6
POR UM RESTAURO URBANO: NOVAS EDIFICAÇÕES QUE RESTAURAM CIDADES MONUMENTAIS Nos últimos vinte anos, temos assistido a uma verdadeira avalanche de intervenções em cidades tradicionais, que visam a requalificar, isto é, atribuir qualidade, enobrecer bairros inteiros, outrora industriais, antigas zonas portuárias agora obsoletas, ou até mesmo áreas A intervenção restaurativa incorpora-se ao monumento, passando a fazer parte de sua história e, portanto, da sua transmissão no tempo. Como tal, deverá trazer, inexoravelmente, as marcas da época em. que foi executada, sem desrespeitar as duas instâncias de que gozam as obras de arte: as que dizem respeito à estética e à história. Professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia [email protected] periféricas que, em razão da dinâmica urbana contemporânea e apesar de dotadas de uma ainda que precária infra- estrutura urbana - água, esgoto, luz, transportes etc. -, encontram-se inertes, esvaziadas ou em plena decadência, como é o caso da zona portuária e industrial de Pelotas-RS, com suas antigas fábricas e residências operárias. Trata-se de insuflar- lhes vida, através de um processo de revitalização que inclui não o aproveitamento, com modificações mais ou menos profundas de suas estruturas, como também a reciclagem, muitas vezes, de grande numero de suas edificações. Não se pode confundir, aqui, reciclagem com a mera reutilização funcional da edificação, visto que aquela, ao aceitar e quase sempre propugnar novas definições figurativas, vai bem além desta. Na verdade, trata-se de construir sobre o já construído, aproveitando o já existente como base para uma nova configuração tanto funcional quanto estética. Aliás, nesses casos, uma nova configuração estética é considerada primordial, no sentido de obliterar a antiga imagem de decadência da área abordada, fazendo reemergir a sua nova condição moderna, condição essa fundamental para sua reinserção na totalidade do tecido urbano e na vida econômica do país. Muitas vezes, e para enfatizar essa nova condição moderna, essas intervenções são coadjuvadas à construção de mega estruturas, projetadas por arquitetos de renome, como é o caso do Guggenheim de Bilbao, a nova prefeitura de Londres, ambas edificadas em antigas zonas portuárias, recentemente requalificadas.

3225-7514-1-PB

Embed Size (px)

DESCRIPTION

3225-7514-1-PB

Citation preview

  • POR UM RESTAURO URBANO:NOVAS EDIFICAES QUE RESTAURAM

    CIDADES MONUMENTAIS

    Nos ltimos vinteanos, temos assistidoa uma verdadeira avalanche deintervenes em cidades tradicionais, quevisam a requalificar, isto , atribuirqualidade, enobrecer bairros inteiros,outrora industriais,antigaszonas porturiasagora obsoletas, ou at mesmo reas

    A interveno restaurativa incorpora-se aomonumento, passando afazer parte de suahistria e, portanto, da sua transmisso notempo. Como tal, dever trazer,inexoravelmente, as marcas da poca em.que foi executada, sem desrespeitar as duasinstncias de que gozam as obras de arte:as que dizem respeito esttica e histria.

    Professora da Faculdade de Arquitetura daUniversidade Federal da Bahia

    [email protected]

    perifricas que, em razo da dinmicaurbana contempornea e apesar dedotadas de uma ainda que precria infra-estrutura urbana - gua, esgoto, luz,transportes etc. -, encontram-se inertes,esvaziadas ou em plena decadncia, como o caso da zona porturia e industrial dePelotas-RS, com suas antigas fbricas eresidncias operrias. Trata-se de insuflar-lhes vida, atravs de um processo derevitalizao que inclui no s oaproveitamento, com modificaes maisou menos profundas de suas estruturas,como tambm a reciclagem, muitas vezes,de grande numero de suas edificaes.No se pode confundir, aqui, reciclagemcom a mera reutilizao funcional daedificao, visto que aquela, ao aceitar equase sempre propugnar novas definiesfigurativas, vai bem alm desta. Naverdade, trata-se de construir sobre o jconstrudo, aproveitando o j existentecomo base para uma nova configuraotanto funcional quanto esttica. Alis,nesses casos, uma nova configuraoesttica considerada primordial, nosentido de obliterar a antiga imagem dedecadncia da rea abordada, fazendoreemergir a sua nova condio moderna,condio essa fundamental para suareinsero na totalidade do tecido urbanoe na vida econmica do pas.Muitas vezes,e para enfatizar essa nova condiomoderna, essas intervenes socoadjuvadas construo de megaestruturas, projetadas por arquitetos derenome, como o caso do Guggenheimde Bilbao, a nova prefeitura de Londres,ambas edificadas em antigas zonasporturias, recentemente requalificadas.

  • Assim como uma pedra jogada na gua torna-secentro e causa de muitos crculos, e o som se difundeno ar em crculos crescentes, assim tambm qualquerobjeto que for colocado na atmosfera luminosapropaga-se em crculos e preenche os espaos emsua volta com infinitas imagens de si, reaparecendoem todas e em cada uma de suas mltiplas partes.LEONARDO DA VINCI (OSTROWER, F. 1998: XV)

    Embora de importncia e atualidade indiscutveis, nopretendemos aqui abordar especificamente o tema darequalificaourbana, e sim o problema no menos importantee sempre atual da preservao e(ou) restaurao de reasurbanasmuitas vezes to ou mais degradadas do que aquelas,mas que, diferentemente delas, gozam de uma peculiarqualificao, o que vem condicionar toda e qualquerinterveno que sobre elas venha a incidir: o fato basilar deserem reconhecidas como obras de arte.

    Quase sempre obras coletivas, construdas ao longo dotempo, fruto de intervenes - acrscimos e (ou) subtraes- sucessivas, s vezes seculares, esses complexosmonumentais, uma vez reconhecidos na sua artisticidade, nopodeme no devem sofrer ulteriores redefinies figurativas,no sendo passveis, portanto, de serem retomados,continuados,enfim, modernizados. At porque, como produtosculturais por excelncia, as obras de arte sero sempreatualizadasnos seus significados, permanentemente alteradospeloolhar de quem as v e pelas culturas que as interpretam.Vistoque a capacidade de serem atuais sua marca distintiva,poder-se-ia dizer mesmo que as obras de arte - essesparticulares produtos da atividade humana - sero semprenovas,no necessitando, para tal, de qualquer ao projetualvoluntariamente inovadora que sobre elas possa vir a incidir.

    Entretanto, como interveno crtica, no seria possvelexcluirdo restauro aspectos criativos, presentes em maior oumenorescala, inclusive naquelas intervenes que se propemmais estrita ao conservativa. Por outro lado, mesmo nascriaestout court, a produo das formas arquiteturais estarimplacavelmente sujeita a certos vnculos - idia de funo,deconstruo, de lugar etc. -, no sendo, de forma alguma,totalmente arbitrarias. Quais, ento, os limites entre as aesque se querem substancialmente criativas daquelasimperiosamente restaurativas? Vale salientar que ambas asaes, ao se tornarem intervenes realizadas em umdeterminadotempo, no seio de uma determinada cultura, parano se tomarem falsas I , devem trazer necessariamente oestigma desse mesmo tempo, dessa mesma cultura que aproduziu.

    Vale ainda salientar que a preservao dos monumentosantigos, na sua necessria intangibilidade, fruto damodernidade e nasce no momento em que a arte modernistaensaiava os seus primeiros passos. Nesse perodo (1903), namesma Viena que ento dava luz o Movimento Moderno, ocrtico de arte Alois Riegl flagrava uma emergentesensibilidade em relao aos edifcios antigos, que se revelano apenas pelo estilo, mas pela aparncia antiquada, umacerta tendncia ao degrado da forma e da cor, qualidadesdecisivamente contrapostas s criaes modernas. Trata-sedo que ele chamou de valor de antiguidade, uma novidadeprpria da sensibilidade moderna, que vir se agregar ao valorhistrico j atribudo aos monumentos pela cultura do sculoXIX. A esses dois valores, ambos valores como memria,ser contraposto, necessariamente, o valor de novidade,prprio das criaes contemporneas. Do radical contrasteentre o valor de memria e o valor de novidade, ou seja, entreo passado e a atualidade, entre o antigo e o moderno, dependera inveno do novo. A salvaguarda dos monumentos dopassado tornar-se- imprescindvel emergncia e afirmaoda criao moderna. Da o culto dos monumentos ser umfenmeno absolutamente moderno, nascido da rupturalingstica entre a antiga concepo clssica e a novalinguagem, que tem no contraste, como categoria formal, oseu elemento definidor. (RIEGL, 1990).

    Mas, se as duas linguagens se revelam antitticas, se aopo pela novidade, com a conseqente, impositiva eincessante busca da diferena, termina por contaminar edestruir de forma virulenta o to necessrio antigo, comoresolver um dos maiores desafios da interveno restaurativa,o preenchimento de lacunas, isto a recuperao da leiturafigurativa do texto monumental, sem falsear a histria ou aarte?

    Um dos exemplos mais antigos e mais notveis desseaparente paradoxo ter como protagonista a cidade deVeneza, mais exatamente a famosa Praa de So Marcos:numa noite de 1908, a bela torre do campanrio, situada nachameira entre a Piazza e a Piazzetta, construda pelo arquitetoseiscentista Bon, ruiu de maneira inapelvel, transformando-se em um monte de escombros. O que fazer? Diante doreconhecimento da "impossibilidade" de construo de umatorre moderna, duas foram as possibilidades aventadas e postasem plebiscito: a renncia a qualquer construo substitutiva,ou a reconstruo "como era, onde era". Vencendo a segundaalternativa, foi ento construda a imensa maquete emtamanho natural que hoje vemos e que, aos desavisados,apresenta-se como a autntica torre de 1511, que constituium dos maiores falsos artsticos e histricos do sculo XX.Falso histrico, porque leva ao engano, fazendo parecer antigoo que no ; falso artstico, porque, como expresso, nocorresponde linguagem do seu tempo.

  • Foto: M. D.AFig 1. Praa So MarcosNeneza.;configurao atual

    Pintura setencetista: CanalettoFig 2. O campanrio "anuncia" Veneza para quem chega pela Laguna

    Pintura setencetista: CanalettoFig.3 O campanrio, pela posio que ocupa, qualifica tanto a piazzacomo a piazzetta e as unifica naquela que conhecemos como Praa SoMarcos

    Mas ser que ~somente as duas alternativas seriampossveis? Naquele momento e diante do exposto, somenteuma outra possibilidade poderia ser ento considerada: aconstruo simplificada da obra do Bom, o que, sem dvidas,evitaria os inconvenientes da proposta "como era, onde era",sem deixar lacunar no s a praa como a inteira cidade,visto ser a torre um elemento fundamental na percepo deambas, tornando, portanto, imperiosa a restaurao do tecidourbano. (Fig. 1,2,3)

    Com o afirmar-se do Movimento Moderno, aincompatibilidade lingstica entre o antigo e o novo tomarpropores abissais, e a questo da insero de novosedifcios em centros histricos artsticos veio a se tornar,at o final dos anos SOdo sculo XX - coincidindo com achamada crise do citado movimento -, um verdadeirocalcanhar de Aquiles at nos meios mais competentes.

    Entretanto, entre ns, a questo ainda permanece viva,como pode fazer ver um simples e despretensioso passeio peloCentro Histrico de Salvador. Edifcios desaparecidos - valedizer lacunas urbanas e, como tal, comprometedoras dalegibilidade do inteiro tecido urbano, onde a intervenorestaurativa se faz imperiosa, com a construo de um novoedifcio - so repropostos em forma simplificada, a partir daleitura de antigas fotografias, com o cuidado de constru-Iossegundo tcnicas e materiais contemporneos. Se adiferenciao de materiais e tcnicas construtivas capaz deassegurar, por contraposio, a autenticidade do antigo, asimplificao geomtrica dos elementos decorativos dapreexistncia se mostrar em contradio com as possibilidadesexpressivas contemporneas, mergulhando a inteira obra numaespcie de Iimbo temporal e artstico (Fig. 4).

    Outras vezes se abdica da prpria restaurao,aceitando simplesmente a lacuna e com ela a fragmentaoda obra, como acontece na Praa do Pelourinho, onde asedificaes desaparecidas servem de acesso a uma praacontgua quela, o que, alm do mais, a descaracteriza. (Fig.S)

    Ao contrrio da "no restaurao" que caracteriza oexemplo anterior aqui (Fig. 6), na abertura do acesso para anova Praa Tereza Batista, resultante da incorporaoindiscriminada dos antigos quintais de toda a quadra, amutilao um resultado planejado, que leva em conta,prioritariamente, os aspectos funcionais. indiscutvel que,sendo a arquitetura uma arte utilitria, a manuteno da suafuncionalidade no s desejvel como imprescindvel e,como tal, faz parte integrante da interveno restaurativa,porm de maneira concomitante, nunca primria, que dizrespeito obra de arte da qual recebe qualificao(BRANDI, 1977:4)

    O problema da lacuna em uma obra de arte mutiladatem sido tratado, quase sempre entre ns, de forma emprica,quando a sua soluo requer, em primeiro lugar, um aparato

  • Foto: Odete DouradoFigA Edifcio na Rua Saldanha da Gama, proposto segundo o critriodo "antigo simplificado"

    terico.Entretanto, entendendo a lacuna como "a interrupoda leitura figurativa do texto", podemos afirmar nocorresponderela somente a uma falta, mas a um complementoesprio, que no leva em conta a apreenso da obra na suaunidade de inteiro. o caso da fachada em vidro fum,recentemente proposta para um edifcio na Praa da S, emSalvador (Fig. 7), to danosa quanto a falha em si.

    Espero ter feito ver, ainda que brevemente, com essespoucos exemplos, a insuficincia de uma aproximaoemprica, para no dizer aleatria, no enfrentamento das

    Foto: Odete DouradoFig.S Lacuna que d acesso recm criada Praa do Raggae aceita adesfigurao do Largo do Pelourinho

    questes relativas ao restauro. Conservar, ou, melhor ainda,restaurar, no significa e nem pode significar "congelar" omonumento, ou faz-Io voltar, atravs de soluesartificiosas, "ao seu antigo estado". A intervenorestaurativa incorpora-se ao monumento, passando a fazerparte da sua histria e, portanto, da sua transmisso notempo. Como tal, dever trazer, inexoravelmente, as marcasda poca em que foi executada, sem desrespeitar as duasinstancias de que gozam as obras de arte: as que dizemrespeito esttica e histria.

  • Foto: Odete DouradoFig 6 A interveno violenta, "rasga" o muro de sustentao do jardim donico Solar do sculo XIX do Centro Histrico, para dar passagem Praa Tereza Batista. Vide os elementos de amarrao dos antigos gradisdo jardim, completamente desarticulados do conjunto e sem funo.

    Foto: Odete DouradoFig. 7 O edifcio, com sua fachada escura e espelhada, inflige umadescontinuidade a todo o conjunto, aparecendo como figura, em detri-mento do conjunto, que se mostra em segundo plano.

    Ai, como morrem as casas!Como se deixam morrer!E descascadas e secas,ei-las sumindo-se no ar.DRUMMOND, Morte das casas de Ouro Preto.

    Numa noite de 1999 - no sei porque esses sinistroscaprichosamente costumam acontecer quase sempre noite-, um incndio destruiu todo o interior da centenria Igrejade Nossa Senhora do Carmo de Mariana (MG). Poucotempo depois, em 2002, foi a vez da recm restaurada IgrejaMatriz de Nossa Senhora do Rosrio de Pirinpolis (Gois),obra notvel representativa do barroco goiano do sculoXVIII.

    Foto: Eduardo TrpiaFig.8 Noite de 14 de abril de 2003: incria.

    Foto: Marcelo Sant' AnnaFig. 9 Manh do dia 15 de abril de 2003: escombros

  • Numa segunda feira, dia 14 de abril de 2003, a imensamole do casaro do sculo XVIII, situada na PraaTiradentes, em Ouro Preto, Minas Gerais, foi consumidapelas labaredas. Ao contrrio dos acidentes (?) de Marianae Pirinpolis, em que as caixas murrias das antigasedificaes foram preservadas, restando praticamenteintactas, no caso de Ouro Preto nada restou de um doscasares. Ainda sob o impacto do momento, muitas foramas promessas de reconstruo, com a retomada da antigavolumetriaem forma simplificada, na tentativa de minimizaros danos sofridos pela praa com a sua ausncia. fcilperceber que no s a Praa Tiradentes est agora lacunar,mastoda a cidade. Construda em terreno acidentado, bastao observador alcanar uma cota um pouco mais elevada,para que a mutilao se evidencie diante dos seus olhos.

    Foto: Rodrigo BaetaFig. 10 Praa Tiradentes antes do incndio: integridade.

    A questo polmica e, como tal, merece uma posturaserena, reflexiva. Apesar de seus aspectos claramentediscutveis, um deles est fora de qualquer questionamento:o velho casaro est irremediavelmente perdido, nadapoder traz-Io de volta. Reconstru-Io na sua aparncia decasaro do sculo XVIII, mesmo com a utilizao demateriais contemporneos e simplificao formal - natentativavelada de evitar um falso histrico - no camuflariaum atentado contra a arte: a sua expresso formaldificilmentefugiria do epteto de pastiche, desqualificando aarquitetura contempornea e fazendo empalidecer a antiga.

    Mas, se o casaro, como edificao, est perdido, a suaausncia vem a constituir uma grave ruptura formal, no sna praa como na prpria cidade como um todo. Agoralacunar, vale salientar, a praa no perdeu com a ausncia

    do edifcio a sua condio artstica, que continua a subsistir,ainda que potencialmente. Caber justamente aorestaurativa reconduzi-Ia plenitude da sua artisticidade.

    Reconhecida a sua condio de obra de arte, a cidade,e com ela a prpria praa, passam a gozar de um certo tipode unidade formal, que prpria da condio artstica: aunidade do inteiro. Vale dizer que, ao contrrio da maioriados produtos da atividade humana, a obra de arte no composta de partes e, como tal, no pode ser decomposta.Ser exatamente o reconhecimento dessa especial unidadeformal que ir permitir a interveno restaurativa, afastandoessa ao de qualquer premissa analgica: "o restaurodestinado a desenvolver a unidade potencial imanente nosfragmentos deve desenvolver sugestes implcitas nosprprios fragmentos. Tal interveno integrativa cainaturalmente sobre a instncia esttica e histrica que noseu recproco contemperamento devero determinar omomento em que se dever parar a interveno, para quesejam evitados seja uma ofensa esttica, seja um falsohistrico." (BRANDI, 1977. p.17)

    Assim, o monumento dever ser construdo com basenos dados espaciais oferecidos pela prpria obra de arte -a cidade -, no sentido de ressarcir a sua condio de inteireza.Dessa maneira, deve-se construir um edifcio no lugar doantigo casaro, mas no o casaro perdido. S assim o novoedifcio, proposto naturalmente em linguagemcontempornea, dever ento restaurar toda a cidadecomprometida e a ela farjus.

    Como enfatizamos aqui, a questo das lacunas emcidades artstico-histricas est longe de ser pacfica.Transposto o problema para uma cidade que , ao mesmotempo, Patrimnio Nacional e da Humanidade, seria deesperar, no mnimo, a abertura de um concurso internacionalque viesse a balizar a interveno futura. Com a palavra oIPHAN, o IAB, o IEPHA e a sociedade em geral.

    I Segundo Cesare Brandi. diz-se que um objeto falso "quando no h congrunciaentre o sujeito e o seu conceito." (BRANDI. 1977:65)

    BRANDI. Cesare 1977 Teora dei restauro. Torino: Einaudi.

    DRUMMOND. Carlos 1976 Morte das Casas de Ouro Prelo in: ObrasCompletas. Rio de Janeiro: Aguilar.

    OSTROWER. Fayga 1998 A sensibilidade do intelecto. Rio de Janeiro:Campus.

    RIEGL. Alois 199011 culto moderno dei monumenti. Bologna: Nuova Alfa.