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REVISTA PORTAL de Divulgação (São Paulo), n.31. Ano III. Abril 2013, ISSN 21783454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 6 Análise dos fatores de risco associados a quedas de idosos no domicílio Wenersâmio Araújo de Moura Luz Marilia Braga Marques Nádya dos Santos Moura Eduardo Carvalho de Souza Ana Larissa Gomes Machado Introdução s quedas em pessoas idosas são eventos muito importantes em decorrência da maior vulnerabilidade dessa parcela da população, resultando em comprometimentos de gravidade variável. Além disso, podem ser responsáveis por declínio da capacidade funcional, da qualidade de vida dos idosos e do aumento do risco de institucionalização, de fraturas e morte (CRUZ et al., 2012). A prevalência de quedas no Brasil chega a 27,6%, sendo mais frequente no sexo feminino, em idosos longevos, sedentários e obesos (SIQUEIRA et al., 2011). Os fatores intrínsecos responsáveis pelas quedas seriam decorrentes das alterações relacionadas ao processo de envelhecimento, como distúrbios osteomusculares e de equilíbrio, às comorbidades e à polifarmácia ou, extrinsecamente, resultariam de circunstâncias sociais e ambientais, criando um desafio aos idosos (SILVA et al., 2007). Os locais de maior ocorrência desses eventos podem parecer os mais seguros possíveis, pela familiaridade, e tornarem-se um ambiente de risco. O indivíduo tem sua prontidão diminuída em consequência da autoconfiança provocada pelo conhecimento do ambiente em que vive. A atenção fica reduzida porque as atividades que desempenham, em seu lar, são costumeiras. Muitas situações corriqueiras em sua juventude passam a representar perigos iminentes (SILVA et al., 2007). A identificação dos fatores associados às quedas em idosos contribuiria para a elucidação de fenômenos causais, propiciando o desenvolvimento de estratégias preventivas precoces, em nível domiciliar e comunitário. Destacam-se como objetivos do estudo identificar os fatores de risco, intrínsecos e extrínsecos, que contribuem para a ocorrência de quedas de idosos no domicílio e descrever as consequências que o evento significa para a vida dos mesmos. A

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    Anlise dos fatores de risco associados

    a quedas de idosos no domiclio

    Wenersmio Arajo de Moura Luz Marilia Braga Marques

    Ndya dos Santos Moura Eduardo Carvalho de Souza

    Ana Larissa Gomes Machado

    Introduo

    s quedas em pessoas idosas so eventos muito importantes em decorrncia da maior vulnerabilidade dessa parcela da populao, resultando em comprometimentos de gravidade varivel. Alm disso,

    podem ser responsveis por declnio da capacidade funcional, da qualidade de vida dos idosos e do aumento do risco de institucionalizao, de fraturas e morte (CRUZ et al., 2012). A prevalncia de quedas no Brasil chega a 27,6%, sendo mais frequente no sexo feminino, em idosos longevos, sedentrios e obesos (SIQUEIRA et al., 2011). Os fatores intrnsecos responsveis pelas quedas seriam decorrentes das alteraes relacionadas ao processo de envelhecimento, como distrbios osteomusculares e de equilbrio, s comorbidades e polifarmcia ou, extrinsecamente, resultariam de circunstncias sociais e ambientais, criando um desafio aos idosos (SILVA et al., 2007). Os locais de maior ocorrncia desses eventos podem parecer os mais seguros possveis, pela familiaridade, e tornarem-se um ambiente de risco. O indivduo tem sua prontido diminuda em consequncia da autoconfiana provocada pelo conhecimento do ambiente em que vive. A ateno fica reduzida porque as atividades que desempenham, em seu lar, so costumeiras. Muitas situaes corriqueiras em sua juventude passam a representar perigos iminentes (SILVA et al., 2007). A identificao dos fatores associados s quedas em idosos contribuiria para a elucidao de fenmenos causais, propiciando o desenvolvimento de estratgias preventivas precoces, em nvel domiciliar e comunitrio. Destacam-se como objetivos do estudo identificar os fatores de risco, intrnsecos e extrnsecos, que contribuem para a ocorrncia de quedas de idosos no domiclio e descrever as consequncias que o evento significa para a vida dos mesmos.

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    Mtodos Trata-se de estudo transversal, analtico, com abordagem quantitativa, desenvolvido de abril a dezembro de 2010, em uma Unidade de Sade da Famlia - USF, localizada no municpio de Picos PI, escolhida por convenincia, a qual atendia a 1122 famlias.

    A amostra compe-se de 102 idosos, calculada por meio de frmula para populao finita (Pocock, 1989). Ocorreram visitas unidade de sade, momento em que acontecia o primeiro contato com os usurios. Os participantes selecionados obedeceram aos seguintes critrios de incluso: idade igual ou superior a 60 anos e residir no bairro onde se localizava a unidade de sade. J o critrio de excluso foi ter dificuldades para manter um dilogo compreensvel, independentemente do fator causador. A coleta de dados aconteceu nos meses de agosto e setembro de 2010, pela visita domiciliria previamente agendada com os participantes, junto com os agentes comunitrios de sade indicados pelos enfermeiros da USF. Utilizou-se um formulrio semiestruturado para a coleta de dados, o qual teve como finalidade obter informaes a respeito do idoso e do seu histrico de quedas. O instrumento continha informaes sobre dados pessoais (idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda), hbitos e sade (prtica de atividade fsica, uso de medicamento, problema de viso e/ou audio), caractersticas da casa (presena de desnvel no terreno, se apresentava obstculos nas circulaes), roupas/acessrios (se usa roupas compridas, objetos de apoio) e sobre circunstncias relacionadas queda (quantidade, local, causa, consequncias). Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel e analisados no programa estatstico SPSS (Statitical Package for the Social Sciences) verso 17.0, sendo a anlise efetuada por meio de estatstica analtica. A aplicao do instrumento de coleta de dados foi efetivada seguindo as orientaes da Resoluo 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Sade, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). A pesquisa foi aprovada pelo comit de tica em pesquisa da Universidade Federal do Piau, sob o protocolo n 01960045000-10. Resultados Verificou-se que dos 102 idosos, 49% sofreram quedas, de acordo com a Tabela 1. Os participantes da pesquisa eram predominantemente do sexo feminino (66,7%), com idade entre 60 e 65 anos (37,3%), no sabiam ler/escrever (64,7%), com renda de um salrio mnimo (73,5%), e moravam com algum (85,3%). No houve diferena percentual entre os que tinham companheiro. Essas caractersticas significaram os fatores de risco sociodemogrficos para quedas mais frequentes no grupo estudado, excetuando-se o estado civil, em que pouco mais da metade (56,0%) dos

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    idosos que sofreram queda no tinham companheiro. No foi encontrada associao estatstica significativa entre as caractersticas sociodemogrficas investigadas e o acometimento por queda entre os idosos.

    Tabela 1 Associao entre caractersticas sociodemogrficas e queda nos

    idosos (n=102). Picos-PI, 2010.

    Variveis Queda

    Total p-valor Sim No

    f % F % F % Sexo

    0,123* Masculino 13 26,0 21 40,4 34 33,3 Feminino 37 74,0 31 59,6 68 66,7 Idade

    0,780*

    60 - 65 anos 19 38,0 19 36,5 38 37,3 66 - 70 anos 12 24,0 11 21,2 23 22,5 71 - 75 anos 9 18,0 14 26,9 23 22,5 76 - 80 anos 4 8,0 2 3,8 6 5,9 > 80 anos 6 12,0 6 11,5 12 11,8 Estado civil

    0,235* Com companheiro 22 44,0 29 55,8 51 50,0 Sem companheiro 28 56,0 23 44,2 51 50,0 Escolaridade

    0,813* No sabe ler/escrever 33 66,0 33 63,5 66 64,7 1 - 8 anos de estudo 13 26,0 16 30,8 29 28,4 > 8 anos de estudo 4 8,0 3 5,8 7 6,9 Renda individual***

    0,449** < 1 salrio 6 12,0 3 5,8 9 8,8 1 salrio 35 70,0 40 76,9 75 73,5 2 - 3 salrios 6 12,0 8 15,4 14 13,7 > 3 salrios 3 6,0 1 1,9 4 3,9 Mora sozinho

    0,357* Sim 9 18,0 6 11,5 15 14,7 No 41 82,0 46 88,5 87 85,3

    * Referente ao de Pearson; ** Referente razo de verossimilhana; ***Salrio mnimo em vigncia = R$ 545,00. Segundo a Tabela 2, as caractersticas mais frequentes entre os idosos acometidos por queda foram sedentarismo (74,0%), uso de medicamentos (76,0%), HAS (72,0%), presena de alguma alterao visual (82,0%), audio regular (38,0%), boa locomoo (40,0%) e nenhuma alterao nos ps (60,0%). Osteoporose, nvel de audio e alterao nos ps estiveram significativamente associados ao acometimento por quedas nos idosos estudados.

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    Tabela 2 Associao entre caractersticas clnicas e queda entre os idosos (n=102). Picos-PI, 2010.

    Variveis Queda

    Total p-valor Sim No

    F % F % F % Prtica de atividade fsica

    0,747* Sim 13 26,0 15 28,8 28 27,5 No 37 74,0 37 71,2 74 72,5 Uso de medicamentos

    0,239* Sim 38 76,0 34 65,8 72 70,6 No 12 24,0 18 34,6 30 29,4 Hipertenso arterial sistmica

    0,188* Sim 36 72,0 31 59,6 67 65,6 No 14 28,0 21 40,4 35 34,3 Diabetes mellitus

    0,529* Sim 9 18,0 7 13,5 16 15,7 No 41 82,0 45 86,5 86 84,3 Reumatismo

    0,709* Sim 7 14,0 6 11,5 13 12,7 No 43 86,0 46 88,5 89 87,3 Osteoporose

    0,048* Sim 16 32,0 8 15,4 24 23,5 No 34 68,0 44 84,6 78 76,5 Abuso do lcool

    0,656* Sim 4 8,0 3 5,8 7 6,9 No 46 92,0 49 94,2 95 93,1 Alterao visual

    0,357* Sim 41 82,0 46 88,5 87 85,3 No 9 18,0 6 11,5 15 14,7 Audio

    0,014**

    Excelente 11 22,0 6 11,5 17 16,7 Boa 15 30,0 31 59,6 46 45,1 Regular 19 38,0 13 25,0 32 31,4 Ruim 5 10,0 1 1,9 6 5,9 Pssima - - 1 1,9 1 1,0 Locomoo

    0,863**

    Excelente 6 12,0 4 7,7 10 9,8 Boa 20 40,0 26 50,0 46 45,1 Regular 17 34,0 16 30,8 33 32,4 Ruim 5 10,0 4 7,7 9 8,8 Pssima 2 4,0 2 3,8 4 3,9 Alterao nos ps

    0,012** Ferimento 15 30,0 4 7,7 19 18,6

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    Deformidade dos pododctilos - - 2 3,8 2 2,0 Unha encravada 5 10,0 6 11,5 11 10,8 Nenhuma 30 60,0 40 76,9 70 68,6

    * Referente ao de Pearson; ** Referente razo de verossimilhana. A ocorrncia de quedas entre os idosos no momento em que deambulavam (71,4%; p=0,011), banhavam-se (57,1%; p=0,018) e desciam escada (42,9%; p=0,042) esteve associada ao acometimento por fratura em decorrncia da queda (Tabela 3). Quanto aos locais de ocorrncia das quedas que culminaram em fraturas, verificou-se que as quedas ocorridas no banheiro (57,1%; p=0,030) e em outros locais, como quintal e garagem (57,1%; p=0,020), foram as mais frequentes. Tabela 3 Ocorrncia de fratura entre os idosos em decorrncia das quedas,

    segundo a atividade que desempenhavam e o local (n=102). Picos - PI, 2010.

    Variveis Fratura

    Total p-valor Sim No

    f % f % F % Atividade que realizava Deambulava

    Sim 5 71,4 25 26,3 30 29,4 0,011* No 2 28,6 70 73,7 72 70,6

    Sentava Sim 1 14,3 14 14,7 15 14,7 0,974* No 6 85,7 81 85,3 87 85,3

    Levantava Sim 2 28,6 13 13,7 15 14,7 0,283* No 5 71,4 82 86,3 87 85,3

    Banhava-se Sim 4 57,1 18 18,9 22 21,6 0,018* No 3 42,9 77 81,1 80 78,4

    Subia escada Sim 1 14,3 7 7,4 8 7,8 1,000** No 6 85,7 88 92,6 94 92,2

    Descia escada Sim 3 42,9 9 9,5 12 11,8 0,042** No 4 57,1 86 90,5 90 88,2

    Local de ocorrncia Sala

    Sim 2 28,6 21 22,1 23 22,5 0,693* No 5 71,4 74 77,9 79 77,5

    Quarto

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    Sim 2 28,6 17 17,9 19 18,6 0,484* No 5 71,4 78 82,1 83 81,4

    Banheiro Sim 4 57,1 20 21,1 24 23,5 0,030* No 3 42,9 75 78,9 78 76,5

    Cozinha Sim 1 14,3 9 9,5 10 9,8 1,000** No 6 85,7 86 90,5 92 90,2

    Outro local Sim 4 57,1 14 14,7 18 17,6 0,020** No 3 42,9 81 85,3 84 82,4

    * Referente ao de Pearson; ** Referente razo de verossimilhana.

    Segundo os idosos, os fatores intrnsecos responsveis pelas quedas mais frequentes foram fraqueza muscular dos membros inferiores (21,6%), diminuio da viso (15,7%) e uso de medicamentos (10,8%). Quanto aos fatores extrnsecos, os predominantes foram superfcies escorregadias (28,4%), ausncia de corrimos (28,4%) e obstculos no caminho (23,5%) (Tabela 4).

    Tabela 4 - Distribuio dos idosos segundo os fatores intrnsecos e extrnsecos

    responsveis pelas quedas (n=102). Picos-PI, 2010. Variveis F % Fatores intrnsecos Fraqueza muscular dos membros inferiores 22 21,6 Diminuio da viso 16 15,7 Uso de medicamentos 11 10,8 Diminuio da audio 4 3,9 Deformidade dos ps 2 2,0 Outros 11 10,8 Fatores extrnsecos Superfcies escorregadias 29 28,4 Ausncia de corrimos 29 28,4 Obstculos no caminho 24 23,5 Degraus altos ou estreitos 17 16,7 Iluminao inadequada 8 7,8

    Referente s consequncias em decorrncia das quedas, 40,5% dos idosos revelaram medo de cair novamente e 33,5% modificaram hbitos para evitar a recorrncia de quedas. A consequncia mencionada com menor frequncia foi a imobilizao (7,0%), relacionada aos idosos que sofreram algum tipo de fratura, cujos locais citados foram clavcula, quadril, membros superiores e inferiores (Figura 1).

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    Figura 1 Consequncias das quedas referidas pelos idosos (n=102). Picos-PI, 2010. Discusso

    Observou-se maior frequncia de quedas no sexo feminino entre os participantes deste estudo, resultado semelhante aos de pesquisas prvias (GANANA et al., 2006; SIQUEIRA, 2007). Constata-se que nas mulheres so maiores a fragilidade, a prevalncia de enfermidades, o uso de medicamentos, o comportamento de risco e o nmero de atividades domsticas. Ademais, a quantidade de massa magra e de fora muscular menor nas pessoas do sexo feminino (GANANA et al., 2006). Com relao aos idosos investigados que sofreram quedas, 49% da amostra, o nmero foi ligeiramente mais elevado do que em outros estudos como, por exemplo, em pesquisa de 2007, na qual 34,8% de sua amostra, composta por 4003 idosos, referiu ter sofrido quedas no ambiente domiciliar; outro estudo, do ano de 2008, com amostra de 155 idosos, apresentou frequncia de 38,7% (SIQUEIRA, 2007; CAMPOS, 2008).

    Em relao aos fatores de risco sociodemogrficos para ocorrncia de quedas, observou-se que a faixa etria predominante entre os idosos pesquisados esteve entre 60 e 65 anos, diferindo de estudos anteriores, nos quais o maior nmero de quedas ocorreu entre os idosos com idade igual ou superior a 80 anos e em idosos com mais de 85 anos, perfazendo, respectivamente, 64,6% e 45,2% das quedas (GANANA et al., 2006; JAHANA; DIOGO, 2007). Acerca dos fatores intrnsecos que predisporiam o idoso a cair, destacaram-se nesta pesquisa o processo de envelhecimento, uso de medicamentos, manifestao de doenas crnicas e demais comorbidades. O uso de medicamentos foi fator considerado por nmero considervel de participantes, 38 (76,0%), dentre os idosos que relataram ter sofrido queda,

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    observando-se semelhana com outro estudo, no qual 81,7% dos idosos que referiram ter sofrido quedas faziam uso de pelo menos um medicamento (GANANA et al., 2006). Quando se investigou o perodo do dia em que as quedas ocorreram, observou-se maior frequncia no perodo da manh, 32 (31,3%), seguido pelo perodo da tarde e da noite, com 30,3% e 16,7%, respectivamente. Em estudo feito em So Paulo, verificou-se resultado similar, em que o perodo de ocorrncia da queda mais frequente foi a manh (51,6%), seguido da tarde (34,4%), noite (12,5%) e madrugada (1,6%) (GANANA et al., 2006), havendo a possibilidade de estar ligado ao fato de desenvolverem o maior nmero de tarefas e atividades durante o dia, comparando-se noite, tornando o idoso mais exposto e predisponente a cair. Dentre as atividades no momento da queda, a maior parte dos idosos que referiram j ter cado alegou que estava deambulando, sendo citado por 34 participantes, o que corresponde a 68,0%. Essa mesma atividade foi a mais aludida pelos idosos que participaram do estudo em 2007, sendo mencionada por 35,6% da amostra (JAHANA; DIOGO, 2007). O envelhecimento acarreta reduo da amplitude de movimentos de forma geral. A diminuio da flexibilidade est associada ocorrncia de quedas no idoso, principalmente pela perda de mobilidade das articulaes do quadril, joelhos, tornozelos e coluna vertebral, o que gera alteraes no padro de marcha e dificuldades no desempenho de tarefas cotidianas. Alm disso, h a tendncia de alargamento da base de apoio, encurtamento e lentificao dos passos e flexo anterior do tronco, para aumentar a estabilidade postural (ROSE; GAMBLE 2006).

    Sabe-se que o dficit na fora muscular seria amenizado com a prtica regular de atividade fsica (RIUL et al., 2009), porm, 74% dos idosos dessa pesquisa relataram que no praticam nenhum tipo de atividade fsica. Quanto ao local em que ocorreu a queda, o mais citado pelos participantes da pesquisa foi o banheiro, 48%, resultado que difere de outros estudos, nos quais a maior parte das quedas ocorreu no quarto do idoso e prximo sua cama, 46,3% e 23,82%, respectivamente (GANANA et al., 2006; MAZO, et al., 2007). Para a preveno desses acontecimentos, cuidadores e familiares devem se mobilizar em torno da adaptao do ambiente em que o idoso vive e observar alguns itens de segurana, como uso de calados adequados, tapetes antiderrapantes, disposio da moblia em casa e barras de segurana nos banheiros (PEREIRA, 2006). Os perigos ambientais contribuem em grande parte para as quedas em idosos, mas somente sua presena no suficiente para a ocorrncia do evento, sendo mais importante a interao com a limitao fsica que o idoso tenha (MACHADO, 2009).

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    Os fatores ambientais proporcionam o maior risco de queda e, quando associados a caractersticas fsicas dos indivduos, so ainda mais agravantes. Todos os elementos do meio que cercam o idoso favoreceriam as quedas, portanto, essencial evitar encerar o piso, manter corrimo nas escadas e nos banheiros, retirar tapetes soltos, mveis baixos e obstculos no cho, utilizar lmpadas que permitem boa iluminao nas escadas e corredores, entre outros (LORD et al., 2006). No presente estudo os fatores extrnsecos foram citados pelos idosos como mais responsveis pelas quedas que os fatores intrnsecos. Dentre os fatores extrnsecos mencionados, destacaram-se superfcies escorregadias e ausncia de corrimos; em relao aos fatores intrnsecos destacou-se a fraqueza muscular dos membros inferiores. A fraqueza de membros inferiores associada ocorrncia de quedas, pois com o envelhecimento ocorrem diminuio do tamanho e dos nmeros das fibras e da quantidade de motoneurnios, lentido da contrao muscular e rigidez do sistema motor (GANANA et al., 2006). Uma das consequncias das quedas bastante comum o medo de cair, identificado principalmente naqueles que apresentam dficit de equilbrio e de mobilidade (AUSTIN et al., 2007). No presente estudo, a consequncia mais aludida pelos idosos que sofreram quedas foi o medo de cair novamente, mencionado por 41 idosos, correspondendo a 82,0% da amostra, resultado este semelhante a outros estudos j realizados (JAHANA; DIOGO, 2007; ROCHA et al., 2010; RIBEIRO, 2008; PEREIRA, 2006), ainda destaca-se que este receio identificado principalmente naqueles que apresentam dficit de equilbrio e de mobilidade (AUSTIN et al., 2007). Entre as orientaes que os profissionais de sade podem fazer aos idosos e famlias para prevenir novas quedas esto atividade fsica regular, consultas regulares para avaliao dos nveis de presso arterial e uso de medicamentos, e cuidados com o ambiente em que o idoso vive (MACHADO, 2009). Concluses De acordo com a anlise dos resultados dessa investigao, percebeu-se que imprescindvel uma avaliao minuciosa da queda e de seus fatores predisponentes, a fim de que sejam implementadas aes preventivas para a manuteno da independncia e sade fsica do idoso. Os resultados encontrados sugerem que h grande necessidade de se produzir informaes sobre alguns fatores de risco para as quedas, aos quais os idosos esto expostos diariamente, sobre a urgncia de uma postura orientadora por

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    parte dos profissionais da sade e do desenvolvimento de prticas preventivas significativas de baixo custo, no nvel primrio de ateno sade do idoso. Os efeitos da diminuio natural do desempenho dos idosos e o risco de quedas seriam atenuados se forem desenvolvidos programas de ateno sade que visem melhoria das capacidades motoras, alcanando de igual forma melhora dos aspectos psicossociais. Essas medidas implicam uma abordagem multidimensional, o que somente possvel a partir da ao integrada e especializada de uma equipe interdisciplinar. Em termos de interveno profissional, a interpretao dos resultados encontrados permite sugerir que aes educativas em torno do tema sejam enfatizadas para a construo de viso mais crtica do cliente acerca da importncia desse evento, favorecendo a sua responsabilidade e estimulando o autocuidado. Essas aes devem ser executadas individualmente pela equipe de Sade da Famlia, levando em considerao as limitaes fsicas, psquicas e ambientais dos idosos, por meio de estratgias de sala de espera, orientao nutricional e medicamentosa, maior incentivo para a prtica de exerccios fsicos e durante a consulta, na forma de orientaes, a fim de se trabalhar o tema e desenvolver atividades de preveno. Referncias AUSTIN, N.; DEVINE, A.; DICK, I.; PRINCE, R.; BRUCE, D. Fear of falling in older women: a longitudinal study of incidence, persistence, and predictors. The American Geriatrics Society, v. 55, n. 10, p. 1598-1603, out., 2007. BRASIL. Ministrio da Sade. Conselho Nacional de Sade. Comisso Nacional de tica em Pesquisa, Conep. Resoluo n 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Braslia, 1996. CABRITA, M.F.G; JOS, H.M.G; The elderly person in the equipe de cuidados continuados integrados: nursing program for prevention of falls. Rev enferm UFPE online, v. 7, n. 1, p. 96-103, 2013. CAMPOS, M.P.S. Risco de quedas em idosos atendidos em um hospital pblico de Braslia. [Tese]. Braslia: Universidade Catlica de Braslia; 2008. Doutorado em Gerontologia. CRUZ, D.T; RIBEIRO, L.C; VIEIRA, M.T; TEIXEIRA, M.T.B; BASTOS, R.R; LEITE, I.C.G. Prevalncia de quedas e fatores associados em idosos. Rev. Sade Pblica, v. 46, n. 1, p.138-46, 2012. GANANA, F.F; GAZZOLA, J.M; ARATANI, M.C; PERRACINI, M.R; GANANA, M.M. Circunstncias e consequncias de quedas em idosos com vestibulopatia crnica. Rev. Bras. Otorrinolaringologia, v. 72, n. 3, p. 388-393, jun. [acesso 2013 jan 16] 2006. Disponvel em: http://www.scielo.br.

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    SIQUEIRA, F.V; FACCHINI, L.A; SILVEIRA, D.S; PICCINI, R.X; TOMASI, E; THUM, E. et al. Prevalence of falls in elderly in Brazil: a countrywide analysis. Cad. Sade Pblica, v. 27, n. 9, p. 1819-26, 2011. Data de recebimento: 13/01/2013; Data de aceite: 26/02/2013.

    ________________________ Wenersmio Arajo de Moura Luz - Enfermeiro (UFPI). Email: [email protected] Marilia Braga Marques - Enfermeira (UFC). Doutoranda em Enfermagem UFC. Docente da Universidade Federal do Piau - UFPI/CSHNB. Email: [email protected]. Ndya dos Santos Moura - Enfermeira (UFPI). Enfermeira da Estratgia Sade da Famlia do municpio de Picos-PI (Secretaria Municipal de Sade de Picos-PI). Email: [email protected]. Eduardo Carvalho de Souza - Estudante do curso de Enfermagem (UFPI). Email: [email protected]. Ana Larissa Gomes Machado - Enfermeira (UECE). Doutoranda em Enfermagem UFC. Docente da Universidade Federal do Piau - UFPI/CSHNB. Email: [email protected].