segundo eles, a resoluo dos confli-tos no espao privado e anulariam a possibilidade de se construrem solues pormeio de outros percursos legais, religiosos etc.

    14 LMP, Art. 7 So formas de violncia domstica e familiar contra a mulher, entre outras:I- A violncia fsica, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade e sadecorporal; II- A violncia psicolgica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danoemocional e diminuio da autoestima ou que a prejudique e perturbe o pleno desenvolvimentoou que vise degradar ou controlar suas aes, comportamentos, crenas e decises, mediante

    ameaa, constrangimento, humilhao, manipulao, isolamento, vigilncia constante, perse-guio contumaz, insulto, chantagem, ridicularizaro, explorao e limitao do direito de ire vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuzo sade psicolgica e autodeterminao.

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    No meu caso, acho que poderia ter sido resolvido em casa. [...] [A., 44anos]

    [...] Aqueles casos do vdeo j no dopra resolver em casa, uma questode gravidade. Aquela mulher que apareceu toda queimada... [W., 40 anos]

    O que acharam do filme? [Integrante da equipe tcnica]

    Pra quem cometeu o crime, importante. Mas tem graus de gravidade.[W., 40 anos]

    [...] O que violncia contra a mulher, afinal? Porque vocs esto dizendoque o que apareceu no filme... E aqui? [Integrante da equipe tcnica]

    No caso do filme,so doentes mentais, que precisam ser retirados doconvvio social para no agredirem outras pessoas. [R., 48 anos]

    Conforme chamamos a ateno em seo anterior, accountsreferem-se a si-tuaes nas quais os atores, diante de um comportamento considerado imprprio,aceitam a responsabilidade por este ato, mas rejeitam qualquer associao nega-tiva ou pejorativa a ele referente (justificao). Ou, ainda, accounts podem seracionados quando os atores reconhecem que o ato inadequado, inapropriado,

    errado, mas negam a sua total responsabilidade sobre ele (desculpa) (Scott & Ly-man, 2008). Abordaremos a seguir as justificaes e as desculpas para os atos deagresso nas situaes observadas.

    8. Justificaes

    Por meio das justificaes, o homem rejeita a carga acusatria e negativa querecai sobre si mesmo ao associar o seu ato (de agresso) ideia de que este teria

    sido uma resposta, s vezes com um sentido at mesmo de punio, ao compor-tamento inadequado da mulher. As justificaes evocam afirmaes como elaprovocou, ou a descrio de situaes conflitivas nas quais a mulher agiria paradesestabilizar o parceiro e o relacionamento. Os homens insistem na ideia de quealgum tipo de violncia moral ou simblica desencadeada pela mulher antecederiae explicaria a ecloso de atos de agresso fsica praticados por eles. Isso foi muitasvezes apresentado com afirmaes como ela me agrediu com palavras, e tam-bm em funo da ideia de que existiriam palavras e atos que machucam maisdo que uma agresso fsica.

    Quatro tipos de justificao foram mais enfatizados nas situaes de debatesentre os homens:

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    a. Traio: A traio da mulher e a exposio do homem a uma situao

    considerada de humilhao so justificaes para os atos de agresso emdefesa da honra masculina.

    [...] Tem momentos que... s agredindo. Porque ela te agride! Ela comeaa dar em cima do vizinho s para te provocar. Esse tipo de coisa. [B., 47anos]

    b. Falta de respeito: No reconhecer a autoridade do homem um tipo deprovocao, visto como um comportamento inadequado que desencade-

    ado pela prpria mulher.

    O que aconteceu foi que eu segurei ela para ela falar de frente para mim,porque eu no consigo ouvir, estou ficando surdo. Porque isso no se faz,falar de costas com algum, uma falta de respeito. Se voc est falandocomigo, tem que olhar para mim. [E., 68 anos]

    c. Cimes e desconfiana: Mulheres so ciumentas e desconfiadas, o que geramuitos conflitos na relao.

    Uma coisa que eu acho que gera muito conflito cimes. Acho que a socie-dade tem aquela imagem de que todo homem galinha. Ento, elas ficamfantasiando coisas que no acontecem. [N., 41 anos]

    d. Falta de cuidado com os filhos: Mulheres que no se comportam comoboas cuidadorasdesestabilizam e prejudicam a famlia.

    Ela ia sair com a minha filha e nem colocava casaco, sabe... no tinha cui-dado com ela, no se importava. [E., 22 anos].

    9. Desculpas

    Ainda que justifiquem a necessidade de uma resposta ou punio em face de

    uma agresso moral ou simblica da mulher, o uso de violncia visto pelos homens

    como inadequado. Eles afirmam repetidamente que no acham que agredir seja cor-

    reto. Por isso, eles no acionam apenas justificaes para a punio, mas tambm

    desculpas para o uso da violncia como forma de punio. Por meio das desculpas,

    eles demonstram que no tiveram plena responsabilidade pelo uso da violncia.

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    Werneck (2009) coloca que a desculpa um convite migrao de um plano

    ideal, superior, a um plano pragmtico, circunstancial (:130). Ainda que a regramoral em questo seja considerada legtima por aquele que d uma desculpa, elaest em um plano ideal. No plano concreto, pragmtico, ela nem sempre pode sercumprida. Por isso, segundo este autor, a desculpa sempre ser marcada pela des-crio das circunstncias especficas em que o autor se encontrava no momento daao considerada imprpria.

    Por meio das desculpas, os homens enfatizam que o uso de violncia como forma

    de resposta ou punio a um comportamento inadequado da mulher no se d de

    forma recorrente, mas em circunstncias que so excepcionais. Assim, se diferenciam

    daqueles que agridem sempre, estes sim, considerados por eles como agressores.Nesse sentido, o fato de um homem estar sob efeito do lcool um elemento

    externo que explicaria o uso de violncia, pois:s vezes uma coisa que no ia sermotivo de briga vira uma coisa enorme quando voc bebeu (S., 48 anos), ou seja,a regra moral no teria sido descumprida se o homem estivesse sbrio, portanto,com o pleno controle sobre si mesmo.

    Por fim, a fora fsica natural do homem tambm considerada, em algu-ma medida, como incontrolvel nos conflitos interpessoais em que ocorrem atri-tos com o corpo da mulher, considerado frgil. Nessa argumentao, um ato de

    agresso que no seria grave poderia, em uma situao especfica, deixar marcasno corpo da mulher. O significado dessa argumentao que, no havendo a in-tencionalidade da agresso, o que ocorreria nos seus prprios casos, no deveria ohomem ser apontado como o nico responsvel pela violncia.

    10. Consideraes finais

    O principal desafio nos Grupos de Reflexo para homens autores de violncia

    domstica, por ns observados, fazer com que os acusados realizem uma refle-xo sobre os seus atos e que se responsabilizem pelo crime cometido. Todo esseprocesso implica tambm a expectativa de mudanas de atitudes nas relaes degnero e nas formas de interao conjugal e familiar. Desse modo, os homens so,de alguma maneira, chamados responsabilidade pela harmonia na famlia.

    Uma consistente bibliografia sobre gnero e polticas pblicas tem mostradoque as diferentes concepes de papis prescritos s mulheres mais recentemente,como os de trabalhadoras e cidads, pouco alteraram as perspectivas que asvinculam aos papis de esposas, mes e cuidadoras (Jenson, 1997; Orloff, 2005;Sorj & Fontes, 2007; Lewis, 2001; Gornick & Meyers, 2007). Valores universaisrelacionadas responsabilidade das mulheres por um bem comum foram concebi-

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    dos, imemorialmente, atravs de uma articulao com a ideia decuidados. As mu-

    lheres como agentes responsveistiveram as suas identidades constitudas em faceda valorizao dos seus papis de me,protetora, esposae cuidadora, associaesamplamente difundidas no senso comum.

    Conforme nos referimos em seo anterior, pesquisas sobre as prticas e aspercepes das mulheres vtimas que encaminham a queixa de violncia s delega-cias policiais mostram que elas se concebem como portadoras da responsabilidadede cuidar da famlia e de manter a harmonia emocional no lar. Confrontar essaautopercepo das mulheres com a dos homens participantes dos Grupos de Re-flexo no Juizado implica reconhecer que eles, diferentemente, no se sentem to

    responsveis pelo equilbrio emocional e a pacificao das relaes na famlia. Tmainda grande dificuldade em admitir e incorporar as suas responsabilidades nocompartilhamento dos cuidadoscom a casa e os filhos, funo que foi vista comoum domda mulher.

    Devemos chamar a ateno tambm para o fato de que alguns homens, aolongo dos encontros, descreveram novas situaes de conflito em que se preocupa-ram em no fazer uso da violncia ainda que isto no signifique a resoluo doconflito por meio do dilogo, mas principalmente sair de perto, evitando as-sim um novo ato de agresso. Se, de um lado, esse autocontrole pode ser entendido

    como um clculopara evitar novos problemas com a Justia, uma vez que diantede outra queixa de agresso conjugal os homens no tero o direito ao benefciode participar do grupo, por outro lado, situaes observadas tambm permitirampensar em desejo de mudana por parte de alguns.

    Ao mesmo tempo, a ideia de que a mulher agredida foi, ainda que no sozi-nha, responsvel pela violncia se mantm quase inaltervel e refora, em umvis comparativo, uma ideia presente nos estudos de gnero que focam particu-laridades locais: as mudanas, quando ocorrem, esto longe de ser traduzidas ecompreendidas como processos sociais concordes, contnuos ou unssonos.

    Eu sei que errei, e tenho que mudar. Agora, houve provocao. E acho queem todos os casos aqui houve provocao. [B., 47 anos, participante de umGrupo de Reflexo e frequentador de um grupo de Alcolatras Annimos]

    Recebido: 30/04/2012

    Aceito para publicao: 11/07/2012

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