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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0 GRUPO II – CLASSE II – Plenário TC 000.569/2010-0 Natureza: Tomada de Contas Especial Unidades: Ministério dos Transportes; Rede Ferroviária Federal S/A Responsáveis: Antonio Euclides Caetano dos Santos (101.359.525-49); Natalino Medeiros do Bem (235.736.276-68); Neville Chamberlain Barbosa da Silva (077.716.654-20) Advogados constituídos nos autos: Eurípedes Brito Cunha (OAB/BA nº 1.710), Edmundo Sampaio Jones (OAB/BA nº 9.474), Eurípedes Brito Cunha Junior (OAB/BA nº 11.433), Pedro Marcos Cardoso Ferreira (OAB/BA nº 7.606), Rômolo Dias Costa Neto (OAB/BA nº 14.449), Rita da Cássia Medeiros Câmara (OAB/BA nº 15.893), Karina Dórea Kruschewsky (OAB/BA nº 18.325), Adriana Viana da Cunha (OAB/BA nº 13.842), Janaina M. Santana de Carvalho (OAB/BA nº 22.337), André Cunha Orrico (OAB/BA nº 21.873), Felipe Almeida de Freitas (OAB/BA nº 24.651), Clariana Oliveira da Silveira (OAB/BA nº 24.714), Clarissa Dantas de Andrade (OAB/BA nº 25.895), Marcelo Fontes Monteiro (OAB/BA nº 26.355), Marcus Vinicius Braga Jones (OAB/BA nº 26.284), Manuela Gomes da Silva (OAB/BA nº 23.838), Priscila Sá Menezes de Carvalho (OAB/BA nº 14.856), Betânia da Silva Miguel (OAB/BA nº 28.859), Alessandra Sales Lopes Figueiredo (OAB/BA nº 12.940), Fabio Reis Paim (OAB/BA nº 15.304), Karine Costa Gonçalves (OAB/BA nº 22.418), Helena Oliveira Santiago (OAB/BA nº 419-B), João Laurindo da Silva (OAB/BA nº 4.141), Carlos Frederico Torres Machado Neto (OAB/BA nº 4.456) e Maria Suely do Carmo Vilas Boas (OAB/BA nº 7.439). SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. RFFSA. DESPESAS REALIZADAS NO ESCRITÓRIO REGIONAL. SINDICÂNCIA. IRREGULARIDADES. CONTAS IRREGULARES, DÉBITO E MULTA. INABILITAÇÃO PARA 1

3.2 Neville Chamberlain Barbosa da Silva

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GRUPO II – CLASSE II – PlenárioTC 000.569/2010-0 Natureza: Tomada de Contas EspecialUnidades: Ministério dos Transportes; Rede Ferroviária Federal S/A Responsáveis: Antonio Euclides Caetano dos Santos (101.359.525-49); Natalino Medeiros do Bem (235.736.276-68); Neville Chamberlain Barbosa da Silva (077.716.654-20) Advogados constituídos nos autos: Eurípedes Brito Cunha (OAB/BA nº 1.710), Edmundo Sampaio Jones (OAB/BA nº 9.474), Eurípedes Brito Cunha Junior (OAB/BA nº 11.433), Pedro Marcos Cardoso Ferreira (OAB/BA nº 7.606), Rômolo Dias Costa Neto (OAB/BA nº 14.449), Rita da Cássia Medeiros Câmara (OAB/BA nº 15.893), Karina Dórea Kruschewsky (OAB/BA nº 18.325), Adriana Viana da Cunha (OAB/BA nº 13.842), Janaina M. Santana de Carvalho (OAB/BA nº 22.337), André Cunha Orrico (OAB/BA nº 21.873), Felipe Almeida de Freitas (OAB/BA nº 24.651), Clariana Oliveira da Silveira (OAB/BA nº 24.714), Clarissa Dantas de Andrade (OAB/BA nº 25.895), Marcelo Fontes Monteiro (OAB/BA nº 26.355), Marcus Vinicius Braga Jones (OAB/BA nº 26.284), Manuela Gomes da Silva (OAB/BA nº 23.838), Priscila Sá Menezes de Carvalho (OAB/BA nº 14.856), Betânia da Silva Miguel (OAB/BA nº 28.859), Alessandra Sales Lopes Figueiredo (OAB/BA nº 12.940), Fabio Reis Paim (OAB/BA nº 15.304), Karine Costa Gonçalves (OAB/BA nº 22.418), Helena Oliveira Santiago (OAB/BA nº 419-B), João Laurindo da Silva (OAB/BA nº 4.141), Carlos Frederico Torres Machado Neto (OAB/BA nº 4.456) e Maria Suely do Carmo Vilas Boas (OAB/BA nº 7.439).

SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. RFFSA. DESPESAS REALIZADAS NO ESCRITÓRIO REGIONAL. SINDICÂNCIA. IRREGULARIDADES. CONTAS IRREGULARES, DÉBITO E MULTA. INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO COMISSIONADO OU FUNÇÃO DE CONFIANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

1. Demonstrado nos autos que algumas despesas realizadas no Escritório Regional de Salvador da extinta RFFSA não foram devidamente justificadas e motivadas, impõe-se responsabilizar os agentes que autorizaram os gastos irregulares e que não tomaram as devidas providências para o controle gerencial do referido órgão da extinta Estatal.

RELATÓRIO

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Tratam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Liquidante da Rede Ferroviária Federal S.A.- RFFSA em decorrência de determinação contida no item 9.2 do Acórdão nº 2.294/2006 – TCU - 1ª Câmara, prolatado no âmbito da Representação (TC 016.972/2004-2) formulada pelo assessor jurídico da RFFSA.

EXAME PRELIMINAR

2. Consoante exame preliminar (fls. 444 – Volume 3), o disposto no art. 4º da IN-TCU nº 56/2007 foi observado, vez que constam nos autos os documentos elencados no referido dispositivo normativo que se enquadram ao caso vertente e que possibilitam a análise do mérito da questão em debate e o amplo exercício do contraditório e do direito de defesa.

INSTRUÇÃO INICIAL

3. Por meio da instrução inicial (fls. 445/450 – Volume 3), a Unidade Técnica propôs a citação dos responsáveis para apresentarem suas respectivas alegações de defesa e/ou recolherem aos cofres do Tesouro Nacional as quantias indicadas às fls. 449/450 – Volume 3, em razão das seguintes ocorrências:

a) Atos impugnados do Sr Neville Chamberlain Barbosa da Silva, ex-chefe do Escritório Regional da RFFSA em Salvador: consumo excessivo de combustível, gasto excessivo com material elétrico e gasto excessivo com manutenção de veículo, conforme apurado no âmbito da extinta Rede Ferroviária Federal por meio do Processo de Sindicância 040/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003;

b) Ato impugnado do Sr Antonio Euclides Caetano dos Santos, encarregado da atividade contábil e financeira da ERSAV à época dos fatos ora impugnados: ter autorizado os pagamentos irregulares, dos quais originaram o débito, conforme apurado no âmbito da extinta Rede Ferroviária Federal por meio do Processo de Sindicância n.º 040/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003;

c) Atos impugnados do Sr. Natalino Medeiros do Bem, responsável pelo patrimônio e substituto eventual do Chefe do Escritório Regional da RFFSA da RFFSA em Salvador: consumo excessivo de combustível, gasto excessivo com material elétrico e gasto excessivo com manutenção de veículo, conforme apurado no âmbito da extinta Rede Ferroviária Federal por meio do Processo de Sindicância n.º 040/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar n.º 204/2003.

CITAÇÃO

4. Conforme ARs inclusos (fls. 475/476 e 485 – Volume 3), todos os responsáveis foram regularmente citados, tendo, tempestivamente, ofertado suas respectivas alegações de defesa (fls. 02/24 e fls. 25/103 – Anexo 2 e fls. 02/29 – Anexo 4).

INSTRUÇÕES APÓS AS CITAÇÕES

5. Para análise preliminar das alegações de defesa, às fls. 490/493 – Volume 3, a Unidade Técnica propôs a realização de inspeção in loco na sede da Inventariança da Rede Ferroviária Federal visando sanear os autos.

6. Com efeito, após análise da documentação obtida em sede de inspeção, para esclarecer a autoria das irregularidades apuradas, a Unidade Técnica propôs a realização de diligência junto ao

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Banco do Brasil para que este apresentasse cópia das microfilmagens das ordens bancárias e dos relatórios indicados às fls. 500/501 – Volume 3.

DILIGÊNCIA

7. Acolhida a proposta da Unidade Técnica, o Banco do Brasil encaminhou cópias das ordenas bancárias solicitadas e informou que as autorizações de pagamento das mesmas não foram localizadas (Anexo 5).

INSTRUÇÃO APÓS A REALIZAÇÃO DA DILIGÊNCIA

8. Às fls. 510/530 – Volume 3, a Unidade Técnica procedeu a análise da documentação coletada durante a inspeção, e concluiu, na oportunidade pela citação dos responsáveis Neville Chamberlain Barbosa da Silva, ex-chefe do Escritório Regional da RFFSA em Salvador, e Antonio Euclides Caetano dos Santos, encarregado da atividade contábil e financeira da ERSAV à época dos fatos ora impugnados, para que apresentassem alegações de defesa ou recolhessem aos cofres do Tesouro Nacional as quantias indicadas às fls. 528/530 – Volume 3, por conta das seguintes ocorrências:

a) Atos impugnados do Sr Neville Chamberlain Barbosa da Silva: omissão no controle gerencial do ERSAV, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes;

b) Atos impugnados do Sr Antonio Euclides Caetano dos Santos: ter autorizado os pagamentos irregulares dos quais originaram o débito, sem que o solicitante do serviço ou do material atestasse o documento fiscal (ou atestando de modo ilegível), em oposição ao preceituado no Memorando Circular 01/COCONT/COFIN/00, e ter atestado, nos processos de pagamento, que “o material constante do presente documento foi recebido e utilizado”, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes;

CITAÇÕES

9. Conforme ARs inclusos de fls. 541/542 – Volume 3, ambos os responsáveis arrolados às fls. 528 – Volume 3 foram regularmente citados, e ofertaram, tempestivamente, suas respectivas alegações de defesa (fls. 02/14 e fls. 15/58 – Anexo 10).

INSTRUÇÃO FINAL

10. Instruído o feito, a Unidade Técnica apresentou proposta final de encaminhamento, acorde (fls. 546/567 – Volume 3), que, nos termos do inciso I, §3º do art. 1º da Lei nº 8.443/92 transcrevo:

“(...)

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2. INTRODUÇÃO:2.1 O presente processo cuida de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Liquidante da Rede Ferroviária Federal S.A.- RFFSA em decorrência de determinação contida no item 9.2 do Acórdão 2294/2006 – 1ª Câmara, prolatado no âmbito de Representação (TC 016.972/2004-2) formulada pelo assessor jurídico da RFFSA.2.2 Alega o representante que trabalhos da auditoria interna, com a posterior instalação da Comissão de Sindicância n.º 040/2003 e da Comissão de Processo Disciplinar n.º 204/2003, mostraram a existência de diversas irregularidades na gestão do escritório regional da empresa em Salvador – ERSAV, no período de janeiro de 2002 a novembro do mesmo ano. Em decorrência das irregularidades supramencionadas, apurou-se débito de R$ 129.010,10 em valores históricos (fl. 417, vol. principal). 2.3 Os relatórios da Auditoria Interna, da Comissão de Sindicância – CS e da Comissão de Processo Administrativo Disciplinar - CPD se encontram às fls. 16/28 – vol. principal, fls. 29/119 – vol. principal e fls. 177/218 – vol. principal, respectivamente.2.4 Segundo cálculos realizados pelo liquidante da RFFSA, o débito decorreu das seguintes irregularidades (fls. 261/265 – vol. principal):a) Consumo excessivo de combustível: no período entre janeiro de 2002 e 28 de novembro de 2002 o ERSAV gastou em combustível R$ 43.146,77 a mais do que seria normalmente esperado (fl. 263 – vol. principal); b) Excesso na aquisição de materiais elétricos: conforme fl. 264 – vol. principal, a ERSAV desembolsou, de maneira indevida, R$ 11.488,56 para a aquisição de lâmpadas e reatores eletrônicos, entre 14/1/2002 e 11/10/2002 (fl. 264 – vol. principal); c) Excesso de despesas com a manutenção de dois veículos: durante os meses de janeiro de 2002 e novembro do mesmo ano, o escritório regional da RFFSA em Salvador teria despendido, de modo irregular, o total de R$ 74.507,40 (fl. 265 – vol. principal). 2.5 Os responsáveis pelos atos impugnados, segundo a CPD, seriam os senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos, Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Natalino Medeiros do Bem. 2.6 Seguindo entendimento do Tomador de Contas Especial, esta Unidade Técnica realizou a citação dos senhores Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Natalino Medeiros do Bem. 2.7 Dissentindo da conclusão do Tomador de Contas Especial, que afastou o débito em relação ao senhor Antonio Euclides Caetano dos Santos (fl. 374 – vol. principal), entendeu esta Secex que (fl. 448 – vol. principal):

(...) o Sr. Antonio Euclides Caetano dos Santos deve responder solidariamente pela integralidade do débito junto com o Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva. Afinal, em sendo responsável por atestar os pagamentos, sua conduta desprovida da devida diligência foi determinante para a emergência do prejuízo ao Erário, configurando-se, pois, um claro nexo de causalidade entre seus atos e o débito ora analisado.

2.8 Assim, também foi determinada a citação do senhor Antonio Euclides Caetano dos Santos. 2.9 O débito, em valores de 9/2/2010, totalizou R$ 397.816,10 (fls. 453/468 – vol. principal).2.10 Os responsáveis apresentaram as alegações de defesa, constantes às fls. 2/24 – Anexo 2 (Antonio Euclides Caetano dos Santos), às fls. 25/103 – Anexo 2 (Neville Chamberlain Barbosa da Silva) e às fls. 2/29 – Anexo 4 (Natalino Medeiros do Bem). 2.11 A defesa do Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva alegou, entre outras coisas, estarem ausentes dos autos o “inteiro teor dos procedimentos abertos (sindicância e procedimento administrativo disciplinar), dos documentos fiscais, dos processos de pagamento e de reembolso de despesas (...)” (fl. 42 – Anexo 2). Em consequência, inexistiria a possibilidade de o citado contestar o lançamento do débito apresentado às fls. 324/328 – vol. principal. Essa situação teria obstruído o exercício da ampla defesa e do contraditório. 2.12 No mesmo sentido manifestou-se a representante legal do senhor Natalino Medeiros do Bem, afirmando que, “caso existisse alguma imputação ao Contestante, esta somente se resumiria apenas ao montante constante das notas autorizadas por este, e não por todas aquelas relativas ao quantum de R$ 16.927,01, já que a maioria, senão todas, não constam do seu visto, e, portanto, não autorizadas por este” (fl. 29 – Anexo 4, grifou-se). 2.13 Concluiu esta Secex que (fl. 492 – vol. principal):

No tocante à questão levantada sobre a demonstração do cálculo dos valores dos débitos, de fato, não constam nos presentes autos os documentos que permitem conferir os procedimentos, assim como eventuais comprovações da responsabilidade de cada um dos citados. As citações foram realizadas a partir das conclusões que constam nos relatórios de processos administrativos instruídos pela RFFSA, mas que não se fizeram acompanhar de cópias de documentos ou elementos considerados.

2.14 Portanto, houve proposta de inspeção na inventariança da Rede Ferroviária Federal, localizada no Rio de Janeiro, com vistas a “obter a documentação fiscal impugnada, acompanhada dos respectivos processos de pagamento e de reembolso, como forma, não só de permitir o exercício do contraditório e da ampla defesa, como também de verificar o valor do débito imputado a cada agente” (fl. 492 – vol. principal).2.15 A inspeção foi autorizada pela Portaria 991/2010, Registro Fiscalis 585, conforme fl. 494 – vol. principal. A execução se deu entre os dias 24/5/2010 e 27/5/2010.2.16 A documentação coletada na inspeção foi analisada da fl. 510 à fl. 530, vol. principal. A conclusão foi a seguinte:

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154. Como forma de sanear a presente prestação de contas, que se encontrava sem documentação que atestasse a ilegalidade dos pagamentos questionados, foi realizada inspeção na Inventariança da Rede Ferroviária Federal. 155. A fiscalização revelou a existência de claras irregularidades na gestão do ERSAV, dentre as quais se pode citar: notas fiscais de estabelecimentos distintos preenchidas pela mesma pessoa, pagamento de várias notas fiscais sequenciais, abastecimento de veículos em madrugadas e fins de semana, etc. 156. Tais irregularidades culminaram em gastos irreais com combustível, manutenção de veículos e compra de materiais elétricos. 157. Entende-se que os responsáveis pelo débito são os Srs. Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva. 158. O primeiro, encarregado do setor financeiro do ERSAV, atestou, nos processos de pagamentos, que “o material constante do presente documento foi recebido e utilizado”, quando havia sólidos indícios de irregularidades. Por outro lado, realizou os pagamentos sem cumprir o Memorando Circular 01/COCONT/COFIN/00, segundo o qual “os documentos de despesas deverão estar atestados pelo responsável que solicitou o serviço ou compra de material” (fl. 75 – Anexo 2). 159. Na maior parte dos casos, não havia atesto por parte de quem solicitou o serviço ou material, e, quando havia, amiúde era ilegível. 160. Já o Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, enquanto chefe do ERSAV, não implementou os controles gerenciais adequados com vistas a impedir os pagamentos irregulares. Frise-se que não se tratava de uma ou outra irregularidade isolada, mas sim de prática generalizada no escritório de Salvador, revelando clara falha de gestão. 161. Em função da nova juntada de documentos aos autos e do recômputo do débito, cumpre realizar a nova citação dos responsáveis. 162. Entende-se que o Sr. Natalino Medeiros do Bem, por ter ficado apenas um mês como Chefe de Escritório, na posição de substituto do Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, não deve ser responsabilizado, pois se trata de período insuficiente para que pudesse estabelecer sólidos controles de gestão. 163. Afinal, o Sr. Natalino Medeiros do Bem exerceu a função de chefe de escritório apenas entre 31/1/2002 a 28/2/2002, não lhe cabendo, portanto, responder pela implantação dos controles de gestão cuja falta levou à formação do débito.164. A responsabilidade por tais controles era do Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, nomeado Chefe de Escritório do ERSAV em 6/12/1996, conforme Resolução à fl. 84 – Anexo 8.

2.17 A instrução da 1ª Secex também concluiu que o débito tem um valor levemente inferior àquele trazido pela RFFSA, conforme cálculos constantes da fl. 512 à fl. 522, vol. principal.2.18 E assim foi proposta nova citação, nos moldes a seguir reproduzidos (da fl. 528 à fl. 530, vol. principal):

165. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior propondo a citação dos responsáveis abaixo arrolados, nos termos dos arts. 10, § 1º, e 12, inciso II, da Lei nº 8.443/92, c/c o art. 202, inciso II, do Regimento Interno, para, no prazo de quinze dias, contados a partir da ciência da citação, apresentarem alegações de defesa ou recolherem aos cofres do Tesouro Nacional as quantias a seguir relacionadas, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, a partir das datas mencionadas, nos termos da legislação vigente: 166. Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, ex-chefe do Escritório Regional da Rede Ferroviária Federal S.A. - RFFSA em Salvador – ERSAV, pelo valor histórico de R$ 120.557,93, em solidariedade com o Sr. Antonio Euclides Caetano dos Santos, encarregado da atividade contábil e financeira da ERSAV à época dos fatos ora impugnados, abaixo discriminados (memória do cálculo às fls. 324/328 – Vol. Principal): a) Atos impugnados do Sr Neville Chamberlain Barbosa da Silva: omissão no controle gerencial do ERSAV, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do que seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes; b) Atos impugnados do Sr Antonio Euclides Caetano dos Santos: ter autorizado os pagamentos irregulares dos quais originaram o débito, sem que o solicitante do serviço ou do material atestasse o documento fiscal (ou atestando de modo ilegível), em oposição ao preceituado no Memorando Circular 01/COCONT/COFIN/00, e ter atestado, nos processos de pagamento, que “o material constante do presente documento foi recebido e utilizado”, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do que seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais

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sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes;c) Composição do débito: c.1) Consumo excessivo de combustível (itens 71 a 76 desta instrução):

Mês Consumo Total de Combustível (R$)

Consumo Regular de Combustível (R$)

Consumo Excessivo de Combustível (R$)

Jan/2002 3.646,75 867,20 2.779,55 Fev/2002 4.872,88 867,20 4.005,68 Mar/2002 3.808,51 867,20 2.941,31 Abr/2002 5.363,24 867,20 4.496,04 Mai/2002 5.695,49 867,20 4.828,29 Jun/2002 4.669,84 867,20 3.802,64 Jul/2002 4.241,89 867,20 3.374,69 Ago/2002 5.120,42 867,20 4.253,22 Set/2002 4.257,62 867,20 3.390,42 Out/2002 4.590,45 867,20 3.723,25 Nov/2002 5.021,18 867,20 4.153,98 Total 51.288,27 9.539,20 41.749,07 c.2) Gasto excessivo na manutenção de veículos (Itens 77 a 80 desta instrução):Mês Gasto Total na

Manutenção de Veículos (R$)

Gasto Regular na Manutenção de Veículos (R$)

Gasto Excessivo na Manutenção de Veículos (R$)

Jan/2002 2.460,00 276,80 2.183,20 Fev/2002 4.598,60 276,80 4.321,80 Mar/2002 3.000,25 276,80 2.723,45 Abr/2002 1.183,00 276,80 906,20 Mai/2002 4.399,98 276,80 4.123,18 Jun/2002 6.743,32 276,80 6.466,52 Jul/2002 14.049,00 276,80 13.772,20 Ago/2002 12.728,51 276,80 12.451,71 Set/2002 6.046,26 276,80 5.769,46 Out/2002 11.720,30 276,80 11.443,50 Nov/2002 7.578,18 276,80 7.301,38 Total 74.507,40 3.044,80 71.462,60

c .3) Compra excessiva de material elétrico (itens 81 a 92 desta instrução) – mês de referência novembro (item 94 da instrução):

Total Comprado

Necessidade do Escritório

Quantidade a maior

Preço Médio Pago (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 549 179 370 6,24 2.308,80 Reatores 343 62 281 16,5 4.636,50 Total - - - - 6.945,30

c.4) Compra de material elétrico com sobrepreço (itens 81 a 92 desta instrução) – mês de referência novembro (item 94 da instrução):

Total Comprado

Preço Médio Pago (R$)

Preço Médio de Mercado (R$)

Sobrepreço (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 179 6,24 4,00 6,24 400,96 Reatores 62 16,5 16,50 16,5 0 Total - - - - 400,96

Valor Total devido: Valor (R$) Data 4.962,75 31/1/2002 8.327,48 28/2/2002 5.664,76 31/3/2002 5.402,24 30/4/2002

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8.951,47 31/5/2002 10.269,16 30/6/2002 17.146,89 31/7/2002 16.704,93 31/8/2002 9.159,88 30/9/2002 15.166,75 31/10/2002 18.801,62 28/11/2002

Total: R$ 120.557,93 3. EXAME TÉCNICO:3.1 Antônio Euclides Caetano dos Santos3.1.1 O senhor Antônio apresentou suas alegações de defesa em 27/12/2010, as quais foram juntadas da fl. 2 à fl. 14, anexo 10. Resumidamente, ele argumenta que:a) Não tem conhecimento do conteúdo da tomada de contas especial instaurada pela RFFSA, em atendimento ao Acórdão 2294/2006 – 1ª Câmara, o que caracteriza cerceamento de seu direito de defesa;b) A apenação que lhe foi aplicada no processo administrativo disciplinar encerrou o poder punitivo do Estado, pois nova apenação configurar-se-ia em bis in idem;c) Houve a prescrição do poder de punir tendo em vista o transcurso dos prazos previstos no art. 23, inciso II, da Lei 8.429/92 e no art. 142, inciso II, da Lei 8.112/90;d) A situação descrita no Mandado de Segurança 26.210-9/DF que tratou da imprescritibilidade do débito não é semelhante à do citado e houve voto divergente do Ministro Marco Aurélio;e) As comissões de sindicância, de processo administrativo disciplinar e de tomada de contas especial concluíram pela sua não responsabilização no débito;f) Sua inclusão como solidário no débito ocorreu no TCU, o que está em desacordo com as conclusões das retrocitadas comissões;g) O senhor Natalino Medeiros do Bem foi excluído do débito e não foi apurada a responsabilidade da senhora Fátima de Campos Malta, o que demonstra a utilização de dois pesos e duas medidas;h) O citado não era o responsável por atestar os pagamentos, o que deveria ser realizado pelos que solicitaram os serviços, conforme consta no Memorando-Circular n.º 01/2000 – Cofin, não existindo, portanto, nexo de causalidade entre seus atos e o débito analisado;i) O valor do gasto com combustível trazido pela TCE é muito superior ao estimado pela Comissão de Sindicância e de Processo Disciplinar (R$ 280,00) e a relatada em um questionamento da Comissão de Tomada de Contas Especial (R$ 1.899,93);j) O citado “nunca efetuou abastecimento e nem usou veículo da Empresa nas datas ali consignadas” (fl. 9, anexo 10);k) As atribuições que lhe foram dadas pelo Chefe do Escritório Regional, senhor Neville, eram:

(...) somente reembolsar os gastos com combustível, tanto nos postos conveniados como nos demais, desde que apresentadas as notas fiscais e/ou cupons fiscais emitidos pelas empresas, não se inserindo em sua competência e atribuição funcional a atestação, verificação, fiscalização ou glosa das despesas, tendo em vista que elas eram realizadas por ordem do Chefe do Escritório e, por ele próprio (...)

l) O Chefe do Escritório dispensava a atestação das notas e a identificação dos solicitantes, e o citado se submetia ante o medo de ser demitido da RFFSA, visto ser o senhor Neville pessoa autoritária, conforme comprovado pelo relatório da Comissão Disciplinar;m) A ERSAV possuía 2 veículos próprios e 3 alugados, os quais rodavam demasiado por ordem do Chefe do Escritório;n) Até o desligamento do engenheiro Natalino, este fazia o controle dos veículos. Depois, as chaves passaram a ficar em poder do senhor Neville, que utilizou os veículos segundo seu talante, o que é comprovado pelos depoimentos dos senhores Natalino, Pedro Francisco de Jesus Oliveira, Tupiaci Oliveira da Silva e Silvia Maria Salgado dos Anjos;o) Os gastos com a manutenção de veículo foram estimados sem considerar um acidente com um dos carros;p) A estimativa do gasto com lâmpadas e reatores da presente TCE está em desacordo com a anteriormente oriunda da RFFSA, demonstrando que foi feita sem qualquer respaldo;q) A compra das lâmpadas e dos reatores era feita por ordem do senhor Neville, e não pelo defendente;r) O senhor Antônio Euclides apresenta as seguintes conclusões (fls. 13 e 14, anexo 10):

Como demonstrado, o defendente não tem a menor responsabilidade pela prática dos atos impugnados e pelos pagamentos feitos em obediência às ordens do Chefe do Escritório Regional de Salvador – ERSAV – Eng. Neville, estando provado que o defendente sempre teve boa conduta e um bom procedimento funcional, não cometeu ato de improbidade ou tirou proveito do exercício de sua função e, bem assim, não praticou ato de indisciplina ou de insubordinação, tendo em vista que executou as suas tarefas com a estrita observância à determinação superior, contra a qual, aliás, não tinha autoridade capaz de contestá-la ou não atendê-la sob o risco de sujeitar-se às sanções disciplinares, inclusive, a sua própria dispensa pelo Chefe do Escritório Regional de Salvador – ERSAV – Eng. Neville.

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(...)Por derradeiro, impõe-se esclarecer que esse procedimento está baseado em certos e determinados documentos apanhados aleatoriamente e que as estimativas realizadas o foram sem qualquer suporte fático ou, assim sem qualquer valor legal, uma vez que foram desprezadas a argumentação do defendente, os depoimentos dos funcionários do Escritório Regional de Salvador – ERSAV, as conclusões da Comissão de Sindicância, da Comissão de Processo Administrativo, da Comissão de Tomada de Contas Especial e do Sr. Liquidante que não imputaram ao defendente a responsabilidade por qualquer débito, o qual, por sinal é, também, responsável pela gestão financeira da empresa.

3.1.2 Análise das alegações de defesa do senhor Antônio Euclides:3.1.2.1 Os argumentos de maior importância do senhor Antônio Euclides foram analisados e considerados improcedentes na instrução anterior, inserida como peça dos autos em 16/11/2010 (da fl. 510 à fl. 530, vol. principal), onde restou consignado: a presença de atestos de sua autoria nos processos de pagamento; a não incidência da prescrição; não ser objetivo da TCE a aplicação de penalidade; a separação de instâncias; sua responsabilização como gestor financeiro do ERSAV em 2002; a inexistência de atestos nas notas fiscais; a sua responsabilidade por zelar pela regularidade dos pagamentos; e o não afastamento de sua responsabilidade pelo “temor reverencial”.3.1.2.2 A questão da não responsabilização da senhora Fátima de Campos Malta também foi abordada na instrução anterior, quando se concluiu que a ela caberia, no máximo, uma audiência, o que não deve ser incluído em uma TCE (fls. 525 e 526).3.1.2.3 A presente instrução, além de analisar os argumentos restantes, vai ressaltar os elementos constantes no processo que confirmam a culpabilidade do senhor Antônio Euclides.3.1.2.4 O senhor Antônio foi regularmente notificado pela Comissão de Tomada de Contas Especial, em 26/10/2006, a apresentar esclarecimentos sobre as irregularidades no consumo de combustível, na manutenção de veículos e na aquisição de material elétrico (da fl. 246 à fl. 250).3.1.2.5 Apresentou sua defesa em 1º/11/2006 (fls. 270 e 271, vol. principal).3.1.2.6 Logo, é improcedente sua alegação de não conhecer o conteúdo da TCE instaurada pela RFFSA e ter ocorrido cerceamento de defesa.3.1.2.7 A alegação do senhor Antônio Euclides de que não cabia a ele a “verificação, fiscalização ou glosa das despesas” de combustível ou outras não se coaduna com as informações prestadas por funcionários da ERSAV.3.1.2.8 Na sindicância, o senhor Pedro Francisco de Jesus Oliveira, agente administrativo, explicou (fls. 49 e 50, vol. principal):

Que o procedimento orientado pela chefia do Escritório quanto aos documentos relativos aos abastecimentos dos veículos em viagem era no sentido de que deveriam constar emissão em nome da RFFSA e, obrigatoriamente, a placa do veículo, além das demais informações tais como: data, volume, preço unitário e valor total; que a anotação da quilometragem do veículo no momento do abastecimento não era obrigatória; tais documentos somente eram aceitos pelo Tesoureiro, normalmente o Antonio, se contivessem a assinatura do chefe do Escritório ou do engenheiro Natalino; que quando, por algum lapso, tais documentos eram apresentados ao Tesoureiro sem a autorização para ressarcimento, o Sr. Antonio alertava para que fosse obtida a necessária autorização, sem o que não efetuava o pagamento da nota; que não apenas as notas de abastecimento, mas todas as demais deveriam se submeter ao mesmo procedimento; (grifo nosso).

3.1.2.9 O senhor Tupiaci Oliveira da Silva, técnico em manutenção, trouxe as seguintes informações na sindicância (da fl. 51 à fl. 53, vol. principal):

Que a frota de veículos era gerenciada pelo engenheiro Natalino e posteriormente, após sua aposentadoria, diretamente pelo Dr. Neville; que era comum realizar viagens a serviço e que, no retorno, apresentava os documentos relativos às despesas realizadas ao Tesoureiro, Sr. Antônio; que, antes de apresentá-los, deviam ser vistados tanto pelo depoente quanto pelo engenheiro Natalino, o qual, até a sua aposentadoria era o efetivo chefe do escritório; que posteriormente, o visto passou a ser dado pelo engenheiro Neville; que as notas de abastecimento deveriam conter o nome da empresa, data, placa do carro, volume abastecido, preço; que quando era cupom fiscal, quando possível era incluída a placa do carro; que todos os documentos deviam ser rubricados pelo empregado; que o Tesoureiro Antônio não aceitava e não pagava notas que não estivessem assinadas tanto pelo responsável pelas despesas, quanto pelo chefe do escritório; (grifo nosso).

3.1.2.10 E a senhora Maria Angélica Vitoriano da Silva, assistente administrativo, na comissão de processo disciplinar, relatou (fls. 140 e 141, vol. principal):

Que os procedimentos para pagamento de despesas por ela realizadas (passagens, material de escritório etc), eram feitos através dos respectivos comprovantes que eram entregues ao Sr. Antônio Euclides para o devido pagamento, que exigia a devida atestação por quem realizou as despesas. (grifo nosso).

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3.1.2.11 A informação de que o senhor Neville teria dispensado a atestação das notas de combustível também está em desacordo com o relatado por outros funcionários da RFFSA. Na Comissão de Processo Disciplinar, o senhor Leonildo Crispim Teixeira de Souza, o qual estagiou na sala do senhor Antônio Euclides, informou (da fl. 158 à fl. 160, vol. principal):

Que o depoente tem opinião de que o Sr. Neville era autoritário, porquanto algumas vezes determinou a disponibilização de numerário da empresa para pagamento de despesas pessoais. Que nesses casos o Sr. Neville, às vezes, fazia a solicitação pessoalmente ou através da Secretária – Sra. Angélica, ou desta para a Sra. Sílvia. Que o depoente recorda que o Sr. Neville devolvia essas quantias, mas não pode afirmar se tal fato aconteceu em todas as ocasiões em que ele fez solicitação de numerário. Que, nessas ocasiões, o Sr. Antonio Euclides anotava vales para o Sr. Neville e guardava-os no cofre.(...)Que o depoente presenciou conversa ríspida entre o Sr. Neville o Sr. Antonio Euclides, quando este solicitou-lhe a assinatura em vales. Que o Sr. Neville respondeu ao Sr. Antonio Euclides que não havia necessidade pois todos eram de confiança. Que, normalmente, os demais empregados assinavam vales quando solicitavam verba para pagamento de despesas com abastecimento, material de escritório, estacionamento, Xerox, peças adquiridas para reparo de veículos. (grifos nosso).

3.1.2.12 Ou seja, o que houve foi a dispensa da assinatura nos vales de adiantamento de numerário, e não nos ressarcimentos de combustível e demais despesas.3.1.2.13 O senhor Natalino Medeiros do Bem, em seu depoimento na comissão de sindicância, também nega a existência de norma para a não atestação das notas fiscais (da fl. 91 à fl. 93, vol. principal):

Que desconhece eventual orientação do Chefe do ER estabelecendo que não seria necessária a rubrica das pessoas indicadas para ressarcimento de despesas;

3.1.2.14 E a senhora Dalila Marth Santos Sales, agente administrativo, na Comissão de Processo Disciplinar também infirmou as alegações do senhor Antônio Euclides (da fl. 131 à fl. 135, vol. principal):

Que a depoente não presenciou nenhuma conversa do Sr. Antônio Euclides com o Sr. Neville, solicitando visto e atestação em notas ou que houvesse recusa deste em fazê-lo.

3.1.2.15 Quanto às ilações do senhor Antônio Euclides no sentido de que teve boa conduta e procedimento funcional e que não tirou proveito de sua função, há depoimentos prestados nas comissões que o contradizem. 3.1.2.16 O senhor Sérgio Fernandes Eiras, chefe do ERSAV após a saída do senhor Neville, explanou o abaixo reproduzido na comissão de sindicância (fls. 94 e 95, vol. principal):

Que, desde a sua posse, apesar de desconhecer as normas da RFFSA sobre o assunto, vinha questionando o encarregado da área financeira, Sr. Antonio Euclides, empregado antigo e experiente, sobre os procedimentos e controles utilizados na área, tendo estranhado que, embora já há dois meses na Chefia, as notas fiscais referentes a despesas com veículos e outras de manutenção não tenham sido submetidas à sua aprovação formal; (...) que em função de sua experiência gerencial, desde o início notou o comportamento fugidio do encarregado do financeiro, o qual abordava os assuntos de modo superficial e não apresentava sugestões para o aprimoramento do seu trabalho, além de demonstrar desconhecimento das normas da empresa inerentes à sua atividade, quando questionado; que tomou conhecimento pelo auditor Mozart, durante a realização dos trabalhos de auditoria determinado pela CLIQ, da existência de quatro cupons fiscais de abastecimento, sequenciais, emitidos pelo Posto Torres, localizado em Água de Meninos, todos emitidos no dia 06.02.2003, já na sua gestão (...), sendo que dois deles apresentam no seu corpo a rubrica do empregado da área financeira; que este fato comprovou as impressões iniciais sobre o encarregado da área financeira; que passou a monitorar mais de perto as atividades daquele empregado; que julga necessário a sua substituição (...) (grifos nossos).

3.1.2.17 O senhor Fábio Moreira Ramos, mecânico de automóveis, na comissão de sindicância relatou (da fl. 96 à fl. 98, vol. principal):

Que eventualmente o depoente era acionado pelo Sr. Antonio Euclides para apanhar Notas Fiscais da loja Turbo Autopeças, o que fazia; que as vezes tais Notas vinham em envelopes fechados e que, outras vezes, apenas grampeadas; que notou, após algum tempo, que estas solicitações ocorriam sempre após as quartas feiras (quarta, quinta, sexta), fato que se confirma examinando a pasta que contém algumas das notas retiradas do movimento financeiro de 2002; que algumas vezes verificou “motoboys” de lojas de autopeças efetuando entrega de envelopes; que não sabe dizer o que continha nesses envelopes; (...) ; que estranhou a quantidade de vezes que o Sr. Antonio lhe solicitava que apanhasse Notas, sem que estivessem acompanhadas dos materiais correspondentes; que vislumbrando tratar-se de procedimento, no mínimo estranho, se sentiu encorajado a pedir colaboração ao Sr. Antonio que o ajudasse em suas despesas; que, em cerca de, pelo menos três oportunidades, o Sr. Antonio o ajudou; que tem lembrança de que esta ajuda foi de R$ 30,00, R$ 50,00 e R$ 35,00; (...) que considera que a contestação do Sr. Antonio deveria ser mediante a comprovação de que o depoente não estava dizendo a verdade, mediante a apresentação das referidas Notas Fiscais, devidamente atestadas pela autoridade competente, mas que, verificando os

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documentos que essa Comissão apresentou para análise, observou que quase a totalidade das notas da Turbo não continham nenhum visto e quando os tem, são do próprio Sr. Antonio; (grifos nossos).

3.1.2.18 As informações prestadas pelo senhor Fábio também são mais um indício de que os valores despendidos com a manutenção dos veículos da ERSAV estão superfaturados, mesmo que se considerasse o acidente ocorrido com uma das caminhonetes.3.1.2.19 Acerca das reclamações do senhor Antonio Euclides sobre o cálculo do débito pelo TCU, conforme explicado na instrução anexada da fl. 510 à fl. 528, vol. principal: a metodologia adotada está de acordo com a regra inscrita no art. 210, § 1º, inciso II, do Regimento Interno do TCU; o cálculo foi mais favorável que aquele oriundo da RFFSA; considerou não algumas notas aleatórias, mas todos os pagamentos efetuados em 2002 com combustível, manutenção de veículos e gastos com lâmpadas e reatores; e foi realizado após inspeção na RFFSA, a qual trouxe aos autos cópias de notas fiscais e processos de pagamento juntados nos anexos 7 e 9. 3.1.2.20 Por fim, deve ser ressaltado que o senhor Antônio Euclides não foi chamado às responsabilidades por ter utilizado os veículos ou por ter comprado as lâmpadas e reatores. Ele foi citado, conforme consta no Ofício 977/2010 – TCU/SECEX - 1 (da fl. 537 à fl. 540, vol. principal), por:

Ter autorizado os pagamentos irregulares que originaram o débito, sem que o solicitante do serviço ou do material atestasse o documento fiscal (ou atestado de modo ilegível), em oposição ao preceituado no Memorando Circular 01/COCONT/COFIN/00, e ter atestado, nos processos de pagamento, que “o material constante do presente documento foi recebido e utilizado”, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do que seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes;

3.1.2.21 Concluindo, nenhuma das alegações de defesa do senhor Antonio Euclides puderam afastar a sua responsabilidade pelas irregularidades que originaram o débito constituído. Assim, proponho que suas alegações de defesa sejam rejeitadas.3.1.2.22 O período inicial do senhor Antônio Euclides como gestor financeiro da ERSAV – 1989 - foi extraído de seu depoimento à comissão de sindicância (fl. 45, vol. principal). Para o ano de 2002, que abarca as condutas que originaram o débito discutido na presente TCE, consulta ao Siafi indicou o senhor Antônio Euclides como gestor financeiro (fl. 6, anexo 8). E considerou-se o término do período como gestor financeiro quando o senhor Antônio Euclides passou a ter poderes para movimentar a conta bancária por meio da procuração outorgada em 18/12/2002 (fl. 67, anexo 8).3.2 Neville Chamberlain Barbosa da Silva3.2.1 O senhor Neville juntou suas alegações de defesa da fl. 15 à fl. 58, anexo 10, em 19 de janeiro de 2011. Depois de argumentar pela tempestividade de sua defesa e fazer um resumo da instrução que determinou sua citação, ele apresentou várias linhas de defesa que se repetem ao longo do texto, as quais foram agregadas por assunto para facilitar a análise:a) Trabalhou na RFFSA e ocupou vários cargos comissionados de 1976 até 1998, quando foi decretada a liquidação da empresa, sem nenhuma mácula no currículo;b) Com a extinção, os cargos comissionados deixaram de existir e os poderes de comando passaram a ser concedidos por meio de procurações públicas. Logo, o contestante não era o Chefe do Escritório Regional;c) Com a extinção da RFFSA, a atividade original da empresa cessou e o objetivo do liquidante passou a ser a realização do ativo e o pagamento dos passivos, sendo estes os poderes que lhe foram concedidos;d) O Contestante não é responsável pela atitude de subordinados que exorbitam das ordens recebidas, segundo descreve o art. 80, § 2º, do Decreto-lei 200/1967, logo não pode ser responsabilizado solidariamente;e) A responsabilização somente pode ocorrer se o superior tiver agido com grave culpa, ou se tiver autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato, o que atrairá para si o nexo de causalidade, conforme debatido por Diógenes Gasparini e Carlos Roberto Gonçalves, este citando Demogue;f) A Lei 4.717/65 que trata da Ação Popular e a Lei 8.443/93, na parte acerca das tomadas de contas especiais, afastam a responsabilização objetiva;g) O senhor Neville ressaltou que (fl. 28, anexo 10):

No caso dos autos, não tendo o Tomador de Contas produzido qualquer prova de que o Contestante tenha agido, no exercício da função pública, com excesso de mandato ou que o cometimento da infração tenha se dado com dolo ou culpa, descabe lhe atribuir a responsabilidade pessoal e muito menos responsabilidade solidária por atos praticados por terceiros alheios a sua vontade e fora das suas vistas e totalmente fora do seu controle.Nos autos não há qualquer indicação de quem foi o infrator, que produziu as notas fiscais e por elas foi ressarcida, não há qualquer indício de locupletamento ilícito ou enriquecimento sem causa atribuído ao Contestante. Se é a infração o fato que desencadeia a responsabilidade, é necessário, portanto, identificar quem foi o infrator. Não basta, portanto, configurar como simples Omissão ou atribuir “Má-Gestão” para

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gerar a obrigação, mas sim dos fatos que geraram a responsabilidade. Não há elementos que permitam concluir que foi o Contestante quem deu causa aos supostos ilícitos perpetrados por terceiros.

h) O contestante não agiu com dolo ou culpa, daí não poder ser responsabilizado, segundo ensinam vários doutrinadores como Maria Sylvia Zanella di Pietro, Pedro da Silva Dinamarco, Hely Lopes Meireles, Fernando Rodrigues Martins e jurisprudências do STJ e TRF 1ª Região, que fazem comentários com relação à Lei de Improbidade Administrativa, aplicável ao presente caso;i) Diversos princípios relativos às tomadas de contas especiais, como da legalidade, da oficialidade, do informalismo moderado, da publicidade e da verdade material foram olvidados pela Comissão de Tomada de Contas Especial;j) A Comissão de Tomada de Contas Especial extrapolou seus poderes ao não cumprir o prazo estabelecido pelo TCU e pelo Liquidante, o que gerou correção monetária e juros, para os quais os envolvidos não deram causa;k) Não há nos autos cópias integrais da sindicância e do procedimento administrativo disciplinar, que geraram a tomada de contas especial, o que inibe o direito à ampla defesa;l) Não houve publicidade nos atos que geraram a sindicância, o procedimento disciplinar e a tomada de contas especial;m) Houve omissão da Comissão em imputar responsabilidades aos senhores Henrique de Souza Vieira e Sérgio Fernandes Eira, que sucederam o Contestante, visto que o débito foi apurado até abril de 2003, período posterior à saída do senhor Neville da empresa;n) Falta juntar aos autos documentos importantes, como os instrumentos públicos de mandato outorgados pelo Liquidante aos senhores Neville e Antônio Euclides, a íntegra dos processos de adiantamento de fundo rotativo de onde derivaram os pagamentos arrolados, as autorizações para uso dos veículos e os controles de distância;o) O lançamento do débito por estimativa “jamais poderá retratar com fidelidade a realidade dos autos” (fl. 28, anexo 10) e foi feito por período além daquele em que o citado ocupou cargo na ERSAV;p) As acusações genéricas imputadas pela Comissão de Tomada de Contas Especial não são suficientes para embasar uma condenação, conforme ensinado por Mauro Roberto Gomes de Mattos;q) O poder indiciatório das comissões de sindicância, de procedimento administrativo disciplinar e de tomada de contas especial submete-se à lei e depende de justa causa para não “romper a presunção de inocência, sem que haja violação a direitos (intimidade, honra, segurança jurídica e dignidade) de quem é investigado” (fl. 46, anexo 10), segundo doutrinas de Mauro Roberto Gomes de Mattos, Fernando da Costa Tourinho Filho, Adilson Abreu Dallari, Plácido e Silva, Luiz Wanderlei Gazoto, José Cretella Júnior, Norberto Bobbio, Rousseau, Diógenes Gasparini e Marino Pazzaglini Filho, além do que prescrevem os arts. 267, inciso VI, e 295, parágrafo único, inciso II, do Código de Processo Civil e o art. 43 do Código de Processo Penal;r) “Assim, a Tomada de Contas Especial deverá ser rejeitada ao menos em relação ao Contestante, porque inexistente o ato ilícito a ele imputado, [bem como pela] iliquidez das contas por ser impossível comprovar materialmente a exatidão do débito, impossibilitando o julgamento do mérito, e da ausência de pressupostos de constituição ou de desenvolvimento regular do processo” (fl. 49, anexo 10);s) “A Comissão deixou de trazer à baila diversos fatos e fundamentos que inocentariam o Contestante das imputações que lhe foram feitas, a exemplo das declarações do Sr. Fábio, que acusa diretamente o Sr. Antônio Euclides Caetano dos Santos de manipular as notas fiscais em proveito próprio e de tantos outros que corroboraram esses fatos. Da mesma forma que silenciaram totalmente quanto a forma e a quem efetivamente competia analisar os processos de pagamento” (fl. 56, anexo 10);t) Os relatórios produzidos demonstram, de maneira incontroversa, a responsabilização do senhor Antônio Euclides, e a tomada de contas especial da RFFSA foi tendenciosa ao o inocentar e responsabilizar o citado, numa espécie de vingança;u) O Liquidante era o ordenador de despesas no período analisado, e o Contestante não recebeu poderes para assim proceder;v) O senhor Antônio Euclides detinha poder para movimentar contas bancárias individualmente, enquanto o contestante somente em conjunto;w) A fiscalização deveria ser exercida pelos órgãos de controle da RFFSA, em decorrência da queda da estrutura anterior e dos poderes estritos que lhe foram conferidos pelas procurações. Assim, o citado “não tinha como promover novos controles ou agir de modo a impedir as mazelas supostamente perpetradas por terceiros” (fl. 31, anexo 10);x) A senhora Fátima de Campos Malta, que era responsável pela gestão e lançamento das despesas, não alertou à Coordenadoria Financeira e Contábil da RFFSA quando os pagamentos por meio de fundo rotativo ultrapassaram o limite de R$ 6.000,00;y) As auditorias semestrais realizadas no período analisado não detectaram quaisquer irregularidades;z) O senhor Neville explicou que (fl. 30, anexo 10):

A cadeia de omissões da Administração Central, caracterizada pela autonomia dada ao Sr. Antônio Euclides Caetano dos Santos para autorizar compras, realizar pagamentos e reembolsos de despesas, sem a necessidade de enviar os respectivos processos de pagamento à Administração Central da RFFSA, o possibilitou agir livremente, pela total ausência de controle dos citados dirigentes sobre a movimentação das

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despesas pagas pelo referido empregado durante o período em que foram continuamente efetuados os pagamentos fraudulentos, os reembolsos indevidos e o correspondente desvio de recursos e que continuaram após a saída do Contestante.

aa) Ocorreu a prescrição do direito do estado em apenar o citado, haja vista doutrinas de Raphael Peixoto de Paula Marques, Caio Mário, Aníbal Bruno, Wilson de Souza Campos Batalha, Pontes de Miranda e Rita Tourinho, bem como a jurisprudência do STF, STJ e TRF 1ª Região e face ao disposto no art. 23 da Lei 8.429/92 e no art. 206, incisos IV e V, c/c art. 2029 do Código Civil Brasileiro;bb) O inquérito a que se refere a instrução do TCU originou uma ação de peculato, a qual foi considera totalmente improcedente em 27/10/2010, segundo consulta ao TJBA;cc) O seu pedido é pela extinção do processo por falta de pressupostos, ou pelo reconhecimento da prescrição, ou pelo julgamento como improcedentes dos pedidos de responsabilização solidária.3.2.2 Análise das alegações de defesa do senhor Neville:3.2.2.1 O senhor Neville apresentou alegações de defesa para esta segunda citação (da fl. 15 à fl. 58, anexo 10) idênticas, em essência, às trazidas quando de sua primeira citação (da fl. 25 à fl. 70, anexo 2).3.2.2.2 Os argumentos de maior monta do senhor Neville já foram analisados e afastados na instrução da fl. 510 à fl. 530, vol. principal (juntada como peça dos autos em 16/11/2010), cujas conclusões, resumidamente, foram: não incidência da prescrição; não necessidade de aplicação da Lei de Improbidade Administrativa; não necessidade da íntegra de todos os processos de adiantamento de fundos e os controles de veículos; a presença e o conteúdo das procurações outorgadas pelo liquidante; a sua responsabilização não por algum prejuízo determinado, mas sim pela falta de controles gerenciais; a efetiva presença nos autos dos processos de sindicância, administrativo-disciplinar e de TCE; a possibilidade de exercer a sua defesa na presente fase do processo; a existência dos elementos regulamentares para a abertura da presente TCE; a sua ação culposa ao não implementar os controles gerenciais na ERSAV; e a questão da responsabilização da senhora Fátima de Campos Malta.3.2.2.3 Na presente instrução, além de analisar os demais argumentos, vou ressaltar os elementos que comprovam a culpabilidade do senhor Neville.3.2.2.4 A questão dos cálculos efetuados pela 1ª Secex já foi abordada quando da análise das alegações de defesa do senhor Antonio Euclides (item 3.1.2.19), assim não será repetida.3.2.2.5 O senhor Neville compareceu à sala da comissão de sindicância, tomando conhecimento do processo (fl. 48, vol. principal) e, segundo o relatório final, apresentou a sua versão dos fatos (fl. 100, vol. principal). A comissão de processo administrativo disciplinar comunicou o senhor Neville do processo que corria contra ele (fl. 162, vol. principal) e o senhor Neville juntou sua defesa aos autos (da fl. 308 à fl. 318, vol. principal). Na tomada de contas especial, o senhor Neville foi convocado a apresentar explicações em 18/10/2006 (da fl. 251 à fl. 255, vol. principal). Respondeu ao chamado tardiamente em 6/12/2006 e em 14/12/2006 (fl. 286, e da fl. 304 à fl. 306, vol. principal). Em 5/12/2006 foi chamado a pagar o débito (da fl. 292 à fl. 297, vol. principal). A comissão de TCE fez nova convocação ao senhor Neville para quitar sua dívida em 19/12/2007 (da fl. 324 à fl. 329, vol. principal).3.2.2.6 Com isso, comprova-se que o senhor Neville teve ciência de todas as fases processuais que correram em seu desfavor, pôde se defender livremente e foi convocado num prazo razoável a recolher o débito. Em consequência, não são pertinentes suas as alegações de falta de publicidade e de prazo longo demais na instrução da TCE.3.2.2.7 Sobre o período do débito, o senhor Neville ocupou a função de Chefe do ERSAV até 20/11/2002, conforme Resolução da Comissão de Liquidação 143/2002 (fl. 91, anexo 8), e o débito foi calculado de janeiro a novembro de 2002 (da fl. 519 à fl. 521, vol. principal). Logo, está correta a forma de apropriação de débito ao período de gestão do senhor Neville.3.2.2.8 O senhor Neville, no período analisado na presente TCE, recebeu poderes de acordo com as procurações juntadas da fl. 45 à fl. 76, anexo 8. Para esclarecer o que lhe competia realizar, reproduzo parte da procuração registrada no livro 5202, ato 100, fls. 111 do 24º Ofício de Notas do Rio de Janeiro, datada de 10/12/2001, e com validade até 4/6/2002 (fl. 57, anexo 8):

(...) REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S/A, em liquidação (...), neste ato representada por sua Liquidante ANÁLIA FRANCISCA FERREIRA MARTINS (...). E, perante mim, pela outorgante, por sua Liquidante, foi dito que por este público instrumento nomeia e constitui seus bastante procuradores: NEVILLE CHAMBERLAIN BARBOSA DA SILVA (...), NATALINO MEDEIROS DO BEM (...), e FÁTIMA DE CAMPOS MALTA (...), a quem confere: I) ISOLADAMENTE, ao primeiro Outorgado, poderes para representar a Outorgante perante quaisquer: a) pessoas físicas ou jurídicas; órgãos ou entidades da Administração Pública Direta ou Indireta, Federal, Estadual ou Municipal; b) empresas concessionárias de serviços públicos; c) receber intimação, notificação e citação, podendo substabelecer ao Chefe do Jurídico local. 2) Confere ao primeiro para exercício em conjunto com qualquer um dos demais, independente da ordem de nomeação, ou aos dois outros para exercício em conjunto, poderes para: a) representar a outorgante perante instituições financeiras, inclusive Banco do Brasil S.A e Caixa Econômica Federal S.A; b) mediante prévia autorização da Sra. Liquidante: transferir linhas telefônicas, alienar veículo e quaisquer outros bens móveis de propriedade da RFFSA, assim como, a aquisição ou a alienação de bens imóveis, inclusive por desapropriação, assinando as necessárias escrituras, estipulando cláusulas e condições,

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fixando preço e a modalidade de seu pagamento, recebendo e dando quitação, recebendo e transmitindo domínio, direito, ação e posse e comprometendo-se a responder pela evicção; c) assumir o encargo como fiel depositário dos bens “móveis e imóveis” penhorados, situados na área de atuação do Escritório Regional; d) celebrar contratos, cujo valor não ultrapasse os limites estabelecidos pela Sra. Liquidante, podendo estipular cláusulas e condições, ajustar preço ou outras contraprestações pecuniárias e a modalidade do seu pagamento, receber e dar quitação e assinar os respectivos instrumentos, observadas as normas legais, regulamentares e internas da Outorgante e, bem assim, os limites e disponibilidades financeiras previstas nos orçamentos de custeio (ORCUST) e capital (ORCAP) da mesma Outorgante; e) abrir, movimentar e encerrar contas bancárias, emitindo e endossando cheques ou ordens de pagamento, conferindo saldos e requisitando talonários de cheques; emitir e endossar títulos de créditos; g) movimentar e liberar cauções em dinheiro ou em títulos, prestadas de acordo com as normas da Empresa; h) movimentar e autorizar o levantamento de depósitos vinculados ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); i) receber todos os valores em documentos nominativos à RFFSA, inclusive, os relacionados a alvarás judiciais de créditos destinados à RFFSA, dando a respectiva quitação. (grifos nossos).

3.2.2.9 As procurações do 24º Ofício de Notas de 27/3/2002 (fl. 56, anexo 8), 26/4/2002 (fl. 52, anexo 8), 24/6/2002 (fl. 49, anexo 8) e 20/8/2002 (fl. 48, anexo 8) mantiveram a mesma disposição dos poderes transmitidos ao senhor Neville.3.2.2.10 No Siafi 2002, o senhor Neville constava como “ordenador assinatura” (fl. 6, anexo 8).3.2.2.11 O depoimento do senhor Roberto de Abreu e Lima, coordenador do GT-FINAN, informa ainda a quem eram destinados recursos financeiros para ressarcimento de despesas (fl. 36, anexo 8):

Perguntado sobre os procedimentos que os Escritórios Regionais devem adotar relativamente aos desembolsos de despesas gerais e recebíveis, respondeu que, inicialmente, a distribuição dos recursos para os Regionais era feita de duas formas: uma através de Fundo Rotativo, destinado ao atendimento de despesas emergenciais, para o que devem ser observadas a Resolução do Presidente 185/97, de 19.12.97, a outra através de remessas financeiras destinadas aos pagamentos dos Escritórios, implementada pela Resolução 001/SUPLAN/SUFIN, de 11.01.99; que os titulares dos Fundos Rotativos são os respectivos Chefes dos Escritórios; (...) que, com a edição do Memorando Circular n.º 01 COFIN, de 07.06.2000, os recursos, anteriormente supridos por Fundo Rotativo, passaram a ser remetidos sob a legenda “manutenção de escritório”, mantidos a mesma finalidade e limites; (grifo nosso).

3.2.2.12 A senhora Dalila Marth Santos Sales, agente administrativo, em seu depoimento à comissão de processo disciplinar, confirma que o senhor Neville é quem deveria autorizar os gastos (da fl. 131 à fl. 135):

Que desde 1996 a competência para autorizar despesas, compras e execução de serviços era do Chefe do Escritório, Dr. Neville, ou do seu substituto – Dr. Natalino, nas ausências do primeiro. Que a rotina do Escritório era de solicitar a autorização do Dr. Neville através de Memorando, cuja autorização do mesmo era expressa no Memorando.

3.2.2.13 E a Resolução da Comissão de Liquidação n.º 143, de 25/11/2002, traz a redação abaixo copiada (fl. 91, anexo 8):A COMISSÃO DE LIQUIDAÇÃO DA Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima em Liquidação – no uso de suas atribuições dispostas nos Decretos 3.277, de 07.12.99 e n.º 109, de 30.01.02;RESOLVE:1. Dispensar o empregado, NEVILLE CHAMBERLAIN BARBOSA DA SILVA, matrícula 14.046.746-7, das funções de Chefe de Escritório Regional de Salvador – ERSAV.2. Estabelecer que os efeitos da presente Resolução tenham vigência a partir de 20 de novembro de 2002. (grifos nossos).

3.2.2.14 Logo, não são verdadeiras as alegações do senhor Neville no sentido de que ele não era o chefe do escritório regional, que seus poderes se limitavam à realização do ativo e pagamento do passivo, ou que ele não era o ordenador de despesas da ERSAV.3.2.2.15 Também não está de acordo com a realidade a alegação do senhor Neville de que o senhor Antônio Euclides possuía poder para, sozinho, autorizar compras, realizar pagamentos e reembolsos de despesas.3.2.2.16 Somente a partir de 18/12/2002, após a saída do senhor Neville da chefia do ERSAV, foi que o senhor Antônio Euclides passou a ter poderes para movimentar sozinho a conta bancária, segundo procuração juntada à fl. 67, anexo 8.3.2.2.17 O senhor Neville como Chefe do Escritório Regional, ordenador de despesas e principal representante do liquidante da RFFSA na região, tinha obrigação de implementar controles gerenciais, de modo a atender aos princípios constitucionais da eficiência e da moralidade administrativa e ao seu dever funcional, inclusive também inscritos no art. 116 da Lei 8.112/90:

Art. 116 – São deveres do servidor:I – exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;II – ser leal às instituições que servir;III – observar as normas legais e regulamentares;(...)VI – levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo;VII –zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio público;

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(...)IX – manter conduta compatível com a moralidade administrativa;(...)XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.

3.2.2.18 Para comprovar o não atendimento aos deveres de seu cargo pelo senhor Neville, apresento o relato de um seus sucessores, o senhor Sérgio Fernandes Eiras, perante a comissão de sindicância (fls. 94 e 95, vol. principal), o qual recebeu poderes idênticos aos do senhor Neville, de acordo com a procuração anexada à fl. 67, anexo 8:

(...) disse que foi designado para a Chefia do ERSAV em 12.12.2002, pela Resolução RCLIQ n.º 154, de 13.12.2002; que ao ser consultado pela AG sobre os valores elevados constatados nas rubricas manutenção de veículos e gastos com combustíveis, no ano de 2002, efetuou verificação nos meses mais significativos, encontrando notas com altos valores sem autorização de pagamento ou visto de qualquer pessoa; que, em consequência, relatou à AG, via e-mail dirigido ao ASADM, as observações encontradas, acrescentando a conveniência da realização de auditoria específica; (...) que constatou, relativamente aos documentos de abastecimentos, que as notas, em sua maioria, constituem-se de cupons fiscais, os quais não contêm a placa do veículo abastecido, quilometragem respectiva e as pessoas que abasteceram o veículo; que, em função de tal procedimento, implementou o sistema de Notas Fiscais em nome da RFFSA, com placa do veículo e quilometragem; que desautorizou o financeiro a efetivar qualquer pagamento que não tenha o visto do Chefe do ER ou de pessoa com autoridade delegada, tudo isso consubstanciado na Resolução ERSAV 002/03; que produziu relatório à CLIQ, abrangendo o primeiro trimestre da gestão, no qual destaca as ações implementadas, sugestões e as reduções obtidas nos custos com tais procedimentos; que, após ter recebido dos membros dessa Comissão cópia das instruções da área financeira da AG, quanto aos procedimentos a serem adotados para o processamento e realização de despesas, imediatamente, também por cópia, deu conhecimento às áreas do Regional, determinando o fiel cumprimento (MEMO 147/ERSAV/03); que ao assumir a Chefia do ER, ainda com o engenheiro Neville na ativa e vinculado ao Regional, na condição de seu sucessor, solicitou que este lhe apresentasse relatório com os assuntos que julgasse relevantes e prioritários, de modo a que tivessem continuidade; que neste relatório constam pendências do ponto de vista apenas patrimonial e jurídico, nada constatando sobre eventuais problemas na área contábil e financeira, a qual se refere apenas para informar que atua como apoio; (...) que acrescentou, como informação, nova forma de gestão dos interesses da empresa demonstrando o empenho para ressarcir a empresa, valor despendido com o pagamento de multa de trânsito (R$ 127,69); que tal multa foi identificada como sendo de responsabilidade da ex-empregada Cecília Pontes Barreto, a qual foi contactada e efetuou o ressarcimento pelo cheque encaminhado ao Sr. Antonio Euclides, pelo MEMO de 16.07.2003. (grifos nossos).

3.2.2.19 Do depoimento acima se verifica que o presente débito somente foi descoberto por iniciativa do senhor Sérgio, que solicitou a realização de uma auditoria. Ele implementou controles, afastando assim a responsabilização nesta TCE.3.2.2.20 O senhor Henrique de Souza Vieira permaneceu à frente do ERSAV somente um mês, de 11/12/2002, conforme procuração juntada à fl. 45, anexo 8, até a posse do senhor Sérgio Fernandes Eira, ocorrida em 12/12/2002. Esse período é muito curto para poder criar mecanismos de controle, e por isto não foi pedida sua citação.3.2.2.21 O senhor Neville ocupou a chefia da ERSAV de 16/10/1989 (Resolução do Presidente da RFFSA 238, de 10/10/89 – fl. 4, anexo 8) a 20/12/2002 (Resolução da Comissão de Liquidação 143, de 25/11/2002 – fl. 91, anexo 8). Sua omissão, nesse longo período, quando possuía o poder-dever de agir, já o responsabiliza por culpa no presente débito.3.2.2.22 Em adição, deve ser ressaltado que, nos autos, há testemunhos dando conta de que o senhor Neville não apenas deixou de implantar controles gerenciais adequados para o Escritório como também valeu-se da ausência de tais controles para participar diretamente dos desvios perpetrados no âmbito da unidade, conforme abaixo se reproduz.3.2.2.23 O senhor Pedro Francisco de Jesus Oliveira, agente administrativo, defronte à comissão de sindicância, relatou (fls. 49 e 50, vol. principal):

Que os responsáveis pela frota eram os senhores o Sr. Natalino e, após a sua aposentadoria, as chaves dos veículos passaram a ser controladas pelo próprio engenheiro Neville; que eventualmente os veículos da empresa eram utilizados para fins particulares, porém, sempre com autorização do Chefe do Escritório; que o próprio Chefe utilizava o veículo para transporte de materiais de construção da sua casa, no condomínio Vilas, em Lauro de Freitas; que essa utilização é de conhecimento geral;

3.2.2.24 O senhor Tupiaci Oliveira da Silva, técnico em manutenção, apresentou à comissão de sindicância mais detalhes sobre a utilização abusiva dos recursos do ERSAV pelo senhor Neville:

Que a sede autorizou a contratação de pessoa para manutenção dos veículos; que essa pessoa era o senhor Fábio; (...) que até novembro, com a chegada do Dr. Henrique, o Sr. Fábio atuava praticamente como motorista particular do Dr. Neville; que o Dr. Neville tinha à sua disposição, por 24 horas, sete dias por semana, um veículo locado pela empresa; que esse veículo era um pálio weekend; que, segundo relato da vigilância, algumas vezes a filha do Dr. Neville, em sábados e/ou domingos, buscava um dos outros veículos locados, devolvidos normalmente nas segundas-feiras; (...) que todos os carros da empresa, locados ou não, mesmo quando utilizados para fins particulares eram abastecidos com recursos financeiros da empresa; que

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num período em que houve acidente com carro particular da família do engenheiro Neville, o próprio depoente foi orientado a, no final do expediente, levar um dos carros locados pela empresa ao local do trabalho da esposa do engenheiro Neville, o qual era restituído pela manhã seguinte pelo Sr. Fábio; (...) que, com relação ao acidente envolvendo a caminhonete D20, cabine branca, soube, que ocorreu na linha verde, no retorno do Dr. João e do Sr. Miro da localidade de Guarajuba, localizada no litoral norte, onde o Dr. João possui uma residência de veraneio; que o acidente lhe foi relatado pelo próprio Dr. João e confirmado pelo Sr. Miro; (...) que estranhou o fato de não ter havido nenhum registro da ocorrência e nem maiores preocupações por parte da administração do escritório; que, pelo menos uma vez por mês, o Dr. João, embora tendo carro particular, utilizava o veículo da empresa para ir a Guarajuba; que acredita que esta utilização decorria da observação do que era feito pelo próprio chefe do escritório que dispunha de veículo a sua inteira disposição, por conta da empresa; (...) que, pelo menos no ano de 2002, não comparecia a empresa em tempo integral, mantendo-se na administração da construção da sua residência, localizada em Vilas do Atlântico, localizada em Lauro de Freitas; que eventualmente, para o transporte do material de construção utilizava-se da caminhonete cabine simples; que a verificação pelos funcionários que o chefe de escritório não utilizava o seu tempo para a gestão da empresa, mesmo quando na própria sala, de certo modo foi motivo de desestímulo;

3.2.2.25 A senhora Silvia Maria Salgado Anjos, agente administrativo, na comissão de processo disciplinar, revelou que os abusos do senhor Neville não se limitavam aos veículos (da fl. 128 à fl. 130, anexo 8):

Que é do conhecimento da depoente que os Srs. Neville e Natalino autorizavam a utilização de veículos da Empresa para fins particulares, sendo que o combustível era pago com o dinheiro da RFFSA. Que os Srs. Neville e Natalino faziam uso particular dos veículos e apresentavam as despesas para a RFFSA. Que a depoente presenciou com certa regularidade, a retirada de garrafões de água mineral do ERSAV, pelo Sr. Fábio, que, segundo ele, era para a residência do Sr. Neville. Que, em outras ocasiões a própria esposa do Sr. Neville tomava iniciativa de solicitar a entrega desses galões na sua residência.

3.2.2.26 A senhora Maria José Alves Cardoso, terceirizada para limpeza no período dos fatos que deram causa a esta TCE, trouxe mais informações sobre a forma patrimonialista de gerenciar a ERSAV exercida pelo senhor Neville (da fl. 147 à fl. 149, vol. principal):

Que na execução dos serviços de limpeza do ERSAV a depoente viu diversos fatos relacionados com o Sr. Neville, sua família, Sr. Fábio Moreira, inclusive aos sábados. Que a depoente trabalhava de 07:00 às 16:00 horas e aos sábados de 07:00 às 11:00 horas. (...) Que, após a aposentadoria do Sr. Natalino as chaves dos veículos ficavam com o Sr. Neville, e que, por diversas vezes, a depoente retirou-as da sua gaveta, a pedido da Sra. Angélica. Que a depoente, por diversas vezes, acompanhou o Sr. Fábio Moreira, a seu pedido, para abastecimento de veículos da RFFSA nos postos conveniados. Que a depoente pôde perceber, nessas ocasiões, que o Sr. Fábio fazia o abastecimento em certo volume e trazia a nota de despesa em volume sempre superior ao que foi colocado no veículo. Que a depoente disse que essas notas eram colocadas, pelo Sr. Fábio, no painel do veículo, o que permitia que a mesma visse essas discrepâncias entre o volume efetivamente colocado e o registrado na nota. Que a depoente disse que era comum o Sr. Neville, juntamente com o Sr. Fábio, comparecerem ao Escritório aos sábados e ficarem trancados na sala do Sr. Neville. Que era comum a esposa do Sr. Neville ligar e pedir à depoente para avisar ao marido que a água de sua casa havia acabado e este solicitava ao Sr. Fábio a retirada do estoque da RFFSA. Que, normalmente eram retirados dois galões de água e não pode afirmar se eram devolvidos cheios ou vazios. (...) Que o Sr. Fábio Moreira era muito abusado, pois entrava na sala do Sr. Neville ou mesmo na sala do Sr. Tupiacy constantemente, inclusive nos dias de sábado, e telefonava por longo tempo. Que constantemente viu a filha do Sr. Neville estacionar o seu veículo no estacionamento da RFFSA e o Sr. Fábio conduzi-la em veículo da RFFSA para o seu trabalho, e que por três vezes em dia de sábado viu o filho do Sr. Neville retirar e usar veículo da RFFSA.

3.2.2.27 A senhora Gelsonides Sales de Souza, auxiliar de serviços gerais, na comissão de processo disciplinar, também confirmou o uso particular dos recursos da ERSAV pelo senhor Neville (fls. 150 e 151):

Que conhece o Sr. Fábio Ramos e que o mesmo trabalhava como motorista para o Escritório do ERSAV e que realizava também serviços de abastecimento de veículos; que o Sr. Fábio tinha livre acesso às dependências da Empresa, qualquer dia da semana; que o Sr. Fábio era muito amigo do Dr. Neville parecendo “pai e filho”; que várias vezes presenciou o Sr. Fábio retirar veículo da Empresa no sábado, alegando que o mesmo iria sofrer manutenção; que presenciou várias vezes o Sr. Fábio retirar galão de água mineral da Empresa, não sabendo precisar para onde era levado o mesmo;

3.2.2.28 O senhor Roberto de Abreu e Lima, Coordenador do GT-FINAN, na comissão de sindicância explicou o destino dos valores recebidos pelos regionais (fl. 36, vol. principal):

Que qualquer recebimento efetuado pelo Escritório não pode ser utilizado para pagamento de despesas, devendo, obrigatoriamente, ser depositado na conta única;

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3.2.2.29 Entretanto, o senhor Neville dava outro destino a tais recursos, segundo relatado pelo senhor Natalino Medeiros do Bem na comissão de sindicância (da fl. 91 à fl. 93, vol. principal):

Que tem conhecimento que, eventualmente, o Chefe do ER autorizava que parte dos valores recebidos fossem aplicados no pagamento de despesas, quando o valor remetido pela AG se mostrava insuficiente; que acredita que o Chefe do ER tenha apresentado justificativas sobre o ato; (...) que os valores arrecadados mensalmente eram retidos nos cofres do ER, sob a guarda do Sr. Antonio Euclides e utilizados para pagamentos relativos a segurança patrimonial de Aramari, Cruz das Almas e Pátio de Salvador; que a administração de tais recursos era do depoente; que este fato era do inteiro conhecimento do Chefe do ER, engenheiro Neville, do Antonio Euclides, do pessoal da área jurídica, além, é óbvio, deste depoente; que todos tinham consciência de que tal procedimento era irregular (...)

3.2.2.30 E o senhor Leonildo Crispim Teixeira de Souza, o qual foi estagiário na sala do senhor Antônio Euclides, testemunhou mais condutas inidôneas do senhor Neville:

Que o depoente tem opinião de que o Sr. Neville era autoritário, porquanto algumas vezes determinou a disponibilização de numerário da Empresa para pagamento de despesas pessoais. Que nesses casos o Sr. Neville, às vezes, fazia a solicitação pessoalmente ou através da Secretária – Sra. Angélica, ou desta para a Sra. Sílvia. Que o depoente recorda que o Sr. Neville devolvia essas quantias, mas não pode afirmar se tal fato aconteceu em todas as ocasiões em que ele fez solicitação do numerário. Que, nessas ocasiões, o Sr. Antonio Euclides anotava vales para o Sr. Neville e guardava-os no cofre. (...) Que o depoente durante o seu estágio não presenciou nenhuma atividade do Sr. Fábio como mecânico. Que o depoente presenciou, algumas vezes, a recusa do Sr. Antonio Euclides em aceitar notas de despesas relativas a reparos na pick-up, apresentadas pelo Sr. Fábio Moreira, cujos valores considerava altos. E que, nessas ocasiões, o Sr. Fábio comentava com o depoente: “ele não autoriza, mas o Neville autoriza”, e “quem é o chefe?”. (...) Que várias vezes o depoente presenciou a Sra. Silvia solicitar ao Sr. Antonio Euclides a liberação de dinheiro para o Sr. Neville, falando da seguinte forma: “Dr. Neville pediu para pegar tal valor”. Que o Sr. Antonio Euclides entregava-lhe o dinheiro, anotando o vale e guardando no cofre.

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3.2.2.31 Independente dos testemunhos acima reproduzidos, deve ser salientado que a falta de controles gerenciais no ERSAV é suficiente para caracterizar a conduta do senhor Neville como culposa por negligência. 3.2.2.32 E, como ficou demonstrado na instrução anterior, quando da realização da inspeção, e reiterado pelas informações prestadas por funcionários do ERSAV, não se tratava de uma ou outra irregularidade isolada, mas sim de prática generalizada, revelando clara falha de gestão, e que tem todos os indícios de ser intencional para assim possibilitar os diversos desvios perpetrados.3.2.2.33 Assim, as alegações de defesa do senhor Neville não devem ser acatadas.4. CONCLUSÃO:4.1 As alegações de defesa apresentadas pelos senhores Antônio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva foram insuficientes para elidir suas responsabilidades pelas condutas inidôneas que causaram o débito arrolado neste processo.4.2 Tendo em vista a extinção da RFFSA, os senhores Neville e Antônio Euclides devem ser cientificados para recolherem aos cofres do Tesouro Nacional os valores apurados na forma constante na instrução da fl. 510 à fl. 530, vol. principal, atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora, de forma a ressarcir à União. As planilhas demonstrativas estão às fls. 529 e 530, vol. principal.4.3 Não foi proposto o desconto da dívida dos salários dos citados porque eles não fazem mais parte dos quadros da RFFSA.4.4 Os testemunhos coletados nas comissões de sindicância e de processo administrativo disciplinar demonstram não ter havido boa-fé dos citados gestores na condução dos negócios da ERSAV/RFFSA.4.5 Em razão dessa má-conduta quando da condução de seus cargos públicos, propõe-se, ainda, que os gestores sejam apenados com multa, nos moldes descritos no art. 57 da Lei 8.443/92 e no art. 267 do Regimento Interno do TCU.4.6 Informações passadas por funcionários da Inventariança da RFFSA indicaram que os senhores Neville e Antonio Euclides foram incorporados aos quadros da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. Considerando os malfeitos por eles perpetrados junto à RFFSA, propõe-se que ambos sejam considerados inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal, de acordo com o art. 60 da Lei 8.443/92 e art. 270 do Regimento Interno do TCU.4.7 E com esteio no art. 19 da Lei 8.443/92 e art. 209, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, as contas do ano de 2002 dos senhores Neville e Antonio Euclides devem ser julgadas irregulares.4.8 Não se propôs o envio do presente processo ao Ministério Público para apurar eventuais crimes de improbidade administrativa (Lei 8492/92) e de peculato (Código Penal, art. 312) em razão da prescrição.

5. ENCAMINHAMENTOS:

Em razão dos elementos acima analisados propõe-se, ao alvitre da autoridade superior, que o TCU tome as seguintes medidas:5.1 Com base no art. 12, § 1º, da Lei 8.443/92 e no art. 202, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, rejeite as alegações de defesa dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos, CPF 101.359.525-49, técnico em contabilidade e gestor contábil e financeiro do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da Rede Ferroviária Federal - RFFSA de 1989 a 18/12/2002, e Neville Chamberlain Barbosa da Silva, CPF 077.716.654-20, Superintendente do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da Rede Ferroviária Federal – RFFSA de 16/10/1989 a 29/2/2000 e Representante principal dos liquidantes da RFFSA, conforme procurações outorgadas de 13/1/2000 a 20/11/2002, condenando-os a, solidariamente, recolherem os valores constantes originalmente nas planilhas às fls. 529 e 530, vol. principal, abaixo reproduzidos, atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora, aos cofres do Tesouro Nacional:c) Composição do débito:c.1) Consumo excessivo de combustível (itens 71 a 76 desta instrução):Mês Consumo Total de

Combustível (R$)Consumo Regular de Combustível (R$)

Consumo Excessivo de Combustível (R$)

Jan/2002 3.646,75 867,20 2.779,55 Fev/2002 4.872,88 867,20 4.005,68 Mar/2002 3.808,51 867,20 2.941,31 Abr/2002 5.363,24 867,20 4.496,04 Mai/2002 5.695,49 867,20 4.828,29 Jun/2002 4.669,84 867,20 3.802,64 Jul/2002 4.241,89 867,20 3.374,69 Ago/2002 5.120,42 867,20 4.253,22 Set/2002 4.257,62 867,20 3.390,42 Out/2002 4.590,45 867,20 3.723,25 Nov/2002 5.021,18 867,20 4.153,98 Total 51.288,27 9.539,20 41.749,07

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0

c.2) Gasto excessivo na manutenção de veículos (Itens 77 a 80 desta instrução):Mês Gasto Total na

Manutenção de Veículos (R$)

Gasto Regular na Manutenção de Veículos (R$)

Gasto Excessivo na Manutenção de Veículos (R$)

Jan/2002 2.460,00 276,80 2.183,20 Fev/2002 4.598,60 276,80 4.321,80 Mar/2002 3.000,25 276,80 2.723,45 Abr/2002 1.183,00 276,80 906,20 Mai/2002 4.399,98 276,80 4.123,18 Jun/2002 6.743,32 276,80 6.466,52 Jul/2002 14.049,00 276,80 13.772,20 Ago/2002 12.728,51 276,80 12.451,71 Set/2002 6.046,26 276,80 5.769,46 Out/2002 11.720,30 276,80 11.443,50 Nov/2002 7.578,18 276,80 7.301,38 Total 74.507,40 3.044,80 71.462,60

c .3) Compra excessiva de material elétrico (itens 81 a 92 desta instrução) – mês de referência novembro (item 94 da instrução):

Total Comprado

Necessidade do Escritório

Quantidade a maior

Preço Médio Pago (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 549 179 370 6,24 2.308,80 Reatores 343 62 281 16,5 4.636,50 Total - - - - 6.945,30

c.4) Compra de material elétrico com sobrepreço (itens 81 a 92 desta instrução) – mês de referência novembro (item 94 da instrução):

Total Comprado

Preço Médio Pago (R$)

Preço Médio de Mercado (R$)

Sobrepreço (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 179 6,24 4,00 6,24 400,96 Reatores 62 16,5 16,50 16,5 0 Total - - - - 400,96

Valor Total devido: Valor (R$) Data 4.962,75 31/1/2002 8.327,48 28/2/2002 5.664,76 31/3/2002 5.402,24 30/4/2002 8.951,47 31/5/2002 10.269,16 30/6/2002 17.146,89 31/7/2002 16.704,93 31/8/2002 9.159,88 30/9/2002 15.166,75 31/10/2002 18.801,62 28/11/2002 Total: R$ 120.557,93

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0

5.2 Com fulcro no art. 57 da Lei 8.443/92 e no art. 267 do Regimento Interno do TCU, multe os senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva;5.3 Conforme descrito no art. 219, incisos II e III, do Regimento Interno do TCU, autorize desde já a cobrança judicial da dívida dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva;5.4 Com esteio no art. 19 da Lei 8.443/92 e art. 209, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, julgue irregulares as presentes contas dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva e, nos moldes descritos no art. 57 da Lei 8.443/92 e no art. 267 do Regimento Interno do TCU, multe os responsáveis;5.5 De acordo com o art. 60 da Lei 8.443/92 e art. 270 do Regimento Interno do TCU, inabilite os senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal;”

PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TCU

11. O ilustre representante do Ministério Público, Procurador Júlio Marcelo de Oliveira, concordou, com ajustes, com a proposta final encaminhada pela Unidade Técnica (fls. 570/578 – Volume 3):

“Trata-se da tomada de contas especial instaurada em cumprimento ao item 9.2 do Acórdão 2.294/2006 (TC-016.972/2004-2, fls. 10/4, v.p.), por meio do qual a 1ª Câmara desta Corte determinou ao Liquidante da Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA a apuração dos fatos, a identificação dos responsáveis e a quantificação dos danos, ante as informações constantes dos relatórios da Comissão de Sindicância RCLIQ 40/2003 (fls. 30 e 100/19, v.p.) e da Comissão de Processo Disciplinar RCLIQ 204/2003, relativas a possíveis irregularidades no Escritório Regional da RFFSA em Salvador - Ersav (fls. 123/5 e 177/218, v.1).

O Relatório da Comissão de Tomada de Contas Especial (fls. 351/80, v.2) e o Relatório da Secretaria Federal de Controle Interno (fls. 429/33, v.3) concluíram pela responsabilidade dos srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Natalino Medeiros do Bem, em face da aquisição excessiva de combustível, do excesso na aquisição de materiais elétricos e do excesso de despesas com a manutenção de dois veículos.

No âmbito deste Tribunal, a 1ª Secex promoveu, de início, as seguintes citações:

RESPONSÁVEIS SOLIDÁRIOS(fls. 469/76, v.3)

VALOR (R$)

DATA DEOCORRÊNCIA

- Neville Chamberlain Barbosa da Silva, então Chefe do Escritório: consumo excessivo de combustível, gasto excessivo com material elétrico e gasto excessivo com manutenção de veículo, conforme apurado por meio do Processo de Sindicância 40/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003; - Natalino Medeiros do Bem, responsável pelo patrimônio e substituto eventual do Chefe do Escritório Regional: consumo excessivo de combustível, gasto excessivo com material elétrico e gasto excessivo com manutenção de veículo, conforme apurado por meio do Processo de Sindicância 40/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003;- Antonio Euclides Caetano dos Santos: por ter autorizado os pagamentos irregulares, os quais originaram o débito, conforme apurado por meio do Processo de Sindicância 40/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003.

Valor total: R$ 16.927,01

7.362,65 31.1.20029.564,36 28.2.2002

- Neville Chamberlain Barbosa da Silva: consumo excessivo de combustível, gasto excessivo com material elétrico e gasto excessivo com manutenção de veículo, conforme apurado no âmbito da extinta Rede Ferroviária Federal, por meio do Processo de Sindicância 40/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003;- Antonio Euclides Caetano dos Santos: ter autorizado os pagamentos irregulares, os quais originaram o débito, conforme apurado por meio do Processo de Sindicância 40/2003 e do Processo Administrativo Disciplinar 204/2003.

Valor total: R$ 112.083,09.

7.629,20 31.03.20025.701,92 30.04.200211.103,84 31.05.200212.889,92 30.06.200218.283,10 31.07.200218.146,84 31.08.200210.653,61 30.09.200215.933,09 31.10.200211.741,57 28.11.2002

Todos os responsáveis aduziram defesa (fls. 2/12 e 25/70, anexo 2, e 2/29, anexo 4).

19

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0

Por força de alguns questionamentos suscitados pelos defendentes, a unidade técnica, no intuito de sanear o presente processo, efetuou diligência junto ao Banco do Brasil (fls. 502/3, v.3) e ao Ministério Público do Estado da Bahia (fl. 507, v.3), além de realizar inspeção in loco na sede da inventariança da RFFSA, na cidade do Rio de Janeiro/RJ (fls. 494/6, v.3).

O exame do conjunto de elementos obtidos resultou na instrução às fls. 510/32, v.3, e deu causa à nova citação solidária dos responsáveis, pelo valor histórico de R$ 120.557,93, desta feita nos seguintes termos (fls. 533/42, v.3):

RESPONSÁVEL SOLIDÁRIO IRREGULARIDADE- Neville Chamberlain Barbosa da Silva omissão no controle gerencial do Ersav, o que redundou em

prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do que seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes;

- Antonio Euclides Caetano dos Santos ter autorizado os pagamentos irregulares dos quais se originou o débito, sem que o solicitante do serviço ou do material atestasse o documento fiscal (ou atestando de modo ilegível), em oposição ao preceituado no Memorando Circular 1/Cocont/Cofin/2000, e ter atestado, nos processos de pagamento, que “o material constante do presente documento foi recebido e utilizado”, o que redundou em prática generalizada de pagamentos irregulares na aquisição de combustível, material elétrico e manutenção de veículos para o escritório, em volume muito acima do que seria necessário e razoável, sem comprovação da efetividade dos gastos e com indícios de fraude na documentação fiscal correspondente, verificando-se, como exemplo, a presença de notas fiscais sequenciais, abastecimentos de veículos em madrugadas e fins de semana e mesma caligrafia em notas fiscais de estabelecimentos diferentes.

De acordo com os ofícios citatórios, a composição do débito solidário é a seguinte: a) consumo excessivo de combustível (itens 71 a 76 da instrução, fls. 519/20, v.3):

Mês Consumo total de combustível (R$)

Consumo regular de combustível (R$)

Consumo excessivo de combustível (R$)

Jan/2002 3.646,75 867,20 2.779,55Fev/2002 4.872,88 867,20 4.005,68Mar/2002 3.808,51 867,20 2.941,31Abr/2002 5.363,24 867,20 4.496,04Mai/2002 5.695,49 867,20 4.828,29Jun/2002 4.669,84 867,20 3.802,64Jul/2002 4.241,89 867,20 3.374,69Ago/2002 5.120,42 867,20 4.253,22Set/2002 4.257,62 867,20 3.390,42Out/2002 4.590,45 867,20 3.723,25Nov/2002 5.021,18 867,20 4.153,98Total 51.288,27 9.539,20 41.749,07

b) gasto excessivo na manutenção de veículos (itens 77 a 80 da instrução, fl. 520, v.3):

Mês Gasto total na manutenção de veículos (R$)

Gasto regular na manutenção de veículos (R$)

Gasto excessivo na manutenção de veículos (R$)

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Jan/2002 2.460,00 276,80 2.183,20Fev/2002 4.598,60 276,80 4.321,80Mar/2002 3.000,25 276,80 2.723,45Abr/2002 1.183,00 276,80 906,20Mai/2002 4.399,98 276,80 4.123,18Jun/2002 6.743,32 276,80 6.466,52Jul/2002 14.049,00 276,80 13.772,20Ago/2002 12.728,51 276,80 12.451,71Set/2002 6.046,26 276,80 5.769,46Out/2002 11.720,30 276,80 11.443,50Nov/2002 7.578,18 276,80 7.301,38Total 74.507,40 3.044,80 71.462,60

c) compra excessiva de material elétrico (itens 81/92 da instrução, fls. 520/1, v.3) – mês de referência: novembro de 2002 (item 94 da instrução, fl. 522, v.3):

Total comprado

Necessidade do escritório

Quantidade a maior

Preço médio pago (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 549 179 370 6,24 2.308,80Reatores 343 62 281 16,50 4.636,50Total - - - - 6.945,30

d) compra de material elétrico com sobrepreço (itens 81/92 da instrução, fls. 520/1, v.3) – mês de referência: novembro de 2002 (item 94 da instrução, fl. 522, v.3):

Total comprado

Preço médiopago (R$)

Preço médio de mercado (R$)

Sobrepreço (R$)

Débito (R$)

Lâmpadas 179 6,24 4,00 6,24 400,96Reatores 62 16,50 16,50 16,50 0Total - - - - 400,96

Os srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antonio Euclides Caetano dos Santos apresentaram alegações de defesa (fls. 2/14 e 15/58, anexo 10), as quais, após detido exame, não foram acolhidas pela 1ª Secex, que agora propõe ao Tribunal, em uníssono, que (fls. 546/69, v.3):

“5.1 Com base no art. 12, § 1º, da Lei 8.443/1992 e no art. 202, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, rejeite as alegações de defesa dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos, CPF 101.359.525-49, técnico em contabilidade e gestor contábil e financeiro do Escritório Regional de Salvador – Ersav da Rede Ferroviária Federal – RFFSA, de 1989 a 18.12.2002, e Neville Chamberlain Barbosa da Silva, CPF 077.716.654-20, Superintendente do Escritório Regional de Salvador – Ersav da Rede Ferroviária Federal – RFFSA, de 16.10.1989 a 29.2.2000 e Representante principal dos liquidantes da RFFSA, conforme procurações outorgadas de 13.1.2000 a 20.11.2002 [fls. 45/75, anexo 8], condenando-os a, solidariamente, recolherem os valores constantes originalmente nas planilhas às fls. 529 e 530, vol. principal, abaixo reproduzidos [R$ 120.557,93], atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora, aos cofres do Tesouro Nacional:

(...)5.2 Com fulcro no art. 57 da Lei 8.443/1992 e no art. 267 do Regimento Interno do TCU,

multe os senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva; 5.3 Conforme descrito no art. 219, incisos II e III, do Regimento Interno do TCU, autorize,

desde já, a cobrança judicial da dívida dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva;

5.4 Com esteio no art. 19 da Lei 8.443/1992 e art. 209, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, julgue irregulares as presentes contas dos senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva e, nos moldes descritos no art. 57 da Lei 8.443/1992 e no art. 267 do Regimento Interno do TCU, multe os responsáveis;

21

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0

5.5 De acordo com o art. 60 da Lei 8.443/1992 e o art. 270 do Regimento Interno do TCU, inabilite os senhores Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal.”

Dentre outras considerações, a unidade técnica ponderou, em suas conclusões, que (fl. 565, v.3):a) ante a extinção da RFFSA (Medida Provisória 353/2007 e Decreto 6.018/2007 – fls. 336/47,

v.2), os senhores Neville e Antonio Euclides devem ser cientificados para recolherem os valores devidos aos cofres do Tesouro Nacional, de forma a ressarcir à União;

b) “não foi proposto o desconto da dívida dos salários dos citados porque eles não fazem mais parte dos quadros da RFFSA”;

c) os testemunhos coletados nas comissões de sindicância e de processo administrativo disciplinar demonstram não ter havido boa-fé dos citados gestores na condução dos negócios do Ersav/RFFSA;

d) “informações passadas por funcionários da Inventariança da RFFSA indicaram que os senhores Neville e Antonio Euclides foram incorporados aos quadros da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. Considerando os malfeitos por eles perpetrados junto à RFFSA, propõe-se que ambos sejam considerados inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal, de acordo com o art. 60 da Lei 8.443/1992 e o art. 270 do Regimento Interno do TCU”;

e) “não se propôs o envio do presente processo ao Ministério Público [da União] para apurar eventuais crimes de improbidade administrativa (Lei 8.492/1992) [Lei 8.429/1992] e de peculato (Código Penal, art. 312) em razão da prescrição”.

II

O Ministério Público acompanha a proposta da zelosa 1ª Secex, que analisou, pormenorizadamente, os argumentos ventilados pelos responsáveis chamados a se defender.

O conjunto probatório acostado aos autos evidencia a existência de dano. Neste sentido, a metodologia de cálculo adotada pela unidade técnica é clara, conservadora e dotada de razoabilidade, haja vista que se considerou excessivo:

a) o consumo mensal de combustível que extrapolou o consumo médio apurado no período de maio de 2003 a dezembro de 2004 (fls. 498 e 519/20, v.3);

b) o gasto mensal de reparo dos veículos que superou o gasto médio em manutenção das picapes de maio de 2003 a dezembro de 2004 (fls. 498 e 520, v.3);

c) o gasto com material elétrico (aquisição a maior e sobrepreço), com base no tempo médio de vida de uma lâmpada fluorescente usada para iluminação comum, o número aproximado de dias úteis em um ano e o horário de funcionamento do escritório, bem como o prazo de garantia dos reatores, dentre outros critérios (fls. 498 e 520/2, v.3).

A responsabilidade pela recomposição dos cofres públicos deve, de fato, recair, solidariamente, sobre os srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antonio Euclides Caetano dos Santos, respectivamente, então Chefe da Unidade Regional de Salvador da extinta RFFSA (gestão: 16.10.1989 a 20.11.2002; fls. 445, v.3; 4, 84 e 91/6, anexo 8) e Técnico em Contabilidade encarregado da área financeira e contábil do Ersav (gestão: 1989 a 18.12.2002; fls. 45, v.p.; 445, v.3; e 67, anexo 8).

O Relatório de Auditoria 4/AE/Audit/2003 (fls. 16/28, v.p.), o Relatório da Comissão de Sindicância RCLIQ 40/2003 (fls. 30 e 100/19, v.p.) e o Relatório da Comissão de Processo Disciplinar RCLIQ 204/2003 (fls. 123/5 e 177/218, v.1), bem como o Relatório da Comissão de Tomada de Contas Especial (fls. 351/80, v.2), são ricos em detalhes acerca da conduta inadequada dos aludidos funcionários, cujas alegações de defesa (fls. 2/12 e 25/70, anexo 2; 2/14 e 15/58, anexo 10) não se mostraram suficientes para afastar a presunção de dano.

O consumo excessivo de combustível, o gasto demasiado com a manutenção de dois veículos próprios (modelo D-20, uma cabine dupla e outra simples, fls. 21/5, v.p.) e a compra desnecessária/sobrepreço na aquisição de material elétrico (fl. 447, v.3) são fatos intrinsecamente associados às atribuições dos srs. Neville Chamberlain e Antonio Euclides.

No Siafi/2002 (fl. 6, anexo 8), exercício no qual ocorreram as irregularidades ora em exame, consta a inscrição dos srs. Neville e Antonio Euclides como, respectivamente, ordenador de despesas (“ordenador assinatura”) e gestor financeiro.

Eventual chamamento de outros responsáveis solidários aos autos, a exemplo da sr.ª Fátima de Campos Malta, “encarregada e gestora do orçamento” do Ersav (fls. 65/6, anexo 2; e 525/6, itens 136/7, v.3), não teria o condão de afastar a já caracterizada responsabilidade dos srs. Neville Chamberlain e Antonio Euclides, em relação aos quais a 1ª Secex teceu, dentre outras, as seguintes considerações (fls. 527/8, v.3):

22

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.569/2010-0

“154. Como forma de sanear a presente prestação de contas, que se encontrava sem documentação que atestasse a ilegalidade dos pagamentos questionados, foi realizada inspeção na Inventariança da Rede Ferroviária Federal.

155. A fiscalização revelou a existência de claras irregularidades na gestão do Ersav, dentre as quais se pode citar: notas fiscais de estabelecimentos distintos preenchidas pela mesma pessoa, pagamento de várias notas fiscais sequenciais, abastecimento de veículos em madrugadas e fins de semana, etc.

156. Tais irregularidades culminaram em gastos irreais com combustível, manutenção de veículos e compra de materiais elétricos.

157. Entende-se que os responsáveis pelo débito são os srs. Antonio Euclides Caetano dos Santos e Neville Chamberlain Barbosa da Silva.

158. O primeiro, encarregado do setor financeiro do Ersav, atestou, nos processos de pagamentos, que ‘o material constante do presente documento foi recebido e utilizado’, quando havia sólidos indícios de irregularidades. Por outro lado, realizou os pagamentos sem cumprir o Memorando Circular 1/Cocont/Cofin/2000, segundo o qual ‘os documentos de despesas deverão estar atestados pelo responsável que solicitou o serviço ou compra de material’ (fl. 75 – anexo 2).

159. Na maior parte dos casos, não havia atesto por parte de quem solicitou o serviço ou material, e, quando havia, amiúde era ilegível.

160. Já o sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, enquanto chefe do Ersav, não implementou os controles gerenciais adequados com vistas a impedir os pagamentos irregulares. Frise-se que não se tratava de uma ou outra irregularidade isolada, mas sim de prática generalizada no escritório de Salvador, revelando clara falha de gestão.

161. Em função da nova juntada de documentos aos autos e do recômputo do débito, cumpre realizar a nova citação dos responsáveis.

162. Entende-se que o sr. Natalino Medeiros do Bem, por ter ficado apenas um mês como Chefe de Escritório, na posição de substituto do sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, não deve ser responsabilizado, pois se trata de período insuficiente para que pudesse estabelecer sólidos controles de gestão.

163. Afinal, o sr. Natalino Medeiros do Bem exerceu a função de chefe de escritório apenas entre os meses de 31.1.2002 a 28.2.2002, não lhe cabendo, portanto, responder pela implantação dos controles de gestão cuja falta levou à formação do débito.

164. A responsabilidade por tais controles era do sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, nomeado Chefe de Escritório do Ersav em 6.12.1996, conforme Resolução à fl. 84 – anexo 8.”

Todo ato administrativo, sem exceção, deve obedecer ao princípio da motivação, instrumento de salvaguarda da legalidade e da moralidade administrativa (Acórdão 2.326/2008 – Plenário). No caso concreto, porém, os responsáveis não conseguiram descaracterizar os fatos geradores das respectivas citações. A bem da verdade, acusam-se reciprocamente, sem trazer aos autos elementos que permitam justificar a contento os procedimentos irregulares então adotados no âmbito do Ersav.

Zelo, cautela e diligência, especialmente por parte dos dirigentes das unidades organizacionais e daqueles que ocupam cargos estratégicos, são imprescindíveis para inibir erros e fraudes que possam ensejar prejuízos ao erário. O estabelecimento de rotinas administrativas, por exemplo, é um excelente método de planejamento e de controle mútuo das ações dos diversos integrantes da máquina administrativa.

Assim como a coordenação, a descentralização e a delegação de competência, o planejamento e o controle, vale lembrar, são princípios fundamentais da Administração Pública Federal (artigo 6º do Decreto-lei 200/1967).

É da natureza própria da função de ordenador de despesas o poder-dever de verificar a regularidade dos atos de gestão sob todos os aspectos (v.g., Decisão 661/2002 – Plenário).

À semelhança do entendimento adotado no Acórdão 1.651/2010 – Plenário, da lavra do nobre Ministro Aroldo Cedraz, a ausência de diligência na supervisão da conduta dos servidores do Escritório de Salvador incumbidos da gestão financeira, a falta de rigor no exercício da atribuição de ordenador de despesa e a fragilidade da organização do setor financeiro do Ersav são faltas atribuíveis ao sr. Neville Chamberlain e foram decisivas para ocorrência dos danos ora apurados, o que acarreta para este gestor a responsabilidade solidária pelos débitos decorrentes das despesas indevidamente efetuadas.

Conforme entendimento assente na jurisprudência predominante desta Casa:a) "a afirmação de que apenas deram sequência a ato já previamente constituído não pode ser

acolhida. O poder-dever de diligência do ordenador de despesas impõe a ele a verificação da regularidade dos atos de gestão sob todos os aspectos, sobretudo da adequação do valor do contrato ao seu objeto. O exame da regularidade da despesa não se exaure na verificação da adequada formalização do processo. A demonstração da despesa realizada deve induzir à compreensão de que a observância das normas que regem a matéria proporcionou

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o máximo de benefício com o mínimo de dispêndio (Constituição Federal, art. 70, parágrafo único e DL 200/1967, arts. 90 e 93)" (voto condutor da Decisão 661/2002 - Plenário, transcrito no voto que precede o Acórdão 918/2005 - 2ª Câmara);

b) "(...) a função de ordenador de despesa, à luz das disposições do Decreto-lei 200/1967 e do Decreto 93.872/1986, não está adstrita ao mero acatamento ou acolhimento das solicitações de outras instâncias administrativas, devendo exercer um verdadeiro controle quanto à regularidade e à legalidade da despesa pública" (Acórdão 985/2007 - Plenário);

c) "a lei exige a assinatura nos documentos exatamente para delimitar responsabilidades. A participação de vários agentes na conformação do ato também é um método de controle, sendo que a assinatura é condição de eficácia e de vinculação de responsabilidade de seu autor" (Acórdão 343/2007 - Plenário);.

d) “em direito financeiro, cabe ao ordenador de despesas provar que não é responsável pelas infrações, que lhe são imputadas, das leis e regulamentos na aplicação do dinheiro público” (STF , MS 20.335/DF).

Nos termos da manifestação do eminente Ministro Benjamin Zymler no voto condutor do Acórdão 487/2008 – Plenário, a preservação do erário jamais pode ficar “à mercê do conhecimento sobre a intenção (animus) do agente causador do dano, de modo que a culpa, por negligência ou imprudência, é suficiente para ensejar a reparação do dano”.

Veja-se, a propósito, recente pronunciamento do colendo STJ (julgamento 26.4.2011, DJe 16.5.2011, grifos acrescidos):

“PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. PECULATO. DIREITO PENAL MILITAR. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. MEDIDA EXCEPCIONAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO EVIDENCIADA DE PLANO. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE DO DELITO. ORDEM DENEGADA.

Na hipótese, o Parquet, apesar de não descrever pormenorizadamente a conduta criminosa, relatou os fatos a serem apurados na instrução criminal e estabeleceu o vínculo entre o denunciado e conduta imputada, pois na qualidade de Comandante Geral da Polícia Militar - oficial superior de maior posto da Corporação - competia a ele a presidência do Centro Social onde, em tese, teriam ocorridos os delitos em análise.

Sendo o presidente da entidade o ordenador das despesas ocorridas em sua contabilidade e não podendo ocorrer qualquer pagamento naquele âmbito sem a sua aquiescência, o qual em momento algum suspendeu os atos irregulares cometidos pelo 1º denunciado, recai sobre a sua conduta omissiva, em princípio, a coautoria dos delitos em comento.”

Cumpre ao Ministério Público também comentar a alegação do sr. Neville Chamberlain de que “a Comissão de Tomada de Contas Especial extrapolou seus poderes ao não cumprir o prazo estabelecido pelo TCU e pelo Liquidante, o que gerou correção monetária e juros, para os quais os envolvidos não deram causa” (fl. 557, alínea “j”, v.3).

Sobre o assunto, a Constituição de 1988 assegura a todos, inclusive ao erário e à sociedade em geral, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. No caso em análise, o Acórdão 2.294/2006 – 1ª Câmara, de 15.8.2006, determinou ao Liquidante da RFFSA a instauração da TCE no prazo de 60 dias (fls. 10/4, v.p.), mas há de se reconhecer que inúmeras providências foram implementadas pela Comissão de Tomada de Contas Especial, cujo relatório data, segundo consta, de abril de 2007 (fls. 351/80, v.2, e 409, v.3).

Ademais, a cobrança de juros e de encargos sobre débitos decorre de imposição legal. Não pode ser dispensada pelo TCU (Acórdão 88/2007 – Plenário).

Sobre a natureza jurídica desses institutos, é esclarecedor o voto do Acórdão 156/1999 – Plenário:

“6. O sr. Delfim Gomes Ferreira teve suas contas julgadas irregulares, mediante o Acórdão 569/1997-TCU-2ª Câmara, com fundamento no art. 16, inciso III, alínea ‘a’, da Lei 8.443/1992, porque não prestou contas da boa e regular aplicação dos recursos recebidos mediante o Convênio 1.348/1987 e foi condenado a ressarcir o débito atualizado monetariamente e acrescido de juros de mora, porque o art. 19 da Lei 8.443/1992 assim determina.

7. Segundo, porque atualização monetária e cobrança de juros de mora não são sanções.8. Correção monetária é mera recomposição do valor original dos recursos. Nada acrescenta

à dívida, apenas a transporta para a data da quitação, de modo que mantenha o mesmo poder aquisitivo da época em que foram recebidos pela Prefeitura.

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9. E não acolho a opinião da 10ª Secex quanto à caracterização dos juros de mora como uma apenação, registrado no item 12.5 da instrução, reproduzida no Relatório.

10. Juros de mora não têm caráter punitivo, não constituem apenação. A tradição jurídica brasileira caracteriza-os como frutos civis, acessórios do capital, e têm o sentido de reparação de prejuízos que a lei presume ocorridos pela mora no pagamento de quantia em dinheiro. A jurisprudência deste Tribunal é pacífica sobre o assunto. Cito o Voto proferido pelo Ministro Ivan Luz e a Decisão adotada no processo TC-015.969/1984-3, julgado na Sessão de 21.11.1985; o Voto do Ministro Adhemar Ghisi no TC-007.087/1993-4, julgado pelo Plenário em 6.10.1993; as Decisões 40/1992-Plenário, 269/1994-Plenário, 399/1995-Plenário, 630/1998-Plenário, e o meu Voto proferido no TC-004.553/1998-5, julgado pelo Plenário em 18.8.1999. Menciono também o excelente Parecer da Advocacia-Geral da União, nº GQ-170, de 6.10.1998, publicado no DOU de 13.10.1998, que, em seu item 44, reproduz parte do Parecer da Consultoria Geral da República L-038, de 18.11.1974, sobre o assunto.”

Por derradeiro, registre-se que o sr. Antonio Caetano não comprovou suas alegações de que teria sofrido “ameaças e/ou violências irresistíveis” por parte do sr. Neville Chamberlain (fl. 9, anexo 10).

Em face dessas observações, e considerando que “é responsável solidário pelos danos causados ao erário todo aquele que contribui para a consecução desses danos” (Acórdão 288/2011 – 2ª Câmara); que “o cumprimento de ordem manifestamente ilegal e a coação moral resistível não excluem a culpabilidade do agente” (Acórdão 1.978/2006 - 2ª Câmara); que “a alegação, desacompanhada de elementos de prova, de coação (...), não é suficiente para afastar a irregularidade” (Acórdão 2.355/2006 – 2ª Câmara) e que “quem recebe dinheiro público para administrar, só tem duas opções: ou comprova sua aplicação ou o devolve” (Acórdão 3.461/2007 – 1ª Câmara), cabe julgar irregulares as contas dos srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antonio Euclides Caetano dos Santos e condená-los em débito, sem prejuízo da aplicação de multa proporcional ao valor do dano.

III

Ante o exposto, o Ministério Público manifesta-se de acordo com a proposição da 1ª Secex (fls. 565/9, item 5, v.3), com os seguintes ajustes:

a) incluir, nos fundamentos legais da condenação dos srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antonio Euclides Caetano dos Santos, os artigos 1º, inciso I, e 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, da Lei 8.443/1992;

b) condicionar a autorização para cobrança judicial das dívidas ao não atendimento das notificações;

c) dar ciência da deliberação que sobrevier ao Procurador-Chefe da República no Estado da Bahia, com fulcro no artigo 16, § 3º, da Lei 8.443/1992, considerando que, segundo consta, em outubro de 2004, foram encaminhados ao Ministério Público Federal os relatórios da Comissão de Sindicância RCLIQ 40/2003 e da Comissão de Processo Disciplinar RCLIQ 204/2003 (fls. 412/3, item 5, e 565, item 4.8, v.3).”

É o Relatório.

VOTO

A presente Tomada de Contas Especial foi instaurada em virtude de determinação contida no item 9.2 do Acórdão nº 2.294/2006 – TCU - 1ª Câmara, prolatado no âmbito da Representação (TC 016.972/2004-2) formulada pelo assessor jurídico da RFFSA.2. Referida representação foi ofertada em decorrência do que foi apurado no âmbito da Comissão de Sindicância n.º 040/2003 e da Comissão de Processo Disciplinar n.º 204/2003, que mostraram a existência de diversas irregularidades na gestão do escritório regional da RFFSA em Salvador – ERSAV, no período de janeiro de 2002 a novembro do mesmo ano.3. As irregularidades apuradas se consubstanciaram, basicamente, no seguinte:

a) Consumo excessivo de combustível durante o período compreendido entre janeiro de 2002 e 28 de novembro de 2002;

b) Excesso na aquisição de materiais elétricos durante o período compreendido entre 14/01/2002 e 11/10/2002; e

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c) Excesso de despesas com a manutenção de dois veículos durante os meses de janeiro de 2002 e novembro do mesmo ano.

4. Inicialmente, foram citados em virtude das referidas irregularidades, o Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, então Superintendente do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da RFFSA de 16/10/1989 a 29/02/2000 e Representante principal dos liquidantes da RFFSA, o Sr. Antônio Euclides Caetano dos Santos, Técnico em contabilidade e então gestor financeiro do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da RFFSA de 1989 a 18/12/2002, e o Sr. Natalino Medeiros do Bem, então Chefe da Divisão de Administração do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da RFFSA de 1º/09/1996 a 29/02/2000.5. Com efeito, após inspeção realizada pela Unidade Técnica na inventariança da RFFSA, verificou-se que o Sr. Natalino Medeiros do Bem não poderia ser responsabilizado pelos atos de má-gestão acima apontados, porque, conforme destacou a Unidade Técnica (fls. 549 – Volume 3), ficou apenas um mês como Chefe do Escritório Regional de Salvador, período este insuficiente para que pudesse estabelecer sólidos controles de gestão.6. Por isso, nova citação foi realizada, desta vez somente em face dos Srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antônio Euclides Caetano dos Santos.7. Friso, no que diz respeito ao Sr. Natalino Medeiros do Bem, que concordo com o posicionamento externado pela Unidade Técnica, haja vista que as irregularidades apuradas decorreram claramente de atos de má-gestão e, consoante destacado acima, não se poderia esperar do Sr. Natalino controles sólidos de gestão se esteve à frente do Escritório onde o débito objeto dos autos foi gerado por apenas um único mês.8. Por isso, excluo da relação processual o referido responsável.9. Com efeito, no que pertine aos demais responsáveis (Srs. Neville Chamberlain Barbosa da Silva e Antônio Euclides Caetano dos Santos), entendo que não conseguiram elidir as irregularidades e o débito a eles imputado.10. Conforme demonstrou a fiscalização, dentre as irregularidades apuradas, verificou-se a existência de notas fiscais de estabelecimentos distintos preenchidas pela mesma pessoa, pagamento de várias notas fiscais sequenciais, abastecimento de veículos em madrugadas e fins de semana etc.11. Aos referidos responsáveis foram imputadas as citadas irregularidades porquanto, não obstante os flagrantes indícios de anomalias, permitiram que os pagamentos irregulares ocorressem.12. O Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva, enquanto Chefe da ESAV e principal representante do Liquidante da referida empresa, não implementou os controles gerenciais adequados para impedir a realização de pagamentos irregulares, ao passo que o Sr. Antônio Euclides Caetano dos Santos, encarregado do Setor Financeiro da ESAV à época, atestou, nos processos de pagamentos, o recebimento e a utilização do material e ainda deixou de cumprir o disposto no Memorando Circular 01/COCONT/COFIN/00, segundo o qual “os documentos de despesas deverão estar atestados pelo responsável que solicitou o serviço ou a compra de material”. (fls. 75 – Anexo 2)13. Por isso, rejeito suas alegações de defesa, por meio das quais buscaram demonstrar, o primeiro, que não seria responsável por atos dos seus subordinados, nem chefe do escritório, tampouco ordenador de despesa, e o segundo, que não seria responsável pela verificação, fiscalização ou glosa de despesas.14. Contudo, como bem destacou a Unidade Técnica às fls. 553/554 – Volume 3, restou amplamente demonstrado na sindicância, a responsabilidade do Sr. Antônio Euclides Caetano dos Santos, pois era de sua atribuição autorizar e realizar os pagamentos referentes às despesas do Escritório.15. Da mesma forma, quanto ao Sr. Neville Chamberlain, igualmente restou caracterizada (fls. 559/561 – Volume 3) sua responsabilidade, na medida em que demonstrou-se cabalmente tanto sua condição de chefe do escritório, quanto sua condição de principal representante do liquidante da

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RFFSA, condição esta que inclusive lhe impunha a obrigação de implementar controles gerenciais, o que, entretanto, não fez.16. A responsabilidade de ambos, destarte, restou manifesta, seja pelos elementos documentais existentes nos autos, seja pela prova oral produzida durante a sindicância.17. Quanto ao cálculo do débito, registre-se que a metodologia adotada pela Unidade Técnica, como bem demonstrou o MP/TCU (fls. 574 – Volume 3), é clara, conservadora e dotada de razoabilidade, haja vista que considerou excessivo:

a) o consumo mensal de combustível que extrapolou o consumo médio apurado no período de maio de 2003 a dezembro de 2004 (fls. 498 e 519/20, v.3);

b) o gasto mensal de reparo dos veículos que superou o gasto médio em manutenção das picapes de maio de 2003 a dezembro de 2004 (fls. 498 e 520, v.3);

c) o gasto com material elétrico (aquisição a maior e sobrepreço), com base no tempo médio de vida de uma lâmpada fluorescente usada para iluminação comum, o número aproximado de dias úteis em um ano e o horário de funcionamento do escritório, bem como o prazo de garantia dos reatores, dentre outros critérios (fls. 498 e 520/2, v.3).

18. Igualmente não se justifica, portanto, a insurreição dos responsáveis a respeito.19. Outrossim, no que concerne às alegações preliminares apresentadas pelos responsáveis em questão, adiro às conclusões da Unidade Técnica (fls. 556/565 – Volume 3), as quais faço parte integrante do presente, na medida em que por meio delas restou claramente demonstrado não ter ocorrido cerceamento de defesa, prescrição ou quaisquer das outras alegações laterais formuladas pelos responsáveis com o intuito único de obstacularizar a tentativa do Estado de ressarcir os seus cofres pelo prejuízo causado.20. É oportuno, frisar, a propósito, que as irregularidades em si, em momento algum foram atacadas pelos responsáveis. Nenhum deles trouxe aos autos qualquer elemento que justificasse a emissão de notas fiscais de estabelecimentos distintos pela mesma pessoa, o pagamento de várias notas fiscais sequenciais, o abastecimento de veículos de madrugada ou em finais de semana, dentre outras. Limitaram-se, como já dito, a reclames laterais.21. Por fim, considerando a gravidade da conduta dos responsáveis, imperioso ainda, na forma proposta pela Unidade Técnica, que ambos sejam considerados inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal, na forma do art. 60 da Lei nº 8.443/92 e do art. 270 do Regimento Interno do TCU, pelo prazo de cinco anos.

Em face do exposto, Voto no sentido de que seja adotado o Acórdão que ora submeto à consideração deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 20 de março de 2013.

RAIMUNDO CARREIRO Relator

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ACÓRDÃO Nº 588/2013 – TCU – Plenário

1. Processo TC 000.569/2010-0. 2. Grupo II – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial3. Responsáveis: Antonio Euclides Caetano dos Santos (101.359.525-49); Natalino Medeiros do Bem (235.736.276-68); Neville Chamberlain Barbosa da Silva (077.716.654-20).4. Unidades: Ministério dos Transportes); Rede Ferroviária Federal S/A.5. Relator: Ministro Raimundo Carreiro.6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.7. Unidade Técnica: 1ª Secretaria de Controle Externo.8. Advogado(s) constituído(s) nos autos: Eurípedes Brito Cunha (OAB/BA nº 1.710), Edmundo Sampaio Jones (OAB/BA nº 9.474), Eurípedes Brito Cunha Junior (OAB/BA nº 11.433), Pedro Marcos Cardoso Ferreira (OAB/BA nº 7.606), Rômolo Dias Costa Neto (OAB/BA nº 14.449), Rita da Cássia Medeiros Câmara (OAB/BA nº 15.893), Karina Dórea Kruschewsky (OAB/BA nº 18.325), Adriana Viana da Cunha (OAB/BA nº 13.842), Janaina M. Santana de Carvalho (OAB/BA nº 22.337), André Cunha Orrico (OAB/BA nº 21.873), Felipe Almeida de Freitas (OAB/BA nº 24.651), Clariana Oliveira da Silveira (OAB/BA nº 24.714), Clarissa Dantas de Andrade (OAB/BA nº 25.895), Marcelo Fontes Monteiro (OAB/BA nº 26.355), Marcus Vinicius Braga Jones (OAB/BA nº 26.284), Manuela Gomes da Silva (OAB/BA nº 23.838), Priscila Sá Menezes de Carvalho (OAB/BA nº 14.856), Betânia da Silva Miguel (OAB/BA nº 28.859), Alessandra Sales Lopes Figueiredo (OAB/BA nº 12.940), Fabio Reis Paim (OAB/BA nº 15.304), Karine Costa Gonçalves (OAB/BA nº 22.418), Helena Oliveira Santiago (OAB/BA nº 419-B), João Laurindo da Silva (OAB/BA nº 4.141), Carlos Frederico Torres Machado Neto (OAB/BA nº 4.456) e Maria Suely do Carmo Vilas Boas (OAB/BA nº 7.439).

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo

Liquidante da Rede Ferroviária Federal S.A.- RFFSA em decorrência de determinação contida no item 9.2 do Acórdão nº 2.294/2006 – TCU - 1ª Câmara, prolatado no âmbito da Representação (TC 016.972/2004-2) formulada pelo assessor jurídico da RFFSA,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 19, parágrafo único e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210, §2º e 214, inciso III, do Regimento Interno do TCU, em:

9.1. excluir do rol de responsáveis dos presentes autos o Sr. Natalino Medeiros do Bem (CPF: 235.736.276-68);

9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Neville Chamberlain Barbosa da Silva (CPF: 077.716.654-20), Superintendente do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da Rede Ferroviária Federal – RFFSA de 16/10/1989 a 29/02/2000 e Representante Principal dos liquidantes da RFFSA, e do Sr. Antonio Euclides Caetano dos Santos (CPF: 101.359.525-49), técnico e contabilidade e gestor contábil e financeiro do Escritório Regional de Salvador – ERSAV da Rede Ferroviária Federal – RFFSA de 1989 a 18/12/2002, e condená-los, solidariamente, ao pagamento das quantias abaixo discriminadas, com a fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas dos respectivos desembolsos, até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor;

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Valor Total devido: Valor R$ Data 4.962,75 31/1/2002 8.327,48 28/2/2002 5.664,76 31/3/2002 5.402,24 30/4/2002 8.951,47 31/5/2002 10.269,16 30/6/2002 17.146,89 31/7/2002 16.704,93 31/8/2002 9.159,88 30/9/2002 15.166,75 31/10/2002 18.801,62 28/11/2002

Total: R$ 120.557,93

9.3. aplicar aos responsáveis, individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c o art. 267 do Regimento Interno, no valor de R$ 12.500,00 (doze mil e quinhentos reais), com a fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas ao Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.4. autorizar, desde já, se requerido, o pagamento das dívidas mencionadas nos itens 9.2 e 9.3 acima, em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei n.º 8.443, de 16 de junho de 1992, c/c o art. 217 do Regimento Interno, fixando aos Responsáveis o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento das notificações, para comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovarem os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente, os juros devidos, na forma prevista na legislação em vigor;

9.5. alertar os Responsáveis que a falta de comprovação dos recolhimentos de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;

9.6. determinar à Secretaria de Fiscalização de Obras Rodoviárias - SecobRodov que inclua nas notificações para pagamento dos valores mencionados nos itens 9.2 e 9.3 o disposto nos itens 9.4 e 9.5, com fundamento no art. 15 e no art. 18, inciso II, alínea “a”, da Resolução n.º  170, de 30 de junho de 2004;

9.7. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443, de 1992, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações;

9.8. com fundamento no art. 60 da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 270 do Regimento Interno do TCU, inabilitar, pelo prazo de cinco anos, os Srs. Antonio Euclides Caetano dos Santos (CPF: 101.359.525-49) e Neville Chamberlain Barbosa da Silva (CPF: 077.716.654-20) para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Federal; e

9.9. encaminhar cópia do presente Acórdão, acompanhado dos respectivos relatório e voto que o fundamentam, à Procuradoria da República no Estado da Bahia, nos termos do art. 16, §3º, da Lei nº 8.443/1992, com a informação de que a decisão está sujeita a Recurso de Reconsideração previsto no art. 285 do RI/TCU.

10. Ata n° 9/2013 – Plenário.11. Data da Sessão: 20/3/2013 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0588-09/13-P.

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13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Aroldo Cedraz (na Presidência), Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler, Raimundo Carreiro (Relator), José Jorge e José Múcio Monteiro.13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa.

(Assinado Eletronicamente)AROLDO CEDRAZ

(Assinado Eletronicamente)RAIMUNDO CARREIRO

na Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)LUCAS ROCHA FURTADO

Procurador-Geral

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