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THE HIGHLANDER'S BRIDE Michele Sinclair Escócia, 1307 Preso ao dever... Atraída pelo desejo. Conor McTiernay sempre sonhou com um amor verdadeiro. Porém, a realidade das mulheres que o desejavam somente pelo título e pela riqueza o levaram a descartar a idéia de casamento. Isso, até ele conhecer a inglesinha que seus homens encontraram escondida na floresta. As manchas de terra e fuligem não conseguiam ocultar a beleza de Laurel Cordell... Mas seria ela apenas outra sedutora ardilosa, ou Conor finalmente encontrara a mulher de sua vida? Laurel confiou no chefe de clã escocês para

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THE HIGHLANDER'S BRIDE

Michele Sinclair

Escócia, 1307

Preso ao dever... Atraída pelo desejo.Conor McTiernay sempre sonhou com um amor verdadeiro. Porém, a realidade das

mulheres que o desejavam somente pelo título e pela riqueza o levaram a descartar a idéia de casamento. Isso, até ele conhecer a inglesinha que seus homens encontraram

escondida na floresta. As manchas de terra e fuligem não conseguiam ocultar a beleza de Laurel Cordell... Mas seria ela apenas outra sedutora ardilosa, ou Conor finalmente

encontrara a mulher de sua vida? Laurel confiou no chefe de clã escocês para protegê-la do homem cruel de quem ela fugira. Nos olhos prateados de Conor, ela vislumbrava a coragem de um guerreiro e o brilho da paixão. Mas antes que

Laurel e Conor pudessem explorar o crescente desejo entre ambos, aquele amor recém-descoberto seria ameaçado por segredos do passado...

Digitalização: Crysty Revisão: Ana Ribeiro

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CHE 319 – Sedução nas terras altas – Michele Sinclair

Querida leitora,

Eu me encantei com esta história de Laurel e Conor, um casal de personagens encantadores e cativantes! Laurel está a caminho da fortaleza de seu avô, nas Terras Altas, quando é raptada pelo implacável herdeiro dos Douglas. Mas consegue escapar e é resgatada por Conor, líder do clã McTiernay. Com medo de provocar a ira do avô sobre os Douglas e os McTiernay, ela guarda segredo de seu passado. Conor, por sua vez, cansado de mulheres que só estavam de olho em seu título e sua fortuna, jurou a si mesmo que nunca se casaria... até que ele fica conhecendo Laurel. Mas nem Conor nem Laurel imaginavam as adversidades que ainda teriam de enfrentar...

Leonice Pomponio Editora

Copyright © 2007 by Michele Peach

Originalmente publicado em 2007 pela Kensington Publishing Corp.PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.

NY.NY-USA Todos os direitos reservados.Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas

vivas ou mortas terá sido mera coincidência.

Proibida a reprodução, total ou parcial, desta publicação, seja qual for omeio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão expressa da

Editora Nova Cultural Ltda.

TÍTULO ORIGINAL: THE HIGHLANDER'S BRIDE

EDITORA Leonice PomponioASSISTENTES EDITORIAIS

Patrícia ChavesPaula Rotta

Silvia MoreiraEDIÇÃO/TEXTO

Tradução: Sulamita PenRevisão: Giacomo LeoneARTE Mônica Maldonado

ILUSTRAÇÃO Thomas SchluckMARKETING/COMERCIAL

Andréa RiccelliPRODUÇÃO GRAFICA

Sônia SassiPAGINAÇÃO

Estúdio Editores.com© 2008 Editora Nova Cultural Ltda.

Rua Paes Leme, 524 — 10 andar — CEP 05424-010 — São Paulo — SPPremedia, impressão e acabamento: RR Donnelley

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CAPÍTULO I

Escócia, 1307

― E Milorde, não pensa em se casar? A pergunta vinha sendo feita de maneira incessante nas últimas semanas, desde que seu irmão mais novo decidira subir ao altar.

— Agora é a sua vez, Conor! — era o comentário daqueles que o encontravam.Os ligados a ele com certa intimidade nada ousavam perguntar, mas os outros não

se furtavam à indagação fatídica.— E milorde, quando resolverá se casar?— Nunca, se é que isso é da sua conta — era a resposta brusca com que ele

brindava a maioria dos curiosos que o haviam aborrecido durante a cerimônia.No caminho de casa, os cavaleiros que cavalgavam a seu lado não se cansavam de

provocá-lo:— E então, Conor, quando vai escolher uma noiva? — um deles imitou a voz

dissonante de uma das matronas escocesas que haviam atormentado Conor naquela última semana.

Risos se sucederam entre o grupo de homens, todos morenos de olhos azuis.— Qualquer dia desses, Craig, ele vai lhe dar uma surra.— Espero que ele acerte a boca de Craig — disse um dos mais jovens, defendendo

o irmão mais velho.Conor ignorou a tagarelice dos irmãos e liderou o grupo até um riacho próximo para

refrescar as montarias. A viagem estava chegando ao fim, e logo ele estaria de volta às terras dos McTiernay, onde retomaria seus deveres como chefe do clã.

— Cuidem bem dos cavalos. Acamparemos mais à frente, no vale.Os homens obedeceram. Eles não chegariam antes do anoitecer ao destino

sugerido, a muitos quilômetros ao norte, onde não havia sequer um regato para matar a sede dos homens e dos animais. No entanto, era uma decisão acertada. Nenhum deles gostaria de dormir próximo às terras dos Douglas.

Embora uma pequena parte do território dos Douglas se limitasse com terras dos aliados por onde Conor e seus homens costumavam passar, tratava-se de uma localização estratégica. Protegida por dois enormes despenhadeiros, havia apenas dois lados que necessitavam de fortificação, e era o que os ancestrais dos Douglas haviam feito.

No caminho para o vale, Conor pensava na pergunta do irmão. Conor McTiernay era um homem de estatura elevada, mesmo para os padrões masculinos dos habitantes das Terras Altas. Usava os cabelos castanho-escuros amarrados para trás, ao contrário dos soldados escoceses. Fazia anos que as jovens e suas mães empregavam as mais variadas táticas para persuadi-lo a assumir um compromisso. Não havia uma única moça solteira que não se encantasse com a idéia de tornar-se esposa de um poderoso chefe de clã, ainda mais sendo ele jovem, atraente e vigoroso.

Com o decorrer dos anos, Conor se cansara do interesse artificial das belas jovens e passara a ser considerado um homem frio e rude que não se rendia aos encantos femininos.

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O que pouco o incomodava, pois Conor não tinha intenção de se casar. A maioria dos matrimônios não passava de um simples contrato, um meio de assegurar alianças, perpetuar a linhagem familiar, compartilhar tarefas e satisfazer necessidades físicas.

Seu talento com a espada e a lealdade indiscutível de seus homens geravam bons acordos. Seus irmãos certamente assegurariam a continuidade dos McTiernay, e suas necessidades físicas podiam ser satisfeitas sem nenhum compromisso.

O casamento de seus pais fora diferente. Eles se amavam, confiavam um no outro e haviam construído uma união admirável. E desde a adolescência, Conor pensava em edificar uma vida semelhante à deles.

Desconfiado, Conor analisava, com resultados desanimadores, as mulheres que tinham pretensão de tornar-se lady McTiernay. Embora muito corteses, quando interrogadas a respeito dos verdadeiros interesses, umas choravam e outras entravam em pânico, sempre declarando ser ele o único lorde montanhês sem coração. Após uma série de desilusões e experiências desagradáveis, concluíra que a existência maravilhosa de seus pais não se estenderia a ele.

O grupo chegou ao vale e pôs-se a montar acampamento. A temperatura caía e Conor estava contente em voltar para casa. Muitas coisas teriam de ser feitas antes do inverno e em poucas semanas as montanhas estariam cobertas de neve.

Conor observou os homens que montavam uma grande fogueira no centro da clareira. O grupo não era numeroso. Cinco de seus seis irmãos e quatro de sua guarda de elite. Em geral Conor não permitia que a família toda ultrapassasse a fronteira dos McTiernay, mas o casamento exigira a presença dos familiares. Relutante, acabara concordando com a viagem dos irmãos mais novos, apesar de o trajeto ser feito em terras de aliados ou clãs neutros.

— Aposto que Colin terá uma ótima noite de núpcias — Craig opinou, rindo.O gêmeo Crevan sorriu e continuou comendo um pedaço de carne. Os gêmeos de

dezessete anos eram muito parecidos, altos, com cabelos castanho-escuros e olhos azuis. Contudo a personalidade deles diferia como a água do vinho.

— Colin deve estar feliz, pois Deirdre é muito bonita — Clyde, o caçula de quase doze anos, afirmou.

Os mais velhos o provocavam, dizendo que o estoque de nomes bonitos começados com a letra "C" se esgotara quando ele nascera, e Conor o consolava dizendo que os dois eram os únicos que tinham os olhos cinzentos, da cor da prata. Os outros tinham olhos azuis como os da mãe.

— Com seu nome, Clyde, nem espere essa felicidade. — Conan, de catorze anos, gostava de imitar os mais velhos.

Clyde irritou-se e jogou terra com a bota na capa xadrez de Conan. Este, por vingança, deu um pontapé com força e a terra atingiu não apenas Clyde, mas também Conor. E se não fosse a intervenção de Cole, o mais velho depois de Conor e Colin, a provocação teria desandado numa briga entre irmãos. Com o casamento de Colin, Cole ficara encarregado de evitar a discórdia entre os mais novos, pois Conor, chefe do clã, era muito ocupado e não podia perder tempo com esses detalhes de pouca importância.

— Chega — Cole imitou a voz firme de Conor nos campos de treinamento.Conor não participou da altercação e recostou-se num dos olmos que rodeavam a

pequena clareira. A interferência de Cole, um rapagão de vinte e um anos, conseguira refrear os ânimos e impedir a provável destruição do acampamento recém-montado.

Mesmo em terras de aliados, eles ainda se encontravam muito perto da fronteira dos Douglas. Conor adoraria enfrentar num campo de batalha aquele chefe de clã cruel e desonesto, mas não na presença dos irmãos mais novos e a vários dias de distância de casa.

Conor conversou com os quatro soldados e elaborou um esquema de vigilância. Mais alguns dias de viagem ao norte e a vigília poderia ser relaxada. Depois das ordens

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distribuídas, voltou ao acampamento onde Craig relatava os últimos boatos.— É inacreditável o que Hilda me disse — Craig afirmou.— Quem é Hilda? — Clyde indagou.— Ah, uma moça com quem ele passou a noite — Conan falou como se fosse

familiarizado com tais eventos.— Bem, Hilda me disse que a neta de Maclnnes vai morar com ele. — Craig piscou,

malicioso.— E o que t... tem isso? — Crevan, introspectivo e calmo, era o oposto de Craig,

sempre alegre e exuberante.Contudo, enganava-se quem supunha serem o temperamento afável e a ligeira

gagueira sinais de fraqueza. Dois anos de treinamento haviam transformado Crevan num verdadeiro McTiernay. Esperto, estrategista e rude numa batalha.

— Ela é inglesa. — Craig fez uma careta.— Ora, mas se ela é n... neta de Maclnnes e ele é e... escocês, c... como pode s...

ser isso?— Não sei. Maclnnes é das Terras Altas, foi o melhor amigo de nosso avô e,

segundo Conor, Maclnnes mantém as tradições do Norte.— Então ela n... não é i... inglesa.— Hilda contou que ela mora na Inglaterra há muitos anos e que perdeu a mãe,

mulher bonita e filha de Maclnnes, ainda criança. Por isso nem deve lembrar-se mais das tradições escocesas. Todos apostam que ela não agüentará muito tempo e voltará para a Inglaterra. Maclnnes é muito severo.

— Os ingleses deveriam ficar na terra deles. — Cole desprezava o país vizinho e seus habitantes.

— Cole, os ingleses podem arruinar nossas terras? — Clyde lembrou-se dos comentários negativos dos guerreiros McTiernay.

— Por que a dama inglesa vem morar na Escócia com o avô? — Conan não esperou a resposta de Cole.

— Talvez ela odeie a Inglaterra — Craig opinou, mastigando carne fria de carneiro.— Os ingleses não são espertos o suficiente para odiar a terra natal — Cole falou

com desprezo. — Ela talvez queira tirar proveito por ser a única herdeira de um lorde poderoso.

— Mas você disse que ela era bonita — Conan ponderou, sempre perdido em relação ao sexo oposto, embora fosse inteligente e procurasse instruir-se lendo manuscritos.

— Conan, uma moça bonita pode ser burra e irritante — Craig afirmou com superioridade. — Nunca se esqueça disso.

— Eu sei — Conan alteou a voz. — Por isso mesmo nunca me casarei, como Conor. Não queremos mulheres pouco inteligentes, mesmo que sejam bonitas. — Ele procurou a aprovação de Conor, mas o irmão estava de olhos fechados e com expressão imperturbável.

— Além do mais eu disse que a mãe era bonita, não ela — Craig afirmou. — E por isso, foi cortejada por muitos homens.

— E por que a neta de Maclnnes é inglesa? — Clyde indagou.— Porque a mãe fugiu para se casar com um barão inglês. Bonita e pouco esperta,

como se pode deduzir. E, provavelmente, a coitada da neta de Maclnnes deve se parecer com o pai.

— O que deve entristecer bastante Maclnnes — Clyde comentou.Em geral Conor não participava da conversa dos irmãos. Ele amava a família e

considerava difícil saber quando deveria assumir o papel de irmão mais velho ou de chefe do clã. Por isso, ao se tornar lorde McTiernay, encorajara Colin a atuar como irmão mais velho, o que lhe permitia ocupar-se com o clã em tempo integral.

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Naquele dia, Colin se casara com Deirdre, filha mais velha de lorde Dunstan. Depois da volta para casa, Cole os deixaria para fazer parte da guarda de lorde Schellden, um aliado com terras a oeste dos McTiernay, Colin e Cole tinham sido os primeiros a sair, mas logo os outros também iriam embora em busca dos próprios destinos.

E, por algum motivo, aquela idéia o fazia sentir-se solitário e triste. Por isso procurava disfarçar a dor, distanciando-se deles. Sua vida era o clã, e o clã precisava dele.

Conor foi afastado de seus devaneios quando Finn, comandante da guarda, se aproximou, sério e preparado para uma luta.

— Hamish está investigando um ruído que escutou na mata.Naquele instante eles ouviram um grito abafado de Seamus. Desembainharam as

espadas e avançaram para confrontar-se com o inimigo. Ao chegar mais perto da floresta, viram Loman e Hamish arrastando uma mulher para a clareira.

Loman chegou perto de Conor, segurando-a pelo braço, e ela parou de espernear. Pelo arfar de Loman, Conor imaginou o que acontecera e admirou-se como uma moça tão magrinha poderia ter dado tanto trabalho.

— Ela atingiu Seamus na cabeça e nós a pegamos enquanto ela tentava fugir da cena do crime — contou Loman.

Laurel espantou-se ao ouvir a palavra "crime" e em seguida irritou-se. O gigante a quem chamavam de Seamus tentara aprisioná-la, e defender-se era seu direito. Ela fitou o líder deles, o maior de todos.

Conor notou que ela procurava esconder o pavor que sentia. Ficou fascinado com a mudança de expressão de surpresa para raiva, mas não estava preparado para o olhar dela.

A aparência desgrenhada e as roupas rasgadas desapareceram diante dos olhos que lembravam o mar do Norte numa tempestade: azul-escuros com laivos verdes. Eles se entreolharam por alguns momentos, antes de Conor retomar o raciocínio.

— Quem é a senhora? — ele perguntou em tom monocórdio.Alta e dona de um porte régio, não parecia importar-se com a manga rasgada do

ombro ao cotovelo. Seus olhos brilhavam, e ela o desafiava com o queixo erguido. Mas Conor notou o leve tremor quando ele se aproximou, surpreso pela atração que sentia pela desconhecida.

Desesperada, Laurel teve a intuição de que seu captor, aquele escocês enorme, poderia ser também seu salvador.

— Sou Laurel Rose Cordell. — Ela levantou ainda mais o queixo.Conor acenou para Loman soltar a jovem orgulhosa e observou-a massagear o local

por onde fora presa. Terra e galhos secos estavam emaranhados nos longos cabelos loiros. Os ossos malares eram altos e a boca carnuda pedia beijos. Era incrível que se sentisse encantado por uma mulher naquele estado, tão desarrumada.

Ora, ela era inglesa, estava suja e mal vestida, mas exalava um perfume de flores, mais precisamente de lilases. Aquelas tinham sido as flores prediletas de sua mãe, que sempre as cultivava na fortaleza.

Embriagado por aquele perfume e pela cor dos olhos que não o desfitavam, Conor demorou alguns instantes para notar que ela segurava, como se não percebesse, uma pequena adaga com cabo de madrepérola. Na certa a jovem devia estar um pouco confusa, se imaginava poder ferir alguém com aquela arma de brinquedo. Disse a si mesmo que seria melhor tirar dela a lâmina, antes que ela se cortasse.

Laurel estremeceu ao vê-lo aproximar-se e teve uma idéia tola: fugir. O gigante chegou perto dela e tirou a adaga de sua mão. Ela não pretendia recuar de maneira tão covarde, mas o líder do grupo era grande demais mesmo para ela, considerada alta para uma mulher. Ele tinha feições enérgicas e, apesar de muito musculoso, Laurel não se sentiu ameaçada. A impressão era de que ele podia enfrentar um exército inteiro, se

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preciso fosse.Ele estava tão próximo que era possível ver uma pequena cicatriz no supercílio

direito, cortando a sobrancelha ao meio. Fora essa pequena imperfeição, seu rosto tinha uma beleza masculina perfeita, e diferente de seus braços que apresentavam inúmeras cicatrizes. Era evidente que ele enfrentara muitas batalhas e soubera como sobreviver a elas.

O guerreiro tinha espessos cabelos castanho-escuros e olhos literalmente prateados que fascinavam, diferente de tudo o que Laurel já vira. Ela comparou-os a uma taça de cristal que refletia a luz. Ele não perdia um só de seus movimentos, mesmo o menor deles.

Apesar do tamanho descomunal e da frieza de seu olhar, Laurel percebeu, mesmo sem entender o motivo, que estava segura com ele. Ele a ajudaria e a protegeria. Ele teria de fazê-lo.

Sob a fraca luz do luar, Conor observou a inglesa encará-lo como se calculasse o que deveria fazer. O vestido rasgado em vários locais deixava entrever uma camisa branca e rendada, muito feminina. Com certeza, tratava-se de uma jovem de classe alta. Ele não conhecia ninguém que usasse roupas íntimas tão luxuosas. Os cabelos pareciam loiros, mas era difícil distinguir o tom sob a camada de sujeira. Até o rosto mostrava manchas que poderiam ser de terra ou de sangue.

Hamish aproximou-se com um pano úmido para ela se limpar, mas Laurel recuou.— Não foram meus homens que fizeram isso — Conor falou com desagrado pelo

fato de ela estar com medo deles.— Não — ela confirmou com simplicidade.Conor anuiu, tirou o tecido das mãos de Hamish e entregou a Laurel que, dessa vez,

não se assustou.Laurel começou a limpar o rosto e revelou parte de sua beleza. Ela possuía feições

dignas da nobreza da Escócia: suave, feminina e cheia de energia; nariz ligeiramente arrebitado e pele clara; lábios carnudos que pediam uma exploração minuciosa. Conor sentiu vontade de beijá-los com profundidade e paixão, e beber neles de todas as maneiras possíveis.

Laurel terminou de limpar o rosto e as mãos e ouviu um barulho vindo da mata. Aterrorizou-se até ver Seamus aparecer na clareira. Ao mesmo tempo lembrou-se que lhe haviam imputado um ataque que ela não cometera e encarou Conor com a cabeça erguida.

— Não cometi nenhum crime. — Sem se defender, ela fitava Conor como se o desafiasse a desmenti-la.

Conor percebeu a mudança de pânico para alívio quando ela vira Seamus aparecer. A jovem na certa fugia de alguém ou de alguma coisa.

— A senhora está segura, aqui ninguém lhe fará nenhum mal — Conor esclareceu, tentando deixá-la mais calma. — Por acaso está fugindo de seu marido? — Ele detestou a pergunta, mas era preciso saber a resposta.

Laurel lembrou-se de como estivera perto de se casar e negou com um gesto veemente de cabeça.

— Não sou casada! — ela praticamente gritou.Por um instante o gigante sedutor pareceu aliviado com a resposta, o que não fez

nenhum sentido para Laurel.De repente, a situação pareceu complicada demais, e Laurel teve vontade de sentar-

se e pensar sobre o que deveria fazer. Ela suportara e presenciara crueldade demais nos últimos dois dias. Estava muito cansada, e até respirar custava-lhe grande sofrimento.

Pense, Laurel, pense, ela advertiu a si mesma. Apesar do que o líder dissera, ela ainda não se sentia segura. Teria de encontrar uma maneira rápida de afastar-se dali para o mais longe possível. Olhou para cima e notou a energia tranqüila daquele olhar honesto.

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Ali estava um homem que honraria a palavra dada, se Laurel conseguisse obter a promessa de que ele a levaria para onde estivesse se dirigindo.

— Por favor, leve-me com o senhor — Laurel pediu com suavidade. — Nem que seja por algum tempo. Uma vez que eu esteja longe o suficiente...

Nisso a energia de Laurel esgotou-se. Ela agarrou o braço de Conor e desmaiou.Conor e seus soldados ficaram atônitos. Ela não dera a menor demonstração de que

se sentia mal. Finn curvou-se para ajudá-la, mas foi impedido bruscamente por Conor, que se abaixou e a levantou nos braços. Um forte desejo de protegê-la inundou-o quando ergueu o corpo frágil e largado.

— Não permitirei que nenhum malefício lhe aconteça, minha jovem — Conor sussurrou no ouvido de Laurel enquanto caminhava rumo ao acampamento. — Eu lhe dou minha palavra de honra.

Chegando ao local onde estavam acampados, Conor deitou-a sobre sua manta xadrez e cobriu-a para protegê-la do frio da noite. Sorrindo, deixou a pequena adaga ao alcance da mão de Laurel Rose Cordell.

Laurel acordou antes do amanhecer. Espreguiçou-se e sentou-se, sentindo o corpo dolorido. A noite anterior parecia uma recordação distante, meio sonho, meio pesadelo. Relanceou um olhar ao redor. Estava num acampamento, rodeada por escoceses gigantes e de pés descalços. Um movimento brusco a lembrou das costelas que doíam e por isso custava-lhe respirar, embora a cabeça não latejasse tanto.

Laurel levantou-se com cuidado, fechou os olhos e lembrou-se do homem austero, de olhos cinzentos que davam a impressão de ser prateados, que pareciam ler sua alma. Abaixou-se e pegou a manta de lã xadrez onde dormira. Sentiu a trama macia do tecido em tons de azul, verde com traços dourados, vermelhos e cor de vinho, e enrolou-se nela para se aquecer. A manta tinha cheiro de cavalo e do homem que prometera mantê-la a salvo do perigo. Era estranho, mas o agasalho dava a sensação de conforto enquanto ela caminhava rumo à mata para satisfazer suas necessidades fisiológicas.

Conor viu-a levantar-se. Por quase toda a noite ele a observara dormir. Durante o sono ela pouco se movera, como se qualquer mudança de posição lhe causasse sofrimento. Nas atuais condições, era difícil avaliar sua aparência, mas admitiu que algo em Laurel Rose o cativara.

Viu-a enrolar-se na manta e ir para a floresta mal iluminada pelo sol que despontava. Laurel caminhava com calma, dignidade e graça, sem nenhuma indício de que houvesse escapado de uma experiência desastrosa.

Conor sacudiu a cabeça pela centésima vez, tentando afastar os pensamentos indesejáveis. Nunca vira uma mulher em estado tão deplorável e, mesmo assim, ele a desejava... e muito.

Fora uma atração instantânea. Conor levantou-se com brusquidão. Precisava concentrar-se no dia de viagem e na volta para casa. Encontraria um lugar seguro para abrigar Laurel Rose Cordell e retomaria sua rotina diária. Tratou de reunir a guarda para que levantassem acampamento.

Laurel deparou-se, na volta, com os homens prontos para partir. O mais jovem dos escoceses gigantes foi o primeiro a vê-la parada na margem da clareira. Os outros estranharam a suspensão das atividades de Clyde e seguiram o olhar dele.

Viram uma jovem alta, magra, com longos cabelos loiros e incríveis olhos azul-esverdeados. O braço estava machucado, o vestido rasgado, e ela estava enrolada em uma das mantas dos McTiernay.

Laurel espantou-se ao ver os cinco escoceses. Eram todos montanheses típicos, com traços fortes, vestimentas e armamentos característicos das Terras Altas. Dois eram

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bem jovens, mas em pouco tempo ficariam encorpados como os mais velhos. Tinham cabelos castanhos que variavam do claro e acobreado ao escuro como os do líder. Os olhos azuis e brilhantes era característica comum, com exceção do mais jovem que tinha olhos cinzentos como o do homem que lhe prometera proteção.

Laurel lembrou-se dos homens que ela conhecera na noite anterior e um momento de pânico a invadiu. Precisava fugir. Certamente a procuravam pelo que ela fizera.

— Está tudo bem? — um dos escoceses se aproximou. — A senhorita está um tanto... descomposta. — Os outros a rodearam, dispostos a ajudar.

Laurel entendeu que eles pretendiam apenas prestar-lhe auxílio e que estavam curiosos.

— Tem razão, estou mesmo um horror. Deve ter sido um irmão seu que me ajudou ontem à noite. — Laurel hesitou ao ver os quatro mais jovens sorrirem. O mais velho dos cinco não escondia a carranca. Ela o ignorou e dirigiu-se aos mais simpáticos. — Algum dos cavalheiros poderia me dizer onde posso lavar o rosto?

Todos negaram com um gesto de cabeça, e o mais jovem esclareceu:— O regato mais próximo faz divisa com as terras dos Douglas. — Ele apontou o

local de onde ela fugira na noite anterior.Laurel empalideceu.— Mas há um riacho mais ao norte, senhorita, e vamos para lá hoje — um dos

gêmeos falou.— Se quiser, pode vir conosco — o outro ofereceu. Laurel ficou radiante com o

entusiasmo dos jovens, e seu sorriso contagiou o grupo. Até mesmo Cole, que odiava os ingleses e a Inglaterra, teve vontade de ajudar a jovem que fora cruelmente atacada.

Conor chegou a tempo de ver os irmãos olharem para Laurel como se ela fosse um anjo caído do céu. Ela também os enfeitiçara, assim como às sentinelas, que não paravam de falar de Laurel.

Sob as primeiras luzes da manhã, os cabelos loiros poderiam deixar um homem abismado. O rosto oval, os olhos grandes, o nariz arrebitado e os lábios rosados eram uma visão irresistível. Pouco importava que seus cabelos estivessem sujos e desgrenhados. Diante de um jovem como aquela, homens esqueciam onde se encontravam, do que eram capazes e até de seus deveres.

Conor estreitou os olhos para os irmãos e Laurel voltou-se para ver o que causara o sobressalto de todos. Ela viu o homem que, na noite passada, prometera ajudá-la. Ou tudo não passara de um sonho?

— O senhor falava sério? — Laurel sussurrou quando ele chegou mais perto.Conor admitiu que Laurel tinha um olhar hipnótico. Sem o brilho da raiva, a cor dos

olhos ficava mais clara, mesclando o azul com uma tonalidade incomum de verde. E pareciam ainda maiores na moldura dos cílios escuros e das sobrancelhas perfeitas. A face direita estava inchada e o hematoma do braço aumentara e escurecera. Ao ver os ferimentos à luz do dia, Conor teve de controlar a raiva quando Laurel desenrolou a manta para devolvê-la.

O grito sufocado dos irmãos foi audível. Alguém batera nela sem misericórdia e Conor entendia por que ela não se mexera durante o sono.

— O que aconteceu?— Quem fez isso?— Sente-se, por favor, senhorita.— Qual é o seu nome?— Onde é a sua casa?— Diga-me quem fez isso e eu a vingarei — um dos gêmeos afirmou.— Meu irmão a salvará — o mais jovem prometeu. — Ele é chefe de um clã muito

poderoso.Conor conseguiu impor silêncio com o olhar.

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— Quem é o responsável por esses ferimentos? — A voz dele estava carregada de fúria contida.

Os quatro guardas retornaram da vigilância noturna e espantaram-se com a ira do lorde. Nisso, viram Laurel.

— Não importa quem me feriu, mas sim que não darei mais oportunidade de repetirem o feito. Por favor, posso ir com o senhor? — Laurel indagou, ansiosa, e notou o turbilhão em seu olhar.

— A senhora virá conosco — Conor confirmou a promessa sem demonstrar emoção.

Laurel esperava sair dali sem demora. Ela não queria que outros homens honestos morressem por sua causa.

— Podemos ir agora?Conor estreitou os olhos. Pela pressa de Laurel, era de se supor que o agressor dela

não desistiria facilmente.— Fique tranqüila, partiremos em seguida. Mas antes do final da viagem, quero

saber quem fez isso — Conor apontou o rosto e os braços de Laurel, e fez um sinal para os homens. — Vamos.

O grupo montou e Hamish aproximou-se de Laurel.— Milady. — O soldado mostrou o próprio cavalo. Laurel caminhou na direção do

animal castanho, desapontada por não ter sido convidada pelo chefe.O lorde das Terras Altas parecia feroz naquela manhã. Era assustador o controle

que ele exercia sobre cada movimento que fazia com o corpo tenso. Os cabelos escuros esvoaçavam na testa e o olhar não poderia ser mais gélido. Mesmo assim, Laurel sentia-se atraída pelo homem que lhe transmitia confiança e sentimento de proteção.

Conor montou o garanhão, decidido a manter distância da jovem que o encantava. Mas quando a viu aceitar o convite de Hamish, sentiu o coração gelar. E, num impulso, incitou o cavalo para a frente, arrebatou a jovem do solo e sentou-a em seu colo.

Hamish pareceu confuso e montou. Embora sem apreciar a decisão do chefe, a lealdade a McTiernay falou mais alto.

— Permita-me perguntar seu nome, senhor — murmurou Laurel por sobre o ombro, depois de ajeitar-se de lado sobre a montaria.

— Conor — ele pronunciou junto à orelha de Laurel, e ela se arrepiou.Eles cavalgaram por toda a manhã, parando apenas uma vez para uma refeição

ligeira e para dar um descanso aos cavalos. Laurel comeu muito pouco e falou menos ainda. Conor sabia que ela estava com dores, embora procurasse não gemer quando o cavalo fazia movimentos mais bruscos no terreno acidentado.

A segurança de montar com Conor foi substituída por uma reação intensa e inesperada pela proximidade. Quando ele sussurrou o nome em sua orelha, Laurel admitiu que seria melhor ter ido com o outro cavaleiro.

Durante as primeiras horas ela tentou manter-se ereta sobre o animal e evitar o contato físico com Conor. Mais tarde, suas forças se esgotaram e ela não teve como não se recostar no peito dele. Conor era muito forte e tinha um cheiro masculino e sensual; natural, cálido, reconfortante.

Conor sentiu alívio quando ela finalmente cedeu ao cansaço. Constrangia-o ver o desconforto de ela manter-se ereta para não se encostar em seu peito. Mas, no momento em que ela o fez, a tortura aumentou.

Durante a manhã inteira ele se deliciara com o perfume de lilases e procurara ignorar a pele sedosa quando a sentia. E com Laurel de encontro a si, a agonia suplantava a dor que teria ao vê-la nos braços de outro homem.

Uma hora antes do anoitecer, Conor fez sinal para Finn. Os outros pararam e Conor foi até uma moita que escondia um regato. Desmontou, ajudou Laurel a descer e entregou a ela uma pequena bolsa.

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Ele entendeu a tolice de continuar a segurá-la, mas Laurel o fitou sem fazer nenhuma tentativa de desvencilhar-se.

— Ali adiante há um riacho onde a senhorita poderá banhar-se. A água não deve estar muito fria. — Conor apontou o caminho por entre a sebe. — Vou dar algumas ordens a meus homens e voltarei em seguida. — Finalmente ele a soltou. — A senhorita estará segura aqui — disse antes de se afastar.

Conor voltou ao acampamento ainda não erguido e encontrou os irmãos reunidos, conversando animadamente. Entregou as rédeas do cavalo para Cole e afastou-se com Hamish para demarcar um perímetro de vigilância.

Hamish era um homem corpulento com cabelos castanho-avermelhados que chegavam aos ombros, e os olhos verde-escuros refletiam suas emoções que, no momento, eram uma mescla de posse e proteção.

— O que pretende fazer, milorde? — Hamish referia-se à jovem inglesa.— Cumprir minha promessa.— O que foi que prometeu a lady Laurel, sir? Segurança ou levá-la de volta à

Inglaterra? — Diante da hesitação de Conor, Hamish deduziu: — Certamente não é a segunda hipótese.

Conor estranhou o questionamento do soldado em geral retraído.— Não se preocupe, Hamish. Estamos voltando para casa e cuidarei da inglesa

pessoalmente.Hamish não gostou do tom áspero de Conor, que nunca escondera suas restrições

quanto ao sexo oposto e decidiu pedir a mão de Laurel em casamento, caso ela não pudesse voltar para a Inglaterra.

Conor notou que Hamish, assim como os outros e até mais do que eles, sentia-se atraído por Laurel, o que o irritava profundamente. Gostaria de saber o motivo por que Laurel despertava tanto a atenção dos homens.

Conor encarregou Hamish de terminar a marcação do perímetro e marcou um encontro com ele e Seamus perto do desfiladeiro rochoso, assim que o soldado terminasse outra tarefa.

Ao chegar próximo da clareira, ele se deparou com Laurel sentada dentro do regato, com os ombros para fora da água. Os cabelos lavados brilhavam sob o sol do poente e davam a impressão de nos de ouro.

Laurel se levantou e, nas costas, eram visíveis os vergões dos pontapés a que fora submetida. Ela foi até a margem e Conor viu as marcas de mãos grandes nos braços. Admirou a coragem de Laurel, que não se queixara nem gemera. Ela era uma jovem linda e intrépida, e Conor admitiu que se tratava da mulher mais desejável que conhecera.

Em breve ele mataria o Douglas que certamente fizera aquilo. Contava ter as respostas antes de chegar em casa. Não importava quem fosse o agressor que encostara as mãos sujas na mulher de lorde McTiernay. O canalha teria de morrer.

Sua mulher? Ora, aquilo não passava de uma fascinação temporária!A ânsia localizada na virilha aumentou ao vê-la vestir-se. A porção não ferida de

pele, agora limpa de sujeira e sangue, e iluminada pelo sol da tarde, parecia cálida e sensual. Conor sacudiu a cabeça, passou as mãos nos cabelos e procurou raciocinar. Várias emoções o atormentavam: desejo, posse e vontade premente de protegê-la.

Quando Conor finalmente chegou à clareira, Laurel vestira a camisa delicada e tentava puxar a túnica. As duas peças estavam úmidas por terem sido lavadas. Ela não se aborreceu por ainda não estar vestida. Pelo contrário, pareceu aliviada.

— Poderia ajudar-me? — Laurel pediu. Conor tirou a peça molhada.— Preciso examinar suas costelas. Laurel olhou ao redor, assustada.— Não se preocupe, ninguém a verá. Todos sabem que estou aqui para protegê-la.Ela arrancou a veste da mão dele e cobriu o peito.— Elas estão ótimas.

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— Percebi sua respiração curta durante o dia e a senti estremecer com os movimentos mais bruscos.

— São ferimentos leves e eu lhe asseguro que estou bem. Não darei o menor trabalho. — Laurel recuou.

Conor aborreceu-se.— Não tenha medo, não a molestarei. Laurel fitou-o com desprezo.— Não sou covarde, milorde, e posso dizer-lhe que jamais me acovardei. Só não

quero que o senhor toque em... mim. — Laurel enrubesceu.— Certo, minha inglesa misteriosa, mas assim mesmo terei de examiná-la.Conor segurou-a com firmeza sem perder a suavidade e Laurel não teve alternativa.

Suportou estoicamente o toque dele em seu corpo.— Respire, senhorita. — Ele apalpou as costelas uma por uma.Era impossível respirar com ele a tocando de maneira tão sutil. Laurel nunca

estivera perto de um homem como Conor. Apesar de seu tamanho e força, era bondoso. Um guerreiro que também era protetor e que a fazia sentir-se plenamente mulher, com necessidades e desejos. O pior era a vontade de que ele nunca se afastasse.

Sem querer, ela gemeu e ele continuou apalpando.— Chega, por favor! — Laurel deu um grito e largou-se de encontro a ele.Conor segurou-a e acariciou-lhe os cabelos.— Está bem...Conor esperou que ela parasse de tremer e ergueu-lhe o queixo. Foi impossível

resistir.Roçou os lábios nos dela e sentiu uma contração na virilha. Os lábios carnudos e

macios se renderam ao carinho. Conor prosseguiu no seu pequeno caminho ao paraíso e sentiu Laurel estremecer.

Conor segurou-lhe a cabeça e aumentou a intensidade do beijo. Pressionou a boca na de Laurel e, com a língua, provocou a abertura de seus lábios. A resposta inocente e natural de Laurel comoveu-o até a alma. Jamais uma mulher o afetara com tal intensidade e com tanta rapidez. Conor interrompeu o beijo e afastou-se, tentando recuperar o fôlego.

Laurel estava confusa, e o beijo rápido parecia parte de um sonho. Conor a perturbava de uma maneira insólita. Na noite anterior ele demonstrara ser um protetor e pela manhã se mostrara distante e frio. Naquele momento, acabava de desencadear sentimentos e reações físicas que ela desconhecia. Sua única certeza era de ele ter salvado sua vida.

Conor inspirou fundo antes de falar:— A senhorita está com duas costelas fraturadas e terei de enfaixá-las antes de se

vestir. As ataduras diminuirão a dor durante a jornada. Ainda temos muitos dias de viagem pela frente. — Conor admitiu que o beijo aumentara o desejo que sentia por Laurel.

Ela consentiu e viu-o rasgar uma tira da própria camisa. Ao mesmo tempo que Conor a enfaixava, despertava emoções ainda mais fortes dentro dela.

Foi apenas ao voltar ao acampamento que Laurel se acalmou e falou normalmente.— Estamos seguros aqui? — perguntou, sem se dirigir a ninguém em particular.— Sim, milady — Loman respondeu. — Estamos em domínios de aliados.Loman era bem-humorado e tinha vontade de agradar, mas no campo de batalha,

era um terror para os inimigos. Esguio e musculoso, aparentava afabilidade com sorrisos constantes. Laurel lembrou-se de quando ele a encontrara lutando com Seamus e entendeu que Loman não era tão inofensivo.

— Por favor, pode me chamar de Laurel. — Ela sorriu para o soldado.Loman fitou Conor de relance e, pelo olhar dele, entendeu que o direito de chamá-la

pelo nome de batismo pertencia a ele.— Não seria conveniente, milady.

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— O senhor não pretende continuar usando "milady", não é?Loman engoliu em seco.— Pretendo, milady, até novas ordens de milorde. Ao contrário do que dissera antes,

Conor deixava claro que Laurel não estava disponível. Loman imaginou o que Hamish pensaria disso.

Laurel foi até a fogueira e aceitou a manta do irmão mais novo de Conor, mas o fez prometer que ele se sentaria a seu lado. E diante das chamas, começou a desembaraçar os cabelos. Os irmãos a olhavam como se nunca tivessem visto uma mulher loira. Enquanto tirava os nós, Laurel resolveu distraí-los e ao mesmo tempo conhecê-los melhor.

— Vocês são das Terras Altas — deduziu, e recebeu acenos de anuência. Então inclinou-se para o adolescente a seu lado. — Como é seu nome, rapaz?

O rosto do menino iluminou-se.— Sou Clyde e aqueles são meus irmãos Cole, Craig e Crevan que são gêmeos, e o

outro é Conan. Conor é o chefe de nosso clã. Somente Colin não está aqui.— E por quê?— Ele acabou de se casar.— Ah. E com qual clã tenho o privilégio de partilhar a fogueira? — Somos os McTiernay — Conan, sentado do outro lado, declarou com orgulho.Laurel supôs que os McTiernay pertencessem a um clã grande e poderoso,

conforme Clyde lhe dissera. E fora o líder quem a beijara.— E para onde estamos indo?— Nós vamos para casa — Cole, o que parecia mais velho dos que ali estavam,

respondeu.— Onde é isso, Cole? — Laurel testou a reação dele diante da intimidade.— Bem longe da Inglaterra — ele respondeu, amuado. Era evidente que, mesmo

não querendo magoá-la, não agradava a Cole a idéia de Laurel acompanhá-los. Ela se levantou e aproximou-se dele.

— Se achar conveniente eu ir embora, Cole, irei imediatamente.A franqueza o surpreendeu. Laurel exalava perfume de flores e era uma jovem

adorável. Além de ser a mais bonita que ele já vira. E a mais maltratada. Apesar de odiar os ingleses, não poderia negar-lhe ajuda.

— Não, milady. Eu não deixaria ninguém viver com um Douglas.— Por que eu haveria de morar com eles?— Não é de onde veio, milady? Nós a vimos empalidecer esta manhã à menção do

nome Douglas, e estávamos acampados muito perto da fronteira deles — Craig interferiu.Laurel voltou a sentar-se ao lado de Clyde.— Eu não venho de nenhum local vizinho daquela gente odiosa.Laurel procurou desencorajar a conversa a respeito de sua origem, fingindo

concentrar-se nos cabelos. Depois de soltar os nós maiores, rasgou uma tira de renda da manga. Tentou amarrar os cabelos para trás, mas a dor a impediu de levantar os braços. Conor adiantou-se rapidamente ao ver Hamish demonstrar intenção idêntica. Tirou a fita improvisada da mão de Laurel e amarrou os cabelos loiros. Ele experimentou os sentidos acirrados ao sentir a suavidade das madeixas e o perfume de flores. Mesmo amarrados no alto da cabeça, os cabelos ainda deslizavam pelas costas. Atormentado pela atração que sentia por aquela beldade, Conor afastou-se a pretexto de verificar as cercanias. Precisava parar de imaginar Laurel debaixo dele, gemendo o nome dele. Hamish seguiu-o.

— Preciso conhecer suas intenções, milorde.Conor anuiu, reconhecendo o interesse de seu soldado por Laurel. Entendia também

que, mesmo lutando contra o próprio desejo, não suportaria a idéia de Laurel nos braços de outro.

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— Ela é minha.Hamish compreendeu, mas não soube como agir. Conor era seu senhor e por isso

devia lealdade a ele, o que não o impedia de saber se as intenções dele eram tão sérias como as suas.

— Ela sabe?— Isso não importa.— Milorde sabe o que houve? E se ela for casada?— Ela não é — Conor afirmou, inflexível.— E se a família estiver à procura dela? O que dirá a eles?— O que lhes diria, Hamish? — Conor se deteve e encarou a sentinela, que nem ao

menos piscou.— Que jamais permitiria que ela fosse maltratada. Que eu a protegeria e sustentaria

por toda a minha vida.Conor recomeçou a andar.— Pois seria isso o que eu falaria.

Laurel corria e tentava respirar. A cada tentativa, a dor lancinante no tórax aumentava, o que não a impedia de correr cada vez mais. Um ente malévolo, escuro e de olhos negros, a perseguia. Se ele a apanhasse, causaria a morte de todos a quem ela amava. Laurel sabia que aquela presença aterrorizante não desistiria de persegui-la. E quando ela estava a ponto de desmaiar de exaustão, um homem grande e sem rosto a ergueu e a carregou por cima das árvores até as montanhas azuis e cobertas de neve. Ali ela se sentiu segura. A paz a rodeou como um nevoeiro numa manhã fria e ela pôde finalmente dormir.

Conor, que tinha o sono leve, acordou no meio da noite com a agitação de Laurel. Ela sonhava, aterrorizada. Ao ver a expressão de pânico, ele entendeu que a expressão de orgulho que ela exibia quando acordada era apenas uma máscara para esconder o pavor. E ela somente se acalmou quando Conor a tomou nos braços.

Laurel acordou no meio da noite, sentindo-se aquecida e segura. Ora, devia tratar-se de um sonho, pois ela parecia descansar a cabeça no ombro de Conor e estava com uma das pernas sobre a dele, numa posição íntima e inconveniente.

Laurel não se moveu, embora soubesse que deveria afastar-se. Fechou os olhos, ciente de que nunca se sentira tão bem. Nos braços de Conor encontrava um porto seguro que desapareceria com o amanhecer. Ninguém saberia de nada, pois Conor era sempre o primeiro a se levantar. Em vez de afastar-se como faria uma verdadeira dama inglesa, Laurel ficou onde estava, saboreando cada momento até adormecer em paz.

Conor acordou junto com Laurel. Observou a respiração suave e imaginou se ela se afastaria. Como ela permaneceu imóvel, Conor acreditou que o abraço a agradava tanto quanto a ele. O mais provável era que Laurel pretendesse aquecer-se.

Conor procurou não pensar em como era delicioso tê-Ia a seu lado. Procurou esquecer o aroma de lilases e tentou adormecer. Forçou a si mesmo a não acariciar as madeixas douradas e sedosas que teimavam em enrolar-se em seus dedos, mas o sono demorou a chegar.

Na manhã seguinte, Hamish e Loman se ofereceram para levar Laurel. Contudo os irmãos argumentaram que ela deveria ir com um McTiernay. Laurel, sem querer melindrar ninguém, ficou no meio da clareira, procurando uma solução diplomática. Conor resolveu a disputa, levando-a consigo.

O beijo que lhe revolvera a alma e o fato de terem dormido sobre a mesma manta

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somente aumentara o desejo por Laurel. O comportamento tranqüilo e a coragem serena faziam crescer sua admiração por ela. Sentir o corpo de Laurel durante o dia inteiro seria uma doce tortura da qual ele não pretendia se livrar.

— Milady virá comigo — Conor afirmou ao aproximar-se.Laurel sorriu e ele franziu o cenho, como ela já esperava. Começava a entender

aquele gigante atraente e bondoso.Laurel sentia menos dores e deu razão a Conor pelas ataduras que a deixavam com

maior conforto para viajar. A paisagem era bela e Laurel notou que eles se aproximavam das montanhas.

— Aquelas são as montanhas das Terras Altas? — perguntou.Conor riu e Laurel sentiu o riso vibrar em seu corpo.— Não, aquelas são as colinas que separam a fronteira da Escócia Central.Aquelas enormes montanhas de pedra eram colinas?— As Terras Altas são imensas e se sobrepõem às demais. Só os mais fortes

podem ali sobreviver — Conor falou, orgulhoso de seu país. — Amanhã chegaremos ao vale da Escócia Central. Pela manhã, enquanto subirmos as colinas, a senhorita poderá ver vários lagos a oeste.

Laurel lembrou-se que o avô sempre se referia a eles.— O vale se estende de sudoeste a nordeste e ao longo das montanhas, cortando o

centro da Escócia, separando as Terras Altas das fronteiras.— Por quanto tempo cavalgaremos no vale?— Sairemos dele depois de amanhã. Observe a mudança do terreno à medida que

nos aproximarmos.Laurel já notara a mudança no arenito vermelho e no calcário, característicos de sua

terra natal e das fronteiras. O arenito permanecia, mas em mistura com rochas cinza-chumbo com muitos buracos. Seu avô explicara que esses traços tinham sido causados pelo resfriamento da rocha fundida. Era difícil imaginar uma rocha tão quente que se derretia e mudava de forma ao resfriar-se.

Depois da pausa para o almoço, eles prosseguiram rumo ao Norte pelo vale Glyde, que passava pelo meio da Escócia. Era uma combinação de terras ribeirinhas, florestas de freixos e olmos, e vegetação luxuriante. Laurel maravilhou-se diante de tanta beleza e sentiu Conor descontrair-se, o que a fez deduzir que estavam em solo amigo. Admirou-se como ele conhecia a região e a dividia perfeitamente em relação a amigos e inimigos.

Depois de viajar com ele por dois dias, Laurel sabia que o perigo se afastava e sentiu-se disposta a conversar.

— Clyde disse que os McTiernay, exceto Colin, voltaram para casa. Quem é ele? Ele voltará logo?

— Colin é o segundo McTiernay e ficará com a família da esposa. Ele ajudará na guarda e poderá se tornar chefe do clã.

— Não é usual um homem assumir o papel de líder do clã da esposa.— Nesse caso é diferente. Deirdre Dunstan é a filha mais velha e ela só tem irmãs.— Assim como os McTiernay são todos homens. — Laurel sorriu e olhou para a

frente.— Há diferenças fundamentais. Sem filhos para se tornarem chefes, alguém tem de

lutar pelo título. No caso de Dunstan, o clã é pequeno, mas poderoso. Se Colin se tornar lorde, a aliança entre nossos clãs se tornará inquebrantável.

— Porque os McTiernay são homens? — Laurel procurava entender.— Porque Colin é forte, experiente, capaz e, o mais importante, confiável.— Então ele será leal.— Nem poderia ser diferente... Ele é meu irmão. Laurel sorriu, divertida com a lógica

circular.Eles cavalgaram mais um pouco antes de Laurel ter coragem de fazer uma pergunta

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pessoal.— Por que milorde não se casou antes dele? Conor deu de ombros.— Não tenho motivos para procurar um bom casamento.— Oh, não?— Não preciso me casar. Tenho acordos estabelecidos com os clãs que me

interessam. Meus irmãos continuarão a linhagem McTiernay, e quanto à parte... física, isso não requer compromisso.

Eles continuaram o trajeto em silêncio. Laurel constrangeu-se com a frieza de Conor ao analisar os três motivos para um enlace. Onde se encaixavam o amor, o afeto e a amizade?

Conor sentiu o desagrado de Laurel ao que ele dissera, embora sem o contradizer. Talvez ela entendesse e concordasse com ele.

No entanto, embora fosse contrário ao casamento, era surpreendente que a idéia de formar uma família com Laurel lhe parecesse subitamente agradável.

Naquela noite, Conor escolheu um local sem fontes próximas de água para o acampamento. Laurel surpreendeu-se pela decisão, mas nada perguntou.

Mais tarde, depois da refeição noturna, os irmãos iniciaram as costumeiras conversas alegres e provocações familiares. Laurel observou a camaradagem entre eles e entristeceu-se com a idéia de que o irmão Ainsley e ela nunca tivessem sido tão amigos.

Além da mãe, apenas o avô lhe demonstrara afeição. O homenzarrão escocês lhe contara lindas histórias, a ensinara a cavalgar e a proclamara a mais bela menina escocesa que já existira. Reconhecia que ele fora tendencioso, mas o avô era uma de suas recordações mais queridas. O pai não lhe deixara boas lembranças. Enquanto a mãe era viva, ele fora atencioso e dedicado. Mas Laurel sempre soubera que o pai desejara outro filho e não uma filha. Era impossível esquecer as constantes palavras de desapontamento pelo fato de a esposa não lhe ter dado mais um herdeiro. Ainsley era o primogênito, o filho da primeira mulher que morrera logo após seu nascimento. Sua mãe lhe dissera que fora um casamento arranjado, No entanto ela se casara com o pai de Laurel por amor, apesar dos obstáculos que os separavam. O maior deles era o avô ser contrário ao casamento da filha com um inglês.

Laurel entendia o avô. Depois de viver na Escócia e na Inglaterra, era difícil compreender por que sua mãe escolhera um mundo frio e severo, longe dos risos e cantos que permeavam a casa do avô. Após a morte da esposa, o pai tornara a se casar, mas o casal não teve filhos. Ele passara a viver de maneira fria, rígida e inflexível. Com os filhos não era um carrasco, apenas mantinha distanciamento deles.

Durante alguns anos após a morte da mãe de Laurel, ele consentia que a filha visitasse o avô durante o verão. Mas com o passar do tempo, cessara a permissão para encontrar os parentes escoceses. Por duas vezes, Laurel estivera para casar-se com barões vizinhos e, nas duas, o noivo morrera antes do casamento. O primeiro em campo de batalha, e o segundo de velhice.

Com a morte do pai, o futuro de Laurel se tornou menos promissor. O irmão não se mostrava inclinado a dar-lhe um dote e encontrar um marido para ela. Não se cansava de afirmar que ela era alta demais, magra demais e que a língua afiada enfastiava os homens. Depois de algum tempo, Ainsley resolveu se casar com uma mulher que lhe daria acesso ao poder, à riqueza e aos bons contatos. Nesse momento a irmã tornou-se um peso morto.

Laurel aproveitou a oportunidade para conversar com Ainsley. Explicou que ele poderia livrar-se das responsabilidades familiares sem gerar repercussão. Depois de alguns meses de trabalho de persuasão, Ainsley consentiu que Laurel fosse para a casa do avô, mas sob uma condição: que prometesse nunca mais voltar.

As palavras de Ainsley ainda soavam em seus ouvidos: "Muito bem, seja feita sua

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vontade. Torne-se uma escocesa imunda, mas nem eu nem minha família pretendemos ouvir falar novamente de sua pessoa. Meus homens a escoltarão até a Escócia, onde terminarão meus deveres para com você".

Laurel concordara rapidamente e no momento em que cruzara a fronteira da Escócia, relegara a segundo plano tudo o que se referia à Inglaterra, incorporando o coração escocês.

Ela piscou algumas vezes, voltando ao presente. A conversa dos irmãos terminara e todos se preparavam para dormir. Procurou por Conor e não o viu, mas alguém estendera a manta dele para ela se deitar.

Horas mais tarde, Laurel sonhou que era perseguida e novamente salva antes de perder as forças. Acordou e notou que Conor lhe acariciava os cabelos, murmurando palavras de carinho. Ele a induziu a adormecer de novo e Laurel desejou que Conor estivesse sempre a seu lado para salvá-la dos pesadelos, tanto da realidade quanto dos sonhos. Laurel acordou mais tarde e notou que Conor se afastara, embora não fizesse muito tempo, pois a manta ainda estava quente. Olhou ao redor e avistou-o ao lado de três soldados, preparando os cavalos e falando em gaélico com outro guarda, Loman. Eles rumavam para uma choupana próxima, de onde trariam alguma coisa. Loman ficaria responsável pela desmontagem do acampamento e todos partiriam ao amanhecer, assim que eles voltassem. Laurel deitou-se de costas e fingiu dormir. Não queria dar a perceber que entendera o que eles conversavam em gaélico.

CAPÍTULO II

Conor e seus homens se prepararam para um ataque surpresa. Embora Conor não considerasse o fato como um procedimento perigoso, aquele não fora planejado na volta para casa. Na verdade, preferia não expor os irmãos mais novos a um perigo em potencial. Laurel precisava de um cavalo com urgência e os rapazes continuavam em segurança.

Ela adormecera naquela tarde enquanto cavalgavam e o perfume de lilases fizera Conor encontrar dificuldade em concentrar-se nos perigos que os rondavam. Toda vez que ela se mexia para se acomodar melhor de encontro a ele, Conor se distraía e pensava em acariciá-la. Laurel se encaixava a seu corpo com mais perfeição do que a própria armadura e parecia ter sido feita sob encomenda para ele.

Conor descartou a idéia de deixar Laurel montar com os outros. Os irmãos estavam encantados por ela e também não seria aconselhável distrair os soldados da guarda. Naquela noite, ao embalar Laurel nos braços e confortá-la por causa dos pesadelos, teve uma certeza: não permitiria que ninguém mais a segurasse como ele fazia. Somente ele poderia proteger Laurel e não pretendia relegar esse direito a qualquer outro, nem mesmo a Finn, seu comandante recém-casado e feliz, que parecia o único imune aos encantos de Laurel.

Por isso planejara fazer uma pequena e rápida incursão à luz do luar. Um cavalo

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sumiria e eles desapareceriam rumo ao Norte.Conor vira no trajeto uma fazenda isolada dos vizinhos e com vários cavalos de

raça. Na manhã seguinte, o fazendeiro daria por falta de um dos cinzentos. Era uma oportunidade única. As choupanas próximas das cidades apresentavam obstáculos. As cidades eram mais seguras, contavam com guardas de vigia; e os animais eram sistematicamente recolhidos.

Aquela fazendola ficava afastada de uma urbe e o clã Stirling ainda se recuperava das perdas da batalha de Falkirk e do sucesso do cerco de Robert Bruce contra Eduardo para recuperar aquelas terras. Seria improvável que alguém quisesse vingar-se do roubo de um simples cavalo.

Conor planejou a hora e a rota e preparou o ataque.No final da manhã seguinte, Laurel ainda não se recuperara do espanto de ter um

cavalo só para ela. Era um garanhão cinzento de passo firme, apesar de não estar ferrado. Conor garantira que o animal era forte e veloz, e não precisaria de muito trato. Laurel notara que os montanheses gostavam de seus eqüinos, mas não exageravam nos cuidados com eles. Decidiu chamá-lo de Borrail, o nome de um dos soldados de seu avô que haviam cuidado dela quando ainda era menina.

Finn, depois de falar com Conor, aproximou-se de Laurel.— Conor achou que milady poderia interessar-se em saber mais a respeito de nosso

progresso e de nossas terras.— Ah, sim. — Laurel animou-se. — A diversificação das belas paisagens é

fascinante.Finn avaliou a sinceridade da afirmativa.— Milady verá coisas ainda muito mais bonitas quando chegarmos às Terras Altas,

onde o cenário mais majestoso de todos inclui as montanhas McTiernay.— Essa deve ser a opinião de Conor. — Laurel sorriu. — Onde estamos agora?— Nós nos aproximamos da "cintura" da Escócia, onde nosso país é mais estreito.Laurel calculou que o "estreito" fosse relativo, pois não se via a linha da orla em

nenhum lugar.— Logo chegaremos a Forth Valley, que é a porta de entrada para as Terras Altas.

Os Stirling são nossos aliados e lutaram conosco ao lado de Wallace e de nosso rei, Robert Bruce. Há poucos anos Robert cercou o castelo deles e recuperou-o da Inglaterra.

—Visitaremos o Castelo Stirling? — Laurel ficou apreensiva, receando que boatos de ela viajar com os McTiernay se espalhassem e chegassem aos ouvidos dos Douglas.

— Não. Estou apenas avisando para milady não estranhar a presença de soldados. Eles conhecem Conor e o respeitam, e nos deixarão passar.

O Castelo Stirling era uma fortaleza antiga anterior à época de Alexandre I. As batalhas entre a Inglaterra e a Escócia eram conhecidas, principalmente as que envolviam William Wallace. Laurel ficou satisfeita em ver o local, mesmo a distância.

Logo alcançaram uma colina de onde avistaram o Forth River, que os homens haviam descrito durante a refeição matinal. Esse rio caudaloso era a origem dos regatos frios onde Laurel se banhara naquela manhã. No inverno, eles se tornavam uma passagem perigosa até depois do degelo da primavera. A noroeste avistava-se uma bela região sem colinas, mas com pastagem verdejante que escondia os lagos.

— Finn, como se chama esta região?— Trossachs, milady. É bonita, não é? Mas sua admiração aumentará muito quando

alcançarmos as montanhas McTiernay nas Terras Altas. Terrenos com elevações e depressões suaves aninhados entre picos imensos cobertos de neve. É um cenário verdadeiramente majestoso. — Finn cutucou o cavalo e aproximou-se de Conor.

Laurel observou a conversa dos dois e concluiu que os McTiernay formavam um clã poderoso, onde o chefe era admirado e respeitado tanto pelos soldados quanto pelos irmãos.

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Imaginou como seria viver na terra dos McTiernay até o inverno passar. Ela, uma inglesa, seria aceita pelos demais?

Na hora do almoço, Conor interrompeu a viagem por algum tempo para o descanso dos cavalos, que enfrentavam um trajeto difícil desde o amanhecer. Também pretendia verificar as condições físicas de Laurel.

— Laurel, venha comigo. — O tom autoritário de Conor não admitia recusa.— Pois não, milorde — ela consentiu com cinismo. Conor não gostou do tratamento

formal, que era empregado pelas mulheres do clã. Queria que Laurel o chamasse pelo nome. Não pretendia ser apenas um lorde para Laurel, nem que ela o visse como líder e protetor temporário.

O mais estranho era ele se incomodar com a maneira como uma mulher, ainda mais uma inglesa, se dirigia a ele.

— Quero que me chame de Conor. — Ele a encarou. Conor imaginou se algum dia se acostumaria às nuances de brilho daquele olhar. Em alguns momentos era escuro como um mar tormentoso; e no seguinte, como agora, era cristalino, luminoso como raios de sol refletidos num lago. Aquela jovem enfeitiçava sua alma.

— Finn disse que todos o chamam de milorde ou lorde McTiernay, jamais usam Conor.

— Laurel, procure entender. Não sou seu lorde, Sou apenas Conor. — Ele se afastou rumo a algumas pedras rodeadas por olmos e moitas cerradas.

Se ele não era o senhor dela, também não teria a responsabilidade de protegê-la. Laurel perguntou-se onde estaria o herói que a salvava todas as noites... Bem, se os irmãos o chamavam de Conor, talvez ele só permitisse o tratamento informal para os mais íntimos. Ora, Finn gozava da intimidade de Conor. Ou talvez a permissão valesse para as mulheres.

Laurel franziu a testa. Era inquietante pensar na quantidade de mulheres do clã que o chamavam de Conor.

— Além de seus irmãos, alguém mais o chama de Conor? — Laurel falou para as costas dele, enquanto ele se embrenhava na mata.

— Sim, claro.Laurel prendeu a respiração.— Alguma mulher? Conor virou-se.— Uma que está na minha frente.— Além de mim?— Por que a pergunta? Laurel estreitou os lábios.— O senhor é um homem exasperante. Na certa pensa que seu tamanho permite

que distribua ordens a torto e a direito. Pois eu lhe garanto, não estou sob seu comando e não tenho medo do senhor. — Ela o encarou com raiva e Conor retomou o trajeto inicial.

— Conor, por acaso está bancando o tolo para me irritar? — Laurel gritou.Conor não respondeu. Laurel passou por cima de uma pedra e recusou-se a

prosseguir. Conor se deteve, olhou para trás e foi brindado com um sorriso desafiador. Laurel já demonstrara traços de personalidade forte, quando fora capturada e lutara para soltar-se.

Ele imaginara que a fúria cedesse com o passar dos dias. Qualquer um que estivesse cansado e com dor ficaria exasperado. Ele também não duvidava que Laurel tivesse um temperamento explosivo que controlava com maestria apesar das condições adversas. O que era admirável.

— Laurel, se quiser me perguntar alguma coisa, seja direta. Ou será que não tem coragem? — Conor provocou-a e logo entendeu que entrava em terreno perigoso.

Laurel ela linda e tentadora em quaisquer circunstâncias. E irritada, superava todas as expectativas. Nem a beleza das Terras Altas se comparava a ela.

Laurel se aproximou e parou diante dele. Os cabelos loiros ondulavam ao vento e

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refletiam os raios solares. Com as mãos na cintura, tentava acalmar-se inspirando fundo, o que acentuava o contorno dos seios. A donzela inglesa recatada cedera lugar a uma mulher desafiadora de olhar cintilante, gloriosa e imponente como uma rainha.

Conor admitiu que teria de afastar-se de imediato ou daria a Laurel mais um motivo para ficar furiosa.

Na verdade, Laurel lutava para manter o controle.— Ninguém, nem mesmo um barão ou outro nobre qualquer, nem mesmo o senhor,

lorde McTiernay, jamais poderá me chamar de covarde. — A seriedade da afirmativa era tão manifesta como se a falta de coragem fosse um traço inadmissível.

Conor sorriu e passou a mão nos cabelos.— É verdade, meu amor. Eu a vi demonstrar mais força e coragem do que muitos

homens teriam feito na sua situação.Laurel baixou os olhos, mais aliviada por Conor não a considerar uma medrosa.

Caso contrário não a teria aceitado como companheira de viagem.— Porém, meu amor, eu a chamarei da maneira que eu achar melhor.Laurel arregalou os olhos e Conor recomeçou a andar.— Conor — ela o chamou sem sair do lugar —, está me subestimando.Esperou alguns segundos e o seguiu.Eles começaram a subir um ligeiro aclive e a dor nas costelas aumentou com a

respiração forçada. Conor caminhava na frente, em silêncio, e Laurel observou o físico perfeito.

Ele era um homem grande e forte, mas ela não se sentia intimidada por isso. A presença de Conor lhe transmitia segurança. Ele era gentil, embora determinado. Severo, mas atencioso. Era um homem que ela poderia amar facilmente.

As pernas nuas, longas e musculosas eram perturbadoras. Até os quadris davam a impressão de ser rijos sob as pregas da manta xadrez. A musculatura dos ombros e braços era visível através da camisa branca de Unho, o que a fez ficar com uma vontade absurda de acariciar suas costas e de tocá-lo em todos os lugares.

Como seria entrelaçar os dedos naqueles cabelos? Seriam grossos e sedosos como pareciam? O olhar cinzento se tornava ainda mais hipnótico em contraste com o tom da pele bronzeada pelo sol de verão. Conor era másculo e incrivelmente sedutor. Por que ainda não se casara? Ah, ele não gostava de compromissos!

Laurel imaginara que a opinião de Conor a respeito de casamento a impediria de desejar a companhia dele e até de ouvir sua voz. Ledo engano. Ela nunca se sentira tão estimulada como ao lado de Conor.

Cada momento junto dele fazia com que o desejasse ainda mais. No entanto, sabia que não haveria futuro para eles. O que deveria fazer? Dois dias de convivência e um beijo estavam longe de prender um coração e ela teria de se precaver. Seria uma tolice permitir que o isolamento emocional sofrido na infância lhe causasse sofrimento na vida adulta.

No entanto, gostaria de beijá-lo ainda uma vez antes da separação. Precisava sentir os lábios dele de encontro aos seus, captar o aroma e lembrar-se para sempre do contato. Quando adormecia, Laurel antecipava a presença de Conor a seu lado no momento em que os pesadelos viessem.

Oh, Senhor, talvez ela já estivesse apaixonada por ele...Laurel se recriminou. Teria de acabar com as fantasias a respeito de Conor. Ele

podia estar atraído por ela, mas não a desejava como esposa. Mesmo admitindo que o desejava de formas nunca imaginadas, estava ciente de que seu futuro não seria ao lado daquele homem.

Precisava apenas de tempo para se recuperar e para descobrir uma maneira de avisar o avô a respeito da ameaça de Douglas. Com a morte de Keith Douglas e com o desaparecimento dela, o velho Douglas certamente preparava uma guerra contra o clã de

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seu avô, os Maclnnes. Deus, por motivos ignorados, mandara Conor para ajudá-la e o futuro dos Maclnnes descansava na possibilidade de esse montanhês atraente protegê-la!

Enquanto não arquitetava um plano, Laurel se permitiria a satisfação de estar ao lado de seu salvador.

Conor sentiu que Laurel o analisava como se quisesse desvendar sua alma. Será que ela não o achava atraente? Mesmo não sendo casada, era possível que estivesse interessada em outro, talvez um futuro marido, e poderia estar fazendo comparações não favoráveis a ele.

— Conor, mais devagar!Ele apressara o passo sem perceber, e Laurel encontrava dificuldade em

acompanhá-lo.— Só mais um pouco, gostaria que visse algo. Conor não sabia por que desejava

mostrar aquela paisagem para Laurel. Fazia anos que a descobrira, quando ainda fazia parte da guarda de honra de lorde Maclnnes, melhor amigo de seu avô. Era uma coisa muito especial e, na certa, seria do agrado de Laurel.

— Milorde... não poderia... ir mais... devagar? Laurel arfava, e a região das costelas latejava. Conor olhou para trás e sentiu-se culpado. As costelas fraturadas! E toda aquela subida! Fazia dois dias que ele parecia incapaz de raciocinar. Provocara-a quando, na verdade, só queria fazê-la sorrir. Em vez de levá-la a um local para a distrair, causava-lhe sofrimento. Não a culparia se ela vociferasse e exigisse voltar. Conor virou-se rumo ao acampamento.

— Conor, por tudo o que é mais sagrado, o que está fazendo? — Laurel fitou-o com perplexidade. — Por acaso estamos perdidos? Eu o ouvi dizer que estávamos perto e...

Conor não conteve o riso. Laurel pensava que ele não soubesse onde se encontravam.

— Não, amor, não estou perdido e, a seu lado, jamais estarei — Conor falou sem pensar e notou o olhar de ansiedade de Laurel.

— É logo atrás daquelas árvores, mas resolvi voltar por causa de suas dores.Laurel endireitou os ombros.— Bobagem, podemos ir, só não consigo andar depressa. Mesmo que não esteja

perdido, não quero perdê-lo de vista.— Não se preocupe, Laurel, eu a encontraria. Eu sempre a protegerei. — Você é

minha.Conor, tenso de desejo, seguiu com Laurel até uma touceira onde ela se abaixou

para ver o que estava adiante. Laurel ficou atônita com tanta beleza. Sempre achara o condado de Northumberland muito lindo, especialmente a costa do Mar do Norte, mas nada se comparava ao que via.

Daquele ponto, avistava-se a Escócia a perder de vista. Ao longe, faixas de terra projetavam-se no oceano. Algumas eram cobertas por árvores e outras apresentavam penhascos intermináveis. Dezenas de lagos brilhavam ao sol. Algumas árvores pareciam tocar o céu e as formações rochosas eram únicas. Nuvens assentavam-se aqui e ali, dando ao cenário uma aparência sobrenatural.

Conor observou Laurel absorver a beleza do lugar. Pelo interesse anterior dela nas paisagens, imaginara que se encantaria com as terras dele e entenderia seu amor por elas.

— É maravilhoso, Conor. Nunca vi nada igual. É sempre assim?— É. Pelo menos tem sido, todas as vezes que passo por aqui.Conor não apreciava o cenário a seu redor, mas a visão que tinha diante de si.

Laurel era alta, esguia e delicada, e seus olhos, no momento, tinham a cor dos lagos que ela mirava. Ele pensou qual seria a cor deles no auge da paixão. Alguém já teria visto?

— Há uma certa magia neste lugar. — Laurel não percebeu o olhar intenso de Conor.— Como se estivesse congelado no tempo e nós estivéssemos afastados de todos

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os males do mundo.Conor abraçou-a pelos ombros e os dois contemplaram a natureza em silêncio. As

palavras tornaram-se desnecessárias.A contragosto, Conor interrompeu aquela tranqüilidade.— Laurel, precisamos ir agora. Não vai demorar a escurecer.Ela olhou ao redor e anuiu. Encontrara a paz no pouco tempo em que estivera ali.

Seus problemas haviam assumido uma forma menos grave, com uma solução viável. Acreditava que encontraria uma maneira de avisar seu avô sem que os Douglas soubessem.

— Obrigada, Conor, por trazer-me aqui — Laurel falou quando ele segurou sua mão para descer. — Era tudo o que eu precisava.

Ao chegar próximo ao acampamento, Laurel escutou o entrechocar de espadas e viu homens lutando. —Conor! Alguém atacou o acampamento! Precisamos ajudá-los! —A visão dos homens de Ainsley sendo massacrados poucos dias antes voltou à sua mente.

— Eles estão apenas treinando, Laurel. Não há perigo. Laurel olhou com raiva para cima.

— Quer me dizer que homens lutando com espadas não oferecem perigo?Conor não respondeu.— Então é assim? Alguém terá de impedi-los, e a tarefa caberá a mim.Ela colidiu com Conor, que a impediu de passar.— O que está pensando em fazer, Laurel? Frustrada, ela fechou os olhos.— Conor, não seja irritante! É muito aborrecido ter de repetir sempre a mesma coisa

— falou em voz baixa, mas firme. Conor não saiu do caminho, e ela fez nova tentativa.— Vou pedir-lhes para acabar com a luta. Se não adiantar, terei de usar meios mais

enérgicos — avisou, severa.As risadas contidas de Conor aumentaram a raiva de Laurel e ela puxou do bolso a

adaga de cabo de madre-pérola que trouxera do castelo dos Douglas.Ao vê-la segurar o pequeno punhal, Conor não pôde mais se conter. Suas

gargalhadas interromperam o treino de combate entre os McTiernay e as sentinelas.Os irmãos se espantaram e vieram investigar a origem dos brados de riso, pois

aquele era um fato inusitado. Conor McTiernay raramente sorria, quanto mais gargalhar daquela forma! Eles ficaram ainda mais surpresos ao ver Laurel furiosa.

Se olhares pudessem causar danos, Conor ficaria desfigurado para sempre. O que deixava nele uma impressão muito agradável. Não via a hora de levar Laurel para casa.

No momento em que a idéia de levar Laurel para o castelo e para sua cama tomava forma, Laurel investiu. Conor não teve tempo de reagir. Laurel mudara a adaga para a mão esquerda e arrancou a faca do cinto dele. E, num segundo, mirou e atirou.

Primeiro foi a adaga que atingiu uma das bolsas de pele dos guardas que estava pendurada numa árvore. Com a outra mão, Laurel arremessou a faca de Conor. O peso inesperado do cabo desviou um pouco a arma, mas ainda assim a lâmina atingiu o tronco de madeira que estava perto da manta de Conor, a cerca de dez metros de distância.

O silêncio foi imediato e todos fitaram as lâminas, ora fincadas, que Laurel atirara com tanta precisão. Ela entendeu de imediato que se excedera ao dar vazão a sua irritabilidade, mas... paciência. Não pudera evitar.

— Eu lhe disse que sei tomar conta de mim mesma — falou, serena.— Laurel, como foi que fez isso? — Loman indagou. Conor sentiu a raiva ferver.— Loman, para você ela é "milady" — ele avisou em tom frio e ameaçador.— Conor, não fale assim com Loman. Ele estava apenas fazendo uma pergunta.

Não é necessário descarregar nele a raiva que sente de mim. — Laurel procurou amenizar a situação.

Nada adiantou.— Direi o que eu quiser, quando eu tiver vontade e da maneira que eu desejar para

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qualquer pessoa. Sou o lorde deles! — Conor esbravejou, sem o menor sinal do riso anterior. Carrancudo, fitou Loman que teve de anuir.

Laurel observou-o intimidar os soldados e recusou-se a seguir o exemplo de Loman.— Conor McTiernay, você pode ser o lorde deles, mas certamente não é o meu.

Está lembrado do que me disse? Que eu não deveria chamá-lo de lorde, mas sim de Conor! — ela gritou.

— Veja como fala, meu amor... ou será que não é mais uma lady? — Conor continuou a falar em altos brados, achando que a crítica a faria desistir da discussão.

Mas se enganara. Em vez de se retrair, Laurel continuou na ofensiva.— Uma lady? Bem, suponho que deve ser essa a sua concepção de uma "dama".Laurel observou os irmãos, imóveis e estarrecidos, Eles nunca haviam visto alguém

enfrentar Conor daquela maneira. Ninguém. A maioria das mulheres se acovardava na presença dele. Se ele erguia um pouco a voz ou olhava com mau humor para alguém, era o bastante. Todos recuavam, intimidados.

O que estava acontecendo entre Laurel e Conor era uma espécie de milagre. Primeiro ele riu, depois ela demonstrou que podia cuidar de si mesma e então eles gritaram um com o outro. Laurel começou a andar de um lado a outro.

— Na Inglaterra uma lady é uma mulher nascida na nobreza. A palavra alude a seu título ou posição social. Alguns se referem a mulheres ricas como uma lady, mesmo sem título. Você acaba de referir-se a uma lady levando em conta seu decoro e virtude. Mas todas elas têm de ser bem-comportadas, obsequiosas e de conduta ilibada. Estou certa, Conor?

Conor limitou-se a olhar para Laurel, que se detivera diante dele com um sorriso gelado.

— Para o caso de você estar em dúvida, sou uma lady por nascimento, mas não pelo desempenho. Sei caçar, cavalgar e também fico irritada. E quando estou com raiva, digo palavras não muito finas. Meu pai não me considerava uma lady, e meu irmão, muito menos. A única pessoa no mundo que me tinha na conta de uma lady era meu avô. É uma pena que ele não esteja aqui para testemunhar e apoiar meu comportamento próprio de uma lady.

O silêncio que se seguiu foi atordoante, e mais uma vez fora ela a causadora do impasse. Laurel admitiu que fora longe demais. Desafiara Conor diante dos irmãos e dos soldados da guarda. O pai e o irmão sempre ficavam envergonhados quando ela se entregava a esses arroubos emocionais. A explosão poderia resultar num confinamento imediato e de duração indefinida, O que sucedera? Ela se considerava capaz de controlar o mau gênio. Por que Conor a provocava e por que ela reagia daquela maneira?

Os homens continuavam atônitos, e ela ainda estava chocada quando Finn bateu-lhe nas costas amigavelmente.

— Milady conseguirá.— Conseguirei o quê? — Laurel espantou-se. Finn sorriu de orelha a orelha.— Temíamos que as Terras Altas pudessem acovardá-la, pela maneira tímida como

vinha se comportando nesses dois dias. Nossa única esperança era a coragem com que cavalgava, apesar do sofrimento. Mas agora tenho certeza de que milady conseguirá se adaptar.

Os outros anuíram e também sorriram.Foi a vez de Laurel ficar pasma. Eles estavam felizes por ela ter perdido o controle,

mas Conor continuava impassível.De repente, um pensamento agradável e ao mesmo tempo terrível ocorreu a Laurel.— Finn, esclareça-me uma coisa.— Pois não, milady.— Por que é tão importante que eu me adapte? Finn pareceu perplexo.— Milady, a mulher de um lorde tem de ser enérgica não apenas física, mas também

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emocionalmente.— Finn tem razão, milady — Seamus concordou. — Não seria adequado para Conor

ter de se preocupar com as fraquezas de uma mulher sensível aos rigores do meio ambiente.

— O que estão pretendendo dizer com isso? — Laurel franziu a testa.— Bem, o que Seamus quis explicar...— Ela já entendeu — Conor interrompeu Loman.— Pois eu lhe asseguro que "ela" não entendeu — Laurel afirmou, arrepiada com a

arrogância de Conor.— Claro que sim, amor. Você está apenas se recusando a aceitar isso.— O que está propondo? Ainda ontem milorde afirmou que nunca... que não

precisava... que... — Laurel não conseguiu terminar. Sentia-se eufórica e arrasada ao mesmo tempo.

Conor entendeu que todos haviam percebido a atração que sentia por Laurel.— Não estou propondo nada. Apenas proteção e um teto.Novamente confusa, Laurel sentiu alívio e decepção, mas o orgulho a obrigou a

responder:— Ótimo, pois quero apenas um cômodo para morar até eu decidir o que fazer. Eu

lhe prometo que minha permanência ficará restrita ao inverno e que irei embora na primavera.

— Milady vai morar conosco no castelo — Craig afirmou. — Não é, Conor?Craig desejava que Laurel trouxesse a Conor a ternura que faltava nele e no lar dos

McTiernay— Creio que os dois precisam um do outro e que se completariam — Craig insistiu.

— Ela é linda e... Conor, ela não o teme. — Ele se virou para Laurel. — É verdade, milady?

— Que idéia ridícula. Claro que não tenho medo de lorde Conor. Posso me irritar com ele, mas não tenho medo dele.

A resposta resultou em um sorriso coletivo dos irmãos. Os McTiernay eram desconcertantes.

— Laurel, mais uma coisa — Conor falou. — Está decidido que milady vai morar no castelo.

Laurel fitou-o com o queixo erguido.— Não vou. Não será apropriado.— Achei que não estivesse interessada em ser uma lady convencional.— Posso não estar interessada em normas sociais para uma conduta respeitável.

Ainda assim não ficarei sob o mesmo teto com milorde.— Ficará.— Não!Conor inclinou-se para sussurrar em seu ouvido:— Confie em mim, amor, você ficará.Laurel se virou para responder e hesitou alguns segundos diante da dor causada

pelo movimento.— Lorde Conor, garanto que se arrependerá se pretende me obrigar. — Laurel

agarrou-o pela camisa. — Eu preciso sair daqui — ela sussurrou.Conor entrou em pânico ao supor que Laurel imaginava partir no dia seguinte e que

nunca mais a veria. No mesmo instante decidiu que não permitiria que isso ocorresse. Apesar do desejo de abandoná-lo, Laurel ficaria até ele decidir que o caso estava terminado. — Milady não partirá — Conor afirmou, tenso. — Não creio que tenha entendido. Eu não deveria ter sido tão impulsiva a ponto de atirar as facas, O que tinham as adagas a ver com a partida de Laurel? Conor resolveu continuar aquela discussão em particular e lançou olhares ameaçadores para os homens, que se apressaram a cuidar de

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suas tarefas interrompidas.Conor segurou o braço de Laurel e arrastou-a na direção do rio.— Conor, por favor — ela implorou, com lágrimas nos olhos.— Laurel? — Ele se preocupou. — Por que está chorando?— Eu não deveria ter atirado aquelas facas — ela repetiu. — Meu orgulho sempre

me causou problemas.Minhas costelas estão me matando. Eu me virei muito depressa, a bandagem cedeu

e a dor está ficando insuportável. Eu não podia imaginar o quanto as ataduras ajudavam e agora nem consigo respirar direito. Por favor, ajude-me a chegar ao rio e tornar a amarrá-las.

Alívio e pavor o assaltaram ao mesmo tempo. Ela não pretendia deixá-lo e precisava dele! Mas o desejo de tocá-la era insuportável. Sempre que estava ao lado de Laurel, o perfume feminino o envolvia e excitava. Se tivesse de fazer novamente o curativo em Laurel, Conor temia não resistir aos impulsos.

Com uma extraordinária força de vontade, Conor abafou sua paixão e levou Laurel até o rio. Ajudou-a a desenrolar a faixa e virou-se enquanto ela se banhava nos preparativos noturnos.

Ele foi até a parte mais afastada do rio para se lavar, mas a água fria não acalmou sua ânsia por Laurel. Pensou na própria energia desde a primeira vez em que a tivera nos braços e na sensação de perfeição nunca antes experimentada. A necessidade de possuí-la que o consumia como fogo aumentou quando voltou para onde deixara Laurel. Vestindo a camisa feminina de renda, ela o aguardava para amarrar as ataduras.

— Desculpe se a fiz esperar — disse ele com secura.— Não tem importância.Laurel olhou a camisa dele colada no peito. Ele decerto tomara banho e se vestira

sem estar seco, o que acentuava ainda mais a musculatura rija e forte. Os pêlos escuros do peito se afunilavam para baixo. Só então ocorreu a Laurel que se trajara da mesma forma e que o tecido fino de renda devia revelar também o próprio corpo.

Conor não conseguia se concentrar em mais nada. Os seios de Laurel eram grandes e os mamilos róseos eram visíveis sob a renda que também moldava os quadris, sem deixar dúvidas quanto às curvas perfeitas. A tensão na virilha aumentou consideravelmente.

— Conor? — Com inocência, Laurel estendeu a tira de pano usada antes. — Eu gostaria que me ajudasse, pois a bandagem foi muito benéfica.

Enquanto amarrava a atadura improvisada, Conor, inadvertidamente, esbarrou no busto de Laurel e ela experimentou uma sensação quente e úmida entre as pernas. De repente, desejou estar sem roupas para sentir a pele dele na sua.

Laurel não entendia aquela ânsia incomum. Afinal, ela não o amava. Conor era um homem muito atraente, mas era também um gigante insuportável e arrogante que se comprazia em irritá-la. Recriminou a si mesma por tais pensamentos e procurou manter o autocontrole e moderar seu comportamento.

Conor entendeu o perigo que corria quando tocou na região das costelas para verificar se o traumatismo não piorara. Lembrou-se do orgulho inexplicável que sentira ao testemunhar a destreza de Laurel, jamais vista numa mulher.

Ela era uma verdadeira lady. Além da beleza, do encanto e da graça, tinha os requisitos indispensáveis para sobreviver nas Terras Altas. Era inteligente, perita com armas, desembaraçada e corajosa, além de demonstrar uma extraordinária capacidade de resistência.

Os cabelos molhados de Laurel lembravam o frescor das flores nativas da primavera e sua pele era macia e sensual. Conor apressou-se em terminar o curativo e, ao afinal, notou que, além da gratidão nos olhos dela, havia algo mais profundo. Laurel o desejava e também se sentia perturbada pela proximidade.

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Imóvel, parecia esperar a iniciativa de Conor que, ao perceber aquele olhar brilhante, sentiu crescer dentro de si reações primitivas. Ele roçou os dedos na face de Laurel ao levar para trás dos ombros as mechas loiras e úmidas. Com a outra mão, acariciou-lhe o braço, inclinou-se e beijou-a levemente.

Os lábios de Laurel eram suaves, cálidos e inocentes, e ela correspondeu ao beijo com ansiedade. Laurel acariciou-lhe as costas e o efeito do busto dela contra seu peito causou em Conor uma ânsia insuportável.

Conor intensificou o beijo, provocou-lhe o lábio inferior e mergulhou a língua em sua boca quando ela entreabriu os lábios. Deleitou-se com o sabor e acariciou-lhe os ombros. Como a fragrância de Laurel, seu beijo lembrava frescor, naturalidade e inocência.

Laurel não imaginava que homens e mulheres se beijassem daquela maneira. Assustou-se com os movimentos iniciais da língua de Conor, mas a sensação erótica acabou por vencê-la e ela correspondeu na mesma intensidade. Com os dedos entrelaçados nos cabelos de Conor, manteve a cabeça dele abaixada, encorajando-o a continuar.

Conor entendeu que a resposta de Laurel se devia ao desejo dela que aflorava. Deslizou a mão pelos ombros e costas e contornou a bandagem, debaixo do busto. Com os polegares, roçou os mamilos até deixá-los túrgidos.

Laurel surpreendeu-se com as carícias tão íntimas e por pouco não se afastou. Mas Conor interrompeu o beijo e passou a lamber-lhe o pescoço. Ao mesmo tempo, massageava os seios intumescidos, o que fez Laurel arquear as costas.

A resposta instintiva de Laurel aumentou ainda mais a tensão de Conor, que jamais desejara uma mulher com tamanha intensidade. Era inacreditável que uma jovem inexperiente pudesse ser tão apetecível.

Conor abaixou as mangas da camisa de Laurel e expôs os seios magníficos. Os olhos dela haviam escurecido e o matiz azul-esverdeado se acentuara. Ele admitiu que nunca vira olhar mais adorável ou mulher mais encantadora.

Conor curvou-se e tomou um dos seios na boca. Lambeu os contornos firmes, mordiscou os mamilos endurecidos e fez Laurel gemer. Em tempo nenhum ela experimentara aquelas sensações nem sonhara que pudessem existir. O mundo à sua volta desaparecia enquanto Conor continuava com as carícias eróticas usando a língua e os dentes.

O calor entre as pernas de Laurel aumentou até ela imaginar que devia estar em chamas. Nada mais tinha importância a não ser o que Conor fazia com ela. Nem mesmo o que estava acontecendo, contanto que continuasse.

Conor pensou que seria consumido pelo desejo. A resposta de Laurel e seus gemidos de prazer faziam Conor esquecer do local onde se encontravam.

De repente, uma voz interrompeu seu pensamento, que se alçava em direção aos céus.

— Conor! Conor! Cole e Finn me mandaram à sua procura. Responda!O que Craig queria? Conor estacou imediatamente e segurou Laurel, que por pouco

não perdeu o equilíbrio. Os últimos momentos haviam deixado os dois trêmulos de paixão. Ele acariciou-lhe as costas e tentou se acalmar.

— Conor! Espero que saiba onde Laurel está, pois é preciso trazê-la de volta. Movimentos estranhos que não pareciam amigáveis do outro lado do acampamento atraíram a atenção das sentinelas.

— Está bem — Conor respondeu antes de Craig alcançá-los. — Retorne à clareira e diga a Finn que irei buscar Laurel. Voltaremos imediatamente, e não façam nada até eu chegar.

Eles escutaram Craig murmurar uma concordância antes de se afastar.— Laurel, meu amor, teremos de regressar — ele afirmou, frustrado, mas com

preocupação.

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Agarrada na camisa de Conor, Laurel escondeu o rosto no peito másculo e Conor sentiu-a anuir.

Laurel inspirou fundo e ergueu a cabeça. Ainda cambaleando pelo desejo não satisfeito, refletiu que precisava fazer muitas perguntas a si mesma e também a Conor. No entanto, nenhum dos dois teria as respostas. Em silêncio, ajeitaram as roupas e deixaram o rio rumo ao acampamento.

Ali chegando, Conor saiu com Finn e mais um soldado para investigar os movimentos no cômoro. Eles se encontravam na fronteira das Terras Altas e próximos dos limites de vários clãs. Contudo, a perturbação daquela noite deveu-se apenas a uma matilha de lobos à procura da próxima refeição. Quando Conor retornou, Laurel estava adormecida sobre a manta dele.

Conor decidiu não esperar até os pesadelos de Laurel surgirem. Deitou-se e tomou-a nos braços. Instintivamente, ela se virou, encostou a cabeça no ombro dele e aconchegou-se.

Era inacreditável a sensação de alegria e paz que o envolveu. Pouco antes, aquela mulher cativante o deixara em fogo. Naquele momento, mesmo sem perder o desejo feroz, estava certo de que nada faria que pudesse perturbar o sentimento de satisfação absoluta.

Curvou a cabeça e beijou-lhe os cabelos, inalando o perfume suave. Não podia imaginar como Laurel, uma inglesa, tecera tão rapidamente ao redor dele uma teia de encantos que o prendera de maneira inequívoca.

De uma coisa teve certeza. Jamais a deixaria partir. Laurel lhe pertencia.Esse foi o último pensamento de Conor antes de adormecer.

Eles haviam cavalgado boa parte da manhã quando Finn aproximou-se de Laurel. O terreno se modificara e o grupo perseverava na subida para o Norte. Felizmente os cavalos tinham energia e força necessárias para vencer a região montanhosa.

— Milady.— Finn. — O sorriso de Laurel seria capaz de iluminar a mais escura das noites.Ah, essa dama transformará o clã num redemoinho, ele pensou.— Como está se sentindo hoje? Sua respiração não parece tão difícil.— Muito bem. — Laurel tornou a sorrir. — Minhas costelas estão se solidificando, o

que torna mais fácil respirar.A trilha estreitou-se e Finn ficou atrás de Laurel por alguns instantes.— Fico feliz em ouvir isso. Se o tempo ajudar, chegaremos em casa em um ou dois

dias.Laurel levou Borrail para perto do cavalo dele.— Por favor, Finn, não retarde o grupo por minha causa. Posso acompanhar o

passo de todos.Finn analisou a sinceridade do pedido no olhar luminoso de Laurel e concluiu que

seria tão difícil mentir quanto dizer a verdade.— Está bem, milady, mas temos de acompanhar a marcha do cavalo mais vagaroso.Laurel não perguntou qual era, temendo que fosse o dela, e mudou de assunto.— Então estamos perto das terras dos McTiernay? Finn notou a postura tensa de

Conor, concentrou-se no caminho à frente e evitou olhar para Laurel. — Sim, milady.— Eu gostaria de conhecer mais a história deles.— Os McTiernay fazem parte de um clã coeso e orgulhoso, e Conor é um líder sábio

e forte.Finn gostava de falar sobre a admiração e o respeito que sentia pelos membros do

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clã e por seu lorde.— Conor está seguindo os passos do pai e lidera o clã com tranqüilidade e pulso

firme. A destreza com a espada e a habilidade para treinar homens permitiram a ele estabelecer alianças sólidas com famílias importantes. E recentemente os McTiernay absorveram alguns clãs menores, e o número de membros do nosso clã aumentou muito. Conor agora tem a incumbência de deixar os outros tão experientes na arte de lutar como nós sempre fomos.

— Por que Conor concorda em admitir homens que não podem trazer contribuição imediata como soldados?

— Milady, Conor tem a reputação de liderar homens experientes e implacáveis num campo de batalha. Isso dá a ele uma posição de influência e poder. Alguns bandos menores de montanheses não têm escolha a não ser juntar-se a um clã maior para sobreviver. Além disso existem guerreiros altamente qualificados que não têm para onde retornar após lutar por William Wallace e Robert Bruce.

Laurel sabia que durante anos Eduardo I castigara a Escócia com guerras e apenas recentemente fora desalojado daquelas terras, com exceção de poucos castelos escoceses ainda sob seu poder.

— Existem clãs com predominância de fazendeiros ou que perderam os melhores guerreiros nas lutas.Os mais jovens têm de ser treinados e estão procurando por líderes para os guiar, instruir e proteger. Nosso lorde é um dos poucos que reúne as três condições. Por isso, milady, pode se considerar afortunada. Mas eu não creio que milorde entenda quem é o felizardo. Laurel espantou-se.

— Finn, todos estão interpretando mal as intenções de Conor! Ele me considera apenas um mistério a ser desvendado.

Finn continuou olhando para a frente.— Isso não é verdade, milady.— Finn, não pretendo insultar sua inteligência e negar que exista uma estranha

atração entre nós, mas isso não tem nem terá importância.Finn virou-se e enxergou a sinceridade no rosto de Laurel.— Conor afirmou que não tem nenhuma intenção de se casar.Finn estava certo de que Laurel mudaria a opinião de Conor. Uma vez no castelo, os

boatos de que ela não era casada se espalhariam e muitos candidatos à sua mão apareceriam. Será que Conor não pensara nisso?

Finn observara os dois e sabia que eles seriam felizes juntos. Conor nunca estivera tão animado. Ele ria, conversava, e seu humor mudava quando Laurel estava por perto. Era como se Conor tivesse encontrado em Laurel o que procurava havia muito tempo, uma pessoa com quem ele pudesse abrir a alma e o coração. E o instinto lhe dizia que Laurel também agia com maior naturalidade ao lado de Conor do que no mundo onde fora criada. Podia apostar que havia sangue escocês nas veias de Laurel, apesar de ela falar com o abominável sotaque dos ingleses.

— Bem, voltando ao início, Finn, e quanto aos irmãos? Os McTiernay parecem bastante ligados uns aos outros. Eu só tenho um irmão e nós apenas nos toleramos.

— Seu irmão não virá procurá-la? — Finn segurou as rédeas com força.— Não, Finn. Meu irmão sentirá grande alívio quando souber que desapareci — ela

afirmou com pesar e incitou o cavalo para a frente.Finn procurou distraí-la da tristeza.— Mesmo os McTiernay mais jovens são conhecidos como guerreiros ferozes.

Embora só os três mais velhos tenham enfrentado batalhas, os mais jovens têm treinado exaustivamente e serão excelentes soldados, Todos eles, e até mesmo Clyde, têm um talento especial para a estratégia, uma característica dos McTiernay. É uma pena que isso não possa ser ensinado.

— Por que, Finn?

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— Milady, a prática pode ensinar um homem a lutar correta e rapidamente. Mas é difícil aperfeiçoar a maneira de pensar ou a rapidez com que ele formula os planos de batalha. Conceitos são transmitidos, palpites e truques podem ser passados adiante, mas a aptidão natural tem de ser inerente à pessoa.

Laurel abaixou a cabeça para se desviar de um galho.— Meu avô dizia a mesma coisa a respeito de seu melhor amigo, que sempre

superava em estratégia qualquer grupo de soldados ingleses, até os mais armados.Finn imaginou por que o avô dela pensaria em vencer os próprios parentes. A

menos que ele não fosse inglês. Finn gostaria de antecipar-se às perguntas que Conor certamente faria a Laurel assim que se aproximassem do castelo.

— Finn, e quando os irmãos não estão lutando? Também são unidos?— Sim, milady, os McTieraay são muito devotados e leais uns aos outros.— Eles moram juntos na fortaleza?— Todos eles e muitas outras pessoas.— Então o castelo deve ser bem grande.— O castelo é enorme e bem fortificado — Finn concluiu quando Conor se

aproximou e ficou entre ele e Laurel.Conor diminuiu o passo e não conteve a curiosidade para saber o que Finn

conversava com Laurel, ao lado de quem cavalgara na hora passada.— O que houve com o castelo? Laurel receou que as batidas de seu coração

pudessem ser ouvidas depois da aproximação de Conor.— Eu estava perguntando quem mora no castelo e imaginei que deve ser imenso,

para abrigar você, seus irmãos e tantos outros.Conor deu de ombros.— É um dos maiores.— Por sua autoridade e pelo tamanho do clã, suponho que teria de ser dessa forma.— Finn pode ter exagerado um pouco. — Conor fitou o comandante com expressão

impassível.— Se me permitir, Laurel, Finn tem outras tarefas, como por exemplo determinar

funções para as sentinelas — Conor falou com rispidez e adiantou-se.Laurel incitou Borrail para a frente e parou ao lado de Conor.— Não permitirei que faça isso, Conor McTiernay.— Como é? — Conor surpreendeu-se. Laurel esperou até Finn se afastar.— Nem pense em acusar Finn de não cumprir com as obrigações. Vi quando pediu

a ele para me fazer companhia.—- Pedi a ele para se certificar sobre sua saúde e suas condições para montar, não

para discutirem sobre o tamanho do clã McTiernay ou de nossa fortaleza!Laurel ergueu o queixo.— Não adianta querer modificar os fatos a seu bel-prazer. Não sou nenhuma jovem

frívola atraída pelo que você tem para oferecer. Estou interessada em saber para onde vamos e o que me espera.

Conor não entendia como uma simples conversa podia desandar com tanta facilidade.

Laurel, por sua vez, não sabia por que se irritara, mas era inaceitável ele ter gritado com ela na frente dos outros.

— Você não queria falar sobre o assunto comigo e mandou Finn em seu lugar. Se pretender ficar furioso com alguém, sugiro que use a si mesmo como alvo. Foi você, e não eu, quem impediu Finn de cumprir com os deveres.

Conor desviou o olhar de Laurel, uma inglesa fogosa, e só então percebeu que Finn já se afastara. Laurel e ele estavam sozinhos. O grupo passara por eles enquanto Laurel o criticava.

Embora admirasse a coragem dela, era inadmissível discutirem na presença dos

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demais. Não deveria ser admoestado por uma mulher, ainda mais por uma inglesa.Conor fechou os olhos e procurou recuperar o controle da própria raiva e da

situação.— Preste atenção, Laurel. Não admito discussões diante de meus homens — ele

falou em voz baixa, mas ameaçadora.Conor estava certo. Discordar dele em altos brados poderia prejudicar sua

credibilidade e sua posição como líder do clã. Ela não deveria comprometer nem diminuir a situação de Conor perante seu povo, ainda mais depois de ele ter salvado sua vida.

— Tem razão. Prometo que não farei mais isso. — Laurel abaixou a cabeça, sabendo que seria impossível manter as opiniões para si mesma. — Mas não poderemos discutir em particular?

— Claro. — Conor não escondeu a surpresa pela humildade.Laurel suspirou, aliviada. Ele concordava em debater o assunto com uma mulher em

determinadas circunstâncias. A perspectiva de discutir com ele a sós era estranhamente excitante. Muitas vezes ela vira os pais discutirem e em seguida fazer as pazes. Laurel piscou várias vezes para afastar as fantasias perversas. Estava se apaixonando por Conor e não sabia como lidar com isso. Conhecia a opinião dele a respeito de casamento, e ela também não podia assumir o compromisso de um matrimônio.

Conor observou a miríade de emoções que passavam pelo semblante de Laurel e seria capaz de jurar que, por um momento, ela também sentira paixão por ele. Mas num instante, a intensidade do olhar foi substituída por tristeza e resignação.

Ele não resistiu, inclinou-se, segurou-lhe a cabeça com uma das mãos e beijou-a. Conor aprofundou o beijo e Laurel entreabriu os lábios, recebendo os afagos da língua dele com a sua. Gemeu quando o beijo se tornou mais intenso e Conor tentou prendê-la entre os braços. O cavalo de Laurel se mexeu e interrompeu o beijo tórrido. Separados fisicamente, eles se entreolharam, arfantes, com desejos secretos que não ousavam expor. Laurel levou os dedos aos lábios ligeiramente intumescidos e disse a si mesma que já estava apaixonada por Conor. Era preciso impedir a continuidade daquela tortura, pois esse era um amor sem futuro.

— Conor, não podemos continuar agindo dessa maneira. Não nego a atração que sinto, mas não a entendo e tenho de lutar contra ela.

— Amor, eu posso afirmar que essa será uma luta inglória. Eu mesmo tentei abafar meu desejo desde o momento em que nos conhecemos.

— Não importa, eu vencerei essa batalha. Você é contrário ao casamento, mas eu acredito no amor e no matrimônio. Meus pais se amavam e foram muito felizes. Minha mãe morreu e meu pai se casou de novo. E não houve amor nem respeito entre ele e minha madrasta. — Laurel inspirou fundo. — Conor, eu não o pressionaria a se casar comigo, mas peço-lhe que se mantenha afastado de mim, pois não terei forças para resistir.

Conor sentiu um frio interior e fitou Laurel com pesar. Avisou-a que teriam uma longa jornada durante a tarde. Incitou o cavalo para a frente e disparou. Queria chegar ao castelo na noite do dia seguinte.

Laurel compreendeu que acabava de destruir qualquer esperança de ser feliz com o único homem que poderia amar. A dor de seus ferimentos não era nada em comparação ao que sentia dentro de seu peito.

Conor não a amava.Além disso, ela teria de partir na primavera para avisar o avô sobre as ameaças de

Douglas.E esperava que não fosse tarde demais.

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CAPÍTULO III

Conor decidiu que teria de ficar sabendo naquela noite sobre as circunstâncias que antecederam a chegada de Laurel ao acampamento.

Era óbvio que Laurel guardava algum segredo, mas Conor não tinha certeza se gostaria ou não de conhecê-lo. Procurara se convencer de que não se importaria com a vida pregressa de Laurel. Mas depois de ouvi-la falar que acreditava no casamento, precisava de algum motivo forte para ajudá-lo a manter-se longe dela. Tivera de fazer um esforço grande para afastar-se, quando a vira imersa na dor.

Independentemente disso, era preciso saber o que acontecera para melhor protegê-la.

À noite, os irmãos se entregaram às provocações de sempre, rindo, animados. Laurel prestou pouca atenção as conversas ruidosas sobre clãs, batalhas, aliados e inimigos. Esperava Conor voltar do patrulhamento noturno, quando sentiu um toque leve em seu ombro.

— Milady — murmurou Hamish —, milorde gostaria de falar com a senhora.Laurel estremeceu. Ensaiou um sorriso para os rapazes, pegou a manta, levantou-

se e seguiu Hamish em silêncio. Ela imaginava o motivo pelo qual Conor mandara chamá-la e talvez devesse agradecer por ele ter esperado três dias para escutar sua história.

— É, creio que chegou a hora — falou, mais para si mesma.— Sim, milady.Laurel se deteve e, constrangida, fitou Hamish.— Poderia fazer o favor de me chamar de Laurel quando Conor não estiver

presente?— Não, milady.— Então queira explicar o motivo. Hamish franziu a testa.— Milady, fazemos parte da guarda de milorde. Sem o consentimento dele não

podemos chamá-la pelo nome, e duvido que ele nos conceda essa permissão.Laurel não chegou a perguntar o porquê. A poucos metros, viu Conor conversando

com Finn, e, quando ela se aproximou, os dois interromperam o assunto.— Peça a Loman que o acompanhe na inspeção do perímetro do campo — Conor

dispensou Hamish, que anuiu e saiu para cumprir as ordens.Finn afastou-se da rocha onde estava apoiado e cedeu o lugar para Laurel. Ela

agradeceu e sorriu. A noite estava fria, e Laurel alegrou-se por ter trazido a manta de Conor.

— Imagino que esteja ansioso para saber o que houve e por que aceitei sua ajuda.Conor demonstrou altivez e um brilho de ameaça no olhar.— Sim, quero conhecer toda a história e principalmente o nome do homem que a

surrou e o motivo que o levou a fazer isso. — Ele usou o tom distante de um juiz imparcial e não o de um amigo protetor.

Laurel suspirou. Pensar no que acontecera haveria de piorar sua tensão.— Bem, primeiro tenho de lhe agradecer por sua ajuda.

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Percebendo o que se passava com Laurel e também a atitude fria de Conor, Finn resolveu intervir.

— Está tudo bem, milady, ninguém a fará sofrer, Estamos muito longe das terras dos Douglas e dentro de fronteiras aliadas. Nenhum habitante das Terras Baixas tentará aventurar-se até as Terras Altas.

— Meu nome completo é Laurel Rose Cordell e, como devem ter percebido, morei a vida toda na Inglaterra. Meu irmão é um barão, e suas terras ficam próximas da fronteira escocesa, nos montes Cheviots do condado de Northumberland.

Laurel olhou para baixo. Teria de contar a história para Conor, mas não deveria expor o avô a nenhum perigo. Seria melhor eles imaginarem que ela era uma jovem inglesa sem vínculos com a Escócia.

— Fui seqüestrada por Keith Douglas e alguns de seus homens, enquanto cavalgava nas terras de meu irmão. — Ela hesitou, odiando ter de mentir. — No início eu não sabia de quem se tratava. Eles galoparam para dentro da propriedade a toda velocidade e massacraram a escolta que me acompanhava. De doze homens, apenas dois sobreviveram. O líder Douglas é cruel, gosta de matar e de sangue. Ignoro o motivo do ataque e por que fui levada com ele.

Finn olhou para Conor. Laurel não tinha consciência de que sua beleza despertava cobiça? Conor fez um sinal imperceptível para o comandante se calar.

— No início, eles riram do pesadelo que haviam criado. Dois homens começaram as provocações para decidir quem me possuiria primeiro. Nisso, o líder a quem chamavam de Keith ficou furioso. Deu um soco em um deles e enfiou a espada no peito do segundo. — Ela fitou Conor. — Ele matou um de seus homens! Que tipo de pessoa é capaz de cometer tamanha atrocidade?

Laurel olhou para as mãos cerradas antes de continuar.— No começo fiquei em estado de choque, mas quando ele matou o guarda,

comecei a lutar. Muitos de meus ferimentos foram causados durante o trajeto até a fortaleza dele. Eu o arranhei várias vezes no rosto e no pescoço, e quanto mais eu lutava, mais ele me batia. Assim mesmo continuei a atacá-lo sempre que tinha oportunidade. Finalmente ele acabou por me amarrar e me atirou sobre o cavalo.

Laurel estremeceu com as recordações.— Quando chegamos ao castelo, eu sabia que a morte me aguardava. O demônio

me desamarrou antes de passarmos pelos portões, forçou-me a cavalgar com ele e me avisou que se eu desse um pio ou fizesse um movimento em falso, ele me mataria. No castelo grande e escuro, crueldade e frio transpiravam das paredes. Eu nunca senti nada parecido e pensei que Keith fosse o sinônimo da maldade, mas o pai dele... Não imaginei que pudesse existir tanto ódio numa pessoa, até mesmo pelo próprio filho, e acho que isso o consumia.

Laurel ficou em pé e abraçou-se.— O que aconteceu depois foi chocante, mas eu já não tinha mais forças. Pareceu-

me que Keith desejava se casar comigo, embora eu não soubesse o motivo. Ele acreditava que eu aceitaria o enlace depois de ele ter matado minha guarda e batido em mim. Mas o pai não concordou. Ele permitiria que Keith se deitasse comigo, mas sem matrimônio. Conforme entendi, lorde Douglas havia prometido Keith em casamento para a filha de outro lorde. O clã Douglas havia feito muitos inimigos e precisava assegurar outras alianças que não se baseassem apenas em palavra de honra.

Ainda mais que a honra dos Douglas pouco valia, fato que se confirmava a cada passo, Conor pensou.

— Ele sugeriu que o filho me violentasse sem demora — Laurel sussurrou —, pois ele também desejava me possuir.

Laurel omitiu o restante da conversa para não arriscar a vida do avô. Lorde Douglas lhe dissera que ela teria de cooperar, pois se voltasse às terras do avô, ele mataria todos

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os Maclnnes.Sem conhecer o poder nem o tamanho do clã do avô, Laurel preferia não arriscar.

Ela faria qualquer coisa para proteger o avô, de quem guardava lembranças maravilhosas. Os abraços apertados, a maneira como ele girava com ela nos braços e as maravilhosas histórias da Escócia por ele contadas.

— Isso é o suficiente por esta noite. — Conor mal conteve a ira.Ele fora invadido por fortes emoções enquanto Laurel falava, e nada mais queria

escutar. Imaginar que outro homem pudesse ter tocado e batido nela acabaria por levá-lo à loucura.

Laurel o segurou pelo braço.— Por favor, deixe-me terminar. Contarei tudo e depois não tocaremos mais no

assunto — Laurel implorou com lágrimas nos olhos.Conor concordou, embora fosse de opinião que relembrar o acontecido era

prolongar a agonia. E jurou que a vingaria, pois seria impossível esquecer.Laurel encostou-se na rocha e notou que Finn se mostrava realmente assustado. — Finn, agora estou bem. Lembre-se de como me encontraram. — Laurel sorriu

para ele e deixou-o sem fala.Embora fosse casado e feliz, Finn entendia a atração dos outros por Laurel. Se

Conor demorasse a se decidir, os pedidos para a mão dela se sucederiam de imediato. E seria interessante saber se a posição de Conor contrária ao casamento se manteria firme.

— Acredito que Keith estava enraivecido não apenas com a recusa do pai, mas sobretudo com a sugestão de ele também participar do festim. Keith não desistiu, mais determinado do que antes, e na certa para vingar-se do pai. Casar-se com uma inglesa seria o maior desafio que poderia fazer ao pai. E assim fomos parar num altar diante de um sacerdote.

Laurel hesitou e arrumou a manta.— O pobre homem estava tão chocado quanto eu, que me encontrava num estado

deplorável. Keith, muito sério, dava a impressão de ser um maníaco. E quando o padre perguntou se eu concordava com os votos, recusei. Keith jurou que me mataria, mas mesmo assim eu me mantive firme, certa de que não sobreviveria àquela noite. Mas eu não morreria como esposa de Keith Douglas.

Laurel fez uma pausa para respirar. Eles entenderiam que ela se tornara uma assassina? Conor continuava impassível. Ele acreditaria nela? Ou seria de opinião que ela deveria ter concordado? Não, ele não pensaria isso.

— Keith ficou enlouquecido. O clérigo tentou segurá-lo, mas Keith o agrediu e ordenou que o coitado saísse das propriedades dos Douglas. Arrastou-me pelos cabelos até seus aposentos e tentou me surrar de novo. Consegui evitar vários golpes, até ver uma adaga sobre a mesa próxima à janela. Consegui pegá-la no momento em que ele me agarrou. Eu não queria matá-lo, mas ele me jogou na cama e impossibilitou que eu me levantasse. Eu só queria impedi-lo de me... Ele veio por cima de mim e quando ergui o braço, o punhal afundou em seu peito.

Conor continuava sem reação, e Laurel continuou:— Saí do quarto por onde eu tinha vindo, fui até a capela, dali para fora do castelo e

comecei a correr. Só parei quando encontrei suas sentinelas. Não sei o que eu teria feito, Conor, se não tivesse me ajudado.

Se Laurel suspeitasse do que se passava na mente de Conor, não teria completado o relato. Conor gostaria de abraçá-la e garantir-lhe que ninguém mais a faria sofrer nem ameaçaria os que ela amava. Renovaria a promessa de protegê-la e desejava que Laurel confiasse nele e precisasse apenas dele, de ninguém mais.

No entanto, Conor permaneceu distante enquanto Laurel contemplava as montanhas das Terras Altas.

Abraçada a si mesma, era como se procurasse afastar de vez as maldades do

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mundo. Desabafar não parecia tê-la aliviado. Pelo contrário, aumentara o peso da culpa.— Laurel? — Não havia raiva na voz de Conor contra a inglesa que matara um

escocês, apenas compaixão.Ela se virou com lágrimas nos olhos e sufocou um grito quando Conor a abraçou

com força, como se quisesse absorver todos os problemas dela.Laurel agarrou-se em Conor. Talvez ele fosse o único que poderia entendê-la e

assim aliviar a culpa de sua alma. Nos braços de Conor, sentia-se protegida do passado, do presente e do futuro. Ali, Douglas não existia. Conor cuidaria dela, e seu avô estaria salvo.

Finn observou a atitude inusitada de Conor, conhecido por sua frieza emocional, e notou que Laurel desejava o homem e não o lorde. Ele seria eternamente agradecido a Laurel por ter trazido o amor à vida de Conor e por isso seria capaz de dar a vida por ela.

Estava escuro quando eles voltaram ao acampamento. Os irmãos McTiernay dormiam sobre as mantas. Conor estendeu a dele num espaço vago perto do fogo e fez sinal para Laurel se acomodar, enquanto ele se reclinava numa árvore próxima.

Laurel perguntou-se se ele se distanciava porque ela lhe pedira para se afastar ou por causa da história que ela contara. De qualquer maneira, ela dormiria sozinha naquela noite.

Novamente os pesadelos atormentaram Laurel, e ela acordou abraçada a Conor. Quando voltou a dormir, Conor afastou-se.

Laurel despertou pouco antes do amanhecer. Conor e a guarda já haviam se afastado para os preparativos da jornada daquele dia. Ela se levantou, disposta a lavar o rosto e fazer a higiene matinal.

No caminho para o regato, ouviu Conor e Finn discutindo em gaélico a respeito dela. Laurel era fluente naquele idioma que o avô lhe ensinara.

Finn desejava atacar os Douglas imediatamente e Laurel entendeu que os McTiernay não morriam de amores por aquela família poderosa. Conor, no entanto, não se mostrava disposto a provocar uma guerra que custaria inúmeras vidas a seu povo. Muitos aliados precisavam de seus membros depois de ter ajudado Robert Bruce a conquistar castelo por castelo a fim de reconquistar a Escócia e expulsar os ingleses.

Conor encerrou a conversa afirmando que cuidaria de Douglas e de seu filho, mas no devido tempo.

Laurel esperou os dois se afastarem e foi até o riacho para se lavar. Sentou-se na ribanceira e estava refletindo sobre as palavras de Conor quando o ouviu aproximar-se.

— Escutou muita coisa? Ele a vira.Laurel levantou um ombro.— O suficiente.Uma inglesa que entendia o gaélico.Na noite anterior Conor imaginara que Laurel se dispusesse a falar sobre a família,

mas ela continuava misteriosa. Dissera que o avô gostava de enganar soldados ingleses, e ela compreendia o idioma céltico. Certamente tinha ascendência escocesa.

— Conor, não permitirei que arrisque a vida por minha causa.Conor curvou-se e segurou-lhe a face.— Sou dono de mim mesmo e já tomei uma decisão que não será modificada — ele

afirmou com voz suave.— Por favor — Laurel fitou-o com olhar lacrimejante —, não faça isso.— Não se preocupe, meu amor. — Ele a abraçou. — Esta tarde terei de adiantar-me

no trajeto para encontrar os membros de meu clã e resolver os problemas que devem ter surgido durante minha ausência. Mas não a deixarei sozinha. Meus irmãos e as sentinelas a acompanharão, entendeu?

Laurel estava confusa. Conor tinha a consideração de contar-lhe os planos, mas a abandonava.

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— Entendi, Conor. — Ela se levantou e passou a mão na veste empoeirada. — Eu o verei à noite?

— Talvez — ele respondeu com indiferença. — Bem, mais uma pergunta. Seu irmão não virá procurá-la?

— Não. Ele se casará em breve, e a noiva dele quer me ver longe da propriedade. Meu irmão acabou de receber o título e todos os bens, e com certeza relutaria em oferecer um dote por um contrato de casamento. Ele está feliz por se ver livre de mim.

Conor se afastou, aliviado. Saberia como enfrentar os Douglas, mas não se sentia seguro quanto à família de Laurel. Tinha apenas uma certeza: seu futuro estava ligado ao dela.

Laurel esperou Conor afastar-se e voltou ao regato. Lavou o rosto e olhou seu reflexo numa poça de água próxima. Estava com a aparência horrível. Não era de admirar que Conor tivesse pressa em deixá-la, mas era surpreendente que demonstrasse alguma atração por ela. O importante seria ela manter distância de Conor, depois que chegassem ao castelo.

Ela chegou ao acampamento e encontrou Conor preparando a partida. Sob a luz do sol ela notou os olhos injetados de Conor, como se ele não tivesse dormido.

— Muito bem, todos montados — ele ordenou. — Quero chegar em casa ao anoitecer.

Os homens obedeceram e em minutos eles se puseram a caminho.Durante toda a manhã Laurel sentiu a perda de algo e sem esperança de retorno.

Nada mais de brincadeiras leves ou olhares fugazes. A descontração sumira. Conor não olhara para trás uma única vez para certificar-se de seu bem-estar. Na verdade, o que se esperar depois de "Eu lhe peço que se mantenha afastado de mim"? Uma declaração de amor eterno, ou um pedido de casamento?

Laurel sabia que nada disso seria possível depois de ter pedido para Conor ficar longe dela. Em vez de lamentar o fim de um relacionamento que mal chegara a começar, deveria sentir-se satisfeita. Ela não desejava nenhum problema além dos que já tinha, e apaixonar-se por Conor McTiernay seria o pior deles.

Conor sentia o olhar fixo de Laurel, que o acompanhava, investigando. Mas o que ela queria? Pedira para ele não a importunar, e era o que ele estava fazendo.

Ele repassava mentalmente vezes sem fim as palavras que Laurel dissera na véspera. Os pais dela, assim como os dele, tinham sido apaixonados e felizes. E ele, outrora, também desejara para si mesmo um amor como o dos pais. Em vez disso, encontrara promessas falsas e desejos de riqueza e poder.

Laurel estava à procura dos mesmos sentimentos que ele idealizava, mas fora ele quem a fizera perder a esperança. A história de Laurel e a lembrança de que ele a fizera duvidar da fé no amor não o deixaram dormir a maior parte da noite. Ela o desejava e o aceitava, porém não queria renegar seus ideais e o amor-próprio pela paixão que os atraía. Conor não sabia dizer se deveria se dar por satisfeito ou se ficava frustrado.

Fez sinal para Finn de que seguiria adiante dos outros e embrenhou-se na floresta.No final da tarde Craig diminuiu a marcha do cavalo, aproximou-se de Laurel para

conversar e ela se alegrou com a visão otimista do gêmeo mais descontraído. Sem Conor, que se adiantara conforme o avisado, nada melhor do que um pouco de diversão. Para ela, fora difícil testemunhar o afastamento de Conor depois de cruzarem as fronteiras da propriedade dos McTiernay.

Durante o trajeto, Laurel concordou com os louvores às terras magnificentes, O território dos McTiernay ficava incrustado nas montanhas, rodeado por penhascos enormes, rios pitorescos e imensos braços de mar que alcançavam a base das elevações.

A distância, era possível divisar o castelo no alto de um extenso rochedo escarpado e o rio largo que desaguava num lago e que dominava a paisagem de uma vasta região.

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Ao redor do castelo, havia choupanas de vários tamanhos, construídas em madeira e pedra. Pareciam sólidas, quentes, próprias para manter as famílias aquecidas durante os meses de inverno.

— Craig, quem mora naquelas choupanas?— Os fazendeiros e suas famílias. Aquela — ele apontou uma próxima às muralhas

do castelo — pertencia ao velho Gowan.— Pertencia?— Sim, ele morreu há alguns meses, mas eu sempre pensei que o velho esquisitão

fosse me enterrar.Craig tinha dezessete anos, e era cômico imaginar que um homem idoso pudesse

sobreviver a ele. Laurel riu e admirou-se pela habilidade dele em trazer bom humor mesmo aos eventos tristes.

— Na certa você o matou. Craig deu risada.— Ele foi um grande guerreiro de meu pai e o comandante da guarda dos McTiernay

por muitos anos. Era um homem respeitado por nosso povo.— Por que ele resolveu viver fora das muralhas do castelo?— Quando meus pais eram vivos, ele morava conosco. Depois da morte deles,

Gowan preferiu viver sozinho em vez de ficar na fortaleza com as lembranças.Laurel esperava que Conor atravessasse os portões para saudá-los, mas ninguém

apareceu. Havia apenas o movimento normal de entrada e saída de soldados.Eles chegaram ao alto da colina, onde o solo era coberto por uma vegetação ainda

verde que se tornaria marrom com o inverno.As muralhas do castelo formavam um "D" com a dos fundos, que era reta e se

elevava acima de uma ravina em cuja base corria o rio originário das montanhas que se derramava no grande lago do vale por onde haviam passado aquela manhã. Aquelas eram as Terras Altas, com montanhas abaixo, acima e ao redor deles.

A paisagem das laterais do castelo era semelhante à do resto do país. Árvores que se amontoavam às margens do rio, campos de terras cultiváveis e clareiras para treinamento de guerreiros.

A despeito da região imensa e do grande número de habitantes do clã, tinha-se a impressão de um lar entre as montanhas. Laurel observou isso no rosto das mulheres e das crianças que passavam. Apesar da vida dura, todos pareciam animados, felizes e sem preocupações, coisa que ela nunca pudera enxergar na propriedade do irmão. Esperava que a futura esposa de Ainsley trouxesse a alegria que faltara a eles quando crianças.

Os irmãos McTiernay se agruparam a seu redor. Seria por proteção ou para indicar que ela viera por vontade de Conor?

O grupo aproximou-se das muralhas externas e atravessou uma grande ponte de madeira que conduzia a uma entrada larga protegida por uma barbacã fortificada. Aquela era a única passagem atrás da cortina de muralhas do castelo. A entrada era fortificada de cada lado por torres que proviam pontos de acesso às muralhas.

— Cole?— Sim, milady?— Por que existem tantas aberturas nas muralhas?— A combinação de passagens superiores e laterais com os espaços abertos entre

elas fornece um sistema adicional de segurança. Em tempos de guerra, se um inimigo consegue ultrapassar a entrada pela ponte, podem-se jogar pedras e água fervente sobre os invasores.

— Esse método tem sido aplicado com freqüência?— Não e há muito tempo. Este território foi ocupado pelos McTiernay há séculos. A

fortaleza original foi construída há centenas de anos. Os ataques eram comuns até meu bisavô erigir as muralhas, que são consideradas uma das estruturas mais seguras e

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fortificadas das Terras Altas. Que eu saiba, as passagens foram usadas apenas uma vez, antes do término da construção da barbacã.

Eles passaram pelas muralhas e entraram no pátio. O Castelo McTiernay era imponente. Por dentro, as muralhas que circundavam o pátio de grandes dimensões pareciam ainda maiores. Havia seis torres circulares, duas na muralha que se erguia sobre a ravina, duas nas curvas e duas ao lado dos portões de entrada.

As quatro torres principais estavam erguidas sobre plintos, enquanto as torres da guarita junto aos portões eram situadas sobre bases circulares.

Ao redor do pátio externo, viam-se as construções , anexas. A estrebaria e a oficina do armeiro ficavam na parte oeste do castelo. A panificadora, a cervejaria e outras estruturas afins localizavam-se a leste. A capela, o salão nobre e o hall ficavam junto à muralha setentrional. A altura das construções era impressionante. A torre noroeste parecia alcançar o céu.

— Santo Deus, aquela torre deve ter no mínimo seis pavimentos! — Laurel exclamou enquanto desmontava. Nunca vira nenhuma tão grande e tão alta.

— Sete, lady Laurel — Craig respondeu, usando o título que não era usado desde a morte de sua mãe. — Nas noites sem neblina, minha mãe costumava subir nas ameias para observar o céu e dizia que era possível tocar nas estrelas. Por isso a chamava de torre estrelada.

Alguém se aproximou por trás e segurou as rédeas de Borrail. Laurel virou a cabeça e deparou-se com um homem idoso, magro e de estatura média. Era quase calvo e tinha uma corcova nas costas pelos anos do trabalho com cavalos. Ela nem precisou avisá-lo sobre o temperamento obstinado do animal. Com gentileza e pulso firme, ele segurou o cavalo sem incidentes.

— Qual o seu nome, senhor? Pelo sotaque, ele calculou que a dama fosse inglesa, apesar do vestido rasgado e dos cabelos desalinhados. Mas quando ela tornou a fitá-lo, ele teve a impressão de estar diante de um anjo.

— Moça, eu me chamo Neat. Em que poderei ajudá-la?— Neal, ela é a mulher de Conor — Cole advertiu-o, diante do tratamento informal

que o outro empregara.— Cole, isso não é verdade — Laurel corrigiu-o e virou-se de novo para Neal. —

Sou apenas uma hóspede temporária de milorde. Como ele me deu este cavalo, eu gostaria que o senhor cuidasse dele. Eu me afeiçoei muito a Borrail. Ele pode não ser muito bonito, mas é forte, carregou-me por essas montanhas com galhardia sem me derrubar nenhuma vez. Por isso ele significa muito para mim.

Neal desconfiou da sanidade mental de Laurel. Quem se importava se um cavalo era bonito ou feio? Mas se ela gostava tanto do animal, trataria dele como se pertencesse a lorde Conor.

Cole entregou as rédeas ao mestre cavalariço e virou-se para o irmão mais novo.— Clyde, por favor, leve milady à torre estrelada e peça para Glynis preparar os

antigos aposentos de mamãe.— Oh, não, Cole. Não teria sentido eu ocupar a ala de sua mãe. Conor não

aprovaria isso.— Claro que aprovaria.— Ah, não importa, decidi não ficar no castelo. — Laurel endireitou os ombros. — O

que acha da choupana de Gowan? — Era preciso manter-se longe de Conor, a qualquer custo. — Isso mesmo, a choupana será um local excelente. Além do mais, sei que Conor não veria com bons olhos minha permanência nos aposentos de sua mãe.

— Foi Conor quem deu essa ordem.Naquele momento, uma senhora de olhar bondoso aproximou-se. Ela era baixinha,

gorducha, simpática e de aparência confiável.— Bom dia, milady. Meu nome é Glynis. Lorde Conor pediu-me para levá-la até seus

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aposentos e providenciar o que for preciso para milady.Espantada, Laurel não discutiu. Seguiu Glynis pelo pátio e entrou no hall do castelo.

Era um recinto grande, iluminado, com janelas em arco na parede norte. Chamas crepitavam nos braseiros e aqueciam a tarde fria. Muitos soldados já estavam reunidos para a refeição da noite e tagarelavam em voz alta.

— Perdão, milady, por causa dessa bagunça, do barulho e do mau cheiro. O clã McTiernay é formado por um punhado de gente forte e corajosa, mas desde a morte de lady McTiernay, há muitos anos, o castelo nunca mais foi o mesmo. Somente os aposentos de sir Conor ficam arrumados.

Laurel notara a má conservação do castelo e o cheiro desagradável. O junco do chão encontrava-se amassado, sujo, em decomposição, e em muitos locais o piso de madeira aparecia. A mesa principal no final do salão estava vazia. Os soldados acomodavam-se nas mesas de cavalete ao longo das paredes. Entretidos em comer e conversar, ninguém os notou.

Laurel observou os criados que entravam a todo instante e desapareciam atrás de biombos de madeira que separavam o hall da área de serviço. Acima dos biombos ficava a galeria dos menestréis. Pela quantidade de cerveja e vinho que os criados traziam, Laurel supôs que a massagem por trás dos biombos estava ligada ao porão onde se armazenavam bebidas.

Laurel e Glynis passaram por uma porta lateral em direção à torre estrelada, onde ficava a maior parte da ala residencial. A porta de acesso à torre também era em arco.

Elas cruzaram o pórtico e Laurel viu um aposento pequeno e vazio à direita da porta. Devia ser o local onde a sentinela montava guarda para proteger o acesso à escada em espiral.

Laurel seguiu Glynis aos andares superiores. No quarto pavimento Glynis se deteve, rodeou o corrimão e abriu a porta de um aposento grande e elegante. Laurel admirou o que deveria ser a sala de estar de lady McTiernay. A decoração em verde e ouro velho captava a pouca luz que entrava no recinto pelas três pequenas janelas em arco da alcova.

A lareira estava acesa, e o ambiente, aquecido.— Embora o aviso tenha sido de última hora, espero ter preparado o quarto a seu

gosto. Lorde Conor me disse que milady precisaria de roupas novas. — Ela indicou os trajes sobre a cama.

Laurel sentiu-se constrangida.— Glynis, quem teve de se desfazer dos vestidos?— São de minha filha, e ela ficou feliz em poder servi-la. Eu lhe asseguro, milady,

faríamos qualquer coisa por milorde. Se ele pedisse, eu tiraria as minhas roupas para milady usar.

— Glynis, não me sentirei bem em abusar da bondade de sua filha — Laurel, sem perceber, falou em gaélico. — As roupas são lindas e devem ser as melhores que ela tem. Se eu tivesse agulha e linha, poderia muito bem consertar meu vestido e depois lavá-lo. Até eu poder fazer outro, me arranjarei com este.

Glynis percebeu a teimosia e desistiu de argumentar. Laurel lhe pareceu orgulhosa e decidida, e ainda por cima falara em gaélico. Ela teria descendência escocesa? Pelo menos era o que parecia. Se fosse verdade que Conor McTiernay encontrara uma noiva, ela poderia trazer muita alegria ao clã. Laurel seria enérgica o suficiente? Teria medo de Conor? Seria capaz de suportar os invernos rigorosos?

— Está bem, eu arrumarei agulha e linha, e também mandarei preparar um banho e uma refeição decente, A maioria dos homens já comeu. Por favor, não discuta, milady precisa de um banho e eu ficaria aborrecida se não pudesse ajudá-la.

Laurel não teve coragem de recusar a gentileza de Glynis. Mas depois do banho e do vestido remendado, rumaria para a choupana desocupada. Não ficaria no castelo e

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muito menos nos aposentos da mãe de Conor.— Glynis, onde está milorde? — Laurel perguntou quando a criada voltou com os

apetrechos de costura. — Não o vi quando entramos.— Ah, ele está com os convidados no salão nobre. O hall agora é usado apenas

pelos soldados.— Quem são os visitantes?— Lorde Schellden e sua guarda chegaram esta manhã, e acredito que lorde

McTiernay ficará no salão nobre por toda a noite. Quer que eu vá chamá-lo?— Oh, não, de jeito nenhum. Eu tenho sido um transtorno para ele nestes últimos

dias e peço-lhe para não interrompê-lo. Eu estava apenas curiosa.Glynis sorriu e saiu em busca da água dó banho e do sabão de lilases. Laurel estava

realmente interessada em Conor. Durante anos, muitas jovens haviam tentado atrair a atenção de Conor, mas ele não se interessava por nenhuma. E nesse dia, quando chegara, Conor dera instruções tão detalhadas sobre os preparativos que Glynis supôs estar esperando a visita da rainha da Escócia. E depois de ver Laurel, mesmo num estado deplorável, teve a confirmação de que a jovem era bondosa além de muito bonita. E se Laurel fosse enérgica o bastante, certamente seria a eleita.

Mais tarde, depois do banho, Laurel vestiu a camisa limpa e sentou-se para consertar o vestido, enquanto Glynis desembaraçava seus cabelos. Dera muito trabalho remover a sujeira e tirar o mau cheiro que parecia ter-se colado em sua pele.

— Ah, milady, meus olhos nunca viram jovem mais bonita. — Glynis terminou de escovar as longas madeixas e amarrou-as para trás.

— Agradeço sua bondade, Glynis, mas não se preocupe. Pode cuidar de suas obrigações e eu terminarei de me arrumar.

— Oh, não tenho muito que fazer. Somente o pessoal da cozinha é sempre atarefado e todos os dias é um grupo diferente de mulheres que executa o trabalho.

— Não existe criadagem com funções específicas?— Não, com exceção do ferreiro, do armeiro e do encarregado da estrebaria. Há

algum tempo, milorde achou que seus irmãos estavam muito acomodados e exigentes, e mandou os ajudantes de volta para suas casas. Os meninos tiveram de cuidar de tudo, exceto da cozinha. — Glynis inclinou-se para cochichar. — Coitados, eles não sabem fazer nada. Os quartos ficam sempre em desordem, os salões sujos e malcheirosos.

— E quando há visitas?— Ah, nessas ocasiões o salão nobre é limpo, assim como os aposentos destinados

aos convidados. E uma vergonha, milady. Este castelo precisa de uma boa governança. — Não só o castelo, mas Conor também, ela pensou.

— Glynis, antes de tudo insisto para que me chame de Laurel, e depois quero desfazer um mal-entendido. Não sou a noiva de lorde McTiernay. Ele me salvou e ficou entendido que irei embora na primavera.

— Mas milady está ocupando o quarto da mãe dele...— Glynis, entendo que o pedido de Conor tenha dado uma impressão errônea.

Trata-se de uma medida temporária para que eu pudesse tomar um banho e descansar. Craig mostrou-me uma choupana vazia e faço questão de ficar lá até minha partida.

Glynis percebeu que Laurel o chamara de Conor e decidiu não discutir. Mas imaginou o que ele diria quando soubesse que ela estava dormindo sozinha numa choupana do lado de fora do castelo.

— Se essa é sua vontade, lady Laurel...— Pronto Glynis, terminei o remendo. Agora preciso de mais duas coisas e depois

não a aborrecerei mais. — Laurel hesitou, envergonhada. — Eu gostaria que me ajudasse a amarrar as ataduras antes de eu me vestir.

— Claro, milady. — Glynis executou a tarefa com maestria.— Glynis, já fez isso antes, não fez?

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— Ah, sim, muitas vezes. E quem fez o curativo em milady também sabia o que estava fazendo. — Glynis reconheceu as tiras que tinham sido parte de uma camisa de homem. — Fico surpresa que tenha deixado um dos soldados fazer isso — ela provocou uma resposta.

— Oh, não, foi Conor quem se ofereceu para amarrar a faixa. Eu não queria, mas depois admiti que ele estava certo. Minha respiração e as costelas melhoraram muito depois de eu ter sido enfaixada.

— Foi uma medida acertada, e gostaria de sugerir que mantenha as ataduras por mais alguns dias. Isso fará com que se sinta melhor. — O que os outros diriam se soubessem daquela intimidade? — Qual o outro pedido, lady Laurel?

— Por favor, apenas Laurel.— Mas a senhora é uma lady.— Já fui, agora não sou mais. Quero ser uma mulher comum e ajudar no que puder

durante o inverno. Terei de ir embora na primavera, Glynis, e por isso não posso ficar no castelo. Só preciso que me indique uma maneira de chegar à choupana de Gowan.

Glynis não escondeu o espanto. Ela se arriscaria à ira de Conor se ajudasse Laurel, mas como negar à moça um pedido?

— Bem, suponho que poderei ajudá-la. Na única entrada do castelo há apenas uma sentinela de plantão. Quando eu terminar o serviço, devo retornar à minha casa, e a choupana do velho Gowan fica no meu caminho. Podemos ir juntas.

— Nem sei como agradecer tanta bondade — Laurel disse com lágrimas nos olhos. — Todos os montanheses são como a senhora?

— E todos os ingleses serão como milady? Laurel enxugou as lágrimas e sorriu.— Então vamos.

— Onde está ela?! — Conor berrou no salão nobre. Ele mandara um soldado ver se Laurel estava bem e se os aposentos a haviam agradado. Desde que a mãe falecera, ninguém mais ocupara aquele quarto. E a explosão sobreveio quando o rapaz voltou com a notícia de que Laurel não fora encontrada.

— Eu sei que ela chegou, vi o cavalo dela na estrebaria! — Conor lançou um olhar feroz para Finn. — Procure-a em todos os cantos do castelo! Quero saber quem a viu, quando ela foi vista pela última vez e onde ela esteve!

Finn entendeu que o pavor de Conor era pela possibilidade de ter perdido Laurel.Conor andava de um lado para outro, imaginando o que poderia ter acontecido. Os

vestidos que mandara para ela ainda estavam sobre a cama. As únicas evidências de sua chegada eram o cavalo e a água usada do banho de tina, que ainda estava no quarto.

Só faltava ela ter fugido porque ele não falara em casamento... Mas o receio de que ela estivesse em perigo, bem como a ansiedade, aumentavam a cada notícia negativa.

— Ela não está no rio e ninguém a viu indo para lá ou voltando, lorde McTiernay —- um dos soldados informou.

— Eu só a vi quando ela chegou — o encarregado da estrebaria afirmou, ainda mais curvado. — Devo dizer que a achei encantadora, mas um pouco confusa. Espero que seja encontrada sã e salva. É uma dama incomum.

— Ela será encontrada! — Conor declarou com rispidez. — E que Deus ajude quem encostar num só fio de cabelo dela!

Neal teria estranhado a ira de Conor, em geral reservada ao campo de batalha. Mas depois de ter conhecido a jovem intrigante, compreendia a reação dele.

— Neal, ela deu alguma indicação de para onde pretendia ir?— Não, milorde. Ela entregou-me Borrail e...— Quem é esse?

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— O cavalo dela, milorde. Milady pediu-me para cuidar bem do animal, pois fora um presente seu. Isso não é verdade?

— Sim, continue.— Cole veio buscá-la, e creio que ela não se sentiu à vontade para ocupar os

antigos aposentos de lady McTiernay. Depois ela mencionou a choupana de Gowan e...Conor não escutou o restante do relato. Virou-se e correu para fora do hall e pelo

pátio.— Abram os portões!Conor chegou à choupana de Gowan e, pela janela, viu Laurel arrumando gravetos

na lareira. Com os cabelos soltos, ela usava o próprio vestido, que estava com a manga no lugar.

O medo que o acometera nas últimas duas horas se transformou em raiva. Ela recusava o abrigo, as roupas e lhe desobedecera! Ela não o enganaria mais.

Furioso, ele bateu na porta.Laurel imaginou que Conor viesse, assim que descobrisse que fora desafiado. Com

certeza ele nem se importava com o fato de ela estar ou não no castelo, e fora o orgulho ferido que o trouxera até ali. Se ela pudesse encontrar uma maneira de salvar o amor-próprio de Conor, ele a deixaria ficar na choupana.

De repente a porta cedeu e Conor entrou no cômodo, que a presença dele deixou ainda menor. Ele irradiava uma vitalidade masculina primitiva. Tomara banho e estava com roupas limpas. A manta estava presa na cintura e a camisa cor de açafrão de mangas longas não escondia os músculos. Conor não trazia, espada, nem a túnica longa com a jaqueta bordada que usara na viagem.

A presença arrogante e poderosa de Conor quase foi a perdição de Laurel e ela se recriminou. Se vacilasse naquele momento, seria incapaz de manter distância no futuro. Conor teria de sair dali antes de ela se jogar nos braços dele, atirando para o alto as regras de boa conduta e os sonhos de amor e casamento. Ela deu uma tossidela.

— O que o traz aqui a esta hora da noite? — Laurel falou com naturalidade forçada. — Eu estava me preparando para dormir.

— E mesmo, Laurel? E tão longe de seus aposentos? Conor deu um passo à frente, com expressão tenebrosa, e Laurel recuou.

— Está se referindo aos que mandou preparar para mim no castelo?— Exatamente.— Sua oferta me sensibilizou, Conor, mas não posso aceitar. Eu me sentirei mais à

vontade nesta choupana. Se eu ficar aqui, não despertarei falatórios desnecessários, e todos acreditarão na donzela que foi salva por lorde McTiernay no caminho para casa.

— Você é muito mais do que isso. Laurel estremeceu.— Não sou, Conor, e nós já falamos sobre o assunto.— Sim, e nada mudou. No entanto eu prometi protegê-la e não poderei fazer isso a

distância.Laurel endireitou os ombros e estreitou os lábios.— E os outros membros do clã que moram do lado de fora das muralhas?— Eles são montanheses — foi a resposta sucinta de Conor, antes de erguê-la nos

braços e carregá-la de volta para o castelo.— Conor McTiernay, largue-me no chão! O fato de ser maior e mais forte não lhe dá

o direito de fazer isso!— Pense como quiser, Laurel. — A raiva de Conor sumia por estar com Laurel entre

os braços.Quando ele abrira a porta, tivera de prender a respiração. Os cabelos limpos e

brilhantes de Laurel chegavam à cintura em mechas onduladas e a pele mostrava-se impecável.

Naquele momento, Conor experimentava de novo a suavidade de Laurel e a

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fragrância envolvente, e seu desejo avolumou-se. Não tinha certeza se poderia cumprir a promessa de manter-se afastado dela. O poder de atração de Laurel sobre ele era extraordinário, e ultrapassava o plano físico.

Eles chegaram ao pátio e Conor deixou-a no chão, o que não diminuiu seu ardor.— Laurel, não saia mais do castelo.— Ora, vejam! Mesmo que eu tenha sido arrastada até aqui, tornarei a sair. Juro que

milorde não vencerá essa batalha e eu lhe asseguro que rivalizo com sua teimosia escocesa! — ela gritou.

O barulho atraiu a atenção dos que estavam dentro do castelo. Muitos vieram conferir o que acontecia e espantaram-se ao ver Conor discutir com uma dama desconhecida.

— Meu amor, se eu tiver de carregá-la mais uma vez até aqui, pode ter certeza de que se arrependerá.

— Guarde suas ameaças para seus soldados, Conor McTiernay. Milorde não bateria numa dama, numa criança ou num cavalo por tão pouco. E vou continuar negando.

Conor fechou os olhos por um instante.— Não me provoque, Laurel, estou falando sério. Não saia novamente da fortaleza

ou acabará por se arrepender da façanha.— Está me dizendo que sou uma prisioneira? Que não posso cavalgar pelos

campos nem me banhar no rio?— Sozinha, não, pelo menos não enquanto eu estiver ausente do castelo. Eu só

poderei assegurar proteção: para quem ficar do lado de dentro das muralhas.— E seu povo que mora do lado de fora? — Laurel apontou na direção do portão. —

Estão seguros, não estão?— Laurel, eles são montanheses, acostumados com as agruras da região. Eu

garanto que nada lhe acontecerá se ficar aqui dentro, onde qualquer um poderá ajudá-Ia em caso de necessidade. Terá de ficar aqui, dormirá nos aposentos de minha mãe e não se fala mais nisso. Laurel notou o olhar gélido e entendeu que perdera a batalha. E ao perceber a aglomeração, sentiu-se profundamente envergonhada. Seu orgulho vinha sendo posto à prova naqueles últimos dias, sempre que discutia com Conor. Se teimasse ou cedesse à pressão dele, seu brio sofreria mais um golpe. Mas àquela altura pouco importava se ficasse no castelo. Ninguém acreditaria que Laurel Cordell era uma dama depois daquela cena.

— Está bem — murmurou, frustrada. — Mas eu lhe prometo que vai se arrepender.Conor deu uma risada. Laurel tinha coragem e vivacidade, e nada poderia ser mais

adorável do que a imagem dela sob a luz do luar.— Imagino que sim, meu amor, mas somente na minha volta. Viajo amanhã cedo

com Cole e lorde Schellden.A notícia espantou Laurel e ela esqueceu a raiva.— Por que Cole terá de ir junto?— Ele vai fazer treinamento como soldado da guarda de Schellden.Conor surpreendeu-se por ter respondido. Não costumava dar satisfações a

ninguém, mas se sentia culpado por não facilitar a vida de Laurel e por ter de abandoná-la logo após a chegada. E se a pergunta não o houvesse pegado desprevenido, teria estranhado a mudança de atitude de Laurel, que o fitou com malícia.

— Conor — ela falou com doçura. — Não acha que o castelo está em condições precárias? Se eu tiver de ficar aqui, gostaria de lhe pedir para fazer algumas modificações e torná-lo habitável.

Ela o fitou com ar suplicante, pensando nos conselhos do avô: "Com mel se pegam as abelhas".

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— Não faça mudanças que não possam ser desfeitas.— Claro, milorde. Quanto tempo pretende demorar-se?— Creio que uns quinze dias, e, por favor, não me chame de milorde.— Desejo-lhe uma boa viagem, Conor. — Ela fez uma vênia, com aparente

submissão.Mais tarde Conor entenderia que o comportamento de Laurel deveria ser encarado

como uma advertência.

CAPÍTULO IV

Laurel acordou na manhã seguinte ansiosa para iniciar as reformas. Ela teria apenas duas semanas para fazer o que demandaria meses, mas seria tempo suficiente para Conor se arrepender do acordo feito. Ela assumiria não só o posto de senhora do castelo, mas também todas as decisões e responsabilidades inerentes à posição. E se ele não gostasse das modificações, paciência. Ela o advertira para deixá-la na choupana. E para morar no castelo, somente se ele se tornasse habitável.

— Milady? — uma voz suave chamou-a do corredor.— Entre, por favor. — Laurel sorriu para a jovem que entrava.A moça tinha cabelos castanhos crespos e olhos da mesma cor, parecia insegura e

retorcia as mãos.— Milady, eu vim para ajudá-la esta manhã. Lorde McTiernay disse que eu deveria

servi-la como sua criada particular.— Ah sei. Qual é o seu nome?— Brighid, milady. — Ela não parava de retorcer os dedos.Laurel adiantou-se e segurou-lhe as mãos para acalmá-la.— A mãe de Conor tinha criadas de quarto? — Não me lembro, milady. Ela tinha criadas que a ajudavam no banho e na hora de

se vestir.Laurel sorriu, depois fitou a outra com seriedade e soltou as mãos dela.— Eu também nunca tive uma criada pessoal e não sei se a idéia me agrada. Mas

eu adoraria que fôssemos amigas, Brighid, e também que me chamasse de Laurel.— Sim, milady... Laurel.Mais calma, Brighid passou a considerar os boatos a respeito da nova dama do

castelo. Diziam ter a hóspede inglesa desafiado lorde McTiernay e ainda estar viva para contar a história. Contavam que ela o convencera a permitir modificações no castelo enquanto ele estivesse viajando e todos estavam curiosos para ver o que ela faria.

Brighid quase recusara quando Conor lhe dissera que teria de atender a hóspede. Ela nunca fora criada particular de ninguém e imaginava que prestar serviços a uma inglesa seria horrível, ainda mais uma tola e mal-agradecida. Contudo, Laurel não correspondia a nenhuma expectativa desagradável. Ela se mostrava simpática, gentil e bondosa. Brighid sorriu, desarmada.

— Maravilhoso! — Laurel exclamou. — Assim é bem melhor. Tenho muitos planos e pouco tempo para executá-los. Espero contar com sua ajuda e com a de Glynis, se eu tiver sorte. Você poderia encontrá-la para mim? Por acaso conhece mais alguém que

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esteja procurando trabalho na propriedade?— Ah, sim, claro, milady... Laurel. Muitos gostariam de trabalhar aqui, mas lorde

McTiernay proibiu.— Bem, agora tudo mudou. Lorde McTiernay concordou com algumas modificações

e eu estou ansiosa para começá-las. Por fora, o castelo dá a idéia de ser um paraíso, mas quando se entra nos salões, o mau cheiro desfaz qualquer boa impressão. Não sei como alguém pode viver numa sujeira como essa. — Laurel fez uma pausa. — Perdoe-me o arroubo. Às vezes não consigo conter a língua, mas é impossível discordar que uma limpeza se faz necessária, não é? Posso contar com sua ajuda? Brighid concordou com veemência. A idéia de melhorar o castelo seria bem-vinda, pois todos achavam o estado atual uma vergonha.

Laurel sorriu, entusiasmada.— Que maravilha! Por favor, traga Glynis e quem mais estiver interessado em

ajudar. Pessoas de qualquer idade, desde que vocês as achem adequadas e com energia para trabalhar. Encontrem-se comigo no salão nobre.

— Sim, milady. Brighid sorriu e saiu correndo. Finalmente entendia o que ouvira naquela manhã. Lorde McTiernay encontrará uma dama para seu castelo, embora nem ele nem lady Laurel soubessem disso.

Laurel foi até a janela e inspirou fundo. Conseguir ajuda era o primeiro passo no caminho de seus objetivos. Ela se comprometera e não havia como recuar. Minutos depois, deixou o quarto, disposta a organizar tudo.

Ela chegou ao saguão, mas não sabia como alcançar o salão nobre. Viu alguns soldados sentados à mesa comendo sobras do jantar da véspera. Esse hábito desagradável teria de ser abolido. Toda a comida que sobrasse deveria ser descartada. Nada de ficar azedando para a refeição seguinte. Era incrível como aqueles monta-nheses mantinham a saúde apesar dos hábitos precários de higiene.

— Perdão, cavalheiros.Os homens se espantaram. Aquela era a jovem que desafiara o chefe do clã e ainda

estava viva. E vê-la à luz do dia explicava os motivos. Era a mulher mais deslumbrante que haviam conhecido e seus cabelos brilhavam como ouro sob os raios de sol que penetravam pelas janelas.

— Poderiam me informar como chegar ao salão nobre?Todos se levantaram ao mesmo tempo, procurando atrair a atenção de Laurel.— Eu lhe mostrarei, milady — falou o mais alto e levou um cutucão nas costelas.— Milady olhou para mim, não foi? Eu lhe indicarei o caminho.— Sem dúvida, Arlen, você a levará pelo trajeto mais longo.— Eu a conduzirei até lá — prontificou-se um homem de ombros largos. — Sou o

mais categorizado. — O assunto pareceu encerrado, mas não de maneira a agradar os demais.

— Milady — o grandalhão apontou para a esquerda quando saíram do saguão.— Obrigada. Qual é o seu nome, soldado?— Buzz, milady.— Que nome interessante. O meu é Laurel, e prefiro que me chame assim do que

"milady".— Não seria apropriado usar o nome de batismo para a mulher de lorde McTiernay.— Pois eu lhe garanto, Buzz, não sou mulher de ninguém, portanto não será

apropriado chamar-me de milady. Entendeu?Buzz fitou-a e sorriu.— Sim, milady. Laurel tentou fazer uma carranca, mas foi impossível diante do

sorriso de Buzz. Os montanheses eram extremamente teimosos quando metiam uma idéia na cabeça. Ela o seguiu até uma construção de tamanho considerável no lado oposto da muralha norte.

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Buzz abriu uma porta grande que dava acesso a um hall imenso. O teto era abobadado com vigas de madeira. Na parede leste havia uma grande lareira. A mesa principal ficava na extremidade do salão e era iluminada por uma janela grande na parede norte. Uma entrada ogival atrás da mesa principal conduzia a pequenos compartimentos, e um deles devia ser a latrina. Biombos de madeira, como no saguão, separavam o recinto da área de serviço.

— Estamos no salão nobre, milady.— Ele é mais comprido, mais estreito, e mais suntuoso que o saguão.— Sim, e pode acomodar uma multidão, dependendo da disposição das mesas. No

momento está arrumada para lorde McTiernay jantar com a guarda de elite e com eventuais visitantes. No passado era o local onde a família McTiernay se reunia e fazia as comemorações.

Apesar de ser um recinto bem grande, era convidativo. Uma boa limpeza e a troca do junco realizariam um efeito excelente.

No lado oposto, uma segunda lareira distribuía o calor. Laurel imaginou como seria agradável receber amigos e familiares naquele salão. Conor sentado na plataforma elevada na extremidade oposta à entrada... Ela e Conor ocupando as grandes poltronas na companhia de familiares e amigos.

Laurel voltou de seus devaneios e observou que havia apenas duas mesas arrumadas. As outras deviam estar no hall ou desmontadas em algum canto.

— Obrigada. Ahf Buzz, eu poderia contar com sua ajuda nos próximos dois dias? E talvez eu precise de mais algumas pessoas.

— Mandarei doze homens pára ajudá-la. Isso será o bastante, milady?Laurel foi até uma das grandes janelas de onde se descortinava a ravina. Ao longe,

as montanhas com os topos brancos, os campos verdes e as florestas compunham a paisagem deslumbrante.

— Sim, Buzz, obrigada.Buzz retirou-se e foi para o pátio, inspirando o ar frio da manhã. Era um pecado uma

jovem tão linda estar fora de seu alcance. O sorriso de Laurel poderia induzir um exército a atender ao seu pedido. E não apenas por sua beleza, mas também por sua atitude.

De certa forma ela se parecia com milorde. Tinha o dom de inspirar respeito e simpatia. Qualquer um seguiria alegremente suas instruções. A única vez em que Buzz vira Conor perder o controle fora no pátio, na véspera, quando ele gritara com Laurel. Agora entendia o que Glynis dissera. Lady Laurel era a mulher indicada para lorde McTiernay.

Sorridente, Buzz foi à procura dos soldados que ajudariam a futura lady McTiernay. Teria de escolhê-los com critério. Rapazes muito jovens poderiam arriscar o pescoço se acabassem apaixonados por ela. Precisava de soldados casados e felizes. Falaria com Finn e os dois decidiriam quais os soldados que deveriam trabalhar com Laurel até a volta de Conor.

Glynis e Brighid reuniram várias mulheres e alguns homens para se encontrarem com Laurel no salão nobre. Para alguns, era a primeira vez que pisavam na grande área de recepção e ficaram impressionados. Laurel teve paciência por alguns momentos até conseguir a atenção de todos e mais outros tantos para convencê-los de que falava a sério.

— Milady, está querendo insinuar que pretende implantar mudanças no castelo inteiro? — um dos homens mais velhos perguntou, parecendo ágil e esperto para a idade. '

— Bem, não sei se os termos seriam exatamente esses...— Pode me chamar de Dooly milady. — Ele fora um fazendeiro a vida toda, mas os

filhos haviam assumido seus encargos e ele estava ansioso para trabalhar na fortaleza. Mas sem que tivesse de se opor à vontade de milorde.

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— Não seria Dudley?— Dooly.— Muito bem, Dooly. Onde estávamos?— Milady estava explicando como faria para consertar o castelo — respondeu um

dos mais jovens.— Ah, obrigada. Você é Torrance, certo?— Sim, senhora, mas as pessoas me chamam de Torrey.— Estou atrapalhada com tantos nomes, mas eu lhes agradeço pela colaboração.

Bem, voltemos ao comentário de Dooly a respeito da fortaleza. Não pretendo consertar nada, pois acredito que a estrutura seja perfeita e o castelo sólido.

— Se é sólido, então para que consertá-lo? — indagou o amigo de Torrey.— Uma pergunta excelente. Estou me referindo à parte da limpeza, conservação,

administração e assuntos gerais. Entre eles a maneira de as pessoas comerem, dormirem, tomarem banho, etc. Percebi que todas essas funções estão absolutamente descuidadas.

— Tem certeza, milady? — perguntou outro dos mais velhos. Fallon, um homem corpulento e forte, mais baixo do que as sentinelas, tinha cabelos vermelhos e crespos, e barba vermelho-escura com vários fios brancos, Apesar da aparência rústica, parecia compreender as idéias de Laurel.

— Posso assegurar que recebi autorização de lorde McTiernay para fazer mudanças no castelo.

— Tem certeza de que ele compreendeu exatamente o que milady pretende fazer? — Fallon não disfarçou um certo tom de comando na voz.

— Vou dizer apenas mais uma vez. — Laurel, sem paciência, batia a ponta do pé no chão. — Eu farei as modificações que achar necessárias. Lorde McTiernay me proibiu de morar fora do castelo e eu me recuso a conviver com essa sujeira. Não conheci lady McTiernay, mas tenho certeza de que ela não aprovaria o estado em que tudo ficou depois da morte dela. E até vergonhoso receber visitantes aqui. E como fui obrigada a ficar aqui dentro, terei de fazer mudanças. Até a chegada da primavera, o castelo voltará a ser bem organizado. Terá de ser limpo, arrumado e se tornará decente para as visitas!

Laurel parou de bater o pé. Olhou ao redor e sentiu-se constrangida. Mais uma vez perdera o controle e, como sempre, por culpa de Conor. Se ele a tivesse deixado ficar na choupana, ela não teria de discutir tal qual uma megera com aquele povo bondoso.

— Agora entendi, milady — Fallon anuiu.— Sim, com sua explicação, tudo ficou esclarecido — Dooly concordou.— Ah, sim — uma das jovens interveio. — Milady passou a ser a senhora do

castelo.— Senhora do... Nada disso! Sou apenas uma hóspede que se recusa a viver

como... como um McTiernay! — A irritação de Laurel com os montanheses não se limitava aos soldados.

Ela os viu sorrir com uma dose de malícia e inspirou fundo para se acalmar.— Sinto muito por meu comportamento imperdoável.— Não se preocupe, milady. Nós gostamos de pessoas decididas.— Ah, Dooly, quer dizer que meu temperamento explosivo não os desagrada?— Não, milady — Glynis respondeu. — Percebemos que milady é uma mulher

corajosa e enérgica quando enfrentou lorde McTiernay no pátio.Oh, Senhor, todos sabiam da história!— Agora sabemos que milady é honrada, sincera e que tem determinação para

cumprir as tarefas a que se propôs.— E por que eu haveria de fazer o que não é certo? Será que imaginaram isso? —

Ela recebeu acenos afirmativos do grupo eclético ali reunido. — Posso saber o motivo?— Milady desafiou o chefe do clã.

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— Além disso, não se mostrou arrependida.— Sim, eu vi isso com meus próprios olhos — disse um dos rapazes.O que não era verdade. O pai dele presenciara a troca de asperezas e relatara aos

familiares que milorde em breve se casaria com uma inglesa. Outra possibilidade era que a inglesa fizesse de todos uns tolos por ter desrespeitado um chefe de clã tão poderoso como McTiernay. O pai do rapaz suspeitava que a primeira possibilidade era a correta, pois McTiernay exigira que ela o chamasse pelo nome de batismo.

— Meu desacato às ordens de lorde McTiernay para ficar no castelo tornam-me honrada?

— Oh, não, apenas corajosa.— Ou tola — Torrey murmurou.— Milady não é nenhuma tola! — O amigo dele defendeu Laurel.— Milady mostrou honradez ao defender lady McTiernay e os desejos dela — Glynis

interrompeu a discussão.Laurel admitiu que todos eram amistosos, mas as conversas deles a deixavam

confusa.— Agradeço a compreensão de todos e agora eu gostaria de discutir meus planos.

Começaremos pelo hall e pela cozinha.Todos se alvoroçaram, resistentes à idéia.— Milady tem certeza de que pretende mexer na cozinha? Como...Laurel decidiu agir com mais energia. Se desse atenção a todas as objeções, jamais

chegariam a um acordo e ela não faria nada até a volta de Conor. Mesmo tendo obtido a permissão dele, certamente Conor não imaginava o teor das reformas pretendidas. Mas depois de feitas, Laurel esperava que o agradassem.

— Tenho certeza de que teremos de fazer mudanças na cozinha, mas começaremos pelo hall. Torrey?

— Sim, milady?— Por favor, diga a Finn para me encontrar mais tarde. Preciso conversar com ele

sobre os novos regulamentos em relação ao pátio e ao hall.Torrey não escondeu o espanto.— Vá logo, Torrey — Laurel usou um tom autoritário e observou-o sair. Depois pediu

ao grupo que a seguisse até o hall.Na véspera Laurel avaliara as condições daquele recinto e verificara que o junco era

velho, que em muitos locais nem mesmo existia. Sobre o mesmo havia restos de cerveja, gordura, ossos, excrementos, e muitos outros dejetos que ali apodreciam e deixavam um cheiro horrível.

Assim que ali entraram, Laurel começou a distribuir instruções. Sem perceber, passou a falar em gaélico para explicar que o junco velho teria de ser retirado e substituído por uma forração nova.

Algumas mesas seriam trocadas de lugar para facilitar a entrada e saída dos criados. O hall precisava ser submetido a uma boa limpeza e as vidraças seriam lavadas. As lareiras teriam de ser limpas e abastecidas com madeira seca, que ficaria empilhada nas laterais.

— Aqui será um bom começo, e deixar este hall com aspecto decente será um desafio. Por isso todos terão de trabalhar aqui por quanto tempo for necessário. Nos próximos dias eu dividirei vocês em grupos para atuarem em diferentes partes do castelo. — Ela sorriu.

Os corações que Laurel ainda não conquistara foram vencidos pelo comando no idioma materno deles. Os dois homens mais velhos, que ainda estavam em dúvida se a aceitavam ou não, foram vencidos pelo sorriso contagiante.

— Fallon, se lhe agradar, eu gostaria de encarregá-lo de dirigir os trabalhos deste recinto.

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— Eu gostaria muito, milady, mas como poderemos limpá-lo se os soldados comem e se confraternizam aqui?

— Nenhum deles poderá entrar no hall até que a limpeza seja completada.— Isso poderá levar dias.— Certamente e enquanto isso eles terão de encontrar outro local para conversar e

comer. Eu já comi, dormi e conversei ao ar livre e posso garantir que é melhor do que isto aqui. — Laurel fez um gesto largo, abrangendo o recinto. — Glynis? Brighid? Por favor, levem-me até a cozinha. Fallon, estarei lá se precisar de mim.

Enquanto se afastava, Laurel ouviu Fallon dar instruções em voz alta.— Glynis, quero lhe fazer uma pergunta e desejo uma resposta sincera.— Claro, milady.— O que acha de assumir um cargo mais importante aqui no castelo? Estou me

referindo a tornar-se a governanta dos McTiernay. Entendo que não se trata de uma posição habitual, mas...

— Milady, é a senhora quem vai resolver tudo.— Digamos que o tamanho do castelo requer uma governanta para supervisionar a

organização. Será que seu marido não aprovará a idéia?— Oh, não haverá problema quanto a isso. Dudley ficaria muito orgulhoso, e minhas

filhas podem tomar conta do trabalho de nossa casa, mas a responsabilidade é muito grande. Eu costumava ajudar lady McTiernay, que Deus se apiede de sua alma, mas... governanta! Elas são empregadas em castelos suntuosos, devido à importância do cargo, e eu não quero desapontá-la.

— Não se preocupe, Glynis. Tenho experiência no assunto, mas devo admitir que nunca me deparei com um castelo nestas condições. O que nós realmente precisamos é de um administrador, mas não tenho idéia de onde poderemos encontrar um. Será uma tarefa exaustiva trazer o castelo de volta à sua imagem anterior e treinar os criados para a manutenção. Eu tenho confiança de poder contar com sua sinceridade. Preciso de uma pessoa para informar-me sobre os costumes das Terras Altas e para esclarecer minhas dúvidas. Por favor, fale com seu marido e dê sua resposta amanhã cedo.

Laurel fez uma pausa antes de falar com Brighid.— Leve-me até a cozinha. Glynis, quem é a cozinheira?— Hoje deve ser o turno de Fiona e portanto a comida será boa. Ela gosta de

cozinhar. A maioria detesta a tarefa, pois muitas têm de abandonar suas casas e fazer comida para os guerreiros do clã.

— Entendo. E quem é a melhor delas?— Fiona, com certeza. O bolo escuro que ela faz é excelente e derrete na boca, bem

diferente dos feitos por Melinda que milady provou ontem à noite.Fora exatamente a refeição intragável que deixara a cozinha no alto da lista das

prioridades, Laurel pensou. O pão estava duro e cediço, a carne malcozida e sem gosto. Ela se surpreendera que um clã daquele tamanho fosse tão mal alimentado.

Elas foram até a cozinha, situada entre o hall e o salão nobre, com portas de acesso para os dois cômodos. Na verdade eram várias cozinhas menores que se fundiam, formando um recinto maior. Havia fornalhas para aquecer e cozinhar carne, além de uma lareira central, uma estrutura quadrada de pedra com exaustão externa para a fumaça.

Atrás da cozinha ficava a copa, onde eram lavados utensílios e as aves preparadas para o cozimento.

Laurel, quando criança, conhecera várias cozinhas nas visitas que fazia com o avô e a mãe, e aquela lhe pareceu muito espaçosa e bem aproveitável.

— Olá, Fiona.A mulher grisalha e robusta que sovava a massa nem mesmo levantou o olhar.— Meu nome é Laurel e serei hóspede de lorde McTiernay durante o inverno.Nenhuma resposta.

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— Ele me permitiu ficar e consentiu que eu efetuasse algumas melhorias no castelo.Fiona não lhe dava a menor atenção e talvez pensasse em responder somente na

primavera.— Fiona pode continuar sovando a massa, mas preste atenção. A partir de hoje,

você será a cozinheira do castelo e não fará mais turnos de trabalho com outras mulheres. Escolherá suas ajudantes e a cozinha ficará sob sua responsabilidade. Se a comida não for aceitável, você será substituída. Estamos entendidas?

A mulher idosa imprimiu mais força às mãos e Laurel percebeu que as ordens de uma estranha não agradavam à outra, que franziu as sobrancelhas.

— Vou poder escolher minhas auxiliares?— Sim, mas terá de comunicar à governanta Glyris de quem se trata. Elas deverão

ajudá-la a preparar e a servir as refeições.— E vou poder escolher o cardápio?— Esse detalhe terá de ser resolvido comigo ou com a governanta, mas nós

certamente apreciaremos suas sugestões.Laurel imaginou qual seria o motivo da hesitação de Fiona.Fiona gostava de preparar as refeições, era uma boa cozinheira e orgulhava-se por

sua comida ser apreciada por Conor. Mas tratava-se de um trabalho exaustivo, pois os soldados pediam algo para comer o tempo inteiro.

— Fiona, mais uma coisa. As partir de agora, as refeições serão servidas apenas três vezes ao dia. Homens berrando por um prato de comida é uma cena muito grotesca, além do caos que isso provoca na cozinha. Por favor, acerte com Finn quais serão os horários mais convenientes. Depois me deixe ciente sobre o que resolveram.

— Falando de mim? — Finn entrou.— Chegou em boa hora, Finn, Vamos caminhar um pouco? Glynis, por favor, acerte

com Fiona o cardápio de hoje. Depois de falar com Finn, eu gostaria que me acompanhasse num passeio pela fortaleza.

— Por toda ela?— Sim, Glynis, quero ver tudo.Laurel sorriu para Finn e, com pose de rainha, adiantou-se rumo ao pátio, seguida

por ele.— Milady ouvi dizer que está fazendo mudanças no hall e que a entrada será

vedada a meus homens durante a reforma — ele falou com rispidez.Laurel pensou em defender seus pontos de vista quando o viu sorrir. Algum dia

chegaria a entender aqueles montanheses? Mesmo assim, gostava muito deles.— Finn, como comandante da guarda, fica encarregado dos soldados e do

treinamento deles na ausência de Conor?— Isso ocorre mesmo quando ele está aqui, milady?— Ah, então eu gostaria de contar com sua assistência em algumas coisas.— Farei o que estiver ao meu alcance.— Em primeiro lugar, preciso que mantenha seus homens afastados do hall até o

término dos serviços de limpeza. Creio que isso não lhe trará problemas, não é?— Claro que não, milady.— Foi o que imaginei. Quando não gostam de alguma coisa, os montanheses logo

se põem a esbravejar ou discutir.Finn deu risada, mas não negou a verdade da afirmativa.— E um pedido razoável, pois aquele hall precisa ser melhorado. Os homens ficarão

satisfeitos com a mudança — Finn confirmou enquanto se dirigiam à panificadora.— Não duvido, e eu também gostaria que os soldados colaborassem, pois a sujeira

e a comida não se acumulam sozinhas no chão. Finn, sua tarefa é acompanhar o desempenho de seus subordinados dentro e fora dos campos de treinamento, não é?

— Sim.

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— Então espero que os soldados se mostrem à altura da educação que receberam da mãe que os criou. Suponho que elas não devem ter-lhes permitido o desmazelo nem a falta de compostura. Por favor, peça-lhes que se comportem de maneira mais civilizada daqui por diante. — Laurel não deu a ele a chance de responder. — Bem, a alimentação de todos deve melhorar bastante, mas para manter a boa vontade da cozinheira, será preciso tratá-la com respeito. Fiona ficará encarregada da cozinha e eu lhe peço para combinar com ela os horários mais adequados para as refeições.

— Ela irá cozinhar para todos? Como foi que milady conseguiu tal milagre?Laurel deu um sorriso astucioso.— Isso não importa.— Fiona é a melhor cozinheira de todo o clã. Depois disso, creio que milady

conseguirá fazer qualquer coisa aqui dentro. Eu me perguntava como milorde reagiria diante das mudanças, mas com Fiona na cozinha, ele aceitará qualquer coisa. — O sorriso de Finn foi significativo.

— Bem, como eu dizia — Laurel não conseguiu encontrar um tom impositivo —, combine com Fiona os horários mais convenientes para três refeições diárias. Assim ela terá mais tempo disponível para caprichar na comida.

— Sim, milady. Algo mais?— Só uma coisa, os treinamentos no pátio.— Milady não vai me pedir para acabar com eles. ;Nem Conor nem eu

concordaríamos com isso, mesmo que Fiona nos desse comida na boca.— Quem falou em acabar? Os montanheses são engraçados, adoram sair pela

tangente e imaginam despropósitos. Quantas horas por dia são gastas em treinamentos?— Muitas horas, milady.— Eu estava pensando em estabelecer períodos mais adequados para os treinos.

Notei esta manhã que as pessoas acabam atrapalhando os exercícios no entra-e-sai do castelo para executar as próprias obrigações. Era verdade. Alguns meses antes, um homem fora seriamente ferido durante os exercícios de esgrima.

— O que sugere, milady?— Várias opções, Finn. Parar os treinamentos durante alguns minutos em períodos

predeterminados de tempo, ou parar durante uma hora pela manhã e outra à tarde.Finn não gostou de nenhuma delas.— Parar um treino no meio de um exercício e recomeçar dez minutos depois seria

tão difícil quanto contraproducente.— Bem, os homens poderiam se exercitar no pátio pela manhã e fora do castelo

depois do almoço.Finn achou a sugestão viável para os meses quentes, mas no inverno seria

impraticável ficar do lado de fora das muralhas. Mas ele haveria de encontrar outro local para a prática de exercícios.

Laurel tocou na manga de Finn.— Entendo que nenhuma das sugestões seja ideal para o exercício dos guerreiros,

mas os trabalhadores teriam melhores resultados em suas tarefas se ficassem afastados dos soldados.

— Esteja certa de que procuraremos ajudar, milady. Laurel torceu as mãos, envergonhada por tantos pedidos.

— Falei há pouco com Buzz, um homem muito bondoso, sobre pessoas para ajudar nas mudanças e ele ficou de consultá-lo.

Finn achou graça no qualificativo de Laurel para Buzz, o briguento.— Ele já falou comigo e nós mandaremos pelo menos meia dúzia de homens para

auxiliá-la nas tarefas mais pesadas. Podem ser diferentes a cada dia?— Como for mais conveniente, Finn, e eu lhe agradeço a cooperação. Creio que por

ora é só. Mais uma vez, obrigada. Não esqueça de falar com Mona sobre a alimentação

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dos homens, enquanto o hall estiver fechado, para estabelecer os horários.— Sim, milady.Finn afastou-se, espantado. Laurel cumpriria a promessa de fazer com que Conor se

arrependesse de não tê-la deixado ficar na choupana.Laurel Rose Cordell sabia lidar com as pessoas. Até Fiona, considerada a mais

rabugenta do clã, concordara com o que Laurel sugerira. E por seu temperamento obstinado, não fora escolhida por Conor para ser a cozinheira oficial do castelo. Ele na certa não pretendia perder tempo discutindo com ela. E Laurel conseguira uma pronta colaboração da mal-humorada Fiona.

Laurel não podia imaginar que solidificava o futuro no castelo com cada coração que conquistava e com cada mudança que fazia.

Laurel e Glynis percorriam o castelo e, mesmo com muito para fazer, os objetivos pareciam viáveis. Embora Laurel dissesse a todos que fazia tudo para não ficar mal acomodada, ela só pensava em Conor. Queria deixar o castelo confortável para ele, para a família e para os hóspedes. Seria um dos poucos presentes que poderia dar a Conor por ele ter salvado sua vida.

Glynis não entendia como Laurel podia falar em gaélico sempre que dava instruções ou sugestões aos membros do clã.

— Posso lhe fazer uma pergunta? Laurel assustou-se com a voz que a tirou dos devaneios.

— Claro, Glynis, do que se trata?— Como é que milady fala nosso idioma tão bem?Laurel mordeu o lábio inferior. Como haveria de sair-se dessa enrascada? Ela

odiava mentir e não sabia fazê-lo com convicção.— Bem, meu avô me ensinou a falar gaélico. Ele aprendeu com o avô dele e assim

por diante. Os parentes de minha mãe conheciam o idioma e ninguém sabia o motivo.— Seu avô era escocês?Como ela se esquivaria da pergunta? Talvez fosse melhor não responder.— Eu morava junto aos montes Cheviots no condado de Northumberland. Isso fica

na fronteira da Inglaterra com a Escócia.Glynis imaginou se Laurel pretendia esquivar-se das perguntas.— Tem saudades de sua casa, milady?— Sinto falta de caminhar na praia e sobre as falésias, e percorrer os portos de

pesca. — As duas passaram pelo portão da guarda e Laurel viu as montanhas cobertas de neve e a vegetação luxuriante. — Mas depois de ter visto as Terras Altas, sempre me lembrarei desta natureza exuberante.

Glynis não se deixou enganar pelas evasivas de Laurel e, exatamente por elas, desconfiou da origem escocesa dela. Laurel também se referia ao lar no passado, como se para lá não pretendesse voltar. Para onde ela iria na primavera? Talvez à procura de algum parente escocês. Ansiosa, a criada queria terminar logo o passeio para espalhar o boato.

— Ali é a estrebaria, e Neal é o responsável pelos cavalos de lorde McTiernay. Ele trabalha aqui desde que milorde era menino.

Laurel acenou para Neal, que não estava preparado para o que viu. Ouvira dizer que Laurel era uma beldade... ele a vira suja e com a roupa rasgada... e que milorde estaria apaixonado por ela. Os comentários não eram exagerados. A dama que sorria para ele e perguntava sobre Borrail era um verdadeiro anjo caído do céu.

— Seu cavalo ficará feliz em vê-la, milady. Ele fica inquieto por não fazer exercícios.Laurel aproximou-se do cavalo, acariciou-lhe o pescoço e as orelhas.— Não se preocupe, Borrail, não me esquecerei de você. No momento tenho muito

que fazer, mas assim que eu puder, sairemos para galopar. Isso o deixa feliz? — Laurel murmurou.

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— Milady está falando em gaélico com o cavalo — Neal cochichou com Glynis.— Sim, ela tanto fala em inglês como na nossa língua, algumas vezes até mistura os

idiomas numa mesma frase — Glynis respondeu num fio de voz. — Creio que ela nem se dá conta disso. Neal, posso apostar que ela descende de escoceses. Ela é temperamental e linda demais para ser inglesa pura. — Ela ficou satisfeita com a anuência de Neal. — E o domínio do idioma confirma a minha teoria.

— Lorde McTiernay escolheu muito bem — Neal afirmou.— Sem dúvida. Mas lady Laurel diz que vai embora na primavera, veja só.Ela podia dizer isso e Conor podia dizer que a deixa-ria ir, mas Neal não se iludia.— Vamos, milady? — Glynis chamou. — Só um instante. Neal, quantos cavalos estão sob sua responsabilidade?— Os de lorde McTiernay e os da guarda de honra.— Há alguém para ajudá-lo quando todos estão no castelo?Cuidar dos cavalos era um trabalho duro, e alguém teria de aprendê-lo para poder

dar continuidade no trato com os animais.— Não preciso de ajuda. — Neal não sabia se deveria sentir-se insultado. Ela o

considerava incapaz ou um fraco?Laurel tratou de explicar-se.— Há muitos jovens no castelo que precisam aprender a tratar dos cavalos. Se os

rapazes soubessem como manejar as montarias, facilitariam o trabalho de Finn. O que acha de ensinar um ou dois garotos de cada vez? Cuidar dos animais não é um trabalho que possa ser feito de qualquer maneira e apenas quando for conveniente.

Desde que Conor dispensara a ajuda no castelo, Neal observava o conhecimento dos mais velhos perder-se. Apenas lutas e estratégias de batalhas eram levadas em consideração. Era prazeroso ser testemunha das mudanças que estava ocorrendo no Castelo McTiernay. E ele não se esquivaria da ajuda.

— Seria um grande prazer ensinar os garotos — Neal afirmou com olhar brilhante.— Vamos, Glynis. Nós estamos atrapalhando a labuta de Neal.— Laurel sorriu e

passou o braço no da mulher que rapidamente se tornara sua amiga.Em seguida as duas foram à capela. Era uma construção retangular, simples, de

dois andares, que ficava ao lado da torre estrelada. A nave dividia o ambiente na horizontal, separando a área reservada à família na parte superior. Os outros membros do clã ficavam na parte inferior. A beleza da construção devia-se aos tetos em arco que tinham sido pintados por um artista que visitara o castelo alguns séculos antes.

A abóbada pintada contrastava com a simplicidade abaixo. As naves laterais tinham fileiras de pilares de pedra que suportavam o teto de madeira. Os bancos eram sólidos e estavam empoeirados, e os destinados aos McTiernay eram estofados e a maioria precisava de reparos. O altar mostrava estar em desuso por algum tempo.

— Glynis, não há um sacerdote aqui?— Há, sim, mas ele não vem aqui há séculos.— Logo se vê — Laurel falou mais para si mesma. — Depois que os homens

terminarem a limpeza do hall, eu os mandarei para cá.— Sim, milady.— As cortinas, os estofados e os revestimentos do altar precisam ser trocados.Glynis conduziu Laurel para fora da capela.— Há vários rolos de tecido na torre norte, e se me permite a sugestão, milady

poderia aproveitar alguns para fazer seus vestidos.A princípio, Laurel pensou em recusar.—Tem razão, não posso usar a mesma roupa todos os dias. — Ela olhou o traje

remendado. — Tem certeza de que os tecidos não serão empregados para outros fins?— E eu lhe daria a sugestão se não fosse permitido utilizá-los?Depois de passar a manhã com Laurel, Glynis sentia-se mais descontraída. A

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franqueza pareceu-lhe a melhor maneira de fazer sugestões para Laurel, que tomava decisões rápidas. O Castelo McTiernay finalmente voltaria a florescer.

Glynis observou Laurel e mudou de direção.— Milady deve voltar a seu quarto, pois logo será hora de jantar. Mandarei Brighid

preparar-lhe um banho e trazer alguns tecidos para sua apreciação.Foi só então que Laurel percebeu que estavam na base da escada da torre

estrelada. Glynis terminara sutilmente a ronda do dia.— Ainda é cedo, eu gostaria de ver...— Por hoje é suficiente. Lorde McTiernay me torceria o pescoço se descobrisse o

quanto tem trabalhado, milady. Suas costelas ainda não estão curadas e notei sua dificuldade para respirar depois de subir os degraus da capela.

De fato, a respiração estava dificultosa. Irritava-a sentir-se como uma inválida, mas também sabia que, se não se cuidasse, acabaria na cama.

— Está bem, mas só por hoje — Laurel concordou e começou a subir a escada.Laurel estava sentada no sofá perto da janela, olhando a paisagem quando bateram

na porta.— Entre. — Ela esperava Brighid, mas foram os McTiernay mais jovens que

entraram no quarto. — Olá! Pensei que os dois tivessem acompanhado Conor e lorde Schellden.

— Não nos permitiram ir. — Clyde sentou-se na cama da mãe, como costumava fazer quando era pequeno.

Conan foi para o lado dele e esparramou-se para olhar o teto.— Adoro este quarto. Mamãe nos deixava brincar aqui à vontade — Conan

comentou. — Mas depois que ela morreu, Conor trancou o quarto e não permitiu que ninguém mais o usasse... até agora.

— Conor deve gostar muito de milady. Pretende se casar com ele? — Clyde perguntou com inocência. — Ah, espero que sim. Milady é bela e bondosa como nossa mãe.

— Obrigada, Clyde. Eu também gosto de todos, mas não creio que eu vá me casar com seu irmão. Ele é um homem importante e precisa de uma mulher à altura de seu clã.

— Ah, mas milady é muito valorosa e inteligente. A maioria das pessoas acha maravilhoso seu trabalho de limpar o castelo e que já estava mesmo na hora de nosso irmão permitir modificações. Alguns acham inacreditável que milady tenha desafiado Conor e receiam pelas conseqüências.

Clyde deu risada e jogou-se de costas na cama.— Imagine quando a virem atirar uma adaga! Laurel ignorou o gracejo e olhou para

Conan.— Conan, por que limpar o castelo seria como desafiar Conor?— Conor disse que nós éramos mal-agradecidos.— Como assim?— Na época ele não se referiu a Clyde e a mim em particular, mas aos gêmeos e a

Cole, que eram piores do que nós. Uma noite ele ficou muito nervoso, mandou todos os criados para casa e disse que não teríamos nenhum auxílio enquanto não aprendêssemos a dar valor a quem nos ajudava. — Conan deu de ombros. — Suponho que ainda não aprendemos.

Pobre Conor, tentando educar os irmãos, acabara se prejudicando, Laurel pensou. Ela sentou-se na cama entre os dois e segurou as mãos deles.

— Seu irmão está certo ao afirmar que a ajuda deve ser tratada com cortesia e gratidão, para contar com a boa vontade de todos. Mas, ao contrário de Conor, não pretendo deixar a imundície no castelo por causa de alguns meninos "mal-agradecidos".

— Laurel, qual o significado exato desse termo? — Clyde indagou.— Quer dizer que se não soubermos agradecer nem reconhecer o trabalho que

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alguém faz por nós, não seremos merecedores de ajuda — respondeu Finn, entrando no quarto. — Mandei trazer a água de seu banho, milady.

— Finn, isso não é de sua responsabilidade! — Laurel exclamou.— Cuidar de seu bem-estar é parte de minhas obrigações enquanto McTiernay

estiver ausente.Ele evitou comentar que Conor fora enfático ao encarregá-lo de organizar

pessoalmente tudo o que se relacionasse com Laurel, inclusive essa parte.— Isso é bobagem, eu mesmo posso ir até a cozinha para tomar banho. Ninguém

precisa carregar água para cima e para baixo por minha causa.Laurel foi até a porta, mas Finn impediu-a de passar. Ele era quase tão alto como

Conor, embora menos musculoso, mas foi uma barreira sólida.Naquele momento, Brighid surgiu no corredor, carregando tecidos, fitas e rendas.

Espantou-se ao ver os rapazes sentados na cama e Finn argumentando com Laurel.— Eu... desculpem-me. Quer que eu vá embora, milady? Glynis me disse que eu

deveria trazer-lhe isto, mas se milady está ocupada...— Que ótimo, Brighid! — Laurel adorou a interrupção. — Esse deve ser o tecido

sobre o qual Glynis me falou?A moça anuiu e Laurel examinou os panos.— Estes não servirão, eu preciso de fazendas mais fortes para estofados e cortinas.

Somente o xadrez parece apropriado, mas nem esse será suficiente.— Bem, milady, os outros tecidos não poderão ser disponibilizados enquanto não

forem feitos pelo menos cinco vestidos para milady.Nervosa, Brighid notou o olhar arregalado de Laurel. Ela recebera instruções de

Glynis para não ceder a nenhum tipo de pressão, pois as ordens de Conor McTiernay tinham sido expressas nesse sentido.

Laurel, por sua vez, não queria deixar Brighid constrangida diante de seus superiores.

— Está bem, amanhã cedo conversarei com Glynis. Brighid pareceu aliviada.— Sim, milady, devo deixar os rolos no canapé? Laurel não queria ocupar seu local

favorito. Começou a arrastar um sofá mais desconfortável para perto da lareira quando Conan correu para ajudá-la.

— Obrigada por sua ajuda, Conan. Brighid, pode deixar tudo aqui. — Laurel lembrou-se de Neal. — Finn, posso fazer outro pedido?

— Claro. — Finn estava curioso a respeito do que seria.— Eu gostaria que Neal tivesse um ou dois aprendizes para ajudá-lo, em sistema de

rodízio. Ele está ficando velho e é muito difícil cuidar sozinho de todos os animais, —Laurel impediu-o de argumentar. — Ele não se queixou, em absoluto, mas isso não quer dizer que não necessite de ajuda. Além do mais, ele é uma fonte de sabedoria que não pode ser desperdiçada.

— Sobre o que está falando, milady? Conor está certo ao afirmar que milady argumenta em círculos.

— Não é nada disso!— É sim. Milady pode rivalizar com minha mulher quando resolve confundir minha

cabeça. Aileen usa esse mesmo sistema. Para descobrir o que ela quer, é preciso desvendar um enigma. E ela ficou ainda pior com o bebê que está a caminho. Nunca fala exatamente o que pensa. Milady, o que está pretendendo dizer com fonte...

Ah os homens!— Quero dizer que Neal conhece tudo a respeito de cavalos como cuidar e tratar

deles, e até como treiná-los. Esse conhecimento será perdido se não for passado adiante.Dessa vez Finn entendeu e prometeu procurar dois rapazes para iniciar o

treinamento de cavalariços. Prometeu também que os garotos se revezariam para aprender, o que traria conhecimento para muitos.

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E inesperadamente, Clyde pediu para ser o primeiro aprendiz de Neal.Laurel não conseguia dormir. Fazia muito tempo que não se sentia tão satisfeita,

nem imaginava que se sentir apreciada e útil proporcionasse tamanho bem-estar.Onde estaria Conor, o que ele estaria fazendo e onde dormiria? Repreendeu-se pela

centésima vez. Na certa Conor a esquecera assim que saíra da fortaleza, e por que ela não podia fazer o mesmo em relação a ele?

Levantou-se e, quando pegou a túnica, notou-a úmida da lavagem. Ah, teria de acrescentar um penhoar na lista de roupas que ela e Brighid haviam começado a preparar naquela noite. Andou de um lado para outro e resolveu que a camisa seria suficiente.

Abriu a porta e espiou, embora não esperasse encontrar ninguém. Glynis lhe dissera que apenas Conor e ela ocupavam aposentos na torre estrelada. Os outros membros da família dormiam em outra ala do castelo, na torre norte. Os servos e os soldados, nas torres leste ou oeste. Calçou as sapatilhas que encontrara no quarto e saiu, pé ante pé. Sentiu-se culpada por usá-las, apesar de todos garantirem que a falecida lady McTiernay teria insistido para que o fizesse.

No caminho, passou pelos aposentos de Conor, mas não parou. A torre tinha sete andares, e ao chegar no alto, saiu pela porta que levava às ameias. A longa subida valeu a pena. Laurel nunca vira as estrelas tão claramente e imaginou se dali não poderia enxergar os anjos do céu. Sentiu-se livre, sem preocupações nem problemas. Feliz. Apenas Conor fazia falta.

A alcova repleta de árvores perto do Castelo Stirling já não lhe parecia o lugar ideal para beijar. Aquela torre enorme era o local mais romântico do mundo. Abraçou-se por causa do ar frio da noite e começou a rodopiar junto ao muro, cantando.

Muitos soldados dormiam na torre, por fazer parte da guarnição permanente, e vários ficavam junto aos parapeitos para vigiar, pelas ameias, a aproximação de estranhos.

— Acorde, Gil — Fergus cutucou-o. — Acho que eu estava dormindo, pois vi a mulher dos meus sonhos.

Gil virou-se e começou a roncar. Fergus não desistia com facilidade e deu um empurrão no amigo.

— Um anjo está entre nós.Gilroy, um soldado alto e magro, porém forte e esperto, sentou-se disposto a atingir

o companheiro mais baixo com um tapa na cabeça. Foi quando viu ao que Fergus se referia. O mais belo dos anjos dançava na torre estrelada.

Era uma visão vestida de branco e com longos cabelos loiros que alcançavam a cintura. Era alta e tinha um corpo perfeito que reluzia sob o brilho do luar. Gilroy pensou em verificar o que acontecia para certificar-se de que a imagem era real, quando ela desapareceu no ar, assim como surgira. Ele jurou para si mesmo que jamais se queixaria dos deveres noturnos de vigilância.

Conor enfrentou mais uma noite agitada. Preocupava-se por ter deixado Laurel sozinha e tentava convencer-se de que era sua promessa que o fazia pensar nela constantemente. Estava dividido entre os deveres com o clã, os irmãos e Laurel. Jurara protegê-la e acabara deixando o encargo para Finn.

Ai de Finn, se alguma coisa acontecesse a Laurel durante sua ausência! Conor passara uma hora explicando a seu comandante o que os outros homens poderiam ou não fazer em relação a Laurel.

Confiava em Finn para manter Laurel afastada dos perigos e dos homens excessivamente atenciosos, ou não o teria dispensado da viagem à propriedade de Schellden. Apenas Finn, que tinha um casamento feliz e seria pai em breve, parecia-lhe

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capaz de resistir aos encantos de Laurel. Confiava em seus homens como guerreiros capazes e leais, mas o fato de não ter intenção de pedir Laurel em casamento a deixava vulnerável.

Conor refletiu que gostaria de ser como Finn, um admirador não vulnerável. Admitiu que jamais uma mulher lhe despertara tanto desejo. Lembrou-se de como ela o desafiara, recusando-se a ser intimidada. As mulheres do clã de Schellden que ora o rodeavam portavam-se como todas as outras. Acovardavam-se ao menor olhar. Eram todas fracas, sem opinião própria, e não podiam ser comparadas a Laurel, um mistério de cabelos dourados e olhos da cor do mar. Fechou as pálpebras e lembrou-se da suavidade dos lábios de Laurel, ávidos apesar da inexperiência.

Ansiava por abraçá-la novamente, como se os dois tivessem sido feitos um para o outro. Receou enlouquecer de tanto desejá-la. E saber que ela correspondia fazia com que fosse tomar um banho no lago gelado todas as noites.

Tinha menos de duas semanas para tirar Laurel Cordell do pensamento. Se não conseguisse, acabaria se deitando com ela, independentemente das conseqüências.

CAPÍTULO V

― Milady? — Glynis chamou da porta. — Entre, Glynis. Laurel vestiu a túnica nova. As costelas haviam melhorado muito nos últimos dias. Doía apenas levemente quando ela subia ou descia a escada, e já conseguia se vestir sozinha.

— Ah, milady, está tão linda! Brighid é uma excelente costureira. Milorde ficará muito satisfeito quando voltar e a vir usando o padrão xadrez do clã.

Ou não, Glynis pensou. Conor sempre fora possessivo, e se visse Laurel tão linda seria capaz de exigir que ela voltasse a ficar mal vestida como antes.

— Não sei não, Glynis. Vestir o manto do clã me parece muita presunção. — Laurel tirou uma poeira imaginária da dobra do ombro. Ela se encantava com a trama do tecido e procurou um motivo racional para envergar algo que pertencesse a Conor. — Mas a lã é quente e as noites estão se tornando mais frias.

— Nós tivemos um verão curto, o que às vezes acontece nesta época do ano. Quando começa a esfriar, uma onda de calor pode aparecer e durar várias semanas, e depois desaparecer. Muitos acreditam que isso é prenuncio de frio rigoroso.

Glynis ajudou-a com as pregas, pois Laurel ainda não tinha muita prática em acertá-las.

As duas saíram e foram até o hall. Os reparos haviam demorado mais do que o previsto, mas Laurel esperava reabri-lo para os soldados ao entardecer. Ela ficara ocupada com os trabalhos do hall, do salão e da capela, sem tempo para visitar outras partes do castelo, como a oficina do ferreiro e as demais torres. Imaginava que também estivessem em mau estado, o que a faria iniciar outras frentes de trabalho. Seria preciso cuidado e fazer uma coisa por vez.

— Milady, eu gostaria de lhe falar a respeito do administrador — Glynis comentou quando elas entraram no hall.

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O recinto passara a ser um local agradável para os homens se reunirem, comer e conversar sobre os eventos diários. As lareiras, depois de limpas, passaram a ser novamente eficazes fontes de calor. As janelas tinham sido lavadas e deixavam entrar mais claridade e mais calor durante o dia, e as mesas de cavalete podiam ser desmontadas fora do horário das refeições. As melhorias, tanto ali como na capela, foram surpreendentes e feitas sob a supervisão de Fallon, que foi alvo de comentário honroso de Laurel.

— Era sobre ele que eu gostaria de falar, milady.— Sobre Fallon?— Sim. Eu a aconselharia a admiti-lo como administrador.Laurel concordava com a proposta, mas não imaginava como tocar no assunto com

um homem tão difícil. Temia que ele se sentisse insultado e, por algum motivo, não gostaria de desagradá-lo. Fallon era mais disposto a apontar erros do que elogiar, o que fizera quando o excesso de projetos de limpeza resultará num atraso da reabertura do hall. A temperatura caía e os homens se alimentavam de comida fria.

— Não creio que Fallon queira assumir o cargo, e eu não pensaria em aborrecê-lo depois de toda a ajuda que ele nos prestou.

— Milady, Fallon é o administrador do Castelo McTiernay.— Como é?! — Laurel exclamou e atraiu a atenção dos que estavam trabalhando e

logo abaixou a voz. — Que belo administrador! Deixou tudo em péssimo estado, e eu achando que ele fosse um homem capaz!

— Milady não entendeu. Sabe que milorde dispensou todos, não é? Então...— Oh, pobre Fallon, ele deve ter sofrido muito ao ver a fortaleza chegar a tal estado

de abandono. Não é por acaso que ele sempre sabia o que devia ser feito.Laurel se sentiu culpada por ter duvidado da experiência de Fallon. Ela o nomearia

novamente administrador, pois ele era mais do que indicado para o cargo. Mas antes precisava falar com ele.

Laurel encontrou Fallon no pátio conversando com Hamish e Loman. Ela sorriu para os dois nessa primeira vez em que os via desde a volta deles.

Hamish e Loman observaram-na aproximar-se e sorrir. Hamish literalmente se derreteu, e Loman deu razão a Finn, que o prevenira, assim como a Hamish e Seamus, para manter o restante da tropa afastada de Laurel. E eles também deveriam manter distância.

Finn aumentara propositalmente o tempo de treinamento, o que os deixava exaustos no final da tarde.

Todavia, diante de Laurel usando uma roupa nova que acentuava a cor dos olhos e destacava o tom dos cabelos soltos, Finn duvidou que algum dos homens dormiria naquela noite apesar do cansaço. Conor teria de voltar o quanto antes e casar-se com ela antes que algum outro se adiantasse a ele.

— Perdoem-me, cavalheiros, mas eu gostaria de falar com Fallon por um instante. — Laurel não se incomodou com a presença dos demais. — Você nos tem prestado uma ajuda inestimável nos últimos dias, na restauração do castelo, o que me fez pensar no posto de administrador. Sabe do que estou falando, não é? — Ela fingiu inocência.

— Sim, milady, estou ciente do que é esse posto e de suas responsabilidades.— Ótimo. Eu esperava contar com sua ajuda para treinar Scully como administrador

da fortaleza.Loman e Hamish se entreolharam. Laurel certamente não conhecia o temperamento

de Fallon, que já fizera muitas moças correrem para casa aos prantos depois de uma reprimenda.

— Milady deseja que eu ensine a função para Scully? — Fallon ergueu a voz.— Sim, acredito que ele corresponderá à confiança que depositarmos nele.Na verdade, seria um horror, apesar de Scully ser um homem de boa vontade. Ele

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era esquecido, desajeitado e por isso acabava ocasionando desastres. Fora preciso restringi-lo a áreas menos nobres, para evitar danos maiores.

— Scully tem um coração enorme e gosta de agradar. Não acha essas características importantes?

— Milady perdeu o juízo! — Fallon gritou. — Boas intenções nada têm a ver com bom desempenho. Um administrador precisa ser organizado, capaz de distribuir ordens e tomar decisões, verificar o que precisa ser feito e ordenar a execução dos trabalhos. Ele tem de se antecipar às necessidades de um lorde e executá-las antes que o lorde se dê conta das faltas. Ele tem de conhecer a fortaleza por inteiro, detalhes de cada setor e de seus responsáveis. Só assim será possível coordenar os requisitos necessários para o funcionamento perfeito de um castelo, mesmo em caso de visitantes inesperados. Scully não tem a menor idéia sobre a metade das funções deste castelo, quanto mais coordená-las!

Laurel suspirou, indiferente à manifestação de desagrado, e ergueu a mão para impedir a interferência de Loman e Hamish.

— Tem toda a razão, e por isso terei de lhe pedir apenas uma coisa. Não mantenha mais toda sua capacidade oculta de mim, sr. Administrador. Você me manteve na ignorância desse fato e mesmo assim exerceu um controle perfeito das reformas enquanto trabalhou comigo. No entanto, esqueceu-se de mencionar um traço de caráter que me parece importante. A honestidade, não é?

Fallon ficou sem voz. Hamish e Loman não se lembravam de uma única vez em que Fallon tivesse caído na própria armadilha. Aquela seria uma história lembrada muitas vezes.

Laurel compadeceu-se ao vê-lo emudecido.— Então, Fallon? Eu preciso de ajuda, e somente você tem competência para isso.

Hoje pretendo visitar a panificadora e a oficina do ferreiro, e gostaria de contar com sua orientação.

As palavras de Laurel trouxeram Fallon de novo ao normal.— Pois não, milady. Seria muito bom milady ouvir meus conselhos nesses assuntos.Os soldados observaram Laurel afastar-se com Fallon, conversando sobre vários

assuntos. Laurel Cordell nunca precisara da ajuda deles e o mistério a seu respeito aumentava. Ela enfrentara Conor, convencera Fiona a ser a cozinheira efetiva e intimidara Fallon.

No final da manhã, Laurel, Glynis e Fallon inspecionaram a panificadora. Fiona estivera preocupada nas últimas duas noites com a qualidade do pão. O padeiro insistia que o problema residia nas fornalhas. A cerâmica sempre aquecia demais e queimava a parte externa do filão, tornando-o intragável.

O recinto para a panificação era escavado no penhasco situado sob as construções das muralhas norte e oeste. O hall, o salão e a cozinha pareciam estar no primeiro pavimento, quando na verdade ficavam acima dos cômodos incrustados na rocha. Era uma maneira inteligente de aumentar o espaço e manter a segurança.

Laurel deveria ter imaginado isso ao ver o piso de madeira do salão nobre, em vez de terra batida. O piso inferior estendia-se sob o hall e a cozinha, fazia uma curva sob a torre norte e terminava na torre de supervisão, sendo usado para armazenar alimentos e materiais necessários para o castelo, como armas, por exemplo, Laurel imaginou se o tecido das cortinas estaria guardado ali. Glynis e Brighid se recusavam a procurar qualquer coisa para a capela, enquanto o guarda-roupa de Laurel não estivesse completo. Laurel não conseguira demovê-las e concluíra que teria de esperar pelas cortinas.

O local da panificação era pequeno se comparado a outros recintos ou ao de outros castelos. O teto era arqueado, e a porta, sólida.

— Por aqui se vai às masmorras — Glynis explicou.— Não temos prisioneiros, mas quem trabalha aqui embaixo prefere se prevenir.

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Havia um escoadouro para fora, uma fornalha e uma passagem de comunicação com a construção principal. Fallon apontou o conduto da fornalha e Laurel deu razão ao padeiro. Estava em péssimo estado.

— Serão necessários mais homens para o trabalho.— Laurel suspirou.— Teremos de remontar as pedras ao redor da lareira para permitir o escoamento

da fumaça — Fallon acrescentou.Laurel concordou e garantiu a ele toda a ajuda necessária, fazendo da panificadora

a prioridade depois do término da reforma do hall. A capela poderia esperar, pois não havia sacerdote. Eles precisavam comer.

Naquela noite o hall foi aberto e os soldados irromperam nele aos trambolhões, como de costume. Mas em pouco tempo entenderam que, para desfrutar da comida maravilhosa de Fiona, teriam de aprender a levantar-se quando uma dama entrava, a não derrubar farelos no junco fresco e a evitar arrotos na presença de Laurel.

Aquela era a primeira vez em que muitos soldados viam a dama escocesa que viera da Inglaterra, embora os boatos já tivessem percorrido todo o clã.

No início, os guerreiros foram atraídos por sua beleza, depois se encantaram com sua inteligência. E quando ela deixou o hall para que pudessem comer à vontade, todos se julgaram capazes de vender a alma para vê-la feliz.

Sem erguer a voz, Laurel podia dar ordens para um batalhão, assim como Conor fazia. A postura regia de Laurel impunha respeito e, por mais que ela negasse, todos acreditavam que ela seria a próxima lady McTiernay. No momento, era o que os impedia de se aproximar dela com intenções matrimoniais.

No entanto, se Conor continuasse a refutar a idéia de casamento, num breve espaço de tempo haveria homens duelando por ela.

Depois das histórias sobre Laurel e Fallon se esgotarem, o hall ferveu com as conversas sobre um anjo branco que visitava o castelo McTiernay à noite. Alguns tinham ouvido o anjo cantar, mas a maioria apenas enxergara a visão envolta em branco. Com as noites claras, a guarda do castelo ficava mais numerosa para ver o anjo de McTiernay dançando ao luar.

Conor galopava. Depois de ultrapassar a fronteira dos McTiernay, ele deixara Craig e Crevan para trás com outros guerreiros. Era uma insanidade disparar naquela velocidade, mas fazia dezesseis dias que ele não via Laurel. O que ela teria feito na ausência dele? Recebera um bom tratamento? Finn conseguira manter os homens afastados?

Claro que Finn seguiria suas ordens, e o mais provável era que Laurel estivesse nervosa por não ter com que se ocupar. Ela tinha uma natureza irrequieta, embora fosse capaz de se mostrar submissa.

Conor decidira acompanhar Cole até a propriedade dos Schellden para afastar-se de Laurel com urgência, antes de acabar rendido às necessidades primitivas que o atormentavam desde que a conhecera.

Àquela altura, Conor apenas desejava voltar e cumprir o prometido: zelar pela segurança e pelo bem-estar de Laurel. Nunca mais entregaria aquela responsabilidade a outrem. Somente ele poderia deixá-la a salvo de seu clã que tinha caráter desconfiado e hostil. E, sendo inglesa, devia ter sido alvo de palavras pouco amáveis.

Conor subiu mais uma colina e cruzou o platô a todo galope. Em geral, costumava visitar alguns parentes no caminho para saber como estavam passando e receber notícias. Os membros do clã que viviam perto da fronteira raramente se aventuravam naquele trajeto difícil para chegar ao castelo, ainda mais nos meses de inverno. Naquele

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dia, Conor não parou nem mesmo para cumprimentá-los. Os que ouviram sua aproximação mal tiveram tempo de vê-lo acenar na passagem.

Conor entrou no pátio do castelo, pulou do cavalo e estranhou não ver ninguém no horário de treinamento dos soldados.

Nisso ele viu Neal e o filho do fazendeiro Angus que, de mão estendida, aguardava as rédeas.

— Pegue o cavalo de milorde e ande com ele um pouco antes de escová-lo — Neal instruiu o rapaz antes de falar com Conor. — E um prazer revê-lo, milorde, embora o esperássemos um pouco mais tarde. Notícias de sua volta acabaram de chegar. Lady Laurel ficará encantada em vê-lo, — Assim que se recuperar do choque.

Saber que Laurel o esperava deixou Conor mais descontraído, mesmo sem imaginar o quanto lhe importava que Laurel se preocupasse com sua volta.

Laurel provavelmente pensara nele, assim como ele não a esquecera. O que não seria estranho. Afinal, ela conhecia poucas pessoas e devia sentir-se solitária.

— Peça a lady Laurel para encontrar-se comigo no salão nobre — ele disse para Neal antes de escutar o tropel de um cavalo.

Finn aproximou-se e desmontou.— Espero que tenha feito uma boa viagem, milorde. Se está procurando por lady

Laurel, informo-lhe que ela não está no castelo.Finn não esperava ser atirado no chão com violência.— Explique o que está acontecendo! — Conor bradou, e os que se aventuraram a

saudá-lo afastaram-se rapidamente.— Ela está bem, Conor, isso eu posso garantir. — Finn sentou-se, ajeitou a túnica e

esfregou o pescoço e o ombro que tinham sido alvo do ataque de Conor. — Milorde sabe que eu a protegeria com minha vida, assim como faria com qualquer McTiernay.

— E por que Laurel está fora do castelo? Eu o encarreguei de protegê-la na minha ausência! — A raiva de Conor escondia seu receio,

— Protegê-la, sim, mas não encarcerá-la, o que teria sido impraticável mesmo com milorde ao lado dela. — Finn ficou em pé e permaneceu fora do alcance de Conor.

— Finn, responda-me! Onde está Laurel?— Ela saiu montando Borrail, decerto com intenção de caçar para o jantar. — Finn

sabia que Conor ficaria furioso com a primeira das surpresas.— Neal! Meu cavalo... imediatamente! Por que Laurel teve de ir caçar? Os homens

se recusam a fazer isso por ela ser inglesa? Se for isso, eles se arrependerão!— Conor, ela gosta de caçar e é muito habilidosa. Além do mais, vários soldados

sempre estão com ela.Finn montou no cavalo.— Nossos homens serão incapazes de providenciar a carne e precisam de uma

mulher para fazer isso? Ou estarão se recusando a alimentar uma inglesa?O ímpeto exacerbado de Conor deixava evidente a importância de Laurel para ele.Finn precisava acalmá-lo antes que todos os planos de Laurel fossem arruinados. E

se Laurel se aborrecesse, Aileen também ficaria infeliz.— Milorde nunca se preocupou tanto com o bem-estar de uma mulher.Conor estacou ante as palavras desafiadoras de Finn.— Laurel soube de sua volta e esteve elaborando um cardápio com Fiona para

recebê-lo. Algumas caças são demoradas para conseguir e quando ela se ofereceu para trazê-las, também não acreditei, mas tive de admitir sua habilidade como caçadora. Laurel é extremamente, capacitada para usar nossas armas e é uma amazona excelente. Lembre-se do que ela fez com a adaga. E posso lhe dizer que todos os homens se apaixonaram por ela.

Finn entendeu a tolice do que dissera assim que acabou de falar. Naquela altura ninguém escaparia da raiva de Conor. Deus que protegesse Laurel!

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Eles foram até o campo de treinamento onde Laurel, ladeada por Loman e Hamish, montava Borrail. Concentrados nos exercícios e por causa do barulho das espadas, não ouviram a aproximação de Conor e Finn.

— Conor, antes que resolva desforrar a ira em seus homens, devo avisá-lo que pedi a Loman e a Hamish para ficarem com Laurel enquanto eu vinha saudá-lo. Esta foi a primeira e única vez que eles ficaram com Laurel sem a minha presença.

Conor incitou o cavalo para diante e escutou parte da conversa sem que Laurel o notasse. Os cabelos longos de Laurel brilhavam sob o sol da tarde. Embora presos na nuca, madeixas finas dançavam sobre os ombros ao sabor da brisa. Ela se mantinha ereta e sua postura era elegante e graciosa. Conor admitiu mais uma vez que Laurel tinha um encanto único.

— Milady, a escolha das armas, da vestimenta e dos cavalos é determinada pela velocidade que será necessária em uma batalha — Loman explicava.

— Eu nunca vi nenhum homem usar armadura nos treinamentos. Isso não afetaria a habilidade de lutar em ocasiões mais perigosas?

— Milady está pensando como uma inglesa. Armaduras deixam um homem mais pesado e diminuem a velocidade e a precisão. É uma carga e um estorvo numa batalha. Mesmo assim, alguns montanheses gostam de usar cachecóis no pescoço como proteção, mas lorde Conor acha isso um desperdício de tecido. Nenhum cachecol impedirá a morte de um homem com nossas espadas de folha larga.

Laurel estremeceu.— Com um treinamento adequado, não há necessidade de usar armadura —

Hamish interveio. Seu ardor por Laurel não diminuíra naquelas duas semanas, conquanto entendesse estar ela muito longe de seu alcance.

— As armaduras devem ser usadas para proteger o cavalo, e essa é uma das responsabilidades de um guerreiro — Loman acrescentou.

— Isso não faz sentido — Laurel espantou-se.— Dependendo do tipo de batalha, lorde McTiernay exige que sejam amarradas

correntes nas coxas dos cavalos para evitar o ataque das lanças — Hamish explicou.— E quando o combate é de espadas contra flechas?— Esquecemos lanças e adagas.Loman aproximou o cavalo e apontou um grupo de homens a distância que fazia

exercícios com lanças longas de comprimentos variáveis entre dois e cinco metros.— E esta, para que serve? — Laurel apontou uma lança de cerca de um metro e

meio de comprimento.— Ela é forjada com lâminas de espadas velhas. — Conor adiantou-se. — A beira

afiada tem uma boa extensão de corte e a ponta aguçada é usada para perfurar. É uma arma mortal usada apenas por guerreiros e não por damas.

— Conor! — Laurel virou-se para vê-lo, esfuziante de alegria. — Você voltou!Para Conor, a imagem de Laurel aliviou sua alma sedenta e ele a olhou da cabeça

aos pés. Ah, como a desejava!— O que faz aqui, meu amor? Não estava caçando?— Estava, e já mandei um homem entregar as carnes para Fiona. Ah, Conor, estou

tão feliz com sua volta. Fizemos tantas inovações e eu... — Laurel arregalou os olhos, o que dava a seu rosto uma fragilidade aparente.

— O que houve de errado, Laurel? — Conor indagou ao vê-la empalidecer.— O que está fazendo aqui? — Laurel gritou e olhou para Finn. — Você disse que

milorde poderia demorar dias para regressar! Eu queria tudo arrumado no hall e ainda há muito para fazer! — Laurel virou o cavalo. — Finn, mantenha-o afastado até que eu mande avisar. Esta é uma ordem! — ela gritou e saiu a galope.

Conor alcançou-a e puxou as rédeas de Borrail, mas Laurel ofereceu resistência.— Se não parar de lutar pelas rédeas, eu pararei nós dois de uma vez! — Conor

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avisou-a.Laurel entendeu que Conor não estava brincando e concordou em reduzir o passo.— Agora me diga o que tinha de estar pronto para a minha volta. Vejo que nada de

ruim lhe aconteceu e Finn me disse que meus irmãos estão ótimos. Do que se trata, Laurel Rose Cordell?

— Conor McTiernay, nem pense em voltar para casa e chamar-me de tola depois de meu trabalho insano!

— Para casa? Este é meu castelo!Laurel girou na direção dele e, veladamente, procurou retomar as rédeas de Borrail.

Como podia um homem ser tão exasperador e cativante ao mesmo tempo? Conor usava um kilt, o saiote xadrez pregueado e parcialmente trespassado, cinturão, espada e uma camisa solta e colorida com açafrão que era bastante pregueada.

Nisso ela reparou no olhar de Conor, que se divertia, embora quisesse dar a impressão de estar com raiva. Laurel lembrou-se de como ele apreciava sua determinação e disse a si mesma que ele se surpreenderia.

— O castelo não apresentava condições de moradia. — Laurel procurou parecer enérgica e convincente. — Você permitiu que eu fizesse modificações, embora não permanentes. E com a ajuda dos membros do clã chegamos a bons resultados. Eu queria estar a seu lado para celebrar as conquistas e evitar que entre no castelo sem perceber o esforço de todos. — O que a faz pensar que eu não apreciaria o que eles fizeram?

— Clyde.O que o irmão dissera para convencê-la que ele não gostaria do que fora feito?Eles cavalgaram em silêncio até cruzar a barbacã e as muralhas da fortaleza. Laurel

parou e encarou Conor. Sem conseguir pensar em outra coisa, ele admitiu que faria qualquer coisa que Laurel lhe pedisse. Só pensava em fazê-la feliz.

— Conor... — A coragem de Laurel começava a se dissipar. — Eu apenas... Bem, por favor, não se aborreça. Entendo que posso ter me excedido em minha autoridade, mas todos foram muito prestativos. O castelo é muito grande e, no estado em que se encontrava, não refletia seu status de um poderoso chefe de clã.

Conor sentiu o coração disparar. Laurel torcia as mãos, claramente preocupada com a reação dele diante do que ela fizera.

— Diga-me exatamente o que devo esperar, Laurel.— Conor, não posso estragar a surpresa.Conor pensou em interrogá-la, mas ao fitar os lábios carnudos e macios, perdeu a

capacidade de raciocinar. Tudo o que queria era beijá-la.Antes que a prudência o fizesse refletir, puxou-a por cima de seu cavalo, sem se

importar com o que os outros pensariam. Alisou para trás os cabelos de Laurel e notou os olhos rasos d'água.

— Laurel, diga-me o que você fez. — Ele lhe acariciou o rosto. — Prometo que não ficarei nervoso, querida. Você derrubou alguma coisa ou construiu uma nova ala?

Laurel adorou estar novamente nos braços dele. Conor transmitia calor, força e segurança. Ela sabia que deveria responder à pergunta, mas naquele momento só lhe ocorria a lembrança da última vez em que ele a beijara. O desejo se tornava insuportável e apenas as regras de bons costumes evitaram que atirasse os braços ao redor do pescoço de Conor e o beijasse.

Conor, no entanto, não se incomodou com a adequação do momento. Com os lábios entreabertos, Laurel arfava. O tempo e a distância não haviam diminuído a atração que sentia por ela, forte e poderosa, quase tangível.

Conor cedeu a seus desejos e beijou-a. A correspondência foi instantânea e Laurel entreabriu os lábios sob a boca persuasiva que a provocava com a língua ávida e quente.

Timidamente a princípio, Laurel imitou os movimentos dele, agarrou-o pelos ombros e puxou-o mais para perto. O beijo a incendiava e espalhava uma sensação feminina e

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primitiva dentro dela.Laurel ouviu um gemido e depois de vários segundos entendeu que saíra de seus

próprios lábios. Conor estava a ponto de explodir diante da inocência e da resposta apaixonada de Laurel. Ela se derretia nos braços dele que, por sua vez, era estimulado pelos gemidos e suspiros suaves. Conor segurou-lhe os seios e passou o polegar sobre o mamilo coberto. A submissão de Laurel era completa e Conor procurava descobrir o que havia por baixo das saias dela, quando escutou a aproximação de cavalos.

Interrompeu o beijo e rapidamente trouxe Laurel de volta à consciência. Santo Deus, ela era linda, pensou, enquanto Laurel tentava se recompor do pequeno desvario. Conor entendeu como estivera perto de perder o controle e recriminou-se. Não podia fazer isso. Casamento e Laurel não eram para ele. Jamais se comprometeria com uma mulher.

— Conor! Lady Laurel está bem? — Craig gritou às costas deles e notou Conor escondendo Laurel antes de deixá-la de novo sobre o garanhão cinzento.

Laurel se sentia envergonhada por sua falta de compostura depois de tantas promessas que fizera a si mesma. O plano era ser cortês, mas distante, e amigável enquanto permanecia a uma distância física segura. Como fora parar nos braços de Conor assim que ele chegara?

— Estou muito bem, Craig — respondeu por sobre o ombro, enrubescida, enquanto conduzia Borrail ramo aos portões da fortaleza. — Prazer em vê-los novamente, Seamus e Crevan.

Ela acenou sem os fitar. Precisava de alguns instantes para se recompor.Entraram no castelo e Laurel desmontou.— Eu estava pedindo um favor a milorde — explicou a Craig.— No colo dele, milady?— Ela estava caindo do cavalo — Conor mentiu, procurando enganar os irmãos.Ele claramente não pretendia proclamar o que acontecera, e parecia desejar que

nada houvesse ocorrido. Laurel perguntou a si mesma se Conor lamentava tê-la beijado.Segurou as rédeas de Borrail para levá-lo à estrebaria, mas Clyde apressou-se em

fazer isso por ela.— Clyde, o que está fazendo na cavalariça? — Conor perguntou, incrédulo. Havia

anos que ele tentava inutilmente fazer com que os irmãos mais novos assumissem alguma responsabilidade no castelo.

— Foi idéia de Laurel. Ela queria que Neal tivesse ajuda e assim poder transpassar...

— Transmitir — Laurel corrigiu-o.— Isso mesmo, para Neal transmitir seus conhecimentos à geração mais jovem. —

Clyde ficou feliz em ter captado o sentido das palavras de Laurel quando ela convencera Neal a aceitá-lo como um dos primeiros ajudantes. — Assim, aprenderei tudo sobre cavalos. É preciso levá-los para fazer exercícios diários, escová-los e tratar deles. Esse é meu trabalho, e Neal diz que isso é muito importante. Se eu for um bom aprendiz, no futuro serei um guerreiro mais valoroso.

Clyde olhou para o irmão em busca de encorajamento.— Neal, fico satisfeito em ver que está ensinando a Clyde o que sabe. Se ele for

relapso, por favor, me avise.— Milorde, Clyde é um bom rapaz, ansioso para aprender, e aprende depressa. Ele

tem se desempenhado muito bem com a montaria de sua esposa e não se descuida de seus deveres. Mas se isso acontecer, Fallon e eu o corrigiremos.

Conor permitiria que Fallon e ele assumissem os encargos do castelo como antes?— Clyde? — Conor fitou o irmão com o cenho franzido.— Sim, Con... quero dizer, milorde? — O menino se corrigiu ante o olhar

desaprovador de Neal.Neal o instruía sobre os modos de lealdade e respeito. Conor era irmão de Clyde,

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mas antes de tudo era o superior de Clyde como chefe do clã. Isso requeria deferência e reconhecimento.

— Sugiro que escute Neal e acate o que ele diz, caso contrário suas preocupações não se restringirão somente a mim. Parece que terá de se explicar com Fallon também.

Neal sorriu e ajudou-o a segurar os cavalos.— Neal? — Laurel chamou-o. — Não se esquecerá sobre hoje à noite, não é?— De maneira nenhuma, milady. E depois desta noite, duvido que milorde também

esqueça — Neal falou por sobre o ombro, tentando disfarçar o quanto se divertia.Aquilo era ridículo, pensou Laurel. Neal se referia a ela como se fosse a mulher de

Conor. Era preciso esclarecer a todos, inclusive a Conor, que ela não era mulher de ninguém!

Laurel esqueceu que Crevan, Craig e Seamus estavam atrás de Conor.— Conor McTiernay, nunca mais me beije desse jeito! Por acaso disse a seus

homens que somos casados? Tenho a impressão que sim, pois eles não param de referir-se a mim como sua esposa!

Conor se surpreendeu. Estaria Laurel tentando prendê-lo numa armadilha? Fazia anos que tinha conhecimento desses truques detestáveis.

— Não, Laurel. Eu já lhe disse que nunca me casarei! — Conor berrou para que todos ouvissem. — Não pedirei ninguém em casamento, independentemente das artimanhas que possam arquitetar!

Laurel ergueu o queixo e seus olhos faiscaram.— Não creio que tenha entendido, lorde McTiernay — ela revidou. — Fui eu, e não

milorde, quem decidiu que nada há entre nós. Mesmo que me pedisse em casamento, eu jamais o aceitaria! Além do mais, se algum dia eu me casar, seu brutamontes grosseiro, escolherei um cavalheiro educado e atencioso, e não um gigante gritador que mantém seu castelo desorganizado e sujo!

— Então a senhorita se casará com um inglês baixote, fracote e idiota! — Conor rugiu, furioso pela idéia de Laurel se casar com outro.

— Não me unirei a nenhum britânico, mas a um escocês... de preferência atencioso, cavalheiro e... bem-educado! — Laurel notou a multidão que surgia de todos os cantos.

Oh, Senhor! Acontecera de novo. Será que ela nunca aprenderia a se controlar diante de Conor? Ela o acusava de ser rude depois de Conor tê-la salvado. O que os outros não pensariam a respeito?

Ela se recompôs de imediato, sem traços da irritação anterior.— Agora preciso finalizar os preparativos — afirmou com voz doce que nem de

longe lembrava o temperamento explosivo. — Prometa-me que não fará nenhuma alteração antes de discutirmos a respeito. — Laurel hesitou antes de cochichar. — E que não deixará ninguém perceber que os resultados não foram de seu agrado. Lembre-se, eles fizeram tudo isso para agradá-lo. Eles o amam, Conor McTiernay, não se esqueça disso.

Laurel afastou-se rumo à torre estrelada sem ouvir a resposta. Conor, ainda zonzo pela altercação e com a brusca mudança de atitude de Laurel, percebeu o sofrimento em sua fisionomia.

Sem saber a que mudanças ela se referia, entendera que Fallon estava de volta ao trabalho, provavelmente assumindo as funções anteriores. E por intermédio dele, haveria de descobrir o que estava acontecendo, para depois decidir se mudaria alguma coisa.

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CAPÍTULO VI

Sentado no salão nobre, Conor observava os soldados e os membros do clã falarem sobre os acontecimentos do dia. Laurel ainda não chegara, mas ele soubera de muitas coisas desde que ela se afastara.

Fallon preparara um banho e o ajudara a vestir-se para a celebração noturna. Enquanto se banhava, Conor conseguira que o antigo criado lhe contasse alguma coisa.

Laurel conseguira um milagre após desafiá-lo. Fazia anos que ele dispensara o auxílio dos membros do clã, na tentativa de ensinar os irmãos a dar valor pela ajuda. O resultado fora um desastre, mas ele não admitira o erro. Permitira apenas o trabalho necessário para manter a integridade estrutural do castelo.

Quando Fallon contou que fora reintegrado no cargo e que Laurel restabelecera a ordem no castelo, Conor entendeu o motivo do nervosismo dela. Como ela ousara assumir responsabilidades que competiam a ele? Conor quis falar com Laurel imediatamente, mas decidiu acalmar-se primeiro.

Mais tarde, Finn lembrou-o do aviso de Laurel no dia da discussão. Conor começou a esbravejar, afirmando que não dera permissão a ela para contratar pessoas nem para limpar o castelo.

— Milorde, eu o respeito mais do que a qualquer outro e o seguiria na mais acirrada das batalhas para defendê-lo, assim como a todos os McTiernay, em quaisquer circunstâncias. Mas não quero escutá-lo negar suas promessas.

— Aquelas não foram meras palavras, Finn, e eu poderia matar um homem por dizer que não mantenho minhas promessas.

A raiva que Conor sentia pela interferência de Laurel era profunda, e a calma que conseguia aparentar, apavorante.

— Talvez não o tenhamos entendido bem na noite anterior à sua partida, quando milorde concordou que a fortaleza não estava em boas condições de ser habitada. — Finn recostou-se na parede de pedra, esperando que Conor entendesse a armadilha que Laurel preparara para ele, porém Conor insistiu que Laurel fora intrometida e ardilosa para conseguir os objetivos.

— E quais seriam esses objetivos? — Finn começava a irritar-se por Conor não enxergar o que acontecia.

— Vingança, pura e simples. Laurel disse que eu me arrependeria e foi o que aconteceu. E eu lhe asseguro que a minha vingança será duplamente mais doce.

— Milorde, nunca o vi agir de maneira tão impertinente, mas suponho que sempre haverá uma mulher que faça um homem agir dessa maneira, um dia ou outro.

Finn não se abalou com o olhar fulminante de Conor.— Olhe a seu redor, milorde! Isso não é vingança, é amor! Milorde tem idéia do

quanto Laurel trabalhou preparando tudo para a sua volta? Se olhar para as mãos dela, notará como estão ásperas, pois ela não se contentou em só mandar e ajudou a todos. Milorde por acaso imaginou o motivo de Laurel, uma inglesa, ter sido tão prontamente

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aceita por seu povo? Ela trabalhou todos os dias ajudando, limpando, organizando o que chamou de "o lar de milorde".

Conor continuava a encarar Finn com o semblante sombrio.— Laurel tomou decisões acertadas. Ela começou por fazer reparos nas choupanas

para o inverno e deu ocupação para quem desejava trabalhar. Fez questão de conhecer os membros do clã e seus problemas para adequar melhor as necessidades do castelo a seu povo. Devolveu a eles não apenas a segurança, mas o orgulho. Se quiser um conselho, milorde, não diga nada contra Laurel na frente de ninguém, com exceção de mim e Fallon. Os membros de seu clã são leais a milorde, mas também a lady Laurel.

O fato de seu povo tê-la aceitado deixou Conor mais calmo. Ele receara que Laurel fosse espezinhada por eles.

— Mas ela é inglesa...— É, mas Glynis descobriu que ela também descende de escoceses e espalhou a

notícia. Os homens e as mulheres passaram a encarar Laurel como uma compatriota, ainda mais que ela domina nosso idioma.

Conor esquecera de perguntar a ela a esse respeito.— Laurel confirmou ser escocesa?— Creio que não. Essa deve ter sido mais uma das famosas conclusões de Glynis,

mas como o boato só beneficiou Laurel, não tomei nenhuma atitude em contrário. E nesse caso, creio que Glynis pode ter acertado.

As peças se encaixavam. Laurel admitira querer se casar com um escocês, mesmo sem revelar toda a verdade sobre o que lhe acontecera.

Conor continuou a matutar sobre os antecedentes familiares de Laurel e sobre as mudanças que ela fizera nos dois cômodos. A do hall era impressionante. Antes ele se recusava a entrar no recinto malcheiroso e tão pouco cuidado por seus homens e seus irmãos. Agora estava limpo, cheirava bem e tinha até cortinas.

O salão nobre fora escrupulosamente limpo e a mobília fora remanejada para facilitar a entrada e a saída das pessoas. O junco fresco que cobria o chão perfumava o ambiente. As lareiras irradiavam calor sem enfumaçar o recinto.

Foi quando a celebração começou.Um banquete digno do clã mais poderoso foi arrumado sobre as mesas, sem deixar

dúvidas quanto à atividade da cozinha. Havia carnes de veado, pato, coelho, lebre e javali. No centro, um pavão assado e decorado com as penas. Várias outras aves espalhavam-se nas travessas, inclusive pombas, calandras e tordos. Finn comentou que várias carnes puderam ser preparadas por Laurel ter saído à caça dos animais.

Muitas vezes Conor se sentara à mesa com líderes aliados e desejara ter uma refeição melhor para oferecer. Naquele momento, ele reconheceu que sua fortaleza deixaria orgulhoso qualquer lorde. Os homens pareciam mais felizes e bem-comportados. Até seus irmãos o surpreendiam, procurando não parecer desalinhados nem indisciplinados.

Conor notou uma certa hesitação de seus homens em relação a ele e perguntou o motivo. Foi Aileen, a mulher de Finn, quem respondeu.

— O que esperava, milorde? — Ela balançou a cabaça e os cabelos fulvos. — Todos estão apreensivos.

Aileen era uma mulher alta de feições delicadas que a faziam parecer muito jovem, apesar da barriga já pronunciada. Os olhos castanhos sempre alegres demonstravam censura naquela noite.

— Foi a sua lady Laurel que tornou tudo isso possível e foi por sua visão e vontade que milorde está diante de um banquete tão maravilhoso. Quem, a não ser ela, poderia induzir Fiona a fazer alguma coisa? Foi lady Laurel quem a convenceu a cozinhar em caráter permanente para milorde.

Conor não fora informado a respeito e refletiu no que mais Fallon teria ocultado dele.

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A personalidade difícil de Fiona era tão lendária quanto sua extraordinária habilidade na cozinha, e no entanto, Laurel conseguira persuadi-la.

— É verdade — Clyde interveio, favorável a Laurel. — Todos fariam qualquer coisa por lady Laurel. Para o bem de todos, ela usou um truque para Fallon aceitar o cargo, e agora os dois são grandes amigos. Ouvi Fallon e alguns soldados dizer que protegeriam lady Laurel até mesmo de milorde. — Clyde mordeu um pedaço de carne e começou a mastigá-lo. — Por que teriam dito isso, Conor? Será que ignoram que milorde jamais a faria sofrer? Que milorde a salvou de pessoas más e que a trouxe aqui para ser protegida?

Conor não chegou a responder. Um brinde em altas vozes atraiu a atenção de todos, e a compreensão do que Clyde acabara de dizer foi imediata, Todos falavam em louvor de Laurel. Os membros do clã a defendiam e trabalhavam com afinco para que ela se sentisse bem-vinda.

Aquela revelação atingiu Conor profundamente. Seu desejo era deixar Laurel tranqüila e satisfeita em sua fortaleza, então por que se incomodar com as demonstrações de carinho e lealdade que seu povo dedicava a ela? A questão passava pelo sentimento de posse e não o agradava. Além disso, aborrecia-se por outro homem receber de Laurel palavras de reconhecimento e respeito que deveriam ser dirigidas a ele.

Gritos sufocados atraíram a atenção de Clyde que, de queixo caído, olhava para a entrada do salão nobre. Conor virou a cabeça, viu o que chamara a atenção de Clyde e prendeu a respiração. Os céus haviam enviado um anjo para o Castelo McTiernay e seu nome era Laurel Rose Cordell.

Laurel pensara em não comparecer à comemoração depois de ouvir os gritos de Conor sobre traição e vingança. Mas o sexto sentido lhe dissera que se tratava da primeira reação e que Conor acabaria por apreciar as mudanças. Pelo menos, era o que Laurel esperava.

Laurel refletira sobre as possibilidades de sucesso enquanto tomava banho, se vestia e tentava, em vão, prender as madeixas com pentes.

— Lady Laurel, por que não deixa os cabelos soltos? — Brighid perguntara ao entrar. — Eles são tão brilhantes e sedosos... e certamente atrairão as atenções de milorde.— A moça piscou e tirou os pentes da mão de Laurel que novamente insistiu nada haver entre ela e Conor.

Brighid concordou para não discutir, mas presenciara a altercação entre os dois naquela manhã e, como os demais, não tivera dúvida quanto aos sentimentos de ambos.

Laurel decidira deixar os cabelos soltos com a desculpa de que ajudariam a disfarçar o exagero do vestido que Brighid fizera. A túnica azul-marinho tinha um corpete de veludo bordado em contas e justo sob os seios. 0 colar de cristal de quatro voltas dava um toque gracioso ao vestido. As mangas bufantes eram azul-esverdeadas e diáfanas como a sobressaia. Brighid insistira na manta do clã, mas Laurel se recusara a usá-la.

Laurel entrou no salão nobre, ouviu os sussurros, e o orgulho a impeliu para a frente.Conor não conseguia desviar os olhos dela. Estático, como se um raio o tivesse

atingido, não conseguiu se mover durante alguns segundos. Os cabelos loiros e soltos acentuavam as feições perfeitas de Laurel e a cor do vestido ressaltava a cor dos olhos.

O vestido revelava as curvas bem-feitas, e o tecido ondulava com o caminhar de Laurel. Ela calçava sapatilhas que combinavam com o vestido, ao contrário de muitas montanhesas que andavam descalças até no inverno. E o efeito geral fazia crescer o desejo que atormentava Conor.

Os membros do clã se reuniram ao redor de Laurel para cumprimentá-la pelo desempenho. Modesta, ela creditou os melhoramentos ao esforço do povo de McTiernay.

Conor observou o intercâmbio de carinho entre os membros do clã e Laurel, e a conclusão foi óbvia. A despeito das afirmativas de Finn, de Fallon e da própria Laurel, aquela gente não se empenhara por ele, mas sim por ela. Todos, inclusive ele, a

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amavam.Conor levantou-se e, como os demais admiradores, foi ao encontro de Laurel. E ao

vê-lo, ela entendeu que a raiva fora substituída por afeto e admiração.Receando que Laurel se recusasse a comer a seu lado, Conor a conduziu pela mão

até a cadeira de espaldar alto próxima à dele, e Laurel o seguiu calmamente.Ela tentara acalmar o coração quando vira Conor vir a seu encontro. O traje dele era

magnífico: túnica longa com mangas largas e jaqueta curta ricamente bordada. Não portava arma e estava descalço, o que aumentava a sensualidade de sua aparência. Antes de conhecê-lo, um homem sem sapatos lhe pareceria ofensivo.

Ela contemplou Conor durante toda a noite e maravilhou-se com o brilho das chamas que se refletiam nos cabelos escuros e na pele bronzeada. Os olhos cintilavam de alegria enquanto ele escutava as histórias contadas pelos irmãos. Não podia haver homem mais atraente.

Laurel sorria enquanto acompanhava a conversa a respeito da viagem às terras de lorde Schellden. Craig era o mais animado, relatando casos engraçados a respeito de Cole e de seus primeiros dias como integrante da guarda de honra. O riso de Laurel era contagiante e fazia qualquer um gravitar ao redor dela. Depois de algum tempo, Laurel anunciou o início das danças e ordenou o desmonte de algumas mesas para aumentar o espaço central.

Dooly foi o primeiro a convidar Laurel para dançar, e ela aceitou, alegre. Conor sentiu-se invadido por ondas de ciúme ao notar que todos os homens observavam Laurel dançar e desconfiou que esse sentimento de posse não o abandonaria.

Durante as horas seguintes, os convites para dançar se sucederam um após o outro, sem pausa. Jovens e velhos, altos e baixos, magros e gordos, todos faziam fila, esperando ser recompensados. Laurel, sempre sorridente, não recusou nenhum.

Aileen decidiu bancar a casamenteira, depois de analisar os homens rendidos aos encantos de Laurel. Finn tentara dissuadir a esposa de vir, pois uma mulher às vésperas de dar à luz não deveria estar em uma festa, mas ela fora irredutível. Ele não pôde deixar de sorrir quando a viu sentar-se ao lado de Conor, fingindo inocência.

— Esta é uma noite triunfante, não é, lorde McTiernay? — Aileen não se sentiu desencorajada por não obter resposta. — Acredito que milorde ficará bastante ocupado nas próximas semanas, porque ouvi vários homens cochicharem a respeito de pedir a mão de Laurel. Milorde já pensou em como fará para decidir entre os pretendentes?

Aileen começou a brincar com as fitas das mangas, olhando para a multidão como uma criança ingênua.

— Lady Laurel é adorável. No começo, todos imaginavam que ela fosse destinada a milorde. Mas os dois descartaram a hipótese com veemência, o que acendeu a esperança de muitos homens. Quando fui apresentada a ela, tive a impressão de que a conhecia havia muito tempo e logo nos tornamos amigas. Portanto espero que milorde saiba escolher um bom marido para ela. Aliás, tenho de perguntar a Laurel se ela decidirá esperar até a primavera ou se pretende se casar imediatamente.

Aileen sorriu e juntou as mãos.— Bem, milorde, preciso ir. Prometi a Finn que não ficaria até tarde.Conor relanceou um olhar desconfiado para Aileen, que se levantou e deixou o hall

com Finn, conversando com vivacidade.Conor conhecia Aileen havia anos. A intenção dela era óbvia e certamente não fora

ditada por Laurel. O que Aileen dissera não era novidade, depois de analisar o comportamento dos homens presentes ao lado de Laurel. Mesmo assim, ele pretendia se manter afastado dela.

Conor tomou um grande gole de cerveja e escutou a conversa de alguns homens às suas costas, que não ficavam com as canecas vazias graças à eficiência de uma das criadas.

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— Ela sorriu para mim!— Nada disso, foi para mim — disse outro.— Ah, eu poderia dançar com ela a noite inteira. Ela tem um perfume de flores de

primavera e eu morreria feliz se a tivesse a meu lado.Os três haviam dançado algumas vezes com alguma das moças e Conor só

percebeu de quem se tratava quando eles discutiram sobre a cor dos olhos da jovem. Eles estavam apaixonados por Laurel.

Eles também não sabiam definir se os olhos de Laurel eram azul-escuros com laivos verdes como o mar ou ver-de-azulados como os lagos das Terras Altas.

Conor foi até uma das janelas com vista para a ravina e procurou controlar o ciúme que germinava rapidamente em seu coração. Admitiu a própria irracionalidade, pois Laurel não estava flertando com ninguém, muito menos acenando com algum tipo de intimidade para os homens. E não tardou a ouvir outro grupo de soldados debater sobre o futuro de Laurel.

Eles argumentavam sobre os prováveis candidatos à mão de Laurel, tendo em vista que lorde McTiernay descartara a possibilidade de unir-se a ela em matrimônio. Aileen estava certa. Em breve uma corrente humana masculina pediria Laurel em casamento. Como ele faria para contornar o caso?

Como Conor não dançara com Laurel nem uma só vez, aumentava a certeza de que ele realmente não pretendia desposá-la.

Os guerreiros continuaram a discutir sobre qual deles fora o preferido de Laurel e, diante do não-comprometimento de Conor, estavam ansiosos para assumir o papel de marido e protetor. Conor esforçou-se para permanecer calmo e indiferente, mas perdeu o controle quando o comentário chegou aos lábios carnudos de Laurel que pediam beijos.

Conor não se lembrava do que dissera ao berrar, mas em minutos o salão nobre ficou vazio, restando apenas Laurel, que o encarava.

— Pare de me olhar com tanta raiva, Conor McTiernay! Não fui eu quem mandou todo mundo embora. O que foi que aconteceu e por que eu tive de ficar aqui?

— Precisamos conversar. Laurel estreitou os lábios.— Sobre a superioridade com que se comportou esta noite? Milorde não dançou

com ninguém, ficou sentado, solene, e só conversou com seus irmãos e com Finn. Até mesmo Aileen foi ignorada, o que a fez retirar-se mais cedo.

— Ah, então você notou minha presença? Pensei que isso seria impossível diante da multidão de admiradores.

— Multidão de admiradores? — Laurel ofendeu-se. — Conor McTiernay, seja objetivo antes que eu perca a paciência!

Conor aproximou-se e agarrou-a pelos braços.— O que está tentando fazer, Laurel Rose Cordell? Quantos homens quer

arrebanhar como pretendentes? Todos? Talvez seja conveniente fazer outra festa e convidar os soldados da sentinela que não puderam comparecer, para eles também se encantarem com sua beleza.

— Excelente idéia, contanto que milorde não estivesse presente! — As lágrimas queimavam nos olhos de Laurel. — Você é um homem insuportável, e não sei por que eu desejei tanto que estivesse aqui.

— Não seria para eu testemunhar a lealdade a seu comando e ficar sabendo quantos homens se ajoelharam a seus pés?

— Ora, mas que idéia ridícula! — Laurel engoliu um soluço. — Todos me respeitam por sua causa e trabalharam pensando em agradá-lo! Posso saber o motivo de seu ódio? — Laurel baixou a voz. — Não fiz isso por minha causa, mas por você.

Ela finalmente deu vazão ao pranto. Comovido, Conor afastou as lágrimas do rosto dela com o polegar.

— Por mim, Laurel? Achei que desejasse apenas uma vingança por eu não a ter

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deixado ficar na choupana.Laurel abaixou o olhar e os cílios longos descansaram nas faces.— Eu apenas não queria assumir mais nenhuma dívida de gratidão. — Ela olhou

para cima. — Então vi uma maneira de ajudá-lo, devolvendo o castelo à sua forma antiga. Dessa forma seu status seria beneficiado e você poderia receber condignamente seus amigos e aliados.

Conor fitou-a e todo o ressentimento evaporou-se diante dos lábios umedecidos pelas lágrimas, dos olhos grandes e interrogativos e da pele suave. Era uma combinação inebriante.

— Sua ajuda foi inestimável, Laurel. Eu deveria ter cuidado dos cômodos há muito tempo.

— Então por que se exaltou dessa maneira?—Você é minha, Laurel, e está na hora de parar com fingimentos — Conor afirmou

com voz profunda e rouca. — Não permitirei que nenhum homem a corteje, pois acabo de descobrir que é inaceitável a idéia de outro a beijar ou tocar.

Conor impediu-a de responder com um beijo lento e terno que sugeria desejo, mas também afeição. Laurel sentiu as pernas enfraquecerem è apoiou-se em Conor para não cair. E a um queixume de Laurel seguiu-se um gemido de Conor.

Ela entrelaçou os dedos nos cabelos de Conor e abaixou ainda mais a cabeça dele, acentuando o fervor do beijo. Conor passou a ponta da língua nos lábios de Laurel e ela os entreabriu, prendendo a língua dele e sentindo um aperto no baixo-ventre e uma ansiedade até então desconhecida.

A boca de Laurel era quente e convidativa, e Conor gemeu, frustrado, antes de soltar-lhe os lábios. Ela arqueou as costas e Conor traçou uma trilha de beijos em seu rosto e pescoço, inspirando a fragrância feminina que despertava nele uma necessidade primitiva e poderosa.

Jamais uma mulher o afetara daquela maneira. Com Laurel nos braços, perdia o controle e a noção do tempo. Nada mais importava a não ser ela. Virou-a e encostou-a contra a parede de pedra, pressionando os quadris em seu abdome.

— Você é minha, Laurel, agora e para sempre. Laurel estremeceu e Conor tornou a beijá-la, acariciando-lhe o busto com mãos quentes e fortes, sentindo os mamilos endurecerem sob o vestido. Levantou-a nos braços e sentou-se na poltrona perto da lareira, com ela no colo, continuando com os carinhos sensuais.

Tirou-lhe as sapatilhas, passou a mão por baixo das saias de Laurel e explorou a suavidade das pernas nuas.

— Preciso tocá-la e sentir sua pele, amor — sussurrou antes de pressionar os lábios nos dela.

Em seguida beijou-lhe a orelha, por dentro e por fora, despertando ondas de desejo entre as pernas de Laurel. Ela mal teve consciência de que se agarrava em Conor e se erguia para propiciar um toque mais íntimo.

Ele desejava sentir cada centímetro de Laurel e despertá-la para o êxtase. Abaixou as mangas do vestido pelos ombros e o busto de Laurel ficou à mostra. No íntimo, Laurel sabia que era preciso impedi-lo de prosseguir, mas nada fez. Jamais sonhara com as sensações físicas que Conor lhe despertava e não foi capaz de interrompê-las.

Ele continuou a beijá-la com avidez, sem encostar nos seios. Depois do que pareceu a Laurel uma eternidade, ele roçou os contornos delicados e acariciou os mamilos róseos. Ela sufocou um grito. As mãos ásperas proporcionavam sensações maravilhosas, indescritíveis.

Conor procurou conter-se, apesar do desejo que o atormentava e das respostas instintivas de Laurel, que o incendiavam por dentro. Ele teria de fazê-la experimentar o prazer para ela nunca mais duvidar que lhe pertencia. Quando a noite terminasse, Laurel não mais pensaria em deixá-lo nem imaginaria casar-se com outro.

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Laurel supôs que nada aumentaria aquela sensação enlouquecedora, quando Conor beijou-lhe um dos seios e provocou o mamilo até uma tensão insuportável. Ela arranhou-lhe as costas e Conor acariciou-lhe a parte interna da coxa, os dedos seguindo o mesmo ritmo da língua no busto.

— Conor, não! — ela gemeu quando Conor alcançou a junção entre as pernas.Mas logo esqueceu a restrição. Conor passou a beijá-la com paixão ainda mais

intensa e Laurel entreabriu as pernas.— Você é macia e quente, meu amor...Conor inalou a fragrância de flores e de excitação, e entendeu que Laurel devia

estar úmida. Deslizou a mão para cima até quase alcançar a intimidade de Laurel e, com um gemido rouco, a penetrou com os dedos. Laurel prendeu a respiração e ficou imóvel. Segundos depois, abriu os olhos e tentou afastar a mão de Conor.

— Amor, calma. — Conor moveu devagar os dedos para dentro e para fora, passando o polegar no ponto mais sensível. — Confie em mim, eu jamais a machucaria. Deixe-me mostrar-lhe como será entre nós dois.

— Conor, eu confio em você mais do que em qualquer outra pessoa. Oh... — O restante da frase foi perdido com a continuidade dos movimentos cada vez mais rápidos.

Lágrimas de prazer afloraram aos olhos de Laurel. Ela sentiu o mundo girar, sufocou um novo grito e agarrou-se em Conor, arqueando o pescoço para trás. Seus músculos se contraíam em espasmos incontroláveis, enquanto seu corpo tremia. Ela não suportava mais a agonia, sentindo-se a ponto de explodir.

De repente ela imaginou que o céu se abria e a inundava com sensações indescritíveis. A razão deixava de existir e a experiência era um presente lindo e misterioso que Conor lhe concedera.

Aos poucos a consciência voltou. Laurel se viu no salão nobre, sentada no colo de Conor com as pernas abertas. Ela arfava, abraçada nele e com o rosto aninhado no peito musculoso. O coração, que batia em descompasso, poderia ser ouvido do outro lado das paredes. Conor a segurava por baixo da saia, enquanto ela procurava entender o que acontecera.

Inebriado com a mescla de odores de Laurel, Conor sentia o coração bater em uníssono com o dela. Admitiu que só pensara numa coisa: dar-lhe prazer. E ele jamais pensara em satisfazer uma mulher, colocando-se em segundo plano. Embora não tivesse alcançado o clímax, chegara muito perto, e a sensação fora infinitamente melhor do que as anteriores, com mulheres experientes.

Dar prazer a uma jovem inocente como Laurel era gratificante. Conor abraçou-a e endireitou as mangas do vestido, mas Laurel continuava agarrada nele.

— Conor, o que houve? Eu não consegui me controlar, nem queria! Foi tudo tão estranho e eu não sabia o que fazer...

Sensibilizado, Conor ergueu-lhe a cabeça e beijou-a suavemente.— Você não tinha de fazer nada, apenas deixar que eu a amasse. E assim será

sempre, você não terá de impedir coisa nenhuma, Laurel. Nós teremos muitas oportunidades para repetir o que houve hoje. — O receio de comprometer-se desaparecera por completo.

— Mas isso não é certo, Conor, e jamais deveríamos fazê-lo. E como não podemos nos controlar, deveríamos ficar afastados um do outro — Laurel manifestou-se com inocência.

Conor carregou-a nos braços rumo à torre estrelada.— Por que a seu lado eu não consigo pensar nem me comportar corretamente? —

Laurel perguntou, com a cabeça encostada no ombro dele. — Devo ser uma devassa que não consegue manter as mãos longe de você.

— Laurel acariciou-lhe os ombros.— Isso acontece porque você é escocesa, meu amor. — Conor entrou nos

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aposentos dela e deitou-a sobre a cama.Como ele descobrira? Conor conheceria seu avô? Ou ela teria deixado escapar uma

palavra indiscreta? Conor não entendeu a tensão de Laurel.— Conor, eu não sou escocesa.,— Ela ergueu o corpo, procurando parecer

convincente.— É, sim, Laurel, ou pelo menos será quando o padre Lanaghiy chegar. — Conor

sorriu, procurando deixá-la à vontade.Laurel só pensava no perigo que o clã Maclnnes poderia estar correndo.— O padre Lanaghiy não pode mudar os fatos. — Laurel se levantou e foi até a

janela para observar o céu noturno. A neve não demoraria a cair.— Pode sim, meu amor. E com certeza o fará em breve.Laurel virou-se.— O que um sacerdote tem a ver com isso?— Muita coisa, se nós nos casarmos.— Conor, não posso ficar aqui, nem me casar com você! Eu preciso ir embora!Conor aproximou-se, impressionado com a angústia na voz dela.— O que a impede de se casar comigo, Laurel? O quê? — Conor sentiu o grande

receio de Laurel e desejou ser aquele a quem ela pediria proteção.— Existe outra pessoa? Você já é comprometida?— Não, Conor! Como lhe ocorreu pensar nisso? Jamais haverá outro para mim! —

Em pânico, Laurel segurou o rosto dele. — Por favor, não me peça para eu me casar com você. Onde estão suas idéias contrárias ao matrimônio?

Conor segurou-lhe as mãos.— Laurel, meu amor, não se preocupe tanto. Jamais deixarei que alguém a

prejudique.A esperança no olhar de Laurel surgiu e desapareceu em segundos.— Não se trata apenas de mim, e eu não podia deixá-lo magoar a quem amo,

mesmo que não fosse de maneira intencional.Conor franziu o cenho e apertou as mãos dela.— Laurel, por acaso está se referindo a outro homem?— Conor, eu já lhe disse. Nunca houve, nem haverá outro.O coração de Conor ficou mais leve.— É seu irmão?— Não.Laurel soltou-se das mãos dele, foi até a lareira e abraçou-se, numa tentativa de

afugentar o frio interior. Conor acabaria por descobrir a verdade mais cedo ou mais tarde, e talvez a melhor coisa a fazer fosse explicar-lhe tudo. Ele entenderia por que ela teria de ir embora na primavera e desaparecer. Seria preciso mudar o nome, os cabelos, qualquer coisa para os Douglas nunca mais a encontrarem.

Conor aproximou-se por trás, abraçou-a e beijou-lhe o alto da cabeça.— Laurel, permita que eu a ajude. Não poderei protegê-la enquanto os segredos não

forem desvendados. Confie em mim.Laurel inspirou fundo. Chegara a hora de desabafar, Se não pudesse confiar em

Conor para ajudá-la, então em quem confiaria? E ela resolveu encaixar a peça que faltava naquela noite de horror.

— Quando Keith Douglas me raptou, eu não estava na Inglaterra. Eu tinha ido visitar meu avô, que mora na fronteira da Escócia.

Laurel era escocesa!— Fale-me sobre ele.— Ele é o pai de minha mãe, e quando ela era jovem fugiu para se casar com meu

pai, um barão inglês. Ele já tinha sido casado, e tinha um filho, Ainsley, meu meio-irmão. É triste afirmar que meu pai não amou a primeira mulher, pelo menos não como amava

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minha mãe.— Laurel hesitou, tornou a respirar fundo e prosseguiu:— Embora meus pais fossem apaixonados, meu avô não aceitou a união. Depois de

alguns anos eu nasci e meu avô ficou mais tolerante. Afinal, eu era a primeira neta. Mas meu pai não esqueceu a rejeição de meu avô e recusou-se a pisar em solo escocês. Mesmo assim, não impediu que minha mãe e eu visitássemos meu avô várias vezes por ano.

— Foi assim que você aprendeu o idioma gaélico. — Conor gostaria de protegê-la de todos os males do mundo.

— Foi. Desde criança eu adorava meu avô, que era muito diferente de meu pai e não apenas em tamanho, pois meu avô é um homem grande. Vovô era muito carinhoso, não se cansava de fazer brincadeiras comigo e de contar lindas histórias. Nós dois tínhamos uma afinidade especial e minha mãe dizia que éramos parecidos, talvez na cor dos olhos e dos cabelos.

Laurel virou-se nos braços de Conor, buscando compreensão e apoio.— Faz muitos anos que não vejo meu avô. Depois que minha mãe morreu, meu pai

não me deixou voltar à Escócia nem permitiu que soldados escoceses me acompanhassem. Não me olhe assim. Meu pai me amava, mas ele era um homem inflexível e piorou muito depois da morte de minha mãe. Creio que eu o desapontava. Ele não podia esquecer minha origem quando testemunhava meu temperamento ou minha aparência.

Laurel procurou coragem para continuar a narrativa.— Quando meu irmão se tornou barão, vi a oportunidade de voltar para meu lar

escocês. Ainsley abominava a idéia de ter de pagar um dote para quem se casasse comigo, e a noiva dele queria que eu saísse do castelo. Finalmente consegui convencer Ainsley a me deixar partir para a Escócia, com a promessa de nunca mais voltar, sob nenhuma hipótese.

Laurel estremeceu e desvencilhou-se dos braços de Conor. Ele insistiu para Laurel sentar-se, mas ela negou com um gesto de cabeça.

— Fazia alguns dias que estávamos na Escócia quando caí nas garras de Keith Douglas, que me levou para a fortaleza do pai. Keith era cruel, mas nem de longe se comparava a lorde Douglas, que me ofereceu ao filho, mas deixou claro que ele também me possuiria.

Laurel sentiu-se transportada de volta àquelas horas de tortura e viu os olhos escuros de Douglas brilhando de maldade. A imagem dos cabelos negros emaranhados que emolduravam o rosto pontiagudo e distorcido pelo ódio queimava em sua mente. Ela começou a tremer e esfregou os braços. De costas para Conor, não podia ver a fúria crescente no olhar dele.

— Suponho que lorde Douglas tenha decidido me ameaçar ao ver o desprezo com que eu o encarava. Ele conhecia meu avô e jurou que se eu não cumprisse suas ordens, atacaria o povo de minha mãe... e mataria todos.

Laurel ficou em silêncio durante alguns minutos, procurando recuperar-se das lembranças do medo. Conor foi até a janela, usando a força física para controlar o ódio que sentia.

— Diga-me quem são eles e eu os protegerei.— Não posso dizer, Conor. Por favor, não insista. Compreende agora por que não

posso me casar com você e por que tenho de partir? Na primavera Douglas reunirá seus homens e cumprirá a promessa.

— Laurel, o que está planejando fazer? — Conor fitou-a, incrédulo.— Terei de partir e nunca mais voltar. Mudarei meu nome, minha aparência e

cortarei meu cabelo para que Douglas não me reconheça. Depois terei de encontrar uma maneira de avisar meu avô sobre a traição de Douglas.

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As lágrimas de Laurel deslizavam, e Conor abraçou-a, imaginando como poderia vingá-la.

— Não deixarei que corte seus cabelos, meu amor. — Ele afastou uma mecha dourada para trás da orelha de Laurel. — Pense um pouco, para onde você iria e como poderia sobreviver?

— Não sei, talvez para a França, onde eu poderia ser a criada de alguma dama... não sei. Neste inverno estarei protegida e na primavera eu desaparecerei antes que se espalhem os boatos de que me encontro nas Terras Altas. Douglas não o atacará se eu não estiver aqui. Por isso não posso ficar e, por mais que eu o ame, não posso me casar com você — Laurel concluiu em voz baixa e pesarosa.

Laurel dissera que o amava, o que excluía a possibilidade de ela partir e não se casar com ele. Laurel lhe pertencia, de corpo e alma. Ela deveria apenas acreditar nesse amor e confiar nele para resolver tão grave problema.

Conor levantou-lhe o queixo.— Entendi perfeitamente o que você me contou, mas agora quero que preste

atenção. Nós nos casaremos sem demora e se você confiou em mim até agora, terá de acreditar que encontrarei uma maneira de manter sua família em segurança. Quem é seu avô?

— Por favor, Conor, não me pergunte isso. Não quero expô-lo ao perigo.Pelo visto, a confiança que Laurel depositava nele era restrita.De repente, Conor supôs que acabava de descobrir quem era o avô de Laurel e

recriminou-se por não ter desconfiado antes. A cor dos cabelos era um indício, e os olhos... Apenas um clã da Escócia tinha aquele tom particular. Conor mandaria avisar que Laurel estava em segurança logo após o casamento, mas duvidava que a notícia chegasse antes da primavera. Se realmente estivesse certo quanto à identidade do avô de Laurel, a ameaça de lorde Douglas se mostraria tão oca quanto sua honra. Lorde Maclnnes e lorde MeTiernay tratariam de ensinar isso ao patife.

— Meu amor, case-se comigo. — Conor abraçou-a. — Resolverei seus problemas na primavera. Se nessa ocasião sua fuga for a única maneira de não arriscar a segurança de sua família, eu a deixarei partir. Mas até lá permita que sejamos felizes. Você confiará em mim e em nós o suficiente para concordar com a proposta? Ele jamais a deixaria partir, mas precisava ganhar tempo para convencê-la.

Laurel gostaria de acreditar que fosse possível Conor salvar seu avô e, além do mais, depois do que acontecera entre eles, não poderia manter-se afastada de Conor. — Está bem, Conor MeTiernay, eu me casarei com você, mesmo que seja apenas até a primavera. Nunca amarei outro homem, e meu coração sempre será seu, independentemente do que possa acontecer.

— E você, meu amor, sempre será minha, e nosso casamento durará muitas primaveras.

Conor beijou-a demorada e apaixonadamente.— Esperaremos até o casamento, Laurel. Você não gostaria de ficar diante do padre

sem ser donzela, não é?Laurel acariciou-lhe a nuca, passou a mão por seus cabelos e Conor estremeceu.— Não creio que isso seja importante depois do que houve no salão nobre... —

Laurel puxou-lhe a cabeça e mordiscou-lhe a orelha. — Você tem um gosto tão bom...Conor esteve a ponto de deitá-la e fazer com ela um amor tão louco como vinha

fantasiando desde que a conhecera. Laurel diante dele, com toda a sua ingenuidade, provocava-o com uma sensualidade inata. A mais experiente das mulheres não poderia ser mais excitante e sedutora. Mas com uma determinação inacreditável, Conor evitou que Laurel continuasse com os avanços.

— Não, meu amor, sua virtude será maculada se você continuar dessa maneira.Os olhos de Laurel, inflamados de paixão, fariam com que ele esquecesse todas as

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boas intenções.— Mas eu pensei que... o que fizemos... você não... — Laurel não conseguia formar

um pensamento coerente.— O que nós fizemos no hall foi apenas um aperitivo das delícias que desfrutaremos

juntos no futuro. Na noite do nosso casamento você se tornará minha, de corpo, mente e alma.

Laurel estremeceu. Não podia imaginar nada mais maravilhoso do que ele já lhe proporcionara.

Conor se inclinou, tocou levemente nos lábios dela com os seus e foi até a porta.— Laurel, a partir de amanhã, você começará a usar a manta dos McTiernay. — Ele

fez um aceno de cabeça e saiu.Laurel começou a rodopiar pelo quarto.— Serei lady McTiernay! Conor quer se casar comigo! Laurel jogou-se na cama e

adormeceu, vestida e sorridente.

CAPÍTULO VII

Laurel acordou na manhã seguinte quando Brighid entrou no quarto carregando um embrulho.

— Brighid, é você? — perguntou, sonolenta.— Sim, milady — a moça sussurrou, constrangida por ter acordado a futura lady

McTiernay e ansiosa para saber a verdade sobre os rumores. — Milorde entregou-me isto para milady usar hoje.

Laurel pulou da cama e examinou a bela manta que Brighid trouxera.― Pode me ajudar a vesti-la? — Laurel indagou, animada.Ela cantarolou enquanto se lavava e vestia a manta dos McTiernay. As mulheres

das Terras Altas usavam uma versão mais fina e mais longa da manta grossa usada pelos homens.

— Creio que esta manta era da mãe de milorde — Brighid confidenciou enquanto ajudava Laurel a amarrar o tecido sobre a túnica. A cor escura do xadrez azul e verde contrastava com a pele clara de Laurel.

— Ah, Brighid, creio que nunca aprenderei a ajeitar isto! Você conseguiu dar uma feição feminina a um conjunto volumoso.

Brighid pregueara a manta, prendera na cintura de Laurel e enrolara o tecido sobressalente nos ombros antes de prendê-lo na frente com um broche. Laurel notou que uma parte do tecido fora deixado solto, como um capuz que poderia ser útil em dias de mau tempo.

— Brighid, onde conseguiu isto? — Laurel se referiu ao belo broche de ouro e prata que lembrava um dos botões das camisas de Conor.

— Esse também era de lady McTiernay. Em geral essas peças são passadas de mãe para filha.

— Como não há filhas McTiernay... — Laurel passou os dedos na herança.— Por isso lady McTiernay exigiu a promessa de Conor de dar o broche à próxima

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lady McTiernay que, ao que tudo indica, será milady.Laurel suspirou, feliz. Nunca imaginara que ficaria tão satisfeita com a proposta de

Conor.— É, sim. Serei lady McTiernay assim que o padre Lanaghly chegar e celebrar a

cerimônia.— Creio que milady vai desejar terminar a capela logo.Fallon conseguira grandes progressos no castelo, mas ainda havia muito para ser

feito. Os bancos da capela teriam de ser trocados, assim como o tecido das poltronas e do altar. E certamente seria preciso um bom tempo para limpar todos os vitrais.

— É verdade. Você sabe onde estão Fallon e Glynis no momento?— Na capela, milady. Assim que souberam da notícia do casamento, os dois foram

até lá para discutir sobre a restauração.Laurel franziu a testa. Sem dúvida, a capela precisava ser reformada, mas havia

coisas prioritárias para serem feitas antes da chegada do inverno.— Venha comigo, Brighid. Preciso falar com eles antes de percorrer as choupanas.— Choupanas? — A moça espantou-se. O essencial para Laurel parecia ser a

moradia dos membros do clã.— Sim, notei no outro dia que há muitas com telhados em péssimo estado, o que

seria pavoroso no inverno.Laurel desceu a escadaria da torre, foi até a capela e, da porta, avistou Fallon e

Glynis.— As janelas terão de ser limpas antes — Fallon assegurou. — Não entrará

nenhuma luz por ali, se a cerimônia for num fim de tarde.— Todos os casamentos dos McTiernay aconteceram ao entardecer.As manhãs eram dedicadas aos preparativos dos noivos. À cerimônia, seguia-se um

grande banquete e a celebração se prolongava noite adentro, mesmo após a retirada do casal para seus aposentos.

— Concordo com a limpeza dos vitrais — Glynis concedeu. — Mas o senhor não poderá congregar os esforços de todos nesse mister. Lady Laurel quer as poltronas restauradas e o revestimento do altar trocado. E precisarei de quase todas as mulheres para completar a tarefa a tempo.

— Quase todas? — Fallon exasperou-se. Naquele momento Laurel entrou na capela, sorridente. — Os dois identificaram locais que precisam de atenção, mas eu gostaria que os

bancos fossem consertados antes. Fallon, escolha cinco ou seis homens para o serviço. Precisarei dos demais para outra incumbência.

Os dois ficaram constrangidos ao supor que Laurel escutara a discussão.— Milady está linda nessa manta e deixará lorde McTiernay orgulhoso. — Glynis se

recuperou logo. — Milady nos presenteou com algo que havíamos perdido há muito tempo. O amor que permeava o castelo e que possibilitava aos McTiernay guiar seu povo com energia e inteligência.

— Isso mesmo, milady foi uma bênção mandada dos céus para nós — Fallon concordou com voz emocionada.

— Obrigada, Glynis — Laurel comoveu-se. — Obrigada, Fallon. Eu é que me sinto abençoada por estar aqui.

Laurel beijou o velho administrador no rosto e Fallon esqueceu de perguntar a ela sobre os planos do dia.

Laurel saiu de outra choupana que precisava de reformas urgentes. Das sete visitadas, encontrara três em mau estado e certamente mais algumas se juntariam à lista.

Em geral, Conor supervisionava os reparos, mas naquele ano, com o casamento de Colin e a viagem às terras de lorde Schellden, as tarefas costumeiras haviam sido relegadas a segundo plano. Na Inglaterra, Laurel ficava com a responsabilidade da

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conservação da aldeia, além dos cuidados com os habitantes. Ainsley considerava aquele um trabalho exaustivo e o delegava à irmã. Para Laurel, cuidar das necessidades do clã era uma continuação do que sempre fizera.

— Eles fazem parte de uma família adorável — Laurel comentou com Brighid. — E uma pena que eu tenha vindo visitar o membros do clã quando a maioria dos homens está caçando ou se preparando para o inverno. Você viu como a menina é esperta? É capaz de dar trabalho aos pais no futuro.

— A pequena Mangam vive atrás dos irmãos mais velhos, todos mexeriqueiros.Brighid estava animada por acompanhar Laurel naquela inspeção. A maioria das

mulheres não interferia nas obrigações dos lordes, mesmo se ele não as cumprisse. Laurel era diferente. Tomava decisões e ousava fazer o que as outras mulheres teriam receio até de pensar.

As mulheres do clã relutaram, a princípio, em falar sobre o que precisava ser feito em suas casas, mas Laurel não tardou em ganhar a confiança delas ao conversar sobre a família, os filhos e outros assuntos vantajosos para elas.

Laurel demonstrou interesse genuíno nos problemas familiares e teve aceitação imediata ao sugerir que as mulheres sabiam tão bem quanto os homens o que precisava ser feito. O respeito veio com a discussão sobre a necessidade das reformas e o tempo necessário para que fossem executadas.

Brighid espantou-se com a precisão de Laurel ao lembrar-se dos detalhes sobre o que fora resolvido com cada família. Era evidente que a tarefa não era nova para Laurel, que tinha excelente memória. Laurel também organizou informes e listas de itens de maneira clara para que todos pudessem entender e acompanhar o progresso e a ordem das melhorias. Quando um lorde dava uma ordem, todos obedeciam sem questionar. O Conceito de discussão em grupo para posterior aceitação era uma novidade para Brighid.

Elas não chegaram a entrar em outra choupana. Um menino de cerca de cinco anos veio correndo para avisar que Aileen estava em trabalho de parto e precisava de ajuda. Elas o seguiram e passaram por carroças, animais e choupanas até chegar à casa de Aileen..

— Aileen? — Laurel bateu na porta.— Lady Laurel, por favor me ajude — a outra gritou. Laurel entrou. Aileen, pálida,

gemia agarrada na manta.— Onde está Finn?— Saiu com Conor para ir a algumas das aldeias mais afastadas que milorde não

visitou na volta do castelo de lorde Schellden. — Aileen fez uma careta de dor.— Aileen, há quanto tempo você está com contrações?— Não muito. — Aileen arrastou-se até uma cadeira próxima da lareira quando as

cólicas mais fortes cederam. — Mas o intervalo é muito pequeno entre elas. Todos dizem que o primeiro filho demora a nascer, mas não creio que isso acontecerá comigo.

— Não se preocupe. Já mandou chamar a parteira? — Laurel falou com Brighid quando Aileen negou com um gesto de cabeça. — Vá buscá-la, e encontre-a mesmo se ela não estiver em casa. Não volte sem ela.

Laurel nunca ajudara uma criança a nascer e precisava de ajuda, mas não gostaria que Aileen soubesse disso. Sua mãe morrera ao dar à luz Daniel, um bebê morto. E depois da saída de Brighid, fez uma prece pedindo orientação ê calma, e começou a abanar o rosto de Aileen. O quarto estava muito quente.

— Aileen, o calor a ajuda em algo?— Para ser franca, é intolerável, mas não quero que meu bebê se resfrie.Laurel afastou para o lado várias achas de madeira, reduzindo consideravelmente a

quentura da lareira.— Essa temperatura será suficiente e não a sufocará. Um novo espasmo fez Aileen

contrair as faces e agarrar-se nos braços da cadeira.

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Laurel encontrou um pedaço de linho, molhou-o e passou no rosto de Aileen.— Aileen, talvez eu devesse procurar ajuda... com uma das mulheres que já tiveram

filhos.Aileen apertou a mão de Laurel.— Não. Eu disse ao pequeno Alec para ir a seu encontro. A parteira e eu discutimos

ontem e ela foi embora para a casa dela que fica bem ao norte. Será um milagre se Brighid a encontrar e convencê-la a voltar. Por favor, Laurel.

— Aileen, eu não entendo nada de nascimento de crianças.— Sei que é uma curandeira, Laurel.— Aileen levantou-se e foi até o fogão para

fazer um chá.Laurel espantou-se. Ninguém poderia imaginar que a mulher que agora despejava

água gemia de dor dois minutos antes.— Finn e eu a vimos limpar e costurar ferimentos dos guerreiros no campo de

treinamento.Laurel foi até o fogão e tirou o jarro das mãos da outra.— Aileen, aqueles eram homens com pequenas ulcerações e eu não poderia lhes

causar maiores danos. Mas você, seu bebê... — Laurel foi incapaz de terminar o pensamento.

— Você não apenas limpava as feridas, mas aplicava ungüentos e ministrava decocto de ervas para os homens beberem. Sei que poderá me ajudar. — Uma nova contração fez Aileen se agarrar no braço de Laurel. — Por favor, não me deixe.

O pouco que Laurel sabia sobre ervas e a prática de curar fora ensinado por sua mãe, e era nisso que ela teria de se apegar.

— Alguns de seus lençóis terão de ser inutilizados. — Laurel foi até o baú onde a amiga guardava a roupa de cama.

Aileen sentiu-se mais tranqüila por Laurel ter consentido em ajudar. Naquelas poucas semanas, as duas haviam se tornado íntimas como irmãs. Ambas haviam perdido a mãe quando ainda crianças, e tinham irmãos com quem mantinham um relacionamento formal. E depois de tantos anos, haviam finalmente encontrado uma alma gêmea.

— Aileen, você se sente melhor em pé, sentada ou deitada?— Sentada. Mas quando fico impaciente, andando é melhor.— Bem, então ande. Deixarei cadeiras pelo quarto e assim você poderá se sentar

quando começar uma contração.Laurel rasgou os lençóis e amarrou-os aos pés da cama. Depois ferveu água com

que limparia os itens que seriam usados, assim como fazia ao suturar as feridas.Durante algumas horas, Laurel continuou a ajudar Aileen da melhor forma possível e

o tempo pareceu estender-se indefinidamente.Quando os espasmos começaram a se suceder com maior rapidez, Laurel deu a

Aileen as alças amarradas de lençol para ela puxar.— Ah, então é para isso que elas servem! — Aileen exclamou no breve intervalo

entre as dores. — Onde está Finn? Por que ele não está aqui? Por que ele fez isso comigo?

Laurel pegou a tesoura. Pela maneira como Aileen se curvava e abaixava, a criança não demoraria muito a nascer. Onde estaria a parteira? Laurel engoliu o medo e lembrou-se da força de Conor. Quando tudo terminasse, certamente desmaiaria nos braços dele.

Conor vasculhou o castelo de ponta a ponta, mas ninguém sabia do paradeiro de Laurel. A última vez em que fora vista, ela saía da fortaleza na companhia de Brighid. E nenhuma das duas fora encontrada.

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Ele acabava de voltar das margens do rio, onde fora procurá-la. Fallon e Glynis haviam iniciado a busca em lados opostos, procurando atenuar a culpa. Eles apenas se lembravam da última conversa, quando Laurel dissera que precisava de homens para uma tarefa mais importante do que restaurar a capela. Finn chegou, depois de procurar Laurel nas proximidades do campo de treinamento.

— Nada.O medo congelava o sangue de Conor. Se algo acontecesse a Laurel, ele não

suportaria a perda. Precisava dela. Acabara de descobrir como era ser amado de verdade e de encontrar alguém que desejava a mesma coisa que ele de um casamento: uma união baseada na amizade, na confiança e no desejo.

Conor sentiu os músculos tensos e o estômago contraído. Haveria de encontrá-la sã e salva. E nunca mais a deixaria sozinha e sem proteção, para não experimentar o terror que o corroía naquele momento.

— Neal, traga um cavalo! Alguns minutos depois Clyde surgiu com Borrail.— Este era o único animal descansado, Conor.— A fisionomia do rapaz exprimia preocupação. — Tudo dará certo, não é? Laurel é

formidável e todos a amam. Se ela estiver em perigo, alguém poderá ajudá-la, não é?— Com certeza, Clyde — Conor procurou ser convincente.— E se aqueles homens que a maltrataram resolveram voltar para raptá-la?As palavras do irmão caçula fizeram eco a seus temores mais profundos e Conor

jurou novamente nunca mais perdê-la de vista, depois que ela fosse encontrada, Se Douglas ousasse pisar em suas terras, ele haveria de fazê-lo pagar por isso.

— Finn, vou procurar na floresta. Ela pode ter resolvido caçar e ter-se perdido. Vá para casa ver sua esposa.

Clyde e Finn observaram Conor galopar noite adentro.Finn aproximou-se de sua casa e notou uma aglomeração ao redor. Alguém abriu a

porta, disse alguma coisa para um dos homens e voltou para dentro. Teria acontecido alguma coisa com Aileen?

Ele desmontou e entrou correndo dentro de casa. Aileen estava deitada na cama e Laurel embalava um bebê na manta.

— Finn — Laurel falou ao vê-lo. — Venha conhecer seu filho.Finn não conseguiu dar um passo.— Aileen? — ele murmurou, apavorado, ao ver a esposa imóvel.— Ela está bem, apenas cansada. Aileen foi forte e suportou tudo com galhardia.

Seu filho é grande e saudável. — Laurel fitou o bebê. — Você deixou sua mãe esgotada, agora vamos ficar quietinhos e deixá-la descansar, não é? Finn, não gostaria de segurar seu filho?

Laurel estendeu os braços e ajudou o comandante atônito a segurar o menino. Finn estava com os olhos marejados.

— Ele não é lindo? — murmurou Aileen, abrindo os olhos.Finn, com o filho nos braços, foi até a cama e sentou-se ao lado da esposa.— É, sim, doçura.— E você deveria ter visto Laurel. Ela ficou comigo o dia inteiro e ajudou-o a nascer.

Acho que em alguns momentos ela ficou mais apavorada do que eu.— Aileen alcançou a mão da amiga. — Obrigada por ter me ajudado.

Foi então que Finn se lembrou de Conor e entregou o filho para a esposa.— Conor! — ele berrou, assustando as duas mulheres e o bebê, que começou a

chorar. Virou-se e agarrou Laurel. — Temos de voltar para a fortaleza imediatamente. Conor a está procurando feito louco. Nós vasculhamos todo o castelo, o rio e as imediações! Conor acabou de ir para a floresta.

— Oh, não! Preciso ir, ele deve estar furioso.— Não está, mas ficará assim que a vir — Finn advertiu-a.

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— O quê?— O medo de um homem se transforma em raiva quando o receio desaparece. E

quanto maior o receio, maior a raiva.— Obrigada. Irei imediatamente. — Laurel abraçou a amiga, beijou o bebê e saiu

correndo, sem esperar por companhia.Conor voltou da floresta e viu Laurel correr. Aproximou-se e puxou-a para cima do

cavalo. Ao ver que não estava ferida, o medo que congelava seu coração transformou-se num ódio infernal.

— Conor! — Ela o abraçou. — Estou tão feliz por tê-lo encontrado! Você não vai acreditar no que aconteceu!

Conor não retribuiu o abraço e Laurel notou a expressão lúgubre.— Não diga nem uma palavra, Laurel.Ela estremeceu com a frieza de Conor, mas decidiu que não o enfrentaria. Ficou em

silêncio, sentindo a tensão irradiar-se do corpo dele.Conor galopou até a fortaleza. Passou os portões, apeou de Borrail, pôs Laurel no

chão e entregou as rédeas para Neal, que se adiantara à chegada deles. Neal desistiu de saudar Laurel. Conor estava realmente furioso.

Neal levou Borrail até a estrebaria, entregou o animal a um dos rapazes e saiu à procura de Fallon.

— Fallon, estou preocupado com lady Laurel. — Neal andava de um lado para outro no hall.

— Ele não lhe faria nenhum mal. — Fallon não demonstrou a apreensão que sentia.— Fisicamente, talvez não — Neal falou. — Mas poderá estraçalhar sua alma. Lady

Laurel tem um espírito espontâneo e livre que, uma vez combalido, não irá se recuperar. O que poderemos fazer?

— Nós? Nada. Eu vou verificar se a interferência se faz necessária.— Irei com você — Neal respondeu.— Eu também! — Clyde e o outro cavalariço gritaram em uníssono, saindo de trás

de algumas mesas desmontadas.— Creio que eu também irei, caso milady precise de assistência feminina — Glynis

afirmou, rodeando o biombo que separava o hall da área de serviço.Conor levou Laurel pela mão até a torre estrelada e subiu a escadaria com

movimentos bruscos. Chegando a seus aposentos, entrou e fechou a porta com um verniz de calma que não disfarçava sua ira.

Ele parou diante da lareira, apoiou as mãos no consolo e fitou as chamas por alguns minutos.

— Você nunca mais deixará o castelo, a menos que seja em minha companhia! — decretou, sem se virar.

Laurel estava incerta de como deveria proceder.— Não quer saber o que houve?— Não.— Conor, se me deixar explicar, entenderá por que demorei tanto para voltar.— Não quero ouvir nada, Laurel. — Os nós dos dedos estavam brancos de encontro

ao granito escuro. — Exceto que não sairá mais daqui sem um acompanhante.O temperamento de Laurel começou a se inflamar.— Quer dizer que sou uma prisioneira? Conor, desconfio que você não queria uma

esposa, mas um animal de estimação para segui-lo por toda parte e ficar esperando sua volta trancado no quarto.

— Não me desafie, Laurel, depois do que me fez passar esta noite!Ela se aproximou.— Será que não está curioso para saber pelo que eu passei esta noite?Conor estreitou os olhos.

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— Estou, mas não quero saber. Qualquer coisa que me diga poderá piorar ainda mais a situação.

— Ah, então o que está pensando? Que saí para me divertir com um homem?Na verdade, aquela idéia não ocorrera a Conor até Laurel dizer aquilo. E seu

movimento foi tão rápido que Laurel não o percebeu de início. Conor segurou-a pelo pulso e puxou-a.

— Que Deus se apiede de você se isso for verdade, Laurel! — ele falou com olhar cintilante. — Eu mataria os dois!

Laurel desvencilhou-se e lutou para não perder o controle.— Eu não me dou bem com ameaças, Conor — ela falou, trêmula.— E também não me agrada saber que minha noiva esteve com outro homem!— Você é uma criatura insuportável!— Você já me disse isso antes.— Não ficarei aqui com você, nem que uma tropa tente me impedir de sair! Eu lhe

prometo que encontrarei um meio de fugir do castelo!— Se for necessário, eu a atirarei na masmorra! Laurel virou-se para sair, mas

Conor foi mais rápido e bateu a mão na porta.— Onde foi que esteve com o outro, Laurel? Passou o dia todo nos braços de um

amante?O sussurro gélido causou arrepios em Laurel.— O que isso importaria para você se fosse verdade?— Ninguém encosta um dedo no que é meu!— Então pode se acalmar, milorde. Passei o dia todo com Aileen, que entrou em

trabalho de parto.O desprezo na voz dela foi percebido por Conor, que não conseguiu respirar por

alguns instantes.— O filho de Finn? — Ele parou de pressionar a porta. — Aileen?— Os dois estão bem — a resposta foi ríspida. Laurel ainda não terminara de falar e

Conor tomou-lhe o rosto entre as mãos e começou a beijá-la. A raiva que se seguira ao medo explodiu como numa necessidade primitiva e resultou numa torrente de beijos fe-rozes.

Conor precisava saber se ela ainda o amava. Ele teria de fazê-la entender que a desejava tanto que doía e que, independentemente de qualquer discussão, da fúria e do pavor, eles seriam para sempre um do outro.

Conor sentiu a resistência inicial de Laurel diminuir quando ela o agarrou pelos ombros. Conor gemeu. Apesar do que ele fizera e da raiva que Laurel sentira, ela ainda reagia com paixão quando a tomava nos braços.

A porta, sem a pressão feita por Conor, abriu-se e vários rostos ansiosos apareceram, prontos para defender Laurel se necessário fosse. Mas o que viram foi um homem amando sua mulher e que nem ao menos percebeu a interferência deles. Fallon levou um dedo aos lábios, indicou a escada para o grupo e fechou a porta.

Eles não esconderam o alívio, mas somente Clyde se manifestou.— Eu sabia que Laurel conseguiria acalmá-lo. — O garoto sorriu. — De agora em

diante, quando Conor estiver espumando de raiva, chamaremos Laurel.Fallon deu um tapinha amigável nas costas do rapaz e fez sinal para que todos

fossem dormir. Tudo estava bem.No quarto de Conor, ele aninhava o rosto de Laurel nas mãos e embevecia-se em

contemplá-la. O sorriso doce e convidativo de Laurel dava a Conor a certeza de que ela lhe pertencia.

Conor tocou-lhe a face levemente com a ponta dos dedos e Laurel prendeu a respiração. Ela levou a cabeça para trás e os cabelos deslizaram pelos ombros. Conor segurou-lhe a nuca e beijou-lhe a boca. O beijo foi lento e suave, para Laurel

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experimentar o amor e o desejo que se confundiam dentro dele.O beijo os fez esquecer da raiva que os acometera pouco antes. Para Laurel, só

importava a delícia de estar nos braços de Conor e ela rezou para que a sensação jamais desaparecesse. Ela estremeceu ao experimentar uma necessidade incomum.

Conor sentiu o desejo crescer diante da reação de Laurel e aprofundou o beijo.— Conor... — Laurel pronunciou o nome dele como um gemido e Conor receou

perder o controle.Laurel puxou a camisa de Conor para fora do cinto e acariciou-lhe a pele. Ele a

deixava transtornada pelos anseios ardentes e profundos que lhe despertava.Laurel arranhou levemente as costas de Conor e ele ultrapassou os limites da razão.

O desejo o consumia e, sem interromper o beijo, passou a despir Laurel. Soltou o broche que pertencera à sua mãe, em seguida a túnica e começou a baixar a camisa pelos ombros.

Laurel sentia-se flutuar. Conor a beijava com ternura e com paixão, e ela gemia pronunciando o nome dele. Só percebeu que a veste fora tirada e que a camisa estava pendurada na cintura, quando Conor beijou-lhe o busto.

Ele levantou Laurel no colo e carregou-a até a cama. Tornando a beijá-la, deixou-a no colchão macio e deitou-se sobre ela, retomando a exploração dos seios, roçando cada mamilo e provocando-os com a boca até ela gritar para ele não parar. Arfante e trêmula, ela fechou os olhos e Conor pensou que enlouqueceria pelo desejo que o atormentava.

Laurel entrelaçou os dedos nos cabelos de Conor, deleitando-se com as sensações por ele causadas. Deitada embaixo dele, percebeu a masculinidade crescer e enrijecer. Algo profundo e misterioso desenvolveu-se sob o impacto do olhar fixo de Conor, e a vontade de tocá-lo na turgidez era esmagadora.

Conor acariciou-lhe a parte interna das coxas, deixando-a transtornada. Ela se contorceu, desejando mais e ansiosa por oferecer a ele um prazer semelhante.

Acariciou-lhe o abdômen e, sob o kilt, encontrou o membro palpitante.Conor ficou imóvel. Nunca imaginara que uma mulher pudesse lhe proporcionar

tanta satisfação. Segurou a mão de Laurel para evitar que a tortura prosseguisse, mas não deixou de fitá-la. Os cabelos espalhados no travesseiro formavam um halo dourado que emoldurava a fisionomia confusa.

— Conor, o que fiz de errado? — Ela tirou a mão e constrangeu-se. — Nada do que fazemos aqui é errado, meu amor. — Conor beijou-lhe a testa e a ponta do nariz. —Você pode me tocar onde quiser. Ele segurou-lhe as mãos, elevou-as por cima da cabeça e beijou-lhe os lábios com uma paixão que beirava a selvageria. Afastou-se, tirou as roupas e deitou-se novamente sobre Laurel, consciente de que jamais experimentara sensações tão intensas. Laurel era doce, suave e vulnerável.

Conor tomou-lhe os seios com as mãos em concha, roçando os polegares sobre as pontas róseas. Abaixou a cabeça e beijou cada uma delas, estimulando-as com os lábios.

Laurel, trêmula, gemia e encontrava dificuldade para respirar. Conor sentiu-a mover os quadris de encontro às suas coxas e só pensava em possuí-la. Desceu a boca até o ventre de Laurel e depois passou a língua ao redor do umbigo, fazendo com que ela se arqueasse. E acompanhou os toques suaves e persistentes com beijos apaixonados.

Conor afastou-lhe a camisa completamente e moveu-se para beijar a quentura entre as pernas dela.

— Conor, não! — Laurel tentou sentar-se e agarrou-lhe os ombros.Conor nem ao menos levantou a cabeça e, de repente, Laurel sentiu as carícias da

língua de Conor em suas partes mais íntimas. Conor sugou-a com vigor e ela pendeu o corpo para trás, zonza dentro de um redemoinho. Conor segurou-lhe os quadris e prosseguiu nas provocações com a língua, deixando-a à beira da loucura. Ela se contorcia, arrebatada por um vagalhão de prazer inimaginável. Conor levou-a às alturas, determinado a fazê-la alcançar o clímax, indiferente aos protestos dela.

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E, assim, Laurel foi transportada ao êxtase.Presenciar o desempenho sexual de Laurel foi a experiência mais intensa que Conor

já tivera. Aquela mulher era sua alma gêmea, e estar com ela o completava. Ele sentiu a impossibilidade de conter-se por mais tempo. Afastou as pernas de Laurel e tornou a deitar-se sobre ela.

Quando ele pressionou os quadris, Laurel sentiu a rigidez e o volume da ereção de Conor, e, por instinto, ergueu-se de encontro a ele. Mordeu-lhe o ombro, instigando-o a continuar, querendo experimentar o que ainda desconhecia.

Com suavidade, Conor acariciou-lhe o monte-de-vênus e encontrou o pequeno órgão de prazer que passou roçar com os dedos. Laurel se contorceu de encontro à mão de Conor, supondo que a sanidade a abandonara.

— Conor! Por favor, não pare... — implorou, gemendo. Conor entendeu que Laurel estava preparada para recebê-lo e a própria rigidez lhe causava sofrimento. Ele a beijou e abriu-a cuidadosamente para a primeira investida. Sentiu a resistência inicial que provava ser ele o primeiro, e então a penetrou. Laurel gritou, dessa vez de dor. Conor parou dentro dela e segurou-lhe o rosto entre as mãos. Laurel era cálida e apertada e era quase impossível manter-se imóvel.

—Vai passar, meu amor — ele murmurou, acariciando-lhe o rosto antes de beijar as lágrimas involuntárias que deslizavam pelas faces.

: A voz de Conor e as carícias dele a acalmaram e o sofrimento cedeu. Laurel se mexeu para acariciar-lhe as costas e Conor sentia um prazer que chegava a ser doloroso. Ela o apertava e o envolvia perfeitamente, como jamais acontecera. Laurel aparecera inesperadamente em sua vida e seria sua para sempre.

— A dor passou?— Quase. Isso é tudo? — O sorriso ingênuo de Laurel era inebriante.— Oh, não! Nós apenas começamos.Conor começou a se mover dentro de Laurel e ela entendeu ao que ele se referia.

No início, Laurel pensara que ele seria grande demais, mas Conor entrava e saía lentamente para alongá-la o suficiente para recebê-lo.

O ritmo intensificou-se e as sensações que a invadiam a levaram para outro mundo.Conor passou a acariciar-lhe os seios com a língua, no mesmo ritmo dos impulsos

que provocavam uma sensação dolorosa. Laurel arqueou as costas e seus gritos sensuais excitavam Conor ainda mais.

— Conor...— Eu sei, amor, eu sei — ele respondeu com voz trêmula.Laurel agarrou-se nele como se fosse a única coisa sólida em sua vida. Sentiu-o

recuar e investir com profundidade e movimentos cada vez mais rápidos.— Oh, Conor... eu não... Conor!Laurel arregalou os olhos e Conor poderia jurar que nunca vira um tom de azul tão

intenso.Experimentou novamente a sensação deliciosa crescer dentro de si e dessa vez

com maior intensidade. Deslizou a mão no ponto onde os corpos se juntavam, tocou na sensível pele feminina, e Laurel gritou, com a sensação de romper-se em milhões de pedaços.

Conor estremeceu e impeliu-se pela última vez. Laurel seria sua para sempre, e um passara a pertencer ao outro.

Eles desceram lentamente do paraíso, satisfeitos com o que haviam acabado de partilhar. Laurel acariciou o peito de Conor e suspirou, abismada. Nunca se sentira tão viva, tão amada e protegida.

Ainda atordoado, Conor admitiu que, em tempo algum, fazer amor lhe trouxera uma satisfação tão perfeita. Enquanto vivesse, não teria outra mulher. Ele desejava Laurel a seu lado, em seus braços e em sua cama, como sua esposa e mãe de seus filhos.

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Conor espreguiçou-se, virou-se de lado e acariciou o braço de Laurel. O olhar dele era possessivo e ainda ardia de desejo. Ele não pudera esperar até o casamento para Laurel ter a primeira experiência.

— Amor?— Sim? — Laurel esfregou o queixo no peito de Laurel, descontraída e feliz. — Sinto

tê-la machucado.— Eu o amo, Conor. — Laurel virou-se para ele com um sorriso brilhante de ternura.Laurel afirmou que o amava, sem ser por medo ou paixão, mas por ser verdade.— Eu a amo muito mais do que imaginei ser possivel.— Por favor, Conor, não vamos brigar mais.— Eu até concordaria, mas creio que seria pouco compatível com seu

temperamento. Laurel deu um cutucão em Conor.— Meu? E o que me diz do seu? Admito que eu não deveria ter reagido diante de

seu receio e aceitado que sua ansiedade era normal, sem responder com raiva. Conor apoiou-se no cotovelo para olhá-la. — Não creio que você tenha entendido. Eu não estava ansioso, mas sim enfurecido. Laurel brincou com os pêlos do peito de Conor.

—Você ficou com medo quando não conseguiu me encontrar e, quando viu que eu estava bem, suas emoções se converteram em ódio.

Conor deitou-se sobre Laurel e encarou-a.— Preste atenção, Laurel. Sou o chefe de um clã muito grande, um montanhês e um

McTiemay. Nunca tenho receio de nada.— Está querendo me dizer que por ser um lorde, é incapaz de ter medo?— Isso mesmo. Laurel notou a mudança de comportamento. O olhar dele tornou-se

distante e sério, sem nenhum traço de paixão. Ela sentou-se, pôs os pés para fora da cama e cobriu o peito com o cobertor.

A idéia de não admitir apreensão pareceu-lhe ridícula. Conor era humano e, como tal, sujeito a emoções, inclusive medo, raiva e amor. Mas ele era também um homem difícil, que não deixava transparecer nenhuma ponta de fraqueza.

Laurel inspirou fundo e virou-se para encará-lo.— Muito obrigada por me explicar isso. Agora, relaxe. Não quero discutir depois do

que acabamos de compartilhar.Conor analisou a expressão de esperança e contentamento. Também não queria

argumentar com Laurel. Segurou-a pela cabeça e beijou-lhe longamente os lábios para demonstrar tudo o que sentia por ela.

Depois virou-se de costas e levou-a junto com ele. Pensou nos acontecimentos do dia, enrolou os cabelos dela nos dedos e acariciou-lhe o rosto.

— Pelo que Fallon comentou, você andou trabalhando nos reparos da capela para nosso casamento.

— Isso mesmo. Fallon e Glynis estavam discutindo, como bons montanheses que são, sobre a ordem dos trabalhos a ser executados.

— E tudo ficará pronto a tempo? O padre Lanaghly chegará dentro de poucos dias.— Provavelmente não, pois há muito para fazer nas choupanas, e restaram poucos

homens para fazer a restauração da capela.— Choupanas?— Isso mesmo. Eu me refiro a consertos nos telhados, portas, janelas e lareiras,

obras normais que antecedem o inverno.— E o que você sabe a respeito disso? Laurel, não me diga que esteve conversando

com meus homens sobre esses assuntos? Laurel ficou tensa ao sentir a apreensão de Conor.

— Não se aborreça, Conor. Na maioria dos casos conversei com mulheres, pois elas sabem melhor o que é preciso ser feito dentro de casa. E eu havia feito poucas visitas

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esta manhã quando... Conor sentou-se abruptamente, e Laurel foi afastada para o lado.— Esta manhã! — ele berrou. — Entendi você dizer que estava com Aileen.— É verdade, eu estava, mas você não me deu chance de explicar tudo.— Pois estou lhe dando agora. O tom de voz não agradou a Laurel e ela também se

sentou, vestiu a camisa e procurou não ficar com raiva.— Você se encontrava atarefado com muitos deveres e eu só quis ajudar. O

trabalho não é novidade para mim, pois quando morava com meu irmão, eu era responsável pela manutenção da aldeia. Brighid e eu fomos conversar com os moradores das choupanas para ver quem precisava de assistência antes das tempestades de inverno. Nós havíamos visitado poucas casas, quando fomos chamadas para ajudar Aileen.

— Laurel, você não tinha o direito de fazer isso — Conor declarou, ameaçador. — Não? — Laurel sentiu a ira crescer. — O que está me dizendo? Em breve serei a

senhora deste clã, e certamente assumirei essas tarefas após o casamento.— Não admito que minha mulher faça serviço de homem.— Você quer dizer que Finn ou Fallon podem fazer isso e eu não?— Sim, eles são homens. Laurel saiu da cama, enfurecida.— E o que a lady deste castelo terá de fazer? Ficar tecendo?— Você fará o que todas as esposas dos chefes fazem. Cozinhar, limpar e preparar

as refeições. Virá se despedir de mim quando eu tiver de me ausentar, e me receberá quando eu voltar. Providenciará o conforto de nossos convidados, quando os tivermos. Não finja que não conhece os deveres de uma dama, Laurel.

— Nunca aparentei ser quem não sou, Conor, e não é agora ,que vou começar a fazer de conta que gosto de ficar confinada às responsabilidades domésticas. Gosto de cavalgar, de caçar, de administrar a aldeia é a verdade. E você sabe que tenho capacidade para esses encargos! —Laurel gritava, mesmo sabendo que não o convenceria daquela maneira.

— Pois não fará nada disso!— Conor rugiu. Laurel atirou um travesseiro nele.— Então fique sabendo que não me casarei com um homem que se recusa a

receber ajuda quando necessário e justificável.— Sua intervenção não se justifica, nem será necessária.— Só porque sou mulher?— A minha mulher.— Não sou... ainda. E sabe do que mais? Depois desses esclarecimentos, estou

pensando em desistir de me casar com você! — Laurel agarrou o resto das roupas e foi até a porta, sem que Conor fizesse nenhum gesto para impedi-la.

— Você se casará comigo, Laurel Rose Cordell, e tão logo o sacerdote chegar! Não entende o que aconteceu esta noite? Você se deitou comigo. É minha por todos os direitos, exceto pelo de Deus. E esteja certa de que contarei com a bênção divina antes do final da semana!

Laurel o encarou com ódio. Que homem arrogante! Pensava que se casaria com ela só porque... Laurel abriu a porta e se deteve antes de sair.

— Escute aqui, Conor McTiernay. Nunca planejei mudar minha maneira de ser. Nunca! Nem por você nem por homem nenhum. Se você quiser assumir todas as responsabilidades do clã, faça bom proveito. Eu amo você, Conor, mas se não puder me aceitar como sou nem concordar com minha contribuição naquilo em que tenho conhecimento e experiência, então não me casarei com você, apesar de ter me perdido.

E, com essas palavras, ela saiu do quarto.

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CAPÍTULO VIII

No dia seguinte, Laurel acordou cedo e foi barrada pela sentinela do portão quando pretendia tomar banho no rio.

— Sinto muito, milady, mas recebemos ordens de milorde para não deixá-la sair da fortaleza. — O guarda se sentia constrangido por transmitir as instruções de Conor, ainda mais ao ver o olhar sombrio de Laurel.

Laurel não queria punir o rapaz por ser o portador de más notícias, por isso cumprimentou-o e dirigiu-se de volta para a torre estrelada, como se pretendesse regressar a seus aposentos. Em vez disso, foi para a estrebaria e tirou Borrail da baia sem acordar o cavalariço que ressonava. Montou sem arreios e passou voando pela sentinela, antes que ele tivesse tempo de reagir.

Ah, manter-me prisioneira! Eu lhe mostrarei quem eu sou, Conor McTiernay. Ainda está para nascer quem poderá me controlar!, Laurel pensou enquanto se dirigia para o rio. Na verdade não estava quente para um banho ao ar livre. A temperatura esfriava a cada dia, não demoraria a nevar e as águas ficariam congeladas. Ela tirou as meias e experimentou as pedras frias. Estava ciente de cometer uma insensatez, mas precisava se afastar um pouco do castelo e também precisava de um banho. Pensar nas ordens de Conor fazia sua raiva voltar com toda a força. Tirou a roupa e entrou na água gelada, rezando para que o choque térmico diminuísse sua irritação. Lavou os cabelos e o corpo com o sabão de lilases que trouxera, e quando se preparava para voltar à margem, Conor apareceu.

Ele entrou no rio, ergueu Laurel no colo, voltou para a ribanceira, enrolou-a numa manta e ordenou-lhe para se vestir.

Laurel aguardava, mas não tão cedo, a indignação de Conor por ela ter saído do castelo de maneira tão intempestiva. Conor certamente não entendia que ela também estava furiosa com as decisões autoritárias tomadas por ele.

Depois da refeição matinal, Conor ficara sentado junto ao fogo, revendo mentalmente o que acontecera na noite passada. E, mais uma vez, a excitação o envolveu. Fora uma experiência incrível e única. Laurel despertara vida nele.

Conor disse uma imprecação. Laurel o fizera sentir-se amado, importante, necessário e de, maneira inusitada, o surpreendendo com as palavras de despedida. Ele pensara em Laurel a noite toda, e em sonhos ela desaparecia, deixando em seu lugar um imenso e perigoso vazio. Toda vez que acordava, estava sozinho e com pavor de tê-la perdido. Levantou-se e ordenou às sentinelas do portão para a impedirem de sair sem ele.

Pouco mais tarde, ao ser informado da fuga, Conor ficou chocado. Ninguém ousava desobedecer-lhe. Pensando por que ela o desafiava publicamente, saiu do castelo e encontrou-a tomando banho no rio gelado.

— Posso saber o que está fazendo aqui? — gritou, com raiva e excitado ao mesmo tempo ao vê-la molhada e nua.

Laurel pôs a veste e encarou-o, desafiadora.— Seja mais específico, milorde. Quer que eu lhe explique a necessidade de um

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banho ou está se referindo à minha saída do castelo no lombo de Borrail?Apesar do esforço em contrário, Laurel começou a tremer, o que dificultou a

discussão e também calçar as meias. Conor viu Borrail amarrado numa árvore e adiantou-se, ficando entre Laurel e o cavalo.

—Você montou nesse animal enorme sem sela? Está pretendendo se matar?— Santo Deus, mas que idéias preconceituosas, Conor! Não são só os homens que

podem montar sem sela.—Vestida, Laurel se sentia mais confiante. Ergueu o queixo e o fitou com olhar cintilante de ódio. — Eu gostaria de lhe dizer que tenho visto seus homens montarem e caçar, e posso garantir que meu desempenho é bem melhor do que muitos deles. Por isso, guarde suas noções ridículas e me deixe passar.

Ela endireitou os ombros e segurou a barra da saia para rodeá-lo. Conor segurou-a pelo braço e virou-a de frente para ele.

— Laurel, não pense mais em tomar banho de rio, pois estará se arriscando a uma doença grave. Primeiro terá de acostumar o corpo à temperatura fria das Terras Altas.

— Eu estava muito bem até ouvi-lo gritar como um maluco. — Ela tentou desvencilhar-se.

— Eu a estava protegendo.Com um arranco, Laurel soltou-se.— Bobagem! Sua fúria deveu-se à minha saída da fortaleza e isso nada tem a ver

com o local que escolhi para tomar banho, mas sim por ter sido contra a sua vontade.Conor passou a mãos nos cabelos, esforçando-se para não perder as estribeiras.

Não queria começar o dia daquela maneira com Laurel. Na noite anterior tivera um prazer extraordinário, seguido pelo sofrimento de sua partida, e gostaria que não tivessem terminado a noite com tanta animosidade. Mesmo assim se convencera de que a recusa de Laurel em casar-se com ele fora um pretexto para preservar o orgulho.

Os dois se encararam com raiva durante alguns minutos, até Conor não suportar mais vê-la tremer com os cabelos molhados que ensopavam o vestido. Ergueu-a nos braços e montou o próprio cavalo. Batendo os dentes , Laurel não protestou quando Conor torceu-lhe as mechas úmidas e enrolou-a na manta de lã, antes de segurar as rédeas de Borrail. Eles subiram a colina e rumaram pela estrada de terra que chegava até as muralhas do castelo.

— Independentemente do que você possa pensar, quero poupá-la. Os rios são traiçoeiros nesta época do ano e várias pessoas que se arriscaram não puderam voltar à margem, pois as correntes são muito fortes e geladas.

Laurel não podia duvidar daquela lógica.— Eu gosto de tomar banho de rio, pois isso ajuda a libertar meus pensamentos. —

E a esfriar minha cabeça, acrescentou em pensamento.— Então, quando quiser entrar nessa água gelada, iremos juntos. — Conor pensou

em várias maneiras de aquecê-los depois.— Eu preferia ir sozinha ou na companhia de alguma das mulheres. — Mais

aquecida, Laurel tornou a rebelar-se.— Elas não poderão ajudá-la em caso de necessidade e nenhum homem terá

permissão para acompanhá-la.— Então sou uma prisioneira, milorde?Conor não gostou da maneira formal como Laurel se dirigira a ele.— Quem lhe disse isso?— Uma sentinela avisou que eu não poderia deixar as muralhas da fortaleza. Por

acaso sou considerada uma criança ou estarei sendo privada de minha liberdade?— Sabe muito bem que não é nada disso, Laurel. Não posso estar a seu lado o

tempo inteiro e preciso saber que você não corre perigo.Conor lembrou-se dos pesadelos onde Laurel desaparecia num vácuo, e segurou-a

com força.

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— Então precisa vigiar meus movimentos? Eu não conseguirei viver dessa maneira, e, se me forçar a isso, encontrarei uma maneira de fugir.

— Eu a trarei de volta — Conor resmungou, aborrecido com o rumo da discussão.— E eu tentarei até conseguir.— Eu não pretendo controlar você, Laurel, mas sim protegê-la! Será tão difícil de

entender? Ontem à noite o castelo paralisou todos os serviços. Sem conseguir encontrá-la, mandei todos os homens procurá-la, deixando a fortaleza sujeita a ataques. Não poderei tolerar novamente uma coisa dessas, mesmo que eu tenha de impedi-la de sair.

Conor devia estar realmente preocupado com seu bem-estar, ou não teria enviado tantas pessoas à sua procura. Ela não podia imaginar o que ocorrera apenas por sua saída, e um sentimento de culpa incomodou-a.

— Eu não pretendia causar transtornos, mas você também não pode querer que eu fique trancada lá dentro. Por favor, não me peça isso e eu prometo nunca sair sem avisar.

— Se você quiser ir a algum lugar, eu a levarei. Conor achou a solução adequada.Laurel não era da mesma opinião. A postura arraigada de Conor no tocante às

atividades dela junto ao clã era intolerável. Ela não se casaria com Conor McTiernay e ele esperava uma esposa submissa e indiferente aos problemas dos outros. Mas como fugir e ficar afastada dele?

— Bem, e quando eu quiser passar o dia com Aileen e o bebê? Conor certamente não pensara numa situação que, para ele, não seria agradável.

Duas mulheres trocando confidências e uma criança chorando, — Nesse caso você poderá ter outro acompanhante e terá de informar alguém sobre suas andanças. Conor, conhecido por sua intransigência, ajustava e mudava alguns dos princípios que haviam norteado sua vida, por causa de Laurel. E a grande recompensa era o sorriso luminoso e o brilho daquele olhar deslumbrante.

— Obrigada, Conor. Prometo que sairei sempre acompanhada e deixarei um aviso sobre onde poderei ser encontrada.

Laurel estava alegre, feliz e o chamara de Conor. Finalmente as coisas retornariam à normalidade.

Conor se enganara ao pensar que os problemas estavam resolvidos. Descobriu mais tarde que eles não se resumiam ao fator de quem acompanharia Laurel nas saídas do castelo.

— Está me dizendo que ela mandou falar comigo?! — ele berrou para Fallon no hall da capela.

— Exatamente. Lady Laurel explicou que, de agora em diante, todos os assuntos do clã deveriam ser resolvidos por milorde.

— O que não é novidade. Mas o que isso tem a ver com a escolha das janelas que deverão ser limpas ou do material mais adequado para o estofamento? — Conor estava perplexo por ter sido chamado para resolver problemas domésticos que deveriam ser da responsabilidade dela.

— Lady Laurel me avisou que milorde determinaria tudo a ser feito. Como tive de disponibilizar mais homens...

— Avisou? Até parece que vou submeter-me às exigências de Laurel! — Conor berrou e saiu da capela a passos largos.

— Milorde, farei primeiro os bancos ou as janelas? — Fallon gritou.— Não sei, droga! Janelas!Laurel não o manipularia como se ele fosse um chefe de clã inexperiente. Por Deus,

ela teria de aceitar que Conor McTiernay era quem dava as ordens!— Glynis! — Conor viu-a sair da cozinha em direção à torre estrelada.Ela mudou de direção e aproximou-se, afobada.— Sim, milorde?

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— Diga a lady Laurel que ela jantará comigo esta noite no salão nobre. — Esta noite, meu amor, resolveremos o assunto, ele disse para si mesmo e fez menção de se afastar.

— Milorde, lady Laurel pediu para eu o avisar que jantaria na casa do comandante e assim aproveita para visitar o bebê.

Laurel estava muito enganada, se achava que iria ajudá-lo para sempre.Na verdade, foi Conor quem se iludiu. Laurel conseguiu afastar-se dele nos dias que

se seguiram. Os motivos foram variados, desde visitar doentes até jantar com Aileen. Todavia ela manteve a promessa. Levava Brighid junto, e sempre havia alguém na fortaleza informado sobre seu paradeiro. Laurel também se manteve fiel à promessa de abandonar as responsabilidades da fortaleza para Conor e ele nunca a encontrava para terem uma conversa séria. Com as modificações feitas por Laurel no castelo, havia muitas coisas a serem resolvidas diariamente, pois Conor não desejava que voltasse a imperar a desordem anterior. Ele conhecia Laurel e sabia que ela o testava, provocando uma rendição. Ah, mas ele se manteria firme não cederia quanto ao papel de Laurel nos assuntos do clã.

Todas as noites, Conor esperava o retorno de Laurel para falar com ela. Mas Laurel ia para o quarto e já estava dormindo quando ele subia para se recolher.

— Você não pode continuar com isso — Aileen avisou-a na quinta noite em que Laurel foi visitá-la, enquanto Brighid embalava o bebê junto à lareira. — Eu sei, mas não consigo encará-lo. — E o que você vai fazer quando o sacerdote chegar? Finn está convencido de que você e milorde acabarão se casando. — Ela pegou o filho das mãos de Brighid e ajeitou-o no meio da cama. Laurel suspirou, infeliz.

— Aileen, eu não me casarei com um homem que deseja fazer de mim o que não sou.

— Concordo que ele não deveria querer mandá-la, mas ainda assim acho que você deveria se casar com ele. Você não tem escolha, afinal está morando com ele.

— De certa forma, você tem razão. Mas o lugar onde Conor e eu dormimos não implica necessariamente em matrimônio. Ele se recusa a permitir que eu faça coisas que me deixaria feliz e quer que eu me torne uma versão enfadonha de mim mesma. Ele teria de ficar satisfeito, e não envergonhado, com minha vontade de ajudar.

— Ele não se envergonha, Laurel, nem é justo que você diga isso. — Aileen segurou o braço da amiga. — Tenho certeza de que ele ama você, mas os homens demoram muito para mudar de opinião. Seja paciente.

— Ela está certa, milady — Brighid apoiou Aileen. — Os homens são muito teimosos em alguns assuntos, como tradições e o que consideram como suas responsabilidades — ela comentou com tristeza.

— Brighid, parece-me que você também está com problemas a respeito dos homens. — Laurel espantou-se ao ver a jovem à beira das lágrimas.

— É verdade. Donald, meu noivo, sentiu-se inferiorizado depois que me tornei sua criada e acompanhante. Ele diz que eu deveria encontrar um trabalho mais condizente com minha posição social. Para Donald, não interessa se não me importo com isso e que desejo apenas ser a esposa de um guerreiro. Ele não me ouve.

— Oh, Brighid, eu não imaginava que os homens tivessem idéias tão ridículas. O que faremos com eles? — Laurel levantou as mãos, exasperada.

— Não sei, lady Laurel, mas espero que a senhora descubra logo a resposta — Brighid desesperou-se.

Laurel levou as mãos à cintura, com raiva de quem impedia a jovem de ser feliz.— Ora, Brighid, ele deveria entender que é um felizardo por ter o seu amor, e

agarrá-lo enquanto ainda pode. Seu status e o dele pouco importam diante da grandeza do mundo.

— O mesmo poderia ser dito em relação a você, Laurel. — Aileen mexeu-se na

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cadeira, ainda dolorida pelo parto recente. — É preciso segurar com as duas mãos quando o amor se apresenta, e certamente os problemas perderão a importância com o tempo. Case-se com Conor e seja feliz.

Laurel pensou a noite inteira naquelas palavras, Brighid e ela foram embora e chegaram ao castelo como das vezes anteriores. Usaram a entrada leste, que dava acesso à torre de supervisão. Dali, Laurel foi até a passagem no alto da muralha e diretamente para as ameias da torre estrelada, de onde desceu para seus aposentos. Todas as noites, Conor abria a porta e observava o sono simulado de Laurel antes de ir dormir. Depois que ele se afastava, Laurel chorava.

Aquela noite não foi diferente, mas Conor se demorou mais alguns segundos.— Boa noite, amor — ele sussurrou. — O padre Flanaghly chegará amanhã. Nossas

disputas terão um fim e nós nos casaremos.Aileen está errada, Laurel pensou, chorando. Os dois se amavam, mas isso não

mudava nada.Na manhã seguinte, logo cedo, Laurel procurou Brighid na cozinha. — Bom dia,

Fiona. Brighid já chegou?— Sim, ela está nos fundos, limpando uma panela. Uma das minhas ajudantes não

estava se sentindo bem e eu não posso alimentar um exército sem ajuda — Fiona comentou, azeda como de costume, embora fosse ótima cozinheira.

— Ah, que pena! Peça a Glynis para providenciar uma ajudante. Deve ser muito difícil cozinhar para tantas pessoas sem auxiliares. Brighid?

— Estou indo, milady. — Brighid voltou, trazendo a panela limpa. — Pronto, Fiona.— Fiona, por favor, diga a quem perguntar que voltaremos tarde — Laurel pediu. —

Vou procurar a parteira, pois estou precisando de um remédio para Aileen, que ainda não se recuperou. Espero conseguir pelo menos um medicamento para as dores.

Fiona anuiu, sem tirar os olhos das batatas que descascava.— Seria melhor se milady tratasse de arrumar uma ajudante com urgência.Laurel mandou Glynis falar com Fiona e foi com Brighid até a estrebaria. Enquanto

Clyde selava os cavalos, Laurel pegou a adaga e o arco, e repetiu para Neal os planos de procurar a parteira.

As duas cavalgaram durante horas rumo ao Norte, onde a temperatura era bem mais fria. O solo que se tornava rochoso dificultava o avanço dos cavalos, e Brighid não tinha muita prática em conduzir uma montaria. O trajeto demorou mais do que Laurel esperava, até Brighid apontar para uma choupana de pedra rodeada por pinheiros no alto de um monte.

Elas se aproximaram e uma mulher robusta abriu a porta. Seus cabelos eram vermelhos e rebeldes, e por cima da camisa carmim ela usava a manta dos MacTiernay, que ia do pescoço aos tornozelos. Pregueada, a manta era presa sobre os quadris com um cinto largo de couro semelhante ao que Conor usava.

— Quem é a senhora? — ela perguntou, quando Laurel apeou.— Sou Laurel Cordell. A senhora é a parteira dos MacTiernay?— Sim — foi a resposta seca.A hostilidade da mulher devia ser por conta dos visitantes, e principalmente se não

eram montanheses.— A senhora deve ter ouvido falar de mim. — Laurel não estava bem-humorada

depois da viagem longa naquele frio.— Sei que a senhora é inglesa e que vai se casar com milorde.— Isso ainda terá de ser resolvido — Laurel resmungou enquanto amarrava Borrail

numa árvore.— Não vai se casar? — A mulher arqueou as sobrancelhas vermelhas.— Não pretendo.— A senhora se acha boa demais para ele?

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Ela ouvira boatos a respeito do orgulho da beldade inglesa.— Nada disso. Apenas não pretendo mudar por ele nem por homem nenhum. Eu

amo Conor McTiernay, mas me recuso a tornar-me uma inútil quando posso fazer muitas coisas. Até lorde Conor não aceitar isso, nós não nos casaremos.

A mulher anuiu, em sinal de aprovação. Laurel teve a impressão de que passara num teste.

— Sei que fizeram uma viagem difícil. Podem entrar e venham se aquecer. — A mulher se virou e entrou.

Brighid e Laurel a seguiram e pararam diante da lareira central. A mulher não tirava os olhos de Laurel, talvez para continuar observando-a e avaliando-a.

— Ouvi dizer que a senhora ajudou Aileen dar à luz o bebê.Apesar da distância, a mulher estava a par dos acontecimentos do clã.— Sim. Eu esperava que a senhora chegasse a tempo para ajudar, pois eu não

tinha idéia do que estava fazendo. — Laurel esfregou as mãos diante das chamas.— Milady fez um bom trabalho.— A senhora não estava lá e não poderia saber. Tudo terminou bem por pura sorte,

pois tenho mais experiência com arranhões e cortes, o que é bem mais simples.— Eu estava, e milady fez um bom trabalho. Laurel ficou atônita. Se Brighid voltara

sem a parteira, como podia ela ter presenciado tudo?— Perdão, milady, Hagatha me fez prometer que eu não diria nada — Brighid

desculpou-se, constrangida.— A senhora esteve lá? — Laurel não entendeu.— Sim, eu queria ver seu desempenho. Achei que Aileen fosse uma tola em confiar

numa inglesa, mas eu me enganei.— Está bem, Hagatha. Vim até aqui porque Aileen precisa novamente de sua ajuda.— Parteira — a ruiva corrigiu-a.— Como é?— Inglesa, prefiro que me chame de parteira — a mulher disse em tom casual.— Hagatha — Brighid irritou-se —, você sabe que deve chamá-la de milady ou de

lady Laurel, e em breve de lady McTiernay.— Só depois de morta, eu não a chamarei de "inglesa".— Está bem, Brighid — Laurel tentou apaziguar a situação. — Acho agradável

quando alguém se refere a mim sem nenhum título.— Milady, mas a senhora é tão escocesa quanto britânica.— Isso é verdade? — Foi a vez de Hagatha surpreender-se. — Nesse caso não a

chamarei de inglesa, pois estaria insultando sua parte escocesa. Dependendo de meu humor, eu poderei chamá-la de Laurel.

Laurel começava a gostar de Hagatha, uma pessoa que tinha seus próprios códigos de ética.

— Pois bem, parteira, como já lhe disse, vim até aqui por causa de Aileen. Ela ainda tem dores devido ao rompimento dos tecidos.

— Então deve ter sido bem grande.— Foi extenso e pensei em fazer uma sutura, mas Aileen não aceitou a sugestão.— Pois deveria ter feito. Dilacerações são comuns quando os bebês são grandes,

mas agora não adianta mais dar pontos. — Hagatha abriu um gabinete com ungüentos e ervas medicinais.

— A senhora tem uma bela coleção. — Laurel aproximou-se.— Conhece tudo isso, não é?— Só os usados para febre e ferimentos. Quando eu era menina, algumas vezes

minha mãe me deixava ajudá-la a cuidar dos soldados. — Laurel apontou os frascos com amieiro, quebra-febre, arruda e hera terrestre.

— Ouvi dizer que você tratou dos ferimentos dos guerreiros após o treinamento.

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— Fiz isso durante algum tempo, mas o estoque de ervas terminou. Pensei em colher mais e secá-las durante a primavera.

Hagatha pegou um frasco com ungüento.— Peça a ela que use este medicamento duas vezes ao dia.— Ela pegou uma

embalagem com ervas secas.—Estas são para fazer um chá. O ungüento ajuda na cicatrização e o cravo-da-índia diminui a dor e não faz mal para o bebê. — Hagatha foi até a porta, indicando o fim da visita.

— Hagatha, você mora sozinha?— Desde a morte de meu marido. Não gosto de companhia nem de ficar no castelo.As três saíram da casa e Hagatha segurou a mão de Laurel.— Fico satisfeita que tenha vindo, Laurel. Milorde é um felizardo, ou pelo menos

será, quando entender o que perderá se não a deixar ser feliz. Meu marido também procurou fazer com que eu mudasse e não deu certo. Como segui a mesma trilha e tentei fazê-lo mudar, acabamos fazendo um acordo para um deixar o outro em paz. Desde então fomos felizes. Experimente fazer isso com milorde e verá que a única maneira de alcançar a felicidade é deixar cada um ser como é.

Hagatha virou-se, entrou na choupana e fechou a porta.A volta foi ainda mais demorada, pois Brighid não estava acostumada a cavalgar

grandes distâncias. Quando se aproximaram das muralhas do castelo, já fazia tempo que escurecera.

Laurel, que enxergava bem sob a luz do luar, precedia Brighid e perscrutava os arredores para se prevenir de algum perigo. Por sorte, nada aconteceu até elas chegarem, mas uma porção de sentinelas se alinhava sobre as muralhas, obviamente procurando por alguém.

Oh, Senhor, Conor vai me trancar para sempre!, Laurel pensou.Ela deteve os cavalos antes de entrarem no raio de visão dos soldados e tirou da

sacola de couro o ungüento e as ervas.—: Brighid, dê isto a Aileen pela manhã, junto com as instruções de Hagatha.Brighid tentou em vão persuadir Laurel a deixá-la ir junto e ajudar a explicar os

motivos do atraso.— Brighid, aqueles homens estão procurando por nós. Posso imaginar o estado de

ânimo de lorde McTiernay no momento e não quero que você seja alvo da raiva dele. Será melhor eu enfrentar milorde sozinha e você ir direto para casa.

— Milady deixou avisado para onde iríamos e todos sabem que a parteira mora longe.

— Não creio que isso tenha importância nesta altura dos acontecimentos.— O que acontecerá com milady? Laurel abraçou-a.— Ele não vai me bater, não tenha receio. Apenas duvido que ele continue

consentindo nas minhas saídas do castelo, mesmo para visitar Aileen.— Mas milady só queria ajudar!— O que vai piorar tudo.Laurel instigou Borrail para a frente, e quando chegou aos portões do castelo, foi

avistada pelas sentinelas. No pátio, surpreendeu-se por não ver Conor. Entregou as rédeas para um cavalariço e dirigiu-se para seus aposentos.

— A senhora deve ser lady Laurel.Laurel virou-se ao ouvir a voz e deparou-se com um sacerdote com a bondade

estampada na fisionomia. Cabelos e barbas brancas contrastavam com os olhos castanhos margeados por rugas de tanto sorrir.

— Sou eu. O senhor é o padre Lanaghly?— Acertou. Conor ficará feliz em saber que milady voltou em segurança.— Tenho certeza disso. Ele está aqui?— Não. Milady voltou antes dele e dos homens.

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— Neal e Fiona não disseram a ele para onde fui?— Com certeza, mas ele não pareceu convencido de que milady sobreviveria a uma

viagem tão longa sem escolta. Creio que ele se enganou.— Oh, Senhor! Ele deve estar furioso. Eu não imaginava que fosse demorar tanto, e

Deus é testemunha de que Brighid é a mais lerda das amazonas. — Laurel arregalou os olhos ao entender que invocara o Santo Nome em vão, por duas vezes, diante do padre.

Lanaghly não poderia estar mais encantado. Ele a vira entrar no pátio com imponência e o halo de cabelos loiros soltos ao vento, e agora, ao deparar-se com o belo rosto e os olhos adoráveis, entendeu por que lorde Conor resolvera abandonar os votos de celibato.

— Milady está certa a respeito de milorde, mas como todos os temperamentais, ele acabará por aquietar-se. Fique calma e vá se deitar. Com certeza milorde irá procurá-la, assim que chegar.

— Obrigada, padre.Laurel subiu a escadaria chorando. Não tivera intenção de provocar novamente um

alvoroço. Pretendera apenas ajudar a amiga.Preparou-se para dormir e, de camisão, começou a escovar os cabelos, sentada

numa poltrona diante do fogo. Quando Conor e ela parariam de discutir?Conor foi avisado da chegada de Laurel por sentinelas que foram ao seu encontro e

sentiu-se aliviado. A neve começava a cair, e antes de o dia amanhecer o solo estaria branco. E como da outra vez, o medo foi rapidamente convertido em fúria.

Ele entrou no quarto de Laurel e viu a cama vazia.— Laurel!Ela adormecera na poltrona e assustou-se com o chamado feroz.— Estou aqui, Conor! — Ela deu a volta na cadeira estofada.Conor reprimiu a vontade de tomá-la nos braços.— Quem lhe deu permissão para ir até a casa de Hagatha? — ele vociferou. — Por

acaso não notou o tempo? Já está nevando! Será que sua satisfação consiste em vagar pelo mundo, pensando apenas em si mesma? , Novamente fui forçado a mandar meus homens atrás de você. Nunca mais faça isso, Laurel! Nunca mais, entendeu?

Laurel estava cansada, com frio e apenas o orgulho a impedia de chorar. — Fui até a casa de Hagatha para ajudar Aileen e não imaginei que fosse demorar

tanto. Sinto muito que tenha mandado seus homens à minha procura, mas eu lhe asseguro que sei muito bem tomar conta de mim mesma.

— É melhor mesmo, pois com mais uma proeza dessas acabará sendo merecedora de um belo castigo! Na semana passada, tive de sair duas vezes à sua procura. Nunca vi ninguém mais egoísta, desobediente e enganadora. Você usou seus encantos e sua beleza para fazer-me ceder a seus desejos. Mas isso não se repetirá, ouviu bem? Portanto, trate de afastar de mim esses olhos azuis que fazem os homens cumprir suas ordens. A desilusão de Laurel foi imensa e a fez esquecer o orgulho e a raiva. Pensara que Conor a amava, mas ninguém dizia tais coisas para o ser amado.

— Entendi. — Ela baixou a cabeça. — Da próxima vez em que eu sair, será por uma boa causa.

— Não haverá uma próxima vez.Ah, mas haveria! Ela iria embora na primavera e não mais voltaria. Talvez tivesse

uma chance na Irlanda, se fosse capaz de esconder suas origens. De costas para Conor, enxugou as lágrimas.

Conor admitiu que estava sendo injusto, mas sentia-se sem autoridade perto de Laurel e um inútil quando ela se expunha ao perigo. No passado, outras mulheres haviam usado os mais diferentes artifícios para conseguir atraí-lo, e isso funcionava quando ele era mais jovem, antes de se dar conta dos fingimentos. Pensara ser imune aos expedientes egoístas delas. E naquele dia, descobrira que Laurel abusara de sua boa

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vontade. Na verdade, ela deixara avisado para onde ia e fora acompanhada. Mas também sabia que Conor não aprovaria o trajeto até a choupana de Hagatha. Imperdoável.

— Laurel, não saia da torre e não me provoque novamente — advertiu ele em tom glacial antes de sair e fechar a porta.

Laurel caiu de joelhos e chorou. Como Conor podia fazer tão pouco-caso dela? Quando ele pediria uma explicação antes de atacar sem conhecer os motivos? Limpou as lágrimas e abraçou-se. Precisava pensar.

Subiu os degraus rumo às ameias. O que lhe importava o frio, se ela nada sentia?—Veja! — Fergus gritou e Gilroy olhou para cima. — É nosso anjo, certamente

enviado para aquecer a noite fria.Os dois fitaram, maravilhados, a visão branca que perambulava pelas ameias da

torre estrelada. No início, vários homens haviam caçoado quando eles mencionaram o anjo que aparecia e desaparecia como um espírito ao luar. Depois, quando outros testemunharam o fenômeno, o posto deles fora sede de uma aglomeração. E depois o anjo sumira. Até aquela noite.

Gilroy e Fergus sentaram-se e observaram o anjo caminhar suavemente. A luminosidade reduzida por causa da nevasca deixava a imagem difusa, mas parecia que seus braços se moviam mais animadamente do que o normal.

— Ela está dançando? — Gilroy perguntou.— Não sei, é difícil dizer. — Fergus estreitou os olhos.Eles continuaram a contemplar o anjo por algum tempo, mas acabaram por

adormecer.No salão nobre, Lanaghly se esmerava num sermão.— O que foi que lhe aconteceu, lorde Conor? Por que os McTiernay sempre se

exaltam quando se trata das amadas? Primeiro, milorde quase destruiu a fortaleza para ensinar uma lição a seus irmãos. Agora, acusa uma mulher amada por todos, inclusive pelo senhor, de ser egoísta, desobediente e enganadora. Ela é um lindo milagre. Olhe a seu redor! Ouviu os risos? Será preciso outro milagre para admitir que está errado? Lanaghly, assim como os demais, pressupôs que Conor se aborrecesse com Laurel. Mas ninguém imaginara comentários tão ásperos como os que foram ouvidos do corredor. Os que estavam próximos da torre estrelada contaram os fatos para os outros. Brighid soube do que acontecera e voltou ao castelo na tentativa de defender Laurel. Explicou a todos que teriam chegado mais cedo se ela mesma fosse uma amazona mais experiente. O clã começou a se dividir em grupos que apoiavam Laurel ou Conor.

Conor se sentia extremamente infeliz. Depois de sair dos aposentos de Laurel, começara a beber cerveja da despensa. Quando Lanaghly se aproximara, sentiu-se no direito de ficar com raiva da atitude enganosa de Laurel. Fora somente depois que o sacerdote o forçara a ouvi-lo que ele entendera a própria crueldade.

Lembrou-se das últimas palavras de Laurel: "Da próxima vez em que eu sair, será por uma boa causa".

Enterrou a cabeça entre as mãos e compreendeu o significado do vazio lúgubre de seus pesadelos. Ele perderia não apenas Laurel, mas também seu amor. O que ele fizera? Uma nova onda de medo o invadiu.

Conor sabia que abusara da confiança de Laurel e de seu amor, mas teria todo o inverno para reparar o erro. Ele a convenceria a ficar e a perdoá-lo, assim como a persuadira a aceitar o casamento. Se fosse preciso, usaria o estratagema de proteger o avô dela como fator de convencimento.

Loman subiu a escada da torre de vigia até onde se encontravam as sentinelas do turno da noite. Fora uma noite terrível e, pelo visto, o dia seria ainda pior. Nunca vira Conor tão estressado emocionalmente, e tudo o que ele dissera fora por medo. Conor temia por Laurel, tinha medo que ela fosse como as outras e tinha receio de si mesmo. Sacudiu a cabeça ao ver os dois guardas dormindo e cutucou os dois.

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— O que estão fazendo aqui? Vão morrer congelados. Vou trocar a guarda de hora em hora até a nevasca cessar.

— Ei! — Gilroy deu um empurrão em Fergus. — O anjo ainda está conosco!— Do que estão falando? — Loman franziu o cenho.— O anjo que vem nos visitar à noite com o céu estreado, mas que hoje veio com a

neve.— Vocês estão loucos, vamos embora.— Veja por si mesmo. — Fergus apontou a torre estrelada.Então Loman viu os cabelos dourados. — Não se trata de um anjo, seus idiotas! —

Loman começou a correr.Loman nem parou quando viu Conor e Lanaghly saindo do hall. Empurrou-os e

começou a subir os degraus da torre de dois em dois e até de três em três, chegou até a porta dás ameias e teve de golpeá-la para abrir, pois a madeira, expandida com a umidade, emperrara.

Laurel estava encolhida no piso de pedra, congelada. Os cabelos pareciam sincelos colados na pele. Loman a levantou no colo e estava descendo a escada quando encontrou Conor.

Conor viu Laurel nos braços de Loman, e o medo apertou-lhe o coração. Ele a perderia. Loman entregou-a para Conor, que disparou até seus aposentos e deitou-a na cama. Atrás dele, Loman e os outros corriam e gritavam. Em pouco tempo foram trazidos baldes de água quente e cobertores. Pessoas rodeavam Laurel, esfregando seus braços e pernas, mas ela não se mexia. Conor, mudo, segurava-lhe a cabeça e rezava para Laurel não o abandonar.

Após um tempo que pareceu uma eternidade, Laurel piscou. Os lábios continuavam azuis e os olhos, fundos.

— Meu amor, felizmente Loman a encontrou e agora está tudo bem. — Conor beijou-lhe as faces, os lábios e as mãos, gelados.

— Sei que você não quis dizer aquilo — ela murmurou.— Não fale, meu amor.As lágrimas escorriam pelo rosto de Conor. Era como se ela estivesse nas últimas.

As palavras dele lembravam o que era dito aos moribundos no leito de morte.— Não me deixe, Laurel, por favor... — Ele segurou-lhe o rosto. — Não me

abandone. Eu a encontrarei onde quer que você esteja e a trarei de volta. Você é minha, e sem você, serei uma pessoa incompleta. — Ele a abraçou e a embalou, murmurando palavras de amor em seu ouvido.

Os homens e as mulheres continuavam a friccionar os braços, as pernas e os pés de Laurel, rezando. Conor viu Lanaghly e pensou no pior. Não permitiria que o padre desse a ela a extrema-unção.

— Saia daqui, padre, seus serviços não serão necessários esta noite! Deixe-nos a sós.

— Não estou aqui por ela, filho, mas por sua causa. Estou rezando fervorosamente para que essa alma generosa permaneça conosco.

Conor não saiu do lado de Laurel durante horas. A cor normal demorava a voltar, e Laurel continuava muito fria, tremendo sob vários cobertores. Ele acabou mandando todos embora, tirou a roupa de ambos e abraçou-a. Então Laurel começou a melhorar. Os lábios estavam pálidos, mas não azuis. Os dedos dos pés e das mãos começaram a adquirir cor.

Mas o horror prosseguiu quando a febre tomou conta de Laurel e Conor admitiu nunca ter se sentido tão péssimo e fora de controle.

Durante dias, Laurel entrava e saía da consciência, delirando sobre a incapacidade de Conor em confiar nela. E Conor não se afastava.

Uma vez ela acordou, sentou-se e pediu que ele explicasse por que dissera que ela

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o enganara. Conor admitiu que cometera um erro e que não pretendera dizer aquilo. Ela o contradisse e iniciou um discurso sobre a própria infância, confirmando que ele estava certo. Quando tinha cinco anos, encantava a cozinheira propositalmente para conseguir sobremesa extra todas as noites. Havia convencido o chefe dos cavalariços a ensiná-la a caçar e a montar sem sela. Chegara a persuadir o irmão a deixá-la partir da Inglaterra. — Você estava certo a meu respeito, Conor, e ficará muito melhor sem mim. — Depois disso, Laurel voltou a ter febre muito alta e crises de inconsciência. — Ela não pode me deixar dessa maneira — Conor queixou-se para Hagatha, que chegara no dia anterior. A parteira banhou a testa de Laurel com água fria. — Não se preocupe, ela vai melhorar. Aconselho-o a comer alguma coisa, pois quando ela se recuperar, milorde vai precisar de toda a sua energia para convencê-la de que não tentará mudá-la.

No dia seguinte, a febre diminuiu. Laurel estava muito fraca e com a garganta seca, mas Conor animou-se. Laurel tinha a impressão de que fora atropelada por uma horda de cavalos e gemeu ao levantar um braço.

Todos os músculos do corpo doíam e os ossos pareciam quebrados. A cabeça latejava.

— Não se mova, meu amor, apenas me diga o que deseja.— Água... — Laurel notou como ele estava pálido e abatido. — Conor, o que houve

com você?Ele sorriu e sentou-se.— Ele não tem comido nada — Hagatha disse do outro lado. — Durante os cinco

dias em que a menina delirou de febre — ela apontou o polegar para Conor —, esse aí se recusou a comer e praticamente não dormiu.

Laurel estreitou os olhos, procurando focalizar quem falava.— Hagatha... o que está fazendo aqui? Sei que odeia deixar a choupana — Laurel

murmurou e fechou os olhos.— Fico feliz que tenha percebido meu sacrifício — Hagatha brincou.— Preciso de um banho — Laurel falou em voz baixa.— Sabemos disso, mas terá de esperar alguns dias e sem reclamar — a parteira

avisou-a com voz firme. — Bem, pedirei à cozinheira para fazer um caldo.Instantes depois, Conor e Laurel ficaram sozinhos.Laurel virou a cabeça e observou o homem que roubara e retalhara seu coração. Em

pé, junto à janela, ele a observava. Os cabelos estavam emaranhados, as roupas amassadas e não muito limpas.

— O que houve, Conor? Você está com uma aparência péssima.Ele sorriu, chegou perto da cama, sentou-se na beirada, afastou os cabelos de

Laurel para trás da orelha, como gostava de fazer, e disse a si mesmo que ela ficaria curada. Laurel tinha energia para superar qualquer coisa.

— Você foi encontrada no alto da torre, congelada na neve.— Eu me lembro de ter ido até lá para pensar. Estava muito frio e eu quis entrar,

mas não consegui abrir a porta, por mais que eu a empurrasse. Eu gritava e ninguém me ouvia. Pensei que fosse morrer.

— Não fale. — Conor fechou os olhos e abraçou-a. — Nunca mais permitirei que me abandone. Eu a seguirei para qualquer lugar e a trarei de volta para mim. Será tão difícil entender isso? Laurel adormeceu nos braços de Conor. Ele a segurou até Hagatha voltar e exigir que ele fosse comer e descansar. Durante dois dias Hagatha supervisionou a recuperação dos dois. No terceiro dia, ela anunciou que voltaria para casa.

— Obrigada por ter vindo, Hagatha — Laurel agradeceu.— Eu já lhe disse para me chamar de parteira. — Eu sei, mas você é muito mais do

que isso. Você é o bem mais precioso dos McTiernay, — Laurel esticou os braços para abraçar a mulher ruiva.

— Está bem, mas agora terá de ficar na cama até recuperar as forças. Poderá se

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levantar para lavar-se, mas continuará em repouso. Esse tempo frio traz doença para os pulmões das pessoas enfraquecidas.

— Prometo que cumprirei suas prescrições.— Não se preocupe. — Conor pôs as mãos nos ombros de Laurel. — Ela não fará

nada que possa arriscar sua saúde.— Você é pior do que ela. — Laurel fitou-o e afastou as mãos dele, erguendo-se,

pronta para desafiá-lo.— Sim, posso ser.— Pode ser? Você já é!Hagatha deixou os dois discutindo e saiu. Desceu a escada, sorridente, pensando

que Conor e Laurel seriam tão felizes quanto ela e o marido tinham sido. Finalmente os McTiernay haviam encontrado uma dama que os ajudaria a dirigir o clã.

Em cima, Conor e Laurel ainda não haviam notado que Hagatha saíra do quarto.— Laurel, agora procure descansar. — Conor acariciou-lhe os cabelos.— Preciso tomar um banho.— Talvez amanhã. Hoje você já se movimentou demais.— Conor, vou me movimentar ainda mais se tiver de atirá-lo pela janela. — Laurel

tentou levantar-se, mas Conor a impediu, e o esforço a deixou exausta.Conor levantou-a nos braços e deitou-a de novo na cama.— Viu só? Eu lhe disse que você estava cansada.— Eu não estava até você me maltratar — Laurel resmungou. — Conor, entenda,

por favor. Estou me sentindo mal por estar imunda. Eu ficaria bem melhor se pudesse tomar um banho e lavar os cabelos.

— E depois promete se comportar e ficar na cama o resto do dia?Laurel não tinha paciência para aquele tipo de coisa. Raramente ficava doente e

quando isso acontecia, recuperava-se com rapidez.— Prometo.— Está bem. Mandarei preparar um banho para hoje à tarde e, por enquanto, trate

de dormir.Laurel estreitou os olhos diante da arrogância.— Você é intolerável.— Você já disse isso várias vezes. — E de nada adiantou.— Sim, e duvido que a repetição venha a fazer diferença em meus hábitos, mas se

isso a ajuda a se sentir melhor, pode continuar. Conor ajeitou-a na cama e, mesmo cansada, Laurel não desistia.

— Se eu for dormir, você vai comer. Conor sorriu. Sempre que discutiam, ele pensara que Laurel o desafiava para irritá-lo. De repente ocorreu-lhe que se tratava apenas de orgulho ferido. Como ele, Laurel não gostava de aparentar fraqueza. Finalmente ele descobria um dos muitos mistérios de sua noiva.

— Aceito.A concordância de Conor acalmou-a. Ela fechou os olhos e dormiu por algumas

horas.— De maneira nenhuma, Conor McTiernay.— Quer um banho ou não?— Claro, mas não com você me lavando.— Ou eu, ou nada de banho.— E Brighid?— O que tem ela? Laurel estava irritada com a teimosia de Conor.—Isso não é certo! Homens não dão banho em mulheres.— Mas esta é uma situação especial.— Você é o chefe do clã!

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— E você é minha mulher!— Por enquanto, não sou! Sou uma mulher solteira! O que todos dirão se

descobrirem que lorde McTiernay deu banho numa mulher solteira?— Ficarão satisfeitos em saber que supervisionei pessoalmente a saúde da futura

lady McTiernay.Laurel entendeu que não venceria a discussão. Recostado no consolo da lareira,

calmo e descontraído, Conor apenas a observava.— Conor, por favor, não me peça isso!Conor aproximou-se e abraçou-a. Fosse ou não correto, ele cuidaria de Laurel até

ela se recuperar.— Laurel, eu quase a perdi. — Ele beijou-lhe os cabelos. — Pensei nisso quando

você foi à casa de Hagatha e quando Loman a encontrou. E a razão de minha existência desapareceu até você voltar para mim. — Ele segurou-lhe o rosto e olhou-a. — Enquanto eu não estiver totalmente certo a respeito de sua recuperação, agirei de maneira possessiva e pouco ortodoxa. Peço-lhe que seja condescendente comigo.

O beijo que se seguiu confirmou as palavras dele. Demorado e profundo, transmitiu o amor e a paixão que sentia por ela e Laurel correspondeu à altura, apertando-lhe a nuca. Apesar das discussões que teriam, ela sempre o amaria, com a alma e o coração.

Conor levantou a cabeça e sorriu.— Agora, milady, seu banho. — Conor levantou-a no colo e carregou-a até a lareira

acesa.Desnudou-a aos poucos, parando para roçar os lábios na pele que estava exposta.

Laurel adorou a maneira sutil como ele a tocava e sentiu um calor líquido correr por suas veias.

Ele a colocou dentro da banheira e lavou-a com o sabão de lilases. Em instantes, ela esqueceu os motivos por que Conor não deveria banhá-la. As sensações tomaram conta de Laurel, mas não representavam apenas uma excitação sexual, embora o fascínio e a paixão estivessem presentes. Era o amor. Conor a tocava como se ela fosse o bem mais precioso do mundo.

Conor esfregou-lhe os cabelos e Laurel teve vontade de fazer o mesmo com ele. Ergueu-se um pouco na água, agarrou a camisa dele e tirou-a pela cabeça.

Surpreso, Conor maravilhou-se com a perfeição do corpo de Laurel que, molhado, refletia a luminosidade das chamas. Segundos depois, percebeu que Laurel tirara o cinto e que o kilt caía no chão.

— Agora é a minha vez de banhá-lo — ela falou com voz rouca.Tenso e sentindo a própria rigidez, Conor cedeu ao puxão de Laurel e caiu dentro da

banheira. Laurel começou a ensaboá-lo e ele nem se incomodou se depois ficaria com perfume de lilás.

— Ah, amor, você acabará me matando! — Conor baixou a cabeça e tentou beijá-la, mas ela se esquivou e mordiscou-lhe a orelha.

— Como assim?— Se eu não morrer esta noite de tanto desejo, meus homens me humilharão até a

morte amanhã cedo quando sentirem meu cheiro — Conor afirmou e esfregou o nariz no pescoço de Laurel.

Durante meia hora eles se entregaram a brincadeiras sensuais e Conor teve de dissuadi-la várias vezes de consumar o amor deles, alegando excesso de esforço físico.

Quando a água começou a esfriar, Conor tirou Laurel da banheira, secou-a rapidamente e ajudou-a a vestir a camisola. Em seguida escovou os cabelos longos para tirar-lhes o máximo possível de umidade. Depois que Conor a deitou, Laurel adormeceu pensando em tomar outro banho com Conor durante a con-(*) falta parte

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CAPÍTULO IX

Três dias mais tarde, Laurel rebelou-se. Conor exagerava nos cuidados, Deixara uma sentinela de plantão na porta do corredor e escondera os vestidos dela. Quando ele voltou com a refeição, Laurel estava preparada para a guerra.

— O que está fazendo fora da cama? — Conor fechou a porta com o pé.— Tentando sair.— Ameaça sem efeito. — Conor indicou a camisa que ela vestia.Pensando em questões de orgulho, Laurel decidiu concordar com ele no momento,

em vez de se humilhar diante dos outros por estar semidespida.— Você está sendo completamente irracional — ela o acusou.— Só um pouco. — Conor deu de ombros.— Hagatha disse...— Hagatha disse que você teria de permanecer na cama até recuperar as forças.Sereno, Conor tirou as travessas da bandeja e deixou-as sobre a mesa improvisada

que vinham utilizando nos últimos dias.— Conor, você está provocando minha criatividade para eu encontrar uma maneira

de desafiá-lo. E considere-se avisado, pois é o que farei. Sem se impressionar, ele começou a comer um bolinho com manteiga.

— Você entra, e sai deste quarto a seu bel-prazer, enquanto me deixa aqui prisioneira e louca de tédio.

Laurel começou a andar de um lado para outro.— Você poderia confeccionar o vestido de noiva — Conor sugeriu. — Glynis me

disse que você já costurou um vestido.— Um vestido de casamento só é necessário quando alguém vai se casar.— Sim, e você se enquadra nessa categoria. — Eu não!— Engano seu.— Da próxima vez que vier me visitar, eu terei ido embora. Não apenas para longe

deste quarto, mas para longe de você, seu tirano! Conor não gostou da inflexão da voz de Laurel e decidiu mudar de tática. Quando a serenidade não funcionava, o que poderia ser feito? Lembrou-se de Hagatha, que o aconselhara a convencê-la de que não tentaria mudá-la. Deixou o bolinho no prato, apoiou os cotovelos nos joelhos e fitou Laurel.

— Laurel, sou o chefe de um clã e não posso mudar, tenho responsabilidade de zelar por tudo o que se relaciona com nosso grupo. Você me pertence, portanto minhas obrigações a seu respeito são ainda mais rígidas.

—Você não gosta de mim! Sou egoísta e enganadora!— Eu já lhe disse que estava errado. Eu apenas não podia entender por que você

fazia questão de me deixar louco de preocupação.Conor apontou a cadeira em frente para Laurel se sentar e comer. Laurel hesitou

antes de obedecer com pose de rainha.

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— Não foi proposital. Eu não imaginava que fosse me demorar tanto. Além disso, eu teria feito a viagem em muito menos tempo, se você não me tivesse obrigado a ir com uma acompanhante. — Ela partiu um pedaço de pão.

— Sim, mais um motivo para minha indignação. Quando eu soube que Brighid a acompanhava, entendi que era você que a escoltava. Por que não me disse que precisava falar urgentemente com Hagatha? Eu teria mandado um dos soldados acompanhá-la, e assim, além de estar segura, você voltaria bem mais depressa.

Laurel sacudiu a cabeça e algumas madeixas se soltaram da fita que as amarrava.— Não adianta dar nova versão aos fatos, milorde.— Conor. — Ele ergueu as sobrancelhas.— Milorde sabe muito bem que não teria me deixado ir à casa de Hagatha com

ninguém mais a não ser com sua augusta pessoa. — Laurel mastigou uma novidade feita por Fiona, que tinha aspecto ruim, mas gosto excelente.

— Isso se chama haggis e é muito difícil de fazer. Fiona é uma excelente cozinheira e você acertou em contratá-la em tempo integral. Haggis é um prato típico feito com coração, pulmões e fígado de carneiro ou bezerro, picados. Mistura-se com sebo, cebola, farinha de aveia e condimentos, e cozinha-se tudo no estômago de um animal.

Laurel sentiu vontade de vomitar e não conseguiu mais comer nada. Dali por diante, só comeria alimentos conhecidos. Recostou-se no espaldar da cadeira e cruzou as mãos no colo. Quem a visse pensaria numa dama recatada, mas Conor percebeu o olhar tormentoso.

Laurel conseguiu controlar o estômago e procurou corrigir a visão de Conor quanto ao futuro deles.

— Não quero mais brigar, Conor. Não creio que seremos felizes juntos, pois tudo o que fazemos é discutir a respeito das mínimas coisas. Entendo a necessidade de proteger o que é seu, mas você quer me transformar no que não sou. Sou uma dama, mas desprezo muitas regras da sociedade. Tenho de ser livre para cavalgar e para decidir quem precisa de minha ajuda. Se eu não puder fazer isso, a essência que me caracteriza se perderá.

— Então teremos de descobrir uma maneira de satisfazer nossas necessidades sem mudar nosso caráter — Conor comentou, confiante. Inclinou-se para a frente, segurou a mão de Laurel e massageou-a. — Isso é possível Laurel. Meus pais eram teimosos e foram felizes.

— Então? —Terei de encontrar uma maneira para você exercer a liberdade, sem arriscar a

segurança.— Conor, isso é irracional. — Laurel foi até a janela e observou o mundo coberto de

branco. — Eu posso escorregar numa escada e cair, por exemplo. Você não pode me proteger de tudo, e por acaso não lhe ocorreu que eu me preocupo a seu respeito? Você é chefe de um clã poderoso e certamente tem inimigos que procuram uma oportunidade para prejudicá-lo. Nem por isso imploro para você não sair ou deixar de se reunir com outros lordes quando é necessário. — Ela se voltou e encarou-o. — Você não está me proporcionando proteção, Conor, mas confinamento. Não quero ser sua prisioneira, quero ser sua esposa.

— Você quer mais do que isso, como, por exemplo, atuar em áreas de minha competência. Sem me consultar, você toma decisões arbitrárias que colidem com as minhas.

— Essa não era minha intenção, mas também existem outras formas de ajudar, como no cuidado com as pessoas e na preservação do que pertence ao clã. Não entendo de treinamento de guerreiros, mas sei quando um telhado tem de ser consertado... e também sei como consertá-lo!

— Você não pode perambular por aí dando ordens, pois acabaria criando

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perplexidade e divisão de lealdades ao invadir os espaços que sempre foram de minha responsabilidade.

— Qual a diferença entre pedir aos homens para limpar o hall e consertar um telhado de colmo?

Conor levantou-se e foi até a janela.— A esposa do lorde tradicionalmente se encarrega da manutenção e da limpeza do

castelo.— Segundo a filosofia tradicional. Mas se você é o chefe do clã, por que não

determina que eu possa me ocupar com o que está fora das muralhas?Conor ergueu-lhe o queixo com o polegar.— Não dividirei minhas obrigações, que são inerentes a um lorde.— Não quero dividir nada, só quero ajudar. Quero ter liberdade para fazer mudanças

e melhoramentos sempre que forem necessários. Não creio que eu esteja fazendo nada que você não aprovaria.

— Mas esse é o ponto principal. Você não pode tomar decisões que deveriam ser minhas.

Laurel abraçou-o com um sorriso luminoso de quem descobrira um tesouro de grande valor.

— Espere um pouco. Então o problema não está nas decisões, mas sim nas minhas tentativas de fazer mudanças.

— Mais ou menos. — Sentir o busto de Laurel sob a camisa distraiu Conor, mas ele também estranhou a mudança na disposição dela.

— E se eu prometer consultá-lo de agora em diante?Laurel mal continha a alegria. O que lhe interessava era ser útil, e se Conor lhe

concedesse a autoridade, mesmo que fosse caso a caso, seria suficiente.— Como assim? Conor notou que Laurel não se dava conta, do efeito doloroso

produzido pelo abraço. Prometera a si mesmo que não se deitariam juntos até o casamento, mas não conseguia afastar Laurel para não quebrar a promessa. — Por exemplo, o assunto dos telhados das choupanas. —As esperanças de Laurel estavam no auge. — Se eu os inspecionar, falar com você sobre as melhorias e você as aprovar, eu poderei executá-las? A sugestão tinha seus méritos. A autoridade de Conor para decidir seria preservada e Laurel poderia satisfazer sua vontade de ajudar.

— Eu preferiria ser avisado antes da inspeção. Ali estava a solução, Laurel disse a si mesma com alegria, soltou Conor, rodopiou pelo quarto e largou-se na cama. Conor permitiria que ela o ajudasse, além de tecer e limpar o castelo!

— Eu especificarei os trabalhos — Conor acrescentou, angustiado porque a excitação não cedera com o afastamento de Laurel. Ele tratou de se sentar para esconder a evidência. — E meus homens terão de saber que as resoluções foram minhas.

Laurel deu um pulo, jogou-se no colo dele e beijou-o com paixão.— Conor, eu o avisarei antes de qualquer evento que eu estiver planejando!— Você terá de perguntar, não avisar. Laurel franziu o nariz.— Está bem, perguntarei, mas se você negar eu me reservo o direito de discutir o

assunto até obter aprovação.Conor não contestou.— Você terá de ser acompanhada para ultrapassar as muralhas do castelo.Preciso estabelecer novos acordos, Laurel refletiu.— Também quero montar Borrail.— Está certo.— A galope.— Sim, mas sua acompanhante terá de possuir habilidade equivalente à sua para

cavalgar.— Quero mais uma promessa, Conor.

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— Diga.— Não vamos mais discutir como da última vez. Você disse coisas horríveis, que

não eram verdadeiras. Se você tivesse me escutado, nada daquilo teria acontecido.— Está bem, dou-lhe a minha palavra de que sempre ouvirei suas explicações,

mesmo quando estiver furioso com algo que você fez ou deixou de fazer.O sorriso de Laurel poderia ter iluminado todo o norte da Escócia.— Agora sou eu quem deseja uma promessa.— Conor notou o olhar desconfiado de

Laurel. — Nunca mais quero ouvi-la me chamar de milorde, como se você fosse um simples membro de meu clã. Você é muito mais do que isso, Laurel, mesmo quando estiver zangada.

Ela acariciou-lhe os cabelos.— Prometo, Conor.Ele tinha razão. Havia uma maneira de dois teimosos entrarem num acordo e serem

felizes. Era preciso apenas aprender a ceder um pouco. — Obrigada, Conor.Laurel fitou-o com adoração e seus olhos brilhavam como as águas cristalinas dos

lagos das montanhas, e Conor entendeu que faria qualquer coisa para tornar a ter aquele olhar de alegria no rosto dela.

Eles não foram ingênuos em pensar que controvérsias futuras pudessem ser evitadas, mas hão podiam imaginar que a diferença de opinião os atingiria tão depressa,

Primeiro foi a polêmica de quando Laurel poderia resumir as atividades. Depois de palavras acaloradas, ficou decidido que ela poderia sair um pouco durante a manhã. Qualquer outra atividade teria início na semana seguinte, dependendo de seu estado de saúde. A segunda altercação ocorreu no salão nobre, após o jantar, e teve a ver com os arranjos para dormir. Conor se recusou a sair do solário e não aceitou a sugestão de Laurel voltar para o próprio quarto.

— O padre Lanaghly está no castelo!— E o que tem isso? — Conor bebeu um grande gole de cerveja.— Nós não somos casados e isso não seria decente.— Podemos resolver o assunto em poucos minutos, Laurel. Foi você quem

manifestou o desejo de esperarmos pela presença de Cole.— Claro, e eu gostaria que Colin também viesse, mas seria perigoso viajar pelo país

nesta época do ano.— Então escolha. Quer dormir junto comigo sendo casada ou prefere esperar por

Cole?— Conor, você novamente não está sendo racional.— E provavelmente "insuportável". — Ele se levantou, ergueu-a da cadeira e

abraçou-a. — Eu estarei do seu lado à noite, se você tiver uma recaída ou sentir enjôo. — Beijou-a no alto da cabeça.

Laurel retribuiu o abraço e apoiou a cabeça no ombro dele.— Você sabe que já me recuperei e está se baseando em argumentos

inconsistentes.— Essa é uma das vantagens de ser um lorde. — Conor fitou os lábios polpudos.— Ah, perdoem-me, mas escutei a conversa — Lanaghly interrompeu-os da entrada,

como se fosse possível não ouvir os altos brados. — E uma das vantagens de ser padre é a autoridade sobre quem pretende se casar.

Os dois se voltaram para ele.— Lady Laurel está certa em querer se mudar para seu quarto até a cerimônia.

Tenho feito vista grossa desde que ela ficou doente. — Lanaghly levantou o dedo, impedindo Conor de interferir. — Caso contrário, não realizarei o casamento.

Ele se sentia culpado por decepcionar Conor, mas o que era certo era certo.Laurel entendeu que somente vencera a batalha com a intervenção de Lanaghly e

procurou não se vangloriar enquanto voltava para seu quarto.

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Conor, apesar de saber que Laurel estava recuperada, levantava-se várias vezes durante a noite para ver se não houvera recaída.

As duas semanas seguintes passaram depressa. Conor teve muito trabalho, envolvendo os preparativos para o inverno, problemas com os membros do clã e treinamento de guerreiros. Laurel admirou-se pelo acúmulo de solicitações, e no final do dia a paciência dele se esgotava.

A confecção do vestido e os preparativos para o casamento também mantiveram Laurel bastante atarefada. Mas, conforme prometera, ela descansava pela manhã e à tarde.

Assim que pôde sair do castelo, visitou Aileen e Gideon, o bebê que estava bem desenvolvido.

— Quando Cole chegará?—Aileen perguntou, ansiosa pela realização do enlace.— Amanhã ou depois. — Laurel ajudava Aileen a preparar a refeição da tarde.— A capela está pronta?— Em termos. Os bancos foram restaurados e podem ser utilizados. O estofamento

dos assentos foi refeito, com tecido no padrão McTiernay. As coberturas do altar ficarão prontas esta noite. Fallon está aborrecido porque as janelas não serão limpas a tempo, mas Conor não quer adiar mais a cerimônia, mesmo que Cole não chegue até depois de amanhã.

— Você não está ansiosa? — Aileen mudou Gideon para o outro quadril enquanto mexia a sopa que cozinhava sobre a lareira.

— Deixe que eu o segure. — Laurel pegou o bebê. — Claro que sim, mas estou nervosa e espero que tudo saia bem.

— Pelo que Glynis e Brighid andam dizendo, o casamento será maravilhoso e a capela ficará lotada.

— É isso que me apavora. Eu não deveria ter concordado com uma cerimônia desse porte.

— Ou talvez, inconscientemente, você estivesse adiando a noite de núpcias.Muitos especulavam se o enlace não seria uma mera formalidade para Conor e

Laurel.— Pode ser.Laurel não se arrependia do que acontecera entre eles, mas não devia explicações a

ninguém, assim como Conor evitava responder às perguntas de Lanaghly.Os dois dias seguintes voaram. Cole chegara e se divertia com os irmãos,

provocando Conor, o "eterno" celibatário.Deitada na cama ao amanhecer, Laurel olhava para o teto, sorridente. Depois de

duas semanas de grande azáfama, que incluíra organizar o banquete, preparar os quartos e confeccionar o vestido de noiva, chegara o grande dia em que ela se casaria com Conor McTiernay.

Levantou-se e vestiu o penhoar. Minutos depois seu quarto foi invadido por meia dúzia de montanhesas que não pararam de voejar à sua volta, com um banho perfumado e outros preparativos. As mulheres demoraram a entrar num acordo sobre o penteado e as flores, e discutiram sobre os mais variados assuntos.

Depois de algum tempo, Laurel ficou zonza e pediu para todas, exceto Aileen, se retirarem, admitindo estar nervosa.

Não pensara em se casar quando viera para as Terras Altas, mas sim em encontrar um porto seguro junto a seu avô. Muita coisa acontecera desde que saíra do castelo do irmão, e nas últimas semanas a felicidade passara a acenar para ela e Conor, que aprendiam a viver. Muitas vezes receava acordar e descobrir que tudo não passava de um sonho. Ao lado da cama, Aileen olhava o vestido de noiva e os acessórios.

— Esse é o vestido de noiva mais lindo que já vi, Laurel. Você criou uma obra-prima.Laurel sorriu, em pé junto à janela.

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— Não sou eu, mas sim Brighid, quem merece os méritos.Aileen não a contradisse. Brighid era ótima costureira e bordava muito bem, mas

fora Laurel quem desenhara o modelo e executara a maior parte do trabalho delicado. — Vamos, minha amiga, está na hora de se vestir. Nervosa, Laurel não se moveu.

A idéia de desposar Conor trazia satisfação e paz, mas a idéia de tornar-se lady McTiernay a assustava.

Ela se dera conta do tamanho e do poder do clã nos últimos dias. Durante a semana toda, uma procissão interminável de homens vinha cumprimentar Conor, o chefe todo-poderoso. Centenas de guerreiros, dezenas de lordes dos clãs menores e aliados, e um sem-número de montanheses tinham vindo desejar felicidades ao casal. A apreensão de Laurel cresceu quando Finn explicou que Conor poderia reunir facilmente o dobro daquelas pessoas para uma batalha. Sua tropa contava com mais de mil guerreiros. Ela não raciocinara ao aceitar o pedido de casamento, e Conor também não, ao pedir-lhe para casar-se com ele.

Ela fora presa de grande insegurança e perguntava toda hora a Conor se ele estava seguro do que fazia; e ele, todas as vezes, a convencia de que nunca estivera tão seguro de uma decisão.

Laurel afastou a cortina dourada com ansiedade e deixou escapar um suspiro imperceptível, desejando que Conor estivesse ali para tranquilizá-la.

— Laurel? — Aileen chamou-a.— Hum? — ela respondeu, distraída.— Venha se sentar um pouco.— O quê?— Sente-se a meu lado e vamos conversar. Você está nervosa.Laurel se acomodou sobre as pernas dobradas, na poltrona defronte da lareira.— Fale-me sobre a Inglaterra — Aileen pediu, casualmente.Laurel piscou.— Nunca estive lá e tenho curiosidade de saber como é. Laurel deu de ombros e

começou a falar sobre o lar de sua infância. Contou que os montes Cheviots em Northumberland eram reconhecidos como a principal separação entre a Inglaterra e a Escócia.

— Muitos não têm árvores e um vento perene costuma castigar as gramíneas. Eu ficava sentada ali durantes horas, escutando os sons. O Muro de Adriano, construído pelos romanos não conseguiu separar os ingleses dos escoceses. Os dois lados o escalavam ou o ignoravam. A Inglaterra, como as Terras Altas, é rústica e rochosa, e os montes são íngremes. A maior parte da região é constituída por mangues, turfeiras e rios largos. Mas há muita beleza natural, inclusive nos vales verdes e nas praias desertas.

Durante algum tempo Laurel continuou a responder às perguntas de Aileen e acabou por esquecer os receios.

As mulheres retornaram para avisar que todos estavam prontos, menos Laurel.Ela sorriu. Com a ajuda de Aileen, ela não demoraria em se vestir para o grande

momento. Foi até a cama e levantou o vestido.— Milady, nós vamos ajudá-la — Glynis apressou-se.— Permita-me, milady. — Brighid tirou o penhoar de Laurel.Bem mais calma, Laurel não se apavorou com a ansiedade das mulheres que a

rodeavam. Elas vestiram Laurel com um diáfano traje íntimo e depois com o vestido.A túnica era de seda cor de marfim, com bordados feitos por Brighid. O traje interno

era de cetim dourado e com a barra também bordada. O minucioso trabalho de Brighid fora feito com cristais nos punhos, na cintura, mangas e decote, nas cores azul e dourado, para combinar com os cabelos e os olhos da noiva.

A parte frontal da túnica lembrava um corte em "V" que se fechava nas costas entre as omoplatas. As tiras que amarravam as laterais eram douradas.

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As mangas curtas, fofas e bordadas, sobrepunham-se às internas e justas.Nos cabelos soltos, Laurel usava uma tiara de ouro de seis pontas que, séculos

antes, pertencera à família McTiernay. No centro da peça, havia um emblema céltico com cristais azuis, pérolas e prata. Na parte posterior da tiara, fios de contas azuis e douradas se harmonizavam com o bordado do vestido.

Por último, Laurel usou um colar que pertencia à sua família, havia também várias gerações. Era de pérolas branças com uma estrela dourada e flores minúsculas com o pingente central.

Elas ouviram uma batida, e uma mulher bem trajada abriu a porta.— Está na hora? — Laurel sentiu-se nervosa outra vez.— Sim, milady — a mulher respondeu.— Milady, os McTiernay estão muito orgulhosos — Glynis afirmou com lágrimas nos

olhos.As mulheres ergueram a cauda do vestido para que não arrastasse no chão, na

descida da escadaria. Quando chegou ao lado de fora, Laurel notou que havia uma multidão de montanheses espalhados pelo pátio, sobre as muralhas e nas ameias. Na capela não caberia nem metade dos homens e mulheres que haviam abandonado seus castelos e casas para se aventurar numa viagem em meio ao inverno rigoroso.

Emocionado, Finn se aproximou para escoltar Laurel até a capela.— Milady está maravilhosa e eu me pergunto como não notei sua beleza quando a

vimos pela primeira vez. Felizmente milorde foi mais perspicaz.— Mas isso é porque você tem Aileen como esposa. Ele anuiu e, com expressão de

amor e orgulho, fitou Aileen, que ajudava as outras mulheres a segurar a cauda do vestido.

Na verdade, homens e mulheres se deslumbravam com a formosura de Laurel e não se cansavam de comentar o fato.

Os guerreiros que ladeavam o caminho para a capela levantaram as espadas para saudá-la, sendo imitados pos todos os soldados do castelo, e o gesto de respeito comoveu Laurel. Ela se aproximou da entrada da capela e recriminou-se. Era preciso parar de apertar o buquê de ervas e flores que carregava. As mulheres haviam tido muito trabalho para selecionar as que simbolizavam fidelidade e proteção espiritual.

Conor ria com os irmãos, mas assim que Laurel entrou na pequena igreja, ficou sem fala diante da mulher deslumbrante que vinha em sua direção.

Naquela manhã ele resolvera dar um bom galope para desanuviar a mente. Era o dia de seu casamento e ele sempre rejeitara aquela idéia. O passeio solitário não acalmara seus pensamentos, que se assemelhavam a um turbilhão.

Então fora procurar companhia no hall, que fazia muito tempo não freqüentava, por causa do mau cheiro. Com a reforma, porém, o local se tornara agradável e seria interessante tomar um pouco de cerveja com os companheiros.

Conor bebia com os soldados mais jovens e falava sobre batalhas gloriosas, quando Fallon e Finn o encontraram. Eles o seguraram pelo braço e o levaram à torre norte.

Antes de subir a escadaria, Conor desvencilhou-se.— Para onde estão me levando? Finn começou a subir. — Milorde, seria melhor se... milorde? — Finn voltou-se e fitou Conor que estava

parado e com os braços cruzados na altura do peito.— Por acaso estão bêbados? — Conor fitou-os com severidade. — Para onde

pretendem me levar?— Estamos indo para o solário da torre, é evidente — Fallon respondeu.— Pois eu prefiro meus aposentos, obrigado — Conor respondeu, irritado, e não

saiu do lugar.— Respeito sua preferência, milorde, mas agora não o deixaremos chegar nem nas

proximidades — Finn afirmou, inflexível. — Creio que será melhor seguir Fallon.

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Conor fez uma carranca que levou Pinn a se explicar.— Milorde é o poderoso chefe de nosso clã, mas sua noiva está se aprontado na

torre estrelada, e Aileen foi muito clara. Se milorde puser a ponta do pé naquela parte do castelo, eu terei uma morte lenta e dolorosa. Portanto, a menos que milorde pretenda enfrentar Aileen, Glynis, Brighid e mais meia dúzia de mulheres dispostas a tudo, será melhor desistir. Nós pegamos suas roupas, que estão lá em cima junto com um banho quente à sua espera.

Os dois se entreolharam por um longo momento até Conor resolver subir em silêncio a escada da torre norte, rumo ao solário. A tensão que o envolvia era inegável.

Depois do banho, ele dispensou todos e deitou-se para pensar. Por que estaria tão nervoso? Laurel e ele vinham se entendendo muito bem nos últimos dias. Nada havia a temer.

Passou a mão nos cabelos e levantou-se, disposto a se vestir. A porta foi aberta e Finn entrou.

— Milorde?— Sim?— Seamus está lá fora. Milorde mandou chamá-lo?— Mandei.— Posso ajudá-lo em alguma coisa?— Não, mande-o entrar e depois verifique se tudo está pronto lá embaixo.Finn estranhou o comportamento de Conor, mas saiu para fazer o que ele pedia.Conor falou com Seamus e ficou mais aliviado depois de obter a concordância do

outro. Sua promessa logo seria cumprida, mas ele não se sentiria em paz até ver Laurel novamente.

Naquele momento, ao ver Laurel, Conor esqueceu a frustração, as preocupações e as responsabilidades. Seu coração disparou, e ele sentiu um orgulho imenso diante da beldade que se tornaria sua esposa. E também uma vontade ridícula de afastar todos os homens da capela e do castelo. Não havia mulher que se comparasse à beleza de Laurel. Era um verdadeiro anjo enviado dos céus para salvá-lo do isolamento e da solidão. Seu único objetivo de vida seria fazê-la feliz.

Laurel fitou o homem que se tornaria seu marido e seu medo se dissipou. Ela não via o poderoso lorde McTiernay, mas apenas Conor, seu amado e protetor. Com ele, aprendera a confiar. Não teria de contar com suas habilidades para sobreviver e poderia dedicar-se a amar seu atraente montanhês.

Laurel encontrava-se extremamente ansiosa quando Conor e ela deixaram a recepção suntuosa e foram para o solário da torre estrelada. Estivera nervosa a noite inteira e a emotividade aumentava com as danças, os brindes e os beijos de felicitações.

Ela rira quando Aileen sugerira ser a noite de núpcias ò motivo de apreensão. Era uma noção ingênua, pois Conor e ela já eram íntimos. E saber o que a aguardava não a descontraía, deixava-a excitada. Imaginava se o amor deles continuaria a ser intenso e poderoso como antes. A última vez fora um produto de paixão resultante de uma briga.

Ela passara a noite toda pensando como seria. Naquele momento, nos braços de Conor, que trancava a porta, ela ainda se lembrava da cerimônia e da comemoração posterior.

Conor vestia uma camisa branca e a manta com as cores dos McTiernay. A camisa estava amarrada na altura dos joelhos com um cinto de couro que também segurava a manta.

Laurel nunca vira homem mais sedutor.Os irmãos e a guarda de honra usavam trajes semelhantes. Todos traziam a espada

que servira para criar um arco por onde Conor e ela passaram e voltaram do altar.Laurel lembrava-se de poucas coisas ocorridas no enlace e uma delas era a

cerimônia do quaich. O quaich era uma espécie de copo que simbolizava a união dos

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noivos e de suas famílias. Cole pôs água em dois cálices de prata que ostentavam o emblema dos McTiernay. Depois ela e Conor despejaram simultaneamente a água dos cálices num belo quaich e dele beberam à felicidade presente e futura.

Havia vários quaich no salão nobre, destinados a oferecer conhaque e uísque para os visitantes, embora o costume fosse trazer os próprios recipientes. Como a maioria dos quaich, o que fora reservado para eles era amplo, raso, feito de madeira e com duas pequenas alças de prata cinzelada que caracterizavam a peça e se projetavam horizontalmente e em sentido oposto. Aquele não era de madeira lisa e fora feito com aduelas leves e escuras amarradas com vime e metal. No centro do recipiente, onde as aduelas se encontravam, uma moeda com o emblema dos McTiernay escondia o arremate.

Os escoceses, inclusive seu avô, acreditavam que no dedo médio da mão esquerda havia uma veia que chegava direto ao coração. Laurel recordou-se de Conor deslizando a aliança de ouro em seu dedo, enquanto falava sobre o amor que os unia e do compromisso que assumiam. O restante da cerimônia, inclusive a proclamação dos votos, parecia um borrão. Quando deixaram a capela, uma fatia fina de pão foi jogada em sua cabeça e as mulheres correram para pegar as migalhas. Laurel ficou sabendo depois que o pão simbolizava a fertilidade, e as migalhas eram consideradas como amuletos de boa sorte.

Se todas as tradições e simpatias funcionarem, Conor e eu teremos um batalhão de filhos, Laurel concluiu.

A recepção fora bastante animada. Laurel se lembrava de ter dançado com muitos convidados e de ter dado muita risada com as momices dos cunhados.

Fiona se superara. O banquete fora esplêndido e elogiado por todos. A cada minuto ecoavam brindes a Conor, a ela e a ambos. De repente, quando se viu em meio a um grupo animado de montanheses, Conor a levou para fora do salão nobre.

— Você não vai me deixar no chão? — perguntou enquanto Conor a carregava escada acima.

Ele não respondeu e continuou a marcha rumo aos aposentos dele. Fora incapaz de respirar normalmente desde o instante em que vira Laurel entrar na capela. A mulher de seus sonhos se casaria com ele e, por várias vezes, se sentira tomado pela emoção. Em pouco tempo, Laurel se tornara a pessoa mais importante de sua vida. Naquelas poucas semanas, eles haviam aprendido a confiar, a ouvir e a contar com o apoio um do outro.

Conor trancou a porta, pôs Laurel em pé e acariciou-lhe o rosto e os cabelos. Ela era certamente a mais bela mulher da Escócia, opinião que era compartilhada por todos que falavam com ele. Conor procurou não reagir ao ciúme que o atormentara a noite inteira, mas admitiu que sua resistência chegava ao fim quando um soldado da guarda de lorde Schellden levantou Laurel em uma dança alegre. Uma solução seria estabelecer uma norma que obrigaria qualquer homem a manter uma distância mínima de dois metros de Laurel.

Conor abraçou Laurel e inspirou a fragrância dos cabelos dela que o atormentava desde a primeira vez em que haviam feito amor.

— Eu a amo, lady McTiernay — Conor afirmou, emocionado.— Eu também o amo, Conor — Laurel respondeu, radiante de alegria.O nervosismo de Laurel desapareceu e ela abraçou o pescoço do marido quando

ele a brindou com o primeiro beijo da noite,Conor esqueceu-se do mundo ao tocar nos lábios suaves e complacentes, e Laurel

se rendeu de imediato. Ele segurou-lhe o rosto e continuou o beijo lento e sedutor que a deixou ainda mais ansiosa. Laurel estremeceu, mas não se afastou. Conor, excitado, continuou a beijá-la e a brincar com os lábios abertos, sugando-lhe a língua.

Ela gemeu e tentou apressar o intercurso sexual, mas Conor recusava-se a acelerar qualquer coisa naquela noite. Conor beijou-lhe as faces, a testa e a orelha que passou a

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mordiscar.A garganta de Laurel contraiu-se de desejo.— Tive a impressão de que nunca mais ficaria a sós com você — Conor murmurou

ao beijá-la novamente na boca.Conor brincou com o lábio inferior de Laurel, abraçou-a com força e intensificou o

beijo. Ele experimentou do calor da boca tentadora e passou as mãos nas costas de Laurel.

Ela sentiu amolecer as pernas e somente se manteve em pé porque Conor a amparava. Estremeceu quando ele lhe beijou o pescoço e os ombros. As carícias suaves eram tão poderosas quanto as mais intensas.

— Prometa-me, Conor que nunca se afastará de mim.Conor acariciou-lhe a face com os nós dos dedos.— Prometo, meu amor. — Os olhos cinzentos brilhavam de amor, possessividade e

desejo. — Você será minha para sempre e eu serei seu para toda a vida.Ele deslizou os dedos pela nuca e por dentro do vestido de Laurel e voltou a beijá-la,

provocando-a com os lábios e a língua. Laurel buscou o interior da boca de Conor e rodeou a língua na dele.

Conor removeu a tiara e o colar de Laurel e deixou as peças na mesa próxima da janela. Abaixou-se e tirou-lhe as sapatilhas, acariciando os pés. Toda vez em que encostava na pele de Laurel, seu desejo aumentava.

Laurel jamais imaginara aquela ansiedade para tocar num homem. Impediu-o de tirar o vestido de noiva, segurou-lhe as mãos, beijou-as e abaixou-as, e sorriu ao notar a curiosidade de Conor.

Ela mordeu o lábio inferior, sem acreditar na própria coragem, e tirou a túnica e a manta de Conor. Com timidez, soltou a fivela do cinto de couro para puxar a camisa. Apesar de muito próximos, Laurel encostava nele apenas as pontas dos dedos. Conor irradiava uma vitalidade masculina e primitiva que fez Laurel hesitar.

Os toques leves, a respiração de Laurel em sua pele, a visão do busto arfante, causavam em Conor um sofrimento delicioso, e ele desejava mais.

— Não pare, meu amor — ele pediu diante da indecisão.Laurel não o olhou, ou não seria capaz de continuar.Enquanto lhe tirava o cinto, Laurel procurou não tocar em Conor, mas seus dedos

roçavam nele como asas de borboleta sobre a camisa que ele ainda vestia. Incapaz de se conter, Conor segurou-lhe o rosto entre as mãos, curvou a cabeça e beijou-a para revelar, dessa vez, o desejo e a paixão que o haviam invadido quando ela começara a despi-lo.

Ela abriu a boca e o recebeu com movimentos voluptuosos de língua.Laurel colou-se em Conor, tremendo, e agarrou-se nos cabelos dele. Antes de

conhecer Conor, ela ignorava o que era beijar, ter paixão e desejo por alguém. Naquele momento ela se encontrava num inferno de desejo, pronta para irromper em chamas. Era assombroso.

Conor pressionou o busto de Laurel de encontro ao peito, desabotoou as costas do vestido, soltou as mangas e passou a beijar-lhe o rosto.

Laurel sentiu o vestido escorregar brandamente até o chão e ficou apenas com a camisa diáfana.

Conor beijou-lhe o busto por cima do tecido transparente e Laurel estremeceu.— Você é tão linda... — ele murmurou, encantado.Laurel prendeu a respiração e agarrou-se nos ombros de Conor, entregando-se ao

delírio.Conor provocou o mamilo com movimentos circulares de língua e o estímulo intenso

fez Laurel imaginar que não suportaria mais nada. Com cuidado, Conor acariciou-lhe as pernas, levantou a camisa e tirou-a pela cabeça.

Mesmo nua diante de Conor, Laurel esqueceu a timidez e a vergonha.

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— Ah, Laurel, você é deliciosa. Conor acariciou-lhe cada centímetro de pele exposta, decidido a não deixar nada inexplorado.

Laurel tremia de maneira incontrolável. Conor sorriu com amor e paixão e tomou-a nos braços.

Ela fechou os olhos, adorando a força de Conor que atravessou o quarto carregando-a nos braços e a deitou na cama, Ele tirou as peças de roupa que os separava e deitou-se a seu lado.

— Seus olhos agora parecem azul-escuros — ele sussurrou.— Pensei que fossem verdes. — Laurel entrelaçou os dedos nos cabelos escuros de

Conor.Durante um jantar, havia poucos dias, ele dissera que os olhos de Laurel eram

verdes da cor do mar. — Sim, eram, mas eles mudam de cor conforme sua disposição de ânimo. Laurel, você é muito linda, no entanto sua beleza não é apenas física, mas também espiritual. Cheguei a acreditar que ficaria sozinho, sem .supor que pudesse encontrar alguém como você. Uma pessoa que, além de se preocupar com o próximo, ainda tem fibra e determinação necessárias para sobreviver nestas terras. E agora que a conheci, nada haverá de nos separar.

— Eu te amo, Conor. — Lágrimas desceram pelo rosto de Laurel. — De todo o coração e para sempre.

Conor acariciou-lhe os lábios com os dele e estendeu-se sobre ela, sem, no entanto, largar o peso do corpo. Ele passou as palmas nos bicos róseos até endurecê-los. Com o coração batendo forte, Conor fez uma trilha de beijos do pescoço até o vale entre os seios e tomou um dos mamilos na boca. Acariciou-o com a língua, apertou-o entre os lábios e sugou-o.

Laurel começou a se contorcer com violência. — Conor! Não suporto mais! — ela gritou e agarrou-se nos lençóis.Conor separou com a perna os joelhos de Laurel e passou os dedos ha parte interna

da coxa, provocando choques no corpo de Laurel. Ela sentia o baixo-ventre apertado e o calor entre as pernas aumentar.

Ele ascendeu os carinhos até o monte-de-vênus, mas ali não se deteve, apesar de Laurel arquear o corpo, querendo mais. Em vez de a satisfazer com os dedos como acontecera antes, Conor massageou-lhe o busto até Laurel perder a noção do mundo e gritar várias vezes o nome dele.

O controle de Conor estava a ponto de se desfazer. Ele beijou o espaço entre os seios e sentiu o gosto salgado da transpiração. Mordiscou e lambeu os bicos endurecidos, alternadamente, depois os sugou.

Laurel, desesperada, arqueava o corpo e se contorcia, mas Conor continuava a sucção e as lambidas, fazendo Laurel tremer sem parar. O prazer que Laurel sentia era extraordinário e se assemelhava a um sofrimento. Ela imaginou que explodiria, se Conor demorasse mais um pouco.

— Conor, por favor! — ela implorou.De súbito, Conor umedeceu os. dedos no calor líquido de Laurel e provocou-a com

impulsos suaves que simulavam uma relação. Laurel escondeu a cabeça no ombro de Conor e tremeu violentamente.

Ele aumentou a intensidade dos movimentos até Laurel ter certeza de que seria consumida pelo fogo do desejo. Ela se arqueou para trás e o remoinho de ânsia cresceu até o mundo explodir em chamas enquanto espasmos a sacudiam.

Conor penetrou-a, mergulhando no doce canal estreito, quente e úmido, e quase se satisfez na entrada. Laurel voltou à Terra quando o sentiu dentro de si. Conor esperou alguns instantes para o corpo de Laurel se acomodar com a masculinidade pujante. Em seguida segurou-a pelos quadris e instigou-a num ritmo pleno de paixão. Como da primeira vez, Laurel se amoldou a ele, aceitou-o e distendeu-se para acomodá-lo, como

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se fosse feita exclusivamente para Conor. E daquela vez Conor pode penetrar mais fundo e com maior energia.

Laurel agarrou-se nele, ergueu o corpo e rezou para Conor acelerar o ritmo cada vez mais.

De súbito, os céus se abriram numa explosão, Conor retesou-se e desmoronou num prazer intenso, sentindo Laurel alcançar o êxtase junto com ele. Conor imaginara que eles teriam satisfação extrema por toda a vida, mas não esperava que fosse daquela maneira. Teve a impressão que o corpo e a alma de ambos haviam se encontrado em outra dimensão. Bem mais tarde ele se sentiu de volta ao castelo, ao solário e à cama.

Ele estava de costas e Laurel, aconchegada em seu ombro, tinha os cabelos espalhados no travesseiro. Um sentimento profundo e terno de afeição o envolveu.

Laurel suspirou ao ser beijada com doçura e experimentou o coração intumescer com tanto carinho. Naquele momento ela teve certeza do amor imperecível de Conor.

Com Laurel, Conor experimentara uma sensação de identidade subjacente que somente acontecia com almas gêmeas. Em silêncio, eles deram provas de amor com beijos suaves e carícias leves.

Eles passaram a noite partilhando corações e almas, trazendo prazer um ao outro, várias vezes, até adormecerem de exaustão, abraçados.

Laurel acordou na manhã seguinte e espantou-se ao ver Conor, normalmente madrugador, ainda deitado.

Desperto há algum tempo, Conor sentiu Laurel se mexer. Embora soubesse que seus homens o aguardavam para começar os torneios, não conseguia sair do lado de Laurel. Reconheceu que jamais se sentira tão completo, isso porque Laurel se casara com ele não apenas diante da Igreja, mas pelo coração.

— Bom dia. — Ele sorriu, virou-se de lado e beijou-a.Laurel estremeceu e encolheu os dedos dos pés.— Bom dia, lorde McTiernay — ela respondeu, sonolenta, estirando os músculos, e

um pouco dolorida pelos excessos da noite anterior.— Como está se sentindo, senhora minha esposa?— Abençoada. Eu me casei ontem, sabia?— É mesmo?Ela deu um sorriso luminoso e apontou um dedo no peito dele.— Eu lhe disse que me casaria com um escocês e não com um britânico.— Disse, mas afirmou também que não seria qualquer escocês.— Ah, sei. Ele teria de ser atencioso e cavalheiro... como você.Conor mordiscou-lhe a orelha.— Creio que você disse "bem-educado" também.— Bem... você é bem-educado... às vezes. Mas quando eu me apaixonei por você,

entendi que teria de fazer concessões.Conor apoiou-se num cotovelo e fitou-a.— Como assim?— Aceitar que você é um gigante.— Não. Sou um cavalheiro de tamanho normal.— Aceitar que você grita.— Sim, mas meu castelo não está mais sujo nem desorganizado. — Conor fingiu

que a façanha era dele.— Está vendo? É uma concessão. Eu consegui um marido atencioso com um

castelo limpo. E por isso terei de aprender a viver com um gigante que berra e...Conor interrompeu-a com outro beijo e rolou-a para cima dele. E antes que o

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momento se estendesse, Conor afastou-se.— Tenho de ver meus homens. — Ele não se mexeu.— E, eu também tenho algumas tarefas — Laurel comentou, sem nem mesmo tirar

uma madeixa de cabelos que lhe incomodava o nariz.— E o que está planejando fazer hoje, senhora minha esposa?— Bem, vê-lo ganhar no torneio está na minha lista de tarefas. — Ela o fitou com

malícia.— Está apostando que eu vou ganhar? Laurel sentia-se um diabrete.— Pode ser, mas Finn é muito experiente, assim como também são outros

guerreiros fortes e grandes.De súbito, Laurel viu-se de costas e embaixo de Conor.O olhar dela refletia alegria e o de Conor, o amor infinito que sentia pela esposa.

Sem dizer nada, os dois entenderam que os planos do dia teriam de ser adiados.Um pouco mais tarde, eles se deram por satisfeitos, Conor beijou Laurel, saiu da

cama e vestiu-se.Enquanto ela trocava de roupa, Conor abriu uma arca de tamanho considerável è

procurou alguma coisa lá dentro. Depois endireitou-se, trazendo um objeto na mão. Aproximou-se de Laurel, ajudou-a a prender a manta pregueada e entregou-lhe o broche de ouro e prata que ela usara naqueles dias.

— Ele pertenceu à minha mãe. Antes foi de minha avó e de minha bisavó e assim por diante. Sempre foi entregue à futura lady McTiernay dias antes de ela se casar. Sinto muito que tenha sido Brighid e não minha mãe quem o entregou a você.

Laurel fitou o broche em formato de coração e Conor virou-o. Laurel nunca vira a gravação no verso, porque Brighid era quem prendia a peça.

Meu coração é teu porque te amo.Laurel não conteve as lágrimas. Glynis dissera que os McTiernay sempre haviam se

casado por amor, que continuara preservado dentro das muralhas daquele castelo.— Obrigada, Conor. Guardarei o broche como um tesouro e o entregarei à noiva de

nosso filho.Os jogos montanheses começaram quando Conor chegou ao local dos torneios.

Apesar do frio, as justas daquele dia não seriam diferentes das que eram efetuadas no começo do outono. Robert Bruce era amigo de Conor e um patrocinador ativo dos torneios, tendo prometido estabelecê-los com regularidade num futuro próximo.

Como um grande número de clãs havia viajado de longe para congratular-se com Conor pelas bodas, improvisou-se uma série de sessões de jogos. Durante todo o dia haveria contendas para determinar os melhores clãs guerreiros e finalmente o melhor soldado. Alguns ventos exigiam força bruta, e outros, perspicácia.

Várias mulheres estavam reunidas no lado mais alto dos campos e observavam os jogos, sentadas em suas mantas. Laurel estava ao lado de Aileen, Brighid e Glynis.

— Vejam, ali está Cole! — uma jovem gritou atrás delas. Outros gritos se sucederam quando Craig e Crevan apareceram. Laurel observou

Conan e Clyde manobrarem os cavalos dos soldados McTiernay e carregarem orgulhosamente os itens necessários ao evento. Ela sorriu e acenou para os rapazes.

Uma das disputas consistia em atirar uma pedra pesada que fora tirada do leito do rio. Em outra se usava um cajado enorme com uma ponta de ferro. Conor e Finn lideraram os McTiernay através de uma série de jogos que incluíam atirar pedras, saltar com varas, pulos altos, gealruith, que eram três pulos, gaelbolga, que comparava a habilidade de atirar dardos, e o rothcleas.

Neste último, muito excitante, o participador tinha de se virar e atirar um eixo de carroça com uma roda anexa. Para isso não apenas era necessário ter força, mas também equilíbrio, coordenação e firmeza, que só se conseguiam com a experiência,

No final do dia, os McTiernay eram os prováveis vencedores e Conor o mais bem

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colocado de todos. Mais tarde, no salão nobre, Laurel achou graça quando os outros chefes de clã disseram para Conor divertir-se com as vitórias, pois no outono seguinte seria diferente. Afirmaram que Conor somente ganhara naquele dia por eles terem vindo com poucos soldados, sendo que os mais fortes e talentosos tinham ficado para proteger as terras. Conor, por cortesia, respondeu que o resultado teria sido diferente se todos os homens tivessem vindo para participar.

— Mesmo que tivessem trazido até o último guerreiro — Laurel cochichou ao ouvido dele —, você ainda ganharia e por larga margem.

Conor sorriu e beijou-a apaixonadamente diante de todos, para que ninguém duvidasse de seu amor pela esposa.

Mais tarde, quando as festividades estavam terminando, Laurel levantou-se.— Vá na frente, amor — Conor encorajou-a. — Eu irei em seguida.Depois que Laurel saiu, Conor aproximou-se de Loman e Finn, que bebiam cerveja

perto de uma das lareiras.— Milorde! — os dois exclamaram.— Seamus já partiu?Naquela manhã ele informara seu plano a Finn e Loman, que haviam expressado

uma concordância entusiástica. Afirmaram que se tratava de um passo inteligente e necessário para assegurar o futuro de Laurel.

— Sim, como milorde ordenou. Saiu pela manhã, aborrecido por não participar dos torneios.

— Ele terá outras oportunidades de fazer isso.— Mas nenhum será como o de hoje. Nossos homens demonstraram os resultados

do treinamento intensivo.— Seamus saiu cedo?—Bem antes do almoço. Como as terras dos Maclnnes ficam ao sul, ele voltará

somente na primavera, depois do degelo da neve de inverno.— Ele ficará abrigado na fortaleza de Maclnnes.— Esperemos que sim, apesar da mensagem sucinta que milorde enviou — foi o

comentário de Finn. — A ordem de não falar nada além do prescrito pode não ter resultado agradável para Seamus.

— Seamus é um guerreiro, não uma mulherzinha.— Sim, mas é também muito fiel a lady Laurel, e se ouvir uma palavra contra ela,

não entregará a mensagem.Eles conversaram sobre outros assuntos antes de Conor retirar-se para seus

aposentos. No caminho, rezou para ter feito a coisa certa. Afinal, mandara Seamus com uma comunicação enigmática que lhe parecera a maneira mais viável para assegurar a vinda imediata de Maclnnes. Finn estava certo, Maclnnes ficaria furioso, principalmente com a demora de Conor em mandar avisá-lo.

No entanto, teria de retardar as informações sobre o paradeiro de Laurel. Somente naquela altura, depois de Laurel casar-se com ele diante de Deus, de um padre e de seu clã, lhe parecera o momento oportuno para informar ao avô que a neta estava viva.

CAPÍTULO X

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Os meses seguintes foram uma bênção de tranqüilidade para Laurel. Conor e ela haviam desenvolvido uma rotina em que os dias passavam sem maiores complicações. Os dois aprendiam a confiar um no outro e a resolver os problemas diários sem discutir.

Cada vez mais, Conor passava a depender de Laurel para informá-lo sobre o que deveria ser feito para seu povo, e ela tornou-se capaz de diferenciar o que era realmente necessário do supérfluo. Em poucas semanas, ajudava-o a organizar as prioridades no que os aldeões solicitavam, nas requisições dos soldados e nas reformas do castelo.

Então tudo mudou numa manhã que começara como o melhor dia da vida de Laurel, quando ela soube que estava grávida. Nunca fora regular, e um mês de ausência de fluxo não constituía surpresa. Até o busto maior e mais sensível pareceu-lhe um resultado da freqüência com que faziam amor.

E só quando Hagatha veio visitá-la, Laurel descobriu a verdade.Hagatha gargalhou quando Laurel contou a ela o que imaginava. As duas

encontravam-se no salão nobre, temporariamente separado por uma parede que dividia o aposento em duas partes. No recinto aconchegante, estavam sentadas em poltronas grandes diante de uma lareira. O calor era convidativo e todos que ali entravam podiam se descontrair e levantar os pés.

— Não precisa caçoar — Laurel respondeu com uma risada. — Como é que eu poderia saber?

— Serão todas as inglesas tão distraídas? Excitada com a novidade, Laurel nem se fingiu de ofendida.

— Um bebê. — Laurel sorriu. — Para quando?— Pelo que me contou, pode ser em abril ou maio. Preciso de mais algum tempo

para informá-la com maior certeza.— Você virá me atender, não é?— Nem um bando de lobos poderia me afastar do primeiro filho de lorde McTiernay.Laurel apertou a mão da parteira.— Muito obrigada, Hagatha. Eu sou a mulher mais feliz do mundo.— Eu lhe disse que os dois haveriam de encontrar uma maneira de viver em paz.— Você estava certa.— E trate de não se esquecer disso mais tarde, se pretender livrar-se de mim como

Aileen fez.As palavras de Hagatha tiveram o efeito de um balde de água fria em Laurel. Ela

ficou nervosa quando outras lembranças retornaram e afetaram sua alegria.Ela se parecia fisicamente com a mãe. Tinha a mesma altura, a mesma constituição

física e a mesma cor da pele, mas sua mãe mal tivera forças para trazê-la ao mundo, e morrera no parto do menino. Talvez Laurel também não pudesse trazer um filho ao mundo e existia uma grande probabilidade de ela morrer também.

— Hagatha, prometa-me que não me abandonará, haja o que houver — implorou, preocupada. — Preciso ter certeza de que, independentemente do que os outros digam, você estará aqui para salvar meu bebê.

Hagatha reconheceu a aflição extrema de Laurel e procurou acalmá-la.— Sim, minha filha. Estarei a seu lado e cuidarei do bebê, sob quaisquer

circunstâncias.— Muito obrigada, Hagatha. Você não imagina o quanto essa certeza significa para

mim.Hagatha olhou-a com seriedade.— O que aconteceu, filha?— Por que a pergunta?— Eu tenho visto que os temores poucas vezes a atingem, mas a idéia do parto

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parece aterrorizá-la. Isso é comum nas mulheres, mas não em lady McTiernay. Diga logo do que se trata, para eu poder ajudá-la.

— Minha mãe não resistiu ao dar à luz meu irmão, e quando a parteira chegou, os dois estavam mortos — Laurel explicou com os olhos marejados. — Eu nasci de um parto muito difícil e ela nem deveria ter tentado mais. Meu pai nunca se recuperou da tragédia.

Hagatha testemunhara casos tristes e também ouvira falar de outros tantos durante sua longa experiência como parteira. Era o lado obscuro dos nascimentos que ninguém comentava.

— Escute, minha filha, não a deixarei morrer. Não permitirei que nada lhe aconteça, nem ao filho de milorde. Fique tranqüila, lorde McTiernay não a perderá. — Hagatha foi enfática para convencer tanto a si mesma quanto Laurel.

As duas se levantaram e, abraçadas, saíram do salão em busca de Fiona e das ervas que Hagatha precisava. Ao chegarem ao pátio, Hamish surgiu a galope.

— Hamish, que satisfação em encontrá-lo! Há quanto tempo não o vejo. O que houve... — Laurel notou o medo na expressão do soldado e intuiu que se tratava de Conor. — Hamish, o que aconteceu?

O homem hesitou.— Não! — O pavor tomou conta de Laurel. Hagatha segurou Laurel e impediu-a de

cair.— Hamish, fale logo, homem!— Milady, venha comigo! — Hamish pediu. — Depressa! É Conor!Laurel começou a correr quando escutou um grito atrás de si.— Não! — Hagatha agarrou-a. — Nem pense em correr ou andar a cavalo como

fazia antes! E muito perigoso. Eu verei do que se trata.Hagatha notou a tormenta que sombreava a expressão de Laurel e virou-a pelos

ombros.— Eu lhe prometo que tudo dará certo. Ele ficará bem, e eu não vou passar a vida

escutando que algo aconteceu com a mulher e o filho dele. — Ela sacudiu Laurel de leve até ela anuir. — Vá preparar o quarto de milorde. É provável que tenha sido ferido levemente por uma espada ou algo parecido, nada mais. Agora vá!

Em seguida, Hagatha afastou-se, apressada.Hagatha estava certa. Conor fora ferido, mas não com gravidade. Um soldado

inexperiente perdera o controle da espada numa disputa próximo ao local onde Conor conversava com Finn. O ferimento fora profundo, mas ele haveria de se recuperar sob os cuidados de Hagatha e Laurel.

Laurel passou as primeiras noites fazendo curativos e atenta a um possível estado febril que, felizmente, não ocorreu.

— Minha filha, é preciso dormir ou acabará doente.— Não se preocupe, Hagatha, eu descansarei.Laurel acariciou a testa de Conor enquanto ele dormia. Ainda não contara a Conor a

novidade sobre o bebê, esperando o momento oportuno para os dois se alegrarem. E quando ela o fez, a ocasião ficou muito longe do interlúdio romântico que ela imaginara.

No início, ele estava fraco demais para discutir sobre as normas e restrições que ela impunha, mas depois de duas semanas, se rebelou.

— Conor, volte para a cama! — Laurel gritou ao vê-lo vestir a camisa e o cinto. Ela correu e agarrou a manta. — Não o deixarei sair antes de estar curado, ouviu bem? Hagatha disse que seria preciso no mínimo três semanas antes de você retornar a seus deveres e, mesmo assim, de maneira restrita.

— Ouvi o que ela disse, mas decidi que já estou ótimo. — Conor estendeu a mão para receber a manta.

— Nada disso! A sutura nem está completamente cicatrizada e os pontos poderão se romper ao menor esforço. Acredite, eu vi acontecer isso antes.

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— Mas não comigo. — Ele arrancou a manta das mãos de Laurel e passou a enrolá-la no corpo.

Laurel interpôs-se entre ele e a porta, mas Conor frustrou-lhe as intenções.— Conor McTiemay, não pretendo perdê-lo. — Laurel não limpou as lágrimas que

começavam a descer mansamente.— Também não quero perdê-la, Laurel. — Conor suspirou, buscando paciência. —

Mas sou o chefe do clã e tenho muitas incumbências atrasadas. Finn tem feito o possível para resolver as pendências que têm surgido desde que você me aprisionou em meu próprio quarto.

— Ele se curvou para beijá-la. — Agora tenho de ir, prometo não exagerar nem me demorar. Laurel observou-o sair do solário, ciente de que nada mais o teria convencido a continuar o repouso. Sentou-se numa poltrona e massageou as têmporas. Desde que acordara, sentira uma forte dor de cabeça e a discussão com Conor a fizera piorar. Levantou-se disposta a comer, e então o mundo se desfez numa névoa branca.

— Milady? — Alguém dava tapinhas suaves em sua face. — Por favor, acorde, milady!

Laurel reconheceu a voz distante e quis abrir os olhos, mas estavam pesados demais. Outras vozes longínquas a chamavam como se estivessem dentro de um túnel, mas ela não entendia o que diziam.

De repente sentiu-se flutuar antes de ser deixada numa nuvem macia. Outra voz, bem mais insistente, falou com ela. Bem que Laurel gostaria de cooperar, mas não sabia como.

— Laurel, por favor, acorde, meu amor. Acorde para mim. — Conor a segurava nos braços, apavorado.

Ele mandara chamar Hagatha que, por sorte, dava consulta a uma mulher que morava do lado de fora da muralha, mas a parteira demorou um século para chegar.

— O que houve? — Hagatha perguntou, autoritária.— Não sabemos — Conor respondeu, rude pela preocupação. — Uma das criadas a

encontrou desmaiada no chão. Fora alguns movimentos e gemidos, ela não reage. — O pânico o invadiu. — Faça alguma coisa, Hagatha! Num momento ela discutia para me obrigar a ficar na cama... e em seguida...

Conor balançou a cabeça, olhando para Laurel, visivelmente preocupado. Hagatha pediu um copo de água e quando o levou os lábios de Laurel, ela voltou à consciência.

— O... que... aconteceu? — Laurel franziu o cenho ao ver-se rodeada de gente e no colo de Conor na poltrona diante da lareira.

— Você desmaiou, como uma boa inglesa. — Hagatha escondeu a preocupação atrás da ironia. — Eu a avisei para dormir mais e comer melhor. Acha que minhas ordens devem se cumpridas apenas se forem dirigidas a milorde? Os cuidados devem ser redobrados por causa do bebê. Quando foi a última vez que fez uma refeição de verdade, não apenas beliscar pedaços de pão e cerveja?

Com o olhar fixo em Laurel, Hagatha estalou os dedos, sem notar o espanto de Conor.

— Tragam uma tigela de sopa para lady McTiernay, e à noite terá de ser um repasto consistente. Prometa-me, Laurel, que não perderá mais nenhuma refeição.

— Prometo — ela respondeu com voz fraca.— Está certo. Agora tenho de ir, antes que a mulher a quem eu estava atendendo dê

à luz sozinha, Conor, eu o encarrego de cuidar das refeições de sua esposa. E não pense em mimá-la demais ou ela se tornará insana. Vamos embora — ela chamou os curiosos. — Vamos deixá-los sozinhos.

Hagatha saiu, seguida pelos demais.Conor continuou sentado com Laurel no colo.— Você me deu um susto, meu amor.

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— Me perdoe, foi sem querer. Eu esqueci de comer.— E eu terei de vigiá-la para não esquecer mais. — Ignorando os protestos dela,

Conor deitou-a na cama, arrumou o cobertor e beijou-lhe levemente os lábios. — Voltarei logo.

Minutos depois, Conor retornou com uma vasilha grande com caldo de carne e várias fatias de pão. Enquanto Laurel comia, ele ficou em silêncio, assimilando a notícia de que seria pai.

— Eu entendi direito? Você está grávida? Conor agia de maneira estranha. Ele ouvira o que Hagatha dissera, e as perguntas seriam inevitáveis. Mas com tão pouco entusiasmo?

— Sim.— E quando o bebê vai chegar?— Em abril ou maio, Hagatha ainda não sabe ao certo.Conor passou uma das mãos nos cabelos e procurou controlar a raiva que sentia.

Era a primeira vez que testava a promessa de esperar por uma explicação antes de esbravejar. Laurel estava praticamente no meio da gravidez!

— E por que somente agora estou sabendo disso? — Ele procurou não gritar. — Sou o pai, não sou? Acha mesmo que eu não descobriria?

— Ora, é evidente que eu pretendia contar, mas eu mesma descobri na manhã em que você foi ferido. Eu queria esperar até você ficar curado, para não provocar sua raiva e ficar inválida antes!

— Você disse que será em abril?— Ou maio.— Mas como você podia não saber?Hagatha rir diante de sua ignorância era uma coisa, mas Conor... Não permitiria ser

humilhada por ele!— Não sei! Não faço idéia, e também não pretendia esconder nada de você. Não

sou nenhuma tonta, mas nunca fiquei grávida antes, e não entendo nada dessa história de bebês. Foi Hagatha quem me deu as explicações necessárias, Conor McTiernay!

Desgostosa, ela cruzou os braços na altura do peito e fitou Conor com ar de desafio. E, de maneira inesperada, Conor tomou-a nos braços e rodopiou com ela em volta do quarto, mirando-a com olhar reluzente de emoção. Laurel teve vontade de chorar, de rir e de gritar de alegria.

O beijo de Conor foi intenso e prolongado. Conor queria demonstrar o quanto a amava e como estava feliz com o bebê, mas os sentimentos mudaram de patamar. Não demorou muito e os dois estavam envolvidos num clima de desejo. Beijos e carícias não eram suficientes. Fazia muito tempo que não se amavam, e se esqueceram da fraqueza de Laurel e do ferimento de Conor.

Rapidamente tiraram as roupas e se deitaram. Quando Conor a penetrou, o sentimento frenético deu lugar a uma sensação diferente e poderosa.

Laurel enterrou as unhas nas costas dele e o beijou na boca, na garganta e no peito. Conor recuou e investiu novamente, provocando uma sensação extraordinária.

Eles alcançaram juntos o clímax e depois sucumbiram, agarrados um no outro.— Conor, foi inacreditável... Ele a acariciou.— E cada vez ficará melhor, minha adorada.— Eu não acreditaria nisso, mas meu marido sempre me surpreende.Conor virou-se e fitou os olhos de Laurel, escurecidos e paixão.— Promete que cuidará de si mesma, não se excederá e se alimentará de maneira

correta?— Prometo. — Laurel sorriu. — E você terá de jurar que não fará nenhuma atividade

que possa comprometer a cicatrização do ferimento.Conor beijou-a na testa.

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— Combinado.Se Laurel soubesse o poder que tinha sobre Conor, ele prometeria a ela as estrelas

do céu.Aquele Natal foi o mais feliz da vida de Laurel e Conor. As celebrações começaram

na véspera do Dia 25 e se estenderam até o banquete da Epifania, no sexto dia de janeiro, doze dias após o Natal. Todas as noites o clã se reunia para comer, beber e escutar música. Nos três principais dias das festividades religiosas, Natal, Ano Novo e Dia de Reis, havia grandes comemorações com danças ao redor das enormes fogueiras no pátio e do lado de fora das muralhas.

O hall, o salão, a capela e as choupanas foram decorados com visco, hera e azevinho, como símbolos de fertilidade e renascimento que a nova estação poderia trazer. Laurel pediu a Pallon que trouxesse ramos de sempre-verde e convidou as mulheres do castelo para ajudá-la a decorar as árvores, o hall e o salão com velas e arcos feitos com o pano xadrez dos McTiernay.

A música era uma constante naqueles dias e refletia o clima natalino nos cânticos escoceses e nas melodias dos brindes. À noite as músicas para dançar eram tocadas em conjunto com a celebração de Cristo para despertar os espíritos alegres da temporada.

Todas as noites as festividades aconteciam nos dois cômodos contíguos, mas Laurel não podia dançar as músicas mais rápidas. Em compensação, Conor fez questão que as músicas favoritas de Laurel fossem tocadas na clarsach, uma harpa céltica.

O que mais entusiasmava os montanheses eram os banquetes. Devido à grande quantidade e variação de pratos preparados, sempre havia mulheres na cozinha, à guisa de ajudantes. Fiona precisava de auxiliares, e muitas vezes Laurel teve de vir à cozinha e lembrar a elas quem era a encarregada.

— Notei que você nunca especifica quem é — Aileen questionou a tática num dos dias.

— Quem é o quê? — Laurel fingiu-se de inocente.— A encarregada.— E, eu não digo. — Ela sorriu quando chegaram ao pátio.— Vai me contar ou não?— Bem, todas são. Quando proponho a questão sem responder, cada uma encontra

a sua resposta. Fiona sabe que é a responsável e acha que estou me referindo a ela. Glynis acha a mesma coisa. A maioria pensa que estou me referindo a Conor. Você precisa ver a cara de Fallon se ele está por perto quando eu pergunto. Ele estufa o peito, dá um sorriso discreto e sai em silêncio.

— Você usa métodos inusitados. Eu deveria tomar umas lições com você.Laurel cutucou a amiga.— Tudo o que eu sei, aprendi ao vê-la lidar com Finn.Elas foram até a panificadora para enfrentar a última altercação ali ocorrida.Havia uma batalha constante entre a cozinha e a panificadora sobre quem tinha a

maioria do trabalho e dava a melhor contribuição para os esplêndidos banquetes. Cada refeição tinha biscoitos amanteigados escoceses e biscoitos natalinos de aveia, o que deixava a panificadora bem atarefada. O restante do cardápio era variável e suntuoso, e o clã repartia os méritos entre a cozinha e a panificadora.

Serviam-se sopas e guisados, aves e peixes, pães e pudins. Nos três dias principais das festas, preparavam de carnes de javali, veado, ganso e cisne com batatas e cebolas. Nos dias subseqüentes às grandes festividades, assavam-se tortas esplêndidas com picadinhos feitos com as carnes que haviam sobrado e que eram temperadas com especiarias e frutas.

No dia de Ano Novo, Fiona fez o famoso bolo escuro com Castanhas e, para comoção de Laurel, o pudim inglês com passas de Corinto, frutas secas, canela e noz-moscada.

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Conor caçoou de Laurel pela quantidade que ela comeu do doce preferido de sua infância e garantiu, rindo, que ela precisava se alimentar por dois. E ele estava perto. Laurel estava cada vez mais esfomeada. Os festejos levantavam os ânimos e fortaleciam o espírito para suportar os rigores dos longos meses de inverno.

Conor continuou a treinar seus homens no pátio inclinado, a ajudar os fazendeiros a consertar e fazer ferramentas, e a reparar cercas. Laurel achou ótima a idéia dele de ordenar aos gêmeos, Crevan e Craig, para carregar e espalhar estéreo e calcário no solo entre os períodos de neve.

O restante do inverno transcorreu sem incidentes. Laurel engordava a olhos vistos, o que encantava Conor.

— Estou mais gorda a cada minuto — ela resmungou um dia, enquanto se preparava para dormir.

Laurel se deitava cedo e descansava durante o dia. Conor insistia para ajudá-la a descer e a subir as escadas todos os dias.

— Sim, é verdade, mas só na barriga e, mesmo assim, continua perfeita.Laurel fitou-o de esguelha. Ele era mesmo um mentiroso. Seus tornozelos estavam

inchados e ela nem podia mais caminhar com dignidade, sempre bamboleando como uma pata.

— Admita que você é tendencioso.— Pode ser, mas tenho certeza de que encontrarei muitos que me apoiarão. —

Conor aproximou-se por trás e beijou-lhe o pescoço.— É porque são leais a você. Duvido que dariam a mim um julgamento imparcial. —

Laurel tirou a manta e largou-se na cama, de costas.Conor não demonstrou a preocupação que sentia. Laurel estava muito cansada e

bem maior do que qualquer grávida que ele conhecera. Levantou os pés dela e tirou-lhe as sapatilhas.

— Quer que eu mande buscar Hagatha?— Para quê? Ela me dirá que estou bem, saudável e que não devo me exceder.Na última vez em que a parteira examinara Laurel, dissera que, pelo tamanho dela,

o bebê poderia nascer antes do previsto.Conor sentou-se e massageou os pés de Laurel.— Não está se sentindo bem, meu amor?Ela se ergueu nos cotovelos.— Bobagem, estou apenas entediada. Conor deitou-se ao lado dela. Laurel era uma

mulher dinâmica e certamente se aborrecia pelas limitações impostas por seu estado.— Eu quero cavalgar Borrail.— Laurel...— Eu sei que não posso, eu apenas gostaria de poder. Quero que a primavera

chegue logo para eu poder galopar pelas colinas com os cabelos ao vento.Conor beijou-a com paixão.— Isso não vai demorar, meu amor. Logo você estará fazendo todas as coisas que

gosta.A gravidez não alterara o relacionamento sexual deles. A paixão de um pelo outro

era inesgotável. Com o aumento de tamanho de Laurel, eles encontravam maneiras novas de dar prazer um ao outro. Apenas durante o último mês a atividade deles sofrerá uma restrição, passando a contar com mais brincadeiras e beijos.

Naquela altura, Laurel adormecia assim que se deitava e várias vezes Conor tivera de tirar as roupas quando ela já estava num sono profundo.

Laurel deitou-se novamente de costas e fitou o teto.— Estou com medo, Conor.— Medo de quê?— Você tem de prometer uma coisa.

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— O que você quiser.— Você cuidará de meu avô se eu morrer no parto. Hagatha contara a história sobre

a mãe de Laurel, mas ele se recusava a acreditar que o mesmo aconteceria com ela.— Você não vai morrer.— Minha mãe faleceu ao dar à luz meu irmão. Eu estou muito grande e ninguém

ignora isso, muito menos Hagatha.Conor apertou-lhe a mão.— Nada de mal acontecerá a você, Laurel.— Eu te amo, Conor. — Uma lágrima solitária desceu pela face dela.Conor virou-se, segurou-lhe o rosto e fitou-a com olhar intenso.— Escute, Laurel, você não vai morrer — ele repetiu. — Eu não permitirei isso. Nada

vai tirar você nem meu filho de mim, entendeu?Ela anuiu, piscando para afastar novas lágrimas.— Entendi.Conor abraçou-a junto ao peito.Hagatha o avisara dos perigos, mas ele não queria escutar mais nada sobre o

assunto. Não poderia viver sem Laurel. Eles criariam os filhos e envelheceriam juntos. Antes, se ele morresse, seria mais um jovem chefe de clã a perecer num campo de batalha. Agora Laurel e ele teriam de viver, por eles e pelos filhos. E tudo porque Laurel instilara uma nova vida nele, em seus irmãos, no castelo e no clã. A idéia de perdê-la e de perder tudo isso era inconcebível para ele.

Com o rosto aninhado no peito de Conor, Laura sentiu-o tremer e supôs que ele estivesse chorando. Ela não tivera intenção de aborrecê-lo e muito menos de assustá-lo. Não poderia imaginar o quanto ele se apoiava na crença e na força dela para acreditar que todas as coisas terminariam bem.

— Conor, tudo vai dar certo. Nós teremos um filho grande que será um lorde montanhês. Hagatha esteve aqui várias vezes e sempre me encontrou em boas condições de saúde. E, como você disse, nada de mal acontecera comigo. — Dali por diante, ela manteria os receios escondidos em seu coração.

Conor sabia que ela se fazia de forte por causa dele e resolveu fazer o mesmo.— Isso mesmo, meu amor. Nada de mal acontecerá a nenhum de nós e teremos um

filho robusto que provará nossa teoria. — Ele beijou-lhe os cabelos.Brighid se casaria na primavera. Donald, o homem por quem ela se apaixonara no

outono, finalmente confessou-se vencido, pediu a mão de Brighid em casamento e a concordância fora imediata.

Numa manhã clara e brilhante, Laurel ajudava Brighid a preparar o enxoval da noiva, quando o castelo inesperadamente entrou em estado de alerta. Soldados corriam para dentro e para fora da torre de vigia de três pavimentos que era uma das estruturas das muralhas usadas para rechaçar os ataques. O piso térreo onde ficavam suprimentos e armas estava lotado, e Laurel nunca vira tanto movimento naquela torre.

Não demorou muito e Conor apareceu, juntamente com Loman.— Venham comigo — Conor ordenou para as duas.— Conor? — Laurel tentou descobrir do que se tratava.Ela estava no salão nobre quando o grito de guerra foi ouvido e, pelo visto, as duas

teriam de ser mantidas fora do caminho.No entanto, por mais que parecesse a Laurel uma convocação às armas, ela

suspeitou de algo diferente, mesmo não sendo esperada a visita de outros lordes, pois ainda estavam no inverno. Embora a primavera fosse iminente e a neve tivesse começado a derreter, ainda estava muito frio e as noites eram brancas. O tempo não era favorável a viagens, e ainda havia possibilidade de nevascas.

Em silêncio, Conor as conduziu até a torre de supervisão, que ficava do lado oposto à torre de vigia. Abriu as portas e carregou Laurel até o piso inferior, que possuía uma

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latrina, mas não tinha janelas. Em última análise, era uma prisão. Laurel vira Conor usando aquela torre durante os meses de inverno, quando algum desordeiro ou bêbado precisava de tempo para ficar sóbrio.

— Conor, você está me deixando assustada. Por que estamos aqui? O que está acontecendo?

Brighid aproximou-se de Laurel e segurou-lhe a mão. Elas teriam de se apoiar uma na outra.

— As duas terão de ficar aqui até eu ou Loman vir buscá-las. Se for Loman, sigam-no até a poterna, a porta falsa que tem uma saída secreta. Sinto muito pelas condições desta torre, mas é o lugar mais seguro e próximo ao portão dos fundos.

Laurel meneou a cabeça, assentindo. O perigo rondava o castelo e Conor tinha de se preparar para a batalha. Mesmo uma fortaleza bem protegida como aquela poderia ser dominada com um número suficiente de homens e um bom intervalo de tempo. Conor lhe mostrara a passagem que dava acesso ao compartimento da cisterna do lado de fora das muralhas e uma passagem secreta de fuga além do rio. Mas era preciso sair pelo portão dos fundos para chegar à passagem.

— Conor, eu sei que você precisa ir, mas tenha cuidado... e volte para mim, por favor.

— Eu voltarei, pode confiar. Isto não acabará numa batalha, mas não posso antecipar a reação de um lorde à mensagem que mandei a ele antes do inverno.

— A que Seamus estava encarregado de levar?— Como é que você sabe?— E você acha que eu não me daria conta da ausência de Seamus? — Laurel

endireitou os ombros e disfarçou o medo com uma demonstração de orgulho feminino. — Bem, agora vá resolver logo esse assunto e venha logo nos tirar deste lugar medonho.

— Está bem, meu amor. — Conor beijou-a e foi embora.Depois que ele saiu, Laurel começou a andar de um lado para outro, imaginando o

que teria causado tal precaução.— Se eu soubesse o que está acontecendo, poderia me acalmar — ela disse para

Brighid, que insistia para ela se sentar na cama improvisada a um dos cantos.— Milorde virá nos buscar logo e ficará aborrecido se a encontrar nervosa e

cansada.— Conor disse qualquer coisa sobre um lorde que poderia não receber com boa

vontade uma mensagem que foi enviada no outono. O que ele pode ter feito para despertar a ira do outro chefe?

— Não há como saber, milady. Um homem sempre age à sua, maneira, independentemente do que uma mulher possa desejar. Pelo menos é o que Donald sempre diz quando reconhece estar fazendo algo que não me agrada.

Laurel parou de andar. Donald era um homem afável, que se mostrava invariavelmente disposto a agradar, e Finn garantira a Laurel que ele era um ótimo guerreiro e que, portanto, seria um bom marido para Brighid. Laurel o observava desde o noivado e concluíra que ele procurava imitar Conor em todos os aspectos. Talvez até...

— Brighid, estou desconfiada que você sabe de alguma coisa. Conor nunca esquece de me contar nada. Se ele nada disse, foi proposital, não acha?

— Pois eu creio que ele apenas não quis preocupá-la.— Brighid caiu na armadilha e notou que Laurel começava a ficar com raiva.Laurel bateu o pé no chão.— Na certa, Conor não queria uma discussão, mas não evitará uma assim que eu

descobrir do que se trata.— Ela recomeçou a andar com passos largos ao redor do recinto, cada vez mais

irritada.Brighid levantou-se, retorcendo as mãos.

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— Milady, pare, por favor! Estou ficando tonta. Se não for pela senhora ou por mim, pelo menos pense no bebê.

Laurel andou mais devagar, mas não se sentou.— Tenho certeza de que Seamus deixou o castelo logo após meu casamento. Ele

faz parte da guarda de honra e não o vi tomar parte nos torneios. Conor deve ter designado a missão naquele mesmo dia, e devia ser muito importante, ou Seamus teria partido depois das comemorações.

Laurel olhou para Brighid, esperando alguma explicação que não veio.— Nada de excepcional ocorreu na semana anterior ao casamento. E se era assim

tão importante, por que Seamus não foi antes? Isso não faz sentido. O envio da mensagem era tão indispensável que impediu Seamus de participar dos jogos, mas não tão essencial que o fizesse partir antes da cerimônia. Dá a impressão de que Conor fez questão de esperar até nos casarmos. Não consigo entender!

Inesperadamente, Brighid lembrou-se de algo e tornou a se sentar na cama estreita.— Talvez isso possa estar relacionado com o que Donald me disse no dia seguinte

ao seu casamento.Laurel parou de andar e se sentou ao lado de Brighid.— O que Donald lhe contou? — Laurel procurou não parecer ansiosa. Brighid era

tímida e poderia assustar-se ao revelar algum segredo.— Nada de ruim, milady. Ele apenas estava ansioso para ser designado para uma

incumbência.— Ele não lhe contou do que se tratava? — Laurel sabia que ali estavam as peças

para encaixar no quebra-cabeça. — Consegue se lembrar exatamente do que ele disse?Brighid se surpreendeu com a preocupação que Laurel demonstrava.— Foi uma conversa trivial, milady. Ele só queria a oportunidade de entregar uma

mensagem ao padrinho de milorde. Eu nunca o vi, mas Donald o conheceu quando era menino.

— Seamus foi mandado ao encontro do padrinho de Conor? — Laurel espantou-se com o que lhe pareceu um despropósito. — Por que o padrinho de Conor seria uma ameaça? Tem certeza de que não era outra pessoa?

— Tenho. O avô e o padrinho de milorde eram grandes amigos e se visitavam com freqüência. Por isso o que Donald me disse talvez não tenha nada a ver com o que está acontecendo hoje. Lorde Maclnnes jamais atacaria lorde Conor. A aliança deles é inquebrantável.

Laurel teve a sensação de ter sido atingida por um saco de pedras. Seu avô estava nas proximidades, e Conor sabia quem ele era. Laurel não imaginava como Conor descobrira, mas ele estivera ciente de sua herança escocesa antes do casamento e por isso estava tão seguro de poder deixar a família dela em segurança.. Ela estreitou os lábios e procurou manter a calma.

— Brighid, o que sabe a respeito de lorde Maclnnes?— Ele é um montanhês que se casou com uma escocesa das Terras Baixas, tornou-

se chefe do clã da esposa quando o pai dela morreu e trabalhou muito pela união dos clãs da fronteira. É atualmente um dos chefes mais poderosos de Dumfriesshire, ou pelo menos foi o que Donald disse. Bem, isso muda alguma coisa?

Conor sabia que eu era herdeira de lorde Maclnnes e não me disse nada!Laurel entendeu por que o avô viera preparado para uma luta e admitiu que

precisava sair dali com urgência. Levantou-se bruscamente e sentiu-se tonta, tendo de voltar a se sentar para não desmaiar. Estava muito pesada e ainda faltavam cerca de duas semanas para o bebê nascer. Às vezes, ela pensava que sua barriga estouraria antes de o dia chegar.

— Brighid, vamos — falou, tornando a se pôr de pé.— Eu não a envolveria em meus problemas se estivesse mais magrinha e ágil. Mas

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preciso da sua ajuda.— Milady, não creio que esteja pensando em sair daqui. Milorde ordenou para que o

esperássemos e milady não pode estar pensando em desobedecer!— Escute, Brighid. — Laurel segurou-a pelos ombros.— Vou sair daqui agora e terei dificuldade em fazer isso sozinha. Mas irei de

qualquer maneira e entenderei se não quiser vir comigo. Descobri o que está acontecendo e somente eu posso impedir um desastre.

— Impedir o quê? — Brighid gritou ao ver Laurel abrir a porta e sair. — O que milady pretende fazer?

— Dessa vez ela sussurrou, depois de Laurel levar um dedo aos lábios.As duas alcançaram o portão dos fundos, chegaram no compartimento da cisterna e

pararam diante de uma grande arca de madeira.— Brighid, ajude-me a empurrar a arca, mas só um pouco.Brighid obedeceu e Laurel abriu uma pequena porta escondida na parede.— Milady! Não está pensando em passar por aí, está?— Não estou pensando, vou passar!Laurel começou a rastejar como podia, e Brighid seguiu-a, duvidando da sanidade

mental das duas. O túnel lamacento era curto, por sorte. Assim que saiu, Laurel endireitou-se e rumou na direção do pátio inclinado.

A saída do túnel era próxima ao rio e não podia ser avistada do castelo. Brighid logo percebeu que Laurel não pretendia ficar escondida e correu para ajudá-la a subir a colina. Embora temerosa pelo que pudesse acontecer, não deixaria sua senhora enfrentar sozinha a ira dos dois chefes de clã.

Quando Laurel viu Conor e outro homem que deveria ser seu avô, estava imprestável. Não via a hora de o bebê nascer para recuperar a antiga energia.

Os dois homens estavam a cavalo e se encaravam de espada na mão. Fazia muito tempo que Laurel não via o avô, e mesmo com os cabelos brancos ainda era o homem grande e vigoroso de quem ela se recordava, dos tempos de menina. Lembrava-se dele como um gigante bondoso, risonho e caloroso, e não o indivíduo enfurecido que agora via de longe.

Mesmo a distância, ela podia perceber a fúria de Conor. Atrás de cada cavaleiro havia dezenas de guerreiros dos clãs correspondentes, todos a cavalo e, a poucos metros, inúmeros soldados a pé. Uma batalha estava em efervescência.

—Temos de nos apressar, Brighid! — Laurel afligiu-se.— Apóie-se em mim, milady, e chegaremos a tempo. Não sei o que pretende fazer,

mas conheço sua capacidade de provocar e também de acalmar a raiva de um homem.— Deus permita que eu consiga o segundo intento! Finn surgiu de repente e impediu

a passagem de Laurel, que não o vira aproximar-se.—Volte, milady, isso não é assunto para a senhora — Finn ordenou.— Saia do meu caminho, Finn! — ela ordenou com ferocidade.— Não a deixarei passar, milady.— Finn, deixe-me explicar uma coisa para que não haja dúvida sobre o que

acontecerá. Se não me deixar passar agora, começarei a gritar tão alto que os dois cabeças-duras... — ela apontou para o avô e Conor — ...escutarão e virão correndo. E duvido que, diante da raiva que os mantêm espumando, eles ouçam explicações de que não foi o senhor quem me fez gritar. Ah, darei minhas condolências a Aileen e cuidarei para que seu filho seja bem tratado.

Finn nunca fora ameaçado por uma mulher. E que ameaça! Ele conhecia Laurel havia tempo suficiente para distinguir as mudanças em seu olhar. Quanto mais agitada, mais escuros seus olhos se tornavam. Conor costumava dizer que, quando muito irritada, os olhos dela lembravam o mar do Norte em meio a uma tempestade. Naquele momento, estavam negros.

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— Fique aqui — ordenou a Brighid, que ficou feliz em obedecer.Finn pegou Laurel nos braços e carregou-a pelo restante do caminho. Ela desistiu de

pedir para ser deixada no chão. Afinal, Finn não mais comandava sua retirada.Eles se aproximaram dos beligerantes e Laurel escutou a discussão. Como temia,

ela fora a causa da desavença.— Se não trouxer minha neta até aqui imediatamente, pode se preparar para a

guerra!— Laurel é minha, pela lei dos homens e pela de Deus! Ela fez os votos e se

entregou a mim!— Ela não teve escolha! Minha neta foi seqüestrada no caminho para as terras dos

Maclnnes.— Fui eu, não o senhor, quem a salvou e a manteve em segurança.— Segurança? Escutei muitos homens dizerem que ela jurou abandoná-lo e voltar

para meu clã na primavera.— Laurel só sairá das terras dos McTiernay se passar por cima de meu cadáver!

Tanto faz na primavera ou em qualquer outra ocasião. Se o senhor quer guerra, a escolha é sua. Meus homens juraram protegê-la e darão a vida por Laurel se ela for forçada a partir contra sua vontade.

— Se ela quer ficar, por que não posso falar com ela? Finn levou Laurel até perto deles e deixou-a no chão.

Os dois lordes, enfurecidos naquela batalha de vontades, não perceberam sua chegada. Laurel endireitou os ombros.

— Conor está certo. Eu não tenho a menor intenção de sair daqui. — Ela fitou os dois homens a quem tanto amava. — Ainda assim, Conor, eu gostaria de ouvir sua resposta à pergunta de meu avô. Por que me esconder desse jeito sem me dar a oportunidade de me encontrar com minha família? — Ela encarou Conor com olhar chamejante.

Chocados com o aparecimento de Laurel, os dois lordes ficaram emudecidos. Conor não conseguia acreditar que Laurel lhe desobedecera, arriscando a própria vida e a do bebê. Ainda não satisfeita, ela se aproximou, dando os dez passos mais perigosos de toda a Escócia.

— Então? — A fúria de Laurel se comparava à do marido, mas ela evitou cruzar os braços e bater o pé.

Conor estreitou os olhos.— Se seu avô estivesse apenas interessado em lhe falar, você já estaria

conversando com ele.— Mas ele acabou de dizer...— Ele a teria raptado e não lhe teria dado oportunidade de dizer que pretendia ficar

aqui. Ele acredita que você se sente culpada ou na obrigação de ficar.— Mas isso é ridículo! — Um olhar para o avô a convenceu de que Conor falava a

verdade. — Estou grávida e não poderia fazer uma viagem dessas.Maclnnes embeveceu-se na visão de sua única neta. A menina magra e sardenta se

transformara numa mulher maravilhosa e grávida no meio de um campo de batalha. E com todas as evidências de que seu afilhado, ex-celibatário convicto, não precisava supervisionar a proteção de Laurel.

— Esta é a prova da qual eu precisava, Conor. — Maclnnes apontou para Laurel sem olhar para ela. — O que minha neta, no estado em que se encontra, está fazendo aqui no campo de lutas? — ele vociferou, emocionado.

A preocupação com Laurel tinha sido insuportável. Desde que recebera a mensagem sucinta de Seamus, vacilara entre a fúria e o alívio. "Estou com Laurel. Ela está bem. Lorde McTiernay." Nenhuma explicação adicional.

Eufórico ao saber que sua neta estava na Escócia e disposta a morar com ele,

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Maclnnes mandara vinte de seus melhores guerreiros para escoltá-la, porém era tarde demais. Os soldados haviam trazido de volta os dois sobreviventes da emboscada, mas os dois ingleses não foram de muita valia. Eles não conheciam quem levara Laurel e disseram apenas que se tratava de outro lorde escocês que a dominara.

A fúria de Maclnnes não conhecera limites. Ele percorrera os clãs, um após o outro, inspecionando, perguntando e tentando descobrir o paradeiro de Laurel. E com a chegada de Seamus e a mensagem, o alívio se mesclara ao ódio. Seu afilhado era um homem honrado, que não poderia ser responsável pelo assassinato frio da escolta de Laurel. Mas Maclnnes fora informado de que Laurel viera para as Terras Altas e se casara com um desconhecido, contra a vontade. Em sua opinião, Laurel fora raptada duas vezes. Na primeira por um lorde malvado, e na segunda por Conor, que, em vez de devolvê-la à família, a dominara.

Ele esperara as condições do tempo melhorarem um pouco antes de fazer a perigosa viagem ao Norte para trazer de volta sua neta. E era o que faria, nem que tivesse de lutar contra o afilhado.

— Milorde certamente não sabe como sua neta é teimosa! — Conor respondeu aos gritos.;—Ela é, de longe, a mulher mais desobediente e irritante que já conheci! Eu a deixei no local mais seguro do castelo, e onde é que ela está? Aqui! Por que não lhe pergunta por que ela veio até o campo? Certamente, é o sangue dos Maclnnes que a faz tão obstinada!

— Conor McTiernay, você suplanta em muito a minha capacidade de enfurecer as pessoas! — Laurel gritou e virou-se para o avô. — O senhor pode esquecer toda essa bobagem a respeito de eu voltar. Como pode ver, estou muito bem e feliz, quando não me deixam irritada por algum segredo que sempre acabo descobrindo. Eu amo esse gigante de cabeça dura e vou dar à luz um filho dele. Agora, se me permitem, vou para meus aposentos descansar um pouco e se os dois quiserem discutir por mais uma semana inteira, fiquem à vontade. Mas escutem bem, não quero nenhum homem ferido e nenhuma gota de sangue derramada!

— Geniosa — Maclnnes resmungou ao ver Laurel endireitar as costas e afastar-se, de queixo erguido.

— Milorde nem imagina quanto. — Conor incitou o cavalo para a frente. — Vamos para o castelo. Finn, providencie acomodações e comida para os soldados de lorde Maclnnes. Avise os homens que eles participarão dos treinamentos amanhã.

Um brado de satisfação ecoou dos dois lados do campo.Conor apressou o cavalo até Laurel e levantou-a do solo com facilidade, como se ela

fosse uma criança leve. Ajeitou-a no colo e conservou o animal em marcha lenta para reduzir os solavancos. Os dois pretendiam continuar discutindo, ele sobre obediência e ela sobre segredos, mas Laurel acabou adormecendo encostada no peito do marido.

Conor entrou no pátio e apeou com cuidado para não acordá-la. Levou-a para cima, entrou em seus aposentos e deitou-a na cama. Tirou-lhe as sapatilhas, a veste e estendeu-se ao lado dela.

Embora estivesse no final da gravidez, Laurel ainda era a mulher mais bela que ele já vira. A beleza exterior era incomparável, mas a interior capturara seu coração. Ela acabara de anunciar a todos que ficaria no castelo.

— Eu amo você, Laurel McTiernay, e nunca a deixarei partir — Conor prometeu à esposa adormecida.

Laurel virou-se de lado e aconchegou-se no peito de Conor. Ele pôs a mão no abdômen protuberante e sentiu os pontapés e os movimentos do filho, admirado como Laurel conseguia dormir com aquela agitação. E logo afastou a mão para não provocar mais batidas internas.

Conor ficou deitado por pouco tempo. Seus convidados precisavam de atenção. Levantou-se e foi ao salão nobre, onde o padrinho estava sentado numa poltrona diante

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da lareira. Fora um dia difícil para ambos, pois eles nunca haviam brigado.— Maclnnes.— McTiernay. — O homem mais velho olhou de viés e voltou-se novamente para as

chamas.Conor sentou-se e pegou o caneco de cerveja de cima da mesa.— Como ela está?— Cansada. Esse pequeno entrevero foi demais para ela.— Por que não a impediu de se agitar, McTiernay?— Tente dizer a uma Maclnnes para não fazer o que tem vontade. — Conor tomou

um gole. — Aprendi que é impossível. Ela me chamou de cabeça-dura, mas eu lhe garanto que ela é a mais teimosa de nós todos. Milorde deveria ficar um tempo aqui para testemunhar as alegrias e frustrações que tenho enfrentado. Em princípio, Laurel será a anfitriã perfeita, mas a menor contrariedade despertará a gata furiosa que vive dentro dela. Só Deus sabe por que, mas eu amo todas as facetas de Laurel. — Conor terminou de tomar a bebida.

Maclnnes vira, pouco antes, as fagulhas disparadas por dois espíritos semelhantes e, naquele momento, ouvindo o afilhado confessar o amor pela natureza apaixonada e combativa de Laurel, convenceu-se de que a união dos dois era feliz.

Ao saber do casamento deles, ficara atônito. Conor jurara nunca se casar, pois não precisava de filhos nem de alianças. Maclnnes também temera que o espírito indômito de Laurel pudesse fenecer com alguém que se mantivesse emocionalmente distante.

Após a morte do pai, Conor se tornara chefe de um clã numeroso e poderoso, e também bem mais reservado, procurando não demonstrar emoções. Maclnnes comprovara a frieza do afilhado na discussão no campo de batalha e também que Conor só perdera a determinação quando Laurel aparecera.

— Quando deve nascer o bebê?— Hagatha, a parteira, disse que em poucas semanas.— Filho, Laurel está imensa, parece até que vai estourar. Sua parteira é experiente?— Laurel confia muito nela, portanto não escarneça de Hagatha diante de sua neta.

Procuro evitar que Laurel se aborreça ou fique agitada. Ela se cansa facilmente, embora não se queixe. Creio que Hagatha é competente e nós estamos preocupados com o tamanho exagerado de Laurel. — Conor inspirou fundo antes de sussurrar. — Ela tem medo de morrer.

— Por que não me disse isso antes? — Maclnnes agitou-se.— Há quanto tempo milorde chegou? E não faz nem uma hora que estamos

conversando amigavelmente. Laurel tem medo que aconteça com ela o mesmo que aconteceu com a mãe. Na verdade, eu, Hagatha e muitos outros estamos temerosos. Mas é importante para ela acreditar que tudo vai dar certo.

Maclnnes notou a angústia no rosto de Conor e considerou que ninguém poderia duvidar que ele amava Laurel profundamente.

— Não tema, filho, em poucas semanas seu herdeiro nascerá, e Laurel ficará muito bem.

Conor anuiu, confortado, e uma lágrima deslizou por sua face.— Se eu a perder, Maclnnes, eu morrerei. Não poderei continuar morando neste

castelo sem Laurel para me amar, encorajar, atormentar ou tentar me dar ordens. — Ele viu o espanto do padrinho. — Procuro ignorar as tentativas, mas aqueles olhos podem dobrar o mais empedernido dos homens.

Laurel acordou confusa. Lembrou-se de ter impedido uma batalha e de Conor tê-la carregado para cima do cavalo. Decerto adormecera e Conor a trouxera para o quarto.

Ela se levantou e foi até a janela. Adorava a paisagem das Terras Altas. As montanhas perdiam a camada de neve para o verde brilhante da primavera. O sol começava sua trajetória para oeste, inundando os campos com a promessa de calor.

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Ela afastou-se da vidraça e pegou uma das duas vestes que ainda lhe serviam. Era de veludo escuro com enfeites dourados e destacava a cor de sua pele e de seus cabelos, deixando-a mais feminina. Não podia mais usar a manta dos McTiernay pela impossibilidade de encontrar um cinto para segurar as pregas que se adaptasse a seu tamanho.

Conor insistira para ela mandar fazer mais túnicas, mas Laurel recusara, alegando ser um desperdício de trabalho e de tecido.

— Prometo usar os maravilhosos vestidos, assim que retornar à forma antiga — ela prometera um dia na cama, aconchegando-se nele com promessas de futuras noites de paixão.

Laurel desceu a escadaria da torre, mas não foi ao salão nobre. Resolveu ir até a choupana de Aileen. No pátio, fez sinal a um dos soldados para a escoltar.

Brion atendeu-a, solícito. Ele era um dos membros da guarda de elite de Maclnnes e sentiu-se lísonjeado por poder escoltá-la. Ele se encantara com sua beleza naquela manhã e não tivera dúvida de que a cor dos cabelos, dos olhos e a postura orgulhosa eram características dos Maclnnes.

Eles atravessaram os portões com uma rapidez inesperada para uma mulher tão pesada.

— Olá, meu nome é Laurel. — Ela sorriu. — Pela manta, deduzo que o senhor deve ter vindo com meu avô.

— Sim, milady.— Importa-se de ir comigo até a choupana de uma amiga? Não é longe, mas meu

marido acha que preciso de um acompanhante para sair do castelo. Por isso lhe acenei.— Será uma honra, milady.— Um dever seria o termo mais adequado. O soldado sacudiu a cabeça.— Milady está enganada. Tenho esperado há tempos para conhecer a neta de

milorde.— Não vai me dizer que tem idade para se lembrar de minha infância.— Não, infelizmente. Comecei a fazer parte da guarda de seu avô muitos anos após

sua última visita. Mas as histórias de seus dias no Castelo Maclnnes ainda ecoam pelas paredes. Laurel revirou os olhos.

— Oh, não acredito que esteja falando a sério, minhas aventuras eram inocentes.— Não duvido, milady, mas elas trazem a alegria de volta aos olhos de milorde.Laurel entristeceu-se ao pensar na solidão do avô sem a presença de familiares.Eles se aproximaram da choupana de Aileen e Laurel escutou o choro alto do bebê.

Brion esperou do lado de fora enquanto ela entrava.— Deixe que eu descasque as batatas — Laurel se ofereceu para Aileen pegar o

menino.Aileen observou durante alguns minutos a amiga, que lhe pareceu distraída.— Quer falar sobre o casamento de Brighid? — perguntou ao acaso, ciente pelo

marido do que Laurel fizera com ele.— Não. — Laurel resolveu desabafar a batalha emocional. — Mas eu gostaria de

alguns conselhos a respeito de um problema. Tenho receio de espumar de raiva se encontrar com meu marido agora. Se isso acontecer, a fúria dele será simultânea. Apesar de eu estar certa, os fatos não confirmam o que eu sei a respeito de Conor.

— Laurel estava a ponto de chorar.— O que esta manhã teve a ver com seu problema? — Aileen procurou parecer

casual, como se uma grávida de nove meses invadindo um campo de batalha fosse uma ocorrência comum.

Laurel deu um suspiro profundo.— Uma certa relação... Aileen, como você soube? Finn, não é?— Ele me contou e nunca vi Finn tão nervoso como hoje quando ele veio almoçar.

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Posso afirmar que me alegrei por toda aquela energia estar direcionada para você. Ele disse que não sabia como Conor tinha paciência de continuar casado com você. — O sorriso largo de Aileen era uma prova de que ela aprovara a confrontação da amiga, mesmo contrariando o marido.

— Ele não deveria ter se irritado!—Laurel constrangeu-se. — Ele não percebeu o que poderia acontecer?

— Claro, e por isso ficou tão preocupado com sua teimosia. Finn receou que você pudesse sair machucada.

Laurel agitou a mão, descartando a idéia.— Bobagem, eu não corria nenhum perigo nem por parte de Conor, nem por meu

avô.— Se eles a tivessem enxergado. Pela maneira como Finn descreveu a cena, eles

não perceberam sua presença até você começar a gritar.— Oh, Senhor. — Laurel não enxergara a situação sob aquela perspectiva. Talvez

estivesse em perigo maior do que imaginara. — Finn deve ter pensando que sou uma rematada idiota.

— Não, apenas um pouco tola. Mas não se aborreça, eu considerei os acontecimentos de hoje absolutamente fantásticos! — Aileen entusiasmou-se.

— Por que eu a deixei tão feliz ao me expor ao perigo?— Por causa de Finn, é claro. Durante muito tempo pensei que Finn admirasse suas

demonstrações de coragem, como ele dizia, ao enfrentar Conor. Finn e eu sempre fomos apaixonados, mas creio que a partir de hoje, ele está ainda mais feliz por ter se casado comigo. Ele falou, depois do almoço, que eu tenho a quantidade certa de beligerância que não chega a ser demasiada a ponto de causar-lhe preocupação. — Aileen tornou a sorrir. — Você pode me fazer esse tipo de favores de vez em quando.

Laurel não sabia se ria ou se ficava horrorizada com a pouca consideração de Finn para com ela.

— Eu não pretendia ser beligerante, mas apenas evitar uma batalha. Pelo menos, ele poderia ter procurado entender isso.

— Não se preocupe, Finn ainda é um de seus grandes admiradores, mas espero que os dois não tenham de se enfrentar novamente por enquanto. Quando perde, Finn sente o ego ferido.

— No entanto isso operou maravilhas no seu — Laurel comentou.— Com certeza. — Aileen não escondeu a imensa alegria.As duas começaram a rir e Laurel descontraiu-se.Depois que o ambiente ficou novamente sereno, Aileen pôs o filho para dormir e

procurou descobrir o motivo do nervosismo de Laurel.— Se não foi o entrevero da manhã que a aborreceu, então me diga do que se trata.

— Aileen sentou-se e esperou pelo desabafo de Laurel.— Conor mentiu para mim — Laurel afirmou com tristeza.Aileen endireitou-se, descrente.— Bem, não sei se foi exatamente uma mentira — Laurel corrigiu-se —, mas ele me

enganou e eu não entendo por que Conor agiu dessa maneira comigo.— Você tem certeza de que ele a enganou propositadamente?— Quanto a isso, não tenho dúvida, Aileen. Conor sabia que eu era uma Maclnnes,

que estava preocupada com meu avô e me fez acreditar em outra coisa.— Você tem razão, embora isso não combine com o caráter de lorde McTiernay.—

Aileen pensou por alguns instantes. — Você acha que ele aguardava a chegada de lorde Maclnnes?

Laurel procurou se lembrar das palavras de Conor quando a deixara naquele recinto infecto na torre de supervisão.

— Creio que sim, mas talvez não tão cedo nem que meu avô viesse tão irado. Na

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verdade, Conor ficou surpreso pelo grau de hostilidade de meu avô.— Talvez Conor quisesse apenas lhe fazer uma surpresa.— Eu gostaria que isso fosse verdade. Mesmo assim, não se justifica ele ter me

levado a acreditar que meu avô estivesse em perigo.— Mas ele não está em perigo!— Mas eu só soube disso esta manhã! Eu não tinha idéia de que ele fosse o chefe

de um clã enorme e poderoso das Terras Baixas. Imaginei que meu avô fosse vulnerável e incapaz de se defender de ataques externos. Conor sabia que isso não era verdade e que eu estava preocupada com meu avô. E em vez de me tranqüilizar, ele levou a farsa adiante.

Aileen suspirou.— Agora eu entendo.— Entende o quê? — Laurel ficou esperançosa.— Agora começou a fazer sentido e você fez bem em vir falar comigo. Creio que eu

posso ter a explicação que você esperava.— Então fale logo. Como Conor pôde me enganar assim?— Laurel, você não está levando em conta o orgulho montanhês. O que Conor

deseja para você acima de tudo?— Não creio que você esteja se referindo a me fazer feliz. — Laurel fitou a amiga,

que parecia muito satisfeita consigo mesma, e revirou os olhos. — A minha segurança.— Exatamente. Os montanheses têm grande orgulho em proteger a família.— Sim, isso é verdade. Mas o que...— Para ser honesta, você esteve verdadeiramente ansiosa e preocupada com seu

avô durante o inverno?Laurel teve de admitir que, apesar de imaginar a fraqueza defensiva de seu avô e

não ter idéia do que Conor faria para protegê-lo, não estivera muito inquieta a respeito dele.

— Talvez no começo. Depois Conor prometeu que meu avô estaria seguro e que eu não deveria pensar mais sobre isso, e eu acabei aceitando as palavras dele.

— Laurel, sob o ponto de vista do orgulho de um montanhês, qual o homem que não vai querer parecer um herói diante de sua amada? Acha mesmo que Conor desistiria de sua admiração e agradecimentos declarando que lorde Maclnnes não precisava de proteção? Ainda mais o chefe de um clã poderoso e casado com a mais bela das mulheres... — Aileen interrompeu o protesto de Laurel. — Isso mesmo, qualquer um acalentaria a idéia de fazer-se de importante para agradar a esposa, ainda mais sabendo que ela ficaria confiante no bem-estar do avô.

Aileen recostou-se na cadeira e cruzou os braços, satisfeita com o próprio raciocínio.Laurel deu razão à amiga. Ela não pensara sob o ponto de vista de Conor, apenas

sob o dela. Verdade que ele a enganara um pouco, mas sem má intenção. Conor, sabendo que ela e o avô estavam seguros, pretendia fazer-lhe uma surpresa na primavera. E a reação de Maclnnes fora inesperada e não por culpa de Conor.

Aileen não chegou a continuar o assunto. Elas ouviram uma agitação do lado de fora e Aileen jurou que bateria no soldado que acordasse seu filho. Correu para abrir a porta e Conor entrou, pisando duro.

Ele imaginou que Laurel tivesse sido raptada quando Fallon entrou no salão nobre para perguntar quem acompanhara Laurel para fora do castelo.

Maclnnes viu Conor empalidecer e imaginou o que ele pensava.— Um homem a meu serviço não levaria minha neta para nenhum lugar.— Quem garante isso? — Conor controlou a fúria.— Meus homens são tão leais a mim quanto os seus aos McTiernay. Nenhum deles

faria um movimento sem meu comando.— E se milorde tivesse ordenado?

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— Conor, ouça bem. Laurel deixou claro que deseja ficar aqui, a seu lado. Ou será que eu entendi mal?

Conor estreitou os lábios.— Milorde está certo, e estou satisfeito por não ter de lutar consigo. Laurel é minha

esposa e enfrentarei qualquer um por ela.— Já ouvi isso antes;— Milorde afirmou que seus homens não levariam minha mulher.Maclnnes espalmou as mãos para os lados.— O inverso pode ser verdadeiro. Sua mulher pode ter levado meu homem não sei

para onde.Conor estremeceu.— Milorde deve estar certo. Laurel tem a obstinação e a cabeça dura dos Maclnnes

e milorde acaba de ter mais uma prova do que venho enfrentando.Maclnnes sorriu com a frustração de Conor. A personalidade independente de Laurel

levava o casal a uma relação de amor e ódio.— Laurel sempre foi uma criança que se rebelava ao ser dominada e era impossível

fazê-la aceitar qualquer sugestão que não a agradasse. Diga-me, Conor, é preciso correr atrás dela todos os dias?

— Em geral são uma ou duas semanas a cada quatro meses em que não faço outra coisa. Creio que esta semana é uma deles. Maclnnes sorriu.

— Então não é tão grave assim. Em toda a sua vida serão apenas uns dois anos em que terá de se preocupar em encontrar minha neta, isso se tiver sorte, Conor. —Maclnnes deu um tapinha amigável nas costas dele. — Vamos procurar Laurel.

Entretanto, não foi tão fácil. Conor supunha que Laurel pedira a um soldado para levá-la ao acampamento dos Maclnnes, mas ninguém a vira desde a manhã. O tal Brion também sumira e Maclnnes lembrou-se de que o guerreiro estava ansioso para levar Laurel de volta para as Terras Baixas.

Depois de algum tempo, ocorreu a Conor, àquela altura extremamente nervoso, que Laurel poderia ter ido visitar Aileen. Ele detestava ter de sair atrás dela, ignorando seu paradeiro, e ainda mais estando ela prestes a dar à luz. Quando chegou na choupana com Maclnnes e Finn, ele estava desesperado, imaginando que Laurel pudesse estar em trabalho de parto sem qualquer auxílio. E quando a viu tão bem-humorada, o medo, como sempre, se transformou em ódio.

Laurel viu o rosto carrancudo do marido e soube que ela era a causa.— Não fique zangado, Conor, vim com um acompanhante — ela se defendeu e

apontou o soldado do lado de fora.— Ele é um Maclnnes! — Conor berrou. Laurel deu de ombros, sabendo que o

irritaria.— Mas não deixa de ser um acompanhante. Não me lembro de nenhuma regra que

restrinja minha escolta aos soldados McTiernay. Na verdade, a discussão em que fui vencedora terminou com a concordância de que uma pessoa fisicamente capaz serviria como companhia, desde que eu não me aventurasse para além das choupanas próximas à muralha. Pedi a Brion que viesse comigo, pois não havia mais ninguém disponível, e ele concedeu com gentileza.

Conor lembrou-se do guerreiro que fazia parte da guarda de Maclnnes e considerou a escolha de Laurel bastante razoável.

— Estou satisfeito que tenha chegado, lorde Maclnnes — Brion interferiu em defesa de Laurel. — Creio que estávamos certos em nossas suposições. Lady Laurel está sendo maltratada aqui.

— O quê? — Laurel, Conor e Maclnnes gritaram em uníssono, e as portas da choupana estremeceram.

O barulho acordou Gideon. Os três ignoraram o choro do bebê e o olhar fuzilante de

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Aileen. Laurel foi a primeira a se recuperar.— Brion, por favor, queira explicar-se — ela foi incisiva. — O que você disse não faz

sentido.— Pois não. — Brion a encarou, recusando-se a capitular diante dos olhares

furiosos dos McTiernay, sem imaginar como estava se arriscando.E pela segunda vez naquele dia, Laurel interveio para evitar derramamento de

sangue.— Brion, o que o faz pensar que sou maltratada? — ela indagou em voz baixa.— A conversa que milady teve com sua amiga. — Ele apontou Aileen.Laurel puxou Finn pelo braço, sensível como todos os montanheses quando se

tratava da família, para lembrá-lo de que não deveria agir com violência. Brion trilhava um caminho perigoso e não parecia disposto a recuar. Se uma disputa fosse ali desencadeada, os dois clãs se enfrentariam numa batalha.

— Brion — Laurel sacudiu levemente a manga dele —, diga-me o que o levou a essa conclusão.

— Milady disse que foi enganada, que lorde McTiernay a fez acreditar que seu avô estava em perigo e que também não lhe contou que lorde Maclnnes viria até aqui depois de receber a mensagem. Nessas condições, não acho que milady deveria continuar nas terras McTiernay. Volte para casa conosco, onde será amada e respeitada, sem que ninguém pense em mentir ou enganá-la.

Brion notou o olhar de fúria que se instalara no semblante de Laurel enquanto ele fazia o discurso.

Conor também notou a mudança e deu razão a Finn. Embora não fosse uma experiência agradável ser objeto da ira de Laurel, era divertido observar isso acontecer com outro.

— Brion — ela começou com voz perigosamente doce e olhar sombrio —, permita-me fazer uma sugestão para seu futuro. Escute bem o que vou lhe dizer, caso contrário sua vida será curta, principalmente se resolver se casar com uma mulher enérgica.

Brion espantou-se com a reação de Laurel. Ele imaginara que ela ficaria grata por sua defesa.

— Se pretender bisbilhotar uma conversa particular, faça com que o fato pareça acidental. Se a ouvir acidentalmente, esqueça-a. Finalmente, se for tão tolo a ponto de escutar e anunciar o que ouviu, pelo menos repita o diálogo de maneira correta.

Brion desejou que a terra se abrisse sob seus pés.— Sentir-me enganada foi um sentimento temporário, substituído pelo alívio quando

entendi que meu marido teve a melhor intenção a meu respeito quanto às decisões dele. Aliás, como ele sempre faz. — Laurel notou o sorriso largo de Conor. — Embora possamos discordar quanto à maneira exagerada como ele protege meus interesses.

— Perdão, milady — Brion falou, engasgado.E subitamente o mundo do mancebo voltou ao lugar com o sorriso brilhante de

Laurel.— Perdoado e esquecido. — Laurel virou-se para o avô e o marido, e fitou-os com ar

de advertência. — Certo?— Certíssimo. — Maclnnes riu e abraçou-a.Ele gostava da determinação da neta, que ainda na infância se saía bem das

discussões com os soldados.Seus planos inteligentes para evitar punições ou reprimendas sempre despertavam

a simpatia geral. Laurel era capaz de enfurecer uma pessoa e cativá-la de imediato. Ele sentira muita falta de Laurel quando o pai dela proibira as visitas da filha. Nunca mais ficaria afastado da neta por tanto tempo.

Conor ergueu Laurel nos braços e saiu da choupana de Finn. Eles nada disseram, pois o orgulho os impediria de admitir uma derrota, ainda mais diante dos outros.

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Quando chegaram a seus aposentos, Conor deixou Laurel no chão e beijou-a longamente, inebriado mesmo depois de tanto tempo. E sempre seria assim, ele pensou, esquecido de tudo, exceto de Laurel.

Os dias que se seguiram foram de festanças e torneios entre os dois clãs. As competições simuladas, assim chamadas por Conor e Maclnnes, tinham lugar no pátio inclinado do lado de fora das muralhas e diariamente eram introduzidas dificuldades maiores. Os homens achavam a idéia esplêndida. Laurel e Brighid a classificaram de "ridícula". Brighid, angustiada, perguntava a toda hora se chegaria ao altar, a despeito de Laurel garantir que Conor não permitiria que nada acontecesse com David.

Laurel dormia quase o tempo inteiro. Quando estava acordada, sentia-se irritada, imensa e pesada. Não queria que o avô a visse daquela maneira e o mandava de volta para casa todos os dias, prometendo visitá-lo depois do nascimento do bebê e da própria recuperação. Invariavelmente Maclnnes respondia que esperaria pela chegada do bisneto.

O que mais aborrecia Laurel era a indiferença de Conor e de seu avô diante de sua raiva e das mudanças de humor. Ela reconhecia que, hão raras as vezes, era exigente e descortês, e o descaso deles aumentava sua frustração. Desejava que algo acontecesse para apressar a vinda do bebê ou para redirecionar sua raiva. Seu desejo foi atendido da pior maneira possível.

CAPÍTULO XI

Keith Douglas cavalgava com seu pai e mais uma dúzia de guerreiros em direção aos portões da Fortaleza McTiernay, rodeados pelos homens de McTiernay desde a ultrapassagem dos limites das terras de Conor. A vinda de lorde Douglas fora precedida por uma mensagem que chegara poucos dias antes. Lorde Douglas mandara avisar que tinha assuntos importantes a tratar com lorde McTiernay e que viria com poucos homens.

Conor se deu conta da presença de Keith Douglas quando a comitiva se aproximou do castelo. Ao saber da chegada iminente de lorde Douglas, Conor contara a Maclnnes sobre a experiência terrível de Laurel nas mãos de Douglas. Como era de se esperar, os berros de Maclnnes fizeram com que metade de seus homens acorressem com as espadas desembainhadas. Conor retardara o relato da história por saber que Maclnnes exigiria o direito de enfrentar o inimigo. Depois de uma discussão exaustiva, Conor e Maclnnes haviam decidido deixar os Douglas entrarem nas terras McTiernay para explicar o motivo daquela visita incomum. Depois disso, decidiriam o destino do líder desonesto e traiçoeiro, e de seu filho.

Em pé na muralha do castelo, Conor recusou-se a receber o canalha que se aproximava, enquanto Maclnnes observava das sombras o desenrolar dos acontecimentos. Os dois haviam concordado que seria mais conveniente Douglas ignorar a presença de Maclnnes até eles ficarem sabendo qual era o assunto que o trouxera até ali.

Conor e Maclnnes se enfureceram ao ver Keith Douglas vivo, sendo que Laurel se culpava por tê-lo matado. A presença dele significava perigo. Atirar nele sem justa causa

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poderia desencadear uma guerra. Robert Bruce promulgara a lei sobre lutas internas, estabelecendo que as disputas teriam de ser contra o rei da Inglaterra e não entre clãs. Bruce obtivera os compromissos de Conor, de Maclnnes e até de Douglas, a respeito.

Porém, depois do que Laurel fizera, certamente Keith viera à procura de vingança, fosse ela qual fosse.

— Alinhem-se nas ameias e guardem os portões! — Conor gritou enquanto outros soldados McTiernay rodeavam os catorze homens. — Nenhum Douglas vai ultrapassar essas muralhas — ele disse com frieza, olhando o grupo de homens cruéis que se encontrava do lado de fora do castelo. — Nem comerá de nossa comida.

— Nós trouxemos a nossa — o velho Douglas anunciou.— Diga a que veio e saia de minhas terras! — Conor avisou-o.Keith adiantou-se e ignorou a reprimenda do pai, que lhe ordenou silêncio.— Vim buscar minha mulher! — ele berrou com ódio na voz.Laurel dormia quando Conor e Maclnnes souberam da chegada do grupo e

decidiram nada lhe dizer, esperando resolver a situação sem que ela soubesse de nada.Mas entenderam a futilidade daquela intenção ao ouvi-la gritar.Conor desceu correndo até o pátio, onde Laurel estava inconsciente no chão, perto

da muralha norte. Quando voltou a si, ela continuou atônita por ter escutado a voz de Keith.

— Não pode ser verdade, Conor, não pode. — Laurel agarrou-se na túnica do marido.

— Calma, meu amor, eu acredito em você. Não duvidei quando me contou o ocorrido e continuo acreditando em suas palavras.

Laurel acalmou-se um pouco por estar nos braços de Conor. Ele gostaria de poder ficar ao lado dela para protegê-la, mas se o fizesse acabaria por prejudicar não só a ela, mas a todos. Ele fitou Maclnnes de relance e anuiu.

— Vá agora.Maclnnes contemplou a coisa mais preciosa do mundo para ele e engoliu em seco.— Seja forte, Laurel, sei que você conseguirá. Não importa o que aconteça, não diga

a ninguém que eu estive aqui. — Ele beijou a testa da neta com todo o amor e sumiu na direção da passagem secreta do comparte-mento da cisterna.

Conor segurou as mãos de Laurel, temeroso como jamais estivera.— Meu amor, por favor, escute bem. Preciso que confie em mim e acredite em tudo

o que conquistamos. Pode fazer isso? Ótimo. Douglas e seu filho estão entrando...— Você não vai deixar aqueles dois monstros entrarem em minha casa! — Laurel

gritou, furiosa.Conor não chegou a responder.— Sim, filha, ele deixará — Douglas rosnou, ameaçador.De longe, Laurel sentia o mau cheiro dele.— Saia daqui! — ela tornou a gritar.— Ela admitiu a tolice, McTiernay? Sei que meu filho não tem muito juízo, mas ele a

escolheu e ela disse "sim". — Douglas sorriu com ironia e deixou à mostra os dentes podres.

— O senhor é desprezível. Não posso imaginar como meu marido o deixou entrar aqui.

— Talvez por ele não ser seu marido — Douglas falou com voz pastosa.— Não é? Pois está redondamente enganado, animal peçonhento. Somente seu

filho pode ser mais idiota do que o senhor. — Sentiu dor no braço quando Conor o apertou mais do que o necessário por ela pretender avançar.

— Fique aqui — ele ordenou sem a olhar. — E Deus a ajude se aqueles homens do lado de fora sustentarem o relato de Keith Douglas sobre sua noite de núpcias.

A hostilidade de Conor surpreendeu Laurel, e ela observou Conor avançar no pátio

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para conversar com os guerreiros de Douglas.Ela não podia provar sua história e sem dúvida os soldados de Douglas contariam

muitas mentiras. Conor acreditaria nela? Pouco depois ele retornou, distante e frio, seguido pelos Douglas, pai e filho.

Keith parecia entusiasmado com os eventos. Depois de ter sido ferido por Laurel, jurara vingar-se. Traria Laurel de volta, conseguiria fazê-la arrepender-se para o resto da vida pelo que fizera e faria com ela tudo o que lhe apetecesse.

A princípio, o pai discordara de sua idéia. Não era segredo que Laurel caíra nas boas graças de McTiernay. Mas os planos de casamento para Keith tinham maiogrado, e quando Douglas soubera que McTiernay acabara com suas esperanças de uma aliança, resolvera ajudar o filho a vingar-se e também a procurar uma recompensa pessoal por isso.

Douglas estava ciente de que não ganharia uma guerra contra McTiernay, mas não haveria coisa pior para o orgulho de um homem do que perder a mulher para o inimigo. Apesar do sangue e da sujeira que manchavam o rosto de Laurel Cordell naquele dia, não havia dúvida de que se tratava de uma beldade. E McTiernay se apossara também daquele prêmio.

Conor precisava de tempo para evitar uma guerra e matar os Douglas sem despertar a ira de Robert Bruce. E mesmo que os planos dessem certo, ainda haveria de considerar uma eventual perda do amor de Laurel. Rezou para Laurel ser forte por ele, pelo futuro e pelo filho deles. Ele escutou as mentiras a respeito de Laurel e voltou, sombrio.

— Peça aos criados para mudarem suas coisas do solário para a torre norte! Nunca mais quero vê-la!

A frieza das palavras de Conor retalhou o coração de Laurel e o tempo parou por alguns momentos até ela escutar uma voz distante de alguém que estava perto dela.

— Levem-na para a torre norte! A moça é minha! — Keith aproximou-se com o mesmo olhar desvairado da noite em que Laurel o recusara diante do sacerdote.

Conor bloqueou o avanço de Keith.— Afaste-se dela! — Ninguém duvidava do que aconteceria se Keith desafiasse seu

comando. — O filho que ela carrega no ventre é meu, e só depois do nascimento ela será sua. Até lá ela permanecerá sozinha. — Conor fitou Douglas-pai com desprezo. — Não abrirei mão disso.

Conor segurou o braço de Laurel com força e levou-a até os novos aposentos da torre norte. Esperava ter alguns minutos para uma explicação, mas Douglas os seguiu.

— Você ficará aqui até meu filho nascer e não sairá nem para comer. A parteira virá diariamente para se assegurar da saúde do bebê. Fora isso, permanecerá solitária. — Conor fitou-a, implorando para ela entender a mensagem implícita. — Não tolero gente mentirosa!

Ele saiu e deixou-a sozinha.Laurel ficou parada por um longo tempo diante da porta que fora fechada, refletindo

no destino cruel que mantivera Keith vivo e que permitira sua vingança.Ela não conseguiu chorar. Logo depois uma criada chegou para trazer-lhe a escova,

alguns pertences pessoais e a outra túnica. A moça assegurou que tudo acabaria bem, mas a voz trêmula traía sua incerteza. Assim que ela saiu, Laurel debulhou-se em lágrimas.

Mais tarde a mesma criada trouxe comida, mas Laurel não conseguiu comer. O cozido e o pão esfriaram e ficaram rançosos. Conor soube que Laurel não se alimentara e entendeu que ela tomara suas palavras como verdadeiras. Jurou que, se sobrevivessem àquilo, não deixaria jamais ninguém ameaçá-los. Pediria perdão e prometeria impedir que outros sofrimentos a atingissem no futuro. Se ela entendesse por que tivera de ser protegida, até a deixaria vencer as discussões.

Laurel não conseguiu dormir e passou a noite sentada junto à janela, contemplando

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o belo cenário das Terras Altas. Não estava muito frio e a lua brilhava. Seria uma noite ideal para visitar a torre estrelada.

Suspirou. Pelo menos estava num local alto e podia deslumbrar-se com a vista.Na manhã seguinte, ela também não comeu. Sabia que era preciso esforçar-se pelo

bebê, mas não tinha fome nenhuma. Deitou-se e dormiu de exaustão.Laurel acordou à noite, quando os raios de luar iluminavam o quarto, e espantou-se

por não ter reconhecido antes a verdade. Sonhara com Aileen, e a amiga inteligente a ajudara a ver o outro lado da situação.

Deixando as emoções de lado, Laurel foi capaz de entender o que acontecera no dia anterior. Conor lhe dissera que acreditava e confiava nela. E o avô pedira para ela ser forte e não revelar a presença dele para ninguém.

Laurel contemplou o reflexo do luar no rio, ora mais caudaloso pela neve que derretera, refletiu em tudo o que o avô e Conor lhe haviam dito e no que acontecera depois. Conor agira como se a odiasse, mas impedira Keith de se aproximar dela.

Claro, Conor precisava ganhar tempo, e sua atitude ríspida fora uma artimanha para enganar os Douglas. E usara a gravidez dela para conceder ao avô e a si mesmo oportunidade de protegê-la. Laurel comoveu-se por Conor ter de suportar em seu castelo a presença detestável dos Douglas. Ah, como gostaria de poder avisá-lo que entendera tudo e que manteria o filho deles em segurança até que fosse encontrada uma maneira de resolver a situação! Então ela comeu o jantar que fora deixado na mesa.

Conor foi sensível ao recado. Laurel comia, dormia e recebia Hagatha normalmente. Ela compreendera que algo era preparado, ou, pelo menos, confiava nele.

Quatro dias haviam se passado, mas Conor não teria prolongado a situação por tanto tempo se Laurel não demonstrasse acreditar nele. Conseguira manter os Douglas do lado de fora das muralhas, mas tivera de aceitar quatro guardas deles vigiando a torre norte. Hagatha foi levada para cima no terceiro dia e não saiu mais. Um soldado escoltava as criadas que subiam e desciam para certificar-se de que não haveria troca de mensagens.

Conor manteve Aileen e Brighid afastadas, e os irmãos na torre estrelada. Odiava ter de fazer isso, mas ele sabia que a lealdade deles para com Laurel poderia pôr em risco seu plano.

Felizmente os irmãos o haviam interpelado no solário e não no hall. Eles não se conformavam com a presença dos Douglas dentro dos limites dos McTiernay, mesmo sem saber do isolamento imposto a Laurel. A juventude e a inabilidade de controlar as emoções haviam forçado Conor àquela decisão. Todos a quem amava teriam de ser mantidos em confinamento. E ele vivia num inferno.

Laurel acordou com uma dor aguda e fitou a parteira que ressonava a seu lado. Percebeu que amanhecia por trás da cortina que fora colocada na janela. Hagatha era muito sensível à luz durante o sono e pedira escuridão completa para dormir bem.

Hagatha era sua única companhia e se tornara sua amiga e confidente. Embora concordasse com a dedução de Laurel sobre a situação, ela também não imaginava qual seria o plano de Conor. As duas rezavam e esperavam que ele conseguisse resolver tudo antes de o bebê nascer.

Mas os pedidos delas não foram atendidos. O bebê nasceria naquele dia e, recordando-se de Aileen, Laurel refletiu que não conseguiria ficar em silêncio durante o parto. No entanto ela sabia que Conor não a entregaria a ninguém, muito menos aos Douglas. Gostaria de poder avisá-lo para ele mudar os planos.

As contrações eram fortes, mas espaçadas, quando Hagatha acordou e espreguiçou-se.

— Laurel, pelo visto trouxeram a refeição enquanto eu dormia. — Ela experimentou o que havia nas travessas. — Está fria, mas gostosa. Fiona é mesmo uma boa cozinheira.

Laurel fingira dormir quando o guarda trouxera as bandejas. Aileen preferira andar

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entre as contrações, mas Laurel optou por descansar e guardar as forças para resistir às próximas dores. Ela observou Hagatha preparar o prato.

— O que está esperando, filha? Você é a primeira a comer e ainda devora as migalhas.

— Não estou com fome. — Laurel tentou adiar o inevitável mesmo diante da experiência de Hagatha.

— Há quanto tempo começaram as dores, filha? — Hagatha nunca se enganava.— Há pouco, quando acordei.— É possível que ainda demore. — As duas se entreolharam, receando o insucesso

do plano de Conor. Até a noite, todos no castelo saberiam que Laurel estava em trabalho de parto.

— Não se preocupe, filha, tudo dará certo. Laurel agarrou a manga da outra.— Hagatha, prometa-me uma coisa.— Outra? Já cumpri uma promessa, estou aqui.— Por favor. — Laurel cerrou os dentes quando uma contração atravessou seu

ventre. — Se tiver de escolher, Hagatha, salve o bebê.A parteira fitou-a intensamente antes de responder:— Não farei essa promessa, minha filha.— Nós duas sabemos que o bebê é grande demais. Se for preciso, pode me cortar e

tirá-lo. Não quero a morte de nós dois, como aconteceu com minha mãe e meu irmão.Durante a manhã inteira, Laurel tentou em vão obter um juramento de Hagatha, mas

era impossível dissuadir a parteira da idéia de salvar mãe e filho.A primeira indicação de que algo diferente ocorria no castelo foi a ausência do

almoço. As dores menos espaçadas tiravam a noção do tempo de Laurel, mas não de Hagatha. Laurel tinha a impressão de que o sofrimento durava dias e não horas. O segundo sinal foi uma gritaria naquela tarde e até Laurel imaginou ter ouvido um entrechoque de espadas no pátio.

No começo da noite, Laurel andava pelo quarto e procurava acalmar-se, mas as dores eram fortes e deviam piorar, pelo que testemunhara com Aileen. Procurou pensar em outras coisas, enquanto sentia que a rasgavam por dentro.

— Hagatha. — Laurel inspirou fundo. — O que estará acontecendo?Anoitecia, e ninguém trouxera água nem comida desde a manhã. Fazia algum

tempo, não se ouviam ruídos no castelo. Hagatha nada respondeu, embora estivesse preocupada com o silêncio depois da chamada às armas. Pensou em sair, mas não queria deixar Laurel sozinha. E se não conseguisse voltar? Em breve todos ficariam sabendo que Laurel estava em trabalho de parto. Até o momento, Laurel suportara corajosamente as contrações sem gritar, mas logo elas se tornariam insuportáveis e a energia de Laurel estava abalada.

— Não sei, mas vou pedir ao guarda que traga pelo menos água. Não creio que Conor permitiria que a deixassem morrer de fome e sede.

Laurel deitou-se e agarrou os lençóis, imersa em nova onda de dor.— Nós sabemos que ele está em combate.— Eu não estou sabendo de nada.— Se ele estivesse aqui, nós teríamos comida e água, não é verdade?— Bem, eu mesma vou buscar algo para beber. O jarro está quase vazio e talvez eu

não possa sair depois.Laurel anuiu.Hagatha abriu a porta e notou que não havia sentinelas na entrada da torre. Desceu

a escada e verificou o pátio. Não havia ninguém à vista, e o silêncio era preocupante. Onde estariam todos?

Hagatha foi até a cozinha. A comida por terminar repousava sobre a lareira apagada, e Hagatha teve certeza de que algo muito sério acontecera. Mesmo que alguma

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competição tivesse esvaziado o pátio, sempre havia alguém na cozinha, e o fogo raramente era apagado. Ela pegou alguma coisa para comer, um frasco com água e Voltou. Laurel não conseguia mais controlar os gritos de dor.

— Não precisa mais se reprimir, minha filha, não há guardas na torre.— Então podemos sair daqui?— Sim, mas primeiro terá de beber um pouco de água. — Hagatha pôs a comida e o

vasilhame sobre a mesa.— Não havia ninguém para ajudá-la?— Logo todos estarão de volta. — Hagatha decidiu ocultar a verdade.— Então vá chamar alguém. —- Laurel não suportou a dor e gritou.— Não a deixarei sozinha. — Hagatha rezou para alguém aparecer.Ela estava limpando a testa de Laurel quando a porta foi aberta e Aileen e Brighid

entraram correndo.— Meu Deus! — Aileen arregalou os olhos ao ver Laurel extremamente pálida. —

Quanto tempo mais vai durar isso, Hagatha?— O quanto for necessário. — Hagatha pediu silêncio com o olhar.Brighid saiu correndo em busca de Conor. Aileen aproximou-se e notou que Laurel

parecia dormitar entre as contrações.— Por favor — Aileen sussurrou —, diga que ela sobreviverá.Hagatha fez um sinal imperceptível pedindo silêncio.— Ajude-me agora.Aileen sentou-se ao lado de Laurel e segurou-lhe a mão. Laurel abriu os olhos.— Terminou a disputa?— Sim. — Aileen procurou não chorar ao ver a amiga sofrendo.— Conor? — Laurel sussurrou.— Está bem. Viemos ajudá-la, agora não vai demorar muito.Laurel sacudiu a cabeça.— Sinto que há algo errado.Conor perdeu a compostura quando descobriu que Laurel estava em trabalho de

parto desde a manhã. Subiu correndo para vê-la, mas foi impedido de entrar por Aileen e Brighid. E teve de escutar os gritos lancinantes do outro lado da porta.

— Diga a ela que tudo terminou.— Ela já sabe — retrucou Aileen, voltando ao quarto com uma caçamba de água.Conor olhou a porta que se fechava e imaginou se voltaria a sentir a confiança

anterior que Laurel chamava de arrogância. Então desceu a escada e foi para a capela.E foi onde Maclnnes encontrou Conor na manhã seguinte.— Por favor, diga-me que o sofrimento de Laurel teve um fim — Conor implorou.Maclnnes sacudiu a cabeça e sentou-se no banco ao lado de Conor. Ele saíra tarde

da noite para andar e não ter de ouvir os gritos de sua amada neta. Não conseguira salvar a filha querida e temia perder sua única família. Muito cansado, gostaria de ajudar Conor, mas nada conhecia que pudesse aliviar a dor do afilhado.

Conor apoiou os cotovelos nas coxas e escondeu o rosto entre as mãos.— A última semana foi difícil, mas eu não deveria tê-la trancado. A dor que lhe

causei...— Meu filho, sua atitude foi a mais sensata. Laurel encontrava-se em segurança e

fora do alcance deles. Hagatha estava com ela e o principal foi Laurel saber a verdade.— Eu sei, mas também nada se compara a essa tortura. — Pela primeira vez na

vida, Conor se sentia apavorado.Maclnnes nada respondeu, pois também estava com medo.

A manhã anterior começara de maneira bem diferente do usual. Depois da chegada

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dos Douglas, Maclnnes fora com padre Lanaghly em busca do sacerdote que oficiara as supostas bodas de Laurel. Lanaghly encontrara o padre Uron com freqüência em suas viagens durante os meses de inverno e sabia onde procurá-lo. Os dois rezaram para que Uron ainda estivesse no local previsto.

A viagem fora longa, mas Uron fora encontrado e confirmara o relato de Laurel. Ele concordou em acompanhá-los para refutar a reivindicação de Keith Douglas. Maclnnes não teve dificuldade em convencer dois lordes imparciais para acompanhá-los na volta.

Eles chegaram ao castelo no final da manhã anterior, e Conor ordenou aos Douglas que fossem ao pátio inclinado. Depois libertou os irmãos para que eles testemunhassem sobre as condições físicas de Laurel na noite em que ela fora encontrada pelos McTiernay.

O castelo todo parou para presenciar o evento. A raiva e o ressentimento de ter de suportar a presença dos Douglas veio à tona. Os Douglas haviam conspurcado a honra de Laurel e todos queriam a morte deles. Porém Conor queria algo mais do que a vida deles. Queria vingar Laurel.

O pátio de combate estava rodeado de guerreiros McTiernay e Maclnnes. Soldados, fazendeiros e criados estavam lado a lado para presenciar o que fatalmente ocorreria.

Pela primeira vez foi contada a história de como Laurel fora encontrada e acompanhara os McTiernay. Hamish falou sobre a coragem dela, e Seamus, sobre sua perícia. Cada um dos irmãos contou fatos a respeito da coragem com que ela enfrentara o trajeto para o castelo, apesar de seu estado físico. Glynis falou sobre a generosidade de Laurel, e Aileen, sobre os dotes de curandeira. Finalmente foi a vez de o padre Uron denunciar a mentira de Keith Douglas.

Douglas e o pai tentaram argumentar com Uron, mas os dois chefes de clã que haviam acompanhado Maclnnes os impediram de falar. Conor permaneceu impassível e seu silêncio foi mais do que ameaçador. Seu sangue fervia ao olhar aqueles homens cruéis, patéticos e encolhidos que haviam ameaçado Laurel.

— Os senhores levarão o caso ao conhecimento de Robert Bruce? — Conor perguntou aos lordes imparciais.

— Sim — os dois responderam, apoiando a decisão, o que certamente Bruce também faria ao saber da verdade.

— Um de meus homens para cada um dos seus — Conor decidiu.Douglas surpreendeu-se, pois imaginara que seria uma carnificina.— E se ganharmos?— Poderão partir — Conor concedeu.Douglas suspirou. Sabia que McTiernay era um excelente estrategista, mas como

seria ombro a ombro? Ele teria ensinado truques a seus homens?— Metade é minha — Maclnnes adiantou-se. Conor acenou em concordância e

anuiu para Finn. Finn e seis guerreiros McTiernay se adiantaram com as armas desembainhadas. Segundos mais tarde Maclnnes e outros seis homens se juntaram aos demais.

A batalha foi rápida. Douglas subestimara o amor e a lealdade dos homens de Conor para com Laurel. Um erro grave que acabou com os Douglas e não deixou nenhum McTiernay ou Maclnnes ferido.

Quando a batalha terminou e os corpos foram retirados das terras dos McTiernay, Laurel já estava em trabalho de parto fazia doze horas. Conor tomara um banho de rio antes de encontrá-la. Chegara tarde e não pudera ver Laurel.

A princípio, foi tomado pela aflição normal de um futuro pai. Mas quando os gritos se prolongaram noite adentro, o pavor que Laurel e ele tentaram ignorar assomou em toda a sua força.

— Laurel, você conseguiu! — Aileen deu um sorriso largo e ajudou Laurel a vestir a camisa.

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Os bebês haviam chegado depois de enfrentar um trajeto penoso. Um menino e uma menina. Laurel beijara os dois, segurara-os por alguns segundos e adormecera sob a bênção de não sentir mais dor.

Hagatha terminou os deveres de parteira, sorrindo e enxugando as lágrimas. O menino viera de nádegas, o que explicava o parto prolongado e as dores mais intensas que o comum. A menina, mais cooperadora, nasceu minutos após o irmão, e de cabeça.

Ao amanhecer, Laurel sentira que estava na hora e quando o rapazinho veio ao mundo, Hagatha entendeu a própria tolice.

O menino era muito pequeno para o tamanho do ventre de Laurel. Hagatha entregou o bebê para Aileen e preparou-se para uma segunda criança. Em seguida a cabecinha surgiu e Hagatha segurou uma menina.

Laurel dissera que não havia gêmeos em sua família, apenas crianças grandes que arriscavam a vida das mães. Por isso as duas haviam imaginado que se tratasse de um bebê graúdo. Na verdade, os filhos de Laurel eram grandes para gêmeos, pois a maioria deles era pouco maior do que as mãos de Hagatha. A mãe de Conor ficara apenas um pouco mais distendida quando dera à luz Craig e Crevan, dois garotinhos muito pequenos. Os gêmeos McTiernay eram quase tão grandes como bebês normais e muito saudáveis. Brighid saiu correndo com a novidade.

— Milorde! Lorde McTiernay! Lorde Maclnnes! — ela gritou pelos corredores até encontrá-los.

Os dois voaram para fora da capela, com receio de fazer perguntas.— Milorde...Conor sentiu o coração parar ao ver as lágrimas de Brighid.— Milorde é pai de um menino e de uma menina!— E Laurel? — Ele mal conseguia falar de emoção.— Está bem, embora exausta, e agora está dormindo. Foi difícil, mas lady Laurel

tem muita coragem e sobreviveu à teimosia dos bebês que insistiam em não nascer.Conor fechou os olhos e encostou-se na parede externa de pedra da capela. Sua

família estava salva, Laurel lhe dera gêmeos e pela primeira vez, em meses, estava seguro quanto ao futuro. Seu temor que algo acontecesse com Laurel não lhe permitira ser completamente feliz.

Maclnnes não se comportou muito melhor, caindo de joelhos ao ouvir a notícia. Receara tanto que acontecesse com Laurel o mesmo que ocorrera com a própria filha, que nem mesmo conseguia falar.

Brighid não sabia o que fazer, pois nunca vira Conor agir de maneira tão emotiva. Ele era conhecido por ter nervos de aço e vontade de ferro. Era desconcertante sentir sua vulnerabilidade exposta. Depois de ver a reação de Conor, ela desejou que Donald, forte e sempre reservado, tivesse a mesma reação diante do nascimento do primeiro filho deles. Sorriu e voltou correndo para ajudar a cuidar dos bebês.

Laurel finalmente convencera Conor a deixá-la descer até o salão nobre. A única concessão fora permitir que ele a carregasse pára baixo e para cima, pois seus amados filhos tinham nascido havia apenas três dias. Ela explicara a Conor que, pelo confinamento a que fora necessariamente submetida na semana anterior, ficaria louca se não saísse um pouco de seus aposentos.

Conan e Clyde foram os primeiros a cumprimentá-la quando ela chegou nos braços de Conor que, relutante, sentou-a na poltrona próxima à lareira.

Acomodada, Laurel segurou o lindo menino de cabelos escuros, enquanto Conor embalava a filha que tinha a cabecinha coberta por uma penugem dourada muito clara.

— Estão pensando em continuar com os nomes começados com "C"? — Conan

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perguntou, na empolgação de seus catorze anos. — Sempre caçoei de Clyde, mas ainda há muitos para escolher. O que acham de Calum e Colleen?

Graig e Crevan tomaram a vez para oferecer sugestões e só desistiram quando Conor os ameaçou com trabalhos de limpeza. Os dois bebês continuaram dormindo durante o animado debate.

Naquela tarde, quando finalmente ficaram sozinhos, Laurel, sorridente, perguntou a Conor a respeito dos nomes que ainda não tinham sido escolhidos.

— Meu amor, você é quem tem de decidir. Isso é o mínimo que posso lhe conceder por tudo o que me proporcionou. — Essa era a defesa favorita por não lhe dar uma resposta.

Conor acariciou-lhe o rosto e beijou-lhe os lábios com ternura.— Eu te amo, Conor McTiernay.— E eu te amo, Laurel McTiernay.Laurel dirigiu o olhar para suas duas preciosidades.— Gosto da idéia de sua mãe de usar a mesma letra para dar nomes aos filhos e eu

ficaria honrada de continuar a tradição. No entanto, também quero homenagear minha mãe. Ela teria ficado muito feliz e orgulhosa com os netos. O nome dela era Brenna.

— Então por que não dar a eles nomes começados com"B"?Conor fitou os olhos brilhantes e o sorriso encantador, e soube que nunca sentiria

tanta paz.— Conor, quero lhe apresentar Braeden Conor e sua irmã, Brenna Cillian.Abraçados aos filhos, Conor e Laurel compreenderam que tinham alcançado tudo o

que sempre haviam desejado. Haviam encontrado o amor, lutado por ele, e desdobrado seus corações escoceses.

Fim

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