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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SPEspecialização em Língua Portuguesa
Oralidade e Escrita: Fundamentos e EnsinoProfa. Nilvia da Silva Pantaleoni
Vanessa Pereira Dantas de Souza
Transcrição da entrevista concedida pelas jornalistas Mariana Rodrigues
e Jullyanne Sousa, e pelo operador de câmera Ismael Nascimento à estudante
do curso de Letras Vanessa de Souza em 20 de novembro de 2014, semana
da Consciência Negra, cuja pauta é sobre o racismo, preconceito e a
discriminação no Brasil, sobretudo em ambientes escolares.
Os(as) entrevistados(as) foram aqui representados por locutores,
doravante (L), sendo que:
L1: Vanessa Pereira Dantas de Souza (Entrevistadora);
L2: Mariana Rodrigues (Entrevistada);
L3: Jullyanne Santos Sousa (Entrevistada);
L4: Ismael Nascimento (Entrevistado).
Transcrição
(02” até 26”)
L1: eu sou a Vanessa eu tô aqui com a Jullyanne com o Ismael e com a
Mariana... que vão falar um pouquinho pra gente de como eles enxergam essa
relação aqui... do negro... no Brasil... e pra começar eu vou fa/pedir para eles
se apresentarem... falar o nome idade, profissão... éh... a cor... como eles se
autoclassificam naturalidade escolaridade enfim... podem... falar
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(31” até 59”)
L2: bom... eu sou a Mariana Rodrigues... tenho 29 anos... éh... eu sou negra...
sou brasileira nascida em São Paulo moro aqui desde pequena... moro na
periferia des/ desde que eu nasci... sou formada em jornalismo sou da classe
C... éh... trabalho como repórter casa::da... não tenho filhos e sou da religião de
Deus do Cristo e do Espírito Santo
(01’00” até 01’03”)
L1: agora a Jullyanne vai falar... você pode ser apresentar por favor
(01’05” até 01’39”)
L3: meu nome é Jullya::nne Santos Sousa::... éh:::... tenho 30 anos... sou
negra... sou natural de Belém do Pará... e::: os meus pais são::: de... do:::
Maranhão éh:::.... passei a minha infância no interior do Maranhão e nos
últimos anos em:: São Paulo... éh... sou estudante de letras na Unifesp sou da
classe c... sou jornalista por profissão... solteira... não tenho filhos e a minha
religião é a religião de Deus do Cristo e do Espírito Santo
(01’40” até 01’46”)
L2: Ah... eu esqueci de falar que meus pa::is... o meu pai é de Salvador...
Bahia e a minha mãe que é de São Paulo
(01’47” até 01’50”)
L1: okay Mariane... obrigada... agora o Ismael vai se apresentar
(01’51” até 02’23”)
L4: éh... sou Ismael Nascimento tenho 31 anos... éh... sou negro ou
afrodescendente... éh ... sou de Porto Alegre... éh... Rio Grande do Sul... éh... a
minha... eu estou cursando jornalismo né? no... indo para o quarto semestre...
a minha profissão atual é como operador de câmera... classe social... classe
C... estado civil casado e tenho um filho... a minha religião é a religião de Deus
do cristo e do Espírito Santo
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(02’29” até 02’42”)
((suspiro)) então pessoal eu vou pedir pra vocês... vocês vão falando a medida
que vocês se sentirem a vontade... éh:: descrever alguma lembrança... da
infância de discriminação preconceito racismo... sobretudo na escola
(02’47” até 04’10”)
L3: eu::::... tenho pOucas lembranças de situações assim mas tem uma que
me marcou mu::ito que eu fiz::... estudei dois anos de:: letras na Universidade
Presbiteriana Mackenzie... e uma amiga minha uma vez numa determina
conversa... não lembro o assunto direito que a gente::... estava desenvolvendo
e eu falei assim "eu eu sou negra" e ela virou pra mim e falou assim "não você
não é negra você é clarinha" eu falei assim "não:: eu sou negra" e isso foi
muito importante pra mim foi um marco porque eu comecei ah:::... a perceber a
refletir como que as minhas amigas ali na faculdade estavam me vendo... elas
não me reconheciam como uma pessoa... negra mas pra elas eu era uma
pesso::a... éh::: clara uma pessoa amarela portanto... éh::... a impressão:: que
me deu e que me fez refletir foi que... será que pra ela me aceitar como uma
amiga que ela gostava ela precisava dizer que eu era mais clara... (no, no) ela
não me me aceitaria sendo negrA... então isso me fez refletir que dentro do
nosso país tal::vez eu tivesse um pouco mais de vantAgem por ser considerada
pelas pessoas como mais clara em relação as minhas outras amigas que::...
eram consideradas mais negras ou mais escuras que é como a gente... éh...
OUve as pessoas falarem muito
(04’11” até 04’13”)
L1: e como você reagiu... frente a isso... Jullyanne?
(04'14" até 04'46)
L2: a gente começ/ou... Eu comecei a discutir sobre essa questão:: da:::...
dA... da minha negritude e falar assim "não, eu sou negra" porque a questão de
ser negra não é só a questão do tOM da pele... mas os teus traços... a tua
cONsciência de negritude... então quando você... quando eu passei a discutir
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isso... éh::: as pessoas mudavam de assunto... porque::: não é um assuNto que
a gente observa que as pessoas veem com naturalidade... como elas não
sabem... direito e:: e é difícil a gente discutir isso no no Brasil... então mudava
de assunto e o assunto acabava ali
(04'56" até 05'12")
L4: têm uns fatos da minha vida... adolescência... também da parte como
jovem:: e:: profissional... mas a adolescência é uma coisa que... muito... que...
infelizmente as crian/ não dá para comparar que... ( ) a fase de criança é
resultado da criação dos pais... e de uma série de coisas, né?
(05'13" até 05'14")
L3: adolescência é sempre mais difícil né Ismael? ((risos))
(05'16" até 06'42")
L4: é difícil a adolescência... no caso da adolescência teve uma vez que eu fui
tingir uma calça... éh::: aí ficou muito caro o orçamento... aí eu falei "( ) não
vou... não vou poder éh...pagar" aí o cara me falou assim "ah eu sabia que
você ia... que você não tinha condições de pagar seu preto"... na hora eu não
assimilei a informação foi meu amigo... que é branco... que me fez essa
reflexão "oh Ismael você não percebeu o que o cara acabou de te falar?" na
hora... quando o meu amigo me tornou... me fez pensar... ter essa consciência
foi um choque muito grande éh::: naquilo dali eu chorei depois... fiquei... fiquei
abatido... conversei com meu pai meu pai na hora::... por impulso em querer
me defender foi numa maneira agressiva falar mas... a so::rte é que o cara tava
lá... eu não sou a favor da violência... e... ficou por isso mesmo... mas foi um
choque muito grande né? cultu/ éh... em relação a... a minha cor... e a outra...
quando no campo profissional eu fui filmar uma... fazer uma gravação no
interior do Rio Grande do Sul... terra de italianos e alemães... que é muito forte
a::: colonização lá... é eu fui fil/ eu fui gravar uma imagem lá... e:: na hora a
gente foi... eu fui me apre/ahn ... o:: o repórter foi me... me apresentou pra um:::
italiano... que acontece... o cara não quis apertar minha mão... e a espOsa
ficou desconcertada ela... ( ) ela foi muito infeliz... ela tava fazendo feijão e
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falou assim oh "feijão combina com "negron" né?" ( ) totalmente não
souberam:::... lidar com a situação... mas:: não me atingiu tanto como foi da
calça porque parece que depois eu fiquei mais consciente dessas coisas::né?
(25'06" até 25'47")
L2: eu tava na autoescola fazendo minhas aulas práticas... e aí o instrutor né?
virou pra mim e falou assim "ah você é negra minha esposa também é negra e
tal adoro negras... mas ela é uma negra inteligente" ((ruído)) ((risos)) Daí você
fala assim "é:::?" Como assim gente? ele achou... tirou sorte grande... ter
tirado... éh... conseguido uma negra e além de tudo inteligente quando... na
verdade... olha a inversão de:: de valores... a sua cor determina se você é
inteligente ou não... se você é esperto ou não... exatamente... a bele/a a::: a
beleza da sua... o::: a claridade da sua pele::... o tom da sua pele determina o
seu grau de inteligência? que::: que mundo é esse?
(25'47" até 25'56")
L3: e quando você fala isso "aquela é uma negra inteligente aquele é um negro
inteligente você está dizendo que todos os outros são horríveis e são feios...
mas aquela conseguiu se destacar... olha como ela deu sorte
(32'29" até 33'20")
L1: mariana você falou que você é casada com um homem branco... e quando
você sai com ele... você sente que as pessoas olham de outra forma... que isso
causa um estranhamento?
L2: Ah:: com certeza... com certeza... éh::: a impressão que eu tenho... é que:::
as pessoas se perguntam eh:: eh:: principalmente eu sinto essa visão do negro
sabe? de::"olha ela não gosta de... de negros ela não gosta por isso que ela tá
com um branco"... Só que assim... eu penso que pro meu marido olham "olha...
ele não é racista, ele tá com uma negra ele consegue namorar negras então
o::lha ele é um cara mUito caridoso ((risos)) praticamente isso né? ((risos))
agora da minha parte não... quando... éh:: na verdade... eu não levo isso... não
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levei isso em consideração... a paixão aconteceu o amor aconteceu e é por
isso que tô com ele
(33'24" até 34'12")
L2: Ah:: não teve jeito gente... vai ser com você mesmo né?... Mas::: éh:: éh:: é
doído o olhar... você vê... da/ das mulheres dos homens ne::gros isso pesa
bastante do/ dos homens...
L3: você se sente até com... com a consciência pesAda
L2: exato... você fala assim "meu Deus será... eu acho que eu de::via ter me
apaixonado... por que:: eu não me apaixonei por negro:: gente? ((risos)) não
brincando... mas éh:: éh:: diferente o olhar... a gente sente que pesa mesmo
por eu estar... do lado de um branco... agora do lado dele eu não sinto... eu
sinto que é diferente... olham assim como::... poxa... que cara legal::
L3: parece até que você conseguiu um prê::mio... né?
L2: exa::to
L3: é cruel dos dois la::dos né?
L2: exa::to
L3: ela consegui uma ascensão... ela conseguiu um homem branco... olha só
L2:exatamente
L3: mas ela é uma negra bonita
L2:é uma negra bonIta... exatamente
L3: por isso ela conseguiu um homem branco... então...
L2: Senão eu não conseguiria
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(53'16" até 53'54")
L3: é que às vezes quando você fala mUito desse assunto... ((racismo)) você
observa que as pessoas falam "ah:: lá vem a chata... ah:: lá vem... ai:: Jully
você sempre éh::: fica criando coisas... já ouvi coisas assim "ah não deixa ela...
ela fica querendo inventar essas coisas" e que observa é que assim... éh:::...
quando é o negro falando dele... falando das questões levantando as questões
e discutindo... fazendo a pessoa pensar é visto de um jeito... mas se é um
bran::co falando que essas questões são necessárias discutir as pessoas já
param pra ouvir... eu observei isso
L2: o::lha... ele defende as minorias
L3: i::sso:::
L2: deve ser isso que passa na cabeça da pessoa
L3: no:::ssa mas ela que é branca tá falando que existe racismo... então acho
que eXISte MES
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