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A RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR: ORIGENS, SENTIDOS E RESULTADOS o Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador completa agora dez anos e, ao longo desse período, muitos estudos e análises sobre suas intervenções foram elaborados e Nesse texto procura-se mostrar que o processo de degradação e de preservação do centro histórico de Salvador e, conseqüentemente, os resultados do seu mais recente programa de intervenção são resultado das transformações e ações que produzem a estrutura da cidade e reproduzem suas desigualdades • Arquiteta, doutoranda em urbanismo no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. [email protected] empreendidos tanto por estudiosos quanto pelos órgãos governamentais envolvidos. Sem pretender superar e esgotar os problemas e aspectos tratados nesses estudos ou apresentar uma visão definitiva, este texto se destina a realizar um balanço crítico dos resultados alcançados pelo referido programa até agora, em termos de preservação do patrimônio urbano, de capacidade de reversão de processos de degradação e de especulação, de sustentabilidade e durabilidade, de retorno econômico, de significação sociale de perspectivas de continuidade. Pretende, ainda, avaliar a intervenção com relação aos fatores que a influenciam e conformam, como a estrutura e a dinâmica real da cidade e as políticas estaduais de cultura e turismo. O centro histórico de Salvador tem sido, desde finais dos anos 60, alvo e objeto de diversos planos, projetos e propostas, com vistas à sua preservação e valorização. Raros foram aqueles, contudo, que abordaram o problema de modo global e em todas as suas dimensões, como se a preservação dessa paisagem urbana pudesse ser alcançada de modo independente da dinâmica de relações e funções que produzem o espaço maior no qual ela se insere. 2 Neste texto, procura-se mostrar que o processo de degradação e de preservação do centro histórico de Salvador e, conseqüentemente, os resultados do seu mais recente programa provêm das transformações que se processam no âmbito das ações

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  • A RECUPERAO DO CENTROHISTRICO DE SALVADOR:

    ORIGENS, SENTIDOS E RESULTADOS

    o Programa de Recuperao doCentro Histrico de Salvador completaagora dez anos e, ao longo desseperodo,muitos estudos e anlisessobresuas intervenes foram elaborados e

    Nesse texto procura-se mostrar que oprocesso de degradao e de preservaodo centro histrico de Salvador e,conseqentemente, os resultados do seumais recente programa de intervenoso resultado das transformaes e aesque produzem a estrutura da cidade ereproduzem suas desigualdades

    Arquiteta, doutoranda em urbanismo no Programade Ps-Graduao da Faculdade de Arquitetura da

    Universidade Federal da [email protected]

    empreendidos tanto por estudiososquanto pelos rgos governamentaisenvolvidos. Sem pretender superar eesgotar os problemas e aspectostratados nesses estudos ou apresentaruma viso definitiva, este texto sedestina a realizar um balano crtico dosresultados alcanados pelo referidoprograma at agora, em termos depreservao do patrimnio urbano, decapacidade de reverso de processosde degradao e de especulao, desustentabilidade e durabilidade, deretorno econmico, de significaosociale deperspectivasde continuidade.Pretende, ainda, avaliar a intervenocom relao aos fatores que ainfluenciam e conformam, como aestrutura e a dinmica real da cidade eas polticas estaduais de cultura eturismo.

    O centro histrico de Salvador temsido, desde finais dos anos 60, alvo eobjeto de diversos planos, projetos epropostas, com vistas sua preservaoe valorizao. Raros foram aqueles,contudo, que abordaram o problema demodo global e em todas as suasdimenses, como se a preservaodessa paisagem urbana pudesse seralcanada de modo independente dadinmica de relaes e funes queproduzem o espao maior no qual elase insere.2 Neste texto, procura-semostrar que o processo de degradaoe de preservao do centro histrico deSalvador e, conseqentemente, osresultados do seu mais recenteprograma provm das transformaesque se processam no mbito das aes

  • queproduzem a estrutura da cidade e reproduzem su'~sdesigualdades.

    IMPLANTAO E EXECUO ~O PROGRAMA DERECUPERAAODO CENTRO HI5TORICO

    A interveno realizada pelo governo do estado da Bahianocentro histrico de Salvador a maior e a que maisenvolveu recursos pblicos em toda a histria dasintervenes em reas preservadas no Brasil, assim comoaque inaugura, nos anos 90, uma espcie de redescobertado patrimnio urbano como tema de valorizao,requalificao, renovao e reestruturao de reas centraisemvrias cidades do pas.

    Muito se tem falado e escrito sobre esse programa derecuperao como tendo sido o primeiro a adotar oquarteiro como unidade de vizinhana e de interveno etambm o primeiro a propor a remoo da populaoresidente, a fim de se dinamizar a rea com outros usos,mas no bem assim. O primeiro projeto a propor apenetrabilidade e o uso comum do interior dos quarteires ea prever a remoo da populao pobre com vistas dinamizao econmica do Pelourinho data de 19693, ouseja, do perodo em que se estruturavam, no mbito dosgovernos federal e estadual, instituies e polticas com oobjetivo de aliar turismo, desenvolvimento econmico epatrimnio. Momento tambm em que, para absorver novasatividades decorrentes dos investimentos feitos no setorindustrial de sua regio metropolitana, Salvador se expandiue se descentralizou, criando novas reas residenciais,administrativas e modernas zonas de comrcio na Barra eno19uatemi, reas que logo vieram a competir com o centroantigo, esvaziando-o de algumas funes e retirandodefinitivamente o seu carter de centro nico da cidade (verMapa 1).4

    Passados mais de trinta anos de um trabalho dirigidoapenas preservao de monumentos arquitetnicosdestacados, foi, portanto, no final dos anos 60, que seestruturaram, no mbito do poder pblico, as duas vertentesde projeto urbano - s vezes complementares, s vezescontraditrias - que caracterizaram sua atuao nessa reada cidade: a que, numa perspectiva de reforo da reacentral, vislumbrava o desenvolvimento do turismo e deoutras atividades tercirias no Pelourinho como sada parao seu quadro de esvaziamento e desvalorizao; e a queinvestiano desenvolvimento social e econmico da populaoresidente como base para a formao de um bairro centralresidencial, no qual o turismo faria tambm parte dohorizonte. Embora nenhum dos projetos vinculados a umaou outra vertente tenha obtido os resultados esperados, emface da dinmica real da cidade, da poltica de planejamento

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    DE SALVADOR

    e dos investimentos que caminhavam em outra direo,sempre houve mais recursos para aqueles vinculados especializao terciria e turstica do ncleo histrico.Nesses projetos, a populao moradora e suas formas desobrevivncia sempre foram vistas como entraves.

    Apesar dos investimentos pblicos feitos ao longo demais de vinte anos e que, bem ou mal, abriram caminhopara sua apropriao como um centro turstico e cultural,no incio dos anos 90, a situao do centro histrico continuavamais ou menos a mesma do final dos anos 60. Um fortemovimento cultural negro animava e dava vida ao lugar,mas a deteriorao fsica e social de reas como Maciel,Passo, Saldanha e trechos da Barroquinha era profunda. Oinvestimento privado na conservao dos imveis erapraticamente inexistente nessas reas e o processoespeculativo, que apostava no seu arruinamento, em nadahavia se alterado. Estava aberto o terreno para a realizaode uma interveno agressiva e de grande magnitude.

  • A situao poltica no municpio e no estado favoreceuenormemente a tomada de deciso pelo investimento numaao desse tipo. O grupo que reassumiu o governo estadualem 1991, o mesmo que esteve no poder durantepraticamente todo o governo militar, havia sido responsvelpelo planejamento e pela execuo da poltica dedesenvolvimento econmico e turstico do estado a partirdos anos 60. Seus membros vinham de uma derrotafragorosa para as oposies nas eleies estaduais de 1986e retomavam dispostos a pavimentar sua permanncia nocontrole poltico do estado pelo tempo mais longo possvel,e a retomar o poder no municpio de Salvador, ento aindasob controle da oposio.

    As razes da execuo do Programa de Recuperaodo Centro Histrico de Salvador esto fortemente ligadas aesse contexto poltico e fazem parte, inicialmente, de umaestratgia de marketing da administrao estadual paradiferenciar-se da anterior, mediante a construo de umaimagem de governo ancorada na valorizao da identidadecultural e das tradies da Bahia, associada s idias dedesenvolvimento e eficincia administrativa. O programainseriu-se tambm (especialmente a partir de 1995) numanova estratgia governamental de desenvolvimento doturismo e de retomada do crescimento num setor que vinhaem declnio desde meados dos anos 80. Principal ploturstico do estado, Salvador necessitava de renovao ecriao de novos "produtos"5 e, nessa estratgia, tornou-seoportuno investir na renovao do Pelourinho. Seguindotendncia mundial, aqui tambm se apontava a cultura comoo diferencial capaz de agregar mais valor ao "produto Bahia",elevando sua competitividade no contexto nacional einternacional.

    A estratgia poltica que comandou a interveno noabriu espao para grandes estudos ou planos com vistas soluo dos problemas estruturais do centro histrico. Almdo aproveitamento de trabalhos e informaes produzidospelo IPAC 6 ao longo de mais de vinte anos, trs documentos,de certa forma contraditrios, foram elaborados para guiara interveno: um levantamento sumrio do uso do solo edo perfil da populao residente nos quatro quarteiresselecionados para interveno no bairro do Maciel(BAHIAIIPAC, 1992); um termo de referncia para a elaborao deum plano de ao integrada que no chegou a serdesenvolvido (IPAC, 1991) e um documento? elaborado pelaCONDERs que, hoje se verifica, foi o que estabeleceu, defato, as linhas gerais do destino da interveno.

    Nesse documento, a recuperao do centro histricofoi definida como um poderoso instrumento econmico,devendo, portanto, ser real izada a partir de uma perspecti vaempresarial. Props-se, ento, mas sem divulgao ampladessa idia, que a rea recuperada tomasse as

    caractersticas de um shopping ce~ter ao ar livre.Acreditava-se que a aliana entre consumo, lazer e cultura,num ambiente histrico nico, igualaria os outros shoppingsda cidade, gerando uma dinmica que contaminaria"saudavelmente as quadras vizinhas ( ...), viabilizando oCentro Histrico" (BAHIAlGOVERNO DO ESTADO,1992: 10)9 Na montagem desse projeto, no houveparticipao ou atrao de parceiros privados. Asnegociaes, nesse campo, se restringiram s realizadas comos proprietrios de imveis que foram localizados. Comoforma de ressarcir o estado pelo investimento em suaspropriedades, foi proposto um sistema de doaes ou cessesde unidades por 5 a 15 anos, o que permitiu ao governomanter o controle da execuo da interveno e, at certoponto, o controle da utilizao da rea nos moldes pensados.

    O Programa de Recuperao, executado a partir de1992, no envolveu toda a rea tombada, intervindo, de incio,apenas nos quarteires mais degradados do Maciel, do Passoe do Carmo, nas imediaes do Largo do Pelourinho.Estendeu-se depois para os quarteires em torno do Terreirode Jesus, So Francisco e Praa da S, fechando, por fim,sua 68 etapa na rea entre o antigo Maciel e a Baixa dosSapateiros (ver Mapa 02). Nessas seis etapas, executadasentre 1992 e 1999, cerca de 600 imveis foram reformados,infraestrutura em rede foi complementada, trsestacionamentos foram construdos, nove monumentostombados foram restaurados e seis praas agenciadas, numinvestimento de cerca de R$ 92 milhes'o - entre obras,indenizaes e fiscalizao - oriundos quase exclusivamentedo Tesouro Estadual (ver quadro 01 e 02). Na 78 etapa dainterveno, ainda em fase preliminar de execuo, seroreformados mais 130 imveis na rea do Saldanha, dessavez agregando-se, aos do estado, recursos do BID'I e dogoverno federal, atravs do Programa Monumenta e daCaixa Econmica Federal, totalizando aproximadamentemais R$ 33,5 milhes (ver quadro 03).

    A interveno removeu e indenizou cerca de 1900famlias, que se transferiram para outros bairros distantesou se acomodaram nas imediaes, invadindo imveisabandonados (RODRIGUES, 1995: 81-91). Os moradoresno tm oferecido resistncia a sair de suas casas, o que seexplica de vrias maneiras. Conforme atestam todas aspesquisa realizadas at agora, 12 os habitantes das reas maisdegradadas do centro histrico formam uma populao muitopobre, com pouca ou nenhuma organizao comunitria,para a qual a quantia de R$ 1.200,00 (valor mdio dasindenizaes) constitui um grande atrativo. Ao lado disso,as pessoas viviam a pela possibilidade de pagar aluguelmuito barato ou nenhum aluguel 13, em habitaes cedidasou invadidas em razo do seu pssimo estado deconservao. Na medida em que no Ihes foi oferecida

  • LEGENDASl&\ReAs

    BAfA DE TODOSos SANTOS

    (1). SANTO ANTONIO(~).CARMO

    (~)-PASSO(i)TABOO'-(~)-w.c1El(~). SALDANHA

    (i)-A.JlIDAl)-8AAROQUNHA'-'

    (!) Sk:J BeNTO(~}WlfA TERfSA

    ~>. LARGO DO PELOURINHOlERRERO DE JESUS

    -PRAADAS

    PRAA MUNlC1PAl

    RUA CHILE

    PRAA CAS1RO ALVES

    RUA CHILE

    BAIXA DO SN'ATERO

    PROGRAMA DE RECtJ'ERAO DOCENTRO HlSTlRlCO DE SALV.ADOR

    - PRIMEIRA ETAPA

    SEGUNDA ETAPA_ TERCEIRA ETAPA

    _ - QUAATA ETAPA

    _ QUINTA ETAPA

    _ SEXTA ETAPA_ SIIMA. ETAPA

    _ - PRINCIPAIS MQfIIUMENlOS TOMI!ADOS

    DEI.MTAO DA AAeA TOMBADA, (1984)-- PROJETO HA8ITAClONAI.

    possibilidade de aquisio de moradia, foi-lhes exposta anecessidade de formalizar contratos de aluguel nos imveisrecuperados e, diante da reduo do comrcio informal emfuno do novo uso da rea, as pessoas optaram em massapela indenizao. Essa opo, na realidade, foi muitovantajosa para o governo, pois assumir a responsabilidadepelo reassentamento da populao nessa ou em outras reasda cidade, de acordo com os princpios recomendados paraesse tipo de ao, seria bem mais caro. Estudos realizadospara a 7a etapa do programal4 mostram que, em mdia, ogoverno teria de gastar R$ 6.200,00 para reassentar cadafamlia, ou quase seis vezes o que foi gasto em indenizaes(ver quadro 02).

    Alm desses investimentos, o governo do estado japlicou cerca de R$ 5 milhes, entre 1996 e 2001, naconservao e manuteno dos imveis recuperados e R$11,6 milhes, no perodo de 1996 a 2000, em shows eanimao da rea atravs do Projeto "Pelourinho Dia &Noite" (ver quadro 04).

    o Programa de Recuperao do Centro Histrico deSalvador acaba de completar dez anos e j possvelidentificar, em seu desenvolvimento, pelo menos trs fases.A primeira, que vai de 1992 a 1995, corresponde execuodas quatro etapas iniciais e, grosso modo, implantao doshopping a cu aberto entre o Terreiro de Jesus e o Largodo Pelourinho. Esse foi se configurando sem as regras estritastpicas desses estabelecimentos, tornando-se, por fim, umempreendimento sui generis, onde o critrio de seleo dosempresrios mais poltico do que comercial, onde no hcondomnio ou taxa para propaganda e promoes, onde amanuteno do exterior dos imveis e das reas comuns realizada pelo estado que, ainda, assume, sem nus extraspara os ocupantes alm dos impostos normais, os serviosde limpeza, coleta de lixo, manuteno das vias pblicas,segurana e iluminao.

  • Foto: M6rcia Sant'AnnaFig. 1 Largo do Pelourinho, corao do shopping a cu aberto implantadoentre 1992 e 1995

    Foto: M6rcia Sant'AnnaFig. 2 Rua In6cio Acioly, shopping do Pelourinho

    Diferentemente de aes empresarialistas levadas aefeito pelo poder pblico no Brasil '5, no Pelourinho no foramutilizados mecanismos claros de escolha dos candidatos ase instalar (atravs de licitaes, por exemplo), de modo apotencializar o investimento do Estado e selecionar empresascom bons desempenhos comerciais. As presses decorreligionrios polticos, a falta de critrios e a atitudepaternalista do governo favoreceram o oportunismo dosempresrios que se instalaram na rea, muitos dos quaissem a experincia e o nvel de capitalizao necessriospara enfrentar as dificuldades e os ajustes de uma rea emprocesso de renovao. 16 Alm disso, em decorrncia doreceio de que os imveis recm reformados viessem a serinvadidos pela populao pobre da vizinhana, o governo doestado, findas as obras da primeira etapa, viu-se nacontingncia de ter de ir buscar e incentivar, inclusive

    financeiramente, empresrios' para ocupar as unidadesdisponveis, o que o deixou virtualmente sem nenhum poderde negociao. Imveis recuperados, com boas condiesde ocupao e infra-estrutura, aluguel barato'? e acesso alinha de crdito no Desenbanco, foram condies especiaisoferecidas para trazer empresrios para o setor. Mas omodelo de interveno adotado, centrado exclusivamenteno estado, com investimentos privados reduzidos econcentrao de propriedade, no favoreceu uma atitudemais comprometida dos ocupantes. Ao contrrio, funcionoucomo um incentivo a uma atitude oportunista na ocupaoda rea, baseada na explorao do momento favorvel e nobaixo custo de instalao.

    Ao fim da 4a etapa e passado o primeiro impacto, osproblemas do modelo adotado j se colocavam claramente.Os empreendimentos voltados para uma clientela maisabastada no logravam manter esse pblico e logo fecharamsuas portas. O afluxo de turistas tambm no foi o esperado,fazendo com que as lojas, muito voltadas para essa atividade,ficassem prejudicadas.

    Em 1994, a constatao desses problemas levou a quesetores tcnicos do governo do estado pressionassem nosentido da busca de alternativas para a crise instalada, nosentido do estabelecimento de uma maior vinculao do"empreendimento Pelourinho" com a dinmica turstica daregio(SEPLANTEC/CPE, 1994 ).Uma srie de pesquisase estudos foi ento encomendada com vistas a monitorar ouso da rea, avaliar a rentabilidade dos empreendimentos ebuscar modelos alternativos de gesto. 18 Verificou-se, ento,que no eram os turistas os principais usurios do novoPelourinho (ver quadros 05 e 06). O lugar, mesmo emperodos de alta estao, como a semana anterior aoCarnaval, era principalmente freqentado pela populaoda cidade para fins de lazer e trabalho.

    Com vistas a manter uma freqncia alta durante todoo ano e fixar os empreendimentos instalados, o governo daBahia passou, j em 1994, a investir na animao doPelourinho, promovendo eventos e shows. Isso veio aoencontro dos anseios dos principais usurios do setor epassou ento a se firmar, cada vez mais, como plo de lazerespecializado da cidade e da regio metropolitana. Emcontrapartida, aprofundou-se a relao de dependncia dosempresrios em relao ao governo, os quais passaram adefender a gesto estatal do empreendimento Pelourinhol9,tornando-se refratrios a qualquer tentativa de gestocompartilhada. Criou-se assim uma relao estado/iniciativaprivada de carter paternalista/oportunista, que foi ainda maisreforada com a deciso do governo do estado de assumiros servios de conservao e manuteno do exterior dosimveis e de no executar a clusula de manutenoexistente em todos os contratos de concesso. Na medida

  • .em que no logrou formar condomnios, o IPAC -responsvel pela administrao das unidades em poder doestado - tem, inclusive, dificuldades em executar essaclusula no caso de edificaes ocupadas por vriosempreendimentos.

    Foto: Mrcia Sant'AnnaFig. 3 Palco poro shows, instalado no "miolo" de quarteiro localizadoentre as Ruas Alfredo brito e Joo de Deus

    Nessa segunda fase, que vai de 1996 a 1999, o programase caracteriza, portanto, pela realizao de estudos eavaliaes da interveno e pela busca de alternativas degesto e funcionamento. Caracteriza-se, ainda, por todo umesforo do governo do estado de manter animado efuncionando o empreendimento Pelourinho, inicialmenteadequando-o aos usurios identificados e depois, a partir de1997,buscando adapt-Io, pelo menos em parte, a um pblicoconsumidor de eventos culturais e de renda mais elevada.O ritmo da interveno torna-se mais lento, desenvolvendo-se, nessa fase, apenas a 58 etapa, correspondente rea daPraa da S e a parte da 68 etapa, correspondente aoQuarteiro Cultural, realizada com recursos doPRODETUR. Depois que o grupo poltico, que se mantmno governo do estado desde 1991, ganhou as eleiesmunicipais de 1996, a Prefeitura de Salvador passou a serparceira do programa, ainda que com um papel secundrio,ligado execuo de servios de manuteno, iluminao elimpeza do espao pblico. Ela vem, contudo, desde ento,ganhando espao no programa, atravs da elaborao e daexecuo de projetos em logradouros pblicos, como o deagenciamento da Praa da S.

    As mudanas mais significativas no modelo deinterveno s tm incio em 1999, com a implantao doProjeto Habitacional do Centro Histrico e com odesenvolvimento da 78 etapa. A constatao de que oprograma, ao contrrio do que pensavam os idelogos do

    shopping a cu aberto, no havia sido capaz de deflagrarum processo de reabilitao nas reas adjacentes, abriuespao para o investimento, ainda que cauteloso e discreto,em outra linha de ao. Verificou-se, enfim, que o enclavecomercial e turstico produzido no Pelourinho no havia sidocapaz de vencer a dinmica real da rea e muito menosseus problemas estruturais: eles haviam simplesmente sidocolocados em compasso de espera. Os proprietrios deimveis esperavam passivamente um novo investimento dogoverno, e a populao pobre do entorno permaneciatambm esperando suas indenizaes.

    A partir de estudos realizados entre 1997 e 9820 sobre omercado imobilirio em Salvador - linhas de crditodisponveis, perfil da demanda e situao fundiria eurbanstica do centro histrico - o desenvol vimento do usohabitacional em certas reas21 comeou a ganhar foracomo um modo mais sustentvel de intervir, de inserir osetor numa dinmica de mercado e trazer investimentosprivados. Com a assinatura de um convnio entre o governodo estado e a Caixa Econmica Federal 22, iniciou-se, em1999, um projeto piloto com o objetivo de desenvolvermetodologia para a reabilitao de imveis com umaparticipao menor de investimentos pblicos diretos e coma participao de aportes privados, atravs do uso de linhasde financiamento da CEF. 23

    Diferentemente de experincias que esto sendodesenvolvidas pela Caixa em outras cidades, a montagemda operao em Salvador tem alguns contornos especficos.Foram selecionados somente imveis arruinados, quepossuem de p apenas fachada principal e paredes externas.Esses foram desapropriados e, em seguida, atravs de leiespecialmente aprovada para esse fim24, alienados com nuspara a Caixa, que executar as operaes de reabilitao,com base em projeto executivo financiado pelo governo doestado. Apesar dessas condies especiais, os custos daobra tm, segundo a Caixa25, colocado o valor da operao30% acima do valor de mercado e dos limites da linha definanciamento. Para cobrir essa falta, esto sendo buscadossubsdios do governo federal atravs do PRONAC -Programa Nacional de Apoio Cultura, para a recuperaode fachadas e coberturas, mediante a justificativa de queesses elementos constituem um bem pblico a ser devolvido cidade.

    O piloto do Projeto Habitacional atingir apenas seteimveis no bairro de Santo Antni026, encontrando-se emfase de concluso da montagem financeira e com previsode iniciar brevemente as primeiras obras. Embora a idiainicial tenha sido testar as condies de produo de habitaono centro histrico em condies normais de mercado, aorganizao da operao tem demonstrado que, com asituao existente de propriedade e documentao dos

  • imveis e com os custos de desapropriao, projetos e obras,tal como esto sendo praticados, difcil produzir habitaopara faixas de renda mdia e baixa, nas referidas condies.Mantido ainda o sistema normal de financiamento e de taxade arrendamento da CEF para a faixa em questo, ser defato necessrio subsidiar a operao, mesmo se trabalhandocom imveis que permitem intervenes flexveis e grandeliberdade de projeto. Contudo, considerando-se os subsdiosque esto sendo dados atividade comercial (e lucrativa)no centro histric027, sem dvida socialmente maissignificativo subsidiar a produo de habitaes para faixasbaixas de renda. Ao lado disso, diante do que tem geralmenteresultado da poltica de renncia fiscal do governo federal,utilizar esses recursos em aes desse tipo dar-Ihes maissentido social e utilizao como instrumento de polticapblica.

    Foto: Mrcia Sant'AnnaFigo 4 Runas rua Deraldo Dias, no Santo Antnio, includas no ProjetoHabitacional iniciado em 1999 o

    A experincia piloto, embora diminuta e ainda nocompletamente executada, j apresenta alguns resultadosanimadores. Cinco imveis que estavam originalmenteselecionados para participar da amostra acabaram sendorecuperados por seus proprietrios, como forma de evitar adesapropriao. Esse ganho inesperado do ProjetoHabitacional mostra que alto o seu poder de gerar efeitosmultiplicadores. Mostra tambm que pequenas aesestratgicas podem, muitas vezes, render mais, em termosda reverso de processos especulativos, do que grandesinvestimentos.

    necessrio, entretanto, que mecanismos de controlesejam adotados, de modo a se evitarem novas especulaese a migrao dos imveis reabilitados com subsdios pblicospara mos mais abastadas. necessrio, tambm, ancoraro projeto num conhecimento mais fino do patrimnio urbano

    o'

    em questo, evitando-se cair, como tem sido a regra nesseprograma de recuperao, numa concepo fachadista ecenogrfica de patrimnio, ignorante de relaes deparcelamento, intervolumtricas e de ocupao que, entreoutros elementos, compem a substncia histrica edocumental do espao urbano.

    A 7a etapa do Programa de Recuperao do CentroHistrico tem tambm um esquema de preparao eexecuo diferente das etapas anteriores. Nela, o modelode interveno se altera, no como decorrncia de umquestionamento interno do que vinha sendo feito, mas emfuno das exigncias que acompanham os financiamentosdo BID, no caso, por meio do Programa Monumenta. ORegulamento Operativ028 desse programa obriga arealizao de muitos estudos tcnicos com vistas elaborao de um perfil detalhado do projeto e demonstrao de sua capacidade de auto-sustentao,Concentrada em oito quarteires do Saldanha, que serodestinados ao uso misto e habitacional, a etapa prev tambma restaurao de alguns monumentos individualmentetombados e a construo de um estacionamento. De modoanlogo ao piloto do Projeto Habitacional, foramdesapropriados os imveis cujos proprietrios no foramlocalizados29 e, aps as obras, as unidades habitacionais-que tero, em mdia, 37 m2 - sero comercializadas a umaprestao mdia de R$ 154,00. O convnio para o repassedos recursos do Monumenta foi assinado recentemente30,mas j foram realizados pelo governo do estado e peloMinistrio da Cultura, atravs do IPHAN, investimentos emprojetos e estudos preparatrios e em obras emergenciaisde escoramento e limpeza.

    Caso venha a ser executada nos moldes em que estprojetada, a interveno da 7a etapa quebrar com oesquema concentrado de propriedade existente na rea ecom o regime de ocupao via inquilinato. O governo doestado no ser responsvel pela administrao dos imveisou por sua manuteno, ficando essas a cargo dos novos eantigos proprietrios e do fundo especialmente criado paragarantir a sustentabilidade financeira da interveno - oFUNDOCENTR031 - item obrigatrio em todas as aesdo Monumenta. Quebrar tambm com os subsdios diretosaos proprietrios, na medida em que as intervenes, emseus imveis, sero feitas mediante emprstimo cujopagamento ser revertido para o citado fundo, quedirecionar as receitas geradas para o prprio projeto. Ainterveno promover ainda um uso mais permanente dosimveis, beneficiando um pblico de renda mdia baixa quej habita bairros adjacentes ao centro, constitui uma demandareal 32 e se insere na dinmica social e econmicaj existentena rea central. A interveno se apia em estudos prviosque lhe conferem mais segurana e garantia de controle na

  • Foto: Mrcia Sant'AnnaFig.5 Imvel no Saldanha, rea correspondente 7 etapa do Programade Recuperao do Centro Histrico de Salvador que conta com recursosdo Programa Monumenta.

    Foto: Mrcia Sant'AnnaFig. 6 Projeto Portal da Misericrida, ao privada desenvolvida com oapoio de incentivos fiscais que tem como plo ao prdio sede da SantaCasa de Misericrdia na Praa da S.

    execuo, constituindo, portanto, em termos de montagemda operao, um avano em relao s outras etapas doPrograma de Recuperao do Centro Histrico.

    Contudo, alguns equvocos das etapas anteriores seprolongam nesta ltima. Apesar de os estudos elaboradospara equacionar a questo do reassentamento da populaodo Saldanha indicarem as indenizaes apenas como umltimo recurso, as 1.674 famlias cadastradas seromajoritariamente indenizadas ou relocadas para Coutos-um bairro muito distante do centro histrico.33 Ao lado disso,cerca de 80% dessas pessoas, quando perguntadas se teriaminteresse em comprar um imvel no centro histrico, casohouvesse um financiamento acessvel, responderamafirmativamente.34 Uma vez que o aluguel mdio pago narea, em imveis em condies extremamente precrias, de R$ 132,00, v-se que, pelo menos parte dessa populaopoderia arcar com o financiamento, caso fossemprovidenciados mecanismos para tal. 35 Da populaoresidente hoje, s devero permanecer na rea uns poucosproprietrios.

    O partido fsico da interveno tambm pouco diferedo anterior, no sentido de que uma importante documentaoarquitetnica e urbanstica ser mais uma vez perdida, coma eliminao de anexos (alguns dos quais constituem"avenidas" de casas construdas para os negros libertosdepois da escravido) e o rompimento de relaes deparcelamento, de cheios e vazios e de ocupao. Alm disso,consoante com essa concepo fachadista de patrimnio,os interiores dos imveis no arruinados esto sendobarbaramente retalhados para dar lugar aos pequenosapartamentos que se encaixam na montagem financeira,apesar dos muitos subsdios pblicos que esto mobilizados.

    De todo modo, nessa terceira fase, que comea em 1999e est ainda em curso, verifica-se uma guinada significativano programa de recuperao, na medida em que as reasdo centro histrico por onde ele dever se prolongar estodeixando de ser tratadas como empreendimentos ou enclavese voltando a ser tratadas como cidade. Mas precisoressaltar que essa guinada, ao contrrio do que pode parecer primeira vista, no resulta de uma tomada de conscinciado governo do estado quanto falta de sustentabilidade domodelo anteriormente adotado. Ela decorre da entrada emcena das agncias de financiamento, no caso BID e CaixaEconmica, as quais, em ltima anlise, esto determinando,indiretamente, os contornos bsicos das novas intervenes.

    Enquanto isso, o shopping center a cu aberto, nasimediaes do Pelourinho, continua intocado em seu modelode funcionamento, embora a tambm se notem algumasmudanas. O excesso de bares instalados na segunda faseest sendo aos poucos substitudo por servios, instituiese equipamentos culturais. Aos poucos, tambm est se

  • tentando trocar, em consonncia com as novas diretrizespara o turismo no estad036 e na esperana de se manter arentabilidade das empresas, um turista nacional por umturista estrangeiro mais abastado e, conseqentemente, umbaiano dos bairros populares por outro das reas mais nobresda cidade. O resultado dessas gestes, entretanto, muitoincerto, como j foi demonstrado na primeira fase dessamesma interveno.

    As razes da transformao desse Pelourinho comercialem um empreendimento em estado de coma,permanentemente plugado no oxignio da Unidade deTerapia Intensiva dos cofres pblicos so polticas deconcepo e de desenho, alm de vinculadas a fatoresexternos ligados dinmica urbana e dinmica econmicada regio.

    As razes de maior peso so, sem dvida, as de naturezapoltica. o seu uso como instrumento de promoo dogoverno estadual e vitrine de sua capacidade e eficincia oque explica, em ltima anlise, a no sustentabilidade doprograma. O excelente acolhimento da interveno junto populao reforou a idia do governo de manter ainterveno totalmente sob seu controle, evitando parcerias,como forma de maximizar os ganhos polticos e de imagemdela decorrentes. Mesmo quando o modelo de gestocomeou a ser criticado dentro do prprio estado comopaternalista e oneroso, no houve interesse real em modific-10.Em parte porque no havia confiana na capacidade doempresariado instalado de assumir as aes de manutenono ritmo desejado; em parte tambm porque se temia que aperda dos incentivos causasse uma debandada geral doscomerciantes, agravando a situao da rea. Mas, o quepesou, aparentemente, de modo decisi vo, na permannciadessa forma de gesto pblica centralizada, foi a possibilidadede controlar e manter a rea recuperada como uma espciede out door permanente da administrao estadual e uma"sala de visitas" sempre arrumada para o turista. Para quefuncione desse modo, o Pelourinho tem de ser pintadoconstantemente e se parecer o tempo todo com umafotografia. Tem de ser um hiper Pelourinho, sempre novoem folha e isento das marcas de suas prprias contradies,a fim de cumprir essa funo miditica e mltipla de signoda baianidade, cone do turismo e do lazer e de smbolo doconsenso e do bom governo. Se levarmos em conta que aconservao e a pintura peridica das fachadas custa, emmdia, R$ 1,1 milho por ano e que qualquer campanhapublicitria de curta durao custa muitssimo mais, entende-se facilmente que, no para o Estado, mas para o grupo

    poltico que d ocupa, vantajoso manter o modelo comoest, evitando-se, inclusive, que o mercado e a realidadeoperem nele seus ajustes.

    A concepo da rea como um shopping, mas sem asregras comerciais desse tipo de empreendimento e sem aadeso de todos os envolvidos, no permite tambm que ainterveno caminhe com os prprios ps. O desenhoadotado tampouco funcionou, como se esperava, como uminstrumento a promover essa integrao. O programaretomou e finalmente executou um projeto deaproveitamento do interior dos quarteires como rea deuso comum que j estava proposto para o Pelourinho desdeo incio dos anos 70,31 A idia era que os quarteiresfuncionassem como unidades de vizinhana, dotadas dereas comuns de lazer, descanso e convivncia, formandomini-comunidades solidrias e auto-suficientes semelhantess superquadras de Braslia. Para tanto, era necessrioeliminar as divises de parcelamento ainda existentes, assimcomo os anexos construdos ao longo do tempo, ganhando-se reas abertas nos centros dos quarteires. Em 1992, essaidia foi posta em prtica por meio da doao ao estado dosterrenos nos fundos dos imveis como uma das modalidadesde contrapartida dos proprietrios interveno. Para amanuteno dessas reas, foi proposta a formao decondomnios, projetando-se, inclusive, um reservatriod' gua comum a cada quadra. Os comerciantes, entretanto,recusaram-se a formar tais condomnios, uma vez que nemtodos mantinham contratos de concesso com o IPAC,fazendo com que, na prtica, essas praas internasresultassem em mais rea a ser mantida exclusivamentepelo poder pblico. Assim, o desenho urbano de inspiraomodernista/higienista, alm da destruio que operou nopatrimnio local, acabou funcionando como mais um entrave passagem da gesto da rea a seus novos ocupantes.

    A sustentabilidade da presente interveno comercialno centro histrico est ainda vinculada prpria dinmicada cidade aps esta ter completado o processo dedescentralizao iniciado nos anos 60. Como centro decomrcio, animao e lazer, o Pelourinho tem outrosconcorrentes de peso em Salvador - como o Iguatemi, obairro do Rio Vermelho, a Barra e, mais recentemente, oAeroclube - que, por estarem mais prximos dos bairros declasse alta e mdia alta, tendem a absorver esse tipo defreqentador que consome mais. Conforme as pesquisasmostram, o Pelourinho freqentado, para fins de lazer,basicamente por moradores da prpria rea central e deoutros bairros prximos de classe mdia baixa, comoLiberdade e Brotas38, muito carentes desse tipo de espao.Esse pblico anima bastante e d vida ao lugar, mas noconsome muito. Ou melhor, consome, em geral, o quevendem os vendedores ambulantes que acorrem ao local

  • nos fins de semana e nas noites de festa. Alm disso, oenclave comercial criado, muito centrado em lojas deartesanato, jias, bijuterias e galerias de arte, no se relacionacomesse pblico, nem com a dinmica terciria do entorno,voltada tambm para um consumo popular. Apesar dosesforos feitos nesse sentido, relaciona-se ainda menos comos consumidores de alta renda da cidade. Esses ltimos,alm de no se interessarem pelo tipo de produto muitoturstico que comercializado no Pelourinho,j enraizaram,desde os anos 70, seus hbitos de compras em outras reasda cidade. Ao lado disso, os turistas, para os quais esseenclave foi desenhado, correspondem a apenas 20% dosseus usurios mesmo em perodo de alta estao (verquadros 05 e 06). Ainda que quisessem, eles tambm noteriam como consumir muito, pois, nas cerca de 71 lojas deartesanato instaladas no centro histric039, o que se oferece, em geral, muito semelhante, sem qualidade ouoriginalidade.

    O turismo, como uma atividade essencial para odesenvolvimento da economia das cidades do Nordeste, no, como se sabe, uma idia nova. Ela remonta aos anos 60e, desde ento, nunca parou de ser perseguida. No que dizrespeito ao patrimnio urbano latino-americano, oaproveitamento turstico j era recomendado, desde 1967,nas Normas de Quito. Pela mo de governos vidos porrecursos e de agncias internacionais que viam a sadas deviabilidade econmica para reas degradadas, o turismo foitransformado na panacia para a soluo de todos os malesdos centros histricos da regio.40 Os parcos resultadosdessa poltica, em termos de desenvolvimento real epreservao, so bastante bem conhecidos. Na Bahia, aidia de destinar o centro histrico a esse uso remontatambm ao final dos anos 60 e sua permanncia no horizontedos planos de preservao para a rea se vincula ao fato deSalvador sempre ter sido, mesmo quando do desenvolvimentoda indstria no estado, uma cidade eminentemente terciria,com forte ancoragem no setor de servios - tendncia geralque se reforou ao longo dos anos 90.41 Contudo, apesardessa vocao, a atividade turstica sempre encontroudificuldades para se desenvolver plenamente na cidade, sejapor questes vinculadas conjuntura econmica do pas oupoltica nacional para o setor, seja por equvocos da polticaestadual ou por questes estruturais, como as ligadas pobreza e violncia urbana. Embora na dcada de 90,com os investimentos feitos pelo estado, o fluxo tursticoglobal tenha aumentado, esse incremento no foi significativo,inclusive em termos de receita, o que explica as dificuldadesde consolidao desse e de outros enclaves tursticos criados,como o complexo de Saupe. Mesmo prevendo-se umagrande melhoria nesse desempenho, os nmeros noapontam para um nvel de crescimento dessa atividade que

    permita tom-Ia o eixo principal de sustentao de uma reacomo o centro histrico e nem mesmo de uma rea como oPelourinho. Ao lado disso, mesmo que o governo permaneadesenvolvendo grandes esforos para aumentar aparticipao do turismo na economia do estado, a conjunturaeconmica e social do pas, segundo especialistas, igualmenteno autoriza a se pensar em grandes VOS.42

    Como se v, o Programa de Recuperao do CentroHistrico, em sua face comercial e turstica, enfrenta, parasua consolidao e durabilidade, fatores internos e externosimportantes. Por si s e com a concepo de lugar tursticoapartado do cotidiano e da vida da cidade, que ainda vigorana poltica estadual, ele no capaz de se auto-sustentar,nem de vencer as dinmicas de esvaziamento e degradaoque constantemente o ameaam. Em compensao, suanova face habitacional tem horizontes mais claros. Pesquisasrecentes mostram que h uma demanda significativa porunidades habitacionais reabilitadas no centro histrico nafaixa de renda mdia baixa, que se encaixa nas operaesque esto sendo montadas.43 Alm disso, a dinmicahabitacional dos bairros vizinhos e a dinmica comercial darea central demonstram, melhor do que qualquer estudoencomendado, a viabilidade desse tipo de interveno.

    Sucesso de pblico, o Programa de Recuperao doCentro Histrico extrapolou as fronteiras do setor e se tomoutambm uma pea a inspirar aes voltadas para a promooda cidade. Atravs da CONDER e, em seguida, daPrefeitura, o poder pblico projetou e realizou, especialmentea partir da segunda metade dos anos 90, vrias outrasintervenes de requalificao de espaos pblicos e decriao de atraes na cidade, boa parte delas localizadana rea central. So intervenes como o agenciamento ea limpeza do Dique do Toror; a recuperao das Praasda Piedade, da Inglaterra, Marechal Deodoro e da S; arequalificao dos Largos dos Aflitos, da Lapinha, PasseioPblico e Relgio de So Pedro; a restaurao do ElevadorLacerda, alm de outras, mais recentes, projetadas para oCampo Grande, Praa Cayru e Largo de Santo Antnio.

    Em nenhuma outra dcada, como na de 90, investiu-setanto e em to pouco tempo na rea central, notadamenteem aes de embelezamento, com vistas a tom-Ia umambiente visualmente mais agradvel, a preparar a cidadepara ocupar um lugar mais importante na preferncia dosvisitantes que tm o Nordeste como destino e uma posiomais competitiva na atrao de investimentos externos.Considerando a atual estrutura da cidade, contudo, ainterveno no centro histrico e as outras de requalificaorealizadas na rea central - por sua prpria naturezaepidrmica e por no estarem conjugadas a outras medidasde planejamento urbano - no pretendem e nem tm forapara deflagrar um processo de recentralizao ou para

  • redirecionar os vetores predominantes de crescimento,investimento e circulao de mercadorias na cidade. Essescontinuaro, tudo indica, ainda por muito tempo, tomando orumo do Vale do Camurugipe e da orla norte do Atlntico.O estado de abandono e esvaziamento em que visivelmentese encontra a rea do Comrcio mostra que preciso muitomais do que intervenes de embelezamento e dereformulao do sistema virio para ressuscit-Io.Entretanto, o Programa de Recuperao do Centro Histricotem contribudo para reforar essa antiga central idade,especialmente em seus aspectos simblicos, abrindo o setore, conseqentemente o centro, para um espectro mais amploe variado da populao. Tem tambm, ainda quediscretamente, funcionado como estopim de alguns processosespontneos de renovao no seu entorno que podem vir aconfigurar uma tendncia nova de ocupao da rea central.

    So aes e projetos privados que se beneficiam darenovao feita pelo governo, tanto em termos da infra-estrutura instalada como da nova ocupao promovida, masque se vinculam tambm a uma dinmica tpica de reacentral. Entre essas aes, destacam-se o Projeto Portalda Misericrdia, a renovao da Pousada do Carmo por umgrupo hoteleiro de peso, a compra do antigo cine Pax, naBaixa dos Sapateiros, para instalao de uma casa de shows,a compra do antigo prdio do jornal A Tarde e do CineGuarani, para a instalao de hotel e centro de convenes,a realizao de construes de um padro mais alto naencosta de Santa Tereza, a construo de marinas erestaurantes finos na orla da baa e a macia aquisio decasares na rua Direita de Santo Antnio por estrangeiros,fazendo com que a rea j comece a ser popularmenteconhecida como "gringolndia". Nesse bairro, onde o valordos imveis esteve por muito tempo depreciado,j se verificaum considervel aumento, com casares sendo adquiridospor preos 3 a 4 vezes mais altos do que ocorria no inciodos anos 90.44 Esse quadro, caso no sejam adotadosmecanismos de controle eficazes, aponta para uma situaode mudana crescente no perfil dos moradores nas reasmais bem localizadas, pondo em risco, inclusive, os projetoshabitacionais para faixas de renda mais baixas.

    O Programa de Recuperao paralisou o processo dearruinamento e deteriorao em que se afundava uma daspartes mais valiosas da rea tombada, comeando agora,como mencionado acima, a produzir alguns efeitos reais dereverso do seu quadro de depresso econmica edesvalorizao. Sem dvida, eles apontam para orecrudescimento de um processo de gentrificao jinstalado, mas podem tambm significar diversificao deusos e de populao, a depender do resultado dos projetosde habitao social que esto em curso na 7a etapa e naexperincia piloto da Caixa com o governo estadual.

    Foto: Mrcia Sant' AnnaFig. 7 A "gringolndia" na Rua Direita de Santo Antnio

    A recuperao do centro histrico jamais foi utilizada,contudo, como um instrumento de emancipao social,especialmente, em suas primeiras etapas. A atitude dogoverno com relao aos graves problemas dessa naturezaexistentes na rea foi de simplesmente empurr-Ios parafora, sem aproveitar a oportunidade para desenvolver umaverdadeira poltica de cunho social, ainda que issoimplicasse em reassentamento de parte da populao. Aindenizao pura e simples das pessoas reconhecidamenteapenas uma forma de eximir-se de responsabilidades ebaratear custos. No programa, portanto, nem todos osatores interessados esto sendo envolvidos ou mesmolevados em considerao, e o grande ausente , comcerteza, a populao moradora. Sua nica forma departicipao tem sido no criar problemas e se retirar omais rapidamente possvel da rea para que as obrascomecem e a roda da renovao possa ser posta emmarcha. Sob o peso do fracasso das polticasassistencialistas de outrora, ela permanece sendo vistacomo um entrave e no um parceiro da recuperao.

    Embora tenha pontos em comum com processosurbanos contemporneos que fazem uso da histria, dacultura e do patrimnio para agregar valor econmico acertas reas da cidade e desenvolver mercados, oPrograma de Recuperao do Centro Histrico de Salvador,em suas seis primeiras etapas, sob muitos ngulos, constituiquase um anacronismo. uma interveno tpica dos anos70, correspondente a um modelo de Estado, de governo ede poltica de desenvolvimento bem diferentes dosapregoados hoje em dia. Diferentemente do que ocorreem outras cidades do pas, na interveno baiana no hcorporaes empresariais atuando diretamente namontagem do programa - nem mesmo com sua nova

  • mscara de sociedade civil-, nem h a associao entresetor pblico e setor privado, tpica das chamadas aesempresarialistas. O novo Pelourinho, em seus aspectosarquitetnicos, urbansticos e de gesto, est mais paramodernista e autocrtico do que para ps-moderno eneoliberal. Embora, como outras intervenescontemporneas, faa uso das cores como estratgiapromocional, seu projeto visual tambm antigo e vinculadoaomomento em que os meios de comunicao de massasedesenvolveram no pas e passaram tambm a construir,apartir de um centro emissor hegemnico no Sudeste, aidentidade cultural da nao. Foi naquele momento, nosanos 70, atravs das telenovelas, que coube Bahia e aoNordeste essa imagem super colorida e festiva que estreproduzida nessa interveno e em muitas outras dognero que, nos anos 90, foram realizadas na regio.

    curioso ento notar que a interveno de mais pesosobre o patrimnio urbano brasileiro - que, como jressaltado, marca, no incio dos anos 90, sua utilizaocontempornea como tema de renovao, requalificao ereestruturao urbana - , na realidade, uma intervenodesenhada em outra poca, mas que somente agoraencontrou condies de concretizao. Ela nos mostra, entreoutras coisas, que a atual valorizao econmica dopatrimnio tambm se faz com velhas idias e velhosmodelos. Idias que no se concretizaram antes no somenteporque no havia dinheiro para execut-Ias, mas porque nohavia sido ainda bem percebido o seu potencial imagtico ede comunicao. Nisso, de fato, reside a atualidade dapresente interveno: no seu uso direto como meio decomunicao e na sua manuteno artificial para fins demarketing urbano, governamental e turstico.

    Foto: Mrcia Sant'AnnaFig. 8 Festa de Santo Brbaro

  • QUADRO 01- Programa de Recuperao do Centro Histrico de Salvador

    Obras Executadas

    Obras N.de Perodo Fonte dos Situao Valor (R$)imveis Recursos

    I" a 4" etapas 356 1992-1995 Tesouro/BA Executada 23.703.000,00Fachadas Av. 01 1993 Tesouro/BA Executada 24.766,00Contorno/Conceio da Praia **Estacionamento 10M - 92 vagas 01 1994 Tesouro/BA Executada 387.218.00Monumentos isolados 09 1992-1996 Tesouro/BA Executada 6.268.000,00Complementares 43 1995-1996 Tesouro/BA Executada 5.777.596,00Obras Emergenciais 21 1995 MinC/IPHANI Executada 3.000.000.00

    IPACEstacionamento 14M/450 vagas 01 1995 Tesouro/BA Executada 2.957.778,005" etapa 63 1996 Tesouro/BA Executada 10.767.356,00Obras Emergenciais - 5a etapa 17 1997 Tesouro/BA Executada 1.206.525,036a etapa - lote 01 30 1997 Tesouro/BA No 13.397.591,50

    conc1uda*6a etapa - lote 02 52 1997 Tesouro/BA No 7.953.427,13

    concluda *Quarteiro CulturaI/Praa das 19 1997-1999 PRODETUR/ Executada 7.190.795,97Artes/Estacionamento 200vagas BIDApoio s desocupaes, 1999-2000 TesourolBA Em 790.512,62Iacraes e escoramentos execuoemergenciaisFiscalizao de obras 1996-1999 Tesouro/BA Executada 7.082.563,75Total 613 90.507.130.00Fonte: IPAC, 2001.* O aditivo do lote O I e o lote 02 da 6" etapa no foram ainda concludos e, portanto, o valor total dessaetapa ainda no foi pago, segundo informao da CONDER.

    QUADRO 02 - Programa de Recuperao do Centro Histrico de Salvador

    Indenizaes

    Indenizaes N.de N. de famlias Valor da Indenizao Valor da Ind.lFamliaimveis residentes (R$) (R$)

    1" etapa 89 344 500.000,00 1.453,0028 etapa 47 176 150.000,00\a 852,0038 etapa 57 374 280.000,00 748,004a etapa 140 894 900.000,00 1.006,0058etapa 49 67 104.000,00 1.552,00Total 382 1.855 1.934.000.00 1.222.00 (valor mdio)

    QUADRO 03 -Programa de Recuperao do Centro Histrico de Salvador

    Obras previstas

    Obras Imveis Perodo Fonte dos Recursos Situao V. Previsto (R$)7" etapa 130 2002 Tesouro/BAlPMS Em 33.500.000,00

    BIDlMonumenta/CEF andamento

  • QUADRO 04 - Programa de Recuperao do Centro Histrico de Salvador

    Investimentos em atividades permanentes

    Atividade Periodo ResDonsvel Valor (R$) Valor mdio/ano (R$)Animao - "Pelourinho Dia 1996-2000 SCT IBahia tursa I 1.600.000,00 2.320.000,00& Noite" (shows)Conservao e Manuteno de 1997-2001 IPACICONDER 5.450.520,71 1.090.000,00ImveisTotais 3.410.000.00

    QUADRO 05 - Programa de Recuperao do Centro Histrico de SalvadorNmero e caracterizao dos usurios do Centro Histrico de Salvador (1995, semana anterior aocarnaval).

    CENTRO HISTRICO DE SAL VADORNmero de Usurios (mdia por dia)Manh ITarde INoite ITotal10.657 18.109 112.102 130.868Procedncia dos Usurios (mdia por dia)Centro da cidade e Outras reas de Interior do estado Turistas estrangeiros Turistas nacionaisadjacncias Salvador.20% 58% 3% 8% 11%

    FONTE: Futura Instituto de Pesquisa - Opinio no Centro Histrico de Salvador RelatrioAnaltico, 1996.

    QUADRO 06 - Programa de Recuperao do Centro Histrico de SalvadorNmero e caracterizao dos usurios do Centro Histrico de Salvador (1996, semana posterior aocarnaval)

    CENTRO HISTRICO DE SAL VADORNmero de Usurios (mdia por dia)Manh ITarde 1Noite 1Total16.231 119.104 113.194 141.462Procedncia dos Usurios (mdia por dia)Centro da cidade e Outras reas de Interior do estado Turistas estrangeiros Turistas nacionaisadjacncias Salvador.22% 61% 1% 7% 9%

    FONTE: Futura Instituto de Pesquisa - Opinio no Centro Histrico de Salvador RelatrioAnaltico, 1996.

  • I Esta comunicao, apresentada em no final de maio de 2002, foi atualizada emoutubro desse mesmo ano. parte de uma pesquisa mais ampla de doutoradosobre a prtica de preservao uroana desenvolvida no Brasil nos anos 90, a qualse prope a analisar os programas nacionais de preservao, fomento efinanciamento implantados na dcada e as intervenes que tomaram o patrimniocomo tema ou justificativa nas reas centrais das trs maiores cidades do pas: SoPaulo, Rio de Janeiro e Salvador. Baseia-se, ainda, em pesquisa anterior - que aquise atualiza e complementa - desenvolvida para a elaborao do artigo "EI CentroHistrico de Salvador de Bahia: paisaje, espado uroano y patrimnio", publicadoem Femando Carrin (editor), Centros Histricos de Amrica Latina y el Caribe.Quito: UNESCO/BIDIMCClFLACSO, 2001, pp. 177-197.

    2 Ver, sobre o conceito de espao como produto de sistemas de objetos e sistemasde aes, Milton Santos (1996), A Naturez.a do Espao. So Paulo: Hucitec. E domesmo autor (1995), sobre a distino entre paisagem e espao uroano, "Salva-dor: Centro e Centralidade da cidade contempornea".ln: Gomes, Marco Aurlio(org.). Pelo PeltJ: histria. cultura e cidade: EDUFBA, 1995, p. 11-29., "Plano Geral de Recuperao da rea do Pelourinho", de 1969, encaminhadoem 1970 OEA e Reunio de Governadores em Braslia, da qual resultou amontagem do Programa Integrado de Reconstruo das Cidades Histricas doNordeste, criado em 1973.

    4 Ver, a esse respeito, Paulo Ormindo Azevedo, (1984) "O caso do Pelourinho".In: Arantes, Antnio Augusto (org.). Produzindo o Passado. So Paulo:Brasiliense, p. 219-255.~Ver Jorge Antnio Santos Silva (1991). O Desempenho do Turismo em Salva-dor na Dcada de 80: a relevncia da ao do Estado. Salvador: UniversidadeFederal da Bahia (dissertao de mestrado).,Instituto do Patrimnio Artstico e Cultural da Bahia, rgo estadual responsvelpela execuo da poltica de preservao do estado, criado em 1967.

    7 BAHIA.lGOVERNO DO ESTADO. Centro Histrico de Salvador. Salvador,1992.

    H Companhia de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Salvador, rgoestadual que, juntamente com o IPAC, foi encarregado da interveno.

    9BAHIAlGOVERNO DO ESTADO, 1992: 10

    10Deve-se ressaltar que, entre 1994 e 1999, o real foi mantido com cotao muito

    prxima ao valor do dlar, o que faz com que o total investido at hoje, emdlares, seja, na realidade, maior do que o obtido com base na taxa de cmbioatual.

    1iBanco Interamericano de Desenvolvimento.

    12BAHIAlIPAC (1992), j citada; IPAC/CONDER/UNESCO/TB-BR.(l997)

    Anlise Critica da Pesquisa Socioeconmica da 6 Etapa do Centro Histricode Salvador; TC-BR (1998), Relatrio de Anlise Critica da pesquisaSocioeconiJmica do Projeto Centro Histrico - 7" Etapa e Barroquinha (versofinal); CONDER (2000), Relatrio da Pesquisa Socioeconmica e AmbientalRecuperao da 7" Etapa do CHS Pelourinho.

    1.1 Segundo a pesquisa de IPAC/CONDER/UNESCO/TC-BR (1997), realizada paraa 6" etapa, 61,9% dos habitantes ocupavam imveis cedidos ou invadidos(respectivamente 37,1% e 24,8%).

    14 Ver TC/BR (1998), Plano Preliminar de Reassentamento - Centm Histrico deSalvador, Projetos 7" etapa e Barroquinha, p. 50.I~Na Rua 24 Horas de Curitiba, por exemplo, a utilizao do espao pblico ou dapropriedade pblica para fins de comrcio vista como um negcio que licitadoe est sujeito a regras de localizao estabelecidas pelo planejamento do setor.I' Ver, a esse respeito, Antnio Srgio Arajo Fernandes (1998), EmpresarialismoUrbano em Salvador: A recuperao do Centro Histrico Pelourinho. Recife:Universidade Federal de Pernambuco, Mestrado em Desenvolvimento Uroano eRegional (dissertao de mestrado), p. 55-62.

    17 No final de 1994, 62% das empresas que alugavam imveis comerciais noPelourinho pagavam aluguis inferiores a US$ 100,00, bastante abaixo do preo

    de mercado. Fonte: CONDERlAliana Pesquisa e Desenvolvimento, Avaliaodo Impacto dos Investimentos na Recuperao do Pelourinho, Salvador, fevereirode 1995.

    IXPesquisa CONDERlAliana (/995) e Futura - Instituto de Pesquisa. Proposta

    de Gerenciamento para o Centro Histrico de Salvador, 1996 (a). e Futura -Inftituto de Pesquisa. Opinio no Centro Histrico de Salvador: Relatrio Analtico.1996 (b).

    19 Futura _ Instituto de Pesquisa, 1996 (a). A pesquisa indicou que os empresriosinstalados na rea so os mais refratrios e reticentes quanto a um processo deparceria na gesto e manuteno da rea.

    2f1Ver BAHIA. CONDERlSCTllPACIUNESCOllnvento Espaos. Dinmica Ur-

    bana para Oportunidades de Investimentos no Centro Histrico de Salvador.Salvador, 1999.

    21Santo Antonio, Carmo, Sodr e Preguia.

    22 Convnio n. 017.99, de 25 de maio de 1999. Embora participando da equipe deimplantao do projeto desde 2000, o IPHAN e a Prefeitura s foram includosoficialmente na renovao do convnio feita agora em 2002." A linha utilizada prioritariamente o PAR - Programa de ArrendamentoResidencial -, destinado a pessoas fsicas com renda bruta familiar at seis salriosmnimos, limite mximo de financiamento at R$ 35 mil, taxa mensal dearrendamento de 0,7% e opo de compra do imvel arrendado ao fim de 15anos.

    24 O decreto n. 7.88112000 declarou de utilidade pblica para fins de desapropriaoos imveis selecionados para o projeto piloto e a Lei Estadual n 8.218/2002autorizou sua alienao.

    2~ Dados da Gerncia de Desenvolvimento Uroano da CEF em Salvador, segundoentrevista realizada em 05/04/02."- Imveis n I I e 19 na Rua Joaquim Tvora (antiga Rua Direita de SantoAntnio); n 38, 40 e 42 da Rua Deraldo Dias e n 56, da Rua Ribeiro Santos.

    27 O valor mximo mensal cobrado pelo IPAC gira atualmente em tomo de R$4,08 por m2 (fonte: GEPAIIIPAC, 2002). Em outros shoppings da cidade, porexemplo, o preo do aluguel varia entre R$ 400,00 e R$ 50,00 por m2.

    2MPrograma de Preservao do Patrimnio Cultural Urbano - Monumenta,

    Regulamento Operativo, (verso de 10 de agosto de 2(01). Braslia, 2001.29 Decreto n 8. I70, de 25 de fevereiro de 2002." Convnio n 39412002, publicado no D.O.U. de 04/07/02.'I O FUNDOCENTRO foi criado pela Lei Municipal n 5.853/2000, devendo seusrecursos ser aplicados na conservao dos imveis existentes na rea da 7" etapaEsses so provenientes de receitas geradas por imveis recuperados com recursosdo Programa Monumenta, dotaes oramentrias especficas, retomo de recursosdo programa aplicados na recuperao de imveis privados, doaes, entre outras.

    J2Pesquisa realizada em outros bairros da rea central para testar a viabilidade do

    projeto revelou que h uma significativa demanda por habitaes reabilitadasnessa rea, correspondendo a um potencial de 50,6% da amostra. Desse pblicopotencial, cerca de 20% se encaixa nas normas do PAR (entre 3,5 a 6,0 salriosmnimos de renda familiar bruta). Projetando-se os dados da amostra para a reacentral, verifica-se a existncia de 701 famlias sem casa prpria, aptas a participar.Ver Duplamente - Pesquisas de Mercado, Relatrio de Pesquisa - 7" EtapaHabitacionallComercial. Salvador, maio de 2001.

    JJ54,8% declararam querer ir para um bairro prximo. Ver pesquisa CONDER

    (2000), j citada.J4 Idem.

    3~ A Prefeitura de Olinda, numa experincia iniciada em 1983, deu garantias aoantigo BNH e assumiu o emprstimo, repassando os recursos, atravs depromissrias, aos moradores que no preenchiam os requisitos do banco paraendividamento. O ndice de inadimplncia foi considerado baixo, mas aexperincia no se desenvolveu por causa da extino do BNH." Ver Paulo Gaudenzi (2001), Turismo fUI Sculo XXI: cluster de entretenimento.Salvador: SCT.

  • l7 ~No Plano Geral de Recuperao da Area do Pelourinllll, elaborado pela

    antiga Fundao do Patrimnio Artstico e Cultural da Bahia, em 1969, j sepropunha o remanejamento do miolo dos quarteires para a criao de umarea livre interna. No Projeto de Restaurao. Conservao e Adaptao doQuarteiro 10 do Maciel, elaborado tambm pela antiga fundao para oPrograma de Cidades Histricas, em 1979. essa idia foi mais desenvolvida,ganhando uma feio semelhante que foi adotada em 1992.

    Ver pesquisa de Futura - Instituto de Pesquisa, 1996 (b).

    .'i Dados constantes do Cadastro Imobilirio do Pelourinho, Mapa dos Imveispor Tipo de Servio, GEPAI/IPAC, 2002.

    " Ver, a esse respeito, Paulo Ormindo Azevedo (200 I), "La lenta construccinde modelos de intervencin en centros histricos americanos". In: FernandoCarrin (editor), Centros Histlricos de Amrica Latina y el Caribe. Quito:UNESCO/BID/MCC/FLACSO. 2001, pp. 297-315.

    41 Entre 1990 e 1996. as taxas de empreg%cupao em Salvador concentraramentre 52, 78% e 56,44% no setor de servios. Apud Fernandes (1998). jcitado.

    c Ver BAHIA/SCT/BAHIATURSA, Desempenho do Turismo Baiano - 1991-2000 (verso sntese). Indicadores Bsicos do Turismo Baiano. InformativoGerencial srie E, n. 02, junho.

    4J DUPLAMENTE PESQUISAS DE MERCADO, 2001, j citada.

    44 Segundo informaes de moradores do Santo Antnio, casares, muitasvezes em runas, localizados na Rua Direita, com vista para a baa, estosendo vendidos a uma mdia de US$ 40.000. No final dos anos 80. o valorno ultrapassava US$ 10.000,00.

    AZEVEDO, Paulo Ormindo 1984 "O caso do Pelourinho". p. 219-255. In:ARANTES. Antnio Augusto (org.). Produzindo o Passado, So Paulo:Brasiliense

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