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3º Cineducando: cinema, educação e bullying

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O catálogo da Mostra conta com artigos de profissionais renomados discutindo o tema bullying, relação de filmes, oficina para professores, encontro de estudantes e nossa programação completa.

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edição única

OrganizaçãoAlexandre Guerreiro

3o. Cineducando20 de setembro a 2 de outubro de 2011

CAIXA CulturalAvenida Almirante Barroso, 25Centro – Rio de JaneiroTel: (21) 2544-4080www.caixa.gov.br/caixacultural

EDG EditoraRio de Janeiro/BR2011

ISBN: 978-85-87959-15-7

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

Paulo Freire

É com grande honra que a CAIXA Cultural Rio de Janeiro recebe pelo terceiro ano consecutivo em seus espaços a mostra Cineducando, dedicada ao cinema e à educação que, este ano, discutirá um tema da maior relevância: o bullying.

Até bem pouco tempo atrás essa prática era considerada um problema inofensivo, como brincadeira de crianças, e hoje é encarada como um fenômeno que pede urgência na reação da sociedade. A despreocupação em discutir seriamente e combater o bullying tem devolvido de forma explosiva o problema para todos nós, e não apenas aos envolvidos no cenário escolar.

O número crescente de filmes que abordam o tema sinaliza que a violência nas escolas e a delinqüência juvenil vem ganhando contornos mais fortes e preocupantes em toda a sociedade. Porém a mostra apresentará também exemplos de algumas décadas atrás, como Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955) e Amor Sublime Amor (West Side Story, 1961).

Ao patrocinar esse projeto, a CAIXA espera trazer ao público uma importante colaboração para a reflexão sobre tema tão importante e atual, reforçando seu papel institucional de estimular a discussão de questões relevantes para a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que reafirma sua vocação social e sua disposição de democratizar o acesso a seus espaços.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Possibilitar uma leitura mais acurada e crítica de toda e qualquer obra audiovisual é, na filosofia do Cineduc, uma questão de cidadania. Com seu pioneiro interesse pelas relações entre cinema e educação, e com uma experiência de 40 anos de cursos e oficinas para alunos e professores, o Cineduc tem a convicção de que a Educação é o nosso passaporte para um futuro melhor, e que o Cinema é um instrumento extremamente importante nessa viagem.

Acreditamos que, na medida em que desenvolvemos o potencial crítico e a sensibilidade diante do cinema, abrimos possibilidades até então impensáveis na relação entre o audiovisual e a educação. E é com satisfação e entusiasmo que o Cineduc realiza a 3ª edição do Cineducando, discutindo um tema atual e urgente como o bullying e oferecendo uma série de ações para semear reflexões da sala de cinema à sala de aula.

CINEDUC – CINEMA E EDUCAÇÃO

No dia 7 de abril de 2011, o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, vitimou 12 estudantes e deixou a sociedade brasileira estarrecida. Até então, estávamos acostumados a assistir a acontecimentos como este de longe - os massacres dentro de escolas ocorridos em outros países. Com o massacre de Realengo, a sensação de vulnerabilidade colocou uma urgência em pauta: discutir a questão da violência no espaço escolar. No entanto, apesar de nunca antes termos enfrentado esse tipo de ocorrência dentro dos muros de uma escola brasileira, é preciso salientar que existe uma gama de atitudes violentas por parte de jovens, disseminadas diariamente, que oprimem os que eles julgam mais fracos das mais variadas formas. Lutar contra isso é tão necessário quanto se preocupar com questões curriculares.

Chegamos à terceira edição do Cineducando com a certeza de que a Educação no Brasil precisa e merece a atenção de todos nós. Juntos, podemos levantar discussões relevantes para a comunidade escolar, que precisa sentir-se valorizada e segura, e merece receber tudo o que for necessário para que seu universo se torne mais harmônico. Professores, diretores, alunos, funcionários, cidadãos: todos nós ganhamos com a reflexão aqui proposta, com a oferta de projetos de cunho social, com eventos que apresentem contrapartidas e preocupações tendo seu foco na educação e na sociedade de uma forma geral.

O 3º Cineducando – Cinema, Educação e Bullying propõe uma discussão sobre esse tema tão atual e relevante, fazendo uma reflexão sobre a violência no âmbito escolar e fora dele. Até que ponto a violência dentro da escola é reflexo do que acontece além de seus muros e até que ponto podemos minimizar essa violência? São questões que precisam ser devidamente consideradas, com a ajuda de especialistas e a participação de todos.

Reunimos neste catálogo alguns textos esclarecedores sobre bullying, fornecendo um material para que a sociedade tenha mais elementos para formar sua opinião quanto à urgência do assunto. Os pesquisadores que participaram com seus textos têm uma imensa contribuição a dar, e é nossa missão ajudar a divulgar seus trabalhos para o público em geral, somando a isso uma série de ações voltadas

3º Cineducando - Cinema, Educação e Bullying

para o aprofundamento das reflexões propostas pelo evento.

Dentre as ações que elencamos para esta edição está a palestra de Maria Tereza Maldonado, possibilitando uma conversa direta com a sociedade sobre o bullying, tirando dúvidas, esclarecendo questões. No mesmo dia, faremos o lançamento de livros escritos por Maldonado, trazendo o máximo de informações sobre bullying para todos.

Para professores e alunos, protagonistas da educação, reservamos dois eventos muito especiais. Aos professores, dedicaremos uma oficina de quatro dias sobre o uso do audiovisual em sala de aula, buscando enriquecer seus conhecimentos com uma metodologia inovadora e um olhar crítico diante de uma obra audiovisual. Aos alunos, ofereceremos por dois dias o encontro de estudantes, que exibirá vídeos realizados em colégios, com a presença de alguns alunos que trabalharam nesses vídeos, e também com alunos que ainda não se tornaram realizadores, para que eles troquem ideias e experiências.

Por fim, a mostra de filmes reúne grandes títulos que discutem de maneira direta ou não a questão do bullying. Obras clássicas e contemporâneas, algumas realizadas antes mesmo que os primeiros estudos sobre bullying fossem feitos; outras mais atuais, que representam as causas e efeitos da violência escolar de diversas maneiras. O leque de filmes cumpre a função de enriquecer as referências do público em relação à forma como o tema vem sendo representado pelo cinema.

Acreditamos que o cinema é um veículo poderoso de ideias, e que através da linguagem e estética utilizadas, grandes questões podem ser usadas como ferramenta na construção de uma sociedade melhor. A transformação pela educação que tanto se quer passa por ações como o Cineducando, contribuindo a cada ano com reflexões sobre temas relevantes para o universo escolar, e para cada um de nós.

Alexandre GuerreiroCoordenador Geral

Textos...................................................................

Filmes................................................................... Juventude Transviada................................................................

Amor, Sublime Amor..................................................................

Elefante................................................................................

2:37 - É Só Uma Questão de Tempo................................................

Carrie, a Estranha....................................................................

Se... ...................................................................................

Kes......................................................................................

Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor.................................................

Te Pego Lá Fora.......................................................................

Bem-Vindo à Casa de Bonecas......................................................

As Melhores Coisas do Mundo.......................................................

Tiros em Columbine..................................................................

Deixa Ela Entrar.......................................................................

Deixe-me Entrar.......................................................................

Evil, Raízes do Mal....................................................................

Bullying – Provocações Sem Limites................................................

Cobardes...............................................................................

Palestra.................................................................

Lançamento de Livros................................................

Oficina para Professores ............................................

Encontro de Estudantes..............................................

Programação...........................................................

Boletim.................................................................

Créditos.................................................................

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BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR

por Cleo Fante

Sem tradução na língua portuguesa, o bullying é um fenômeno que ocorre na relação entre pares, sendo que sua maior incidência está entre os estudantes no ambiente escolar. É um fenômeno antigo tão quanto à própria instituição escolar, embora não tenha sido objeto de estudos sistemáticos até a década de 70, quando surgiram os primeiros ensaios sobre o assunto, na Suécia e Dinamarca.

Na década de 80, surgiu grande interesse pelo tema na Noruega, em especial, em 1982, quando a mídia noticiava o suicídio de três crianças, com idades entre 10 e 14 anos, sendo que a intimidação entre pares foi apontada como principal causa. Esse fato originou grande tensão e preocupação social, sobretudo, nas escolas e nas famílias, o que despertou o Ministério da Educação para a gravidade do problema. Em 1983, foi desenvolvida grande campanha nacional contra o bullying tendo à frente o pioneiro nos estudos, Dan Olweus, da Universidade de Bergen.

O norueguês, Dan Olweus, foi quem estabeleceu alguns critérios para identifi car de forma específi ca o bullying e que permitisse diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou de brincadeiras entre os estudantes, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo.

Olweus realizou uma ampla pesquisa nas escolas norueguesas, em que envolveu quase 100 mil estudantes dos diversos níveis de escolaridade, pais e professores. Os dados apontaram que um a cada sete estudantes estava envolvido em bullying, o que resultou na necessidade de desenvolver um programa de intervenção, que tivesse regras claras contra o bullying, que envolvesse ativamente os professores e pais, que promovesse apoio e proteção às vítimas. O programa demonstrou efi cácia na redução do bullying, em cerca de 50%, o que incentivou outros países a estudar o problema e desenvolver programas de intervenção.

Após oito meses do início da intervenção, verifi caram-se reduções nos índices de vitimação em cerca de 50% entre os meninos e 58% entre as meninas. Em relação aos autores de bullying, as reduções foram de 16% entre os meninos e de 20% entre as meninas. Quase dois anos depois, os índices subiram para 52% entre os meninos e

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62% entre as meninas. Quanto aos autores, subiram para 35% entre os meninos e 74% entre as meninas. Os comportamentos anti-sociais também reduziram consideravelmente, resultando na melhora do clima em sala de aula e da escola de um modo geral.

De acordo com Olweus, o bullying passou igualmente a merecer uma atenção mais atenta (por parte da sociedade e dos investigadores) em outros países, dos quais se destacam o Japão (em parte devido aos suicídios verificados na Noruega), a Inglaterra, a Holanda, o Canadá, os Estados Unidos e a Austrália.

A grande maioria das publicações internacionais remonta a década de 1990. Uma considerável quantidade de documentos científicos de todo o mundo passou a transmitir conhecimentos sobre suas causas e estratégias preventivas. Diversas campanhas e programas conseguiram reduzir a incidência de comportamentos agressivos e intimidatórios nas escolas, principalmente na Europa. No Brasil, os estudos são recentes, tendo como referência as pesquisas realizadas por Cleo Fante (2000 a 2003), no interior do estado de São Paulo, região de São José do Rio Preto e Lopes Neto & Saavedra, através da ONG Abrapia, no município do Rio de Janeiro.

Historicamente, o bullying não era percebido como um problema que precisasse de atenção, por ter sido aceito como elemento fundamental e normal da infância. Entretanto, nessas três últimas décadas a visão de bullying mudou, assim como a sua ocorrência que extrapolou o ambiente físico escolar e adentrou o ambiente virtual.

O bullying é visto como um fenômeno crescente, que preocupa as escolas e os seus profissionais. Atinge tanto os estabelecimentos públicos quanto os privados, sem distinção. Atormenta a vida dos estudantes, que inseguros e com medo, perdem a motivação para os estudos, deixam de comparecer às aulas, têm seu processo de aprendizagem comprometido, adoecem ou desistem de estudar.

O bullying também envolve e preocupa as famílias - que muitas vezes não sabem o que fazer e a quem recorrer, as autoridades e a sociedade de uma forma geral. É um problema que desafia não só a área de Educação, mas também a de Saúde, uma vez que pode afetar o psicológico e a saúde das crianças, especialmente daquelas que são vitimadas. Também preocupa os Conselhos Tutelares, a Assistência Social, o Ministério Público, a Vara da Infância, ou seja, as instituições e atores sociais que trabalham para assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes.

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Universalmente, o bullying é conceituado como sendo um conjunto de comportamentos, intencionais e repetitivos, adotado por um ou mais estudantes, sem motivação evidente, causando dor e sofrimento e, dentro de uma relação desigual de poder, o que possibilita a intimidação.

Os autores de bullying humilham e hostilizam suas vítimas, por meio de apelidos constrangedores, zoações, perseguições, calúnias, difamações, ameaças. As agressões são deliberadas e cruéis, com o intuito de ferir o outro e colocá-lo em situação de inferioridade e tensão. Podem ocorrer de diversas formas; verbal, moral, sexual, física, material, psicológica, social e virtual. Esta última denominada cyberbullying, decorrente das diversas ferramentas tecnológicas – como a Internet, os celulares, as câmeras fotográficas -, da falsa crença no anonimato e na impunidade.

Tanto no ambiente escolar quanto no ambiente virtual, as ações são premeditadas e tem por objetivo ferir, intimidar, inferiorizar, especialmente aqueles que são considerados “diferentes”, seja em seu aspecto físico ou psicológico, maneira de ser, de vestir, de falar, orientação sexual, condição social, raça, desempenho escolar. É, sem dúvida, uma das facetas da violência que impregna as relações humanas em todas as sociedades, estando, portanto, intrinsecamente relacionado à intolerância e ao preconceito, sobretudo, contra aqueles que fogem a determinados padrões estéticos e comportamentais valorizados socialmente.

No Brasil, as primeiras pesquisas foram realizadas por mim (2000-2003) na região de São José do Rio Preto, interior paulista, com um grupo de dois mil estudantes de 5ª a 8ª séries, de estabelecimentos públicos e privados de ensino, cujos resultados apontaram o envolvimento de 49% dos participantes. Em decorrência dos resultados encontrados, desenvolvi um programa de enfrentamento, o qual denominei “Programa Educar para a Paz”, composto de estratégias que visam diagnosticar, intervir, encaminhar e prevenir o fenômeno, privilegiando o envolvimento de toda a comunidade escolar, além de diversas instituições e atores sociais.

Outras pesquisas foram realizadas no país, porém, de forma setorizada ou não direcionada exclusivamente ao tema. Nesse sentido, ressalta-se a importância da pesquisa que coordenei no ano letivo de 2009, realizada pela ONG Plan International Brasil (pesquisa disponível no site www.plan.org.br), em que revelou dados inéditos sobre o bullying nas escolas brasileiras. Participaram 5.168 estudantes de

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5ª. a 8ª. séries, de escolas públicas e privadas, das cinco regiões do país.

O estudo foi realizado por meio da coleta e da análise de dados quantitativos e qualitativos, com foco nas seguintes dimensões do tema:

• Incidência de maus tratos e de bullying no ambiente escolar;• Causas de maus tratos e de bullying no ambiente escolar;• Modos de manifestação de maus tratos e de bullying no ambiente escolar;• Perfil dos agressores e das vítimas de maus tratos e de bullying no ambiente escolar;• Estratégias de combate aos maus tratos e ao bullying no ambiente escolar.

Os dados mostraram que quanto mais frequentes os atos repetitivos de maus tratos contra um determinado estudante, mais longo é o período de duração da manifestação dessa violência. Tal constatação demonstra que a repetição das ações de bullying fortalece a iniciativa dos agressores e reduz as possibilidades de defesa das vítimas, indicando ser essencial uma ágil identificação dessas ações e imediata reação de repúdio e contenção.

A pesquisa mostra que a ocorrência de bullying emerge em um clima generalizado de violência no ambiente escolar, considerando-se que 70% da amostra de estudantes responderam ter presenciado cenas de agressões entre colegas, enquanto 30% deles declararam ter vivenciado ao menos uma situação violenta no mesmo período.

Quanto ao bullying, caracterizado como ações de maus tratos repetitivos entre pares – tendo como base frequência superior a três vezes durante o ano letivo pesquisado -, os dados revelam que 17% dos alunos estão envolvidos, sendo que 10% disseram ser vítimas, 10% autores e 3% disseram reproduzir os maus tratos sofridos se convertendo em vítimas e autoras ao mesmo tempo. Revelam também que a incidência maior está entre os adolescentes na faixa de 11 a 15 anos de idade e alocados na sexta série do ensino fundamental.

Os participantes tiveram dificuldade em indicar os motivos que os levam a praticar ou sofrer o bullying. No entanto, tendem a considerar que os agressores buscam obter popularidade junto aos colegas, que necessitam ser aceitos pelo grupo de referência e que se sentiram poderosos em relação aos demais, tendo esse “status” reconhecido na

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medida em que seus atos são observados e, de certa forma, consentidos pela omissão e falta de reação dos atores envolvidos. Quanto às vitimas são sempre descritas pelos respondentes como pessoas que apresentam alguma diferença em relação aos demais colegas, como um traço físico marcante, algum tipo de necessidade especial, o uso de vestimentas consideradas diferentes, a posse de objetos ou o consumo de bens indicativos de status sócio-econômico superior ao dos demais alunos. São vistas pelo conjunto de respondentes como pessoas tímidas, inseguras e passivas, o que faz com que os agressores as considerem merecedoras das agressões dado seu comportamento frágil e inibido.

Os próprios alunos não conseguem diferenciar os limites entre brincadeiras, agressões verbais relativamente inócuas e maus tratos violentos. Tampouco percebem que pode existir uma escala de crescimento exponencial dessas situações. Também indicam que as escolas não estão preparadas para evitar essa progressão em seu início, nem para clarificar aos alunos quais são os limites e quais são as formas estabelecidas para que sejam respeitados por todos.

A pesquisa mostra que é maior o número de vítimas do sexo masculino: mais de 34,5% dos meninos pesquisados foram vítimas de maus tratos ao menos uma vez no ano letivo de 2009, sendo 12,5% vítimas de bullying, caracterizado por agressões com frequência superior a três vezes. Apesar das altas frequências de práticas violentas, os alunos do sexo masculino pesquisados tendem a minimizar a gravidade dessas ocorrências, alegando que foram brincadeiras de mau gosto ou que não dão importância aos fatos porque os colegas não merecem essa consideração. Já as meninas que sofreram maus tratos ao menos uma vez durante o ano de 2009 (23,9% da amostra de meninas pesquisada) ou tornaram-se vítimas de bullying (7,6% dessa mesma amostra) apresentam outro padrão de resposta às agressões sofridas, manifestando sentimentos de tristeza, mágoa e aborrecimento.

Quanto ao local de maior incidência, foi apontada a sala de aula: 12,7% sem a presença do professor e 8,7% com o professor, seguido do pátio de recreio, 7,9%. Os espaços de pouca visibilidade, como corredores, 5,3%, e banheiros, 1,5%, enquanto que no espaço externo à escola, o índice encontrado foi de apenas 2%.

Quanto ao cyberbullying, os dados revelam que 31% dos respondentes estão envolvidos, sendo que 17% são vítimas, 18% são praticantes e 4% são vítimas e praticantes ao mesmo tempo. Independentemente da idade das vítimas, o envio de e-mails maldosos é o tipo de agressão

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mais frequente, sendo praticado com maior frequência pelos alunos pesquisados do sexo masculino. Entre as meninas pesquisadas, o uso de ferramentas e de sites de relacionamento são as formas mais utilizadas. As demais formas de maus tratos no ambiente virtual também apresentam pouca variação conforme a idade das vítimas. Pequenas variações destes padrões estão presentes na frequência um pouco superior do uso de ferramentas e sites de relacionamento por alunos de 11 e 12 anos; na invasão de e-mails pessoais e no ato de passar-se pela vítima, ambos praticados por alunos de 10 anos.

Embora gestores e professores admitam a existência de uma cultura de violência pautando as relações dos estudantes entre si, as escolas não demonstraram estar preparadas para eliminar ou reduzir a ocorrência do bullying.

Estudos alertam para as consequências do bullying, em especial quanto às vítimas. No âmbito acadêmico podem ter seu processo de aprendizagem comprometido, sendo notados problemas como o déficit de concentração, desmotivação pelos estudos, queda do rendimento, absentismo, reprovação e evasão escolar. No âmbito da saúde, a queda da autoestima e da confiança em si mesmo pode resultar em estresse, sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, depressão, suicídio. Em alguns casos, onde o grau de sofrimento é extremo, o desequilíbrio emocional pode resultar em tragédias, como as ocorridas nas escolas de Columbine, Virgínia Tech (EUA); Taiuva e Remanso (BR), Carmen de Patagones (ARG).

Quanto aos autores, seu comportamento agressivo pode se solidificar com o tempo, comprometendo as relações afetivas e sociais, além da aprendizagem de valores humanos, como a solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito a si mesmo e ao outro, o que afetará as diversas áreas de sua vida. Muitos tendem à depressão, ao suicídio, à autoflagelação, ao envolvimento em delinquência, uso de drogas e criminalidade. Futuramente, podem cometer a violência doméstica e o assédio moral no trabalho.

Diversos estudos africanos sugerem que a experiência infantil de “bullying” aumenta o comportamento antissocial e adoção e riscos na vida adulta. Nos EUA, os estudos mostram que 60% dos intimidadores tendem a ter, no mínimo, uma condenação penal até os 24 anos.

Quanto aos espectadores, o fato de testemunhar as agressões pode afetar seu desenvolvimento sociomoral, o que contribui para a escassez da empatia, insensibilidade ao sofrimento e sentimentos alheios,

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insegurança pessoal, medo do futuro e deficiente desenvolvimento de valores prossociais, entre outros aspectos. Estudos relatam que embora o espectador não experimente o mesmo grau de ansiedade que a vítima, em alguns casos poderá sentir-se indefesa, assim como a vitima.

Estudos conduzidos em diversos países tentam explicar as causas do bullying. Porém, as explicações apontam para um conjunto de fatores causais. As causas apontadas entre os pesquisadores podem ser assim compreendidas:

•Modelos de resolução de conflitos por meio de atitudes agressivas, humilhantes ou violentas, substituindo o diálogo e a orientação.•Violência doméstica contra crianças e adolescentes.•Negligência ou omissão da família pela vida escolar e social dos filhos.•Carência afetiva e ausência da família, possibilitando o distanciamento e a insegurança. •Dificuldades emocionais e de relacionamentos interpessoais.•Excessiva permissividade e dificuldade de estabelecimento de limites por parte dos pais e/ou responsáveis.•Exposição prolongada às inúmeras cenas de violência exibidas pelos diversos meios de comunicação e informação.•Estímulo exacerbado à competitividade e ao consumo. •Crise ou ausência de valores humanos. •Atitudes culturais, como intolerância e preconceito geradoras de discriminação e ódio sistemático contra indivíduos e grupos específicos.•Hierarquização nas relações de poder estabelecidas em detrimento da fraqueza de outros.•Omissão e despreparo profissional e institucional.•Falta de canais de comunicação e de expressão de sentimentos•Ausência de punição.•Políticas escolares inadequadas.•Falta de investimentos e políticas públicas específicas.

O bullying se converteu em um problema social e como tal requer medidas urgentes de intervenção e prevenção. Cabe às escolas o desenvolvimento de programas antibullying, de acordo com as suas peculiaridades e que envolvam toda a comunidade escolar.

Nos mais diversos países programas antibullying vêm sendo desenvolvidos e seus resultados tem se mostrado efetivos. No Reino Unido, todas as escolas são obrigadas a ter um plano antibullying e

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que integre normas disciplinares claras. No Canadá e EUA foram introduzidos no currículo escolar, planos de prevenção contra o bullying, podendo as escolas ser responsabilizadas por omissão. Na Noruega, foi instituído em todas as escolas um programa que prevê, entre outras medidas, que devem ser tomadas em conjunto, a adoção de regras claras, a constituição de comissões antibullying nas escolas, a capacitação de docentes e demais profissionais para a intervenção, a realização de encontros com estudantes e pais de envolvidos, a aplicação de medidas de apoio às vítimas. Em Portugal, o bullying está sendo amplamente discutido e foi incluído no programa de educação para a Saúde – associado à Saúde Mental - e deve integrar o projeto educativo das escolas. Em muitos outros países programas estão sendo desenvolvidos nas escolas na tentativa de deter e prevenir o fenômeno.

Em nosso país, o programa “Educar para a Paz”, por mim desenvolvido, foi, pioneiramente, implantado entre os anos de 2002 a 2004, na Escola Municipal Luiz Jacob, em São José do Rio Preto, interior paulista. Os resultados foram notados no primeiro semestre de implantação do programa, reduzindo a incidência de bullying em 10%. Após quatro semestres de implantação, a realidade escolar apresentava apenas 4% de incidência, o que antes foi diagnosticado em 66%.

Devido aos resultados favoráveis, o programa tornou-se referência em todo o país, como instrumento de enfrentamento ao bullying escolar. Atualmente, está em desenvolvimento na Escola Municipal “Lúcia Novaes”, no Município de Cedral/SP e sendo implantado em oito escolas públicas do Estado do Maranhão – nas cidades de Codó, Timbiras, São Luis e São José do Ribamar -, por iniciativa da ONG Plan International Brasil, em parceria com Secretarias Municipais de Educação, como alternativa no enfrentamento ao bullying e ante os dados coletados em sua pesquisa nacional.

O programa tem por objetivo sensibilizar a comunidade escolar para a relevância do problema e a necessidade de enfrentamento por meio de ações promotoras da cultura de paz. Objetiva também incentivar o advocacy, a criação de leis, políticas públicas e investimentos contra o bullying e proteção integral à criança e ao adolescente, por entender que a violência em suas diversas formas representa uma violação dos direitos humanos da criança, em especial os direitos à integridade física e dignidade humana e igual proteção perante a lei. Viola o direito à educação, à segurança, ao desenvolvimento, à saúde e à sobrevivência.

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O desenvolvimento de políticas públicas e investimentos em programas de capacitação profissional - atendimentos médico, psicológico, assistencial e jurídico aos envolvidos e familiares -; campanhas de conscientização veiculadas nos meios de comunicação; incentivo à criação de leis antibullying nas diversas esferas são prioridades absolutas do programa.

Nesse sentido, vale ressaltar que inúmeros projetos de lei estão em discussão nas câmaras municipais e estaduais e muitas já estão em vigor. Os primeiros Estados brasileiros a aprovarem uma Lei sobre o bullying foram Paraíba e Santa Catarina. Também há lei em vigor em Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Amapá, Rio Grande do Sul, Rondônia, Ceará, Amazonas, Maranhão.

De acordo com as legislações as escolas devem instituir programas preventivos, compostos por um conjunto de ações que visem reduzir o bullying e incentivar a cultura de paz. Dentre as ações, podemos citar: capacitação de docentes e equipe pedagógica para o diagnóstico, intervenção e encaminhamento de casos; formação de equipe multiprofissional para estudos e atendimentos de casos; envolvimento da comunidade escolar – pais, docentes, discentes, equipe pedagógica – nas discussões e desenvolvimento de ações preventivas; estabelecimento de regras claras sobre o bullying no Regimento Interno Escolar; orientação às vítimas e seus familiares; encaminhamento de vítimas e agressores e seus familiares aos serviços de assistência médica, psicológica, social e jurídica; orientação aos agressores e seus familiares sobre as consequências dos atos praticados e aplicação de medidas educativas capazes de mudanças comportamentais significativas; parceria com a família dos envolvidos na resolução dos casos; implantação de sistema de registro de casos e procedimentos adotados, desenvolvimento de atividades que promovam a cidadania e a cultura de paz, dentre outras.

Também estão em discussão duas proposituras de leis em nível federal, sendo que uma já foi aprovada pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e pela Comissão de Educação, na Câmara dos Deputados em Brasília. Este projeto propõe que além das escolas, clubes de recreação sejam obrigados a adotar medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying. Apresenta também alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). O projeto não criminaliza condutas, porém, busca garantir um melhor enquadramento do bullying como medida de proteção à criança e

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ao adolescente. Entre as medidas, a obrigação para os dirigentes de estabelecimentos de ensino e de recreação de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de bullying e as providências adotadas para conter o abuso. O outro projeto prevê a criminalização do bullying.

O bullying enquanto violência é um fenômeno complexo e multifatorial, que requer para o seu enfrentamento ações interdisciplinares, transdisciplinares e intersetoriais, além do comprometimento individual, profissional, comunitário, governamental.

É um fenômeno que se instala em nossas escolas e se reproduz de forma naturalizada, invisível e simbólica. É um sinalizador de que nas famílias, nas escolas e na sociedade, de um modo geral, as relações sociais entre os adultos devem ser reavaliadas, assim como os valores que estamos transmitindo às crianças e adolescentes. Estes se pautam em nossos exemplos e, sobretudo, na maneira como nos relacionamos e resolvemos os nossos conflitos. Portanto, os exemplos dos adultos são fundamentais para a origem e manutenção do bullying quanto para a sua erradicação.

Estudos demonstram que os altos índices de bullying encontram-se nas instituições onde o desrespeito e o autoritarismo dos adultos permeiam as relações sociais, onde não há diálogo e participação democrática da comunidade escolar, onde as regras não são claras ou não são cumpridas, onde os conflitos são resolvidos por meio de violência, onde há violação dos direitos de crianças e adolescentes.

Assim sendo, as instituições escolares devem priorizar além da educação de qualidade, um ambiente escolar saudável e seguro, onde todos possam relacionar-se com respeito, valorizar as diferenças e conviver pacificamente.

Cleo Fante é pesquisadora pioneira no Brasil sobre o Bullying Escolar. Autora de obras sobre o tema. Autora do Programa Antibullying Educar para a Paz. Conferencista. Consultora em programas antibullying e cultura de paz. Docente em cursos de Pós graduação.

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BULLYING E CYBERBULLYING: O QUE FAZER COM ISSO?

por Maria Tereza Maldonado

Luciana fica até altas horas em seu computador trocando mensagens com mais de quinhentos amigos de sua rede de relacionamentos e interagindo com centenas de usuários de jogos online. Acha a realidade virtual muito mais interessante do que o chamado “mundo real”. No entanto, quando Marcelo a escolhe como alvo e começa a torpedeá-la com mensagens ofensivas pelo celular e pelo computador, Luciana fica transtornada, sem saber como agir com seu inimigo desconhecido.

A situação se agrava na escola quando Leonardo envolve Marcelo na prática do cyberbullying para difamar outro colega. A diretora, preocupada com as condutas violentas entre os alunos, dá início à campanha “Agressão não é diversão”, criando ações de colaboração entre a equipe escolar, os alunos e as famílias para incentivar o uso responsável da rede e inibir a ação dos agressores.

Esse é o tema de “A face oculta – uma história de bullying e cyberbullying” , que escrevi para que alunos e professores possam refletir sobre o tema que está presente no cotidiano das escolas. Onde estão as fronteiras entre brincadeira, implicância, agressão e perseguição implacável no comportamento de crianças e adolescentes? Como orientá-los para o uso responsável da Internet e do celular, em casa e na escola?

Trabalhando como palestrante em todo o Brasil, tenho constatado a enorme preocupação das escolas e das famílias com o uso da internet. Se, por um lado, há o reconhecimento do enorme valor dessa ferramenta, por outro há riscos de uso excessivo, em detrimento de outras experiências de vida, e de potencializar comportamentos violentos, como acontece no cyberbullying. O trabalho conjunto entre famílias e escolas é essencial para criar uma cultura de não tolerância à prática do bullying e do cyberbullying, desenvolvendo uma rede saudável de relacionamentos em que fique claro para todos que “agressão não é diversão”.

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E quais são as expressões mais comuns da agressão? Humilhação, apelidos depreciativos; jogos de poder dos “chefes” e dos “populares” da turma que intimidam colegas para que obedeçam aos seus comandos sob pena de exclusão do grupo; ameaças de agressão física ou constrangimento moral; mensagens difamatórias ou ofensivas. São ataques maciços à auto-estima que, em muitos casos, estimulam na vítima sentimentos de rejeição, dificuldade de inserção no grupo, medo de ir à escola, crises de angústia e estados depressivos.

O bullying se caracteriza por ações repetitivas de agressão física e/ou verbal com a clara intenção de prejudicar a vítima. O cyberbullying é ainda mais terrível, porque a perseguição é implacável, podendo chegar a 24 horas por dia nos sete dias da semana: a vítima é atacada por mensagens de celular, filmada ou fotografada secretamente em situações constrangedoras que podem ser colocadas na rede; o agressor pode criar um perfil falso da vítima em sites de relacionamento para difamá-la ou adulterar fotos em que, por exemplo, ela aparece como garota de programa, com seu celular divulgado nas listas de contato do agressor e de seus amigos.

O perfil mais comum da vítima: crianças e adolescentes inseguras, tímidas, com dificuldades de comunicação; os que se destacam como ótimos alunos, estimulando os ataques por inveja. O perfil mais comum dos agressores: pessoas inseguras, que já foram vítimas de ataques, com dificuldades de relacionamento e pouca empatia; as que desenvolvem capacidade de liderança, utilizada de modo negativo; as sociopatas, manipuladoras, que se divertem causando sofrimento em outros. No cyberbullying, o agressor conta com a possibilidade de se esconder no anonimato da rede, imaginando que não haverá consequências para seus atos. Muitas vítimas sofrem em silêncio, por medo ou por vergonha de revelar que estão sendo atacadas, o que aumenta o poder do agressor. É importante também o papel das testemunhas: muitas se calam por medo de serem as próximas vítimas. Porém, podem ter um papel fundamental para inibir a ação dos agressores, formando uma rede de proteção.

O cotidiano da escola oferece inúmeras oportunidades de trabalhar os valores fundamentais do convívio: respeito, solidariedade, colaboração, gentileza. Os autores do bullying agem nas salas de aula, nos corredores, nos banheiros, no pátio, no ônibus escolar. Pensar

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que isso é “brincadeira de crianças” e achar que as vítimas “não sabem brincar” é negar o problema, até por não saber como lidar com ele. As escolas que fizeram campanhas antibullying bem sucedidas trabalharam com toda a equipe escolar e buscaram a parceria das famílias no sentido de criar uma cultura de não tolerância às ações do bullying e do cyberbullying.

As estratégias antibullying consideradas mais eficientes são: colocar os limites devidos e as consequências cabíveis às condutas de agressão; estimular a expansão dos recursos para fortalecer as vítimas; estimular nos agressores o bom uso de suas capacidades de liderança e o aumento da empatia; propiciar condições para a ação eficaz das testemunhas na prevenção dos episódios de bullying. O resultado é a melhoria da qualidade dos relacionamentos e o uso responsável da tecnologia.

Maria Tereza Maldonado é Mestre em Psicologia pela PUC-RIO, onde lecionou no Departamento de Psicologia; membro da American Family Therapy Academy; vice-presidente da ONG Cruzada do Menor; é autora de mais de trinta livros, entre os quais Bullying e cyberbullying – o que fazemos com o que fazem conosco? (Ed. Moderna), A face oculta – uma história de bullying e de cyberbullying (Ed. Saraiva) e Teias (ed. Lafonte).

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ASPECTOS EDUCACIONAIS DO BULLYING

por Gabriel Chalita

Sócrates ensinava que o processo educativo era semelhante a um parto. Ao observar o ofício de parteira de sua mãe, o pensador dizia que, de igual modo, o mestre deveria fazer com o seu discípulo. Isto é, ajudar no nascimento, com cuidado, com respeito. O aluno não é uma coisa, um número, uma ficha. Ele é alguém com uma história em construção. Assim como o professor. Mestres e aprendizes se educam o tempo todo, eles se constroem.O ambiente escolar é um espaço privilegiado de acolhimento e de convivência.

O respeito precisa ser um convidado cotidiano dessas relações. Da ausência do respeito e da compaixão, surge o bullying.

A palavra “bullying” deriva do adjetivo inglês “bully”, que significa “valentão”, “tirano”, termos direcionados àqueles que, julgando-se superiores física ou psicologicamente, são capazes de atos desumanos para intimidar, tiranizar, amedrontar e humilhar outra pessoa. Certamente, essas práticas violentas ocorrem, há anos e anos, nos espaços escolares e, não raro, foram – e ainda são – classificadas, inadvertidamente, como brincadeiras de criança, sem grande importância. Toda a ausência de respeito reveste-se de grande importância. Um aluno que costuma agir inadequadamente nos bancos escolares terá maior probabilidade de fazê-lo em outros ambientes; afinal, a escola é o celeiro da vida.

E a vida precisa de ética. A regra de ouro da ética é “não faça ao outro o que não gostaria que fizessem com você”. O agente do bullying, ou o que aplaude ou apenas assiste à ação indesejada, age sem ética. Não pensa na dor do outro. Na humilhação. No sentimento de inferioridade que nasce de ações repetidas.

Essas ações não podem ser negadas ou desconsideradas. É preciso ter o conhecimento e a conscientização do problema, por parte de todos os envolvidos: estudantes, família, educadores e comunidade – sensibilizando para a extinção de uma violência silenciada, na maioria das vezes, pelo medo e pela dor.

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Aliás, é esse outro grave problema da vítima. Ela fica em silêncio. Sofre em silêncio. Se nas famílias houvesse diálogo, os efeitos seriam menos danosos. Mas os filhos têm vergonha dos pais. Ou medo. O que não é bom. A família tem de semear um espaço em que as máscaras sociais possam ser deixadas de lado, em que as fraquezas sejam socializadas, em que um compreenda a dor do outro. Voltamos à ética ou à compaixão.

Por ser uma prática, invariavelmente, dissimulada e clandestina, os números reveladores da dimensão desse mal em todo o mundo correm o risco de serem insuficientes. Muitos diretores de escola e professores, por exemplo, omitem ou camuflam atitudes agressivas ocorridas dentro da instituição, com receio de se tornarem alvos dos agressores ou, até mesmo, de verem suas fragilidades expostas à sociedade. Como uma epidemia sem controle, o bullying vem se instalando e se expandindo, de forma avassaladora, entre nossas crianças e entre nossos jovens.

Pesquisa realizada pelo IBGE – a Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar (Pense) – entrevistou 618,5 mil estudantes do nono ano de escolas públicas (cerca de 80%) e privadas (aproximadamente 20%) de todo o País, trazendo os seguintes resultados em 2009: 30,8% dos estudantes afirmaram já ter sofrido bullying; a maior proporção de ocorrências foi registrada em escolas privadas (35,9%), ao passo que, nas escolas públicas, os casos atingiram 29,5% dos estudantes; Brasília e Belo Horizonte são as capitais brasileiras com os maiores índices de casos de bullying – 35,6% e 35,3%, respectivamente –, nos 30 dias anteriores ao da pesquisa.

Vez ou outra, somos assombrados por notícias sobre casos de bullying que terminaram em tragédia. São cenas protagonizadas por vítimas do passado, que se tornaram agressores no presente. Vítimas-agressores são, em geral, adultos que, quando crianças, foram profundamente marcados pela dor e pela angústia, com ações desumanas sofridas. O desejo de vingança e de autodestruição é fruto de um sofrimento contido e intensificado ao longo dos anos. Uma pesquisa realizada por um cientista americano, Timothy Brewerton, revela que, nos 66 ataques a escolas ocorridos no mundo de 1966 a 2011, 87% dos atiradores haviam sido vítimas de bullying e, assim, agiam pela vontade de vingança.

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De uma forma ou de outra, os dados obtidos a partir de estudos e de pesquisas sobre o bullying em escolas de outros países são muito parecidos, afirmam os especialistas. É um cenário assustador, que exige cuidado e ação imediatos – principalmente, das instâncias governamentais. A escola, destinada a ser um centro de luz e de difusão da paz, tem sido palco de atos desumanos e covardes em relação aos considerados mais frágeis, seja pela compleição física franzina, seja pelo tipo acabrunhado de personalidade, seja por uma deficiência física qualquer.

A necessidade da criação de novas leis e da aplicação efetiva da legislação já existente sobre a questão do bullying faz-se premente. Entretanto, a solução para a inibição dessa prática violenta não está apenas na determinação de atos punitivos aos agressores, mas, principalmente, na promoção de ações educativas de repúdio ao bullying e de conscientização/comprometimento de toda a comunidade escolar no combate a essa epidemia. Incremento na formação dos educadores, campanhas de esclarecimento para as famílias, para os alunos e para a comunidade, orientação aos pais na detecção do bullying, distribuição de cartilhas orientadoras à comunidade escolar, palestras de prevenção e de combate ao bullying, estreitamento das relações entre a escola e a família e resgate dos valores de amizade, de amor e de respeito são algumas das providências urgentes a serem tomadas na seara educacional.

A escola está em estado de atenção. De alerta. As Diretrizes Curriculares Nacionais indicam como objetivos primeiros da educação os princípios éticos, estéticos e políticos na condução da prática pedagógica. A constatação que se tem, a partir da percepção do espaço violento que se tornou a escola, é a de que esses princípios, garantidos por lei, foram abandonados.

Para educar, é preciso cuidar dos princípios da dignidade humana, das pessoas e dos sentimentos dessas pessoas. Diante de questões relativas ao bullying, é importante que se questione qual princípio foi violentado, o que ficou esquecido pelo caminho, o que foi deixado para trás no convívio diário da sala de aula. É preciso refletir e romper esse ciclo perverso. É de paz que os estudantes precisam para aprender, e os professores, para ensinar. É de paz que a família precisa para que cumpra sua finalidade de proteger e de preparar. E a

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paz é atitude ante a vocação da vida humana que requer autonomia, respeito, liberdade e amor.

(Publicação do Instituto Metropolitano de Altos Estudos | FMU)

Gabriel Chalita é professor, escritor e deputado federal (PMDB/SP). É doutor em Filosofia do Direito e em Comunicação e Semiótica; mestre em Direito e em Ciências Sociais e graduado em Direito e em Filosofia. Foi secretário da Educação do Estado de São Paulo, presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e vereador da capital paulista.

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De que maneira o cinema representa o bullying? Desde quando os filmes passaram a retratar o assunto de forma mais enfática e direcionada? Qual o tratamento dado à questão? Que gêneros são mais utilizados para tratar o tema? Essas perguntas podem ser respondidas através do visionamento dos 17 importantes filmes que selecionamos para compor essa mostra. Obras clássicas e contemporâneas que montam um rico painel de personagens fornecendo diversos enfoques de uma das questões mais pungentes da atualidade.

Dentre os títulos, pelo menos duas obras clássicas são anteriores ao desenvolvimento do interesse mundial pelo bullying. São os filmes Juventude Transviada e Amor, Sublime Amor. A violência entre os jovens nessas obras não corresponde exatamente ao que o senso comum começa a reconhecer hoje como bullying, restringindo essa violência ao universo das gangues. No caso de Juventude Transviada, é mais evidente o tratamento do tema, já que o filme mostra a chegada de Jim Stark numa escola e a perseguição desse personagem pelo grupo de seu rival Buzz, que culminará na antológica sequência da rixa de carros em direção ao penhasco. Já em Amor, Sublime Amor o universo escolar não está presente. A versão musical de Romeu e Julieta mostra a rivalidade de duas gangues, Sharks e Jets. O baile do bairro é a única referência mais próxima a um ambiente escolar. Sem dúvida, o filme se afasta dos demais, focando nas questões de preconceito e racismo vividas pelas gangues de rua. No entanto, para além das leituras multiculturalistas sobre a questão racial que atravessa o filme (os Jets são americanos e os Sharks, portoriquenhos), as sequências que mostram uma gangue intimidando os integrantes mais fracos da outra servem para refletirmos sobre opressão e violência urbana, sobretudo na célebre sequência inicial, numa escalada de violência magistralmente coreografada por Jeremy Robbins. Para a curadoria, Amor, Sublime Amor é uma exceção no rol de filmes que abordam o tema da mostra, mas sua presença se justifica pela reflexão sobre a violência comum na juventude,

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sobretudo quando alimentada por elementos como racismo e intolerância, que também podem motivar embates dentro dos muros de uma escola.

A radicalização do bullying em atentados contra escolas com vítimas fatais aparece em títulos como Tiros em Columbine, 2:3� – É Só Uma Questão de Tempo e Elefante, obras-primas sobre as consequências trágicas dessa prática. Em Carrie, a Estranha, outro clássico, a dor causada pelo bullying desperta a paranormalidade da personagem-título, oprimida e humilhada. Mas há também filmes que retratam o tema com humor. Um bom exemplo é Bem-Vindo à Casa de Bonecas, que revela o sentimento de inadequação de uma jovem, tão comum na adolescência.

Os filmes para o público jovem estão representados pela comédia recente Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor, e também por Te Pego Lá Fora, filme despretensioso dos anos 80 que pode ser revisto hoje com ares de cult.

Dentre os exemplos mais recentes, estão o filme sueco Deixa Ela Entrar e sua refilmagem americana, Deixe-me Entrar, e os espanhóis Bullying – Provocações Sem Limites e Cobardes, este último não lançado comercialmente no Brasil.

Obras delicadas como o brasileiro As Melhores Coisas do Mundo e o inglês Kes, um dos primeiros filmes do renomado Ken Loach, e os obrigatórios Se... e Evil – Raízes do Mal, completam o escopo da mostra. O mosaico de histórias, dramas, e personagens, nos ajuda a pensar a partir dos reflexos colocados na tela. Grandes filmes alinhavados por um tema e programados para nos levar além na discussão sobre a questão do bullying. Entre clássicos inesquecíveis e obras contemporâneas, oferecemos um leque emblemático que servirá para ventilar corações e mentes com reflexões sobre o cinema, a educação e o bullying.

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Rebel Without a Cause - EUA, 1955

DIREÇÃO: Nicholas Ray ROTEIRO: Nicholas Ray, Irving Shulman, Stewart SternFOTOGRAFIA: Ernest HallerMONTAGEM: William H. Ziegler, James MooreTRILHA SONORA: Leonard Rosenman ELENCO: James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo, Jim Backus

Sinopse: Jim Stark é um rapaz problemático que vai parar numa delegacia, onde conhece os jovens Judy e Platão. Judy é namorada de Buzz, o líder de uma gangue do colégio. A rivalidade entre Jim e Buzz terá consequências trágicas.

Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, Melhor Atriz Coadjuvante (Natalie Wood) e Melhor Ator Coadjuvante (Sal Mineo).

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juventude transviada

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West Side Story - EUA, 1961

DIREÇÃO: Jerome Robbins, Robert WiseROTEIRO: Ernest Lehman, Arthur Laurents, Jerome RobbinsFOTOGRAFIA: Daniel L. FappMONTAGEM: Thomas StanfordTRILHA SONORA: Leonard Bernstein, Irwin Kostal ELENCO: Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno, George Chakiris, Simon Oakland, Ned Glass, William Bramley, Tucker Smith, Tony Mordente

Sinopse: Uma guerra de gangues nos subúrbios de Nova York dos anos 1950 fi ca no caminho de um jovem casal apaixonado, na versão musical da tragédia de Romeu e Julieta composta por Leonard Bernstein.

Vencedor de 10 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.

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2/10 - 1�:00

amor, sublime amor

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Elephant - EUA, 2003

DIREÇÃO: Gus Van SantROTEIRO: Gus Van SantFOTOGRAFIA: Harris SavidesMONTAGEM: Gus Van SantELENCO: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson, Elias McConnell, Jordan Taylor, Carrie Finklea, Nicole George, Brittany Mountain, Alicia Miles, Timothy Bottoms

Sinopse: Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma escola secundária no interior dos Estados Unidos. Enquanto a maior parte está engajada em atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semi-automática, com altíssima precisão e poder de fogo.

Palma de Ouro de Melhor Filme e Melhor Direção no Festival de Cannes.

2:37 - Austrália, 2006

DIREÇÃO: Murali K. ThalluriROTEIRO: Murali K. ThalluriFOTOGRAFIA: Nick MatthewsMONTAGEM: Nick Matthews, Dale Roberts, Murali K. Thalluri TRILHA SONORA: Mark Tschanz ELENCO: Teresa Palmer, Frank Sweet, Sam Harris, Charles Baird, Joel Mackenzie, Marni Spillane, Clementine Mellor, Sarah Hudson, Gary Sweet, Amy Schapel

Sinopse: Seis jovens estudantes veem suas vidas unidas pelas situações mais comuns da juventude moderna. São 2h37 da tarde: uma jovem descobre que está grávida; nem tudo é o que parece para o confi ante jogador de futebol; um indivíduo sem moradia tem de aturar as provocações do colega; uma linda garota luta contra disturbios alimentares; um estudante dedicado se esforça para ter a aprovação dos pais; e outro garoto mergulha nas drogas para escapar de seus próprios demônios.

Seleção Ofi cial do Festival de Cannes.

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Nick Matthews, Dale Roberts, Murali K. Thalluri

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elefante

2:37 – é só uma questão de tempo

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Carrie - EUA, 1976

DIREÇÃO: Brian De Palma ROTEIRO: Lawrence D. Cohen, Stephen KingFOTOGRAFIA: Mario TosiMONTAGEM: Paul Hirsch TRILHA SONORA: Pino DonaggioELENCO: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving, William Katt, Betty Buckley, Nancy Allen, John Travolta, P.J. Soles

Sinopse: Carrie White é uma garota com difi culdades de socialização. Sob a infl uência de sua mãe, uma fervorosa religiosa, ela se mantém isolada de todos. Porém, quando um popular garoto da escola a convida para ir ao baile, ela se surpreende e passa a viver uma noite de sonho. Mas a noite não terminará como ela sonhou.

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Sissy Spacek) e Melhor Atriz Coadjuvante (Piper Laurie).

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carrie, a estranha

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If... - Reino Unido, 1968

DIREÇÃO: Lindsay Anderson ROTEIRO: David Sherwin, John HowlettFOTOGRAFIA: Miroslav OndrícekMONTAGEM: David GladwellTRILHA SONORA: Marc WilkinsonELENCO: Malcolm McDowell, David Wood, Richard Warwick, Robert Swann, Christine Noonan, Hugh Thomas, Rupert Webster, Peter Jeffrey, Anthony Nicholls

Sinopse: O cotidiano de uma escola é marcado pelo embate dos alunos, do conformismo à rebeldia, a partir de suas relações com o sistema opressivo da escola.

Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.

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se...

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Kes - Reino Unido, 1969

DIREÇÃO: Ken Loach ROTEIRO: Barry Hines, Ken Loach, Tony Garnett FOTOGRAFIA: Chris MengesMONTAGEM: Roy WattsTRILHA SONORA: John CameronELENCO: David Bradley, Freddie Fletcher, Lynne Perrie, Colin Welland, Brian Glover, Bob Bowes, Bernard Atha, Laurence Bould, Ted Carroll, Agnes Drumgoon

Sinopse: Vivendo em um bairro pobre da cidade, um garoto não tem boas notas na escola, sempre apanha do irmão mais velho e é desprezado por todos. Um dia ele acha um Kestrel, um pequeno falcão, que passa a ser seu companheiro nos momentos de solidão.

Indicado ao BAFTA de Melhor Filme e Melhor Ator Coajuvante (Colin Welland) e Prêmio Especial de Melhor Ator Estreante para David Bradley.

22/� - 18:30

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kes

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Drillbit Taylor - EUA, 2008

DIREÇÃO: Steven BrillROTEIRO: Kristofor Brown, Seth Rogen, John Hughes FOTOGRAFIA: Fred MurphyMONTAGEM: Brady Heck e Thomas J. NordbergTRILHA SONORA: Christophe BeckELENCO: Owen Wilson, Nate Hartley, Troy Gentile, Ian Roberts

Sinopse: Ryan, Wade e Emmit sofrem perseguição na escola. Eles resolvem contratar Taylor, um suposto guarda-costas, para defendê-los dos valentões e das humilhações diárias.

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meu nome é taylor, drillbit taylor

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Three O’Clock High - EUA, 1987

DIREÇÃO: Phil JoanouROTEIRO: Richard Christian Matheson, Thomas E. SzollosiFOTOGRAFIA: Barry Sonnenfeld MONTAGEM: Joe Ann Fogle TRILHA SONORA: Christopher Franke , Edgar Froese, Paul Haslinger ELENCO: Casey Siemaszko, Annie Ryan, Richard Tyson, Stacey Glick

Sinopse: Jerry Mitchell é um simpático colegial que vai entrevistar Buddy Revell, um colega recém-chegado, para o jornal do colégio. Acontece que Buddy tem fama de psicopata e, além disto, não suporta ser tocado. É exatamente isto que Jerry faz, e Buddy decide partir para a agressão física.

Richard Christian Matheson, Thomas E. Szollosi

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te pego lá fora

Welcome to the Dollhouse - EUA, 1995

DIREÇÃO: Todd SolondzROTEIRO: Todd SolondzFOTOGRAFIA: Randy DrummondMONTAGEM: Alan OxmanTRILHA SONORA: Jill WisoffELENCO: Heather Matarazzo, Matthew Faber, Daria Kalinina, Brendan Sexton III

Sinopse: Dawn Weiner não tem motivos para gostar da escola. Ela é uma adolescente complexada e ridicularizada pelos colegas. Seu relacionamento com sua família não é dos melhores. Ela deseja ser aceita de qualquer jeito e para isto planeja namorar um rapaz mais velho, que é muito popular, apesar disto ser totalmente improvável.

Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance.

20/� - 18:30

bem-vindo à casa de bonecas

2�/� - 18:30

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Brasil, 2010

DIREÇÃO: Laís Bodanzky ROTEIRO: Luiz Bolognesi, Gilberto Dimenstein, Heloisa PrietoFOTOGRAFIA: Mauro Pinheiro Jr.MONTAGEM: Daniel Rezende TRILHA SONORA: Eduardo BidELENCO: Francisco Miguez, Fiuk, Denise Fraga, Zé Carlos Machado

Sinopse: Mano é um adolescente de 15 anos. Ele está aprendendo a tocar guitarra com Marcelo, pois deseja chamar a atenção de uma garota. Seus pais estão se separando, o que afeta tanto ele quanto seu irmão mais velho, Pedro. Em meio a estas situações, Mano precisa lidar com os colegas de escola em momentos de diversão e também sérios, típicos da adolescência nos dias atuais.

Vencedor de 8 prêmios no Cine PE, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.

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Bowling for Columbine - EUA, 2002

DIREÇÃO: Michael Moore ROTEIRO: Michael MooreFOTOGRAFIA: Brian Danitz e Michael McDonoughMONTAGEM: Kurt EngfehrTRILHA SONORA: Jeff Gibbs ELENCO: Jacobo Arbenz, Mike Bradley, Arthur Busch, Bush, George W. Bush, Michael Caldwell, Richard Castaldo, Dick Clark, Steve Davis, Byron Dorgan, Mike Epstein

Sinopse: A violência nos EUA, especialmente em Columbine, onde dois adolescentes mataram a tiros professor e colegas.

Oscar de Melhor Documentário.

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as melhores coisas do mundo

tiros em columbine

Lat Den Rätte Komma In - Suécia, 2008

DIREÇÃO: Tomas Alfredson ROTEIRO: John Ajvide Lindqvist FOTOGRAFIA: Hoyte Van Hoytema MONTAGEM: Tomas Alfredson, Dino Jonsäter TRILHA SONORA: Johan Söderqvist ELENCO: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl, Karin Bergquist, Peter Carlberg

Sinopse: Oskar, um frágil garoto de 12 anos sempre atormentado pelos colegas de escola, sonha com vingança. Ele apaixona-se por Eli, garota bonita e peculiar. Eli dá a Oskar força para lutar, mas o menino é colocado frente a um impasse quando percebe que ela não é uma garota normal.

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deixa ela entrar

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Let Me In - EUA, Reino Unido, 2010

DIREÇÃO: Matt Reeves ROTEIRO: Matt Reeves e John Ajvide Lindqvist, baseado em história de John Ajvide LindqvistFOTOGRAFIA: Greig FraserMONTAGEM: Stan SalfasTRILHA SONORA: Michael GiacchinoELENCO: Kodi Smit-McPhee, Chloe Moretz, Richard Jenkins, Elias Koteas.

Sinopse: Owen é um garoto solitário, que vive com a mãe e é sempre provocado pelos valentões da escola. Um dia, ele conhece Abby perto de sua casa. Sempre nas sombras, ela aos poucos se aproxima de Owen e logo se tornam amigos. Só que Abby possui um terrível segredo. Refi lmagem do sucesso sueco Deixa Ela Entrar.

1/10 - 18:30

deixe-me entrar

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Ondskan – Suécia, 2003

DIREÇÃO: Mikael HafströmROTEIRO: Jan Guillou, Mikael HåfströmFOTOGRAFIA: Peter Mokrosinski MONTAGEM: Darek HodorTRILHA SONORA: Francis Shaw ELENCO: Andréas Wilson, Henrik Lundstrom, Gustaf Skarsgard, Linda Zilliacus, Jesper Salén, Filip Berg, Fredrik af Trampe

Sinopse: Erik Ponti é um adolescente de 16 anos que tem uma vida em meio à violência. Acostumado a tratar todos com brutalidade, ele é expulso da escola onde estudava e transferido para Stjärnberg, um famoso colégio privado. Ele tenta mudar seu estilo de vida e enfrentar as novas opressões que começa a sofrer na nova escola.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

23/� - 1�:00

evil, raízes do mal

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Bullying – Espanha, 2009

DIREÇÃO: Josetxo San MateoROTEIRO: Piti Español, Ángel García RoldánFOTOGRAFIA: Núria RoldosMONTAGEM: José SalcedoELENCO: Nadeska Abreo, Marcos Aguilera, Osvaldo Ayre, Felipe Bravo, Albert Carbó, Daniel Casadellà, Yohana Cobo, Jordi Colomer, Laura Conejero, Joan Carles Suau

Sinopse: Jordi é um adolescente que perdeu recentemente seu pai e que, junto à sua mãe, decide mudar de cidade para começar uma nova vida. Em princípio tudo parece bem, mas quando Jordi passar pelo portão da nova escola, terá de enfrentar problemas inimagináveis.

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bullying – provocações sem limites

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Cobardes – Espanha, 2008

DIREÇÃO: José Corbacho, Juan CruzROTEIRO: José Corbacho, Juan CruzFOTOGRAFIA: David OmedesMONTAGEM: David GallartTRILHA SONORA: Pablo SalaELENCO: Eduardo Garé, Eduardo Espinilla, Elvira Mínguez

Sinopse: Gaby, um rapaz de 14 anos, tem medo de ir à escola por causa de Guille e do seu grupo, que o humilham e agridem. Mas Guille, o agressor, também tem os seus próprios medos.

23/� - 18:30

cobardes

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PALESTRA

Onde estão as fronteiras entre brincadeira, implicância, agressão e perseguição implacável no comportamento de crianças e adolescentes? Como orientá-los para o uso responsável da Internet e do celular, em casa e na escola? Essa palestra aborda os recursos de educação em valores que podem ser desenvolvidos para prevenir as ações de bullying e cyberbullying, integrando-os em um programa antibullying que favorece a boa qualidade dos relacionamentos.

27/9 - 18:00 Cinema 2

Maria Tereza Maldonado é Mestre em Psicologia pela PUC-RIO, onde lecionou no Departamento de Psicologia; membro da American Family Therapy Academy; vice-presidente da ONG Cruzada do Menor; é autora de mais de trinta livros, entre os quais Bullying e cyberbullying – o que fazemos com o que fazem conosco? (Ed. Moderna), A face oculta – uma história de bullying e de cyberbullying (Ed. Saraiva) e Teias (ed. Lafonte).

Seu site é: www.mtmaldonado.com.br e seu canal no YouTube é: www.youtube.com/user/terezamaldonado.

BULLYING E CYBERBULLYING - O QUE FAZEMOS COM O QUE FAZEM CONOSCO?

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No dia 27, terça, após a palestra, haverá o lançamento de dois livros

escritos por Maria Tereza Maldonado.

BULLYING E CYBERBULLYING – o que fazemos com o que fazem conosco?Ed. Moderna

Quais as fronteiras entre brincadeira, agressão e perseguição implacável? Como contribuir para o uso responsável da tecnologia e das redes sociais? A autora mostra como educadores, pais, crianças e adolescentes podem desenvolver recursos para prevenir as ações de bullying e cyberbullying, integrando-os em um programa efi caz para criar um ambiente escolar em que seja possível aprender e conviver.

TEIASEd. Lafonte

É possível mudar em qualquer época da vida. No entanto, fazer mudanças signifi cativas para estimular nosso desenvolvimento pessoal não é uma tarefa fácil. Exige determinação, persistência e, essencialmente, a clara consciência de que somos responsáveis por nossas escolhas, com o poder de construir nossos caminhos. Em Teias, a autora captou fragmentos de diálogos e breves momentos que revelam as sutilezas dos relacionamentos nesse elaborado processo de tecelagem que acontece na vida de todos nós.

LANÇAMENTO DE LIVROS

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NA TEIA DA AGRESSÃO

por Maria Tereza Maldonado

Duas da manhã: João Guilherme acorda angustiado, o pijama molhado de suor, o coração disparado, o pai voando pela janela estilhaçando os vidros, arremessado por um monstro grotesco e gelatinoso, com um enorme olho no meio da testa, a baba verde escorrendo por duas fileiras de dentes pontiagudos. Levanta ainda meio zonzo, esfregando os grandes olhos negros, anda cambaleando pelo corredor, entra devagar no quarto dos pais, esperando abrigo. O pai está sozinho na cama, João Guilherme sai sem fazer barulho temendo acordá-lo e vai para a sala, onde encontra a mãe dormindo encolhida no sofá.

_Mãe, posso ficar aqui com você?_ O menino a sacode pelo braço que pende do sofá._Ai, não me pega assim!_ Responde a mãe ainda sonolenta, contraindo o rosto com a dor._O pai machucou você de novo? Por isso você está dormindo no sofá?_Vem cá, meu filho, vou levar você de volta para sua cama.

Anita ajeita o travesseiro do filho e o cobre cuidadosamente com o lençol. Seus olhos se enchem de lágrimas quando o vê assim, magro, pálido, assustado com as agressões que presencia sempre que o pai entra em casa mal-humorado. Mas isso não o impede de se comportar como se fosse o pai em miniatura, desacatando, chutando, xingando a mãe com explosões difíceis de conter, sempre que é frustrado ou quando acorda irritado.

_Mãe, quando eu crescer, vou matar meu pai para salvar você!_ Falou baixinho, antes de adormecer.

Anita reclinou a cabeça na beira da cama do filho, as lágrimas sofridas rolando pelas faces. Já fora chamada duas vezes pela escola porque o menino atacava os colegas e enfrentava a professora quando repreendido; em outros momentos, fica encolhido na sala de aula, triste e pensativo. Em casa, também oscila entre tristeza, raiva, mau humor, medo e desejo de que os pais se separassem. Ficava apavorado e enraivecido quando via o pai agredindo a mãe, mas ele próprio a

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agredia quando a ouvia dizer que estava cansada para ler mais uma história na hora de dormir ou quando queria doar os brinquedos que ele não usava mais para as crianças pobres.

_Sou igual ao meu pai, não tem jeito!_ gritava em alto e bom som quando repreendido depois de um acesso de fúria.

Mas, logo depois, quando via a mãe desanimada, sentada no sofá, chegava de mansinho, sem dizer palavra, lhe dava um abraço tímido e se aninhava em seu colo. Anita se desmanchava em ternura, acolhia João Guilherme acariciando seus cabelos lisos e negros. Pensava no sogro, temido pelos cinco filhos, que criara na lei do chicote. Pensava no marido, atencioso em alguns momentos, violento quando perdia a cabeça, xingando, batendo, desqualificando-a por qualquer coisa que estivesse fora do lugar. Sentia nos dedos os fios da teia do amor densamente entrelaçados com os da teia da raiva, e os longos fios da teia da agressão se espalhando pelas casas, envolvendo as gerações...

Texto do livro Teias, de autoria de Maria Tereza Maldonado, publicado pela editora Lafonte, SP, 2011.

OFICINA PARA PROFESSORESO USO DO AUDIOVISUAL EM SALA DE AULA

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OFICINA PARA PROFESSORESO USO DO AUDIOVISUAL EM SALA DE AULA

De 20 a 23 de setembro, a equipe do Cineduc ministrará uma ofi cina dirigida aos professores, enfocando o uso do audiovisual em sala de aula. Através de refl exões sobre a construção das linguagens audiovisuais, buscamos aprofundar a leitura crítica de fi lmes e vídeos, fornecendo aos professores informações que permitam uma utilização consciente do cinema como recurso pedagógico.

Os encontros com os professores acontecerão na Sala Margot, sempre às 18h. Os 40 professores que participarem da ofi cina receberão um certifi cado do Cineduc. É necessário fazer inscrição prévia através do email abaixo.

Inscrições: ofi [email protected]

Os cursos de formação de professores, de um modo geral, não dedicam especial atenção ao uso pedagógico do cinema. Ampliar o conhecimento dos professores no que diz respeito à linguagem audiovisual é fundamental para escapar do uso corriqueiro do cinema em sala de aula que acaba se restringindo ao conteúdo, prestando pouca atenção à forma do fi lme. Estimular um novo olhar dos alunos diante de uma obra audiovisual é de suma importância para a formação de uma sociedade mais crítica e consciente.

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A produção estudantil é cada vez maior no Brasil e no mundo. A facilidade proporcionada pelas novas mídias possibilitou que diversas unidades escolares, equipadas com pequenas fi lmadoras, desenvolvessem trabalhos audiovisuais transformando alunos em realizadores, jovens diretores que aprendem de forma lúdica e desenvolvem um novo olhar.

Nos dias 28 e 29, às 15h, no Cinema 2, realizaremos o Encontro de Estudantes. Serão exibidos vídeos realizados no espaço escolar. A plateia será formada por alunos que ainda não produzem audiovisual na escola, e também pelos alunos realizadores dos vídeos exibidos. No fi nal da sessão, esses alunos conversarão com os demais, motivando-os a se tornarem também jovens diretores.

Acreditamos que o estímulo é fundamental e que a troca de experiências é uma peça-chave para que a educação se torne mais dinâmica e rica. Os estudantes, acompanhados de seus dedicados professores, farão desse encontro uma ocasião muito especial!

ENCONTRO DE ESTUDANTES

15:00

28 e 29/9

Cinema 2

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Os dois lados da moeda (4’)

Escola Municipal Narcia AmáliaContato: Claudio GarciaEmail:[email protected]

O Sofrimento do Bullying (3’30”)

Escola Municipal Ary QuintellaContato: Ana DillonEmail:[email protected]

Novamente (8’)

Contato: Alexandre BortoliniEmails:[email protected] [email protected]

Não Faça Bullying (2’10”)

Escola Municipal Nereu SampaioContato: Ana DillonEmail:[email protected]

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Chega de Bullying (3’30”)

Escola Municipal Rosa da FonsecaContato: Rafael ProcópioEmail:[email protected]

Emo Day (3’30”)

FIOCRUZContato: Gregório GalvãoEmail:gregorio@fi ocruz.br

Identidade Provisória (5’)

Cinema NossoContato: Mirian MachadoEmail:[email protected]

O Colar (13’)

Escola Municipal Monteiro LobatoContato: Claudio GarciaEmail:[email protected]

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BOLETIM

Juventude Transviada

1 2 3 4 5

Amor, Sublime Amor

Elefante2:37 - É Só Uma

Questão de Tempo Carrie, a Estranha

Se... KesMeu nome é Taylor,

Drillbit Taylor

Brincando de dar nota:

avalie os fi lmes

dando notas de 1 a 5.

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Deixe-me Entrar

1 2 3 4 5

Deixa Ela Entrar

1 2 3 4 5

Evil, Raízes do Mal

1 2 3 4 5

Te Pego Lá ForaBem-Vindo à

Casa de BonecasAs Melhores

Coisas do Mundo

Tiros em Columbine

CobardesBullying – Provocações

Sem Limites

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

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1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

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PatrocínioCAIXA ECONÔMICA FEDERAL

RealizaçãoCINEDUC – CINEMA E EDUCAÇÃO

Coordenação Geral e CuradoriaAlexandre Guerreiro

Produção e Programação VisualRenata Palheiros

Assistência de ProduçãoLuciana PalmaLuciana Silva GuerreiroJoyce Enzler

MonitoriaBeatriz Terra

SiteEstevão Sarcinelli

Midias SociaisLeticia Fiuza

TextosCléo FanteMaria Tereza MaldonadoGabriel ChalitaAlexandre Guerreiro

PalestraMaria Tereza Maldonado

Ofi cina para ProfessoresAlexandre GuerreiroBete Bullara

Curadoria do Encontro de EstudantesBete Bullara

Apresentação do Encontro de EstudantesFátima Nogueira

CRÉDITOS

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Informações:

Ingresso: R$ 2,00 (inteira) | R$ 1,00 (meia)

CAIXA CulturalAv. Almirante Barroso, 25

Centro - Rio de JaneiroTel: (21) 2544-4080

www.caixa.gov.br/caixacultural

Agradecimentos

Adelaíde LeoAída FerreiraAlexandre MedeirosCarmen ValleCinema NossoCleo FanteFelícia KrumholzFernanda ZacchiFrancisco Guerreiro MartinhoFrancisco Silva GuerreiroFrederico da Cruz MachadoGabriel ChalitaGilberto LinsGullane FilmesHans LönnerhedenImagem FilmesJosé Carlos de OliveiraJuarez PavelakLetícia ReisLídio Rodrigues Barbosa

Luciana BessaLuciana BiazziLuelane CorrêaLuiz GreccoLume FilmesLW EditoraMárcio PinheiroMaria Tereza MaldonadoMarialva MonteiroMostra GeraçãoMoviola Film & Television ABRoberto MartinsSandro SilvaSantilha SousaSidney Gennaro Simone MonteiroSolange do Carmo Silva GuerreiroSueli OliveiraTunico AmâncioWarner Bros.

Este catálogo foi composto com as famílias tipográficas Trebuchet, Times New Roman, Dutch801.

Impresso na gráfica EDG - Niterói - RJMiolo em papel couchê fosco 115g/m2 e capa em Triplex 250g/m2.

RJ, Setembro de 2011