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ASSESSORIA JURÍDICA
Do Processo nº 2010-0.345.158-2 Folha de Informação nº
Em ........./......../...........
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INTERESSADO: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano ASSUNTO: Contratação de empresa ou consórcio de empresas para
elaboração de estudos urbanísticos e estudos complementares de subsídio à formulação dos projetos de lei das operações urbanas consorciadas Rio Verde-Jacu (Lote 01), Lapa-Brás (Lote 02) e Mooca-Vila Carioca (Lote 3).
INFORMAÇÃO Nº 275/2012/SMDU.AJ
SMDU.AJ
Senhora Assessora Chefe
O Consórcio AECOM+CNEC WorleyParsons apresentou, com fulcro no
art. 109, I, “b”, da Lei Federal n. 8666/93, competente e tempestivo recurso
administrativo contra a decisão da Comissão Especial de Licitação da Concorrência
n. 01/2011/SMDU, publicada no Diário Oficial da Cidade de 04/06/12.
Tal decisão teve por objeto análise da documentação complementar ao
envelope “Proposta Técnica” apresentado pelo licitante, e acarretou a sua
desclassificação do certame em razão de não obter a pontuação mínima no item por
atingir ao menos 50% da nota final máxima no item A.3 do Anexo Elementos da
Proposta Técnica (item 10.4 c/c item 15.4 do Edital). Arrola o recorrente, destarte, os
seguintes argumentos:
I – DOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL DA FERROVIA NORTE-SUL
A argumentação do recorrente pretende afastar a cada uma das razões
apresentadas pela Comissão Especial de Licitação para prolação de sua decisão.
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Nestes termos, quanto ao item a1) da decisão1, alega que a empresa CNEC
WorleyParsons Engenharia S/A, ao contrário do constatado pela Comissão Especial
de Licitação em sua análise, de fato executou o EIA-RIMA da totalidade da Ferrovia
Norte-Sul e anexa, ao ensejo, atestado alegadamente comprobatório de tal afirmativa,
emitido pela VALEC. Informa o Consórcio AECOM+CNEC WorleyParsons que tal
documento vem esclarecer e elucidar a instrução do procedimento licitatório pois
complementa o significado dos demais documentos já juntados aos autos,
esclarecendo-se definitivamente sobre a abrangência dos serviços relativos ao EIA-
RIMA da indigitada ferrovia indicados na ficha técnica de fls. 12702/12710. O
atestado, continua, materializa a situação apontada na ficha técnica, configurando
sua apresentação praticidade, celeridade e otimização do certame, tudo em prol do
interesse público envolvido. Tal atestado, continua, acaba por afastar também o item
a2) da decisão2, em razão de deixar estreme de dúvida que os serviços do EIA-RIMA
englobaram as regiões metropolitanas de Imperatriz e Goiânia.
No tocante ao item a3) da decisão3, alega o recorrente que a Comissão
Especial de Licitação teria adotado uma premissa equivocada: a de que o fato de não
ter sido ainda criada, à época do estudo, a Região Integrada de Desenvolvimento do
Distrito Federal (Lei Complementar Federal n. 94/88) significa que o estudo não
tenha sido realizado em área urbana de região metropolitana. Segundo o Consórcio,
a condição urbanística da região de Brasília já a caracterizava como região
1 a1) a ficha técnica apresentada (fls. 12702/12710), referente a toda a Ferrovia Norte Sul, não é compatível com o atestado e os instrumentos contratuais oferecidos pela licitante (fls. 12712/12729), referente somente aos trechos entre Brasília e Anápolis e entre Brasília e Uruaçu, de tal ferrovia; 2 a2) embora, na apresentação dos documentos esteja declarado que o EIARIMA teria atingido as regiões metropolitanas de Imperatriz e de Goiânia (fls. 12694), o atestado apresentado refere-se somente aos trechos entre Brasília e Anápolis e entre Brasília e Uruaçu, da Ferrovia Norte Sul; 3 a3) nem mesmo os trechos de ferrovia referidos pelo atestado poderiam ter sido feitos em área urbana de região metropolitana, uma vez que os trabalhos apontados são de 1987 e a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno foi criada somente pela Lei Complementar n. 94/1998;
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metropolitana desde pelo menos 1985, e para comprovar tal assertiva cita estudo do
Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais/CEAM da
Universidade de Brasília. Como o edital não exigiu que as regiões metropolitanas
estivessem formalmente constituídas, o simples fato de o estudo ter ocorrido em área
com tais características atenderia à exigência editalícia. Pela mesma razão – o fato de
ter sido o EIA-RIMA em área urbana de região metropolitana – restaria afastado o
item a4)4 da decisão da Comissão Especial de Licitação.
II – DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO PORTO VELHO – ARARAQUARA
A Comissão Especial de Licitação considerou que a documentação
ofertada não atende ao edital de licitação em razão de não ter sido encaminhado o
seu termo de encerramento com declaração do recebimento do produto5. Contra tal
entendimento, argumenta o recorrente que foi contratada para executar o seguinte
objeto: (a) elaboração de EIA-RIMA; (b) requerimento de Licença Ambiental Prévia;
(c) requerimento de Licença Ambiental de Instalação; (d) elaboração do pedido de
Autorização de Supressão de Vegetação (ASV) e (e) apoio técnico e institucional na
organização logística para a realização de audiências públicas, sendo certo que o item
(d) encontra-se em fase de finalização. Uma vez que as ASV solicitadas forem
concedidas, estará o contrato encerrado, sendo então possível emitir o seu termo de
encerramento com declaração de recebimento do produto, nos termos exigidos pelo
instrumento convocatório. Tendo em vista o fato de o EIA-RIMA ter sido
evidentemente realizado, a não aceitação do projeto se caracterizaria como excesso de
4 a4) o atestado e os instrumentos contratuais apresentados declaram que a empresa em pauta foi contratada para elaborar o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA de um trecho da ferrovia e a complementação de outro RIMA de outro trecho, não tendo sido atestado que a empresa elaborou os respectivos Estudos de Impacto Ambiental; 5 no caso das Linhas de Transmissão Porto Velho – Araraquara, verificou-se a ausência do termo de encerramento com declaração de recebimento do produto, documento expressamente exigido pelo edital, em seu anexo Elementos da Proposta Técnica (p. 16), não sendo possível atender ao pleito formulado pela licitante, no sentido de que fosse aceita documentação alternativa (fls. 12777/12780), tendo em vista a vinculação da concorrência ao respectivo edital;
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rigor por parte da Comissão Especial de Licitação, conduta considerada incompatível
com a finalidade pública do torneio licitatório. Encaminha, ao ensejo, excertos de
jurisprudência sobre o tema, e reafirma a notória experiência da CNEC
WorleyParsons Engenharia S/A no trabalho a ser elaborado.
Relatado o necessário, passamos a nos manifestar.
Esta Assessoria Jurídica da SMDU tem se manifestado, durante este
processo licitatório, com o desiderato de auxiliar o desenvolvimento dos trabalhos a
cargo da Comissão Especial de Licitação instituída para a condução do certame.
Neste sentido, cumpre trazer aos autos razões de ordem jurídica que digam respeito
ao recurso em tela, cabendo a decisão sobre o tema à indigitada Comissão Especial de
Licitação e ao DD. Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano. Sob tal aspecto,
portanto, parece ser preciso considerar os seguintes elementos:
1) Do atestado AT 337, emitido pela VALEC, e da possibilidade de alteração de
critério de julgamento por parte da Comissão Especial de Licitação
Encaminha o Consórcio recorrente o atestado de fls. 13.162 (At. 337),
emitido pela empresa Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S/A. Tal
instrumento atesta que as empresas CNEC – Consórcio Nacional de Engenheiros
Consultores S/A, Natran Consultoria e Projetos S/A, Engevix S/A – Estudos e
Projetos de Engenharia Ltda., IESA – Internacional de Engenharia S/A, Themag
Engenharia Ltda. E Hidroservice Engenharia de Projeto Ltda. executaram os serviços
relativos ao EIA-RIMA para o Projeto da Ferrovia Norte-Sul. Argumenta o
recorrente que tal atestado elucida a instrução do procedimento licitatório,
complementando a informação trazida na ficha técnica de fls. 12702/12710.
A possibilidade de juntada de nova documentação em sede de recurso
deve ser avaliada à luz da regência normativa sobre o tema. Inicialmente mister se
faz deitar olhos sobre a Lei n. 8666/93, que assim dispõe:
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Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será
processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
(...)
Art. 41. A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada.
(...)
Art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes procedimentos:
(...)
§ 3o É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer fase da licitação, a promoção de diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo, vedada a inclusão posterior de documento ou informação que deveria constar originariamente da proposta.
O Edital da Concorrência nº 01/2010/SMDU, por seu turno, assim
dispõe:
8.2. Não serão aceitos documentos ou propostas enviados pelo correio ou outros serviços de entrega, bem como após o horário estabelecido neste Edital.
(...)
12. DO RECEBIMENTO DA DOCUMENTAÇÃO E DAS PROPOSTAS
12.1. Os envelopes contendo as propostas de participação nesta Concorrência serão recebidos até as 11h00 do dia 26 de Agosto de 2.011, no protocolo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, localizado na Rua São Bento, 405, 17º andar, sala 171B.
12.2. Os envelopes deverão ser entregues conjuntamente, não sendo admitido, em nenhuma hipótese, o seu protocolo em momentos distintos.
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12.3. Uma vez feita a entrega, não serão aceitas modificações ou substituições da proposta ou quaisquer documentos.
(...)
22.3. Os licitantes deverão analisar cuidadosamente os elementos fornecidos para a licitação, levantando todas as dúvidas ou falhas nos documentos, de forma que sejam elucidadas as pendências antes da apresentação dos envelopes.
Os excertos da legislação e do instrumento convocatório colacionados
evidenciam dois importantes aspectos do processo de licitação: a necessidade de
garantir-se a isonomia entre os participantes do certame e um seu sucedâneo, qual
seja, a vedação de apresentação de documentação em momento inadequado do
processo licitatório.
Com efeito, é cediço que aos licitantes é obrigatório apresentar, em seus
envelopes, toda a documentação que possibilite a avaliação e julgamento da sua
proposta. O procedimento previsto na legislação de licitação, de cunho
eminentemente formal, prevê o avanço do processo de escolha da melhor proposta
para a Administração com base na satisfação, por parte dos licitantes, das exigências
pertinentes a cada etapa do torneio licitatório. Assim, em uma concorrência do tipo
técnica e preço, somente serão abertos os envelopes habilitação se o licitante
protocolizar regularmente sua proposta; somente serão avaliados os documentos de
proposta técnica dos licitantes habilitados; e somente serão abertos os envelopes da
proposta de preços dos concorrentes classificados. Quanto a tais elementos, de
entendimento comezinho a qualquer agente que participa de um procedimento
licitatório desta espécie, não há qualquer dúvida, razão pela qual não é necessário
maior detença.
A própria lei federal de licitações, entretanto, traz ao menos dois
temperamentos a esta estrita vinculação do procedimento licitatório aos documentos
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apresentados no momento inicial da licitação. O primeiro deles é já colacionado § 3º
do art. 43, e segundo é o previsto no art. 48, § 3º, que assim dispõe:
Art. 48. Serão desclassificadas:
I - as propostas que não atendam às exigências do ato convocatório da licitação;
II - propostas com valor global superior ao limite estabelecido ou com preços manifestamente inexeqüiveis, assim considerados aqueles que não venham a ter demonstrada sua viabilidade através de documentação que comprove que os custos dos insumos são coerentes com os de mercado e que os coeficientes de produtividade são compatíveis com a execução do objeto do contrato, condições estas necessariamente especificadas no ato convocatório da licitação. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
(...)
§ 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas, a administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis para a apresentação de nova documentação ou de outras propostas escoimadas das causas referidas neste artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste prazo para três dias úteis.
Tal dispositivo foi utilizado no presente procedimento licitatório.
Especificamente no tocante ao Lote 2, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Urbano convocou os licitantes para complementação da documentação referente à
habilitação em decisões datadas de 16/12/11 e 13/02/12, e para complementação de
documentação de proposta técnica em decisão datada de 13/04/12. Tais
convocações, determinadas em razão da relevância do projeto para o Município,
demonstram, sem sombra de dúvida, que todos os licitantes tiveram oportunidades
de juntar documentação complementar à originalmente ofertada ao Poder Público
para avaliação e julgamento. Em outros termos, houve plenas condições do consórcio
recorrente inovar em sua documentação de modo a tornar sua proposta, na dicção
legal, escoimada de falhas que impedissem a continuação de sua avaliação pela
Administração.
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Observando-se o recurso protocolizado, entrementes, verifica-se que
pretende o Consórcio AECOM+CNEC WorleyParsons que o atestado por si
apresentado seja compreendido como documento que complemente informação
anteriormente constante dos autos, dando significado a material já ofertado em fase
adequada. Cremos, no entanto, s.m.j., que tal entendimento não deve prosperar. Com
efeito, assinala Jessé Torres Pereira Junior sobre a possibilidade de adição de
documentação ao processo de licitação em momento não formalmente adequado – in
casu, analisando o § 3º do art. 436:
“A Comissão ou autoridade está proibida de deferir ou ordenar a diligência se esta tiver por objeto a inclusão de documento ou informação que deveria haver acompanhado a proposta (também a documentação). A vedação guarda simetria com os arts. 396 e 397 do Código de Processo Civil, dos quais resulta que a petição inicial deve vir instruída com os documentos destinados a provar as alegações do autor, sendo-lhe vedado trazê-los posteriormente, a menos que comprove que deles não dispunha ou se referirem a fatos ocorridos depois dos articulados na peça vestibular.
No caso do processo administrativo da licitação, cada licitante sabe, em face das exigências do edital, quais os documentos e informações que deverão estar nos respectivos envelopes. Não os trazer significa descumprir o edital. a proibição de serem aceitos posteriormente respeita o direito dos demais licitantes ao processamento do certame de acordo com a exigência do edital.”
Wellington Pacheco Barros, no mesmo sentido, alerta que a diligência
não pode7
“... ferir o princípio da isonomia no sentido de determinar a produção de documento que deveria ser produzido particularmente por um licitante, não pode retroagir para determinar a juntada de documento que deveria ter sido produzido pelo licitante em momento anterior do processo, em respeito até mesmo à preclusão administrativa”
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, não há que falar sequer em
princípio da razoabilidade para aceitar a validade de eventual documento entregue a
destempo pelo licitante. Para a autora, “o que não é possível, de forma alguma, é permitir
6 Comentários à Lei das Licitações e Contratações da Administração Pública, 8ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, pp. 525/256. 7 Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Atlas, 2009, p. 210.
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a qualquer dos licitantes que complete dados exigidos expressamente no edital e por ele
omitidos ao apresentar a documentação para a habilitação e proposta”8. No entendimento de
Marçal Justen Filho9,
“O problema prático é estabelecer limites. Todo e qualquer defeito é suprível? A resposta é negativa. Deve-se verificar se a lei ou o Edital estabelecem determinada exigência, prevendo uma única e inquestionável alternativa para atendimento ao requisito, sem qualquer margem de dúvida. Quando tal se passar, o defeito é impossível de ser sanado”.
No caso em tela, o que deve ser averiguado é se a possibilidade de
encaminhamento de documento tendente a comprovar o atendimento a exigência ao
instrumento convocatório em sede de recurso pode aceita, uma vez que tal
possibilidade não foi estendida, em nenhum momento, aos outros licitantes. Essa
resposta é dada pelo próprio autor, que assevera sobre a isonomia durante o
processo licitatório10:
“Depois de editado o ato convocatório, inicia-se a chamada fase externa da
licitação. Os particulares apresentam suas propostas e documentos, que serão
avaliados de acordo com os critérios previstos na Lei e no ato convocatório.
Nesta segunda fase, a Administração verificará quem concretamente, preenche
mais satisfatoriamente as condições para ser contratado. Também nesta etapa
exige-se tratamento isonômico. Trata-se, então, da isonomia na execução da
licitação. Todos os interessados e participantes merecem tratamento
equivalente”.
É importante destacar que a Administração não desclassificou o
consórcio ora recorrente por uma questão meramente formal, colmatável
eventualmente por intermédio de diligências a qual está autorizada por lei e pelo
8 “Do Princípio do Formalismo no Procedimento da Licitação” in Temas polêmicos sobre licitações e contratos. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, RAMOS, Dora Maria de Oliveira, BATISTA DOS SANTOS, Márcia Walquiria e D’AVILA, Vera Lucia Machado (orgs.), 5ª ed., rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 45. 9 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 13ª ed. São Paulo: Dialética, 2009, p. 76. 10 op. cit., p. 69.
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instrumento convocatório. Houve, isto sim, a avaliação técnica que concluiu pelo não
atendimento aos requisito do instrumento convocatório – neste caso específico,
comprovou o licitante tão somente a elaboração de Relatório de Impacto no Meio
Ambiente – RIMA de parte do empreendimento noticiado em sua ficha técnica. Em
outros termos, o concorrente comprovou o que efetivamente encaminhou à
apreciação da Comissão Especial de Licitação para exame, e agora pretende, em sede
de recurso, trazer novos elementos que, pretensamente, atestariam a execução dos
trabalhos que o tornariam habilitado a continuar no certame. O atestado não
esclarece ponto em que houve dúvida por parte da Comissão Especial de Licitação, e
sim inova em termos de documentação a ser analisada – aceitar este atestado,
portanto, aparentemente configuraria conduta tendente a vulnerar a inafastável
isonomia entre os licitantes.
Há mais, contudo.
Ainda que, por hipótese, fosse possível aceitar o atestado de fls. 13.162
como complemento de informação anteriormente encaminhada à Administração, o
texto do atestado não permite concluir, de forma cabal, que a empresa CNEC
realizou trabalhos de EIA-RIMA no antigo projeto da Ferrovia Norte-Sul.
Com efeito, o atestado é claro ao afirmar que a licitante executou
serviços relativos ao EIA-RIMA para a Ferrovia Norte-Sul, sendo certo que tais
serviços (isto é, os serviços de EIA-RIMA) foram realizados por várias empresas,
entre as quais a ora recorrente. O instrumento apresentado, desta forma, confirma a
informação extraída dos atestados juntados a fls. 12712/12729 dos autos, não
trazendo ao processo qualquer informação nele não constante anteriormente – é
inegável que a CNEC realizou tarefas no empreendimento contratado pela VALEC, e
o atestado confirma tal assertiva, reforçando, e não complementando, o significado
do AT. 360, juntado a fls. 12712.
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Há que se ponderar, ainda, acerca dos outros pontos do recurso
manejado pelo Consórcio recorrente.
Nestes termos, no que toca ao fato de o estudo entabulado pela CNEC
ter sido realizado na região de Brasília antes da criação da Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal, é preciso remeter ao já salientado na
Informação nº 108/2012/SMDU.AJ, que assim dispôs:
Como já esclarecido, a avaliação técnica das propostas da Concorrência nº 01/2010/SMDU, veiculada com o tipo “Técnica e Preço”, é realizada tendo por base o anexo “Elementos da Proposta Técnica”. Neste anexo, importante desde já destacar, há dois critérios distintos para a caracterização de EIA-RIMA a ser avaliado pela Comissão Especial de Licitação: o primeiro diz respeito ao estudo apresentado pelas empresas licitantes para atendimento ao item A.3 do Edital; o segundo, por seu turno, versa sobre projetos apresentáveis para avaliação técnica da capacidade profissional do Coordenador de EIA-RIMA de cada licitante (item B.3).
No que toca aos EIA-RIMA apresentados para avaliação técnica das empresas licitantes, assim dispõe apontado anexo:
A.3. CAPACIDADE TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E DO RELATÓRIO DE IMPACTO NO MEIO AMBIENTE (10 PONTOS) (...) No que toca ao produto “Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente”, a pontuação da capacidade técnica das empresas/consórcios será distribuída de acordo com os seguintes critérios de experiência em elaboração de projetos de EIA-RIMA. - Definição do quesito: Avaliação da experiência em elaboração de EIA-RIMA em área urbana de regiões metropolitanas. - Forma de entrega: Ficha técnica e atestados devidamente acervados, ou, no caso de projeto realizado para pessoas jurídicas de direito privado, por cópia do contrato acompanhado do termo de encerramento com declaração de recebimento do produto, devidamente acompanhados de cópia da respectiva licença expedida pelo Poder Público (se houver). Verifica-se que o critério a observar para a elegibilidade de projetos para avaliação técnica de EIA-RIMA é o de realização do estudo em regiões metropolitanas. Tal critério, aponte-se, não é coincidente com o exigido etapa
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anterior do certame – a habilitação – e, por expressa previsão editalícia, deve ser o utilizado nesta etapa. Não há, por seu turno, conceito de “regiões metropolitanas” no Edital. Deve ser utilizado, assim, para identificação de tais aglomerações urbanas, dois critérios distintos: um para as regiões metropolitanas localizadas no Brasil e outro para as regiões metropolitanas localizadas no exterior. Em nosso país, deve ser observada a legislação de regência, que tem por base o art. 25, § 3º da Constituição Federal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as regiões metropolitanas brasileiras são as seguintes: (...)
Para as regiões metropolitanas localizadas no exterior, deverá ser utilizado o critério urbanístico, a ser obtido na doutrina. Como exemplo, para José Afonso da Silva, o que dá essência ao conceito de região metropolitana é a “existência de núcleos urbanos contíguos, contínuos ou não, subordinados a mais de um município, sob a influência de um Município-pólo”11.
Tais argumentos foram expressamente aceitos pela Comissão Especial
de Licitação por ocasião da sessão de avaliação de documentação do dia 14/03/2011,
que elegeu este critério objetivo para o julgamento das propostas. Desta forma, a
possibilidade de eventual mudança de entendimento por parte da Comissão Especial
de Licitação sobre o critério anteriormente adotado estará condicionada, por uma
questão de isonomia, à viabilidade de aplicação da novel orientação às avaliações já
realizadas no curso deste processo licitatório com a obtenção do mesmo resultado em
termos de pontuação dos concorrentes. Em outros termos, eventual mudança de
critério pela Comissão Especial de Licitação não poderá ocorrer em prejuízo dos
demais licitantes anteriormente concorrentes neste lote – a tais deverá ser garantido o
direito de ter suas propostas julgadas sob a nova orientação adotada. Desta forma,
prima facie, caso ultrapassadas todas as considerações inicialmente arroladas e
convencendo-se a Administração da nova diretriz para a avaliação deste item do
Edital, a adoção do novo critério terá como conditio sine qua non a inalterabilidade do
resultado das avaliações anteriormente realizadas. 11 Direito Urbanístico Brasileiro, 5ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 159.
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2) Do EIA-RIMA das linhas de transmissão de energia elétrica Porto Velho-
Araraquara
No tocante a este item, a Comissão Especial de Licitação considerou
haver óbice formal intransponível à avaliação do projeto encaminhado pelo
concorrente - não foi encaminhado o termo de encerramento contratual com
declaração do recebimento do produto.
Novamente o recorrente aventa eventual excesso de formalismo por
parte do Poder Público, em medida que restaria desatendido interesse público
ignorar-se o fato de o EIA-RIMA apresentado na ficha técnica ter sido, de fato,
elaborado pela empresa CNEC.
Acerca de tais assertivas, é preciso inicialmente destacar que o
argumento do excesso de formalismo por parte da Administração é recorrente por
parte de licitantes não habilitados ou classificados em processos licitatórios.
Perfeitamente legítimo e adequado seu manejo contra as decisões do Poder Público
em sede de licitação – o excesso de formalismo sem dúvida não deve obliterar o
interesse público envolvido no procedimento licitatório – tal argumentação, contudo,
não merece guarida no processo ora em análise.
Com efeito, o ponto de partida de qualquer análise sobre o tema é o de
que a observância de exigências trazidas no instrumento convocatório é dever de
todos os licitantes – participar de uma licitação significa aceitar tal premissa. O
argumento de excesso de formalismo poderia em tese prosperar caso houvesse uma
pequena irregularidade em documento apresentado (ex: a falta de rubrica em
documento de autoria incontroversa), ou mesmo se o houvesse a não apresentação
de documento obtenível em simples consulta à internet. No caso em tela, o
documento não apresentado pelo licitante é informação de real importância para o
procedimento licitatório - somente com o termo de encerramento de contrato com
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declaração de recebimento do produto poderá a Administração aferir, com toda a
segurança jurídica exigida no processo de licitação, que os trabalhos realizados pelo
ora recorrente foram adequadamente executados. A obtenção de licenças ambientais
não supre a omissão de tal documento, que tem por específico objeto atestar a
perfeita idoneidade da execução contratual – repise-se: a única forma de constatação
de execução de EIA-RIMA nos termos contratados pelo Poder Público é o termo
exigido pelo instrumento convocatório.
É de apontar-se, ainda, que eventual discordância com os termos do
Edital deveria ter sido manifestada em tempo e modo adequados – nos termos do art.
41 da lei federal de licitações:
Art. 41. A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada.
§ 1o Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação por irregularidade na aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis antes da data fixada para a abertura dos envelopes de habilitação, devendo a Administração julgar e responder à impugnação em até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da faculdade prevista no § 1o do art. 113.
Uma vez lícita a exigência do instrumento convocatório e ultrapassado
o prazo legal para impugnação, opera-se verdadeira preclusão do direito de
impugnar o conteúdo do instrumento convocatório, com todas as suas exigências a
serem cumpridas pelos licitantes. De fato, ainda que característico do regime jurídico
de direito público que a Administração possa reconhecer, a qualquer tempo e de
ofício, eventual ilegalidade do ato administrativo, é preciso afirmar, de maneira
peremptória, que tal situação não ocorre no caso em tela – por tal razão, eventual
ilegalidade da exigência prevista no item A.3 do Anexo Elementos da Proposta
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Técnica tampouco foi arguida pelo recorrente. Sob este aspecto, colaciona-se o
ensinamento de Jessé Torres Pereira Junior12,
“o objeto da impugnação é a suposta presença, nas regras do edital, de
contrariedade à lei. Não é a via adequada para debater com a Administração
sobre a conveniência ou a oportunidade da compra, obra, serviço ou alienação.
(...) O direito de impugnação é meio de controle de legalidade e funda-se no
direito constitucional de petição aos poderes públicos, assim devendo ser
exercitado e conhecido.”
Inviável, destarte, considerar excessiva a exigência do instrumento
convocatório que acabou por acarretar a desclassificação do recorrente. Ao revés,
caracteriza-se o item do Edital da Concorrência nº 01/2011/SMDU ora guerreado
como eficiente e necessário modo de comprovar qualificação técnica dos licitantes,
observado por todos os concorrentes (inclusive o ora recorrente, em seus outros
projetos de EIA-RIMA) sem que tenha havido impugnação ao seu conteúdo nos
termos previstos pela legislação de regência.
Novamente, contudo, e à guisa de argumentação, ainda que fosse
possível ultrapassar o óbice formal ora exposto, aparentemente melhor sorte não
teria a licitante na avaliação do mérito de seu projeto. Com efeito, o web-site do
IBAMA – Instituto Nacional do Meio Ambiente, traz os estudos de impacto
ambiental e respectivos relatórios de impacto no meio ambiente das linhas de
transmissão de energia elétrica objeto do licenciamento ambiental oferecido à análise
pelo Consórcio recorrente13. Em tais relatórios, destacam-se os quadros abaixo:
12 op. cit., p. 502. 13
http://siscom.ibama.gov.br/licenciamento_ambiental/LT/LT%20Coletora%20Porto%20Velho%20-
%20Araraquara%202%20e%20demais%20instala%C3%A7%C3%B5es%20associadas/RIMA%20Madeira/RIM
A_IE.pdf e
http://siscom.ibama.gov.br/licenciamento_ambiental/LT/LT%20Coletora%20Porto%20Velho%20%20Araraquar
a%202/RIMA_NORTE/RimaFinal.pdf, acesso em 19/06/2012.
ASSESSORIA JURÍDICA
Do Processo nº 2010-0.345.158-2 Folha de Informação nº
Em ........./......../...........
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Do Processo nº 2010-0.345.158-2 Folha de Informação nº
Em ........./......../...........
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Do Processo nº 2010-0.345.158-2 Folha de Informação nº
Em ........./......../...........
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Em nenhuma das alternativas tecnológicas abordadas no EIA-RIMA
previu-se interferência direta da instalação das linhas de transmissão em área
urbana, havendo apenas tangenciamento de zonas urbanizadas. A análise de tal
tema, à evidência, compete à Comissão Especial de Licitação, que deverá, caso
entenda ultrapassada a questão formal avaliada na presente manifestação, cotejar tal
informação com o exigido no item A.3 do Anexo Elementos da Proposta Técnica
(Definição do quesito: Avaliação da experiência em elaboração de EIA-RIMA em área
urbana de regiões metropolitanas.).
Com tais esclarecimentos, sugerimos o encaminhamento do feito à
Comissão Especial de Licitação, para análise e deliberação.
São Paulo, 19 de junho de 2012.
JOSÉ ANTONIO APPARECIDO JUNIOR Procurador do Município – Assessor
OAB/SP 228.237 SMDU.AJ
SMDU.CEL
Senhor Presidente
Nos termos da informação supra, encaminho a Vossa Senhoria para
deliberação da Comissão Especial de Licitação.
São Paulo, 19 de junho de 2012.
HELOISA TOOP SENA REBOUÇAS
Chefe da Assessoria Jurídica
OAB/SP nº 110.310
SMDU