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i AGRADECIMENTOS Ao Prof. Hamilton pela orientação e compreensão. Pelas boas conversas a respeito de filosofia da ciência e política em geral. À minha família pelo apoio e carinho. Aos amigos e colegas de grupo. Aos técnicos de laboratório: Jonas, Maristela e Valdecir pela grande ajuda prestada. Ao IQSC pela infra-estrutura disponibilizada, ao CNPQ e à FAPESP (07/01575- 6) pelo auxílio financeiro.

343o Bruno v5)

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Page 1: 343o Bruno v5)

i

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Hamilton pela orientação e compreensão. Pelas boas conversas a

respeito de filosofia da ciência e política em geral.

À minha família pelo apoio e carinho.

Aos amigos e colegas de grupo.

Aos técnicos de laboratório: Jonas, Maristela e Valdecir pela grande ajuda

prestada.

Ao IQSC pela infra-estrutura disponibilizada, ao CNPQ e à FAPESP (07/01575-

6) pelo auxílio financeiro.

Page 2: 343o Bruno v5)

ii

SUMÁRIO

Agradecimentos ................................................................................................. i

Sumário ............................................................................................................. ii

Lista de Figuras ................................................................................................ iv

Lista de abreviações e sinônimos .................................................................... vi

Lista de tabelas ............................................................................................... vii

Resumo geral ................................................................................................. viii

Abstract ............................................................................................................ ix

Motivação ......................................................................................................... 1

Parte I – Líquidos iônicos ..................................................................................... 3

Resumo ............................................................................................................. 3

Introdução ......................................................................................................... 4

Contextualização ........................................................................................... 4

Eletroquímica ................................................................................................ 5

Materiais e métodos .......................................................................................... 6

Resultados e discussão ...................................................................................... 8

Estabilidade eletroquímica do líquido iônico ............................................... 8

Eletro-oxidação de H2 em líquido iônico .................................................... 13

Conclusões ...................................................................................................... 24

Parte II – Consumo químico de óxidos em meio aquoso ................................... 25

Resumo ........................................................................................................... 25

Introdução ....................................................................................................... 26

Contextualização ......................................................................................... 26

O estudo em células unitárias: .................................................................... 27

Materiais e métodos ........................................................................................ 30

Page 3: 343o Bruno v5)

iii

Resultados e discussão .................................................................................... 31

Transientes de OCP - metanol .................................................................... 34

Transientes de OCP - etanol ....................................................................... 38

Transientes de OCP – ácido fórmico, experimento e simulação ................ 41

Conclusões ...................................................................................................... 53

Referências ..................................................................................................... 54

Page 4: 343o Bruno v5)

iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. 1 – À esquerda, estrutura dos constituintes do líquido iônico

empregado, à direita célula eletroquímica utilizada. ........................................................ 6

Figura 1. 2 – Voltametrias cíclicas a diferentes velocidades utilizando líquido

iônico puro. ....................................................................................................................... 9

Figura 1. 3 – Voltamogramas obtidos em líquido iônico puro, com valores de

corrente normalizados em (A) por v, em (B) por v1/2. v = velocidade de varredura. ....... 9

Figura 1. 4 – Análise de Tafel para os dados obtidos a velocidade de varredura

de 1mVs-1. ....................................................................................................................... 11

Figura 1. 5 – (A) Voltamogramas cíclicos obtidos a 100mVs-1 durante a

exposição do líquido iônico à atmosfera de H2; (B) Relação entre corrente de pico do

voltamograma e o tempo de exposição........................................................................... 14

Figura 1. 6 – (A) Voltamogramas cíclicos obtidos com líquido iônico saturado

com H2 e uso de diferentes velocidades de varredura, (B) Relação entre corrente de pico

catódico e a raiz quadrada da velocidade de varredura, (C) mesmo que anterior, mas

para corrente de pico anódico ......................................................................................... 16

Figura 1. 7 – (A) voltametria cíclica a 1mVs-1 obtida para condição de saturação

com H2, (B) curva de Tafel obtida com os dados da voltametria lenta. ......................... 17

Figura 1. 8 – Transiente de potencial de circuito aberto obtido após polarização

do eletrodo de trabalho em 0,6V por 1 minuto na presença de H2 dissolvido................ 19

Figura 1. 9 – Comparação entre a curva de OCP experimental e a obtida por

simulação do modelo simples. ........................................................................................ 20

Figura 1. 10 – Curvas simuladas de OCP para isotermas de Langmuir e Frumkin

com parâmetros de interação descritos nas figuras. ....................................................... 22

Figura 1. 11 – Evolução do recobrimento com Had em função do tempo de

transiente de potencial de circuito aberto. ...................................................................... 23

Figura 2. 1– Transiente de potencial de circuito aberto para interação entre

óxidos de platina e metanol 0,1molL-1. .......................................................................... 28

Figura 2. 2– Voltamogramas cíclicos obtidos com eletrodo de Pt policristalina

em solução de H2SO4 0,5molL-1, contendo: (A) ácido fórmico 0,1molL-1, (B) metanol

Page 5: 343o Bruno v5)

v

0,1molL-1, (C) etanol 0,1molL-1. É também apresentado o voltamograma base da platina

na ausência dos orgânicos – curva negra. ....................................................................... 31

Figura 2. 3– Varredura negativa obtida com eletrodo de Pt policristalina em

solução de H2SO4 0,5molL-1, obtida com ácido fórmico 0,1molL-1, metanol 0,1molL-1 e

etanol 0,1molL-1. Os valores de corrente foram normalizados pela corrente máxima

pertinente a cada espécie. ............................................................................................... 33

Figura 2. 4– (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de

OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido.

Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V

por 10 minutos, por metanol 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1. ............ 35

Figura 2. 5 – Esquema ilustrativo demonstrando um mecanismo de autocatálise

simples. ........................................................................................................................... 37

Figura 2. 6- (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de

OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido.

Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V

por 10 minutos, por etanol 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1. ............... 39

Figura 2. 7 - (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de

OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido.

Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V

por 10 minutos, por ácido fórmico 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1. ... 42

Figura 2. 8 – (A) Rede reacional para interação entre óxidos de platina e ácido

fórmico, (B) Conjunto total das reações com destaque para o local em que ocorrem

(superfície, subsuperfície e interface). ............................................................................ 44

Figura 2. 9 – Conjunto simulado apresentando o comportamento de COad, óxido

superficial, conteúdo de óxido total e número de sítios livres........................................ 48

Figura 2. 10 – Comportamento simulado da quantidade de CO2 produzida. ..... 49

Figura 2. 11 – Simulação da dependência entre potencial e tempo de interação

entre óxidos de platina e ácido fórmico empregando uma isoterma de Langmuir. ........ 51

Page 6: 343o Bruno v5)

vi

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SINÔNIMOS

LIs – líquidos iônicos.

BMMIM N(Tf)2 - bis(trifluorometilsulfonil)imideto de 1-butil-2,3-dimetil

imidazólio.

HOMO – orbital ocupado de maior energia, do inglês highest occupied

molecular orbital.

EDV – etapa determinante da velocidade da reação.

OCP – potencial de circuito aberto, do inglês open circuit potential.

ATR-SEIRAS – espectroscopia de infravermelho intensificada por efeito SERS

(do inglês surface enhanced Raman spectroscopy) associada a configuração de reflexão

interna total. Do inglês attenuated total reflection – surface enhanced infrared

spectroscopy.

Crossover – passagem de molécula orgânica do compartimento anódico de uma

célula a combustivel para o compartimento catódico.

Place-exchange – troca de posição entre Oad e Pt.

Page 7: 343o Bruno v5)

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Parâmetros utilizados na simulação de reação simples......................20

Tabela 2 – Características voltamétricas de ácido fórmico, metanol e etanol.....32

Tabela 3 – Intervalo de estabilidade durante varredura reversa..........................33

Tabela 4 – Constantes empregadas na simulação da interação entre óxidos de

platina e ácido fórmico. Significa e valor empregado.....................................................47

Tabela 5 – Constantes empregadas na simulação da interação entre óxidos de

platina e ácido fórmico. Efeito sobre características da simulação.................................50

Page 8: 343o Bruno v5)

viii

RESUMO GERAL

A dissertação está dividida em duas partes. A primeira trata da eletroquímica

fundamental utilizando líquidos iônicos como eletrólito suporte e molécula de estudo.

São abordados os fenômenos de estabilidade anódica e catódica, com ênfase no

mecanismo de degradação do líquido. Além disso, é apresentado um estudo sobre a

oxidação eletrocatalítica de hidrogênio nesse ambiente. Quanto a esse aspecto são

abordados aspectos mecanísticos e físico-químicos da reação. Técnicas eletroquímicas,

modelagem e simulações numéricas foram utilizadas para investigação e hipotetização

dos processos. A segunda parte da dissertação consiste do estudo da interação entre

óxidos de platina e alguns compostos orgânicos (ácido fórmico, metanol e etanol). O

estudo foi realizado em termos da evolução do potencial de circuito aberto com

acompanhamento das espécies reativas através da espectroscopia de infravermelho in

situ. Os dados obtidos são analisados sob a luz dos conhecimentos levantados pela área

de eletrocatálise e sistemas dinâmicos. Modelagem e simulação do sistema permitiram o

entendimento do papel individual das diversas etapas envolvidas sobre o

comportamento geral do sistema.

Page 9: 343o Bruno v5)

ix

ABSTRACT

This dissertation is divided on two parts. The first one deals with fundamental

electrochemistry employing an ionic liquid as supporting electrolyte and as a subject of

study by itself. Phenomena like the anodic and cathodic stability of the liquid,

emphasizing its degradation mechanism is presented. It is also shown a study of the

electrocatalytic oxidation of hydrogen in this environment. For this case, efforts were

made to unravel mechanistic aspects of the reaction, as well as physical chemical

features. Electrochemical techniques and numerical simulations were used for

investigation and understanding of that system. The second part presents a study of the

interaction between platinum oxides and some organic compounds, namely: formic

acid, methanol and ethanol. The study was performed under open circuit conditions by

following the temporal evolution of the potential and also the concentration of some

chemical species by using in situ infrared spectroscopy. Data were analyzed under the

guide of knowledge constructed by the fields of electrocatalysis and dynamical systems.

Modelling and simulation allowed understanding the individual role of the various

participants species on the global behavior of the system.

Page 10: 343o Bruno v5)

1

MOTIVAÇÃO

Dentre os empreendimentos mais duradouros que permeiam a história da

atividade humana está a busca do entendimento a respeito do universo e as múltiplas

relações que guarda. A curiosidade e envolvimento de homens de inúmeras gerações

com esse desafio é responsável pelo elevado nível tecnológico e intelectual que

experimentamos atualmente. Com o aprofundamento do conhecimento surge também a

necessidade de especialização; sua divisão em áreas permite a investigação de

fenômenos bem determinados por parte de um único indivíduo. Este é guiado por uma

série de convenções e pressupostos que constituem aquilo que Kuhn em seu “A

estrutura das revoluções científicas” chama de paradigma [1].

Eletroquímica é uma área de destaque em ciência. Constituída por um núcleo

duro de paradigmas, dentre os quais se encontram os originais na físico-química,

química quântica e fenômenos de transporte, ela, no entanto dialoga com diversas áreas

do conhecimento humano. Bockris, no primeiro capítulo de seu “Modern

Electrochemistry” traz uma lista de 16 disciplinas que se relacionam com fenômenos

eletroquímicos [2]. Estas, no entanto, correspondem a apenas uma fração do que é

observado atualmente. O desenvolvimento de outros ramos da ciência revela novos

fenômenos e conceitos associados que têm sido incorporados ao cotidiano da pesquisa

eletroquímica.

O trabalho apresentado nesta dissertação foi motivado pela interação entre

eletroquímica e duas disciplinas distintas: síntese orgânica e sistemas dinâmicos. O

desenvolvimento dos chamados líquidos iônicos, sais líquidos à temperatura ambiente e

que apresentam uma série de propriedades interessantes influenciou um retorno ao

estudo da eletroquímica de sais fundidos. Novas propriedades interfaciais e

possibilidades reacionais têm sido previstas e observadas motivando um novo

direcionamento para o conjunto de fenômenos eletroquímicos estudados atualmente.

O estudo de sistemas dinâmicos aflorou na metade do século passado. Ele traz

novas ferramentas e métodos de abordagem para sistemas nos quais o elevado número

de constituintes e interações torna impossível a análise determinística. Seu estudo em

eletroquímica tem crescido rapidamente, devido à elevada precisão com que fenômenos

Page 11: 343o Bruno v5)

2

eletroquímicos podem ser monitorados e controlados. Esse controle permite a validação

de teorias e métodos de forma muito confiável. Dentre os fenômenos complexos que

envolvem conceitos eletroquímicos pode-se citar a transmissão de impulsos nervosos no

sistema nervoso e de corrente elétrica no tecido cardíaco. Analogias entre sistemas

eletroquímicos dinâmicos e seres vivos também têm sido exploradas [3,4].

O conteúdo dual desta dissertação ganha consistência, portanto, no sentido de

abordar fenômenos da fronteira do conhecimento em eletroquímica. É notável também

como o mesmo método de abordagem, através de transientes de potencial de circuito

aberto aliados a modelagem e simulação proporciona entendimento sobre sistemas com

características tão distintas, como se verá.

É explorado, dessa maneira, o grande potencial de entendimento que os

paradigmas eletroquímicos trazem a problemas novos.

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3

PARTE I – LÍQUIDOS IÔNICOS

RESUMO

A primeira sessão da dissertação traz os resultados da análise eletroquímica de líquido

iônico e sistemas baseados nesse eletrólito. Foi utilizado um líquido iônico hidrofóbico,

o bis(trifluorometilsulfonil)imideto de 1-butil-2,3-dimetil imidazólio (BMMIM N(Tf)2).

Foram estudadas as janelas de estabilidade anódica do líquido iônico e a reação de

eletro-oxidação de H2 nesse ambiente. A análise da estabilidade do líquido revelou que

o mecanismo de decomposição é relativamente simples, envolvendo apenas adsorção do

LI e transferência de carga associada à quebra de ligação química. O entendimento da

reação de H2 foi aprofundado com a determinação do mecanismo reacional, através da

análise do coeficiente de Tafel, e com o emprego de experimentos de transiente de

potencial de circuito aberto, os quais, aliados a modelagem matemática revelaram dados

importantes sobre a isoterma de adsorção dessa espécie.

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4

INTRODUÇÃO

Contextualização

Líquidos iônicos são sais fundidos à temperatura ambiente constituídos

principalmente por cátions orgânicos assimétricos e ânions com carga bastante

delocalizada. Esses sistemas têm atraído grande destaque por parte da comunidade

científica devido a suas propriedades únicas [5], as quais não são excepcionais em si,

mas sim no fato de estarem presentes num único sistema. Dentre tais propriedades

pode-se citar elevada viscosidade [6], proveniente das interações coulômbicas e do

relativo volume dos íons constituintes, elevada estabilidade térmica, condutividade

intrínseca, devido à presença de cargas, estrutura organizacional complexa originada das

diversas forças atuantes no sistema, como as coulômbicas, as de van der Waals e as de

hidrogênio [7]. Além disso, as propriedades dos LIs podem ser sintonizadas utilizando

íons modificados quimicamente: a ligação de um grupo OH ao cátion gera líquidos

altamente viscosos e capazes de solubilização de moléculas como a celulose. A troca de

ânions como o bis(trifluorometilsulfonil)imideto por BF4-, por exemplo, transforma o

líquido de hidrofóbico em hidrofílico.

O amplo leque de propriedades que podem ser sintonizadas confere aos LIs as

mais diversas aplicações. Em cromatografia, têm sido empregados como fase

estacionária na separação de diversos compostos. Em síntese de nanopartículas, LIs

altamente viscosos e estruturados mostraram-se eficientes na preparação de partículas

com tamanhos pequenos (2nm) as quais são instáveis no ambiente aquoso em que

sínteses convencionais são realizadas. Sistemas químicos contendo LIs modificados

com nanopartículas ou enzimas agregadas mostraram-se altamente eficientes na catálise

heterogênea de diversas reações [8-11] como as de hidrogenação de olefinas, catalisadas

por paládio, cujos produtos são simplesmente extraídos do líquido com emprego de

partição em uma segunda fase.

O estudo das propriedades físico-químicas de LIs também tem despertado

grande interesse dos cientistas [12]. Nessa área são estudadas, por exemplo, a estrutura

da interface entre líquido iônico e um metal [13] ou o vácuo [14], a capacidade de

solvatação do líquido [15,16], sua própria estrutura interna [17,18] e propriedades

Page 14: 343o Bruno v5)

5

intrínsecas [19], com o emprego de moléculas prova (corantes) [20] e simulações

computacionais [21].

Eletroquímica

Em eletroquímica, líquidos iônicos são particularmente interessantes, devido à

possibilidade de seu uso sem adição de outras espécies com a função de eletrólito de

suporte, já que o próprio líquido possui condutividade adequada. Além disso, a

facilidade com que sua hidrofilicidade pode ser sintonizada, através de síntese, permite

o estudo de reações em ambiente completamente hidrofóbico abrindo caminho para, por

exemplo, a eletrodeposição de semicondutores, que não pode ser realizada em meio

aquoso devido ao co-desprendimento de H2. Outras aplicações descritas na literatura

são, por exemplo, relacionadas a baterias de lítio [22] e até mesmo a células à

combustível [23].

Page 15: 343o Bruno v5)

6

MATERIAIS E MÉTODOS

O líquido iônico utilizado no presente trabalho foi o

bis(trifluorometilsulfonil)imideto de 1-butil-2,3-dimetil imidazólio (BMMIM TFSI),

cuja estrutura pode ser observada na Figura 1.1. à esquerda. Esse líquido foi sintetizado

pelos grupos dos professores Roberto Torresi (IQ-USP) e Fernanda Bazito (DQ-

UNIFESP) [24]. A síntese do líquido é descrita no trabalho de Bazito e Torresi [24] e

aquis se fará uma descrição de seu conteúdo. “A um balão ligado a um condensador

foram adicionados 10,4mmols de 1,2-dimetil-imidazólio e brometo de butila, cuja

mistura foi agitada e aquecida a 140°C até obtenção de um sólido branco. Este foi

dissolvido em acetonitrila e recristalizado, e então seco sob pressão reduzida gerando o

brometo de butil- dimetil-imidazólio (BMMIBr). 1,07mmol desse composto dissolvido

em 5mL de água foi misturado a 1,07mmol de LiTFSI, também dissolvido em 5mL. A

mistura foi agitada por uma noite gerando duas fases. A fase contendo líquido iônico foi

então lavada com água, tratada com carvão ativado e eluída através de uma coluna

cromatográfica.” [24]

A célula eletroquímica empregada é representada esquematicamente na Figura

1.1 à direita.

Três eletrodos foram utilizados, um eletrodo de trabalho em que se desenvolvia

o estudo dos diferentes processos eletroquímicos associados, um contra-eletrodo cuja

Figura 1. 1 – À esquerda, estrutura dos constituintes do líquido iônico empregado, à direita célula eletroquímica utilizada.

Page 16: 343o Bruno v5)

7

função era dar vazão à corrente gerada no eletrodo de trabalho e um pseudo-referência

de platina, utilizado como referência para o potencial do eletrodo de trabalho.

Duas técnicas foram empregadas no estudo eletroquímico dos sistemas

abordados nesta etapa do trabalho: voltametria cíclica e transiente de potencial de

circuito aberto. O potenciostato utilizado foi o Solartron 1286. Hidrogênio foi obtido da

White Martins (5.0) e água foi coletada do sistema Milli Q (Millipore®).

As correntes apresentadas nos voltamogramas foram normalizadas pela área real

do eletrodo de trabalho (0,16cm2), calculada através da integração da região do

voltamograma correspondente ao processo de oxidação de hidrogênio adsorvido em

regime de subtensão. Para tanto foi utilizada uma solução aquosa de ácido sulfúrico

0,5molL-1 como eletrólito suporte.

Descrições mais específicas sobre os arranjos experimentais serão fornecidas nas

respectivas seções.

Page 17: 343o Bruno v5)

8

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estabilidade eletroquímica do líquido iônico

A estabilidade anódica foi estudada com o emprego de voltametria cíclica e uso

de diferentes velocidades de varredura. É conhecido que a estabilidade anódica do

líquido iônico é ditada pela natureza do ânion, em particular, a posição energética de seu

orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO) [25]. Embora existam dados de

espectroscopia de infravermelho in situ sobre a estabilidade anódica de alguns LIs [26],

com a determinação da identidade das ligações quebradas durante o processo, não

existem tais dados para o ânion objeto deste estudo, o bis(trifluorometilsulfonil)imideto.

A Figura 1.2 mostra as curvas voltamétricas levantadas para o líquido iônico

empregado. Pode-se observar que a oxidação tem expressividade a partir do potencial

de 0,75V, apresentando uma mudança de coeficiente angular a partir de 1,2V. A

observação do perfil voltamétrico como um todo permite inferir que o processo de

oxidação é irreversível (a distância entre picos de oxidação e redução é muito superior

ao valor obtido para um sistema Nernstiano: 59mV [27]). Durante a varredura reversa é

observado um pico de redução no potencial de 0,23V para as velocidades de varredura

de 10, 50 e 100mVs-1, enquanto que para a velocidade de 200mVs-1 o pico de redução é

deslocado para a direita, no sentido de maior reversibilidade do processo redox, o que

indica que a irreversibilidade pode estar associada também a processos difusionais.

Page 18: 343o Bruno v5)

9

Figura 1. 2 – Voltametrias cíclicas a diferentes velocidades utilizando líquido iônico puro.

A Figura 1.3 traz as curvas apresentadas na Figura 1.2 normalizadas pela

velocidade de varredura v e pela raiz quadrada da velocidade de varredura v1/2,

respectivamente. Esse procedimento obviamente não altera a posição dos picos de

oxidação e redução, mas apenas sua magnitude. Na Figura 1.3A percebe-se que a

normalização pela velocidade de varredura altera a ordem original dos voltamogramas

de forma que a corrente normalizada decresce com o aumento de v. As curvas

normalizadas pela raiz quadrada da velocidade coalescem na região de potenciais baixos

de oxidação apresentando diferenças de intensidade, no entanto, para potenciais

superiores de oxidação e durante a varredura reversa de potencial.

Figura 1. 3 – Voltamogramas obtidos em líquido iônico puro, com valores de corrente normalizados em (A) por v, em (B) por v1/2. v = velocidade de varredura.

-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

1mVs-1

10mVs-1

50mVs-1

100mVs-1

200mVs-1

j / µ

A c

m-2

Potencial / V

-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5

-100

-50

0

50

100

150

200

250

300

-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5-1

0

1

2

3

4

5

B Normalizado por v1/2

1mVs-1

10mVs-1

50mVs-1

100mVs-1

200mVs-1

j norm

/ µA

cm

-2

Potencial / V

1mVs-1

10mVs-1

50mVs-1

100mVs-1

200mVs-1j norm

/ m

A c

m-2

Potencial / V

Normalizado por vA

Page 19: 343o Bruno v5)

10

Para um processo de transferência eletrônica envolvendo uma camada de

espécies adsorvidas com recobrimento bem determinado tem-se que, por conservação

da quantidade de adsorbato, a carga associada ao processo (Q) deve ser constante:

� � ��� � � � � (I.1)

Em que I representa corrente elétrica em função do tempo e dt um infinitésimo

de tempo. Para a técnica de voltametria cíclica na qual o potencial U é alterado com

velocidade constante vel. vale a relação:

��� � ���. � ����.� � � (I.2)

Substituindo na primeira expressão:

� � ��� � � � ����. � �� � � � ���. ��� (I.3)

Se os intervalos de integração forem os mesmos e o perfil da função corrente

não variar para diferentes velocidades de varredura tem-se uma relação direta de

proporcionalidade entre corrente e velocidade de varredura. Essa relação é facilmente

reconhecida para, por exemplo, o perfil de corrente associado à oxidação de hidrogênio

adsorvido em regime de subpotencial sobre platina policristalina em meio aquoso.

A Figura 1.3(A) apresenta o resultado da normalização pela velocidade de

varredura. Nota-se claramente que não há sobreposição das curvas, indicando que um

processo difusional deve estar associado à reação de oxidação. De fato, a observação de

que velocidades de varredura inferiores apresentam densidade de corrente normalizadas

maiores suporta a última conclusão, já que para velocidades menores há mais tempo

para que as espécies reagentes possam difundir até o eletrodo.

Sabe-se que processos difusionais estão associados a uma dependência com v1/2

nas correntes de oxidação [27]. Na Figura 1.3(B) é utilizado esse parâmetro como fator

de normalização e pode-se observar que a correspondência entre as curvas é muito mais

próxima, principalmente na região de baixos potenciais, em que o recobrimento com

ânions não deve ser tão expressivo.

Para completar o estudo sobre a estabilidade anódica do líquido iônico foi

levantada uma curva de Tafel utilizando os dados de voltametria cíclica a 1mVs-1. A

análise de Tafel é baseada no comportamento de sistemas eletroquímicos

Page 20: 343o Bruno v5)

11

suficientemente afastados do equilíbrio em uma das direções, anódica ou catódica. A

equação de Butler-Volmer, de onde a análise deriva, é:

� � � � exp ���� !" #$ % & " #$ % ' (I.4)

Nesta equação, j representa a densidade de corrente, k a constante de velocidade

associada ao caráter químico da reação e o termo entre parênteses representa a

dependência da velocidade de reação com relação ao sobrepotencial aplicado η. Para o

termo entre parênteses β representa o coeficiente de assimetria na transferência

eletrônica, F a constante de Faraday, R a constante dos gases e T a temperatura.

Para o caso de sobrepotenciais anódicos suficientemente elevados o segundo

termo da expressão exponencial se torna muito pequeno e pode ser desprezado. Deriva-

se, então, facilmente a equação de Tafel:

( � ) * + �,-��' (I.5)

O coeficiente b de Tafel é representativo do mecanismo de reação e pode ser

obtido de curvas de potencial em função do logaritmo da corrente. A Figura 1.4

apresenta esse tratamento para os dados experimentais obtidos à velocidade de

varredura de 1mVs-1. O valor encontrado da constante de Tafel foi de 130mVdec-1. A

região escolhida para análise (destacada no gráfico) vai de 0,975 a 1,45 V,

suficientemente afastada do potencial de início da oxidação.

Figura 1. 4 – Análise de Tafel para os dados obtidos a velocidade de varredura de 1mVs-1.

-8,5 -8,0 -7,5 -7,0 -6,5 -6,0 -5,5 -5,0-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Pot

enci

al /

V

Log j

Análise de Tafel v = 1mV s-1

Inclinação: 130mV dec-1

Page 21: 343o Bruno v5)

12

De posse dos dados e conclusões obtidos com voltametria cíclica é possível

hipotetizar dois mecanismos de oxidação. Lembrando que uma etapa difusional está

envolvida e propondo o cenário mais simples possível chega-se a dois mecanismos de

reação plausíveis:

(ad) A- ↔ A-ad

(r.1) A-ad → A + e- (EDV)

Ou

(ad) A- ↔ A-ad

(r.2) A-ad → B + C + e- (EDV)

Nessa expressão foi feita a suposição de que a etapa determinante da velocidade

de reação (EDV) prossegue a etapa difusional. Numa reação complexa, a etapa

determinante da velocidade de reação é aquela que possui a menor constante cinética

associada e, portanto limita e dita a velocidade da reação global. É comum considerar

que as etapas que precedem a EDV se encontram numa situação de quase-equilíbrio.

Segundo a conjectura proposta, após adsorção do ânion, pode ocorrer sua

oxidação de acordo com dois mecanismos, cada qual com etapas determinantes da

velocidade de reação (uma ou outra), a primeira envolvendo simples troca de carga e

dessorção do produto, a segunda envolvendo quebra de alguma ligação química

presente no ânion concertada com transferência de carga. Como as etapas (r) são as

determinantes da velocidade, a primeira (ad) encontra-se próxima a condição de

equilíbrio. Modelando o sistema segundo essas hipóteses, temos para a corrente:

� � � � ./0 exp ���� ! " #$ % ' (I.6)

A equação (I.6) é análoga a equação de Butler-Volmer contendo adicionalmente

a contribuição do grau de recobrimento do eletrodo com o ânion θA- na corrente

observada. Na região utilizada para o cálculo da inclinação de Tafel o potencial é

relativamente alto o que faz com que a adsorção de espécies carregadas seja bastante

favorável. Além disso, não há nenhuma outra espécie presente no líquido iônico que

possa competir com a adsorção do ânion. Dessa forma, é justificável supor θA- = 1.

Tem-se que:

Page 22: 343o Bruno v5)

13

� � � � exp ���� !1 #$ % ' (I.7)

Nesse caso αA o valor empírico para o coeficiente de assimetria que está

associado à equação de Tafel, tem o valor de 1 – β ≈ 0.5. A constante de Tafel associada

é:

+%23�� � 4,6 $ %78 9 � 118<= ���� (I.8)

O valor obtido por dedução pura é coerente com o obtido experimentalmente o

que suporta o modelo proposto. Em particular, devido à irreversibilidade do sistema é

razoável afirmar que a etapa (r.2) é mais provável de que (r.1), já que em eletrocatálise é

bem conhecida a irreversibilidade de reações que envolvam quebra de ligações.

Eletro-oxidação de H2 em líquido iônico

A oxidação de H2 em diversos líquidos iônicos foi estudada por Silvester e

Compton [28] utilizando voltametria cíclica. Seus resultados apontam que a redução

associada ao processo é dependente da natureza do ânion constituinte do líquido; ânions

que dão origem a ácidos conjugados estáveis apresentam comportamento próximo ao

reversível, esse sendo o caso do bis(trifluorometilsulfonil)imideto, empregado também

neste trabalho. Ânions como o BF4 sofrem dissociação quando associados ao próton,

gerando HF e BF3, o que faz com que o pico de redução, após a oxidação de H2 em

líquidos contendo este ânion não seja observado quando velocidades de varredura lenta

são empregadas.

SATURAÇÃO DO LÍQUIDO IÔNICO COM H2:

O primeiro passo no estudo da oxidação de H2 foi determinar a metodologia de

inserção do gás no líquido iônico. Inicialmente, foi utilizado inserir o gás na atmosfera

da célula, através da entrada lateral mostrada na Figura 1.1. Esperava-se com isso que o

hidrogênio gasoso fosse incorporado ao líquido iônico através de sua dissolução. A

Figura 1.5(A) mostra voltametrias cíclicas obtidas a 100mVs-1 para diferentes tempos

Page 23: 343o Bruno v5)

14

durante a passagem de H2 pela atmosfera da célula. Na Figura 1.5(B) é mostrado como

a corrente de pico evolui em função do tempo de exposição ao gás.

Figura 1. 5 – (A) Voltamogramas cíclicos obtidos a 100mVs-1 durante a exposição do líquido iônico à atmosfera de H2; (B) Relação entre corrente de pico do voltamograma e o tempo de exposição.

Fica claro que esse método é ineficiente na obtenção de líquidos iônicos

saturados com H2, já que após 6h de exposição a corrente ainda continua a crescer. Esse

fato não deve ser encarado com pessimismo, pois permite o estudo de propriedades

eletroquímicas para pressões parcias de H2 variadas, já que a concentração do gás no

seio da solução é praticamente invariante durante o intervalo de uma medida (5

minutos). Aliás, essa possibilidade se aplica a qualquer gás. Deve-se lembrar que a

corrente de pico é proporcional à concentração da espécie reagente na interface e sua

relação, para o caso de um sistema reversível é dada pela expressão [27]:

�>?@A � �2,69 10F! G6 4H I �?J �� 4H (I.9)

Em que n corresponde ao número de elétrons transferidos, D ao coeficiente de

difusão, cint à concentração de hidrogênio no seio da solução imediatamente próximo à

região interfacial e v à velocidade de varredura.

Além de fornecer a informação sobre a possibilidade de estudos com pressões

parciais de gases, esses experimentos indicam que o coeficiente de difusão de H2 em

líquido iônico é relativamente baixo. Pode-se explorar mais os dados encontrados

levando-se em consideração que há dois mecanismos de difusão operantes no sistema:

um que leva o hidrogênio da superfície do líquido à borda da interface eletroquímica e

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

2 3 4 5 60

40

80

120

160

200

2,2h 3h 4h 5h 6h

j / µ

A c

m-2

Potencial / V

SaturaçãoA B

Corrente de pico Ajuste linear

j / µ

A c

m-2

Tempo / h

Page 24: 343o Bruno v5)

15

outro que leva o hidrogênio desta à superfície do eletrodo. O segundo mecanismo é

incorporado na equação (I.9). O primeiro pode ser assimilado através da equação de

difusão unidimensional:

�?J � �KL> �MN� O4 �P Q !R SH ' (I.10)

Nesta equação cint representa a concentração de hidrogênio na interface, csup sua

concentração na superfície do líquido em contato com a atmosfera, x representa a

distância entre o eletrodo e a interface líquido iônico / atmosfera de H2, t o intervalo de

exposição ao gás.

Relacionando as duas equações e resolvendo em função de D, encontra-se o

coeficiente de difusão aproximado de H2, utilizando-se a distância do eletrodo à

superfície do líquido no lugar de x (0,5cm) e a concentração de H2 na superfície igual a

da atmosfera (0,04 mol para 1atm de pressão). Para resolver a equação transcendental

correspondente foi utilizado o programa MATHEMATICA®, que produz a solução

numérica do sistema.

O resultado obtido foi da ordem de 10-6cm2s-1. Em solução aquosa coeficientes

de difusão são da ordem de 10-5cm2s-1 o que confirma a expectativa fenomenológica de

um coeficiente de difusão pequeno para H2. Embora pequeno esse valor é relativamente

alto quando comparado a outros sistemas envolvendo líquidos iônicos. Para espécies

carregadas o valor pode chegar à ordem de 10-9cm2s-1. Broder et. al. estudando a reação

de redução de nitrato em líquido iônico encontrou um valor de coeficiente de difusão de

9 x 10-10cm2s-1 [29]. Tal comportamento é esperado devido as diversas forças de coesão

presentes em líquido iônico, tais como interações coulômbicas, de Van der Waals e

ligações de hidrogênio. Essas interações fazem com que a movimentação através do

líquido seja dificultada já que essa envolve rearranjo dos cátions e ânions constituintes.

No caso da difusão de íons o efeito é ainda mais destacado devido às interações

coulômbicas entre o íon que difunde e os íons constituintes do líquido iônico.

Concluída essa fase da investigação, foi utilizado o seguinte procedimento para

trabalho com H2: o gás era diretamente borbulhado no líquido durante 2 horas, sob

aquecimento moderado (50°C). O aquecimento garantia a rápida mobilidade de H2 no

líquido, favorecendo sua solubilização. O posterior resfriamento do sistema funcionava

como uma “armadilha termodinâmica” já que com a diminuição da temperatura a

Page 25: 343o Bruno v5)

16

solubilidade de gases em líquidos é aumentada. Após esse procedimento de

incorporação, medidas eram realizadas com H2 fluindo pela atmosfera da célula, de

forma a manter a saturação.

ESTUDOS VOLTAMÉTRICOS

Utilizando a metodologia de borbulhamento do gás H2 diretamente em líquido

iônico aquecido à temperatura de 50°C, seguido de resfriamento à temperatura ambiente

para preparação do líquido saturado com o foram realizadas voltametrias cíclicas

empregando diferentes velocidades de varredura para análise das propriedades

eletroquímicas do sistema. As curvas resultantes são mostradas na Figura 1.6(A).

Percebe-se que, durante a varredura direta, o potencial de pico de oxidação aumenta

com o aumento da velocidade de varredura, de um valor de 50mV a 180mV. No ciclo

reverso o potencial de pico de redução varia de -75mV a -160mV. A Figura 1.6(B)

relaciona a corrente de pico catódico dos voltamogramas em função de raiz quadrada da

velocidade de varredura enquanto que na Figura 1.6(C) a mesma relação é feita para a

corrente de pico anódico. Em ambos os casos é revelada uma dependência linear.

Figura 1. 6 – (A) Voltamogramas cíclicos obtidos com líquido iônico saturado com H2 e uso de diferentes velocidades de varredura, (B) Relação entre corrente de pico catódico e a raiz quadrada da velocidade de varredura, (C) mesmo que anterior, mas para corrente de pico anódico

O perfil dos voltamogramas cíclicos é semelhante aos encontrados para sistemas

reversíveis; analisando as Figuras 1.6 (B) e (C) fica claro que há obediência à equação

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,80,0

0,3

0,6

0,9

1,2

1,5

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

500mVs-1

200mVs-1

100mVs-1

75mVs-1

50mVs-1

25mVs-1

10mVs-1

5mVs-1

j / m

Acm

-2

Potencial / V

j / m

Acm

-2

v1/2 / (Vs-1)1/2

j / m

Acm

-2

v1/2 / (Vs-1)1/2

Page 26: 343o Bruno v5)

17

(9) que é derivada de considerações cinéticas e difusionais aplicadas a um sistema

reversível, colaborando com a vinculação da reação de H2 a esse grupo. A reação, no

entanto não é completamente reversível devido à difusão de parte do ácido conjugado

formado durante a oxidação para o seio do eletrólito aliada à inexistência do produto da

oxidação de hidrogênio no seio da solução.

O grau de reversibilidade pode ser avaliado pelos coeficientes angulares das

curvas obtidas em B e C, cuja relação (coeficiente angular anódico) / (coeficiente

angular catódico) é de 1,37. O elevado grau de reversibilidade encontrado é devido

principalmente a dois fatores: i) a relativa imobilidade do ácido conjugado formado,

oriunda de seu elevado volume molecular e de forças de coesão de van der Waals e

ligações de hidrogênio presentes entre essa espécie e moléculas de líquido iônico

vizinhas, e ii) a grande estabilidade do ácido conjugado formado como já descrita por

Silvester et. al [28] os quais também observaram um coeficiente de difusão reduzido

para a espécie, da ordem de 10-7cm2s-1.

A Figura 1.7(A) mostra a curva voltamétrica obtida com velocidade de varredura

de 1mVs-1 e, ao lado (B), a curva de Tafel calculada com esses dados, para a região de

-90mV a -10mV. Os picos de oxidação e redução para essa velocidade de varredura se

encontram, respectivamente, em 30mV e -30mV. Seu intervalo corresponde, portanto a

55mV muito próximo do valor Nernstiano para uma reação reversível.

Figura 1. 7 – (A) voltametria cíclica a 1mVs-1 obtida para condição de saturação com H2, (B) curva de Tafel obtida com os dados da voltametria lenta.

-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3

-10

-5

0

5

10

15

j / µ

A c

m-2

Potencial / V

1mVs-1

-9 -8 -7 -6

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0,0

0,1

Pot

enci

al /

V

Log j

Análise de Tafel: 1mV s-1

Inclinação: 110mV dec-1

Page 27: 343o Bruno v5)

18

O valor de coeficiente de Tafel encontrado de 110mVdec-1 é importante no

contexto da reação de desprendimento de H2 em meio aquoso. Nesse meio o coeficiente

de Tafel encontrado é de 120 mVdec-1 e está associado às seguintes etapas reacionais:

Etapa de Tafel: H2s + 2Pt ↔ 2Had

Etapa de Heyrovsky: H2s + Pt ↔ H+ + Had + e-

Etapa de Volmer: Had ↔ H+ + e- + Pt

Em que H2s representa hidrogênio dissolvido em solução e Had hidrogênio

atômico adsorvido sobre Pt. Postula-se dessa maneira que a reação em líquido iônico

segue o mesmo caminho reacional que aquele encontrado em soluções aquosas,

passando por intermediário adsorvido. Em particular a influência do ânion constituinte

se dá na incorporação do próton produto de oxidação pela primeira espécie, segundo a

reação ácido-base:

H+ + A- ↔ HA

Esse entendimento é corroborado pelos resultados de Silvester e Compton os

quais observaram que o pico de redução durante a varredura reversa é reduzido com o

emprego de ânions que geram ácidos conjugados instáveis, como é o caso do BF4, cujo

ácido se dissocia em HF e BF3. Além disso, em seu trabalho observam que a presença

de óxidos de platina sobre o eletrodo tem um efeito deletério sobre e cinética da eletro-

oxidação de hidrogênio, gerando diminuição do pico de oxidação e perda da

reversibilidade. Tal fenômeno pode indicar que a reação de fato envolve etapas

complexas de adsorção e dissociação de hidrogênio, como sugerem os dados anteriores

e que são explorados mais profundamente na próxima seção.

EXPERIMENTOS DE TRANSIENTE DE POTENCIAL DE CIRCUITO ABERTO (OCP):

Os experimentos de transiente de OCP (do inglês open circuit potential) foram

realizados aplicando-se inicialmente um potencial de 0,6V sobre o eletrodo de trabalho

por 1 minuto, na presença de H2 dissolvido. Após esse tempo o eletrodo era

despolarizado e o potencial de circuito aberto acompanhado em função do tempo. Uma

curva típica do decaimento de potencial de circuito aberto é mostrada na Figura 1.8.

Page 28: 343o Bruno v5)

19

Figura 1. 8 – Transiente de potencial de circuito aberto obtido após polarização do eletrodo de trabalho em 0,6V por 1 minuto na presença de H2 dissolvido.

Percebe-se na Figura 1.8 que para tempos longos a relação entre potencial e

logaritmo do tempo é linear. Tal comportamento já era previsto segundo derivação de

Bockris [30]: para uma reação simples de troca de carga, na condição de despolarização,

nenhuma corrente flui através do sistema e a corrente capacitiva ic é igual à faradaica if:

T@ * T3 � 0 (I.11)

ou

&T3 � � U ( (I.12)

Lembrando que a corrente capacitiva corresponde ao produto da capacitância

pela velocidade de variação do potencial e usando simplesmente o termo anódico da

equação de Butler-Volmer para a corrente faradaica, temos, na forma diferencial:

&TV WXY Z[ " #$ % \ � � U ( (I.13)

Em que i0 corresponde à corrente de troca. Rearranjando e procedendo à

integração:

� & ?]^ �

V � � WXY Z& [ " #

$ % \ (""_ (I.14)

& ?]^ � � & $ %

[ # �WXY Z&[ " #$ % \ & WXY Z&

[ "_ #$ % \! (I.15)

-2 0 2 4 6 8

0,45

0,50

0,55

0,60

Pot

enci

al /

V

Ln t

Page 29: 343o Bruno v5)

20

Rearranjando chega-se a expressão final:

(��! � $ %[ # ln Z

^ $ %?] [ #\ &

$ %[ # ln ��' (I.16)

A expressão (16) revela a dependência linear entre a queda de potencial e o

logaritmo do tempo. Prevê também o coeficiente angular de queda de 51mVdec-1. O

valor obtido experimentalmente foi de 10mVdec-1. A Figura 1.9 mostra a comparação

entre a curva experimental e a teórica, calculada com o uso do programa

MATHEMATICA utilizando os valores de parâmetros apresentados na Tabela 1. Os

valores associados aos parâmetros i0 e C utilizados para construção da curva teórica são

costumeiramente encontrados em reações de transferência eletrônica via mecanismo de

esfera externa e interfaces eletrodo/solução aquosa.

Tabela 1 – Parâmetros utilizados na simulação de reação simples

Parâmetro Significado Valor

α Coeficiente de assimetria 0,5

i0 Corrente de troca 10-3 Acm-2

F Constante de Faraday 96450 Cmol-1

R Constante dos gases 8,314 Jmol-1K-1

T Temperatura absoluta 298 K

C Capacidade da dupla camada elétrica 10-6 AV-1

Figura 1. 9 – Comparação entre a curva de OCP experimental e a obtida por simulação do modelo simples.

-4 -2 0 2 4 6 80,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

Reação simples Experimental

Pot

enci

al /

V

Ln t

Page 30: 343o Bruno v5)

21

Fica clara a inadequação do modelo à descrição dos resultados experimentais.

De fato, o livro de Bockris [30] traz que, na presença de etapas complexas como

adsorção, a velocidade do decaimento é reduzida e seu perfil é dependente dos aspectos

mecanísticos envolvidos.

Na busca por uma descrição mais completa dos resultados experimentais, com

base nos resultados mecanísticos obtidos com a análise de Tafel, foi inserido no modelo

o fato de que existe um intermediário de reação adsorvido, através da incorporação de

uma isoterma de adsorção e da proporcionalidade da corrente faradaica com relação ao

grau de recobrimento dessa espécie sobre o eletrodo. O resultado foi a obtenção de dois

sistemas incorporando as situações de isoterma de Langmuir e Frumkin, cada um com

duas equações diferenciais:

Para a isoterma de Langmuir, o sistema diferencial proposto foi:

�"� !� � .��! �?] 1O>�[ "� ! #'^

�b� !� � & #

$ % .��! c1 & .��!d�"� !�

CONJUNTO 1

Na primeira expressão presente no CONJUNTO 1 de EDOs, decorrente da

simples aplicação da lei de ação das massas e cinética eletroquímica, o grau de

recobrimento θ(t) aparece multiplicando o termo de Butler-Volmer. A segunda

expressão corresponde à forma diferencial da isoterma de Langmuir. No caso do

modelo empregando a isoterma de Frumkin:

�"� !� � .��! �?] 1O>�[ "� ! #'^

�b� !� � & #

$ % b� ! c��b� !d

�ef b� !c��b� !d�"� !�

CONJUNTO 2

A primeira expressão em CONJUNTO 2 é análoga à discutida anteriormente. A

segunda expressão corresponde à forma diferencial da isoterma de Frumkin; nela

aparece o termo g que corresponde fisicamente ao valor energético associado às

interações laterais entre adsorbatos. Esse termo pode ter valores positivos, no caso de

interações laterais repulsivas, ou negativos, no caso de interações atrativas.

As equações diferenciais foram resolvidas numericamente utilizando o programa

MATHEMATICA® e os mesmos parâmetros apresentados na Tabela 1 com excessão da

corrente de troca, cujo valor empregado foi de 10-10Acm-2, para melhor ajuste das

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22

curvas. O valor empregado é relativamente pequeno comparado ao utilizado na

simulação anterior (10-3Acm-2); lembremos no entanto que naquela ocasião pretendia-se

simular o comportamento de um sistema com transferência eletrônica via esfera externa.

A presença de etapas complexas em um processo reacional, como adsorção e quebra de

ligações, leva a diminuição da corrente de troca. Os resultados são mostrados na

Figura 1.10:

Figura 1. 10 – Curvas simuladas de OCP para isotermas de Langmuir e Frumkin com parâmetros de interação descritos nas figuras.

As curvas simuladas correspondem em formato aos resultados experimentais.

Em particular, a curva obtida para o caso da isoterma de Langmuir apresenta maior

semelhança. Para essa condição a evolução do recobrimento em função do tempo é

mostrada na Figura 1.11. Nela é mostrado que o recobrimento com Had evolui

rapidamente para o valor de saturação.

-1 0 1 2 3 4 5ln@tD

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

η

Empregando isoterma de Frumkin g=10

-1 0 1 2 3 4 5ln@tD

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

η

Empregando isoterma de Frumkin g=20

-1 0 1 2 3 4 5ln@tD

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

η

Empregando isoterma de Frumkin g=1

-1 0 1 2 3 4 5ln@tD

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

η

Empregando isoterma de Frumkin g=1

Page 32: 343o Bruno v5)

23

Figura 1. 11 – Evolução do recobrimento com Had em função do tempo de transiente de potencial de circuito aberto.

Embora corresponda a um avanço com relação ao modelo desenvolvido por

Bockris, o atual modelo empregando isotermas de adsorção ainda falha no que diz

respeito ao decaimento lento do potencial observado experimentalmente. Isso pode ser

resultado da própria natureza de equilíbrio que as isotermas de adsorção representam, e

que, matematicamente, implicam taxas elevadas de ajuste do recobrimento, o que é

impedido em sistemas reais pela magnitude finita das constantes de velocidade

envolvidas.

O trabalho descrito sobre transientes de OCP abre algumas perspectivas. Um

novo modelo, baseado em primeiros princípios pode trazer informação sobre etapas

individuais de reação. A curva apresentada na Figura 1.11 apresenta a forma

experimental de validar subsequentes modelos, através da obtenção da curva

experimental de recobrimento do intermediário da reação de oxidação de hidrogênio.

2 4 6 8 10t

0.2

0.4

0.6

0.8

1

θ Empregando isoterma de Langmuir

Page 33: 343o Bruno v5)

24

CONCLUSÕES

A análise da estabilidade anódica revelou um coeficiente de Tafel de 130

mVdec-1. O emprego desse valor e dos resultados voltamétricos permitiram atribuir à

reação um mecanismo em que estão presentes etapas simples de adsorção e quebra de

ligação química concertada com a transferência de carga.

O melhor método encontrado para saturação de líquido iônico com H2 foi

através do borbulhamento do gás diretamente no líquido, sob aquecimento moderado.

Os resultados de saturação permitiram o cálculo do coeficiente de difusão da molécula

em LIs, cujo valor obtido foi da ordem de 10-6cm2s-1.

O coeficiente de Tafel encontrado para a reação de oxidação de H2 em LIs foi de

110mVdec-1, coerente com um mecanismo de oxidação envolvendo as etapas de

Volmer, Heyrovski e Tafel, também encontrado para a reação em meio aquoso. O

estudo de transientes OCP e o uso de modelagem matemática confirmaram a existência

de um intermediário adsorvido na reação. Em particular, isotermas de Langmuir se

mostraram mais adequadas na descrição dos resultados experimentais.

Page 34: 343o Bruno v5)

25

PARTE II – CONSUMO QUÍMICO DE ÓXIDOS EM MEIO AQUOSO

RESUMO

A segunda parte da dissertação consiste na apresentação dos dados relacionados

ao estudo do consumo químico de óxidos de platina por ácido fórmico, metanol e etanol

em meio aquoso. Utilizando soluções aquosas de ácido sulfúrico uma camada de óxido

era formada através da aplicação de um potencial de 1,4V (ERH) durante 10min, na

presença do orgânico a ser estudado. Após esse tempo de formação, o eletrodo era

deliberadamente despolarizado e o potencial de circuito aberto acompanhado

juntamente com a coleção de espectros de infravermelho para análise de adsorbatos e

produtos de reação. Os resultados indicaram um mecanismo universal de interação entre

espécies orgânicas e os óxidos de platina. Inicialmente, observa-se a reação lenta entre

as espécies, com oxidação parcial dos orgânicos empregados; essa etapa consumindo a

maior parte do tempo do transiente de potencial. Numa segunda etapa há variação

rápida do potencial de circuito aberto, acompanhada de produção significativa de CO2

(produto da oxidação completa de orgânicos) e surgimento de uma banda relativa a CO

adsorvido (produto da desidrogenação dos alcoóis), indicando que os óxidos de platina

são completamente consumidos nessa fase. A terceira etapa corresponde ao

estabelecimento de uma fração de camada de CO adsorvido sobre o eletrodo, que

guarda relação com a condição de adsorção do orgânico sem controle de potencial. Em

particular, foi atribuído à segunda fase um mecanismo autocatalítico de produção de

sítios de platina livres de óxido, responsável pela queda abrupta de potencial.

Page 35: 343o Bruno v5)

26

INTRODUÇÃO

Contextualização

O grande desenvolvimento tecnológico e intelectual de nossa civilização nos

últimos três séculos foi construído e mantido através da utilização de grandes

quantidades de energia, principalmente oriundas de matrizes fósseis. A estrutura

altamente dependente resultante deste processo, ironicamente, já não pode ser

alimentada com o uso desses combustíveis sem consequências danosas para a

sobrevivência da própria espécie humana. Nesse sentido, é de crescente interesse a

pesquisa em fontes alternativas de energia, menos poluentes e mais eficientes.

A eletroquímica contribuiu com algumas alternativas como, por exemplo,

dispositivos foto-eletroquímicos, baseados na tecnologia de semicondutores. Grande

destaque é dado, no entanto, às células a combustível, dispositivos capazes de

transformar energia química de reações de oxi-redução em energia elétrica.

Existem vários tipos de células a combustível [31] e todas guardam a mesma

relação: a existência de um cátodo, em que uma espécie, principalmente oxigênio

molecular (O2), é reduzida e um ânodo em que outra espécie é oxidada. Embora

hidrogênio seja a espécie mais estudada e melhor adequada à utilização no ânodo, a

logística de transporte de materiais atual incentiva o emprego de combustíveis líquidos

o que gerou crescente interesse da comunidade científica no estudo de moléculas como

metanol e etanol, durante os últimos 20 anos [32].

DAFCs, direct alcohol fuel cells, são células que empregam alcoóis como

combustíveis e utilizam normalmente a membrana de náfion trocadora de prótons

(PEM) como eletrólito polimérico. O estudo desses dispositivos revelou um problema

de natureza físico-química: a membrana não é totalmente capaz de barrar a passagem do

álcool do compartimento anódico para o catódico, o que leva ao estabelecimento de um

potencial mixo no último diminuindo a eficiência total da célula. Esse fenômeno,

conhecido como crossover tem sido muito estudado [33] e é objeto de investigação

desta parte da dissertação.

Page 36: 343o Bruno v5)

27

O estudo em células unitárias:

A eletro-oxidação de ácido fórmico, metanol e etanol sobre eletrodos de platina

pura e modificada tem sido extensivamente estudada pela comunidade científica. Para

ácido fórmico atualmente é aceito um esquema de reação que compreende um

intermediário fortemente adsorvido, COad, e um intermediário ativo para a oxidação

cuja natureza não é bem determinada. Sua oxidação é de extrema relevância já que é a

substância carbonácea líquida a temperatura ambiente de composição mais simples, o

que permite o entendimento claro de etapas e constantes de reação envolvidas e a

consequente extrapolação dos conceitos apreendidos para moléculas com

comportamento eletroquímico mais complexo.

No caso do metanol [34-40] sabe-se que a molécula pode ser completamente

oxidada a CO2 e parcialmente oxidada a formaldeído (H2CO), ácido fórmico (HCOOH),

formiato adsorvido (HCOO-) e monóxido de carbono adsorvido (COad), embora os

detalhes mecanísticos ainda não estejam completamente esclarecidos.

Bagotzky [41] propôs um esquema de reação segundo o qual metanol se adsorve

pelo carbono sofrendo então sucessivas desidrogenações até atingir um dos produtos de

oxidação supra-citados. Deve-se ter em mente que produtos com estados de oxidação

superiores são atingidos com a participação da água ou óxidos no processo reativo.

Apesar desse esquema ser amplamente aceito, alguns detalhes sobre a desidrogenação

de metanol ainda continuam obscuros. Batista et. al. [39] baseados em experimentos

com monocristais de platina e uso de diferentes eletrólitos suporte sugeriram que a

oxidação parcial gerando formaldeído e ácido fórmico seguiria rotas alternativas, com

adsorção da molécula via oxigênio do grupo álcool, principalmente na condição em que

o eletrodo está bloqueado com COad ou ânions adsorvidos (potenciais acima de 0,4V).

Essa hipótese tem recebido apoio pela comunidade científica e é suportada por

resultados teóricos de força de adsorção para diferentes configurações de ligação da

molécula com o eletrodo [42].

A eletro-oxidação de etanol [43-47] envolve basicamente três caminhos

reacionais que produzem CO2, acetaldeído (CH3CHO) e ácido acético (CH3COOH). A

molécula pode ser dissociada na superfície do eletrodo produzindo COad, o qual pode

ser posteriormente oxidado a CO2. Os principais produtos da oxidação de etanol são

Page 37: 343o Bruno v5)

28

acetaldeído e ácido acético, cuja distribuição relativa depende marcadamente da

concentração de etanol em solução [47], dentre outros fatores.

O entendimento das reações de oxidação dessas moléculas gerou um conjunto de

informações que foi explorado no estudo da interação entre óxidos de platina e

pequenos alcoóis, importante no contexto do fenômeno do crossover. A metodologia de

investigação nesse tipo de estudos consiste na formação de uma camada de óxido

utilizando um potencial maior que 1,2V, seguida da despolarização do eletrodo e

acompanhamento de seu potencial de circuito aberto na presença de um orgânico em

solução. A Figura 2.1 exemplifica o tipo de curva coletada nesses experimentos. Oxley

et al. [48] investigaram a interação entre alguns compostos HCO (e.g. metanol, ácido

fórmico...) com superfícies oxidadas de platina e observaram que o tempo requerido

para o consumo de óxidos aumenta na ordem HCHO<HCOOH<CH3OH. Estudos

similares foram realizados por Podlovchenko e colaboradores para diversas moléculas

orgânicas [49-55]. Foram estressados alguns aspectos como o efeito da identidade do

orgânico nas características do transiente de potencial de circuito aberto (OCP – open

circuit potential), o efeito de sua concentração e da rugosidade do eletrodo.

Figura 2. 1– Transiente de potencial de circuito aberto para interação entre óxidos de platina e metanol 0,1molL-1.

A natureza das espécies formadas durante os transientes foi investigada

utilizando técnicas ex situ e in situ. Com o emprego de cromatografia de troca iônica,

Manzhos et al. [49] estudaram a interação de metanol com superfícies altamente rugosas

0 20 40 60 80 100 120 140 1600,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

Pot

enci

al /

V

Tempo / s

Consumo lento de óxidos

Consumo acelerado de óxidos

Estabelecimento de condiçãode adsorção de metanol semcontrole de potencial

Page 38: 343o Bruno v5)

29

e determinaram que quantidades pequenas de formaldeído são formadas e praticamente

nenhum traço de ácido fórmico é observado, concluindo que o principal produto de

interação era CO2. Jusys e Behm [56] empregaram espectrometria de massas diferencial

(DEMS) objetivando o estudo da interação entre metanol e superfícies de platina

oxidadas suportadas sobre carbono, identificando CO2 e traços de ácido fórmico como

produtos de reação.

Sitta e Varela [57] estudaram, recentemente, transientes OCP durante a interação

entre metanol e óxidos de platina abordando a identidade do ânion presente no eletrólito

e o grau de oxidação da superfície antes da interação com o orgânico. Suas principais

conclusões foram que átomos de platina estão expostos durante todo o transiente,

independentemente da quantidade de óxido total, devido à existência de óxidos

superficias e sub-superficiais, relacionados ao fenômeno de place-exchange, a troca de

posição entre oxigênio e platina motivada pela repulsão entre átomos de oxigênio

vizinhos. Além disso, os autores sugeriram que as etapas de interação envolvendo

espécies oxigenadas são controladas pela emergência dos óxidos sub-superficiais.

Page 39: 343o Bruno v5)

30

MATERIAIS E MÉTODOS

Ácido sulfúrico (Mallinckrodt, 99.8%), metanol (J. T. Baker, 99.9%), etanol (J.

T. Baker, 99.9%) e ácido fórmico (Fluka, 99,9%) foram utilizados sem purificação

adicional. Todas as soluções foram preparadas utilizando água do sistema Milli Q

(Millipore®). Um disco de platina foi utilizado como eletrodo de trabalho enquanto que

o contra eletrodo foi um anel de platina de elevada área superficial. O eletrodo de

referência foi o reversível de hidrogênio na mesma solução (ERH), a respeito do qual

todos os potenciais foram referenciados. Soluções foram purgadas com argônio (White

Martins 5.0).

Os experimentos eletroquímicos foram realizados com o potenciostato Solartron

1286. Experimentos de infravermelho empregaram o espectrômetro Nicolet Nexus 670

com transformada de Fourier, utilizando o modo de reflectância. Neste tipo de

experimentos bandas negativas indicam produção de uma dada espécie, enquanto que

bandas positivas indicam consumo. Os experimentos com metanol e ácido fórmico

foram realizados usando o método de aquisição rápida de espectros (8 scans por

segundo) e uso da janela prismática de CaF2. Devido a necessidade de melhor

resolução, o modo de aquisição normal de espectros com 16 scans por segundo foi

usado no caso de etanol, juntamente com a janela de ZnSe.

A rotina experimental foi a seguinte: inicialmente um voltamograma cíclico era

coletado em solução de eletrólito puro para verificar a limpeza do sistema e a condição

do eletrodo de trabalho. Ácido fórmico, Metanol ou etanol era então inserido até uma

concentração final de 0,1molL-1 e as propriedades eletrocatalíticas do eletrodo sob essas

condições testadas com voltametria. Depois disso o eletrodo de trabalho era polarizado

em 1,4V por 10 minutos de forma a criar um conteúdo de óxido. 15s antes do término

desta polarização o eletrodo era pressionado contra a janela prismática, estabelecendo a

configuração de camada fina e a aquisição de espectros era iniciada. O potenciostato

coletava em paralelo o valor do potencial de circuito aberto.

Page 40: 343o Bruno v5)

31

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 2.2 mostra o comportamento voltamétrico da eletro-oxidação de (A)

ácido fórmico, (B) metanol e (C) etanol em eletrodo policristalino de Pt imerso em meio

ácido. A corrente foi normalizada pela área real do eletrodo, calculada através da

integração da região do voltamograma correspondente à reação de oxidação de

hidrogênio adsorvido em regime de subtensão. Para todos os casos, a eletro-oxidação

ocorre a taxas desprezíveis abaixo de 0,4V durante a varredura positiva, devido à

presença de espécies fortemente adsorvidas (e.g. COad e resíduos CHO) provenientes da

adsorção dissociativa dos orgânicos e à inexistência de espécies oxidantes ativas para a

reação nessa faixa de potenciais. A eletro-oxidação de etanol tem seu início em

potenciais inferiores que para metanol, provavelmente devido ao menor grau de

envenenamento do eletrodo na presença de etanol cuja dissociação e consequente

formação de COad é dificultada pela elevada estabilidade da ligação C-C. Ácido fórmico

apresenta a maior atividade eletrocatalítica tanto com relação ao pré-pico quanto ao pico

principal devido à relativa simplicidade de sua reação de oxidação. A Tabela 2 traz os

valores das correntes de pico anódico e catódico para as três condições.

Figura 2. 2– Voltamogramas cíclicos obtidos com eletrodo de Pt policristalina em solução de H2SO4 0,5molL-1, contendo: (A) ácido fórmico 0,1molL-1, (B) metanol 0,1molL-1, (C) etanol 0,1molL-1. É também apresentado o voltamograma base da platina na ausência dos orgânicos – curva negra.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

H2SO

4 0,5 molL-1

Metanol 0,1 molL-1

j / m

A c

m-2

Potencial / V

B C H

2SO

4 0,5 molL-1

Etanol 0,1 molL-1

j / m

A c

m-2

Potencial / V

A H

2SO

4 0,5molL-1

Ácido Fórmico 0,1 molL-1

j / m

Acm

-2

Potencial / V

Page 41: 343o Bruno v5)

32

Tabela 2 – Características voltamétricas de ácido fórmico, metanol e etanol.

Composto Corrente de pico varredura direta

(mAcm-2)

Corrente de pico varredura reversa

(mAcm-2) Ácido Fórmico 1,95 3,70

Metanol 1,52 1,22 Etanol 0,76 1,61

Valores de corrente de pico devem ser encarados com cautela em eletrocatálise.

No contexto de células a combustível é interessante que um dado reagente apresente

densidades de corrente elevadas em baixos potenciais, o que não necessariamente está

associado a um pico de oxidação de elevada magnitude. Além disso, o valor de pico de

oxidação não fornece dados a respeito da eficiência de conversão do reagente em CO2,

os quais só podem ser acessados com auxílio de algum tipo de espectroscopia.

A Figura 2.3 traz a varredura negativa para os voltamogramas exibidos na Figura

2.2. Os valores de corrente foram normalizados pelo valor de pico de oxidação para

melhor visualização da atividade eletrocatalítica com relacão ao potencial. Percebe-se

que em potenciais elevados, a taxa de oxidação das espécies é pequena e decresce até

um valor mínimo que depende da natureza do orgânico. A oxidação só é retomada em

potenciais abaixo de 0,8V. Na Figura 2.3 é evidenciada a faixa de potenciais em que as

correntes de oxidação permanecem nulas ou negativas, e, seu valor quantificado na

Tabela 3. Na Figura 2.2 a faixa de estabilidade corresponde à região em que os

voltamogramas na presença e ausência de orgânicos coalescem. A faixa de estabilidade

decresce na ordem: ácido fórmico > metanol > etanol. De fato, com o aumento da

complexidade da reação de eletro-oxidação aumentam também as possibilidades de

interação com óxidos via mecanismos diretos ou com intermediários fracamente

adsorvidos levando a maiores correntes de oxidação e consequentemente uma janela de

estabilidade menor.

Page 42: 343o Bruno v5)

33

Figura 2. 3– Varredura negativa obtida com eletrodo de Pt policristalina em solução de H2SO4 0,5molL-1, obtida com ácido fórmico 0,1molL-1, metanol 0,1molL-1 e etanol 0,1molL-1. Os valores de corrente foram normalizados pela corrente máxima pertinente a cada espécie.

Tabela 3 – Intervalo de estabilidade durante varredura reversa.

Composto Intervalo de estabilidade durante varredura

reversa (V) Ácido Fórmico 0,8 – 1,2

Metanol 0,8 – 1,1 Etanol 0,8 – 0,9

A varredura negativa, em todos os casos, curiosamente revela que a reoxidação

dos orgânicos só ocorre depois que certo potencial (0,8V – 0,85V) é atingido. A

comparação com o voltamograma base da platina revela que esse potencial é o mesmo

em que tem início a redução dos óxidos. Esse fato será explorado posteriormente, em

conjunto com os resultados de transiente de OCP.

Um último aspecto relevante sobre os voltamogramas é o fato de que a

magnitude do pico de reoxidação também depende da natureza do orgânico. Metanol

apresenta o pico de menor extensão seguido de etanol e ácido fórmico. A extensão do

pico pode ser associada principalmente a dois fatores: a dependência do recobrimento

de espécies oxigenadas eletroativas, que decresce com o potencial e o envenenamento

do eletrodo com CO adsorvido. Assim, como metanol apresenta uma taxa de

dissociação e formação de CO bastante elevada, a extensão de seu pico é menor. Segue-

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 Ácido fórmico Metanol Etanol

Cor

rent

e no

rmal

izad

a

Potencial / V

Page 43: 343o Bruno v5)

34

se etanol, que possui uma taxa de dissociação inferior devido à força da ligação C-C e à

dificuldade inerente a sua quebra catalítica e finalmente ácido fórmico que, como se

verá nos resultados posteriores, possui um recobrimento com CO em estado

estacionário semelhante ao observado para metanol e pode ser oxidado diretamente a

CO2 sem a exigência do auxílio de espécies oxigenadas.

Transientes de OCP - metanol

Concluída a análise eletrocatalítica dos sistemas procedeu-se o estudo da

interação entre óxidos de platina e as espécies orgânicas. Depois de 10 minutos de

polarização em 1,4V, empregando solução contendo metanol, o eletrodo foi

despolarizado e seu potencial de circuito aberto acompanhado junto com a coleção de

espectros. A Figura 2.4(A) mostra a série de espectros coletados durante o transiente; na

Figura 2.4(B) é ilustrada a evolução das bandas integradas de COad (2060cm-1) e CO2

(2340cm-1) em função do tempo ao longo do transiente. Deve-se lembrar que a banda

integrada é uma medida da quantidade de espécie formada ou consumida. O perfil da

curva de OCP é semelhante ao encontrado por outros autores em condições similares e

pode ser dividido em partes segundo as diferentes reações que têm lugar ao longo do

transiente. Inicialmente há um decréscimo rápido do potencial na região acima de 1,1V

que é acompanhado de uma região de variação lenta, que consome a maior parte do

tempo do transiente. Segue uma região de variação abrupta do potencial associada ao

consumo completo dos óxidos presentes no eletrodo. Finalmente, a quarta região

corresponde à situação de adsorção de orgânico na ausência de controle de potencial.

Page 44: 343o Bruno v5)

35

Figura 2. 4– (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido. Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V por 10 minutos, por metanol 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1.

Para recobrimentos de óxidos da ordem de 1 monocamada, Podlovchenko e

colaboradores [55] determinaram que a região de transiente lento está associada a um

consumo pouco expressivo de Pt-O, da ordem de 20% do total e sugeriram que a

interação com o álcool seria direta, sem a adsorção do último. Como mostram as

Figuras 2.4 (A) e (B) não há produção de COad ou CO2 nessa região. Dessa forma,

segundo recente sugestão [58], essa região seria caracterizada pelas seguintes reações:

OHCOHPtCOHHOPt 223 ++→+− (II.1)

HCOOHPtCOHOPt +→+− 2 (II.2)

As quais representam a oxidação parcial de metanol gerando formaldeído que

pode ser posteriormente oxidado a ácido fórmico. As duas pequenas bandas em

0 20 40 60 80 100 120 140 1600,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

0

20

40

60

80

100

3000 2500 2000 150090

92

94

96

98

100

102

104

106

108

110

Pot

enci

al /

V

Tempo / s

B

CO2 dissolvido

COad

Ban

da in

tegr

ada

/ u.a

.

123017102065

Ref

lect

ânci

a / %

Frequência / cm-1

10s30s50s70s

90s

110s

130s

A

2341

Page 45: 343o Bruno v5)

36

comprimentos de onda de 1710 e 1230 cm-1 (Figura 2.4(A)) podem ser associadas a

ácido fórmico ou metil-formiato, conferindo validade experimental à sugestão. Deve-se

lembrar que metil-formiato é proveniente da reação entre ácido fórmico e metanol,

catalisada em meio ácido:

OHHCOOCHCOHHHCOOH 233 +→+

Traços de metil-formiato foram observados sob condições similares em

trabalhos utilizando a técnica de DEMS [56]. A relativa pequena intensidade da banda

associada a ácido fórmico é coerente com a pequena quantidade de óxido de platina

consumida na região de potenciais elevados. Além disso, a evidência de que agitação da

solução leva ao aumento do tempo de transiente [48] é coerente com a proposta de

reação (2) já que a agitação leva embora intermediários de reação, no caso formaldeído,

impedindo sua subseqüente oxidação a ácido fórmico e o consumo de óxido associado.

Como sugerido recentemente por Sitta e Varela [57], grande parte do conteúdo

de óxido está presente na forma de espécies sub-superficiais, devido à operação do

mecanismo de place-exchange, o que garante que sítios de platina estejam livres para

adsorver moléculas orgânicas. Este mesmo trabalho mostra que o emprego de eletrólitos

de suporte contendo espécies com forças crescentes de adsorção leva a tempos

crescentes de transiente, sugerindo que há etapas de adsorção do orgânico, no consumo

de óxidos, diferentemente do sugerido por Podlovchenko [49].

Após a região de consumo lento de Oad o potencial de circuito aberto cai

abruptamente coincidindo com o aparecimento de COad e CO2. Acompanhando a Figura

2.4(B), vê-se que a banda integrada de CO2 tem um início de crescimento lento seguido

de um rápido aumento; somente depois disso é possível observar a banda de COad, o que

indica que a última espécie reage rápido na presença de óxidos.

O decréscimo rápido do potencial de circuito aberto e a consequente rápida

produção de CO2 dissolvido é característica de um mecanismo autocatalítico conectando

os estados de alto e baixo conteúdo de óxidos. Produção massiva de CO2 durante a

região de decaimento rápido também foi observada por Jusys e Behm [56] com o uso de

DEMS on line, sob condições similares. Para melhor entendimento do processo de

autocatálise, segue abaixo uma descrição geral do fenômeno.

Page 46: 343o Bruno v5)

Autocatálise é um fenômeno observado em sistemas dinâmicos sendo

responsável por oscilações quando um ciclo de retroalimentação

Usa-se o termo autocatálise para identificar a situação na qual um reagente participa de

um conjunto de reações que tem como resultado a produção de um número maior

moléculas de sua própria espécie.

autocatalítica simples: A + B

é elevada, uma perturbação, que pode corresponder à adição de uma quantidade

pequena do reagente A leva ao consumo exp

Figura 2. 5 – Esquema ilustrativo demonstrando um mecanismo de autocatálise simples.

O mecanismo de autocatálise

entendido como se segue.

Após o consumo parcial de O

sítios de platina livres suficientes para que a desidrogenação completa de metanol possa

ocorrer

+COHH 33

Foi demonstrado que a formação de CO a

três sítios contíguos [59]

Como apenas CO linearmente coordenado a platina é observado nos espectros:

COHPt3 −

Finalmente, como argumentado anteriormente a reação entre CO

relativamente rápida. Essa reação ocorre segundo u

Hinshelwood [60], em que ambas espécies estão adsorvidas durante o processo reativo:

Autocatálise é um fenômeno observado em sistemas dinâmicos sendo

responsável por oscilações quando um ciclo de retroalimentação positiva

se o termo autocatálise para identificar a situação na qual um reagente participa de

um conjunto de reações que tem como resultado a produção de um número maior

de sua própria espécie. A Figura 2.5 apresenta um esquema de uma reação

lítica simples: A + B → 2A. Partindo da condição em que a concentração de B

é elevada, uma perturbação, que pode corresponder à adição de uma quantidade

pequena do reagente A leva ao consumo explosivo da espécie B.

Esquema ilustrativo demonstrando um mecanismo de autocatálise simples.

O mecanismo de autocatálise para a interação entre óxidos e metanol

Após o consumo parcial de Oad durante a região intermediária do transiente,

ítios de platina livres suficientes para que a desidrogenação completa de metanol possa

−+++−→ eHCOHPtPt 333 3

Foi demonstrado que a formação de CO a partir de metanol exige no mínimo

e é resultado da desidrogenação do intermediário

Como apenas CO linearmente coordenado a platina é observado nos espectros:

PteHCOPtCOH 2+++−→−+

Finalmente, como argumentado anteriormente a reação entre CO

ápida. Essa reação ocorre segundo um mecanismo do tipo Langmuir

, em que ambas espécies estão adsorvidas durante o processo reativo:

37

Autocatálise é um fenômeno observado em sistemas dinâmicos sendo

positiva está presente.

se o termo autocatálise para identificar a situação na qual um reagente participa de

um conjunto de reações que tem como resultado a produção de um número maior de

A Figura 2.5 apresenta um esquema de uma reação

artindo da condição em que a concentração de B

é elevada, uma perturbação, que pode corresponder à adição de uma quantidade

Esquema ilustrativo demonstrando um mecanismo de autocatálise simples.

para a interação entre óxidos e metanol pode ser

durante a região intermediária do transiente, há

ítios de platina livres suficientes para que a desidrogenação completa de metanol possa

(II.4).

anol exige no mínimo

ção do intermediário –COH.

Como apenas CO linearmente coordenado a platina é observado nos espectros:

(II.5).

Finalmente, como argumentado anteriormente a reação entre COad e Oad é

m mecanismo do tipo Langmuir-

, em que ambas espécies estão adsorvidas durante o processo reativo:

Page 47: 343o Bruno v5)

38

22 COPtOPtCOPt +→−+− (II.6)

Como não há corrente fluindo através do circuito as etapas (II.4) e (II.5) deve

estar acopladas com a reação de redução de óxido:

OHPteHOPt 222 +→++−−+ (II.7).

Esse último cenário em que reações de redução e oxidação acontecem acopladas

através da mediação do eletrodo já é conhecido na literatura [61] e referenciado como

“reações conjugadas”. Esse mecanismo pode ser o responsável pela produção de CO2

depois que o transiente tem fim, associada à reação de redução de H+.

A soma das etapas de (II.4) a (II.7) resulta na seguinte reação global:

PtOHCOPtOPtCOHH 6233 223 ++→+−+ (II.8).

Fica claro segundo a reação global que a presença inicial de 3 sítios livres de

platina gera a produção de 6 sítios livres de platina, caracterizando dessa maneira um

processo autocatalítico. A autocatálise para a produção de sítios livres pode ser

considerada a responsável tanto pelo aumento explosivo da produção de CO2 quanto

pela redução drástica do potencial associada. O recobrimento com COad começa a

aumentar através da etapa (II.5) logo após o transiente rápido, quando sua remoção via

etapa (II.6) se torna limitada devido a diminuição da quantidade de óxido.

Transientes de OCP - etanol

A mesma metodologia empregada no estudo da interação entre óxidos e metanol

foi utilizada com etanol. Em solução contendo etanol, o eletrodo foi polarizado em 1,4V

por 10 minutos e em seguida a curva de decaimento do potencial de circuito aberto foi

coletada juntamente com os espectros de infravermelho em função do tempo. A Figura

2.6 mostra em (A): a sequência completa dos espectros, em (B): a evolução das bandas

integradas de CO2 e COad e o transiente de circuito aberto.

Page 48: 343o Bruno v5)

39

Figura 2. 6- (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido. Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V por 10 minutos, por etanol 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1.

Comparando os transientes de OCP para metanol e etanol pode-se observar que

o tempo requerido para consumo dos óxidos é maior para a primeira molécula. Como o

mesmo procedimento foi empregado em ambos os casos esse fato deve ser explicado

considerando que uma menor quantidade de óxido é formada eletroquimicamente na

presença de etanol, como já discutido para a Figura 2.2.

Como observado com metanol, não há produção de CO2 ou COad na região de

potenciais elevados. Tendo início durante o transiente rápido de potencial, a produção

dessas espécies é observada, mas em quantidade bem inferior aquela encontrada para

metanol, como mostra a comparação das bandas integradas para as Figuras 2.5(B) e

2.6(B). Esse fato é esperado, tendo-se em vista a dificuldade intrínseca para adsorção de

0

2

4

6

3000 2500 2000 1500 1000

99,5

100,0

100,5

101,0

101,5

102,0

0 20 40 60 800,2

0,4

0,6

0,8

1,0

B

Pot

enci

al /

V

Tempo / s

CO2 dissolvido

COad

Ban

da In

tegr

ada

/ u.

a.

12801360163517132055

8s

16s

24s

34s

44s

58s

68s

78s

159s

182s

Frequência / cm-1

2341

A

Page 49: 343o Bruno v5)

40

etanol e quebra da ligação C-C. De fato, um número maior de sítios de platina livres é

necessário para adsorção e dissociação de etanol que para metanol. Dessa forma,

assumindo um mecanismo de oxidação parcial de etanol semelhante ao proposto para

metanol por Batista et. al. no cenário de superfícies bloqueadas, como discutido na

introdução, espera-se que o peso relativo dos produtos de oxidação parcial seja maior

para etanol que para metanol.

Voltando a Figura 2.5(A), a banda em 1713 cm-1 correspondendo ao estiramento

C=O do grupo carbonila [62] aparece em 8s e cresce continuamente com o tempo. Essa

banda pode ser associada tanto a acetaldeído ou ácido acético dissolvidos na cama final

e prova que as vias de reação paralelas são operativas já na região de potenciais

elevados. A banda em 1280cm-1 associada ao estiramento C-O proveniente de ácido

acético dissolvido [62] e a banda em 1360 cm-1 associada ao grupo CH3 de acetato

adsorvido [63] são pouco discerníveis na série de espectros apresentada na Figura

2.6(A). Devido à ausência dessas bandas, aquela observada em 1713 cm-1 pode ser

atribuída principalmente a acetaldeído. Além disso, uma pequena banda em 1635cm-1

relativa a acetaldeído adsorvido [64] também indica a presença dessa espécie. Dessa

forma há evidências suficientes para afirmar que acetaldeído é o produto principal da

interação entre etanol e óxidos de platina.

A primeira etapa para produção de acetaldeído em condições de elevado

recobrimento com Oad é a adsorção de etanol seguida da interação com um sítio Pt-O

[62]:

( ) ( ) OHPtCHOCHPtOPtOHCHCHPtadad 2323 ++→−+ (II.10),

Seguida da dessorção de acetaldeído. Após o consumo parcial da camada de

óxido a reação pode proceder via o mecanismo de reações conjugadas através do

acoplamento com a reação de redução de óxido. Neste caso, etanol adsorvido pode

sofrer desidrogenação gerando formaldeído adsorvido:

( ) ( ) −+++→ eHCHOCHPtOHCHCHPt

adad22323 (12),

Que posteriormente pode se dessorver. A reação global é, portanto, no caso de

etanol:

Page 50: 343o Bruno v5)

41

PtOHCHOCHPtOPtOHCHCH 22323 ++→+−+ (II.13).

Novamente, a etapa (II.13) indica um mecanismo de produção autocatalítica de

sítios livres de platina que pode estar associado ao transiente explosivo de potencial.

Acetaldeído adsorvido pode ser também o precursor para formação de COad,

como mostrado por Shao e Adzic [46]:

( ) −+++−+−→+ eHCHPtCOPtPtCHOCHPt

ad 33 (II.14).

COad só é observado depois que o transiente tem fim sugerindo que a etapa 14

requer grandes quantidades de sítios livres de platina para ocorrer.

Deixando de lado os detalhes mecanísticos específicos das reações envolvendo

metanol e etanol, é possível afirmar que a produção autocatalítica de sítios livres de

platina é sempre operante durante a região de transiente rápido de OCP causado pela

interação de óxidos com espécies orgânicas. Além dos exemplos de metanol e etanol, é

observada essa queda abrupta de potencial em experimentos com ácido fórmico

(próxima seção), formaldeído e outros.

Além disso, a produção autocatalítica de sítios livres de platina parece ser

responsável pela reativação observada durante a varredura negativa nos voltamogramas

cíclicos de diversas espécies orgânicas como apresentado na Figura 2.2. Durante o ciclo

negativo a redução de óxidos é inicialmente dirigida pelo potencial e posteriormente,

quando um valor mínimo crítico de óxido é atingido, autocatálise parece ter lugar.

Transientes de OCP – ácido fórmico, experimento e simulação

A metodologia empregada nos experimentos anteriores foi utilizada também

para estudo das reações relacionadas ao consumo químico de óxidos por ácido fórmico.

O eletrodo foi polarizado em 1,4V durante 10min em solução contendo ácido fórmico

em concentração de 0,1molL-1; em seguida o potencial foi aberto e uma série de

espectros coletadas em paralelo ao acompanhamento do potencial de circuito aberto. A

Figura 2.7 (A) apresenta uma parte do conjunto de espectros obtidos durante o

Page 51: 343o Bruno v5)

42

transiente de potencial de circuito aberto, representado na Figura 2.7 (B) juntamente

com as bandas integradas relativas a COad e CO2.

Figura 2. 7 - (A) Conjunto expandido dos espectros de FTIR, (B) Transiente de OCP associado, juntamente com as bandas integradas de COad e CO2 dissolvido. Trasiente obtido durante o consumo químico de óxidos de platina, formados em 1,4V por 10 minutos, por ácido fórmico 0,1molL-1. Eletrólito suporte: H2SO4 0,5 molL-1.

Nota-se que a banda relacionada a CO2 (2340cm-1) apresenta crescimento desde

o início do experimento embora esse seja pouco expressivo antes da transição rápida de

potencial. Diferentemente de metanol e etanol, não há alternativa reacional à oxidação

de ácido fórmico que não a formação de CO2. Para a região de potenciais elevados não é

observada nenhuma banda na região de 2050cm-1 o que indica que COad não é formado

ou sua taxa de reação com óxido é extremamente elevada.

Aos 17s de experimento tem início a queda abrupta de potencial.

Concomitantemente, o conjunto de espectros revela uma explosão na produção de CO2.

Aparece uma banda em 1650cm-1 associada a COad e uma banda positiva em 1730cm-1

0 10 20 30 40 50 60 70 80-20

0

20

40

60

80

100

120

140

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

2800 2400 2000 1600 120075

80

85

90

95

100

105

110

B

CO2 dissolvido

COad

Ban

da in

tegr

ada

/ u.a

.

Tempo / s

Pot

enci

al /

V

17302050

Ref

lect

ânci

a / %

Frequência / cm-1

5s10s15s20s

23s

25s

30s

35s

40s

2340

A

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43

indicando o desaparecimento de espécies contendo carbonila e que pode ser associada

ao consumo de ácido fórmico na camada fina.

Após o transiente rápido o recobrimento com CO tende a um valor estacionário,

enquanto que a quantidade de CO2 na camada continua a crescer. Esse comportamento

já havia sido observado com metanol e etanol e pode ser explicado pela presença de

reações acopladas de oxidação do orgânico e redução de prótons.

Levando em consideração a natureza da molécula de ácido fórmico, pode-se

levantar uma série de reações que explicariam sua interação com óxidos de platina:

A primeira reação possível é a de interação direta entre ácido fórmico e óxido de

platina via um mecanismo do tipo Eley-Rydeal:

PtOHCOOPtHCOOH ++→−+ 22 (II.15).

Essa reação, se ocorrente, teria expressão no início do transiente, para o qual o

recobrimento com óxido é elevado e, portanto a adsorção de ácido fórmico dificultada.

Sua velocidade deve, no entanto, ser reduzida, devido a inexistência da ativação do

átomo de carbono via ligação com platina.

A segunda possibilidade é a de reações acopladas já discutidas nos contextos de

metanol e etanol. Para ácido fórmico elas corresponderiam à oxidação direta da espécie,

via intermediário ativo, cujos elétrons resultantes direcionariam a reação de redução do

óxido:

PteHCOPtHCOOH +++→+−+ 222 (II.16).

PtOHOPteH +→−++−+

222 (II.17).

Uma última possibilidade consiste da reação via intermediário COad:

OHCOPtPtHCOOH 2+−→+ (II.18).

PtCOOPtCOPt 22 +→−+− (II.19).

A reação (II.18) é responsável pelo crescimento da quantidade de CO adsorvido

sobre a superfície do eletrodo após o transiente de potencial, já que nessa condição não

há presença de óxidos.

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44

As reações listadas de II.16 a II.18 dão origem a uma mesma reação total:

PtOHCOPtOPtHCOOH 222 ++→+−+ (II.20).

Evidencia-se novamente a produção autocatalítica de sítios livres de platina, a

qual, como argumentado para metanol e etanol, parece estar diretamente relacionada à

variação abrupta do potencial de circuito aberto.

De posse do comportamento experimental do sistema e das reações mais

prováveis relacionadas a ele foi elaborado um modelo de interação entre óxidos de

platina e ácido fórmico. As Figuras 2.8 (A) e (B) mostram uma análise pictórica dos

principais estágios da interação entre as espécies e nomeiam as constantes utilizadas no

modelo.

Figura 2. 8 – (A) Rede reacional para interação entre óxidos de platina e ácido fórmico, (B) Conjunto total das reações com destaque para o local em que ocorrem (superfície, subsuperfície e interface).

Como argumentado por Sitta e Varela [57], o place-exchange entre oxigênio e

platina tem papel importante nos transientes de circuito aberto já que permite a

existência de sítios livres no metal, mesmo quando elevadas concentrações de óxido

estão presentes. Para incorporá-lo ao modelo foi adicionada uma etapa que leva em

consideração o câmbio entre oxigênio superficial (sup) e subsuperficial (sub),

consumindo sítios distintos de platina no processo:

supOPtPtPtOPt subsub −+↔+− (21)

Oup

Odw

HCOOHsol

HCOOHadCO

CO2CO2

Oup

kDI

kCOkCOX

kDO

B

HCOOHsol

HCOOHad

CO

Oup

CO2

Oup

Oup

Pt

Pt

A

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45

Outra reação importante inserida foi a de adsorção do orgânico sobre platina,

mostrada abaixo. Nela “a” representa o número de sítios de platina necessários para

adsorção de ácido fórmico. Como mostrado por Podlovchenko et. al. esse número

assume o valor 2 no caso de transientes de circuito aberto.

adHCOOHaPtHCOOH →+ (II.22)

As reações II.15 a II.20 completam o modelo.

Estabelecido o conjunto de equações diferenciais passou-se à construção do

conjunto de equações diferenciais representativo do sistema. Para tanto foram

escolhidas algumas variáveis significativas: concentração de óxido acima e abaixo da

superfície, recobrimento com ácido fórmico adsorvido e recobrimento com CO

adsorvido. À derivada de cada uma dessas variáveis foi associada uma lei de velocidade

que consistia da soma dos fatores que causavam sua variação individual, segundo a lei

de ação das massas. Exemplificando para a produção de ácido fórmico adsorvido (f):

N��!� � �/Q �/# �g!2

Em que kAD é a constante de velocidade intrínseca, cAF a concentração de ácido

fórmico na interface, (*) corresponde ao número de sítios disponíveis para adsorção, a é

o número de sítios envolvidos no processo de adsorção,

Algumas considerações foram feitas no estabelecimento do conjunto de

equações:

• O número de sítios superficiais de platina livres corresponde aos sítios de platina

que não estão bloqueados nem por óxidos superficiais nem subsuperficiais. Isso

se baseia no fato de que é observada pouca atividade oxidativa nos

voltamogramas cíclicos para a região de potenciais nos quais o transiente de

potencial de circuito aberto acontece.

• A concentração de ácido fórmico em solução é constante, ou seja, efeitos

difusionais não são levados em consideração, para simplicidade do modelo.

• A adsorção de ácido fórmico exige 1 sítio livre de platina. A conseguinte reação

de ácido fórmico adsorvido a CO ou CO2 exige outro sítio de platina.

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46

• A reação de redução acoplada de óxidos (17) e as reações de place-exchange

apresentam constantes cinéticas elevadas. Isso se baseia no comportamento de

quase-equilíbrio observado por Podlovchenko para o recobrimento total de

óxidos, o qual fita perfeitamente uma isoterma de Frumkin.

Feitas todas as considerações o seguinte conjunto de equações diferenciais foi

obtido:

hijkl��!� � &�mn hijkl��! o0,33 & qijkr��!s * �nm qijkr��! �0,67 & hijkl��!!

.^i��!� � &�^iu .^i��! qijkr��! * �^i N��! �g!v

N��!� � �/Q �/# �g!2 & �^i N��! �g!v & �Qi N��! qijkr��!

qijkr��!� � &hijkl��!� & �^iu .^i��! qijkr��! & �Qi N��! qijkr��! & �Qw �/# qijkr��!

Em que θCO(t) corresponde ao recobrimento com CO, f(t) ao recobrimento com ácido

fórmico, λOsub(t) à quantidade de óxido subsuperficial e κOsup(t) à quantidade de óxido na

superfície da platina.

O número de sítios livres é: �g! � �1 & .^i��! & N��! & �qijkr��! * hijkl��!!!

O conjunto de condições iniciais utilizado foi:

chijkl��! � 0,6 .^i��! � 0 N��! � 0 qijkr��! � 0,3d A tabela 4 apresenta o significado e o valor conferidos a cada uma das constantes:

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47

Tabela 4 – Constantes empregadas na simulação da interação entre óxidos de platina e ácido fórmico. Significado e valor empregado.

Constante Significado Valor

kCOX Constante de velocidade (CV) para oxidação de CO 100

kAD CV para adsorção de HCOOH 1

kDI CV para reação Eley-Rydeal 0,01

kDO CV para reação via intermediário ativo 0,1

kCO CV para formação de COad 1

kPL CV para imersão do óxido na rede cristalina 1

kLP CV para saída do óxido da rede 20

cFA Concentração de ácido fórmico em solução 0,5

a Sítios necessários para adsorção de HCOOH 1

b Sítios necessários para reação de HCOOHad 1

O programa MATHEMATICA® foi utilizado para integrar numericamente as equações

apresentadas. O resultado é mostrado na Figura 2.9. Nela observa-se que o recobrimento

com óxido superficial varia pouco antes de atingir a região de transiente. Isso se deve ao

emprego da constante elevada de velocidade de expulsão do óxido subsuperficial (kLP).

Dessa forma embora o óxido superficial reaja com ácido fórmico durante os primeiros

20s seu recobrimento é mantido constante pela migração de óxido subsuperficial. Essa

característica é necessária para observação de um transiente agudo no transiente de

potencial. O recobrimento total, no entanto, sofre uma diminuição contínua desde o

início da interação, e que aumenta de velocidade com o tempo. A curva relativa a CO

apresenta valores nulos para a região anterior ao transiente rápido; a partir dessa região

cresce rapidamente a um valor de saturação.

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48

Figura 2. 9 – Conjunto simulado apresentando o comportamento de COad, óxido superficial, conteúdo de óxido total e número de sítios livres.

O conjunto de constantes utilizado levou a um comportamento simulado que se

assemelha ao obtido experimentalmente. Em particular, na Figura 2.9 são observados

recobrimentos baixos de COad quando óxidos superficiais ainda estão presentes sobre o

eletrodo e sua convergência a um valor estável após o transiente. A dependência entre

conteúdo total de óxido e tempo de transiente também corresponde àquela obtida

experimentalmente por Podlovchenko e colaboradores. O resultado mais interessante

corresponde à curva que representa a evolução do número de sítios livres em função do

tempo de transiente. Durante os primeiros segundos de transiente o número de sítios

livres permanece constante, em estado estacionário. Com a aproximação do transiente

rápido, no entanto, o valor começa a crescer atingindo um máximo quando os

recobrimentos com óxidos e CO se tornam os mesmos. Tal comportamento dá suporte à

suposição de que o transiente rápido de potencial de circuito aberto está associado a

uma produção autocatalítica de sítios livres.

Para obtenção da curva de produção de CO2 foi realizada a integração da

equação diferencial que relaciona a variação da concentração dessa espécie em função

das diferentes etapas envolvidas na sua produção:

Ux4 � y ��^iu .^i��! qijkr��! * ´

V�Qw �/# qijkr��! * �Qi N��! qijkr��!! �

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49

A equação compreende os caminhos de formação de CO2 via CO adsorvido,

reações conjugadas e oxidação direta via mecanismo do tipo Eley-Rideal. O resultado

da integração é apresentado na Figura 2.10.

Figura 2. 10 – Comportamento simulado da quantidade de CO2 produzida.

A produção de CO2 mostrada na Figura 2.10 obedeceu a uma lei de crescimento

linear seguida de exponencial como observado nos experimentos. No entanto a taxa de

variação de CO2 durante o transiente rápido revelou-se menor que aquela observada

experimentalmente. Além disso a curva simulada atinge um valor limite; lembrando a

reação (II.20) percebe-se que a estequiometria de reação é de produção de uma

molécula de CO2 para cada sítio Pt-O. Dessa forma a quantidade de CO2 limite deve ser

a mesma que a quantidade de óxido inicialmente presente (0.9). Tal valor limite não é

observado experimentalmente (Figura 2.7) já que a reação de oxidação de ácido fórmico

pode continuar via mecanismo de reações conjugadas.

A Tabela 5 apresenta o efeito do aumento das diferentes constantes empregadas

sobre o comportamento da simulação:

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50

Tabela 5 – Constantes empregadas na simulação da interação entre óxidos de platina e ácido fórmico. Efeito sobre características da simulação.

Constante Tempo de transiente θCO de equilíbrio Transiente CO2

kCOX ↑ ↓ Pouco sensível Estreitamento

kAD ↑ ↑ ↓ Alargamento

kDI ↑ ↓ ↑ Pouco sensível

kDO ↑ ↓ ↑ Pouco sensível

kCO ↑ ↓ ↑ Estreitamento

kPL ↑ ↑ Pouco sensível Alargamento

kLP ↑ ↓ Pouco sensível Estreitamento

cFA ↑ ↓ ↓ Alargamento

a ↑ ↑ ↑ Estreitamento

b ↑ ↑ ↓ Alargamento

Através da análise apresentada na Tabela 5 é possível identificar o peso

individual das diversas etapas constituintes do mecanismo sobre o comportamento geral

do sistema. Esse entendimento é fundamental em eletrocatálise e em química num

âmbito geral pois pode significar controle. No caso dos transientes de circuito aberto,

por exemplo, que estão associados ao problema de crossover de espécies orgânicas para

o cátodo de uma célula a combustível é interessante que o tempo de transiente seja o

maior possível. Dessa forma estratégias como utilizar catalisadores que possuam

reduzida taxa de oxidação de CO e de interação com espécies orgânicas pode levar a

uma atenuação da queda de potencial e da queda de potência associada. Revela-se,

portanto, a imensa contribuição que modelagem e simulação de um sistema pode

fornecer a otimização, seletividade e controle de processos químicos.

Finalizando a análise dos dados obtidos pela integração do sistema de EDOs é

mostrado na Figura 2.11 uma curva relacionando potencial do eletrodo e tempo de

transiente. Para sua construção foi hipotetizado que o potencial está associado ao

recobrimento total com óxidos segundo uma isoterma de Langmuir, a mais simples

possível:

.1 & . � WXY�

� ({ |'

Isolando o termo do sobrepotencial:

Page 60: 343o Bruno v5)

51

( � { |� ln � .

1 & .'

A expressão foi calculada numericamente usando θ = λOsub + κOsup, e o resultado

é mostrado na Figura 2.11.

Figura 2. 11 – Simulação da dependência entre potencial e tempo de interação entre óxidos de platina e ácido fórmico empregando uma isoterma de Langmuir.

Na Figura 2.11 observa-se um decréscimo lento do potencial seguido de uma

queda abrupta assim como observado nos experimentos com orgânicos. A simulação no

entanto não é muito eficiente para a região de potenciais elevados (início do transiente)

e não pode ser extrapolada para tempos depois do transiente já que só concebe a

dependência entre o potencial e o recobrimento com óxidos.

O modelo proposto para ácido fórmico pode ser expandido para o caso de

metanol de maneira simples. A forma mais simples de fazê-lo é aumentando o número

de sítios necessários para adsorção (“a”) de forma a mimetizar o maior grau de bloqueio

do átomo de carbono nessa molécula, ou aumentando o número de sítios necessários

para a molécula adsorvida reagir produzindo CO. Modelos mais elaborados, no entanto

devem levar em conta que a adsorção dissociativa de metanol produz elétrons cujo

papel é fundamental no entendimento da autocatálise observada para essa espécie.

A comparação entre os resultados obtidos para ácido fórmico, metanol e etanol e

a análise de suas reações revelou que existe um mecanismo de consumo autocatalítico

de óxidos de platina responsável pela variação rápida do potencial de circuito aberto.

Apesar das diferenças mecanísticas, para todos os casos um sítio de platina livre estava

envolvido na formação de, no mínimo, dois sítios livres sendo, portanto a espécie que

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52

sofre autocatálise. Cada molécula no entanto pode possuir um grau de autocatálise

distinto. Ácido fórmico apresenta uma autocatálise fraca já que sua reação gera apenas

um sítio livre de Pt. Já metanol e etanol podem possuir autocatálises de ordem superior

(strong autocatalysis) pois suas moléculas são capazes de reagir com mais de um sítio

de óxido. Essa autocatálise superior, no entanto não é garantida já que para essas

espécies as vias paralelas de reação gerando produtos menos oxidados têm peso

relevante. O uso de simulações permitiu a identificação de componentes-chave no

processo de autocatálise, como por exemplo a necessidade de uma constante de place-

exchange reversa elevada. O aumento simulado do número de sítios necessários para

adsorção também gerou transientes mais afilados. Em particular destaca-se o efeito das

reações acopladas de oxidação e redução sobre o transiente: o aumento de kDO gera a

diminuição do tempo de transiente. Podlovchenko [55] encontrou que o emprego de

equações modelando reações conjugadas para metanol gera excelente fitting para a

região de transiente de potencial associada a recobrimentos médios (0,8 a 0,2),

justamente a região que neste trabalho foi atribuída a um mecanismo autocatalítico. O

autor também mostra [50] que para interação entre CO e óxidos de platina nenhuma

transição abrupta no potencial é observada. É interessante notar que para CO não há

possibilidade de tal interação mas apenas reação direta entre COad e óxido de platina.

Dessa forma é necessário que haja o encontro entre as duas espécies que se torna mais

improvável com o prosseguir da reação e a conseqüente diminuição do recobrimento

com óxidos, diminuindo a velocidade do transiente gradativamente. Tal barreira não

existe no caso dos orgânicos, pois o mecanismo de reações conjugadas permite que

oxidação do orgânico e redução do óxido ocorram em sítios afastados, conectados pelo

transporte rápido de elétrons ao longo do eletrodo.

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53

CONCLUSÕES

Foi identificado um mecanismo geral de consumo de óxidos de platina por

espécies orgânicas em solução caracterizado pela i) reação lenta em regiões de

potenciais elevados, associada a vias paralelas de oxidação do alcoóis e pequena

alteração camada de óxidos presente, ii) redução autocatalítica de Oad, motivada pela

existência de reações conjugadas de oxidação dos alcoóis e que é associada a produção

explosiva de CO2 e o decaimento rápido do potencial, com conseqüente consumo total

da camada de óxidos restante, iii) estabelecimento da condição interfacial de adsorção

de alcoóis na ausência de controle de potencial.

No caso do metanol a etapa de desidrogenação contribui fortemente para o

processo de autocatálise observado. Para etanol foi constatado que o processo

autocatalítico deve ser atribuído principalmente a oxidação parcial da molécula a

acetaldeído. Para ácido fórmico a autocatálise está presente nas reações acopladas de

oxidação direta e redução associada, e na via que envolve COad.

Os resultados com dados de OCP e sua analogia com os obtidos por voltametria

sugerem que uma etapa autocatalítica, motivada pelo decréscimo forçado do potencial,

também está envolvida na reoxidação dos alcoóis, durante a varredura reversa de

potencial.

O modelo de interação proposto através da análise da reação entre ácido fórmico

e óxidos de platina revelou concordância com os resultados experimentais, para o

conjunto de constantes empregado. Em particular, foi simulado o comportamento

explosivo de COad e o perfil de decréscimo da quantidade de óxido. Os resultados com

simulações também revelaram produção de sítios livres durante a região de transiente

rápido de potencial, conferindo suporte ao modelo autocatalítico de consumo de óxidos

proposto.

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54

REFERÊNCIAS

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