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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul ASSOCIAÇÃO DOS RECICLADORES DE PORTO AMAZONAS - ARPA: UMA EXPERIÊNCIA SOBRE MEIO AMBIENTE E CIDADANIA Área temática: Meio Ambiente Luiz Alexandre Gonçalves Cunha (Coordenador da Ação de Extensão) Autores: Luiz Alexandre Gonçalves Cunha 1 , Jonas Roberto Schaurich 2 , Manuela Salau Brasil 3 , Jonathas Henrique Stadler 4 , Débora Cristina Kolodzejezyk 5 , Érik Gasparetto 6 , Stiven de Souza 7 , Juliana Spinardi 8 , Sérgio Gadini 9 Palavras-chave: Associativismo, reciclagem, economia solidária. Resumo A partir de iniciativas no município de Porto Amazonas – PR, surgiu a proposta de se criar um projeto que proporcionasse formação básica em economia solidária, equipamento e espaço adequados para o trabalho com a reciclagem no local. A IESol-UEPG, em parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Amazonas, apresentou uma proposta de projeto à Fundação Banco do Brasil. Este concretizou os objetivos acima elencados, organizando a Associação dos Recicladores de Porto Amazonas – ARPA de forma autogestionária, com espaço e equipamentos próprios. Introdução A preocupação com o meio ambiente vem sendo debatida e enfocada desde 1972, quando as Nações Unidas – ONU proclamaram a “Declaração de Estocolmo sobe o Meio Ambiente Humano”. O interesse no assunto, gerado em razão da continua degradação do ambiente, em geral, tem aumentado, com amplo debate por vários segmentos da sociedade. O artigo 2º da referida declaração postula: “a proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o 1 Doutor em Ciências Sociais pela UFRRJ, docente da UEPG lotado no Departamento de Geociências e Coordenador do programa de extensão IESol. 2 Bacharel em Direito pela UEPG, técnico de extensão da IESol. 3 Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG e Doutoranda em Sociologia. Técnica em Assuntos Universitários da IESol. 4 Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Física da UEPG; Estagiário da IESol. 5 Acadêmica do curso de Comércio Exterior da UEPG; Estagiária da IESol. 6 Acadêmico do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 7 Acadêmico do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 8 Acadêmica do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 9 Doutor, docente da UEPG lotado no Departamento de Comunicação.

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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

ASSOCIAÇÃO DOS RECICLADORES DE PORTO AMAZONAS - ARPA: UMA EXPERIÊNCIA SOBRE MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Área temática: Meio Ambiente

Luiz Alexandre Gonçalves Cunha (Coordenador da Ação de Extensão)

Autores: Luiz Alexandre Gonçalves Cunha1, Jonas Roberto Schaurich 2,

Manuela Salau Brasil 3, Jonathas Henrique Stadler4, Débora Cristina Kolodzejezyk 5, Érik Gasparetto 6, Stiven de Souza7, Juliana Spinardi8, Sérgio Gadini9

Palavras-chave: Associativismo, reciclagem, economia solidária. Resumo A partir de iniciativas no município de Porto Amazonas – PR, surgiu a proposta de se criar um projeto que proporcionasse formação básica em economia solidária, equipamento e espaço adequados para o trabalho com a reciclagem no local. A IESol-UEPG, em parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Amazonas, apresentou uma proposta de projeto à Fundação Banco do Brasil. Este concretizou os objetivos acima elencados, organizando a Associação dos Recicladores de Porto Amazonas – ARPA de forma autogestionária, com espaço e equipamentos próprios. Introdução A preocupação com o meio ambiente vem sendo debatida e enfocada desde 1972, quando as Nações Unidas – ONU proclamaram a “Declaração de Estocolmo sobe o Meio Ambiente Humano”. O interesse no assunto, gerado em razão da continua degradação do ambiente, em geral, tem aumentado, com amplo debate por vários segmentos da sociedade. O artigo 2º da referida declaração postula: “a proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o

1 Doutor em Ciências Sociais pela UFRRJ, docente da UEPG lotado no Departamento de Geociências e Coordenador do programa de extensão IESol. 2 Bacharel em Direito pela UEPG, técnico de extensão da IESol. 3 Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG e Doutoranda em Sociologia. Técnica em Assuntos Universitários da IESol. 4 Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Física da UEPG; Estagiário da IESol. 5 Acadêmica do curso de Comércio Exterior da UEPG; Estagiária da IESol. 6 Acadêmico do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 7 Acadêmico do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 8 Acadêmica do curso de Jornalismo da UEPG e Integrante da Agência de Jornalismo da UEPG. 9 Doutor, docente da UEPG lotado no Departamento de Comunicação.

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desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos”. O desenvolvimento sustentável possui um fundamento ético e ecológico, além do econômico. Está preocupado em atender as necessidades atuais da sociedade e também garantir um meio ambiente saudável às futuras gerações. Indo além, é mais que respeito à natureza e à humanidade: é respeito pela vida, entendida no seu mais amplo sentido. A sustentabilidade implica, portanto, o desenvolvimento de novas posturas, a partir da ideia do consumo responsável, evitando-se o desperdício, promovendo-se o reuso e a reciclagem de resíduos e produtos. No ano de 2005, o Departamento de Agricultura e Fomento Agropecuário - DAFA deste município criou o projeto “Jogue Limpo com Porto Amazonas”. Promovendo a troca de material reciclável por uma moeda social denominada Maçã, aceita para a compra de alimentos no comércio local, a iniciativa desencadeou a uma série de ações voltadas para a reciclagem na cidade. A partir do contato entre o poder público municipal de Porto Amazonas e a equipe da Incubadora de Empreendimentos Solidários – IESol, programa de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, surgiu a ideia de se criar um projeto que proporcionasse formação básica em economia solidária, equipamento e espaço adequados para se organizar uma associação de reciclagem. Várias pessoas da comunidade local separavam e comercializavam o material reciclável em condições precárias de higiene e infraestrutura, com apoio de supracitado Departamento, fato que justificaria a construção de ações que revertessem este quadro. No mesmo ano, a IESol, juntamente com a Prefeitura Municipal de Porto Amazonas, apresentou uma proposta de projeto à Fundação Banco do Brasil – FBB, conforme edital aberto para financiamento de ações relativas à temática, intitulado “Rede solidária: a reciclagem na cidade de Porto Amazonas”. O projeto teve como objetivos gerais promover uma mudança de atitudes em relação à destinação do lixo e à preservação do meio ambiente no município de Porto Amazonas – PR, por meio do trabalho organizado e sistemático. Além deste foco, na perspectiva da economia solidária e dos seus princípios, objetivou-se a geração de trabalho e renda para as famílias carentes do município, que trabalhavam com a coleta e triagem dos materiais em um local inadequado. Com isso, buscou-se também enriquecer a atuação política dos recicladores, propondo a organização associativa como meio transformador e efetivador de cidadania. Aprovado, o projeto sanou as necessidades acima elencadas, como resultado da parceria entre estas três instituições. Para tanto, promoveu um curso de formação básica em Associativismo e Cooperativismo Solidários, ministrado por uma equipe da IESol, no período de março a outubro de 2007. A finalização das atividades culminou com a criação da Associação dos Recicladores de Porto Amazonas – ARPA, no dia 12 de setembro de 2007, contemplada com um barracão equipado com prensa e balança digital, no qual se realiza a triagem do material reciclável coletado no município pelos catadores, com auxílio da Prefeitura Municipal.

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Metodologia Para a consecução dos objetivos previstos no projeto, a metodologia utilizada foi a de diagnóstico participativo, incubação e assessoria. A construção destas ações se deu conforme visitas semanais à comunidade e ao município em geral. Primeiramente realizou-se um levantamento de dados socioeconômicos da localidade e também dos recicladores que já trabalhavam na cidade. Este se construiu com base em questionários respondidos pelos trabalhadores e entrevistas de história oral realizadas com os mesmos. Posteriormente ao diagnóstico, a fase de incubação e assessoria teve como alicerce a formação básica em economia solidária. Esta foi desenvolvida por meio de um curso ministrado por uma equipe da IESol, formada por um técnico em educação popular e dois estagiários. O conteúdo exposto durante seis meses foi o seguinte: Módulo 1 - As transformações do mundo do trabalho: Diagnóstico da realidade do grupo e do local; Uma visão histórica do trabalho; Reflexões sobre o desemprego no Brasil e no mundo. Módulo 2 - Economia Solidária: A Economia Popular e a Economia Solidária; Princípios da Economia Solidária; Algumas propostas e ações da Economia Solidária e; Desafios da construção da Economia Solidária. Além da formação teórica, foram realizadas dinâmicas de grupo, tendo como objetivo a melhoria das relações interpessoais e a compreensão acerca da filosofia que fundamenta a Economia Solidária, dentro da perspectiva do trabalho coletivo e da autogestão. Paralelamente ao curso, a equipe IESol proporcionou assessorias administrativas e jurídicas pontuais aos recicladores. Como exemplo, tem-se a elaboração do Estatuto Social da ARPA, feita em conjunto com os próprios associados para a fundação desta.

Figura 1 – Novo barracão equipado para o trabalho da ARPA (Foto: IESol)

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Figura 2 – Formatura dos integrantes da ARPA e equipe da IESol (Foto: IESol) Conclusões A partir da experiência acima descrita, conclui-se que o projeto aliou as práticas e princípios da economia solidária, como a autogestão e a preservação do meio ambiente, com a geração de renda e a efetivação da cidadania, no aspecto de atuação política entendida em sentido amplo. Nas palavras do sociólogo Pedro Demo, “é politicamente pobre o cidadão que somente reclama, mas não se organiza para reagir, não se associa para reivindicar, não se congrega para influir”. (DEMO, 1988) Quanto a este contexto, de acordo com Gaiger (2004), ao se fazer o resgate histórico das experiências solidárias e autogestionárias, verifica-se que na história do sistema capitalista sempre existiram movimentos sociais dos trabalhadores organizados ou espontâneos de resistência aos modelos de concentração da renda e poder. No mesmo sentido, afirma Paul Singer que “o capital da empresa solidária é possuído pelos que nela trabalham e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos os que trabalham são proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem na empresa”. (SINGER, 2003) Os recicladores passaram a exercer sua cidadania de modo mais eficiente, pois a sua organização na forma associativa proporciona efetiva participação democrática de seus membros em seu meio social e político. Prova disso é o fato de que a Associação dos Recicladores de Porto Amazonas já é parte ativa do Fórum Lixo e Cidadania, criado em 2001, que promove discussões relativas ao meio ambiente e à reciclagem em níveis estadual e nacional.

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Participando das reuniões e debatendo questões importantes sobre o trabalho das associações e cooperativas de material reciclável, a ARPA contribui para o desenvolvimento de ações que visem a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos nesta área, além de estimular as práticas de cidadania, como propor a criação de políticas públicas para a reciclagem e o meio ambiente. Para a consecução deste objetivo, a IESol proporcionou formação básica em Associativismo Solidário e auxílio na constituição da ARPA. A Prefeitura de Porto Amazonas propiciou o bom desenvolvimento do projeto doando o terreno para o barracão e viabilizando as viagens e materiais para a equipe da IESol no município. A formação do grupo em economia solidária possibilitou que o trabalho dos recicladores fosse desenvolvido e baseado segundo práticas que realmente valorizem o ser humano e o meio ambiente, sem exploração laboral, assegurando a sua sobrevivência de forma digna. A Fundação Banco do Brasil garantiu os recursos necessários ao referido curso, aos equipamentos e à construção do novo barracão de reciclagem da cidade.A integração eficiente entre a Fundação Banco do Brasil, a Prefeitura de Porto Amazonas e a IESol foi essencial para o sucesso do projeto. Resultante desta sinergia, o processo de execução das atividades se consolidou de modo satisfatório. Sem este trabalho conjunto não seria possível auferir os resultados acima descritos, sendo que cada parceiro teve sua respectiva contribuição para as atividades. Promovendo ações como a experienciada em Porto Amazonas, as instituições cumprem a legislação e consolidam sua responsabilidade socioambiental. Além disso, a universidade pública assegura o bom desenvolvimento e promoção do ensino, da pesquisa, e, em especial neste projeto, da extensão universitária. Com a finalização do projeto, tornou-se viável a geração de renda aliada à preservação do meio ambiente. Os trabalhadores agora têm a oportunidade de retirar seu sustento do material reciclável produzido no município de maneira mais eficiente e segura, com o maquinário e a sede nova. Ao longo do tempo mais famílias se beneficiaram com o trabalho associativo. No início eram cinco catadores que faziam parte do quadro de trabalhadores da ARPA. Hoje, são quinze associados coletando, separando e comercializando o material reciclável do município. Mais um fator importante e pertinente a ser salientado é que 100% do município, tanto na área rural quanto urbana, é atendido pela coleta seletiva realizada pela associação. (Fonte: DAFA – Porto Amazonas). No tocante à renda auferida pelos associados, esta aumentou, em média, 20% se comparada ao valor anteriormente recebido pelos recicladores. Isto ocorre em razão da agregação de valor aos materiais recicláveis, garantida pelo uso da prensa, que diminui o volume dos mesmos sem alterar sua massa, possibilitando manter um estoque maior de materiais, o que não causa interrupções na coleta e triagem. (Fonte: DAFA – Porto Amazonas). Quanto à questão das políticas públicas deve-se frisar o fato de que a Prefeitura de Porto Amazonas firmou um convênio com a ARPA. Segundo o acordo, a associação é legalmente competente para realizar a coleta do material reciclável dentro do território do município, além de receber contrapartidas financeiras da Prefeitura Municipal, como resultado do convênio. (Fonte: Prefeitura de Porto Amazonas). Com isso, desvinculou-se a atuação dos recicladores ligada a determinado partido ou ideologia política, instituindo-se a parceria entre o Poder Público municipal e a ARPA como política pública, não governamental, um dos objetivos primordiais da economia solidária.

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Referências DEMO, Pedro. Pobreza Política. 1ª Edição. São Paulo: Editora Cortez - Autores Associados, 1988. GAIGER, Luiz Inácio. As emancipações no presente e no futuro. In: GAIGER, Luiz Inácio (Org.) Sentidos e Experiências de Economia Solidária no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Fundação Perseu Abramo, 2003.