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1 São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009 POLÍTICAS URBANAS PARA O RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO E BELÉM NA BELLE ÉPOQUE Fania Fridman Coordenação “Rio da Belle Époque: grandes projetos no imaginário da cidade” Lucia Helena Pereira da Silva Universidade Severino Sombra/RJ A moderna configuração da cidade do Rio de Janeiro foi fruto da atuação de vários agentes. Neste trabalho buscamos identificá-la por meio de programas e do imaginário carioca acerca destas intervenções. A partir do aterro, do saneamento e da construção de dois bairros nos anos 1920 e 1930 - o Jardim Botânico/Lagoa e a Urca - analisamos de que forma tais projetos impactaram na população e na formulação ideológica construída pela imprensa e pelo Estado acerca desta nova estrutura urbana. Palavras chaves: planejamento urbano, imprensa, Rio de Janeiro “A construção da São Paulo operária” Luciana Alem Gennari Universidade Federal do Rio de Janeiro Os bairros operários paulistanos foram constituídos e consolidados nas primeiras décadas do século XX. Se, por um lado, o Estado assumiu de maneira reticente o controle deste processo e, por outro, a diversidade do montante de capital investido nem sempre contou com mão de obra qualificada, a tecitura urbana resultante foi homogênea. Problematizando o papel de cada um dos atores envolvidos neste processo, discutimos os limites da atuação pública e privada na consolidação de alguns bairros da cidade de São Paulo. Palavras-chave: Habitação, São Paulo (cidade), Planejamento Urbano “Interpretação da paisagem urbana de Belém através de seus jardins” Rubens O. de Andrade Universidade Federal do Rio de Janeiro Pretende-se aqui debruçar-se sobre uma Belém novecentista e seus jardins analisando como esses espaços físicos influenciaram no cotidiano do cidadão em uma cidade equatorial com matizes culturais diversas. A nova paisagem expôs o homem amazônico e/ou estrangeiro aos sentidos e desenhos forjados a partir de propostas urbanísticas e, neste sentido, procura-se desbravar, no campo disciplinar das relações cidade/sociedade versus natureza, os seus caminhos de formação. Palavras-chave: jardins, Amazônia, Belém

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009

POLÍTICAS URBANAS PARA O RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO E BELÉM NA BELLE ÉPOQUE

Fania Fridman Coordenação

“Rio da Belle Époque: grandes projetos no imaginário da cidade”

Lucia Helena Pereira da Silva

Universidade Severino Sombra/RJ A moderna configuração da cidade do Rio de Janeiro foi fruto da atuação de vários agentes. Neste trabalho buscamos identificá-la por meio de programas e do imaginário carioca acerca destas intervenções. A partir do aterro, do saneamento e da construção de dois bairros nos anos 1920 e 1930 - o Jardim Botânico/Lagoa e a Urca - analisamos de que forma tais projetos impactaram na população e na formulação ideológica construída pela imprensa e pelo Estado acerca desta nova estrutura urbana. Palavras chaves: planejamento urbano, imprensa, Rio de Janeiro

“A construção da São Paulo operária”

Luciana Alem Gennari

Universidade Federal do Rio de Janeiro Os bairros operários paulistanos foram constituídos e consolidados nas primeiras décadas do século XX. Se, por um lado, o Estado assumiu de maneira reticente o controle deste processo e, por outro, a diversidade do montante de capital investido nem sempre contou com mão de obra qualificada, a tecitura urbana resultante foi homogênea. Problematizando o papel de cada um dos atores envolvidos neste processo, discutimos os limites da atuação pública e privada na consolidação de alguns bairros da cidade de São Paulo. Palavras-chave: Habitação, São Paulo (cidade), Planejamento Urbano

“Interpretação da paisagem urbana de Belém através de seus jardins”

Rubens O. de Andrade

Universidade Federal do Rio de Janeiro Pretende-se aqui debruçar-se sobre uma Belém novecentista e seus jardins analisando como esses espaços físicos influenciaram no cotidiano do cidadão em uma cidade equatorial com matizes culturais diversas. A nova paisagem expôs o homem amazônico e/ou estrangeiro aos sentidos e desenhos forjados a partir de propostas urbanísticas e, neste sentido, procura-se desbravar, no campo disciplinar das relações cidade/sociedade versus natureza, os seus caminhos de formação. Palavras-chave: jardins, Amazônia, Belém

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RIO DA BELLE ÉPOQUE: grandes projetos no imaginário da cidade

Lúcia Silva1

RESUMO A moderna configuração da cidade do Rio de Janeiro foi fruto da atuação de vários agentes. Neste trabalho buscaremos identificar a ação do Estado por meio de grandes projetos e a relação destes com a construção do imaginário da população da cidade acerca do que seriam grandes e pequenas intervenções. O impacto construído socialmente pelos habitantes, “mídia” e Estado definiria nos anos 20 e 30 o que seriam grandes e pequenas intervenções na estrutura urbana. A partir do aterro, saneamento e construção de dois bairros, Jardim Botânico/Lagoa e Urca, analisaremos a construção de grandes projetos no imaginário da cidade. . Palavras-chave: Rio de Janeiro, urbanização, política.

ABSTRACT

The modern configuration of Rio de Janeiro city was a result of many actors. In this paper we try to identify the State’s activity regarding the big projects and this relation with the built of a popular imaginary concerning big and little interventions. Palavras-chave: Rio de Janeiro, urbanization, politics.

1 INTRODUÇÃO

Urca e Jardim Botânico, dois bairros da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro

que surgiram durante a gestão de Calos Sampaio (1920/22) em processos muito

semelhantes, mas o primeiro diferentemente do segundo não teve grande impacto na

imprensa da cidade, aparecendo muito pouco nos periódicos. Este trabalho procura discutir

as possíveis razões do silêncio ao processo de construção da Urca em detrimento do

grande espetáculo que foi o aterro, saneamento da lagoa e loteamento do bairro do Jardim

Botânico; e principalmente por que mesmo sendo similares um teve visibilidade social e o

outro não. Quais as possíveis razões deste silêncio.

A historiografia costuma se debruçar sobre os grandes projetos realizados pelo

Estado na cidade. No caso do Rio, a abertura da Avenida Central, da Presidente Vargas, do

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pós-Doutoranda do Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do GESTHU/IPPUR/UFRJ.

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aterro do Flamengo e o arrasamento do Morro do Castelo foram objetos de uma vasta

bibliografia em detrimento, por exemplo, do surgimento de bairros como Vila Isabel. Vários

autores como Osvaldo Porto Rocha e Sérgio Pechman quando analisam as duas primeiras

décadas do século XX discorrem sobre uma historiografia que ratifica a imagem das

transformações urbanas ocorridas no Rio de janeiro do inicio do século obedecem ao claro propósito de fazer do mesmo um território que pudesse, de um lado, servir de base para uma articulação mais orgânica da economia brasileira com sistema capitalista internacional, e de outro, expressar, nos planos político e ideológico, os ideais de progresso e modernidade decantados por suas classes dominantes (PECHMAN apud KESSEL, 2001:65)

Mesmo compartilhando a idéia que é possível identificar em muitos momentos

uma estreita relação entre a atuação do poder público e os interesses das classes

dominantes, deve-se ter em mente as complexas relações políticas destes grupos com o

governo municipal e com o federal no estudo das grandes intervenções na estrutura urbana.

Da mesma forma que as classes dominantes não são um bloco único, apesar de

hegemônica, elas não agem sob a égide de um interesse geral, principalmente no que se

refere aos usos da cidade.

Os governos, nos níveis municipal e federal, apesar de compromissos políticos

diferenciados, eram vistos como trabalhando em “sintonia”, pelo menos até a década de 30,

principalmente porque o prefeito era uma escolha do presidente da república. Ainda que

houvesse tensão entre as demandas dos políticos municipais e aquelas construídas pelo

governo federal para a cidade, a atuação da prefeitura, em última instância perfilava-se ao

segundo.

Parte da população, pelo menos aquela que lia os periódicos da cidade,

reconhecia esta tensão e via o Conselho Municipal como um espaço onde seria possível

explicitar suas demandas e fazer, se necessário, contraponto às ações do governo federal.

O Rio de Janeiro nos primeiros anos da década de 20, momento em que surgiram os dois

bairros na zona sul, se preparava para os festejos do centenário e convivia com propostas

políticas diferenciadas.

Para dimensionar socialmente os processos de emergência dos dois bairros,

muitos elementos podem ser analisados, aqui serão explorados três: os projetos e seus

principais agentes, os aspectos políticos envolvidos nos projetos e as imagens construídas

pela população a partir dos periódicos do período, naquilo que genericamente ficou

conhecido como Rio da Belle Époque.

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2 OS PROJETOS E SEUS PRINCIPAIS AGENTES

Pensada inicialmente para ser campus universitário, a região conhecida como

Praia da Saudade, antes das comemorações do Centenário da Abertura dos Portos em

1908 já possuía um conjunto de edificações ligado à administração pública. No início da

praia encontrava-se o hospital dos alienados, próximo a este encontrava-se a escola

Benjamin Constant (para crianças cegas). A região tinha sido planejada para abrigar uma

universidade ainda no Império. A sede da universidade, já com outra função foi concluída

em 1908 para a exposição nacional; desde 1900 havia uma linha de bonde cujo ponto final

era na escola superior de guerra na Praia Vermelha, integrando aquela localidade à cidade.

As águas da baia da Guanabara batiam nos morros da Urca e Pão de Açúcar e a

única forma de se chegar ao forte São João era pelo caminho margeando os paredões,

atual rua São Sebastião. A idéia de um aterro e a formação de um bairro novo eram

propostas que circulavam entre os empresários desde o final do XIX, mas só seria

concretizado na gestão do engenheiro Carlos Sampaio.

Fonte: Mapa feito por Agache em 1930. Extraído de www.urca.net/mapas.htm

Figura 1 - Mapa da área aterrada do bairro da Urca

Empresa da Urca S/A foi instituída em 1921 e deu início ao aterro sobre o qual

seriam construídas as 13 ruas e 4 avenidas, formando o bairro da Urca. O contrato de 1922

apresentava o plano de loteamento do bairro, deixando claro que área conquistada da

enseada de Botafogo seria destinada às classes abastadas. O loteamento foi concebido a

partir do conceito de cidade jardim, cuja inspiração era reintroduzir a cidade no campo por

meio dos jardins e arborização.

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Fonte: Foto Augusto Malta. Extraída de www.urca.net/mapas.htm

Figura 2 - Foto da Urca antes do Aterro

Com o aterro concluído em 1923 e com os arruamentos aprovados durante a

gestão de Alaor Prata (1922/26), os pequenos lotes que compunham o bairro começaram a

ser vendido. Segundo Mello Junior (1988) a partir da iniciativa de Otavio Moreira Penna e

com obras do engenheiro Eduardo Parissot, os lotes de pequena dimensão acompanharam

a escala do espaço do próprio bairro, inclusive com a construção do hotel de apenas 34

quartos, que em 1933 se transformaria no Cassino da Urca.

O processo de aterro foi pouco divulgado na imprensa carioca, e quando era

noticiado sempre em conjunto com as demais obras que “varriam“ a cidade para as

festividades do Centenário da Independência. Assim, a população de uma maneira geral,

acompanhou o surgimento de um novo bairro, cujo processo decorreu sem polêmicas nos

periódicos. Ao contrário do Jardim Botânico que surgiu do aterro da Lagoa Rodrigo de

freitas.

A Lagoa de Sacopenapã, denominação dada pelos indígenas à região

compreendida entre o sopé das montanhas do Maciço Carioca e a restinga de Ipanema.

Segundo Reis (1986) utilizando-se do dicionário Salvador Pires Ponte, Ipanema significa

lagoa pútrida (água imprestável) e Sacopenapã lagoa de socó, ave que costuma se

alimentar de peixes mortos, muito comum na Rodrigo de Freitas (nome de um dos

proprietários das terras que margeavam a lagoa).

Desde o século XIX, notadamente depois da chegada da família real e a

abertura do Jardim Botânico, a lagoa fora alvo de projetos de saneamento, principalmente

porque periodicamente ocorria mortandade de peixe e proliferação de algas. Ocorrência

fartamente documentada pelo Marques de Lavradio (1877) e Barão de Teffé (1880) a região

se tornou objeto de projetos em função das enchentes ocasionais que alagavam a rua que

dava ao Jardim Botânico.

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Área pouco povoada, inclusive abrigando nos anos de 1880 o Quilombo do

Leblon; no início da república receberia três indústrias têxteis (São Felix, Carioca e

Corcovado) causando rápido crescimento populacional. Subúrbio distante do centro,

denominado de Gávea, tinha em 4.712 habitantes em 1890 e em 1906 já contava com

12.570, destes, segundo Torres (1990), aproximadamente 5 mil eram composto pelos

operários e seus familiares. Assim, ainda no final da década de 10 a região podia ser

classificada como bairro operário.

Fonte: Pintura extraída do livro Rio Antigo by Camões, p.75

Figura 3 - Lagoa Rodrigo de Freitas em 1870

O governo, ainda em 1890, após concorrência entregou para empresa

Companhia de Melhoramento da Lagoa e Botafogo a concessão da execução das obras do

projeto de saneamento do engenheiro Révy. O projeto previa a construção de dois canais

para captar as águas dos rios que descem do maciço como forma impedir as enchentes,

previa o aterro da região de charco onde atualmente é o jóquei além de dragar o fundo da

lagoa. Nada disto foi feito e rapidamente a população apelidou a empresa de “companhia de

pioramentos da Lagoa e Botafogo”.

Se no século XIX a insalubridade da lagoa era vista materialmente a partir da

proliferação das algas e da mortandade de peixes, e esta deveria ser combatida como forma

de evitar a proliferação de miasmas que poderiam atingir o centro. No início século XX, a

insalubridade era vista como fruto da poluição das fábricas e dos hábitos da classe operária.

A região ocupava a freguesia da Gávea, ia desde a Fonte da Saudade até a Barra da Tijuca,

os terrenos da freguesia eram livres de pagamento de foros à municipalidade, exceto a zona

litorânea da Vila Ipanema (à marinha).

A linha de bonde Jardim Botânico incrementou a ocupação ainda no XIX, mas o

que acelerou o crescimento populacional foi a implantação das indústrias têxteis, tanto que

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em 1920 a freguesia contava com 15.270 habitantes. Segundo o censo, a região seria um

“arrabalde com vocação para centro industrial”. Terrenos baratos e com muitas áreas livres,

principalmente nas áreas alagadiças como as da praia do Pinto, uma população pobre se

instalou em torno das fábricas.

Durante os seis meses da gestão de Paulo de Frontin em 1919, foi construída

uma ponte ligando as avenidas Vieira Souto em Ipanema e Delfim Moreira no Leblon com

um vão de 9,8 m, pois naquele momento o projeto era impedir a renovação das águas

transformando-a lagoa de água doce. “Essa solução foi um fracasso: em pouco tempo

apareceu uma mosquitada infernal e a malaria voltou a grassar, em proporções alarmantes.

O mesmo Frontin mandou destruir o vertedouro que ele havia construído” (TORRES,

1990:46).

Fonte: Mapa extraído da Revista Brasileira de Engenharia, tomo V N ,1 jan 1923

Figura 4 - Projeto de saneamento de Saturnino de Brito

Carlos Sampaio ao assumir em junho de 1920 associou o arrasamento do Morro

do Castelo ao conjunto de intervenções em toda a cidade como forma de prepará-la para os

festejos do Centenário. Em resposta ao diretor da Repartição de Saneamento das Zonas

Rurais, Belisário Pena (O Dia de 22/4/21), que se mostrara preocupado com a possibilidade

das reformas serem apenas maquiagem para a efeméride, o prefeito em sua mensagem

anual à Câmara Municipal (1/6/21) detalharia todo o projeto:

Solução definitiva e de imediata execução a um problema proposto e discutido desde algumas dezenas de anos [...]. A execução deste projeto,

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estou convencido, operará uma transformação maravilhosa daquela zona, até aqui desacreditada pelo flagelo do impaludismo, e que passará a ser um dos bairros mais encantadores do Rio de Janeiro. As obras delineadas no projeto que aprovei compreendem: 1) Um cais de contorno da lagoa, construído sobre enrocamento e tendo a extensão de 5.100 metros 2) Um aterro das margens baixas e alagadiças, abrangendo uma área de 1.345.800 metros quadrados 3) A canalização e regularização de todos os rios e das águas pluviais para a bacia da lagoa 4) O calçamento e arborização de todos os logradouros públicos estabelecidos na área aterrada 5) A fixação do regime da comunicação entre a lagoa e do oceano” (Anaes do Conselho Municipal jun/jul 1921)

O projeto era do renomado engenheiro Saturnino de Brito. As discussões

técnicas tomaram as páginas das revistas especializadas, notadamente às questões

relativas ao tipo de água da lagoa (doce ou salgada) e largura do canal da barra (Jardim de

Alá), mas estas pouco saíram na grande imprensa. A grande discussão que mobilizou os

jornais foi a doação de grande parte do aterro para a construção do jóquei. Quase todo o

projeto foi realizado, no aterro surgiram ruas novas e o loteamento ficou por conta do

empresário Lineu de Paula Machado.

3 ASPECTOS POLÍTICOS DOS PROJETOS

Os dois bairros surgiram no bojo das reformas realizadas para as festividades do

Centenário da Independência. O engenheiro Carlos Sampaio assumiu a prefeitura logo após

seu antecessor em sua fala anual ao Conselho Municipal adotar a posição de sanear as

finanças municipais em detrimento das comemorações. Paulo de Frontin, em sua curta

passagem pela prefeitura havia deixado a municipalidade em péssima situação financeira,

fazendo com que seu sucessor, Sá Freire, cauteloso em relação a novos gastos. Essa

cautela lhe custou o cargo

Carlos Sampaio fora chamado com a incumbência de preparar a cidade os

festejos. Em nome das festividades ele legitimou sua intervenção, tendo apoio político da

maioria da bancada dos senadores, capitaneada pelo seu amigo Paulo de Frontin, e aval do

presidente para fazer os empréstimos necessários às obras, ele pode, ainda em 20

transformar a cidade “em um grande canteiro de obras”. Com total apoio federal ele

encontraria resistência na câmara municipal. A ação do prefeito para minimizar a oposição

dos vereadores foi desmoralizar a câmara, esta enfraquecida diminuía a oposição

organizada e aumentava a força política do prefeito, tornando a posição de Carlos Sampaio

inconteste. A revista Careta ainda em 21, por meio de artigo assinado por P T T, deixava

claro que percebia o jogo: “Não está direito, não é sincero, não é honesto. Se a queda do

prestigio do conselho tivesse como corolário o desprestigio do prefeito, compreende-se. Mas

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é o contrário. E isso se dá em tempos epitacianos. Insensatamente estamos concorrendo

para a criação das ditaduras” (CARETA de 31/12/21)

Com os holofotes nas comemorações, a oposição controlada e as atenções

voltadas para o maior empreendimento, o arrasamento do Morro do Castelo, Carlos

Sampaio pode colocar em prática um conjunto de idéias e projetos por anos acalentados.

Politicamente, a gestão do prefeito filiava-se ao do furacão Paulo de Frontin. Não se sabe ao

certo por que Epitácio Pessoa nomeou e destituiu Frontin, para seis meses depois colocar

no cargo um profissional que representava sua continuidade, tanto de idéias quanto no seu

jeito de agir; o certo é que Sampaio diferentemente do primeiro tinha liberdade e utilizava o

argumento do aparelhamento da cidade para as comemorações para legitimar suas ações.

Afirmando não ser político, portanto ressaltando o lado técnico, Carlos Sampaio

afirmava que tinha sido nomeado por ser engenheiro e que sua gestão seria ágil e eficiente

como as empresas dele. Administrativamente procurou articular lucratividade com

racionalização na alocação dos recursos, e efetivamente interveio em toda cidade. Desde a

construção do matadouro em Santa Cruz, passando pelo aterro de pântanos em Benfica e

Jacarepaguá, a construção de um hospital no Méier, saneamento e urbanização da Lagoa,

aterro e urbanização da Urca, até finalização das obras começadas por Frontin relacionadas

à urbanização dos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon.

Nenhuma destas obras teve o impacto do arrasamento do Morro do Castelo e

por conta disto algumas das discordâncias política ou mesmo técnicas em relação às outras

intervenções não tiveram tanta visibilidade. A oposição política, representada pela câmara

municipal foi habilmente desarticulada por meio de uma campanha de desmoralização.

Orquestrada pelos correligionários do prefeito, a campanha denunciou alguns negócios e

benefícios dos vereadores. Desacreditada, a câmara acompanhou a gestão. Quanto às

discordâncias técnicas, o próprio prefeito procurou respondê-las, sempre enfatizando o

domínio e o seu conhecimento da engenharia.

Formado pela politécnica em 1880, juntamente com Paulo de Frontin, foi um dos

sócios fundadores do Clube de Engenharia, amigo e sócio de Vieira Souto em vários

projetos, inclusive no arrasamento do Morro do Senado. Acionista da empresa

Melhoramento do Brasil em sociedade com outros membros do Clube, como Jacob

Niemeyer, Candido Gafrée, Eduardo Guinle e os dois amigos. Através da Melhoramentos

esteve envolvido nas principais obras da república, ganhas em concessão. A trajetória de

Carlos Sampaio o fazia representante de um grupo de profissionais cujo interesse misturava

atuação profissional, vida pública e articulação política.

A proximidade do engenheiro com os empresários se acentuaria em sua gestão.

Tal como apontou Kessel, Carlos Sampaio promoveria de forma inequívoca “a parceria entre

o poder público e os investidores privados” (2001; 53) em quase todas as obras realizadas

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em seu mandato. Em maio de 22 o semanário A Careta discretamente denunciava a

articulação do prefeito com os “capitalistas” no pequeno artigo de Lima Barreto. Irônico o

cronista nos conta que um empresário estava construindo uma fábrica entre os bairros de

Todos os Santos e Inhaúma e que por conta disto a prefeitura estava arrumando a rua onde

se localizava a indústria, o problema era que os meio-fios atrapalhavam o trânsito, pois

ainda não estavam colocados. No final Lima Barreto escrevia: “poetas por poetas sejam

lidos; capitalistas por capitalistas sejam... atendidos” (A CARETA de 28/05/22)

A gestão de Carlos Sampaio se notabilizou por inúmeros escândalos e o próprio

prefeito, anos mais tarde ainda tentando responder aos que ele designava de industriais da

calunia, queixava-se de o terem acusado de “ter entrado rico e saído podre de rico”

(SAMPAIO, 1924:4). Buscou responder sempre com argumentos técnicos, negando as

opções políticas ou interesses financeiros na escolha e na implementação dos projetos,

desqualificando aquilo que ele não reconhecia como discurso competente. Dentre os

diversos casos ruidosos apresentados na imprensa, um dizia respeito ao loteamento do

Jardim Botânico.

A discussão na imprensa começou no início da construção do Jóquei, em

novembro de 1922, com a colocação da pedra fundamental três dias antes do fim da gestão

da dupla Epitácio Pessoa e Carlos Sampaio. O interessante é que mesmo com a polêmica

da doação do terreno ao jóquei, a obra não parou na gestão seguinte de Alaor Prata. As

justificativas da doação foram de duas ordens: uma técnica, na medida em que o

engenheiro ratificava que naquele local não poderia ter edificações por causa das condições

do aterro; a outra extrapolava as questões técnicas, pois se relacionava ao uso e ao próprio

equipamento que o jóquei poderia representar ao novo bairro. Nas palavras do prefeito “a

imaginação e iniciativa do benemérito presidente do Jockey Club se deve este

importantíssimo melhoramento, qual a localização de um prado de corridas nesta zona,

onde o aterro feito não permitiria outra utilização imediata” (SAMPAIO, 1929: 59)

O benemérito citado era nada menos que Lineu de Paula Machado, com quem o

prefeito havia discutido o projeto e a escolha do lugar, pois alguns engenheiros queriam que

o prado fosse do lado de Ipanema ou Leblon. A gestão de um pouco mais de dois anos foi

rica em polêmica na imprensa, a maioria destas discussões utilizava-se dos aspectos

estético para ganhar visibilidade nos diversos periódicos. A população acompanhou e

participou dos grandes debates, principalmente aqueles referentes ao desmonte do morro

do Castelo. No final de seu mandato nenhuma obra estava concluída. Foi durante a gestão

de Alaor Prata, sob estádio de sítio, que todas as obras foram completadas, inclusive o

arrasamento do morro do Castelo.

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4 AS IMAGENS DO RIO DA BELLE ÉPOQUE

O Rio belle époque aparecia nas páginas dos periódicos por meio das notícias

de cinema, de imagens da Avenida Central e já no início dos anos 20, dos banhos de mar,

das festas, piqueniques e jantares. Era este Rio que estava exultante com a posse de

Carlos Sampaio e esperava que a cidade fosse embelezada para o Centenário. “Esse Rio

conhecia o prefeito de outros carnavais”, seja nas associações com Farqhuar, Pearson e

Mackenzie (Light), seja na associação pela engenharia com Passos e Frontin. As classes

que representavam esta cidade construíram um discurso que faziam do moderno a negação

do passado.

Desde os tempos de Passos, a Avenida Central representava no imaginário da

cidade, o desejo do fim da memória de um rio colonial em prol de um ideal cosmopolita,

tinha nos nomes afrancesados e no modo de vida urbano imaginado pelas letras do popular

Constallat, ícones de modernidade. Civilização, modernidade e progresso eram palavras de

ordem que se materializam em novos equipamentos e serviços urbanos. Aos que se

colocavam contrários às reformas urbanas preconizadas por este grupo eram designados

saudosistas e atrasados. Manchetes como “O Rio do amanhã” serve para ilustrar, a aposta

em um futuro sem referência no passado.

Se ficássemos apenas com os discursos deste grupo, a imagem que

sobressairia era de um grupo

caudatários de uma sólida vertente do pensamento político brasileiro, calcada no ideário cientificista de valorização dos padrões racionais, universalizantes, civilizatórios, aqueles que defendiam o arrasamento do morro se declaravam escandalizados diante da convivência promiscua da civilização com a barbárie. (MOTTA, 1992, p. 57).

A modernidade preconizada por este grupo passava pela modernização da

estrutura urbana, disciplinarização de seu uso e a exclusão de grande parte da população.

Com um discurso potente, esse grupo desqualificava os demais projetos de modernidade

que circulavam na sociedade, principalmente aqueles que buscavam de alguma forma não

dissociar o passado do presente (coisa que mais tarde os modernistas fariam) e integrar as

diversas classes pela educação. O grupo, naquele momento era capitaneado pelo prefeito,

estava pondo em prática um projeto acalentado e discutido desde início do século.

Apesar de polêmico na imprensa poucos articulistas perceberam o sentido do

conjunto das transformações implementado pelo prefeito, exceção feita a Lima Barreto que

desde o inicio se mostrou cético quanto a modernização patrocinada pelo governo municipal

com total apoio do governo federal. O escritor, em suas palavras explicita aquilo que Rolnik

(1997) denominou de modernização excludente. Artigo publicado quando a cidade era um

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grande canteiro de obras, é possível entender uma faceta do que seria o projeto Rio belle

époque para o grupo, a começar pelo título: o prefeito e o povo.

O senhor doutor Carlos Sampaio é um excelente prefeito, melhor do que ele só o Senhor Frontin. Eu sou habitante da cidade do Rio de Janeiro e, até, nela nasci; mas apesar disto, não sinto quase a ação administrativa de S. Exa. Para mim, sua excelência é um grande prefeito, não há dúvida alguma; mas de uma cidade de Zambézia ou Conchinchina. Vê-se que a principal preocupação do atual governador do Rio de Janeiro é dividi-lo em duas partes: uma será a européia e a outra, a indígena... Lembro-me dos silhares de caminhos romanos e do asfalto com que a prefeitura está cobrindo os areais desertos de Copacabana. Por que será que ela não reserva um pouquinho dos seus cuidados para essa útil rua das minhas vizinhanças, que até é caminho de defunto para o cemitério de Inhaúma... Penso que essa predileção dos prefeitos por Copacabana, há milonga; nada mais digo, porquanto tenho aconselhado aos meus vizinhos proprietários que a usem também... De resto, Municipalidade supõe-se ser, segundo origem, um governo popular que de atender, em primeiro lugar, ao interesse comum dos habitantes da cidade (comuna) e fornecer o mais possível a vida da gente pobre. Esses hotéis serão para ela? Municipalidades de todo o mundo constroem casas populares; a nossa, construindo hotéis chics, espera que, à vista do exemplo, os habitantes da Favela e do Salgueiro modifiquem o estilo de vida de suas barracas. Pode ser... O Senhor Carlos Sampaio também tem se preocupado muito com o plano de viação geral da cidade. Quem quiser, pode ir comodamente de automóvel da Avenida a Angra dos Reis, passando por Botafogo, Copacabana; mas, ninguém será capaz de ir a cavalo do Jacaré a Irajá Todos os seus esforços tendem para a educação do povo nas coisas do luxo e do gozo. A cidade e seus habitantes, ele os quer catitas... O Teatro Municipal é uma demonstração de como a municipalidade pode educar o povo, muito a contento. Construiu ali, na Avenida, aquele luxuoso edifício que nos está por mais de vinte mil contos. Para se ir lá, regulamente, um qualquer sujeito tem que gastar, só em vestuário, dinheiro que dá para ele viver e família, durante meses; as representações que lá se dão, são em línguas que só um reduzido número de pessoas entende; entretanto, o teatro Municipal, inclusive seu porão pomerizado, está concorrendo fortemente para a educação dos escriturários do Méier, dos mestres de oficina do Engenho de Dentro e dos soldados e lavadeiras da Favela. Não se pode negar... (CARETA 15/01/21)

Lima Barreto deixava claro que o prefeito considerava prioridade dotar uma parte

da cidade de serviços e equipamentos urbanos, inclusive porque em outros artigos ele se

manifestou contra os gastos excessivos das obras de urbanização que na prática estavam

gerando déficits de habitação para uma parcela da população e a estava empurrando para a

sub-urbe ou favelas. Entre os volumosos empréstimos, sempre com aval do governo federal

e senado, e o “silêncio” da câmara municipal, a gestão Carlos Sampaio consolidou a feição

do Rio moderno, com vias largas, calçadas espaçosas, transporte, luz, gás e telefone,

geograficamente em uma região da cidade, a zona sul.

O articulista buscou construir uma linearidade entre a construção do Teatro

Municipal, a gestão de Paulo de Frontin e a de Carlos Sampaio, montando a filiação de um

projeto que tem uma dupla face: a cidade indígena dos subúrbios abandonados a sua

própria sorte (e da iniciativa privada), e a cidade européia patrocinada pelas grandes

intervenções do Estado. Neste sentido, o aparecimento dos bairros da Urca e do Jardim

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Botânico pode ser visto como parte de um projeto de indução de determinado tipo de

ocupação da região, identificado pelo cronista como iniciado na gestão Passos.

O aterro e a urbanização da Urca se deram sem muitos problemas,

principalmente porque era uma área totalmente nova. O aterro da lagoa Rodrigo de Freitas e

a urbanização do Jardim Botânico tornaram-se problemáticos, pois a região era ocupada por

fábricas e operários. O projeto de ocupação da zona sul pelas classes mais altas não se

faria sem “guerra de posições” (ARANTES, 2000), notadamente porque passava pelo fim de

antigos usos e a expulsão dos moradores mais pobres.

Da mesma forma que o morro do Castelo fora identificado como lugar da

barbárie, a insalubridade da lagoa foi atrelada às fabricas e ao modo de vida dos operários.

Se de um lado, o saneamento começaria a inviabilizar o crescimento das indústrias (e suas

vilas operárias) como tinha acontecido até então; por outro lado, o loteamento e o jóquei

começaram a induzir um novo tipo de ocupação. Ainda haveria alguns rounds, como o do

Plano Agache ou o do conjunto habitacional Marquês de São Vicente até que o bairro se

consolidasse como um dos bairros mais elegantes da cidade.

5 AINDA ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A transformação da zona sul da cidade em de lugar de moradia e de lazer das

classes dominantes se deu pela dotação das maquinarias do conforto, símbolos da

modernidade e do progresso. Nos tempos do Império, apesar de Botafogo e Cosme Velho

abrigarem algumas residências da nobreza, São Cristóvão e adjacências concentraram a

Corte e justamente por isto as fábricas Corcovado e Carioca instalaram-se na lagoa,

subúrbio distante do centro. O processo de requalificação da zona sul deu-se ao longo da

república velha, capitaneado por um grupo, que entre outras coisas, conjugou política,

interesses financeiros e conhecimento técnico, pois muitos deles eram engenheiros.

Em pouco mais de dois anos o engenheiro prefeito além de algumas obras na

zona norte, arrasou o Morro do Castelo, e com o desmonte fez o aterro do calabouço, da

enseada da Glória e a Avenida Rui Barbosa (em torno do Morro da Viúva), além de parte da

Urca; dotou Copacabana, Ipanema e Leblon de moderna rede de telefone, saneou e aterrou

parte da lagoa e abriu novas ruas no jardim Botânico, reformou o passeio publico

construindo o cassino Beira Mar. Deixou a prefeitura coberta de dívidas, mas seu sucessor

concluiu todas as obras inacabadas.

A passagem de Carlos Sampaio pela prefeitura coincidiu com as festividades do

centenário e em função dela, as grandes intervenções puderam ser executadas. Foi também

durante a sua gestão que a zona sul começaria a ser identificada como lugar da

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modernidade e da elegância, inclusive foi com os concursos de sombrinha em Copacabana,

patrocinada pela prefeitura, que nasceria o famoso verão carioca.

Os periódicos nos dão conta das grandes transformações na estrutura urbana,

da mesma forma que permitem ver a construção das diversas imagens da cidade, seja do

subúrbio, seja da favela e da zona sul, esta última lócus do progresso, representado nas

corridas de baratinhas, dos telefones, nos usos da praia. No final do mandato de Sampaio a

zona sul emergia como produto da intervenção direta do Estado. Era este o Rio Belle

époque da qual faziam parte os novos bairros da Urca e Jardim Botânico. O outro lado deste

processo era o abandono dos subúrbios e a transformação da favela em questão social.

Faltam pesquisas e estudos mais aprofundados sobre os diversos projetos de

modernidade que estavam circulando na sociedade carioca desde o início do século. O

arrasamento Castelo permitiu que diversos grupos viessem a público expor suas leituras de

cidade, nesta discussão um grupo de engenheiros iniciou os debates que levariam a

constituição do urbanismo moderno, ao mesmo tempo em que consolidariam um projeto de

modernidade para uma parte da cidade.

Fonte: Extraído do livro A vitrine e o espelho, p. 108

Figura 5 - Mapa das obras realizadas durante a gestão de Carlos Sampaio

REFERÊNCIAS

ARANTES, Antônio Augusto. A Paisagem Paulistana. Campinas: ed.UNICAMP, 2000 CAMÕES, Eduardo Costa. Rio Antigo by Camões. Rio de Janeiro: Art Collection Studio Editora, 1994

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KESSEL, Carlos. A vitrine e o espelho: o Rio de Janeiro de Carlos Sampaio. Rio de Janeiro: DGDI/ Arquivo da cidade, 2001 (memória carioca, v 2) LOBO, Eulália Maria Lahmeyer (coord) O Rio de janeiro operário. Rio de Janeiro: Access editora, 1992 MELLO JUNIOR, Donato. Rio de Janeiro: planos, plantas e aparências. Rio de Janeiro: João Fortes Engenharia, 1988 MOTTA, Marly Silva da. A nação faz 100 anos: a questão nacional no centenário da independência. Rio de Janeiro: Ed FGV,1992 REIS, José de Oliveira. História Urbanística do Rio de Janeiro: o Rio a cidade dos pântanos e lagoas In. Revista Municipal de Engenharia, Rio de Janeiro, vol XL, jan-mar 1986 ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei. Legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel/FAPESP, 1997

TANGARI, Vera Regina. Espaço livre públicos como espaços museográficos. In Anais Seminário Internacional de Museografia e arquitetura de museus. http://www.fau.ufrj.br/prolugar/ 20red-vera%20t%E2ngari-fim.pdf. Acessado em 29 de junho de 2009 SAMPAIO, Carlos. Memórias históricas: obras na prefeitura do Rio de Janeiro. Lisboa: ed Lumen, 1924 SAMPAIO, Carlos. Ideas e Impressões. Paris: imprimerie E.Puyfoucat fils e Cia, 1929 SANTOS, Francisco Agenor de Noronha. As freguesias do Rio antigo. Rio de Janeiro: o cruzeiro,1965 TORRES. Jose Moreira. A lagoa Rodrigo de Freitas In Revista Municipal de Engenharia. Rio de Janeiro, vol XLI, jan-dez de 1990

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A CONSTRUÇÃO DA SÃO PAULO OPERÁRIA

Luciana Alem Gennari1

RESUMO

Os bairros tidos no imaginário paulistano como operários foram constituídos e consolidados nas primeiras décadas do século XX. Se, por um lado, o Estado assumiu de maneira reticente o controle deste processo e, por outro, a diversidade de interesses e de capital investido nem sempre contou com mão de obra qualificada, a tessitura urbana resultante foi homogênea. Problematizando o papel de cada um dos atores envolvidos neste processo, discutimos os limites da atuação pública e privada na consolidação de alguns bairros da cidade de São Paulo, tomando como exemplo o caso do Brás. Palavras-chave: São Paulo (cidade); urbanização;

ABSTRACT

São Paulo’s neighborhoods known as working-class districts were built and consolidated in the early twentieth century. On the one hand, the state has assumed reservedly this process’ control, and on the other hand the diversity of interests and investments couldn’t always count on specialized workforce; even so the urban form was uniform. Exposing the problems of the role of each agent involved in these proceedings, we discuss the limits of the public and the private participation relating to the process of the consolidation of several neighborhoods’ São Paulo, as Brás for example. Keywords: São Paulo; urbanization

1 INTRODUÇÃO2

A malha urbana da cidade de São Paulo hoje, conurbada e com seus limites

físicos difíceis de serem reconhecidos, tem consolidada em trechos contíguos parte da

história de sua constituição. Isto se deve pelo fato de sua tessitura urbana preservar as

estratégias de ocupação e de crescimento da cidade.

Desde meados do século XIX, diversas chácaras existentes nos subúrbios

começaram a ser retalhadas, subdividas em partes menores e vendidas, nos moldes de

1 Doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da

Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do GESTHU/IPPUR/UFRJ 2 Este trabalho é fruto da pesquisa para minha dissertação de mestrado em Estruturas Ambientais Urbanas, As casas em série do Brás e da Mooca: um aspecto da constituição da cidade de São Paulo, defendida em 2005 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

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lotes urbanos.3 De maneira geral, este foi o processo originário da abertura de diversos

bairros na cidade de São Paulo, localizados no entorno do antigo núcleo. Esta evolução não

foi homogênea ao longo do tempo, tampouco regida por interesses de mesma ordem.

IMAGENS 1-2. À esquerda, trecho extraído do Mappa Topographico do Municipio de São Paulo, executado pela empresa Sara Brasil, 1930, fls. 51 e 52. Acervo Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP; à direita, trecho extraído do Levantamento Aerofotogramétrico, executado pela empresa Base, 2002.

O trecho do bairro do Brás foi consolidado com esta forma até a década de 1930, a partir do loteamento de antigas chácaras e a construção majoritariamente habitacional. A estrutura dos lotes e o tipo de uso e ocupação do solo se preservaram até os dias de hoje, assim como muitos conjuntos de casas construídos até este período.

Os bairros que se formaram a partir deste movimento de expansão da cidade

para além do triângulo central,4 se constituíram tanto por intermédio de grandes capitais, que

de uma vez formaram áreas inteiras, como também por investimentos de menor vulto. Na

maioria das vezes esse processo de composição da micro-escala urbana é absorvido por

estudos de ordem mais abrangente sobre urbanização e aparece pouco ou genericamente

nas bibliografias.

No caso do presente trabalho, o adjetivo “operário” atribuído a alguns bairros

paulistanos, como Brás, Barra Funda, Mooca entre outros, mais do que um indicador sobre

sua ocupação, é um qualificador do tipo de edificações que formavam seu entorno, dos tipos

de uso que esses bairros comportavam. Indica as possibilidades de investimento que havia

no mercado imobiliário, majoritariamente no que diz respeito à construção de moradias ao

lado de galpões industriais.

3 Entendo aqui como lotes urbanos, os que foram fruto das subdivisões sucessivas destas chácaras suburbanas até o momento em que eles foram edificados. De maneira geral, eles apresentam grande profundidade e a testada estreita, cujas origens remetem à tradição medievo-renascentista portuguesa (REIS FILHO, 1995). 4 Ruas Direita, XV de Novembro e São Bento.

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Se, por um lado, era a iniciativa privada que investia massivamente neste

mercado, por outro lado o Estado ditava as diretrizes, através de promulgação de leis, do

que poderia coexistir nas diferentes áreas da cidade. Uma legislação aparentemente

genérica sobre as novas construções e reformas urbanas estabelecia de maneira

pragmática as fronteiras e a nova forma da cidade de São Paulo.

Este artigo procura problematizar o papel dos diferentes atores envolvidos no

curso do crescimento da malha urbana na virada para o século XX, durante a Primeira

República. O caso do bairro do Brás foi escolhido como emblemático de um lugar onde

havia a possibilidade de serem feitos diferentes tipos de investimentos, inclusive em

moradia.

2 ABERTURA DE BAIRROS E LEGISLAÇÃO

Até a promulgação do Código de Obras Arthur Saboya em 1929, o papel de

particulares na abertura de ruas e loteamentos era previsto por lei e sua ação neste sentido,

dentro da cidade de São Paulo, foi mais significativa que a do próprio poder público.

Segundo Bonduki (1998, p. 40), “[...] construir casas, ‘assumindo o papel de capitalista,’ era

incompatível com a concepção liberal do Estado vigente até 1930. Assim, durante a Primeira

República, privilegiou-se apenas o incentivo aos particulares [...].”

Brito (2000, p. 2) demonstra em seu trabalho como a atuação de empresas

privadas voltadas a “atividades urbanizadoras”5 define, a partir da contemplação dos

interesses de um grupo restrito ligado a este tipo de atividade, uma configuração urbana

que, entre outras coisas, evidencia no espaço as estratégias empresariais. É apresentada

essencialmente a produção urbana articulada pelo capital privado e empresarial, em

oposição à idéia da

[...] ausência de uma lógica articuladora dos interesses de proprietários imobiliários, empresas implementadoras de infra-estrutura urbana e administração pública, considerando que a abertura de arruamentos em São Paulo, na maior parte dos casos, foi fruto de iniciativas casuais, isoladas e desarticuladas entre si, muitas vezes encetadas por chacareiros, que se aproveitavam da valorização que beneficiou suas propriedades em virtude do crescimento da cidade, para retalhá-las.

5 Na introdução de sua dissertação, logo no primeiro parágrafo, Brito define genericamente o que considera ser “atividades urbanizadoras”: “[...] atividade empresarial privada voltada ao mercado imobiliário e à dotação material da cidade, incluindo aí a realização de loteamentos, as edificações, a produção de materiais para a construção, a implementação de equipamentos e serviços públicos urbanos, como transporte coletivo, abastecimento de água e iluminação, obras de saneamento e drenagem de várzeas, circulação viária.” (BRITO, 2000,p.1).

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Ela descarta a idéia do acaso que permeia os argumentos de alguns autores6

sobre a formação territorial da cidade de São Paulo e demonstra que houve uma lógica

organizadora neste processo, regida pelos interesses do capital privado articulado em torno

da atividade empresarial. Esta lógica voltada aos interesses de proprietários era a

confluência dos interesses ligados à abertura de novas áreas para negócios imobiliários e à

“dotação” da cidade de uma infra-estrutura urbana para sua valorização.

Estas grandes investidas da atividade empresarial privada, todavia, não

contemplaram a totalidade da constituição territorial da cidade. Há também os investimentos

privados de menor vulto, pouco ou não articulados e não necessariamente organizados no

sentido corporativista. Essas pequenas ações tinham participação nos meandros das

grandes transformações, posto que as ações locais particulares compreendessem uma

grande diversidade de investidores por não exigirem necessariamente grandes capitais

iniciais nem outros envolvimentos organizados de qualquer ordem.

São elas que estruturam uma significativa parte da cidade que não estava

compreendida nos loteamentos ou urbanização em grandes levas por investimentos em

extensas áreas de uma só vez. E ambas as ações não aconteciam necessariamente

isoladas uma da outra; se elas se interpolavam. Ambas também procuravam tirar algum

proveito do que a outra oferecia em suas áreas de atuação, como a infra-estrutura

implantada.7

Alguns estudos apontam modos de produção do espaço que indicam esses

processos parciais de transformação do tecido e da construção da/na cidade. Essas formas

de produção espacial se traduziam em grandes ou pequenos loteamentos produzidos para

todas as camadas da população. Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX,

algumas dessas atividades empreendedoras do capital privado, cuja ação se dava através

dessas empresas loteadoras, foram responsáveis pela construção de diferentes padrões de

áreas residenciais para atender às diferentes necessidades de uma população urbana

crescente.

Algumas dessas ações foram a abertura dos loteamentos dos Campos Elíseos

em 1880/90 por Glette e Nothmann; de Higienópolis em 1890 por Buchard e Nothmann; da

av. Paulista em 1890 por Joaquim Eugênio de Lima; a ação da Cia. City, com a implantação

a partir de 1914 dos bairros-jardins. O primeiro, e depois os outros sucessivamente,

inaugurou o modelo de bairro aristocrático exclusivamente residencial, uma maneira de se

ocupar e de se habitar a cidade. Estes bairros contaram no momento de sua constituição

com o respaldo de uma legislação específica, que delimitava tamanhos de lotes e recuos, de

6 É o caso de trechos citados dos trabalhos de: HOMEM, 1996: 25; MONBEIG, 1958: 190; PRADO JUNIOR, 1957: 137 (apud BRITO, 2000). 7 Refiro-me às áreas próximas ou intermediárias às que obtiveram investimentos urbanos de porte significativo para a cidade de São Paulo, como abertura de grandes loteamentos ou “dotação de infra-estrutura urbana," seja qual tenha sido a razão para que esses investimentos acontecessem em determinado local da cidade.

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forma a não permitirem a construção nestes espaços de imóveis destinados a usos menos

nobres (como fábricas), tampouco à população de baixa renda.

Esta ocupação passou a definir uma “geografia social da cidade,” cujas marcas

permaneceram no desenvolvimento urbano ao longo do século XX.8 Da mesma forma o

crescimento da cidade de São Paulo, para além dos limites de seu centro histórico, foi

influenciado por este movimento legal que já esboçava um zoneamento desses espaços, ou

pelo menos seu desejo (ROLNIK, 2003: 46-8). Uma sucessão de leis a partir do Código de

Posturas Municipal de 1886 apenas indicava os limites da cidade onde seus edifícios,

segundo seus padrões e seus equipamentos, deveriam estar.

Já neste código era previsto, no capítulo que tratava especificamente de

“cortiços, casas de operarios e cubículos,” que estes deveriam estar fora do “perimetro do

commercio.” Da mesma forma, as leis subseqüentes sempre determinaram que as

habitações de tipo operário fossem edificadas fora do perímetro urbano da cidade,

pretendendo com esta disposição cumprir dois objetivos principais. O primeiro era controlar

a salubridade das novas habitações a partir do estabelecimento de padrões mínimos de

construção, tendo como incentivo para quem os cumprisse alguns benefícios fiscais. O

outro, mais subjetivo, era o apartamento para as bordas da cidade de moradias destinadas

aos trabalhadores.9

Como aqueles bairros aristocráticos, outros também foram originados a partir do

retalhamento de propriedades ou chácaras, mas sem esse caráter exclusivista. O bairro do

Bom Retiro foi fruto do arruamento promovido por Manfredo Meyer em terras de sua

propriedade (BRITO, 2000). Segundo Rolnik (2003, p.114-5), o Bom Retiro foi, ao lado do

Brás e da Lapa, um dos primeiros subúrbios populares da cidade de São Paulo, antes

constituídos por chácaras e que, a partir de seus loteamentos, constituíram “pequenos

núcleos urbanos ligados à cidade propriamente dita atravessando grandes vazios.” No caso

do Brás, o grande vazio era constituído pela presença da várzea do Carmo.

Também algumas fábricas construíram vilas operárias para seus funcionários em

suas imediações,10 seguindo o modelo da habitação unifamiliar e, de maneira geral, dentro

dos padrões previstos pela legislação. Algumas dessas vilas limitavam-se a algumas casas,

enquanto outras funcionavam como verdadeiras cidadelas, contendo para uso coletivo de

8 Para além da questão da exclusividade, alguns trabalhos fazem referência a esses loteamentos como marcos de uma importante mudança no urbanismo paulistano em relação ao zoneamento ou, mais especificamente, ao uso do solo urbano. Entre outros cf. BRITO, 2000; SAMPAIO, 1994 e 1998; ROLNIK, 2003. 9 O tema higiene permeou grande parte das discussões acerca do urbanismo no final do século XIX. E especificamente com relação a sua aplicação, ou seu controle, nas habitações tomou corpo a partir da divulgação do Relatório da Comissão de Exame e Inspeção de Santa Ephigênia em 1893 onde a situação dos cortiços deste distrito foi levantada e estabeleceu-se formalmente a correlação entre as condições sanitárias das habitações com o alastramento das epidemias na cidade naquela época. Cf. entre outros autores BLAY, 1985; ROLNIK, 1998. 10 Alguns trabalhos estudaram mais a fundo o tema da vila operária construída pelos industriais para seus funcionários, estabelecendo, entre outras coisas, as implicações nas relações trabalhistas, sociais e do homem com sua habitação. Entre outros trabalhos, cf. BLAY, 1985; CORREIA, 1995. ROLNIK, 1981.

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seus moradores equipamentos urbanos, como escola, igreja, creche, enfermaria. Este foi o

caso da vila construída na Mooca para os funcionários da fábrica de calçados Clark em

1904 ou a vila Maria Zélia, famosa da literatura sobre habitação operária, construída no

Belenzinho por Jorge Street, inaugurada em 1916.

Bonduki (1998) chama a atenção para duas modalidades de construção de vilas

operárias: as promovidas pelas fábricas para seus operários e as promovidas por

investidores privados destinadas ao mercado de locação. Entre as iniciativas destes últimos

encontravam-se empresas, em cujo estatuto era prevista, entre seus objetivos, a abertura de

loteamentos e a construção de casas para aluguel11

Por outro lado, havia também a iniciativa de particulares, pessoas físicas que

investiam diferentes montantes de capital no mercado imobiliário. Dentre eles havia

industriais, profissionais liberais, donas de casa, imigrantes, letrados, analfabetos... Todos

eles tinham em comum o fato de serem proprietários e poderem utilizar essa inserção social

inclusive em documentos oficiais, como certidões. O fato de serem proprietários, de certa

forma, os credenciava a certa forma de inserção social.

3 CONSTRUÇÃO DE CASAS E ESTRUTURAÇÃO DO BRÁS

Foi bastante significativa para a formação do Brás a produção de habitações por

investidores privados, mais até do que a de vilas produzidas pelas fábricas para seus

operários. Estas ações ocorriam como investimento tanto em grandes áreas contíguas,

como na negociação e construção de lotes individuais. O conjunto delas consolidou o bairro

com a estrutura que ele mantém até hoje.

Reis Filho (1994) chama a atenção para o fato de que apesar da discrepância de

informações entre os loteamentos destinados às camadas de renda alta, os quais possuem

informações abundantes e sistematizadas, e os destinados às camadas de renda mais

baixa, são os mesmos loteadores que estão envolvidos em ambos os processos de

implantação dessas áreas. No caso do Brás, o grande investidor atua ao lado dos anônimos

e pequenos, aqueles que aplicam um montante menor no mercado imobiliário, mas

contribuem de forma significativa para a formação da área.

Ronik (2003) apresenta em seu trabalho o papel da legislação na determinação

de “fronteiras” dentro do processo de consolidação urbana da cidade de São Paulo e sua

relação com a produção imobiliária. Ela demonstra como essa legislação, a partir da

promulgação do Código de Posturas Municipal de 1886, cria espaços de segregação cada

vez mais claros, como o de moradia, de trabalho, dos imigrantes e assim por diante, da

mesma forma que essa legislação cria espaços de controle.

11 Um empreendimento bastante conhecido na literatura sobre habitação dessa natureza é a Vila Economizadora, construída no bairro da Luz pela Companhia Economizadora Paulista.

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Segundo a autora, o controle de partes da cidade significava o controle do que

haveria nelas ou do que poderia coexistir nesses espaços. Bairros como o Brás, que

contavam apenas com uma legislação genérica estipulando padrões mínimos de ocupação

das casas e de abertura das ruas, tinham uma margem bastante confortável para um

máximo de adensamento e livre aproveitamento do uso dos terrenos sem estar em

desacordo com a lei.

Desde o Império a iniciativa privada recebeu diversos incentivos para a

construção de vilas operárias. Esses incentivos consistiam principalmente na isenção de

impostos para importação de materiais. Além disso, de acordo com a Lei 498 de 14.12.1900,

a construção de casas operárias teve seus padrões construtivos reduzidos e

conseqüentemente o preço de sua construção também (BLAY, 1985; BONDUKI, 1998).

Desta forma, a construção de casas em padrão operário, que era estimulada nas

imediações das fábricas, poderia ser um bom negócio para o proprietário.

Porém, nem todas os projetos habitacionais submetidos à aprovação da

prefeitura sob a alcunha de “casas operarias” eram efetivamente destinadas a operários.

Segundo Lemos (1978: 132), esta era “uma escapada burocrática visando a menos gastos

nos processos de aprovação.” De acordo com o que estipulava a lei, a casa com um padrão

mínimo não diferia do padrão exigido para a construção de uma casa operária; uma casa

com “mais de um compartimento, cozinha e exgotto” é uma casa de, no mínimo, três

cômodos, inclusive a cozinha.

Essas casas com um padrão mínimo construtivo previsto por lei proliferaram pela

cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século XX, conforme novos loteamentos iam

sendo abertos e onde sua construção desse um bom retorno financeiro. Até meados do

século XIX, antes da abertura desses novos loteamentos, bem observa Rolnik (1998, p.

114), “não havia diferença marcante de estrutura fundiária entre as terras que compuseram

os arredores da cidade.” Este espaço foi se definindo na medida de sua ocupação e

segundo variados fatores, inclusive os interesses de quem tinha poder de decisão dentro da

cidade, político ou financeiro.

[...] Desde a crise da Abolição e o advento da República, se tornara uma prática corrente os donos de terrenos e chácaras na área urbana lotearem, arruarem ou venderem para esse fim suas propriedades. Assim foram se adensando bairros já existentes, se formando outros novos e aparecendo núcleos coloniais mais distantes [...]. Pelas várzeas, acompanhando as linhas de trens, se instalavam as indústrias e se formavam os bairros operários [...]. Pelas colinas adjacentes ao centro se expandiam os bairros de classe média, entremeados de bolsões mais antigos de casebres e gente humilde, enquanto, em torno do eixo Avenida São João, Avenida Angélica e Avenida Paulista, se localizavam os loteamentos mais abastados, formando bairros ponteados de grandes sobrados e mansões [...]. (SEVCENKO, 1992, p. 123).

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Havia por parte dos proprietários de imóveis o interesse de adensar ao máximo

as áreas onde a legislação permitisse, para se poder obter um maior aproveitamento do

terreno e, portanto, maior lucro em sua exploração. Segundo Rolnik (2003: 125),

[...] havia um pressuposto de que um negócio rentável de casas operárias requeria uma utilização mais intensa do lote e uma localização fora da ‘cidade’.12 Com isso consegue-se proteger o valor dos imóveis contidos na área central ou urbana [...] e, ao mesmo tempo, garantir uma alta remuneração do investimento. Essa alta remuneração advinha justamente da possibilidade de ofertar um maior número de unidades no mesmo terreno, além das isenções de impostos.

A isenção dos impostos para construção de vilas operárias com determinado

padrão construtivo fora do perímetro urbano da cidade de São Paulo, onde o Brás estava

localizado, era prevista na Lei n. 498, de 14.12.1900. E mesmo após alguns anos com sua

inclusão no perímetro urbano, estabelecido pela Lei n. 1788, de 28.5.1914, a construção de

casas com padrão operário neste bairro não se tornou ilegal, posto que segundo esta

mesma lei, pelo artigo 5º, era permitida a construção de vilas operárias nas imediações de

fábricas. O Brás era essencialmente um bairro fabril, graças, entre outros fatores, à

proximidade com a linha do trem.

A possibilidade deste adensamento conferiu ao bairro do Brás um caráter

bastante particular e que era encontrado também em outros bairros reconhecidamente

“operários.” A fileira de casas que compunha a paisagem, como uma sucessão de portas e

janelas com frisos nas platibandas e decoração em massa, era uma das características do

entorno.

Saindo-se da porta, que se abria diretamente para o mundo depois de um corredor comprido que começava num pé de caqui e desembocava na calçada, do lado direito ficava uma cancela. [...]. Na calçada do lado de cá ficavam as casas umas coladas nas outras, um portão ao lado do outro, um corredor junto de outro corredor. Olhando de fora, não dava para perceber que atrás das portas corriam vastos corredores que iam dar nos fundos onde havia sempre um pé de qualquer fruta. (DIAFÉRIA, 2002, p. 13-9).

A opção pela intensa subdivisão do terreno longitudinalmente, visando um

“máximo” aproveitamento e adensamento da região, gerava lotes13 cuja testada ocupava

uma pequena área na frente e era um tanto profundo. Este desenho acabava por determinar

12 Essa “cidade” significa estritamente o perímetro central da cidade, estabelecido pelo Ato n. 849, de 27.1.1916, capítulo I, art. 2º: “O primeiro perímetro ou central é o contido dentro das divisas seguintes: Começa no largo do Palacio e segue pelas ruas General Carneiro, 25 de Março, Anhangabahú, Florencio de Abreu, Mauá, Protestantes, General Couto de Magalhães, Ypiranga, Sete de Abril, ladeira e largo da Memoria, largo, ladeira e rua do Riachuelo, praça João Mendes, ruas do Theatro, 11 de Agosto, travessa da Sé, rua do Carmo e largo do Palacio, principio desta demarcação.” Ao longo deste trabalho, sempre que a palavra cidade for escrita entre aspas, terá este significado. 13 Estes são lotes típicos urbanos. Cf. nota 1.

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um tipo de implantação dessas casas que quando não permitia nenhum recuo lateral, havia

um pequeno afastamento que servia tanto para circulação quanto para ventilação dos

cômodos, sendo quase obrigatória sua disposição em seqüência.

Este tipo de loteamento foi uma das tônicas em bairros onde a legislação, sem o

caráter exclusivista, dava certa liberdade para o uso e a ocupação dos terrenos. Não houve

uma lei que estipulasse dimensões máximas e mínimas para a abertura de loteamentos

neste período. O desenho destes lotes, que visavam ao máximo adensamento urbano, foi

possível graças a dois aspectos complementares: a técnica e a lei.

A partir da promulgação do Código de Posturas Municipal de 1886, as leis que

dispunham sobre construções na cidade pretendiam controlar aspectos como altura e

alinhamento das fachadas, com a necessidade de alinhar construções e logradouros. Com

relação às dimensões da casa, legislavam sobre o tamanho de envasaduras, áreas mínimas

de ambientes, larguras mínimas de escadas e corredores e aspectos de caráter sanitarista,

como a necessidade de iluminação e ventilação diretas em todos os cômodos. O tamanho

dos lotes em si não era determinado pela legislação, ficando a critério de loteadores e donos

de terrenos.14

De maneira geral, nas áreas mais adensadas, a dimensão da testada do lote

variava conforme o tamanho da largura de um cômodo com suas paredes, que por lei

deveriam ter cada uma 30cm, acrescido da largura de um corredor lateral. A legislação

também não determinava a largura mínima de um cômodo, apenas sua área mínima e as

dimensões mínimas das envasaduras.

O uso do tijolo já vinha sendo largamente utilizado nas construções, em

oposição ao uso da taipa, a ponto dele vir como um pressuposto no Código Sanitário de

1894.15 Além disso, a utilização de tijolos, cimento e cal permitia um melhor aproveitamento

dos espaços construídos em lotes estreitos e possibilitavam a abertura de envasaduras em

todos os cômodos, o que era determinado por lei, sem comprometer a estrutura do edifício.

IMAGEM 3. Desenho baseado em um dos conjuntos de casas localizados no Brás, São Paulo. Nota-se a seqüência de portas e janelas que caracterizam a paisagem do bairro. As pequenas dimensôes das frentes das casas são possíveis graças ao uso de materiais como o tijolo.

14 A este respeito não foi encontrada nenhuma referência na legislação. 15 Segundo esta lei, era estipulada a necessidade do uso de material refratário em paredes com no mínimo 30cm de espessura. Esta espessura pressupunha o uso do tijolo, pois é impossível se considerar o uso da taipa com essas dimensões.

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4 CONCLUSÃO

Mesmo não tendo havido nenhum tipo de interesse explicitado na legislação

para que essa área servisse a algum uso exclusivo ou a qualquer fim, o Brás assumiu uma

identidade própria, a partir das diversidades dos usos que eram possíveis de serem

abarcados em seus espaços. A aparente displicência das leis ou do Estado em relação a

algumas áreas da cidade se revelou, em verdade, como uma estratégia para haver

flexibilidade quanto ao uso e à ocupação do solo.

A partir da retalhação das chácaras existentes nesses lados da cidade e durante

toda a primeira metade do século XX, houve esta legislação genérica que regia as questões

construtivas, o que deu bastante mobilidade para as decisões de uso e ocupação do solo,

frisando que essa mesma legislação regeu grande parte da construção dessa cidade em

expansão. A legislação, portanto, era mais um instrumento de legitimação para a

implantação nessa área de uma arquitetura e um urbanismo que servissem a diferentes fins,

determinados por outros fatores que não exclusivamente os legais.

Os investidores imobiliários por sua vez, independentemente do volume de

capital disponível para se investir no mercado da habitação, acabavam, guiados por um

mesmo propósito – o máximo aproveitamento dos terrenos, conferindo ao Brás uma

aparência bastante homogênea. A própria morfologia resultante destas ações era, no limite,

fruto daquilo o que ditava a legislação, ela própria preocupada com o controle do conjunto

urbano que vinha sendo construído.

A alcunha “operário” do bairro do Brás indicava, para além de seus ocupantes,

pois entre eles havia uma diversidade enorme de trabalhadores urbanos e não apenas os

das fábricas, o lugar onde o trabalho se localizava na cidade.

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INTERPRETAÇÃO DA PAISAGEM URBANA DE BELÉM ATRAVÉS DOS JARDINS URBANOS

Rubens O. de Andrade1

RESUMO

Pretende-se aqui debruçar-se sobre uma Belém novecentista e seus jardins analisando como esses espaços físicos influenciaram no cotidiano do cidadão em uma cidade equatorial com matizes culturais diversas. A nova paisagem expôs o homem amazônico e/ou estrangeiro aos sentidos e desenhos forjados a partir de propostas urbanísticas e, neste sentido, procura-se desbravar, no campo disciplinar das relações cidade/sociedade versus natureza, os seus caminhos de formação. Palavras-chave: jardins, Amazônia, Belém, paisagem.

ABSTRACT We intent to study the Belém in the 19th century and its gardens, analising how the spaces influenced the quotidian in a equatorial city with a cultural diversity. KeyWord: gardens, Amazônia, Belém, landscape.

1 INTRODUÇÃO

Para além do jardim: condicionantes históricos do desenho da paisagem de belém no

último quartel do século xix e a vida mental da cidade

Parte-se do pressuposto histórico que cidades-capitais da segunda metade do

século XIX, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador, experimentaram novas

formatações urbanas que alteram significativamente o desenho e os usos de sua paisagem.

Durante algum tempo, a ideologia européia praticada para as reformas urbanísticas em

cidades como Paris, Londres, Berlim dirigiram mudanças e se desdobraram pelo Brasil,

1 Professor de História da Arte, Paisagista e Doutorando do Programa de Pós-Graduação do

Instituto de Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ, Pesquisador do GESTHU/IPPUR/UFRJ.

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motivando ações vigorosas que por sua vez, manifestaram-se naquela paisagem pela

utilização dos métodos, dos instrumentos ou das práticas reformas urbanas externas.

No caso da região amazônica, o ideário urbanístico que firmava um cenário

moderno para nossas cidades, encontrou na Belém novecentista, um locus importante para

recepção, circulação e difusão dos fundamentos teóricos e práticos formulados pelos novos

discursos urbanos. Todavia, considera-se que a capital paraense, guardava desde o último

quartel do século XIX, certas singularidades dentro desse processo, pois, além da cidade se

mostrar atenta aos ecos modernizantes que chegavam do sudeste e nordeste do país, a

mesma também estava sintonizada às mudanças que ocorriam na Europa, devido em parte,

ao intermitente comércio que mantinha com os principais centros do Velho Mundo e a

América do Norte.

A perspectiva inicialmente apresentada redefine algumas relações urbanas que

se materializaram na cidade e de certa forma, nos propõe questionamentos ao processo de

transformação da paisagem urbana de uma capital que ainda possuia nessa fase, contornos

de uma cidade extremamente colonial. Destaca-se portanto, dois pontos fundamentais que

atravessam a questão e querem revelar: 1) que mecanismos foram utilizados para

redesenhar a paisagem e; 2) qual o caráter que o novo tecido urbano ganhou. No cenário

proposto, surgem desvios, variáveis e problemas dos mais diferentes matizes, porém,

aquele que diz respeito a discussão aqui trazida, dirige-se sobretudo, aos instrumentos

sócio-espaciais que operavam diretamente na re-organização do tecido urbano (inserção

jardins urbanos, avenidas arborizadas, discursos higienistas, entre outros dispositivos) e,

conseqüentemente, os cursos de ação que a sociedade construía em seu cotidiano, tendo

em vista as relações firmadas entre ela e os novos instrumentos urbanos que se erguem e

operam na materialidade de uma paisagem que se re-desenhava.

O argumento posto, também considera os efeitos do ambiente amazônico (clima,

florestas, rios) na re-organização e expansão da cidade sobretudo, as interfaces existentes

entre a paisagem artificializada que está em pleno processo de produção - recriada a partir

de inovadoras tecnologias, sofisticação estética e novos processos de relações sociais - e

paisagem natural que ainda surge como fator determinante e ao mesmo tempo, um limitador

profundo dos processos de apropriação daquele ambiente.

O re-desenho daquela paisagem foi pautado por uma política de melhoramentos

urbanos que aproximou Belém às ideologias que consubstanciavam a formação das

cidades-capitais do final do século XIX. Portanto a paisagem que surgia era um processo

que trazia consigo normatizações e práticas estabelecidas por novos códigos de postura do

tecido urbano, conscientização da sociedade para os mais diversificados instrumentos que

estavam sendo utilizados para aparelhar a cidade num visível processo de metropolização

de seus espaços e costumes. Tais ações se traduziam pelas mesmas equações espaciais,

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padrões morfológicos e tipológicos colocados em prática nas demais cidades-capitais do

país de fin de siècle, uma espécie roteiro a ser seguido à risca, perfilando uma a uma as

idéias, os materiais construtivos, os arranjos urbanos, os hábitos em suma, tudo aquilo que

desse a conotação de uma modernidade urgente necessária e que precisava ser instalada,

mesmo a revelia de certos sujeitos daquele ambiente urbano, naquela paisagem.

As características urbanas da Belém colonial surgem como um aporte valioso no

entendimento das formas paisagísticas que a cidade revelará na fase novecentista,

sobretudo, por sublinhar, ainda mais, as interações e tensões históricas existentes entre o

ambiente natural e o ambiente artificialmente construído. No raciocínio proposto se destaca

a importância do jardim, de fato, de uma paisagem projetada que na sua essência tem a

natureza amazônica como elemento vigoroso na sua composição, pois a vegetação nativa,

ainda ocupa amplos espaços e domina aquele território urbano.

O jardim ou, a paisagem projetada por sua forma, função, e demais

características agregadas, vai apresentando-se como elemento mediador entre a ordem

natural e a ordem da artificialidade que se firmar na urbe. Ao longo desse parâmetro talvez

caiba aqui parafrasear a filósofa Anne Cauquelain, sugerindo que a paisagem amazônica

que se quer inventar participa da eternidade da natureza, um constante existir, antes do

homem e, sem dúvida, depois dele. Em suma, a paisagem (nesse caso a amazônica) é uma

substânci (CAUQUELAIN, 2007, p. 39) que atravessa e prevalece naquele ambiente que

artificialmente se quer construir.

O jardim no tecido urbano de Belém não se revela como um elemento

morfológico que carrega o mero status de um canteiro, tendo como função primordial,

despertar o prazer ou o descanso momentâneo do passante. Ao dimensionar o caráter e a

forma como ele se inscreve aquela paisagem, avalia-se preliminarmente, que existem feixes

de complexas relações que não apenas se manifestam a partir de jogos tipológicas,

morfológicos ou de usos sócio-culturais. Entre os jardins e as formas urbanas de Belém há

continuidades, há conexões firmadas entre a natureza mimetizada e a natureza natural que

explicitamente ecoa e se faz presente nos limites da cidade. Essa natureza a percorre e

delimita os seus limites urbanos, ou seja, a floresta ou as águas cercam a forma peninsular

da cidade. Do outro lado do rio ou da baía a floresta também está presente e define o

panorama do horizonte que o observador capta num lance de vista.

A concretude dos jardins projetados de Belém na fase novecentistas, talvez

possam ser visto a partir da idéia de "janelas". Janelas que se firmam como pequenas

aberturas que se debruçam sobre o jardim natural que domina os limites urbanos da cidade,

que define a borda daquilo que é projetado e daquilo que é natural. O pressuposto opera

sobre inúmeras formas, podendo aqui ser revelado, de forma reducionista, ao se imaginar

as tramas das espécies vegetais que compõem seus parques; praças; e jardins; das

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sombras que delas se projetam nesses espaços, na forma como as massas arbóreas se

fundem no ambiente aéreo da cidade e propõe, na visão perspectiva do observador, a

presença de uma "floresta" que permeia, atravessa e convive com seus espaços urbanos

projetados.

Portanto, as relações entre os jardins paisagísticamente concebidos e a natureza

que atravessa Belém, a meu ver, vai além de um discurso esteticista que propõe como linha

de força, a idéia de transposição de formas e padrões calcados em desenho de jardins ou

paisagens retirados de modelos externos. A idéia que aqui se propõe é que o vigor da

floresta e da ambiência amazônica ainda parece ser o fator preponderante e condicional no

arranjo urbano que se plasma naquele território, mesmo que diversos outros instrumentos

urbanos, como traçado de avenidas, mobiliários urbanos e até convenções culturais

transitem e queira definir a forma final dessa paisagem.Será que a paisagem tem uma forma

final?

Talvez repouse nesse contexto algumas das singularidades sobre a história

urbana de Belém, sobretudo, nas relações produzidas entre cidade e natureza que se

revelam como um fator condicional e causal na forma e no modus operanti da construção

dessa cidade. Não se pode ignorar porém, que os enfretamentos, as exigências e as

experiências existenciais entre o homem amazônico e a natureza que ora domina, ora é

dominada cadenciam as transformações desse ambiente. Logo, é nessa paisagem

inventada que se revela uma espécie de paradoxo naturalizante desses domínios, pois ao

que parece, cada um dos elementos que a formam - seja eles próprios de uma natureza

natural ou vindo da ordem de um mundo artificializado -, ocupa lugares distintos nesse

contexto, agindo, por sua vez como elementos estratégicos na conformação da paisagem,

seja pelo ponto de vista das relações sociais de diversos grupos étnicos que ali escrevem a

sua história, ou pelos limites que se impõe, ou seja, onde termina e começa o ambiente

natural, onde começa e termina o ambiente artificializado, e/ou onde se dão as

simbioses dessas duas ordens de paisagem.

Diversas são as peculiaridades ao se analisar historicamente o tecido urbano de

Belém à época do recorte temático desse artigo. Ao se considerar estritamente as relações

entre o espaço natural e aqueles que sofreram intervenção - leia-se, a cidade que se

desenha entre a margem do rio e a floresta -, surge uma terceira modalidade espacial, que

surge como um ponto de inflexão dessa paisagem e ao mesmo tempo uma conexão entre

esses dois pólos distintos. Logo, entende-se que jardins, canteiros ajardinados, aléias

amplamente arborizadas da cidade são formatações urbanas que representam tanto a

inflexão quanto a conexão entre o natural e o naturalizante. Talvez a simbiose derradeira

ente o mundo natural amazônico - a floresta/os rios - e a cidade. A leitura proposta lançada

para a cidade novecentista se depara com uma longa experiência de organização de

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espaços livres públicos ou privados na cidade nesse sentido, onde a ordem do natural

parece historicamente atravessar o senso de urbanização que se constitui morfologicamente

no seu tecido urbano. A raiz dessa questão parece repousar ainda na fase colonial, onde a

presença de passeios públicos, jardins botânicos e largos amplamente arborizados surgem

como uma constante no desenho daquela paisagem oitocentista.

Os largos, praças. Jardins botânicos, canteiros da fase colonial da cidade,

necessariamente não são subtraídos do plano urbano novecentista, ao contrário, eles

ganham novos feições e usos a partir do viés discursivo da modernidade que aterrissa sobre

a cidade. Esses espaços livres públicos se tornam dispositivos eficazes que se agregam aos

planos de melhoramentos urbanos propostos pelo século XIX, agindo visivelmente, como

um fator que se harmoniza à paisagem. Tendo ou não uma forma pré-concebida, articulam-

se e se movem na construção da imagem da cidade. Esses espaços revelam, entre outras

coisas, variados planos, recortes de paisagem, divisores de ambiente, que surgem como

marcos urbanos centrais na formulação e na prática da nova ordem urbana que constituiu a

Belém do XIX.

A ordem urbana que define a condição existente entre natureza natural e a

natureza artificial nesse século XIX, enunciam variações sobre a mesma relação. Todavia os

novos arranjos urbanos ligados aos jardins não se identificam com as mesmas formas e as

mesmas escalas antes utilizadas na cidade colonial e, nem poderiam, pois a reformas

urbanas com suas novas tecnologias e estéticas firmaram diferentes negociações com a

paisagem natural já existente, possibilitando a criação de outros vínculos, outras

modalidades de usos e formatação. Admite-se esse pressuposto, mas ainda se percebe que

parece não existia uma súbita alteração na antiga equação adotada para a inserção de

jardins no tecido urbano. Vê-se portando que a idéia de continuar com um vínculo pleno com

a natureza natural que envolve a cidade, ocupa seus espaços e até mesmo limita sua

expansão ainda é algo definidor do desenho daquela paisagem.

A organização urbana de Belém, visivelmente priorizar a inserção de jardins

projetados na cidade, porém há distinções que se deparam com outras formas e dimensões

da malha urbana, indicado que áreas mais afastadas do centro da cidade por exemplo, não

se inscrevem efetivamente ao raio de ação proposto pelos projetos de melhoramentos

urbanos. Há sempre uma borda, um limite que se impõe e rege as intervenções. As

evidencias que os efeitos da modernidade concebida nos documentos de postura e nas

pranchetas dos gestores urbanos naquele momento foram limitados a áreas específicas da

cidade é marcante. Até aí nenhuma novidade, pois é uma constante que o espelhamento de

discursos construídos no plano das idéias ou nos projetos registrados à tinta, no papel,

dificilmente possuem fôlego suficiente para extrapolar os limites das áreas centrais, quando

se considera a totalidade do território urbano de cidade-capitais que viviam o mesmo

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A idéia que existe um encadeamento de ocorrências onde se conseguiu, entre

outras coisas, detectar a construção de uma equação que define não só a forma, como os

tipos e os usos da paisagem urbana nas propostas de melhoramentos urbanos do século

XIX, ainda surge como um arcabouço seguro a ser revisitado, haja vista que praticamente

todos os padrões urbanos, tipológicos e morfológicos são perfilados um a um como um

roteiro pré-establecido a cada nova intervenção urbana que se faz nesse período, não

importa qual o porte urbano da cidade ou a região. O arquétipo importado e a prática urbana

em exercício estão prontos a ser refeitos pelo prefeito ou intendente da vez, bastando para

isso a aquisição de recursos econômicos que dê conta co grau de reformulação pretendido.

Os condicionantes que definem esse arquétipo se revelam nessa analise através

da requalificação das relações mercantis; da distinção dos hábitos cotidianos; e da

adaptação de instrumentais e aparelhos modernizantes, corporificando-os na imagem de

cidade. É a partir daí que se entende que os jardins urbanos de Belém ganham vigor no

novo desenho imposto a essa paisagem. Se por um lado eles surgem fracionados no tecido

urbano, por outro, eles constroem uma ponte, mesmo que tênue, entre a paisagem

artificialmente redesenhada e a paisagem que vigorosamente emoldura e ativa as relações

do homem amazônico com a natureza que conduz e media as relações de convivência com

a região.

2. RELAÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS: condição e os estados mentais do homem urbano

Ora, qual seria então à primeira vista o resultado dessa nova realidade? Salve

engano, arrisca-se dizer que as práticas discursivas na paisagem produziram vetores de

profundas mudanças urbanas seja para o indivíduo, seja para espaço, seja no particular,

seja no geral. Com isso, criaram-se condições propícias, que em certos momentos,

converteu-se em categorias que re-desenharam a paisagem “individual” e/ou “coletiva”,

contribuindo assim para a composição de uma escala diferenciada de valores humanos, a

partir de agora, pluralizantes, cujas forças de atuação não só mediaram, mas, sobretudo

disciplinaram os fenômenos que tiveram como palco as praças, os parques, as avenidas em

suma, a cidade.

Toda a gama de formatos e formatações – materiais e imateriais – postados

nesse meio ambiente forjaram processos para o espaço urbano onde elementos como:

diversidade social versus a padronização, tipos sociais “ambíguos”, surgimento de outros

círculos de socialização na cidade, estado de excitação permanente, a proteção a partir de

uma sólida estrutura intelectual, a adaptação natural (bio e orgânica) e o indivíduo bio-

psicológico se impuseram como categorias estruturais à vida do homem metropolitano. De

forma mais generalizante, entende-se que quanto mais extenso o raio de atuação de cada

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um dos elementos acima citados, mais profundo e cristalizado se tornavam os níveis de

dominação, assimilação e controle a que o cidadão urbano se via exposto.

Logo, o efeito bruto desse processo, sinaliza um movimento permanentemente

de imersão do ser social e de seus estados mentais a uma conjuntura indutiva, cuja ordem

fenomenológica, flagrantemente acentuada por contrastes, rupturas, embates firmam uma

escala de valores humanos, que conforme os desdobramentos analíticos de Simmel "não é

mais constituída pelo “ser humano geral” em cada indivíduo, mas antes pela unicidade e

insubstitubilidade qualitativas do homem” (SIMMEL,1976). Portanto, a complexidade dos

valores incorporados a essa trajetória, as forças das circunstâncias e o labirinto de

processos do ambiente urbano não só desvendam a ordem subjacente dos fatos mais

também apresenta a função da metrópole, que ao ver de Simmel fornece a arena para o

combate e a reconciliação dos combatentes. (SIMMEL,1976).

Tais interfaces indicadas, dispostas sobre aquele espaço-tempo urbano,

redimensionaram toda uma cadeia de relações e inter-relações de processos, produtos e

resultados que ao final, combinados, propiciaram a criação de uma “nova” urbe. Urbe, aliás,

que criou e fortaleceu a intensificação de estímulos nervosos em seus indivíduos,

favorecendo em tese, a geração de um ritmo diferenciado e, uma nova ordenação de

referencias sócio-espaciais à cidade. Diante dos argumentos preliminares elencados, foi

possível centrar questões e entender os determinantes da ação que iluminam a formação da

paisagem novecentista de Belém. Neste sentido me limito a uma alternativa viável a

discussão dirigida a duas idéias fundamentais ao entendimento desse debate: a primeira se

pauta no contexto de quais seriam as escalas e o teor dos referenciais que atuaram nessa

sociedade e como os mesmos se refletiram na atitude mental de seus indivíduos? A

segunda, permite pensar numa direção não menos conflituosa.

A tentativa é: entender as conciliações que condicionavam relações sócio-

cultuais e identificavam o novo locus que a cidade começava a “re-inventar”, a partir do final

do século XIX, tendo em vista sempre, o diletantismo que permeava a produção de uma

senso de cosmopolitismo local. Através de ambas as questões tenta-se achar o fio condutor

que explique as traduções do modo de vida e de um sistema de tipos e formas espaciais,

estabelecidos morfologicamente no tecido urbano, que por sua vez, traziam em si um

arcabouço de referenciais externos que se hibridavam quando encontravam um sistema

sócio-espacial diferente da sua matiz.

A dinâmica sócio-espacial que se plasma e se “move” na paisagem urbana das

cidades-capitais no Brasil no final do século XIX, reserva, no caso específico de Belém,

“variações”, sobre o mesmo tema – as remodelações e novos hábitos urbanos – que

ocorreram em cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Recife entre outras. Nesse mesmo

contexto, não se distanciavam das análises, o estado de consciência de sua sociedade em

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relação à imagem da cidade revelava. Vale destacar, que o jogo de práticas econômicas, de

usos cotidianos e demais vetores urbanos potencializados no espaço urbano seja de Belém,

Recife ou Porto Alegre, constituíam, uma rede de fluxus e contra-fluxus de ideologias,

questionamentos, práticas e usos cotidianos que aparentemente possuíam pontos em

comum. As mesmas se mostravam fundamentais para o entendimento das correntes

fenomelógicas existentes no ambiente sócio-espacial da “nova” paisagem que se produzia

naquele espaço-tempo.

Todavia, diferenciações logicamente existiam. As mesmas, inclusive, poderiam

ser determinadas a partir de diversas vertentes de análise, que particularmente na Belém de

fim de século, surgiam pela forma de configuração do espaço, pelas condições ambientais e

ainda, pelas realidades de um “habitus amazônico” de vivenciar aquela paisagem, que por

sua vez, manifestava-se a de forma diferenciada e individualizada a cada individuo.

Ora, apesar da força desse pressuposto no entendimento dos domínios e das

práticas materializadas em solo metropolitano, não me parece simples ignorar o “peso sócio-

cultural” que o “habitus amazônico” tinha no dia a dia da cidade, considerando sobretudo, a

forma da natureza natural naquele ambiente urbano. Porém, em contrapartida, o habitante

de Belém, não estava privado e distante das maneirices de uma sociedade que, não apenas

queria parecer intelectualizada, em parte de seus extratos, mas efetivamente, movia-se

nessa direção. Logo, o status quo demonstrado nesse processo forjava um constructo

mental sensivelmente ancorado aos interesses de um homem muito mais urbano que rural

interessado em vivenciar, aceleradamente, os processos de remodelação de sua paisagem,

tendo nas praças, nos teatros, no comércio, no andar nas ruas, na vida noturna, o resultado

líquido de suas “ambições cosmopolitas”.

Pode-se então admitir que a ditadura dos novos sentidos e práticas da vida

urbana moderna parece ser um fator importante para entender os domínios que

caracterizavam o desenho daquela paisagem. Nesses termos, vale destacar, que havia um

sentido e um caráter em se desprezar hábitos que, no entender do homem metropolitano,

não mais faziam parte das ruas, das praças, das negociações urbanas que se efetivavam a

cada esquina da cidade. Portanto, os novos discursos e ações onde a economia do dinheiro

domina a metrópole (SIMMEL, 1976:14), acometia a cidade e revelava, conseqüentemente,

universos paralelos. Universos onde o ritmo das atividades urbanas, sobretudo daquelas

originadas das relações sócio-espaciais, tornavam-se múltiplas e complexas. Mais uma vez

o modos vivendi simulado nas avenidas, mercados, parques e praças, acabavam por

projetar a real escalada da metropolização da cidade, permitindo assim uma (re)visão de

mundo onde o homem, agora “homem público”, estava exposto às tensões e embates que a

vida moderna lhe impunha, fazendo-o re-avaliar sua independência e individualidade ante a

nova ordem social que dominava a metrópole.

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Belém, em particular, apresenta um conjunto fenômenos urbanos que me

parecem próximos a estas questões. Um deles pode ser referenciado pelas novas posturas

“urbanísticas”, fixadas para cidade, em especial uma cultura firmada de construção de

jardins e parques urbanos sofisticados em sua forma e nos usos que eles poderiam ter.

Estabelecida à argumentação, avalia-se que o exercício ora “gráfico”, ora discursivo posto

em prática na malha urbana, oferecia, ao cidadão metropolitano a chave de leitura de um

“novo estilo de vida”. Estilo esse, cuja ordem se assentava em uma escala de valores

diferenciados, expostos pela construção de uma paisagem de esferas hierarquizadas.

A apropriação operacional desse pensamento voltado a Belém, acaba por

definir, de acordo com as proposições de Simmel (Op. cit), a existência de condições

decisivas que entre outras coisas, promovem a diferenciação, o refinamento, o

enriquecimento das necessidades do público. Nesse processo, as categorias de análise

sintetizadas pelo autor, permitem que se amplie o quadro interpretativo da produção de

subjetividades no plano sócio-espacial da cidade, o que facilita entender as bases das

relações sociais que no ambiente cosmopolita, como também, a maneira como formas se

consubstanciavam na materialidade da paisagem.

O desvendamento desses conceitos desdobram-se na imagem da cidade, uma

vez que as tipologias das fachadas de prédios públicos e particulares, os estilos de

desenhos de praças ou de ruas arborizadas; como também, as mudanças mentais impostas

a natureza e estilo de vida do cidadão, indicavam, singularidades que podem ser avaliadas

na seguinte chave de leitura :

a) havia um processo latente de disciplinarização e ordenação das novas

ocupações sociais, construídas pela multiplicidade rítmica da vida

metropolitana;

b) criaram-se instrumentais ideológicos de reordenação das relações entre a

individualidade pessoal e coletiva que permeavam o espaço urbano; e

c) houve adoção de peculiaridades tendenciosas, extravagantes e,

especificamente metropolitanas do maneirismo, capricho e preciosismo que

conduziam e direcionavam o crescimento das diferenças daquele homem

público.

Há muitos outros exemplos para demonstrar as curiosas negociações praticadas

no espaço urbano de Belém e de outras capitais do país no mesmo recorte temporal, porém,

considerado a extensão de suas complexidades inscritas a esse contexto, admite-se por

hora certas reduções conceituais e, por conseguinte indaga-se: Qual então o resultado

disso?

Em vista disso, quaisquer que sejam as vantagens ou desvantagens de

decompor o sistema analítico das relações sócio-espaciais, submetidas às condições da

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vida do homem metropolitano é possível antever seus efeitos, leia-se, resultados. Os

mesmos com freqüência repousam num intrincado caráter mental de hábitos e

comportamentos surgidos, experimentados e reproduzidos na esfera urbana. Posto isso,

avalia-se: à medida que se diluem os componentes dos diferentes processos que se

manifestavam na imagem da cidade, os mesmos partilhavam, em tese, dados comuns

(tipologias arquitetônicas, códigos jurídicos/religiosos, atividades mercantis, ambigüidades

políticas, relações servis, etc.), que permitiam a identificação, a decodificação e a

assimilação de como se realizavam negociações, tanto na esfera social, a partir da

interlocução de pessoas com interesse diferenciados, como na integração de distintas

espacialidades que ocupavam e pontuavam a paisagem urbana.

Abordando outra singularidade que se aproxima as questões aqui propostas, é

importante destacar que a mesma se volta a ideologia de higienismo e embelezamento

corrente no século XIX, e sua estreita relação com os planos de reformulação das cidades-

capitais no Brasil. Nota-se que reproduzir na imagem da cidade as proposições, os

símbolos, os valores, em suma, os domínios de uma cultura exógena a nossa apresentava-

se como a direção que deveria ser seguida. Ora, tal fenômeno urbano provocou em tese, a

criação de uma paisagem que manifestava as mais variadas ações que traziam

impregnados em si, sentidos e significações de uma cultura, que necessariamente não

refletiam a nem a ordem, nem a vocação original do cotidiano daquela paisagem. Portando,

tais elementos antagônicos, forjados na cidade de Belém, ou em outras cidades-capitais do

país, construíam um cotidiano urbano, onde a perspectiva técnico-formal impunha entre

outras coisas, um desenho de cidade cuja morfologia dos seus traçados, a tipologia de sua

arquitetura e os usos de seus espaços públicos, estavam sensivelmente traduzidos a partir

de matiz estrangeira, quase sempre mediada pelas formatações das reformas urbanísticas

propostas para Paris e Londres.

Considerando esse contexto, percebe-se no espaço urbano de Belém a

pluralização de atividades, ações e instrumentais que por sua vez, sinalizam o alinhamento

da imagem da cidade aos discursos de modernização europeu. Esses discursos,

invariavelmente, foram traduzidos a partir de equações urbanísticas que ganhavam forma e

caráter nas remodelações da paisagem materializadas nas principais cidades capitais do

país. Os indícios do pretendido progresso, no caso de Belém, manifestavam-se através em

inúmeras obras na capital e os jardins eram um elemento sui generes nesse discurso. De

fato, as melhorias caracterizadas por sua forma pontual e seu caráter reducionista em sua

maioria, contraditoriamente adquiriam energia e eficácia, potencializando a criação de

símbolos, impressões e hábitos que recaiam não apenas sobre a paisagem, mas

especialmente na figura do homem público, que quer ser conhecido como um o tipo

metropolitano, dotado de consciência e intelectualidade suficiente para reagir e interagir com

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os fenômenos que se descortinam no universo da vida urbana que a cidade, com todos os

aparatos e instrumentais da modernidade lhes oferece.

Outra frente importante a ser analisada nesta direção refere-se ao aspecto

estético da cidade. Sob essa perspectiva não se deve perder de vista os parâmetros já

relacionados aos ideais sanitaristas, pois eles somam-se às características que envolvem o

discurso de embelezamento e ambos, conjuntamente, propagavam mudanças na imagem

da cidade, e estavam circunscritos à órbita da cultura da modernidade. Ao confrontar esses

condicionantes com a historiografia urbanística do século XIX, faz-se necessário refletir,

rapidamente, sobre alguns condicionantes relacionados à Paris, cidade, segundo inúmeras

reflexões já realizadas, transformaram-se num protótipo, numa cidade que conseguiu

cristalizar, os ideais propostos ao Homem pelas mudanças do século XIX.

A ideologia reformadora da paisagem parisiense, seguramente, gerou inúmeros

conceitos, teorias, poemas, músicas, imagens etc., que revelaram além do surgimento e

materialização da imagem desse novo ideal de cidade moderna novecentista, como se

tornou um símbolo de modernidade. Portanto de acordo com esse contexto, entende-se

que os modelos consubstanciados na ideologia da forma urbana parisiense tornaram-se

amplamente difundidos nas capitais da Europa e também em cidades do continente

americano como Buenos Aires, La Plata, Washington, apenas para citar alguns exemplos.

No caso particular do Brasil, as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador,

Porto Alegre e Belém são exemplos contundentes de capitais que submeteram parte do seu

espaço urbano a uma estética (ideologia de embelezamento) comprovadamente inspirada

no protótipo criado pelos gestores da capital francesa. Ao reforçar a intensa ascendência

que os ideais de embelezamento urbano dessas reformas exerciam sobre duas das mais

significativas capitais do país, Segawa declara: “as grandes reformas urbanas na

administração do Barão de Haussmann em Paris (1853-1870) e o empreendimento similar

pelo prefeito Pereira Passos no Rio de Janeiro (1903-1906) inspiravam iniciativas de mesma

natureza para São Paulo” (SEGAWA, 2000:17).

3 O DESEJO FRAGMENTADO: instrumentais teóricos, conceituais das intervenções na

paisagem urbana e na criação de jardins urbanos.

O estabelecimento de espaços públicos – jardins, praças, parques – em Belém-

Pará foi uma prática reincidente na cidade se considerarmos a criação de locais específicos

para a contemplação e o desfrute da paisagem, como foi o caso da organização do jardim

botânico e o passeio público ainda no período Colonial. Porém foi o século XIX, em função

das novas mentalidades de seus atores sociais, que proporcionaram a consolidação de sua

trama urbana como a reformulação de sua grelha colonial, provocando, entre outras coisas,

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a definição de padrões diferenciados para urbe, a partir de novos instrumentais ideológicos

produzidos pela modernidade.

Tais fenômenos incorporaram uma nova ordem de valor à cidade, trazendo entre

outras coisas, a importação de novas tecnologias e a adoção de modelos de organização

sócio-espacial para o seu tecido urbano, traduzidos do matiz europeu. Nesse sentido, a

cidade materializou um padrão estrutural mediado pelos conceitos de higienismo,

sanitarismo e embelezamento que invariavelmente, foi propagado por outras cidades-

capitais no Brasil, no mesmo período.

Tendo como ponto de partida a trajetória da construção dessa paisagem, seus

processos de formação e os diversificados fenômenos que nela se deram, pretende-se

evidenciar nesse trabalho, alguns aspectos que se destacam na criação dos espaços

públicos a área central de Belém. Ao longo das questões aqui tratadas, os usos cotidianos

que se materializaram naquele espaço-tempo também serão quesitos relevantes a serem

tocados nessa discussão, para que se possam indicar elementos e levantar questões que

contribuam para o entendimento das formatações matérias e imateriais que se instituíram no

desenho de sua paisagem no referido período.

A intendência Municipal planejou diretrizes em que a visão de todo parecia estar

mediada por um aporte sistêmico e global das propostas e discursos instituídos, pois ao se

analisar o âmago das obras de melhorias públicas implementadas na cidade, concluiu-se

que apesar de se apresentarem múltiplas, na prática eram pontuais. Logo, as mesmas não

se materializaram em sua plenitude no desenho da paisagem de Belém como foram

concebidas. Ainda nessa direção de entendimento, ao se analisar as propostas e os textos

reproduzidos nos Relatórios Municipais apresentados a Câmara, a partir de 1900, é possível

avaliar a dimensão das obras propostas para a cidade e as preocupações de “curar” hábitos

cotidianos “atrasados” de sua sociedade. Os registros além de tratar minuciosamente tais

problemáticas já traziam em si ações profiláticas, na tentativa de sanar aos males urbanos

que assolava a sociedade e a sua paisagem urbana.

Nos relatórios municipais estavam descritos também os novos rumos que a

cidade deveria adquirir, seja na forma de planos ou mesmo na descrição de obras já

efetuadas na cidade. O empreendimento urbano proposto pelos atores políticos sintetizava-

se através do estabelecimento de parâmetros onde o alvo era beneficiar a malha urbana

com uma infraestrutura básica (água, esgoto, luz, comunicações e transportes) o que,

operacionalmente, abrangia o programa da intendência, bipolarizado pela ideologia urbana

do sanear e embelezar a urbe.

Outra referência emblemática ao novo rumo que a intendência municipal adotou,

pode ser exemplificado, aqui, a partir da idéia de reordenação, restauração e criação de

espaços públicos. Os determinantes da ação podem ser identificados, nos discursos da

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intendência, cujos objetivos exaltavam a importância da inserção do verde, de forma

organizada no espaço urbano da cidade. Fica evidente o ideal da administração pública em

querer dotar a área central da cidade de um número significativo de áreas públicas

ajardinadas e avenidas arborizadas, visando não somente o desfrute do espaço pela

população, como também a venda, para o exterior de uma cidade alinhada com a lógica da

modernidade produzida na Europa.

Os Relatórios Municipais, além de estarem repletos de referências sobre as

obras realizadas nessa esfera, devido à grande incidência com que o assunto é tratado no

texto, ainda deixam claras e contundentes evidências da vigorosa influência da adoção de

modelo estrangeiro na concepção dos espaços livres na cidade, seja pelo seu conceito, ou

pelos elementos que compõem a sua morfologia, ou, ainda, pela opção por um mobiliário

urbano importado, e por fim, pelo modo como a população dele se utilizou.

4 CONCLUSÃO

Os jardins - ações, efeitos e resultantes

Os conceitos intervencionistas adotados pela municipalidade, não tinham

necessariamente o objetivo de “datar” as alterações urbanas a sua época ou as limitar a

aspectos meramente técnicos. Seus objetivos iam além. Como então justificar essa

premissa? Talvez, observar atentamente as obras instituídas na cidade para compor o seu

patrimônio paisagístico possa ser um caminho seguro para antever o pensamento da

intendência, uma vez que a paisagem desenhada através de novos espaços projetados e a

restauração ou remodelação de outros, só vem confirmar os ideais concebidos por esta

administração que, além de ter como uma das principais aspirações melhorar a imagem de

Belém previa ainda, já no início do século XX, constituir, no desenho de sua paisagem, uma

silhueta compatível à de uma grande “metrópole”, sobretudo na sua área central, onde há

uma incidência de grandes praças e largos públicos.

Convém apontar que no entender de seus gestores, historicamente a vocação

natural da capital paraense era a de ser uma grande e “moderna” cidade tanto de seu tempo

como também para a posteridade. Entretanto, vale registrar que o processo vivenciado por

Belém se deparou com os negativos desdobramentos inerentes à queda do comércio da

borracha, fazendo com que a mesma sofresse um processo inverso àquele vivido durante

três décadas, gerando assim fase de estagnação e de certa forma, um retrocesso em

diversos níveis da estrutura urbana da cidade nas décadas seguintes, causando sérias

conseqüências socioeconômicas e culturais para cidade, e, por fim, alterando sobremaneira

a previsão dos gestores desse específico momento histórico.

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Voltando à formação das propostas da intendência se destaca que as mesmas

seguiam um rigoroso critério de avaliação dos diversos aspectos relacionados às

intervenções na paisagem. A premissa de que estudos técnicos deveriam sempre subsidiar

todas as intervenções dos profissionais responsáveis pelas obras, era um fato amplamente

difundido. Um exemplo disso por ser visto a partir das questões climáticas que mostravam-

se como um elemento a parte quando a questão fundamentava-se no aspecto sanitarista.

Inicialmente deve-se levar em conta que o clima equatorial úmido, além de atingir altas

temperaturas, demonstrava ser um problema ambiental sério para a cidade. Esse rigor

climático e os desdobramentos negativos para a população confirmavam ser patente sua

influência na tomada de medidas urgentes para que as reformas no espaço urbano logo se

efetivassem e, de certa forma, trouxessem uma solução, ou ao menos amenizassem essa

os problemas de saúde pública a ele condicionado. Os dois problemas centrais decorrentes

do clima relacionavam-se à incipiente presença de árvores nas ruas, parques e praças e,

também, à estrutura de suas ruas geralmente curtas e estreitas, dificultando, portanto, uma

ventilação ideal. Ambos os problemas geravam uma acentuada falta de salubridade à

população de Belém.

O entendimento de toda a problemática climática de Belém levou o corpo técnico

administrativo a se posicionar diante da situação, formulando assim uma série de medidas

metodologicamente planejadas e tecnicamente estruturadas, com vistas a contemplar a

execução de obras na cidade objetivando minorar o desconforto ambiental da população.

Entre as propostas concebidas, vê-se a criação de parques, praças e o estabelecimento de

códigos mais abrangentes para evitar o desmatamento predatório em diversas áreas do

município. Particularmente sobre essa questão se faz um adendo importante, pois foram

relevantes os esforços da intendência em conjunto com o governo do Estado à época,

buscando evitar o progressivo desmate das matas nas áreas vizinhas a Belém. Acreditava-

se que a continuidade dessa prática, que visava principalmente a produção de carvão,

estava afetando sensivelmente o clima da cidade, acentuando, ainda mais, os problemas já

existentes.

Através da adoção de um plano estratégico para arborização, buscava-se

materializar no espaço urbano de Belém, uma “política paisagística”, onde a inserção do

estrato arbóreo de forma organizada e profusa objetivava atuar no tecido urbano como um

elemento interador e articulador da paisagem, interligando praças, parques, bosques, largos,

pontos distintos e extremos da cidade, criando assim, a meu juízo, uma “unidade

paisagística”. Quanto ao termo, “unidade paisagística”, convém utilizar algumas linhas para

esclarecer melhor o porquê desse posicionamento. Essa idéia foi construído a partir do

entendimento que a abrangência do plano de arborização era amplo e de certo modo,

irrestrito, explicando melhor, o direcionamento dado à proposta, indicava a opção por

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determinadas espécies para compor o estrato arbóreo da cidade que, por sua vez, deveria

estar a contento, tanto ao aspecto relacionado à salubridade como também ao fator estético.

A Diretoria de parques, jardins e praças conforme registra o Relatório Municipal

de 1902, e o próprio intendente Antonio Lemos, entenderam que havia espécies que

respondiam perfeitamente ao parâmetro definido pelos técnicos da administração. Dentre as

possíveis espécies listadas, praticamente foi definido um número reduzido de árvores para

produção no horto e um posterior uso na composição da paisagem urbana de Belém.

De acordo com o raciocínio até aqui apresentado, foram diversos os problemas

que se revelaram como entraves para um pleno redesenho da paisagem de Belém. Até

agora já foram exemplificados alguns deles relacionados aos aspectos ambientais e também

aos funcionais. Entretanto, a perspectiva do embelezamento que se liga estritamente ao

contexto estético, ao belo, é outra discussão que merece ser vista de forma mais detalhada,

pois, se as preocupações ambientais e funcionais demonstravam ser problemas prioritários

e dignos de medidas emergenciais para se resolvê-los. A mesma ordem de grandeza

poderia ser direcionada, e foi, para solucionar os conflitos que impediam Belém de

apresentar-se como uma cidade mais bela (sob o prisma da estética urbana). Só ruas

arborizadas, sistema de esgoto, crematório de lixo ou a rede de telefonia não eram

elementos suficientes para justificar o título, ou padrão, almejado pelos gestores urbanos.

Deveria haver algo mais. Medidas isolacionistas também não alcançariam o

âmago da questão, pois ao ver da administração municipal as obras de embelezamento da

cidade deveriam estar articuladas e seguir paralelamente as demais atividades que estavam

sendo efetuadas na cidade, seja elas de infraestrutura ou não, demonstrando, assim, que as

propostas de melhoramentos não só eram amplas e irrestritas, mas também buscavam,

sobretudo, um objetivo claro: construir uma imagem de Belém utilizando de elementos

(arquitetura de suas edificações, de sua paisagem) que viessem justificar, em sua

totalidade, os conceitos de embelezamento urbano em voga na época, considerando,

sobretudo, o valor estético, que por sua vez, veio a se tornar o epicentro da questão e o

grande destaque no redesenho dessa paisagem. Nessa direção, começaram a se multiplicar

na área central da cidade, com base no Código de Posturas, uma série de edificações de

alto padrão com uma tipologia francamente inspirada na arquitetura de linhas européias.

Sob a égide dos novos postulados a administração pública realizou,

simultaneamente, um número aproximado de dez significativas obras em espaços livres

públicos da cidade abrangendo, especificamente, as praças. Essas intervenções incluíam

tanto a criação de novos espaços livres como também a adaptação de espaços já

existentes. Algumas intervenções se mostraram tão radicais que o fato de considerá-las

como mera adequação do espaço a um novo programa, uma nova função, uma nova

estética, chega a ser um exagero, senão um erro de interpretação, pois esses espaços

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antes das obras impetradas, em geral, apresentavam-se sem o menor requinte, não

havendo necessariamente um plano definido, que ordenasse de uma forma convincente

aquela paisagem.

Foram as novas formações ideológicas da administração municipal que

permitiram uma releitura para tais espaços, lhes conferido assim um projeto paisagístico

específico com características extremamente distintas. Esse fato elevou sobremaneira a

preocupação com os aspectos estéticos na composição da paisagem e conseqüentemente

atingiu grande prestígio junto aos técnicos da intendência. Dessa forma, antes de se pensar

em redesenhar a paisagem, deveria ser considerados uma série de pressupostos para tal

empreitada. A partir desse momento todos os projetos passavam por um apurado processo

de elaboração, haja vista, a forma como as praças e os parques da cidade se

apresentavam.

As preocupações estavam circunscritas aos seus traçados reguladores (desenho

formal) que lhe seria atribuído, formalizando alamedas, passeios ou canteiros ajardinados; a

composição dos estratos vegetais – forração, arbustivos e arbóreos – a implantação de um

específico mobiliário urbano ou de jardins como, por exemplo, pontes, pavilhões, gazebos,

pérgulas, bancos, lixeiras, postes de iluminação, fontes, chafarizes, lagos artificiais,

esculturas, balaustradas, cercas de ferro enfim, nas diversas especificidades imanentes a

uma proposta projetual de intervenção na paisagem, perpassando por aspectos, estéticos,

funcionais, etc. para que fossem tecnicamente contemplados, demonstrando assim outra

preocupação, de estar alinhada a vanguarda das intervenções paisagísticas ocorridas nesse

período em outra cidade capitais, principalmente às cidades européias.

REFERÊNCIAS

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