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3 - A pesquisa baseada nas artes: Propostas para repensar a pesquisa Fernando Hernández Hernández Um ponto de partida “A partir de uma instância epistemológico-metodológica, da qual se questiona as formas hegemônicas de investigação centradas na aplicação de procedimentos que “fazem falar” à realidade; e por outro, por meio do uso de procedimentos artísticos (literários, visuais, performativas, musicais) para dar conta dos fenômenos e experiências se dirigem ao estudo em questão.” (P. 40-41) O contexto da investigação baseada nas Artes “A pesquisa científica seria aquela que, de uma maneira ou de outra, se sustenta na observação, que se supõe objetiva de um fenômeno, e mediante a aplicação de uma série de mecanismos de controle e fiabilidade. As condições desse tipo de investigação devem gerar resultados que possam ser reproduzíveis, verificáveis, extrapoláveis, generalizáveis e aplicáveis. Esta visão da pesquisa científica pode-se localizar dentro da corrente dualista que marcou o pensamento ocidental durante quase trezentos anos e que significou, por exemplo, aceitar como necessária a separação entre o sujeito que observa e pesquisa, o objeto observado, e sobre o que se pesquisa.” (P. 41)

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3 - A pesquisa baseada nas artes: Propostas para repensar a pesquisa

Fernando Hernández Hernández

Um ponto de partida

“A partir de uma instância epistemológico-metodológica, da qual se questiona as formas hegemônicas de investigação centradas na aplicação de procedimentos que “fazem falar” à realidade; e por outro, por meio do uso de procedimentos artísticos (literários, visuais, performativas, musicais) para dar conta dos fenômenos e experiências se dirigem ao estudo em questão.” (P. 40-41)

O contexto da investigação baseada nas Artes

“A pesquisa científica seria aquela que, de uma maneira ou de outra, se sustenta na observação, que se supõe objetiva de um fenômeno, e mediante a aplicação de uma série de mecanismos de controle e fiabilidade. As condições desse tipo de investigação devem gerar resultados que possam ser reproduzíveis, verificáveis, extrapoláveis, generalizáveis e aplicáveis. Esta visão da pesquisa científica pode-se localizar dentro da corrente dualista que marcou o pensamento ocidental durante quase trezentos anos e que significou, por exemplo, aceitar como necessária a separação entre o sujeito que observa e pesquisa, o objeto observado, e sobre o que se pesquisa.” (P. 41)

“Mas depois da crise das teorias do positivismo e do cientificismo (IBANEZ, 1981, 2001 a), a noção de investigação e a forma abordá-la foi se ampliando e estendendo para além da limitada noção de pesquisa científica, que não permite o estudo de fenômenos complexos e fluidos, como são aqueles que encontram maneiras de dotá-los de significados das atuações e experiências dos seres humanos.” (P. 41)

“Bruner considera que o equilíbrio entre essas duas modalidades, entre pragmatismo e imaginação, é essencial para uma narrativa do eu saudável e, portanto, para uma construção identitária ponderada. Para Bruner, será a narrativa biográfica, o relato de vida, que opera de uma maneira similar a uma conversação entre o modo pragmático e o modo narrativo/imaginação, onde

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cristalizam representações que possam influir e mudar as percepções da identidade do autobiológico.” (P. 42)

“Aqui, o que Eisner (1988) propõe, na tradição de Dewey (1949), é que o conhecimento pode também derivar da experiência. E uma forma genuína de experiência é a artística. Este reconhecimento da artística levou Sullivan (2004) a propor um enfoque de investigação que permite teorizar a prática das artes visuais situando-a em relação três paradigmas: o interpretação, o empirismo e o crítico.” (P. 43)

Que significa uma Investigação Baseada nas Artes?

“As definições de PBA podem se localizar, além dos autores citados, em outros, como Kapitan (2003), Hervey (2000), McNiff (1998), Allen (1995) e Linesch (1995). Baseando-se na definição de McNiff’s (1998, p.13) Speiser (s.d.) a considera como “um método de pesquisa que utiliza elementos da experiência das artes criativas, incluindo o fazer arte por parte do pesquisador, como maneiras de compreender o significado do que nós fazemos dentro da nossa prática e do ensino”.” (P. 45)

A Perspectiva literária

“Nas narrativas evocativas, a legitimidade de um texto pode ser determinada por aquilo que a narrativa provoca ou evoca no leitor. Desta maneira é o leitor quem pode considerar uma experiência autêntica, crível ou possível. Desta perspectiva, uma escritura medíocre não possibilitaria esse reconhecimento por parte do leitor, já que não facilitaria uma experiência transformadora em que o leitor se sinta motivado a refletir sobre suas próprias experiências a partir do diálogo com o relato que lhe propõe o investigador.” (P. 48)

“Uma segunda tendência dentro da perspectiva artística estaria relacionada com a busca de legitimidade da arte terapia. Neste caso, apresentam-se processos terapêuticos em que as representações artísticas, desenho, pintura, escultura, sobretudo, atuam como objetos mediadores que possibilitam diálogos e conexões com o inconsciente dos sujeitos ou com seus referentes culturais.” (P. 50)

“Na maioria das pesquisas etnográficas, as imagens fotográficas ou cinematográficas se apresentam como ilustrações da narrativa textual ou como

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expoentes das evidências obtidas durante a estância no campo. Este caráter ilustrativo, no entanto, apresenta-se como insuficiente na perspectiva da IBA, que se propõe também, como assinalei, a possibilidade de gerar conhecimento ao relacionar – ao desvelar – mediante diferentes estratégias, aquilo que a câmera capta com o que seria o problema da pesquisa.” (P. 50)

Questões problemáticas na IBA

Na utilização de um produto artístico para dar conta de uma pesquisa, criam-se mais “lacunas” e entradas em cena que sentenças acabados ou conclusões (embora seja isso que permita que diferentes pessoas possam encontrar pontos de conexões com uma imagem). Mas o processo artístico também implica transitar entre silêncios, tempos de ação, de escuta, de conversação, de miradas, de pensamentos, e entre os buracos e as conexões entre todo o anterior.” (P. 57)

A qualidade artística

“A qualidade artística na PBA não responde a um critério elitista, mas a um que priva seu valor comunicativo. Nesse sentido, as reações que provoca a manifestação artística são mais importantes que a qualidade artística tal e como se apresentaria desde critérios estéticos externos. Assim, o critério de comunicação e de responsabilidade social predomina sobre aquele da habilidade artística (FINLEY, 2003; MULLEN, 2003; SCLATER, 2003).” (P. 57)