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1 NATUREZA DEVASTADA: UM ESTUDO HISTÓRICO DE CASO Rosemary Aparecida Corrêa Graduada em Ciências Biológicas pela Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA Pós-graduada em Gestão Ambiental pela Universidade Salesianas de Lorena – UNISAL Priscila de Fátima Uchoas de Andrade Graduada em Ciências Biológicas pela Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA INTRODUÇÃO O Bioma Mata Atlântica é considerado a formação florestal de maior diversidade existente na costa brasileira. Sena (2006) afirma que a Mata Atlântica cobria toda a costa brasileira, do Ceará ao Rio Grande do Sul, com a extensão aproximada de 1,3 milhões de quilômetros quadrados. Hoje, está reduzida a 7% de sua área original, e seu bioma abriga um dos maiores recordes mundiais de plantas lenhosas: entre 454 e 476 espécies em um único hectare, em áreas no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. A pressão antrópica se faz sentir, principalmente, pela intensa ocupação: nessas áreas estão as maiores concentrações urbanas e pólos industriais do Brasil, onde vivem 70% da população. O abastecimento de água para as necessidades dessa população é garantido pelos remanescentes florestais da Mata Atlântica. Principais tipos de vegetação do trecho paulista do Vale do Paraíba. Fonte: adaptado do Atlas do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo – BIOTA-FAPESP. A região do Vale do Paraíba apresenta vegetação variável por causa do clima, relevo e solo diversificados. Nos últimos anos, fala-se em poluição dos rios, lagos e outros meios aquáticos. Além desses meios, também se encontram grandes devastações florestais. O bairro de São Francisco pode ser considerado uma das poucas áreas verdes e de grande capacidade em manancial do município de Aparecida e encontra-se numa área bastante acidentada. Até os anos 70, o local ainda era pouco explorado pela população. Neste local, se localiza o Ribeirão da Chácara que, em décadas passadas, era considerado um ribeirão límpido, sendo espaço de lazer e de grande utilidade para a população.

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NATUREZA DEVASTADA: UM ESTUDO HISTÓRICO DE CASO

Rosemary Aparecida Corrêa Graduada em Ciências Biológicas pela

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA Pós-graduada em Gestão Ambiental pela

Universidade Salesianas de Lorena – UNISAL

Priscila de Fátima Uchoas de Andrade Graduada em Ciências Biológicas pela

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA

INTRODUÇÃO

O Bioma Mata Atlântica é considerado a formação florestal de maior diversidade existente na costa brasileira.

Sena (2006) afirma que a Mata Atlântica cobria toda a costa brasileira, do Ceará ao Rio Grande do Sul, com a extensão aproximada de 1,3 milhões de quilômetros quadrados. Hoje, está reduzida a 7% de sua área original, e seu bioma abriga um dos maiores recordes mundiais de plantas lenhosas: entre 454 e 476 espécies em um único hectare, em áreas no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. A pressão antrópica se faz sentir, principalmente, pela intensa ocupação: nessas áreas estão as maiores concentrações urbanas e pólos industriais do Brasil, onde vivem 70% da população. O abastecimento de água para as necessidades dessa população é garantido pelos remanescentes florestais da Mata Atlântica.

Principais tipos de vegetação do trecho paulista do Vale do Paraíba. Fonte: adaptado do Atlas do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do

Estado de São Paulo – BIOTA-FAPESP. A região do Vale do Paraíba apresenta vegetação variável por causa do clima, relevo e solo diversificados. Nos últimos anos, fala-se em poluição dos rios, lagos e outros meios aquáticos. Além desses meios, também

se encontram grandes devastações florestais. O bairro de São Francisco pode ser considerado uma das poucas áreas verdes e de grande capacidade em

manancial do município de Aparecida e encontra-se numa área bastante acidentada. Até os anos 70, o local ainda era pouco explorado pela população. Neste local, se localiza o Ribeirão da Chácara que, em décadas passadas, era considerado um ribeirão límpido, sendo espaço de lazer e de grande utilidade para a população.

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Mas, com o transcorrer do tempo, essa área transformou-se em uma extensão de poluição e degradação do ambiente, predominando apenas algumas espécies remanescentes de árvores de médio porte e pouquíssimas espécies de animais silvestres.

As degradações acontecem por três ações antrópicas, conforme nos afirma Rocha (1999, apud Servilha, 2006), que são: a conversão de espaços naturais para usos urbanos, a extração e deterioração de recursos naturais e o despejo dos resíduos urbanos, industriais e domésticos.

Segundo o Decreto nº 10.755, de 22 de novembro de 1977, que dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água receptores na classificação prevista no Decreto nº 8.468, de 8 de setembro de 1976, e dá providências correlatas, lê-se no:

Art. 1º - Os corpos de água receptores do território do Estado, bem como as respectivas bacias ou sub-

bacias que compreendem seus formadores e/ou afluentes, ficam enquadrados na forma determinada no Anexo ao presente Decreto, em obediência à classificação prevista no artigo 7º do Decreto nº 8.468, de 8 de setembro de 1976. De acordo com o anexo presente no referido decreto, o Ribeirão da Chácara, pertencente à bacia do rio

Paraíba do Sul, se encontra na classe 4, já que boa parte da cidade despeja os resíduos urbanos e domésticos em suas águas as quais desembocam no rio Paraíba do Sul. MATERIAIS E MÉTODOS

A área estudada foi a do Ribeirão da Chácara, situada no bairro de São Francisco, localizado na zona rural de Aparecida, SP, que tem como coordenadas geográficas: 21°50’49” de latitude Sul e 45°13’47” de longitude oeste, com altitude de 542 metros. Seu clima quente é dominante, com inverno seco, tendo a temperatura máxima de 35ºC, mínima de 9ºC e média compensada de 22ºC.

Para a análise do ambiente foram usados registros fotográficos, pois as fotos transmitem, com a máxima realidade possível, a trajetória visual do estado de conservação do ribeirão. O material imagético mostra com melhor realidade as causas dos problemas enfrentados pela população atualmente.

Arquivos de texto, tanto os descritivos da região, quanto os sobre técnicas de recuperação de áreas degradadas, serviram de base para o desenvolvimento do projeto.

Os dados como mapas, imagens, fotos, levantamentos florísticos, foram coletados junto à Prefeitura Municipal de Aparecida, Prefeitura Municipal de Guaratinguetá, Biblioteca Municipal de Aparecida, Biblioteca Doutor João Antonio da Fonseca (Secretaria Estadual de Educação e Cultura de São Paulo), Biblioteca Conde de Moreira Lima das Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila (FA-TEA), Centro de Documentação e Memória Padre Antão Jorge (CSsR), Escola Fazenda Boa Vista, Síntese Supor-te Educacional e Comitê da Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS).

Também foram utilizadas imagens de satélites obtidas junto ao Instituto de Pesquisa Espaciais (INPE), a fim de potencializar a análise das causas dos problemas atuais. RESULTADOS 1. VEGETAÇÃO NATURAL DO MUNICÍPIO DE APARECIDA, SP

De acordo com as análises realizadas pelos levantamentos fotográficos atuais, a vegetação natural do município de Aparecida encontra-se pouco diversificada, caracterizada por uma vegetação rasteira, árvores de porte médio e poucos fragmentos florestais de Mata Atlântica, com características de floresta em fase de regeneração.

A sub-bacia do Ribeirão da Chácara, em sua grande parte, tem predominância de vegetação rasteira, segundo Moraes (2006). Essa vegetação é composta por gramíneas braquiária (Brachiarias decumbens), barba-de-bode (Aristida pallens Nuff.) e rabo-de-burro (Sedum morganianum). Além destas gramíneas é possível observar, também, maciços arbóreos existentes no município formados por vegetação nativa originária da Mata Atlântica.

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Vista aérea da região onde se encontram as nascentes do Ribeirão da Chácara, 2006. Fonte: EEAR

2. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA DE ESTUDO DA DÉCADA DE 40 E 50

Sub-bacia do Ribeirão da Chácara - Aparecida-SP. Década de 1940.

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O Vale do Paraíba possuía, na década de 1940, um cenário de grande devastação promovido pela agricultura e, principalmente, pela criação de gado. Em vários locais pode-se observar a evolução da ação antrópica na natureza. A área pela qual, futuramente, passará a rodovia Presidente Dutra, está coberta por pastagens.

O morro, encoberto por gramíneas, ainda não apresentava erosão, era usado para pastagens e não era habitado. Encontrava-se uma grande cobertura primária e secundária de vegetação da Mata Atlântica, onde se encontram os remanescentes que formam a cabeceira do Ribeirão da Chácara. Ao longo da sub-bacia observa-se a grande mata ciliar encobrindo o leito do ribeirão, porém, já possuindo as primeiras construções de casas.

Sub-bacia do Ribeirão da Chácara - Aparecida-SP. Década de 1950.

Na década de 1950, o progressivo desmatamento foi intensificado e promovido pela ocupação antrópica e

construção de casas. A mudança já é visível. A rodovia Presidente Dutra já cortava os morros, assim provocando pontos de erosão. Nessa década, já se inicia o primeiro corte de estrada na sub-bacia desse ribeirão. Todavia vêem-se as primeiras construções de alvenaria em Área de Preservação Permanente (APP). Essa região sofreu muito nesses dez anos, pois em comparação com a imagem da década de 1940, a mata que encobria grande parte do local, foi em parte devastada. Um pouco acima da Rodovia Presidente Dutra, do lado direito, nessa década, a encosta continua a desbarrancar aumentando a voçoroca, além de levar terra ao ribeirão. Devido a situação de abandono de parte da área, algumas espécies arbóreas cresciam no local. O processo de erosão das cabecereiras do vale em virtude da ação antrópica já havia sido apontado por Ab’Saber & Bernardes (1958) quando descrevem um vale de fundo chato, com cabeceiras em forma de anfiteatro a sofrer o impacto da presença humana à beira do rio e do gado a riscar os morros ao pisotear o pasto. Esse era um aspecto que na região se tornou muito comum de ser observado.

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3. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA DE ESTUDO NA DÉCADA DE 70

Rua Padre Gebardo, paralela ao Ribeirão da Chácara, na década de 1970.

Na década de 1970, houve uma preocupação maior com o avanço do desmatamento. Podemos observar na

foto que, no entorno da Rua Padre Gebardo, restavam apenas algumas árvores e espécies herbáceas nativas, ou seja, pequenos fragmentos florestais.

Freitas (1978) previa que tal avanço do desmatamento seria o principal fator que poderia trazer prejuízos para o futuro da fauna e da flora da região.

Com isso, foi realizado pelo geógrafo Oswaldo Carvalho Freitas, em 1978, um levantamento das espécies arbóreas nativas. No levantamento foram encontradas 38 espécies arbóreas. As famílias de maior destaque foram: Apocynaceae, Bignoneaceae, LEG.-Papilionoideae, seguidas da Arecaceae, Euphorbiaceae, LEG.-Caesalpinioideae, LEG.-Mimosoideae, Meliaceae e Myrtaceae. Os gêneros que mais se destacaram foram: Aspidosperma sp., Erythrina sp. e Jacaranda sp.

Espécies de árvores nativas que se encontravam na região na década de 70. Fonte: adaptada de Oswaldo Carvalho Freitas. NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Açoita-cavalo Luehea divaricata Tiliaceae

Aroeira Lithraea molleoides Anacardiaceae

Camboatá Cupania oblongifolia Sapindaceae

Cabriúva Myrocarpus frondosus Fabaceae

Cambuí Myrcia multiflora Myrtaceae

Candeia Gochnatia polymorpha Asteraceae

Canela Aniba sp. Lauraceae

Canjerana Cabralea canjerana Meliaceae

Capixingui Croton floribundus Euphorbiaceae

Caviúna/Cabiúna Dalbergia miscolobium LEG.-Papilionoideae

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NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Cedro/Cedrinho Cedrela fissilis Meliaceae

Cipreste Cupressus sempervirens Cupressáceas

Corticeira Erythrina crista-galli LEG.-Papilionoideae

Figueira-branca Ficus guaranitica Moraceae

Goiabeira Psidium guajava Myrtaceae

Guatambu Aspidosperma ramiflorum Apocynaceae

Imbaúba/Imbaíba/Umbaúba Cecropia sp. Urticaceae

Ingá Inga cylindrica LEG.-Mimosoideae

Ipê Tabebuia vellosoi Bignoniaceae

Jacarandá Jacaranda cuspidifolia Bignoneaceae

Jacarandá Mimoso Jacaranda mimosaefolia Bignoneaceae

Pau-Jacaré Piptadenia gonoacantha LEG.-Mimosoideae

Juazeiro Zizyphus joazeiro Rhamnaceae

Jataí/Jatobá Hymenaea courbaril LEG.-Caesalpinioideae

Paineira/Barriguda Ceiba specios Bombacaceae

Palmeira Syagrus sp. Arecaceae

Palmiteiro Euterpe edulis Arecaceae

Peroba Aspidosperma polyneuron Apocynaceae

Pinheirinho Podocarpus lanceolata Apocynaceae

Pinheiro Pinus sp. Pinaceae

Pindaíba/Pindaúva Duguetia lanceolata Annonaceae

Saguaraji Colubrina glandulos Rhamnaceae

Suína/Sapatinho-de-judas Erythrina mulungu LEG.-Papilionoideae

Seringueira Hevea brasiliensis Euphorbiaceae

Unha de vaca Bauhinia forficata LEG.-Caesalpinioideae

Mamica-de-porca Zanthoxylum rhoifolium Rutaceae

Salgueiro Salix sp. Salicaceae

A vegetação aparecidense, afirma Freitas (1978), foi devastada nos três séculos de ocupação de seu solo

pelo homem civilizado. Resta pouca cobertura vegetal. Como, aliás, em todo o Estado, encontram-se pequenos bosques e até algum pequeno fragmento florestal. Na flora aparecidense não são muito abundantes as árvores de grande porte, mas há ainda certa variedade.

Foi realizado também um levantamento das espécies de pequeno porte. No levantamento encontraram-se 50 espécies de plantas herbáceas. Entre as famílias, a que teve maior destaque foi a Lamiaceae, depois a Asteraceae e, logo em seguida, a Euphorbiaceae. Os gêneros que se destacaram foram Mentha sp e Solanum sp.

Plantas de pequeno porte e algumas herbáceas, remanescentes da área. Fonte: adaptada de Oswaldo Carvalho Freitas. NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Alecrim Rosmarinus oficinalis Lamiaceae

Alfavaca Ocimum basilicum Lamiaceae

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NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Arrebenta-cavalo Solanum aculeatissimum Solanaceae

Arruda Ruta graveolens Rutaceae

Assa-peixe Vernonia polysphaera Asteraceae

Avenca Adiantum capillus veneris Pteridaceae

Babosa Aloe socotrina Asphodelaceae

Barba-de-bode Cyperus compressus Ciperáceas

Bico-de-papagaio Euphorbia pulcherrima Euphorbiaceae

Boldo/Bordo Coleus barbatus Lamiaceae

Bredo/Caruru Amaranthus sp. Amaranthaceae

Cacto Pereskia grandiflora Cactáceas

Carobinha Jacaranda puberula Bignoniaceae

Carrapicho Cenchrus echinatus Poaceae

Cavalinha Equisetum sp. Equisetaceae

Chorão Eragrostis curvula Gramíneas

Cipó Heteropsis spp. Araceae

Cipó-suma/Piriguara Anchietia salutaris Violaceae

Erva-cidreira Melissa officinalis Lamiaceae

Erva-de-passarinho Struthanthus flexicaulis Loranthaceae

Erva-de-são-joão Hypericum perforatum Hypericaceae

Erva-doce/funcho Foeniculum vulgare Apiaceae

Esporinha Consolida ajacis Ranunculaceae

Fedegoso Cassia occidentalis . Fabaceae

Guabiroba/Gabiroba Campomanesia pubescens Myrtaceae

Guaco Mikania glomera Asteraceae

Guiné Petiveria alliacea Phytolacaceae

Hortelã Mentha sp. Lamiaceae

Juá-bravo Solanum agrarium Sendtn Solanaceae

Juá-mirim Zizyphus undulata Rhamnaceae

Leiteira Sapium glandulatum Euphorbiaceae

Levante Mentha viridis Lamiaceae

Língua-de-vaca Chaptalia nutans Asteraceae

Losna Artemisia absinthium Asteraceae

Louro/Loureiro Laurus nobilis Lauraceae

Mamoneira Ricinus communis Euphorbiaceae

Marcela/Macela Achyrocline satureioides Asteraceae

Mastruço/Mastruz Chenopodium ambrosioides Chenopodiaceae

Mata-pasto Senna alata LEG.-Caesalpinioideae

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NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Melão-de-são-caetano Momordica charantia Cucurbitaceae

Quebra-pedra Phyllanthus niruri Euphorbiaceae

Erva-de-santana Parietaria judaica Urticaceae

Rabo-de-burro Sedum morganianum Crassulaceae

Sabugueiro Sambucus nigra Adoxaceae

Saião Kalanchë brasiliensis Crassuláceas

Salva Salvia officinalis Lamiaceae

Sapé Imperata brasiliensis Poaceae

Trevo Marsilea sp. Marsileáceas

Freitas (1978) comenta que, naquela época, já não era uma flora rica e exuberante, como foi nos tempos em

que a Mata Atlântica cobria as terras do município. Também está longe de ser pobre como a das regiões semiáridas do Nordeste. A flora paga o preço exigido pela ocupação do solo por uma população de quase 300 habitantes por km2. Para evitar que isso ocorra, segundo o autor, é necessário tomar uma série de providências, a primeira das quais é a conscientização do povo e das autoridades. 4. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA EM FUNÇÃO DA URBANIZAÇÃO

Com o crescimento urbano desordenado ao redor do Ribeirão da Chácara, a população ribeirinha vem

sofrendo um impacto negativo causado pela ocupação antrópica ao longo da nascente até a sua foz. Nesse percurso, além do aumento da população em direção ao ribeirão, há a diminuição das matas ciliares, como também a poluição de suas águas.

A situação da sub-bacia do ribeirão modificou-se completamente, e toda a área sofreu ainda mais com a ação antrópica. O corte feito pela rodovia, na década de 1950, e os cortes feitos pela abertura da rua Padre Gebardo, na década de 1970, causaram pontos de erosão.

Década de 1990, o crescimento desordenado da população causa grande impacto ao ribeirão.

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Em 1990, ampliam-se de forma significativa as construções de alvenaria, sendo que, logo no começo da

estrada, as construções formavam uma pequena vila. Acima desta, do lado direito, há uma erosão à margem do ribeirão. A Mata Atlântica, que encobria grande parte da região onde se encontram as suas nascentes, apresentava, nessa década, pequenos fragmentos, sendo que a cobertura do topo do morro já não existia.

A erosão existente no topo do morro, ao lado da Rodovia Presidente Dutra, começa a apresentar vegetação rasteira, além das espécies arbóreas que cresceram. A ação antrópica apresenta-se em grande escala na região abaixo da rodovia, onde o que eram poucas construções, se tornou uma cidade. Com isso, a pouca vegetação que existia passou apenas a ser algumas árvores no meio de várias construções de casas e prédios.

Almeida (2005) em seu trabalho de pós-graduação sobre o Ribeirão da Chácara identificou que a nascente desse ribeirão está localizada a 775 m de altitude, no bairro de São Francisco, zona rural do município de Aparecida, no Vale do Paraíba, São Paulo. Logo depois começa a correr por um canal. O ribeirão passa por um tubo plástico, onde as pessoas da região coletam sua água pura e cristalina. A 615 metros o ramal principal recebe as águas de outros dois afluentes, já contendo esgoto doméstico de algumas residências do bairro. A qualidade da sua água começa a ficar comprometida não podendo ser mais consumida para uso doméstico. A 600 metros de altitude, o volume de água aumenta ainda mais, com a convergência de outro afluente. Neste ponto, o ribeirão é represado num pequeno lago, em uma fazenda de criação de gado e pequenos animais. E por fim, a 560 metros, o ribeirão tem a sua vazão aumentada com o despejo de esgotos e águas pluviais de toda região, bastante habitada. Depois de correr canalizado pelo bairro de Santa Rita e atravessar o pátio do Santuário Nacional de Aparecida, o ribeirão solta suas águas, totalmente poluídas, no bairro de Ponte Alta, a 540 metros de altitude. A seguir, corre a céu aberto, por cerca de 200 metros, recebendo mais esgoto e lixo domésticos. Volta a ser canalizado por cerca de 400 metros até alcançar as águas do rio Paraíba do Sul, a 526 metros de altitude.

5. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS ATUAIS

Tendo uma visão geral da região, pode-se dizer que ela encontra-se em estado de devastação avançado, onde a população ocupa grande parte de sua bacia, desordenadamente. A maior parte da população é ribeirinha, ocupando o local de mata ciliar e avançando para áreas de maciços que ainda restam no local. Inclusive onde se localiza a principal nascente do Ribeirão da Chácara.

Com essa devastação, o Ribeirão da Chácara passa a ser considerado um enorme problema para o município. Com parte de sua extensão canalizada, todo o ano, e em época de chuvas, ocorre enchente nos locais por ele percorridos, pois com a falta de mata ciliar a água da chuva não escoa para o lençol freático, ou seja, ela escorre pelo “morro afora” atingindo grande parte da população dos bairros Santa Rita e Ponte Alta.

Além do estado de devastação da vegetação, foi possível observar também áreas erodidas onde nem mesmo há cobertura da vegetação rasteira.

Áreas de maior destaque: Margens do Ribeirão da Chácara: área onde a população forma o bairro São Francisco. Décadas

passadas, a ocupação desordenada ainda não era intensa como mostram as figuras anteriores, ao contrário do que se encontra atualmente. Esse crescimento desordenado mostra-se, em grande parte, feito às margens do Ribeirão da Chácara.

Alto do morro: observa-se que na área existe ocupação desordenada do solo. Às margens do ribeirão, os morros erodidos colocam em risco de soterramento as casas que foram construídas em seu sopé. Várias encostas estão seriamente comprometidas. Observam-se os cortes de estradas e os remanescentes que ainda restam cobrindo as nascentes.

Lago: há um pequeno lago, onde as águas do ribeirão são represadas. No período de um ano, as árvores que encobriam o redor deste lago foram arrancadas para outros fins. Além disso, este lago está encoberto por cianofíceas o que indica que a área está poluída, como anteriormente dito.

Rua Padre Gebardo: na década de 1970 era possível visualizar o Santuário Nacional de Aparecida ao fundo e algumas vegetações, o que hoje foi coberto por concreto, asfalto e construções em uma estrada a menos de 50 metros do leito do Ribeirão da Chácara.

Margens da rodovia (esquerda): área onde há erosão em grande escala. De 1990 até 2008, essa situação, devido às chuvas e à falta de cobertura vegetal, continuou a erodir, o que ocasiona desmoronamentos.

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Margens da rodovia (direita): a erosão já está contida e com alguma vegetação rasteira e arbórea, além de uma canaleta que ajuda no escoamento da água da chuva. Esta é uma técnica utilizada para que não ocorram desbarrancamentos e erosões.

Abaixo da Rodovia Presidente Dutra: durante os anos que passaram o crescimento populacional tomou conta de toda a área.

Atualmente, o que se pode visualizar são algumas árvores dispersas em meio a várias casas e prédios, além das avenidas que cortam esse trecho, onde o ribeirão é canalizado.

Imagem de uma das nascentes do Ribeirão da Chácara, 2008.

Área acima do Ribeirão da Chácara, ao lado da Rodovia Presidente Dutra, 2008.

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Rua Padre Gebardo, em 2008.

A sub-bacia do Ribeirão da Chácara, mostrando o avanço da população, 2008.

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Ponto onde o Ribeirão da Chácara é represado num pequeno lago, 2008.

6. LEVANTAMENTO FLORISTICO DA REGIÃO

Em 2006, foi realizado pelo engenheiro agrônomo José Eduardo R. de Moraes, da Prefeitura de Aparecida, SP, um levantamento florístico. Os resultados preliminares do levantamento da região estão disponíveis no Laudo Técnico. De acordo com informações do Laudo Técnico, foram encontradas 30 espécies de árvores nativas. As famílias com grande destaque foram: Euphorbia-ceae, LEG.-Caesalpinioideae, LEG.-Papilionoideae e Myrtaceae, seguida pela Anacardiaceae, Bignoniaceae, LEG.-Mimosoideae, Rutaceae, Tiliaceae, Verbenaceae, e por último as Apocynaceae, Arecaceae, Bombacaceae, Boraginaceae, Cecropiaceae e Meliaceae. E os gêneros: Croton sp., Machaerium sp. e Tabebuia sp..

De acordo com o levantamento florístico, podemos perceber que a situação hoje encontrada sofreu uma devastação muito grande. Encontramos apenas algumas espécies, se comparado com o levantamento florístico da década de 70, com predominância de espécies das famílias Caesalpiniodeae, Myrtacea e Papilionoideae.

CONCLUSÃO

Desde a colonização e do cultivo da cultura do café, a Mata Atlântica vem sofrendo impactos ambientais, principalmente pelo avanço da ação antrópica, que, com o passar dos anos, devastou grande parte da região.

Em decorrência dessa devastação, devido ao crescimento populacional desordenado, as matas ciliares também sofreram fortes impactos, causando prejuízos à própria população que dela usufrui.

Isso pode ser observado na sub-bacia do Ribeirão da Chácara, na qual o crescimento populacional vem ocupando as margens deste, causando devastação da mata ciliar e poluição, o que gera problemas no percurso do ribeirão, dentre os quais a principal é o alagamento dos bairros que estão na parte baixa da bacia.

Com base nesses dados, podemos propor algumas medidas para solução dos problemas e reversão do quadro de degradação, como:

• tratamento de esgoto; • recomposição da Mata Ciliar das nascentes e de todo o percurso do Ribeirão da Chácara; • redimensionamento da canalização na área urbana; • Educação Ambiental para os moradores da sub-bacia, a partir das escolas; • busca de parcerias para o bom andamento do programa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SABER, Aziz Nacib; Bernardes, Nilo. Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e arredores de São Paulo. Edição do Conselho Nacional de Geografia. RJ, 1958. ALMEIDA, Antonio Carlos de. Bacia da Chácara. 2005. Dissertação (Pós-Graduação). Faculdade de Engenharia Ambiental, Universidade de Taubaté, Taubaté, 2005. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Decreto nº 10.755, de 22 de novembro 1977. Dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água receptores na classificação prevista no Decreto nº 8.468, de 8 de setembro de 1976, e dá providências correlatas. Disponível em: <http://www. cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/legislacao/estadual/decretos/1997_Dec_Est_10755.pdf>. Acesso em: 1 maio 2009. FREITAS, Oswaldo Carvalho. Aparecida, Capital Mariana do Brasil. Aparecida: Editora Santuário, 1978. MORAES, José Eduardo R. de. Laudo Técnico para Prefeitura de Aparecida-SP. Janeiro, 2006. SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Projeto de preservação da Mata Atlântica, São Paulo, 1995 a 2006. São Paulo, 2006. SERVILHA, Élson Roney. Conflitos na Proteção Legal das Áreas de Preservação Permanentes Urbanas. 2006. (Tese de Doutorado em Engenharia Civil). Faculdade de Engenharia Civil – Unicamp. Campinas: FEC, 2006.