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ESTADO, GOVERNOEMERCADO
2009
Ricardo Corra Coelho
Ministrio da Educao MEC
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES
Diretoria de Educao a Distncia DED
Universidade Aberta do Brasil UABPrograma Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP
Especializao em Gesto Pblica Municipal
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2009. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados.
A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivos autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e
gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar o
contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e dist ribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos.
A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem autorizaoexpressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos
1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.
C672e Coelho, Ricardo CorraEstado, governo e mercado / Ricardo Corra Coelho. Florianpolis : Departamento de
Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2009.116p. : il.
Especializao Mdulo BsicoInclui bibliografiaISBN: 978-85-61608-81-1
1. Administrao pblica. 2. Poltica e governo Histria. 3. Gesto pblica. 4. Educaoa distncia. I. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II.Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo.
CDU: 35
Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071
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PRESIDENTE DA REPBLICA
Luiz Incio Lula da Silva
MINISTRO DA EDUCAO
Fernando Haddad
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge Almeida Guimares
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
REITORlvaro Toubes Prata
VICE-REITORCarlos Alberto Justo da Silva
CENTRO SCIO-ECONMICO
DIRETORRicardo Jos de Arajo Oliveira
VICE-DIRETORAlexandre Marino Costa
DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAO
CHEFE DO DEPARTAMENTOJoo Nilo Linhares
SUBCHEFE DO DEPARTAMENTOGilberto de Oliveira Moritz
SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA
SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA
Carlos Eduardo BielschowskyDIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA
DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIACelso Jos da Costa
COORDENAO GERAL DE ARTICULAO ACADMICANara Maria Pimentel
COORDENAO GERAL DE SUPERVISO E FOMENTOGrace Tavares Vieira
COORDENAO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOSFrancisco das Chagas Miranda Silva
COORDENAO GERAL DE POLTICAS DE INFORMAO
Adi Balb inot Junior
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COMISSO DE AVALIAO E ACOMPANHAMENTO PNAP
Alexandre Marino CostaClaudin Jordo de CarvalhoEliane Moreira S de Souza
Marcos Tanure SanabioMaria Aparecida da SilvaMarina Isabel de Almeida
Oreste PretiTatiane Michelon
Teresa Cristina Janes Carneiro
METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA
Universidade Federal de Mato Grosso
COORDENAO TCNICA DED
Soraya Matos de VasconcelosTatiane Michelon
Tatiane Pacanaro Trinca
AUTOR DO CONTEDO
Ricardo Corra Coelho
EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS CAD/UFSC
Coordenador do ProjetoAlexandre Marino Costa
Coordenao de Produo de Recursos DidticosDenise Aparecida Bunn
Superviso de Produo de Recursos Didticos
Flavia Maria de OliveiraDesigner Instrucional
Denise Aparecida BunnAndreza Regina Lopes da Silva
Superviso Administrativarika Alessandra Salmeron Silva
CapaAlexandre Noronha
IlustraoIgor Baranenko
Projeto Grfico e Editorao
Annye Cris tiny TessaroReviso Textual
Sergio Meira
Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.
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PREFCIO
Os dois principais desafios da atual idade na reaeducacional do Pas so a qualificao dos professores que atuamnas escolas de educao bsica e a qualificao do quadro
funcional atuante na gesto do Estado Brasileiro, nas vriasinstncias administrativas. O Ministrio da Educao estenfrentando o primeiro desafio atravs do Plano Nacional deFormao de Professores, que tem como objetivo qualificar maisde 300.000 professores em exerccio nas escolas de ensinofundamental e mdio, sendo metade desse esforo realizado peloSistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relao aosegundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lana oPrograma Nacional de Formao em Administrao Pblica
(PNAP). Esse Programa engloba um curso de bacharelado e trsespecializaes (Gesto Pblica, Gesto Pblica Municipal eGesto em Sade) e visa colaborar com o esforo de qualificaodos gestores pblicos brasileiros, com especial ateno noatendimento ao interior do Pas, atravs dos Polos da UAB.
O PNAP um Programa com caractersticas especiais. Emprimeiro lugar, tal Programa surgiu do esforo e da reflexo de umarede composta pela Escola Nacional de Administrao Pblica(ENAP), do Ministrio do Planejamento, pelo Ministrio da Sade,
pelo Conselho Federal de Administrao, pela Secretaria deEducao a Distncia (SEED) e por mais de 20 instituies pblicasde ensino superior, vinculadas UAB, que colaboraram naelaborao do Projeto Poltico Pedaggico dos cursos. Em segundolugar, esse Projeto ser aplicado por todas as instituies e pretendemanter um padro de qualidade em todo o Pas, mas abrindo
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margem para que cada Instituio, que ofertar os cursos, possaincluir assuntos em atendimento s diversidades econmicas eculturais de sua regio.
Outro elemento importante a construo coletiva domaterial didtico. A UAB colocar disposio das instituiesum material didtico mnimo de referncia para todas as disciplinasobrigatrias e para algumas optativas. Esse material est sendoelaborado por profissionais experientes da rea da AdministraoPblica de mais de 30 diferentes instituies, com apoio de equipemultidisciplinar. Por ltimo, a produo coletiva antecipada dosmateriais didticos libera o corpo docente das instituies para umadedicao maior ao processo de gesto acadmica dos cursos;
uniformiza um elevado patamar de qualidade para o materialdidtico; e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, semparalisaes que sempre comprometem o entusiasmo dos alunos.
Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importantepasso em direo democratizao do ensino superior pblico ede qualidade est sendo dado, desta vez contribuindo tambm paraa melhoria da gesto pblica brasileira, compromisso deste governo.
Celso Jos da CostaDiretor de Educao a Distncia
Coordenador Nacional da UAB
CAPES-MEC
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SUMRIO
Apresentao.................................................................................................... 9
Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado,
governo e mercado
Introduo...................................................................................... 13
Conceitos bsicos................................................................................. 15
A dinmica pendular das relaes entre Estado e mercado................................... 24
Duas matrizes tericas para a interpretao das relaes entre Estado e mercado:
a liberal e a marxista.................................................................................. 28
A formao da matriz do pensamento l iberal... .... ... .... ... .... ... .... ... .... 31
A matriz marxista....... ......... ........ ......... ......... ........ ......... ........ ........ 40
As mudanas nas sociedades capitalistas no final do sculo XIX e seus impactos
sobre as matrizes marxista e liberal................................................................. 52
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Estado, Governo e Mercado
8 Especializao em Gesto Pblica Municipal
Unidade 2 As relaes entre Estado, governo e mercado durante o sculo XX
Introduo...................................................................................... 73
O Estado liberal................................................................................. 75O Estado socialista.................................................................................. 83
O Estado de bem-estar social.............................................................................. 88
O Estado neoliberal........................................................................... 100
Referncias.................................................................................................... 111
Minicurrculo.................................................................................................... 114
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Apresen
Mdulo Bsico
APRESENTAO
Caro Estudante!
A disciplina que d incio a esse curso aborda uma dasquestes mais controversas do mundo contemporneo: a da relao
entre Estado, governo e mercado. Essa questo no apenas seapresenta no dia a dia do gestor pblico, como debatida em todasas disputas eleitorais sejam elas nacionais, estaduais oumunicipais , alm de figurar diariamente nas pginas dos jornais.Para ela no h uma resposta conclusiva.
Por mais que se tenha buscado e ainda se continuebuscando encontrar o ponto de equilbrio entre a intervenoestatal e a liberdade de mercado, esse equilbrio no poder sermais que temporrio.
Por essa razo, por meio desta disciplina pretendemos quevoc, gestor pblico, que j se encontra no exerccio da funo ouque almeja exercer uma funo pblica, compreenda algunsconceitos, teorias e informaes histricas que lhes possibilitarono s acompanhar e participar dessa discusso, mas, sobretudo,desempenhar as funes do gestor pblico com mais segurana emaior conhecimento do terreno em que atua.
Com esse objetivo e preocupao, organizamos os temas aserem tratados nesta disciplina em duas Unidades. Na Unidade 1vamos tratar das teorias que explicam as relaes entre Estado,governo e mercado; e na Unidade 2 estudaremos as mudanas nasrelaes entre Estado, governo e mercado durante o sculo XX.
O domnio de conceitos-chave envolvidos na discusso dasrelaes entre Estado, governo e mercado essencial para quematua ou pretende atuar na esfera pblica, mas no suficiente.
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10 Especializao em Gesto Pblica Municipal
Alm dele, necessrio ao gestor pblico conhecer e identificar asmatrizes tericas que animam esse debate e que se encontram conscientemente ou no presentes no raciocnio e no discurso de
todos aqueles que trabalham no Estado, prestam-lhe servios ou aele se opem e apresentam suas reivindicaes.
Assim, ao dominar concei tos e conhecer as teoriassubjacentes ao debate e s posies e reivindicaes de uns e outros,o gestor pblico ter melhores condies de entender o raciocniodos seus inmeros interlocutores e tomar decises esclarecidas eorientadas pelo seu prprio discernimento.
Mas para que as suas decises e aes sejam, de fato,conscientes e bem informadas, como desejam todos dos governantes
eleitos e partidos polticos que os acolheram em suas legendas paradisputar as eleies e se eleger, aos cidados e eleitores que lhessufragaram nas urnas , o gestor pblico precisa ainda estar beminformado sobre como as relaes entre Estado, governo e mercadoestabeleceram-se e modificaram-se ao longo do tempo.
Sem o conhecimento da experincia acumulada, seria difcilao gestor pblico compreender por que o setor pblico brasileiro como , entender os lentos, mas contnuos, processos de mudanaque se operam nas relaes entre Estado, governo e mercado quetm impacto direto no funcionamento da Administrao Pblica e posicionar-se frente a questes que envolvem conflito tomandodecises esclarecidas conforme o interesse pblico.
Esperamos que os temas tratados nesta disciplina lhepropiciem elementos para melhor conhecer o espao em que atua eidentificar os seus interlocutores, as demandas que lhe so feitas,os desafios que lhe so propostos para enfim poder, conscientee livremente, tomar as suas decises em um campo que se encontra
muito sujeito a influncias ideolgicas, as quais nem sempre soas melhores conselheiras para as aes mais sensatas, mas quefrequentemente orientam as aes dos agentes pblicos.
Comecemos, ento, nosso estudo.
Professor Ricardo Corra Coelho
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Apresen
Mdulo Bsico
UNIDADE 1
OBJETIVOSESPECFICOSDEAPRENDIZAGEM
Ao finalizar esta Unidade voc dever ser capaz de:
Definir os conceitos de Estado, governo e mercado;
Compreender a lgica interna de cada matriz terica, distinguindo os
seus principais conceitos;
Identificar a influncia dessas matrizes no pensamento e discurso
dos atores polticos; e
Avaliar comparativamente as potencialidades e limites explicativos
de cada matriz.
PERSPECTIVATERICAPARAANLISEDASRELAESENTR
ESTADO, GOVERNOEMERCAD
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Estado, Governo e Mercado
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Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado, governo e me
Mdulo Bsico
INTRODUO
A extenso dos poderes do Estado sobre a sociedade umtema que suscita grandes controvrsias, e em torno das quais nose pode, rigorosamente, falar de consenso ou da existncia de umaposio dominante. Por se tratar de questo que emana do magoda reflexo e da prtica polticas, as formulaes que venham a serproduzidas a respeito carregaro, sempre, um forte vis ideolgico,alimentadas por diferentes vises de mundo, concepes e valores dosquais todos os indivduos das sociedades contemporneas, semexceo, so portadores, conscientemente ou no.
O reconhecimento desses vieses no nos deve desencorajara enfrentar o desafio, nem tampouco nos autoriza a fazer qualquertipo de formulao, numa espcie de vale-tudo. Ao longo de sculos,
a civilizao ocidental vem recorrentemente colocando-se questesrelativas ao Estado, ao exerccio do poder e s relaes entre Estadoe sociedade. Ser essa reflexo socialmente acumulada que nosservir de base para refletirmos sobre as complexas relaes entreEstado, governo e mercado no mundo contemporneo.
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Estado, Governo e Mercado
14 Especializao em Gesto Pblica Municipal
H duas matrizes principais no pensamento polticocontemporneo que procuram explicar essas relaes:
a liberal, que tem razes no pensamento dos filsofosiluministas, do sculo XVII, e dos economistas daescola clssica, do sculo XVIII; e
a marxista, que se inspira no pensamento do filsofoalemo Karl Marx, que foi o mais contundentecrtico do pensamento poltico, filosfico eeconmico vigente sua poca.
Mas antes de estudarmos as teorias que
expl icam essas relaes e anal isarmos acontribuio de uma e de outra para acompreenso da dinmica do mundocontemporneo, convm precisarmos algunsconceitos bsicos que sero utilizados nestadisciplina e que sero recorrentes durante todoo curso: os de Estado, governo e mercado.
Karl Marx (1818-1883)
Filsofo alemo e terico
do socialismo. Em 1848,
Marx e Engels publicaram o
Manifesto do Partido Comunis-
ta , o primeiro esboo da te-
oria revolucionria que, anos mais tar-
de, foi denominada marxista. Embora
praticamente ignorado pelos estudiosos
acadmicos de sua poca, Karl Marx
um dos pensadores que mais influenci-
aram a histria da humanidade. Suas
ideias sociais, econmicas e polt icas
tiveram grande influncia sobre o mun-do do sculo XX. Disponvel em:. Acesso em: 2 jul. 2009.
Saiba mais
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Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado, governo e me
Mdulo Bsico
CONCEITOSBSICOS
Quando nos referimos ao Estado, grafado com inicialmaiscula, estamos tratando da organizao que exerce o podersupremo sobre o conjunto de indivduos que ocupam umdeterminado territrio. E quando falamos de exerccio do poder,estamos nos referindo capacidade de influenciar decisivamente aao e o comportamento das pessoas.
Estado e poder so, portanto, dois termos indissociveis. Masa capacidade de uma organizao exercer o poder sobre o conjuntode indivduos que ocupa um territrio no suficiente para definiro Estado. Se isso bastasse, teramos por exemplo de reconhecercomo Estado as organizaes criminosas que controlam algumasfavelas do Rio de Janeiro e outros bairros das periferias de grandes
cidades brasileiras, uma vez que so a fora dominante que dita asregras de comportamento a serem seguidas por todos os seushabitantes. Ou ento teramos de reconhecer como Estado asorganizaes guerrilheiras que ocupam e controlam parte doterritrio da Colmbia.
Para diferenciar o poder exercido pelo Estado do poder de
outros grupos que controlam territrios e indivduos com base
no uso da fora fsica, necessrio introduzir a noofundamental da legitimidade.
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16 Especializao em Gesto Pblica Municipal
De acordo com o socilogoalemo Max Weber, o que caracterizao Estado o monoplio do exerccio
legtimo da fora em uma sociedade.Enquanto mfias e outras organizaesarmadas disputam entre si o controlesobre territrios e indivduos pelosimples uso da fora, o Estado sediferencia dessas pela legitimidadecom que se encontra investido paraexercer, em ltima instncia, a forafsica sobre os indivduos.
Isso significa que apenas as organizaes estatais e nenhumaoutra tm o reconhecimento da populao para estabelecer regrasa serem obedecidas por todos, administrar a justia, cobrar impostos,julgar e punir os infratores das regras comuns.
Em todas as sociedades, h ainda outras formas de poder,que so exercidas por outros meios, que no a fora fsica, e poroutros tipos de organizaes. Por exemplo: grandes empresasinfluenciaram o comportamento das pessoas por meio dos bensque possuem e dispem; as igrejas e os grandes meios decomunicao de massa influenciam o comportamento dosindivduos por meio das ideias e princpios que pregam e sustentam.As pr imeiras exercem poder econmico, as segundas , poderideolgico e ambas influenciaram o comportamento dos indivduosde forma concomitante e concorrencial.
O Estado no admite concorrncia e exerce de forma
monopolista o poder poltico, que o poder supremo
nas sociedades contemporneas.
Maximillian Carl Emil Weber (1864 - 1920)
Socilogo, historiador e polt ico alemo
que, junto com Karl Marx e mile Durkheim, considerado um dos fundadores da soci-
ologia e dos estudos comparados sobre
cultura e religio. Para Weber, o ncleo da
anlise social consistia na interdependncia entre
religio, economia e sociedade. Fonte: . Acesso em: 2 jul. 2009.
Saiba mais
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Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado, governo e me
Mdulo Bsico
Alm do carter monopolista do poder do Estado, ressaltadopor Weber, o pensador italiano Norberto Bobbio iria ainda pr emdestaque duas caractersticas distintivas do poder estatal:
Universalidade: o Estado toma decises em nome detoda a coletividade que ele representa, e no apenas daparte que exerce o poder.
Inclusividade: em princpio, nenhuma esfera da vidasocial encontra-se fora do alcance da interveno doEstado. Isso, no entanto, no significa que o Estadotenha de intervir ou regular tudo apenas os Estadostotal i trios tm essa pretenso , mas que
prerrogativa do Estado definir as reas em que ir ouno ir intervir, conforme o tempo, as circunstnciase o interesse pblico.
Mas o carter inclusivo emonopolista do poder do Estado noo impede de exercer suas diferentesfunes por meio de diferentesinst i tuies. De acordo com
Montesquieu, o Estado possui trsfunes fundamentais, sendo todas assuas aes decorrentes de uma, oumais, dessas funes:
Legislativa: produzir as leis e o ordenamento jurdiconecessrios vida em sociedade.
Executiva: assegurar o cumprimento das leis.
Judiciria: julgar a adequao, ou inadequao, dos
atos particulares s leis existentes.
Tendo em vista evitar que o Estado abusasse do seu poder,tornando-se tirnico com os seus sditos, Montesquieu formulou a
Baro de Montesquieu (1689-1755
Charles-Louis de Secondat, conhec
do como baro de Montesquieu, fo
um dos grandes filsofos polticos d
Iluminismo. Autor de O esprito das lei
livro fundamental da filosofia polticcontempornea. Fonte: . Acesso em: 2 jul. 2009
Saiba mais
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Estado, Governo e Mercado
18 Especializao em Gesto Pblica Municipal
teoria da separao funcional dos poderes, que deu origem separao entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio, talcomo os conhecemos hoje.
Da mesma forma que o poder do Estado pode serfuncionalmente distribudo entre diferentes instituies sem perderas suas caractersticas monopolistas, ele tambm passvel de serexercido por diferentes esferas.
Diferentemente dos Estados unitrios como a Frana, oChile e Israel , onde o poder do Estado exercido por instnciaspoltico-administrativas nacionais e as autoridades locais no tmautonomia normativa, nos Estados federativos esse poder encontra-se ainda subdividido entre a instncia nacional e as instncias
subnacionais.No Brasil, como nos Estados Unidos, na Rssia, no Canad,
na ndia e em outras federaes existentes no mundo, o poder doEstado (grafado com inicial maiscula) e suas funes executiva,legislativa e judiciria so exercidos de forma compartilhada pelaUnio e pelos estados federados (grafados com inicial minscula).No Brasil, em particular, a Constituio de 1988 chegou a elevaros municpios e o Distrito Federal categoria de membros daFederao antes circunscrita Unio e aos estados criandoassim uma federaosui generis composta por trs entes federativos:o federal, o estadual e o municipal. Na ndia, o poder do Estadochega ainda a ser distribudo em at cinco esferas administrativasdistintas.
Essas variaes na organizao formal dos Estadoscontemporneos devem-se antes histria e s conveninciaspoltico-administrativas de cada pas, em nada alterando as suascaractersticas fundamentais, funes, poderes e prerrogativas.
Qualquer que seja a forma assumida pelo Estado unitriaou federativa , em todas elas o Poder Executivo (ou maisprecisamente o governo e o conjunto de instituies que exercemas funes executivas) ter papel preponderante. Essa importnciae ascendncia do Executivo sobre os demais Poderes nada tem aver com a relevncia das suas funes.
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Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado, governo e me
Mdulo Bsico
Segundo Rousseau, o PoderLegislativo , indubitavelmente, opoder central e fundamental do
Estado, j que lhe cabe aelaborao das leis a seremseguidas por toda a coletividade.
Para Montesquieu, as trsfunes do poder do Estadodevem ser distribudas por trscorpos distintos para evitar que oPoder Executivo desde sempreo predominante exorbitasse das
suas funes e exercesse o poderde forma t irnica sobre oscidados. Na arquiteturainst i tucional pensada porMontesquieu, o Poder Judicirioque desempenha o papelfundamental de mediar a relao entre aquele que manda (ogovernante) e aqueles que legislam (a assembleia).
O que explicaria, ento, a preponderncia do Executivo sobre
os demais poderes do Estado?
Uma resposta simples a essa questo a de que o PoderExecutivo que a partir de agora passaremos a chamar degoverno que dispe dos meios coercitivos do Estado. Embora no crieas regras gerais que balizam a vida dos cidados (funo legislativa),
nem decida sobre a adequao dessas regras aos casos particulares(funo judiciria), o governo que, por meio do seu aparatocoercitivo, garante o cumprimento das decises dos outros poderese executa as polticas do Estado.
ao governo que compete recolher os impostos quesustentam o funcionamento de todos os poderes do Estado
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Nasceu em Genebra, na Sua. Es-
creveu o Discurso Sobre as Cincias eas Artes, tratando j da maioria dos
temas importantes em sua filoso-
fia. Em 1755, publicou o Discurso
Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens.
Em 1761, veio luz A Nov a He lo sa , romance
epistolar que obteve grande sucesso. No ano
seguinte, saram duas de suas obras mais im-
portantes: o ensaio Do Contrato Social e o trata-
do pedaggico Emlio, ou da Educao. Em 1762,
foi perseguido por conta de suas obras, consi-
deradas ofensivas moral e religio, e obriga-
do a exilar-se em Neuchtel (Sua). Fonte: . Acesso em: 1 jul. 2009.
Saiba mais
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Estado, Governo e Mercado
20 Especializao em Gesto Pblica Municipal
v
Esse tema ser
examinado e tratado em
detalhe na disciplina
O Pblico e o Privado na
Gesto Pblica.
recolhimento que sempre compulsrio e respaldado pelo uso dafora se necessrio for.
So as instituies do governo que garantem a segurana
interna dos cidados entendida como a proteo da suaintegridade fsica, liberdade e bens e os protegem das agressesexternas; tambm o governo que exerce o poder de polcia doEstado, que vai da fiscalizao do cumprimento das normas punio dos infratores.
Enfim, o governo que transforma em atos a vontade doEstado, o que suficiente para fazer dele o poder preponderantesobre todos os demais e exigir dos legisladores um contnuoaperfeioamento das normas que regem o funcionamento do Estado
e regulam as suas relaes com a sociedade, e dos tribunais aconstante vigilncia da adequao dos atos de governo legislao,sem o que o poder do governo se tornaria tirnico.
Da mesma maneira que as diferentes formas assumidas peloEstado no alteram a sua essncia, as diferentes formas de governotampouco alteram substantivamente o seu poder no conjunto doEstado. Assim, as diferenas entre parlamentarismo e presidencialismodizem respeito forma como Legislativo e Executivo se relacionam,mas nada indicam sobre a maior ou menor fora do governo sobum ou outro regime.
No presidencialismo, h uma rgida separao entreExecutivo e Legislativo no que diz respeito durao dos mandatosdo presidente e dos parlamentares. Sob o presidencialismo, nem opresidente tem o poder de dissolver o parlamento e convocar novaseleies, nem o parlamento pode destituir o presidente do seu cargo,exceto no caso extremo de impeachment* por crime deresponsabilidade.
J sob o parlamentarismo, nem o governo, nem osparlamentares tm mandatos rigidamente definidos. Na verdade, ogoverno do primeiro-ministro no tem mandato temporalmentedefinido, durando o seu governo enquanto a maioria do parlamentolhe der sustentao. Os parlamentares, por sua vez, tm um mandatocom durao mxima estipulada, mas no rigidamente estabelecidacomo sob o presidencialismo, pois facultado ao governo dissolver
*Impeachment Proces-
so poltico-criminal ins-
taurado por denncia no
Congresso para apurar a
responsabilidade, por
grave delito ou m condu-
ta no exerccio de suas
funes, do presidente
da Repblica, ministros
do Supremo Tribunal ou
de qualquer outro funci-
onrio de alta categoria.
Cabe ao Senado, se pro-
cedente a acusao, apli-
car ao infrator a pena de
destituio do cargo.
Fonte: Houaiss (2007).
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Mdulo Bsico
o parlamento e convocar novas eleies quando o plenrio no forcapaz de formar uma maioria capaz de eleger um novo primeiro-ministro e dar sustentao ao seu governo. Essa separao
claramente mais flexvel entre os poderes Executivo e Legislativosob o regime parlamentar no significa de forma alguma que asfunes executivas e legislativas do Estado encontram-se misturadase sob o mesmo comando. Uma vez escolhido o primeiro-ministropela maioria parlamentar, este monta o seu gabinete ministerial eexerce as funes executivas de forma completamente independentedo parlamento. Ao governo, caber governar e sua maioria noparlamento, lhe dar sustentao e aprovar as leis do seu interesse,exatamente como ocorre sob o presidencialismo. Portanto, a fora
de um governo no pode ser derivada da sua forma. Outros fatoresmerecem destaque.
Em um regime democrtico em que os governantes soeleitos e tm seus atos constantemente submetidos ao escrutnio*da opinio pblica e dos formadores de opinio a fora de umgoverno depende, em grande parte, do apoio que suas propostaspolticas e proposies legislativas encontrarem no parlamento; dasintonia entre suas aes e as expectativas dos eleitores; e da relaomantida com os diferentes grupos organizados da sociedade meios
de comunicao, sindicatos e associaes, empresas e ONGs etc.
Importante!
Democrtico ou no, um regime se legitima pelas
respostas que d sociedade.
Em todos os regimes, democrticos ou no, a fora do
governo depender tambm da sua capacidade de identificarnecessidades e anseios sociais e transform-los em polticaspblicas que produzam resultados na sociedade, dando respostasefetivas aos problemas que pretende enfrentar. Para isso, o governodepende tambm de um aparato administrativo capaz detransformar as suas diretrizes em atos e da capacidade de alocar
*Escrutnio Proces
votao que utiliza
Fonte: Houaiss (200
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Estado, Governo e Mercado
22 Especializao em Gesto Pblica Municipal
recursos sociais para realiz-los. Todo esse complexo conjunto deexigncias foi denominado de requisitos, ou elementos, dagovernabilidade.
Mais recentemente, surgiu um novo termo governana* que procura dar conta de outros elementos envolvidos nacapacidade de interveno do Estado na sociedade e que pareciamno estar adequadamente recobertos pelo termo governabilidade.Ainda que no suficientemente definido e consolidado, o novo termope em destaque as interaes entre o Estado e os vrios agentesno governamentais para se atingir resultados de interesse pblico.O foco deixa de ser a capacidade interventora e indutora do Estadoe passa a se concentrar no seu papel de coordenador dos diversos
esforos pblicos e privados para produzir benefcios coletivos.Independentemente de quo frgil ou promissor seja esse novoconceito, ele tem a virtude de voltar a ateno para as relaesdesejveis entre Estado e sociedade.
Repensar as relaes entre Estado e sociedade foi a questocentral dos filsofos iluministas, qual a teoria econmica clssicaintroduziu um novo conceito que veio para ficar: o de mercado.A partir de ento, as relaes entre Estado e sociedade passaram aser pensadas e analisadas sempre mas no exclusivamente comouma relao entre Estado e mercado.
O mercado pode ser definido como um sistema de trocas doqual participam agentes e instituies interessados em vender oucomprar um bem ou prestar ou receber um servio. Todos osmercados seja o imobilirio, de capitais, de trabalho, de gros,de energia etc. esto sempre sujeitos a alguma forma de regulao.Os mercados no existem na natureza, sendo resultado da interaohumana que requer sempre regras e princpios para funcionar. Mas
por mais variados que sejam os mercados e os princpios e regrasque os regem, existem algumas regularidades comuns a todos.
*Governana um ter-
mo de origem recente
que surgiu procurando
explicar as complexas re-
laes entre Estado e so-
ciedade nas sociedades
contemporneas. Fonte:
Elaborado pelo autor.
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Unidade 1 Perspectiva terica para a anlise das relaes entre Estado, governo e me
Mdulo Bsico
De acordo com o f i lsofo eeconomista escocsAdam Smith, o mercado regido por determinadas leis que esto
diretamente associadas ao carter egosta doser humano.
Guiados pelos seus interesses egostas que no plano econmico se traduzem nodesejo de maximizar os ganhos individuaisao realizar uma troca , os indivduosentrariam em concorrncia uns com osoutros, e da competio generalizada resultaria o equilbrioeconmico e o bem coletivo, com a produo e oferta de bens e
servios requeridos pela sociedade em quantidade e preosadequados. O mercado seria ento um mecanismo autorregulvel,que dispensaria a interveno estatal, pois a lei da oferta e dademanda seria suficiente para regular as quantidades e preos debens e servios em uma sociedade. Assim, ao Estado caberia apenasassegurar a concorrncia para o bom funcionamento do mercado,impedindo que os produtores movidos pela avidez se organizemem cartis, distorcendo os preos e beneficiando apenas a si mesmosem detrimento da coletividade.
A existncia da concorrncia , portanto, condio
indispensvel para o funcionamento do mercado.
Mercado autorregulvel e concorrncia so a pedra de toquedo liberalismo econmico*. Da adequada relao entre Estadoe mercado dependeriam o crescimento econmico e o bem-estar
social. No entanto, esse ponto de equilbrio entre liberdadeeconmica e interveno do Estado nunca foi encontrado, fazendocom que a histria das sociedades capitalistas sobretudo a partirdo sculo XX fosse marcada por um movimento pendular: oramais liberdade de mercado, ora mais interveno do Estado.
Adam Smith (1723-179
Economista escocs, com forma
filosfica, lecionou em Glasgowpublicou duas obras importante
A Teoria dos Sentimentos Morais
A Riqueza das Naes. Fonte:
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A DINMICAPENDULARDASRELAESENTREESTADOEMERCADO
Embora a histria seja um movimento constante de
transformao mais lento em determinados momentos, maisacelerado em outros , as mudanas e os avanos produzidos aolongo do tempo fazem-se, aparentemente, em zigue-zague, mascertamente no em linha reta. No que se refere especificamente srelaes entre Estado e mercado nas sociedades capitalistas,observa-se um movimento pendular, em que figuram como as duasprincipais referncias ordenadoras da vida social:
Estado, situado esquerda; e
Mercado, direita quando a sociedade o prpriopndulo a oscilar entre os princpios opostos. Veja aFigura 1:
Figura 1: Movimento pendular das sociedades capitalistasFonte: Elaborada pelo autor
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A partir de um determinado momento em que o pndulochega ao seu ponto mximo direita, e os mecanismos de mercadomostram-se insuficientes para estimular o investimento privado, o
desenvolvimento econmico e o bem-estar social, a sociedadecomea a inclinar-se esquerda, buscando cada vez mais ainterveno do Estado como forma de corrigir as falhas de mercado,sanar as suas insuficincias e recriar as bases para a retomada dosinvestimentos, a expanso da economia e o aumento do bem-estar.
No momento em que o pndulo chega ao seu ponto mximo esquerda e a interveno do Estado na regulao da vida social eeconmica no se mostra mais capaz de promover o crescimentoeconmico e o bem-estar dos indivduos passando a ser percebido
como um empecilho ao investimento privado, que a condionecessria para a expanso econmica nas sociedades capitalistas,tem incio o movimento oposto da sociedade em direo direita,com a retrao do Estado em favor dos mecanismos de regulaode mercado.
A imagem metafrica do pndulo social, oscilando entredireita e esquerda, pode bem ilustrar a alternncia entre osprincpios dominantes de organizao das relaes sociais, mas insuficiente para explicar como, em cada momento especfico, asrelaes entre o Estado e o mercado, de fato, se estabelecem. Paraesse movimento, a figura mais adequada a da espiral, que agregauma outra dimenso nesse movimento.
Alm de oscilar entre os princpios opostos direi ta e esquerda, as relaes entre Estado e mercado assumemconformaes distintas no espao ao longo tempo, de forma queno se possa, rigorosamente, falar de retorno a um ponto de partida,como seria o caso do pndulo de um relgio. Dito de outra forma,
as relaes entre Estado e mercado nunca se repetem no tempo,renovando-se constantemente.
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A alternncia contnua entre os princpios opostos
explica-se pela impossibilidade de se encontrar o
ponto de equilbrio entre ambos e pelas virtudes e
vcios de cada um, alm das transformaes dopensamento sociopoltico de cada sociedade em
determinada poca.
A histria tem mostrado que os mecanismos de mercadoso bastante favorveis ao aumento da produo, desenvolvimentotecnolgico e da riqueza em uma sociedade. No entanto, aexperincia histrica mostra tambm que o notvel aumento da
riqueza social ensejado pelo livre curso das leis do mercado acabaconcentrado-a nas mos de uns poucos.
A lgica do mercado no s permite como estimula os indivduosa arriscarem os seus recursos privados em empreendimentoseconmicos diversos na procura de satisfao econmica. Por meioda competio, que a regra bsica do mercado, e da busca dolucro, que a sua mola propulsora, o mercado acaba selecionandoos melhores isto , aqueles que so economicamente maisfortes, mais produtivos, que fabricam produtos e prestam servios
de melhor qualidade e que oferecem preos mais baixos, eliminandoassim os mais fracos e menos produtivos e competitivos.
Essa lgica levaria inexoravelmente concentrao crescenteda riqueza nas mos de um grupo cada vez menor, se no houvessequalquer interveno do Estado no funcionamento do mercado.E esta contnua concentrao da riqueza levaria situao demonoplio que, por sua vez, levaria ao fim da concorrncia e,consequentemente, do prprio mercado.
Assim podemos afirmar que o mercado , por tanto, ummecanismo bastante eficiente para acumular riquezas, mas requersempre algum grau de interveno do Estado para evitar a suaautodestruio. Como mecanismo que enseja o crescimentoconcentrado da riqueza, o mercado engendra e agudiza asdesigualdades sociais, requerendo tambm a interveno do Estado
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para criar um mnimo de igualdade entre os indivduos, sem o quea vida em sociedade estaria comprometida.
O Estado figura como o contraponto indispensvel ao
mercado nas sociedades capitalistas.
A histria tambm tem mostrado que,se por um lado, o Estado apresenta grandecapacidade distributiva, por outro, tem semostrado bem menos eficiente que o mercado
para produzir e ofertar bens e servios, e quea part ir de um determinado grau deinterveno no mercado, ele passa a inibir aatividade produtiva. Podemos dizer ainda queo mercado assemelha-se galinha dos ovosde ouro, da fbula de La Fontaine (1621-1695): se viva, produz constantementeriqueza, mas uma vez morta lega apenas umpequeno estoque de valor que ao ser
distribudo rapidamente se consome.
Jean de La Fontaine (1621-95
Nasceu na Frana. Seu pai
queria que ele fosse ad-
vogado, mas algunsmecenas (homens ricos e
nobres que patrocinavam
os artistas) se interessaram por ele. As
sim, pde se dedicar carreira l iterria
Suas fbulas escritas em versos elegante
deram-lhe enorme popularidade. Sirvo-m
dos animais para instruir os homens, d
zia ele. Os animais simbolizavam os ho
mens, suas manias e seus defeitos. El
reeditou muitas das fbulas clssicas d
Esopo, o pai do gnero. As mais famosa
so: A gansa dos ovos de ouro (e no a gal
nha) e A lebre e a tartaru ga . Fonte
. Acess
em: 1 jul. 2009.
Saiba mais
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DUASMATRIZESTERICASPARAAINTERPRETAODAS
RELAESENTREESTADOEMERCADO:ALIBERALEAMARXISTA
No mundo contemporneo, existem diferentes correntestericas que procuram explicar as relaes entre Estado e mercadonas sociedades capitalistas e orientar a ao coletiva. Contudo,para efeito de anlise, podemos identificar duas posies principaisque aglutinam essas diferentes vises: a liberal e a marxista.
As correntes liberal e marxista se formaram
combatendo as ideias e a ordem vigentes sua poca
e propondo novas e mais justas formas de organizao
da sociedade.
Com base no pensamento de filsofos ingleses e francesesdos sculos XVII e XVIII, o liberalismo iria se estruturar em oposio
ao poder absoluto exercido pelas monarquias hereditrias daEuropa, que invocavam o direito divino como fonte de sualegitimidade. O marxismo se estruturaria como crtica e alternativa sociedade burguesa e ordem liberal vigentes no sculo XIX,tomando por base o pensamento do filsofo alemo Karl Marx.
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Mas diferentemente do liberalismo, que ao longo do sculoXIX se imps completamente ao pensamento conservador, varrendo-o do cenrio poltico e reorganizando as sociedades europeias
conforme os seus princpios, o marxismo no conseguiu derrotar oliberalismo e a ordem burguesa durante o sculo XX, estabelecendo-se como forte concorrente, mas no substituto, do pensamento e daordem social aos quais se opunha. Nessa disputa, as duas correntestiveram de oferecer respostas a, no mnimo, duas questesfundamentais que envolvem a ordem poltica. So elas:
Qual a natureza do domnio exercido pelo Estadosobre a sociedade e do uso da coero fsica sobre os
indivduos? Como so as relaes entre maioria e minorias na
sociedade e como essas se relacionam com o Estado?
Caro estudante: essas duas questes devem orientar a sua
leitura do texto a seguir.
As respostas primeira pergunta constituram o ncleo durode cada matriz, permanecendo praticamente inalteradas ao longodo tempo. J as respostas oferecidas para a segunda pergunta iriamvariar consideravelmente, conforme as provas e contraprovas dahistria.
Em mais de um sculo de coexistncia e competio, ospensamentos liberal e marxista tiveram de rever alguns de seuspressupostos para continuarem explicando um mundo em constantee acelerada transformao e assim poderem nele seguir disputando
a conduo da ao coletiva.Por essa razo, parece que a melhor forma de se compreender
o significado e a contribuio de cada matriz para explicar adinmica do mundo em que vivemos e o comportamento polticodos diferentes agentes sociais seja o seu estudo comparado econtextualizado no tempo.
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Para tanto, comearemos analisando o surg imento do
pensamento liberal como crtica aos fundamentos da ordem
vigente nos sculos XVII e XVIII e proposta alternativa de
organizao da sociedade. Depois, estudaremos a formaoda matriz marxista a partir da crtica formulada por Marx
teoria da economia poltica e sociedade capitalista do sculo
XIX, para a qual ele tambm formularia uma nova proposta
de organizao social. Por fim, examinaremos como as
mudanas polticas, econmicas e tecnolgicas ocorridas entre
os sculos XIX e XX impactaram cada matriz, promovendo a
reviso de determinados princpios e prognsticos e levando
renovao do seu quadro conceitual.
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A FORMAODAMATRIZDOPENSAMENTOLIBERAL
O pensamento liberal funda-se
numa corrente f i losfica que foipredominante na Europa durante ossculos XVII e XVIII: o Jusnaturalismo.Contrariamente a toda tradio filosficaque lhe antecedeu e que viria a lhesuceder que tem o grupo como pontode partida , o Jusnaturalismo buscou noindivduo a origem do Direito e da ordempoltica legtima.
Entre os vrios e diferentespensadores dessa corrente filosfica, quatrotiveram influncia decisiva na formao dopensamento liberal: Thomas Hobbes,JohnLocke, Charles Louis de Secondat, barode Montesquieu (1689-1755), e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Tomados separadamente, opensamento de cada um desses autores
bastante singular e, em muitos pontos,at oposto um ao do outro. Com exceode Locke, o pensamento dos outros trsno pode ser considerado propriamenteliberal. Mas tomados em conjunto, elesformam o alicerce sobre o qual se fundou o liberalismo, cuja
Thomas Hobbes (1588-167
Nasceu na Inglaterra. Descobriu os
Elementos, de Euclides, e a geome-
tria, que o ajudaram a clarear suas
ideias sobre a Filosofia. Com a ideia
de que a causa de tudo est na di-
versidade do movimento, escreveu seu primeiro
vro filosfico, Uma Curta Abordagem a Respeito dos P
meiros Princpios. Em 1651, publicou sua obra-prim
o Leviat. Fonte: . Acesso em: 2 jul 200
John Locke (1632-170
Nascido na Inglaterra, caracterizou
a maior parte de sua obra pela opo-
sio ao autoritarismo. Para ele, o
que dava direito propriedade o
trabalho que se dedica a ela. E,
desde que isso no prejudique algum, fica a
segurado o direito ao fruto do trabalho. Fora
esses um dos princpios bsicos do capitalism
liberal. Disponvel em: . Acesso em: 1 jul. 2009.
Saiba mais
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32 Especializao em Gesto Pblica Municipal
influncia seria decisiva na dinmica poltica das sociedadesocidentais, do final do sculo XVIII at os dias de hoje.
Apesar das muitas diferenas, h elementos fundamentais
em comum no pensamento dos quatro autores:
a ideia de que a vida em sociedade no o ambientenatural do homem, mas um artifcio fundado em umcontrato;
o contrato social que funda a sociedade civil foiprecedido por um estado de guerra (exceto para Locke)e um estado de natureza, no qual as relaes humanaseram regidas pelo Direito Natural*;
que o Direito Natural constitui a nica base legtimado Direito Civil; e
que somente por meio da razo seria possvel conheceros direitos naturais para, com base neles, estabeleceros fundamentos de uma ordem poltica legtima.
A partir desses pressupostos e utilizando o mtodo racional,as obras de Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau trataramextensamente do Direito Pblico e dos fundamentos e natureza dopoder do Estado, estabelecendo, pela primeira vez na histria, umaclara separao entre Estado e sociedade civil, entre esfera pblicae esfera privada, que at hoje se constitui na referncia bsica doEstado de Direito.
De acordo com o pensamento liberal, todos os
indivduos so iguais por natureza e igualmente
portadores de direitos naturais aos quais eles no
podem, em hiptese alguma, abdicar: os direitos
liberdade e propriedade.
No estado de natureza, isto , naquele em que no houvesseum poder estatal constitudo regendo a relao entre os homens, os
*Direito Natural Conjun-
to de regras inatas natu-reza humana, s quais to-
das as pessoas devem
obedecer. Fonte: Lacombe
(2004).
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indivduos gozariam da mais plena liberdade e usufruiriam de tudoaquilo que pudessem possuir. Naquelas condies, no haveria nembem, nem mal, nem a noo de justo ou injusto, pois nenhuma
conveno havia ainda sido estabelecida entre os homens,determinando e diferenciando o certo do errado, assim comotampouco haveria qualquer lei alm das da prpria natureza aregular as suas relaes.
Se a condio humana no estado de natureza era a de plena
liberdade e independncia, o que, ento perguntaria voc ,
teria levado a humanidade a abandon-la para viver em
sociedade e sob o domnio do Estado?
Apesar de conceberem a passagem do estado de naturezapara o estado civil de formas distintas, todos os quatro autoresderam uma nica resposta a essa pergunta: por segurana e paraproteo dos bens e da vida de cada um.
Hobbes conceberia dramaticamente o estado de naturezacomo um estado de guerra de todos contra todos:
[...] tudo aquilo que vlido para um tempo de guerra, em
que todo homem inimigo de todo homem, o mesmo vlido para o tempo durante o qual os homens vivem semoutra segurana seno a que lhes poder ser oferecida por
sua prpria fora e sua prpria inveno. Numa tal situa-o, no h lugar para a indstria, pois o seu fruto incer-to; consequentemente, no h cultivo da terra, nem nave-
gao, nem uso das mercadorias que podem ser importa-
das pelo mar; no h construes confortveis, nem ins-trumentos para mover e remover as coisas que precisam
de grande fora; no h conhecimento da face da Terra,nem cmputo do tempo, nem artes, nem letras; no hsociedade; e o que pior de tudo, um constante temor e
perigo de morte violenta. E a vida do homem solitria,pobre, srdida, embrutecida e curta (HOBBES, 1979, p.76).
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Seria, portanto, essa condio miservelda humanidade no estado de natureza que a terialevado a celebrar um pacto, dando origem ao
Estado. Ao transferirem o direito natural deutilizar a prpria fora para se defender esatisfazer os seus desejos para um ser artificiale coletivo o Leviat , os homens estariamtrocando a liberdade natural pela liberdade civile a independncia pela segurana, obrigando-se mutuamente a se submeter ao poder doEstado.
Montesquieu e Rousseau discordariam de
Hobbes, pois consideravam o estado denatureza distinto do estado de guerra. ParaMontesquieu,
[...] logo que os homens esto em sociedade, per-dem o sentimento de suas fraquezas; a igualdade
que existia [no estado de natureza] desaparece e oestado de guerra comea (1979, p. 27).
J para Rousseau,
[...] a guerra no representa, de modo algum, umarelao de homem para homem, mas uma relaode Estado para Estado, na qual os particulares s
acidentalmente se tornam inimigos, no o sendocomo homens, nem como cidados, mas como sol-dados (ROUSSEAU, 1987, p. 28).
O estado de guerra seria, portanto, um estgio degenerado eposterior ao estado de natureza, que, por ser nocivo sobrevivnciae felicidade humanas, teria levado os homens a celebrar um pactosocial a fim de restituir a paz.
Locke, por sua vez, discordaria de todos os trs, pois sequerconsideraria a existncia de um estado de guerra na origem dopacto que criaria o estado civil:
Leviat
um monstro bbli-
co que serviria deinspirao para o
ttulo da obra de
Hobbes sobre a na-
tureza e funes do
Estado moderno. A
diferena entre o
monstro da bblia e
o Leviat moderno que este seria cria-
do e composto pela unio e fora de to-
dos os homens que pactuaram em for-
mar o Estado para lhes proteger. Na ilus-
trao de capa da primeira edio da
obra de Hobbes, publicada em 1651, o
Leviat moderno representado pela
figura de um rei gigantesco que protege
a cidade, portando a coroa sobre a ca-
bea e empunhando a espada na direi-
ta, cujo corpo e armadura so formados
por todos os homens que compem a
sociedade e se encontram submetidos ao
seu poder. Fonte: Elaborado pelo autor.
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A maneira nica em virtude da qual uma pessoa qualquer
renuncia liberdade natural e se reveste dos laos da soci-edade civil consiste em concordar com as outras pessoas
em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem comsegurana, conforto e paz umas com as outras, gozandogarantidamente das propriedades que tiverem e desfrutan-do da maior proteo contra quem quer que no faa parte
dela. Qualquer nmero de homens pode faz-lo, porque noprejudica a liberdade dos demais; ficam como estavam naliberdade do estado de natureza (LOCKE, 1983, p.71).
Quaisquer que tenham sido as motivaes que levaram ahumanidade a deixar o estado de natureza para ingressar no estadocivil, a questo fundamental para todos que sob a ordem civil osdireitos naturais dos indivduos tm necessariamente de serpreservados. A renncia a qualquer desses direitos ainda quevoluntria seria sempre ilegtima, pois equivaleria abdicaoda prpria humanidade.
Por se tratar de direitos humanos inalienveis, a
preservao da liberdade e da propriedade dos
indivduos seria considerada pelos liberais como
clusula ptrea de qualquer contrato social. Toda
ameaa ou tentativa de usurpao desses direitos
seria sempre espria, pois contrria razo da
existncia do prprio Estado.
Afinal, os homens teriam abdicado de utilizar a sua prpriafora fsica em favor do Estado justamente para que este garantissea sua liberdade e propriedade, e no contra elas atentasse. Assimsendo, a ao do Estado que se opuser a esses direitos bsicos sersempre ilegtima, e a um poder ilegtimo nenhum indivduo seencontra moralmente obrigado a se submeter.
Essa gnese do Estado, descrita pelos liberais, no encontraqualquer comprovao histrica. A Arqueologia e a Antropologia
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nunca apresentaram qualquer indcio de que o homem tenha, emalgum momento, vivido isolado, e no em grupos. Tampouco hprova da existncia de um estado de guerra generalizado anterior
formao do Estado, nem de pacto fundador da unio poltica.No entanto, a ausncia de uma base factual para essa teoria
no apresentaria qualquer constrangimento para os filsofosjusnatural is tas, pois o seu mtodo de trabalho inteiramenteracional e dedutivo, dispensando comprovaes empricas.
Hobbes rejeita a objeo que poderiam lhe formular osadeptos do mtodo histrico da seguinte forma:
Poder porventura pensar-se que nunca existiu um tal tem-
po, nem uma condio de guerra como esta [de todos con-tra todos], e acredito que jamais tenha sido assim, no mundo
inteiro. [...] Seja como for, fcil conceber qual seria ognero de vida quando no havia poder comum a recear,atravs do gnero de vida em que os homens que anterior-
mente viveram sob um governo pacfico costumam deixar-se cair, numa guerra civil (HOBBES, 1979, p. 76).
Rousseau desdenharia da comprovao histrica com as
seguintes palavras, com que inicia o primeiro captulo do livroO Contrato Social:
O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se aferros. O que se cr senhor dos demais, no deixa de sermais escravo do que eles. Como adveio tal mudana? Ig-
noro-o. Que poder legitim-la? Creio poder resolver estaquesto (ROUSSEAU, 1987, p. 22).
Ao rejeitarem a histria como fonte do conhecimento danatureza e dos fundamentos de uma ordem poltica legtima eaterem-se estritamente razo, os pensadores liberais romperiamfrontalmente com a tradio como fonte de legitimao do poder,que ento se constitua na base de justificao da dominao dosreis e prncipes da Europa at o sculo XVIII.
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vPara conhecersobre a DeclaUniversal dos Di
Humanos, acesse
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Ora, se para o liberalismo o poder doEstado deve ser sempre limitado pelos direitosnaturais, ento existiria uma incompatibilidade
fundamental entre os seus princpios e a prticademocrtica. Sobre esse ponto, o julgamento dofilsofo e economista liberal ingls John StuartMillseria peremptrio:
A democracia no ser jamais a melhor forma de gover-no [...] a no ser que possa ser organizada de maneira a
no permitir, que nenhuma classe, nem mesmo a maisnumerosa, possa reduzir todo o resto insignificncia
poltica (MILL, 1980, p. 87).
O temor da tirania da maioria no eraexclusivo dos liberais, mas compartilhado pormuitos outros pensadores havia muitos sculos.Aristtelesconsiderava a democracia atenienseuma forma degenerada de governo, pois nela amaioria governaria de acordo com o seu prpriointeresse, e no no interesse de todos, como
deveria fazer o bom governo.Para evitar esse risco, os l iberais
recomendariam no s a restrio do direito departicipao poltica s classes educadas eproprietrias, como tambm a garantia de direitode expresso para as minorias na assembleia derepresentantes.
A primeira recomendao iria cair porterra com o advento da democracia, comoexaminaremos mais adiante na Unidade 2; asegunda, no entanto, iria se tornar em uma dasclusulas ptreas das democracias liberais.
John Stuart Mill (1806-1873)
Nasceu em Londres, Ingla-
terra. Teve a sua educaoorientada e dirigida, desde
cedo, dentro do utilitarismo
e das obras de Jeremy Bentham, para
quem o egosmo, a ao util itria e a
busca do prazer so princpios capazes
de fundamentar uma moral e orientar
os comportamentos humanos na dire-
o do bem. Fonte: . Acesso em: 2 jul. 2009.
Aristteles (384 - 322 a.C.)
Nasceu na Macednia. Aos
17 anos foi enviado para a
Academia de Plato em
Atenas, na qual permane-
ceu por 20 anos, inicial-
mente como discpulo, depois como pro-
fessor, at a morte de seu mestre, se
tornando um grande filsofo grego. Au-
xil iado por Alexandre, fundou o Liceu
(334 a.C.) no ginsio do templo de Apolo.
Aristteles fez de sua escola um centro
de estudos, em que os mestres se dis-
tribuam por especialidade, inclusive em
cincias positivas. considerado o dis-
cpulo mais i lustre de Plato. Fonte:
< h t t p : / / w w w . p u c s p . b r / p o s / c e s i m a /s c h e n b e r g / a l u n o s / p a u l o s e r g i o /
biografia.html>. Acesso em: 1 jul. 2009.
Saiba mais
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Mdulo Bsico
Mas antes que o pensamento liberal tivesse de rever algunsde seus pressupostos e previses para se adaptar s circunstnciascriadas pela democratizao das sociedades liberais entre o final
do sculo XIX e incio do sculo XX, uma outra poderosa correntede pensamento iria surgir na Europa em oposio a ele, fazendouma contundente e profunda crtica sociedade e economiacapitalistas: o marxismo.
Atividades de aprendizagem
Para verificarmos seu entendimento at aqui, separamos uma
questo para voc.
1) Aponte trs aspectos fundamentais da matriz liberal.
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A MATRIZMARXISTA
O marxismo iria se inserir na longa tradio organicista dafilosofia poltica, posta em suspenso apenas nos dois sculosanteriores de predomnio do jusnaturalismo no pensamento
europeu.A dinmica das sociedades voltaria a ser compreendida eanalisada a partir das relaes estabelecidas entre os seus grupossociais concretos, e no mais indivduos abstratos. A histria relegada pelos jusnaturalistas a um plano secundrio passa a sero objeto central da reflexo dos filsofos e economistas alemes dosculo XIX, entre os quais se encontraria Marx. Inspirado peladialtica hegeliana, Marx iria fazer tanto a crtica do idealismo nopensamento de Hegel (1770-1831) quanto da economia poltica
inglesa, dialogando, a um s tempo, com ambas as correntes depensamento, at ento apartadas uma da outra.
A histria no seria uma mera sucesso temporal de
fatos e de diferentes formas de organizao social da
produo, dominao e representao do mundo, mas
teria um motor a luta de classes que a conduziria
a uma determinada finalidade.
De acordo com essa concepo, o movimento da histriano seria aleatrio ou indeterminado, nem tampouco contnuo, masse desenvolveria por meio de contradies, isto , dialeticamente.Na teoria de Marx, o movimento dialtico da histria no se dariano nvel das ideias, como para Hegel, mas no plano concreto das
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relaes de produo da riqueza social. por isso que o mtodopor meio do qual Marx iria interpretar e explicar o movimento dahistria seria chamado por ele de materialismo dialtico. Veja
a Figura 2.
Figura 2: Operrios em greveFonte:
As classes sociais so um conceito-chave do pensamentomarxista e seriam identificadas e definidas por sua insero noprocesso produtivo, resultante da diviso social do trabalho. Emcada perodo da histria, as classes fundamentais de uma sociedadeseriam aquelas diretamente l igadas ao modo de produodominante.
O conceito de modo de produo central na periodizaomarxista da histria da humanidade iria resultar da combinaode dois fatores:
as foras produtivas, isto , o trabalho humano, osmeios de produo tais como a terra, as mquinas eequipamentos e as tecnologias empregadas naproduo; e
as relaes de produo, que se estabelecem entre asdiferentes c lasses sociais e que envolvem: a
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propriedade sobre os fatores de produo e sobre oproduto do trabalho; e o mando e controle sobre oprocesso de produo.
Embora o interesse principal de Marx fosse dissecar ecompreender a lgica e funcionamento do modo de produocapitalista, que emergiu nas sociedades europeias, sua pretensode elaborar uma teoria geral da histria da humanidade o levoutambm a examinar os modos de produo anteriores ou estranhos civilizao ocidental.
Antes que surgissem as primeiras civilizaes, o modo deproduo predominante teria sido o do Comunismo primitivo.
Sob este, a humanidade viveria organizada em tribos, no haveriaEstado, diviso social do trabalho, classes sociais nem propriedade.A produo e o consumo seriam coletivos, no havendo excedentede riqueza. No comunismo primitivo, os homens viveriam na maisabsoluta igualdade, mas tambm na escassez e na misria.A produo de um excedente econmico s seria possvel a partirda inveno da agricultura e da diviso social do trabalho, quetraria consigo a diviso do grupo social em diferentes classes, asquais, por sua vez, iriam se apropriar de forma distinta da riqueza
produzida, ensejando assim o surgimento de uma classe dominantesobre uma ou mais classes dominadas. Seria a partir dessemomento que surgiria o Estado com a funo de garantir adominao de classe.
Na teoria marxista, a garantia da preponderncia da
classe dominante sobre a classe dominada seria a
principal razo do surgimento e manuteno do Estado.
Ao sair do comunismo primit ivo, caracter s tico da Pr-Histria, comeariam as lutas de classe. Seria precisamente por issoque Marx definiria a histria da humanidade como a histria daslutas de classe. A histria teria conhecido quatro modos de produodominantes: o asitico, o antigo, o feudal e o capitalista.
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Sob a denominao de modo de produo asitico, Marxenglobaria todos os modos de produo estranhos civilizaoocidental, sendo, por isso, o conceitualmente mais frgil e
controverso. Esse modo de produo teria predominado entre ascivilizaes surgidas nos vales do Nilo, no Egito, do Tigre e Eufrates,na Mesopotmia, e do Rio Amarelo, na China (por isso chamadode asitico). Essas civilizaes desconheciam as relaes deescravido e servido, caractersticas do Ocidente pr-capitalista,e fundavam-se na explorao de tribos e comunidades rurais poruma classe dominante que normalmente exercia funes religiosase comandava a construo das grandes obras, como as pirmidesdo Egito, os grandes templos da Mesopotmia, Prsia e ndia e da
Muralha da China.No Ocidente mais precisamente em torno do Mar Egeu e
na bacia do Mediterrneo teria se desenvolvido o modo deproduo antigo, predominante durante a Antiguidade Clssica.Esse seria fundado na escravido e caracterizado por uma divisode classes em que a classe dominante seria proprietria de todosos fatores de produo, inclusive dos homens, mulheres e crianas seus escravos destitudos de toda propriedade e de qualquerdireito. Nas sociedades organizadas sob esse modo de produo,
as classes sociais fundamentais seriam a dos proprietrios dos meiosde produo a dos patrcios, na Roma republicana e imperial ea dos escravos. A contradio fundamental dessas sociedadesresidiu na relao entre senhores e escravos, sendo as frequentesrevoltas dos cativos como a comandada por Esprtaco (109 a.C.- 71 a.C.) e celebrizada na literatura e no cinema um exemplo daluta de classes na Antiguidade.
Sucedendo o modo de produo antigo viria o modo de
produo feudal, predominante durante a Idade Mdia na Europa,em que as classes fundamentais seriam, de um lado, a da nobrezasenhora de terra e, de outro, a dos servos da gleba. A dominaodos primeiros sobre os segundos dar-se-ia por meio de um complexosistema de obrigaes e direitos mtuos e desiguais, fundados nouso da terra que era um bem comum, da qual os servos eram
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uma emanao e sobre a qual os senhores exerciam o seu poder e na apropriao da produo agrcola.
Por fim, viria o modo de produo capitalista, predominante
nas sociedades industriais, em que as classes fundamentais seriama burguesia proprietria de todos os meios de produo e oproletariado dono apenas da sua fora de trabalho.Diferentemente dos modos de produo anteriores, em que a classedominante dispunha de meios legais para coagir a classe dominadaa trabalhar em seu benefcio, sob o modo de produo capitalistaos trabalhadores seriam formalmente l ivres e venderiamvoluntariamente sua fora de trabalho para os industriais burguesesem troca de um salrio livremente contratado entre as partes no
mercado. Marx iria mostrar em sua obra que a igualdade formalentre burgueses e proletrios perante o Estado e no mercado estariaa mascarar, de fato, a dominao e explorao dos primeiros sobreos segundos. Destitudos de todas as posses, aos proletrios srestaria vender a sua fora de trabalho burguesia para sobreviver,no havendo, portanto, verdadeiramente liberdade e escolha paraaqueles que nada possuam.
Portanto, sob a ordem liberal dominante na sociedadecapitalista aparentemente livre e igualitria e pretensamentefundada nas leis da natureza existiria de fato uma ordem burguesa,ou seja, que atenderia, antes de tudo, aos interesses econmicosda burguesia, assegurando o seu lugar de classe dominante nasociedade.
A essa aparente naturalidade das relaes sociais estabelecidas
no mercado Marx chamaria de fetichismo da mercadoria.
Por que fetichismo, voc sabe?
Ao transformar todos os fatores de produo em mercadoria a terra, o capital (dinheiro, fbricas, mquinas e equipamentos)e a fora de trabalho a serem livremente trocadas no mercado, ocapitalismo transformaria as relaes sociais subjacentes a essas
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trocas isto , as relaes de produo, que so relaesessencialmente humanas em relaes entre coisas (mercadorias),em fetiche*.
A essa viso de mundo, dominante nas sociedades liberaisdo sculo XIX e dominada pelo fetichismo da mercadoria, Marxchamaria de ideologia.
Segundo Marx, a ideologia dominante em uma determinadasociedade seria tambm a ideologia da sua classe dominante.Portanto, nada mais natural que nas sociedades capitalistas aideologia dominante fosse a burguesa, isto , aquela quecorrespondia viso que os burgueses tinham da sociedade comoum todo a partir do ponto de vista que tinham devido sua insero
econmica na sociedade e seu interesse de classe. Para Marx,haveria ento uma relao direta entre a representao que oshomens tm da realidade e a sua insero econmica nessarealidade. A primeira seria chamada de superestrutura e a segundade infraestrutura ou, simplesmente, estrutura.
De acordo com a perspectiva de Marx, a estrutura seria
determinante sobre a superestrutura, isto , a insero
concreta dos homens no processo econmico que
determinaria a sua forma de ver e de conceber o
mundo.
Essa determinao da superestrutura pela estrutura derivarialogicamente do materialismo dialtico, mtodo de investigao einterpretao da realidade criado e utilizado por Marx em seutrabalho. Ao examinar as relaes materiais estabelecidas entre os
homens na sociedade capitalista, isto , as relaes estabelecidasentre eles no processo de produo industrial, Marx iria formular asua teoria do valore identificar uma srie de leis que regeriam ocapitalismo.
A teoria do valor de Marx complexa, extensa e demonstradapor meio de frmulas, assim como tambm o so as leis do
*Fetichismo no m
do, as mercadorias
ceriam ter uma din
e uma lgica prp
independente da v
de e da ao das p
as, cujo valor de
seria definido pel
impessoal da oferta
demanda. Fonte: E
rado pela autor.
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capitalismo por ele identificadas. O seu adequado estudo ecompreenso extrapolam em muito os objetivos desta disciplina.
No entanto, compreender em linhas gerais a concepo de
Marx sobre o funcionamento do capitalismo fundamental paraentender como e por que ele chegaria concluso de que o sistemacapitalista baseado na explorao do proletariado pela burguesiae de que a revoluo proletria e as passagens, primeiramente docapitalismo para o socialismo e finalmente deste para o comunismo,no apenas seriam desejveis como necessrias para o progressoda humanidade.
EmA riqueza das naes, publicado em 1776, Adam Smithj havia identificado o trabalho humano como fonte geradora da
riqueza de uma sociedade, que independeria dos recursos naturaisdisponveis no seu territrio. Marx, em sua investigao, iria darum passo alm: identificaria na fora de trabalho a origem de todacriao de valor. Para Marx, o capital no seria outra coisa senotrabalho morto, isto , a parte do valor produzida pela fora detrabalho, ou seja, pelos trabalhadores, que no lhes foi paga sob aforma de salrios, mas acumulada pelo capitalista e reinvestida naproduo.
Essa parte do valor criado pelo trabalho humano e noapropriada pelos trabalhadores Marx chamaria de mais-valia*.A lgica dos capitalistas seria sempre extrair mais mais-valia dosseus trabalhadores, acumulando capital para reinvestir na produoe aumentando assim constantemente a sua riqueza. Essa lgica deacumulao incessante de capital independeria da vontade doscapitalistas individualmente, mas seria inerente sua condio declasse e sua sobrevivncia no mercado. A concorrncia entrecapitalistas levaria estes a procurar aumentar constantemente a
produtividade de suas empresas, investindo cada vez mais emmquinas, equipamentos e tecnologia e, proporcionalmente, cadavez menos em trabalho humano.
Essa lgica implacvel do capital teria diversasconsequncias, entre as quais cabe destacar duas:
*Mais-valia conceito
fundamental da teoria
marxista. Criado por Karl
Marx para caracterizar a
explorao do proletari-
ado pelos capitalistas.
Na sua concepo origi-
nal, era definido como a
diferena entre o valor
dos produtos que os tra-
balhadores produzem e ovalor pago fora de tra-
balho vendida aos capita-
listas. Fonte: Lacombe
(2004).
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a tendncia concentrao do capital, por meio daqual os capitalistas cujas empresas fossem maisprodutivas acabariam eliminando do mercado os
capitalistas e empresas menos produtivas o que nolongo prazo levaria a uma situao de oligoplio e,f inalmente, de monopl io, exterminando aconcorrncia; e
a reduo proporcional do nmero de trabalhadores eo aumento crescente de desempregados, chamadospor Marx de exrcito industr ial de reserva.A combinao dessas duas tendncias, levadas sltimas consequncias, resultaria no fim do prpriocapitalismo, j que o meio para a sua sobrevivncia o mercado que desapareceria sob uma situao demonopl io e a condio para a constanteacumulao e valorizao do capital seria a mais-valiaextrada da fora de trabalho, cujo contingente seriacada vez mais reduzido.
Frente a essas contradies inerentes ao capitalismo einsuperveis sob esse modo de produo, a humanidade iria se ver
conforme a projeo de Marx frente a duas alternativas:socialismo ou barbrie. A barbrie resultaria naturalmente dacrescente acumulao da riqueza nas mos de uns poucos eextenso crescente da misria, pois o desenvolvimento docapitalismo tenderia a dissolver as demais classes sociais existentesna sociedade em apenas duas: a dos proprietrios capitalistas e ados proletrios. O socialismo, no entanto, no resultaria assimnaturalmente, mas da ao deliberada do proletariado organizadoem partido como fora poltica para tomar o poder e implantar
uma ordem social conforme os seus interesses de classe, que seriamtambm o interesse da maioria.
A mudana da ordem social por meio de uma revoluo declasse no seria uma novidade na histria, j que teria ocorridoanteriormente quando a burguesia emergente derrubou a monarquiafrancesa, pondo fim ao Antigo Regime e instituindo a ordem liberal
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e burguesa, primeiro na Frana e depois em toda a Europa.A revoluo burguesa, no entanto, no se fez sem um novo projetode mundo e de organizao social, que foi construdo pelos
pensadores liberais como alternativa velha ordem e s velhasideias dominantes. Esse mesmo percurso deveria ser ento seguidopelo proletariado industrial.
Tal como a burguesia construiu uma viso de mundo,conforme os seus interesses de classe, a qual foi posteriormenteassimilada pelas demais classes da sociedade, tornando-se ideologiadominante, o proletariado deveria fazer o mesmo. Mas para isso,ele deveria, antes, desenvolver a conscincia dos seus prpriosinteresses de classe para que pudesse transform-los em interesses
colet ivos. A tomada de conscincia seria um processoeminentemente poltico, no derivado automaticamente da inseroeconmica de uma classe social no processo produtivo. Para explicaressa diferena, Marx subdividiria o conceito de classe social emclasse em si e classe para si.
Uma classe em si seria constituda por aquele grupo dehomens e de mulheres que se encontravam sob condieseconmicas idnticas, mas que no havia desenvolvido aconscincia dos seus prprios interesses. Esta seria a condio dooperariado industrial e tambm dos camponeses, servos da gleba,durante a Idade Mdia, e dos escravos, na Antiguidade. A diferenaseria a de que, nem servos nem escravos dispunham no seu tempodas condies de desenvolver a conscincia dos seus prpriosinteresses, que lhes permitissem passar da condio de classe emsi para a de classe para si.
Antes do advento da sociedade industrial, os indivduospertencentes s classes exploradas encontravam-se espalhados pelo
territrio sem contato uns com os outros, o que no lhes teriapermitido desenvolver uma conscincia de classe e formular umprojeto de organizao de toda a sociedade, conforme os seusprprios interesses.
Segundo Marx, essas condies j existiriam para osproletrios industriais no sculo XIX, na medida em que odesenvolvimento da grande indstria os havia concentrado num
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mesmo local, sob condies idnticas de vida e de trabalho. O papeldo part ido comunista seria precisamente o de organizarpoliticamente a classe operria, desenvolver a sua conscincia de
classe e conduzi-la na tomada do poder.Para Marx, a tomada do poder do Estado pelo proletariado
poria fim propriedade privada dos meios de produo e ordeme dominao burguesas, instituindo a ditadura do proletariado. Aoutilizar o termo ditadura, Marx no estaria propugnando umaforma de governo mais dura ou autoritria que a dos governosl iberais e monarquias parlamentares do seu tempo, massimplesmente indicando que aquele seria um governo de classe, eno um governo de todos.
Para Marx todo governo em uma sociedade de classes
seria sempre uma ditadura da classe dominante.
Portanto, da mesma forma que sob a ordem capitalista
se vivia sob a ditadura da burguesia qualquer que
fosse a forma assumida pelo Estado burgus , sob o
socialismo iria se viver sob a ditadura do proletariado.
A diferena que, sob o capitalismo, a sociedade
viveria sob a ditadura da minoria a da burguesia ,enquanto que sob o socialismo iria se viver sob a
ditadura da maioria o proletariado.
O Socialismo, no entanto, seria apenas uma fase transitriado capitalismo ao comunismo, durante a qual o proletariadoutilizaria toda a fora do Estado para acabar com a sociedade declasses. A misso histrica e libertadora do proletariado seria
precisamente essa: acabar com as classes sociais, restabelecendoa igualdade inicial entre os homens. No entanto, diferena docomunismo primitivo, em que todos seriam iguais na pobreza, soba sociedade comunista ps-capitalista os homens iriam ser iguaisna abundncia, podendo finalmente desenvolver plenamente o seupotencial humano. Quando as classes tivessem sido finalmenteabolidas, o prprio Estado deixaria de existir, pois teria perdido
vManifesto do Pa
Comunista de
Disponvel em:
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completamente a sua funo, que seria a de garantir a dominaode uma classe sobre as demais.
Segundo Marx, a sua teoria da revoluo e da tomada do
poder pelo proletariado nada teria de utpica, mas estariacientificamente embasada. Por isso, Marx iria chamar o socialismopor ele propugnado de socialismo cientfico, diferenciando-odas demais formas de socialismo propostas por outros filsofos doseu tempo, que, por no estarem fundamentadas na avaliao dahistria conduzida pelo mtodo do materialismo dialtico, seriamutpicas. Por ser cientfico, o socialismo de Marx no poderia serinstitudo em qualquer sociedade nem sob quaisquer circunstncias,mas dependeria de determinadas condies objetivas. Essas
condies seriam precisamente as do capitalismo industrialplenamente desenvolvido.
Para Marx, o capitalismo teria desempenhado um papelprogressista na histria da humanidade ao libertar o homem dascondies de dominao existentes nas sociedades tradicionais esoltar as amarras que at ento impediam o pleno desenvolvimentodas foras produtivas nas sociedades humanas. Somente sob ocapitalismo que teriam sido criadas as condies para o aumentocrescente da riqueza social e consequente superao do quadro deescassez a que a humanidade, at ento, vivia submetida.
Portanto, a perspectiva de Marx no pode jamais ser tomadapor anticapitalista, como a de alguns socialistas utpicos, mas simpor ps-capitalista. A partir do momento em que a burguesia tivessecumprido o seu papel histrico de promover o desenvolvimento docapitalismo, subvertendo completamente a ordem das sociedadestradicionais, e que o capitalismo no estivesse mais trazendoqualquer progresso humanidade, esse deixaria de ser
revolucionrio para tornar-se reacionrio. Essa parecia ser asituao das sociedades capitalistas industrialmente desenvolvidasda Europa, como a Inglaterra e a Blgica.
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Para Marx, o pleno desenvolvimento do capitalismo
era uma condio necessria para a implantao do
socialismo.
Caberia ento ao proletariado tomar o poder e conduzir ognero humano sua libertao, cumprindo a sua misso histrica.Foi com essa convico que Marx participou da fundao, em 1864,da Associao Internacional dos Trabalhadores, em Londres, queposteriormente seria mais conhecida por I Internacional. No entanto,o desenrolar dos acontecimentos polticos e econmicos na Europae nas sociedades capitalistas, em geral, iria tomar uma direo
diferente da imaginada por Marx.
Atividade de aprendizagem
Avanamos mais um tpico em nosso estudo. Se vocrealmente entendeu o contedo, no ter dificuldades de
responder questo a seguir. Se, eventualmente, ao
responder, sentir dificuldades, volte, releia o material e
procure discutir com seu tutor.
2) Cite trs caractersticas distintivas de cada corrente de pensamento
at aqui analisada.
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ASMUDANASNASSOCIEDADESCAPITALISTASNOFINALDOSCULOXIX
ESEUSIMPACTOSSOBREASMATRIZESMARXISTAELIBERAL
No fim do sculo XIX, a sociedade e a economia capitalistaspassariam por profundas transformaes que iriam obrigar tantoos pensadores marxistas quanto os liberais a rever alguns de seusprognsticos e paradigmas.
No plano poltico, a mudana mais importante foi ademocratizao das sociedades liberais, com a adoo do sufrgio
universal masculino. Contrariamente expectativa de todos, queacreditavam que o governo da maioria e a economia de mercadofossem incompatveis, a experincia do sculo XX iria mostrar quedemocracia e capitalismo poderiam muito bem conviver numamesma sociedade. Essa contraprova da histria iria desafiar ambasas correntes a explicar os mecanismos que tornariam possvel acoexistncia de um sistema econmico com um sistema poltico,baseados em princpios aparentemente contraditrios.
No plano econmico, a virada do sculo traria importantestransformaes tecnolgicas e organizacionais, cujos impactossobre o conjunto das sociedades seriam enormes, causando diversasmudanas que foram sentidas ao longo das dcadas e levando reestruturao e reorganizao da produo. A Segunda RevoluoIndustrial produziria profundas mudanas na composio da fora detrabalho e seria acompanhada pelo desenvolvimento das sociedades
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por aes que modificariam o padro de organizao e gestoempresarial, assim como a inter-relao das empresas no mercado.
Essas transformaes no foram presenciadas por Marx, que
morreu em 1883, e o surgimento das empresas de capital aberto por ele assistido seria erroneamente interpretado como indicadorde uma fase de transio do capitalismo para o socialismo, e nocomo de mudana do padro de funcionamento do prpriocapitalismo. Aos olhos de Marx escreveria Raymond Aron (2005,p. 630), um dos maiores conhecedores da sua obra as grandessociedades por aes [que comeavam a surgir j no seu tempo]representavam uma primeira forma de negao do capitalismo euma forma transitria entre o capitalismo e o socialismo.
Por isso, toda a teoria de Marx encontra-se baseada no estudoda dinmica das sociedades capitalistas do sculo XIX, e seusprognsticos calcados na projeo das tendncias nelas entoobservadas.
Em meados do sculo XIX, os Estados liberais europeus eramdirigidos por governos constitudos com base na representaopopular e escolhidos por meio do voto censitrio. Tanto nasmonarquias constitucionais, como as dos Pases Baixos e do ReinoUnido, quanto nas repblicas, como as da Sua e da Frana aps1870, o direito de voto era sempre restrito s classes proprietriase educadas. Por essa razo, Marx afirmaria sem hesitar que, qualquerque fosse a forma assumida pelo Estado, todo governo seria sempreuma ditadura da classe dominante. Ainda que a burguesia governassea si prpria democraticamente, pois todos os seus membros tinhamdireito a voto, seu governo sobre a massa trabalhadora excluda doprocesso eleitoral seria sempre uma ditadura.
Figura 3: Locomotiva utilizada no sculo XVIIIFonte:
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Quanto ao padro tecnolgico vigente no tempo de Marx,conforme Figura 3, esse era ainda o mesmo da primeira RevoluoIndustrial, iniciada nas ltimas dcadas do sculo XVIII e baseado
na mquina a vapor como motor propulsor dos engenhos fabris,navios e locomotivas, no carvo como combustvel e nas ferroviascomo principal meio de transporte terrestre. Essa tecnologiaempregava intensivamente mo de obra, o que implicava noaumento constante do contingente de trabalhadores industriais embora Marx j houvesse observado a tendncia de substituiodo trabalho humano pelo das mquinas. Em relao dinmicado mercado e gesto dos negcios, as empresas interagiam emum mercado l ivre, desregulado e competitivo, eram
majoritariamente de propriedade individual ou familiar, e dirigidasdiretamente pelos seus prprios donos.
Seria a partir da observao dessa realidade e das tendnciasnela identificadas que Marx iria formular os seus prognsticos sobreo futuro do capitalismo. O uso intensivo de mo de obra sobre oqual se baseava a acumulao e expanso capitalista levou-o aimaginar que as demais classes sociais existentes como a pequenaburguesia e o campesinato tenderiam a desaparecer com aabsoro dos seus membros pelas classes fundamentais: a burguesia
cada vez menor e mais rica; e o proletariado cada vez maisnumeroso e tendendo a se tornar majoritrio na sociedade. Nessecenrio, a polarizao e a luta de classes lhe pareceriam inevitveis.Dado o controle familiar dos meios de produo e a crescentedesigualdade de riqueza entre as classes, os membros da burguesiaseriam facilmente identificveis, no s pelo seu nome e sobren