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emissões e de maior flexibilidade, o que na prática significará uma expansão dos chamados mecanismos compensatórios, como o mercado de carbono e REDD, que não são soluções reais para os povos. Ao contrário, representam uma panaceia de mercado para ampliar o horizonte de ganho do capital usando o clima como pretexto. E com este novo acordo também desaparecerá um dos pilares da Convenção Quadro sobre Mu- dança do Clima que reconhece a respon- sabilidade histórica dos países desen- volvidos: o princípio das responsa- bilidades comuns, mas diferenciadas. "As promessas de redução para o segundo período representam menos da metade do que é necessário para manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 ° C." Definitivamente, o problema do clima não se resolve com soluções de mercado, mas sim questionando o modelo de desenvolvimento que o gera e as suas desigualdades estruturais, entre elas a de gênero. Nesse contexto, redes e movimentos presentes em Durban lançaram um convite à resistência contra o que foi definido como o Apartheid Climático. Da mesma forma, ressaltaram a importância de se rearticular em torno do Acordo dos Povos, documento que saiu da Cúpula de Cochabamba em 2010 e que reconhece os direitos da Terra. Assim, a Rio+20 será a próxima etapa na agenda de luta global pela justiça climática, social e ambiental, e as mulheres chamamos à resistência, que já está em andamento. "(...) o problema do clima não se resolve com soluções de mercado, mas questio nando o modelo de desenvolvi mento que o gera." dos compromissos de redução das emissões e o período de duração ficaram suspensos até a próxima Conferência. Além disso, EUA, Japão, Canadá, Rússia, Austrália e Nova Zelândia, alguns dos principais emissores de carbono do mundo, desde já se recusam a participar da negociação deste segundo período. Segundo o conhecido ativista boliviano, Pablo Solon "As promessas de redução para o segundo período representam menos da metade do que é necessário para manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2°C". Por outro lado, o Fundo Verde para o clima, que fornecerá apoio financeiro aos países em desenvolvimento para ajudá-los a mitigar os efeitos da mudança climática − que terá seus maiores impactos sobre as mulheres e comunidades tradicionais −, agora tem um quadro institucional (em que o Banco Mundial desempenha um papel fundamental!), mas ainda é um "Fundo sem fundos" e muitos acreditam que os escassos 100 bilhões de dólares prometidos pelos países desenvolvidos nunca chegarão. Ao invés disso, o fundo vai ser financiado pelo mercado de carbono e empréstimos privados que deverão ser devolvidos. No que diz respeito à colaboração de longo prazo, foi criado um novo instrumento legal pós-Quioto que obrigará todos os países a reduzirem suas emissões a partir de 2020. Este novo regime será baseado em promessas "voluntárias" de redução de De fato, o Protocolo de Quioto, que expira em janeiro de 2012, teve negociada sua continuação para um segundo mandato em um clima de urgência. Assim, um acordo foi alcançado em uma corrida para evitar a consequências políticas e midiáticas de um vácuo institucional. Inclusive as definições Cúpula dos Povos: construir unidade na diversidade No encerramento do Fórum Social Temático em Porto Alegre, no dia 28 de Janeiro, o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 organizou um ato público para convocar os movimentos sociais e as organizações do Brasil e do mundo a participarem na construção da Cúpula dos Povos que terá lugar paralelamente à conferencia das Nações Unidas entre 15 e 23 de ChamadoàmobilizaçãoglobalparaaCúpuladosPovos. O Clima, a COP 17 e as falsas soluções A 17ª Conferência das Partes (COP) sobre mudança climática que ocorreu em Durban em dezembro de 2011 falhou novamente em alcançar acordos vinculativos que constituam soluções reais à ameaça das mudanças climáticas. Os países conseguiram fechar formalmente uma série de acordos sobre questões chave, embora de uma forma muito pouco democrática, com pouco conteúdo real, como foi observado por representantes da sociedade civil presentes, e com os compromissos para reduzir as emissões ainda mais enfraquecidos.

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Boletim Rio+20

emissões e de maior flexibilidade, o quena prática significará uma expansão doschamados mecanismos compensatórios,como o mercado de carbono e REDD,que não são soluções reais para ospovos. Ao contrário, representam umapanaceia de mercado para ampliar ohorizonte de ganho do capital usando oclima como pretexto. E com este novoacordo também desaparecerá um dospilares da Convenção Quadro sobre Mu-dança do Clima que reconhece a respon-sabilidade histórica dos países desen-volvidos: o princípio das responsa-bilidades comuns, mas diferenciadas.

"As promessasde redução para

o segundoperíodo

representammenos da

metade do queé necessáriopara manter oaumento datemperaturaglobal abaixo

dos 2 ° C."Definitivamente, o problema do clima não se resolve com

soluções de mercado, mas sim questionando o modelo dedesenvolvimento que o gera e as suas desigualdades estruturais, entreelasadegênero.

Nesse contexto, redes e movimentos presentes em Durbanlançaram um convite à resistência contra o que foi definido como oApartheid Climático. Da mesma forma, ressaltaram a importância dese rearticular em torno do Acordo dos Povos, documento que saiu daCúpula de Cochabamba em 2010 e que reconhece os direitos da Terra.Assim, a Rio+20 será a próxima etapa na agenda de luta global pelajustiça climática, social e ambiental, e as mulheres chamamos àresistência, que jáestáemandamento.

ApoioReal ização

"(...) oproblema doclima não seresolve comsoluções demercado,mas questio­nando omodelo dedesenvolvi­mento que ogera."

dos compromissos de redução das emissões eo período de duração ficaram suspensos até apróxima Conferência. Além disso, EUA, Japão,Canadá, Rússia, Austrália e Nova Zelândia,alguns dos principais emissores de carbono domundo, desde já se recusam a participar danegociação deste segundo período. Segundoo conhecido ativista boliviano, Pablo Solon "Aspromessas de redução para o segundoperíodo representam menos da metade doque é necessário para manter o aumento datemperatura global abaixo dos 2°C". Por outrolado, o Fundo Verde para o clima, quefornecerá apoio financeiro aos países emdesenvolvimentoparaajudá-losamitigaros

efeitos da mudança climática− que terá seus maiores impactos sobreas mulheres e comunidades tradicionais −, agora tem um quadroinstitucional (em que o Banco Mundial desempenha um papelfundamental!), mas ainda é um "Fundo sem fundos" e muitosacreditam que os escassos 100 bilhões de dólares prometidos pelospaíses desenvolvidos nunca chegarão. Ao invés disso, o fundo vai serfinanciado pelo mercado de carbono e empréstimos privados quedeverão ser devolvidos. No que diz respeito à colaboração de longoprazo, foi criado um novo instrumento legal pós-Quioto que obrigarátodos os países a reduzirem suas emissões a partir de 2020. Este novoregime será baseado em promessas "voluntárias" de redução de

De fato, o Protocolo de Quioto,que expira em janeiro de 2012, tevenegociada sua continuação para umsegundo mandato em um clima deurgência. Assim, um acordo foi alcançadoem uma corrida para evitar aconsequências políticas e midiáticas de umvácuo institucional. Inclusiveas definições

Edição número 4

Dezembbro 2011/ Janeiro 2012

Cúpula dos Povos: construir unidade nadiversidade

No encerramento do Fórum Social Temático em PortoAlegre, no dia 28 de Janeiro, o Comitê Facilitador da Sociedade CivilBrasileira para a Rio+20 organizou um ato público para convocar osmovimentos sociais e as organizações do Brasil e do mundo aparticiparem na construção da Cúpula dos Povos que terá lugarparalelamente à conferencia das Nações Unidas entre 15 e 23 de

ChamadoàmobilizaçãoglobalparaaCúpuladosPovos.

O Clima, a COP 17 e as falsas soluçõesA 17ª Conferência das Partes (COP) sobre mudança

climática que ocorreu em Durban em dezembro de 2011 falhounovamente em alcançar acordos vinculativos que constituam soluçõesreais à ameaça das mudanças climáticas. Os países conseguiramfechar formalmente uma série de acordos sobre questões chave,embora de uma forma muito pouco democrática, com poucoconteúdo real, como foi observado por representantes da sociedadecivil presentes, e com os compromissos para reduzir as emissões aindamaisenfraquecidos.

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junho de 2012 no Rio de Janeiro. Durante o ato(http://cupuladospovos.org.br/2012/01/convocacao-para-a-cupula-construir-unidade-na-diversidade/), vários representantes deorganizações do Brasil e do mundo reafirmaram o compromissopolítico pela busca da “unidade na diversidade” na luta contra amercantilização da natureza e por justiça social e ambiental rumo àRio+20.

O processo de construção da grande mobilização em tornoà Cúpula dos Povos, também avançou e o Comitê tem agora cincoGTs: Mobilização, Processo Oficial, Metodologia, Território eComunicação. As organizações Brasileiras e internacionais queprocuram participar e se comprometer em um desses GTs e contribuircom propostas e idéias criativas podem entrar em contato com osorganizadores da Cúpula (mais informações no site oficial da Cúpula:http://cupuladospovos.org.br/).

fundamentalmente a chamada “economiaverde” e as formas que adotará agovernança ambiental global. Entendemos a“economia verde” como uma resposta dopróprio sistema à crise capitalista e umanova forma de aprofundar o controle e afinanceirização dos recursos naturais. Não ésó na Rio+20 que a “economia verde” estásendo imposta como solução à crise. Existeuma articulação das agendas da Rio+20, doG20 e das negociações oficiais (COPs) sobremudança climática nesta direção. De fato, o

Real ização Apoio

"Não é só naRio + 20 que aeconomia verdeestá sendoimposta comosolução à crise.Existe umaarticulação dasagendas daRio+20, do G20e dasnegociaçõesoficiais (COPs)sobre mudançaclimática nestadireção."

que a “economia verde” propõe sãonovas tecnologias para a “salvação” doplaneta, porém, não modifica a atuallógica de exploração da natureza e dosbens comuns da humanidade que sepromove a partir das grandescorporações transnacionais e dosgovernos dos países mais ricos. Vemos aeconomia verde como um novo invólucropara uma velha e falida receita, que temo lucro como objetivo e o consumismocomo lema, e longe da “economia docuidado”, em que as mulheresacreditamos para haver qualidade devidaparaasatuaise futurasgerações.

Este será um dos aspectosprincipais dos debates que acontecerãoem junho deste ano na Rio+20. Assim,

para fazer parte desse momento, em Porto Alegre avançamos nadefinição de estratégias de participação do movimento feminista naRio+20. Contamos para isso com a participação de redes nacionais einternacionais, de mulheres do movimento negro e indígena, decamponesas, sindicalistas, estudantes, enfim, da diversidade quesomos. Definimos a importância de procurar formas de estar “juntas eseparadas” ao mesmo tempo. Juntas para alcançar visibilidade daslutas das mulheres e aumentar nossa força política; separadas pelorespeito aos objetivos de luta específicos e diferentes de cadamovimentoe redenacionale internacional.

Durante a última sessão de debate sobre as estratégias,surgiu a proposta de organização de um “território das mulheres”dentro da Cúpula dos Povos, mobilizando para isso uma amplaarticulação nacional e internacional que busque visibilizar a presença evoz do movimento de mulheres na Rio+20 em sua expressão políticade força e pluralidade a partir das propostas e alternativas dasmulheresparaummundoverdadeiramentesustentável.

Nós mulheres acreditamos que a hora é essa, e que de nósdepende a contundência dessa presença. Seja nos eventos específicosdas mulheres, ou somadas às atividades da Cúpula − como o Dia deAção Global− faremos ecoar nossa voz que grita por um planeta justo,equitativoesustentável.

"(...) emPorto Alegreavançamosna definiçãode estra­tégias departicipaçãodo movi­mentofeminista naRio+20. "

AsMulheresnoForumSocialTemáticoemPortoAlegre.

Paraassinaturaoucancelamento:[email protected] lerosboletinsanterioresacesse:www.articulacaodemulheres.org.bre www.equit.org.brRedação:ÉrikaMasinaraeLuciaSantalicesEdição:GracielaRodriguezeLucíaSantalices

As Mulheres no Fórum Social Temático em PortoAlegre!

Povos do mundo todo estarão reunidos no Rio de Janeiro emjunho de 2012. É nessa data que acontecerá a Rio+20 e também aCúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, encontro paralelo aoevento oficial. Dela participarão inúmeros movimentos sociais com ointuito de unir forças em torno a um objetivo comum: denunciar amercantilização da vida e as falsas soluções de mercado para a crise

climática e ambiental que propõem as transnacionais e os países queas representam. E nós, do movimento de mulheres, estaremos ali,fazendo parte de uma luta comum e central aos mais diversosmovimentossociais.

Assim, no Fórum Social Temático que aconteceu em PortoAlegre entre 25 e 28 de janeiro passado, continuamos aprofundando odebatedos temasqueestarãoemjogonaRio+20,